Mar/Abr 2015 • ANO III • Nº 16
R E V I S TA
A REVISTA DA CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL
Arranha-céu
Ecológico
O retrofit de um dos principais
ícones norte-americanos
bate-papo
Com Vitorio Panicucci, da
Clavi Incorporações
Qualidade e Conforto
Entenda a Síndrome do
Edifício Doente
A visão de mercado
de Vitorio Panicucci,
proprietário da Clavi
Incorporações
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Fotos: Newton Santos
BATE-PAPO
Sustentabilidade
idealizada
Por Amanda Santana
N
em só de edificações triple A vive a construção
civil sustentável. Esta é a ideia que Vitorio
Panicucci, proprietário da Clavi Incorporações,
está levando adiante no mercado. Imóveis que atendam
às necessidades das pequenas empresas, que têm equipes
menores, mas se interessam pelo conceito sustentável, são
o foco deste engenheiro civil que tornou-se empresário do
ramo imobiliário.
Graduado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie,
Vitorio está há 38 anos no mercado e trabalhou em
grandes construtoras, como a Anhembi, a Ferreira de
Souza e a Odebrecht. Também cursou pós-graduação
em administração de empresas na Mackenzie e MBA em
agronegócio pela Fundação Getúlio Vargas.
Ao longo da sua carreira, o engenheiro trabalhou em
projetos que tinham como característica principal a alta
qualidade técnica e, com o tempo, teve despertado o seu
interesse por projetos com responsabilidade ambiental.
Há quatro anos fundou a Clavi Incorporações com o intuito
de que ela tivesse 100% de seus projetos sustentáveis
e certificados. Hoje, a empresa já caminha para a
concretização do seu quinto projeto, cumprindo o objetivo
do seu idealizador.
Vitorio participou do bate-papo com a Revista Green
Building e contou sua trajetória profissional e como criou
a Clavi Incorporações nos moldes da sustentabilidade.
Ele ainda expressou sua opinião sobre as certificações
ambientais e sobre o mercado. Confira a seguir!
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BATE-PAPO
“
Criamos a Clavi com o intuito de estabelecer uma empresa 100%
sustentável e fomos buscar as condições ideais para ter uma
classificação dentro do Processo AQUA, que nós optamos seguir”
Como foi a sua trajetória profissional até o momento?
Estou no mercado há 38 anos. Comecei como estagiário
na Construtora Anhembi, que depois teve uma cisão e se
transformou em duas: na Romeu Chap Chap e na Ferreira
de Souza. Fui para a Ferreira de Souza, uma construtora
que sempre primou pela alta qualidade no acabamento
e pelo atendimento personalizado aos clientes. Isso,
inclusive, estreitava bastante a relação com eles. É algo
muito bom, porque fez com que, além da minha visão
técnica como engenheiro, eu conseguisse ver o desejo das
pessoas. Depois, atuei um tempo com galpões industriais
e fui trabalhar na Odebrecht, onde ajudei a fundar a ETH
Bioenergia, que hoje se chama Odebrecht Agroindustrial.
Trabalhei por três anos como diretor-executivo neste
projeto grande e criamos um polo no Mato Grosso do
Sul, que tinha muita preocupação com o meio ambiente.
Quando me desliguei da Odebrecht, fundei a Clavi.
Há quanto tempo a Clavi está no mercado e como tem
sido a trajetória da empresa?
A Clavi está no mercado há quatro anos e foi fundada
por mim junto com um sócio investidor, que hoje não está
mais na empresa. Naquela época, ele estava interessado
em aplicar o dinheiro dele em um negócio diferente, que
desse um bom retorno, mas que, ao mesmo tempo, fosse
algo que o mercado ainda não tivesse. Entramos em um
momento extremamente difícil do setor, um momento
de boom, no qual todo mundo construía qualquer coisa,
em qualquer lugar e de qualquer jeito. Questionamos o
que fazer diante disso e decidimos pela sustentabilidade.
Já vinha acompanhando diversos trabalhos e pesquisei,
fui a fundo, participei de algumas feiras e resolvi fazer
o meu primeiro empreendimento sustentável. Criamos
a Clavi com o intuito de estabelecer uma empresa 100%
sustentável e fomos buscar as condições ideais para
ter uma classificação dentro do Processo AQUA, que
nós optamos seguir. Criamos, então, uma bandeira de
sustentabilidade. Decidimos que os nossos produtos
teriam os três níveis da certificação, desde o conceito e o
projeto até a construção.
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Como surgiu a ideia de certificar todos os empreendimentos pelo Processo AQUA?
Durante a minha pesquisa sobre os diversos selos,
na busca por inserir a sustentabilidade nos projetos da
Clavi, tive a oportunidade de ir a uma feira do setor e ter
o primeiro contato com a Fundação Vanzolini. No estande
dela, o que me chamou a atenção foi, principalmente,
a explicação de como a Fundação adaptou as normas
francesas para o nosso mercado. Além disso, mostrou a
facilidade maior de encontrar alternativas que atendessem
a determinado critério para que uma classificação fosse
atingida, ou seja, é mais flexível, menos engessada. Como
eu tinha quatro projetos para certificar, inicialmente pensei
em fazer um com cada sistema existente no mercado. Mas
como o primeiro foi feito com o Processo AQUA e deu
muito certo, decidi seguir com ele mesmo.
Quantos empreendimentos a empresa tem?
Temos quatro empreendimentos comerciais muito
grandes e sustentáveis. E estamos indo para o quinto,
que é um residencial também sustentável. Nosso primeiro
empreendimento, o Clavi Air Offices, em Alphaville, é um
triple A totalmente fora do convencional. Ele fez com que
nós percebêssemos algo muito interessante: nós éramos
os primeiros a construir empreendimentos sustentáveis
nos lugares onde chegávamos. Fizemos o primeiro de
Alphaville, de Osasco e de Guarulhos. E ainda fizemos
o segundo em Osasco. Notamos que nestas regiões,
onde havia empreendimentos de grandes construtoras,
nenhuma empresa teve essa preocupação com a
sustentabilidade.
Como era a abordagem do tema na época em que a Clavi
entrou no mercado?
Percebia que existiam algumas resistências, que
continuam assim até hoje. A maior delas é o custo. Todo
mundo diz que o custo da sustentabilidade inviabiliza
o negócio. Fomos justamente no sentido contrário, ou
seja, mostrar que fazemos uma obra sustentável e não
a deixamos ser mais cara, porque desde o projeto inicial
já inserimos este conceito e conseguimos reduzir custos.
Além disso, víamos as empresas interessadas em fazer
shoppings e grandes magazines sustentáveis, mas não
prédios com o perfil que atuamos. Com estes ninguém
estava se preocupando. Desenvolvemos um triple A em
salas de 30 metros, diferentemente do que o mercado
apresentava naquela época, que eram prédios com salas
imensas. Buscamos isso porque era um segmento não
explorado.
Quais dificuldades a empresa encontrou no mercado
naquele momento?
Quando percebi que não havia concorrência no
segmento que optamos atuar, achei que tinha encontrado
o meu mercado. Mas me enganei um pouco, porque
pegava um público que não conhecia muito sobre
sustentabilidade e me deparei com uma série de barreiras
que enfrento até hoje. Apesar dos meus quatro anos no
mercado, ainda estou tentando colocar isso na cabeça das
pessoas. A primeira situação difícil foi com os projetistas
com os quais trabalho, que são experientes e renomados.
Imagina como foi chegar e dizer a eles que o projeto
precisaria passar por avaliação. Como segundo obstáculo,
encontrei os corretores de imóveis, que tinham pouca
informação sobre o assunto. Chamávamos a equipe da
consultoria Sustentech e da Vanzolini para fazer uma
apresentação sobre sustentabilidade, mas sentíamos que
não havia interesse por parte dos corretores pelo assunto.
Isso porque eles trabalham para diversas empresas
que não se preocupam com a sustentabilidade, então,
isso representaria aprender sobre um assunto que não
agregaria nada para os argumentos de vendas deles.
Então o que fiz? Fiquei no ponto de vendas. Parece maluco,
mas o dono da empresa ficava lá, tirando as dúvidas
sobre a sustentabilidade do prédio, como se fosse um
gerente de vendas.
A Clavi desenvolve internamente ações relacionadas à
sustentabilidade?
Existe uma preocupação com o meio ambiente, não só
em relação ao usuário final, mas com as pessoas que estão
trabalhando na obra, para que elas tenham consciência da
importância do tema. Fazemos, também, uma ação bem
bacana, que é levar os funcionários internos da empresa e
os seus filhos, pelo menos uma vez por ano, para conhecer
uma obra. Fazemos isso porque notamos que algumas
pessoas não sabiam onde ficava a obra, o tamanho dela
e os cuidados que costumamos tomar. O aculturamento
está muito ligado à nossa participação, para mostrar que
o tema é importante.
O que falta para que os conceitos sustentáveis deixem
de ser uma escolha e passem a ser um padrão nos
projetos de construção?
Percebemos que isso é algo difícil, porque não são
todos dentro de uma empresa que têm essa visão de
cuidado com o meio ambiente. Você precisa ter convicção
para chegar onde quer. Não pode ter o pensamento de
que “a moda é ser sustentável, e sustentável vende mais”.
Não. É uma questão de consciência mesmo. Está na hora
das pessoas no Brasil terem esta consciência. Lá fora as
obras já são feitas com todos os cuidados com o meio
ambiente e com o entorno. É, portanto, uma cultura
Se o consumidor passar a cobrar a sustentabilidade nos
empreendimentos, a postura dos incorporadores terá que mudar
e o mercado vai se desenvolver mais rápido”
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BATE-PAPO
“
Sou a favor do selo
individual, e não do selo do
empreendimento somente.
Não adianta eu fazer um
edifício sustentável se, ao
entregar a sala, o ocupante
faz tudo errado e usa de
forma incorreta”
que precisamos melhorar. Nós, da Clavi, trabalhamos
muito neste sentido, de mostrar isso para o público.
Nos estandes de vendas, sempre procuramos ter algum
elemento sustentável que possa fazer as pessoas irem
associando o trabalho da construtora. No primeiro
estande de vendas, tínhamos material de demolição, por
exemplo. Com medidas como essa, começamos a difundir
esta mentalidade de empreendimentos sustentáveis.
faz tudo errado e usa de forma incorreta. Tenho todo o
cuidado, faço um caderno, tenho um vídeo, mostro e
falo como que tem que ser o ar-condicionado, o piso, o
forro, a iluminação e tudo o que foi projetado, mas quem
me garante que a pessoa fez? Então, temos que ir além.
Você tem que ter a certificação nas salas. E isso é o que
estamos propondo à Fundação Vanzolini, a criação de um
mecanismo de visitas regulares a esses empreendimentos.
Como o senhor avalia o mercado de construção sustentável no Brasil?
Acho que este mercado é extremamente embrionário.
Mas a culpa não é dos projetistas e nem dos construtores.
A questão é que precisamos de uma mídia bem feita,
na qual tenhamos as associações de classe divulgando
mais para o público e não só para os engenheiros.
Sinto que deveríamos ter um movimento de fora para
dentro, e não o contrário, porque se continuarmos da
forma que estamos vai demorar para o setor se consolidar.
No geral, os incorporadores, diante de questões do
mercado, não valorizam a sustentabilidade porque sabem
que a obra vai custar um pouco mais, e eles querem sempre
fazer empreendimentos mais baratos. Se o consumidor
passar a cobrar a sustentabilidade nos empreendimentos,
a postura dos incorporadores terá que mudar e o mercado
vai se desenvolver mais rápido.
Como a empresa acredita que o mercado se desenvolverá nos próximos anos?
Falando claramente, não existe hoje ninguém no
mercado imobiliário esperançoso em relação a este ano.
Atrevo-me a dizer que 2015 será um grande ano para nós
da Clavi. Mas isso porque somos uma empresa menor
e de um único dono e, como tal, posso tomar decisões
que permitam que a empresa vá por um rumo seguro,
independentemente de questões da economia brasileira. Lançamos um prédio recentemente e quebramos
paradigmas. “Não se lança nada em dezembro, perto
do Natal.” Este era um paradigma. Mas o que eu fiz?
Lancei um prédio no dia 19 de dezembro e vendemos 70%
dele em 20 dias. Por que conseguimos este resultado?
Porque eu estava lá, no estande de vendas, falando e
mostrando para as pessoas todas as questões importantes do empreendimento. Não vamos mudar nada,
vamos continuar no caminho da sustentabilidade. Temos
um portfólio, hoje, no qual mostramos que todos os
nossos prédios são sustentáveis e queremos manter isso
para que daqui a 20, 30, 40 anos a empresa possa mostrar
que seguiu esta linha desde o início. GB
Qual é a sua opinião sobre as certificações ambientais
para edifícios?
Sou a favor do selo individual, e não do selo do
empreendimento somente. Não adianta eu fazer um
edifício sustentável se, ao entregar a sala, o ocupante
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