MECÂNICA DOS FLUIDOS 90 CAPÍTULO 6 MECÂNICA DOS FLUIDOS 6.1 Definição Os fluidos compreendem os líquidos e os gases. Os líquidos escoam sob a ação da gravidade até ocuparem as regiões mais baixas possíveis dos vasos que os contêm. Os gases se expandem até ocuparem todo o volume do vaso, qualquer que seja a forma. Num gás, a separação média de duas moléculas é grande diante do tamanho da molécula. Num líquido ou num sólido as moléculas estão muito próximas uma das outras e exercem forças de interação comparáveis às forças de ligação dos átomos nas moléculas. 6.2 Densidade É a razão entre a massa e o volume de uma amostra ρ= m V 6.1 No cgs, a densidade da água é 1 g/cm3, e é uma referência para a medida de densidade. Convertendo para o SI, temos ρágua = 1g cm 3 × kg 3 10 g ( 100cm )3 × m 3 = 103 kg / m 3 6.2 As densidades das substâncias, entre elas a da água, variam com a temperatura. A equação (2) dá o valor máximo da densidade da água, que ocorre a 4°C. A unidade de volume conveniente para fluidos é o litro (L): 1L = 103 cm3 = 10 −3 m 3 6.3 A densidade da água, a 4°C, é de 1,00 kg/L. Se, • • ρcorpo > ρágua: o corpo afunda na água ρcorpo < ρágua: o corpo flutua na água A razão entre a densidade de uma substância e a densidade da água é a densidade relativa. Exemplo 6-1: Um balão de vidro, de 200 ml, está cheio com água, a 4°C. Aquecido a 80°C perde 6 g de água. Qual a densidade da água a 80°C? (Desprezar a expansão do balão.) Apostila elaborada pela Profª. Ângela Emilia de Almeida Pinto – CAV/UDESC MECÂNICA DOS FLUIDOS 91 Solução: • Cálculo da massa de água no balão, a 4°C, sabendo que ρ = 1 g/cm3: m = ρ V = (1 g/cm3)(200 cm3) = 200 g • Cálculo da massa de água restante, m´, depois da perda de 6 g: m´= m – 6 g = 200 g – 6 g = 194 g • Cálculo da densidade da água a 80°C: ρ´= m´ 194 g = = 0,97 g / cm3 3 V 200 cm 6.3 Pressão num Fluido Quando um corpo está imerso num fluido, como a água, o fluido exerce, em cada ponto da superfície do corpo, uma força perpendicular à superfície. Esta força do fluido, por unidade de área da superfície, é a pressão P do fluido. P= F A 6.4 Unidade SI de pressão é o newton por metro quadrado (N/m2), denominada pascal (Pa): 1Pa = 1N / m 2 6.5 Outras unidades de pressão: • Libra por polegada quadrada: lb/in2 • Atmosfera: 1 atm = 101,325 kPa = 1,01 x 105 Pa 1atm = 1,01 x 105 Pa = 14,70 lb/in2 6.6 A pressão exercida por um fluido sobre um corpo tende a comprimir o corpo. A razão entre a variação de pressão (∆P) e a diminuição relativa de volume (-∆V/V) é o módulo de compressibilidade B=− ∆P ∆V V ( ) 6.7 Os líquidos e os sólidos são relativamente incompressíveis e têm valores elevados de B, que pouco dependem da temperatura e pressão. Os gases já são facilmente comprimidos, e os valores de B dependem muito da pressão e da temperatura. Apostila elaborada pela Profª. Ângela Emilia de Almeida Pinto – CAV/UDESC MECÂNICA DOS FLUIDOS 92 6.4 Pressão num Líquido (Princípio de Stevin) No caso da água, como sua densidade é aproximadamente constante, a pressão aumenta linearmente com a profundidade. Vamos demonstrar este fato, analisando uma coluna de água de altura h e área de seção reta A, como mostra a figura 6.1 abaixo. Figura 6.1: Coluna de água com a altura h e área de seção reta A. A pressão P no fundo tem que ser maior do que a pressão P0 no nível de cima, a fim de o peso da água ser equilibrado. Para suportar o peso da coluna, a pressão na base da coluna tem que ser maior do que no topo. No equilíbrio PA − P0 A = mg mas o peso da coluna de líquido é w = mg = ρ V g = ρ A h g, logo (P − P0 )A/ = ρ A/ h g P = P0 + ρ g h (ρ é constante) 6.8 Exemplo 6-2: Uma represa retangular , com 30 cm de largura, suporta uma massa de água com a altura de 25 m (figura abaixo). Calcular a força horizontal total que age sobre a represa. Solução: • Exprimir o elemento de força dF sobre o elemento de largura L a altura dh em termos da pressão ρgh: Apostila elaborada pela Profª. Ângela Emilia de Almeida Pinto – CAV/UDESC MECÂNICA DOS FLUIDOS 93 dF = P dA = ρghL dh • Integrar entre h = 0 e h = H: h=H h2 F = ∫ dF = ∫ ρghL dh = ρgL 2 h =0 0 • H H = 0 1 ρgLH 2 2 Substituindo os valores numéricos temos o resultado final F = 9,20 x 107 N 6.5 Princípio de Pascal De acordo com o princípio de Stevin a pressão no meio de um líquido, à profundidade h, é maior do que na sua superfície, e a diferença entre as duas pressões é ρgh. Este resultado vale qualquer que seja a forma do vaso que contém o líquido. A uma certa profundidade a pressão é constante. Se a pressão num líquido for modificada pela ação de um pistão que pressiona a sua superfície livre, o aumento de pressão é o mesmo em todos os pontos da massa do líquido. Este efeito é enunciado no princípio de Pascal: “A pressão aplicada a um líquido confinado num vaso se transmite, sem qualquer diminuição, a todos os pontos do líquido e às paredes do vaso.” Uma aplicação bastante comum do princípio de Pascal é o da prensa hidráulica, esquematizada na figura 6.2. G Figura 6.2: Prensa hidráulica. Uma pequena força F1 no pistão menor provoca uma variação de pressão F1/A, que é transmitida, pelo líquido, para o pistão maior. Como as pressões num e noutro pistão são iguais, as forças estão relacionadas por F2/A2 =F1/A1. Como a área do pistão grande é muito maior do que a do pequeno, a força no pistão grande F2 = (A2/A1)F1 é muito maior do que F1. Exemplo 6-3: O pistão de uma prensa hidráulica tem um raio de 20 cm. Que força deve ser aplicada ao pistão pequeno, de 2 cm de raio, para que no maior se possa sustentar ou elevar um carro de 1500 kg? Apostila elaborada pela Profª. Ângela Emilia de Almeida Pinto – CAV/UDESC MECÂNICA DOS FLUIDOS 94 Solução: A pressão P vezes a área A2 do pistão maior é igual ao peso mg do carro. A força F1 que deve ser exercida sobre o pistão menor é igual a essa pressão vezes a área A1. • • • A força F1 é o produto da pressão P pela área A1: F1 = PA1 O produto da pressão P pela área A2 é igual ao peso do carro: mg PA2 = F2 = mg ⇒ P = A2 Com o valor encontrado de P calcula-se F1: F1 = PA1 = mg πr 2 A1 = mg 12 =147 N A2 πr2 A figura 6.3 mostra a água contida num vaso com partes de diferentes formas. À primeira vista poderia parecer que a pressão da água no vaso de maior seção seria maior e que a água seria forçada a maiores alturas nos vasos de seções menores. A inexistência deste efeito é o paradoxo hidrostático. Figura 6.3: O paradoxo hidrostático. O nível da água não depende da forma do vaso. No vaso maior, o peso da água é suportado em grande parte pelas paredes oblíquas laterais. A pressão da água só depende da profundidade e não da forma do vaso. Aproveita-se o resultado de a diferença de pressão ser proporcional à profundidade de um fluido para medir pressões desconhecidas. A figura 6.4 mostra o medidor de pressão mais simples, o manômetro de tubo aberto. Figura 6.4: Manômetro de tubo aberto para a medição da pressão P. A diferença P – Pat é igual a ρgh. O topo do tubo em U está aberto para a atmosfera à pressão Pat. A outra extremidade do tubo está sujeita à pressão P, que se quer determinar. A diferença P − Pat é a pressão manométrica, Pman, igual a ρgh, sendo ρ a densidade do líquido no tubo. Apostila elaborada pela Profª. Ângela Emilia de Almeida Pinto – CAV/UDESC MECÂNICA DOS FLUIDOS 95 A pressão P, chamada pressão absoluta, é o resultado da soma entre a pressão manométrica e a pressão atmosférica P = Pman + Pat 6.9 P – Pat = ρ g h 6.10 Dessa forma, É comum se medir a pressão em milímetros de mercúrio (mmHg), também chamada de Torr. 1 atm = 760 mmHg = 760 Torr = 29,9 inHg = 1,01 x 105 Pa 6.11 Nos mapas meteorológicos usam-se como unidades o bar e o milibar, definidos por 1 bar = 103 milibar = 100 kPa 6.12 Num gás a pressão não varia linearmente com a altura, já que a densidade não é constante e também varia coma pressão. À medida que se sobe na atmosfera terrestre, a pressão numa coluna vertical de ar diminui, da mesma maneira que a pressão diminui quando se sobe do fundo para a superfície de uma coluna de água. A variação da pressão com altura é o caso típico de diminuição exponencial, conforme ilustra a figura 6.5. Figura 6.5: Variação da pressão com a altura em relação à superfície terrestre. Para cada 5,5 km de acréscimo na altura, a pressão diminui à metade. Apostila elaborada pela Profª. Ângela Emilia de Almeida Pinto – CAV/UDESC MECÂNICA DOS FLUIDOS 96 6.6 Empuxo e o Princípio de Arquimedes Se um corpo pesado, imerso em água, for “pesado” por uma balança de mola, a leitura da balança é menor do que quando o corpo é pesado no ar (figura 6.6). Figura 6.6: (a) Pesagem de um corpo imerso num fluido. (b) G G Diagrama de forças mostrando o peso w , a força da mola Fs e as G forças F1 e G F2 do fluido sobre o corpo. (c) O empuxo é a resultante G G G E = F2 − F1 das forças sobre o corpo. É que a água exerce sobre o corpo uma força para cima que equilibra parcialmente a força da gravidade (exemplo: rolha imersa na água), de modo que há uma aceleração para cima. A força de um fluido sobre um corpo nele imerso é o empuxo. Este empuxo é igual ao peso do fluido deslocado pelo corpo. O princípio de Arquimedes nos diz que: “Um corpo total ou parcialmente imerso num fluido sofre um empuxo que é igual ao peso do fluido deslocado.” E=w 6.13 A densidade relativa de um corpo também foi determinada por Arquimedes como sendo: ρ rel = w0 peso do corpo no ar = peso de igual volume de água w água 6.14 Mas como, pelo princípio de Arquimedes, o peso do volume de água é o empuxo sobre o corpo submerso, então ele equivale também à perda de peso que o corpo sofre ao ser pesado mergulhado na água. Logo, ρ rel = w0 peso do corpo no ar = perda de peso do corpo imerso na água w perd 6.15 Exemplo 6-4: A densidade relativa do ouro é de 19,3. Se uma coroa fosse feita de ouro puro e pesasse 8 N no ar, qual seria o seu peso quando mergulhada na água? Apostila elaborada pela Profª. Ângela Emilia de Almeida Pinto – CAV/UDESC MECÂNICA DOS FLUIDOS 97 Solução: • Cálculo do peso do corpo perdido quando imerso na água: ρ rel = • w0 w perd ⇒ w per = 8N = 0,415 N 19,3 Cálculo do peso da coroa submersa na água: wsub = 8 N – 0,415 N = 7, 59 N O peso que se mede de um corpo submerso num fluido, wsub, também pode ser escrito como a diferença entre o peso do corpo e o empuxo E: ρ wsub = w – E = ρ g V − ρf g V = ρ g V 1 − f ρ 6.16 Exemplo 6-5: Uma balsa de área A, espessura h e massa 600 kg, flutua na água com 7 cm imersos. Quando uma pessoa fica de pé sobre ela, a parte imersa é de 8,4 cm. Qual a massa da pessoa? Solução: Sendo A a área da balsa, o peso de água deslocado pela balsa é ρáguaAd1g, e este peso passa a ρáguaAd2g quando a pessoa está embarcada. Nestas expressões, ρágua é a densidade da água, d1 = 7 cm e d2 = 8,4 cm. Se igualarmos, em cada situação, o peso do fluido deslocado ao peso do corpo flutuante, podemos eliminar A e ρágua e calcular a massa m da pessoa em termos da massa da balsa, M = 600 kg. Igualando o empuxo na imersão com d1 = 7 cm ao peso da balsa, e na imersão com • d2 = 8,4 cm ao peso da balsa mais o da pessoa, temos ρáguaAd1g = Mg ρáguaAd2g = (M + m) g • Dividindo uma equação pela outra eliminamos A e ρágua: d2 M + m = d1 M • Resolvendo em m: Apostila elaborada pela Profª. Ângela Emilia de Almeida Pinto – CAV/UDESC MECÂNICA DOS FLUIDOS 98 d m = 2 − 1 M = 120 kg d1 Exemplo 6-6: A densidade da cortiça é 200 kg/m3. Calcular a fração de uma rolha de cortiça imersa quando a rolha flutua na água. Solução: Sejam V o volume da rolha e V´o volume imerso quando a rolha está flutuando. O peso da rolha é ρcVg e o empuxo da água é ρáguaV´g. • Como a rolha está flutuando em equilíbrio, o empuxo é igual ao peso: ρcVg = ρáguaV´g • Resolvendo em V´/V: ρ V´ 200 kg / m3 1 = c = = V ρágua 1000 kg / m3 5 Apenas um quinto da rolha fica mergulhado na água. O resultado não depende da forma da rolha. Se nas expressões anteriores a densidade da água ρágua for substituída pela densidade de um fluido qualquer, ρf, podemos determinar a fração imersa de um corpo que flutua em qualquer fluido. Pelo exemplo 6.6 a fração do corpo flutuante que fica imersa é igual à razão entre a densidade do corpo e a densidade do fluido. V´ ρc = V ρf 6.7 6.17 Fluidos em Movimento É muito complexo e inviável descrever escoamentos turbulentos. Por isso vamos nos limitar ao escoamento não-turbulento de um fluido “ideal”, em estado permanente. È um escoamento em que não há dissipação de energia mecânica. Vamos admitir também que o fluido seja incompressível (boa aproximação para a maior parte dos líquidos). Num escoamento de um fluido incompressível a densidade é constante em qualquer parte do fluido. Consideremos um fluido escoando num tubo de seção reta variável (figura 6.7). Apostila elaborada pela Profª. Ângela Emilia de Almeida Pinto – CAV/UDESC MECÂNICA DOS FLUIDOS 99 Figura 6.7: Fluido incompressível escoando num tubo de seção reta variável. Os volumes sombreados são iguais. O volume de fluido entra no tubo pela esquerda, através da seção A1, durante o intervalo de tempo ∆t. Se a velocidade do fluido neste ponto for v1, o volume do fluido que entra no tubo é ∆V = A1∆h = A1v1∆t 6.18 Como estamos admitindo que o fluido é incompressível, o volume de fluido que entra deve ser igual ao volume que sai no ponto de área de seção reta A2. Dessa forma, ∆V = A 2 ∆h = A 2 v 2 ∆t 6.19 Igualando (6.18) e (6.19) A1 v1 = A2 v2 6.20 Dessa forma o produto Av permanece constante e é chamada de vazão volumar Iv. As dimensões de Iv são as de volume dividido pelo tempo. No escoamento permanente de um fluido incompressível, a vazão volumar é sempre a mesma em qualquer ponto do fluido. Iv = A v = constante 6.21 A equação (6.21) é a equação da continuidade. Exemplo 6.7: O sangue escoa numa artéria de raio 0,3 cm à velocidade de 10 cm/s e entra numa região onde o raio foi reduzido em virtude do espessamento das paredes arteriais (arteriosclerose), para 0,2 cm. Qual a velocidade do sangue nesta área mais estreita? Solução: Sejam v1 e v2 as duas velocidades e A1 e A2 as áreas correspondentes. A equação (6.20) nos dá v2 = π(0,3 cm )2 A1 (10 cm / s ) = 22,5 cm v1 = 2 A2 π(0,2 cm ) Apostila elaborada pela Profª. Ângela Emilia de Almeida Pinto – CAV/UDESC MECÂNICA DOS FLUIDOS 100 6.8 Equação de Bernoulli A equação de Bernoulli relaciona a pressão, a elevação e a velocidade de um fluido incompressível num escoamento permanente. É conseqüência das leis de Newton e se deduz sem dificuldade pela conservação da energia de um segmento do fluido. Seja um fluido em movimento num tubo cuja elevação e a área da seção reta sejam variáveis, como mostra a figura 6.8. Figura 6.8: Fluido escoando num tubo de seção reta variável e de elevação variável. O trabalho total das forças F1 = P1 A1 e F2 = P2 A2 provoca a elevação da massa de fluido assinalada da altura y1 até a altura y2 e a variação da velocidade de v1 até v2. Vamos aplicar o teorema da conservação da energia ao fluido que está, inicialmente, entre os pontos 1 e 2 da figura 6.8a. Depois de um intervalo de tempo ∆t, o fluido se desloca no tubo e passa a ocupar a região entre os pontos 1´e 2´ (figura 6.8b). Seja ∆m = ρ ∆V a massa desta parcela do fluido. O efeito do deslocamento do fluido durante o intervalo de tempo ∆t é o de a massa ∆m ter sido elevada da altura y1 para a altura y2 e de a velocidade ter passado de v1 para v2. A variação da energia potencial do fluido é então ∆U = ∆m gy2 − ∆m g y1 = ρ g ∆V (y2 – y1) A variação da energia cinética do fluido é dada por ∆K = ( 1 (∆m )v 22 − 1 (∆m )v12 = 1 ρ ∆V v 22 − v12 2 2 2 Apostila elaborada pela Profª. Ângela Emilia de Almeida Pinto – CAV/UDESC ) MECÂNICA DOS FLUIDOS 101 Há uma força sobre a parte esquerda do fluido dada por F1 = P1A1. O trabalho realizado por esta força é W1 = F1 ∆x1 = P1 A1 ∆x1 = P1 ∆V Há uma força sobre a parte direita do fluido dada por F2 = P2A2. O trabalho realizado por esta força é W2 = − F2 ∆x2 = − P2 A2 ∆x2 = − P2 ∆V O trabalho total será W = W1 + W2 = (P1 – P2) ∆V Pelo princípio da conservação da energia mecânica W = ∆K + ∆U Logo, (P1 – P2) ∆V = ( ) 1 ρ ∆V v 22 − v12 + ρ g ∆V (y2 – y1) 2 Desenvolvendo a equação acima temos, P1 + ρgy1 + 1 2 1 ρv1 = P2 + ρgy 2 + ρv 22 2 2 Este resultado pode ser reescrito como 1 P + ρgy + ρv 2 = constante 2 6.21 É a equação de Bernoulli do escoamento permanente de fluido invíscido e incompressível, que nos mostra que a combinação dos valores das grandezas do primeiro membro é constante em qualquer ponto do tubo. Casos particulares: a) Fluido em repouso: v1 = v2 = 0 P1 – P2 = ρ g ( y2 – y1) = ρ g h b) Tubo com elevação constante: y1 = y2 P+ 1 ρ v2 = constante 2 Apostila elaborada pela Profª. Ângela Emilia de Almeida Pinto – CAV/UDESC MECÂNICA DOS FLUIDOS 102 Exemplo 6.8: Um grande tanque de água tem pequeno orifício à distância h da superfície livre do líquido. Calcular a velocidade do escoamento da água através do orifício. Solução: Apliquemos a equação de Bernoulli aos pontos a e b assinalados na figura acima. Como o diâmetro do orifício é muito menor do que o diâmetro do tanque, podemos desprezar a velocidade da água na superfície livre (ponto a). • A equação de Bernoulli, com va = 0, nos dá Pa + ρgy a + 0 = Pb + ρgy b + • 1 ρgv 2b 2 A pressões nos pontos a e b coincidem, e ambas são iguais à pressão atmosférica, Pat, pois os dois pontos estão abertos para a atmosfera: Pa = Pb = Pat ou Pat + ρgy a + 0 = Pat + ρgy b + • 1 ρgv 2b 2 Resolvendo a equação na velocidade vb do escoamento da água no orifício temos v 2b = 2g(y a − y b ) = 2gh ou v b = 2gh Na figura 6.9, a água escoa através de um tubo horizontal com uma seção estrangulada. A altura das duas seções é a mesma, e teremos y1 = y2. Figura 6.9: Estreitamento num tubo percorrido por uma corrente de fluido. A pressão é mais baixa na seção estrangulada do tubo, onde o fluido tem velocidade maior. E a equação de Bernoulli assume a forma P+ 1 ρ v2 = constante 2 Apostila elaborada pela Profª. Ângela Emilia de Almeida Pinto – CAV/UDESC MECÂNICA DOS FLUIDOS 103 Quando o fluido se move e entra na região estrangulada, a área A se torna menor e a velocidade v deve aumentar a fim de o produto Av permanecer constante. Porém, como P + ρv2/2 permanece constante, se a velocidade v aumenta a pressão P deve diminuir. Então, a pressão na parte estrangulada fica reduzida. Quando a velocidade de um fluido aumenta, a pressão diminui. Este resultado é conhecido como o efeito Venturi. Exemplo 6.9: Um medidor Venturi (ou simplesmente um Venturi) é um dispositivo prático de medição da vazão de um fluido. O fluido de densidade ρf passa através de um tubo de área de seção reta A1 com um estrangulamento com a área da seção reta A2 (figura abaixo). Um manômetro de tubo em U faz a ligação entre as duas partes, e está cheio com um líquido manométrico de densidade ρL. Como a velocidade no estrangulamento é maior do que na parte normal do tubo, a pressão nesta seção é menor entre os níveis do líquido nos dois ramos do manômetro. Determine a relação entre a velocidade v1, a altura medida h e as grandezas conhecidas ρf, ρL e r = A1/A2. Solução: As pressões P1 e P2 nas regiões normal e estrangulada do tubo estão relacionadas com as velocidades v1 e v2 pela equação de Bernoulli. A diferença entre estas pressões é dada pela altura h, pois P1 – P2 = ρgh. A velocidade v2 se exprime, em termos de v1 e das áreas A1 e A2, pela equação da continuidade. • Equação de Bernoulli, com elevação constante, nas regiões normal e estrangulada do tubo. 1 1 P1 + ρ f v12 = P2 + ρf v 22 2 2 • Equação da continuidade nas duas regiões e expressão de v2 em termos de v1 e das áreas A1 e A2. A v 2 = 1 v1 = rv1 A2 • Com a expressão de v2 na equação da etapa 1 tem-se a equação de P1 – P2. 1 P1 − P2 = ρf r 2 − 1 v12 2 ( • ) A expressão de P1 – P2 em termos da diferença de altura h dos níveis do líquido manométrico nos ramos do tubo em U. P1 − P2 = ρ L gh • Igualando as duas expressões de P1 – P2, tem-se v1 em termos de h: v1 = 2ρ L gh ( ) ρf r 2 − 1 Apostila elaborada pela Profª. Ângela Emilia de Almeida Pinto – CAV/UDESC 104 MECÂNICA DOS FLUIDOS 6ª LISTA DE EXERCÍCIOS 1. Um balão de vidro, de 60 mL, está cheio de mercúrio a 0°C. Quando a temperatura sobe para 80°C, transbordam do balão 1,47 g de mercúrio. Admitindo-se que o volume do balão seja invariável, calcular a densidade do mercúrio a 80°C, sendo a sua densidade a 0°C igual a 13,645 kg/m3. R: 13.621 kg/m3 2. Calcular a massa de uma esfera maciça de ferro que tenha o diâmetro de 3,0 cm. R: 0,111 kg 3. Uma mulher, de 50 kg, equilibra-se sobre os saltos altos de um par de sapatos. Se a ponta do salto for circular, com raio de 0,5 cm, que pressão a mulher exercerá sobre o solo? R: 6,24 x 106 Pa 4. A que profundidade, num lago, a pressão absoluta é igual a três vezes a pressão atmosférica? R: 20,6 m 5. Calcular (a) a pressão absoluta e (b) a pressão monométrica no fundo de uma piscina com a profundidade de 5,0 m. R: (a) 1,5 atm; (b) 0,5 atm 6. Qual a variação relativa da densidade da água do mar entre a superfície (onde a pressão é igual a 1 atm) e uma profundidade de 4,96 km (onde a pressão é 500 atm)? R: 2,47% 7. Em alguns lugares da Groelândia, a camada de gelo chega a 1 km de espessura. Estimar a pressão desta camada sobre a rocha que a sustenta (ρgelo = 920 kg/m3.) R: 9,12 MPa 8. Um elevador hidráulico é usado para elevar um automóvel de 1500 kg. O raio do eixo do elevador é de 8 cm e o do pistão de 1 cm. Que força deve ser aplicada ao pistão para elevar o automóvel? R: 230 N 9. Que pressão é necessária para reduzir o volume de 1 kg de água de 1,00 L para 0,99 L? R: 200 atm 10. No século XVII, Pascal realizou a experiência esquematizada na figura ao lado. Um tonel de vinho, completamente cheio de água, foi acoplado a um tubo vertical comprido. Por esse tubo foi derramada água até o tonel arrebentar. (a) Se a tampa do tonel tiver 20 cm de raio e a altura da água no tubo for de 12 m, calcular a força exercida sobre a tampa. (b) Se o raio interno do tubo vertical for de 3 mm, que massa de água no tubo provoca a pressão que arrebenta o tonel? R: (a) 14800 N; (b) 340 g 11. Muitas pessoas pensam, ingenuamente, que se um tubo flexível estiver com a boca flutuando acima do nível da água será possível respirar através dele enquanto estiverem mergulhadas (figura ao lado). Esquecem-se, porém, da pressão da água que se opõe à expansão do tórax e dos pulmões. Imagine que você seja capaz de respirar deitado no chão com um peso de 400 N sobre a caixa torácica. A que profundidade, na água, você conseguiria respirar, admitindo que a área frontal da caixa torácica seja de 0,09 m2? R: 45 cm Apostila elaborada pela Profª. Ângela Emilia de Almeida Pinto – CAV/UDESC MECÂNICA DOS FLUIDOS 105 12. Um tubo em U está aberto nas duas extremidades e parcialmente cheio de água (figura abaixo). Num dos braços se derrama querosene (densidade = 0,82 x 103 kg/m3), formando-se uma coluna de 6 cm de altura, como mostra o diagrama. Qual a diferença h da altura dos dois níveis de líquido em cada ramo do tubo? R: 1,08 cm 13. O volume de um cone circular reto, de altura h e raio da base r é V = πr2h/3. Um vaso cônico, com a altura de 25 cm e raio da base de 15 cm, apoiado na sua base, está cheio de água. (a) Calcular o volume e o peso da água no cone. (b) Determinar a força exercida pela água sobre a base do cone. Explicar como esta força pode ser maior do que o peso da água. R: (a) V = 5,89 x 10-3 m3; w = 57,8 N; (b) F = 173 N 14. Uma amostra de cobre (densidade relativa de 9,0) está pendurada num dinamômetro e mergulhada na água (figura ao lado). Sendo de 500 g a massa da amostra, qual a leitura do dinamômetro? R: 4,36 N 15. Mostrar que somente 11% do volume total de um iceberg se encontram acima do nível da água. (Observe que a água do mar tem a densidade 1,03 x 103 kg/m3, e o gelo tem a densidade de 0,92 x 103 kg/m3.) R: 10,67% acima 16. Um cubo de madeira, com 20 cm de aresta, e com densidade de 0,65 x 103 kg/m3, flutua na água. (a) Qual a distância entre o cume do cubo e a linha-d´água? (b) Que peso de chumbo, colocado na face superior do cubo, manteria essa face no nível da água? R: a) 7,00 cm; b) 2,80 kg 17. Uma esfera de plástico flutua na água, tendo 0,50 do seu volume imerso. Essa mesma esfera flutua num óleo com 0,40 do seu volume imerso. Determinar as densidades do óleo e da esfera. R: ρóleo = 1,250 kg/m3; ρesfera = 500 kg/m3 18. Uma prancha de espuma de estireno tem espessura de 10 cm e densidade de 300 kg/m3. Qual será a área da prancha, sabendo-se que ela flutua faceada com a superfície da água, quando sobre ela estiver um nadador de 75 kg? R: 1,07 m2 19. Uma amostra sólida, de material desconhecido, pesa 5 N no ar e 4,55 N quando mergulhada na água. (a) Qual a densidade do material? (b) De que material é, possivelmente, a amostra? R: (a) 11,1 x 103 kg /m3; (b) chumbo Apostila elaborada pela Profª. Ângela Emilia de Almeida Pinto – CAV/UDESC 106 MECÂNICA DOS FLUIDOS 20. Um corpo flutua na água com 80% do seu volume imerso. O mesmo corpo, colocado em outro líquido, flutua com 75 % do seu volume imerso. Determinar a densidade do corpo e a densidade relativa do líquido. R: ρ = 800 kg/m3; ρrel = 1,11 21. Caixas de livros, cada qual com 20 kg, são colocadas sobre uma balsa de 3 m de lado e 11 cm de espessura, que flutua em águas calmas. A madeira da balsa tem a densidade relativa de 0,6. Quantas caixas podem ser colocadas sobre a balsa sem haver perigo de os livros se molharem? R: 19 22. O hidrômetro, cujo esquema aparece na figura ao lado, é um dispositivo para a medição da densidade de líquidos. O bulbo tem uma tara de granalha de chumbo e a densidade é lida diretamente pela posição do nível do líquido sobre a haste, depois de o instrumento ter sido calibrado. O volume do bulbo é de 20 mL, a haste tem 15 cm de comprimento e 5,00 mm de diâmetro, e a massa do vidro é de 6 g. (a) Qual a massa da granalha de chumbo para que a menor densidade de líquido que puder ser medida seja de 0,9 kg/L? (b) Qual será então a maior densidade que poderá ser medida? R: (a) 14,65 g; (b) 1,03kg/L 23. Uma corrente de água flui a 0,65 m/s através de uma mangueira com 3 cm de diâmetro e um bocal de 0,3 cm. (a) Qual a velocidade da água no bocal? (b) Uma bomba está impelindo a água na entrada da mangueira e está na mesma altura que o bocal. A pressão na saída do bocal é atmosférica.Qual a pressão da bomba na entrada da água na mangueira? R: (a) 65 m/s; (b) 21,8 atm 24. Num tubo horizontal passa uma corrente de água a 3 m/s, sob a pressão de 200 kPa. O diâmetro do tubo, a partir de um certo ponto, fica reduzido a metade do inicial. (a) Qual a velocidade da corrente de água na seção reduzida do tubo? (b) Qual a pressão nesta seção reduzida? (c) Qual a razão entre as vazões da água nas duas secções? R: (a) 12 m/s; (b) 132,5 kPa; (c) As vazões são iguais. 25. Bombeia-se água permanentemente para fora de um porão inundado a uma velocidade de 5,0 m/s através de uma mangueira uniforme com raio de 1,0 cm. A mangueira passa para fora através de uma janela 3,0 m acima do nível da água. Qual a potência da bomba? R: 66 W 26. Uma mangueira de jardim com um diâmetro interno de 1,9 cm está ligada a um irrigador de gramado (parado) que consiste simplesmente em uma carcaça com 24 furos, cada um com 0,13 cm de diâmetro. Se a água na mangueira possuir uma velocidade de 0,91 m/s, a que velocidade ela sairá dos furos do irrigador? R: 8,1 m/s 27. A água está escoando com uma velocidade de 5,0 m/s através de uma tubulação com uma área de seção transversal de 4,0 cm2. A água desce gradativamente 10 m enquanto a tubulação aumenta de área para 8,0 cm2. (a) Qual a velocidade do nível mais baixo? (b) Se a pressão no nível mais elevado for de 1,5 x 105 Pa, qual será a pressão no nível mais baixo? R: (a) 2,5 m/s; (b) 2,6 x 105 Pa Apostila elaborada pela Profª. Ângela Emilia de Almeida Pinto – CAV/UDESC MECÂNICA DOS FLUIDOS 107 28. Uma tubulação de água com o diâmetro interno de 2,5 cm transporta água para o porão de uma casa a uma velocidade de 0,90 m/s e a uma pressão de 170 kPa. Se o diâmetro da tubulação for reduzido gradualmente para 1,2 cm e a tubulação subir até o segundo andar, 7,6 m acima do ponto de entrada, (a) qual a velocidade e (b) qual a pressão da água no segundo andar? R: (a) 3,9 m/s; (b) 88 kPa 29. Na figura abaixo, água escoa através de uma tubulação horizontal e depois sai para a atmosfera com uma velocidade de 15 m/s. Os diâmetros das seções esquerda e direita da tubulação são de 5,0 cm e 3,0 cm, respectivamente. (a) Que volume de água escoa para a atmosfera durante um período de 10 min? Na seção do lado esquerdo da tubulação, (b) qual a velocidade v2 e (c) qual a pressão manométrica? R: (a) 6,4 m3 ; (b) 5,4 m/s ; (c) 9,8 x 104 Pa 30. A água doce atrás da barragem de um reservatório possui uma profundidade de 15 m. Uma tubulação horizontal com 4,0 cm de diâmetro atravessa a parede da represa 6,0 m abaixo da superfície da água, como indicado na figura. Um plugue impede a abertura da tubulação. (a) Determine a intensidade da força de atrito entre o plugue e a parede da tubulação. (b) O plugue é removido. Que volume de água escoa para fora da tubulação em 3,0 h? R: (a) 74 N; (b) 150 m3 31. Um grande tanque de água tem um sangradouro à distância h da superfície livre. O sangradouro é provido de pequeno tubo horizontal. Estimar a distância x que o jato de água alcança. R: 2 h (H − h ) Apostila elaborada pela Profª. Ângela Emilia de Almeida Pinto – CAV/UDESC 108 MECÂNICA DOS FLUIDOS 32. Um medidor Venturi está montado num tubo que conduz água, conforme mostra a figura ao lado. O diâmetro do tubo é de 9,5 cm e o do estrangulamento é de 5,6 cm. O líquido manométrico é o mercúrio. Determinar a vazão da água se a diferença entre os níveis do mercúrio nos dois ramos do manômetro for de 2,40 cm. R: 1,85 m/s 33. A tubulação esquematizada na figura conduz água que sai para a atmosfera em C. O diâmetro da tubulação é de 2,0 cm em A, 1,0 cm em B e 0,8 cm em C. A pressão manométrica da água em A é de 1,22 atm e a vazão 0,8 L/s. Os dois tubos estão abertos para a atmosfera. Estimar a altura do nível da superfície livre da água em cada um dos tubos verticais. R: hA = 12,6 m; hB = 5,3 m 34. A figura abaixo é o esquema de um aspirador, dispositivo simples para se conseguir um vácuo parcial num vaso ligado e um tubo vertical em B. Se o aspirador for acoplado a uma mangueira de jardim, pode ser aproveitado para aspergir água de sabão ou solução de fertilizante sobre as plantas. Seja de 2,0 cm o diâmetro na seção de entrada A, e de 1,0 cm o diâmetro na seção da saída C, aberta para a atmosfera. A vazão da água é de 0,5 L/s e a pressão manométrica em A é de 0,187 atm. Qual o diâmetro da seção estrangulada em B para que a pressão no vaso seja de 0,1 atm? R: 6,5 mm Apostila elaborada pela Profª. Ângela Emilia de Almeida Pinto – CAV/UDESC MECÂNICA DOS FLUIDOS 109 35. Um líquido de densidade ρ0 enche os vasos comunicantes representados na figura abaixo. As áreas das seções retas são A e 3A. Determinar a variação na altura dos níveis se um corpo de massa m e densidade ρ´= 0,8 ρ0 for colocado em um dos vasos. R: Como o corpo flutua, o volume do líquido deslocado é m/ρ0 = 4 A ∆h. Portanto, ∆h = m/4ρ0A Apostila elaborada pela Profª. Ângela Emilia de Almeida Pinto – CAV/UDESC