MOGI DAS CRUZES, DOMINGO, 9 DE NOVEMBRO DE 2008 O DIÁRIO CADERNO A l 5 DO INSTITUTO HISTÓRICO E G E O G R Á F I C O DE SAO PAULO [email protected] CARTA A UM AMIGO Navalha na carne Meu caro Roberto TESOURINHA - Em maio de 1979 (há quase 30 anos), estreava um novo personagem na crônica política de Mogi. Era "Beto, o Tesourinha", criado por Paulo Rogério de Souza, então um estudante de 16 anos. 0 personagem comentava os últimos acontecimentos políticos em um salão de barbeiro Conhecemo-nos há muitos anos. O suficiente para você saber que tenho, de casado, quase o mesmo tempo de profissão. Com uma única profissão e com uma única mulher. Já disseram-me que sou conservador, preferiria ser lembrado como constante. Constante com os amigos - como você - e com os princípios que me legaram. Pois é: conto-lhe isto para falar-lhe de uma passagem de algum tempo atrás, quando fui à minha visita costumeira ao Salão Marüia, onde o barbeiro Luiz me atende há cerca de 20 anos. 0 Salão Marüia está, háso, na esquina das ruas Cardoso de Almeida e Turiaçu, no bairro de Perdizes, em São Paulo. Foi esse bairro que me acolheu tão logo me casei. Depois, troquei de bairro e de cidade, mas não troquei de barbeiro. No salão dos velhos tempos, só falta o barbeiro lhe perguntar, ao final do rosto escanea- Instituto no tempo de dona Rodo: "arco, tarco ou verva?" É o sinha ou no Dudu Hambúrguer único lugar onde tenho conta, da Rua Francisco Franco. conta de caderneta como nos Pois dia destes, quando Luiz tempos do Armazém do Carlito, aparava o pouco que me resta, Bida Bomboniére Urupema, da deval, ao lado, atendia a alguém Farmácia do Ariza, da Padaria que não conheço. Era um senhor do Januário, da lanchonete do já entrado nos 60. Simpático, não hesitou em intervir na conversa que Luiz procurava en tabular. A palavra mágica foi "Mogi". "Vocês falam de Mogi das Cruzes?" - indagou ele. Ante a resposta positiva, sacou: "Com o devido respeito a Aparício Torelly, quero lhes contar uma passagem que tive com um velho amigo da sua Cidade a quem, sempre que reencontro, relembro-a. Este meu amigo estava no mesmo barbeiro de sempre, no centro de São Paulo, quando reparou que havia uma manicure nova no pedaço. Moça bonita, elegante. Olhos claros e gestos finos. Ele não costumava fazer as unhas. Não resistiu aos encantos e convocou-a. De pronto, iniciou uma conversa que passava por passeios e presentes, gentilezas e agrados. Feito o preâmbulo, sacou o convite para um jantar antes e o que fosse possível depois. A moça disse-lhe que não sabiasedeveriaaceitar. Ele insistiu: "Por que a dúvida, sou u m cavalheiro". A moça retrucou que disso não duvidava, mas que ela era casada. " E u também - disse ele - e não vejo problema nisso, peça autorização para o seu marido". A moça insistiu na recusa sob a alegação de que talvez o marido não concordasse. "Então você prefere que eu fale com ele?" "Esse pode ser um caminho" - respondeu a garota. "Meu marido é quem está fazendo sua barba com a navalha". 0 cliente do Bideval, de quem não sei o nome, recusou-se a identificar-me o amigo mogiano. Concordou apenas em contar que a barba foi encerrada sem outros traumas. "Mas ele nunca mais foi visto nesse salão". Quando escutei isto, lembrei-me de pronto de uma outra passagem por barbeiros: o dr. Ronoel Carneiro foi um dos professores pioneiros da Faculdade de Direito Braz Cubas. Trazido pelo diretor Boris Grinberg, deu aulas muitos e muitos anos no prédio onde ainda hoje funciona o curso, na Rua Francisco Franco. Promotor público de carreira, foi procurador de Justiça e viveu a vida toda em uma confortável casa da Rua França, no Jardim Europa, em São Paulo. Mas o que o debciava mesmo eram as aulas em Mogi. Não mudou de opinião nem quando, voltando noite de chuva para São Paulo, no tempo em que não havia a Mogi-Dutra, atropelou um cavalo em Braz Cubas. Achou que isso era apenas um inciden- MOGI DE A A Z Nos tempos do Itapety Clube Estas me foram contadas por José Ruiz, amigo dos velhos tempos e que há outros tantos não vejo. Lembro-me, por exemplo, que foi no escritório de seu pai - Paco - que eu tirei m i n h a p r i m e i r a carteira de motorista, e m 1965 e que sua mãe, prof Q u i n i n h a , salvou-me muitas vezes em trabalhos escolares que me pareciam impossíveis de fazer. E sua irmã, A n a Regina, teve por algum tempo u m a disputada coluna social neste mesmo j o r n a l . Ele, José Ruiz, sempre esteve envolvido com agremiações. Políticas - ao lado do ex-deputado Jacob Lopes, do ex-prefeito Chico Nogueira e em campanhas com o médico Chico Bezerra - ou sociais. Como o Itapety Clube, sobre o qual falamos certa vez. 0 Itapety foi u m clube que fez muito sucesso em Mogi. Não tinha patrimônio algum além de u m influente quadro de associados e uma tesoureira dedicada: dona Hermínia. Também uma quadra esportiva em terreno emprestado da Rua Braz Cubas. 0 clube surgiu em meados dos anos 40, quando ficou pronto o prédio do Cine Urupema, na Praça Firmina Santana, do qual ocupou os altos. A l i , agregou os antigos freqüentadores da Portuguesa (não é de meu tempo) e perdurou até o final dos anos 60, quando perdeu a hegemonia para o Clube de Campo. Tinha os melhores carnavais da sociedade, os bailes de debutantes e de formatura. Seu Réveillon era imperdível. Como o Baile das Bruxas, que uma associação de jovens autodenominada Maxuxéia produzia. José Ruiz relembrou-me há anos duas passagens antológi* E m uma outra ocasião, cas do Itapety Clube: o clube promoveu a vinda, a * As reuniões da diretoria Mogi, da musa da Bossa Nova, eram feitas em u m a sala à es- detentora dos mais conhecidos querda, no fundo do salão de joelhos do meio artístico brasifestas. Regadas à cerveja, que leiro - Nara Leão. Providenciouo eterno presidente Sebastião se tudo, mas descobriu-se em Miguel providenciava. Bastião cima da hora que o músico que Turco, como era conhecido, ao violão acompanhava Nara, certo d i a resolveu aliviar em não havia aparecido. Chamau m a garrafa vazia o resultado ram então o proP Beni, que l i líquido da bebida. Despejou derava um conjunto musical na e devolveu a garrafa à mesa. Cidade, o Hi-Fi. Naturalmente José Ruiz garantiu-me que foi não lhe anteciparam a missão, testemunha do ato seguinte de que Beni só descobriu quando Taghio, u m outro diretor: "Ele já estava no palco. Tremeu no serviu-se da garrafa inutiliza- início, mas desempenhou a inda por Bastião Turco e bebeu cumbência com sucesso. A noite de uma talagada só. A reunião acabou com A Banda, de Chico daquela noite acabou n a mesBuarque, música que dominava ma hora". as paradas na época. a A D V O C A(: IA EM PR ES AR I A L Andari • Nagib-Marins s<)( ÍEDADF D l A D V O G A D O S R. Dr. Ricardo Vilela, 1313, 5 e 6 andares • Tel. 4796-1194 • www.anmjuridico.com.br o 7 o te de percurso e foi em frente. Certa feita, procurou um barbeiro na Cidade para aparar os ralos e espetados cabelos brancos. 0 barbeiro puxou conversa de barbeiro: "0 senhor não é daqui? 0 que o senhor faz aqui? Ah! E promotor? Então é o senhor que passou pela m i n h a Cidade e, no seu tempo, as coisas não caminharam bem? Bonoel respondeu ao estilo Ronoel: "Como é o nome de sua mãe? Ah! Então acho que o senhor é meu filho!" Nunca mais se viram... Um grande abraço do Chico SER MOGIANO É.... ... conhecer a Capela de Santo Ângelo 0 MELHOR DE MOGI A imperdível caipirinha que, a partir desta semana, Manira Anderi prepara no Botequim Villa's, na Rua Júlio Prestes, ali perto da Praça Norival Tavares. 0 PIOR DE MOGI Dica para os que ainda não encontraram solução para descontaminar a área municipal antigamente ocupada pela velha Cosim: ver o projeto da Praça Victor Civita, no Bairro de Pinheiros, em São Paulo. Durante mais de 40 anos foi um depósito de lixo infecto. Hoje, é exemplo de revitalização urbana.