ASSEMBLEIA NACIONAL GABINETE DO PRESIDENTE Discurso de SE o Sr. Presidente da Assembleia Nacional por ocasião da sessão inaugural da III edição do Curso de Liderança e Inovação na Gestão do Desenvolvimento, ministrado pelo Instituto Pedro Pires para a Liderança. Senhor Presidente do Instituto Pedro Pires, Senhor Coordenador do Curso de Liderança e Inovação na Gestão do Desenvolvimento, Senhores Formadores, Ilustres Convidados, Caros Formandos Minhas Senhoras e meus Senhores: Começo por saudar os presentes e em especial o Comandante Pedro Pires, pelo convite que me dirigiu para proferir umas breves palavras de incentivo aos Formandos da 3ª edição do Curso de Liderança e Inovação na Gestão do Desenvolvimento que ora se inicia. Confesso que foi com prazer que aceitei este desafio, pois, segundo o meu ponto de vista, num processo de formação que nem este, é importante a troca de experiência entre gerações. E a geração mais antiga, a que participou no lançamento dos alicerces do Estado de Cabo Verde pós-independente, terá, seguramente, muito a partilhar com a geração dos seus filhos que, num contexto diferente, é certo, tem a responsabilidade de prosseguir a caminhada, conduzindo o país a novos patamares de desenvolvimento. Aproveito a oportunidade para expressar ao Comandante Pedro Pires as minhas felicitações pela forma como continua a encarar um assunto crucial para o desenvolvimento e para o futuro de Cabo Verde: a qualificação dos recursos humanos. É de reconhecer que é uma causa 1 por que se tem batido de forma perseverante ao longo da sua vida política. Desde o célebre discurso do dia 7 de Julho de 1975, aquando da apresentação do Programa do 1º Governo de Cabo Verde independente, em São Vicente, sempre elegeu a capacitação dos recursos humanos como um dos eixos fundamentais das políticas públicas nacionais. Não é por mero acaso que desde essa altura, independentemente de quem governa, o sector da educação recebe a principal fatia do orçamento do Estado, contribuindo de forma decisiva para o sucesso de todos conhecido. Trata-se, efectivamente, de uma aposta que se revelou acertada, pois, numa terra carente de outras riquezas, os recursos humanos tem sido o factor mais importante e decisivo para impulsionar o motor do progresso. Bem-haja, Comandante Pedro Pires! O Curso de Liderança e Inovação na Gestão do Desenvolvimento, promovido pelo Instituto Pedro Pires, é uma iniciativa louvável a todos os títulos, pois oferece uma boa oportunidade aos formandos para, de forma interactiva, se munirem de ferramentas que lhes dêm competências técnica, política, emocional e outras para liderar processos transformacionais da sociedade, particularmente o desenvolvimento de Cabo Verde. Mas desde já importa dizer que a responsabilidade de formação de lideranças para o desenvolvimento é uma responsabilidade de todos. Do indivíduo, da família, do Estado das ONG’s e do privado. É preciso que na sociedade haja uma atitude pró-activa, uma verdadeira cultura focalizada na permanente capacitação das pessoas, entendida como uma condição para o sucesso a nível individual e colectivo. Nesta que é a 3ª edição do Curso, estou convencido de que, com base na experiência já adquirida, pode-se apostar novamente no sucesso desta formação. Julgo que estão aqui reunidos todos os ingredientes para um trabalho exitoso. Por outro lado, e pelas informações de que disponho, a forma bastante inovadora como o curso tem sido ministrado, contribui para os bons resultados já conseguidos. Tenho igualmente de destacar a preocupação do Instituto Pedro Pires para que, na selecção dos candidatos, se leve em conta tanto o equilíbrio de género como o equilíbrio geográfico. São escolhas que acabam por fazer a diferença, tornando esta formação distinta das demais, pela interactividade entre formadores e formandos, pela valorização das potencialidades de autocapacitação, pela 2 especificidade das matérias, pela importância dada à discussão dos temas e à realização de trabalhos de grupo. Com este método interactivo e de responsabilidade individual, crê-se que os resultados sejam mais eficazes e duradouros, pois, os formandos serão sujeitos activos de sua própria capacitação. Minhas Senhoras e meus Senhores: A pertinência deste curso tem a ver com o facto de que hoje enfrentamos uma realidade dinâmica e cada vez mais complexa. Cabo Verde, ao longo dos 40 anos de Estado Independente, desenvolveu-se, complexificou-se e tem novas exigências, em todos os domínios: nas organizações, na sociedade e nos processos de governação. O mesmo acontece com o mundo à sua volta, requerendo outros níveis de articulação, de inserção e ancoragem. As soluções de ontem, por melhores que sejam, já não respondem aos desafios presentes e futuros. Desafios esses que são enormes, exigindo respostas atempadas e qualitativamente mais adequadas, sob pena de sermos ultrapassados pelos acontecimentos. Efectivamente, Cabo Verde caracteriza-se ainda pela extrema vulnerabilidade aos choques externos e internos – a crise financeira internacional, bem assim a crise agrícola do ano passado, são dois exemplos elucidativos; escassez de recursos naturais; condição de pequeno estado insular, saheliano e ecologicamente frágil; uma estrutura produtiva pouco desenvolvida; uma parte significativa da população vivendo na pobreza; elevado nível de desemprego, particularmente no seio dos jovens; acentuadas assimetrias regionais; serviços básicos ainda deficientes; um sector privado ainda frágil e pouco competitivo; uma sociedade civil pouco organizada. Tais desafios clamam por respostas pertinentes e urgentes, o que pressupõe a existência de gente capacitada para liderar o processo, nas diferentes dimensões da realidade. É verdade que temos um percurso no qual nos inspirarmos, pois o sucesso de Cabo Verde até agora, está intimamente ligado à capacidade, ao engajamento e à entrega dos seus quadros e trabalhadores em geral. Mas hoje as exigências são maiores. Estamos num momento charneira. O crescimento económico, o desenvolvimento sustentável, a promoção da economia azul, o domínio das TIC’s, a redução do desemprego, a luta contra a pobreza, a promoção da equidade e igualdade de género, o aprofundamento e a qualificação da democracia, a defesa dos direitos humanos, a justiça social, a consolidação do Estado de Direito Democrático, enfim a boa governação, constituem desafios que 3 reclamam gente muito capacitada, engajada, portadora de elevados padrões de valores éticos e morais. Daí a necessidade de lideranças à altura para gerirem e conduzirem o processo. Dada à complexidade da situação em Cabo Verde, as lideranças terão de ser, simultaneamente, gestores competentes e uma referência, pelo comportamento exemplar na sociedade. Pessoas tecnicamente capazes, ousadas, inovadoras, rigorosas perante o trabalho, mas também profundamente comprometidas com as grandes causas do país e da humanidade – a paz e o progresso, o desenvolvimento sustentável, a defesa do ambiente, a inclusão e a justiça sociais, a democracia, o Estado de Direito, a tolerância e o respeito pela diferença. Por outro lado, a capacitação do quadro cabo-verdiano para liderança deve ter em conta que estamos num mundo globalizado, razão pela qual as suas competências têm de lhe permitir operar tanto em Cabo Verde como no mercado internacional. Ser nacionalista com os pés bem fincados em Cabo Verde, no sentido de querer o melhor para o país, mas, ao mesmo tempo, cidadão do mundo enxergando para além do horizonte das ilhas, apto a competir em qualquer parte do planeta. Minhas Senhoras e meus Senhores: Tudo indica que o sector público, o privado e o não-governamental, progressivamente adquirem consciência do papel de uma liderança bem capacitada. Daí que serão, certamente, os destinatários potenciais desta formação. A rentabilidade e a competitividade desses sectores dependerão de como os seus recursos humanos forem mais ou menos qualificados. Há, pois, que se adaptar aos novos desafios, capacitandoos para darem respostas consentâneas com a situação presente e serem portadores de uma visão clara do futuro. As expectativas vão no sentido de se conseguir que os formandos adquiram capacidades reforçadas de diálogo, de gestão, de liderança e resiliência psicológica. Que tenham uma compreensão e visão crítica e abrangentes dos desafios actuais e futuros de Cabo Verde e da sua integração no mundo globalizado. Espera-se que, mais do que formar líderes, se consiga desenvolver capacidades de liderança para a condução de processos de gestão e inovação sociais, económicas, políticas e culturais. E que os conhecimentos adquiridos sejam estribados em valores éticos e morais subjacentes ao ideário democrático, de desenvolvimento sustentável, de segurança humana e de boa governação. 4 É apetrechado com capacidades humanas qualificadas e lideranças renovadas que estaremos em condições de no quadro de um regime democrático, com uma economia ainda tão sensível e dependente do exterior, construir o progresso e a felicidade para todos. Minhas Senhoras e meus Senhores: Temos que reconhecer que a formação universitária tradicional tem as suas limitações. Ela eleva a capacidade de aprendizagem muito mais do que confere competências. Esses limites da formação académica ou universitária são ultrapassáveis. É precisamente a correcção deste tipo de lacunas que se pretende com este tipo de curso. Pretende-se, pois, capacitar os recursos humanos para a vida política, administrativa e empresarial, assim como para as organizações da sociedade civil. O propósito é manter o foco no conhecimento e não nos títulos académicos. Ou seja, o realce irá para as competências, para o “saber fazer”. Por outro lado, uma formação universitária não confere, necessariamente, uma compreensão abrangente de Cabo Verde e do mundo. Mas neste curso, para quadros dirigentes, terá que se valorizar a ideia de coordenação e de conjunto, ao contrário de uma visão compartimentada. Assim estarão preparados para tomarem as melhores decisões, em situações de complexidade, com maior capacidade de diálogo, gestão e liderança. Por este conjunto de circunstâncias, esta 3ª edição do Curso de Liderança e Inovação na Gestão do Desenvolvimento reune todas as condições para satisfazer as expectativas criadas e vaticino que terá o mesmo êxito que as edições anteriores. Permitam-me concluir dizendo que Cabo Verde é um país ganhador. A tenacidade com que vencemos a fome, conquistamos a Independência, lançamos as bases da construção do Estado, dá-nos a necessária confiança para encarar o futuro com optimismo. Iniciativas desta natureza reforçam em nós a certeza de que vamos ganhar os próximos desafios, sobretudo o de tornar Cabo Verde, cada vez mais, um país desenvolvido, democrático, de justiça social, paz e progresso para todos. Votos de sucessos e muito obrigado pela vossa atenção! Praia, Auditório do BCA, 12 de Outubro de 2015 5