N. 04, setembro 2011
Ano
Miriam Harumi Okumura
Hélio Rubens Jacintho Pereira Jr
02
RECUPERAÇÃO DE ÁREAS
DEGRADADAS PELA AGRICULTURA
n.
04
p. 145-160
CONVENCIONAL, COM AUXÍLIO DA
AGRICULTURA ORGÂNICA
Faculdade de Engenharia e Arquitetura – FEA
Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio
CEUNSP – Salto-SP
Miriam H. Okumura, Hélio R.J Pereira Jr – RECUPERAÇÃO DE ÁREAS
DEGRADADAS PELA AGRICULTURA CONVENCIONAL, COM AUXÍLIO DA
AGRICULTURA ORGÂNICA
Revista Complexus Faculdade de Engenharia e Arquitetura – CEUNSP,
SALTO/SP, ano. 02, n. 4, P.145-160, setembro de 2011. Disponível em:
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1
N. 04, setembro 2011
1. MIRIAM HARUMI OKUMURA E HÉLIO RUBENS JACINTHO PEREIRA JUNIOR – DOCENTES
DA ÁREA AMBIENTAL, CENTRO UNIVERSITÁRIO NOSSA SENHORA DO PATROCINIO –
CEUNSP, [email protected]
2. INTRODUÇÃO
Segundo Medeiros (2002), o desafio posto para o setor de ciência e tecnologia, além da busca
de alternativas tecnológicas adaptadas às escalas e possibilidades da produção de pequeno
porte, diz respeito à implementação de estratégias capazes de promover o desenvolvimento
local, sustentado por meio do conhecimento necessário para a viabilização de processos de
gestão, de organização da produção, de adequação do aparato normativo, visando à criação de
oportunidades de inserção competitiva dos produtores rurais de economia familiar.
A agricultura orgânica gera inúmeros benefícios em todo o sistema agropecuário, envolvendo
conceitos de produção social e ecologicamente correta e economicamente viável. A saúde dos
seres humanos, dos animais e das plantas é consequência de solos equilibrados e
biologicamente ativos (vivos), em conjunto com a biodiversidade funcional do sistema,
ambos baseados na agroecologia. Esta agricultura de processos leva em conta a reciclagem
máxima dos nutrientes necessários ou oriundos da produção. A terra e o trabalho, a mão-deobra e a matéria orgânica são essenciais neste agroecossistema. Este sistema de produção
implica na adoção de técnicas de manejo integradoras das atividades agropecuárias, sendo que
a obtenção de um alimento orgânicos passa pela geração interna de insumos necessários ao
cultivo ou criação (ROSSI, 2005).
Segundo Rodrigues & Gandalfi (2001), historicamente a agricultura brasileira tem resolvido o
dilema do aumento da produção agrícola, não apenas com o aumento da produtividade dos
solos agrícolas disponíveis, mas principalmente pela expansão das áreas agriculturáveis
através da abertura de novas fronteiras agrícolas.
Até hoje, a abertura de novas fronteiras agrícolas não significou necessariamente a
disponibilização de áreas com vocação agrícola bem estabelecida, em substituição a
vegetação natural. Uma análise histórica da expansão da fronteira agrícola constata que
muitas das áreas agrícolas disponíveis no passado foram abandonadas ou estão sendo
subutilizadas em função de práticas agrícolas inadequadas ou da inadequação dessas áreas
para a agricultura. Como consequência temos um contínuo processo de ocupação e abandono
de áreas por todo o país, processo este que vem sendo, descrito e redescrito por mais de 50
anos (PRADO Jr., 1994; FEARNSIDE, 1989; NEPSTAD et AL., 1997)
3. TIPOS DE DEGRADAÇÃO CAUSADAS PELA AGRICULTURA CONVENCIONAL
3.1. Do Solo


Erosão hídrica: perda de horizontes superficiais; deformação do terreno; movimentos
de massa; deposição.
Erosão eólica: perda de horizontes superficiais; deformação do terreno; movimentos
de massa; deposição.
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


Química: perda de nutrientes e/ou matéria orgânica; desbalanço de nutrientes;
salinização; acidificação; poluição.
Física: compactação; selamento, encrostamento; inundação; aeração deficiente,
excesso ou falta de água.
Biológica: redução da biomassa, redução da biodiversidade.
A erosão pode ser causada pela água (hídrica), vento (eólica) ou pela combinação desses
agentes. No Brasil a erosão hídrica é a mais importante.
As principais formas de expressão da erosão hídrica nas áreas agrícolas são a laminar, em
sulcos e em voçorocas (Bertoni & Lombardi Neto, 1990).
A laminar se caracteriza pela remoção de camadas delgadas do solo em toda uma área. Na
erosão em sulcos, a enxurrada concentrada atinge volume e velocidade suficientes para formar
canais de diferentes dimensões. A associação de grande volume de enxurrada e situações
específicas de terreno, relativas tanto à pedologia e quanto à litologia, promovem o
deslocamento de grandes massas de solo e a formação de cavidades de grande extensão e
profundidade denominadas voçorocas. Existem outras formas de erosão, como solapamentos,
deslocamentos ou escorregamentos de massas, que são mais características de áreas
declivosas e/ou solos arenosos em condições particulares.
3.2. Degradação Microbiológica
Os agrotóxicos são degradados no ambiente pela ação de microrganismos e de enzimas por
eles produzidas, no processo chamado de biodegradação. O solo é habitado por um número
muito grande de microrganismos, bactérias, protozoários, algas, fungos e também por
organismos macroscópicos como anelídeos e artrópodes, formando uma comunidade
complexa.
Os compostos orgânicos que sofrem reações de biodegradação são geralmente classificados
em três grupos: compostos que sofrem degradação imediata, sem sofrerem prévia alteração;
compostos que requerem uma fase de adaptação antes que uma decomposição ocorra e
compostos orgânicos recalcitrantes, os quais podem persistir no ambiente sem modificações
por vários anos, como é o caso dos hidrocarbonetos clorados.
A biodegradação é afetada pelo tipo de solo, pH, umidade e temperatura. O efeito do tipo de
solo na persistência de um pesticida não pode ser facilmente definido, solos com altos teores
de matéria orgânica tendem a ter grande atividade microbiana mas ao mesmo tempo tendem a
adsorver fortemente o pesticida e mantê-lo no solo.
3.3. Solubilidade dos Agrotóxicos em Água
A solubilidade em água de um agrotóxico é a quantidade máxima do produto que se dissolve
em água sob uma determinada temperatura e pH. Esta característica determina a mobilidade e
o destino do produto no ambiente. A solubilidade dos agrotóxicos em água é dada em função
da temperatura, pH, força iônica e matéria orgânica do solo. A maioria dos compostos
orgânicos torna-se mais solúvel com o aumento da temperatura.
Com o aumento da concentração dos íons hidrogênio, pH, os agrotóxicos ácidos aumentam
sua solubilidade, enquanto os agrotóxicos básicos podem atuar de modo contrário. A presença
de matéria orgânica dissolvida, como ácidos fúlvicos e húmicos, pode aumentar a solubilidade
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de vários agrotóxicos, pois estes sofrem partição na matéria orgânica. Moléculas altamente
solúveis geralmente apresentam coeficientes de adsorção baixos e fatores de bioconcentração
também relativamente baixos. Tendem a ser mais rapidamente biodegradáveis no solo e na
água.
alguns agrotóxicos são hidrofílicos (>2% de solubilidade em água) enquanto outros são
hidrofóbicos (solubilidade em água de 1ppb). Podemos relacionar a solubilidade com a
mobilidade de agrotóxicos no solo. Deve-se sempre considerar a solubilidade em água em
conjunto com outras propriedades do pesticida e do ambiente.
3.3.1. Volatização
A volatilização é o processo pelo qual um composto passa à fase de vapor e nesta forma para
a atmosfera, a pressão de vapor é um índice deste fenômeno. É um importante mecanismo de
perda de produtos.
Quando um produto é incorporado ao solo, a perda por volatilização envolve a dessorção,
movimento na superfície do solo e volatilização para a atmosfera. A influência da adsorção na
pressão de vapor, depende da natureza e da concentração do produto, da umidade e das
propriedades do solo, como conteúdo de matéria orgânica e de argila. A incorporação de
agrotóxicos no solo diminui a concentração deste na superfície de evaporação, diminuindo a
volatilização.
Ocorre uma volatilização mais rápida em solos úmidos do que em solos secos, devido ao
aumento da pressão de vapor, resultado do deslocamento do pesticida da superfície do solo
pela água.
3.3.2. Meia Vida de um Produto
A meia vida de um produto é o tempo necessário para que metade da concentração do
princípio ativo desapareça e é determinada em condições normais de utilização do produto.
Para compostos orgânicos, a meia vida pode ser calculada para diferentes tipos de reações
como volatilização, fotólise, potencial de lixiviação e degradação. Os valores de meia vida,
são importantes para o entendimento do potencial de impacto no ambiente, causado pelo
agrotóxico. Por exemplo, se um produto altamente tóxico tem meia vida alta, a permanência
deste no solo será longa e o impacto deste no ambiente poderá ser desastroso.
3.3.3. Adsorção – Dessorção
Alguns agrotóxicos são predominantemente adsorvidos na argila, enquanto outros se ligam à
matéria orgânica. Vários fatores influenciam a adsorção de agrotóxicos no solo: o tipo e a
concentração dos solutos na solução do solo, o tipo e a quantidade de minerais de argila, a
quantidade de matéria orgânica no solo, o pH, temperatura e o composto específico
envolvido. Além destes, o tipo de cátion que está saturando a argila (Fe, Ca ou H), a
capacidade de troca de cátions (CTC) e a superfície específica também são importantes. A
maioria dos principais processos de adsorção ocorrem na superfície das argilas e materiais
húmicos, os quais tem grande superfície específica por unidade de área. A adsorção na fração
orgânica do solo é maior que nas argilas, principalmente os compostos hidrofóbicos. Os
ácidos húmicos podem retardar a mineralização de alguns compostos, com o aumento da
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adsorção. A adsorção pode reduzir a velocidade e a extensão da degradação, mas não impede
que esta ocorra, moléculas adsorvidas podem ser utilizadas como fontes de carbono, energia,
nitrogênio, pela microbiota do solo e os compostos serem transformados lentamente.
3.3.4. Matéria Orgânica
A matéria orgânica presente no solo é importante, como já dito, na adsorção de agrotóxicos no
solo. A adição de materiais orgânicos aumenta a atividade microbiana e conseqüentemente
acelera a degradação de muitos agrotóxicos, além disso, a fração orgânica do solo tem o
principal papel no comportamento dos agrotóxicos no ambiente. Apesar da CTC da matéria
orgânica do solo ser relativamente alta na faixa de pH que predomina nos solos, ela é pH
dependente, e devido a isto, a matéria orgânica possui tanto sítios hidrofílicos como sítios
hidrofóbicos. A competição com a água reduz o papel dos sítios hidrofílicos.
3.3.5. Umidade do Solo
No solo, a atividade da água e a sua disponibilidade dependem das interações entre o seu
conteúdo, a temperatura e a natureza do ambiente coloidal. A distribuição do tamanho dos
poros, a estabilidade do agregado e a composição mineralógica influenciam a retenção da
água contra a perda gravitacional e a captação pelos microrganismos e raízes de plantas. O
baixo conteúdo de umidade afeta a degradação dos agrotóxicos através da redução da
biomassa microbiana e de sua atividade e por reduzir o agrotóxico na solução do solo. Áreas
onde os solos estão sujeitos a períodos alternados de alagamento e seca, com atividades de
microrganismos anaeróbios e aeróbios, com ciclos de redução e oxidação permitem um
ambiente favorável para a dissipação de um maior número de agrotóxicos quando comparados
a um sistema único.
3.3.6. Potencial de Oxi-Redução
O estado redox de um solo é um importante parâmetro ambiental no destino dos agrotóxicos.
O potencial redox determina a relação entre a atividade dos compostos oxidados e reduzidos
no equilíbrio. Altas energias de ativação podem inibir algumas reações de oxiredução, mesmo
que o potencial redox do sistema indique que estas reações possam ocorrer. Na maioria dos
casos, há necessidade de um catalisador para que a reação redox ocorra e, provavelmente as
reações são catalisadas por microrganismos. Os valores típicos de Eh em solos bem aerados
estão entre 0,8 a 0,4 V, em solos moderadamente reduzidos entre 0,4 e 0,1V, solos reduzidos
em torno de -0,1V. Os solos altamente reduzidos tem Eh entre -0,1 e -0,3V e ocorrem em
solos inundados.
3.3.7. pH do Solo
A medida do pH é um critério importante como indicativo das reações microbianas nos solos,
alguns agrotóxicos, principalmente os organofosforados e carbamatos, são afetados pelo pH
do solo, enquanto a persistência dos agrotóxicos organoclorados raras vezes é afetada por este
parâmetro. Diminuindo o pH do solo, pode aumentar a adsorção devido a grande adsorção do
conjugado ácido-base. Além dos efeitos diretos na molécula orgânica, o pH pode ter
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influência indireta na persistência devido ao seu efeito na atividade microbiana e nos
processos de adsorção/dessorção.
3.3.8. Temperatura do Solo
A temperatura é uma variável microambiental importante devido ao seu efeito termodinâmico
direto no metabolismo celular e na maioria das propriedades físicas e químicas do ambiente,
incluindo potencial redox e o movimento de difusão dos líquidos e gases dentro do solo. No
solo, afeta processos que contribuem para a dissipação dos agrotóxicos, como a atividade
microbiana, a volatilização e os processos de transportes. Dentro da faixa de temperatura
normalmente encontrada nos solos agricultáveis, a velocidade de degradação geralmente
aumenta com a temperatura e umidade. As altas temperaturas existentes nos trópicos podem
favorecer a perda do agrotóxico por meio da volatilização e do aumento da atividade
microbiana.
3.3.9. Degradação Química
As transformações químicas que ocorrem no solo são mediadas pela água, que é o meio de
reação, o reagente, ou ambos. Devido à sua composição, o solo representa um meio efetivo
para a condução de reações químicas, pois contém oxigênio, água, superfícies adsorventes
reativas e também os agrotóxicos. Além disso, as enzimas extra celulares estão amplamente
distribuídas e estabilizadas no solo e têm um papel importante na degradação de muitos
agrotóxicos, representando um ponto de transição entre a degradação química e a
microbiológica intracelular.
A hidrólise é um processo importante na transformação dos agrotóxicos. Para a maioria dos
compostos, pode ser a rota dominante de transformação no solo onde é freqüente a hidrólise
de determinados grupos funcionais antes do início da degradação microbiana. No solo, as
reações hidrolíticas podem ser biologicamente mediadas ou podem ocorrer via processos
abióticos. As reações hidrolíticas não biológicas no solo são aceleradas devido às reações de
catálise e as argilas são responsáveis pela catálise e degradação de muitos agrotóxicos.
A velocidade e os produtos da hidrólise dos organofosforados são influenciados por fatores
como adsorção, temperatura, pH e a força iônica do sistema. Aparentemente os fatores mais
importantes são o pH e a adsorção. Os organofosforados sofrem comumente hidrólise
alcalina, o que resulta na detoxificação destes agrotóxicos. Além disso a susceptibilidade
destes compostos a hidrólise alcalina está relacionada a sua atividade biológica.
3.3.10. Degradação Fotoquímica
A fotólise é primariamente um fenômeno de superfície e não ocorre se o produto for
incorporado ao solo. A superfície do solo recebe uma grande quantidade de poluentes que são
provenientes de diversas fontes e a aplicação de agrotóxicos resulta numa aplicação direta
sobre a superfície do solo, onde ficam sujeitos a transformações fotoquímicas, além das
químicas e microbiológicas.
Nos primeiros 0,5cm da camada do solo, o ambiente químico é diferente do solo como um
todo, fases sólida, líquida e gasosa estão muito próximas da interface solo/atmosfera e sujeitas
a irradiação solar, onde podem ocorrer reações fotoquímicas. Devem ser considerados os
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efeitos da radiação solar na interface solo-atmosfera, incluindo modificações na temperatura,
umidade do solo, no conteúdo orgânico e na atividade microbiana, e destes na estabilidade
dos químicos aplicados na superfície do solo.
As reações fotoquímicas resultam da absorção de fótons de energia radiante pelas moléculas.
Estas reações ocorrem mesmo na ausência de catalisadores, Contaminação dos Solos em
Áreas Agrícolas em temperaturas mais baixas do que as frequentemente requeridas. São
induzidas por radiações solares intensas, têm um papel importantíssimo na determinação da
natureza e destino final de moléculas químicas no ambiente.
3.4. Desertificação
O uso e o manejo inadequado dos solos são apontados como as principais causas de
origem antrópica relacionadas com a desertificação. O extrativismo vegetal e mineral, assim
como o super-pastoreio das pastagens nativas ou cultivadas e o uso agrícola por culturas que
expõem os solos aos agentes da erosão são as principais causas dos processos de
desertificação (ACCIOLY, 2000).
As alterações nas condições químicas de solos cultivados tais como concentração e
tipo de íons na solução do solo e variações do pH, podem causar modificações na dispersão da
fração argila, degradando a estrutura original do solo, causando alterações nas características
físicas do solo (BENITES & MENDONÇA, 1998), o que pode limitar o desenvolvimento
vegetal nestas áreas.
No Brasil, os relatos sobre desertificação se intensificaram a partir das décadas de 70 e
80 (Rodrigues, 1997). Durante a década de 90, a desertificação passou de tema regional para
ganhar relevância nacional por força da Agenda 21 (que trata do assunto no capítulo 12 –
Manejo de Ecossistemas Frágeis: A luta contra a desertificação e a seca) e da Convenção das
Nações Unidas para o Combate da Desertificação (UNCCD) da qual o Brasil é signatário
desde 1994.
Figura 1. Solo desertificado. Foto: revista viva terra
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3.5. Salinização
O termo salinidade ou caráter salino do solo refere se à presença de sais mais solúveis em
água fria que o sulfato de cálcio (gesso), em quantidade que interfere no desenvolvimento da
maioria dos vegetais, que se expressa em uma condutividade do solo em alguma época do ano
entre 4 e 7dS/m (acima deste valor, considera-se como sálico – adaptado de Embrapa Solos,
1999). Esta característica pode-se ser natural, como resultado dos fatores de formação e dos
processos de gênese dos solos, como por exemplo, os solos salinos que se observam ao longo
da costa brasileira e aluviões e várzeas do Nordeste, ou oriunda da ação antrópica, como
resultado das práticas de drenagem e irrigação de solos localizados em condições ambientais
que propiciem o acumulo de sais no solo (climas áridos e semiáridos e/ou drenagem do solo
deficiente). Em termos agrícolas, a salinidade se refere à existência de níveis de sais no solo
que possam prejudicar de maneira economicamente significativa, o rendimento das plantas
cultivadas. A tolerância ou sensibilidade das plantas à presença de sais no solo é uma
característica genética própria de cada tipo de planta, que determina que umas tolerem
concentrações elevadas como a cevada e o algodão, enquanto outras, como o feijão e a
cenoura, sejam bastante sensíveis, mesmo a baixos teores. Esta característica das culturas e
vegetais de forma geral, está associada à limitação que a salinidade impõe ao
desenvolvimento do sistema radicular das plantas, restringindo seu crescimento e absorção de
água, face ao elevado potencial osmótico do meio (seca fisiológica) e ao desbalanceamento
geral entre os nutrientes assimilados pelas plantas, especialmente quando o sódio está
presente.
Figura 2. Salinização na Baixa Bacia do Agri (foto de G. Quaranta)
3.6. Descaracterização de Áreas Úmidas
As áreas úmidas no Brasil somam cerca de 44,7 milhões de hectares e ocupam cerca de 5% do
território. Também conhecidos como solos de várzeas, são constituídos principalmente pelas
classes dos Organossolos, Gleissolos, Planossolos e Neossolos. Esses solos, quando drenados
e/ou cultivados, estão sujeitos a mudanças significativas em seus atributos, especialmente os
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sulfatados e os mais ricos em matéria orgânica. O uso intensivo e inadequado (com drenagem
excessiva, por exemplo) ocasiona alterações quantitativas e qualitativas expressivas na sua
matéria orgânica, decorrentes do recesso de oxidação, com efeito significativo nas
propriedades físicas, químicas e morfológicas, além da produtividade agrícola.
4. SISTEMA DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA
4.1. Sistema convencional
Os sistemas de produção convencionais atuais vêm se tornando bastante produtivos, em
grande parte, devido ao algo uso de insumos externos como adubos químicos e agrotóxicos.
Este uso elevado de insumos sintéticos, muitas vezes de algo risco ambiental, causa a
contaminação do ambiente e de seres vivos através de resíduos (ALTIERE, 1999; COELHO,
2002; FERNANDES et. al. 2001), além de demandarem muito combustível fóssil em seu
processo produtivo.
Tais sistemas, ditos convencionais ou modernos, não consideram a complexidade do
ecossistema natural, utilizando-se de extensas áreas de cultivo contínuo, também conhecido
como monocultivos. O aparecimento e o aumento da população de muitas pragas e doenças é
também resultado desta simplificação do ambiente (ALTIERI, 1999).
A agricultura contribui com elevada porcentagem na contaminação da água e do solo em nível
mundial. Com isto, torna-se uma atividade que possui grande potencial de causar degradação
se não manejada adequadamente. Existem muitos fatores relacionados com a agricultura que
podem causar degradação do solo, da água, do ar, dos organismos e da topografia. Entre estes
podemos enfatizar a inaptidão do ambiente, a compactação, o preparo do solo inadequado, o
cultivo, a irrigação inadequada, o super-pastejo e a cobertura de solo insuficiente. A não
observação de alguns fatores pode transformar áreas agrícolas em ambientes degradados
(KOBAYAMA, MINELLA & FABRIS, 2001)
4.2. Sistemas orgânicos
A agricultura orgânica é considerada uma agricultura sustentável, pelo seu modo de produção,
que busca manter produções viáveis por um longo tempo através de tecnologias ecológicas e
normas de manejo que conservem ou melhorem a base física e a capacidade de suporte do
ecossistema. As técnicas de produção são baseadas na utilização de subprodutos de
reciclagem da matéria orgânica vegetal e animal em substituição à adubação química e aos
defensivos agrícolas. Adotando-se o uso de fertilizantes orgânicos (compostos, estercos, tortas
vegetais, etc) e minerais pouco solúveis (rochas moídas sem tratamento químico, como
fosfatos naturais e calcário) o cultivo de adubos verdes, o controle alternativo de pragas e
doenças e a preservação da vegetação e fauna nativa, o sistema orgânico reduz a dependência
de insumos externos e gera melhores condições para a fauna e pessoas da região
(GROSSMAN, 2203; LOUREIRO; LOTADE, 2005).
A agricultura orgânica caracteriza-se pela diversificação e integração da produção interna,
sendo o termo orgânico originário da ideia de que a unidade de produção funcione como um
"organismo vivo", significando que todas as atividades da fazenda (olericultura, fruticultura,
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criações, etc.) seriam partes de um corpo dinâmico, interagindo entre si (Embrapa Agrobiologia,
2005).
A produção orgânica tem como diferencial a oferta de produtos saudáveis, livre de
agroquímicos, as relações justas de trabalho, a preservação ambiental, a não contaminação dos
trabalhadores rurais e a possibilidade de atender mercados diferenciados dispostos a pagarem
prêmios pela qualidade do produto e pela dificuldade de produção
5. PRODUTIVIDADE DO CULTIVO CONVENCIONAL DE ARROZ ALAGADO EM ERMOSC
Figura 3. Localização da sede da cidade de Ermo-SC (Fonte: IBGE, 2009)
A Figura 3 mostra a localização da cidade de Ermo no estado de Santa Catarina. Na Tabela 1
visualizamos os dados estatísticos da produção convencional de Arroz (em casca).
Considerando a quantidade produzida de 21700 toneladas de arroz, e a área plantada/colhida
de 3100 hectares, o rendimento por hectare é de 7 t/ha.
Arroz (em casca) - Quantidade produzida
21.700 Tonelada
Arroz (em casca) - Valor da produção
13.020 Mil Reais
Arroz (em casca) - Área plantada
3.100 Hectare
Arroz (em casca) - Área colhida
3.100 Hectare
Arroz (em casca) - Rendimento médio
7.000 Quilogramas por Hectare
Tabela 1. Dados estatísticos da Lavoura Temporária de 2008 (IBGE, 2009)
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Figura 4. Cultivo de arroz alagado convencional. 2.A) Área alagada sem semeadura. 2.B)
Área alegada semeada, em início de crescimento.
Componentes
Especificações Unidade Quantidade
Valor
unitário
Total
Sementes
Certificada
Kg
150
1,30
712,14
Adubo base
Abudo de cobertura
Herbicida
00-20-20
Uréia
Roundup 480
Basegran 600
Facet 50pm
Karate 50
Kg
Kg
L
L
Kg
L
150
100
1
1,6
0,75
0,15
0,97
0,94
16,5
36,8
112,67
23,9
145,5
94
16,5
58,88
84,503
3,585
Furadan 5 G
Kg
15
5,63
84,45
Bim 750 br
Kg
0,2
148,6
29,72
Total
1229,28
Inseticida
Fungicida
Tabela 2. Custos com insumos para uma área média de 20 há e uma produtividade de 7000
kg/ha na região sul de Santa Catarina. Fonte: modificado de ARROZ IRRIGADO: Recomendações Técnicas da
Pesquisa para o Sul do Brasil, 2010
Na tabela 2 estão os dados de custos dos insumos de uma produção de arroz alagado
convencional.
Miriam H. Okumura, Hélio R.J Pereira Jr – RECUPERAÇÃO DE ÁREAS
DEGRADADAS PELA AGRICULTURA CONVENCIONAL, COM AUXÍLIO DA
AGRICULTURA ORGÂNICA
Revista Complexus Faculdade de Engenharia e Arquitetura – CEUNSP,
SALTO/SP, ano. 02, n. 4, P.145-160, setembro de 2011. Disponível em:
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6. CULTIVO ORGÂNICO DE ARROZ ALAGADO
CANCHA 6
CANCHA 5
CANCHA 7
CANCHA 8
CANCHA
4
CANCHA
3
CANCHA
2
CANCHA
1
Figura 5. Área de estudo, cancha 1 a cancha 8
A Figura 5 mostra a área de estudos, dividida em canchas (pequenos lotes de produção que
facilitam o manejo da cultura). Nessa área de produção orgânica existe um açude próprio
destinado apenas às canchas, evitando que a água de outras produções convencionais vizinhas
entre em contato com a produção orgânica.
Canchas
1
2
3
Área (ha)
Produção Total
Área Total
Rendimento médio
0,5
1,15
1,8
4
5
1
1
33.5 toneladas
9,65 hectares
3,5 t/há
6
1,6
7
8
2,6
Tabela 3. Dados da área de cultivo orgânico de arroz alagado.
Componentes
Sementes
Adubo base
Adubo de cobertura
Herbicida
Especificações Unidade Quantidade
Certificada
00-20-20
Uréia
Roundup 480
Basegran 600
kg
kg
kg
L
L
150
0
0
0
0
Valor
unitário
Total
1,30
0,97
0,94
16,5
36,8
712,14
0
0
0
0
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Inseticida
Fungicida
Facet 50pm
Karate 50
kg
L
0
0
112,67
23,9
0
0
Furadan 5 G
kg
0
5,63
0
Bim 750 br
kg
0
148,6
0
Total
712,14
Tabela 2. Custos com insumos para uma área média de 20 há e uma produtividade de 7000
kg/ha na região sul de Santa Catarina. Fonte: modificado de ARROZ IRRIGADO: Recomendações Técnicas da
Pesquisa para o Sul do Brasil, 2010
Figura 6. Retirada de amostras para análise do solo.
Foram retiradas amostras de solo de cada cancha, no período de 12 a 20 de setembro de 2010,
totalizando 8 amostras de solo, que foram analisadas pelo Instituto Agronômico de Campinas
– IAC.
Identificação Amostra
Parâmetro
Unidade
Cancha
1
Cancha 2
Cancha 3
Cancha 4
Cancha 5
Cancha 6
Cancha 7
Cancha 8
média
21/10/2008
M.O.
g/dm³
98
91
94
98
99
93
99
99
96,38
80
4,5
4,5
4,4
4,4
3,9
4,4
4,3
3,9
4,29
4,3
P
mg/dm³
17
18
19
24
32
44
41
29
28,00
10,9
K
mmolc.dm³
0,7
0,7
0,4
0,5
0,8
0,8
0,8
1,1
0,73
0,2
pH
Ca
mmolc.dm³
52
42
43
45
29
55
22
31
39,88
30
Mg
mmolc.dm³
25
21
21
25
14
42
14
16
22,25
21
Na
mmolc.dm³
Al
mmolc.dm³
H+Al
mmolc.dm³
121
109
121
121
182
98
121
185
132,25
340,45
S.B.
mmolc.dm³
78,4
64,3
63,6
70,5
43,6
97,2
36,7
49
62,91
57,05
C.T.C.
mmolc.dm³
199,6
173,4
184,8
191,7
228,4
195,3
157,9
233,7
195,60
397,5
V%
%
39
37
34
37
19
50
23
21
32,50
13,34
S
mg/dm³
B
mg/dm³
0,2
0,24
0,19
0,19
0,25
0,21
0,27
0,23
0,22
Cu
mg/dm³
0,5
0,4
0,4
0,1
0,4
0,6
0,5
0,5
0,43
1
1
1
1
1
1
1
1,00
Fe
mg/dm³
1
Mn
mg/dm³
3,1
6,1
2,4
0,6
2,7
2,9
3,3
1,5
2,83
ZN
mg/dm³
0,5
0,6
0,6
0,2
0,6
0,4
0,7
0,7
0,54
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DEGRADADAS PELA AGRICULTURA CONVENCIONAL, COM AUXÍLIO DA
AGRICULTURA ORGÂNICA
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Tabela 4. Análise do solo. As amostras de solo das canchas 1 a 8 foram coletadas dia
20/09/2010
Figura 7. Área preparada e alagada para recebimento das sementes de arroz.
Na figura 7 as canchas de arroz já estavam preparadas para a semeadura do arroz
(16/10/2010).
7. DISCUSSÃO
A agricultura convencional, caracterizada por monoculturas, promove a modificação do
ambiente, causando o desequilíbrio daquela região. Os principais impactos ambientais estão
na modificação da paisagem, na mudança das características do solo (físico e químico) e na
biota daquela região.
A prática da agricultura orgânica beneficia as características de cada região, ajudando a
preservar a paisagem, solo e biota.
Existem algumas consequências para adoção de tal prática. Por ser uma produção com
restrições para a aplicação de insumos agrícolas. A produtividade é menor se comparada à
produtividade da agricultura convencional. Na comparação na produção de arroz alagado, o
arroz convencional tem produtividade média de 7000 kg/ha, enquanto que a produtividade
média do arroz orgânico é de 3500 kg/ha.
Os custos de insumos, para a agricultura convencional ficam em média R$ 1229,78 para uma
área de 20 ha e uma produtividade de 7000 kg/ha e para a agricultura orgânica R$ 712,14 para
uma mesma área, representando que a agricultura convencional possui 58 % a mais de custos
em insumos agrícolas. Podemos considerar que alguns agricultores orgânicos produzem a
própria semente para plantio, o que representaria um custo menor ainda.
A adubação na agricultura orgânica se restringe a compostos orgânicos e correção da acidez
do solo com fosfato reativo natural. Na área de estudo foi aplicado o fosfato para correção da
acidez, a análise do solo posterior à aplicação do fosfato demonstrou que, de acordo com
Boletim Técnico nº 91 da Epagri, não há necessidade de adubação complementar.
Contrariando a agricultura convencional, onde a cada safra se faz indispensável a adubação e
correção do solo.
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A agricultura orgânica, devido aos seus meios naturais de cultivo, com dispensa de adubos
químicos e herbicidas, contribui para uma melhor manutenção da fauna e flora edáfica e do
ecossistema, aumento da matéria orgânica e resistência à erosão, diminui a poluição ambiental
e, consequentemente, a recuperação do ambiente degradado, pois, além do ambiente
equilibrado, proporciona qualidade de vida para aqueles que ali trabalham e sobrevivem
(KOBAYAMA, MINELLA & FABRIS, 2001).
Tabela 4. Amostra de arroz orgânico no varejo paulista (junho de 2006)
A tabela 4 mostra o resultado de uma pesquisa de preço de arroz orgânico em comparação
com o arroz convencional. Nota-se que o preço do arroz orgânico varia entre 2,6 a 5,2 vezes a
mais que o preço do arroz convencional.
8. CONCLUSÃO
É possível produzir produtos agrícolas diminuindo o impacto ambiental desse tipo de
atividade. A agricultura orgânica fornece manejo adequado para produção agrícola de arroz
alagado, mantendo as características do meio físico, químico e biológico.
Há a necessidade de conscientização dos agricultores para o uso racional e adequado dos
insumos agrícolas, mesmo na agricultura convencional, onde existe ao abuso,
principalmente, de defensivos agrícolas (inseticidas e herbicidas) o que prejudica o meio
ambiente.
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9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Arroz irrigado: recomendações técnicas da pesquisa para o Sul do Brasil / 28. Reunião Técnica da
Cultura do Arroz Irrigado, 11 a 13 de agosto de 2010, Bento Gonçalves, RS. - Porto Alegre:
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Miriam H. Okumura, Hélio R.J Pereira Jr – RECUPERAÇÃO DE ÁREAS
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AGRICULTURA ORGÂNICA
Revista Complexus Faculdade de Engenharia e Arquitetura – CEUNSP,
SALTO/SP, ano. 02, n. 4, P.145-160, setembro de 2011. Disponível em:
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