XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.
REBROTA DE Poincianella bracteosa EM ÁREA DE CAATINGA,
DOIS ANOS APÓS CORTE RASO
Nara Lucia da Silva1, Cybelle Laís Souto Maior Souto Melo2, Robson Borges de Lima3, Francisco Tarcísio Alves
Júnior4, German Hugo Guttierez Cespedes 5, José Antônio Aleixo da Silva6, Rinaldo Luiz Caraciolo Ferreira6

Introdução
A Caatinga é a formação vegetal predominante do semiárido brasileiro, ocupando em torno de 11% do território do
Brasil (Alves et al., 2009). As atividades agropecuárias tradicionais vêm contribuindo para a degradação do
ecossistema, pois a maioria dos agricultores realiza o corte raso e a queima da vegetação nativa para realizar o plantio,
sendo posteriormente a área abandonada por sua baixa produtividade, ficando a mesma em repouso para recomposição
da vegetação nativa e da fertilidade do solo (Nunes et al., 2009).
Na prática do corte raso de plantas da caatinga, é usual ser mantida a base do caule da planta, sendo esperado que as
reservas existentes nessa base sejam suficientes para favorecer a rebrota das plantas que sobreviverem. Uma planta
cortada pode produzir rebrota logo após o corte, mas esta pode morrer com a chegada da estação seca, e as reservas
existentes na base do caule cortado podem não ser suficientes para favorecer a produção de novas rebrotas, sendo a
morte da planta registrada mais tardiamente (Figueirôa et al., 2008).
Alguns estudos que analisam a rebrota das espécies após o corte, são normalmente realizados dentro de um Plano de
Manejo Florestal, principalmente daquelas exploradas para diversos fins e usos (Sampaio et al., 1998; Figueirôa et al.,
2006; Fabricante et al., 2009).
Dentre as espécies com capacidade de brotação após o corte ou dano da parte aérea destaca-se a Poincianella
bracteosa (Tul.) L.P.Queiroz, conhecida popularmente como Catingueira, pertence à família Fabaceae, apresenta hábito
arbóreo de porte médio, sem espinhos. As espécies do gênero Poincianella que ocorrem em áreas de caatinga são
bastante utilizadas, Ferraz et al. (2012) descreveu usos para combustível, lenha e carvão vegetal, construções rurais,
medicinal e outros usos não madeireiro.
O uso racional dos recursos florestais para qualquer ecossistema só deverá ser esboçado a partir do conhecimento de
suas dinâmicas biológicas, sendo, por exemplo, imprescindível conhecer, como se dão os processos de regeneração
natural diante das perturbações antrópicas (Pereira et al., 2001). Diante do exposto, objetivou a analisar a rebrota e a
regeneração natural de Poincianella bracteosa dois anos após corte raso em uma área de caatinga no município de
Floresta-PE
Material e métodos
A pesquisa foi realizada em uma área de aproximadamente 50 ha com vegetação de caatinga na fazenda Itapemirim
(8°30´37” S e 37°59´07” W), localizada a 70 km da sede do município de Floresta-PE. O clima, segundo a classificação
de Köppen, é do tipo BSh, semiárido quente, apresentando precipitação média anual de aproximadamente 503 mm, com
período chuvoso de dezembro a abril e temperatura média anual de 26,1 ºC. A vegetação da área é do tipo savanaestépica (Veloso et al., 1991), caracterizada por caatinga arbustivo-arbórea, com presença de cactáceas e estrato
herbáceo, podendo conter, em alguns locais, macambira (Bromelia laciniosa Mart. ex Schultes f.) e caroá (Neoglaziovia
variegata (Arr. Cam.) Mez.). O solo da região é classificado como Luvissolo Crônico poucos profundos, textura
superficial arenosa a média e superficial. Nas vertentes dos vales predominam os solos cascalhentos, porém mais férteis
(Embrapa, 2007).
Em 2009 foi implantado um experimento para monitorar a respostas da vegetação ao corte raso. Através de corte,
foram removidos todos os indivíduos com Circunferência a Altura do Peito (CAP a 1,3 m do solo) maior ou igual a 6
cm, excetuando frutíferas e proibidas de corte pela legislação, sendo cortados a aproximadamente 30 cm do solo.
1
Mestranda, Programa de Pós Graduação em Ciências Florestais, Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), R. Dom Manoel de
Medeiros/n Dois Irmãos, Recife-PE, CEP 52171-900. Bolsista FACEPE. E-mail: [email protected]
2
Doutoranda, Programa de Pós Graduação em Ciências Florestais, Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), R. Dom Manoel de
Medeiros/n Dois Irmãos, Recife-PE, CEP 52171-900. Bolsista CAPES. E-mail: [email protected]
3
Professor Associado do Departamento de Ciência Florestal da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), R. Dom Manoel de
Medeiros/n Dois Irmãos, Recife-PE, CEP 52171-900. Bolsista de Produtividade do CNPq. E-mail: [email protected]; aleixo@ dcfl.ufrpe.br
4
Programa de Pós Graduação em Ciências Florestais, Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), R. Dom Manoel de Medeiros/n Dois
Irmãos, Recife-PE, CEP 52171-900. Bolsista PNPD/CAPES/FACEPE. E-mail:[email protected]
5
Engenheiro Florestal, M.Sc., Gestor de Pesquisa, Agro Industrial Mercantil Excelsior S/A. (Agrimex), Engenho Bujari, S/N, BR -101 Norte,
Goiana, Pernambuco, 55900-000. [email protected]
6
Professor Associado do Departamento de Ciência Florestal da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), R. Dom Manoel de
Medeiros/n Dois Irmãos, Recife-PE, CEP 52171-900. Bolsista de Produtividade do CNPq. E-mail: [email protected]; aleixo@ dcfl.ufrpe.br
XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.
Posteriormente, em 2011 foram amostradas de forma sistemática 22 parcelas de 5x5 m, dispostos em duas linhas
distanciadas 10 m uma da outra e 5 m entre parcelas na linha. Todos os indivíduos de Poincianella bracteosa foram
mensurados a altura, número de rebrotas, tipo de rebrota: 1- rebrota do corte; 2- não proveniente de rebrota. Os
indivíduos foram divididos em classes de altura: classe 1: 0,20 – 0,50 m; classe 2: 0,51 – 1,00 m; classe 3: 1,01 – 1,50
m; e classe 4: maior que 1,5 m.
Resultados e Discussão
Das 22 unidades amostrais não foi constatado mortalidade cepas de Poincianella bracteosa, e em 20 parcelas havia
indivíduos da espécie. Figueirôa et al. (2008) pesquisando Poincianella pyramidalis constatou que a espécie sobrevive
ao corte raso, independentemente da estação climática, num intervalo de tempo maior do que um ano.
Foram contabilizados 403 rebrotas proveniente de 43 indivíduos, o que proporcionou uma densidade de 781,82 ind.
ha-1. Deste total, 31 (563,64 ind. ha-1) foram provenientes de rebrota de cepas cortadas em 2009 e 12 indivíduos (218
ind. ha-1) que não eram de rebrota. A média de ocorrência dos indivíduos adultos desta espécie na área, em condições de
vegetação preservada, é de 644 ind.ha-1 (Alves Junior et al. 2013a) e de 490 ind.ha-1 regenerantes (Alves Junior et al.,
2013) e para uma área que sofreu supressão da vegetação por correntão após 25 anos foi de 338 ind.ha-1 (Ferraz, 2011)
e 170 ind.ha-1 (Pimentel, 2012), respectivamente para indivíduos adultos e regenerantes.
As parcelas apresentaram uma média de 2,15 plantas Poincianella bracteosa com 20,15 rebrotas em média. A
quantidade de rebrota por planta variou de 2 a 50 (12,03±9,13) para indivíduos que sofreram corte e de 1 a 11
(2,5±3,21) para os que surgiram da regeneração natural. Com relação ao desenvolvimento em altura dos indivíduos que
sofreram corte 5,36% tinham entre 0,20 e 0,50 m, 45,58% dos indivíduos entre 0,51 e 1,00 m, na classe 3 com altura de
1,01 a 1,50 m concentrou 43% e maiores que 1,50 m representou apenas 5,9% (Figura 1).
Agradecimentos
A CAPES, FACEPE e CNPq pelo financiamento de bolsas de estudos e/ou projeto. A empresa AGRIMEX
Agroindustrial Excelsior S.A. por disponibilizar a área para a pesquisa.
Referências
Alves Junior, F. T.; Ferreira, R. L. C.; Silva, J. A. A.; Marangon, Luiz C.; Guttierez-Cespedes, G. H. Structure
evaluation of the Caatinga vegetation for sustainable forest management in the municipality of Floresta, Pernambuco,
Brazil. In: Gunkel;G.; Silva, J. A. A.; Sobral, M. C. (Org.). Sustainable Management of Water and Land in Semiarid
Areas. 1ed. Recife: Editora Universitária UFPE, 2013a, p. 186-202.
Alves Junior, F. T.; Ferreira, R. L. C.; Silva, J. A. A.; Marangon, Luiz C.; Guttierez-Cespedes, G. H.. Natural
regeneration of an area of caatinga vegetation in Pernambuco state, northeastern Brazil. Cerne, v. 19, n. 2, 2013b.
<http://dx.doi.org/10.1590/S0104-77602013000200006>.
Alves, J. J. A.; Araújo, M. A.; Nascimento, S. S. Degradação da Caatinga: uma investigação ecogeográfica. Revista
Caatinga,
v.
22,
n.
3,
p.
126-135,
2009.
<http://periodicos.ufersa.edu.br/revistas/index.php/sistema/article/view/560/645>. 22 Out. 2013.
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa. Zoneamento Agroecológico do Estado de Pernambuco –
ZAPE. 2007. <http://www.uep.cnps.embrapa.br/zape>. 15 Dez. 2010.
Fabricante, J. R., Feitosa, S. S., Bezerra, F. T .C., Feitosa, R. C., Xavier, K. R. F. Análise populacional de Caesalpinia
pyramidalis Tul. (Fabaceae Lindl.) na caatinga da região do Seridó nordestino. Revista Brasileira de Biociências, v. 7, n.
3, p. 285-290, 2009. <http://www.ufrgs.br/seerbio/ojs/index.php/rbb/article/view/1188/876>. 25 Out. 2013.
Ferraz J. S. F. Análise da vegetação de caatinga arbustiva-arbórea em Floresta, PE, como subsídio ao manejo florestal. Recife:
Universidade Federal Rural de Pernambuco, 2011. 131 p. Tese Doutorado.
Ferraz, J. S. F.; Ferreira, R. L. C.; Santos, M. V. F.; Meunier, I. M. J. Usos de especies leñosas de la caatinga del
municipio de Floresta en Pernambuco, Brasil: conocimiento de los indios de la aldea Travessão do Ouro. Bosque, v. 33,
n. 2, p. 183-190, 2012. <http://dx.doi.org/10.4067/S0717-92002012000200008>.
Figueirôa, J. M.; Araújo, E. L.; Pareyn, F. G. C.; Cutler, D. F.; Gasson, P.; Lima, K. C.; Santos, V. F et al . Variações
sazonais na sobrevivência e produção de biomassa de Caesalpinia pyramidalis Tul. após o corte raso e implicações para
o manejo da espécie. Revista Árvore, v. 32, n. 6, p.1041-1046, 2008. <http://dx.doi.org/10.1590/S010067622008000600009>.
Figueirôa, J. M.; Pareyn, F. G .C.; Araújo, E. L.; Silva, C. E.; Santos, V. F.; Cutler, D. F.; Baracat, A.; Gasson, P.
Effects of cutting regimes in the dry and wet season on survival and sprouting of woody species from the semi-arid
XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.
caatinga of northeast Brazil. Forest Ecology and Management, v. 229, n. 1–3, p. 294-303, 2006.
<http://dx.doi.org/10.1016/j.foreco.2006.04.008>.
Nunes, L. A. P. L.; Araújo Filho, J. A.; Holanda Júnior, E. V.; Menezes, R. Í. Q. Impacto da queimada e de
enleiramento de resíduos orgânicos em atributos biológicos de solo sob caatinga no semi-árido nordestino. Revista
Caatinga,
v.
22,
n.
1,
p.
131-140,
2009.
<http://periodicos.ufersa.edu.br/revistas/index.php/sistema/article/view/326/518>. 22 Out. 2013.
Pereira, I. M.; Andrade, L. A. de; Costa, J. R. M.; Dias, J. M. Regeneração natural em um remanescente de caatinga sob
diferentes níveis de perturbação, no agreste paraibano. Acta Botânica Brasílica, v.15, n.3, p.431-426, 2001.
<http://dx.doi.org/10.1590/S0102-33062001000300010>.
Pimentel, D. J. O. Dinâmica da vegetação lenhosa em área de caatinga, Floresta – PE. Recife: Universidade Federal
Rural de Pernambuco, 2012. 62 p. Dissertação Mestrado.
Sampaio, E. V. S. B.; Araújo, E. L.; Salcedo, I. H.; Tiessen, H. Regeneração da vegetação de Caatinga após corte e
queima, em Serra Talhada, PE. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 33, n. 5, p. 621-632, 1998.
<http://seer.sct.embrapa.br/index.php/pab/article/view/4890/7006>. 25 Out. 2013.
Veloso, H. P.; Rangel-Filho, A. L. R.; Lima, J. C. A. Classificação da vegetação brasileira, adaptada a um sistema
universal. Rio de Janeiro: IBGE, 1991. 123 p.
Figura 1. Distribuição dos os indivíduos de Poincianella bracteosa por classe de altura e tipo de regeneração em uma área
de caatinga, Floresta-PE. Em que: classe 1: 0,20 – 0,50 m; classe 2: 0,51 – 1,00 m; classe 3: 1,01 – 1,50 m; e classe 4:
maior que 1,5 m.
Download

Trabalho