11 DE MARÇO DE 2015
Uso de energia nuclear ainda é polêmico no Japão, 4
anos após Fukushima
RFI
Peritos fazem controle na usina nuclear de Fukushima.
EUTERS/Tomohiro Ohsumi
O Japão lembra nesta quarta-feira (11) os quatro anos do terremoto seguido de tsunami
que devastou a região nordeste do país e matou cerca de 18 mil pessoas. O desastre provocou
ainda o pior acidente nuclear depois de Chernobyl, e, até agora, o assunto é polêmico. O primeiroministro japonês, Shinzo Abe, quer religar algumas das usinas e voltar a utilizar a energia nuclear,
mas parte da sociedade é contra.
Ewerthon Tobace, correspondente da RFI em Tóquio
Durante todo o dia, as emissoras de tevê transmitiram programas especiais sobre a
tragédia. A data foi lembrada ainda em todo o país, que fez um minuto de silêncio exatamente às
14h46, horário em que o tremor de 9 graus de magnitude atingiu a região nordeste do Japão e
provocou ondas gigantes que varreram cidades inteiras.
Desde 2011, muita coisa já foi feita. Quase todo o lixo já foi retirado e a infraestrutura
das cidades praticamente já está funcionando. Mas ainda há muito trabalho e a reconstrução não
evoluiu como previsto. Só para se ter uma ideia, quase 230 mil pessoas continuam vivendo em
casas provisórias.
Para tentar acelerar o trabalho, o primeiro-ministro Shinzo Abe anunciou ontem um novo
plano de cinco anos. Mas esta fase só terá início em 2016. O líder japonês prometeu mais esforços
do governo para ajudar os que foram afetados pela tragédia e disse ainda que vai revitalizar a
província de Fukushima, seriamente atingida pelo desastre nuclear. O plano do governo é
transformar a região em um polo de pesquisas tecnológicas de ponta e de novas indústrias,
principalmente na área de robôs e de fontes de energia renováveis.
Energia nuclear
Esta semana houve alguns protestos no Japão contra o uso da energia nuclear. O tema é
quase um tabu no país, principalmente depois que Shinzo Abe tomou posse, em 2012. O premiê
quer voltar a utilizar ainda este ano algumas das usinas nucleares japonesas, que estão desligadas
desde 2011. No entanto, parte da sociedade é contra.
Antes do desastre, cerca de 30% da energia consumida no Japão era proveniente de
usinas nucleares. Nos últimos quatro anos, o país foi obrigado a aumentar a importação de
combustíveis fósseis para suprir a demanda. Isso fez com que o Japão deixasse de ter superávits
e, no ano passado, registrou o pior déficit comercial de toda a sua história.
Mas pior do que o estrago causado na economia ou até pelo tsunami é a situação de
Fukushima, que está longe de ter uma solução. Segundo cálculos do Centro Japonês para
Pesquisa Econômica, a limpeza da região levará ao menos mais 30 anos. Cerca de 71 mil pessoas,
que foram obrigadas a abandonar suas casas por causa da contaminação nuclear, ainda não têm
data para voltar e vivem em abrigos temporários.
Além disto, os produtos da província enfrentam um forte preconceito dos japoneses, que
evitam consumi-los por medo de estarem contaminados.
Contaminação controlada?
O governo diz que está tudo sob controle na usina nuclear acidentada, mas esta semana
Reiko Fujita, a chefe da Sociedade de Energia Atômica do Japão, pediu mais transparência no
setor. Ela disse que a falta de um reconhecimento franco dos problemas e de um debate aberto
é uma questão muito séria no caso de Fukushima.
A especialista lembrou que o papel dela na comunidade acadêmica é trazer mais
transparência para o setor. Disse ainda que membros da Sociedade de Energia Atômica do Japão
vão continuar fazendo o possível para garantir que um acidente como o da usina Fukushima
nunca volte a acontecer.
Japão é uma região de risco
O Japão é um país sujeito a constantes terremotos. Apesar de o país estar preparado para
grandes tremores, tragédias como a de 2011 sempre afetam psicologicamente as pessoas. Desde
aquele ano, pouco mais de três mil pessoas que viviam em moradias improvisadas morreram
devido a doenças e suicídios.
Além disto, de acordo com uma análise do Instituto de Pesquisa Internacional de Ciências
de Desastres, o número de terremotos em algumas regiões do Japão está 100 vezes superior ao
que ocorria antes do desastre. Segundo a Agência Meteorológica do Japão, só no período de 11
de março de 2014 até o dia 7 de fevereiro deste ano, foram registrados 737 abalos na região leste
do Japão. Há 10 anos, foram 306 terremotos no mesmo período e local. Por isso, o governo tem
investido em estruturas e tecnologias para garantir a segurança das pessoas em caso de
terremoto ou de tsunami.
Notícia adaptada de:
http://www.portugues.rfi.fr/geral/20150311-uso-de-energia-nuclear-ainda-epolemico-no-japao-4-anos-apos-fukushima
Download

Uso de energia nuclear ainda é polêmico no Japão, 4 anos após