PRODUÇÃO MUSICAL 50 e aprender com... FONOGRAMAS PARA OUVIR Parte IV Se você está acompanhando essa coluna seriada (que iniciou na edição de março de 2008), pode pular direto para a lista de faixas. Caso contrário, para não ficar boiando sem entender do que se trata, leia o primeiro parágrafo. Boa leitura! Ticiano Paludo é produtor musical, publicitário, músico, compositor e sound designer. Leciona Áudio Publicitário e Atendimento na FAMECOS - Faculdade de Comunicação Social (PUC/RS) - e Arranjo e Produção Musical Nível III no IGAP - Instituto Gaúcho de Áudio Profissional. http://www.pontowav.com.br/hotsite/ 50 www.backstage.com.br V ocê já deve ter lido diversas matérias enfocando os álbuns mais importantes da história. Em março desse ano, propus algo diferente aos leitores da Backstage. Não tenho a pretensão de elaborar nenhuma lista única e definitiva. Quero apenas apontar algumas faixas (e álbuns) que tenho escutado ultimamente e cuja produção, arranjos e canções são dignas de um minuto (ou mais) de atenção. Não vou fazer uma análise extremamente detalhada e minuciosa, apenas sugerir um ponto de partida em uma tentativa de elaborar (começando em março e terminando em julho/2008) um conjunto, reunindo 50 fonogramas dignos de respeito. A cada mês, apontarei 10 faixas, artistas e álbuns. Não interessa se é nacional ou internacional, se é brega ou descolado, se é atual ou retrô. A lista será organizada em ordem alfabética. Ter a mente aberta (e, principalmente, os ouvidos) é um dos principais pontos para se produzir bem. Recomendo comprar os álbuns a seguir: é um investimento tão bom quanto fazer um curso de áudio. Você está pronto para essa viagem? Então, vamos nessa! LETRA Q Nessa penúltima parte do nosso passeio, quero destacar uma das baladas de rock mais lindas que já ouvi. Essa faixa tem um acabamento primoroso e sua sonoridade é muito agradável. Começa melancólica, apenas com um violão, e segue em um crescendo emocionante. O vocal de Geoff Tate é de muito bom gosto e contribui como reforço para toda a dramaticidade que a canção se propõe a ter. Construir baladas eficientes que fujam do tradicional “Baby, I love you” é uma tarefa árdua. O Queensryche mostra caminhos para que isso seja possível. ARTISTA: QUEENSRYCHE FAIXA: SILENT LUCIDITY ÁLBUM: EMPIRE (1990) SAIBA +: http://www.queensryche.com PRODUÇÃO MUSICAL LETRA R ARTISTA: RAMMSTEIN FAIXA: DU HAST ÁLBUM: SEHNSUCHT (1997) SAIBA +: http://www.rammstein.com Fui conhecer o Rammstein quando eles abriram o show antológico do Kiss com a formação original aqui em Porto Alegre, na década de 90. Infelizmente, eu estava tão enlouquecido pela possibilidade de ver o Kiss que acabei não prestando a devida atenção ao Rammstein. Mas, passado um breve período, corri atrás do prejuízo e não me arrependi. Esse grupo é muito original e conseguiu elaborar uma identidade própria, forte e eficaz. Misturando letras em alemão, música eletrônica e heavy metal, desenvolvem uma sonoridade muito peculiar. Eu toquei metal por muitos anos da minha vida e acho que as novas bandas de rock pesado deveriam prestar atenção em saídas como esta apresentada pelo Rammstein. Afinal, guitarra distorcida (e nada mais) é muito lugarcomum e não seduz mais ninguém. Sob o olhar do mainstream, para mim, existem apenas três bandas que conseguiram evoluir de modo relevante no cenário metal contemporâneo (que começou com o Black Sabbath nos 70s e desaguou no Iron Maiden nos 80s): Pantera, Sepultura e Rammstein. O álbum inteiro é ótimo e merece ser adquirido (o projeto gráfico e encarte são muito caprichados também). ARTISTA: REVOLTZ FAIXA: MR. WHITE ÁLBUM: BEIJO NO ESCURO (2007) SAIBA +: http://www.revoltz.com.br Se você gosta de garage bands e está querendo conhecer gente inteligente que tem trabalhado produzindo rock indie de qualidade não pode deixar de conferir o som da Revoltz. Tem um quê de jovem guarda (da boa fase roots), experimentalismo e mais umas misturas bem interessantes. Som para cima, bem feito. Torço que alcancem o merecido reconhecimento e sucesso. No site deles dá para baixar o disco full na faixa. Boa pedida para quem quer ouvir algo realmente bom e novo. ARTISTA: REPLICANTES, OS FAIXA: FESTA PUNK ÁLBUM: HOT 20 (1987/1999) SAIBA +: http://cliquemusic.uol.com.br/artistas/ replicantes.asp Confesso que, apesar de reconhecer e admirar a importância histórica do punk – principalmente no que se refere aos conceitos de “faça você mesmo” adotados atualmente pela web 2.0 – nunca fui um fã ardoroso do eswww.backstage.com.br 51 PRODUÇÃO MUSICAL tilo. Porém, os gaúchos do Replicantes sempre fizeram um trabalho competente e vanguardista. “Festa Punk” foi lançada originalmente em vinil em 1987. Em 1999, saiu uma edição em CD contendo 20 sucessos da banda. A faixa figura nessa coletânea. Punk é sinônimo de coisa tosca? Se você pensa assim, precisa ouvir correndo este álbum. sonoridade é bem punch e as músicas contagiam o ouvinte. Descartável, mas vale à pena ouvir. Afinal de contas, o conceito de chiclete é exatamente esse: abrir, mascar, extrair algum prazer e cuspir fora. Nesse sentido, o Snow Patrol não deixa nada a desejar. P.S: O problema do chiclete é que tanto seu sabor quanto sua aderência são efêmeros. LETRA S ARTISTA: SNOW PATROL FAIXA: HANDS OPEN ÁLBUM: EYES OPEN (2006) SAIBA +: http://www.snowpatrol.com Sou bem receoso com as bandas de rock contemporâneo que habitam o mainstream. Acho todas iguais, cha- Afinal de contas, o conceito de chiclete é exatamente esse: abrir, mascar, extrair algum prazer e cuspir fora. Nesse sentido, o Snow Patrol não deixa nada a desejar tas e sem criatividade. Não posso dizer isso do Snow Patrol. Ok, eles não revolucionaram absolutamente nada, mas produzem boas canções. A 52 www.backstage.com.br ARTISTA: SHAKIRA FAIXA: SE QUIERE, SE MATA ÁLBUM: PIES DESCALZOS (1995) SAIBA +: http://www.shakira.com Shakira pode ser considerada uma das grandes decepções da minha vida. Quando ouvi “Pies Descalzos” fiquei empolgado. Uma cantora colombiana, ótimas canções, produção impecável, tudo para funcionar. Mas ela chegou de pés descalços e logo cedeu à tentação, colocou um salto, ficou loira e correu para o lado negro da força. Eu não sou amigo dela, então vou especular: imagino que a mudança de rumo tenha sido uma definição conjunta entre manager e gravadora. Independente de quem seja a culpa, é um claro exemplo de assassinato a sangue frio de uma identidade musical valiosa que foi deixada de lado para cair na vala comum. Sentiremos saudades da verdadeira Shakira. O álbum destacado por mim mistura latinidade (sem ranços) com pop 80s/90s e é muito bem resolvido. Pena que o resto dos álbuns que veio depois caiu em uma curva vertiginosa de perda de originalidade e espontaneidade. Nem sempre se pode ter tudo e é difícil es- Já disse que não sou muito chegado em discos ao vivo. Porém, existem dois para os quais eu tiro o chapéu e o que mais for preciso: ALIVE! (do Kiss) e este aqui do Uriah Heep. Tenho a edição de vinil (maravilhosa) colher entre um punhado polpudo de dólares a mais na conta bancária e a integridade artística. Pelo menos, Shakira pode agora comprar vários exemplares deste álbum para lembrar que era feliz e não sabia. LETRA T ARTISTA: TROPICÁLIA - VÁRIOS FAIXA: BAT MACUMBA ÁLBUM: TROPICÁLIA OU PANIS ET CIRCENCIS (1968) SAIBA +: http://tropicalia.uol.com.br Quando se misturam os ingredientes Gil, Caetano, Mutantes, Gal Costa e Nara Leão e tem-se como cozinheiro dessa iguaria tropical o genial produtor musical Rogério Duprat, o resultado não pode ser diferente do esperado: um prato sofisticado e saboroso. Este álbum é um dos xodós da minha coleção, PRODUÇÃO MUSICAL e “Bat Macumba” uma obra prima. Qualquer pessoa pensante que deseja trabalhar com produção musical tem obrigação de ouvir esse trabalho. Classifico-o como o Sgt. Pepper’s brazuca. meus colegas se debatendo para pedir emprestado. Essa faixa tem mais de 10 anos e soa como se fosse lançada no ano que vem. The Edge é, para mim, o Hendrix da nossa era. E a produção do Flood também impressiona. Uma banda que tem tudo e um pouco mais para ARTISTA: URIAH HEEP FAIXA: SUNRISE ÁLBUM: LIVE – JANUARY 1973 (1973/2001) SAIBA +: www.uriah-heep.com ARTISTA: TONY DA GATORRA FAIXA: ASSASSINO ÁLBUM: SÓ PROTESTO (2005) SAIBA +: http://tonydagatorra.blogspot.com Você apenas acha que já ouviu artistas estranhos. Na verdade não ouviu nada enquanto não escutar atentamente o gaúcho Tony da Gatorra. Conforme o release apresentado no site da sua gravadora (PELIGRO), “Tony é um eletrotécnico gaúcho, hippie cabeludo coberto de medalhas com o símbolo da paz, que inventou um instrumento totalmente surreal que chamou de Gatorra, um misto de bateria eletrônica com sintetizadores em forma de guitarra. Letras de protesto. Pós-punk outsider. Gênio”. Sim, o cara trabalha como eletrotécnico para comprar o pão de cada dia. Sim, ele inventou seu próprio instrumento e criou um estilo único. Talvez, por não depender em nada da música para sobreviver, tenha conseguido criar algo tão surpreendente. Alguns de vocês o acharão uma farsa, uma piada, uma brincadeira musical de mau gosto. Outros (como eu), apenas dirão: a Peligro não exagera na descrição, o cara é gênio. Aliás, o blog dele também é algo à parte (dá até para ver fotos da Gatorra). 54 www.backstage.com.br Já disse que não sou muito chegado a discos ao vivo. Porém, existem dois para os quais eu tiro o chapéu e o que mais for preciso: ALIVE! (do Kiss) e este aqui do Uriah Heep. Tenho a edição de vinil (maravilhosa). O som de tudo nessa gravina é grandioso (principalmente a batera e os teclados). O arranjo é disparado um dos mais belos de toda a história do rock. A canção dispensa elogios (impecável). Todo “roqueiro profissional” deveria ter esse álbum. Meu coração dispara sempre que ouço essa faixa. Pode comprar no escuro que eu garanto! ARTISTA: U2 FAIXA: DISCOTHEQUE ÁLBUM: POP (1997) SAIBA +: www.u2.com O U2 é tudo: tudo de bom, pop, retrô, rock, vanguarda, eletrônico, moderno, punk. Lembro direitinho que estava na faculdade quando esse álbum saiu e fui o primeiro da minha turma a comprá-lo. Lembro-me, também, dos The Edge é, para mim, o Hendrix da nossa era. E a produção do Flood também impressiona. Uma banda que tem tudo e um pouco mais para se tornar imortal como os Beatles se tornar imortal como os Beatles. Que venham novos trabalhos geniais para que a gente possa aprender da forma mais divertida: ouvindo e assimilando as informações. Hoje estou completando 2 anos aqui na Backstage. Parece que foi ontem. Já escrevi (com muito prazer) nada menos do que 24 colunas. Espero que vocês estejam curtindo ler tanto quando eu curto escrever. Obrigado a vocês, ao Nelson (nosso estimado, iluminado e ilustre editor) e a todo o povo querido que, desde o início, me acolheu muito bem. E podem ter certeza de que estamos sempre trabalhando duro para produzir informação de qualidade. No próximo mês concluímos essa caminhada (que iniciou em março de 2008) analisando as últimas 10 faixas, fechando, assim, 50. Abraços e até... e-mail para esta coluna: [email protected]