Um albergue para chamar de lar Abrigo para mochileiros que gostam de socializar – e preferem economizar –, a cultura do hostel chega a Goiânia SEGUNDA-FEIRA, 20 DE OUTUBRO DE 2014 JÚNIOR BUENO Ana Clara Lima já viajou por vários países: Itália, França, Inglaterra, República Tcheca, Eslovênia, entre outros. Em todos os lugares que conheceu como mochileira, a estudante de Economia escolheu se hospedar em um hostel. Passando uns dias no Rio de Janeiro ou de férias em Alto Paraíso de Goiás, da mesma forma, um hostel foi a melhor opção para ela. Hostel – estrangeirismo usado como sinônimo de albergue – é um tipo de acomodação, conhecido pelos preços convidativos e pela socialização dos hóspedes, onde cada convidado pode arrendar uma cama ou beliche, num dormitório partilhado, com casa de banho partilhada, lavanderia e, em alguns casos, a cozinha. Os quartos podem ser divididos em masculinos e femininos, mas há também a opção dos quartos mistos. Há, também, em alguns casos, a oferta de quartos privados. Os hostels são geralmente baratos para os ocupantes onde se praticam preços intitulados de low-cost (baixo custo). Muitos deles têm residentes de longo termo acabando por trabalhar como recepcionistas ou faixineiros temporariamente ou mesmo troca de acomodação gratuita. “Em Paris, um recepcionista do hostel onde eu estava hospedada me indicou para um free-lance. Em Alto Paraíso, um rapaz pagava sua hospedagem limpando os banheiros do albergue,” conta Ana Clara. Para Ana Clara, as vantagens dessa acomodação em comparação com um hotel são muitas, mas ela aponta duas como as principais: a socialização possível e a economia na diária. “Você pode chegar sozinha ao lugar e ter certeza que vai achar companhia para sair e conhecer a cidade.” Ela diz que a possibilidade de explorar um lugar novo através de dicas de outros viajantes é uma forma melhor de se conhecer um local do que pelos guias turísticos tradicionais. “É um ambiente mais jovem, mais livre, mais aberto e menos burocrático. Fora que a questão econômica pesa muito, principalmente para quem viaja por conta própria.” Há menos privacidade num hostel que num hotel, principalmente nos quartos partilhados. Dividir um dormitório é bem diferente do que ficar num quarto privado num hotel ou casa de família que aceitam hóspedes, e não é aconselhado para os que requerem mais privacidade e sofisticação. “Um hostel não preza pelo conforto, é uma acomodação acessível, mas que requer desprendimento,” diz Ana Clara. Mas esta característica contribui mesmo assim para outra, de potencial bastante interessante, o fator social e de interação entre os viajantes. Se é econômico para quem utiliza,é bem rentável para quem investe na área, que não para de crescer. Com uma busca rápida por sites como o TripAdvisor, é possível encontrar uma centena de ofertas nos principais destinos turísticos, de balneários paradisíacos a metrópoles que nunca param. A indústria dos hostels independentes tem crescido consideravelmente, tornando-se num forte modelo de negócio. Em algumas cidades os hostels têm se tornado mais lucrativos que os próprios hotéis. Muitos deles têm reportado uma ocupação em constante crescimento, enquanto os hotéis detectam o contrário. Num estudo recente, avaliou-se que os viajantes mochileiros gastam mais que os viajantes normais, tendo em consideração o tempo que permanecem fora nestes locais. Novidade requer diferenciais A cultura do quarto compartilhado para mochileiros acaba de chegar a Goiânia. Aurélio Araújo, um dos sócios da rede Hostel 7, afirma que o albergue que inaugurou recentemente na cidade é o pioneiro em hospedagens dessa natureza e que chegou para explorar o potencial que Goiânia oferece: “Em Goiânia existe um fluxo grande de pessoas, não só ser capital, mas por comportar eventos, feiras e festas que atraem muitos turistas. E não havia nada que tivesse no patamar de qualidade de um hostel na cidade.” Formado em História, Aurélio teve a ideia de abrir um hostel ao fazer uma pós-graduação em Gestão de Projetos, em um trabalho acadêmico. Com o passar do tempo, tanto ele quanto os sócios conheceram hostels ao redor do mundo, até que resolveram abrir o primeiro em Brasília. O segundo, aqui em Goiânia, teve uma fase experimental e só agora, depois de ajustes e de conhecer melhor o público da cidade, tem uma inauguração formal. O estabelecimento tem um ar jovial e segue a tendência de hostels internacionais. Com 40 leitos divididos em quatro quartos, a estrutura de uma cama e um armário para guardar a mochila prevalece. Cada quarto tem um nome que homenageia um aspecto da cultura goiana. O quarto Pequi, amarelo, tem espaço para oito hóspedes; O Araguaia abriga nove pessoas e é pintado de laranja. O quarto Cora Coralina é pintado de lilás e tem nove leitos; Por fim, o quarto É o Amor, uma alusão à música sertaneja possui, oito leitos e é uma acomodação exclusivamente feminina. A infra-estrutura do hostel é composta de áreas de convivência com piscina e churrasqueira. Na cozinha de uso coletivo, o hóspede pode preparar os próprios alimentos. O local conta ainda com biblioteca, computadores, acesso à internet via wi-fi, banheiros coletivos, TV a cabo, e toalhas para aluguel. “Além do café da manhã, nós oferecemos café e suco gratuitamente e frutas da estação também. É um dos nossos diferenciais,” aponta Aurélio. Apesar de Goiânia ser uma metrópole cada vez maior, a cidade ainda guarda traços do charme provinciano do interior do estado. Será que esse misto de república com pousada teria uma vida longa aqui? Será que a cultura do hostel será bem recebida na cidade? Aurélio acredita que sim. “Eu conheci Goiânia vindo em um evento universitário há muito tempo, e desde então eu tenho percebido que o goianiense gosta de recebem bem e que quem vem de fora se apaixona pela cidade.” Ele acredita que o hostel é um meio de colocar em prática a boa convivência e a gentileza locais.