ACTUAL APDH organiza debate sobre os constrangimentos nos SU LRibeiro Misericórdia da parte dos decisores, prec 5HFXUVRVKXPDQRVLQVX¿FLHQWHVHLQWHUQDPHQWR lotado são os principais condicionamentos dos Serviços de Urgência (SU). Mas por trás desse cenário está uma realidade cada vez mais negra: A falta de misericórdia e o desinteresse do Estado pelos idosos portugueses que pedem por medidas de suporte e comida que, às vezes, só chegam numa cama de um hospital Laura Alves Lopes «Urgências Hospitalares — Constrangimentos e oportunidades?» foi o tema da «Conversa de Fim de Tarde», que se realizou no passado dia 17, em Lisboa, uma iniciativa da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar, que contou com a parceria da Ordem dos Médicos (OM). Correia da Cunha, ex-presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar de Lisboa Norte, IRLRDQ¿WULmRGDVHVVmRQDTXDOSDUWLFLSDUDPYiULRV directores dos SU polivalentes, médico-cirúrgicos ou básicos do País (ver caixa). O diagnóstico já tinha sido feito pelo presidente da OM, José Manuel Silva, na introdução do debate. Para além da escassez de recursos humanos e da falta de dimensionamento para a procura que têm, «as UrgênFLDVVRIUHPGDLQVX¿FLrQFLDGDUHVSRVWDGRV&63GR GH¿FLHQWHSODQHDPHQWRGRVFXLGDGRVFRQWLQXDGDVDVVLP FRPRGDLQVX¿FLHQWHOHJLVODomRGRVODUHVPXLWRVGHOHV ilegais e sem condições adequadas para a prestação de cuidados para os doentes que estão institucionalizados». ©1HQKXPGRHQWH YDLjV8UJrQFLDVSDUDID]HUWXULVPRª Como fez questão de sublinhar o bastonário da OM, «nenhum doente vai às Urgências para fazer turismo, mas sim porque necessita e porque não tem resposta a outro nível», nomeadamente «pequenas medidas de suporte que deviam ser tomadas fora do ambiente hospitalar, como uma simples hidratação». A falta de apoio domiciliário é outro dos factores desencadeantes de ruptura nos SU, como atestou Alexandre Tomás, presidente do conselho directivo da Secção Regional do Sul da Ordem dos Enfermeiros. «A população idosa em Portugal tem algumas características que determinam uma utilização diferente dos SU, pois é o País da «EU a 27» com a maior taxa de população idosa a viver sozinha, sendo que 60% dos casos são mulheres». Para além disso, sublinhou, «temos hoje 300 mil portugueses com -RVp0DQXHO6LOYD©$V8UJrQFLDVVRIUHPGDLQVX¿FLrQFLDGDUHVSRVWDGRV&63GRGH¿FLHQWHSODQHDPHQWRGRVFXLGDGRVFRQWLQXDGDVDVVLPFRPRGDLQVX ¿FLHQWHOHJLVODomRGRVODUHVPXLWRVGHOHVLOHJDLVHVHPFRQGLo}HVDGHTXDGDVSDUDDSUHVWDomRGHFXLGDGRVSDUDRVGRHQWHVTXHHVWmRLQVWLWXFLRQDOL]DGRVª défice de auto-cuidado, com limitações na realização de tarefas diárias simples. Destes, cerca de 100 mil estão acamados em casa.» Para Leonor Carvalho, médica de Medicina Interna do Centro Hospitalar de Lisboa Norte, é evidente que há muitos doentes que permanecem nas camas de internamento por falta de apoio social ou vaga nos cuidados continuado, sendo esse «o grande motivo para o entupimento das Urgências». «Os SU que façam o trabalho que têm que fazer. A manutenção dos doentes nos SU é que não pode ser!», defendeu. ©1mRPHSDUHFHKRQHVWR GL]HUTXHWXGRYDLEHPTXDQGR³RUHLYDLQX´ª Marta Temido, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, não receou apontar como culpados os governantes da João Crisóstomo, acusando-os mesmo de falta de honestidade: «Este ano, durante o Inverno alguns dos nossos responsáveis políticos disseram que o que se passava em Portugal não era nada de novo e que outros países sentiam o mesmo problema, designadamente o SNS britânico. Mas, a verdade é que os britânicos, com as suas macas nos corredores, criaram uma cultura de alerta dentro GR VLVWHPD HP TXH RV SUR¿VVLRQDLV VmR FKDPDGRV D apontar o que corre menos bem. Já nós, o que temos neste momento é uma tentativa de escamotear aquilo que vai correndo menos bem.» Até porque, como evidenciou a responsável, «ninguém esperava milagres. Se tivemos reduções de ¿QDQFLDPHQWRHGHFDPDVpHYLGHQWHTXHWHULDPTXH haver problemas. Agora, o que já não me parece honesto é dizer que tudo vai bem quando de facto o rei vai nu». «Pensava que tinha sido o Inverno do descontentamento, mas a verdade é que chegámos à Primavera e, pelo menos sob o ponto de vista mediático, as notícias de disfuncionalidade continuam», acrescentou a responsável, destacando, como os outros participantes GRGHEDWHTXH©RSUREOHPDGR68pRUHÀH[RGRVSURblemas do sistema de saúde e da sociedade, que não está a funcionar bem». Segundo a administradora, «a gestão do internamento e das camas é de facto um grande problema e há que lhe dar mais importância». Até porque a sua VREUHORWDomR VLJQL¿FD TXH ©HVWmR QR LQWHUQDPHQWR pessoas cuja situação agudizou e deveria ser evitável, SRLVRV&63QmRVmRVX¿FLHQWHPHQWHUHVROXWLYRV±QmR passa só pela falta de médicos de MGF, mas também pela resposta de MCDT que um centro de saúde não tem», considerou Marta Temido. Também José Clemente, director do SU do Hospital Garcia de Orta lembrou a necessidade de «olhar para o pré hospitalar» e de pensar na existência de um «gestor do doente». Pois, de outra forma, «o SU é dependente de tudo o que se passa no hospital e fora dele», tais como as condições dos lares, dos apoios familiares e até do facto de «haver pessoas sem dinheiro para comer». Já para Carlos Palos, director do SU Geral do Hospital Beatriz Ângelo, para resolver a carência de PpGLFRVHSURPRYHUDH¿FLrQFLDGHXP68©pSUHFLVR criar de uma vez por todas a especialidade de Medicina de Emergência, como já foi criada há 30 anos em Inglaterra». De outra forma, considera, «não é possível WHUXP68H¿FLHQWHª Tempo 4 PROPRIEDADE/EDITOR: IMPREMÉDICA, Imprensa Médica, Lda. REDACÇÃO E PUBLICIDADE: Rua Abranches Ferrão, n.º 23, 3.º, 1600-296 Lisboa – TELEF.: 21 478 86 20; Fax: 21 478 86 21; E-MAIL: tempomedicina@tempomedicina. com EDIÇÃO ELECTRÓNICA: www.tempomedicina.com CONSELHO CIENTÍFICO: Dr. Gerardo Ubach Ferrão, Prof. M. J. Halpern, Prof. Manuel da Silva Meirinho, Prof. Miguel Carneiro de Moura, Prof. Rui Penha, Prof. Armando Porto, Prof. Mário Quina, Prof. Luís Aires de Sousa, Dr. Pedro Abreu Loureiro, Dr. Pedro Montargil, Dr. Gastão de Deus Figueira, Dr. Manuel B. Martins, Dr. A. Madeira Ventura e Dr. J. Margalho Carrilho DIRECTOR: Dr. José M. Antunes; COLABORADORES: João Paulo de Oliveira, Andreia Vieira, Sérgio Gouveia, Andrea Sousa, Laura Alves Lopes, Teresa Martins, Marco Lopes, Linda Rosa, Maria Mateus, M. M. de Oliveira, Rita Vassal, Cláudia Pinto, Zózimo Zorrinho (Lisboa), Vitalino José Santos, Alice Oliveira e Helena Nunes (Coimbra); Manuel Morato (Porto) REDACTORES MÉDICOS: Dr.ª Ana Ramos Falcão, Dr. Bernardo Feijóo, Dr.ª Carla Loureiro e Dr. João Mário P. Figueira FOTOS: Luís Rodrigues, Fernanda Jacinto, Luísa Ribeiro, António Cabral e André Roque (Lisboa), Carlos Monteiro e José António Gonçalves (Coimbra), Ivo Godinho (Porto) e Rosa Pereira (Algarve) COMERCIAL: Maria Cristina Lourenço PAGINAÇÃO: Adelaides SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS: Marília Correas IMPRESSÃO: Empresa Gráfica Funchalense DISTRIBUIÇÃO: IMPREMÉDICA/Luter/Correios DEPÓSITO LEGAL n.º 15 823 I.C.S. nº 214304 (Publicação n.º 108948) Preço: 0,05 euros ASSINATURA: 50 euros/ano Tiragem: 15 000 exemplares A reprodução (integral ou parcial) de artigos publicados no «Tempo Medicina» e/ou TEMPOMEDICINA ONLINE só é possível com autorização expressa da Direcção do Jornal 27 de Abril de 2015 Tempo Medicina ACTUAL ecisa-se RX às Urgências &RQFHLomR%DUDWDGLUHFWRUD GR6HUYLoRGH8UJrQFLD GR+RVSLWDOGR(VStULWR6DQWRGHeYRUD Registou 73.242 episódios de urgência em 2014 1RV~OWLPRVGRLVDQRVFRQWUDWDUDPPDLVSUR¿VVLRQDLVWDUHIHLURV Os problemas transversais a qualquer outro SU elencados pela responsável são inúmeros: «Necessidade de uma melhor organização, a falta de médicos, de vagas nas enfermarias e na rede GHFXLGDGRVSDOLDWLYRVGL¿FXOGDGHGHWUDQVIHUrQFLDGRVGRHQWHVSDUDRVFXLGDGRVFRQWLQXDGRV DH[LVWrQFLDGHGRHQWHVVHPPpGLFRGHIDPtOLDHFRPSUREOHPDVVRFLDVª 1RFDVRHVSHFt¿FRGDVXD8UJrQFLD&RQFHLomR%DUDWDFRQWDTXH©GRVXWLOL]DGRUHVGR68FKHJDPGHPDFDRX de cadeira de rodas, sendo poucos os que chegam a pé», admitindo ser «difícil gerir esta população envelhecida». $IDOWDGHUHFXUVRVKXPDQRVpRXWUDGDVJUDQGHVGL¿FXOGDGHVTXHHQIUHQWD©1mRWHPRVPpGLFRVHVSHFLDOLVWDVQD TXDQWLGDGHTXHTXHUHPRVªH©QRSLFRGDV8UJrQFLDVHP-DQHLURH)HYHUHLURGHVWHDQRWLYHPRVXPDPpGLDGH doentes por dia, tendo passado por momentos muito difíceis, com doentes dentro dos balcões», recorda a responsável. $WHQGrQFLDGHVGH2XWXEURGHpSDUDXPDXPHQWRGRVFDVRVODUDQMDVHDPDUHORV 5LFDUGR0DWRVGLUHFWRUGRV68 GR&HQWUR+RVSLWDODUGH/LVERD&HQWUDO8UJrQFLDSROLYDOHQWH Serve 2 milhões e 300 mil doentes 3RVVXLPpGLFRVHLQWHUQRVQmRKiPpGLFRVWDUHIHLURV Atende 427 doentes por dia nos SU Segundo Ricardo Matos os pontos fracos deste centro hospitalar são «a estrutura física de difícil adaptação e a elevada dispersão (centro hospitalar composto por 6 hospitais)», lembrando o responsável que continuam «à espera do prometido Hospital de Lisboa Oriental». &RPRWRGRVRVRXWURVRV68GHVWHFHQWURKRVSLWDODUSDGHFHPGD©IDOWDGHUHVSRVWDGRV&63GDDVVLVWrQFLDGRPLciliária, da resposta limitada das IPSS, e das famílias, que não ajudam». Para além disso, destacou Ricardo Matos, a média etária elevada dos recursos humanos médicos é outra das grandes preocupações. «O nosso pessoal está velho e pode haver graves problemas no futuro devido à saída dos SUR¿VVLRQDLVªFKDPRXDDWHQomRRUHVSRQViYHOFRQIHVVDQGRTXH©VHQmRIRVVHDGHGLFDomRGRVPpGLFRVQmRVHULD possível manter os SU». 3DUD5LFDUGR0DWRVpQHFHVViULRSHQVDUVHULDPHQWHHPFULDULQFHQWLYRVHHTXLSDVGHGLFDGDVSRLV©DR¿PGHRX 3 anos as pessoas estão exaustas». )UDQFLVFR0RWDGLUHFWRUGH2SHUDo}HV GR6HUYLoRGH8UJrQFLD0pGLFRFLU~UJLFDGR+RVSLWDO%HDWUL]ÆQJHOR Serve 286 mil habitantes Registou 197.980 episódios de Urgências em 2014 Atende 350 doentes/dia no SU adultos 3RVVXLPpGLFRVFRQWUDWDGRVHWDUHIHLURV Apesar de ser uma parceria público-privada, «também temos problemas sociais e de falta de FDPDVª DWHVWRX )UDQFLVFR 0RWD GDQGR FRPR H[HPSOR XPD ©GRHQWH TXH HVWi Ki GLDV internada por não ter para onde ir». No entanto, este hospital tem características de gestão do SU diferenciadoras, já que possui uma equipa dedicada PXOWLGLVFLSOLQDUHHVFDODVGHXUJrQFLD©FRPFRQVWDQWHDGHTXDomRHÀH[LELOLGDGHª7DPEpPRPRGHORGHJHVWmRGH FDPDVp~QLFR©7HPRVWUrVHQIHUPHLURVSDUDFREULUDVKRUDVGHGLFDGRVHVSHFL¿FDPHQWHjJHVWmRGHFDPDV que passam várias vezes nos serviços e que estão em permanente comunicação com os enfermeiros responsáveis de cada um dos sectores de internamento e com o chefe de equipa para a drenagem dos doentes e poder libertar camas», explicou Francisco Mota. 2UHVXOWDGRGRVXFHVVRGRPRGHORHVWijYLVWDSRLV©QmRKRXYHQHVWHVWUrVDQRVXPD~QLFDFLUXUJLDFDQFHODGDSRU falta de camas no hospital», garantiu Francisco Mota. $QD5LWD&DUGRVRGLUHFWRUDGR'HSDUWDPHQWRGH8UJrQFLD GR&HQWUR+RVSLWDODUGR0pGLR7HMR 6HUYHXPDSRSXODomRGHPLOKDELWDQWHV²$EUDQWHV608&7RPDU68%H7RUUHV1RYDV68% Urgência é composta na totalidade por médicos prestadores de serviços 'H DFRUGR FRP D UHVSRQViYHO D FHQWUDOL]DomR GRV 6HUYLoRV GH 8UJrQFLD 0pGLFR &LU~UJLFD (SMUC) em Abrantes não foi uma opção favorável, uma vez que levou alguns médicos «a tirarem a camisola» devido à «circulação constante e excessiva dos clínicos de um lado para o outro, TXHWrPMiDOJXPDLGDGHEHPFRPRGRVXWHQWHVª 3RURXWURODGRH[LVWHXPDWHQGrQFLDFUHVFHQWHSDUDRFUHVFLPHQWRGHDÀX[RDRV68%GH7RPDUHGH7RUUHV1RYDV facto que já trouxe muitas dores de cabeça a Ana Rita Cardoso. «O SUB de Tomar, por exemplo, recebeu mais de GRHQWHVQRPrVGH-DQHLURHFKHJRXDWHUGHDWHQGHUGRHQWHVSRUGLDRTXHDFDUUHWDJUDQGHVGL¿FXOGDGHVH UHVSRQVDELOLGDGHVSRLVWRGDD8UJrQFLDWHYHTXHSDUDUSDUDTXHRVGRLVPpGLFRVSXGHVVHPHVWDELOL]DUHWUDQVIHULU os 20 doentes que eram laranjas». «Dois médicos num SUB com este movimento não chega!», alertou a responsável, lembrando que «vamos ter tempos de espera que ultrapassam largamente o desejável». $UHVSRVWDSDUD$QD5LWD&DUGRVRSDVVDSRU©FULDUFRQGLo}HVSDUDLQFHQWLYDUH¿[DURVPpGLFRVªH©DFDEDUGHYH] com os concursos desertos». 27 de Abril de 2015 Tempo Medicina