Grupo de Fraternidade Espírita João Ramalho OFICINAS DE “ATITUDES BEM-AVENTURADAS” OFICINA 17 - (Setembro de 2011) Tema Central: Amai vossos inimigos SUMÁRIO: Mateus – Cap. V – Sermão do Monte (Montanha) Pág. 02 Evangelho Segundo os Espiritismos – Cap. XII – Amai os vossos inimigos Item 2 – retribuir o mal com o bem Pág. 03 Do Livro: o Segredo das Bem Aventuranças – Autor: José Lazaro Boberg – Editora EME: 7.1 – Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. (Mateus, 5:43) Pág. 04 7.2 – Eu, porém vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem. (Mateus, 5:44) Pág. 05 7.3 – Para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus. Porque faz que o Seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos. (Mateus, 5:45) Pág. 07 7.4 – Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? (Mateus, 5:46) Pág. 07 7.5. – E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis demais? Não fazem os publicandos também assim? (Mateus, 5:47) Pág. 08 Do Livro: Fonte Viva – Espírito: Emmanuel – Médium: Francisco Candido Xavier – Além dos outros Do Livro: Vinha de Luz – Espírito: Emmanuel – Médium: Francisco Candido Xavier – Credores diferentes Pág. 09 Pág. 09 Do Livro: Vinha de Luz – Espírito: Emmanuel – Médium: Francisco Candido Xavier – Que fazeis de especial Do Livro: Palavras de Vida Eterna – Espírito: Emmanuel – Médium: Francisco Candido Xavier – Na Senda do Cristo Pág. 10 Pág. 10 Do Livro: Espírito de Verdade – Espírito: Emmanuel – Médium: Francisco Candido Xavier – Critica Do Livro: Coragem da Fé – Espírito: Bezerra de Menezes – Médium: Carlos A. Bacelli – Infalibilidade Pág. 11 Pág. 11 Do Livro: Renovando Atitudes – Espírito: Hammed – Médium: Francisco do E.Santo Neto – Um impulso natural Pág. 12 Do Livro: Unidos pelo amor – Espírito: Ermance Dufaux– Médium: Wanderley S. de Oliveira – Ética da alteridade Pág. 14 Coordenação: Eugenivaldo Silva Fort São Bernardo do Campo, Setembro de 2011. 1 Mateus - Capítulo V - Esse Capitulo é chamado: “O Sermão da Monte (Montanha)” Mateus 5 – (Os destaques em negrito são nossos) 1 - E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos; 2 - E, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo: 3 - Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus; 4 - Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados; 5 - Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra; 6 - Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; 7 - Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; 8 - Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus; 9 - Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus; 10 = Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; 11 - Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. 12 - Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós. 13 - Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens. 14 - Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; 15 - Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa. 16 - Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus. 17 - Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir. 18 - Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido. 19 - Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus. 20 - Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus. 21 - Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo. 22- Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e qualquer que disser a seu irmão: Raca, será réu do sinédrio; e qualquer que lhe disser: Louco será réu do fogo do inferno. 23 - Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, 24 - Deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta. 25 - Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão. 26 - Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil. 27 - Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. 28 - Eu, porém, vos digo, que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela. 29 - Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno. 30 - E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca do que seja todo o teu corpo lançado no inferno. 31 - Também foi dito: Qualquer que deixar sua mulher, dê-lhe carta de desquite. 32 - Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de prostituição, faz que ela cometa adultério, e qualquer que casar com a repudiada comete adultério. 33 - Outrossim, ouvistes que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas cumprirás os teus juramentos ao Senhor. 34 - Eu, porém, vos digo que de maneira nenhuma jureis; nem pelo céu, porque é o trono de Deus; 35 - Nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei; 36 - Nem jurarás pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto. 37 - Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna. 38 - Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. 39 - Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; 40 - E, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; 41 - E, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas. 42 - Dá a quem te pedir, e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes. 43 - Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. 44 - Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; 45 - Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos. 46 - Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? 47 - E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? 48 - Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus. 2 Evangelho Segundo o Espiritismo – Capitulo XII – Amai os vossos inimigos RETRIBUIR O MAL COM O BEM 2. “Se somente amardes os que vos amam, que mérito se vos reconhecerá, uma vez que as pessoas de má vida também amam os que as amam? – Se o bem somente o fizerdes aos que vo-lo fazem, que mérito se vos reconhecerá, dado que o mesmo faz a gente de má vida? – Se só emprestardes àqueles de quem possais esperar o mesmo favor, que mérito se vos reconhecerá, quando as pessoas de má vida se entre ajudam dessa maneira, para auferir a mesma vantagem? Pelo que vos toca, amai os vossos inimigos, fazei bem a todos e auxiliai sem esperar coisa alguma. Então, muito grande será a vossa recompensa e sereis filhos do Altíssimo, que é bom para os ingratos e até para os maus. – “Sede, pois, cheios de misericórdia, como cheio de misericórdia é o vosso Deus.” (S. LUCAS, 6:32 a 36.) 3. Se o amor do próximo constitui o princípio da caridade, amar os inimigos é a mais sublime aplicação desse princípio, porquanto a posse de tal virtude representa uma das maiores vitórias alcançadas contra o egoísmo e o orgulho. Entretanto, há geralmente equívoco no tocante ao sentido da palavra amar, neste passo. Não pretendeu Jesus, assim falando, que cada um de nós tenha para com o seu inimigo a ternura que dispensa a um irmão ou amigo. A ternura pressupõe confiança; ora, ninguém pode depositar confiança numa pessoa, sabendo que esta lhe quer mal; ninguém pode ter para com ela expansões de amizade, sabendo-a capaz de abusar dessa atitude. Entre pessoas que desconfiam umas das outras, não pode haver essas manifestações de simpatia que existem entre as que comungam nas mesmas idéias. Enfim, ninguém pode sentir, em estar com um inimigo, prazer igual ao que sente na companhia de um amigo. A diversidade na maneira de sentir, nessas duas circunstâncias diferentes, resulta mesmo de uma lei física: a da assimilação e da repulsão dos fluidos. O pensamento malévolo determina uma corrente fluídica que impressiona penosamente. O pensamento benévolo nos envolve num agradável eflúvio. Daí a diferença das sensações que se experimenta à aproximação de um amigo ou de um inimigo. Amar os inimigos não pode, pois, significar que não se deva estabelecer diferença alguma entre eles e os amigos. Se este preceito parece de difícil prática, impossível mesmo, é apenas por entender-se falsamente que ele manda se dê no coração, assim ao amigo, como ao inimigo, o mesmo lugar. Uma vez que a pobreza da linguagem humana obriga a que nos sirvamos do mesmo termo para exprimir matizes diversos de um sentimento, à razão cabe estabelecer as diferenças, conforme os casos. Amar os inimigos não é, portanto, ter-lhes uma afeição que não está na natureza, visto que o contacto de um inimigo nos faz bater o coração de modo muito diverso do seu bater, ao contacto de um amigo. Amar os inimigos é não lhes guardar ódio, nem rancor, nem desejos de vingança; é perdoar-lhes, sem pensamento oculto e sem condições, o mal que nos causem; é não opor nenhum obstáculo à reconciliação com eles; é desejar-lhes o bem e não o mal; é experimentar júbilo, em vez de pesar, com o bem que lhes advenha; é socorrê-los, em se apresentando ocasião; é abster-se, quer por palavras, quer por atos, de tudo o que os possa prejudicar; é, finalmente, retribuir-lhes sempre o mal com o bem, sem a intenção de os humilhar. Quem assim procede preenche as condições do mandamento: Amai os vossos inimigos. 4. Amar os inimigos é, para o incrédulo, um contra-senso, aquele para quem a vida presente é tudo, vê no seu inimigo um ser nocivo, que lhe perturba o repouso e do qual unicamente a morte, pensa ele, o pode livrar. Daí, o desejo de vingar-se. Nenhum interesse tem em perdoar, senão para satisfazer o seu orgulho perante o mundo. Em certos casos, perdoar-lhe parece mesmo uma fraqueza indigna de si. Se não se vingar, nem por isso deixará de conservar rancor e secreto desejo de mal para o outro. Para o crente e, sobretudo, para o espírita, muito diversa é a maneira de ver, porque suas vistas se lançam sobre o passado e sobre o futuro, entre os quais a vida atual não passa de um simples ponto. Sabe ele que, pela mesma destinação da Terra, deve esperar topar aí com homens maus e perversos; que as maldades com que se defronta fazem parte das provas que lhe cumpre suportar e o elevado ponto de vista em que se coloca lhe torna menos amargas as vicissitudes, quer advenham dos homens, quer das coisas. Se não se queixa das provas, tampouco deve queixar-se dos que lhe servem de instrumento. Se, em vez de se queixar, agradece a Deus o experimentá-lo, deve também agradecer a mão que lhe dá ensejo de demonstrar a sua paciência e a sua resignação. Esta idéia o dispõe naturalmente ao perdão. Sente, além disso, que quanto mais generoso for, tanto mais se engrandece aos seus próprios olhos e se põe fora do alcance dos dardos do seu inimigo. O homem que no mundo ocupa elevada posição não se julga ofendido com os insultos daquele a quem considera seu inferior. O mesmo se dá com o que, no mundo moral, se eleva acima da humanidade material. Este compreende que o ódio e o rancor o aviltariam e rebaixariam. Ora, para ser superior ao seu adversário, preciso é que tenha a alma maior, mais nobre, mais generosa do que a desse último. 3 Do Livro: o Segredo das Bem Aventuranças – Autor: José Lazaro Boberg – Editora EME – (Páginas 178, 179 e 180) 7.1 – Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. (Mateus, 5:43) Para entendermos o sentido do “amar o próximo” e “odiar o inimigo”, é preciso, antes de tudo, retrocedermos no tempo, buscando no Antigo Testamento o fundamento da ética judaica. Está consignada em Levítico, 19:18, a afirmação: “Não te vingarás, nem guardarás ira contra os filhos do teu povo, mas amará o teu próximo com a ti mesmo.” Próximo era aquele que pertencia ao mesmo povo, ou à mesma raça, os seguidores da mesma crença religiosa. Este conceito já estava cristalizado na mente do povo judeu e era normal o amar o próximo, mas apenas aos que pertencessem ao seu povo. Pela análise do relacionamento de Israel com as criaturas não-judaicas, está o ponto nodal da questão, da qual Jesus contrapõe dizendo: eu, porém vos digo..., ampliando o sentido de próximo, estendendo a todas as criaturas, de tal sorte que, todas as pessoas, indistintamente, alcancem a perfeição. A primeira vista, com freqüência, defendem alguns que em nenhum lugar do Antigo Testamento há a regra explicita orientando o odiar os inimigos. Embora em Provérbios ¹ já estivesse escrito: “Se teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer e se tiver sede, dá-lhe de beber”, não era essa a pratica judaica. Se analisarmos alguns outros capítulos e versículos, vamos verificar que realmente parece que eles encaminham para outra direção. Não obstante esta orientação positiva de provérbios, percebe-se expressamente, que esta regra não tem sentido universal, valendo mais para os “meus”, ou seja, válidas no âmbito doméstico da nação, já que, em outros versículos, encontram-se normas contrárias, que incitam o povo a opor-se contra as nações não-judaicas, consideradas inimigas de Israel. Vejamos estes textos que contrariam frontalmente o que contém no livro Provérbios: ...“totalmente as destruirás... não farás alianças, nem terás piedade delas (das nações dos heteu, amorreus, girgaseus, cananeus, etc.) – Deuteronômio 7:2. “... nada que respire deixarás com vida” – nas cidades que Deus entregar a Israel por herança -. “Antes destruílas-ás, totalmente.” – Deuteronômio 20:16 “Não procurarás paz e amizade com eles enquanto viveres.” (amonitas e moabitas...) Deuteronômio 23:6 O que fazia supor que esses povos deviam ser molestados sempre, não dando trégua nunca. Jesus traz outro sentido à idéia de próximo, não considerando apenas aqueles da nação judaica. Amplia-se, assim, a lei de Amor, levando-a ao máximo, estendendo a todos, incluindo mesmo aqueles considerados inimigos e que nos perseguem. Desta forma, o texto de Levítico 19:18, sob a ótica de Jesus, ficaria assim: “ não te vingarás, nem amarás o teu próximo (aqui inclui também os vizinhos, estrangeiros, sejam eles amigos ou inimigos) com a ti mesmo.”. Jesus dá. Assim, conotação universal, descaracterizando-se o sentido de aplicação seletiva, pois seu ensino ético tinha por objetivo ensinar a criatura a desenvolver Deus dentro de si mesma – O reino de Deus está dentro de vós – independente de sociedade. Nos relacionamentos entre as criaturas não pode existir nenhuma categoria que possa receber o rótulo de “inimigo”. Todas as pessoas que encontramos (até mesmo aquelas que tentam nos fazer o mal) são nossos amigos, e, portanto, seres a quem devemos amar. O inimigo, como fiscal de nossos erros, não tem condescendência conosco e, por essa razão, desnuda-nos sem piedade, ajudando-nos no crescimento. E para combater a idéia de tradição de raça e exaltar a força da fraternidade, Jesus ao narrar a história do Bom Samaritano ², coloca em foco o ponto neuvrálgico da questão: quem é o próximo? Depois de discorrer sobre ela, ao responder ao doutor da lei (juiz do sinédrio), no final, fazendo-se comparar as três personalidades – sacerdote, levita e o samaritano – que passaram pelo caminho onde se encontrava um cidadão caído à beira do caminho, omitiram-se de socorro. Apenas o samaritano, que era considerado herege pelo povo judeu, foi quem se condoeu do necessitado, dando-lhes atendimento. Ignorou-lhe a procedência. Não se restringiu à emotividade. Parou e atendeu o necessitado. Os demais – sacerdote e levita – que tinham o dever de dar atendimento, pois, afinal eram profissionais da religião, se omitiram, passando de largo, receando complicações. O fecho desta história é extraordinariamente lindo e educativo, quando Jesus questiona ao doutor da lei: “Qual dos três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos assaltantes? Respondeu o doutor da lei: o que usou de misericórdia para com ele. Jesus, então responde: - “Vai. E faze da mesma maneira... Com esta belíssima lição, mostra-nos que o nosso próximo é aquele ao qual prestamos o nosso apoio, independente de crença, cor, posição, raça, etc. É assim que todos nós devemos nos comportar diante de nosso irmão necessitado, seja amigo, seja inimigo. ³ Parece-nos, entretanto, que o motivo maior de afastamento das pessoas, umas das outras, é o preconceito religioso, quando, na realidade, deveria ser motivo de aproximação. Deus não faz acepção de pessoas, pouco importando qual é a sua crença. Afinal, religião é coisa dos homens... ¹ Provérbios 20:16 - ² Lucas, 10:25-34 - ³ Ver lição 12, do livro de José Lazaro Boberg – Editora EME 4 Do Livro: o Segredo das Bem Aventuranças – Autor: José Lazaro Boberg – Editora EME – (Páginas 180, 181, 182,183 e 184 ) 7.2 – Eu, porém vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem. (Mateus, 5:44) Ouviste o que foi dito: odiarás o teu inimigo. Eu, porém vos digo: Amai a vosso inimigo. O Clímax das instruções de Jesus é orientar que não devemos tão somente perdoar, mas amar os inimigos, sem qualquer distinção. É algo que vinha mudar completamente o conceito de próximo junto ao povo judeu. “Se o amor ao próximo constitui o principio da caridade, amar os inimigos é a mais sublime aplicação desse princípio, porquanto a posse de tal virtude representa uma das maiores vitória alcançadas contra o egoísmo e o orgulho”. 4 É preciso deixar bem claro, do ponto de vista psicológico, qual é o sentido desse amor, referido por Jesus. A vibração espiritual em nosso coração, entre a chegada de um amigo e um inimigo é, certamente, bem diferente. Não vamos aplaudir a chegada de um inimigo e dispensar a mesma deferência com que fazemos a um amigo; a ternura que emanamos a uma pessoa de nossa confiança é diferente daquela que se expande àquele que pretende nos fazer mal. Kardec explica que a diversidade de sentir entre a presença de um amigo e a de um inimigo pode ser explicada por uma lei da física: a da assimilação e da repulsão dos fluidos. No pensamento de maldade – embora o inimigo se apresente externamente, dissimulando, lábios de mel, - a corrente fluídica que emana da alma, fala muito alto, acarretando-nos certo desconforto. Já o pensamento de amor envolve-nos de energia que nos trazem agradável sensação de paz. Daí a diferença de sensações que experimentamos à aproximação de um amigo ou de um inimigo. Amar os inimigos tem, portanto, uma conotação diferente, do que entendemos. Amar os inimigos tem, portanto, uma conotação diferente, do que entendemos. Não podemos reservar ao amigo e ao inimigo o mesmo lugar no coração. Amar os inimigos é ter por eles uma afeição que, na realidade não está na natureza, pois, quando estamos em contato com o inimigo, emoções se manifestam alternadamente: o coração bate mais forte, os lábios secam, as mãos transpiram mais; o que é bastante diferente quando estamos na presença de um amigo. No entanto, o que aconselha Jesus, quando nos pede para amar os inimigos, é que não tenhamos por eles, ódio, rancor, sentimentos de vingança. É perdoar sem condições, mesmo em pensamento, não opondo jamais obstáculo para a reconciliação. É desejar sempre o bem, e que eles sejam felizes. Não torcer pelo insucesso do inimigo, nem maquinar idéias negativas que possam prejudicá-lo. Se houver oportunidade de socorrê-los, que o façamos. Isto corta a vibração negativa que eles possam emitir contra nós. Quem assim procede preenche as condições do mandamento: “Amai os vossos inimigos”. Quem cultiva sentimentos negativos dentro de si, está sendo candidato a doenças físicas. Nosso pensamento é como se fora um computador, usina que aceita aquilo que cultivamos na alma, seja bom, seja tuim. Em nosso livro, Filhos de Deus, comentamos sobre o apascentar porcos, como situação psicológica do Filho Pródigo, quando se afastara da Casa do Pai. Reter ódio, tristeza, ausência de perdão, ressentimento, etc., é alimentar detritos doentios que, fatalmente, irão se somatizar um dia, trazendo conseqüências nefastas ao corpo de manifestação do Espírito. Bendizei os que vos maldizem – É dizer bem daqueles que nos querem o mal. É óbvio que isto não se dá instantaneamente, num passe de mágica. É fruto de amadurecimento do Espírito, que se alcança de forma gradativa, ao longo de experiências. Para se chegar a este ponto, é preciso entender que, primeiro, não se deve desejar mal, não guardar ódio no coração, pois, na realidade, isto reflete na própria pessoa. Guardar o fogo queimando, intensamente na alma, só acarretará problemas a si mesmo. Após compreender que é um ato benéfico, que quem ganha é o próprio cultivador do pensamento de perdão, conseguirá a criatura, por medida preventiva de saúde, dizer bem daqueles que nos fazem o mal. A palavra emitida com sentimento tem força! Ela emana energias positivas que neutralizam os sentimentos desarmonizadores que sejam emitidos contra nós. Quando o ofensor ouve dizer que determinada pessoa, considerada como desafeta, só fala o bem dele, certamente, seus pensamentos de ódio vão se arrefecendo, até um momento que não pensa mais em prejudicá-la. Mas não pode ser algo apenas para o consumo externo. É preciso trabalharmos o pensamento para realmente pensarmos no bem, desejando efetivamente que nossos desafetos possam ser felizes. Isto quer dizer que quando eclode um pensamento de maldade, procuremos não dar guarida, pois são bombas de efeito retardado, que explodirão, fatalmente, mais tarde. A técnica é substituí-lo por outro, imediatamente. Pense em algo contrário, diferente, que possa alegrar o seu coração. É fácil? É claro que não! Tudo é questão de treinamento. Mas não existe outro caminho: ele é o único que ajudará a nos harmonizar e encontrar a paz, que é sempre fruto de conquista. Fazei o bem aos que vos odeiam – esta é uma fase superior às anteriores. Não odiamos e nem falamos mal do inimigo. Pelo contrário, vibramos com o seu sucesso e dizemos bem dele. Agora, estamos preparados para seguir 5 em frente, procurando fazer o bem aos que nos odeiam. Não tenhamos a presunção de viver sem adversários. Diz-se que o inimigo é, na realidade, o fiscal e examinador dos nossos atos... Os amigos, bem os amigos são condescendentes quando erramos. Passam a mão na cabeça, contornam a situação, procurando, muitas vezes, contemporizar com as nossas ações equivocadas. No entanto, o inimigo não age com complacência; quando somos flagrados no mal, apontam-no com todo vigor, não nos dá trégua, nos persegue. Neste sentido, somos devedores dos seus benefícios, pois, com suas criticas acerbas, coloca, sem piedade, o dedo nas feridas de nosso egoísmo, ajudando-nos a corrigir os defeitos. São os inimigos tais como lixas que nos trabalham a individualidade, obrigando-nos a renovação de atitudes, angulando-nos as arestas da imperfeição, quebrando os nossos espinhos, e eliminando-nos os defeitos; isto levanos, compulsoriamente, à busca da perfeição. Sem os inimigos, nossas fraquezas e deficiências não seriam detectadas... As lagrimas derramadas, quando somos descobertos em atos malsãos, acarretam sofrimentos, a que, raramente, naquele momento, somos capazes de dar o justo valor. Mas que, com o tempo, após maior maturidade, iremos agradecer. Elas surgem como depuradoras da alma. “Quando Jesus recomendou amar os inimigos estava muito longe de induzir-nos à convivência com o mal, e sim nos entregava a formula ideal do equilíbrio com a paz da imunização” 5 Orai pelos que vos maltratam e vos perseguem – A oração leva-nos a contatar com Deus na intimidade, e para isto acontecer não é necessária a presença de nenhum aparato exterior: cantos, ecendimentos de velas, queima de incenso, local, ou rituais considerados sagrados, etc. É no silêncio de nosso templo interior, em segredo, que nos conectamos com Ele. Não é preciso palavras difíceis, pois Deus é o Pai em nós, que sabe tudo de que necessitamos, mesmo antes de Lho pedirmos. Basta externarmos os sentimentos do fundo do coração, criando clima em nosso recipiente para Sua manifestação. É só isto que Ele aguarda, pois tem tudo em abundância para nos fornecer. Ao falarmos com o Pai, expressemos o interesse de reconstrução da harmonia com aqueles que nos maltratam e perseguem. Quando atingirmos este estágio de emitir pensamentos positivos àqueles que fazem o mal, é porque já não os temos mais como inimigos, ou então, compreendemos a importância da presença deles em nossos caminhos, alertando-nos dos erros que vínhamos cometendo e que ainda não tinham sido despertados. É este o sentido profundo da necessidade do amar os inimigos. “Isso não quer dizer que devamos ajoelhar em pranto de penitência ao pé de nossos adversários, mas sim que nos compete viver de tal modo que eles se sintam auxiliados por nossa atitude e por nosso exemplo, renovando-se para o bem...” 6 . Lembremo-nos, sempre de que eles nos ajudam a crescer, quando as criticas endereçadas a nós são verdadeiras. Sendo dotados de livre-arbítrio, em razão da imaturidade, cometemos muitas escolhas erradas, que julgamos como certas. Aí entra em cena o adversário para desvestir-nos da posição falsa, mostrando-nos às escâncaras quem realmente somos. Oremos, pois, criando uma rede de energias que fatalmente chegarão até eles. Mas não oremos só uma vez. Façamos isto com certeza de que o objetivo será alcançado. Se insistirmos em jogar preces ao adversário, depois de certo tempo, ele será envolvido de pensamento positivos, mudando as atitudes em relação a nós, e deixará de manter a idéia fixa de nos perseguir e nos maltratar. Ratificando o que já dissemos, nesta lição, quando Jesus recomendou amar os inimigos, não estava obviamente concitando-nos à convivência com o mal, mas sim, entregava-nos fórmula ideal para viver em equilíbrio com a paz, imunizando-nos contra o mal. Ouvi, certa vez, do Divaldo pereira Franco, numa de suas visitas à nossa cidade para proferir palestra, que tinha o hábito de anotar os nomes das pessoas, coletadas nos jornais, que desencarnaram em situações trágicas. Numa certa noite, um Espírito se apresentou, agradecendo pelas energias recebidas de suas preces. Experimente você orar por um desafeto todos os dias em horários prefixados, mentalizando-o feliz, e reatando os laços de atenção. O tempo se encarregará de mostrar que a oração funciona desde que seja feita com sentimentos e de forma sincera. Agora, se você orar negativamente, isto é pensar no infortúnio de seu semelhante, desejando-lhe todo o mal possível, receberá também na mesma proporção, a carga energética que você mentalizou. Teremos, por conseqüência, como retorno a força da irritação e do ódio, que passam a radicar em nossa alma. Bem, aí é doença na certa para o emissor. É por isso que Jesus recomenda: “Orai pelos que vos maltratam e vos perseguem! Mas ore positivamente; porque emitindo pensamento negativo, contra quem quer que seja, lesamos a nós mesmos, sempre!... 4 – Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o espiritismo, Cap.XII, item 3. 5 – XAVIER, Francisco Candido, pelo espírito Emmanuel, Ceifa de Luz, lição 48. 6 - XAVIER, Francisco Candido, pelo espírito Emmanuel, Palavras de Vida Eterna, lição 16. 6 Do Livro: o Segredo das Bem Aventuranças – Autor: José Lazaro Boberg – Editora EME – (Páginas 184, 185 186 ) 7.3 – Para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus. Porque faz que o Seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos. (Mateus, 5:45) A expressão: “para que sejamos filhos do nosso Pai que está nos céus”, tem o sentido de dizer que, se amarmos e orarmos para os inimigos, entraremos em sintonia com o Pai, que está em nossa intimidade; pois, na realidade, ninguém está deserdado de Deus. Todos somos Filhos de Deus, mas é preciso fazer-nos Filhos D´Ele, pois o reino de Deus está em todas as criaturas, indistintamente, mesmo que ainda, neste momento, não entendamos o porquê do sentido do perdoar e amar o inimigo. Então, o conselho de Jesus, na realidade, é para que a criatura procura alinhar-se com a Lei Maior, através do desenvolvimento da potencialidade divina, em estado embrionário, trabalhando pela atualização, sempre. Assim, ser filho de Deus é agir em conexão com Ele, progressivamente, abrindo espaço em nossa intimidade para o Seu fluir... Deus é a vida e está em todas as criaturas, sejam elas, boas ou más, justas ou injustas, puras ou delinqüentes, sábias ou ignorantes; todas têm o mesmo ponto de partida, pois criadas simples e sem conhecimentos, com o despertar do livre-arbítrio, são responsáveis pelas escolhas dos seus caminhos, errados ou certos. O avanço rumo à perfeição é diferente para cada criatura na escala evolutiva. Não há interferência d´Ele em nossos atos, recriminando ou punindo os equívocos, dando-nos, sim, plena liberdade para que cada um, de acordo com o grau de entendimento, escolha os próprios caminhos. Sem parcialidade, Ele fornece os mesmos recursos, igualmente, sem quaisquer distinções, dando o sol e a chuva, o ar para respirar e a terra como escola em nossa aprendizagem. Entendamos que o Criador estende os benefícios a toda criação: do mineral aos Espíritos puros, sem distinção. No tempo certo de compreensão, quando nos equivocamos em nossas escolhas, retomamos a caminhada e nos corrigimos. Conta-se a história de um homem simples, que tendo encontrado um pedaço de terra todo abandonado e cerrado de pragas e capim, resolveu com a família, colocar mãos à obra e mudar o panorama daquele local. Depois de certo tempo, fruto de muito trabalho e dedicação, mudou totalmente aquele cenário inóspito, que era só pragas. Transformou-o num lugar lindo, com plantações de toda espécie; uma casa foi construída com a entrada repleta de flores. O pomar produzia frutos saborosos... Alguém, passando por ali, ficou maravilhado com a beleza daquela paragem. Disse, então, ao proprietário: - Puxa! Como Deus foi bom para você na construção deste recanto. Ao que respondeu o matuto: “E o cê precisava ver, como era isto quando Deus cuidava disto suzinho!” Queria dizer com isso, que Deus dá a todos as mesmas possibilidades, o sol, a chuva, o ar, etc., mas cada um deve fazer a sua parte na obra da criação. E os Espíritos amigos não podem dar “uma mãozinha”, ajudando-nos? Afinal, eles não influem em nossos pensamentos e em nossas ações, mais do que imaginamos, segundo informaram os interlocutores de Kardec, em o “Livro dos Espíritos”?7 Recebemos intuições dos amigos espirituais, da mesma forma que recebemos na Terra, conselhos dos amigos, mas não podem eles, igualmente interferir em nosso livre-arbítrio. A escolha, em última análise, nos pertence. A Lei Divina é o parâmetro que, no momento da compreensão, quando estamos desalinhados com ela, nos despertará pela dor a necessidade de retomar o caminho certo para desembaraçarmos de nossas falhas. 7 = KARDEC, Allan, O Livro dos espíritos, questão 459 7.4 – Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? (Mateus, 5:46) O amor é uma conquista da alma e não podemos amar somente aqueles que tenham o mesmo sentimento para conosco. Se assim agirmos, não estamos colocando em pratica esse sentimento, mas fazendo uma permuta comercial. O amor deve ir além. Cultivando esta virtude, somos capazes de amar os adversários, como sugeriu Jesus, pois se amarmos apenas àqueles que nos amam que recompensa teremos? Para nos aproximarmos de Deus devemos demonstrar a emanação dessa energia não só às pessoas fáceis de ser amadas, no processo de retribuição. Não haverá galardão (recompensa) algum por amar sempre àqueles que nos amam. Em nossas ações precisamos avalia se estamos agindo da mesma forma que as pessoas que criticamos, Não há acréscimo algum, do ponto de vista espiritual, por amarmos somente àqueles que nos amam. Até os desprezados cobradores de impostos fazem isso, dizia Jesus. Ter cortesia somente com os amigos nada há de extraordinário nisso. Nós só crescemos diante dos desafios, Os obstáculos obrigam a criatura esmerilhar suas imperfeições. A vida, toda ela, quando aqui aportamos, num novo corpo, é para superarmos, a cada dia, nossas deficiências, brilhando nossa luz. O crescimento é, como já comentamos, comparado a uma espiral que nunca se fecha, A evolução é infinita. Quanto mais evoluímos mais felizes seremos, pois assim, estaremos respirando, na mesma proporção, o hálito divino. Que adianta permanecermos estacionados, improdutivos, em dolce far niente? Sermos 7 catalogados como mortos-vivos? Jesus recomendou aos seus discípulos: ide e ressuscitai os mortos! Que mortos são esses, senão o estado de estacionamento da criatura, alheia à responsabilidade de seu próprio crescimento? Amar somente os que nos amam é, nas devidas proporções, fazer somente o convencionado, com trabalhar no horário que temos como dever, cuidar dos afazeres domésticos, satisfazer exigências legais e exercitar a correção no proceder, Deus, no entanto, espera que coloquemos em ação os nossos potenciais e façamos algo mais, indo além daquilo que corresponde às nossas obrigações. O que damos de nós mesmos além da obrigação? Afirma Emmanuel: “Garantir o continuísmo da espécie, revelar utilidade geral e adaptar-se aos movimentos da vida são característicos dos próprios irracionais”. 8 Os desafio ao espírito é sempre ir além. É nesta linha de pensamento que encontramos o alerta de Jesus: “Assim também vós, todas as vezes que tiverdes cumprido todas as ordens, dizei: somos servos inúteis, fizemos o que devíamos fazer”. 9 Da mesma forma. Se amarmos apenas os que nos amam, que algo de extraordinário estamos fazendo? 7.5. – E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis demais? Não fazem os publicandos também assim? (Mateus, 5:47) Essa situação continua tão atual com na época em que foi pronunciada. O que existe de preconceito e de falta de amor para com as pessoas que não participam de nosso circulo de relacionamento! Basta não pertencer ao mesmo circulo de relacionamento para haver manifestação de desdém. As religiões, principalmente, que deveriam ter por objetivo maior, aproximar as criaturas amando os que pensam de forma diferente, são as que mais discriminam. Cumprimentar apenas aqueles que comungam dos mesmos ideais, da mesma filosofia da vida, da mesma crença é ato de pequenez de entendimento do sentido do Amor de Deus para com Seus filhos. Até os publicanos fazem isso, disse Jesus, Ora, todos têm a paternidade divina comum. Basta que uma determinada religião promova uma ação comunitária para arrecadar fundos para a realização de seus objetivos de caridade, para que os adeptos de outra fé, atendam com má vontade. Chegam a perguntar: de que religião você é? Lá vem a resposta negativa de que não pode ajudar, pois precisam atender os irmãos de sua crença... A história do samaritano que comove a todos os cristãos, na lição contada por Jesus, em Lucas, ensinanos do atendimento despendido ao irmão que fora roubado e atirado à beira da estrada; enquanto que, por ali, passaram anteriormente, o sacerdote e o levita. Estes foram omissos, passando ao largo. Esta lição continua bem viva nos tempos atuais a todos aqueles que ainda colocam obstáculos de ser úteis ao seu semelhante. Não perguntou o samaritano ao socorrido, a que família pertencia, qual era sua filiação religiosa. Simplesmente se condoeu do necessitado e o atendeu. Ao perguntar ao doutor da lei que o questionava, Jesus simplesmente perguntou: quem foi o próximo daquele que socorrera. E aí vem a lapidar reposta: o que agiu com misericórdia! Que bela lição para meditarmos sobre nossa atuação diante de nossos irmãos que não pertencem ao rol de seguidores de nossa filosofia!... Destaca-se, a título de exemplo, o conselho de Tiago10, já nos primórdios do Cristianismo, por volta do século primeiro, para os que estão algemados aos preconceitos de crença: “A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: “Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo.” Será que não estamos nos comportando da mesma maneira? Religião e religiosidade nem sempre estão juntas. A primeira é conseqüência de filiação, enquanto a segunda é fruto do exercício do Amor que expressamos em nosso inter-relacionamento. Muitas vezes, é preferível ter desenvolvido a religiosidade e não ter crença alguma! Lembre-se da figura do tumulo caiado ensinado por Jesus!... Quando agimos com frieza com os nossos irmãos em razão de fé religiosa e amamos somente os irmãos de crença, que de especial fazemos? Até os publicanos assim procediam. Se efetivamente queremos que o Cristo interno se manifeste através de nós, pensemos com mais amor em relação ao sentido de convivência que devemos ter com todos. Jesus, guia e modelo da Humanidade, segundo os Espíritos, foi o mais perfeito canal de manifestação de Deus, pois, desenvolvera ao longo de inúmeras existências o seu Cristo interno. Como é importante entendermos que somos seres de passagem pela Terra, que a vida em nossa individualidade, embora única, passa por várias experiências num crescer contínuo rumo ao infinito. Atentemos que necessitamos sempre do próximo para os nossos testes de crescimento. Perguntemos constantemente sempre: Que de especial estamos fazendo? 8 – XAVIER, Francisco Candido, pelo espírito Emmanuel, Fonte Viva, lição 96. 9 – Lucas, 17:9-10 10 – Tiago, 1:27 8 Do Livro: Fonte Viva – Espírito: Emmanuel – Médium: Francisco Candido Xavier ALÉM DOS OUTROS "Não fazem os publicanos também o mesmo?" - Jesus. MATEUS, 5:46. Trabalhar no horário comum irrepreensivelmente, cuidar dos deveres domésticos, satisfazer exigências legais e exercitar a correção de proceder, fazendo o bastante na esfera das obrigações inadiáveis, são tarefas peculiares a crentes e descrentes na senda diária. Jesus, contudo, espera algo mais do discípulo. Correspondes aos impositivos do trabalho diuturno, criando coragem, alegria e estímulo, em der- redor de ti? Sabes improvisar o bem, onde outras pessoas se mostraram infrutíferas? Aproveitas, com êxito, o material que outrem desprezou por imprestável? Aguardas, com paciência, onde outros desesperaram? Na posição de crente, conservas o espírito de serviço, onde o descrente congelou o espírito de ação? Partilhas a alegria de teus amigos, sem inveja e sem ciúme, e participas do sofrimento de teus adversários, sem falsa superioridade e sem alarde? Que dás de ti mesmo no ministério da caridade? Garantir o continuísmo da espécie, revelar utilidade geral e adaptar-se aos movimentos da vida são característicos dos próprios irracionais. O homem vulgar, de muitos milênios para cá, vem comendo e bebendo, dormindo e agindo sem diferenças fundamentais, na ordem coletiva. De vinte séculos a esta parte, todavia, abençoada luz resplandece na Terra com os ensinamentos do Cristo, convidando-nos a escalar os cimos da espiritualidade superior. Nem todos a percebem, ainda, não obstante envolver a todos. Mas, para quantos se felicitam em suas bênçãos extraordinárias, surge o desafio do Mestre, indagando sobre o que de extraordinário estamos fazendo. Do Livro: Vinha de Luz – Espírito: Emmanuel – Médium: Francisco Candido Xavier CREDORES DIFERENTES "Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos." - Jesus. (MATEUS, 5:44.) O problema do inimigo sempre merece estudos mais acurados. Certo, ninguém poderá aderir de pronto, à completa união com o adversário do dia de hoje, como Jesus não pôde rir-se com os perseguidores, no martírio do Calvário. Entretanto, a advertência do Senhor, conclamando-nos a amar os inimigos, reveste-se de profunda significação em todas as facetas pelas quais a examinemos, mobilizando os instrumentos da análise comum. Geralmente, somos devedores de altos benefícios a quantos nos perseguem e caluniam; constituem os instrumentos que nos trabalham a individualidade, compelindo-nos a renovações de elevado alcance que raramente compreendemos nos instantes mais graves da experiência. São eles que nos indicam as fraquezas, as deficiências e as necessidades a serem atendidas na tarefa que estamos executando. Os amigos, em muitas ocasiões, são imprevidentes companheiros, porquanto contemporizam com o mal; os adversários, porém, situam-no com vigor. Pela rudeza do inimigo, o homem comumente se faz rubro e indignado uma só vez, mas, pela complacência dos afeiçoados, torna-se pálido e acabrunhado, vezes sem conta. Não queremos dizer com isto que a criatura deva cultivar inimizades; no entanto, somos daqueles que reconhecem por beneméritos credores quantos nos proclamam as faltas. São médicos corajosos que nos facultam corretivo. É difícil para muita gente, na Terra, a aceitação de semelhante verdade; todavia, chega sempre um instante em que entendemos o apelo do Cristo, em sua magna extensão. 9 Do Livro: Vinha de Luz – Espírito: Emmanuel – Médium: Francisco Candido Xavier QUE FAZEIS DE ESPECIAL? "Que fazeis de especial?" - Jesus. (MATEUS, 5:47.) Iniciados na luz da Revelação Nova, os espiritistas cristãos possuem patrimônios de entendimento muito acima da compreensão normal dos homens encarnados. Em verdade, sabem que a vida prossegue vitoriosa, além da morte; que se encontram na escola temporária da Terra, em favor da iluminação espiritual que lhes é necessária; que o corpo carnal é simples vestimenta a desgastar-se cada dia; que os trabalhos e desgostos do mundo são recursos educativos; que a dor é o estímulo às mais altas realizações; que a nossa colheita futura se verificará, de acordo com a sementeira de agora; que a luz do Senhor clarear-nos-á os caminhos, sempre que estivermos a serviço do bem; que toda oportunidade de trabalho no presente é uma bênção dos Poderes Divinos; que ninguém se acha na Crosta do Planeta em excursão de prazeres fáceis, mas, sim, em missão de aperfeiçoamento; que a justiça não é uma ilusão e que a verdade surpreenderá toda a gente; que a existência na esfera física é abençoada oficina de trabalho, resgate e redenção e que os atos, palavras e pensamentos da criatura produzirão sempre os frutos que lhes dizem respeito, no campo infinito da vida. Efetivamente, sabemos tudo isto. Em face, pois, de tantos conhecimentos e informações dos planos mais altos, a beneficiarem nossos círculos felizes de trabalho espiritual, é justo ouçamos a interrogação do Divino Mestre: - Que fazeis mais que os outros? Do Livro: Palavras de Vida Eterna – Espírito: Emmanuel – Médium: Francisco Candido Xavier NA SENDA DO CRISTO “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem.” - – Jesus. (Mateus. 5:44.) O caminho de Jesus é de vitória da luz sobre as trevas e, por isso mesmo, repleto de obstáculos a vencer. Senda de espinhos gerando flores, calvário e cruz indicando ressurreição... O próprio Mestre, desde o início do apostolado, desvenda às criaturas o retiro da elevação pelo sacrifício. Sofre, renunciando ao divino esplendor do Céu, para acomodar-se à sombra terrestre na estrebaria. Experimenta a incompreensão de sua época. Auxilia sem paga. Serve sem recompensa. Padece a desconfiança dos mais amados. Depois de oferecer sublime espetáculo de abnegação e grandeza, é içado ao madeiro por malfeitor comum. Ainda assim, perdoa aos verdugos, olvida as ofensas e volta do túmulo para ajudar. Todos os seus companheiros de ministério, restaurados na confiança, testemunharam a Boa Nova, atravessando dificuldade e luta, martírio e flagelação. Inúteis, desse modo, nos círculos de nossa fé, os petitórios de protecionismo e vantagens inferiores. Ressurgindo no Espiritismo, o Evangelho faz-nos sentir que tornamos à carne para regenerar e reaprender. Com o corpo físico, retomamos nossos débitos, nossas deficiências, nossas fraquezas e nossas aversões... E não superaremos os entraves da própria liberação, providenciando ajuste inadequado com os nossos desejos inconseqüentes. Acusar, reclamar, queixar-se, não são verbos conjugáveis no campo de nossos princípios. Disse-nos o Senhor -"Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem.” Isso não quer dizer que devamos ajoelhar em pranto de penitência pé de nossos adversários, mas sim que nos compete viver de tal modo que eles se sintam auxiliados por nossa atitude e por nosso exemplo, renovando-se para a o bem, de vez que, enquanto houver crime e sofrimento, ignorância e miséria no mundo, não podemos encontrar sobre a Terra a luz do Reino do Céu. 10 Do Livro: Coleção Codificação - O Espírito da Verdade – item 43 - Espírito: André Luiz – Médium: Francisco Candido Xavier (Base de estudo – Evangelho Segundo o Espiritismo – Cap. XII – Item 2) CRITICA Se você está na hora de criticar alguém, pense um pouco, antes de iniciar. Se o parente está em erro, lembre-se de que você vive junto dele para ajudar. Se o irmão revela procedimento lamentável, recorde que há moléstias ocultas que podem atingir você mesmo. Se um companheiro faliu, é chegado o momento de substituí-lo em trabalho, até que volte. Se o amigo está desorientado, medite nas tramas da obsessão. Se o homem da atividade pública parece fora do eixo, o desequilíbrio é problema dele. Se há desastres morais nos vizinhos, isso é motivo para auxílio fraterno, porquanto esses mesmos desastres provavelmente chegarão até nós. Se o próximo caiu em falta, não é preciso que alguém lhe agrave as dores de consciência. Se uma pessoa entrou em desespero, no colapso das próprias energias, o azedume não adianta. Ainda que você esteja diante daqueles que se mostram plenamente mergulhados na loucura ou na delinqüência, fale no bem e fuja da crítica destrutiva, porque a sua reprovação não fará o serv iço dos médicos e dos juízes indicados para socorrê-los, e, mesmo que a sua opinião seja austera e condenatória, nisso ou naquilo, você não pode olvidar que a opinião de Deus, Pai de nós todos, pode ser diferente. Do Livro: A Coragem da Fé - Espírito: Bezerra de Menezes – Médium: Carlos A. Bacelli Infalibilidade Filhos, não vos considereis criaturas isentas de erros, para que a compaixão vos inspire na apreciação da conduta alheia. Todos, a qualquer momento, poderemos cair, equivocados. Em sua maioria, os adeptos da Doutrina estão longe de ser os missionários que se imaginam, ou que companheiros desavisados os supõem nas tarefas em que se redimem. Não vos consintais a idolatria e nem provoqueis elogios a vosso respeito, suscitando ilusões que muitos vos haverão de custar. Esquecei o passado e, sob qualquer hipótese ou pretexto, fugi de rememorá-lo, principalmente no que tange às vossas ligações afetivas do pretérito. O esquecimento das vidas que se foram representa uma das maiores dádivas da Lei Divina para o espírito na reencarnação. Observai as vossas tendências e inclinações no presente e tereis uma idéia aproximada do que fostes e do que fizestes outrora. Se reparardes um companheiro em queda, em vez de injuriá-lo, procurai socorrê-lo para que se levante e prossiga no desempenho das obrigações que lhe pesam. Quem escarnece da Humanidade, escarnece de si mesmo; quem apedreja o pecador, lança pedras sobre a sua própria imagem... Feliz de quem já sabe reconsiderar o caminho percorrido e, se necessário, alterar o curso da caminhada. Quase sempre, os erros que identificais nos outros vos servem apenas de justificativa para os erros que cometestes ou pretendeis cometer... Não contemporizeis com o mal que subsiste em vós. Dos outros procurai, única e tão somente, imitar o que for bom. Pretender a infalibilidade, vossa ou do próximo, na atual conjuntura evolutiva do espírito humano no Planeta, seria pretender o inexeqüível. Filhos, compadecei-vos uns dos outros e não fomenteis discórdias entre vós. Cada qual se encontra estagiando em um degrau especifico da simbólica escada do conhecimento espiritual, de que as mais diversas religiões não passam de simples representantes na Terra. 11 Do Livro: Renovando Atitudes – Espírito: Hammed – Médium: Francisco do Espírito Santo Neto Um impulso natural “,,, Esse sentimento resulta mesmo de uma lei física: a da assimilação e da repulsão dos fluidos....” “... daí a diferença de sensações que se experimenta à aproximação de um amigo ou de um inimigo...” “... Amar os inimigos... é ter contra eles nem ódio, nem rancor, nem desejo de vingança...” Evangelho Segundo o Espiritismo - Cap. XXI, item 3 “Amar os inimigos não é, pois, ter para com eles uma afeição que não está na Natureza, porque o contato de um inimigo faz bater o coração de maneira bem diferente do de um amigo.” 1 Na investigação profunda da raiva, do rancor ou da ira, devemos considerar os poderosos e irracionais impulsos de agressividade, espontâneos e inatos na psique humana, São emoções ou formações psíquicas que o espírito partilha com o mundo animal, do qual faz parte e de onde evoluiu. A moderna teoria evolutiva deve mais a Charles Darwin do que a qualquer outro evolucionista, pois foi toda ela construída nas bases de sua obra intitulada “A Origem das Espécies”. Hoje está provado cientificamente que as criaturas humanas sofreram um processo de evolução extraordinário. Somente do hominídeo pré-histórico denominado de “Java” ou “Pithecanthropus erectus” até o homem moderno, transcorreram milhares e milhares de anos de desenvolvimento e aprimoramento do organismo do ser vivo. Dessa forma, não podemos separar a Natureza de nós mesmos, pois também somos Natureza, já que pertencemos aos mesmos departamentos da vida, desde o mineral, vegetal, animal até ao homem. Na Natureza tudo foi criado com um objetivo e função, porque nada do que está em nós está errado. O que acontece é que, muitas vezes, usamos mal – ou seja, não aprendemos a usar convenientemente e dentro de um senso de equilíbrio – as possibilidades mais intimas de nossa alma imortal. Em nossos parentes distantes, os animais irracionais, existe o impulso do ataque/defesa. Manifesta-se também em nós esse mesmo impulso, denominado “instinto de destruição”. É ele uma das primeiras manifestações da lei de preservação, da sobrevivência dos animais em geral, e imprescindível para defendê-los dos perigos da vida. Nos dias atuais, o termo “raiva” talvez tenha sido interpretado com sendo somente crueldade, violência, vingança, quando, na realidade, significa primordialmente “estado de alerta”, visto que essa energia emocional nos aguça todos os demais sentidos, para uma eventual necessidade de proteção e apoio a qualquer fato ou situação que nos coloque em ameaça. Esse impulso natural possibilita à nossa mente uma maior oportunidade de elaboração, percepção e raciocínio, deixando-nos alerta para enfrentar e sustentar as mais diversas dificuldades. Ativa nossos desejos de realização, impulsiona ações determinantes para rompermos a timidez e constrangimentos, encoraja-nos a nos colocar no meio social e estimula-nos s defesa/fuga diante de situação de risco. Em vista disso, entendemos que exaltação, irritação, melindre, raiva, ódio, violência ou crueldade fazem parte da mesma família desse impulso, bem como coragem, persistência, determinação, audácia, valentia. Podemos sentir essas mesmas emoções, em níveis diversos de intensidade, de conformidade com o nosso grau de evolução, conceituando esse ímpeto com nomenclaturas diversificadas. A etimologia da palavra “emoção” significa “movimento para fora” e pode ser conceituada como sendo “movimento que sobe ou emerge em fase de um possível estado de prazer ou dor”. Emoções de “construção”, assim denominadas a simpatia e o afeto, aparecem com a “antecipação do prazer”; já as emoções de “destruição”, também conhecidas como raiva ou irritação, surgem com a “antecipação da dor”. Destruição e construção, isto é, raiva e prazer, são os grandes impulsos de onde derivam todos os demais. Os instintos de construção e destruição são fontes primitivas às quais todo o processo de vida está ligado e, por certo, o seu controle e direcionamento darão um melhor ou pior curso em nossa existência e em nosso crescimento pessoal. Portanto, quando ao ser humano é negado o direito de expressar sua raiva ou prazer, castrado nos seus primeiros anos de vida, tornar-se uma criança indefesa, com tendência a ter uma personalidade tímida, medrosa e passiva. Já as “tolerâncias ilimitadas” dos pais nestas áreas induzirão o menor a se confundir com o uso de seus impulsos de agressividade e afeto, podendo atingir igualmente, em seu estado adulto, comportamentos apáticos e demonstrar uma enorme falta de iniciativa, infantilização ou superlativa dependência do lar. Grande parte dos professores, tios, pais e avós mantêm uma forma de visão preconceituosa e obstinada sobre a “raiva”, soterrando 12 os instintos inatos da criança, castigando-a e vendo-a como criatura má e imperfeita, a qual atribuem atitudes reprováveis. Pois acreditarem que tais energias emocionais sejam completamente condenáveis e inadmissíveis, é que forçam os pequenos a ser, a qualquer preço, “adaptados” e “bem-comportados”, à maneira deles. Isso irá gerar mais adiante posturas de isolamento e distanciamento dos adultos, pó lhes ter sido negado o exercício de aprender a comandar suas mais importantes e primitivas emoções. Na contenção da raiva no adulo, notamos o escoamento do instinto para outros órgãos do corpo físico, surgindo assim a somatização com o aparecimento nele dos primeiros sinais de doença, pois para lá que a energia reprimida se transferiu e se localizou. Em outras situações, as manifestações do descontrole dessas energias geram crises de fúria, predisposição ao suicídio, apatias, acerbações sexuais, paralisias histéricas, sentimentos de culpa, fobias e outros tantos transtornos espirituais e mentais. Todas as vezes que somos incomodados ou defrontados com agressores, o impulso de raiva vai surgir, Ele é automático, é nosso “estado de alerta”, que nos vigia e que nos defende de tudo aquilo que pode nos comprometer ou destruir. Nas criaturas mais amadurecidas, contudo, os impulsos instintivos moldaram-se à sua mentalidade superior, e elas passaram a controlá-los, canalizando-os de forma mais adequada e coerente. Esse dois impulsos fundamentais, o prazer e a raiva, nesses mesmos indivíduos foram depurados em seus estados primitivos – atividades eróticas e violentas – e transformados nas atividades das áreas afetiva e de iniciativa com determinação. Essencialmente, porém, é preciso dizer que o ato de transformação do impulso de destruição não requer a “anulação” ou “extinção” dele em nossa intimidade, e sim o aprendizado de transmutá-lo, observando o que diz literalmente a palavra “transformação”, oriunda do latim: “trans” quer dizer “através de”; “forma”, o modo pelo qual uma coisa existe ou se manifesta; e “actio”, ”ação”. Entendemos por fim que, “através de novas ações, mudaremos as formas pelas quais a raiva se manifesta”, sem, todavia, aniquilá-las ou exterminá-las. Com essa visão, a proposta salutar de canalizar e sublimar a agressividade é promover-nos profissionalmente, criando atividades educativa, usando práticas do esporte e outras tantas realizações. Todos aqueles que se dedicam às atividades nas áreas da criatividade, como poetas, pintores, oradores, escultores, artesãos, escritores, compositores e outros, fazem parte das criaturas que direcionam seus impulsos de agressividade para as ates em geral, sublimando-os. Por sua vez, os que se exercitam fisicamente constituem exemplos clássicos daqueles que escoam naturalmente para o esporte sua energia de raiva. Outros tantos a transformam, direcionando-a para as atividade junto aos carentes, nas obras e instituições de promoção e assistência social. Quando as crianças insistirem em cortar, destruir, quebrar, arrancar, esmagar, torcer, bater ou amassar, estão apenas manuseando suas emoções emergentes de raiva ou seus impulsos agressivos, para que saibam usá-los no futuro com controle e conveniência. Em vez de censurá-los e criticá-los, devemos oferecer-lhes um “material adequado”, para eu essas manifestações possam ocorrer plenamente, sem dissabores ou demais prejuízos. Desse modo, “amar os inimigos não é, pois, ter para com eles uma afeição que não está na Natureza” 2. Nossas emoções são energias que obedecem às leis naturais da vida, são previstas nos estatutos da “Lei de destruição” e da “Lei de conservação”, e agem mecanicamente, pois são disparadas ao detectarmos nossos adversários. Não obstante, “o contato de um inimigo faz bater o coração de maneira bem diferente do de um amigo” 3, quer dizer, a emoção energética da raiva ativa a glândula supra-renal, que liberar a adrenalina no sangue. O coração acelera, a pressão arterial sobe, a respiração se intensifica, os músculos se contraem; daí sentirmos essa sensação estranha e incômoda. Em síntese, “amar” os inimigos ou adversários, na interpretação do ensino de Jesus Cristo, não é nutrir por eles ódio ou qualquer propósito de vingança, nem mesmo desejar-lhes mal algum. Acima de tudo, o Mestre queria dizer que nossas emoções inatas de raiva, em nosso atual contexto evolutivo, não querem, em verdade, destruir nada do que está “fora de nós”, com se fazia nos primórdios da evolução. Ao contrário, elas querem nos defender, destruindo conceitos, atitudes e pensamentos “dentro de nós”, os quais nos tornam suscetíveis e vulneráveis ao mundo e, conseqüentemente, nos fazem ser atacados, machucados e ofendidos, 1- 2 – 3 – O Evangelho Segundo o Espiritismo – Item 3 13 Do Livro Unidos pelo Amor - Ética e Cidadania à Luz dos Fundamentos Espíritas – Ditado pelos espíritos Ermance Dufaux e Cícero Pereira - Psicografia de Wanderley S. de Oliveira- Primeira Parte: Capítulo 15: Ética da Alteridade “Porque, se só amardes os que vos amam, qual será a vossa recompensa? Não procedem assim também os publicanos? Se apenas os vossos irmãos saudardes, que é o que com isso fazeis mais do que os outros? Não fazem outro tanto os pagãos?” - (S. Mateus, Cap V, vv. 46 e 47) - O Evangelho Segundo o Espiritismo Cap XII – Item 1 - A escola dos relacionamentos é o convite da vida para a vitória sobre o egoísmo. Viver é de todos, conviver é de poucos, e conviver bem é para quantos disponham encetar nova jornada ante a nossa condição de ”cidadãos do universo”. Cada pessoa que passa pela nossa vida, ainda que superficial e circunstancialmente, é portadora de uma mensagem de vida para nós. Não existem relações casuais. A boa convivência é quesito de qualidade de vida. Quem a experimenta sorri mais, tem melhor tônus muscular, forra-se de cansaço dos agastamentos, logra melhor nível de sono, vence facilmente a rotina, imuniza-se contra o tédio, amplia sua criatividade e vive na atmosfera da paz. Livros desatualizam, eventos fecham ciclos, instituições extinguem-se e as tarefas são recursos didáticos, mas os relacionamentos perpetuam na consciência, são as únicas realidades plausíveis de todo o cosmo doutrinário, é a essência do espiritismo em nós. Por isso, temos que aprofundar conceitos em torno da alteridade, no melhor encaminhamento das nossas questões de amor ao próximo, seja nas atividades educativas da doutrina, seja nas forjas disciplinadoras da sociedade. Concebamos a alteridade, sem rigor técnico, como sendo a singularidade pertinente a cada criatura. Naturalmente, o conjunto das singularidades humanas estabelece a diversidade. Essa diversidade nos solicita, perante os sábios Códigos do Criador, uma ética nas relações que reflita os princípios de pluralidade natural para a harmonia e evolução. Assinalemos, assim, de forma compreensível, que a “ética da alteridade” é a nossa capacidade de relativizarmonos perante as diferenças das quais os outros são portadores, convivendo em paz com nossos diferentes e suas diferenças, rendendo-lhes respeito e amor na forma como são e se expressam, nas suas particularidades. Reconhecemos a melhoria das nossas condições pessoais através desse preito espontâneo de reverência, a quem quer que seja, sem que tenhamos que perder a identidade íntima, mantendo-a sempre resguardada pela definição de propósitos e coerência como características de criaturas espiritualmente saudáveis. Ética da alteridade não significa concordar com tudo ou aprovar tudo, ela não nos retira o senso de valor moral enobrecedor, pois nem toda alteridade está engajada nas sendas do bem. Por exemplo: algumas comunidades aferradas ao folclore manterão rituais ou festas que, para o progresso social, em nada cooperam objetivamente, trazendo algum benefício somente para aqueles que fazem culto a lendas e tradições. Nosso “dever alteritário”, contudo, é respeitar a diferença, buscar compreendê-la na atitude alheia e, quanto possível, buscar aprender algo sobre a “essência do outro” – uma razão profunda e Divina para aquele comportamento, algo “invisível aos olhos” como acentua o inspirado Antoine de Saint Exupéry. Portanto, perante diferenças sociais, corporais, intelectuais ou de que natureza for, adotaremos a ética da alteridade e vivamos em paz. Muitas pessoas nutrem um terrível vazio existencial porque querem existir mudando os outros, querem se realizar no outro, acham que têm todas as respostas para ele, querem “anular a diferença” alheia para se sentirem bem. Por isso é tão comum encontrarmos deficiência no próximo. Sempre achamos que se ele mudasse nisso ou naquilo tudo seria melhor e ele, inclusive, seria mais feliz. Esse é o velho hábito da intromissão perniciosa nas desconhecidas terras do mundo da diversidade, que queremos moldar a gosto pessoal, talhando a igualdade como forma de encontrara fictícia solução para tudo que nos importuna ou contraria os interesses. Muitos conflitos nascem exatamente nesse ato de apropriação indevida da conduta e da forma de ser do próximo. Não sabendo considerar-lhe a singularidade, tentamos combater a diferença ou, o que é pior, adotamos a indiferença... Pensemos urgentemente na construção da conduta de alteridade em nossas relações. Prezemos as diferenças e honremo-las com a ética da fraternidade, esse o roteiro saudável proposto por Jesus em sua sábia interrogação: Porque, se só amardes os que vos amam, qual será a vossa recompensa? 14