1 PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DA INFORMAÇÃO MASSAKI DE OLIVEIRA IGARASHI ESTUDO DA DETECÇÃO ELETROQUÍMICA, EMPREGANDO ELETRODOS MODIFICADOS COM POLIANILINA, TENDO EM VISTA O DESENVOLVIMENTO DE MICROSSENSORES PARA A DETECÇÃO DE ADITIVOS ALIMENTARES Santo André 2009 2 MASSAKI DE OLIVEIRA IGARASHI ESTUDO DA DETECÇÃO ELETROQUÍMICA, EMPREGANDO ELETRODOS MODIFICADOS COM POLIANILINA, TENDO EM VISTA O DESENVOLVIMENTO DE MICROSSENSORES PARA A DETECÇÃO DE ADITIVOS ALIMENTARES Dissertação apresentada ao programa de pós-graduação do Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do ABC para obtenção do título de mestre Engenharia da Informação. Área de Concentração: Engenharia da Informação Orientador: Prof. Dr. Roberto Jacobe Rodrigues Co-Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Reina Muñoz Santo André 2009 em 3 Aos meus incondicional pais pelo durante momentos de minha vida. Dedico apoio todos os 4 AGRADECIMENTOS Primeiramente a DEUS. Aos meus pais, minha avó e minha irmã; pelo apoio incondicional durante todos os momentos deste trabalho e aos meus tios Roberto e Stela pelo apoio e estrutura durante simpósio que participei. À minha namorada Edjane por ter suportado os momentos de stress o decorrer deste trabalho. Aos meus orientadores Dr. Roberto Jacobe Rodrigues, Dr. Rodrigo Reina Muñoz por terem acreditado na minha capacidade e terem lutado pelo meu trabalho. À Universidade Federal do ABC – UFABC por ter-me concedido uma bolsa de estudos. Ao prof. Dr. Thiago Regis Longo Paixão pelo apoio, inclusive na fase final deste trabalho. Ao prof. Dr. Jairo José Pedrotti, uma referência em minha vida acadêmica; agradeço todo apoio e suporte de seu laboratório; principalmente nos momentos em que mais precisei e me vi desamparado. Aos Colegas Fernando L. de Almeida, Juliana L. Cardoso, Zaira M. da Rocha e demais integrantes do Laboratório de Sistemas integráveis – LSI – USP pela estrutura de laboratório de sensores e colaboração; inclusive pelas publicações que obtivemos juntos. Aos professores Pablo A. Fiorito e Mauro C. dos Santos por terem acreditado no meu trabalho e pelo suporte de conhecimento e estrutura laboratorial na fase final do meu trabalho. 5 Ao prof. Dr. e amigo Edson de A. R. Barros; pelo apoio e conselhos; graças a um conselho dele estou aqui hoje escrevendo esta dissertação de Mestrado. Ao prof. Dr. Sergio V. D. Pamboukian, por ter sido o primeiro a acreditar na minha capacidade e empenho acadêmico; quando me concedeu vaga de monitoria. À Amiga Maria Regina T. Pontes, pelo incentivo e apoio desde minha vida acadêmica e durante todo o decorrer deste trabalho, inclusive pela infra-estrutura bibliográfica da Escola de Engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, sob sua responsabilidade. À amiga Tânia Maria, à prof. Dra. Yara e ao prof. Dr. Antônio Marcos pelo suporte e apoio em nome da coordenação da Universidade Presbiteriana Mackenzie; Ao amigo e Engenheiro da empresa Bevian Rodrigo da S. Temóteo pela concessão de amostras de componentes durante o decorrer deste trabalho. Ao amigo Pedro Sertek que em nome da empresa Labsolutions emprestou-me um equipamento potenciostato quando mais precisei e me vi desamparado. A Sr. Eduardo Vicente e colaboradores do ITAL (Instituto de Tecnologia de alimentos – Campinas-SP), pelos conhecimentos e demonstração do método de análise de sulfitos em alimentos. À Rosana Jóias - Jundiaí por ceder um fio de ouro para testes experimentais Ao prof. e amigo Carlos Eduardo da Silva Dantas, uma referência não somente acadêmica, mas um exemplo de ser humano; muito obrigado por você existir! Aos professores Everaldo Venâncio (“Pacato”) e Rafael Salomão pelos conhecimentos e apoio. Aos prof. Dr. Paulo A. Garcia, Lincon, Oswaldo, Kalili, Agostinho e Ivair, pelo apoio durante toda a minha vida acadêmica e sempre que precisei. 6 Aos colegas Marcão (“Wolwerine”), Alexandre, Michel, Bruno, Thiago, Viviane e Jackeline pelo apoio no laboratório de química analítica - Mackenzie. Aos colegas: Julio, Juliana, Mônica, Vinícius, Guilherme, Clovis, Iorque, Rodrigo Souza e Rodrigo Chelegão do laboratório de Eletroquímica LEMN – UFABC Ao aluno de PDPD e colega de orientador Vinícius Lopes, pela ajuda durante o decorrer deste trabalho. Aos colegas mestrandos Fabiula, Julio, Wellington, Josué, Elissando, Moisés e Márcio, companheiros da Pós-Graduação. À todos que direta e indiretamente ajudaram neste trabalho. “Espero não ter esquecido ninguém!” i SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS LISTA DE TABELAS LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS RESUMO “ABSTRACT” 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................1 1.1 Objetivo geral ...................................................................................................2 1.2 Objetivos específicos........................................................................................2 1.3 Organização da dissertação .............................................................................3 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................4 2.1 Figuras de mérito e sensores analíticos ...........................................................4 2.1.1 Sensibilidade ....................................................................................................4 2.1.2 Seletividade ....................................................................................................10 2.1.3 Sensores eletroquímicos: eletrodos de trabalho.............................................11 2.2 Procedimentos e técnicas para detecção de sulfito........................................11 2.3 Procedimentos e técnicas para determinação de ácido ascórbico .................13 2.4 Interação do eletrodo modificado com polianilina e o analito alvo..................13 2.5 Instrumentação eletroquímica ........................................................................15 2.5.1 Potenciostato: alguns conceitos importantes..................................................15 2.5.2 Galvanostatos.................................................................................................18 2.5.3 Efeitos da resistência da solução ...................................................................21 3 PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS..........................................................24 3.1 Sensores, microssensores e células eletroquímicas utilizados ......................24 3.1.1 Sensores e microssensores ...........................................................................24 3.1.2 As células eletroquímicas utilizadas ...............................................................28 ii 3.2 Limpeza dos eletrodos e microeletrodos ........................................................29 3.2.1 Procedimento de limpeza física......................................................................30 3.2.2 Procedimento de limpeza química..................................................................31 3.2.3 Procedimento de limpeza eletroquímica.........................................................31 3.3 Modificação eletroquímica com polímeros condutores...................................33 3.4 Desenvolvimento de instrumentação para realização dos procedimentos experimentais ............................................................................................................36 3.4.1 Micropipetador automático (DAM) ..................................................................37 3.4.2 Galvanostato para modificação eletroquímica de superfície ..........................40 3.4.3 Detector potenciométrico................................................................................42 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ...................................................................45 4.1 Limpeza eletroquímica....................................................................................45 4.2 Caracterização dos microeletrodos ................................................................46 4.3 Resposta eletroquímica dos analitos alvos.....................................................47 4.3.1 Respostas eletroquímicas do eletrodo modificado com PANI a diferentes concentrações de sulfito............................................................................................47 4.3.2 Resposta voltamétrica a diferentes concentrações de ácido ascórbico .........53 4.4 Obtenção da curva analítica ...........................................................................55 4.5 Confecção de pseudo-microeletrodos de referência ......................................60 4.5.1 A limpeza dos microeletrodos.........................................................................61 4.5.2 Deposição de prata.........................................................................................62 4.5.3 Eletrodeposição de cloreto de prata ...............................................................62 4.5.4 A reversibilidade do filme................................................................................63 5 CONCLUSÕES ..............................................................................................66 6 PERSPECTIVAS FUTURAS ..........................................................................67 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................................68 iii APÊNDICE................................................................................................................73 A- O branco eletroquímico ..................................................................................73 B- A dupla camada elétrica .................................................................................73 ANEXOS ...................................................................................................................75 I- Reagentes, materiais e instrumentação de laboratório ..................................75 II – Especificações técnicas de alguns componentes...........................................79 III – Guia de preparo da solução de Polianilina .....................................................80 IV- Aferições do intervalo de dosagem do DAM...................................................83 V- Válvula solenóide – especificações técnicas ..................................................85 VI – Artigo XVII SIBEE 2009 ..................................................................................86 VII – Artigos 32ª RASBQ 2009................................................................................89 VIII – Artigo ACS / SBMICRO 2009 .........................................................................91 IX – Artigo IEEE circuits and systems for medical and environmental applications workshop 2009 ..........................................................................................................92 iv LISTA DE FIGURAS Figura 1 – (a) Sinal amperométrico registrado para injeções de 0,11 mmol.L−1 de ácido ascórbico (concentração final após cada injeção) e (b) curva analítica obtida. (Condições experimentais: E = 0,22 V; sistema sob agitação; macroeletrodo de ouro) [13]. .............................................................................................................................5 Figura 2 – Definição gráfica dos parâmetros de sensibilidade baseado na curva analítica [11]. ...............................................................................................................6 Figura 3 – Regiões de concentração do analito com referência ao limite de detecção, decisão e quantificação [11]. .......................................................................................9 Figura 4 – Aparato experimental para a realização do procedimento de MonierWilliams em amostras de batata desidratada............................................................12 Figura 5 - O amplificador operacional seguidor de tensão .......................................15 Figura 6 – A essência do novo modelo da célula eletroquímica e conexões. ...........17 Figura 7 - (a) O simples galvanostato [15] baseado no (b) circuito amplificador inversor .....................................................................................................................20 Figura 8 – Modelo de célula eletroquímica, “dummy cell” simples (a) para sistema não-faradaico, onde Cd é a capacitância da DCE e Ru + RΩ a rsistência da solução, com Ru não sendo compensada. (b) para sistemas com fluxo de corrente faradaica através de R f [15].....................................................................................................22 Figura 9 – (a) Macroeletrodo de ouro modificado com PANI; (b) microeletrodos de ouro obtidos a partir de circuitos integrados descartados (c) matriz de microeletrodos de ouro..............................................................................................25 Figura 10 – (a) Microssensor microfabricado (b) Projeto do novo microssensor.......26 v Figura 11 – Geometria e cotas do microssensor de cobre com microeletrodo de trabalho de raio 750 µm. ...........................................................................................27 Figura 12 – Células eletroquímicas (a) comercial e (b-e) adaptadas. .......................29 Figura 13 - Limpeza eletroquímica do (a) macroeletrodo de ouro e do (b) microeletrodo de ouro ( H 2 SO4 0,5 m.L−1 , velocidade de varredura 50 mV s −1 )...........32 Figura 14 – Voltamograma cíclico do 1º ciclo de eletropolimerização da PANI sobre eletrodo de ouro (velocidade de varredura v = 50 mV s −1 )..........................................33 Figura 15 – Voltamogramas subseqüentes da eletropolimerização PANI (solução de PANI previamente preparada) na superfície dos microeletrodos de ouro ( v = 50 mV s −1 ) ............................................................................................................34 Figura 16 – Resposta eletroquímica do filme de PANI em H2SO4 0,5 mol L−1 . Comparativo entre (a) microeletrodo e (b) macroeletrodo.........................................35 Figura 17 – Consolidação final do filme de PANI em H2SO4 0,5 mol L−1 . Comparativo entre (a)microeletrodo e (b) macroeletrodo. ..............................................................35 Figura 18 – Branco em tampão fosfato pH = 7 para (a) macroeletrodo e (b) microeletrodo (janela de potencial -0,2 V até +0,65 V, v = 50 mV s −1 )........................36 Figura 19 – O micropipetador automático (DAM) em operação. ...............................37 Figura 20 – Fluxograma do DAM ..............................................................................37 Figura 21 – Circuito eletrônico do DAM.....................................................................39 Figura 22 – Válvulas disponíveis comercialmente para o controle de volumes muito pequenos de amostra: (a) tipo solenóide, (b) tipo diafragma, [44]. ...........................39 vi Figura 23 – O circuito do galvanostato desenvolvido [32, 36]. ..................................40 Figura 24 – Experimento de deposição galvânica ( Vref = 0,711 V) [32] ....................41 Figura 25 – (a) O circuito do (b) detector potenciométrico desenvolvido neste trabalho. ....................................................................................................................43 Figura 26 – (a) O circuito elétrico do simulador de ponto final de titulação (simbologia utilizada: R = vermelho, G = verde, B = azul) e (b) o simulador desenvolvido ..........44 Figura 27 – Voltamogramas cíclicos registrados sequencialmente (solução aquosa de H 2 SO4 0,5 mol L−1 , v = 50 mV s −1 , microeletrodo de ouro Figura 9-b).....................45 Figura 28 – Voltamograma cíclico registrado em solução de K 3 Fe(CN ) 6 (v = 50 mV s −1 ). .................................................................................................................46 Figura 29 – Voltamograma cíclico de diferentes concentrações de sulfito de sódio em tampão fosfato pH 7,02. ............................................................................................48 Figura 30 – Leituras (Vm) obtidas pelo multímetro durante adições consecutivas de 15,3 µL de sulfito de sódio em água deionizada utilizando DAM (15 mL de tampão fosfato pH =7)............................................................................................................49 Figura 31 – Resposta eletroquímica esperada para o potencial ao longo do tempo quando obtido por técnica de corrente controlada [15]. ............................................50 Figura 32 – Resposta da queda ôhmica Rc modelada pela Equação 21 com base nas leituras obtidas para Vm para adições de sulfito. ...............................................51 Figura 33 – (a) Patamares de resistência da solução devido ao aumento linear da concentração.............................................................................................................52 vii Figura 34 – Resposta eletroquímica para diferentes concentrações de ácido ascórbico (a) macroeletrodo (b) microeletrodo ( v = 50 mV s −1 ). .................................54 Figura 35 – Voltamograma de pulso diferencial obtido (tampão fosfato ph = 7). ......55 Figura 36 – (a) Resposta cronoamperométrica de microeletrodo de ouro (Figura 9-b) sem modificação de superfície em solução tampão fosfato e a (b) Curva analítica obtida para (E = 0,350 V, intervalo 0,01 s, tempo de duração 1600 s, branco em tampão fosfato ph = 7). .............................................................................................56 Figura 37 -(a) Resposta cronoamperométrica do microeletrodo de Au modificado com PANI e a (b) Curva analítica obtida (E = 0,425 V, intervalo 0,01 s, tempo de duração 1800 s, pH = 6,0).........................................................................................58 Figura 38 – (a) Resposta cronoamperométrica do eletrodo modificado com filme de PANI e a (b) Curva analítica obtida (E = 0,1 V, tempo de duração 180 s, pH = 6,4) [40]. ...........................................................................................................................60 Figura 39 – Superfície de ouro do microssensor após o processo de limpeza (zoom óptico de 10 x) [32]....................................................................................................61 Figura 40 – Filme de Ag/AgCl eletrodepositado sobre a superfície de prata para a fabricação do eletrodo de referência (zoom óptico de 10x)......................................63 Figura 41 – Teste de reversibilidade do filme de Ag/AgCl depositado. .....................64 Figura 42 – Eletropolimerização de cloreto de prata sobre (a) prata rugora e (b) prata menos rugosa............................................................................................................65 Figura 43 – Superfície do eletrodo recoberta com Nafion® 117: a) AgCl rugoso e b) AgCl menos rugoso, c) e d) potenciais de referencia respectivos aos eletrodos a) e b). ..............................................................................................................................65 Figura 44 – Gráfico de dispersão correspondente ao intervalo de dosagem do DAM ..................................................................................................................................83 viii LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Simulação numérica de resistores e capacitor do multivibrador astável................................................................................................................................. 38 Tabela 2 – Valores de concentração e corrente obtidos a partir da resposta cronoamperométrica (Figura 35-b)...................................................................................... 57 Tabela 3 – Valores de concentração e corrente obtidos a partir da resposta cronoamperométrica (Figura 32-b)...................................................................................... 59 Tabela 4 – Valores de concentração e corrente obtidos a partir da resposta cronoamperométrica (Figura 37-a) ..................................................................................... 60 Tabela 5 – Especificações técnicas de alguns componentes selecionados com base no “Datasheet” do fabricante..........................................................................,.......................... 79 ix LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS A - Àmpere, unidade de corrente elétrica Ag - Área geométrica do eletrodo e/ou microeletrodo C - Concentração eletroquímica D - Coeficiente de difusão ou difusividade Ge - Eletrodo gerador I - Corrente elétrica ITAL - Instituto de Tecnologia de Alimentos; É uma instituição de pesquisa, desenvolvimento e assistência tecnológica da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Governo de São Paulo. www.ital.sp.gov.br Ce - Contra-eletrodo Re - Eletrodo de referência S - Sensibilidade SEM - Sigla proveniente do termo em inglês “Scan electronic microscopy”, ou microscópio eletrônico de varredura. V - Velocidade de varredura para método eletroquímico Voltametria cíclica V - Volta, unidade de potencial elétrico Vcc - Tensão da fonte de alimentação do circuito eletrônico VCCI - Valor de condição de contorno inicial Vm - Tensão de Leitura do Detector Coulométrico Vref - Tensão de referência para controle da corrente do galvanostato e do detector coulométrico We - Eletrodo de trabalho x RESUMO Este trabalho apresenta um estudo para o desenvolvimento de um microssensor para utilização em análises eletroquímicas, podendo ser empregado na detecção de aditivos alimentares como sulfitos e ácido ascórbico. O desenvolvimento de instrumentação eletroquímica de custo acessível como alternativa à instrumentação comercial disponível é uma solução aos diversos problemas que surgem na pesquisa de sensores eletroquímicos. A definição dos experimentos buscando a modificação de eletrodos e microeletrodos, assim como a verificação da interação de polímero condutor polianilina (PANI) com alguns analitos alvos (sulfito e ácido ascórbico) é parte importante deste trabalho. Esta definição de experimentos contribuiu para comprovar as vantagens da modificação superficial em detecções eletroquímicas. Um destaque é dado as técnicas de voltametria cíclica e deposição galvânica, ambas empregadas na deposição dos filmes finos de polianilina e Ag/AgCl para a fabricação de macro e microeletrodos de referência; assim como o método eletroquímico potenciometria, que é a base para o desenvolvimento de um novo detector potenciométrico como o apresentado neste trabalho. Testes com um microssensor microfabricado foram realizados para obter conclusões sobre os aspectos positivos e negativos da geometria, dimensões e contatos do sensor. Isto permitiu alguns testes com uma nova geometria para futuras implementações e melhorias no projeto e desenvolvimento de microssensores microfabricados. Palavras Chave: análises eletroquímicas, microssensor, microeletrodos, polianilina, instrumentação eletroquímica de custo acessível xi ABSTRACT This work presents a study for development of a microsensor for electrochemical analysis that can be applied in detection of food additives as sulfites and ascorbic acid. The development of low cost electrochemical instrumentation as alternative for commercial instrumentation available is a solution for any problems that appear in electrochemical sensors research. The definition of experiments looking for the modification of electrodes and microelectrodes, as well as verification of the interaction of polianiline conductor polymer (PANI) with some analytes (sulfite and ascorbic acid) is an important part of this work. This experiments definition contributed to prove the advantages of the superficial modification in electrochemical detections. A highlight is done for cyclic voltammetry and galvanic deposition techniques, both applied in deposition of polianiline and Ag/AgCl thin films for development of reference electrodes and microelectrodes; as well as the potentiometric electrochemical method that is a base for development of a new potentiometric detector as the presented in this work. Tests with a microfabricated microsensor were done to draw conclusions about positives and negatives aspects of geometry, dimensions and microsensor contacts. It allowed some tests with new geometry to future implementations and improvements in project and development of microfabricated microsensors. Key-words: electrochemical analysis, microsensor, microelectrodes, polianiline, low cost electrochemical instrumentation 1 1 INTRODUÇÃO Os aditivos alimentares têm uma importante atuação na conservação dos alimentos prevenindo a ação microbial e o escurecimento enzimático [1-6]. Da numerosa quantidade de aditivos alimentares existentes pode-se destacar: o sulfito e o ácido ascórbico. As frutas secas, geléias, sucos de frutas e vinhos são as principais fontes da ingestão humana de sulfitos. Estudos relacionados à ingestão destes aditivos, em vários países europeus, vêm alertando quanto às reações adversas em humanos, tais como: broncoespasmos em indivíduos asmáticos sensíveis a sulfitos e até mesmo distúrbios neurológicos [4-5]. Já o ácido ascórbico apresenta propriedades conservantes e antioxidantes, grande importância no que tange à saúde humana [7]. Além do interesse da indústria de cosméticos para tratamentos anti-envelhecimento [8]. Portanto, torna-se bastante interessante a proposta de métodos eletroquímicos para a detecção destes aditivos alimentares. A escolha destes, dentre os diversos métodos existentes, deve-se ao fato dos equipamentos necessários às análises apresentarem, principalmente, menor custo que os de outros métodos (por exemplo, cromatografia). Também se destaca a portabilidade e automatização do sistema (por exemplo, os analisadores portáteis de glicose). Os métodos eletroquímicos ainda permitem a análise em amostras independente de sua coloração (por exemplo, permitirem análise de glicose em sangue), além disso, os limites de detecção são, em geral, inferiores aos obtidos com as técnicas espectrofotométricas, por exemplo. Acrescentar a miniaturização de dispositivos à escolha de métodos eletroquímicos é justificado pela forte tendência da química analítica, devido a vantagens como a exploração de um domínio microscópico, bem como a medição de perfis de concentração local, detecção em sistemas microfluídicos e análises de volume muito pequenos de amostra (nanolitros) [7, 9-10]. Outro aspecto também motivador para o desenvolvimento deste trabalho está em sua característica multidisciplinar, onde áreas de conhecimento como: química analítica, físico-química e eletrônica convergem possibilitando estudos que 2 almejam a melhora no projeto e desenvolvimento de um microssensor eletroquímico para detecção de aditivos alimentares. 1.1 Objetivo geral Contribuir para o desenvolvimento de novos dispositivos sensores. 1.2 Objetivos específicos a. Verificar, experimentalmente, a interação de superfícies de eletrodos e de microeletrodos de ouro modificadas por eletropolimerização de polianilina (PANI), com sulfito de sódio ( Na 2 SO3 ) e ácido ascórbico. b. Realizar testes experimentais com um microssensor microfabricado a fim de propor alterações na geometria que possibilitarão um melhor projeto de microfabricação. c. Estudar e compreender conceitos relacionados à detecção eletroquímica. d. Desenvolver instrumentação eletrônica que auxilie nas etapas experimentais relacionadas ao desenvolvimento de um sensor eletroquímico 3 1.3 Organização da dissertação Os próximos capítulos deste trabalho são estruturados da seguinte forma: Capítulo 2: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Neste capítulo são apresentados os conceitos básicos relacionados ao desenvolvimento de microssensores eletroquímicos, aos métodos de análise de aditivos alimentares; assim como os conceitos que norteiam a modificação eletroquímica de superfície eletródica e também os conceitos fundamentais ao desenvolvimento da instrumentação eletroquímica deste trabalho. Capítulo 3: PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS Neste capítulo são apresentados os procedimentos experimentais que têm como objetivo explorar melhorias no projeto e desenvolvimento de um microssensor eletroquímico que emprega microfabricação. Capítulo 4: RESULTADOS E DISCUSSÕES Os resultados, as conclusões em relação a alguns dos procedimentos, além da instrumentação eletroquímica desenvolvida neste trabalho são apresentados neste capítulo. Capítulo 5: CONCLUSÕES As conclusões finais com relação ao trabalho desenvolvido são apresentadas neste item; onde são destacadas as melhorias e resultados, podendo, inclusive, auxiliar no projeto e no desenvolvimento de microssensores eletroquímicos microfabricados melhores do que os que já existem. Capítulo 6: PERSPECTIVAS FUTURAS Finalmente, após a revisão bibliográfica, os procedimentos experimentais e o desenvolvimento de instrumentação objetivando, além da redução de custos e a automatização do processo de sensoriamento, são apresentadas as perspectivas futuras com relação a este trabalho, buscando a continuidade e o progresso, não somente do que já foi desenvolvido, mas também de futuras pesquisas. 4 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Neste capítulo são apresentadas algumas figuras de mérito relacionadas ao desenvolvimento de microssensores eletroquímicos, aos métodos de análise de aditivos alimentares e à modificação eletroquímica da superfície eletródica. Também são apresentados conceitos importantes para o desenvolvimento da instrumentação eletroquímica empregada neste trabalho. 2.1 Figuras de mérito e sensores analíticos 2.1.1 Sensibilidade De maneira resumida, pode-se definir sensibilidade como a razão entre a variação do sinal causada por uma mudança na entrada. Em métodos analíticos, a sensibilidade consiste na habilidade de um instrumento detectar quantidades reduzidas de um analito numa amostra. Analiticamente, sensibilidade pode ser expressa através de vários parâmetros [11]. A forma mais amplamente aceita para expressar a sensibilidade, S, é a “variação do sinal analítico, x, com a concentração do analito, C”, que pode ser expressa em termos [11]: • Absoluto: S = x C • Diferencial: S = δx δC • Incremental: S = ∆x ∆C Para se obter a sensibilidade é importante que o sinal seja exclusivamente devido à presença do analito, ou seja, na ausência de sinais espúrios denominados ruído de fundo (podem ser obtidos durante o branco eletroquímico (ver apêndice A). A mais notável mudança produzida por uma pequena variação na concentração do analito será a sensibilidade. A sensibilidade pode ser expressa graficamente através da curva analítica. 5 2.1.1.1 A curva analítica A curva analítica (também conhecida como curva de calibração [12]) é um gráfico x = ϕ (C ) construído a partir de dados obtidos numa série de testes onde o processo analítico é aplicado a n amostras (geralmente amostras artificiais) contendo concentrações crescentes do analito. O gráfico muitas vezes apresenta um perfil de escada (Figura 1) [13], cujos patamares fornecem os pontos que podem ser linearizados para uma equação de reta (Equação 1 e 2). Ou seja, a partir do gráfico cronoamperométrico ou cronopotenciométrico, é possível tomar a média dos valores da corrente de cada patamar da escada e relacioná-lo com a respectiva concentração; gerando um novo gráfico corrente vs concentração, que deverá apresentar um comportamento linear; de onde será extraído o valor da sensibilidade a partir do coeficiente angular da reta gerada. 70 Corrente, µA 60 50 40 30 20 10 0 0 200 400 600 800 Tempo, s (a) 1000 1200 1400 (b) Figura 1 – (a) Sinal amperométrico registrado para injeções de 0,11 mmol.L−1 de ácido ascórbico (concentração final após cada injeção) e (b) curva analítica obtida. (Condições experimentais: E = 0,22 V; sistema sob agitação; macroeletrodo de ouro) [13]. Sinal ( x) = sensibilidade( s ).Concentração + int erceptação (1) Sinal ( x) = S * C + xB (2) A Figura 2 exibe um gráfico deste tipo. A porção central cabe na expressão algébrica anterior. 6 Figura 2 – Definição gráfica dos parâmetros de sensibilidade baseado na curva analítica [11]. A sensibilidade será, portanto, o coeficiente angular da porção linear central da curva (Figura 1-b). Uma amostra que não contém o analito produz um sinal analítico xB devido ao sinal do branco eletroquímico (ver apêndice A). A curva de calibração consiste de três partes distintas, descritas a seguir: a) Em mínimas concentrações de analito ( S = 0 ), o mesmo não pode ser detectado ou determinado. Se o branco não propicia sinal, então a curva intercepta a origem [11]; porém, caso contrário, permanece a importância de descontar sinal do branco dos outros valores obtidos na presença da mostra. b) Em concentrações intermediárias de analito, a sensibilidade não é zero ( S > 0 ). Neste caso, uma variação dinâmica é atribuída ao menor limite, que é o limite de detecção. Esta variação constitui-se de três sub-regiões. Na central, S permanece constante; esta é então denominada “variação linear”, que está limitada às outras duas regiões (onde decresce e cresce, respectivamente). O menor limite da variação linear define as coordenadas para o limite da quantificação. O limite superior da variação linear é alcançado quando o desvio da linearidade (x’ – x”) se iguala ou excede 0,03 vezes x’ (o valor onde a linearidade começa); se o desvio é grande, então a curva declina para fora da variação linear [11]. 7 c) Em maiores concentrações de analito, o sinal não varia muito com a concentração ( S = 0 ) e a curva é paralela a parte inicial – em maior nível de sinal; isto porque ocorreu a saturação do sinal. A definição quantitativa da sensibilidade é completada por diversos parâmetros que determinam a mínima concentração que pode ser detectada ou determinada [11]. 2.1.1.2 Limite de detecção Corresponde a concentração do analito C LOD que produz um X LOD que pode ser estatisticamente distinguido do ruído de fundo. Este parâmetro é quantificado em experimentos preliminares envolvendo a medição de n brancos para obter uma média e seu desvio padrão ( σ B ). Por convenção, [11] define o limite de detecção como (Equação 3): x LOD = x B + 3σ B (3) Um sinal X LOD é, portanto, produzido por uma concentração C LOD que pode ser calculada pela extrapolação gráfica. Se o sinal de fundo é zero (ou seja, se o intercepto x B = 0 ), então, é válida a equação 4. x LOD = x B + 3σ B = 0 + 3σ B (4) A Interpolação deste sinal na curva analítica fornece a equação 5. x LOD = (−3σ B ) = 0 + SC LOD (5) Das equações 4 e 5, obtêm-se a relação entre essas duas formas de expressar a sensibilidade (Equação 6): 8 C LOD = x B + 3σ B S (6) Se x B > 0 , então o sinal para o limite de detecção será obtido pela equação 6 fornecida anteriormente. A interpolação deste sinal na curva analítica (Equação 7) propicia a relação entre a sensibilidade e o limite de detecção C LOD (Equação 8) x LOD = ( x B + 3σ B ) = x B + SC LOD C LOD = 3σ B S (7) (8) Pelo fato de S não ser constante ao longo da porção inicial da curva, esta expressão é apenas aproximada. A relação entre C LOD e S depende do valor do sinal de fundo. 2.1.1.3 O limite de quantificação É definido como a concentração do analito C LOD que produz um sinal x LOQ que pode ser considerado como o menor limite da variação linear. Sua expressão matemática (Equação 9) é também baseada no processamento estatístico sinal ou corrente de fundo (corrente de fundo é tudo que se pode medir na ausência do analito): x LOQ = x B + 10σ B (9) Esse, portanto, um valor acima do limite de detecção ( C LOQ > C LOD ). Sua relação com a sensibilidade pode ser estabelecida similarmente ao limite de detecção (Equação 10): 9 C LOD = 10σ B S (10) Um estudo abrangente da sensibilidade rende um ensaio de hipóteses estatísticas, uma descrição detalhada vai além do escopo deste trabalho, sendo que maiores detalhamentos podem ser encontrados em [11]. Alguns autores também denominam limite de decisão, CLD, o valor de concentração que está entre os parâmetros anteriores (Equação 11). x LD = X + 6σ B (11) A Figura 3 ilustra a região cega (do inglês “blind region”), a região de decisão, de detecção e região de quantificação, que resultam em três tipos de limite numa escala de concentração do analito que está relacionada com a escala do sinal do analito e ao sinal de fundo através das expressões anteriores. Figura 3 – Regiões de concentração do analito com referência ao limite de detecção, decisão e quantificação [11]. 10 • Na região cega ( 0 < C < C LOD ), o analito não pode ser detectado nem determinado; como o sinal obtido não é estatisticamente diferente do sinal branco ou ruído de fundo do instrumento de medição. • Na região de detecção ( C LOD < C < C LOQ ), o analito pode ser detectado, porém não quantificado com precisão desde que C esteja inserido na variação linear. • A região de quantificação ( C < C LOQ ) é a região abrangendo a variação linear da curva de calibração. • Finalmente, a região de decisão ( C LOQ > C > C LD ) é a região que engloba concentrações entre os limites de detecção e determinação – mas deve ser mais próximo ao limite de determinação, senão propicia uma detecção qualitativa menos confiável do analito. 2.1.2 Seletividade A seletividade é outro parâmetro analítico muito importante. Ela é definida como “habilidade de produzir resultados exclusivamente dependentes do(s) analito(s) para sua identificação ou quantificação na amostra” [11]. Para compreender melhor esta propriedade, será escolhido um método eletroquímico qualquer, por exemplo, amperométrico [14-15]; que consiste basicamente na detecção do analito desejado através da aplicação de um potencial elétrico de valor constante ao longo do tempo. Supondo que o analito responda a um valor de potencial positivo E1 , e se por se tratar de uma amostra real e complexa, certamente existirão outras espécies (interferentes) que provocarão uma alteração no sinal deste analito porque respondem num potencial E 2 = E1 + ∆E muito próximo do valor E1 . Uma alternativa muito comum para se evitar o acréscimo no sinal analítico devido a respostas dessas espécies interferentes é tornar o método mais seletivo através de artifícios 11 como, por exemplo, a modificação da superfície do eletrodo (ver item 3.3 deste trabalho). O analito de interesse que antes respondia num valor E1 de potencial, agora responderá num valor E1' , geralmente um potencial menos positivo que E1 , o que certamente evitará que as espécies que antes interferiam no sinal passem a não interferir mais. 2.1.3 Sensores eletroquímicos: eletrodos de trabalho Partindo da definição de eletrodo como sendo um condutor em cuja superfície ocorre transferência de elétrons a partir ou para a solução que está ao seu redor, verifica-se, a disponibilidade de uma ampla variedade de metais que podem ser empregados como eletrodos de trabalho [14-16]. Também podem ser utilizados carbono vítreo e diferentes formas de grafite. A platina (Pt) e o ouro (Au) (considerados metais nobres) apresentam uma posição de destaque como materiais eletródicos nas detecções eletroquímicas. O principal motivo é o fato de tais eletrodos oferecerem uma cinética de transferência de elétrons muito favorável e uma grande janela de potencial de oxidação [9, 12, 1416]. Apesar de apresentarem uma baixa sobretensão de hidrogênio, que, dependendo do valor de pH, limita a janela de potencial de redução; comparados aos eletrodos de platina, os de ouro são mais inertes, daí serem mais propensos a formação de filmes de óxido estáveis ou contaminação superficial [14-16]. Portanto, o problema, associado à utilização desse metal nobre, é a ocorrência de elevadas correntes de fundo, associadas à formação de óxidos de superfície. Tais filmes também podem mudar a cinética da reação eletródica [9]. 2.2 Procedimentos e técnicas para detecção de sulfito Existem diversos procedimentos analíticos que utilizam soluções ácidas ou básicas na determinação da quantidade de sulfitos (total e livre) em alimentos; muitos desses baseiam-se no princípio da conversão das várias formas de sulfito a dióxido de enxofre [4-5]. 12 O procedimento de Manier-Williams (Figura 4), o primeiro utilizado para a determinação de sulfitos em alimentos e bebidas, ainda é muito utilizado atualmente; este tipo de procedimento tem sido realizado no Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), por exemplo, em amostras de batatas desidratadas. O procedimento de Monier-Williams baseia-se na separação e quantificação do dióxido de enxofre da matriz alimentar, através do aquecimento com ácido clorídrico por um tempo estimado de 1h45min. à 2 horas. Este dióxido de enxofre liberado é então coletado em uma solução de peróxido de hidrogênio, onde é oxidado a ácido sulfúrico e, em seguida, titulado com solução de hidróxido de sódio. A quantidade de ácido sulfúrico gerada está relacionada diretamente com a concentração de dióxido de enxofre; com isso pode-se quantificar os sulfitos totais no alimento, que correspondem ao sulfito livre mais uma fração dos sulfitos ligados [4]. Figura 4 – Aparato experimental para a realização do procedimento de Monier-Williams em amostras de batata desidratada. Para a quantificação de sulfitos, com base na literatura, destacam-se: a cromatografia iônica, análise por injeção de fluxo – FIA [4-6, 14-16], destilação Monier-Williams com modificações [4-6], destilação Monier-Williams otimizada pelo FDA [4-6], eletroforese capilar [14-16], FIA com detecção fotométrica [4-6], titulação coulométrica com iodo [4-6, 14-16], detecção amperométrica utilizando eletrodo de 13 cobre [4-6, 14-16], detecção de sulfito livre e ligado utilizando cromatografia de alta eficiência – CLAE com detector de ultra violeta e biossensor amperométrico [4-6]. 2.3 Procedimentos e técnicas para determinação de ácido ascórbico No caso do ácido ascórbico (AA), também existem diversas técnicas e procedimentos utilizados para sua determinação; dentre os quais, destacam-se: técnicas eletroanalíticas, cromoatografia, espectrofotometria e titulação. Porém, as técnicas eletroanalíticas apresentam vantagens frente às espectrofotométricas, principalmente quando se deseja determinação em amostras complexas, como urina e sangue. Isto é porque apresentam maior seletividade e possibilidade de se trabalhar com amostras coloridas; além de seu custo ser bem menor quando comparados às técnicas cromatográficas [7, 14]. Devido à composição complexa pode existir, em algumas amostras, uma grande quantidade de substâncias interferentes; por isso, são apresentadas alternativas vantajosas como a modificação da superfície de eletrodos com a finalidade de diminuir a energia requerida (energia de ativação) para o processo de oxidação do(s) analito(s) [9, 14-16]. 2.4 Interação do eletrodo modificado com polianilina e o analito alvo Os filmes poliméricos, empregados na modificação eletródica, são classificados como: condutores, de troca iônica, não condutores e de membrana composta [18]. A eletrocatálise, fenômeno que ocorre em filmes condutores como a polianilina (PANI) [18-19], consiste na diminuição da energia de ativação de transferência de elétrons numa célula eletroquímica [18, 20] e no aumento da velocidade de reação, conseqüentemente, um aumento expressivo da corrente mensurada (nas técnicas de controle de potencial). Uma importante conseqüência é a redução do valor do potencial de detecção para um determinado analito nas técnicas de controle de potencial. Dos benefícios alcançados pela eletrocatálise da PANI, destacam-se [18-22]: 14 • Aumento da sensibilidade (Amplificação do sinal de oxidação do sulfito e do ácido ascórbico); • Aumento na seletividade (diminuição do potencial redox de detecção); • Aumento na estabilidade do sensor e/ou microssensor; • Aumento na reprodutibilidade da detecção; Basicamente, a eletrocatálise possibilita que o processo redox em um substrato, que apresenta uma cinética de transferência de elétrons lenta na superfície eletródica, seja mediado por um sistema que acelera a troca de elétrons com o eletrodo e o substrato, acarretando na redução do sobrepotencial de ativação e, portanto, no aumento da velocidade da reação [18]. No caso da PANI, com a inversão da varredura de potencial (mudança de varredura anódica para catódica) o polímero passa a oxidar também, ou seja, já não mais se oxida somente o analito em questão (sulfito e/ou ácido ascórbico). Quando o polímero atinge seu estado mais oxidado, se ainda houver a forma oxidada do ácido ascórbico ou a do sulfito, a tendência é que o analito (sulfito e/ou ácido ascórbico) reaja novamente com o polímero [18]. O ponto chave é que no início existe apenas ouro, polianilina (PANI) e o analito em questão (sulfito e/ou ácido ascórbico). Ao se iniciar a varredura anódica, ou seja, caminhar-se para valores de potenciais mais positivos, esse analito será adsorvido na superfície do eletrodo, onde existe PANI e ouro; só que no ouro, o analito não irá oxidar até que se atinja um determinado valor de potencial. Paralelamente, o polímero (neste caso PANI) que também está sendo oxidado começa alterar sua forma redox atingindo o estado de oxidação denominado esmeraldina [19-22]; neste momento o polímero começa a reagir também com o sulfito e o ácido ascórbico; ou seja, o polímero oxida no potencial menor (aumenta a seletividade do sensor) e amplifica o sinal (aumenta a sensibilidade do sensor) assim catalisando a oxidação do(s) analito(s) em questão. Portanto, a eletrocatálise possibilita a melhora da atividade do sensor [19-22]. Por exemplo, ao se utilizar ouro puro, a resposta não será a mesma que no caso de modificação com o polímero. Outra vantagem alcançada com a modificação de superfície é que quando se utiliza apenas ouro como material de eletrodo sem nenhuma modificação, com o passar do tempo, pode adsorver alguma espécie na superfície do ouro e tornar o processo irreversível, ou seja, a vida útil de um sensor 15 e/ou microssensor sem modificação é geralmente menor que um modificado; que também apresenta um aumento na repetibilidade do processo de detecção [18]. Dependendo da concentração do analito em questão, a tendência é que a maior parte do analito reaja totalmente com a PANI, não com a superfície do ouro, por isso o processo torna-se mais reversível [19-22], aumentando a reprodutibilidade da detecção. Em um primeiro momento, poderia se pensar em aumentar a janela de potencial, porém, é possível inferir que potenciais mais positivos que +0,9 V aumentam a chance de danificar o eletrodo de ouro devido à sua oxidação [13]. 2.5 Instrumentação eletroquímica 2.5.1 Potenciostato: alguns conceitos importantes Com relação à Figura 5, é de particular interesse a corrente de polarização (do inglês “bias current”, I b ) finita (embora muito reduzida) [20] que fluirá através dos terminais de entrada e uma “tensão de offset” que existirá entre este mesmos terminais. Esta última, certamente, causará uma diferença entre os valores de potencial de entrada ( Ei ) e saída ( E o ). Para muitas aplicações eletroquímicas é desejável que esta diferença seja menor ou no máximo igual a 1 mV [15, 16]. Se uma resistência (Rr) é colocada na realimentação, a corrente de polarização também criará uma diferença entre Ei e E o através de I b e Rr. Rr Ib Eo U1 + 0.000 V - Ei Figura 5 - O amplificador operacional seguidor de tensão. , 16 Alguns amplificadores operacionais, em virtude da reduzida corrente de polarização requerida (por exemplo, os componentes LM741, LF351 e MCP6042), da ordem de 10 −9 A, necessitam de um valor de resistor Rr que certamente não excederá 1 MΩ para criar 1 mV de erro [15, 16]. Estes apresentam até mesmo, correntes de polarização menores que 100 fA , como o caso dos componentes MCP6042 (da fabricante Microchip) e AD549L (da Analog Devices); este último já foi muito utilizado até algum tempo atrás por alguns fabricantes de potenciostatos. Tais amplificadores são, no entanto, eminentemente úteis para a construção de medidores de pH e medidores de potencial, em eletrofisiologia, onde eletrodos de impedância muito pequenas são geralmente usados [15]. As especificações técnicas de alguns componentes que foram testados neste trabalho podem ser vistas e comparadas (ver Anexo II). De acordo com a literatura técnica consultada, é altamente recomendado introduzir os eletrodos de tal forma que o eletrodo de referência fique muito próximo do eletrodo de trabalho e ambos, o mais longe possível do eletrodo auxiliar. Porém, o porquê disso, usualmente, não é bem compreendido. Este foi um dos motivos pelos quais um novo modelo de circuito para célula eletroquímica e conexão com o potenciostato foi elaborado, diferente do encontrado em muitas das referências consultadas [15, 16, 22]. O novo modelo (Figura 6) apresenta, além de alguns elementos de circuito presentes em um potenciostato, o circuito equivalente da célula eletroquímica [22], que está inserido entre estes eletrodos de maneira que se tenha uma idéia desta distância e também de alguns dos fatores envolvidos num experimento eletroquímico (o carregamento da DCE, a impedância devido aos processos faradáicos ( Z f ), a resistência compensada e não compensada da solução, implícitas pela resistência da solução ( Ru + RΩ ); estes fatores são a principal causa desta dificuldade de compreensão dos modelos existentes. 17 Figura 6 – A essência do novo modelo da célula eletroquímica e conexões. A essência deste modelo constitui-se do circuito gerador de sinais (por exemplo, onda triangular para o método voltamétrico), das suas conexões (simbolizadas pelo círculo, triângulo e quadrado) para os eletrodos (trabalho, referência e auxiliar) além do circuito conversor corrente tensão. O uso de um circuito conversor corrente-tensão é justificado pelo fato da não necessidade de minimizar o efeito da presença da resistência interna, assim como quando se utiliza amperímetros para a medição de corrente. Bem como a existência de conversores analógico/digital (conversores A/D), cujo princípio é a amostragem de valores de tensão para possibilitar a conversão do meio analógico para o meio digital. Além disso, é muito fácil estabelecer uma relação entre a corrente e a tensão amostrada, pois a explicação, encontrada facilmente na teoria que explica o circuito amplificador operacional conversor corrente/tensão [23] nada mais é que a aplicação das leis de Kirchhoff e de Ohm. Foi introduzido ao modelo um potenciômetro ( Rm ), pois dependendo do valor da corrente, é preciso que haja uma alteração do valor da resistência para que o ganho, além de não exceder a capacidade máxima de saída do amplificador operacional, possa fornecer um valor de tensão amostrado coerente como o fundo de escala do gráfico (alguns potenciostatos comerciais apresentam a seleção automática de valores para Rm ). Segundo explicado por KISSINGER, P. T. [16], a saída do conversor, Eo , é uma função da corrente aplicada pela reação eletródica ( Eo = −iRm ). Normalmente, a 18 corrente é medida através da utilização de um resistor ( Rm ) para fazer a conversão em tensão. O circuito é mais sensitivo quando o valor de Rm é alto. Para qualquer valor de corrente, Rm não pode ser tão alto a ponto de − iRm exceder a máxima tensão de saída do operacional (tipicamente ±14 V). Adicionalmente, a corrente i (como determinado pela concentração das espécies eletroativas, pela área do eletrodo de trabalho, convecção da solução, etc) não pode exceder a capacidade de corrente do amplificador (tipicamente ±10mA). Se o potenciostato (ou “amplificador de controle”) e o conversor corrente-tensão tiverem diferentes capacidades de corrente, a corrente i não pode exceder imax do amplificador operacional [15]. 2.5.2 Galvanostatos Em algumas técnicas eletroquímicas como a voltametria cíclica e a cronoamperometria, o potencial do eletrodo é controlado, enquanto a corrente é determinada em função do tempo. Já nos experimentos galvanostáticos (técnica denominada cronopotenciométrica, ou simplesmente técnicas galvanostáticas) a corrente passa a ser a grandeza controlada (freqüentemente mantida constante) e o potencial determinado em função do tempo [15]. Não é possível controlar simultaneamente ambas, a corrente e o potencial do eletrodo, e apenas a corrente aplicada à célula eletrolítica pode ser diretamente definida no experimento [16]. Controlar a corrente através da célula é tão simples quanto controlar o potencial no eletrodo, porque apenas dois elementos da célula, os eletrodos de trabalho e auxiliar, são envolvidos no circuito de controle [15]. A principal aplicação do equipamento galvanostato é manter constante a corrente forçada aplicada à célula eletrolítica, mudando o potencial aplicado à célula, até que a corrente seja estabilizada ao valor previamente definido. Logo, isto permite o controle da carga e da velocidade da reação [14-16]. Com a possibilidade do controle da carga, basta fixar a área do eletrodo o qual será submetido ao transporte de carga e também estabelecer o tempo que torna possível o controle da densidade de corrente; isto é extremamente importante durante um processo de eletropolimerização de polímeros intrinsecamente condutores em processo de modificação da superfície. 19 O potencial é então determinado pela composição da solução de polimerização e pela cinética do sistema. Portanto, os parâmetros experimentais, especialmente a densidade de corrente, devem ser cuidadosamente configurados com o objetivo de se prevenir a super-oxidação do polímero condutor e a decomposição do material bioativo [22]. Outra vantagem de se ter o controle da densidade de corrente é que a condição de contorno da superfície passa a ser baseada em correntes ou fluxo conhecidos (ou seja, apenas pelo gradiente de concentração) na superfície do eletrodo; enquanto nos métodos de controle de potencial, as concentrações em x = 0 (como função de E) propiciam as condições de contorno. Devido a este fato a matemática envolvida na solução das equações de difusão para problemas de corrente controlada são muito mais simples, e soluções analíticas podem ser mais facilmente obtidas [15]. Os métodos de controle de corrente podem ser de muito valor quando o processo que está sendo estudado é o processo de fundo (do termo inglês “background process”). Trabalhar com processo de fundo no modo de controle de potencial é geralmente difícil [15]. Tal como a formação de elétrons solvatados no líquido ou a redução de um íon num solvente aprótico (um solvente aprótico é aquele que não pode doar íons H + , geralmente tem elevada constante dielétrica e elevada polaridade). Além de permitir a determinação da espessura de filmes metálicos através da redissolução anódica (do termo em inglês “anodic stripping”) com corrente constante. Nos experimentos galvanostáticos, geralmente, o interesse é o potencial do eletrodo de trabalho, mas medi-lo com um simples multímetro causaria uma fuga de corrente da célula. Como na maioria destes experimentos, principalmente aqueles que envolvem microssensores, a corrente total é inferior a alguns microampères, um circuito conhecido como seguidor de tensão [20] pode ser acrescentado para permitir a medição do potencial do eletrodo de trabalho sem drenar uma corrente substancial da célula. Um dos mais conhecidos galvanostatos (Figura 7), apresentado na literatura [14-16, 25], fundamenta-se na mistura dos conceitos de amplificador operacional inversor e do conceito de “terra virtual” [15-16, 23, 26]. 20 R2 icell R Ei iin n=0 V U1 Eo + 0.000 V - (b Figura 7 - (a) O simples galvanostato [15] baseado no (b) circuito amplificador inversor. O conceito conhecido como “terra virtual” consiste no fato de que caso se tenha um amplificador operacional de alto ganho, este ganho faz com que o potencial de uma das entradas do amplificador operacional se aproxime do valor da outra entrada. Logo, quando uma entrada está fisicamente em potencial terra, então esse potencial é transferido à outra entrada; ou seja, esta outra entrada está em “terra virtual”. Pode-se afirmar que o amplificador operacional inversor apresentará um ganho que corresponde à relação entre as resistências ( R2 ) e ( R1 ), mais um erro; explicado pela Equação 12. − Eo R = − 2 + erro Ei R (12) Este erro deve ser considerado porque os parâmetros I b , ganho e resistência de entrada mudam conforme o tipo de amplificador operacional. Na prática, estes são alguns dos fatores que fazem com que um componente tenha um valor comercial maior que o de outro. Para o desenvolvimento deste tipo de galvanostato a resistência de realimentação do circuito do amplificador inversor ( R2 ) da Figura 7-b é substituída pela célula eletroquímica (Figura 7-a). Ou seja, os dois pontos de conexão da resistência R2 agora correspondem ao eletrodo gerador e o eletrodo auxiliar. Com o conceito do terra virtual e com base na Equação 12, pode-se explicar a corrente da célula eletroquímica ( icell ) da Figura 7-a [15] através da equação 13. 21 icell = Eo e = iin = − i + erro R2 R (13) Logo, a corrente que fluirá pela célula é controlada pelos parâmetros: tensão de entrada ( Ei ), resistência (R) e erro. 2.5.3 Efeitos da resistência da solução Apesar dos efeitos da resistência da solução serem mais críticos para macroeletrodos, seu entendimento é muito útil até mesmo para que o usuário tenha um melhor domínio dos equipamentos que irá utilizar. O impacto da resistência da solução em tais experimentos é substancial e envolve diversas considerações. Em eletrólise total (do termo em inglês “bulk electrolysis”), a corrente flui num alto nível pelo fato da área do eletrodo ser ampla e o transporte de massa ser efetivo. Logo, em experimentos de transientes rápidos, altos pulsos de corrente são encontrados porque a variação da tensão sobre a resistência da solução durante um curto intervalo de tempo (dE/dt) apresenta um valor muito elevado durante a medição. Existe também uma componente capacitiva para a corrente, que apesar de aparentar ser ínfima, também pode causar uma sobrecarga no equipamento devido ao elevado valor de corrente necessária (ver Equações 14 e 15) a esta variação infinitesimal de carga (dq) durante este intervalo pequeno de tempo (dt). C = 2 µF = i= 2 µC 1V dq 2µC = = 2A dt 1µs (14) (15) Ou seja, a maneira de se impor um passo de 1 V durante 1µs, num eletrodo que tem uma capacitância interfacial, C = 2 µF , a corrente média ( i ) neste período terá valor 2A. Este pico de corrente pode ser muito elevado, a ponto de causar uma sobrecarga. 22 Assim, o potenciostato precisará ter um adequado dimensionamento, em termos de potência, para suprir esta necessidade de corrente, mesmo que elas sejam exigidas apenas momentaneamente [15]. Em situações de corrente elevada, a tensão de saída do potenciostato, em geral, é aplicada sobre a resistência da solução Ru + RΩ , (Figura 8) [15] e pode facilmente exceder 100 V (valor explicado pela Lei de Ohm). Os limites de fornecimento do potenciostato estão relacionados ao termo compliância (do termo em inglês “compliance”), ou seja, compliância de corrente (ou máxima corrente fornecida) e compliância de tensão. A potência do potenciostato é o produto dessas duas grandezas [15-16]. Célula Eletroquímica Célula Eletroquímica Ce Ce RΩ RΩ Eref Eref Re Re Ru Ru Ereal Cd Rf Cd We We (a) Ereal (b) Figura 8 – Modelo de célula eletroquímica, “dummy cell” simples (a) para sistema nãofaradaico, onde Cd é a capacitância da DCE e Ru + RΩ a rsistência da solução, com Ru não sendo compensada. (b) para sistemas com fluxo de corrente faradaica através de R f [15]. 23 De uma forma prática, podem-se impor as seguintes regras [15]: • Sempre que a corrente de compliância é ultrapassada, existe um erro de controle de potencial devido à resistência não compensada; • Se uma corrente catódica flui, o verdadeiro potencial do eletrodo de trabalho é menos negativo que o valor nominal pela soma; o contrário é mantido para uma corrente anódica; • Até pequenos valores de Ru , tal como 1 a 10 Ω, pode causar um amplo erro de controle quando correntes substanciais fluem. Esta é uma razão porque eletrosíntese de larga escala (do termo inglês “large-scale electrosynthesis”) não é geralmente realizada potenciostaticamente. Neste âmbito, controlar a densidade de corrente é geralmente mais prático e muito vantajoso por possibilitar o controle da velocidade da reação, pois é sabido que ter o controle da corrente é o mesmo que ter o controle da quantidade de carga no tempo. Esta é mais uma aplicação para o equipamento galvanostato desenvolvido no âmbito desta pesquisa. 24 3 PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS Neste capítulo são apresentados os sensores, microssensores, as células eletroquímicas e as etapas de limpeza. Também é apresentada a instrumentação eletroquímica desenvolvida para utilização neste trabalho. Muitos dos experimentos foram realizados concomitantemente para macrossensores e microssensores para que permitisse uma comparação constante entre ambos. Esta escolha é útil porque permite não só justificar os benefícios da miniaturização, da modificação de superfície eletródica e da microfabricação, mas também apresentar uma alternativa à necessidade de microscopia para as verificações superficiais dos microssensores [7]. Logo, ao se verificar visualmente as modificações ocorridas nos macrossensores e se conhecer os perfis padrões nos gráficos de respostas, torna-se possível identificar e comparar resultados, assim como obter conclusões. A microscopia associada a outros métodos de caracterização eletroquímica é importante para obter informações mais precisas. 3.1 Sensores, microssensores e células eletroquímicas utilizados 3.1.1 Sensores e microssensores O primeiro de todos os sensores utilizados foi um macrossensor apresentado na Figura 9-a, gentilmente cedido por ALMEIDA, L. F 1 e confeccionado conforme descrito na literatura [13, 27] pela técnica “Silk-screen” utilizando como matéria prima pasta de ouro DuPont® 5142 [13]. A área geométrica aproximada do macroeletrodo de trabalho de ouro em substrato de alumina (43 mm de comprimento por 17 mm de largura) na qual o filme de PANI foi eletrodepositado é de aproximadamente 20 mm2 (Figura 10-a). 1 ALMEIDA, F. L. de. Desenvolvimento de um sensor eletroquímico planar modificado com 1-2 Diaminobenzeno (DAB) para monitoração de nitrito por FIA-automatizada. Dissertação de mestrado – USP, 2009. 25 (a) (b) (c) Figura 9 – (a) Macroeletrodo de ouro modificado com PANI; (b) microeletrodos de ouro obtidos a partir de circuitos integrados descartados (c) matriz de microeletrodos de ouro. 26 (a) (b) Figura 10 – (a) Microssensor microfabricado (b) Projeto do novo microssensor. O segundo tipo, uma matriz de microeletrodos obtida a partir de desgaste físico da camada de baquelite de circuitos integrados, foi confeccionado conforme descrito na literatura [28]. A Figura 9-b exibe os microeletrodos da matriz curtocircuitados por um conector e conectados a um plug banana. Optou-se por curtocircuitar todos os microeletrodos deste circuito integrado para que haja um aumento no valor absoluto da resposta de corrente; porém, os mesmos podem ser acessados individualmente através da disposição da Figura 9-c. Após todos os testes comparativos em escala macro e micro, a partir de microssensores confeccionados com um baixo custo é possível seguir adiante com o processo de microfabricação, tomando como base o trabalho descrito em [30]. 27 Destaca-se que o microssensor microfabricado (Figura 10-a) foi cedido pelo professor Dr. Marcelo Bariatto para testes numa colaboração entre as instituições UFABC e Laboratório de Sistemas Integrados – LSI da Escola Politécnica da USP [31-32]. Com base nos aspectos positivos e negativos da geometria, um dos grandes problemas constatados nos experimentos com este microssesor microfabricado, foi a dificuldade de conexão ente os contatos de dimensão micrométrica e macrométrica, inclusive a extrema necessidade de cuidado no manuseio do usuário para que não ocorressem danos irreparáveis ao mesmo. Por isso, confeccionou-se um novo microssensor (Figura 10-b) para testes da nova geometria. A Figura 10-b apresenta o novo microssensor desenvolvido a partir de uma placa de fenolite, que estabelece uma boa união entre as das dimensões macro e micro, não necessitando soldagem de fios para interligar contatos do microssensor com o suporte de fenolite. Observa-se que a metodologia de fabricação por placa de fenolite é apenas para teste de geometria e dimensão do sensor; a mesma poderá ser substituída pelo novo projeto de microssensor empregando tecnologia de microfabricação nos próximos trabalhos a serem desenvolvidos. É possível utilizar eletrodos de cobre para detecções amperométricas [33]. Mesmo sabendo das limitações que a utilização do material cobre (Cu) impõe se comparadas ao ouro e platina (por exemplo, menor janela de potencial e rápida oxidação em meios ácidos) foram desenvolvidos microeletrodos de cobre a partir de placas de fenolite utilizando processo de serigrafia, através do qual uma tela serigráfica com a geometria proposta neste trabalho foi projetada e constitui-se de dois diferentes raios de eletrodo de trabalho, microeletrodos na ponta com raio geométrico 375 µm, e também raio um pouco maior (750 µm) (Figura 11). Figura 11 – Geometria e cotas do microssensor de cobre com microeletrodo de trabalho de raio 750 µm. 28 Observa-se como uma alternativa viável à utilização deste microssensor desenvolvido com placa de fenolite a eletrodeposição de platina ou ouro sobre o cobre, possibilitando uma maior janela de potencial e também a vantagem de serem materiais mais inertes que o cobre; pois não são facilmente oxidados com a umidade. Após confeccionado o microssensor, é necessário impermeabilizar os demais contatos acessíveis e indesejados para que fique exposta, ao contato com a solução, apenas o pequeno raio do eletrodo de trabalho, as geometrias circulares dos eletrodo de referência e auxiliar e os contatos com conector (Figura 10-b). Sugere-se a utilização de resina epóxi para impermeabilização. Muito cuidado deve ser tomado no momento do procedimento de isolação das superfícies metálicas indesejadas, para que não sejam imobilizados também os eletrodos de trabalho, referência e auxiliar. Recomenda-se a utilização de pontas de micropipetas para a proteção do microeletrodo de trabalho. É importante mencionar que esta geometria foi desenvolvida neste trabalho com base em geometrias utilizadas anteriormente [13, 34]. 3.1.2 As células eletroquímicas utilizadas Foram utilizadas várias células eletroquímicas, muitas delas até mesmo modificadas para que permitisse a introdução do macroeletrodo. A Figura 12 exibe cinco das células utilizadas na etapa experimental deste trabalho. O eletrodo de referência utilizado nos experimentos de voltametria, amperometria e cronoamperometria foi o de prata/cloreto de prata em solução saturada de KCl 3 M, cuja simbologia utilizada neste trabalho será apenas Ag/AgCl. Para contra eletrodo, foi utilizado um fio de platina (Figura 12-d), além de micro e macro-eletrodos de ouro e também um bastão de grafite. 29 (a) (b) (c) (d) (e) Figura 12 – Células eletroquímicas (a) comercial e (b-e) adaptadas. 3.2 Limpeza dos eletrodos e microeletrodos Antes de realizar qualquer trabalho experimental com o sensor e/ou microssensor, é necessário eliminar todos os tipos de partículas que possam estar adsorvidas na superfície do(s) eletrodo(s) a ser(em) utilizado(s); este procedimento de limpeza física, química e eletroquímica (de forma consecutiva) também é conhecido como ativação de superfície [13]. Cada uma das etapas do procedimento de limpeza é descrita em detalhes a seguir. 30 A adsorção de espécies eletroativas na superfície do eletrodo (algumas vezes denominada como “adesão de sujeiras no eletrodo”) ocorre de forma freqüente. Tal adsorção pode inibir uma reação eletródica (por exemplo, a formação de uma camada de impedimento que bloqueia uma parte da superfície do eletrodo), ou também acelerar uma reação eletródica. Segundo explicado por BARD, A. J. [15], em muitos estudos de eletrodos sólidos, observa-se uma lenta mudança da resposta eletroquímica com o tempo, que pode ser atribuída ao aumento de impurezas na superfície eletródica numa taxa limitada pela sua difusão do seio da solução. A ativação da superfície eletródica acarreta no aumento da área superficial eletroativa; ou seja, diferente da área geométrica do eletrodo (área calculada analiticamente pelas coordenadas cartesianas) a área eletroativa corresponde a toda porção superficial que de fato reage numa reação eletroquímica; logo, é muito importante que a área superficial eletroativa seja sempre maior ou pelo menos igual à área geométrica do eletrodo. A afirmação de ser pelo menos igual deve-se ao fato de que muitas vezes, com o intuito de tornar prático e em ocasiões por limitações de tempo, não são realizadas as caracterizações eletroquímicas necessárias para obter o valor correto da área superficial eletroativa e, portanto, os cálculos para a densidade de corrente são aproximados pela área geométrica do eletrodo. 3.2.1 Procedimento de limpeza física A limpeza física da superfície eletródica permite eliminar impurezas adsorvidas fisicamente pela própria manipulação ou pela exposição ao ambiente. As etapas a seguir têm por base o procedimento de limpeza sugerido por ALMEIDA, F. L. [13]: • Enxágüe em água deionizada durante aproximadamente 5 minutos; • Remoção de imperfeições (homogeneizar a superfície) com a seqüência de lixas d’água número: 1200, 2000 e 2500; • Polimento mecânico utilizando um feltro impregnado em alumina coloidal 0,05 µm, por meio de 30 movimentos em forma de 8 ou até 31 observar a superfície brilhante e homogênea através de um microscópio óptico, por exemplo; • Enxágüe com água deionizada durante aproximadamente 1 minuto. 3.2.2 Procedimento de limpeza química O procedimento de limpeza química [32] consiste da utilização de uma mistura: ácido nítrico 0,5 mol L−1 , peróxido de hidrogênio (“água oxigenada”) e álcool isopropílico, em proporção 1:1:1. Após o preparo da mistura, deve-se imergir o microssensor na solução preparada durante 100 segundos a fim de eliminar os componentes orgânicos. Em seguida, rinsar água deionizada novamente. Este tratamento resulta numa superfície, visualmente, mais homogênea e brilhante. 3.2.3 Procedimento de limpeza eletroquímica A limpeza eletroquímica permite a eliminação efetiva dos materiais adsorvidos, inclusive àqueles devido às forças de atração intermoleculares. Logo, após este e todos os procedimentos anteriores, é observado que existe um aumento da área superficial eletroativa. Para o procedimento de limpeza eletroquímica, deve ser utilizado ácido sulfúrico (0,1 ou 0,5 mol L−1 ). Este ácido é considerado um ácido forte e com elevada capacidade de dissociação e formação de íons hidrogênio; além do fato da ação complexante do sulfato formado e que auxilia no processo de limpeza [13]. Devido à necessidade da ocorrência da oxidação eletroquímica (corrosão) de uma camada muito fina de ouro sob potenciais não muito mais positivos que + 0,8 V vs Ag/AgCl e da formação de hidrogênio na superfície do eletrodo em potenciais mais negativos, ALMEIDA, F. L. [13] recomenda a utilização da janela de potencial entre +0,9 e -0,9 V vs Ag/AgCl, ressaltando que em potenciais maiores que +0,9 V pode ocorrer danos na superfície do ouro. 32 Porém, devido a testes bem sucedidos, neste trabalho foi utilizado durante diversas vezes, a janela de potencial -0,2 V até +1,6 V vs Ag/AgCl. Os resultados do processo de limpeza eletroquímica estão melhor explicados no item 4.1 deste trabalho. O perfil do gráfico obtido durante a limpeza eletroquímica devido ao processo redox que ocorre com o ácido sulfúrico na presença do ouro, também é útil para evidenciar se o material do eletrodo é ou não ouro policristalino, cujo perfil é bastante conhecido [35]. A resposta, através do processo eletroquímico redox do ácido sulfúrico, para macro-eletrodo de ouro (Figura 13-a), e microeletrodo de ouro (Figura 13-b) pode ser realizada em solução aquosa de ácido sulfúrico com concentração molar de 0,1 a 1,0 mol L−1 , sendo comum a utilização de valores baixos de concentração por razões de segurança, evitando assim o manuseio de substâncias ácidas mais concentradas. Através da Figura 13-a, pode-se notar a oxidação do óxido de ouro no potencial +1,3 V e a redução do mesmo em aproximadamente +0,85 V. (a) (b) Figura 13 - Limpeza eletroquímica do (a) macroeletrodo de ouro e do (b) microeletrodo de ouro ( H 2 SO4 0,5 m.L−1 , velocidade de varredura 50 mV s −1 ). Para este procedimento deve ser utilizado o método eletroquímico voltametria cíclica sob velocidade de varredura 30 ou 50 mV s −1 e janela de potencial -0,20 até +1,60 V. Observa-se também que a escala de corrente medida através do macroeletrodo (área geométrica aproximada 20 mm2) foi na escala de microampères, enquanto que a escala da corrente do microeletrodo (área geométrica aproximada 25 µm2 [28] foi nanoampères, ou seja, a redução nas dimensões do eletrodo 33 acarreta uma diminuição do valor da corrente de pico conforme comportamento previsto pela equação de Randles-Sevick (Equação 19) [13]. 3 1 i p = (2,69 .105 )n 2 AD 2Cυ 1 2 (19) Onde n é o número de elétrons transferidos durante a reação, A é a área do eletrodo, D o coeficiente de difusão (ou difusividade) da espécie eletroativa, C a concentração da espécie eletroativa no seio da solução e v é a velocidade de varredura. A limpeza eletroquímica é evidenciada através da diminuição das correntes de pico anódica e catódica, por exemplo, entre os potenciais 0 V e 0,4 V, comprovando a eficiência deste processo de limpeza para eventuais “sujeiras” que poderiam interferir na resposta do sensor em qualquer potencial contido neste intervalo. 3.3 Modificação eletroquímica com polímeros condutores O filme de polianilina (PANI) pode ser eletropolimerizado sobre o eletrodo de ouro por meio de voltametria cíclica, através dos seguintes passos: Passo 1: início da eletropolimerização Deve-se realizar apenas 1 ciclo com a janela de potencial variando de -0,20 até 0,95 V e velocidade de varredura 50 mV s −1 (Figura 14). Figura 14 – Voltamograma cíclico do 1º ciclo de eletropolimerização da PANI sobre eletrodo de ouro (velocidade de varredura v = 50 mV s −1 ). 34 Utilizar solução de polianilina 0,1 mol L−1 diluída em meio ácido sulfúrico 0,5 mol L−1 (o procedimento para preparação da solução encontra-se no anexo deste trabalho). O primeiro ciclo deve ser numa janela de potencial maior que os demais ciclos de deposição para que a primeira camada formada possa agir de forma a catalisar a formação das demais camadas do filme. Passo 2: eletropolimerização Os demais ciclos de deposição devem ser realizados com a janela de potencial -0,20 até +0,80 V (Figura 15). Figura 15 – Voltamogramas subseqüentes da eletropolimerização PANI (solução de PANI previamente preparada) na superfície dos microeletrodos de ouro ( v = 50 mV s −1 ). Observa-se que a espessura do filme eletropolimerizado é proporcional à quantidade de ciclos de deposição. Logo, uma das formas de se manipular a espessura e qualidade do filme a ser depositado é através de um maior ou menor número de ciclos. Neste trabalho foram executados diferentes ciclos de deposição (20, 30 e 50), porém, não foram realizadas análises qualitativas e caracterização morfológica do filme depositado para se avaliar a qualidade do mesmo. 35 Passo 3: Verificação da estabilidade do filme Após a eletrodeposição, o filme de PANI deve ser consolidado através de 10 ciclos de voltametria cíclica com janela de potencial -0,20 até 0,45 V (Figura 16). A mesma figura apresenta um comparativo entre microeletrodo e macroeletrodo. Observa-se que a escala de corrente foi a mesma porque neste caso, optou-se por curtocircuitar todos os microeletrodos disponíveis na matriz do microssensor (Figura 9-b) para que o processo ocorresse, ao mesmo tempo, para todos os microeletrodos, reduzindo o tempo total do experimento. (b) (a) Figura 16 – Resposta eletroquímica do filme de PANI em H2SO4 0,5 mol L−1 . Comparativo entre (a) microeletrodo e (b) macroeletrodo. Seguidos de 2 ciclos de janela de potencial -0,2 até +0,75 V (Figura 17) em solução aquosa de H2SO4 0,5 mol L−1 . (a) (b) Figura 17 – Consolidação final do filme de PANI em H2SO4 0,5 mol L−1 . Comparativo entre (a)microeletrodo e (b) macroeletrodo. 36 Passo 4: Branco em tampão fosfato pH 7,0. Consolidado o filme, deve-se primeiramente obter a resposta eletroquímica numa solução tampão fosfato pH=7,0; este procedimento é conhecido como branco eletroquímico (ver Apêndice A). Posteriormente, deve-se obter a resposta às diferentes concentrações do analito alvo, neste mesmo tampão. A resposta eletroquímica para o “branco” deve ser realizada com intervalo de potencial -0,20 até +0,60 V, conforme pode ser observado na Figura 18. (b) (a) Figura 18 – Branco em tampão fosfato pH = 7 para (a) macroeletrodo e (b) microeletrodo (janela de potencial -0,2 V até +0,65 V, v = 50 mV s −1 ). Ressalta-se a importância de se observar o valor do pH da solução, pois o mesmo pode alterar o estado de oxidação da polianilina [21-22]. 3.4 Desenvolvimento de instrumentação para realização dos procedimentos experimentais Conforme já mencionado anteriormente, com o intuito de adquirir certa independência dos equipamentos comerciais como potenciostato e micropipeta, assim como a importância da automatização do processo de detecção foram desenvolvidos um micropipetador automático e um galvanostato. Um detector coulométrico ainda está em projeto e desenvolvimento. 37 3.4.1 Micropipetador automático (DAM) O desenvolvimento de um micropipetador automático (Figura 19), denominado DAM, ocorreu devido a necessidade de eliminar o erro intrínseco que ocorre durante os experimentos para obtenção da curva analítica através da técnica eletroquímica conhecida como cronoamperometria. Este erro está associado ao manuseio do aparato e a importância de obter melhor reprodutibilidade nos procedimentos. Figura 19 – O micropipetador automático (DAM) em operação. A idéia para o desenvolvimento do DAM partiu do princípio de um circuito gerador de sincronismo (multivibrador astável) [23]. Figura 20 – Fluxograma do DAM. A Figura 20 exibe um fluxograma do micropipetador automático explicando as letras destacadas na Figura 19. Desde que alimentado por uma tensão DC de +5 V, o multivibrador astável gera uma saída que oscila entre dois níveis lógicos instáveis, ou seja, entre aproximadamente +5 V e 0 V, correspondente a uma onda quadrada digital. Porém, 38 a grande vantagem deste tipo de circuito não é gerar este tipo de onda, mas a facilidade com a qual uma simples mudança de resistores pode ser capaz de alterar o ciclo de trabalho, também conhecido como ciclo de meia onda (do inglês “duty cycle”) desta forma de onda; ou seja, a porcentagem que o intervalo de duração do nível lógico 1 (+5 V) representa em relação ao período total da onda. Em outras palavras, afirmar que uma onda de freqüência 1Hz apresenta duty cycle de 50% corresponde ao fato de que o nível lógico 1 fica ativo durante 500 ms e o nível lógico 0 durante os restantes 500 ms. O que se fez foi simular, numericamente, os valores destes resistores e capacitores (Tabela 1) com base nas equações fornecidas por [23]. Tabela 1 – Simulação numérica de resistores e capacitor do multivibrador astável. Componentes C (F) Rb forçado Ra forçado t1 (s) t2 (s) VALORES NOMINAIS 1,00E-05 1,50E+05 5,60E+06 1,04E+00 3,98E+01 =10uF =150K =5,6M =1,04s =40s VALORES REAIS (±5% Erro) 1,05E-05 1,58E+05 5,88E+06 1,15E+00 4,39E+01 Após a obtenção dos valores reais com erros estimados (considera-se um erro de pelo menos 5% devido a componentes e instrumentos utilizados) (Tabela 1), pode-se construir o circuito eletrônico do DAM (Figura 21) com valores de componentes próximos aos da Tabela 1. Observa-se também que o controle digital do multivibrador precisa ser introduzido, por exemplo, num componente eletrônico conhecido como relè, que funcionará como uma chave para ligar e desligar a tensão de alimentação 12VDC necessária ao acionamento da válvula solenóide (Figura 22). O circuito do DAM também apresenta uma chave seletora (dosa/limpa) que irá selecionar entre fornecer a alimentação 12VDC de forma ininterrupta ou controlada pelo circuito multivibrador; isto permite que seja realizada uma limpeza dos canais de transporte do analito de A até C (ver fluxograma Figura 20). 39 12V VCC Chave Seletora Dosa/Limpa Relè 5V Multivibrador Astável 1 32 Key = S AK L1 1N4007 1 2 L2 5MΩ Ra C1 K C2 EMR121B05 Contato NF01 LMC555CN NE555 VCC C VCC 2 1 12 B 10kΩ DIS THR 150kΩ Rb 12V E OUT 21 5V RST BC548B TRI CON 10uF 10nF 1 21 21 GND Figura 21 – Circuito eletrônico do DAM. Concluído o circuito, resta apenas a escolha correta da válvula solenóide a ser utilizada (ver anexo). Neste trabalho foi utilizada uma válvula solenóide 12 V de duas vias (entrada e saída); porém, pode-se optar pela utilização de outros tipos (Figura 22-b), inclusive válvulas com 3 vias; podendo então acrescentar ao sistema um bombeamento forçado por uma bomba peristáltica ou simplesmente uma bomba de aquário [7]. (a) (b) Figura 22 – Válvulas disponíveis comercialmente para o controle de volumes muito pequenos de amostra: (a) tipo solenóide, (b) tipo diafragma, [44]. 40 A Figura 22 apresenta os dois tipos de válvulas que se enquadram nas especificações necessárias para o controle de volumes muito pequenos de substâncias químicas. Destaca-se a necessidade da válvula ser de material inerte; o material da válvula deve ser selecionado adequadamente para que não ocorram danos à mesma. 3.4.2 Galvanostato para modificação eletroquímica de superfície Ao se projetar um galvanostato, deve-se primeiro escolher um componente que introduza o menor erro possível. Como já explicado anteriormente, uma das grandes vantagens de se utilizar um galvanostato é a possibilidade de se ter o controle da densidade de corrente; ou seja, da densidade de carga que fluirá pela célula. O mérito deste trabalho em relação ao desenvolvimento deste circuito (Figura 23) está no fato de ter se baseado no conceito de terra virtual, porém não utilizá-lo como de fato é definido. Ou seja, ao invés de introduzir na entrada positiva (ponto P) do amplificador operacional inversor de tensão o pino comum da fonte de alimentação de forma que no ponto “s” exista um “zero virtual” e introduzir um potencial controlado estável no ponto “T”; decidiu-se fazer exatamente o inverso [3132, 36-37]. Isto permitirá uma melhora adicional, por exemplo, a inclusão de um conversor Digital/Analógico permitindo não só um controle mais preciso dos ajustes da densidade de corrente, mas também uma possível automatização para deixar este galvanostato autônomo. V: 714 mV V(dc): 714 mV I: 10.0 nA P 100kΩ Key=A14% Vref Anodo 5V 1MΩ Key=S 5% Rsolução OPAMP_3T_VIRTUAL + 0.714 Catodo V - DC 20MΩ Multímetro V: 715 mV V(rms): 0 V V(dc): 715 mV I: 715 nA s 1MΩ Rajuste V: 715 mV I: 705 nA T Figura 23 – O circuito do galvanostato desenvolvido [32, 36]. 41 Conforme já explicado anteriormente, ao se fixar o valor de Rajuste para 1MΩ, o valor da corrente a ser controlada (i) pelo galvanostato corresponderá ao valor ( Vref ) (Figura 24) dividido por 1x106 , conforme comprova a Equação 20. i= Vref 0,714 = = 714nA ± Erro 1 MΩ 1 x106 Ω (20) Os valores simulados apresentam uma corrente controlada de 705 nA, ao invés do valor nominal esperado, isto equivale a um erro de aproximadamente 1,26%. Isto já era esperado porque a simulação, realizada no software NI MultiSim 10.0, foi configurada para erro de resistência de 1% e demais características do amplificador operacional conforme folha de dados (“datasheet”) do componente eletrônico AD549. Em uma situação real, conforme comprovado pelos experimentos práticos realizados (Figura 24), nem sempre se tem disponível um componente da qualidade do AD549, além de se somarem erros devido ao instrumento multímetro utilizado e eventuais deslocamentos (do inglês “drift”) de temperatura do amplificador operacional, assim como erro devido às conexões, é esperado que o valor do erro prático seja de até 10%. Figura 24 – Experimento de deposição galvânica ( Vref = 0,711 V) [32]. 42 3.4.3 Detector potenciométrico Com o objetivo de eliminar a necessidade de um potenciostato, necessário às etapas de eletropolimerização de PANI, limpeza e detecção eletroquímica, foi testado, ainda em sua fase inicial de projeto e desenvolvimento, um detector potenciométrico (Figura 25) que agrega, em sua essência, o circuito do galvanostato desenvolvido neste trabalho. O circuito foi inspirado no trabalho publicado por [38] e tem por base as titulações potenciométricas [14-16], que são realizadas através de uma fonte de corrente constante (galvanostato), responsável por perceber as variações de corrente de uma célula e responder por meio de um aumento do potencial aplicado à célula até que a corrente seja restabelecida ao seu valor inicial. Uma característica primordial a dispositivos desta natureza é a necessidade de uma eficiência de 100 % para o controle de corrente desenvolvido pelo galvanostato, evitando efeitos de polarização indesejáveis ao processo [14]. Para que seja possível o conhecimento da carga do processo, é necessário que se tenha o conhecimento do tempo de realização do processo e da corrente controlada [14-16]. No caso das titulações potenciométricas acorrente controlada, diferente dos métodos de controle de potencial, o eletrodo de trabalho agora passa a ser denominado eletrodo gerador (Ge) [14], pelo fato de fornecer a corrente controlada à célula de titulação; porém, ainda existe a presença do contra eletrodo (ou eletrodo auxiliar) (Ce). Outra característica muito importante a ser ressaltada é que as titulações potenciométricas requerem um meio de se determinar quando a reação entre o analito e o reagente se completa (ponto final da titulação) [14-16]. Uma das formas de se determinar este ponto final da titulação é através do método fotométrico; detectando a mudança de coloração (região espectral do visível) que pode ser facilmente detectada por fotossensores ou até mesmo por um dispositivo eletrônico denominado LDR (do termo inglês “light dependent resistors”), como no caso deste trabalho. 43 (a) Bloco Fonte de Alimentação Bloco amplificador inversor de tensão Bloco Multímetro 10kΩ R1 Vcc -12V LF351N Galvanostato Vc U2 10kΩ R1 Vm 12V Bloco galvanostato 12V 5V Vcc 100kΩ Key=A 50% Vref Vc U1 + 1.580k + LF351N Galvanostato -12V Vref Ce 10Ω 1kΩ Rajuste 4.093m - Ge A DC 1e-009Ω - V DC 10MΩ 1Ω 10MΩ Key=C 50% RI (b) Figura 25 – (a) O circuito do (b) detector potenciométrico desenvolvido neste trabalho. 44 Ou seja, um detector potenciométrico irá fornecer a corrente controlada à célula de titulação até que o ponto final da titulação ocorra; quando o mesmo pode ser detectado e o circuito possa tomar a decisão de desligar o processo. Assim, se duplicado, este circuito pode ao mesmo tempo fornecer variações de potencial (Vm) correspondentes à queda ôhmica da solução [14] causada pela transferência de massa, podendo relacionar a concentração com a resposta de potencial e também detectar um valor de potencial correspondente à variação de coloração de uma amostra. Como o detector potenciométrico ainda está em fase inicial de projeto e desenvolvimento, foi provisoriamente confeccionado um simulador de ponto final (Figura 26) que consiste de três LEDs (vermelho, R; Verde, G; Azul, B) dispostos frente a um LDR, podendo ser selecionados por uma chave denominada “dip switch”. Os LEDs e o LDR foram acondicionados em uma pequena caixa preta (Figura 26-b) para eliminar efeitos de reflexão da luz. (a) (b) Figura 26 – (a) O circuito elétrico do simulador de ponto final de titulação (simbologia utilizada: R = vermelho, G = verde, B = azul) e (b) o simulador desenvolvido. 45 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES Neste capítulo são apresentados e discutidos os resultados da etapa de limpeza eletroquímica, assim como a caracterização dos microeletrodos, as respostas eletroquímicas dos analitos, a obtenção da curva analítica, a confecção dos microssensores de referência e os resultados de utilização da instrumentação eletroquímica desenvolvida neste trabalho. 4.1 Limpeza eletroquímica Através da Figura 27, pode-se notar, por exemplo, que na varredura anódica, entre os valores de potencial +0,2 e +0,3 V ocorre uma diminuição do valor da corrente de pico, evidenciando a remoção de eventuais impurezas que podem interferir na resposta do sensor e/ou microssensor. Aproximadamente no valor de potencial +1,35 V, ocorreu a oxidação do óxido de ouro e em aproximadamente +0,85 V, a redução do mesmo, completando o processo redox do ouro, mas sem danos à superfície do sensor e do microssensor. Figura 27 – Voltamogramas cíclicos registrados sequencialmente (solução aquosa de H 2 SO4 0,5 mol L−1 , v = 50 mV s −1 , microeletrodo de ouro Figura 9-b). 46 Logo, após este e todos os outros procedimentos anteriores de limpeza (física e química) propicia-se o aumento na área superficial eletroativa [13]. Como conseqüência, é possível notar, através do gráfico obtido após 50 ciclos de limpeza, onde foram sobrepostos apenas dois destes, que ocorre uma diminuição dos valores de corrente de pico anódica devido às impurezas e um aumento da corrente de pico catódica devido ao processo eletroquímico de redução do ouro; comprovando a eficiência da limpeza eletroquímica, associada aos demais procedimentos descritos anteriormente. Observa-se a necessidade da realização de uma caracterização morfológica da superfície através de microscópio eletrônico de varredura, microscópio de força atômica ou até mesmo microscópio eletroquímico para uma constatação mais precisa deste aumento de área superficial eletroativa; porém, não foi possível a realização de tais experimentos neste trabalho. 4.2 Caracterização dos microeletrodos Após o procedimento de limpeza do microeletrodo, descrito na seção 3.2, foi realizada uma voltametria cíclica em solução de hexacianoferrato de potássio ( K 3 Fe(CN )6 ) e através desta foi obtido o perfil sigmoidal, característico para microeletrodos (Figura 28) [7, 28, 29, 39]. Figura 28 – Voltamograma cíclico registrado em solução de K 3 Fe(CN ) 6 (v = 50 mV s −1 ). 47 Uma das utilidades de se obter a resposta eletroquímica dos microeletrodos de ouro em solução de hexacianoferrato de potássio é o cálculo do raio geométrico eletroativo do microeletrodo de ouro; e conseqüentemente, a obtenção do valor da área eletroativa. O valor do raio geométrico pode ser obtido a partir do valor da corrente no estado estacionário [7]. Neste caso, o valor obtido para o raio geométrico eletroativo deste microeletrodo foi de 20,5 µm; logo, o valor da área geométrica eletroativa de cada microeletrodo desta matriz de microeletrodos (Figura 9-b e 9-c) é aproximadamente 1,32 x 10−9 m 2 . 4.3 Resposta eletroquímica dos analitos alvos Estes experimentos foram realizados para verificar a habilidade da polianilina para eletrocatalisar a oxidação do sulfito e do ascorbato em solução com pH = 7,0, com base nas afirmações contidas na literatira [4], onde sugere-se a utilização de eletrodos modificados com polianilina para a análise de ascorbato, pH variando de 5,5 até 7,2. No intervalo de valores de pH descrito, a polianilina se apresenta em sua forma não dopada e não condutora; logo, eletrodos modificados com polianilina são conhecidos por catalisarem processos eletroquímicos redox de espécies orgânicas e inorgânicas, acarretando uma diminuição do potencial de oxidação da espécie de interesse devido à ação eletrocatalítica da polianilina; permitindo sua utilização em eletrodos modificados para detecção amperométrica dessas espécies [13]. 4.3.1 Respostas eletroquímicas do eletrodo modificado com PANI a diferentes concentrações de sulfito A resposta eletroquímica a diferentes concentrações de sulfito de sódio foi obtida através dos métodos voltamétrico e potenciométrico [14-16]. Porém, por limitações de tempo, o método potenciométrico foi utilizado apenas para a detecção usando eletrodos de ouro sem modificação de superfície; sendo necessária esta realização para os trabalhos futuros a serem desenvolvidos. 48 4.3.1.1 Resposta voltamétrica a diferentes concentrações de sulfito Para a resposta voltamétrica do eletrodo modificado com PANI a diferentes concentrações (32,2 mM; 47,6 mM; 62,5 mM; 76,9 mM) (Figura 29) foi previamente preparada uma solução estoque de sulfito de sódio de concentração 1,0 mol L−1 . Inicialmente foram separados três béqueres, adicionando-se um volume de 30 mL de tampão fosfato em cada béquer, para em seguida serem adicionados os volumes previamente calculados para o preparo das referidas concentrações. Destaca-se a importância do preparo das diferentes concentrações somente no momento das medições pelo fato do sulfito oxidar facilmente com o oxigênio do ar atmosférico, sendo recomendada a utilização de gás carreador N2 para que o oxigênio não interfira na análise. Figura 29 – Voltamograma cíclico de diferentes concentrações de sulfito de sódio em tampão fosfato pH 7,02. 49 A resposta eletroquímica a consecutivas adições de solução estoque de sulfito de sódio (concentração 1,0 mol L−1 ) foi obtida através da utilização de um equipamento potenciostato comercial e macrossensor da Figura 9-a. Através da Figura 29, nota-se que a partir do potencial +0,05 V, aproximadamente, ocorre resposta para adições de sulfito, porém, é no potencial +0,15 V, aproximadamente, que o sinal de corrente de difusão torna-se independente do potencial aplicado. Nota-se que os todos os pontos exprimem a variação linear das adições de sulfito. 4.3.1.2 Resposta potenciométrica a diferentes concentrações de sulfito A resposta eletroquímica a consecutivas adições de solução estoque de sulfito de sódio (concentração 0,1 mol L−1 ) obtida através da utilização do detector potenciométrico, do micropipetador automático DAM e do microssensor da Figura 10-b, é exibida na Figura 30. O perfil da resposta de potencial da Figura 30 está invertido em relação ao perfil normalmente esperado (Figura 31); principalmente por causa do modelo analítico deste circuito explicado pela Equação 21. Outro fator importante a ser considerado neste caso é que os valores do potencial Vm, para este modelo, sejam sempre em valor absoluto (ou seja, desconsidera-se o sinal); pois, os cabos do multímetro podem ser posicionados de maneira invertida pelo operador. Figura 30 – Leituras (Vm) obtidas pelo multímetro durante adições consecutivas de 15,3 µL de sulfito de sódio em água deionizada utilizando DAM (15 mL de tampão fosfato pH =7). 50 Figura 31 – Resposta eletroquímica esperada para o potencial ao longo do tempo quando obtido por técnica de corrente controlada [15]. (V + 5) − 2Vref Rc = Rajuste m 2Vref Vm − 5 = 1 KΩ 10 (21) O modelo analítico (Equação 21) para a queda ôhmica da solução (Rc) [14] da célula, a ser detectada pelo circuito detector potenciométrico foi desenvolvido com base no circuito da Figura 25-a e fundamenta-se na teoria de amplificadores operacionais [23]. A partir deste mesmo circuito, também é possível relacionar o valor do potencial Vm com os valores de potenciais Vc e Vcc , modelados pela Equação 22. Vm = 2Vc −Vcc (22) Onde Vcc é a tensão da fonte de alimentação do circuito. O circuito parte do princípio de que um galvanostato deve ser capaz de perceber as variações causadas pela alteração da queda ôhmica da solução ( Rc ) e responder por meio de um aumento ou redução do potencial aplicado à célula ( Vc ) até que a corrente seja restabelecida ao seu valor programado [15]. Esta variação de potencial, Vc , é introduzida na entrada não inversora do amplificador operacional U2 (Figura 25), que após subtrair o valor de tensão fixada pela fonte de alimentação ( Vcc ), através Equação 22, exibe o valor Vm (leitura obtida através do multímetro). Portanto, a partir da Equação 21, é possível gerar um novo gráfico para Rc vs tempo (Figura 32) com as leituras de Vm, em valor absoluto, e obter uma relação direta entre esta queda ôhmica da solução e o que normalmente se esperaria para a 51 resposta de potencial vs tempo (Figura 31). Isto é possível devido relação existente entre tensão, resistência e corrente (Lei de Ohm). Figura 32 – Resposta da queda ôhmica Rc modelada pela Equação 21 com base nas leituras obtidas para Vm para adições de sulfito. A partir da resposta modelada para a queda ôhmica da solução ( Rc ), tornase possível o isolamento do intervalo linear relacionado com o aumento da concentração do analito devido às adições consecutivas realizadas pelo micropipetador DAM, exibido através da Figura 33. A resposta obtida, análoga à resposta cronoamperométrica de patamares exibida na seção 2.1.1.1 deste trabalho, também permite a obtenção do valor de sensibilidade do microssensor da Figura 10-b, desenvolvido a partir de placa de fenolite. O valor encontrado para a sensibildade deste sensor foi de 0,978 KΩ. µmol L−1 , ou seja, cada 1 µmol L−1 de analito adicionado corresponderá a uma variação de 978Ω da resistência da solução. Esta relação de sensibilidade é muito importante para o desenvolvimento de novos projetos, inclusive porque resgata uma característica muitas vezes deixada de lado pelas técnicas de controle de potencial, devido, inclusive, ao fato das dificuldades do entendimento da resistência não compensada da solução [15]. 52 Figura 33 – (a) Patamares de resistência da solução devido ao aumento linear da concentração. Nota-se que o novo perfil da Figura 32 se assemelha a resposta esperada para técnicas de controle de corrente (Figura 31). O que se explica através deste perfil normalmente esperado, segundo BARD. A. J [15], o potencial do eletrodo irá, então, mudar rapidamente em direção a valores mais negativos até que um novo processo, segundo processo de redução, possa iniciar. O período após a aplicação da corrente constante quando esta transição de potencial ocorre é denominado tempo de transição, τ (Figura 31). Este tempo de transição está relacionado com a concentração e o coeficiente de difusão e é análogo a corrente de pico ou corrente limite nos experimentos de controle de potencial. O formato e a localização das curvas E-t são governados pela reversibilidade, ou taxa de heterogeneidade da reação eletródica [15]. 53 4.3.2 Resposta voltamétrica a diferentes concentrações de ácido ascórbico A resposta eletroquímica dos eletrodos modificados com PANI às diferentes concentrações de ácido ascórbico foi obtida através do método voltamétrico. Escolheu-se este método para que houvesse um parâmetro comparativo para a melhora na sensibilidade esperada pela modificação de superfície com polímero condutor PANI aplicado à detecção do ácido ascórbico. Para estes experimentos foram utilizadas duas soluções diferentes (fosfato e água deionizada). Os valores de pH foram: pH = 7,0 para fosfato e pH = 6,0 para água deionizada. Além disso, optou-se por utilizar diferentes concentrações de solução estoque: 400 mmol L−1 para a obtenção da Figura 34-a e 1,0 mol L−1 para Figura 34-b. Observa-se que estas diferenças não prejudicaram a obtenção das conclusões deste trabalho. Esta escolha foi devido ao anseio pelo conhecimento do comportamento do filme, pois se espera que a polianilina mude seu estado de oxidação e seu efeito catalítico, principalmente devido a variação de pH da solução; além de outros fatores [8, 40]. No caso do macroeletrodo, o procedimento foi semelhante ao realizado para sulfito de sódio, inicialmente separou-se três béqueres, adicionando-se um volume de 30 mL de tampão fosfato em cada béquer, para em seguida serem adicionados os volumes previamente calculados para o preparo das referidas concentrações. 54 (a) (b) Figura 34 – Resposta eletroquímica para diferentes concentrações de ácido ascórbico (a) macroeletrodo (b) microeletrodo ( v = 50 mV s −1 ). 55 4.4 Obtenção da curva analítica Para o levantamento da curva analítica é preciso o conhecimento do potencial no qual se deseja polarizar o eletrodo durante o experimento cronoamperométrico. Logo, deve-se realizar, primeiramente, um experimento de voltametria de pulso diferencial (DPV, do termo em inglês “Diferential Pulse Voltammetry”) [13] ou um experimento de voltametria cíclica de varredura linear [1416]. Por isso, é primordial que seja feito o planejamento do experimento, onde deverá ser escolhida a técnica, o potencial de trabalho, o tempo de duração do experimento e o intervalo de amostragem. Para o ácido ascórbico, o experimento DPV, realizado com o microeletrodo de ouro (Figura 9-b) sem e com a modificação da superfície, possibilitando o conhecimento de que o microssensor modificado com PANI apresenta resposta a partir de 0,15 V (Figura 35); comparando este potencial com o potencial de 0,22 V, obtido por ALMEIDA, F. L (Figura 1) [13], nota-se a melhora na seletividade do sensor devido a diminuição deste valor para um valor de potencial menos positivo, enfatizando a utilidade da modificação de superfície utilizando polianilina. Figura 35 – Voltamograma de pulso diferencial obtido (tampão fosfato ph = 7). 56 Contudo, por limitações de tempo para tal realização e para evitar erros, optou-se por realizar uma cronoamperometria em um potencial maior (0,425 V ), pois este é um valor que certamente apresentaria a resposta desejada do microssensor modificado; comprovando, mesmo assim, a viabilidade deste tipo de modificação na detecção do analito ácido ascórbico. Qualquer valor de potencial acima de 0,15 V, conforme comprova a Figura 35, apresenta resposta. Porém, somente a partir do potencial +0,65 V o sinal de corrente de difusão torna-se praticamente independente do potencial aplicado. Notase que o voltamograma de pulso diferencial não apresentou um comportamento totalmente linear em 0,65 V. Não foi utilizada amostra real, portanto, não existe a preocupação de interferentes que poderiam adicionar resposta ao sinal analítico e prejudicar as conclusões obtidas neste trabalho. Por isso, foi possível qualquer valor de potencial a partir do valor 0,15 V. A resposta cronoamperométrica (Figura 36) obtida para microeletrodo de ouro (Figura 9-b) sem a modificação da superfície foi realizada através da adaptação do sistema de controle de válvula para dosagem desenvolvido por IGARASHI, M. O e ALMEIDA, F. L. [13], o sistema foi configurado de maneira que realizasse dosagens de 10 µL a cada 120 segundos; sendo que, após cada adição, a célula eletroquímica era colocada sob agitação durante 30 segundos, para facilitar o processo de transferência de massa e em seguida desligada para evitar efeitos de convecção forçada (evitando assim eventuais ruídos). (a) (b) Figura 36 – (a) Resposta cronoamperométrica de microeletrodo de ouro (Figura 9-b) sem modificação de superfície em solução tampão fosfato e a (b) Curva analítica obtida para (E = 0,350 V, intervalo 0,01 s, tempo de duração 1600 s, branco em tampão fosfato ph = 7). 57 A resposta cronoamperométrica apresentou o perfil padrão de “escada” e um valor de sensibilidade 14,95µA M −1 , conforme a Equação 23. S= ∆I 3,97 − 0,62 = = 14,95 nA mM −1 ∆C 0,25 − 0,02 (23) Para o cálculo da sensibilidade da equação 23, foram considerados os valores médios das correntes de cada patamar da “escada”; onde os mesmos foram introduzidos na Tabela 2, que apresenta os valores de concentração e de corrente (ressalta-se que o valor da corrente do branco eletroquímico já foi descontado). Tabela 2 – Valores de concentração e corrente obtidos a partir da resposta cronoamperométrica (Figura 36-b) DESCRITIVO C [mM] I [nA] Após a 1ª adição 0,02 0,62 Após a 2ª adição 0,05 1,21 Após a 3ª adição 0,07 1,66 Após a 4ª adição 0,10 2,03 Após a 5ª adição 0,12 2,40 Após a 6ª adição 0,15 2,74 Após a 7ª adição 0,17 3,11 Após a 8ª adição 0,20 3,42 Após a 9ª adição 0,22 3,70 Após a 10ª adição 0,25 3,97 Já a curva analítica obtida para o mesmo microeletrodo (Figura 9-b) modificado com o polímero condutor PANI pode ser visualizada através da Figura 37. Neste caso, não foi utilizado o sistema descrito anteriormente, porém, foi testado o micropipetador automático DAM desenvolvido; características do sistema desenvolvido por [13]. que apresenta as mesmas 58 (b) (a) Figura 37 -(a) Resposta cronoamperométrica do microeletrodo de Au modificado com PANI e a (b) Curva analítica obtida (E = 0,425 V, intervalo 0,01 s, tempo de duração 1800 s, pH = 6,0). A Figura 37, diferente da Figura 36, não apresenta o perfil de escada porque neste experimento o sistema não foi colocado sob agitação temporária, foi ligado de maneira autônoma conforme descreve as Figuras 19 e 20 e, principalmente, porque foram cometidos erros durante o manuseio, quando ocorreu uma oxidação antecipada do filme porque o procedimento de dosagem foi iniciado antes do momento programado devido a um erro do operador, forçando-o a reiniciar a análise e trocar a solução de branco. Ou seja, apesar de retirar o microeletrodo (Figura 9-b) modificado com PANI e lavá-lo, este fato fez com que o filme já iniciasse a nova análise em estado de oxidação, aumentando muito a sensibilidade do microssensor. Este fato não prejudicou a interpretação dos resultados porque, o único interesse era avaliar a melhora na sensibilidade do sensor, inclusive o comportamento do filme de PANI; não sendo dado enfoque às demais características como limite de detecção, etc. Para a obtenção da resposta cronoamperométrica da Figura 37 foram realizadas 51 adições partindo-se de um branco eletroquímico realizado com 20 mL de água deionizada. Sabendo que cada dosagem do DAM corresponde a um volume previamente calculado de 15,3 µL (para este cálculo foi pesado um volume conhecido de água deionizada e dividido pela massa obtida a partir de uma balança analítica em temperatura ambiente de aproximadamente 25ºC) foi possível a obtenção do primeiro valor de concentração da curva analítica 59 Para o cálculo da sensibilidade da equação 24, foram considerados os valores médios das correntes do intervalo linear da curva (Figura 37-a); onde os mesmos foram introduzidos na Tabela 3, que apresenta os valores de concentração e de corrente (ressalta-se que o valor da corrente do branco eletroquímico já foi descontado). S= 9,1 − 4,72 ∆I = = 3,84 µA mM −1 = 3,84 mA mol L−1 ∆C 5,34 − 4,2 (24) O ganho de sensibilidade devido à modificação eletroquímica da superfície do microssensor de ouro foi de aproximadamente 257,23 vezes, passando de 14,95 µA mol L−1 para 3,84 mA mol L−1 (Equação 24). As evidências deste aumento são comprovadas pelos resultados de JUREVICIUTE, I. [40], que apresentou em seu trabalho a resposta cronoamperométrica (Figura 38) para adições de ácido ascórbico utilizando um filme de PANI de dimensão (1,4 cm x 4,5 cm). Tabela 3 – Valores de concentração e corrente obtidos a partir da resposta cronoamperométrica (Figura 37-b) DESCRITIVO Após a 1ª adição Após a 2ª adição Após a 3ª adição Após a 4ª adição Após a 5ª adição Após a 6ª adição Após a 7ª adição Após a 8ª adição Após a 9ª adição Após a 10ª adição Após a 11ª adição Após a 12ª adição Após a 13ª adição Após a 14ª adição Após a 15ª adição Após a 16ª adição Após a 17ª adição Após a 18ª adição Após a 19ª adição Após a 20ª adição C [mM] 0,38 0,77 1,15 1,53 1,91 2,29 2,68 3,06 3,44 3,82 4,20 4,58 4,96 5,34 5,72 6,10 6,47 6,85 7,23 7,61 I – Bco [uA] 0,01 0,06 0,13 0,32 1,00 0,98 1,05 1,43 2,10 3,20 4,72 6,33 7,80 9,10 10,20 11,03 11,74 12,29 12,69 12,91 Instante Leitura [s] 400 444 488 532 576 620 664 708 752 796 840 884 928 972 1016 1060 1104 1148 1192 1236 60 (b) (a) Figura 38 – (a) Resposta cronoamperométrica do eletrodo modificado com filme de PANI e a (b) Curva analítica obtida (E = 0,1 V, tempo de duração 180 s, pH = 6,4) [40]. S= 55 −15 ∆I = 133,33 mA mol L−1 = ∆C 0,4 − 0,1 (25) Para o cálculo da sensibilidade da equação 25, foram considerados os valores médios das correntes de cada patamar da “escada” da Figura 38; sendo os mesmos introduzidos na Tabela 4, que apresenta os valores de concentração e de corrente (ressalta-se que o valor da corrente do branco eletroquímico já foi descontado). Tabela 4 – Valores de concentração e corrente obtidos a partir da resposta cronoamperométrica (Figura 37-a). Concentração Corrente 4.5 [mM] [uA] 0,1 15 0,2 30 0,3 42 0,4 55 Confecção de pseudo-microeletrodos de referência O desenvolvimento de microeletrodos de referência integrados iniciou-se a partir do anseio de um processo de sensoriamento totalmente integrado e autônomo, incluindo microssensor e equipamentos. 61 Uma das principais motivações para a busca pelo desenvolvimento de microeletrodos de referências integrados a microssensores microfabricados foi o fato de que eletrodos de dimensões macrométricas não possibilitam a detecção em soluções altamente resistivas, sem eletrólito suporte e um pequeno volume de amostra, [7, 39, 41], características oferecidas pelos microeletrodos. A busca pela obtenção de microeletrodos de referência integrados aos microssensores desenvolvidos [13, 27] ganhou mais força após ter sido alcançado o desenvolvimento de um circuito galvanostato (ver seção 3.4.2) capaz de controlar correntes num intervalo de microampère a nanoampère, o que possibilita menores densidades de correntes, antes conseguidas apenas com equipamentos comerciais [29], cujo custo é relativamente alto; utilizadas no processo de eletrodeposição. Para as conexões micrométricas do microssensor com os contatos de dimensões macro dos equipamentos de análise foi necessária a soldagem de fios (“wire bonding”) interligando o microssensor ao suporte de fenolite. Após a soldagem dos contatos, foi utilizada fita isolante líquida para proteção contra eventuais danos (Figura 10-d). O desenvolvimento deste microeletrodos pode permitir melhoras no projeto e desenvolvimento de microssensores amperométricos que possam ser aplicado não somente em análises alimentícias, mas também clínicas e até mesmo ambientais; portanto, foi escolhido o microssensor (Figura 10-a) para estes experimentos. 4.5.1 A limpeza dos microeletrodos Antes da utilização do microssensor, cedido por Fontes, M. B. A [13], é necessário ativar a superfície através dos procedimentos de limpeza descritos anteriormente; o que resulta numa superfície homogênea e brilhante (Figura 39). Figura 39 – Superfície de ouro do microssensor após o processo de limpeza (zoom óptico de 10 x) [32]. 62 Observa-se, que nestes experimentos, foi utilizado apenas o microeletrodo maior (em forma de “C”) devido a facilitar a identificação visual das fotos obtidas por micrsocópio óptico, os demais eletrodos desta geometria não foram avaliados neste trabalho. 4.5.2 Deposição de prata Para a deposição de prata, foi considerado o valor de área geométrica do microeletrodo, A = 7,11 mm2 conforme a tese de FONTES, M. B. A [29] e Foi utilizada a densidade de corrente, J = 1 mA cm-2. Portanto, a corrente a ser controlada pelo equipamento galvanostato é: i = J x Ag = 1mA cm −2 x 7,11mm 2 = 711nA (26) A deposição de prata, realizada com corrente catódica calculada de 711 nA foi realizada purgando N 2 durante 5 minutos e sob agitação com velocidade 450 rpm (observa-se que o gás nitrogênio era purgado ao mesmo tempo que a solução estava sob agitação). Para a eletrodeposição de prata foi preparada uma solução para deposição que consistia da seguinte mistura: AgNO3 150 µmol L−1 em Na2 SO3 0,5 mol L−1 ; 20 µL de Na2 EDTA. 2 H 2O 30 g L−1 [13,32]. 4.5.3 Eletrodeposição de cloreto de prata Na seqüência, a fonte de corrente foi reconfigurada para propiciar uma densidade de corrente anódica de 0,4 mA cm −2 , ou seja, uma corrente anódica de valor 284,4 nA calculada pela equação 26. Porém, agora com duração de 30 minutos a fim de oxidar a prata e permitir a adsorção do cloreto sobre o filme de prata na superfície do eletrodo. Para a eletrodeposição de cloreto foi utilizada uma solução de HCl de concentração 0,1 mol L−1 . 63 Obteve-se, portanto, um filme de prata/cloreto de prata conforme a Figura 40. Figura 40 – Filme de Ag/AgCl eletrodepositado sobre a superfície de prata para a fabricação do eletrodo de referência (zoom óptico de 10x). Esta deposição é muito importante para se obter um eletrodo de referência com boa reversibilidade e, conseqüentemente, garantir um potencial de referência estável. Segundo Hiroaki Suzuki, a estabilidade está relacionada com a adesão do cloreto de prata eletrodepositado [13, 42-43]. 4.5.4 A reversibilidade do filme A fim de buscar a estabilidade do potencial de referência, o filme, recém depositado, foi armazenado umedecido durante 1 dia e posteriormente condicionado em soro fisiológico durante 3 dias. Este procedimento possibilitou alcançar a estabilidade do eletrodo de referência que é muito importante uma vez que é desejável que se promova um potencial de referência bem definido. Hiroaki Suzuki [42-43] propôs uma relação entre a estabilidade do potencial do eletrodo de referência Ag/AgCl com a dissolução do filme AgCl. Após a estabilização do eletrodo de referência, que foi realizada entre o eletrodo de referência confeccionado e um eletrodo de referência comercial [13]. Foram realizados 6 ciclos caracterização da reversibilidade consecutivos (Figura 41) [32] para a com a janela de potencial –0,5V a +0,5 V vs Ag/AgCl sob velocidade de varredura 100 mV s −1 em soro fisiológico (NaCl 0,9 %). Espera-se uma resposta redox da corrente no mesmo potencial, portanto produzindo uma relação de linearidade [12]. 64 Figura 41 – Teste de reversibilidade do filme de Ag/AgCl depositado. Considera-se que um eletrodo de referência apresenta boas características quando o potencial redox aplicado é o mesmo para corrente de oxidação e de redução, ou seja, existe uma mínima histerese [32]. Qualquer variação na corrente indica alteração no potencial de referência e uma instabilidade. O gráfico da Figura 35 exibe a resposta da corrente vs potencial com uma mínima histerese que indica uma mínima irreversibilidade. Portanto, o pseudo-microeletrodo de referência obtido neste trabalho está de acordo com as características esperadas [13, 32]. Além do desempenho, homogeneidade, adesão e estabilidade do filme de Ag/AgCl obtido, enfatiza-se o baixo custo e a facilidade de implementação do circuito galvanostático. O circuito pode ser utilizado para eletrodeposição de diferentes materiais, incluindo polímeros condutores aplicados a modificação de eletrodos e microeletrodos de trabalho. A eletrodeposição realizada com este equipamento permite o controle da espessura do filme, estudos de estabilidade e, ainda, uma relação entre homogeneidade e aderência do filme. O método galvanostático também tende a resultar na formação de uma camada de filme polimérico mais poroso que pode ser importante no controle do transporte do analito e potencial de interferentes para a superfície de detecção. Isto pode ser vantajoso no controle da seletividade. O próximo passo é a colocação de uma membrana de Nafion® 117 no microssensor implementado; que será usada para confinar a quantidade de cloreto no filme de Ag/AgCl, evitando a corrosão e melhorando a estabilidade, maximizando, inclusive, a vida útil do microeletrodo de referência. Testes de caracterização da 65 reversibilidade, variação do potencial do microeletrodo de referência com cloreto e com o tempo também serão realizados no microssensor implementado. A membrana Nafion foi implementada e reportada com sucesso em [31] através da associação da técnica de deposição galvânica de filme de Ag/AgCl sobre filmes de ouro previamente eletrodepositados sobre eletrodos de platina (macroeletrodos) através da técnica utilizando banho de formaldeído [26]. Os resultados (Figura 42 e 43) do trabalho citado foram obtidos após a formação de filmes de Ag/AgCl eletrodepositados com densidade de corrente 0,4 mA cm −2 durante 1 hora de experimento [31]. Figura 42 – Eletropolimerização de cloreto de prata sobre (a) prata rugora e (b) prata menos rugosa. A membrana de Nafion® 117 utilizada sobre o filme de cloreto de prata permitiu a proteção contra corrosão e maximizar a estabilidade do potencial. Figura 43 – Superfície do eletrodo recoberta com Nafion® 117: a) AgCl rugoso e b) AgCl menos rugoso, c) e d) potenciais de referencia respectivos aos eletrodos a) e b). 66 5 CONCLUSÕES Existe uma melhora significativa no valor da sensibilidade constatada tanto para macrossensor quanto para microssensor ao se modificar a superfície de ouro com polímero condutor polianilina. Além disso, constata-se que a reposta do sensor para sulfito de sódio foi comprovada a partir de 0,05 V, enquanto que para o ácido ascórbico a partir de 0,15 V. Isto, além de ter sido uma melhora significativa de seletividade para o sensor comparado a outros trabalhos já publicados. Apresenta também uma possibilidade de seletividade na detecção simultânea destes dois analitos, porém, recomenda-se, a realização de mais testes para comprovar a potencialidade deste fato. Com relação à instrumentação eletroquímica desenvolvida, ressalta-se que é possível, com um baixo custo de implementação (comparado ao elevado custo da instrumentação comercial disponível), desenvolver de maneira autônoma a instrumentação necessária à realização de procedimentos experimentais de microssensores eletroquímicos; sendo uma alternativa viável a pesquisadores que não possuem financiamento para a aquisição de tal instrumentação. Destaca-se a importância de se desenvolver circuitos eletrônicos a fim de se automatizar o processo de sensoriamento, o que permitirá, além das melhorias no projeto e desenvolvimento, assim como a redução de custos; a eliminação de falhas causadas pelo operador. Muitos polímeros orgânicos têm uma ótima estabilidade química; por conseguinte, a degradação do filme não é geralmente um problema. Os polímeros podem ser preparados de infinitas formas, logo, a facilidade de preparação das soluções, baixo custo e praticidade dos procedimentos são características motivadoras para a sua utilização. 67 6 PERSPECTIVAS FUTURAS O casamento da tecnologia de microfabricação com a modificação de superfície para se obter um atrativo em análises clínicas com a integração (do eletrodo de trabalho, auxiliar e referência num só sensor) em microssistemas extracorpóreos fluídicos pode ser uma alternativa vantajosa, devido ao pequeno volume de amostra necessário, a melhora significativa na sensibilidade e seletividade do sensor, inclusive as possibilidade de melhora na reprodutividade e repetibilidade, fatores essenciais às análises clínicas. Com relação ao projeto e desenvolvimento do microssensor, ressalta-se a importância da adequação à nova geometria desenvolvida através de placas de fenolite e testada neste trabalho para que se adéqüe a permita a microfabricação almejada e muito útil a processos de análise, inclusive análises alimentícias, clínicas e ambientais. Quanto ao galvanostato, micropipetador automático e detector coulométrico desenvolvido, é importante que mais testes e melhorias no circuito sejam feitas a fim de buscar uma eficiência de 100%, ou pelo menos, o mais próximo deste valor. Além disso, é importante que seja feita a integração de toda a instrumentação para que seja alcançada a automatização de todo o processo de sensoriamento, incluindo microssensor(es), micropipetador, detector e sistema de aquisição de dados a ser desenvolvido. A realização de experimentos utilizando o detector potenciométrico e eletrodos/microeletrodos modificados com polianilina, dando continuidade aos experimentos já realizados é outra perspectiva muito importante deste trabalho. O projeto e o desenvolvimento de novos microdispositivos sensores que podem ser beneficiados com o conteúdo do presente trabalho, através do qual obtem-se informações pertinentes à geometria testada, aos fatores relevantes á modificação por polímeros condutores como PANI (por exemplo, pH) e também o comportamento da queda ôhmica da solução, característica muitas vezes desprezada. 68 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1]BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Decreto n.º 55.871, de 26 DE MARÇO DE 1965. Disponível em http://e-legis.bvs.br/leisref/public/home.php. Acesso em 11/MAR/2009. [2] BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. 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Disponível em www.takasago-elec.co.jp/cgi-bin/en/pdf_dv_e/fv2-mff.gb-e.pdf, Acesso em 01 de Janeiro de 2009. 73 APÊNDICE A - O branco eletroquímico Termo genérico que apresenta algumas denominações bastante conhecidas pelos eletroquímicos: sinal branco, do termo em inglês “blank signal” [11] ou corrente de fundo, do termo em inglês “background current”. É a corrente devido à formação de óxidos de superfície ou camada de hidrogênio adsorvida podendo mudar piamente a cinética da reação eletródica, principalmente para dados irreprodutíveis [9]. O branco eletroquímico geralmente é obtido no início de qualquer experimento analítico, onde geralmente é realizado o procedimento com o método eletroquímico a ser utilizado na ausência do analito. Após o término da obtenção da curva analítica, por exemplo, a curva da corrente de fundo deve ser subtraída da curva analítica para que os dados correspondam exclusivamente à variação do analito. B - A dupla camada elétrica Alguns autores como [12] definem que quando uma fonte externa de energia elétrica faz com que elétrons entrem ou saiam de um eletrodo, a superfície carregada do eletrodo passa a atrair íons de cargas opostas; este eletrodo carregado e os íons com cargas opostas a ele constituem a dupla camada elétrica (DCE). Mas talvez a melhor forma de defini-la seria como: o arranjo total de espécies carregadas e dipolos orientados que existe entre a interface eletrodo/solução [14-16]. Esta segunda definição aprofunda-se nos conceitos da eletroquímica; que consiste na mistura de ambas, energia química e energia elétrica. Existem basicamente dois tipos de reações que podem ocorrer numa célula eletroquímica: a espontânea (também conhecida como pilha), onde a energia química é convertida em elétrica e a forçada (também conhecida como eletrólise), onde a energia elétrica induz uma reação química. Ao se analisar uma pilha, onde existem dois eletrodos diferentes não só em relação ao material, mas principalmente quanto a sua energia de ativação; pode-se afirmar que o eletrodo cujo material apresenta elétrons com maior energia doará 74 estes elétrons para o de menor energia. Esta doação espontânea é o suficiente para se enquadrar na primeira definição dada por [12]. Ou seja, antes de qualquer explicação mais detalhada em relação à dupla camada elétrica e os modelos existentes (Modelo de Stern, Gohn e Bockris, Modelo de Helmotz e Modelo de Gouy-Chapman [9, 12, 14-15]), é necessário o entendimento de que mesmo antes do início da aplicação de qualquer técnica eletroquímica, o simples fato de se introduzir dois eletrodos numa solução eletrolítica propiciará o início uma reação espontânea suficiente para propiciar o carregamento da dupla camada elétrica; porém, ao iniciar-se um fluxo de elétrons forçado por uma fonte externa, o modelo anterior muda, e passa a sofrer uma influência adicional do potencial elétrico. Desprezando-se as semelhanças e diferenças existentes entre os modelos da DCE, pode-se fazer uma analogia com a explicação dada pelos fundamentos teóricos da eletricidade. Através do qual há o entendimento que o capacitor eletrolítico, um elemento composto de duas placas paralelas entre si (“os eletrodos”) apresenta entre as duas placas um dielétrico (“solução”) que atua como uma barreira ao fluxo destes elétrons. Porém, um capacitor eletrolítico convencional) é muito mais simples que o capacitor encontrado nos modelos para a DCE. A complicação destes modelos deve-se ao fato de que a célula eletroquímica está sofrendo diversas influências (da temperatura, pressão, área eletroativa do eletrodo, etc.), o que acarreta uma alteração do dielétrico; isto apenas considerando eletrodos e solução. O modelo passa a um grau de complexidade muito maior quando são introduzidas variáveis como: filme de polímero condutor intrínseco adsorvido na superfície do eletrodo; pois este também apresenta elétrons com um nível de energia diferente e suficiente para introduzir ao sistema uma reação redução – oxidação (redox), claro que sob a influência do pH da solução. Observa-se ainda que em uma reação eletroquímica, o que determinará o positivo (+) e o negativo (-) é o fluxo de elétrons; ou seja, o que determina a polaridade do eletrodo é a espontaneidade da reação. Ainda dentro do contexto único eletrodo e solução, é necessário o conceito de que o potencial onde há o equilíbrio entre as cargas do eletrodo e as cargas da solução (eletroneutralidade) é conhecido como potencial de carga zero. Logo, este potencial irá determinar se a espécie adsorverá ou desorverá na superfície de um eletrodo. 75 ANEXOS I - Reagentes, materiais e instrumentação de laboratório O primeiro passo, primordial para o desenvolvimento de qualquer experimento, durante as etapas de pesquisa, é a organização. No início deste trabalho, por falta de experiência com pesquisas experimentais, esta organização não foi realizada; o que causou atrasos e esquecimento de materiais de apoio, inclusive sensores. Figura 44 – Organização dos materiais de apoio e do sensores e microssensores. A seguir, é apresentada uma sugestão de materiais e organização das maletas. Maleta 01: Material de apoio • Lixas d’água de várias numerações (180, 380, 600, 1200, 2000 e 2500) cortadas em pequenos pedaços de forma a facilitar armazenagem, manuseio e também o processo de lixamento; • Guardar, em um pequeno recipiente, um pouco de alumina coloidal (sugere-se granulometria 0,05 µm, além de outras); 76 • Pincéis escolares e/ou bastonetes de higiene pessoal para a limpeza física com alumina coloidal; • Caneta de escrever em CD para a escrita em recipientes de vidro e identificação dos reagentes e soluções a serem utilizadas; • Fita isolante, fita teflon e durex para adaptações técnicas necessárias durante a montagem dos experimentos; inclusive para prender fios de forma a não atrapalhar o acesso do usuário. • Etiquetas pequenas para facilitar a identificação dos sensores e microssensores utilizados; Maleta 02: Sensores Pode organizar a(s) maleta(s) de sensor(es) conforme desejar; porém, recomenda-se a identificação através de números de cada sensor utilizado. Neste trabalho, os números foram atribuídos individualmente para cada sensor e microssensor, e as análises referentes aos respectivos sensores, armazenadas em pastas de trabalho no sistema operacional do computador denominadas com estes números; isto facilita a identificação e coleta futura de dados armazenados. Maleta 03: Fios, Cabos plugs e conectores Pode manter uma maleta, ou até mesmo um estojo escolar com os cabos, plugs e conectores a serem utilizados para interfacear os sensores e microssensores com os equipamentos de análise. A lista de reagentes e materiais de laboratório foi preparada com base nos experimentos de [27-37]. Os reagentes necessários são: • ácido sulfúrico 0,5 mol L−1 ; • ácido nítrico 0,5 mol L−1 ; • álcool isopropílico. 77 • álcool etílico; • água deionizada; • peróxido de hidrogênio (“água oxigenada”); • tampão fosfato pH =7; • anilina grau analítico (também denominada grau P.A.); • Solução preparada de hexacianoferrato de potássio (K3Fe(CN)6) • Sulfito de sódio anidro P.A.; • Ácido ascórbico P. A.; Os materiais de laboratórios necessários são: • 1 béquer de 500 mL para descarte; • 1 béquer de 80 mL para preparo de solução de anilina 0,1 mol L−1 diluída em H 2 SO4 ; • 1 sensor de referência (Ag/AgCl ou outro disponível; porém, será necessário adaptar-se à nova janela de potencial imposta pela mudança do eletrodo de referência); • Gás Nitrogênio ou argônio para purga; • 2 Células eletroquímicas adaptas aos sensores e microssensores ou: • 3 béqueres de 50 mL (um para etapa de limpeza eletroquímica e consolidação da PANI em H 2 SO4 , outro para a realização de branco em tampão fosfato e outro para branco em água deionizada; A instrumentação eletrônica (disponível no laboratório de eletroquímica) utilizada nos procedimentos experimentais é destacada a seguir: • 1 potenciostato comercial; • 1 multímetro para testar conexões dos cabos com sensores e instrumentação; • 1 banho ultrasom para preparo da solução de anilina; • 1 agitador magnético para experimentos de diluição; 78 Além da instrumentação comercial, foi utilizada a intrumentação desenvolvida neste trabalho: • Micropipetador automático (DAM); • Galvanostato para modificação de superfície de eletrodo; • Detector coulométrico (ainda em projeto e desenvolvimento); 79 II – Especificações técnicas de alguns componentes Tabela 5 – Especificações técnicas de alguns componentes selecionados com base no “Datasheet” do fabricante. ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS Impedância entre as entradas (“Differential input impedance”) [Ω] “Input bias current” [A] Variação de tensão com temperatura o “Drift with temperature” [uV/ C] DESCRIÇÃO DOS COMPONENTES LM741 LF351N MCP6042 AD549L 2 x 106 1012 1013 1015 80x10-9 20 x 10-12 1 x 10-12 40 x 10-15 ±15 ±2 ±2 ±2 80 III – Guia de preparo da solução de Polianilina OBJETIVO: Preparar Solução de Anilina 0.1 molL-1 em H2SO4aq 0,5 molL-1 Reagentes Químicos: Anilina Pura; 250 mL de solução aquosa de ácido sulfúrico (H2SO4aq) 0,5 molL-1 1 Pisseta contendo água ultra-pura (MILLI-Q) Materiais: Célula eletroquímica (ou béquer na falta de célula eletroquímica) → OBS: LIMPOS Eletrodo de trabalho (micro ou macro eletrodos de ouro) Contra eletrodo (Eletrodo auxiliar) – Pode ser platina ou ouro Eletrodo de referência: - Calomelano Saturado (ECS) ou - Prata/Cloreto de Prata ou - Hidrogênio (ERH) Balão Volumétrico (fundo chato) de 50 mL Gases: Nitrogênio gasoso (N2) (Será utilizado para remoção de O2 da solução aquosa contendo anilina) Outros Materiais: Papel macio ou papel toalha Dois béqueres LIMPOS! - 50 ou 100 mL Pipeta graduada de 1 mL - 200 mL 81 PROCEDIMENTO Preparar solução de anilina 0,1 molL-1 Massa molar da anilina = 93,126 g mol-1 6C = 6 x 12,012 g mol-1 7H = 7x 1,0079 g mol-1 1N = 14,0067 g mol-1 ____________________ g mol-1 93,126 Volume da solução de anilina = VS = 50 mL = 0,050 L M= n m = Vs MolxVs Onde: m = massa de anilina VS = 50mL = 0,050 L M = 0,1M = 0,1 Mol.L-1 = Concentração Molar Logo: m = MxMolxVs Densidade da anilina = d = m Vanilina g g = = 3 mL cm Como anilina é um líquido, logo, devemos medir seu volume! Vanilina = MolxVs xM d anilina Como densidade de anilina (~20ºC) = 1,0217 g.cm-3 = g.mL-1 Vanilina 93,126( g.mol −1 ) x0, 05( L) x0,1(mol.L−1 ) = 1, 0217( g.mL−1 ) Vanilina = 0, 46mL = volume de anilina que deverá ser dissolvida em 50 mL de uma solução aquosa de H2SO4 0,5 molL-1 Concentração final da anilina = 0,1 mol.L-1 82 RESUMO • Eletrodo de trabalho (micro ou macro-eletrodos de ouro) • 1 Célula eletroquímica (LIMPA) • 1 Eletrodo de Referência (ECS ou Ag/AgCl ou ERH) • 1 Contra eletrodo (PT ou Au) • 1 Béquer de 100mL ou 50 mL (LIMPO) • 1 Béquer de 200mL (LIMPO) • 1 Pipeta graduada de 1mL • 1 balão volumétrico de fundo chato de 50 mL (LIMPO) • 1 pisseta contendo água ultra-pura) (tipo Milli-Q) • Papel toalha ou papel higiênico do tipo “NEVE” • Nitrogênio gasoso (N2) Reagentes: • 250 mL de H2SO4aq 0,5 molL-1 Preparada utilizando água ultra-pura do tipo Milli-Q) • Anilina pura 83 IV- Aferições do intervalo de dosagem do DAM Para o teste de temporização do DAM, foram realizadas diversas aferições com a utilização de um simples cronômetro de relógio, através do qual o operador, ao escutar o chaveamento do relè do equipamento, tomava nota do valor exibido em seu cronômetro e também verificava se cada dosagem correspondia a uma gota. Os instantes foram introduzidos na Tabela 5 e então, através da subtração realizada a cada dois intervalos subseqüentes, foi possível a aferição dos 39 intervalos de dosagem correspondente ao período de 30 minutos e 7 segundos que o equipamento DAM ficou em funcionamento. Gerou-se um gráfico de dispersão (Figura 44), através do qual foi possível a percepção visual de que 5 dos 39 instantes aferidos estão fora do valor esperado (intervalo = 44 segundos [Tabela 5] (ver anexo)), o que corresponde a um erro de aproximadamente 12 %. Figura 44 – Gráfico de dispersão correspondente ao intervalo de dosagem do DAM Ao se considerar o fato que o valor 44 segundos já foi obtido após a estimativa de erro 5%, correspondente aos valores comerciais dos componentes eletrônicos, é necessário acrescentar o erro de leitura do operador que aferiu o sistema e também o erro do cronômetro utilizado; observa-se que foram desprezados os possíveis erros de variação de temperatura (do termo inglês “temperature drift”) dos componentes eletrônicos; pode-se constatar que o desempenho do equipamento é muito bom e recomendado para utilização com o método cronoamperometria, principamente quando o interesse for obtenção da 84 curva analítica, pois a soma de todos estes erros condiz com o valor de erro encontrado. Tabela 5 – Aferição dos intervalos de dosagem do DAM Intervalo Instante Dosagem ESPERADO MENSURADO ÍNDICE [mm:ss] [mm:ss] [mm:ss] 01:10 01:55 00:45 00:44 1 02:40 00:45 00:44 2 03:24 00:44 00:44 3 04:05 00:41 00:44 4 04:50 00:45 00:44 5 05:35 00:45 00:44 6 06:20 00:45 00:44 7 07:05 00:45 00:44 8 07:52 00:47 00:44 9 08:37 00:45 00:44 10 09:23 00:46 00:44 11 10:00 00:37 00:44 12 10:45 00:45 00:44 13 11:30 00:45 00:44 14 12:15 00:45 00:44 15 13:00 00:45 00:44 16 13:45 00:45 00:44 17 14:30 00:45 00:44 18 15:15 00:45 00:44 19 16:00 00:45 00:44 20 16:43 00:43 00:44 21 17:28 00:45 00:44 22 18:13 00:45 00:44 23 18:57 00:44 00:44 24 19:42 00:45 00:44 25 20:26 00:44 00:44 26 21:10 00:44 00:44 27 21:57 00:47 00:44 28 22:42 00:45 00:44 29 23:25 00:43 00:44 30 24:09 00:44 00:44 31 24:53 00:44 00:44 32 25:38 00:45 00:44 33 26:23 00:45 00:44 34 27:08 00:45 00:44 35 27:53 00:45 00:44 36 28:37 00:44 00:44 37 29:22 00:45 00:44 38 30:07 00:45 00:44 39 85 V - Válvula solenóide – especificações técnicas 86 VI – Artigo XVII SIBEE 2009 87 88 89 VII – Artigos 32ª RASBQ 2009 90 91 VIII – Artigo ACS / SBMICRO 2009 92 IX – Artigo IEEE circuits and systems for medical and environmental applications workshop 2009