Alfredo Stange
João Batista Silva Araújo
IMPORTÂNCIA E IMPACTO DA AGRICULTURA ORGÂNICA NO TURISMO
Vitória
2005

Engenheiro Agrônomo, gerente de agricultura orgânica da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aqüicultura
e Pesca (Seag).

Engenheiro Agrônomo, Mestrado em Fitotecnia, pesquisador e coordenador de agricultura orgânica do Incaper.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................. 3
2 AGRICULTURA INSUSTENTÁVEL, PRODUÇÃO INSUSTENTÁVEL .............................. 5
3 AGRICULTURA ORGÂNICA – RELEMBRAR PARA ENTENDER ....................................... 7
3.1 PRODUTOS ORGÂNICOS E PERSPECTIVAS ................................................................................. 8
3.2 TURISMO NO ESPAÇO RURAL ............................................................................................................ 10
3.3 TURISMO RURAL ...................................................................................................................................... 12
4 AGRICULTURA ORGÂNICA E TURISMO RURAL ...................................................................... 16
5 AGRICULTURA ORGÂNICA E IMPACTOS .................................................................................... 19
6 AGRICULTURA ORGÂNICA E ESTRATÉGIAS............................................................................. 22
7 AGRICULTURA ORGÂNICA E FAMILIAR DO ESPÍRITO SANTO ..................................... 25
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................................... 30
9 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................ 33
ANEXOS ............................................................................................................................................................. 35
2
1 INTRODUÇÃO
É bem visível a importância da reciprocidade entre o turismo e a agricultura orgânica, garantindo o
sucesso das propriedades em que ambos se integram. A agricultura orgânica é um atrativo que “chama”
o turista. O turismo valoriza a propriedade cujo sistema de produção orgânica seja o gerador da renda
da família rural ou que o tenha como a melhor referência para despertar o interesse de outros
agricultores, de consumidores e de pesquisadores.
Existem poucos estudos sobre os impactos da agricultura orgânica no turismo. Conhecendo-se os
princípios da produção orgânica, percebe-se como algo óbvio a amplitude de fatores positivos que essa
atividade proporciona. Não desperta, portanto, maiores interesses da pesquisa. Pequenos textos
elaborados enumeram, no entanto, os aspectos, as características e o potencial dessa atividade.
A agricultura orgânica é um potencial a ser lapidado e formatado para servir ao turismo como
ferramenta de apoio, a fim de melhorar a qualidade da propriedade. Mas há que se ter cuidado e
caracterizar bem essa atividade. Ela possui diversas exigências e vários princípios que, se não forem
bem entendidos e observados, podem gerar efeito inverso à atração pretendida.
Em todas as atividades humanas, o fazer de forma ecológica é um questionamento atual e está inserido,
desde a elaboração até a gestão do projeto, em todas as suas interfaces socioeconômicas, culturais e
físico-ambientais. Sob essa ótica, a sustentabilidade do processo produtivo não passa somente pelo
balanço positivo no caixa da empresa. É preciso considerar o aspecto ecológico em que consistem o
uso e a preservação dos recursos naturais.
Se, inicialmente, a preocupação com o meio ambiente era associada ao local, atualmente isso evoluiu
para uma percepção global, entendendo-se que o planeta é dependente da ação conjunta de todos. Tal
3
consciência passa, na gestão ambiental, de uma postura reativa do “poluidor pagador” para uma "próativa" em que as soluções para as questões ambientais tornam-se parte do projeto empresarial,
antevendo problemas e soluções (ALMEIDA et al., 2004).
A emissão de gases de forma descontrolada para a atmosfera, causando desequilíbrios como o efeito
estufa, o superaquecimento, a redução da camada de ozônio, o aumento da passagem de raios solares
causadores de câncer de pele (PEARCE, 2002), a contaminação dos recursos naturais por agrotóxicos e
efluentes de esgotos e resíduos industriais, o aumento da população terrestre e da pressão sobre os
recursos naturais (DIAS, 2004), geram problemas que, mesmo colocados de forma abrangente, vêm à
tona nos debates em qualquer setor, porque colocam em risco a sobrevivência humana, os
ecossistemas, as espécies em extinção etc.
Os problemas ambientais de poluição que foram gerados pela sociedade moderna e associados ao
esgotamento progressivo dos recursos naturais puseram o homem contemporâneo na busca de
modelos alternativos menos poluidores e mais preservadores do meio ambiente. A agricultura orgânica
é um desses modelos.
Nessa evolução, as empresas passaram a evocar a conformidade do meio ambiente, de acordo com
códigos de lideranças setoriais de processos voluntários de certificação ambiental existentes
(ALMEIDA et al., 2004). Um ramo importante dentro do turismo é a hotelaria que, seguindo a
tendência atual, tem sido compelida a promover adequações, visando à sustentabilidade do
empreendimento hoteleiro, a fim de atender aos requisitos para certificação e implantação desse
Sistema de Gestão Ambiental (GONÇALVES, 2004). Na agricultura orgânica, esses processos tiveram
início a partir das normas da IFOAM e evoluíram para normas continentais da União Européia e
normas nacionais em diversos países, inclusive no Brasil (SCIALABBA; HATTAM, 2002).
4
2 AGRICULTURA INSUSTENTÁVEL, PRODUÇÃO INSUSTENTÁVEL
Para entender bem a importância que possui a agricultura orgânica, é necessário discorrer sobre os
métodos de produção convencional e/ou agroquímico.
Importa lembrar que nos anos 50 tínhamos 2/3 da população vivendo no campo, mas, hoje, a situação
se inverteu. Isso significa menos gente produzindo para um contingente enorme se alimentar.
Nas cidades, a demanda crescente de moradia, de emprego, de locomoção, de alimentação, trouxe
também ocupação desordenada dos espaços, desmatamentos, impermeabilização do solo, enchentes,
poluição do ar, muito lixo, contaminação dos rios com esgoto e outros. No meio rural, o reflexo dessas
ações foi diretamente proporcional às atitudes urbanas: necessidade de se produzir mais, abertura de
novas áreas agrícolas, desmatamento, queimadas, ocupação do solo em áreas impróprias para
agropecuária, erosão, assoreamento dos cursos d’água etc. A tecnologia deu a sua contribuição,
trazendo os adubos químicos sintéticos, os agrotóxicos, o uso de grandes máquinas – que também
acabou criando sérios problemas ambientais como degradação dos solos, poluição dos rios e
dependência de insumos externos (sementes, adubos, tecnologia) que produzem alimentos caros, de
duvidoso valor nutritivo e, alguns, até com alto índice de riscos à saúde. Apesar do aumento de
produção e da produtividade, esse modelo de agricultura tem-se mostrado insustentável.
A intensidade com que a degradação do meio natural tem atingido os seres humanos, introduz a
discussão sobre a necessidade de um novo modelo de desenvolvimento. Isso se verifica na produção
agrícola e industrial, no planejamento da infra-estrutura de transportes e de energia, no abastecimento
de água, no saneamento ou na organização das cidades. A escassez, a poluição e a miséria indicam a
urgência de mudanças. Proibição, multas ou previsão de custos adicionais para reparar danos têm-se
mostrado insuficientes na resolução dos problemas ambientais. A ênfase no controle, na proibição e na
punição deve deslocar-se para a construção conjunta do desenvolvimento sustentável. Ou seja, deve-se
incorporar a variável ambiental na estratégia das políticas públicas para o desenvolvimento do País. Isso
5
resultará em melhor qualidade de vida para a população e na manutenção dessas condições a longo
prazo (CONFERÊNCIA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE, 2003).
Os inúmeros problemas ambientais e sociais criados a partir da agricultura moderna, permitem concluir,
segundo Scott (2003), que, se fosse inventada hoje, essa agricultura seria proibida em função do seu alto
impacto ambiental decorrente do uso massivo de agrotóxicos, adubos sintéticos, manejo inadequado do
solo e da água. É preciso lembrar que tudo isso permite concluir que a conversão de ecossistemas
naturais em áreas produtivas gera perdas muito grandes. E mais: os ganhos, ao longo do tempo, têm-se
mostrado insustentáveis. Alguns cientistas e estudiosos já começam a pensar que está na hora de
substituir a revolução verde do século XX pela revolução azul (produção que brota das águas), o que
deverá marcar o século XXI com a esperança global de solução para a fome e a subnutrição (SCOTT,
2003).
6
3 AGRICULTURA ORGÂNICA – RELEMBRAR PARA ENTENDER
Caminha-se para entender que é preciso parar, pensar, recordar e agir de modo diferente. O homem,
após estragar o seu habitat, não tem outro jeito senão recompô-lo. Alguns cientistas começam a insistir
na necessidade de “restaurar o solo, proteger os mares e orientar os produtores de alimentos do
planeta”. Mas muitos agricultores descobriram isso há muito tempo e vêm fazendo a sua agricultura,
com base nos princípios ecológicos e na sustentabilidade. Há que se procurar substituir o modelo
vigente por um sistema sustentável e saudável.
O saber popular do homem do campo e o reconhecimento de que a fertilidade do solo consistia na
eliminação das doenças que atacam plantas e animais já eram valorizados pelos pesquisadores da área
de agricultura orgânica desde a década de 20. “As doenças só se fixavam quando caía o nível do solo”,
dizia o inglês Albert Howard que enfatizava a importância da compostagem e da adubação orgânica
(TOMPKINS; BIRD, 1972). Claude Albert, na França, difundia, na mesma época, o conceito e as
práticas de agricultura biológica, pregando a rotação de culturas, o uso de adubos verdes, estercos,
restos de cultura, palhas e insumos afins, para a produção de alimentos. Na Alemanha, em 1924, o
filósofo Rudolf Steiner lançava os princípios da agricultura biodinâmica, que buscava a harmonia e o
equilíbrio da unidade produtiva, estabelecendo que a saúde das plantas, do solo e dos animais depende
da conexão com forças de origem cósmica da natureza. No Japão, em 1935, Mokiti Okada tomava a
natureza como modelo e propunha um novo sistema de produção agrícola, pregando que a harmonia e
a prosperidade entre seres vivos são produtos da conservação do ambiente natural, a partir da
observação das leis da natureza – agricultura natural. Surge, posteriormente, em 1971, o conceito de
permacultura, estabelecido por Mollison, na Austrália, integrada ao ambiente, considerando como
básicas as informações sobre a direção do sol e dos ventos, para determinar a disposição espacial das
plantas (ORMAND et al., 2002). Outras interpretações e novos modelos de produção receberam
denominações de agricultura biológica, agricultura ecológica e agricultura de base ecológica.
7
Buscando sistematizar um conceito que pudesse ser uma referência mais geral, dentro do que preceitua
o entendimento da agricultura orgânica, o Governo Federal sancionou a lei nº. 10.8311, de 23/12/2003,
definindo o sistema orgânico de produção e estabelecendo os princípios básicos a serem seguidos:
processamento,
armazenamento,
distribuição
e
comercialização
dos
produtos
orgânicos.
Complementarmente há, ainda, acrescidos à caracterização da agricultura orgânica, outros princípios,
inclusive incorporando todas as variáveis ambientais na relação com o manejo e com a produção,
ambos são estabelecidos por normas de certificadoras, como condição fundamental para a certificação e
a garantia do processo produtivo, tais quais os estabelecidos nas normas da Associação de Certificação
de Produtos Orgânicos do Espírito Santo – Chão Vivo.
Analisando os princípios básicos que sugerem um novo modelo de agricultura sustentável, percebe-se
que a agricultura orgânica tem papel fundamental na produção de alimentos e na promoção do
desenvolvimento rural sustentável. Entre tantas conceituações, essa agricultura é definida por Paschoal
(1994) como:
[...] um método de agricultura que visa o estabelecimento de sistemas agrícolas ecologicamente equilibrados e estáveis, economicamente
produtivos em grande, media e pequena escalas, de elevada eficiência quanto à utilização dos recursos naturais de produção e socialmente bem
estruturadas que resultam em alimentos saudáveis, de elevado valor nutritivo e livres de resíduos tóxicos e em outros produtos agrícolas de
qualidade superior, produzidos em total harmonia com a natureza e com as reais necessidades da humanidade.
Os métodos empregados na agricultura orgânica atualmente são modernos, desenvolvidos em
sofisticado e complexo sistema de técnicas agronômicas, cujo objetivo principal não é a exploração
econômica imediatista e inconseqüente, mas, sim, a exploração econômica a longo prazo, mantendo o
agroecossistema estável e auto-sustentável. Leis e princípios da ecologia e da conservação de recursos
naturais são, assim, parte integrante desses métodos. As questões sociais serão prioritárias, quando se
procurar preservar métodos agrícolas tradicionais apropriados ou aperfeiçoá-los (ASSOCIAÇÃO
CHÃO VIVO, 2003).
3.1 PRODUTOS ORGÂNICOS E PERSPECTIVAS
1
Definição, finalidade, conceitos, critérios para certificação, estabelecida na lei 10.831 de 23/12/2003, encontra-seno site
<http://oc4j.agricultura.gov.br/agrolegis/do/consultaLei?po=view/Textual&codigo=5114>.
8
A venda total, no varejo, de produtos orgânicos certificados atingiu uma cifra em torno de US$16
bilhões no ano de 2000 e isso representou uma pequena fatia do mercado global de alimentos e
bebidas, entre 1% e 2%. A mais baixa estimativa de taxa de crescimento do mercado é diferente para
cada país: fica estimada entre 10% e 25%. Os baixos crescimentos previstos em torno de 10% para cada
país, mantidos por 10 anos, aumentariam o mercado em 2010 para US$61 bilhões. Isso representaria
uma fatia de mercado de 3,5%, assumindo-se exatos 2% de crescimento anual no total do mercado de
alimentos. Se as maiores estimativas de taxas de crescimento entre 15% e 30% fossem sustentadas em
todo o mercado, veríamos as vendas no varejo alcançarem US$94 bilhões em 2010, com 5% da fatia do
mercado. Alguns autores têm especulado sobre altas taxas de crescimento de 30% ao ano. Estas
realmente observadas em alguns mercados. Se fossem mantidas tais taxas, alcançaríamos, em 2010,
vendas orgânicas na escala de US$210 bilhões, ou seja, 11% do mercado global, o que parece
improvável dado o estado atual do mercado (SCIALABBA; HATTAM, 2002).
Os mercados orgânicos tendem a crescer com o aumento da renda e da consciência ambiental.
Evidências teóricas e empíricas sugerem que a demanda pela conservação ambiental é positivamente
associada aos níveis anuais de renda para além de US$8 mil per capta. Isso varia de acordo com os países
e os tipos de problemas. Os poluentes globais, como os gases do efeito estufa, são uma exceção, mas os
poluentes envolvidos na agricultura estão entre aqueles que tendem a ser reduzidos nos países com
aumento da renda que impõem leis mais severas. A extensão dessa demanda por alimentos orgânicos e
da fatia do mercado está baseada na melhoria física e social do meio ambiente e no aumento dos níveis
de renda (SCIALABBA; HATTAM, 2002).
A maioria desse crescimento rápido no aumento de vendas está ocorrendo em áreas onde a fatia do
mercado orgânico é pequena ou os produtos não são certificados. Na China, o mercado é grande e está
em rápida expansão, mas as vendas estão iniciando a partir de uma pequena base e têm sido
freqüentemente os Green Foods (alimentos verdes) produzidos com menos insumos sintéticos. Na
Argentina, cerca de 20% do valor total da produção orgânica nacional foram vendidas no mercado local
em 2000. Em 2001, a crise econômica reduziu o mercado orgânico interno a uma taxa de7%.
Entretanto, é interessante notar que a redução desse mercado foi afetada pelo alto valor dos produtos
animais (aves, bovinos e leite). Mas o mercado interno de produtos hortícolas, ovos e mel aumentaram
proporcionalmente (SCIALABBA; HATTAM, 2002).
9
3.2 TURISMO NO ESPAÇO RURAL
Para caracterizar a agricultura orgânica como atividade complementar ao turismo na propriedade rural
ou no meio rural, é preciso definir o espaço onde essa atividade se desenvolve. Assim considera-se
turismo no espaço rural ou em áreas rurais “todas as atividades praticadas no meio não-urbano, em que
consiste nas atividades de lazer no meio rural em várias modalidades definidas com base na oferta:
turismo rural, agroturismo, turismo ecológico ou eco-turismo, turismo de aventura, turismo de
negócios, turismo de saúde, turismo cultural, turismo esportivo, atividades que se completam ou
não” (SILVA et al., 1998).
As atividades de visitação e lazer, procurando-se aproveitar as belezas naturais, a paisagem e a
tranqüilidade do espaço rural são muito antigas: remontam à Idade Media, quando imperadores e
guerreiros iam para os campos descansar, fugindo da inquietude de Roma. Conforme Ignarra (1999) e
Oliveira (1998), citados por Roque (2003), somente no século XIX, no período do surgimento da
sociedade capitalista, as atividades econômicas e geradoras de renda foram incorporadas ao turismo.
Contribuíram para isto o desenvolvimento dos meios de transporte e comunicação (trem e ferrovias,
navios), que possibilitavam deslocamentos mais rápidos para diversas comunidades mais distantes. Era
uma atividade voltada para a elite. Somente no final do século XIX, a classe média passou a participar
das atividades turísticas, já durante o período do desenvolvimento industrial, quando os operários
dispunham de trabalho remunerado, férias obrigatórias, conseguindo assim tempo e recursos para se
inserir nas atividades do turismo.
O espaço rural, de alguma forma, vem sofrendo transformações no seu uso, na maneira de obter renda,
no modo de conduzir os trabalhos, dividir as tarefas, e estabelecer, mesmo que empiricamente, as
prioridades originadas da própria mudança que o sistema capitalista impõe às relações de produção, de
trabalho, de capital, tornando-os mais dependentes dos fatores não-agrícolas. O desenvolvimento
agrícola baseado no sistema de produção familiar sofre alterações e passa a originar uma nova paisagem
rural, isto é, o espaço rural passa a ter outras funções. Assim, as formas tradicionais de articulação da
10
produção familiar sofrem profundas alterações, a componente ambiental passa a ter importância
decisiva no desenvolvimento, o sistema agroalimentar passa a ser comandado por empresas que
trabalham em escala mundial e as políticas agrícolas são sistematicamente reformuladas para se
adequarem ao novo contexto socioeconômico.
Apesar da importância econômica que representa o turismo, é preciso ressaltar que os custos sociais e
ambientais gerados ainda são muito elevados, originados da destruição dos recursos naturais, ocupação
de espaços impróprios, pressão sobre comunidades tradicionais, obrigando-as a emigrar para terras
impróprias e locais de maior risco, lixo acumulado, coleta ilegal de plantas etc.
A necessidade de desenvolver um turismo com responsabilidade ambiental e social tem sido, ultimamente, muito ressaltada por pesquisadores e
estudiosos. Fala-se de turismo sustentável, alternativo, ecológico, objetivando criar uma nova mentalidade e um novo fortalecimento das áreas rurais,
como opção de desenvolvimento econômico e geração de emprego e de renda, a fim de valorizar o ambiente, a população residente e a cultura das
famílias da região. Há um conjunto de atividades não agrícolas que responde cada vez mais pela nova dinâmica populacional do meio rural brasileiro
(SILVA, 1997).
O espaço rural, além de ser um lugar de produção de mercadorias e alimentos, precisa ser pensado para
oferecer ar, água, turismo, lazer, bens de saúde e, ainda, possibilitar a combinação de tudo isso com
postos de trabalho e geração de renda em pequenas e médias empresas (MÜLLER, 1955).
As atividades turísticas desenvolvidas no meio rural brasileiro, especificamente nas propriedades rurais,
começaram há aproximadamente 20 anos, aproveitando-se e valorizando-se as tradições, a cultura e o
ambiente em suas diversas formas e denominações de turismo rural: turismo de interior, turismo
alternativo, turismo verde, turismo de campo etc. O espaço rural, como aproveitamento para o
desenvolvimento de atividades turísticas, vem sendo valorizado e projetado como local de interesse de
pesquisas e estudos, buscando-se identificar as diversas formas de aproveitamento e de exploração
econômica, geração de emprego e renda.
Segundo Armand Schoppner citado por Oppermann (1995), as atividades turísticas no espaço rural,
como estratégia de reprodução socioeconômica, surgiram na Alemanha, há aproximadamente 150 anos,
onde as fazendas recebiam visitantes nos períodos de férias escolares, ofertando acomodações mais
econômicas e convivência com o cotidiano produtivo (ROQUE, 2003).
Santa Catarina é o berço do desenvolvimento do turismo no espaço rural no Brasil: oferece a melhor
infra-estrutura e organização relacionada a esse setor.
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O Espírito Santo, a despeito de possuir um trabalho de desenvolvimento de atividades turísticas no
espaço rural em nível organizado, ainda não conseguiu explorar todo o seu potencial. No dizer de
turistas que visitam o Estado, as atrações, as belezas naturais, a cultura, as paisagens, a diversidade, a
rica tradição regional típica da Europa, estão mais concentradas e esperando ser reconhecidas. A
cultura, os costumes e a comida de origem africana também estão representados, no entanto, mais
dispersos por várias fazendas rurais.
3.3 TURISMO RURAL
A relação da agricultura com o turismo ou do turismo com a agricultura é antiga. Na Europa, os
campos, os plantios, a colheita da uva etc., sempre atraíram pessoas. Atualmente, observam-se os
melhores índices de desenvolvimento do turismo rural na França, na Alemanha, na Itália e na Suíça.
Na França, o sucesso se assenta na organização, na valorização dos circuitos rurais (traduzidos pela
criatividade com que se organizam os percursos turísticos, com que se aproveitam os pontos de
importância cultural, paisagística etc., inclusive as áreas de produção orgânica), na participação ativa das
associações e comunidades, no controle do zoneamento de proteção ambiental, na valorização da
cultura local (regional), na participação efetiva e eficiente das mulheres e outros. Na Alemanha, o
turismo e a agricultura complementam-se como fonte de renda para o agricultor, com o uso das
fazendas hospedeiras que ofertam pouso e alimentação a custo acessível. Oferecem, ainda,
oportunidades, por intermédio de excursões ao campo ou de circuitos rurais, de num dia, possibilitar a
vivência do cotidiano rural, o conhecimento das belezas regionais e da culinária típica da região
(OPERMANN, 1993 apud ROQUE, 2005). Na Itália, obtém-se o reconhecimento de que a cultura
rural, o cotidiano agropecuário e o convívio com as famílias rurais, representam os pontos
fundamentais para a implantação da atividade turística no espaço rural. Algumas regiões contam com a
agricultura biológica2 e com seus produtos (vinhos, queijos etc.) como o grande atrativo para o
turismo. Na Suíça, o fortalecimento turístico se dá pela valorização do cotidiano agrícola, proteção da
paisagem rural e do ambiente (DESPLANQUES, 1973). Sabe-se que a Áustria, a Suécia, a Espanha e,
mais recentemente, Portugal vêm apresentando também altos índices de crescimento do turismo rural.
2
A denominação “agricultura biológica” é empregada em alguns países da Europa e tem características semelhantes à
denominada agricultura orgânica, com pequenas diferenças regionais.
12
Naturalmente não se pode assegurar que, nesses casos, o desenvolvimento do turismo rural tenha
relação direta com a agricultura orgânica, porque não se conhece nenhuma análise específica, mas,
devido aos índices ambientais e paisagísticos considerados, é possível imaginar que não é por acaso que
esses países turísticos fazem parte do bloco que tem o maior número de propriedades orgânicas na
Europa (INTERNATIONAL TRADE CENTER UNCTAD, 1999). É natural que a agricultura
orgânica, que busca na relação com o meio ambiente e com a agroecologia os seus princípios básicos,
tenha grande parcela de contribuição positiva no turismo desses Países.
No entendimento atual de turismo rural, a agricultura orgânica encaixa-se perfeitamente. Salles (2003)
coloca a sustentabilidade como condição prévia para essa atividade, buscando o equilíbrio ambiental,
econômico e sociocultural. Essa sustentabilidade é favorecida pelo aumento da consciência da
necessidade de preservação dos recursos naturais, da necessidade psicológica de alternativas de lazer
oferecidas aos grandes centros urbanos, pela atração e aproximação dos modos mais simples de vida e
pela busca de melhor qualidade de vida.
As atividades turísticas nos espaços rurais como as do turismo rural, do eco-turismo, do turismo
cultural, entre outras, são modalidades que vêm ganhando cada vez mais espaço no mercado nacional e
internacional (PEREIRA; ALMEIDA, 2003). Para a Organização Mundial do Turismo, enquanto o
turismo convencional registra um crescimento de 7,5% ao ano, o eco-turismo ultrapassa a taxa de 20%.
O mercado do eco-turismo, no Brasil, gera, hoje, 30 mil empregos diretos, atendendo a meio milhão de
turistas e movimentando 500 milhões de reais por ano (CONFERÊNCIA NACIONAL DO MEIO
AMBIENTE, 2003 apud PEREIRA; ALMEIDA, 2003).
Salles (2003) cita que no III Congresso Internacional de Turismo Sustentável, em Cuiabá-MT, propôsse à elaboração de uma única certificação para o turismo sustentável, informando que existem em torno
de 100 certificados de qualidade para diferentes atividades turísticas. Isso decorre da necessidade de
garantir a sustentabilidade dos recursos naturais em locais como reservas naturais, cenários e paisagens
procurados por oferecer beleza cênica, rios e cachoeiras, dentre outros. Já que o turismo rural tem na
agricultura um de seus componentes principais como atrativo, os sistemas de produção agroecológicos
devem ser mais bem trabalhados para adequar-se aos modelos de certificação orgânica.
13
O turismo se faz com uma série de atores além do turista e daquele que oferece o lazer pretendido.
Hotéis, pousadas e restaurantes, empresas de turismo, guias locais, prefeituras municipais etc.,
compõem um quadro de entidades e pessoas que atendem ao turista. As belezas cênicas, a agricultura,
os agricultores e o meio ambiente são os principais atrativos do turismo rural e certamente devem ser
trabalhados por todos os atores, valorizando-os.
Os requisitos anteriores são concordantes com a experiência de Carnielli (2002) que relata a experiência
do Agroturismo de Venda Nova do Imigrante a partir de 1992. Nela, houve a união dos agricultores
por meio de uma associação que também envolve produtores de artesanato, o apoio do hotel local,
indicando os pontos turísticos e o apoio de instituições públicas. Reforça o autor a necessidade de
capacitação e treinamento para que o agricultor possa produzir melhor, sempre com qualidade e
atender à demanda dos turistas que buscam a simplicidade do agricultor, o contato com a natureza e
produtos saudáveis.
Carnielli (2002) traça um perfil do “agroturista”, destacando o seguinte sobre esse turista: ele gosta do
contato coma a natureza; evita grandes aglomerações; busca hospitalidade familiar; deseja retornar as
origens, fato que é comum para uma economia como a capixaba, de industrialização recente; quer
culinária e produtos locais; tem interesse por manifestações populares; quer algo diferente do seu dia-adia; exige ambiente sadio, genuíno e limpo; procura férias breves e freqüentes e traz novidades ao
campo.
Dois traços chamam atenção no perfil traçado por Carnielli (2002): os turistas são urbanos e a maioria
nunca viu uma vaca, um pé de café ou um pé de feijão. Ao visitarem a propriedade, surgem
brincadeiras que também acontecem com o agricultor, quando esse vai ao grande centro. Por isso, a
receptividade é importante para mostrar os animais, os plantios e falar dos processos de produção na
agricultura. Os turistas também trazem novidades. Em suas visitas à propriedade conversam com os
agricultores e tornam-se amigos deles. Alguns até ajudam a procurar mercado para os produtos que
adquirem ali e a divulgá-los.
Sobre a origem dos turistas que vão a Venda Nova do Imigrante – ES, Carnielli (2002) relata que “[...]
em sua maioria, 80% vêm da Grande Vitória, que fica a 100km, e 20% vêm de todo o Brasil.
Recebemos turistas do exterior.” E ainda: “[...] na propriedade passam em média 500 pessoas por
14
semana, 20% são de visitas técnicas de agricultores que querem conhecer o que fazemos.” Com todo
esse movimento, o autor reforça sempre a necessidade da organização, da divisão de tarefas, da
capacitação e do envolvimento de toda a família.
Ação integrada e dependência dos atores que promovem o turismo são evidenciadas em Guia:
montanhas capixabas (PASTE; SÁ, [20--?]). Os editores informam as distâncias dos locais turísticos e
disponibilizam mapas, hotéis, restaurantes, breves informações sobre os Municípios e serviços de
apoio, apresentando o calendário de festas e eventos regionais, destacando os variados temas dessas
festas, como as das exposições agropecuárias, as que comemoram imigrações, como a italiana na Festa
da Polenta em Venda Nova do Imigrante, e a alemã, na Sommerfest em Domingos Martins (Municípios
da região Centro-Serana, do estado do Espírito Santo). Além desses acontecimentos, há competições
esportivas de canoagem e Rafting.
Se a agricultura familiar, além de ser responsável por 40% de tudo o que é produzido no Brasil, gerar
também 7 (sete) de cada 10 (dez) ocupações no meio rural, a agricultura orgânica, com certeza, terá
uma grande contribuição a dar, atraindo mais pessoas para visitar as propriedades e buscar uma
alimentação mais saudável. Hospedagem, lazer e alimentação, requerem ambientes limpos, paisagem
natural conservada, saneamento ambiental (água de qualidade, destino correto de lixo e esgoto) e,
sobretudo, alimento saudável produzido segundo as normas de segurança alimentar e de respeito ao
meio ambiente.
15
4 AGRICULTURA ORGÂNICA E TURISMO RURAL
Apesar do conhecimento, do entendimento de que as questões agroecológicas são fundamentais para o
desenvolvimento turístico de uma região, a base disponível para a prática de inserção da agricultura
orgânica como promotora ou estimuladora do turismo é muito precária e ainda são poucas as
experiências de crescimento turístico, cujo foco seja a agricultura orgânica.
O processo de consolidação da agricultura orgânica como estratégia de desenvolvimento, incluindo aí
seu aproveitamento como estímulo ao turismo e geração de emprego e renda, merecerá atenção dos
poderes públicos municipais, estruturando um programa que deverá iniciar-se com apoio às unidades
de produção orgânica existentes, para consolidá-las e torná-las referência para agricultores interessados
em inaugurar a transição agroecológica.
Certamente a agricultura orgânica pode inserir-se como um atrativo a mais no agroturismo capixaba,
principalmente por causa do apelo ecológico que suscita. É possível inseri-la como mais uma atividade,
principalmente nas montanhas, que já apresentam infra-estrutura turística e inserção da população local
nessa atividade como um negócio. Para isso, é necessário que se conheça melhor, no Estado, a arte da
produção orgânica.
Estima-se que a área plantada, no Brasil, aumentou de 275.000ha, em 2001, para 841.000ha, em 2004
(YUSSSEF, 2004), movimentando um mercado de aproximadamente US$150 milhões por ano, com
7100 produtores certificados (REVISTA AGROANALYSIS, 2004). Essas cifras não chegam a 1% do
total dos agricultores brasileiros e cerca de 85% da produção é exportada. No mercado interno, os
produtos embalados e etiquetados com selos orgânicos são comercializados em feiras livres e,
principalmente, em supermercados.
O Espírito Santo tem cerca de 1,5% de seus agricultores cadastrados como orgânicos. A agricultura
orgânica desenvolveu-se a partir da década de 80, principalmente entre os agricultores familiares por
intermédio da atuação do setor público e de entidades não-governamentais (KÜSTER; MARTÍ, 2004).
Reforçam a ação da agricultura orgânica capixaba, além da iniciativa de ONGs que prestam assessoria a
16
agricultores e da Certificadora Chão Vivo, a criação de organizações e atos, tais como: a Gerência
Estadual de Agricultura Orgânica (GAO), pela Secretaria Estadual de Agricultura (Seag) em 2003; a
coordenação de agricultura orgânica do Incaper, em 1999, do Projeto Desenvolvimento Local
Sustentável, em parceria com o governo alemão por meio da GTZ; e a inclusão da agricultura orgânica
no planejamento estratégico da Seag (PEDEAG, 2003). Certamente, o incentivo ao turismo rural
associado à produção orgânica seria uma forma de fortalecer as ações do Pedeag, ampliando o mercado
e aproximando o consumidor do produtor.
O Brasil apresenta renda per capta abaixo de US$8000, segundo Scialabba e Hattam (2002), como
nível acima do qual aumenta a conservação ambiental, o que certamente limita o mercado orgânico
ao poder aquisitivo das classes mais ricas e à exportação. Esse fato, entendido como oportunidade,
permite que se pense em direcionar a agricultura orgânica também para o turismo rural, visando à
venda direta para aqueles que procuram esse tipo de lazer.
Mesquita (2003), em levantamento do perfil de consumidores de produtos orgânicos nas feiras no
Rio Grande do Sul, identificou que freqüentadores desse tipo de comércio possuem um grau de
instrução elevado e demonstram regularidade e fidelidade. A maioria está situada na classe média ou
média alta e o aumento do consumo parece estar condicionado à diminuição dos preços praticados.
Karam (2003), em levantamento com 272 consumidores que compram em supermercados, feiras e
pequenos mercados de Florianópolis, identificou que a saúde é a maior motivação para o consumo dos
agroecológicos, sendo essa preocupação maior entre as mulheres. As outras motivações relevantes são
o receio dos agrotóxicos e outras razões particulares decorrentes de uma filosofia de vida. O autor
observou ainda que o consumidor de agroecológicos quer conhecer mais os seguintes temas: a
qualidade biológica dos alimentos, os processos de certificação, as diferentes formas de produção de
alimentos, quem são e como vivem os agricultores da agroecologia. Essa curiosidade quanto ao
processo produtivo e o interesse pela aproximação podem favorecer o turismo rural. O perfil do
consumidor orgânico de classe média e média alta coincide com as observações de Scialabba e Hattam
(2002) que relacionam a renda per capta ao maior desenvolvimento de iniciativas de cunho ecológico na
sociedade.
17
Observa-se uma busca constante por canais alternativos de comercialização com menor número de
intermediários possível entre o produtor e o consumidor, a fim de aumentar a margem de ganhos do
Agricultor. Nesse sentido, Costa (2003) relata a comercialização da associação Arpasul, de Pelotas – RS,
que se faz nas feiras agroecológicas e o fornecimento de alimentos para a merenda escolar do
Município a partir do ano de 2000, com vistas a melhorar a organização da produção e sua
comercialização. Na obra de Annoni et al. (2003), em estudos de casos no Rio Grande do Sul, concluiuse que os resultados obtidos permitiam evidenciar estratégias de ações inovadoras, baseadas na
concepção de valorização do espaço rural em termos sociais, ambientais, econômicos e culturais, tanto
em nível municipal como regional para o Vale do Rio dos Sinos, o Vale do Paranhana e a Encosta da
Serra do Rio Grande do Sul.
Na adaptação à produção agroecológica, Sales e Batista (2003) observaram, com os produtores
certificados pelo Chão Vivo, que os problemas mais freqüentes encontrados nos processos de
certificação são: destino inadequado para o lixo e o esgoto doméstico, deficiência de água de boa
qualidade para a irrigação e consumo, pouco uso de práticas agroecológicas (compostagem, barreiras de
proteção, adubação verde etc.), mecanização intensiva, escoamento superficial, insuficiência de áreas
destinadas à preservação permanente e poucas práticas que atendam às normas de bem-estar animal. Os
fatores assinalados pelos autores indicam a necessidade de capacitação dos agricultores e de acesso à
assistência técnica.
A agricultura orgânica, adotando tecnologias inovadoras e aperfeiçoando outras bem antigas, naturais,
que foram melhoradas para o manejo de insetos e doenças, mostra-se a cada ano mais competitiva,
assegurando produtividade e qualidade superiores aos produtos da agricultura convencional e
diminuindo, ao mesmo tempo, as terríveis intoxicações, as doenças, as mortes de pessoas e animais e a
poluição do solo, dos rios e do ar.
Agricultura orgânica significa um novo modelo de desenvolvimento, uma nova filosofia de produção
agrícola, a necessidade de se produzir um alimento que nutra, que refaça, que efetivamente se torne o
combustível do corpo. Uma nova mentalidade no campo vai se estabelecendo junto à conscientização
do agricultor e mudando a vida dos agricultores. O alimento produzido não é só o resultado do plantio
da semente, da adubação e irrigação, do manejo e da colheita. É um produto que dá a vida, como diz o
agricultor orgânico Luiz Camilo, do município de Nova Prata do Iguaçu – PR, “[...] hoje, eu não tenho
18
coragem de dar um tomate produzido convencionalmente para meus filhos comerem e me preocupo
em oferecer produtos saudáveis para as pessoas se alimentarem com qualidade” (SEBRAE, 2002).
5 AGRICULTURA ORGÂNICA E IMPACTOS
A agricultura orgânica incorpora todas as variáveis ambientais no processo de produção. Portanto, por
comparação, se qualquer análise dos impactos ambientais numa propriedade rural agro-turística for
positiva, pode-se inferir que se aquela propriedade praticasse a produção de alimentos dentro do
processo orgânico, os impactos naturalmente também seriam favoráveis e possivelmente mais
significativos.
Em estudo que avaliou o impacto ambiental do agroturismo em propriedades rurais de Itu – SP, pelo
método Apóia-Novo Rural (RODRIGUES; CAMPANHOLA, 2003),3 o desempenho ambiental do
agroturismo foi favorável no que se refere às dimensões da qualidade da água e dos valores
econômicos, tendo nos principais pontos críticos que naturalmente demandam intervenções os
indicadores referentes à ecologia da paisagem (RAMOS FILHO et al., 2004).
Numa propriedade de produção orgânica, essas dimensões teriam indicadores favoráveis, porque
contariam com os aspectos que faltam às propriedades de produção convencional, ou seja: área de
reserva legal, uso de práticas conservacionistas, diversificação de culturas, biodiversidade, não
contaminação do solo etc., embora um ou outro aspecto citado possa também compor a propriedade
convencional. Num planejamento para melhorar a sustentabilidade da propriedade, a de agricultura
orgânica demandaria muito menos recursos financeiros e serviços.
A avaliação do desempenho ambiental da agricultura orgânica e ecológica4 em propriedades rurais da
região de Ibiúna – SP e do Sudoeste do Paraná, usando o sistema de Avaliação Ponderada de Impacto
Ambiental do Novo Rural, destacou índices positivos em ambos os sistemas de produção. Tais índices
3
Endereço: Rodovia SP 340, Km 127,5, Bairro Taquinho Velho, Jaguariúna – SP, CEP 13820-000. E-mail:
[email protected]
4
Agricultura orgânica e a agricultura ecológica têm características semelhantes e, conforme a lei n. 10.831, estão inseridas
dentro do mesmo conceito orgânico de produção agropecuária e industrial.
19
mostraram-se favoráveis ao desempenho da atividade, ressaltando as dimensões da qualidade da água,
da qualidade da atmosfera e dos valores econômicos.
A avaliação favorável dos componentes ambientais e do manejo da atividade, especialmente ligadas à
horticultura, sugere apoiar e fortalecer o desempenho dos estabelecimentos que praticam a agricultura
orgânica. A Correção dos indicativos que apresentam problemas de ecologia da paisagem, valores
socioculturais e gestão e administração permitirá ampliar as vantagens que a atividade proporciona,
tanto para a comercialização quanto para atração turística (VALARINI, 2004). O desempenho negativo
desses três indicativos relativos à reserva legal provavelmente deve-se ao não cumprimento da lei que
prevê a diversidade produtiva, a regeneração de áreas degradadas e alguns itens associados à qualidade
da água e do solo. É possível que esses itens estejam ligados ao período de transição. Isso requer análise
que depende de conhecimento das propriedades5.
Em trabalho realizado em Venda Nova do Imigrante – ES, a avaliação de impacto ambiental em
estabelecimentos com agroturismo, utilizando o método Apoia-Novo Rural, identificou resultados
semelhantes aos ocorridos nas propriedades rurais de Itu – SP, identificando um desempenho favorável
nas dimensões da qualidade da água, dos valores econômicos e dos índices desfavoráveis em ecologia
da paisagem6 e gestão e administração7 (RAMOS FILHO et al., 2004).
Estudo do desempenho ambiental da horticultura orgânica em relação à horticultura convencional em
propriedades rurais no estado de São Paulo pelo sistema Apóia-Novo Rural obteve resultados favoráveis
nas dimensões: ecologia da paisagem, qualidade da água, da atmosfera, do solo, gestão e administração,
em propriedades com horticultura orgânica, conforme tabela 1. Os baixos índices da dimensão
ecologia da paisagem (mesmo para horticultura orgânica) estão relacionados ao não atendimento à
5
É possível que as propriedades que obtiveram os índices negativos estejam em período de conversão, ainda não
completamente cumprido e a falta de certificação da propriedade talvez identificaria tais problemas e solicitaria a correção.
Quanto aos índices baixos da qualidade do emprego, padrão de consumo para maioria dos produtores e condição de
comercialização, ocorrem com freqüência entre os agricultores, obrigando a previsão de treinamentos e capacitação para
todos que trabalham e administram a propriedade rural. Cursos de capacitação para os agricultores e trabalhadores,
orientação e acompanhamento técnico, inspeções periódicas segundo o assunto: certificadoras constituem métodos que
avaliam constantemente o desempenho da atividade, tanto para a produção, integração ao turismo como para a
comercialização e o beneficiamento.
6
Se o processo de produção fosse orgânico, o atendimento às recomendações contidas na lei e nas normas da ertificadora,
corrigiria, automaticamente, os índices negativos.
7
Gestão e administração normalmente em propriedades de base familiar são problemas sérios
demandam treinamento e capacitação.
20
legislação relativa à necessidade de reserva legal e áreas de preservação permanente na propriedade,
contribuindo para pouca diversificação da paisagem (VALARINI et al., 2003).
Importante ressaltar que a diversificação para as atividades produtivas é característica da agricultura
orgânica.
TABELA 1
RAZÃO ENTRE OS ÍNDICES DE IMPACTO AMBIENTAL.
Dimensões
Horticultura
Horticultura
Razão
Índices
Orgânica
Convencional
A/B
(A)
(B)
Ecologia da paisagem
0.68
0.57
1.19
Qualidade
0.77
0.75
1.03
Atmosfera
0.77
0.77
1.00
Água
0.79
0.70
1.13
Solo
0.76
0.77
0.99
Valores socioculturais
0.66
0.62
1.07
Valores econômicos
0.73
0.70
1.04
Gestão e administração
0.73
0.42
1.74
Índice
0.72
0.66
1.09
dos
compartimentos
ambientais
de
Impacto
Ambiental
Dados segundo as dimensões do método Apoia-NovoRural,em estabelecimentos dedicados à
horticultura convencional e orgânica. Interior do estado de São Paulo, 2003
Definido na literatura (GIRARDIN et al., 1999), o índice 0,70 corresponde a um efeito que implica
estabilidade na performance ambiental da atividade.
Inferindo os resultados positivos da avaliação dos impactos ambientais nas atividades da propriedade
com horticultura orgânica, é possível extrapolar esses resultados para o bom desempenho também das
21
atividades turísticas na propriedade e satisfação do visitante, uma vez que há uma relação direta muito
positiva entre os fatores ambientais e a preferência dos turistas pelo turismo rural.
6 AGRICULTURA ORGÂNICA E ESTRATÉGIAS
Na Europa, sobretudo na Alemanha e na Itália, o marketing dos produtos orgânicos mais conhecidos
ressalta os aspectos éticos, ambientais, culturais, de saúde e físicos. A tendência é não simplesmente
consumir um produto, mas, sim, valorizar um projeto que tenha atrás de si os aspectos sociais e
ambientais bem identificados de forma positiva.
A busca de uma vida mais saudável, para se contrapor ao stress provocado pela modernidade, tem
levado a um aumento constante no nível de exigência do consumidor em relação à qualidade de sua
alimentação e à qualidade de vida. A procura pelas regiões mais naturais, onde a alimentação é saudável,
vem crescendo de forma significativa, criando a necessidade de outros espaços e infra-estrutura para
atendimento. A associação do lazer à boa alimentação, ao convívio na paisagem, cria condições cuja
agricultura orgânica venha a se tornar uma das melhores atividades de estímulo ao turismo. Além disso,
a produção orgânico-agroecológica resgata tecnologias de manejo e produção naturais, que tornam o
agricultor menos dependente do complexo industrial e permitem que ele possa ter seus saberes
valorizados.
A associação da agricultura orgânica com o turismo pode ser uma estratégia adotada pelos agricultores,
para aumentar o interesse dos visitantes e permitir a sobrevivência econômica das propriedades.
A agricultura orgânica como um produto cultural é um atrativo especial baseado no apelo ambiental e
social que possui, na promoção de alimento saudável, no ambiente diversificado, na sensibilidade de
quem produz, consignando um mérito excepcional para conquistar e atrair turistas.
Opções de visitas e serviços devem ser programadas para ocupar os visitantes, por exemplo, estabelecer
um circuito ou roteiro de propriedades orgânicas, pontos pitorescos etc., inclusive estimular a
22
participação das propriedades do entorno, dar opções do tipo "colha e pague" ou "deguste e compre"
(vinhos, licores, derivados de leite etc.). É bom que essas opções aos turistas incluam restaurante
natural, venda de mudas de plantas, identificação da flora por meio de placas e etiquetas, para que os
visitantes conheçam as vegetações, familiarizem-se com as plantas medicinais, com a indústria caseira e
interajam, repassando receitas de preparo de alimentos e, quiçá, atuando em pequenas demonstrações
de trabalho, como o de ordenha etc. Enfim, a rotina da propriedade deve fazer parte da visitação do
turista (PEREIRA; ALMEIDA, 2003).
Folders, folhetos, receitas, devem fazer parte da rotina do atendimento, pois servirão também para
informação aos visinhos dos turistas, bem como para indicar onde são comercializados os produtos.
Muitos deles se vendem nas feiras livres das grandes cidades.
É importante ainda tratar a agricultura orgânica como ferramenta para o desenvolvimento da
consciência do agricultor, do visitante e do consumidor, programando, no local, atividades de estimulo
à percepção da conexão da vida de cada um com a natureza e com a agricultura, preparando material de
informação sobre os princípios ecológicos que regem os ecossistemas e a agricultura (PEREIRA;
ALMEIDA, 2003).
A agricultura orgânica, como um negócio atrativo para o turismo, precisa também de planejamento e
capacitação, para reduzir as possibilidades de insucesso e implementar melhoria da qualidade dos
produtos oferecidos e do atendimento. Como qualquer atividade econômica, a agricultura orgânica
pode apresentar algum impacto socioeconômico, a curto prazo, até a recomposição do ambiente
natural e a comunidade local valorizar o trabalho.
A inter-relação da agricultura orgânica com o turismo é uma estratégia positiva para os agricultores,
aumentando a sobrevivência das propriedades e contribuindo para a geração de emprego. Pode,
inclusive economicamente, gerar vantagens com a possibilidade de agregar valor aos produtos agrícolas
e fazer surgir indústrias artesanais de produtos agrícolas naturais, possibilitando outros serviços na
comunidade. No entanto, é preciso haver boa articulação entre as comunidades locais, os
empreendimentos turísticos e as decisões administrativas.
23
Em busca de uma alimentação saudável, livre de contaminação por produtos químicos, o consumidor
brasileiro começa a dar preferência para avaquisição de produtos orgânicos. À medida que o
consumidor se informa mais sobre os produtos orgânicos, entende também os benefícios ambientais e
sociais que esse processo de produção proporciona.
Numa propriedade com agricultura orgânica, naturalmente diversificada, associada à existência de água
limpa, ambiente saudável, com maior diversidade de pássaros e animais, é mais fácil organizar e ampliar
um roteiro de visitação. Normalmente, essa propriedade acaba transformando-se num parque, num
local de descanso e lazer.
A visita de um turista que procura em ambiente natural ou que vai a uma propriedade que tem
agricultura orgânica deve ser precedida de informações básicas, por meio de palestra, folder, cartilha
etc., posto que, mesmo não vendo um trabalhador pulverizando os alimentos com agrotóxico, esgoto
correndo pelo terreno etc., é possível que veja alguns animais circulando entre as culturas, esterco e
resíduos vegetais amontoados para fazer composto, alguma área de lama onde, por algum instante,
concentram-se animais, porcos, por exemplo, o que pode lhe parecer estranho, comparado ao que já
deve ter visto em propriedades convencionais, em que tudo é “organizado”, “limpinho”, mas,
provavelmente – pode supor o visitante –, sem sustentabilidade ao longo do tempo. Para quem não
está acostumado, uma propriedade orgânica pode causar, no primeiro momento, uma impressão de
desorganizada, de proprietário “relaxado”.
Na propriedade que também oferece lazer, um restaurante é necessidade básica. A agricultura orgânica
completa essa atividade, oferecendo produtos sadios e nutritivos. A produção de frutas e raízes é
fundamental, pois normalmente fazem parte do café da manhã que, segundo os próprios turistas, para
grande parte deles, o desjejum é a principal refeição de quem precisa aproveitar o tempo de visitação e
passeio.
24
7 AGRICULTURA ORGÂNICA E FAMILIAR DO ESPÍRITO SANTO
Tendo em vista que o turismo rural é uma realidade no Espírito Santo, com maior desenvolvimento na
região das montanhas, isto é, nos municípios de Santa Leopoldina, Santa Maria de Jetibá, Santa Tereza,
Venda Nova do Imigrante, Marechal Floriano, Domingos Martins, Vargem Alta e nos municípios do
entorno do Caparaó, todos dispondo de hotéis, pousadas, calendário de eventos e pontos turísticos
mapeados (PASTE; SÁ, [20--?]), o apoio à agricultura orgânica como um produto novo no negócio
turístico certamente será viável.
Encontramos nesses Municípios a presença de aspectos naturais culturais, tais como: a colonização
européia estabelecida por austríacos, alemães, italianos e pomeranos, dentre outros; a beleza cênica das
montanhas; o turismo ecológico em locais como o pico da Bandeira (Parque do Caparaó), Pedra Azul
(Domingos Martins), Forno Grande (Castelo) e a reserva de Nova Lombardia, em Santa Tereza, onde
está o Museu Melo Leitão; e o agroturismo, mais fortemente desenvolvido em Venda Nova do
Imigrante. Todo esse cenário nos permite inferir que o Espírito Santo tem muito a crescer no turismo
rural, aproveitando-se do conjunto existente.
Com base na publicação Agricultura orgânica e familiar do Espírito Santo, editada pela Seag (2004) como
instrumento de divulgação durante a feira BioFach América Latina, ocorrida em setembro de 2004, no
Rio de Janeiro, podemos listar a seguir uma série de experiências e entidades, tanto de assessoria como
de agricultores, que podem servir de base para uma proposta de introdução da agricultura orgânica no
turismo rural.
Município de Santa Maria de Jetibá. Ali destaca-se a agricultura orgânica porque detém o maior
número de agricultores orgânicos do Espírito Santo, ao todo 150 famílias, em 2004, merecendo um
destaque particular. Esse Município tornou-se referência nacional, dando ao Prefeito Municipal, no ano
de 2004, o prêmio de “Prefeito empreendedor”, conferido pelo Sebrae. O trabalho pioneiro foi iniciado
pela Associação dos Produtores Santamarienses em Defesa da Vida (Apsad-Vida), criada no ano de
1986, com assessoria da Associação de Programas em Tecnologias Alternativas (APTA). É a associação
orgânica mais antiga do Estado. Desde 1992, a prefeitura vem investindo na agricultura orgânica, a
25
ponto de contar atualmente com seis técnicos capacitados e atuantes no apoio às iniciativa orgânicas
municipais.
O crescimento da produção orgânica em Santa Maria de Jetibá motivou a criação da Associação de
Certificação de Produtos Orgânicos, Chão Vivo, voltada para o atendimento aos agricultores familiares,
tendo em vista a dificuldade que tinham de custear o processo de certificação.
Todos esses fatores e o desenvolvimento atual da produção orgânica em Santa Maria de Jetibá,
associados ao aspecto cultural da colonização pomerana, ao relevo de montanha e à predominância de
agricultores familiares reforçam a expectativa positiva pela inclusão da agricultura orgânica como
atrativo turístico. Além disso, constata-se que essa forma de turismo já ocorre, como se verificou nas
assinaturas do livro de visitas da Apsad-Vida, que recebeu 220 visitantes em 2004, a maioria de
agricultores e técnicos interessados no processo produtivo. O livro de visitas do Sítio Vale Verde, do
agricultor Waldemar Flegler, registra a visita de 495 pessoas, em 2004, das quais a maioria estava
interessada no processo produtivo, mesmo aquelas que se hospedaram na propriedade.
Atualmente, Santa Maria de Jetibá possui, além da Apsad-Vida, outra associação de agricultores
(Amparo Familiar), com 50 famílias associadas e vinte e duas propriedades em processo de conversão.
Vale destacar também o trabalho que a Associação Bom Fruto Comércio Ltda faz com um grupo de
agricultores, dando orientação técnica, adquirindo e comercializando produtos orgânicos embalados,
seguindo um esquema de produção e colheita programadas e estabelecendo preço fixo discutido com
os próprios agricultores. Essa associação tem recebido em sua loja diversos técnicos, empresários e
agricultores para conhecer esse trabalho.
Gerência de Agricultura Orgânica (GAO). Instituída em fevereiro de 2004, presta os seguintes
serviços: programa de treinamento e capacitação para técnicos e agricultores; apoio a projetos de
produção, comercialização, promoção, marketing; e implantação de unidades experimentais e de
referência, em propriedades de agricultores.
Instituto Capixaba de Pesquisa Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper). Conta com
uma coordenação estadual de agricultura orgânica, que é referência nacional na pesquisa de olericultura
orgânica e promoveu, em 2004 a capacitação de 14 de seus técnicos em Agroecologia.
26
Projeto de Desenvolvimento Local Sustentável (DLS). Esse projeto foi implantado em outubro de
2000. O órgão responsável por ele é a Seag, que é mediada pelo Incaper. O DLS recebe recursos da
Cooperação Técnica Alemã (GTZ) e é gerido pela empresa de consultoria agermânica, GFA. Em 2004,
projeto realizou uma série de diagnósticos.
Secretaria Municipal de São Mateus. Essa Secretaria presta assistência a 90 famílias de
assentamentos e comunidades quilombolas. Além disso, promove uma feira agroecológica com 40
famílias em dois bairros.
Associação de Certificação de Produtos Orgânicos do Espírito Santo – Chão Vivo. Atua
principalmente no Espírito Santo, mas presta serviços de certificação a agricultores de Pernambuco,
Bahia e Minas Gerais. Atualmente está em processo de capacitação para atuar no mercado externo.
Associação de Programas em Tecnologias Alternativas (APTA). A APTA é uma ONG sem fins
lucrativos. Foi criada em 1985 e desenvolve trabalhos agroecológicos junto a agricultores familiares em
diversos Municípios do Estado.
Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Espírito Santo (Fetaes). Atualmente essa
Federação é coordenadora do projeto DLS juntamente com o Incaper e a GFA. A Fetaes representa a
sociedade civil.
Fundação Luterana Sementes. Iniciou-se em 1999, a partir de diversos projetos da Ieclb,
inaugurados com o Projeto Guandu em 1987. A FLS atua em vários Municípios do Estado e tem a
agroecologia como princípio básico de trabalho.
Federação das Associações Comunitárias de Iuna e Irupi (Faci). A Faci conta com 20
associações, 750 famílias. Nessa, Federação, 60 % dos agricultores são familiares e 40%, meeiros e
arrendatários. Ela tem como principal conquista, além da organização comunitária, a comercialização de
café para o Mercado Solidário. Pequena parte dos agricultores é orgânica.
27
Associação de Agricultores Orgânicos de São Jorge de Tiradentes (Agrosjot-ES). Localizada em
Rio Bananal – ES, é formada por 16 famílias, mas atinge indiretamente 243 famílias e 17 comunidades.
Produz 1300 sacas de café conilon em 120ha de cultivo e 10t de frutas por ano (coco, goiaba, graviola,
macadâmia, manga, acerola e citrus), em 12ha. Cinco propriedades contam com selo de certificação
orgânica e as demais estão em vias de adquiri-lo.
Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo (MEPES) e Regional das Associações
dos Centros Familiares e Formação em Alternância do Espírito Santo (Raceffaes). Essas
entidades congregam, ao todo, 30 unidades pedagógicas (EFAs e CEFFAS) que, baseadas na pedagogia
da alternância, têm na formação profissionalizante sua definição pela agricultura agroecológica.
Bom Fruto Comércio Ltda. Essa empresa está sediada no município de Santa Maria de Jetibá. É
especializada na comercialização de produtos orgânicos.
Meridiano. Indústria de torrefação, a Meridiano lançou no ano de 2004 o Café Orgânico Meridiano,
como matéria-prima de origem exclusiva da agricultura familiar.
Sebrae. O Sebrae por intermédio do PS Agro (Programa Sebrae de agronegócio), apóia dentre outros
setores, o de agricultura orgânica no Espírito Santo. Além disso, tem contribuído para a participação da
delegação de Estado na BioFach-2004.
Outras entidades vêm destacando-se e representam importantes contribuições ao desenvolvimento da
agricultura orgânica no estado do Espírito Santo. Entre tais, evidenciamos estas, a seguir:
Grupo Koomaya de Agricultura Orgânica. Sediado em Jaguaré – ES, atualmente é formado por 12
famílias de agricultores que produzem café, pimenta do reino, frutas e hortaliças certificadas;
Associação em Defesa dos Direitos dos Produtores Rurais de São Bento do Chapéu. Essa
associação é formada por famílias de agricultores residentes na comunidade de São Bento do Chapéu,
município de Domingos Martins – ES. Produzem e comercializam café e banana, por meio do sistema
orgânico;
28
Associação Veneciana de Agroecologia. Composta por agricultores, consumidores, técnicos e
simpatizantes, essa associação foi fundada em maio de 2004. Produz café conilon, coco verde, manga e
hortaliças. Algumas dessas produções já estão certificadas;
Grupo de Agricultores Orgânicos de Iconha. Compõe-se de diversas associações de agricultores
familiares localizados em várias comunidades do Município. Produzem e comercializam banana, café,
cana e derivados; produtos caseiros etc.
Destaca-se, ainda, uma iniciativa de porte empresarial, a Estação Ecológica Domaine Ile de France,
situada em Pedra Azul, município de Domingos Martins. Possui infra-estrutura de excelente qualidade
para receber turistas,. Oferece serviços de hospedagem, alimentação e loja de produtos. Produz aves e
ovos caipiras e orgânicos. Atualmente, prepara-se para produção de café, citrus, hortaliças e outros
produtos orgânicos. Essa estação ecológica disponibiliza também um excelente ambiente para visitação
e reuniões.
Certamente, a capacitação dos agricultores e técnicos das iniciativas existentes em agricultura orgânica
no Espírito Santo poderá alavancar cada vez mais esta atividade. O incentivo para que os agricultores
optem pelo agroturismo permitirá que o negócio agrícola amplie para além das feiras, dos
supermercados e do mercado de exportação. A venda do tipo "colha-pague", feita na propriedade, o
incremento da produção artesanal e da agroindústria, o turismo técnico ou educativo para os que se
interessam pelo tema, a criação de atrativos nas propriedades e em seu entorno, somada à sua inserção
nos roteiros turísticos já existentes, são caminhos que se podem trilhar por meio de ações concretas.
Visto que para alguns agricultores as visitas já ocorrem, talvez pequenos trabalhos possam gerar
grandes impactos na dinamização e ampliação da agricultura orgânica por meio do turismo.
Dois veículos poderão ser de capital importância para esse trabalho: as feiras e os produtos vendidos
nos supermercados. Nas feiras, há um contato freqüente com o consumidor que, por sua vez é, de
modo geral, afinado com a questão ecológica e solidário com o agricultor, solidariedade essa é
explorada pelo Mercado Solidário ou Fair Trade. Nos supermercados, os produtos são embalados; nas
feiras, não. As embalagens dos produtos poderiam veicular mensagens a seus consumidores,
facilitando-lhes a comunicação entre produtos e compradores, uma vez que aqueles que vão a
supermercados tendem a ter características semelhantes às daqueles que vão à feira.
29
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A agricultura orgânica como processo de produção de alimentos ou como atrativo e atividade integrada
ao turismo representa um potencial dos mais importantes para a exploração das propriedades rurais,
principalmente as de base familiar. Assim, afirmou o Técnico Agrícola e proprietário da Bom Fruto8, sr.
Iosmar Mansk:
É o modelo agrícola, indicado para ser praticado nas propriedades onde haja a
necessidade de interação com o turismo rural. A opção pelo sistema orgânico
de produção, para atender o turismo rural é irreversível, pois, vivemos o
momento da informação e, é claro que o turista bem informado não irá querer
expor sua família ao deparar-se, em sua visita, com aplicadores de agrotóxicos e
seus equipamentos (parecidos como astronautas, exibindo placas com dizeres
do tipo “não coma este produto, pois foi pulverizado com defensivo tóxico”);
também não vai querer encontrar a vegetação do leito dos rios toda seca, morta
por herbicida; tampouco lhe interessa contemplar criações de animais onde os
bichos “vegetam” em pequenos espaços, exalando cheiro desagradável, enfim,
a decisão é fácil, segura e rápida para escolher qual modelo agrícola é parceiro
do turismo rural.
Os impactos que a agricultura orgânica proporciona à propriedade – e que têm reflexos diretos no
turismo rural, quando a propriedade está em equilíbrio – são positivos, pois oferecem ao agricultor as
seguintes oportunidades: vender seus produtos na propriedade, mostrar para o visitante que é possível
produzir sem provocar desequilíbrio e informar ao visitante a importância de consumir alimentos sem
uso de agrotóxicos. Pode-se, ainda, proporcionar aos visitantes a oportunidade de participar de todo o
8
Bom Fruto Comércio Ltda. Rua Walter Dubruns, s/nº, Bairro São Luiz, Santa Maria de Jetibá –
ES. E-mail: [email protected].
30
processo de produção em que consiste a colheita e o preparo do alimento no local, o contato com o
meio ambiente, usufruto do ambiente familiar e a participação do dia-a-dia da família do agricultor
(com sua alimentação saudável colhida na hora) e a compra de produtos típicos, entre outras.
É ainda muito comum turistas retornarem das propriedades de agricultura orgânica com diversas
receitas naturais ou dicas ecológicas, de uso também no cotidiano urbano, seja para controle de insetos,
seja para higiene pessoal, limpeza da casa, seja para preparação e uso de plantas medicinais,
consolidando o turismo, também, como atividade solidária.
Impactos negativos da agricultura orgânica no turismo rural são difíceis de se observar. Mas eles podem
acontecer no período de conversão da agricultura convencional para a agricultura orgânica, quando a
propriedade ainda estiver sendo corrigida ou por dificuldade que tenha o agricultor de cumprir alguma
recomendação. Podem acontecer também em conseqüência da excessiva motivação econômica, o que o
leva a deixar de atender às exigências ambientais ou sociais, incorrendo, com isso, na perda da condição
de agricultor orgânico certificado. A agricultura orgânica não é para qualquer agricultor. É possível que
ocorra também impactos caracterizados como sobrecarga à família rural, como diz a Agricultora Gisila
Boening Flegler (Sítio Vale Verde)9: “a família do agricultor terá que se doar incondicionalmente. Os
visitantes terão que ser bem recebidos de domingo a domingo, principalmente nos feriados. A acolhida
ao visitante tem que ser feita pelo agricultor e sua família; não se pode colocar substitutos.”
9
Sítio Vale Verde (produção orgânica e hospedagem). Cabeceira do Rio São Luiz (zona rural),
Santa Maria de Jetibá – ES.
31
32
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35
ANEXO
DESTACANDO SANTA MARIA DE JETIBÁ
Ressaltando a importância da agricultura orgânica para o município de Santa Maria de Jetibá,
transcreve-se a contribuição da sra. Gisila Boening Flegler, esposa do sr. Waldemar Flegler, um dos
pioneiros da agricultura orgânica no Município e, ambos, proprietários do Sítio Vale Verde:
O município de Santa Maria de Jetibá está situado na região Serrana do
Espírito Santo, o que já representa um aspecto importante para o turismo. Essa
região montanhosa – com bastantes matas, vegetação nativa e clima agradável
– tem atrativos naturais que proporcionam ao turista uma excelente opção para
relaxar e descansar. Aliado a todos esses fatores, ainda há propriedades rurais,
algumas próximas da sede, onde se poderá adquirir alimentos saudáveis,
produzidos no sistema orgânico, em equilíbrio com a natureza.
Esse sistema tem causado um grande impacto no município de Santa Maria de Jetibá. Todas as
instituições de ensino do Município exploram o tema nas mais diversas formas, porém o maior impacto
observado é com relação ao turismo. Inúmeras visitas de instituições de ensino de outros Municípios
são agendadas com o intuito de complementar, com a parte prática, o tema que foi iniciado na sala de
aula. O tema também é usado em monografias e constantemente é motivo para entrevistas em
telejornais estadual e nacional, tornando o Município mais conhecido. Além disso, ainda recebe
visitantes de outros países (técnicos, consultores etc.) que vêm aqui para conhecer essa prática e o
trabalho dos agricultores.
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Muitos aspectos destacam-se na produção orgânica, mas o mais importante é a tranqüilidade que o
agricultor e a agricultora têm ao tirar da terra o sustento de sua família sem correr o risco de
intoxicação. Com certeza, esse impacto será percebido num futuro bem próximo, com a crescente
conscientização da importância da agricultura orgânica, o que permitirá que gerações surjam menos
vulneráveis a enfermidades que levam tantos às intermináveis filas de hospitais e outras instituições de
saúde.
É necessário ressaltar a importância da Certificadora Chão Vivo. Esta foi criada a partir da necessidade
de garantir que o produto que o consumidor está levando para sua casa é orgânico, que ele não está
sendo lesado. Com os trabalhos da Chão Vivo, o Município pôde promover diversos cursos,
capacitações, encontros para agricultores e técnicos locais, de outros Municípios e de outros Estados,
ampliando a consciência sobre essa modalidade de produção.
Não há dúvidas de que a agricultura orgânica é um potencial turístico que o Município possui. No
entanto, devemos estar atentos para que essa prática não se torne mera fonte de renda e despreze os
princípios que a caracterizam para, de fato, expressar os valores econômicos, sociais e ambientais de
que a sociedade precisa.
Na nossa propriedade, quando iniciamos o trabalho com agricultura orgânica (na época conhecida
como agricultura alternativa), a preocupação principal era com a intoxicação dos agricultores e seus
filhos. Tínhamos certeza de que os venenos (chamados de remédios pelos agricultores) estavam
levando muitas pessoas aos hospitais. Mas, mesmo assim, o uso continuava. Diziam, e ainda dizem, que
não dá para produzir sem usar veneno. Outra razão era resgatar as práticas usadas pelos nossos avós
que sempre plantaram sem usar esses produtos, até porque não conheciam. Quando necessário,
utilizavam extratos de plantas, cinzas, entre outros. O que não imaginávamos é que esse desafio.
Desafio, sim, porque não havia naquela época nenhuma instituição que tivesse uma receita pronta, para
ser vencido a ponto de se transformar numa atividade que, sem dúvida, traz um grande número de
turistas ao nosso Município e, conseqüentemente, ao nosso sítio principalmente grupos de agricultores,
técnicos e alunos de diversas escolas. A partir do contato direto com o consumidor em feiras na
Grande Vitória, surgiu também a idéia de abrir nossa propriedade para que o turista, além de comprar
seu alimento, pudesse também participar diretamente das atividades e até hospedar-se. Fomos
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animados e estimulados a adequar nossas casas, sempre com a preocupação de manter os hábitos e
costumes familiares, a fim de proporcionar ao turista um ambiente para descanso e com alimentação
saudável, dispondo principalmente da mão-de-obra familiar. Atendemos a um número pequeno de
hóspedes para que possamos de fato atendê-los com qualidade, dando toda atenção que o turista
merece. Assim, com trabalho e dificuldades, mas com muito prazer vamos crescendo.
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Importância e Impacto da Agricultura Orgânica no Turismo