Anais da
Semana de Pedagogia da UEM
ISSN Online: 2316-9435
XX Semana de Pedagogia da UEM
VIII Encontro de Pesquisa em Educação / I Jornada Parfor
GRÊMIOS ESTUDANTIS DE MARINGÁ - HISTÓRIA ORAL E O MOVIMENTO
ESTUDANTIL
PRADO, André Candido
[email protected].
MORELLI, Ailton José
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ - (UEM)
Políticas educacionais e gestão escolar
INTRODUÇÃO
Dentro de um contexto onde a produção historiográfica em relação a infância e
adolescência vem crescendo nas ultimas décadas, a Universidade Estadual de Maringá através
do Programa Multidisciplinar de Estudo, Pesquisa e Defesa dos Direitos da Criança e do
Adolescente (PCA) e o Laboratório de Apoio à Pesquisa Histórica da Infância e Adolescência
(LAPHIA) da Universidade Estadual de Maringá, vem seguindo esta tendência de abordagem,
buscando desenvolver trabalhos de pesquisa em relação a este tema. No entanto uma das
dificuldades encontradas pelos pesquisadores deste objeto é em relação ao escasso material de
trabalho na região de Maringá, de onde surge a ideia de abordar este assunto através da
historia oral, produzindo então fontes para tais pesquisas.
MOVIMENTO ESTUDANTIL ENQUANTO FONTE ORAL
Na pesquisa histórica, seja ela enquanto a ciência do passado ou mesmo como
propunha March Bloch a ciência dos homens no tempo [BLOCH 1941-42, p.32-33 apud LE
GOFF 1924, p. 23], onde busca narrar os acontecimentos vividos pelo homem em seu tempo e
ao longo deste, necessita sempre de uma problematização em torno do que será estudado, os
motivos para se estudar, bem como os meios que serão usados, as fontes que darão
informações e desinformações ao pesquisador, permitindo então uma possível interpretação e
retratação de seu objetivo de pesquisa.
Estas fontes, hoje tidas como todo e qualquer material produzido pelo homem em suas
ações, nem sempre estão presentes para responder as perguntas do historiador, que muitas
vezes fica a mercê de um fragmento, de uma linha escrita, como expõe Moses Finley [1994]
ao se referir sobre as fontes de Historia Antiga. Mas e quando no presente não nos deparamos
com documentação favorável em relação a nosso alvo de pesquisa, sendo que muitas vezes
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seus atores ainda são jovens e em plena construção de suas historias? Desta problemática em
estudar algo contemporâneo e com vida, mas que deixa a desejar em seus registros de
atividades e ações surge a historia oral, como uma espécie de solução para pesquisar aqueles
que ainda estão vivos, mesmo que na memoria de outrem.
Com isto parte a possibilidade de o profissional de historia confeccionar seu
documento, pois como expõe Le Goff ao citar Samaran [1996 LE GOFF p. 539] , de que “não
existe historia sem documentos”, mas este conceito de documentos, ampliou e passou a
considerar todo e qualquer meio que possa contar algo sobre o objetivado da pesquisa,
ampliando então os horizontes do historiador.
Partindo desta problemática em relação às fontes de pesquisa, o Laboratório de Apoio
as Pesquisas Históricas da Criança e Adolescente (LAPHIA) da Universidade Estadual de
Maringá, tem buscado reunir materiais que possam servir de material para pesquisas em
relação ao menor em Maringá. Mas como reunir dados de um grupo social que dificilmente
tem preservado na produção de documentos em relação as suas ações enquanto seres sociais e
atuantes no meio onde vivem? Disto surge a historia oral como possibilidade de ampliar as
limitações em relação a historia dos jovens, pois estes em sua maioria ainda estão presentes
para nos relatar suas vivencias, possibilitando usar o agente histórico enquanto fonte, pois em
Maringá esta historia não é anterior à década de 1950.
Portanto, esta historia pode contar com o próprio homem enquanto fonte histórica de
modo permanente, através da historia oral, onde o individuo pode se tornar uma espécie de
fonte perpetua ao relatar suas historia a uma mídia, que poderá ser preservada
indefinidamente para uma posterior analise, seja esta sob uma também indefinida perspectiva
e intencionalidade.
Diante disto, surgem os museus de historia oral, algo que vem se disseminando enquanto um
meio de preservar as historias individuas, que poderão se tornar a fontes para as pesquisas
num futuro indeterminado, e cujo foco não se pode necessariamente determinar no momento
em que se produz a entrevista com o depoente, visando muitas vezes:
contribuir com a democratização da memória social reconhecendo o valor da
história de vida de toda e qualquer pessoa. Ao estimular que as pessoas, por
si mesmas, contem e ouçam suas histórias de vida,o Museu da Pessoa busca
colaborar com o desenvolvimento deuma sociedade que reconhece e
valoriza o outro. (WORCMAN, 2006 p. 199)
Nesta linha, se permite obter fonte histórica de diversos segmentos de pessoas, não só
obtendo historias de personalidades, mas permitindo ao historiador trabalhar com maiores
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possibilidades de pesquisa, outros níveis de atuação, como relata Le Goff que a historia
contemporânea permite dar voz aos esquecidos.
Estes esquecidos são grupos com pouca relevância histórica, por não possuir relatos ou
documentações consideráveis para um possível trabalho metodológico amplo em relação a
eles, sendo estes não necessariamente como as minorias medievais, período muito pesquisado
por Le Goff, hereges, bruxos e judeus; homossexuais, prostitutas e leprosos, possuem grande
quantidade relatos e documentação referente a eles feitos pela igreja, principalmente pela
inquisição desta instituição [RICHARDS, 1993].
Estes esquecidos não necessariamente são minorias, ainda assim podem deixar de
possuir documentação referente à sua presença histórica, haja vista que a produção de
documentos e relatos, ou mesmo de outros meios materiais para uma possível pesquisa
histórica, depende muito de sua importância social e econômica no meio onde vivem, sendo
então estes esquecidos, aos quais podem se considerar mulheres e crianças, relegados a um
segundo plano na constituição de fontes históricas para a posteridade, por terem pouca
relevância social e econômica ate o século XX, ou mesmo hoje no século XXI, e seja na
Europa ou no Brasil, a historia das mulheres e crianças era algo posto ao segundo plano, isto
por sua pouca importância social.
Se a documentação oficial pouco informa sobre a mulher, quase esquecida, a
criança é mencionada apenas marginalmente, e somente quando se torna
coadjuvante ou participe de uma ação. A importância da criança é vista
como secundaria, os assuntos que interessam são o fisco, os problemas e
tudo aquilo que parecia afetar diretamente os governantes. O fato de as
crianças sobreviverem no momento do nascimento ou na primeira infância
não chama propriamente a atenção.(SCARANO, 1999, pg 108)
Algo que tende a mudar no mundo contemporâneo por estes passarem a se destacar e
ter uma maior importância social, ainda que de maneira muitas vezes tímida, mas passam a
deixar cada vez mais sua marca no mundo onde vivem, permitindo então um maior estudo,
racionalização e sistematização destes que deixam de ser esquecidos na historia
contemporânea, como expõe Le Goff [1996].
Um dos meios para a problematização, mas principalmente a confecção de meios para
a produção historiográfica em relação a estes esquecidos, como já mencionado, é a historia
oral, que permite dar voz a estes, possibilitando então um maior horizonte a produção
historiográfica em relação a eles, partindo do pressuposto que toda e qualquer pessoa possa
ser entrevistada e sistematizada através de um conjunto de entrevistas ou mesmo de seu
depoimento singularizado, dando material ao profissional de historia.
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Por tanto surge ao historiador à possibilidade não só de estudar e analisar uma fonte, mas
principalmente a possibilidade de produzir esta para que possa ser trabalhada por outro
profissional, em um tempo e sob uma perspectiva impensada por aquele que atuou na
produção do material que servirá de base a pesquisa posterior, assim:
a história oral apenas pode ser empregada em pesquisas sobre temas
contemporâneos, ocorridos em um passado não muito remoto, isto é, que a
memória dos seres humanos alcance, para que se possa entrevistar pessoas
que dele participaram, seja como atores, seja como testemunhas. É claro que,
com o passar do tempo, as entrevistas assim produzidas poderão servir de
fontes de consulta para pesquisas sobre temas não contemporâneos
(ALBERTI, 1989: 4.
Dentro destas perspectivas de produção e/ou catalogação de possíveis fontes, surgem
os conceitos que fazem surgir os museus da pessoa, que buscam coletar entrevistas de pessoas
comuns da sociedade e arquiva-las pra que possam servir de material para pesquisas futuras,
permitindo então eliminar ao máximo possível a falta de material para pesquisa, ainda que
cada vez mais o homem moderno se torne um produtor infindável de materiais para pesquisa.
Tendo isto, o LAPHIA busca algo similar, coletando e produzindo fontes para uma posterior
possível pesquisa em relação a crianças e adolescentes na região de Maringá, sistematizando
matérias que se relacionem a estes ou que sejam produzidos pelas suas ações, bem como
coletando entrevistas destes.
Abrindo então a possibilidade para o desenvolvimento de meu trabalho de pesquisa na
confecção de um acervo oral referente à atuação de crianças e adolescentes enquanto agentes
dos movimentos estudantis, entrevistando então aqueles que fizeram parte de agremiações
estudantis e atuaram em seus círculos sociais enquanto lideres. Estes, ainda que de relevância
social em seu meio jovem, são indivíduos que pouco ou nada produzem documentos para
deixarem a posteridade, dificultando então pesquisas que visem analisar suas atuações, ou
qualquer outro elemento presente em suas atuações.
Surge então a historia oral enquanto uma forma de ser produzir conhecimento em
relação a estes agentes históricos, crianças e jovens que atuam em seu meio, mas que não
deixam registros substanciais de sua atuação. Parte então a necessidade de confeccionar algo
para uma possível analise destes, tendo como possibilidade entrevista-los e sistematizar suas
entrevistas enquanto fonte histórica surgindo então um acervo oral de suas vivencias. Tendo
isto como resposta a uma indagação sobre esta produção historiográfica, história do que?
Como? Por quê? [XÊNIA, p.5]
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A partir disto, objetivou-se trabalhar com aqueles que atuaram no movimento
estudantil em Maringá, partindo dos contatos conhecidos do período entre 2008 e 2010, bem
como com aqueles que ouviu-se falar enquanto agentes anteriores neste meio, hoje adultos,
mas que já foram adolescentes que atuavam por idealizações ou mesmo por qualquer outro
motivo plural ou especifico a algum deles.
O principal motivo que me ateve aos personagens dos quais me relacionei em minha
infância e adolescência é quanto à dificuldade de contatar ou mesmo de determinar quem
foram os agentes estudantis nos colégios de Maringá, por não haver registros sobre estes, ou
mesmo pela escassa sistematização daquilo que existe, não permitindo determinar quem atuou
para uma possível localização destes. Então adotei o meio de começar a entrevistar aqueles
mais próximos, objetivando através destes determinar outros possíveis depoentes.
Como na afirmação tida na entrevista de Paulo Henrique Mai, sobre uma espécie de
volatilidade dos estudantes que participam do movimento estudantil:
O movimento estudantil tipo, ele não tem uma coisa fixa, você não vai
encontrar a pessoa onde ela estava a coisa flui muito rápido, a galera entra e
no final do ensino médio, já conclui a escola, começa a faculdade, a
trabalhar, então é algo bem rápido, as pessoas não costumar ficar mais que
dois anos praticando. (Paulo Henrique Mai)
Portanto, surge à dificuldade de se localizar e determinar estes estudantes, seja pela
mobilidade conferida a eles, que mudam de cidade, que se tornam adultos e passam a ter
responsabilidades e muitas vezes vão construir suas vidas em outros locais, ou mesmo pela
escassa documentação que produzem, pelo pouco de material que deixam para uma possível
localização dos atores deste movimento. Outro ponto, é que por ser algo composto por
estudantes, não se tem os hábitos e a formalidades de produzir documentos e registros nas
agremiações, ainda que muitas vezes existam atas, panfletos, e circulares, grande parte do
pouco que é produzido por eles caba se perdendo em um curto período de tempo.
Logo, a objetivação deste trabalho, foi o de entrevistar aqueles que quando jovens e
adolescentes eram lideres estudantis em seus meios, localizando entes através de uma espécie
de corrente de relações pessoais, partindo de meus conhecidos atores estudantis, para aqueles
que eles pudessem conhecer em suas relações pessoais.
Tendo isto como base, elegi Franciele Cruz como a primeira pessoa a ser entrevistada,
tendo em vista a existência de uma proximidade tanto comigo, quanto com outras pessoas que
militaram na cidade. Tendo sido presidente da União Maringaense dos Estudantes
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Secundaristas (UMES) no ano de 2008, momento ao qual a conheci, bem como esteve
presente na eleição do grêmio estudantil em 2007 do Colégio Estadual Gastão Vidigal em
Maringá, colégio onde ela estudava e começou a se envolver com a agremiação estudantil.
Neste ponto, com o auxilio de Francielle Cruz, comecei a levantar os nomes de possíveis
depoentes, pessoas as quais conhecemos no meio estudantil, chegando então a seguinte lista:
Lucas Andrade, foi eleito vice-presidente da UMES em 2008 junto com a Franciele
Cruz, militando conosco neste ano.
Camila Salinas, também compôs a diretoria da UMES em 2008, mas não tive contato
com ela por eu ter entrado na entidade em um momento ao qual ela se afastou.
Marcela, sobrenome desconhecido por nós e que também foi eleita em 2008 para a
UMES, sendo que não tive contato com ela.
Raiana, fez parte da diretoria da UMES também em 2008 e não me recordo se cheguei
a conhece-la.
Lennon Madureira, eleito em 2008 para a diretoria da UMES, mas alguém que não
tive contato.
José Papinelli, foi presidente UMES em 2007 e muito citado pelos militantes
estudantis.
Arthur Miranda, atuou na UMES e grande personalidade para o movimento estudantil,
não só em Maringá como no estado e militando em diversas entidades.
Nadja Gabriela Campana, fez parte da direção da UMES.
Igor Borck, militante estudantil do Colégio Byington Jr. em Maringá e fez parte da
UMES.
Fernanda Paco, foi presidente do grêmio do Branca da Motta Fernandes em 2008.
Sarah Marques, estudante do Colégio Adventista de Maringá e que se interessava por
agremiações estudantis.
Camila Romano, militante do Instituto de Educação e que participou da UMES.
André Aguiar, teria sido Presidente da UMES.
Carlos Bonfim, atual membro do conselho Tutelar e teria sido presidente da UMES.
EnioVerri, relatado pela Franciele enquanto alguém que participou do movimento
estudantil quando jovem.
Mario Verri, também militante estudantil.
Rafael Crozatti, foi presidente do Grêmio Anita Garibaldi do ColégioGastão Vidigal e
teria montado uma agremiação de estudantes paralela a UMES enquanto uma espécie de
entidade para reunir grêmios estudantis.
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Rafael (sobrenome desconhecido), presidente do grêmio do CAP-UEM em 2008.
André Guerra participou do grêmio do Instituto de Educação em 2008.
Mayara pulga Wenclav , militou no grêmio do Gastão Vidigal e foi para a UMES,
tendo participado de outras organizações.
Paulo Moreira Rosa, militante estudantil de Maringá que também participou de outras
entidades estudantis.
Sara Almeida, foi eleita presidente do grêmio do Colégio Estadual João XXIII em
2007.
Guilherme Zubatch, fez parte do grêmio do Joao XXIII em 2007.
Paulo Henrique May, militante estudantil que também chegou a fazer parte da UMES.
Ítalo Maroneze, fez parte do grêmio do Instituto de Educação.
Estes possíveis depoentes, foram pessoas que conheci durante o período em que estive
participando do movimento estudantil em Maringá, seja no grêmio do colégio estadual João
XXIII, ou mesmo na UMES, onde participava auxiliando a Francielle em divulgar o
movimento secundarista, principalmente em visitas a colégios para tentar imbuir nos
estudantes a ideia de agremiação para que fossem mais atuantes na vida escolar.
Partindo destes nomes, pessoas as quais em sua maioria não mantive contato após
deixar o movimento secundarista, resolvi como sendo a melhor forma de manter contato com
estes, o uso das redes sociais, sendo que então passei a contata-los pelo Facebook, uma forma
eficiente de se localizar as pessoas e manter contato com elas.
Então me deparei com outra problemática, muitos daqueles que atuaram no
movimento estudantil em Maringá, hoje trabalham ou mesmo residem em outras localidades,
muitas vezes fora do estado ou pais, então como entrevistar essas pessoas que hoje estão
espalhadas por diversas regiões? A principio pensei em solicitar um relato destes por e-mail,
algo que verifiquei inviável, pelas dificuldades das pessoas em escreverem suas vivencias,
passei então a fazer as entrevistas com estes por meio de telefone, gravando a ligação e então
transcrevendo-a.
Outra dificuldade encontrada foi quanto ao desinteresse de alguns em relatar suas
experiências, considerando suas atuações no movimento irrisórias, sem grandes historia s para
relatar nas entrevistas, ou mesmo desvalorizando suas atuações e o movimento como um todo,
focando então em suas vidas atuais e não se permitindo usar seu tempo para serem
entrevistados por considerarem sem algo significativo a relatar.
Quanto a aqueles entrevistados, conduzi entrevistas com perguntas soltas, por serem
pessoas com historias particulares umas as outras, mas de modo geral indagando sobre onde
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surgiu suas considerações de grêmio, suas influencias para começar a se envolver neste meio,
em quais colégios estudou e onde atuou como um líder estudantil; com quais pessoas militou;
as influencias do meio em suas atividades: pais, professores, pedagogos, colegas e diretores
em seu relacionamento; as atividades desenvolvidas por eles na época de grêmio; quais as
dificuldades encontradas na militância por eles e pelo todo; quais as influencias politicas e
possíveis auxílios de outras entidades aos grupos estudantis e quais suas atividades atuais.
Diante disto, surgiram relatos da realidade do movimento estudantil em Maringá, qual
a forma de militância estudantil há na cidade, suas características e influencias. Bem como
toda historia contemporânea e feita por jovens, realidades que surgem aos nossos enquanto
uma tendência social, nos modos de pensar daqueles que serão possíveis lideres políticos,
bem como a forma de se agremiar, a exemplo no relato também de Paulo Henrique May, onde
ele apresentou uma tendência surgida em 2010 de os jovens se organizarem por meio de redes
sociais na internet:
o que tem tido é dentro dos próprios colégios, surgindo movimentos,
surgindo pela própria internet, pelo Facebook, movimentos como do dia do
basta, teve uma manifestação, por exemplo, que a umes participou, para
aumento de vagas na UEM, no ensino superior, ela foi quase toda feita
dentro dos colégios pela internet mesmo. (Paulo Henrique May)
Então se consegue obter por meio destas entrevistas, tendências de organização dos
jovens, como esta apresentada em que os jovens começaram a se organizar por intermédio de
redes sociais para uma manifestação em conjunto. Com isto abre-se uma nova possibilidade
de agremiação, agora de certa forma independente ao ambiente e as deliberações da
administração escolar, mas que consiste no agrupamento de alunos de uma ou de varias
instituições de ensino para um bem comum a eles.
Algo em relação às entrevistas que vale ser ressalvado, é que consiste em pessoas que
são, foram ou no mínimo possuíram tendência politica, e por tanto defendiam seus ideais, suas
doutrinas e seus quereres políticos. A história oral se baseia muito na memoria do individuo, e
esta, é sempre uma construção feita no presente a partir daquilo ocorrido no passado, o que
envolve possíveis tendências de interpretação que uma pessoa possa vir a ter. Segundo Le
Goff, a memória é o atributo de guardar certas informações, característica que se refere a um
conjunto de funções psíquicas que permite ao indivíduo modernizar impressões ou
informações passadas, ou reinterpretadas.
Como na entrevista com Mayara Pulga Wenclav, que gravei no ultimo mês de julho,
momento em que ocorriam manifestações populares por todo o país, onde em diversos trechos
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de sua entrevista se pode notar claramente em suas narrações, relação com o momento
politico vivido no Brasil, como quando indago se ela se relacionava com alguma entidade
politica na época em que participava do movimento estudantil:
de uma maneira geral as organizações estudantis, a UJS união do jovem socialista
que é uma entidade que não necessariamente o braço de um partido, mas foi uma
entidade criada para os jovens que não tinham nenhuma proximidade com partido
pudessem se filiar a uma entidade organizada politica, não apolítica, esse discurso
laranja de apolítica é engraçado. (Mayara Pulga Wenclav)
Onde ela critica o discurso apolítico em voga no Brasil em julho de 2013, momento
em que a entrevisto. Com isto, fica clara a influencia do momento atual, das emoções em que
o entrevistado esta vivendo para influenciar na maneira como ele relata o passado.
Contudo, considero produtivas as entrevistas feitas com pessoas que militaram no movimento
estudantil, permitindo destas fazer analises ou mesmo partir para entrevistas mais concisas em
algum foco em especial que o historiador queira trabalhar, ainda que estas retratem um pouco
da realidade de como se dava o movimento estudantil na cidade de Maringá na década dos
anos 1998 a 2010, período em que as entrevistas possuem relatos.
Uma particularidade comum a todos os entrevistados, é sua relação com a UMES, pois
foi o ponto de partida para a localização dos militantes estudantis, sendo que a maioria deles
começaram sua trajetória no movimento através dos grêmios em seus colégios e então
atuando também na entidade que congrega os grêmios estudantis da cidade como um todo.
Mas uma particularidade deste grupo é sua ligação com a União Jovem Socialista
(UJS), pois esta é uma entidade de jovens que dá apoio a organização dos estudantes em torno
da UMES, o que acaba congregando em volta da entidade estudantes mais alinhados com a
UJS e mantendo afastados aqueles que discordam desta ou que participem de partidos
políticos diversos.
Uma dificuldade encontrada por mim é quanto a eu ter pertencido a este movimento,
isto criou certa segmentação dos entrevistados, pois acabaram sendo em sua maioria alinhados
com o grupo ao qual eu fiz parte, o da UMES, pois muitos dos que procurei e que eu os
reconhecia enquanto parte de outros grupos estudantis não ligados a UMES e a UJS acabavam
se negando a prestar depoimento ou mesmo em manter contato.
Assim surge mais uma particularidade da historia oral, a influencia que o entrevistado
e que o entrevistador pode exercer sobre a produção de suas fontes, assim como o historiador
pode ler um documento sob um olhar mais ou menos tendencioso, no caso da historia oral
Universidade Estadual de Maringá, 17 a 20 de setembro de 2013.
aquele que é o documento pode vir a se negar em prestar as informações que o profissional
possa estar buscando.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir desta pesquisa, o objetivo almejado de buscar fontes orais para tornar viável
uma pesquisa sobre o grêmio estudantil na cidade de Maringá, se concretizou, permitindo a
partir deste trabalho base, deter um pouco de informações sobre a historia da infância e da
juventude da cidade, a partir destes dados relatados nas entrevistas, pode-se desenvolver
trabalhos de pesquisa, bem como reunir novos documentos ou mesmo novas fontes orais.
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Getúlio
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Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde30092009-143647/>.
Acesso em: 2013-01-23.
FREITAS, Sônia Maria de. História oral: possibilidades e procedimentos.
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LIMA, Ruth Ribeiro de & ARRUDA, Cíntia da Silva. Uma mulher em seu tempo:
Célia Perioto Antunes. In: ARIAS NETO, José Miguel & DE BONI, Maria Ignês Mancini &
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WORCMAN, Karen; VASQUEZ, Jesus Pereira (org). História falada: memória, rede
e mudança social
São Paulo. Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2006.
Universidade Estadual de Maringá, 17 a 20 de setembro de 2013.
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