A EXPERIÊNCIA DA PARCERIA ENTRE O FNDE E A CENTCOOP NA DESTINAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DA REFORMA PREDIAL DO ED. SEDE EM BRASÍLIA Leomir Ferreira de Araujo1 RESUMO: Tem-se o objetivo de apresentar uma prática adotada pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) na coleta seletiva, tratamento e destinação dos resíduos sólidos da reforma predial do edifício sede desta Autarquia, que envolveu demolição e reconstrução civil, elétrica, lógica e hidráulica. Considerando a responsabilidade social coporativa e as externalidades que envolvem o cenário de construções civis, buscou-se a elaboração de boa prática orientada por instrumentos normativos com caráter ambiental. Entre elas a "Agenda 21" como programa promotor de um padrão diferenciado de desenvolvimento ambientalmente racional, haja vista permear entre métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica; a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente nº 307, 5 de junho de 2002, que estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão destes resíduos; bem como a política de reciclagem na Administração Pública Federal, a partir do Decreto 5.940, de 25 de outubro de 2006, que viabiliza o planejamento, formatação, articulação, execução e controle da coleta seletiva nos órgãos e entes da Administração Pública Federal. Nesta via, com o Termo de compromisso assinado entre o FNDE e a Central dos Catadores do Distrito Federal (CENTCOOP), com metodologia de contenção da externalidade negativa (impacto ambiental) e promoção da externalidade positiva (empoderamento dos catadores, redução de custos nas operações de demolição, deslocamento e tratamento dos resíduos, redução de resíduos na fonte geradora e promoção da logística reversa dos insumos) com o objetivo de promover alto grau de controle social, sustentabilidade e transparência à iniciativa da Administração Pública quanto aos seus investimentos, bem como o comprometimento junto ao plano de logística da construtora executora da reforma citada. Com base nos parâmetros adotados pela Comissão de Coleta Seletiva do FNDE, a tomada de decisão em cada fase de amadurecimento e consolidação da logística envolvida contou com a participação representatividade das cooperativas do Distrito Federal. No intuito de alcançar as expectativas em relação aos critérios utilizados, a metodologia aplicada trouxe bons resultados, por comprovar que desenvolvimento sustentável, responsabilidade social pós-consumo compartilhada entre o Poder Público, fornecedores e os catadores e sustentabilidade empresarial são conceitos que convergem para o mesmo objetivo: integrar os aspectos econômicos, sociais e ecológicos em seus investimentos. PALAVRAS-CHAVE: Gestão de Resíduos; Reforma Predial; Coleta Seletiva; Cooperativa. ABSTRACT: The objective of presenting a practice adopted by the National Fund for Education Development (ENDF) in the selective collection, treatment and disposal of solid waste reform of the headquarters building of this Autarchy, which involved demolition and rebuilding civil, electrical, logical and hydraulics. Considering the social responsibility corporative and externalities that involve scenario civil constructions, we sought the development of good practice guided by normative instruments with environmental character. Among them the "Agenda 21" as a program sponsor of a different pattern of development environmentally sound, given permeate between methods of environmental protection, social justice and economic efficiency, the resolution of the National Council of the Environment nº 307, June 5, 2002 establishing guidelines, criteria and 1 Servidor do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, SBS Quasdra 02, Bloco F, Ed. FNDE, Brasília, Brasil, (61) 20224079, Leomir.araujo@ fnde.gov.br III Conferência Internacional de Gestão de Resíduos Sólidos Página 1 procedures for the management of these wastes; well as recycling policy in the Federal Public Administration, from the Decree 5940 of October 25, 2006, which enables the planning, formatting, coordination, execution and control of selective organs and entities of the Federal Public Administration. In this way, the term of commitment signed between ENDF and the Central Federal District of Collectors (CENTCOOP) methodology with containment of negative externality (environmental impact) and promoting positive externality (empowerment of collectors, cost reduction in operations demolition, displacement and waste treatment, waste reduction at source and promoting reverse logistics inputs) in order to promote a high degree of social control, sustainability and transparency to the initiative of the Public Administration as its investment and commitment together to plan logistics contractor executing the reform cited. Based on the parameters adopted by the Commission Selective Collection of ENDF, decision making at each stage of maturation and consolidation of the logistics involved with the participation of cooperatives representative of the Federal District. In order to achieve the expectations in relation to the criteria used, the methodology has brought good results, proving that sustainable development, social responsibility post-consumer shared between government, suppliers and collectors and corporate sustainability are concepts that converge to the same goal: to integrate the economic, social and ecological in their investments. KEYWORDS: Waste Management, Land Reform; Selective Collection; Cooperative. 1 INTRODUÇÃO A sustentabilidade e responsabilidade ambiental têm como fator como a interdisciplinariedade. Essa é uma das razões por serem encontradas em um espaço confortavelmente prática no que tange à rotina das construções civis, atendendo às demandas de cada novo projeto. Como oportunidade, têm a superação diária, na inovação de novas técnicas e abarcando novos conceitos, estimular ações que tornem a busca pela excelência uma pretenção dos tomadores de decisão, principalmente pela preocupação com as gerações futuras, com o adendo da visível vantagem competitiva propiciada por um marketing cada vez mais requisitado pelos parceiros e clientes envolvidos. Neste sentido, pretende-se demonstrar a importância de fazer com que gastos diários com toneladas de materiais, transformem resíduos em oportunidade de inclusão social, em inovação sobre qualidade de processos e métodos mais eficientes – que reduzem a produção de resíduos – com a consciência e a sobriedade necessária para reconhecer que o alcance de produção nula de resíduos é impossível. Assim, essa iniciativa visa demonstrar que o resíduo sólido de construção e demolição, responsável por impacto ambiental e demandante por área pública para a respectiva gestão, precisa contar com ações sustentáveis da Administração Pública enquanto ente estimuladora e promotora exemplar nas suas obras. E uma das vias legalmente constituidas é a reciclagem a partir de parceria com cooperaticas de catadores, como o exemplo que será exposto, executado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Para isso, utilizamos o estudo de caso como critério metodológico, dada a experiência de sucesso da Autarquia Federal com a boa prática a ser apresentada. A partir da análise da reciclagem dos resíduos sólidos em obras públicas no cenário atual, consignaremos os principais fundamentos legais expressos sobre o tema, a inclusão social afetada pela participação dos agentes de reciclagem e a utilização de técnicas como a logística reversa que possibilitam a inovação de práticas que façam da sustentabilidade uma força de arranque para que seja vital a distribuição de renda de bilhões de reais todos os anos, hoje adormecidos em desperdício, bem como a motivação dada aos gestores para que a indústria se interesse continuamente pela responsabilidade ambiental enquanto direcionador estratégico. III Conferência Internacional de Gestão de Resíduos Sólidos Página 2 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 A gestão e o gerenciamento de resíduos sólidos no Brasil Tratar de gestão de resíduos sólidos é abarcar instituições políticas, instrumentos legais e estratégias de ação em um suporte tecnológico e operacional para o alcance da melhor tomada de decisão para este fim (LEITE, 2003). Ainda, transitar por conceitos como coleta seletiva, que tem seu surgimento oficial na Itália em 1941, precisa-se de cautela para consignar diferentes visões teóricas e experiências para o campo do conhecimento. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 1993), NBR 12980, define a coleta seletiva como: “Coleta que remove os resíduos previamente separados pelo gerador, tais como papéis, latas, vidros e outros”. Esta tem os objetivos que envolvem a participação cidadã no processo. No entanto, as de estratégias de separação dos recicláveis não atendem à demanda de separação, por falta da colaboração de aspectos de crítico interesse, a cobertura do sistema de coleta aplicado e a atividade de separação dos produtores de resíduos (FURLAN, 2007). Neste sentido, é configurada a necessidade de um sistema de produção que atenda à preservação sustentável do desenvolvimento, com tecnologia compatível e padrão internacional (FURLAN, 2007). É por este ponto de observação que destacamos o que é feito, por exemplo, na indústria de alumínio, papel ou plástico: a insatisfação das práticas tradicionais, geraram aplicação e pesquisa por métodos alternativos que possibilitaram melhor aproveitamento dos insumos e redução do impacto ambiental. Além disso, maiores investimentos e articulação política em relação à mobilização das comunidades locais é fundamental no enfrentamento dos problemas ambientais e de saúde pública causados pelos resíduos sólidos, à medida que geração de renda e inclusão social se associam neste projeto (CORNIERI, 2011). Essa solução se coaduna com a proposta de gestão integrada – segundo Besen (2011) – que se destina à redução de resíduos na fonte geradora, reciclagem de matérias-primas, redução dos impactos causados pelo aterramento de resíduos, geração de renda e inclusão social de pessoas antes marginalizadas. Já a Política Nacional de Resíduos Sólidos conceitua gestão integrada de resíduos sólidos como sendo o conjunto de ações voltadas para a busca de soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável. Besen (2011) considera que a partir desta Política Nacional de Resíduos Sólidos é possível definir um modelo de referência que lance o desafio aos catadores como oportunidade de espaço na cadeia produtiva. Em sintonia legal, a Resolução CONAMA n° 275/2001 reconhece a importância da reciclagem de resíduos e do incentivo à coleta seletiva (CORNIERI, 2011). Tem-se o cuidade de explicitar que a separação do lixo entre recicláveis e não-recicláveis é importante, “pois os primeiros podem ser reaproveitados a partir da coleta seletiva e encaminhamento às empresas recicladoras, enquanto o não-reciclável, com considerável parcela de matéria orgânica, pode ser degradado para a geração de composto orgânico, a ser aplicado no solo, melhorando suas características.” (CORNIERI, 2011). 2.2 A sustentabilidade no Brasil e no mundo Com a Declaração de Política de 2002 da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em Johannesburg, conhecemos o conceito de Desenvolvimento Sustentável como sendo “três pilares interdependentes e mutuamente sustentadores”: desenvolvimento econômico, desenvolvimento social e proteção ambiental. Fruto desse trabalho, a Agenda 21, programa de ação de desenvolvimento ambiental, propaga a junção entre justiça social e eficiência econômica para o desenvolvimento sustentável. Esses marcos deram espaço a ações no campo empresarial que associaram a proteção a ecossistemas aos produtos e serviços de seus negócios ecologicamente corretos. É um conceito que busca ao mesmo tempo reduzir os III Conferência Internacional de Gestão de Resíduos Sólidos Página 3 custos empresariais e eliminar, durante todo o processamento dos produtos e serviços, o impacto negativo das operações empresariais sobre os ecossistemas (VELLANI, 2007). Assim, uma empresa pode agregar a sustentabilidade de forma estratégica, como forma de encontrar soluções lucrativas e maior visibilidade pelo mercado externo (VELLANI, 2007). Isso é reforçado por estudos que apontam a vantajosidade empresarial a partir da manutenção de ações sustentáveis no negócio. Principalmente porque pode resíduos podem prejudicar o próprio fluxo de atividades a médio prazo. 2.3 Os resíduos sólidos e a sustentabilidade na construção civil Conforme expõe Besen (2011), o Conselho Internacional para a Pesquisa e Inovação em Construção (CIB) define a construção sustentável como processo integral para reequilibrar o meio ambiente, conformando à dignidade humana e acesso igualitário. Para isso, menciona a necessidade de pré-condições, como a formalidade, a busca pela inovação (legal ou experimental) e ação sobre o meio. Segundo a Resolução 307 do CONAMA, resíduos da construção civil são aqueles provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil e os resultantes da preparação e escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solo, rocha, madeira, forro, argamassa, gesso, telha, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica, etc., comumente chamados de entulho de obra, caliça ou metralha. Assim, a viabilização da coleta seletiva envolve o desenvolvimento de um Plano de Gerenciamento de Resíduos em cada novo projeto, incluindo capacitação, treinamento, conscientização e controle das rotinas no fluxo de atividades. Essa promoção gera em torno de 160.000 toneladas de resíduos sólidos urbanos (ABRELPE, 2009) diariamente. A composição os resíduos sólidos urbanos brasileiros, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza e Resíduos Especiais (ABRELPE, 2006) é de 57,41% de matéria orgânica, tais como sobras de alimentos, alimentos deteriorados, lixo de banheiro e papel, 16,49% de plástico, 13,16% de papel e papelão, 2,34% de vidro, 1,56% de madeira (BESEN, 2011). Quando se adentra a seara dos agentes de reciclagem, Besen (2011), expõe que existe uma “interdependência entre saúde, coleta seletiva e sustentabilidade, na perspectiva dos determinantes sociais da saúde”. Por meio de um sistema gerador de oportunidade, torna-se possível contribuir com a auto-estima do público dependente de assistência do Estado, retirando da informalidade conhecida associados e cooperados por todo o país. Com tantas ameaças, um passo para o fortalecimento da rede de colaboradores é essencial para gerar benefícios e empoderamento. 2.4 A logística reversa como ferramenta técnica da sustentabilidade Termo usado há décadas, a logística fundamenta seu uso para profissionais civis, militares, com interesse coletivo ou pessoal, pois tem em sua poderosa efetividade a vantagem de disponibilizar recursos escassos em demandas infinitas, por definição. Além disso, o desafio atual de atender ao mercado em tempo e com qualidade, na quantidade demanda é o responsável pela célere busca de melhor gerenciamento de materiais (PIASSI, 2008). De outro lado, o fluxo reverso, conhecido como logística reversa, tem sua técnica particularmente identificada e, com maior destaque, tem chamado a atenção por conta do conceito sustentável que dá suporte: o de resíduos, custos e energia. Com isso, a logística reversa propõe às empresas uma vantajosidade estratégica, em suas aquisições, transportes, armazenamentos e entregas, pois valoriza o conceito institucional e gera economia no investimento a longo prazo. É uma arte, segundo Leite (2003), que agrega planejamento, fluxos, controle e retorno à cadeia de suprimento de origem, com o compromisso de “recuperar valor e disposição adequada”. III Conferência Internacional de Gestão de Resíduos Sólidos Página 4 Assim, a logística reversa atende à demandas não assumidas pela tradicional ferramenta, entre elas a “reutilização dos produtos, recuperação de produtos e reciclagem de materiais – que podem significar a redução de recursos em um sistema e representar um caminho para retorno e reuso de resíduos gerados” (PIASSI, 2008). Os produtos de pós-consumo poderão se originar de bens duráveis ou descartáveis e fluir por canais reversos de reuso, desmanche, reciclagem até a destinação final (LEITE, 2003). Assim, Leite (2003), apresenta a logística reversa pós-consumo, como ferramenta ainda mais poderosa que planeja, opera e controla o fluxo de retorno de produtos, peças ou componentes que foram usados pelos consumidores e devem ser reaproveitados quer na remanufatura quer na reciclagem. Isso empodera a empresa à competitivdade e à sustentabilidade. Conforme preceitua: “Empresas modernas utilizam-se da Logística Reversa, diretamente ou por meio de terceirizações com empresas especializadas, como forma de ganho de competitividade no mercado”, conforme os dados na Tabela 2.1, extraída de pesquisa realizada nos Estados Unidos em empresas de diversos setores (LEITE, 2003, p. 24). 2.5 Os agentes de reciclagem e as políticas públicas Os agentes de reciclagem, mais conhecidos como catadores de material reciclável, trabalham nas ruas, por meio de cooperativas em parte das vezes, na busca de trabalho, inclusão social e dignididade, o que colabora fundamentalmente para a coleta seletiva (MATOS, 2012). Considerando este cenário, a cooperativa em hipótese é uma sociedade independente em sua gestão, com características microempresariais, cujas ações são dispostas de forma a integrar coleta seletiva, comércio de resíduos recicláveis e destinação social exclusivamente. Enquanto instrumento de apoio social, “as principais vantagens da existência de cooperativas de catadores são a geração de emprego e renda; o reconhecimento da profissão dos catadores, que muitas vezes são marginalizados pela sociedade; a organização do trabalho dos catadores nas ruas e a promoção da auto-estima e a cidadania” (MATOS, 2012). Muitas vezes, essa política não é melhor acompanhada com a justificativa de custos altos. No entanto, não se considera o que a doutrina aponta: redução de consumos de matéria-prima, água, energia, emissão de gases e geração de emprego em longo prazo. Assim, apesar de estes custos serem mais expressivos quando a comparação é feita entre o sistema de coleta tradicional e o sistema de coleta seletiva, a visão holística permite concluir que os resultados gerenciais são superiores e em maior alcance de interessados, no caso da coleta seletiva. Para o sucesso desta ação, a política de reciclagem da administração pública federal se vale de algumas etapas, entre elas: formação de comissão de coleta seletiva, realização de diagnóstico, planejamento, contato com os catadores, execução e controle das atividades. 3 METODOLOGIA O escopo deste trabalho se identificou com a utilização do estudo de caso como método de pesquisa dadas as vantagens apresentadas com relação a manutenção das características principais de eventos da vida real e a possibilidade de visão clarividente do problema estudado (YIN, 1994). De acordo com o referido autor, esta proposta alcança as condições para que as questões da pesquisa sejam respondidas, na pretensão medida. Os dados e informações foram levantados através do estudo do caso, documentos e participação efetiva no acompanhamento de cada fase do projeto, de forma a consolidar os resultados ora presentes, considerando a bibliografia existente sobre gerenciamento de resíduos sólidos. A abordagem qualitativa destaca a multidisciplinariedade que o projeto alcançou, de forma a trazer inovação, enquanto característica de uma boa prática, principalmente quanto à necessidade de adequação legal, não-cartesiana, imputada à Administração Pública. III Conferência Internacional de Gestão de Resíduos Sólidos Página 5 Com metodologia de contenção da externalidade negativa (impacto ambiental) e promoção da externalidade positiva (empoderamento dos catadores, redução de custos nas operações de demolição, deslocamento e tratamento dos resíduos, redução de resíduos na fonte geradora e promoção da logística reversa dos insumos). 3.1 Relato de Caso: FNDE Em Brasília, foi criada a Central de Cooperativas de Materiais Recicláveis do Distrito Federal (Centcoop-DF), composta por representantes de associações e cooperativas de catadores de materiais recicláveis do Distrito Federal, cujos objetivos consistem em atuar em rede, em defesa de melhor qualidade de vida para os trabalhadores da coleta de materiais recicláveis, e desenvolver projetos de doação de terrenos para construção de galpões para triagem de materiais; BB Educar4 Catadores do DF; estudo de viabilidade financeira, comercial e mercadológica da empresa Capital Recicláveis de Brasília e formas de parcerias com a Central; plano executivo da Coleta Seletiva Solidária do DF; fortalecimento de associativismo e cooperativismo dos catadores de materiais recicláveis; incubadora de redes de economia solidária do DF e outros. O FNDE é uma entidade autárquica, vinculado ao Ministério da Educação, tem o segundo maior orçamento entre as autarquias federais e capital humano de aproximadamente 1.700 pessoas, distribuídas em dois prédios localizados no Setor Bancário Sul, em Brasília, com a missão estratégica de prestar assistência financeira e técnica e executar ações que contribuam para uma educação de qualidade a todos. Após a locação do Edifício Áurea, em 2008, com o intuito de dar melhores condições de gerencia do prédio, de sua estrutura, com planejamento de investimento em longo prazo, equalizando as ações e aproximando as políticas, a autarquia adquiriu o edifício-sede da instituição (construído há mais de vinte anos), que alugava por mais de dez anos. Diante deste cenário, a Autarquia decidiu reformar o edifício sede com o intuito de dar melhor racionalidade aos custos operacionais, de manutenção, além da adequada acessibilidade ao edifício. Para isso, fez uso da concorrência como tipo de licitação e deu início â gerência do contrato de reforma junto à construtora vencedora do certame. A obra teve seu recebimento definitivo em maio deste ano. A reforma ocorreu de parcelada. De cinco em cinco andares, os pavimentos foram isolados e reformados, enquanto os demais continuaram sendo ocupados por servidores em trabalho diuturno, iniciando pelos andares superiores. Nessa oportunidade, com a publicidade interna do projeto em questão, a comissão da Coleta Seletiva Solidária passa a integrar a comissão da obra, a fim de que a negociação contratual fosse possível, pela acentuada sensibilização promovida, para a atuação dos catadores de resíduos gerados pela reforma predial. Assim, o projeto de arquitetura e paisagismo abarcou critérios de sustentabilidade: os andares têm janelas que favorecem a entrada de luz natural e auxiliam a economizar energia elétrica, as torneiras têm desligamento automático, que evita o desperdício de água, os sistemas condicionadores de ar do tipo split foram substituídos por ar condicionador central e fancoletes capazes de controlar a eficiência energética em seu nível ótimo, assim como os elevadores adquiridos tem sistema de Antecipação de Chamada Inteligente capaz de reduzir a demanda de carga energética em 30%, no caso em destaque. Desta forma, foi criada uma logística suportada pela construtura e agentes catadores que, possibilitou a doação de todo material reciclável da obra à Centcoop-DF para que fosse reutilizado ou reciclado. Esta ação deu-se por meio de Termo de Compromisso firmado entre a Autarquia e a Central das Cooperativas, o que demonstra que a formalidade, conforme referencial teórico é fundamental para alinhar as estratégias e interesses das partes envolvidas. Para tanto, a comissão da Coleta Seletiva Solidária do FNDE juntamente com os fiscais do contrato acordou junto à construtora responsável pela reforma do prédio que o material III Conferência Internacional de Gestão de Resíduos Sólidos Página 6 reaproveitável fosse retirado de forma a garantir alumínios, louças de banheiro etc., pois, desse revender, promover uma logística reversa não dificultar seu cronograma, seus prazos, seu fluxo preocupação na cotidiana rotina empresarial. o valor de mercado dos insumos, como vidros, modo, os catadores teriam a possibilidade de vislumbrada pela construtora, sem com isso de materiais e seus custos – objeto primeiro de Em contrapartida, para atender às exigências da construtora quanto à retirada dos materiais, os catadores das 22 cooperativas que compõem a central se organizaram, em forma de rodízio, para proceder à retirada do material da obra doado. Essa retirada de material e a venda às empresas de reciclagem renderam aos agentes de reciclagem o montante de R$ 120.000,00 (cento e vinte mil reais), segundo prestação de contas da CENTCOOP-DF, que estão depositados em conta poupança para que, em reunião na presença de todos os representantes de cooperativas, a arrecadação seja repartida, na forma definida em Ata de Reunião, igualmente, para benefício coletivo e social. Vale destacar que o reflexo deste trabalho dos agentes de reciclagem na retirada dos materiais da obra do FNDE teve em outras oportunidades. Como consequência da experiência adquirida no FNDE, tanto para lidar com o ambiente de construção civil quanto para a retirada propriamente dita de material de obra, os catadores de materiais recicláveis do Distrito Federal, como assim são conhecidos, se tornaram aptos e reconhecidamente habilitados a realizar o mesmo trabalho de separação de resíduos sólidos recicláveis no estádio de futebol Nacional Mané Garrincha, em Brasília, demolido para construção de nova arena esportiva, que receberá jogos da Copa do Mundo de 2014. Diante o exposto, além do reconhecimento, prestígio e visibilidade que obtiveram por meio do trabalho socioambiental que desenvolvem, os agentes de reciclagem conseguiram dignidade, inclusão social, acesso a novas ferramentas, com a realização de um projeto inovador, diferenciado e bastante exitoso na própria proposta da Coleta Seletiva Solidária. 4 CONCLUSÃO A experiência de gerenciamento de resíduos na obra de reformado do edifício sede do FNDE teve sua participação de efetivo sucesso, com base na inclusão social, empoderamento e dignidade transmitido ao trabalho desenvolvido pelos agentes de reciclagem. Estes demonstraram talento, interesse e potencial no atingimento de seus objetivos junto a cooperativas, colaborando para o meio ambiente e à atuação da Autarquia enquanto ente público promotor e exemplo de ações de desenvolvimento sustentável. Propor uma técnica de sustentabilidade em meio empresarial, no caso, à construtora contratada para o empreendimento, só se torna possível com a formalidade necessária que aponta os riscos, planeja a boa execução e controle as ameaças para que os custos de operação não sejam maiores que a realidade estimada e ao alcance do tamanho do projeto. A razoabilidade é encontrada ao passo que contabilizamos a adequação ao meio ambiental, além do impacto evitado pelas ações de logística compatíveis com a economia ambiental (MOTTA, 2006). Com a caracterização dos riscos voluntários ocorridos (THOMAS & CALLAN, 2010), por necessidade de sensibilizar servidores, construtora, fiscais de contrato, autoridade superior do FNDE e catadores de todas as cooperativas do Distrito Federal, o avanço na promoção de solução sustentável à Administração Pública tem seu objetivo alcançado, pelo caminho de menor prejuízo aos interesses individuais. Ainda, mostra que não “engessamento” na atividade pública, mas, pelo contrário, potencialidades em vista da melhor análise do Decreto 5.940/2006, que não impõe limites à criatividade para a realização de boas práticas de execução da Coleta Seletiva Solidária, ou seja, os membros das comissões não podem (nem devem) se ater aos resíduos comumente recicláveis, como papel e plástico, mas devem buscar outras possibilidades de auxiliar o trabalho dos catadores e de tornar o seu ambiente de trabalho em um ambiente de trabalho sustentável e ecologicamente correto, até porque os catadores não apenas reciclam os materiais, mas os utilizam para criar peças de artesanato de riqueza única. III Conferência Internacional de Gestão de Resíduos Sólidos Página 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BESEN, Gina Rizpah. Coleta seletiva com inclusão de catadores: construção participativa de indicadores e índices de sustentabilidade. 2011. 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