ISSN 1984-9354 TECNOLOGIA VERDE NA HOTELARIA: SEUS REFLEXOS E ENTENDIMENTOS EM UM HOSTEL CARIOCA Eunice Mancebo Rodrigues Fernandes, Maria Amalia Oliveira (UNIRIO) Resumo: Decorrente de uma crescente projeção internacional, o Brasil torna-se palco de vários eventos mundiais, que virão corroborar para o aumento da oferta de unidades habitacionais podendo receber hóspedes que primam pela perenidade dos recursos naturais do planeta. Assim, faz-se necessário o estabelecimento de parâmetros e de sistemas de medição quanto ao grau de adoção dos conceitos de sustentabilidade pela rede hoteleira da Cidade do Rio de Janeiro. O objetivo geral dessa pesquisa foi analisar a aderência do conceito hotelaria verde pelas empresas e identificar práticas sustentáveis e o uso de tecnologia limpa pelos gestores e hóspedes de um empreendimento situado na zona sul da cidade do Rio de Janeiro. Igualmente, por meio de uma pesquisa qualitativa e utilizando-se da técnica do estudo de caso, foi confirmada a hipótese de que o uso de novas tecnologias aplicadas ao segmento da hotelaria pode reduzir os impactos da atividade do Turismo no meio ambiente propiciando mudanças comportamentais refletidas na pessoa do turista. Palavras-chaves: Sustentabilidade; Turismo; Hostel; Brasil; Tecnologia Limpa X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 1. Introdução O turismo apresenta-se como uma importante área de interesse governamental, acadêmica, industrial, comercial e pública. Muito embora o turismo venha sendo observado como o maior propulsor da economia mundial, na verdade tal atividade não é imprescindível importante apenas por seu viés econômico, mas devido ao impacto que acarreta na vida das pessoas e locais em que estas se encontram. Desta forma, o planejamento da atividade turística é aspecto importante em qualquer nível que compõe tal setor; sobretudo, torna-se ainda mais relevante quando há ações e metas que orientam grandes fluxos de deslocamento de pessoas. No Brasil, a partir de 1994 o governo central tomou a decisão de instituir a descentralização da política e planejamento da atividade turística. Assim sendo, durante o governo do ex Presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) foi instituído o Programa Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT). Esse Programa adotou a metodologia da Organização Mundial do Turismo (OMT), visando implementar um novo modelo de gestão da atividade turística, simplificado e uniformizado para os Estados e Munícipios, de maneira integrada, buscando maior eficiência e eficácia na administração da atividade, de forma participativa. Já no governo do ex Presidente Luís Inácio Lula da Silva (2003-2010), a proposta de descentralização foi mantida como paradigma, sendo exposta no Programa de Regionalização do Turismo (PRT) – Roteiros do Brasil (2004). Comparando o PNMT (1995, o Governo Fernando Henrique Cardoso) e o PRT (2004, Governo Lula), verifica-se que o primeiro priorizava o município como ator central do fomento da atividade e, o segundo, buscou integrar as regiões, promovendo a sinergia entre os componentes. O Programa de Regionalização do Turismo produziu três planos: o primeiro, Plano Nacional de Turismo 2007-2010 recebeu o subtítulo “Uma viagem de inclusão”; o segundo plano, compreendendo o período 2011-2014, tem seus objetivos voltados para a Copa do Mundo de 2014 e, por esse motivo, recebeu subtítulo “Plano Copa” e o terceiro plano, elaborado para os anos 2013-2016, objetiva em especial as ações que estruturarão os Jogos Olímpicos de 2016, que irão ocorrer na Cidade do Rio de Janeiro. Este Plano foi intitulado “O turismo fazendo mais pelo Brasil”. Neste panorama, nota-se um planejamento em nível de governo central relativo a recepção dos mais distintos eventos esportivos que tem ocorrido no país e que a reboque, trazem outros 2 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 tantos1, como festivais de música (Rock in Rio, por exemplo) e religiosos, como a Jornada Mundial da Juventude. Os planos resultantes da política de turismo brasileira revelam uma opção pelo fomento da atividade turística através da indução do movimento de pessoas resultante de grandes eventos, especialmente os esportivos. Os referidos programas trazem no bojo de suas diretrizes a preocupação com a perenidade dos recursos finitos com a questão da sustentabilidade, sendo esse aspecto entendido como inerente ao desenvolvimento turístico. Como a atividade turística é uma prática que envolve o deslocamento de um grande número de pessoas e sua permanência nos locais visitados, o fenômeno em questão chama atenção de estudiosos no que tange a interação entre visitantes e o espaço ambiental e cultural visitado, a partir das considerações relativas à sustentabilidade. Dados extraídos dos Ministérios do Turismo e Esporte do Brasil demonstram que em 2016 com os Jogos Olímpicos sediados na cidade do Rio de Janeiro a receita líquida obtida com hospedagem e alimentação, deverá rondar na casa dos 152 milhões de dólares apenas na cidade durante o período do evento. Tomando-se como base o documento supracitado, a estimativa de chegada de novos visitantes ao país em decorrência dos Jogos Olimpicos de 2016 ultrapassam ao número de 380 mil turistas que deverão visitar a cidade durante esse período fazendo movimentar a economia do país nos setores de serviços, comércio, alimentação e hospedagem (Brasil. Ministerio do Esporte, 2011). Corroborando para os dados apresentados, Oliver ( 2012) discorreu sobre a questão que envolve o turismo e os grandes eventos trazendo como referencial uma pesquisa desenvolvida pela Fundação Getulio Vargas e Ernst & Young em 2010 onde existe uma previsão de que o número de turistas que transitarão em solo brasileiro deva saltar dos atuais cinco milhões para 7,48 milhões até 2014 e quase nove milhões em 2018. (Oliver, 2012, p.7 ) Quadro 1: Fluxo internacional de turistas A cidade do Rio de Janeiro sediou o Campeonato Sul-Americano de Rugby Sevens 2013 – (evento classificatório para o Campeonato Mundial da Rússia, 2013 nas modalidades masculino e feminino) modalidade pouco apreciada pelo público brasileiro; e sediará o evento Copa das Confederações Fifa de Futebol 2013. Ambos consistem em importantes eventos esportivos mundiais, bem como, os XV Jogos Pan-Americanos (2007) e V Jogos Mundiais Militares (2011). 1 3 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 Fonte: Ernst & Young, 2010, p. 33. Porém, o impacto gerado pelo aumento do número de turistas tem seu lado negativo, pois devido a própria estrutura da atividade na cidade - sol e praia - , os agentes públicos, destinam importante parcela dos investimentos para o desenvolvimento de infraestrutura turística localizada no entorno de ecossistemas frágeis (restinga, mata atlântica, manguezal), indo muitas vezes, na contramão de um dos requisitos básicos para que a atividade turística se manifeste de forma sustentável, que vem a ser a preservação do meio ambiente das atividades antrópicas geradas pelo próprio desempenho do setor. Desta forma, a atividade turística apresenta uma contradição que lhe é característica: a produção de benefícios e malefícios de forma concomitante, ou seja, a indústria do turismo ao mesmo tempo em que promove o desenvolvimento econômico, de forma lenta e involuntária, corrói seu ativo principal o meio ambiente (Mancebo, Longo & Pereira, 2012). Observando as contradições do fenômeno turístico, ao expressarem as discrepâncias do sistema capitalista de forma concomitantemente torna-se relevante enfatizar que essa atividade traz em si respostas a alguns problemas por ela acarretados, desde que estudos e pesquisas sejam utilizados como instrumentos dentro do cenário do planejamento turístico. Assim sendo, a observação e análise de aspetos relacionados à hospedagem em um panorama que abrange o aumento do número de turistas e o meio ambiente vem a ser o tema do presente trabalho. A ocorrência dos dois eventos esportivos de maior popularidade mundial na Cidade do Rio de Janeiro faz com que o contexto vivenciado pela referida Cidade seja um locus privilegiado, devido ao aumento do número de turistas, a análises que deem conta de revelar como estão sendo percebidos e adotados os conceitos de sustentabilidade pela rede hoteleira da Cidade. Para atender ao crescente fluxo de turistas na cidade, algumas estratégias sustentáveis têm sido implementadas (utilização de cabines de navios cruzeiro, por exemplo) e a construção de edifícios com parâmetros rigorosos de sustentabilidade no projeto e na construção (certificações ambientais e implementação de sistemas de gestão ambiental). Dados da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) indicam que a capacidade dos hotéis da cidade vem aumentando de forma consistente nos últimos cinco anos, a uma média de 1.000 quartos por ano. Com base no crescimento sustentável das estatísticas do turismo no Rio, a ABIH está confiante de que a taxa de construção de novos hotéis irá crescer, resultando em uma 4 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 previsão de capacidade superior a 27.000 quartos até 2016. (ABIH — Associação Brasileira da Indústria Hoteleira, 2012) Porém, os investimentos em unidades de alojamento, devem ser acompanhados por medidas de gestão capazes de promover práticas sustentáveis nos ambientes organizacionais do empreendimento turístico, bem como, também nas atividades produtivas em operação. Paralelamente, o crescimento de uma sociedade mais consciente da utilização dos recursos naturais finitos vem modificando os estilos de vida e as práticas de gestão de forma a moldar/criar uma nova cultura de produção que prime o equilíbrio social, ambiental e econômico e as relações éticas na produção dos produtos e serviços disponibilizados aos consumidores. Decorre a necessidade de estabelecer parâmetros e de sistemas de medição quanto ao grau de adoção dos conceitos de sustentabilidade pela rede hoteleira da Cidade do Rio de Janeiro. Assim, pergunta-se: Questões referentes a sustentabilidade ambiental e utilização de forma ética dos recursos naturais tem sido adotados pelos hostels2 na cidade ? A opção de escolha por um hostel vai ao encontro ao vinculado pelo Ministério do Turismo. De acordo com o Estudo da Demanda do Turismo Internacional no Brasil, os campings e hostels estão em quarto lugar na preferência dos turistas estrangeiros que visitam o Brasil. A participação desses meios de hospedagem aumentou de 1,4% para 4,3% no período de 2004 a 2010.3 Soma-se à esse dado o baixo quantitativo de pesquisas realizadas sobre a temática por pesquisadores brasileiros. O objetivo geral da pesquisa realizada, cujos dados serviram de base para a presente reflexão, foi analisar a aderência do conceito hotelaria verde pelas empresas e identificar práticas sustentáveis e o uso de tecnologia limpa pelos gestores e hóspedes de um hostel situado na zona sul da cidade do Rio de Janeiro. A suposição que permeou a pesquisa foi a seguinte: O uso de práticas de consumo sustentáveis aplicadas ao segmento da hotelaria pode reduzir os impactos da atividade do Turismo no meio ambiente, propiciando mudanças comportamentais refletidas na pessoa do turista. Cabe informar que a pesquisa ainda esta em andamento e os resultados apresentados decorrem da primeira fase do estudo. 2. Materiais e Métodos Meio de hospedagem alternativo com preços mais acessíveis que os hotéis. Os hostels têm como principal objetivo oferecer um intercâmbio cultural entre pessoas do mundo inteiro. 3 http://www.turismo.gov.br/turismo/noticias/todas_noticias/20111014.html 2 5 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 Para os objetivos desta pesquisa é necessário o entendimento que propicie considerar a sustentabilidade a partir do ponto de vista de suas competências capazes de promover rupturas dentro dos métodos e processos utilizados para o fornecimento e produção de serviços. Esta perspectiva denomina a pluralidade de sua abordagem, além de determinar sua característica multidisciplinar. O desafio do ponto de vista epistemológico é o enquadramento e a coerência ontológica necessária para o desenvolvimento do estudo. Igualmente, a coerência metodológica estará apresentada na teoria, no método e nas técnicas a serem utilizadas para fins e objetivos descritos (Martins & Teófilo, 2009). Da mesma forma, diante de um problema de pesquisa, o pesquisador deve respeitar os seus limites perante a um ambiente societal em que este possa transitar, ou seja, o pesquisador precisa ter acesso a seu objeto de pesquisa, contato com os materiais necessários. Logo, este delimita o seu campo de ação de forma a poder interagir e recolher os dados pertinentes à abordagem por ele escolhida. Não obstante, todo o objeto de pesquisa é resultado da urgência destinada ou promovida pela sociedade sobre um determinado estranhamento de algo. Este estranhamento resulta na demanda social necessária para a construção do conhecimento cientifico que sob o amparo da metodologia busca a sua validação. A escolha do método adequado para desenvolvimento de uma pesquisa depende do objetivo e, consequentemente, das questões que o pesquisador quer responder. Quanto ao método, a pesquisa esta dividida em uma abordagem qualitativa e quantitativa. Na abordagem qualitativa é usado um questionário auto aplicado4 decorrente da revisão bibliográfica e do objetivo delimitado pela pesquisa. O passo seguinte foi utilizar-se de uma escala adaptada de Likert onde foi possível identificar como os hospedes do hostel estavam sensíveis às práticas adotadas pelo mesmo bem como perceber os mecanismos disponibilizados pelo local de forma a promover práticas relacionadas à gestão sustentável. Em seguida foi elaborado um questionário contendo cinco questões fechadas e duas abertas que foi apresentado, de forma aleatória, aos hospedes quando de sua entrada no estabelecimento. Quanto à amostragem foram remetidos 82 instrumentos e houve retorno de 38%. Quanto à abordagem quantitativa, o presente instrumento constou de perguntas com níveis de ponderação que indicaram as características mais relevantes ou oportunidades de melhoria com vistas à adoção de práticas ligadas à sustentabilidade e hotelaria. 4 O conceito de questionário auto aplicado vai ao encontro da metodologia de aplicação do instrumento de pesquisa no qual o próprio entrevistado, ou seja, o pesquisado, responde ao questionário sem a interferência do pesquisador. 6 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 Quanto à técnica, a pesquisa caracteriza-se enquanto um estudo de caso uma vez que a pesquisa se utilizará de dados quantitativos e qualitativos reconhecidos a partir de situações do quotidiano de um hostel especifico. Tem por objetivo explicar e descrever as práticas identificadas em seu próprio contexto. Quanto aos meios, foi composta da seleção de artigos através de recursos disponibilizados em bases de dados e investigação em motores de busca que permitiu um estudo bibliométrico acerca dos seguintes termos: hotelaria, Copa do Mundo 2016 - Brasil, Turismo Sustentável e Tecnologias Limpas que possibilitou melhor compreensão acerca da temática, bem como, aprofundar a relação entre as tecnologias limpas e o setor hoteleiro brasileiro. Foi respeitado o corte temporal entre 2009 e 2013. 3. Fundamentação teórica 3.1. Motivadores para o desempenho ambiental A sociedade pós-industrial diversificada, multiétnica convive com a velocidade de transmissão de informações que representou um novo paradigma nas relações humanas. O fortalecimento do capitalismo como regime ideal ao crescimento posiciona os atores sociais, estado e as empresas em busca de um constante equilíbrio através de práticas que sejam capazes de integrar conceitos de sustentabilidade e consumo consciente aos cidadãos. Diante das novas perspectivas da sociedade moderna, estratégias corporativas tem sido implementadas no meio empresarial com objetivo de apresentar conceitos relacionados às práticas sustentáveis de consumo de produtos e serviços. Dialogando com Freire & Quelhas (2012), Agopyan & John (2012) destacam que empresas necessitam avaliar o impacto ambiental das suas atividades no meio ambiente e incorporar atos relacionados à proteção ambiental, responsabilidade social e processos produtivos mais limpos aos seus objetivos. Valores e princípios éticos devem ser incorporados às formas de gestão das empresas, constituindo uma imagem sustentável ao mundo dos negócios. Portanto, é importante que as empresas integrem procedimentos voltados a proteção do meio ambiente em todas as fases do processo de tomada de decisão, ou seja, é necessário estabelecer mecanismos, formas de comunicação que integrem a relação consumidor/fornecedor 7 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 por meio do oferecimento dos seus serviços e formas de gestão, fortalecendo a cultura de proteção do meio ambiente. O surgimento de um novo perfil de consumidor5 proporciona uma mudança na forma de agir das empresas, e as convidam a aderir princípios de sustentabilidade aos seus negócios. No ambiente de negócios atual, é salutar conferir aumento da eficiência e eficácia por meio da aderência de práticas que envolvam a avaliação de forma continua e integrada promovida pela gestão ambiental. Delinear um caminho de gestão motivado ao consumo sustentável depende da consciência do impacto do consumo, do conhecimento das potenciais alternativas e das novas tecnologias que podem influenciar o processo de escolha dos consumidores. Por exemplo, incorporar estratégias como o Marketing Verde6, tem por finalidade orientar a gestão através de princípios éticos as formas de produção, bem como, orientar os consumidores à absorção de produtos ou serviços sustentáveis. Neste sentido é necessário compreender os motivadores e os valores íntimos para o consumo de um produto sustentável. Porém, a falta de informação sobre a importância da sustentabilidade para os negócios é verdadeiro inibidor a adoção de sistemas de gestão ambiental pelas empresas. Entretanto, a crise ambiental iminente, associada ao aumento da consciência da sociedade como um todo, tem estabelecido mecanismos de pressão social que tendem a suplantar os desafios da questão por meio da introdução de requisitos normativos, que fortalecem o controle sobre os processos produtivos por meio da legislação. (Lee, Hsu, Han, & Kim, 2010) Inovar é preciso, desenvolver produtos e serviços (eco design/eco eficiência) mais limpos e voltados a sustentabilidade fortalecem a visão ecológica dos negócios e tornam-se imperativos para o melhor posicionamento das empresas no mercado (carros elétricos, green buildings, sistemas de gestão ambiental, selos verdes, estratégias para redução do desperdício, reciclagem e coleta seletiva). 5 Ver Valls, J.F. (1996), Poon, A. (1993) e Santos Arrebola, J.L. (1992). Adyr Balastreri Rodrigues (1997) em seu livro intitulado “Turismo e espaço – Rumo a um conhecimento transdisciplinar” chama atenção para um novo tipo de consumo, denominado por ela de “consumo produtivo do espaço” e o define como tipo de consumo que parte do princípio da instalação de equipamentos turísticos que causem o menor impacto ambiental. Estes princípios estão baseados na educação ambiental que tem como objetivo a conservação do meio ambiente, além de aprofundar a consciência ecológica através da interação e do respeito à natureza. 6 A expressão marketing verde reflete a preocupação de o mercado produzir e comercializar produtos ou mesmo atender as necessidades e desejos dos consumidores de forma a causar um impacto mínimo ao meio ambiente. Dias (2011) esclarece que os produtos que trazem consigo essa concepção possibilitam agregar valor à imagem da empresa bem como ao produto comercializado. 8 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 Na sociedade atual, há forte pressão sobre o controle dos processos produtivos e aumento da fiscalização (governos, sociedade civil organizada e movimento ambientalista) sobre a adoção dos requisitos sustentáveis aos mecanismos produtivos. Faz-se relevante fortalecer as práticas de gestão empresarial relacionando-as aos requisitos de sustentabilidade, fortalecendo a imagem de utilização justa e consciente dos recursos naturais finitos pelas empresas, bem como, fortalecer/influenciar o processo de escolha dos consumidores. 3.2. Levantamento de aspectos da Gestão Ambiental O conceito de sustentabilidade aplicado aos negócios é reconhecidamente um diferencial competitivo. Empresas ao aderir sistemas de Gestão Ambiental tem por finalidade melhorar as práticas na confecção e oferta de produtos e serviços a sociedade, melhorando a sua eficiência, promovendo o aumento da eficácia, aproveitamento da energia e distribuição justa dos recursos da produção. De maneira geral, incorporar requisitos de gestão ambiental aos negócios, tende a fortalecer os canais de comunicação entre as empresas e a sociedade, bem como, abertura de dialogo entre as empresas e os grupos afetados direta ou inderetamente pelos suas atividades (stakeholders). Ao implementar sistemas de gestão ambiental, é necessário compreender que lidase com o princípio da Precaução na tomada de decisão sobre as atividades, ou seja, é necessário compreender que existe uma relação de causa e efeito que encoraja o planejamento baseado em metas, avaliação de alternativas a processos poluentes, além da determinação de soluções possiveis aos danos e impactos de cada atividade de negócio. No Brasil a Lei 6.938/1981 estabelece a politica nacional de meio ambiente que é aplicada a toda e qualquer organização que atua de forma degradante sobre os recursos do meio ambiente e pessoas. Para atingir estes objetivos, empresas de forma voluntária tem adotado as práticas relacionadas a gestão de forma integrada de acordo com os princípios da norma ISO 14001 – Sistema de Gestão Ambiental – que pretende estabelecer os requisitos gerais para redução dos aspectos ambientais nas etapas do processo de produtos e serviços. Entre os objetivos gerais estão : Estabelecer Politica Ambiental, Indentificar os aspectos ambientais, Identificar os requisitos legais aplicavéis a atividade, Estabelecer objetivos e metas ambientais, Estabelecer programas para atender a política, Planejar, controlar, monitorar e corrigir os desvios e ser capaz de adaptarse ãas mudanças ambientais. (Mancebo, Longo, & Pereira, 2011) 9 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 Na gestão ambiental é imperativo identificar os aspectos relacionados as suas atividades. Controlar aspectos ambientais das atividades de uma organização é essencial à gestão e devem ser identificados/observados de acordo com o tipo de negócio da organização, fornecedor de matéria prima, mercado consumidor e com a situação de disputa de recursos no mercado. Neste tipo de avaliação é necessário identificar/considerar elementos como : 1) emissões de gases; 2) lançamentos no solo; 3)uso de energia; 4) lançamento em corpos de água e etc. Igualmente, identificar e monitorar aspectos genéricos : a) controle do lixo; b) descarte de embalagens; c)distribuição e uso de água; d)qualidade do ar, e) descarte de produtos químicos e etc. Reconhecer o importante trajeto de conhecer/reconher os seus aspectos ambiental, possibilita avançar em direção da gestão ambiental e do SGA. Conhecer os aspectos e futuros impactos, abre possibilidade de reconher os potenciais pontos críticos ao planejamento estratégico, indica e possibilita avaliação de forma contínua, reduzindo custos de operação e de eventuais passivos oriundos das atividades, mitigar os impactos na natureza, recuperar áreas degradadas e remediar ações sobre o solo e aquíferos contaminados. 3.3. Hotelaria Verde O turismo é o segmento de mercado que tem absorvido maior número de investimentos na cidade do Rio de Janeiro. Sejam públicos e/ou privados, estes ultrapassam U$ 3 bilhões de dólares americanos de investimento em áreas caras para o desenvolvimento da atividade como: construção de estradas, reforma de aeroportos, construção de rodoviárias, mobilidade urbana e acessibilidade, revitalização da zona portuária, construção de equipamentos esportivos e novos empreendimentos hoteleiros. Esses investimentos em infraestrutura destinados ao turismo acabam por incentivar a adesão de praticas sustentáveis por outras indústrias. Uma das principais beneficiárias do desenvolvimento promovido pelos investimentos no turismo é o setor de construção civil. Em 2012 o setor obteve crescimento do PIB setorial de 4%, muito devido aos investimentos em casas populares e empreendimentos relacionados aos Jogos Olímpicos e Copa do Mundo de Futebol. Historicamente a indústria é reconhecida como uma dos maiores poluidoras globais, entretanto, metodologias e técnicas limpas tem sido implementadas para reduzir/mitigar o impacto da atividade (sistemas de certificação de edificações, desenvolvimento de materiais ecologicamente sustentáveis, sistemas de gestão relacionados a redução dos desperdícios e controle de resíduos da construção). 10 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 Na década de 1970, unidades habitacionais destinadas ao setor hoteleiro eram erguidas sem quaisquer critérios e/ou preocupações com o meio ambiente, ou seja, nenhuma atenção destinada aos impactos socioambientais gerados pelo turismo de forma integrada. Esse período caracterizou-se pela falta de diálogo entre as disciplinas (Hotelaria/Construção Civil/Meio ambiente) predominando o domínio da atividade turística sobre a natureza e comunidades receptoras. Nas décadas seguintes, ideários de qualidade e preocupação com o meio ambiente foram incorporados pelas grandes redes hoteleiras. A mudança paradigmática em relação ao meio ambiente, tende a inclusão de práticas éticas nos processos de gestão de resíduos, energia e preocupação com os atores sociais e ambientais externos e internos impactados diretamente pela atividade produtiva. Na indústria hoteleira a incorporação de compromissos éticos pretende tornar perene o desenvolvimento da atividade e obter retorno do investimento de forma a criar de relações mais justas e igualitárias entre a atividade produtiva e o meio ambiente (Ruschmann, 2003). Algumas inciativas compreendem como o uso de sistemas internos para renovação do ar (varre poluentes como pólen, mofo e bactérias a cada 34 minutos), aspecto visual das recepções que utilizam de vidro 100% reciclado, pintura com material de composto orgânico volátil livre. Nas partes internas loft de higienização para as mãos contam com sistemas automatizados de controle de agua, utilização de algodão orgânico nos materiais de acomodação e sistemas inteligentes de iluminação. Apesar de representarem mudanças simples, o reflexo dessas transformações é percebido não apenas no quesito custo, que, segundo a gerência do hotel hostel estima em redução 2% dos custos operacionais acima do convencional, mas também, sobre o aumento de reservas de clientes que buscam locais para hospedagem que possuam o compromisso socioambiental (Motavalli, 2002). O momento é de crescimento de consciência sobre a utilização de recursos de forma sustentável. Também, cresce o número de consumidores que associam aos hábitos de consumo padrões éticos. Estudos têm mostrado que os hóspedes cada vez mais procuram hotéis que utilizam de práticas relacionadas a preservação do ambiente natural como motivadores de suas escolhas. Essas estão relacionadas com o impacto do consumo atual nas futuras gerações, e um sentido pessoal de bem-estar (Lee et al., 2010). O consumidor atual considera boas práticas utilizadas por hotéis no processo de escolha. . Hotéis como Sheraton, Parque de Boston Plaza Hotel utilizam medidas socialmente sustentáveis nos seus procedimentos de hospedagem. A cada hospede é oferecido um pacote de informações que transcendem a visão apenas interna de um turismo sustentável(organizações), 11 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 mas também direciona os visitantes a uma atividade turística de menor impacto ambiental. O pacote inclui mochila, mapas para andarilho e pontos de utilização de transporte público gratuito. Já no aspecto interno, a construção de janelas de aproveitamento energético eficiente, reaproveitamento da água da lavanderia, e incentivo de redução de gastos com papel, resultam em economia significativa nas operações e na faixa de 300 árvores ao ano. (Kleinrichert, Ergul, Johnson, & Uydaci, 2012). Receber o rótulo de “Hotel Verde” é um conceito aplicado aos empreendimentos que são ambientalmente amigáveis, cujos gestores estão ansiosos para instituir programas que visam a economia de água, energia, redução de resíduos sólidos de forma a resguardar os recursos perenes. Um hotel para ser considerado ambientalmente correto, necessita fazer mais do que não lavar toalhas todos os dias, mas, introduzir inovações que reflitam na gestão de energia fazendo uso, por exemplo, de lâmpadas fluorescentes, ventiladores de teto, cartões multifuncionais. No aspecto água, a instalação de equipamento que regule o fluxo da água nos chuveiros, arejadores, válvulas de louça a 1,6 gpm, mictórios sem água, produzem redução significativa nos custos e no desperdício. Incentivos à prática da reciclagem de resíduos podem angariar economia incentivando fornecedores a resgatar os materiais já utilizados para reciclagem e embalagens no dia seguinte ao uso. O nível de responsabilidade ambiental do negócio estimula o turista a pagar uma diária diferenciada, no entanto, mister salientar que é suficiente um hotel adotar boas práticas ambientais sem educar seus clientes e clientes potenciais. O hóspede, precisa adquirir práticas ambientalmente responsáveis, explica Kleinrichert, et al. (2012). Em um hotel verde, a cadeia produtiva deve ser considerada desde a concepção do produto à sua distribuição que engloba desde os fornecedores à responsabilidade social com a comunidade em que está envolvida, contratação de serviços disponíveis e mão de obra local. A inserção de produtos e serviços verdes tornam-se extremamente importantes no desenvolvimento de uma imagem verde,; pois atualmente, o turista considera aspectos ambientais em suas escolhas de hospedagem. Portanto, crê-se que a escolha de um hotel verde está relacionada à percepção que é possível realizar atividades de lazer e turismo de maneira ambientalmente saudável, sem promover impactos severos ao meio ambiente. Para descrever e caracterizar os principais aspectos e impactos ambientais correlacionados a hotelaria, Dias (2003) desenvolveu um trabalho no qual aplicou a metodologia da norma ISO 14001 para classificá-los (na tabela 1). Avaliando a tabela é possível verificar que a concentração de impactos está relacionada às variáveis: água, ar, esgoto, energia e recursos naturais. 12 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 Quadro 2: Impactos de um hotel no meio ambiente Atividade / Produto / Serviço Atividades Recepção Banheiros / Vestiários Cozinha Restaurante / Bar Operação Elevadores Operação Ar Condicionado Operação Aquecedor água Operação Equipamentos geral Operação Gerador Energia Elétrica Armazenamento / Manuseio produtos químicos perigosos Manutenção máquinas Limpeza Caixa de Gordura Serviços de Lavanderia Aspectos Ambientais Impactos Ambientais Consumo energia elétrica Esgotamento recursos naturais Resíduo sólido doméstico Ocupação aterros sanitários (solo) Consumo água e gás Esgotamento recursos naturais Efluentes orgânicos (DBO) Alteração qualidade das águas Resíduos Alcalinos Ocupação aterros sanitários (solo) Resíduo sólido doméstico Ocupação aterros sanitários (solo) Consumo água e gás Esgotamento recursos naturais Efluentes Oleosos Alteração qualidade das águas Resíduo sólido doméstico Ocupação aterros sanitários (solo) Consumo energia elétrica Alteração da qualidade da água Resíduo sólido doméstico Ocupação aterros sanitários (solo) Consumo energia elétrica Alteração da qualidade da água Consumo energia elétrica Esgotamento recursos naturais Emissões de CFCs Ataque à camada de ozônio Consumo gás Esgotamento recursos naturais Emissões de CO, NO² Alteração qualidade do ar Consumo energia elétrica Esgotamento recursos naturais Consumo combustível Esgotamento recursos naturais Emissões de CO, NO² Alteração qualidade do ar Derrame acidental Contaminação solo ou da água Resíduos óleos e graxa Contaminação solo ou da água Efluentes orgânicos (DBO) Alteração qualidade das águas Consumo água e gás Efluentes Esgotamento recursos naturais Resíduos Alcalinos graxo Alteração qualidade das águas Fonte: Adaptado de Dias, 2003, p.8 3.4. Tecnologias Limpas na Indústria Hoteleira Tecnologia Limpa é um conceito que integra os processos e produtos às estratégias econômica, tecnológica e ambiental buscando maximizar a eficiência no uso de matérias primas, recursos naturais através da não geração de resíduos decorrentes de quaisquer processos produtivos. A grande diferença no uso de tecnologia limpa é que são focadas para além do tratamento de resíduos e emissões de gases gerados no processo produtivo e relacionam objetivos de gestão ambiental aos processos de produção. É necessário apresentar as possíveis tecnologias limpas que possam ser utilizadas nas atividades diárias de um hotel, criando e estimulando ações ligadas à responsabilidade social no sentido da preservação dos recursos naturais. Medidas simples, de baixo impacto econômico podem ser implantadas no segmento hoteleiro. Exemplificando: o hotel que implanta medidas socioambientais como o uso de energia 13 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 renovável através de painéis fotovoltaicos. Nesse tipo de captação de energia, são utilizados painéis que convertem energia da luz do Sol em energia elétrica. Algumas vantagens do uso de energia solar: a) tipo de energia que não polui o meio ambiente; b) manutenção das centrais solares é de baixo custo transformando essa alternativa de uso energético em uma solução economicamente viável, c) em países próximo aos trópicos em que o número de horas de exposição solar é alto esse tipo de energia passa a ser viável para toda a extensão territorial. (Dias, 2003) Contudo, existem algumas desvantagens que devem ser evidenciadas; a) de acordo com a variação da temperatura, as quantidades de energia podem variar, pois as condições climáticas têm influencia direta na geração de energia solar, b) Localidades próximas as latitudes médias com menor índice de raios solares, sofrem com quedas brutas de produção durante os meses de inverno, além, de outras fontes (fósseis) demonstrarem-se mais eficientes. No Brasil, quase a totalidade da energia gerada é baseada em recursos hídricos. A Lei 9433/97 Política Nacional de Recursos Hídrico nos seu objetivo “assegura à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos”. Portanto, é relevante a introdução de novas tecnologias e campanhas sobre o uso consciente/racional do recurso hídrico por empresas, administração pública e sociedade. Um exemplo é a Rede Burbon de Hotéis e Resorts que promoveu uma pesquisa de opinião que culminou em uma campanha para colaboradores e hospedes sobre o uso racional dos recursos naturais. Utilizando do sistema de comunicação interna, cartazes, mensagens informativas e adesivos pretendem estimular a redução do consumo de água. Para os hóspedes, informações vinculadas por folhetos o convidam a participar da campanha por meio da redução da frequência da lavagem de roupas de cama e banho. As medidas descritas são capazes de provocar uma queda entre 45% e 50% dos gastos de um hotel referente ao consumo de energia e água. A economia gerada retorna para os investidores e administradores do hotel, possibilitando o investimento em novas tecnologias. A implantação dessas tecnologias permitirá a minimização de alguns dos principais aspectos ambientais, tais como: redução do esgoto, emissão de efluentes orgânicos, eficiência no uso da energia e racionalização no emprego da água. Uma grande rede hoteleira em Auckland, Nova Zelândia está realizando uma pesquisa interna com seus hóspedes e colaboradores buscando promover uma maior conscientização acerca das boas praticas a serem adotadas pelo hotel, bem como, pelos hospedes quando da adoção de 14 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 praticas ambientalmente corretas. Dados parciais demonstram que quase a totalidade dos entrevistados, 97% concordam em usar mais de uma vez suas toalhas, lençóis e roupão; outros 87% estão comprometidos com a política do hotel de preservação dos recursos do meio ambiente; 76% acreditam que a cadeia produtiva engloba a aquisição de produtos alimentares cuja produção seja realizada sem o uso de agrotóxicos e 89% e apoiam a reciclagem de materiais por parte da indústria hoteleira. Esses dados parciais demonstram que a adoção de tecnologias limpas na hotelaria corrobora para redução do desperdício, bem como estará indo ao encontro de uma mudança cultural e paradigmática na indústria do turismo introduzindo soluções sustentáveis para promover o turismo sustável. 4. Apresentação, análise e discussão dos resultados A sustentabilidade aplicada aos negócios é reconhecidamente um diferencial competitivo. Empresas ao aderir conceitos ambientalmente sustentáveis têm por finalidade melhorar as práticas na confecção e oferta de produtos e serviços à sociedade, aprimorando a sua eficiência, promovendo o aumento da eficácia, aproveitamento da energia e distribuição justa dos recursos da produção. De acordo com a pesquisa realizada foi possível constatar alguns aspectos que impactam diretamente ao tema abordado. Assim sendo, a análise dos dados constitui-se a partir das respostas dos sujeitos quanto o entendimento do conceito tecnologia limpa. O estudo de caso foi realizado em um hostel na zona sul da cidade do Rio de Janeiro, sendo o critério de escolha fundamentado nos acessos e facilidades, tais como serviços de infraestrutura básica, serviços de infraestrutura de apoio ao turismo e proximidade das atrações turísticas, que o hostel escolhido reúne. Ao longo da pesquisa, foram identificadas campanhas relacionadas à sustentabilidade nas práticas de gestão do negócio desenvolvida pelo hostel em tela sendo essas campanhas de conscientização que pretendiam educar hóspedes e funcionários sobre: uso eficiente da água, consumo de energia, coleta seletiva e controle de resíduos. Quadro 3: Faixa Etária dos hóspedes entrevistados 15 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 Fonte: Elaborado pelos autores A variável faixa etária dos hóspedes entrevistados ficou distribuída em 75,5% e 5,4%, respectivamente, jovens perfazendo o intervalo de 20 a 29 anos e adultos compreendendo 50 anos ou mais. Esse dado foi relevante na análise das próximas questões, pois, através da faixa etária, foi possível observar o grau de inserção dos sujeitos no assunto em questão. Posteriormente, ao serem indagados quanto à sua nacionalidade foi observado que o continente América do Sul foi melhor representado com 51,4% dos entrevistados sendo precedido da Europa, 32,4%, América do Norte e Austrália, respectivamente, 10,8% e 5,4%. Quadro 4: Nacionalidade (países) Fonte: Elaborado pelos autores Outras situações que envolveram seleção do hostel, uso e implantação de novas tecnologias as respostas foram significativas. A maioria dos entrevistados não considerou a variável meio ambiente – 83,8%. Quadro 5: Aspectos que envolvem o meio ambiente 16 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 Fonte: Elaborado pelos autores No perfil elaborado a partir do questionamento se houve mudança de hábitos decorrente do uso e implantação de novas tecnologias sendo destacado uso de tecnologias limpas, as respostas tenderam a se posicionar entre negativo com 54,1% e positivo com 45,9%. No entanto, esses dados não refletem o uso de novas práticas quotidianas, adotadas no hostel e percebidas pelos sujeitos, pois essas novas práticas adotadas pelo hostel não constavam no instrumento de pesquisa. Quadro 6: Mudanças de hábitos no quotidiano Considerações Finais Fonte: Elaborado pelos autores O conceito de sustentabilidade é hoje relevante para toda a estrutura organizacional, independente do seu porte ou esfera em que esteja atuando. O uso eficiente dos recursos naturais, a gestão dos resíduos sólidos e dos efluentes líquidos estão entre os temas mais discutidos. É preciso planejar buscando consolidar aspectos que tragam ressonância com as questões que envolvem as energias renováveis, mobilidade urbana, construções mais sustentáveis e serviços. 17 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 A mudança de paradigma decorrente da necessidade de preservação dos recursos finitos bem como impulsionando novas práticas e costumes na sociedade, vem ao encontro do objetivo geral dessa pesquisa que ao analisar o entendimento do conceito tecnologia limpa em hostel da cidade do Rio de Janeiro constatou que a grande maioria dos hóspedes não considera a variável prática visando a perenidade dos recursos face meio ambiente como um diferencial apresentado pelo estabelecimento. Essa resposta vai ao encontro dos dados apresentados no Quadro 2 , ao demonstrar que a maioria dos sujeitos entrevistados está na faixa jovem – 20 aos 29 anos. Esses jovens, apesar de concordar com a necessidade de mitigação das praticas que envolvem de forma nociva o meio ambiente, não as relevam na hora da escolha do hostel. Diante do atual cenário sobre questões de sustentabilidade, onde diversos estabelecimentos do setor hoteleiro já se encontram preocupados e conscientizados com tal fato, há consenso que existem diversos pontos nos hostels brasileiros que envolvem aspectos sustentáveis que precisam ser trabalhados. A questão relacionada às trocas de roupa de banho e cama aponta que praticamente 70% dos estabelecimentos não perguntam ao hóspede se desejam realizar troca, pois essa prática se dá de acordo com o período de hospedagem de cada um. No geral, é comum que as trocas sejam realizadas pelo local automaticamente após 2 ou 3 dias decorridos de hospedagem, sem terem o processo de averiguar a real necessidade. Alguns hostels oferecem um kit banho/cama no momento do check-in e disponibilizam kits extras mediante pagamento de taxa por kit solicitado. Os hostels que apresentam instalações com sensores de luz admitem que a prática se dê principalmente por questões econômicas, pois a não utilização dos sensores permite que os hóspedes deixem os interruptores sempre ligados ao deixarem os quartos e áreas comuns. A instalação dos sensores representou um percentual significativo de economia nos gastos com energia. A coleta de lixo para posterior reciclagem é uma realidade em pelo menos 50% dos hostels entrevistados. Contudo, nota-se que em alguns hostels esse trabalho é realizado por um viés mais econômico, uma medida oportuna para aumentar, mesmo que pouco, seu fluxo de caixa, ao invés de ser uma prática pensada precisamente na sustentabilidade ambiental. Entre as práticas sustentáveis utilizadas é de grande necessidade que se faça um alinhamento entre todos os setores envolvendo os funcionários e suas ações. 5. Considerações Finais 18 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 O conceito de sustentabilidade tem sido utilizado como parâmetro de condução da política de gestão de diversas empresas, pois a preocupação com a avaliação do impacto gerado por seus processos e produtos ao longo do ciclo de vida dos mesmos emergiu como um valor positivo na realização de bons negócios, tendo em vista que a utilização de uma gestão sustentável por meio da incorporação de práticas relacionadas à proteção ambiental e à responsabilidade social disseminou-se entre as variadas camadas da população. Organizar a produção – de bens e serviços – requer não apenas a observância de leis, regulamentos, requisitos de instituições financeiras ou códigos voluntários de conduta - todos em números sempre crescentes. Igualmente, requer estar atento a riscos e oportunidades futuras: energias renováveis, mobilidade urbana de baixo impacto, construções mais sustentáveis, logística reversa e tantos outros conceitos já incorporados ao rol das questões da atualidade e aos quais outros vão sendo continuamente acrescentados. Em tempos em que o tema sustentabilidade transita enquanto um dos principais temas de discussão da atualidade é importante que esses meios de hospedagem participem da discussão e promovam modificações. O uso de sistemas de reciclagem de lixo, reutilização de água e sistemas de sensores devem ser implantados com a finalidade de mitigar o consumo desnecessário de energia bem como inserir o ambiente nas praticas ambientalmente sustentáveis. Há de se lembrar de que toda discussão permeia a literatura especifica bem como os dados identificados ao longo da pesquisa. A questão apresentada foi que o uso de novas tecnologias aplicadas ao segmento da hotelaria pode reduzir os impactos da atividade do Turismo no meio ambiente propiciando mudanças comportamentais refletidas na pessoa do turista. Nesse contexto, ao serem indagados “hostels preocupados com o meio ambiente incentivaram mudanças nos seus hábitos para com o meio ambiente” os entrevistados listaram algumas situações tais como: economia de água e energia, comparação entre o turismo dos países que visitam com o turismo do seu país de origem, questionam se voltarão, em uma futura viagem, se hospedar, novamente, no mesmo hostel e percebem alterações comportamentais em sua pessoa depois de ver as mudanças do hostel e pensam nos mesmos aspectos relacionados no quotidiano em sua vida. Essas respostas referendam a hipótese trabalhada, pois hostel, pousadas, hotéis devem se adequar as novas tecnologias de forma a alterar o impacto negativo ao meio ambiente e a visão de que o Turismo é fonte geradora de tais impactos. Torna-se relevante propor, a partir destes resultados e conclusões, a utilização de indicadores de sustentabilidade em hostels de forma a medir com maior precisão os impactos causados pelas práticas desenvolvidas em seus ambientes internos e externos, considerando-se também, além dos 19 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 aspectos eco ambientais, os aspectos econômicos, sociais e culturais de modo a agregar aspectos considerados indispensáveis na promoção de mudanças bem como subsidiar decisões de politicas publicas. Referências Agopyan, V. & John, V. (2012). Desenvolvimento Sustentável 2012-2050: visão, rumos e contradições. Rio de Janeiro: Elsevier. Brasil. (2011). Ministério do Esporte. Plano de Promoção do Brasil: a Copa do Mundo FIFA 2014 como plataforma de promoção do País. Acesso em 10 de dezembro 2013, disponivel em http://www.esporte.gov.br/ Brasil. (2011). Ministério do Turismo. Monchila nas costas e o Brasil nos pés. Acesso em 10 de dezembro 2013, disponivel em http://www.turismo.gov.br/ Dias, M. M. (2003). Aplicação de Tecnologias Limpas na Indústria Hoteleira para um Turismo Sustentável. Acesso em 05 de novembro de 2013, disponivel http://www.rio2016.com/ Freire, V. & Quelhas, O. (2012). O desenvolvimento de metodologia e os processos de um "retrofit" arquitetônico. Revista de Sistemas & Gestão, (7), 448-461. Kleinrichert, D., Ergul, M., Johnson, C., & Uydaci, M. (2012). Boutique hotels: technology, social media and green practices. Journal of Hospitality and Tourism Technology, (3), 211 - 225. Lee, J., Hsu, L., Han, H., & Kim, Y. (2010). Understanding how consumers view green hotels: how a hotel’s green image can influence behavioural intentions. Journal of Sustainable Tourism, (18), 901-14. Mancebo, E., Longo, O., & Pereira, L. (2012). Congresso Latino-Americano de Investigação Turística “A Construção Civil Sustentável e a Hotelaria”. São Paulo - SP. Martins, Gilberto Andrade; Theóphilo, Carlos Renato (2009). Metodologia da investigação científica para ciências sociais aplicadas. 2 ed. São Paulo: Atlas. Oliver, I. (ABR de 2012). Megaeventos esportivos e relações internacionais como estratégia. Observatório de Inovação do Turismo - Revista Acadêmica, VII. Ernst & Young e Fundação Getúlio Vargas (2010). Brasil sustentável: impactos socioeconômicos da Copa do Mundo 2014. Acesso em 2013, disponível em http://fgvprojetos.fgv.br. 20 X CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 08 e 09 de agosto de 2014 21