Nota Técnica
ESCOLHA DO MODO METROFERROVIÁRIO MAIS ADEQUADO
Marcus Quintella
Panorama geral
A escolha do modo de transporte mais adequado para atender a uma determinada
demanda é uma das decisões mais importantes no planejamento de uma cidade, porque
influencia diretamente na mobilidade urbana da cidade como um todo, afetando a vida das
pessoas e a evolução de toda a região metropolitana. Os estudos desenvolvidos para esse fim
devem envolver elementos técnicos, econômicos, ambientais, urbanísticos e políticos e
também a qualidade de serviço, a atratividade de usuários, além dos impactos no trânsito.
Somente uma engenharia de transporte consistente, que considere o impacto no meio
urbano, as externalidades e as prioridades sócio-econômicas da região, pode determinar a
melhor escolha.
Dessa forma, é fundamental que o modo de transporte correto e adequado seja bem
escolhido,
especificado e implantado,
para
que
seja
garantida
a
otimização dos custos de investimentos,
manutenção e operação,
assim
como
a
qualidade de serviço, segurança operacional e conforto dos usuários.
O critério para a escolha do modo de transporte de massa mais adotado nas políticas
públicas de transporte inclui os seguintes pontos:
perfil da demanda e tipo de usuário
oferta no horizonte do projeto
capacidade de transporte na hora de maior pico
frequência e regularidade
tempo de viagem e velocidade comercial
meio onde é implantado
acessibilidade e nível de conforto
custo de inversão
infraestrutura e superestrutura
material rodante
custo de operação, manutenção e renovação
custo no ciclo de vida
externalidades
congestionamento do trânsito
contaminação ambiental
acidentes
impacto urbano a médio e longo prazo
Os modos de transporte metroferroviário de massa são consensualmente classificados
conforme segue: bonde (streetcar); veículo leve sobre trilhos (VLT); metrô leve; monotrilho;
metrô urbano (metrô pesado); trem metropolitano (metrô regional); trem regional; e trem de
longas distâncias. Em regra, a escolha modal para um sistema de transporte metroferroviário
de massa é feita em função da capacidade horária de transporte, por sentido, a ser ofertada
ao projeto em estudo, conforme mostra o quadro abaixo.
Fonte: Peter Alouche
Características de cada modo de transporte metroferroviário
Bonde (Streetcar)
Na prática, o bonde é um VLT de baixa capacidade, que pode atender entre 4 e 12 mil
pass/hora/sentido, e circula nas vias públicas, sem segregação, em compartilhamento com os
automóveis, ônibus e demais veículos, além dos pedestres.
Veículo Leve sobre Trilhos (VLT)
O VLT, também chamado de tramway ou bonde moderno, tem capacidade para
transportar entre 15 e 30 mil pass/hora/sentido, dependendo do grau de segregação das vias
e da tecnologia adotada. A velocidade comercial do VLT varia entre 20 e 30 km/h.
Na maioria das cidades, o VLT circula em nível, mas podem ser encontrados sistemas que
operam, em alguns trechos, em vias elevadas e subterrâneas. O VLT pode ser alimentado por
tração elétrica, forma mais comum, ou a diesel. Em relação às vias, o VLT normalmente
trafega sobre trilhos instalados nas ruas ou nos elevados e túneis, mas existem casos de
veículos sobre pneus, que passam a ser denominados de VLP (veículo leve sobre pneus). O
VLP possui as mesmas características do VLT, mas é guiado por um trilho central, apesar de
seus carros possuírem pneus, de forma parecida com os ônibus convencionais.
Trata-se de um sistema de média capacidade, cuja oferta de transporte está situada entre
os ônibus e metrô pesado, sendo considerado uma boa alternativa ecológica e urbanística. O
VLT é muito utilizado na Europa, em cidades pequeno, médio e grande portes, bem como na
Ásia e EUA.
Metrô Leve
O metrô leve é caracterizado por veículos de gabarito reduzido, com largura, altura e
comprimento menores que os veículos dos metrôs clássicos. Podem ser construídos em
superfície, em estruturas elevadas mais estreitas e leves ou em subterrâneo, com túneis de
diâmetro menor. O grau de segregação das vias é sempre total.
O metrô leve deve garantir uma capacidade de transporte entre 25 e 45 mil
pass/hora/sentido. A velocidade comercial do metrô leve varia entre 30 e 40 km/h. Somente
os metrôs pesados têm uma oferta de transporte superior. O metrô leve é versátil e trafega
com movimentos mais suaves, além de atingir velocidades mais altas.
Monotrilho
O monotrilho é um transporte de média capacidade, que trafega, necessariamente, em
pista elevada. Conceitualmente, o monotrilho é um tipo especial de metrô leve. O monotrilho
deve garantir uma capacidade de transporte entre 25 e 45 mil pass/hora/sentido e sua
velocidade comercial gira em torno de 30 km/h.
Entretanto, atualmente, não existe no mundo um sistema de monotrilho em operação
que ofereça efetivamente essa capacidade de transporte. Os monotrilhos de maior
capacidade do mundo encontram-se operando no Japão, em Tokyo e Osaka, onde
transportam entre 150 mil e 180 mil passageiros por dia, que corresponde a uma capacidade
de transporte em torno de 12 mil pass/hora/sentido, em virtude das características das
demandas locais e dos tipos de veículos utilizados.
Existem dois tipos de monotrilho: o tipo apoiado (straddle type) e o tipo suspenso
(suspended type). Os trens do monotrilho viajam “encaixados” ou “pendurados” em
estruturas de concreto ou aço, que também fornecem a força motriz elétrica. Diante dessas
características, o monotrilho apresenta dificuldades para a evacuação dos passageiros, em
caso de emergência, e não é um sistema adequado para subterrâneo, em virtude das maiores
seções de túneis.
Metrô Urbano (Metrô Pesado)
O metrô urbano, também denominado de metrô pesado, é caracterizado por veículos de
dimensões maiores que o metrô leve, que podem adotar a tecnologia sobre trilhos, maioria
dos sistemas, ou sobre pneus. Geralmente, circulam em subterrâneo, nas áreas mais
populosas, e em elevado ou superfície, nas zonas menos adensadas ou mais periféricas. O
grau de segregação das vias é sempre total.
O metrô urbano atende as regiões mais centrais das cidades e deve atender níveis de
demanda entre 40 a 80 mil pass/hora/sentido. Sua velocidade máxima varia entre 80 e 100
km/hora, mas sua velocidade comercial não passa de 36 km/h. A distância entre estações está
compreendida entre 800 e 1.200 m. Dependendo da tecnologia adotada e do grau de
automação do sistema, pode operar com headway entre 75 e 120 seg, nas horas de pico.
Trem Metropolitano (Metrô Regional)
O trem metropolitano, que também pode ser chamado de trem de subúrbio, ou mesmo
de metrô regional, dependendo de suas características operacionais, é caracterizado por
veículos de dimensões iguais ou maiores que os do metrô pesado. Geralmente, o trem
metropolitano circula em superfície ou em elevado, mas pode circular também em
subterrâneo, nas zonas nas centrais das cidades. O grau de segregação das vias deve ser
sempre total.
O trem metropolitano é um transporte de alta capacidade e atende demandas entre 60 a
110 mil pass/hora/sentido. A demanda tem característica pendular, ou seja, na hora do pico
matutino, sentido bairro-centro, e no pico vespertino, centro-bairro. Sua velocidade máxima
varia entre 80 e 100 km/hora, mas sua velocidade comercial não passa de 36 km/h. A
distância entre estações, normalmente, é superior a 1.500 m. Dependendo da tecnologia
adotada e do grau de automação do sistema, pode operar com headway mínimo de 120 seg,
nas horas de pico.
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Nota técnica elaborada por Marcus Quintella, em julho de 2014