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GESTÃO DE CUSTOS EM PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS PARA
NÃO CONTADORES
Ana Amélia M. Botelho*
Roberto Vatan dos Santos **
Resumo: O objetivo deste estudo é buscar meios de facilitar o uso da contabilidade de
custos nas pequenas empresas, auxiliando seus gestores no controle e nas tomadas de decisões
e ampliando a visão dos mesmos sobre o negócio. A abrangência do uso da contabilidade de
custos por empreendedores que não possuem conhecimento aprofundado sobre tal assunto
pode ser facilitada por meio de uma linguagem mais acessível sobre gestão de custos,
aproximando a teoria da prática, e tornando visíveis os resultados que esse controle poderá
oferecer ao empresário, principalmente em relação à rápida reação às oscilações do mercado.
Para tanto, foi realizada uma pesquisa exploratória aprofundada por meio de revisão
bibliográfica sobre a Contabilidade de Custos, seguida de um estudo exploratório sobre as
micro e pequenas empresas no Brasil e sua importância no cenário econômico nacional e,
finalmente, foi realizado um estudo de caso em uma microempresa de fabricação e venda de
sorvetes, com a elaboração de um modelo simplificado de custos baseado no Custeio Variável
e aplicação de algumas ferramentas de análise de custos em dados relativos ao mês de
fevereiro de 2004.
1
INTRODUÇÃO
De acordo com Kassai (1997), as empresas de pequeno porte têm desempenhado um
papel importante no cenário econômico mundial. Elas representam o início de grandes
empresas, geram muitos empregos, e movimentam uma significativa parte da economia
mundial. Conforme estudo realizado pelo INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATÍSTICA - IBGE (2001), as micro e pequenas empresas contribuem para o
*
Graduada em Contabilidade pela FEA/USP.
Doutor em Contabilidade e Controladoria pela FEA/USP e Pós-Doutor em Contabilidade e Controladoria pela
University of Illinois, EUA. ([email protected])
**
2
desenvolvimento e crescimento do país ao servirem de “colchão” amortecedor do
desemprego.
A partir daí, surge a preocupação com a qualidade da administração aplicada a essas
empresas por seus proprietários, conforme Kassai (1997), normalmente empreendedores sem
conhecimento técnico de gestão para tal cargo. Nesse contexto, surge a questão de como
facilitar a utilização da contabilidade gerencial de custos pelos administradores de micro e
pequenas empresas sem conhecimento contábil, contribuindo para a gestão dos recursos das
mesmas de forma a otimizar o seu uso.
O desafio apresentado por este trabalho é o de moldar um sistema de custos “ideal” em
uma empresa de pequeno porte que produz sorvetes, a qual funciona com dois proprietários e
mais seis funcionários e localiza-se em uma cidade do interior de São Paulo chamada MogiMirim.
Sendo assim, a escolha desse tema justifica-se pela intenção de apoio a essas pequenas
organizações, no sentido de suprir suas necessidades administrativas, e estimular nossos
economistas e governantes a atentarem para o mesmo, criando maiores incentivos e apoiando
a geração de empregos por parte das micro e pequenas empresas do país.
A abrangência do uso da contabilidade de custos por empreendedores que não
possuam conhecimento aprofundado sobre tal assunto pode ser facilitada por meio de uma
linguagem mais acessível sobre gestão de custos, aproximando a teoria da prática, e tornando
visíveis os resultados que esse controle poderá oferecer ao empresário, principalmente em
relação à rápida reação às oscilações do mercado.
2
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A Contabilidade de Custos possui duas importantes funções como ferramenta da
Contabilidade Gerencial: auxílio à tomada de decisão, ao fornecer informações que mostram
conseqüências de curto e longo prazo sobre medidas de corte de produtos, redução de custos,
formulação de preço de venda, terceirização de serviços etc; e melhoria do controle da
empresa, colaborando com a elaboração de orçamentos e subseqüente comparação entre
orçado e realizado.
No estudo de caso realizado, para análise gerencial dos custos, optou-se por utilizar o
método do custeio variável direto, o qual apropria aos produtos somente os custos variáveis e
3
identificáveis à sua fabricação. O custeio variável é considerado superior gerencialmente por
não utilizar rateios arbitrários na distribuição dos custos fixos, com esse método o gestor pode
mensurar, de maneira mais simplificada, o custo variável de seus produtos e a margem de
contribuição, obter dados mais precisos sobre o retorno que cada produto oferece à empresa, e
tomar decisões com base em informações mais confiáveis, como poderá ser visto nos
exemplos demonstrados ao longo deste trabalho.
2.1
TERMINOLOGIAS EM CUSTOS
Quando se fala em gastos de uma determinada empresa o termo se confunde com
custos, despesas ou desembolsos na mente das pessoas. Segundo Martins (2000, p. 25), gasto
significa “sacrifício financeiro com que a entidade arca para a obtenção de um produto ou
serviço qualquer, [...] representado por entrega ou promessa de entrega de ativos
(normalmente dinheiro)”. Já em relação aos custos pode-se dizer que são gastos relativos à
produção de bens e serviços da entidade, como exemplo claro pode-se citar o custo da
matéria-prima ou de energia elétrica para produção. Diferentemente, as despesas podem ser
classificadas como gastos realizados direta ou indiretamente para a obtenção de receitas
Os custos podem ser divididos em diretos e indiretos. Os custos diretos são aqueles
apropriados diretamente ao produto, que possuem alguma medida de consumo, por exemplo:
matéria-prima, embalagens, mão de obra utilizada na produção, entre outros. Já os custos
indiretos não possuem medida objetiva e só podem ser alocados aos produtos por meio de
rateios estimados e até arbitrários, tais como: aluguel, salários administrativos etc. Uma
segunda classificação bastante utilizada e importante é em relação à variação do volume de
produção, levando os custos a serem divididos em variáveis e fixos. Os primeiros referem-se
aos custos como matérias-primas, materiais diretos, entre outros, os quais se alteram de
acordo com o volume de produção. Em contrapartida, os últimos podem ser exemplificados
pelo aluguel da fábrica, depreciação dos equipamentos, ou seja, custos que terão determinado
valor independentemente da variação da produção naquele período.
4
2.2
CUSTEIO VARIÁVEL
O Custeio Variável surgiu como uma maneira alternativa de custeio, que põe em
questionamento a necessidade de alocação dos custos fixos aos produtos. Os principais
problemas ligados à distribuição dos custos fixos aos produtos são: os custos fixos existem
independentemente do volume da produção, ou seja, são gastos que a empresa precisa ter para
possuir condições de produção, independente da fabricação ou não desta ou daquela unidade;
o critério de distribuição desses custos é quase sempre o rateio, o qual ocasiona grande grau
de arbitrariedade; o custo indireto dos produtos será sempre reduzido quando houver aumento
da produção de qualquer um dos produtos fabricados, fazendo com que o custo de um produto
não varie somente de acordo com o volume de sua produção, mas da produção de outros bens.
Portanto, no Custeio Variável só são alocados aos produtos os custos variáveis,
deixando de lado os fixos que serão computados diretamente na apuração do Resultado. A
diferença entre as Vendas do período e o Custo Variável dos Produtos Vendidos é chamada de
Margem de Contribuição (MC), e dela são deduzidos os Custos Fixos para chegar-se ao
Resultado.
Os custos indiretos, principalmente os fixos, são os responsáveis pelas distorções na
análise do lucro por produto dependendo da escolha do critério de rateio. Em vista disso, os
produtos passam a ser analisados pela sua margem de contribuição, já que os custos indiretos
fixos existirão independente da fabricação deste ou daquele produto. A partir daí, será mais
vantajoso o produto que gerar maior margem de contribuição por unidade. Sob essa ótica,
muitos negócios que poderiam parecer desvantajosos se analisados de acordo com o custo
total por produto passam a ser interessantes por aumentarem a margem de contribuição da
empresa e conseqüentemente seu lucro. De acordo com Martins (2000, p. 203), a MC torna
mais facilmente visível a potencialidade de cada produto e sua capacidade para amortizar os
custos fixos e gerar lucro.
Um modelo de decisão que utiliza como base a margem de contribuição deve conter
elementos como quantidade de venda por produto, preço, custos e despesas variáveis unitários
por produto, margem de contribuição unitária, vendas totais por produto, margem de
contribuição percentual etc. Padoveze (2004, p. 332) afirma que alterações em qualquer uma
das variáveis do modelo provocarão mudanças no resultado, e que a decisão será por aquela
opção que gerar resultado maior. Cabe ressaltar que existem outras variáveis que influenciam
na tomada de decisão como participação no mercado, concorrência, qualidade, entre outras, e
5
que o modelo da margem de contribuição deverá ser utilizado em casos de decisões ligadas ao
aspecto econômico do negócio, já que ele visa apenas resultados econômicos.
2.3
ANÁLISE CUSTO/VOLUME/LUCRO
A Análise Custo/Volume/Lucro abrange os conceitos de Margem de Contribuição,
Ponto de Equilíbrio e Margem de Segurança.
O conceito de Margem de Contribuição já foi explorado anteriormente. Analisaremos
a seguir o Ponto de Equilíbrio e a Margem de Segurança.
Pode-se dizer que quando os custos totais de uma empresa se igualam às suas receitas
temos o Ponto de Equilíbrio. A fórmula que melhor representa essa igualdade é a seguinte:
Ponto de Equilíbrio =
Custos + Despesas Fixas
(Preço de Venda – Custos + Despesas Variáveis)
ou seja,
Ponto de Equilíbrio (PE) =
Custos + Despesas Fixas
Margem de Contribuição Unitária
É importante ressaltar que existem vários tipos de pontos de equilíbrio. O Ponto de
Equilíbrio Contábil (PEC) é aquele já estudado, ocorre quando a soma das margens de
contribuição totaliza um montante igual à soma de todos os custos e despesas fixos. Por outro
lado, o Ponto de Equilíbrio Financeiro (PEF) se diferencia do PEC por representar valores que
realmente serão desembolsados, por exemplo, se houver depreciação somada aos custos fixos
ela será deduzida para cálculo do PEF. Já o Ponto de Equilíbrio Econômico (PEE), está
relacionado ao Custo de Oportunidade, pois seu cálculo inclui na soma dos custos e despesas
fixos o retorno esperado do investimento (o custo de oportunidade). Há ainda o Ponto de
Equilíbrio Operacional (PEO), que, segundo Padoveze (2004, p. 326), é a quantidade de
6
vendas que cobre os custos e despesas fixos sem incluir as despesas financeiras e não
operacionais.
Em casos de múltiplos produtos há maior dificuldade para o cálculo do ponto de
equilíbrio em quantidade de cada produto, pois a unidade de medida de produção deve ser a
mesma e os produtos devem ser relativamente homogêneos. O melhor método a seguir,
explica Padoveze (2004, p. 330), é montar inicialmente um mix de produtos em quantidades
percentuais, aplicar esses percentuais à margem de contribuição unitária de cada produto e
somar os resultados, obtendo assim a uma margem de contribuição unitária média, a qual será
utilizada para o cálculo do PE.
Relacionados ao ponto de equilíbrio existem os conceitos de Margem de Segurança, a
qual representa a porcentagem que a empresa tem de receitas acima do seu ponto de
equilíbrio, ou seja, quanto ela pode reduzir em porcentagem nas Receitas antes de chegar no
prejuízo; e Alavancagem Operacional, que é a proporção entre o aumento no volume de
atividade de uma empresa e seu conseqüente acréscimo no lucro. Esses dois conceitos são
assim representados:
Margem de Segurança = Receitas Atuais – Receitas no PE
Receitas Atuais
Alavancagem Operacional = Porcentagem de acréscimo no lucro
Porcentagem de acréscimo no volume
A relação Custo/Volume/Lucro também pode ser bastante utilizada em análises da
concorrência. Empresas com estruturas de custos (fixos e variáveis) diferenciadas reagem de
maneira diferente a variações de preço e volume de vendas. Aquelas que possuem menor MC
unitária também apresentam menores riscos e em casos de prejuízo perdem menos. Já as
empresas com MC unitária grande terão maiores resultados em caso de lucro, mas também
trabalharão com maiores riscos, sendo mais prejudicadas em caso de prejuízo. Outros
aspectos a serem observados na concorrência são a variação do retorno sobre o investimento e
do caixa de cada empresa de acordo com alterações em sua estrutura de custos.
7
3
ESTUDO DE CASO
A empresa estudada é uma micro-empresa de produção de sorvetes que se situa em
Mogi Mirim, interior do estado de São Paulo. A sorveteria possui 78 anos de atividade e
tradição na região, é uma empresa familiar, que já passou por três gerações, e hoje é uma
sociedade formada por mãe e filho. Além dos sócios-proprietários, a sorveteria possui mais
seis funcionários, sendo que um deles trabalha exclusivamente na elaboração dos sorvetes,
outro é gerente de vendas e os outros se dividem entre a finalização da produção e o
atendimento aos clientes. A sócia-proprietária, que também atua na fabricação dos sorvetes,
reside no prédio onde funciona o estabelecimento e as despesas residenciais e comerciais
muitas vezes se confundem. Já o sócio-proprietário é responsável por compras e por todo o
processo administrativo da empresa (financeiro, RH, marketing, vendas para outros
estabelecimentos, entre outros). A contabilidade é realizada por um escritório de
contabilidade.
A maioria das compras de matéria prima é realizada na cidade de Campinas, que fica a
50km de Mogi Mirim. Essas viagens para compras são feitas pelo sócio-proprietário em seu
veículo particular, de duas a três vezes por semana, de acordo com o pedido de compras feito
pelos funcionários. A principal matéria-prima, o leite, é entregue diariamente por um
fornecedor local no período da manhã.
Não há quantidades padrões de matérias-primas que devem ficar em estoque, ou seja,
dificilmente há estocagem de produtos. Os pedidos de compra são feitos normalmente com
dois dias de antecedência da produção ou no caso de materiais indiretos, como embalagens,
pouco antes de acabarem. Porém sempre ocorre a falta de produtos de “última hora” que
precisam ser providenciados com urgência na própria cidade, normalmente a preços
superiores.
As compras são feitas sempre à vista pelo proprietário que apenas armazena as notas
fiscais de compra, para uma possível necessidade de consulta de preços posterior. Os
pagamentos de outras despesas, como energia elétrica, água, telefone etc. também têm seus
comprovantes armazenados. Porém não há um controle efetivo dos gastos. A folha de
pagamento e os impostos são controlados pelo escritório de contabilidade terceirizado.
As vendas da sorveteria são controladas por dois fechamentos de caixa manuais feitos
pelos funcionários responsáveis no período da tarde (que envolve manhã e tarde) e da noite e
identificados em guias padronizadas que informam: o responsável pelo fechamento, o valor
em dinheiro e em cheque (sempre à vista) existente no caixa, e outras informações referentes
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à quantidade vendida de alguns produtos específicos como doces (trufas e tortas) e pão de
queijo. Todos os dias essas guias são conferidas com o montante de vendas pelo proprietário.
Não são identificadas diariamente as quantidades vendidas de cada produto oferecido pela
sorveteria, além daquelas já citados, o controle é feito somente pelo montante de dinheiro
recebido em caixa.
3.1
MODELO DE CUSTOS “IDEAL”
Para facilitar o controle dos estoques de matéria-prima e reconhecer o real custo dos
produtos vendidos, as compras podem ser feitas uma vez por semana para suprir a produção
da semana seguinte. Dessa forma, os gastos com transporte de mercadorias serão reduzidos,
serão evitadas compras de última hora a custos mais altos, e conseqüentemente a rentabilidade
dos produtos será acrescida. Cabe ressaltar que deve ser analisado, ao mesmo tempo, o
retorno do investimento, que é representado pela seguinte fórmula:
Retorno Investimento = Lucro Operacional
Investimento
Nota-se que com o aumento do investimento em estoques, o retorno do investimento
será reduzido. Portanto, deve ser verificado se o aumento na rentabilidade dos produtos,
gerado pela redução dos gastos com transporte, compensará a diminuição no retorno do
investimento, gerada com o aumento do valor investido em compra de estoques.
O controle das vendas deve ser aprimorado, para que se tenham dados sobre o volume
de vendas de todos os produtos existentes na sorveteria. Para facilitar esse controle em relação
aos sabores de sorvetes vendidos (tanto de massa quanto de palito), não sendo necessário o
controle do sabor vendido no ato da venda, pode ser feita a anotação diária da quantidade de
cada sabor produzido, e no final do mês ser elaborada uma planilha com as quantidades
produzidas de cada sabor. Deve-se considerar também o estoque inicial e final de produtos
acabados no mês, os sorvetes de massa existentes nos depósitos e os sorvetes de palito
embalados, utilizando a seguinte fórmula para o cálculo das vendas:
9
Vendas = Estoque Inicial + Produção – Estoque Final
Para um controle mais efetivo seria interessante a aquisição de uma máquina
registradora, ou até mesmo um computador para o caixa, estabelecendo um esquema de
vendas por meio de fichas compradas no caixa. Esse sistema computadorizado proporcionará
maior segurança física das vendas (controle do numerário) e maior fluxo de informações
sobre as vendas, como quantidade vendida de cada produto, para análises financeiras; e
hábitos de compra do cliente (quais produtos o consumidor adquire ao mesmo tempo, horários
de maior demanda de cada produto, sazonalidade na venda de cada produto ao longo do ano
etc) para análises do mercado consumidor, explorando a área de propaganda e marketing.
Para organização dos dados, o primeiro passo a ser seguido é o controle efetivo de
todas as receitas e despesas, ou seja:
1) anotar diariamente todas as receitas e despesas ocorridas, mesmo que não tenha
havido desembolso ou recebimento de dinheiro (respeitando o princípio contábil da
Competência), por exemplo, uma entrega de sorvetes que não foi paga no mesmo dia
representa uma receita naquele dia, ou uma compra de matéria-prima que será paga dali a um
mês, representa uma despesa no dia da compra, o fato das compras e vendas ocorrerem
sempre à vista facilita bastante a questão de alocação das receitas e despesas aos meses em
que elas realmente ocorrem;
2) separar receitas e despesas referentes à empresa e às pessoas físicas dos sócios
(respeitando o princípio contábil da Entidade), as receitas pertencentes aos sócios
(aposentadoria, por exemplo, que neste caso é aplicada na empresa) menos as despesas
pessoais dos sócios serão consideradas os honorários dos mesmos naquele período;
3) identificar qual(is) período(s) as receitas e despesas estarão beneficiando ou
onerando, e manter um controle desses valores, por exemplo, a compra de gás para o fogão
industrial que será utilizado por dois meses representa um gasto que deverá ser amortizado em
dois meses, portanto, se o gás custa R$ 120,00 representará uma despesa de R$ 60,00 por
mês.
10
4) classificar todos os gastos da empresa em custos e despesas, fixos e variáveis,
conforme mostra a Tabela 1:
Tabela 1
Classificação dos gastos da sorveteria
Grupo
Custo
dos
Produtos
Vendidos
Custos
de
Produção
Subgrupo
Classificação
Variáveis
Materiais Diretos Variáveis
Materiais
Indiretos
Custos Indiretos
Variáveis
Exemplos
Refrigerantes, água, balas, chicletes etc.
Matéria-prima como leite, açúcar, ovos, chocolate
etc.
Embalagens, pazinhas, colheres descartáveis,
Guardanapos etc.
Fixos
Variáveis
Mão de obra indireta, manutenção máquinas etc.
Energia elétrica, gás etc.
Fixas
Salário funcionários vendas, FGTS, INSS, lanches
e
refeições etc.
Despesas Vendas
Desp. Pessoal
Desp. Utilidades
Fixas
e Serviços
Desp.
Propaganda
e Fixas
Publicidade
Desp. Gerais
Fixas
Energia elétrica, água, transporte funcionários etc.
Propaganda, decoração etc.
Material de limpeza etc.
Despesas
Administrativas
Desp. Utilidades
Fixas
e Serviços
Desp. Honorários Fixas
Desp. Gerais
Fixas
Impostos e Taxas
Fixas
Energia elétrica, telefone etc.
Honorários sócio A, honorários sócio B.
Materiais escritório, estacionamento, serviços
contabilidade,
legais e judiciais etc.
Simples, Sindicato, Associação Comercial etc.
Receitas/Despesa
s
Financeiras
Fixas
Despesas juros, despesas bancárias etc.
Despesas
Receitas
Fixas
Receitas de descontos bancários etc.
Fonte: Elaboração dos autores com base no Plano de Contas sugerido pelo Manual de Contabilidade das
Sociedades por Ações.
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3.2
ANÁLISE CUSTO/VOLUME/LUCRO – UM EXEMPLO PRÁTICO
Os dados apresentados a seguir foram coletados no mês de fevereiro de 2004. Optouse por analisar somente os dados relativos à fabricação e comercialização dos sorvetes de
massa, os quais representam a maior parte das vendas da sorveteria. Como já dito, o controle
das vendas da sorveteria é feito somente pelo montante em dinheiro recebido diariamente,
portanto, não há como identificar as quantidades dos sabores que foram produzidas e vendidas
no período analisado, o que limita em grande escala a análise custo/volume/lucro, ao
impossibilitar o cálculo da margem de contribuição mensal de cada sabor de acordo com seu
volume de vendas, o ponto de equilíbrio e a margem de segurança.
Porém, para mostrar a aplicabilidade da análise, adotaram-se números fictícios para o
cálculo paralelo desses conceitos. O intuito desses cálculos foi dar uma pequena amostra da
grande utilidade da contabilidade de custos na gestão dos negócios, como para a formação de
preços, decisões relacionadas ao mix de produtos, estabelecimento de metas de volume de
vendas etc.
3.2.1
Cálculo da Margem de Contribuição
Foram coletados todos os dados relativos a ingredientes e quantidades necessários à
fabricação de todos os sabores de sorvete de massa produzidos pela sorveteria. Foram
coletados também as notas fiscais de compra do período e os gastos com transporte das
mercadorias, os quais serviram de fonte para obtenção dos preços para cálculo da margem de
contribuição unitária de cada sabor dentro de cada mês estudado, a unidade do produto
considerada é a bola de sorvete, servida em embalagem de plástico com pazinha de madeira.
Vale ressaltar que os preços de compra utilizados para efeito de cálculo foram os últimos
praticados em cada mês, para efeito de simplificação.
A produção da sorveteria é por “depósito” de sorvete, ou seja, a receita padrão para
fabricação de cada sabor rende uma quantidade diferente de bolas devido aos diferentes
ingredientes que a compõem, e a quantidade obtida em cada receita é armazenada em um
“depósito” que fica dentro do balcão refrigerado para ser vendida aos clientes.
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O processo produtivo é o mesmo para todos os sabores de massa e utiliza os seguintes
equipamentos:
Tabela 2
Cálculo do custo de energia elétrica direto e variável para fabricação de sorvetes de massa
Horas
consumidas
/depósito
KW
Equipamento
Watts/Hora produzido Consumidos
Tarifa
Custo/depósito
Máquina “bater” sorvete 2.237
0,25
0,559
R$ 0,3251 R$
0,1818
Liquidificador industrial 249
0,25
0,062
R$ 0,3251 R$
0,0202
Liquidificador
180
0,25
0,045
R$ 0,3251 R$
0,0146
Total
R$
0,2167
Fonte: Elaboração dos autores. Dados obtidos na fatura de energia elétrica e por informação verbal com
alguns funcionários da sorveteria.
Calculou-se assim o custo de energia elétrica para fabricação de um depósito de
sorvete e dividiu-se então pelo rendimento em bolas de cada sabor.
Com base nesses dados calculou-se a margem de contribuição unitária mensal de cada
sabor de sorvete e obteve-se o seguinte resultado:
Tabela 3
Margem de contribuição unitária por sabor de sorvete - Fevereiro/2004
Sabores
Nata
Flocos
Chocolate
Brigadeiro
Ameixa
Creme de Ovos
Nozes
Mamão Papaya
Coco
Morango
Pistache
Queijo
Amendoim
Passas ao Rum
Banana
Preço
(a)
R$1,00
R$1,00
R$1,00
R$1,00
R$1,00
R$1,00
R$1,00
R$1,00
R$1,00
R$1,00
R$1,00
R$1,00
R$1,00
R$1,00
R$1,00
MatériaPrima (b)
R$0,1049
R$0,1350
R$0,1646
R$0,1837
R$0,1695
R$0,1758
R$0,1988
R$0,1391
R$0,1220
R$0,1460
R$0,1172
R$0,1563
R$0,1461
R$0,1545
R$0,1902
MC
Unitária
Embalagem Energia
(c)
Elétrica (d) (e = a-b-c-d)
R$ 0,0409 R$0,0033
R$0,8509
R$ 0,0409 R$0,0031
R$0,8210
R$ 0,0409 R$0,0031
R$0,7914
R$ 0,0409 R$0,0029
R$0,7725
R$ 0,0409 R$0,0031
R$0,7865
R$ 0,0409 R$0,0025
R$0,7807
R$ 0,0409 R$0,0031
R$0,7572
R$ 0,0409 R$0,0033
R$0,8166
R$ 0,0409 R$0,0031
R$0,8340
R$ 0,0409 R$0,0029
R$0,8102
R$ 0,0409 R$0,0029
R$0,8390
R$ 0,0409 R$0,0031
R$0,7997
R$ 0,0409 R$0,0027
R$0,8103
R$ 0,0409 R$0,0029
R$0,8017
R$ 0,0409 R$0,0029
R$0,7660
Rentabi_
lidade
(e / a)
85%
82%
79%
77%
79%
78%
76%
82%
83%
81%
84%
80%
81%
80%
77%
13
R$1,00
Maracujá
R$1,00
Abacaxi
MC Média
Fonte: Elaboração dos autores.
R$0,1425
R$0,1410
R$ 0,0409
R$ 0,0409
R$0,0029
R$0,0029
R$0,8137
R$0,8152
R$0,8039
81%
82%
Para visualização da contribuição por unidade (bola de sorvete) vendida que cada
sabor gera para o resultado da empresa, foi elaborado o gráfico abaixo:
Nata
R$0,8700
Flócos
Chocolate
R$0,8500
Brigadeiro
Ameixa
Creme de Ovos
R$0,8300
Nozes
Mamão Papaya
Coco
R$0,8100
Morango
Pistache
R$0,7900
Queijo
Amendoim
Passas ao Rum
R$0,7700
Banana
Maracujá
R$0,7500
Fevereiro
Abacaxi
Março
Abril
Maio
Figura 1 - Margem de Contribuição Unitária por Sabor de Sorvete.
Fonte: Elaboração dos autores.
De acordo com essas informações o gestor da sorveteria tem a oportunidade de
investir na publicidade e propaganda dos produtos que trazem maior margem de contribuição
unitária visando o aumento do volume de vendas desses sabores. Ele pode também fixar seus
preços de venda utilizando o custo unitário de cada produto, e até mesmo decidir pela não
produção de alguns sabores de menor contribuição em favor de um aumento do volume na
produção dos sabores de maior contribuição.
Para uma análise mais aprofundada da margem de contribuição seria necessário o
conhecimento do volume de vendas de cada sabor. Consideremos como exemplo o mês de
fevereiro e volumes supostos de vendas de cada sabor:
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Tabela 4
Exemplo hipotético de volume de vendas por bolas
Sabor
Nata
Flocos
Chocolate
Brigadeiro
Ameixa
Creme de Ovos
Nozes
Mamão Papaya
Coco
Morango
Pistache
Queijo
Amendoim
Passas ao Rum
Banana
Maracujá
Abacaxi
TOTAL
Quantidade Quantidade
Depósitos
Bolas/Dep. Totais Bolas
(a)
(b)
(a x b)
65
26
1690
70
10
700
70
22
1540
75
5
375
70
20
1400
85
4
340
70
8
560
65
5
325
70
11
770
75
10
750
75
6
450
70
13
910
80
5
400
75
4
300
75
3
225
75
6
450
75
2
150
160
11.335
Percentual
das Vendas
15%
6%
14%
3%
12%
3%
5%
3%
7%
7%
4%
8%
4%
3%
2%
4%
1%
100%
Fonte: Elaboração dos autores. Dados obtidos em estimativas fornecidas pelo gestor da sorveteria.
A partir daí será possível calcular a margem de contribuição mensal, conforme tabela
abaixo:
Tabela 5
Cálculo hipotético da margem de contribuição mensal – Fevereiro/2004
Sabores
Nata
Flocos
Chocolate
Brigadeiro
Ameixa
Creme de
Ovos
Nozes
Mamão
Papaya
Coco
Morango
Pistache
Queijo
Amendoim
Passas ao
Preço
R$ 1,00
R$ 1,00
R$ 1,00
R$ 1,00
R$ 1,00
Total
Produção
Mensal
(em bolas)
1.690
700
1.540
375
1.400
R$ 1,00
R$ 1,00
340
560
R$
R$
340,00 R$ 0,1758 R$ 0,0409 R$ 0,0025 R$ 0,7807 R$
560,00 R$ 0,1988 R$ 0,0409 R$ 0,0031 R$ 0,7572 R$
265,44
424,03
R$ 1,00
R$ 1,00
R$ 1,00
R$ 1,00
R$ 1,00
R$ 1,00
R$ 1,00
325
770
750
450
910
400
300
R$
R$
R$
R$
R$
R$
R$
325,00
770,00
750,00
450,00
910,00
400,00
300,00
265,40
642,16
607,62
377,53
727,70
324,10
240,51
Vendas
R$ 1.690,00
R$ 700,00
R$ 1.540,00
R$ 375,00
R$ 1.400,00
MatériaPrima
R$ 0,1049
R$ 0,1350
R$ 0,1646
R$ 0,1837
R$ 0,1695
R$ 0,1391
R$ 0,1220
R$ 0,1460
R$ 0,1172
R$ 0,1563
R$ 0,1461
R$ 0,1545
Embalagem
R$ 0,0409
R$ 0,0409
R$ 0,0409
R$ 0,0409
R$ 0,0409
R$
R$
R$
R$
R$
R$
R$
0,0409
0,0409
0,0409
0,0409
0,0409
0,0409
0,0409
Energia
Elétrica
R$ 0,0033
R$ 0,0031
R$ 0,0031
R$ 0,0029
R$ 0,0031
R$ 0,0033
R$ 0,0031
R$ 0,0029
R$ 0,0029
R$ 0,0031
R$ 0,0027
R$ 0,0029
MC
Unitária
R$ 0,8509
R$ 0,8210
R$ 0,7914
R$ 0,7725
R$ 0,7865
R$ 0,8166
R$ 0,8340
R$ 0,8102
R$ 0,8390
R$ 0,7997
R$ 0,8103
R$ 0,8017
MC
Mensal
R$ 1.437,96
R$ 574,68
R$ 1.218,78
R$ 289,69
R$ 1.101,14
R$
R$
R$
R$
R$
R$
R$
15
Rum
Banana
Maracujá
Abacaxi
TOTAL
R$ 1,00
R$ 1,00
R$ 1,00
225
450
150
11.335
R$ 225,00 R$ 0,1902 R$ 0,0409 R$ 0,0029 R$ 0,7660 R$ 172,35
R$ 450,00 R$ 0,1425 R$ 0,0409 R$ 0,0029 R$ 0,8137 R$ 366,18
R$ 150,00 R$ 0,1410 R$ 0,0409 R$ 0,0029 R$ 0,8152 R$ 122,27
R$ 9.157,55
$11.335,00
Fonte: Elaboração dos autores.
A margem de contribuição mensal mostra de maneira bastante clara a real participação
de cada sabor no resultado global da empresa. Se fizermos uma comparação entre os sabores
de maior contribuição unitária e mensal verificaremos que há uma sensível mudança nas
colocações dos mais rentáveis:
Tabela 6
Comparação entre MC mensal e unitária
MC
Mensal
1
Nata
R$ 1.437,96
2
Chocolate
R$ 1.218,78
3
Ameixa
R$ 1.101,14
4
Queijo
R$ 727,70
5
Coco
R$ 642,16
6
Morango
R$ 607,62
7
Flocos
R$ 574,68
8
Nozes
R$ 424,03
9
Pistache
R$ 377,53
10 Maracujá
R$ 366,18
11 Amendoim
R$ 324,10
12 Brigadeiro
R$ 289,69
13 Creme de Ovos
R$ 265,44
14 Mamão Papaya
R$ 265,40
15 Passas ao Rum
R$ 240,51
16 Banana
R$ 172,35
17 Abacaxi
R$ 122,27
Fonte: Elaboração dos autores.
Sabores
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
Sabores
Nata
Pistache
Coco
Flocos
Mamão Papaya
Abacaxi
Maracujá
Amendoim
Morango
Passas ao Rum
Queijo
Chocolate
Ameixa
Creme de Ovos
Brigadeiro
Banana
Nozes
MC Unitária
R$ 0,8509
R$ 0,8390
R$ 0,8340
R$ 0,8210
R$ 0,8166
R$ 0,8152
R$ 0,8137
R$ 0,8103
R$ 0,8102
R$ 0,8017
R$ 0,7997
R$ 0,7914
R$ 0,7865
R$ 0,7807
R$ 0,7725
R$ 0,7660
R$ 0,7572
Com base na margem de contribuição unitária o gestor poderá decidir por parar a
produção dos sabores brigadeiro, banana e nozes, por exemplo, enquanto que se ele utilizar
por base a margem de contribuição mensal (hipotética) ele optará por não produzir os sabores
passas ao rum, banana e abacaxi. Essas variações mostram a importância do cálculo da MC
mensal, ou seja, o produto precisa ter uma boa margem de contribuição unitária e também um
16
grande volume de vendas, gerando assim uma alta margem de contribuição mensal para estar
realmente contribuindo com o resultado da empresa.
Segue abaixo um modelo de decisão econômico completo com base na margem de
contribuição:
Tabela 7
Modelo de decisão com base na margem de contribuição
Quantidade Vendida
Preço Unitário de Venda
Custos Unitários Variáveis
Despesas Unitárias Variáveis
Margem de Contribuição Unitária
Produto 1
A
B
C
D
E = B-C-D
Produto 2
.......
.......
.......
.......
.......
Produto N
N
N
N
N
N
Vendas Totais
F=AxB
M
N
Custos Totais Variáveis
G=AxC
O
N
Despesas Totais Variáveis
H=AxD
P
N
Margem de Contribuição Total
I =F-G-H
Margem
de
Contribuição
Percentual (%)
J = I / F x 100
Participação do Produto na MC
Total
L = I / € x 100
Q = M-O-P
N
R = Q / M x
100
N
S = Q / € x
100
N
Total
T=F+M
N
U = G +N
N
V=H+O
N
€ = I + Q
N
Y = € / T
100
W = € / €
100
(-) Custos e Despesas Fixos
-
Z
-
K=€–Z
β = K / T x
100
-
Lucro Operacional Total
Margem Operacional Percentual
(%)
Fonte: Adaptação de Padoveze (2004, p. 332).
-
+
+
+
+
x
x
Com esse modelo o gestor pode simular modificações nas variáveis preços, custos e
despesas variáveis e fixos, volume de vendas etc, verificando quais os reflexos dessas
alterações nas margens de contribuição total e dos produtos, no seu lucro operacional e na
margem operacional gerada por suas atividades.
Cabe ressaltar que esse modelo não abrange outras variáveis que influenciam na
tomada de decisão como participação no mercado, concorrência, qualidade, entre outras, já
que ele visa apenas resultados econômicos, a análise dessas variáveis deve ser utilizada em
conjunto com as análises de custos para a tomada de decisão do gestor estar bem
fundamentada.
17
3.2.2
Cálculo do Ponto de Equilíbrio
Para o cálculo do ponto de equilíbrio por produto é necessário o conhecimento do
volume de vendas de cada um deles, pois, segundo Padoveze (2004, p.330), a fórmula
utilizada para o cálculo do ponto de equilíbrio com mix de produtos é a seguinte:
Ponto de Equilíbrio (PE) =
Custos + Despesas Fixas
Margem de Contribuição Total/Volume Total
Para encontrar o ponto de equilíbrio por sabor será necessário encontrar quanto
percentualmente cada sabor representa do total das vendas e então aplicar esse percentual
sobre o ponto de equilíbrio calculado.
Além disso, foram obtidas informações referentes aos gastos do período em análise
para distinguirem-se custos e despesas fixos e variáveis. Esses dados foram obtidos em notas
fiscais de compras, comprovantes e guias de pagamentos. Dentro dos custos e despesas
variáveis encontram-se as matérias-primas, as embalagens, e as despesas variáveis com
energia elétrica e gás. A mão-de-obra da produção não é variável uma vez que os funcionários
são os mesmos, independente do volume de produção, e não pode ser considerada direta, pois
não há como mensurar, nesse caso, o tempo despendido na fabricação de cada produto. Os
custos e despesas fixos incluem, portanto mão-de-obra e encargos de pessoal, material de
limpeza, despesas publicidade e propaganda, despesas administrativas gerais, honorários dos
sócios, impostos e taxas. Vale ressaltar que as despesas de água e energia elétrica tiverem que
ser divididas entre despesas variáveis (produção), despesas fixas (administrativa e vendas) e
despesas da residência da sócia proprietária que funciona no mesmo prédio da sorveteria.
Após todos esses cálculos chegou-se aos seguintes valores de custos e despesas fixos:
18
Tabela 8
Custos fixos da sorveteria – Fevereiro/2004
Custos de Produção
Custos Indiretos
Mão de Obra Indireta
FGTS
INSS
Manutenção Máquinas
R$
R$
R$
R$
438,59
12,45
16,27
100,00
Despesas Operacionais
A.Vendas
1. Desp. Pessoal
Salário Funcionários Vendas
R$ 1.327,89
FGTS
R$
62,89
INSS
R$
82,17
Lanches
R$
28,50
2. Desp. Utilidades e Serviços
Energia Elétrica
R$
375,32
Água
R$
111,65
Transporte Funcionários
R$
394,00
3. Desp. Propaganda e Publicidade
Propaganda
R$
Decoração
R$
4. Desp. Gerais
Material Limpeza
R$
16,17
B.Administrativas
1. Desp. Utilidades e Serviços
Energia Elétrica
R$
5,62
Telefone
R$
144,18
2. Desp. Honorários
Sócios
R$ 1.656,00
3. Desp. Gerais
Materiais Escritório
R$
22,68
Estacionamento
R$
80,00
Serviços Contabilidade
R$
225,00
Legais e Judiciais
R$
4. Impostos e Taxas
Simples
R$
157,23
Sindicato
R$
89,00
Associação Comercial
R$
25,00
C.Financeiras
1. Despesas
R$
Juros
R$
Despesa Bancárias
R$
2. Receitas
Descontos obtidos
R$
TOTAL
R$ 5.370,60
Fonte: Elaboração dos autores com base no Plano de Contas sugerido pelo Manual de Contabilidade das
Sociedades por Ações.
Os valores de despesas financeiras não nos foram disponibilizados, principalmente
devido ao fato de não haver um controle efetivo desses saldos. O proprietário possui várias
renegociações de empréstimos em bancos e outras instituições financeiras, e apenas conhece
19
os valores mensais a serem pagos para quitá-las, não diferenciando principal, juros e despesas
bancárias. Com o controle desses saldos o gestor terá o conhecimento do que efetivamente
estará sendo pago de despesas financeiras (juros e despesas bancárias) e o que estará sendo
baixado do seu passivo, ou seja, de suas obrigações perante um direito que ele obteve no
passado, no caso o direito ao uso do numerário proveniente do empréstimo. Com isso será
possível calcular do lucro líquido da empresa assim como acompanhar seus índices de
endividamento ao longo do tempo, fornecendo ao empresário uma gama de informações ainda
mais completa para decisões ligadas à novos empréstimos, por exemplo.
Portanto, com os dados obtidos é possível calcular-se o ponto de equilíbrio
operacional (PEO), o qual não considera as despesas financeiras em seu cálculo.
A margem de contribuição total e a quantidade de vendas do período foram mostradas
na tabela 26 (valores supostos):
MC = R$ 9.157,55
Quantidade Vendas = 11.335 bolas de sorvete
A partir daí calcula-se o Ponto de Equilíbrio Operacional (PEO):
PEO = Custos e Despesas Fixos / (MC Total / Quantidade Vendas)
PEO = 5.370,60 / (9.157,55 / 11.335)
PEO = 6.648 bolas de sorvete
De acordo com as porcentagens de venda pode-se distribuir esta quantidade da
seguinte maneira:
Tabela 9
Ponto de equilíbrio operacional por sabor de sorvete
Sabores
Nata
Flocos
Chocolate
Brigadeiro
Ameixa
Creme de Ovos
Nozes
Quantidade
Bolas
997
399
931
199
798
199
332
Percentual
das Vendas
15%
6%
14%
3%
12%
3%
5%
20
199
Mamão Papaya
465
Coco
465
Morango
266
Pistache
532
Queijo
199
Amendoim
199
Passas ao Rum
133
Banana
266
Maracujá
66
Abacaxi
TOTAL
6.648
Fonte: Elaboração dos autores.
3%
7%
7%
4%
8%
3%
3%
2%
4%
1%
100%
Pode-se também calcular o Ponto de Equilíbrio Econômico (PEE), o qual acrescenta
aos custos e despesas fixos o custo de oportunidade do negócio, que representa o quanto os
gestores da empresa sacrificaram em termos de remuneração para estar em funcionamento ao
invés de ter optado por outra forma de investimento. Nesse caso, o prédio onde a sorveteria
está localizada fica na praça central da cidade, possui 220 m2, três andares, e seu aluguel foi
avaliado por um corretor de imóveis da cidade em R$ 3.000,00 mensais (foi utilizada aqui a
maneira mais simples para a avaliação do ativo). Se considerarmos esse valor do aluguel
como o custo de oportunidade do negócio, sem considerarmos o risco, o PEE (sem a inclusão
das despesas financeiras) será calculado da seguinte maneira:
PEE = Custo e Despesas Fixos + Custo de Oportunidade
(MC Total / Quantidade Vendas)
PEE = 5.370,60 + 3.000,00 / (9.157,55 / 11.335)
PEE = 10.361 bolas de sorvete
De acordo com essa quantidade será possível calcular novamente o ponto de equilíbrio
por sabor de sorvete, segundo as porcentagens de venda:
21
Tabela 10
Ponto de Equilíbrio Econômico por sabor de sorvete
Sabores
Nata
Flocos
Chocolate
Brigadeiro
Ameixa
Creme de Ovos
Nozes
Mamão Papaya
Coco
Morango
Pistache
Queijo
Amendoim
Passas ao Rum
Banana
Maracujá
Abacaxi
TOTAL
Quantidade
Bolas
1.554
622
1.451
311
1.243
311
518
311
725
725
414
829
311
311
207
414
104
10.361
Percentual
das Vendas
15%
6%
14%
3%
12%
3%
5%
3%
7%
7%
4%
8%
3%
3%
2%
4%
1%
100%
Fonte: Elaboração dos autores.
3.2.3
Cálculo da Margem de Segurança e Alavancagem Operacional
A margem de segurança representa o percentual de receitas que a empresa possui
acima de seu ponto de equilíbrio, ou seja, quanto percentualmente a empresa pode reduzir de
suas receitas antes de entrar na faixa de prejuízo.
Para simplificação dos cálculos continuaremos considerando o sorvete de massa como
o único produto comercializado pela sorveteria, porém utilizaremos o faturamento bruto do
mês de fevereiro (o qual inclui a venda de todos os produtos oferecidos pelo estabelecimento)
fornecido pelo gestor para o cálculo da margem de segurança.
Receitas Fevereiro = R$ 12.305,00
Receitas no PEE = R$ 10.361,00 (10.361 bolas x R$1,00)
Margem de Segurança = Receitas Fevereiro – Receitas PEE
Receitas Fevereiro
Margem de Segurança = 12.305 – 10.361 / 12.305 = 15,8%
22
Portanto, a sorveteria poderá ter suas receitas reduzidas em até 15,8% antes de entrar
na faixa de prejuízo (deve-se novamente ressaltar que não estão sendo consideradas as
despesas financeiras).
O conceito de alavancagem operacional, como já explicitado, representa,
percentualmente, o aumento gerado no resultado mensal devido a um aumento no volume de
vendas.
Se considerarmos que a venda do mês de fevereiro foi de 11.335 bolas de sorvete e
que a margem de contribuição gerada com essa venda foi de R$ 9.157,55, teremos uma
margem de contribuição média de R$ 0,8079. Com base no PEE anteriormente calculado,
temos a quantidade de 10.361 bolas de sorvete para que a sorveteria recupere todos os seus
gastos, inclusive seu custo de oportunidade. Sendo assim, pode-se dizer que o lucro gerado no
mês de fevereiro advém somente das unidades vendidas além do PEE, ou seja, 974 bolas de
sorvete (11.335 – 10.361) multiplicadas pela margem de contribuição média de R$ 0,8079, o
que resulta em R$ 786,89.
Para exemplificação do cálculo da alavancagem operacional, vamos supor que o gestor
queira aumentar sua quantidade de vendas em 3.665 bolas, ou seja, de 11.335 bolas para
15.000 bolas de sorvete. Nesse caso, o lucro seria acrescido em R$ 2.960,95 (3.665 x R$
0,8079). Com esse acréscimo a alavancagem ficaria assim representada:
Alavancagem Operacional = Porcentagem de acréscimo no lucro
Porcentagem de acréscimo no volume
Acréscimo no lucro: R$ 2.174,06, ou seja, 276,31% ( R$ 2960,95/ R$ 786,89 –1 );
100
Acréscimo no volume: 3.665 bolas de sorvete, ou seja, 32,33% ( 15.000/ 11.335. –1 ).
100
Alavancagem Operacional = 276,31% = 8,55 vezes
32,33%
Esse resultado de alavancagem mostra que a cada 1% de aumento no volume de
vendas haverá 8,55% de aumento no resultado do mês.
23
A alavancagem operacional deve ser calculada a partir do volume atual de vendas,
portanto ela irá sempre variar.
4 CONCLUSÃO
A importância econômica das pequenas empresas e o estudo da contabilidade aplicada
a essas empresas é um assunto a ser amplamente explorado. O incentivo a essas organizações,
tanto por parte do governo quanto por estudiosos, poderá garantir a continuação e
consolidação de sua existência e o desenvolvimento econômico do país com a geração de
empregos e renda.
O estudo de caso realizado tornou clara a deficiência de informações para controle e
tomada de decisão na micro e pequena empresa, mais especificamente na área de custos. O
proprietário da empresa estudada não possuía conhecimento do custo de seus produtos e suas
margens de contribuição, e como citado pelo SEBRAE (2002) vinha operando “às escuras”.
Portanto, o modelo proposto visa estabelecer passos simples para a organização dos gastos e
receitas da empresa, tomando por base o método de custeio variável. São apenas passos
iniciais para um maior embasamento nas tomadas de decisão, principalmente com a utilização
da análise da margem de contribuição.
Para atender o intuito real do trabalho, que é o de facilitar o uso da contabilidade de
custos pelos gestores de micro e pequenas empresas, foram feitas adaptações da teoria no
sentido de mostrar aos gestores a contabilidade de custos como uma ferramenta de fácil
entendimento e utilização que traz informações bastante relevantes para seus controles e
decisões. Com o decorrer do trabalho ficou explícito que a maneira mais fácil de mostrar a
aplicabilidade dos conceitos de gestão de custos a pequenos administradores, leigos em
contabilidade na maioria das vezes, e fazer com que eles os utilize, é aproximando os
conceitos à realidade da empresa de maneira bastante simplificada, tentando ao máximo
facilitar o trabalho dos gestores na implantação de um modelo de custos. Outro aspecto
importante é apresentar os conceitos de maneira gradativa e implantar modificações de
controle e organização por etapas, para que tanto o gestor quanto seus funcionários se
adaptem às mudanças e as aceitem como algo positivo que irá beneficiá-los num futuro breve.
Se os micro e pequenos empresários unirem seus espíritos empreendedores, de amor e
dedicação ao próprio negócio, às ferramentas de apoio à gestão empresarial como a
24
contabilidade de custos, certamente essas pequenas organizações irão prosperar com maior
intensidade, gerando somente benefícios a todos que a rodeiam e ao desenvolvimento
econômico do país.
25
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR 6023: Informação e
documentação: referências: apresentação. Rio de Janeiro, 2002.
CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro A. Metodologia Científica. 5.ed. São Paulo:
Prentice Hall, 2002.
FIPECAFI. Manual de Contabilidade das Sociedades por Ações. 5ª ed. São Paulo: Atlas,
2001.
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (2003). As Micro e
Pequenas Empresas Comerciais e de Serviços no Brasil 2001. Rio de Janeiro. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 16 ago. 2004.
KASSAI, Silvia. As Empresas de Pequeno Porte e a Contabilidade.
São Paulo, FIPECAFI, v.9, n.15, p.60-74, janeiro / junho 1997.
Caderno de Estudos.
LEONE, George Sebastião Guerra. Custos: um enfoque administrativo. 13ª ed. Rio de
Janeiro: Editora FGV, 2000.
LIMA, Adriana de. Diretrizes para Elaboração de Monografias da FEA-USP/RP. Ribeirão
Preto, 71 p., 2001. Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de
São Paulo.
MARTINS, Eliseu. Contabilidade de Custos. 8ª Edição. São Paulo: Atlas S.A., 2001.
MARTINS, Gilberto de Andrade. Manual para elaboração de monografias e dissertações.
São Paulo: Atlas, 2000.
PADOVEZE, Clóvis Luís. Controladoria básica. São Paulo: Pioneira Thomson Learning,
2004.
SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Disponível em:
<http://www.sebrae.com.br/br/aprendasebrae>. Acesso em: 26 jul. 2004.
SEBRAE-SP – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Disponível em:
<http://www.sebraesp.com.br/principal/conhecendo%20a%20mpe/mpes%20em%20n%C3%
BAmeros/>. Acesso em: 27 jul. 2004.
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