01 MAI | 2014 GORAN BREGOVIC WEDDING AND FUNERAL BAND “Champagne for Gypsies” 21:00 SALA SUGGIA Goran Bregovic guitarra, sintetizador, voz Banda de Metais Cigana Muharem Redzepi voz, goc (percussão tradicional) Bokan Stankovic trompete 1 Dalibor Lukic trompete 2 Stojan Dimov saxofone, clarinete Aleksandar Rajkovic trombone 1 Milos Mihajlovic trombone 2 Vozes Búlgaras Ludmila Radkova ‑Traikova Daniela Radkova ‑Aleksandrova Nos Balcãs, não chega fazer música. Esta tem de ter uma dose generosa de loucura. Quem o diz é Goran Bregovic, justificando assim o uso de uma banda de metais com instrumentos antigos que estão sempre um pouco desa‑ finados. É isto que mantém a música desta banda uns palmos acima do chão, levando os ouvintes a deslizar in‑ controlavelmente ao sabor das emoções fortes associa‑ das à música cigana. Natural de Sarajevo, Bregovic tornou‑se conhecido ini‑ cialmente como músico de rock. Bijelo Dugme foi a maior banda da história da Jugoslávia e durou entre 1974 e 1989, atravessando estilos como o folk rock, a new wave e, nos anos finais, o pop rock. Mas quando escreveu a banda so‑ nora para o filme Time of the Gypsies de Emir Kusturica, em 1988, a sua carreira tomaria uma nova direcção e uma dimensão internacional. Embora não tenha origens ciga‑ nas, Bregovic alimenta uma grande devoção por esta mú‑ sica que marca a tradição dos Balcãs. A sua associação ao cineasta sérvio deu corpo a esta devoção e resultou mais tarde em Underground, Palma de Ouro no Festival de Can‑ nes em 1995. A respeito do trabalho em outro filme, Arizona Dream, disse Bregovic: “Uma das coisas fantásticas nos filmes de Emir é que mostram a vida exactamente como ela é – cheia de buracos, hesitações e acontecimentos ines‑ perados. É este lado imperfeito, desorganizado, que eu procurei preservar acima de tudo.» MECENAS PROGRAMAS DE SALA Goran Bregovic define‑se como «um compositor con‑ temporâneo numa cultura que é uma mistura de kitsch, violência e emoções sobreaquecidas, uma cultura que não é tratada na ópera ou na música sinfónica.» A sua tradição é a «música para acompanhar a bebida». Não foi por acaso que em anos mais recentes gravou o álbum Alkohol, inspirado na pequena cidade de Guca que, todos os anos, multiplica a sua população por 7 ou 8 vezes du‑ rante o concurso anual de bandas que realiza no Verão, durante três dias de muita música, calor, churrasco… e bebida. Champagne for Gypsies, apresentado em 2013, é uma continuação deste projecto. Nasce também como uma reacção a um movimento crescente de pressão so‑ bre os ciganos na Europa, procurando chamar a atenção para «aquilo que a cultura cigana deu ao mundo». O am‑ biente, contudo, é festivo até ao êxtase, com canções que nos Balcãs teriam como consequência «mulheres a dan‑ çar em cima das mesas e muitas gorjetas para os músi‑ cos». É esse contexto, aliás, que está na base da música ci‑ gana retratada até na designação da banda, já que a sua origem é precisamente a animação dos casamentos da comunidade, música de baile na mais pura acepção da palavra. Por outro lado, a tradição diz que os mortos de‑ vem, no seu funeral, ter direito à música de que mais gos‑ tam, pelo que é comum o mesmo repertório ser ouvido nessas ocasiões. MECENAS CASA DA MÚSICA APOIO INSTITUCIONAL MECENAS PRINCIPAL CASA DA MÚSICA A música deste concerto da Goran Bregovic Wedding and Funeral Band é maioritariamente centrada no álbum Champagne for Gypsies, mas passa também por outros tí‑ tulos resgatados quer do álbum Tales and Songs from Weddings and Funerals, quer dos filmes Underground e Arizona Dream, quer ainda da “ópera cigana” Bregovic’s Karmen with a Happy End. Composta em 2004, esta é uma com‑ binação de teatro naïve e ópera que alcançou enorme su‑ cesso, já com mais de uma centena de apresentações. Filho de mãe sérvia e pai croata, Goran Bregovic come‑ çou por estudar violino no conservatório, sem grande en‑ tusiasmo, passando depois para a guitarra e para o rock – «Nessa época, o rock tinha um papel crucial nas nossas vidas. Era a única forma de fazermos ouvir a nossa voz, expressarmos publicamente o nosso descontentamento, sem arriscarmos ser presos.» A banda Bijelo Dugme (Bo‑ tão Branco) tornou‑o um ídolo à escala nacional. Com a guerra na Jugoslávia veio o exílio em Paris e continuou a escrever bandas sonoras, não só as já mencionadas com Emir Kusturica como também com Patrice Chereau (La Reine Margot, Palma de Ouro no Festival de Cannes 1994). A colaboração com o cinema tem prosseguido oca‑ sionalmente, incluindo a participação como protagonis‑ ta e compositor nos filmes Music for Weddings & Funerals de Unni Straume (selecção oficial do Festival de Veneza 2002) e Giorni dell’Abandono (selecção oficial do Festival de Veneza 2005). Fez música para teatro, destacando‑se a produção de uma encenação da Divina Comédia de Dante, em três par‑ tes, entre 2001 e 2002, dirigida pelo esloveno Tomaz Pan‑ dur. Em 2007, o Teatro Nacional da Sérvia encomendou ‑lhe a música para um bailado baseado no romance A Rainha Margot de Alexandre Dumas. Depois do final da sua banda de rock, Bregovic manteve‑se afastado dos palcos até 1995, ano em que re‑ gressa em força com uma banda de dez músicos tradi‑ cionais, um coro de 50 elementos e uma orquestra sin‑ fónica. O efectivo seria naturalmente reduzido a partir de então, mas a ambição dos projectos não esmoreceu até hoje. Destaque‑se apenas dois exemplos: “Forgive me, is this way to the Future?” – Three letters, um concerto para violino e duas orquestras encomendado pela ECHO, em 2007; Margot, Diary of an unhappy Queen, uma obra sob o pretexto da guerra, com texto e música de Bregovic, inter‑ pretada em 2012 em três idiomas – alemão, inglês e por‑ tuguês, neste caso na Fundação Gulbenkian pela actriz Ana Moreira. A digressão Champagne for Gypsies iniciou-se no Le Zé‑ nith de Paris, no ano passado, perante um público de 5.000 espectadores e com a participação de todos os ar‑ tistas convidados do álbum, incluindo Selina O’Leary, Stephen Eicher, Eurege Hütz e os Gypsy Kings. Goran Bregovic trabalha actualmente numa nova ópera, Orfeo di Bregovic, e numa versão televisiva de Karmen with a Happy Ending. A CASA DA MÚSICA É MEMBRO DE