O Fazer Pastoral na Ambiência Educativa Marista 1 Renato Dayvid Pimenta A sociedade contemporânea poderia ser facilmente classificada como sociedade das crises. Vivemos constantes crises que afetam os mais diversos segmentos da sociedade. Na família, o modelo patriarcal, já decaído há alguns anos, hoje não se sustenta. No campo religioso isso se mostra presente ao se passar de uma relação com o sagrado que se dá em uma comunidade a um modelo que, apesar de não negar totalmente o dado comunitário, supervaloriza a subjetividade. Por um lado, são tempos com grande quantidade de informações e notícias, mas que, por outro, não são aprofundadas. Sabe-se muito, mas pouco se sabe de fato. A escola, por sua vez não escapa desses cenários. Ela se torna muitas vezes o espaço onde todas as diversidades se encontram. E ainda é vista por muitos como aquela que vai salvar ou apresentar a fórmula mágica na resolução dessas situações. Isso tanto por parte das famílias, quanto pelo poder público ou pela sociedade civil. E, ainda, muitas vezes é julgada como vilã quando não é capaz de apontar as respostas certas aos problemas criados externamente, dos quais ela é apenas reflexo. É preciso despertar nos diversos setores da sociedade como que uma consciência educativa. Para isso, é necessário antes, ter claro que a educação não é coisa 1 Agente de Pastoral da Escola Marista Champagnat de Contagem. exclusiva da instituição escola. Assim, evitaremos delegar apenas a uma instituição o que é função de todos. Feito isso, o próximo passo é questionar então como os demais atores estão exercendo essa função. A consciência de que o processo educativo não é função somente da escola não pode causar acomodação ou indiferença. Torna-se urgente se questionar a respeito da qualidade ou, ainda, da maneira como tem se dado esse processo educativo dentro da escola. Precisamos cuidar para que as escolas sejam capazes de formar integralmente e não apenas oferecer “treinamentos técnicos”. Nesse sentido, quando pensamos nas escolas católicas isso ganha um acento ainda maior, pois não se pode perder de vista que as mesmas têm como finalidade a evangelização. Isso, por outro lado, não é uma negativa do compromisso com a qualidade e os resultados, mas estes serão legitimados pelos processos de evangelização da unidade. E, no caso específico do Marista, essa evangelização não é apenas algo vislumbrado só em documentos ou apenas função de alguns poucos. Ela é responsabilidade de todos os educadores e, porque não, de todos os educandos, visto que à medida que o educador evangeliza ele é, igualmente, evangelizado pelo educando, num processo gratuito de aprendizado. Nesse sentido de corresponsabilidade o Projeto Educativo Marista é o vínculo que vai reunir todos os atores “em torno da mesma mesa”. Nessa ambiência de Escola Marista a Pastoral é um dos meios para efetivar essa evangelização. Com isso não se nega sua importância dentro da escola, mas assume-se a clareza de que a pastoral de uma unidade, por mais criativa e competente que seja, não chega igualmente em todos os atores da Unidade. Isso deve chamar ainda mais a atenção dos Gestores Maristas para que garantam que toda a escola seja evangelizadora, que se respire evangelização nos espaços. Por isso, também, é fundamental que o currículo das escolas seja aberto e, como que uma teia que favoreça o entrelaçamento entre as diferentes realidades. Que o próprio currículo apresente os valores do Evangelho e, mais que isso, desperte nos educandos o desejo de vivenciar os valores aprendidos. Nesse caminho é importante superar – se ainda houver – alguma sobreposição entre Pastoral e pedagógico. Sim, pois numa Unidade Marista os diversos processos precisam ser pensados e vivenciados em profunda sintonia entre pastoral e pedagógico. Mesmo se as funções dentro da unidade são distintas, ambas cuidam para não promoverem apenas ações esporádicas, mas para assegurar que todos os processos sejam, de fato, pensados, realizados juntos. Com isso, possivelmente se evitará que a evangelização seja apenas uma ideia vaga ou, ainda, restrita à pastoral ou aos poucos jovens inscritos nos grupos e atividades da Pastoral, mas uma evangelização presente em toda a escola, que chega aos educandos e educadores mas que transborda, vai até os familiares, tem reflexo nos grupos de amigos e fora dos muros da instituição. Seguramente, se formos capazes de assegurar processos evangelizadores sérios em nossas unidades, estaremos formando cidadãos capazes de interferir positivamente nas diversas realidades, não com gestos de caridade ou assistencialismo, mas com ações de solidariedade efetivas, capazes de promover a transformação social, antecipação do Reino de Deus ou, ainda, como muitos preferem, o outro mundo possível.