EFICIÊNCIA DA ADIÇÃO DE BAIXA DOSE DO CARFENTRAZONE-ETHYL A CALDA DE GLIFOSATO NA OPERAÇÃO PRÉ-PLANTIO NA CULTURA DO ALGODÃO (Gossypium hirsutum L.) NO SISTEMA DE PLANTIO DIRETO Luiz Lonardoni Foloni1,, Luís Pedro de Melo Plese2, Fabiana Geni dos Santos3. (1) FEAGRI-UNICAMP, Cidade Universitária Zeferino Vaz, CP 60111, Cep 13083-970, Campinas, SP e-mail [email protected] (2) Faculdade de Engenharia Agrícola – UNICAMP, Bolsista CAPES, e-mail [email protected] (3) FMC Química do Brasil Ltda, Av. Dr. Moraes Sales, 711 – 3o andar, 13010-001, Campinas-SP, e-mail [email protected]. RESUMO O objetivo foi avaliar a eficiência da adição de uma pequena quantidade do carfentrazone ao glifosato na operação de manejo, e avaliar sua eficiência sobre algumas espécies de folhas largas, onde o glifosato isolado tem um fraco desempenho. O experimento foi instalado no município de BaririSP no Latossolo Vermelho escuro, em área de pousio, de soja. Os tratamentos foram efetuados, em pós-emergência total e em pré-plantio. Delineamento foi o de blocos ao acaso com 9 tratamentos e 4 repetições. Os tratamentos foram: Glifosato/Carfentrazone (720+2; 720+3; 720+4; 960+2; 960+3; 960+4), glifosato (712,8 e 972) e testemunha. Eficiência agronômica foi efetuada aos 4, 7, 14 e 28 DAT utilizando-se a escala percentual de controle. Após a avaliação de 7 DAT foi efetuado o plantio do algodão IAC-22 no sistema de plantio direto. Nas avaliações de fitotoxicidade e altura do algodoeiro foram avaliadas aos 7 e 14 dias após o plantio e o stand foi aos 7 DAT. Dos resultados obtidos, pode concluir que e a mistura de glifosato com baixas doses de carfentrazone, surge como uma nova opção de manejo das plantas daninhas para a implantação da cultura do algodão no sistema de plantio direto, tendo em vista a melhora no espectro de controle. INTRODUÇÂO “A transferência da cultura algodoeira, ocorreu, na realidade, saindo das regiões subtropicais com fortes potencialidades, porém muito limitadas pela prática contínua e desastrosa na monocultura de algodão (degradação das propriedades físicas e biológicas dos solos), para a região tropical úmida e quente com solos potencialmente menos férteis, mas que, há 7 a 10 anos, estão geridos em plantio direto a partir de sistemas de cultivo diversificados a base de soja, arroz de sequeiro + safrinhas (milheto, milho e sorgo), os quais propiciam solos biologicamente sadios, totalmente protegidos contra erosão, providos de excelente propriedades físicas e biológicas, muito favoráveis a cultura algodoeira. Além disso, os agricultores do Mato Grosso fortemente penalizados do ponto de vista econômico (isolado custo elevado do frete, preços pagos ao produtor inferiores aos do estado do sul, ausência de indústrias de transformações, etc.) tiveram, para se manter sem subsídios na agricultura globalizada, de desenvolver uma tenicidade muito elevada. Estes fatos explicam em grande parte porque o MT é hoje o primeiro produtor de soja e de algodão do Brasil, apesar de seu relativo isolamento econômico. O setor agropecuário está passando por processo de transição sócio-econômico e agroambiental e, apesar de lento e silencioso, observam-se a expansão do plantio direto, a consorciação de lavouras e forrageiras, a preocupação da utilização racional da água e de agroquímicos e a necessidade de maior competitividade e sustentabilidade, dentre outras. Essas alternativas visam a redução nos custos de produção, uma vez que, tanto a recuperação da produtividade de áreas de agricultura como sob pastagem, pelos métodos tradicionais, têm acarretado grandes dispêndios com insumos químicos. A competitividade e a sustentabilidade são requisitos essenciais em tempo de globalização da economia” (CORBUCCI, 2001). A principal característica do plantio direto é o não revolvimento do solo. Em conseqüência, os resíduos das culturas anteriores e das infestantes ficam sobre o terreno, formando o que se designa por cobertura morta. No plantio direto, depende-se inteiramente do uso de herbicidas. Na cultura do algodão, esse sistema vem sendo amplamente utilizado, porém, produtores estão enfrentando um problema bastante sério em relação ao uso de herbicidas de manejo, pois o parceiro tradicional do glifosate na operação de pré-plantio, o 2,4-D deixa resíduos no solo que afeta a germinação e desenvolvimento do algodoeiro. WSSA (2002) cita que o carfentrazone foi introduzido em 1992 pela FMC Corporation nos EUA, e os primeiros testes de campo foram realizados entre 1993 a 1997. FOLONI et al. (2000) avaliaram a influência da chuva na eficácia das misturas de glifosate com sulfentrazone ou carfentrazone no controle de 5 espécies de plantas daninhas (Chenchrus echinatus, Commelina benghalensis, Senna obtusifolia, Bidens pilosa e Ipomoea grandifolia). A simulação de chuva foi feita 2 horas após as pulverizações. Nos tratamentos com sulfentrazone + glifosato e carfentrazone + glifosato, o nível de controle não foi afetado para CCHEC, COMBE, BIDPI, IQGRA. Para CASOB o controle foi melhor para as misturas aos 7 e 14 DAT e pós para o 2,4-D, mas aos 30 DAT houve reversão para o 2,4-D como melhor tratamento. WERLANG e SILVA (2002) avaliaram a interação do carfentrazone-ethyl em mistura no tanque com o glifosate, no controle de 6 espécies de plantas daninhas. Concluíram que o carfentrazone-ethyl apresenta comportamento diferenciado quanto a interação com glifosato, dependendo da espécie da planta daninha e da dose dos herbicidas utilizados na mistura. ROCHI et al. (2002) avaliaram a eficácia do carfentrazone-ethyl isolado ou associado ao glifosato e ao glifosato potássico no controle de duas espécies de trapoeraba C. benghalensis e C. diffusa. Os resultados mostraram controle ruim para os glifosato isolado (inferior a 30%) de ambos as espécies. A eficiência do controle pelas misturas foi superior à das suas aplicações isoladas, com exceção do carfentrazone-ethyl em doses como de 30 g/ha, as quais proporcionaram controles de COMBE semelhantes às misturas. O presente trabalho procurou avaliar a eficiência da adição de uma pequena quantidade do carfentrazone-ethyl ao glifosato na operação de manejo, e avaliar sua eficiência sobre algumas espécies de folhas largas, onde o glifosato isolado tem um fraco desempenho. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi instalado no município de Bariri-SP, na fazenda Bananal, região central do Estado, pertencendo à Província Geomorfológica, do Planalto Ocidental (22º02´45”S e 48º 43´46” WGr) em Latossolo Vermelho escuro, textura argilosa, com 12 g/dm3 de M.O. e pH de 5,0, em área de pousio, de soja. Os tratamentos foram efetuados, em pós-emergência e em pré-plantio (operação de manejo). Foi empregado o delineamento experimental de blocos ao acaso com 9 tratamentos e 4 repetições, compreendendo cada parcela uma área de 4,0 x 6,0 m, perfazendo 24,0 m2 de área tratada. Os dados médios de controle (%) foram comparados estatisticamente pelos testes de Tukey a 5% e F (SBCPD, 1995). Os tratamentos com as respectivas doses, encontram-se expressos na Tabela1. As espécies presentes no local do experimento, no momento da aplicação, seu estádio de desenvolvimento, altura, número de folhas e densidade relativa, estão contidos na Tabela 2. Os tratamentos com os herbicidas foram pulverizados em 7/12/02, em área total da parcela, empregando equipamento de precisão (CO2), contendo 4 bicos de jato plano XR 110.03, operado a 278 KPa e volume de aplicação de 200 l/ha. O parâmetro de eficiência agronômica foi efetuado de forma visual aos 4, 7, 14 e 28 DAT utilizando escala percentual. Após a avaliação de 7 DAT foi efetuado o plantio do algodão IAC-22 no sistema de plantio direto. As avaliações de fitotoxicidade e altura do algodoeiro foram avaliadas aos 7 e 14 dias após o plantio e o stand foi aos 7 DAT. Os resultados da eficácia agronômica estão apresentados na Figura 1 para cada espécie avaliada. RESULTADOS E DISCUSSÃO Para DIGHO os tratamentos com glifosato/carfentrazone-ethyl na menor dose (720+2 g i.a./ha) não promoveu controle. Já glifosato 960 g i.a./ha /carfentrazone-ethyl nas 3 doses e glifosate (712,8 e 972 g i.a./ha), foram altamente efetivos já a partir dos 14 DAT, com controle total para o glifosate (712,8 e 972 g i.a./ha) aos 28 DAT. Para ECHCO todos os tratamentos e doses testadas foram eficientes. Observou-se controle total para os tratamentos com glifosato/carfentrazone-ethyl nas doses (960+3 e 960+0,01 g i.a./ha) e glifosato na maior dose (972 g i.a./ha). Para COMBE a análise dos dados mostram que apenas os tratamentos glifosato/carfentrazone-ethyl na dose (960+4 g i.a./ha) mostrou bom nível de controle desta espécie aos 7 DAT. Nas avaliações de 14 e 28 DAT apenas os tratamentos de glifosato/carfentrzone-ethyl nas doses de (960+3 g i.a./ha) e (960+4 g i.a./ha) mostraram controle eficiente. Para IAQGR todos os tratamentos estudados mostraram-se altamente suscetível. Deve-se ressaltar o excelente desempenho da menor dose do glifosato com carfentrazone-ethyl (720+4 g i.a./ha) que mostrou controle total aos 28 DAT, eqüivalendo as doses de (960+3 g i.a./ha) e (960+4 g i.a./ha) e superior as duas doses testadas do glifosato (712,8 e 972 g i.a./ha). Tais resultados mostram o efeito aditivo de eficiência com o carfentrazone. Para AMAHI o nível de controle foi bom já aos 7 DAT para glifosato/carfentrazone-ethyl a (720+4 g i.a./ha), (960+2 g i.a./ha), (960+3 g i.a./ha) e (960+4 g i.a./ha) enquanto os demais encontram-se abaixo de 80%. Nas demais avaliações todos os tratamentos demonstram excelente nível de controle, porém apenas glifosato/carfentrazone-ethyl nas doses de (960+3 e 960+4 g i.a./ha) apresentaram controle total. CONCLUSÕES Estes resultados demonstram que a mistura do glifosato com doses pequenas de carfentrazoneethyl, por um lado não provocaram efeito antagônico nas plantas daninhas nas quais o glifosato tem bom controle (gramíneas), mas aumentam sua eficiência, onde normalmente seu controle fica abaixo do esperado (dicotiledôneas). Os resultados de fitotoxicidade, altura e stand não tiveram diferença significativas entre os tratamentos estudados (Tabela 3). A mistura de glifosato com baixas doses de carfentrazone-ethyl, surge como uma nova opção de manejo das plantas daninhas para a implantação da cultura do algodão no sistema de plantio direto, por oferecer maior espectro de controle e praticamente nenhum efeito residual que necessite esperar entre a operação de manejo e o plantio. Tabela 1. Produtos testados no experimento. N.º Tratamento Nomes Comum 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1pré-plantio Glifosato/Carfentrazone-ethyl Glifosato/Carfentrazone-ethyl Glifosato/Carfentrazone-ethyl Glifosato/Carfentrazone-ethyl Glifosato/Carfentrazone-ethyl Glifosato/Carfentrazone-ethyl glifosato Glifosato Testemunha (manejo) Tipo de aplicação Comercial Roundup original/aurora Pós1 Roundup original/aurora Pós Roundup original/aurora Pós Roundup original/aurora Pós Roundup original/aurora Pós Roundup original/aurora Pós Roundup transorb 1,1 Roundup trnsorb 1,5 - Dose por ha i.a. (g) 720+2 720+3 720+4 960+2 960+3 960+4 712,8 972 - Formulação ℓ ou kg 1,5+0,005 1,5+0,0075 1,5+0,01 2,0+0,005 2,0+0,0075 2,0+0,01 1,1 1,5 - Tabela 2. Composição do complexo florístico na área experimental por ocasião da 1ª avaliação aos 30 DAT. Nome Científico monocotiledôneas Echinochloa colonum Digitaria horizontais Cenchrus echinatus Commelina benghalensis Brachiaria plantaginea dicotiledônea Amaranthus hibridus Ipomoea grandifolia Portulaca oleracea Raphanus sativus Parthenium hysterophorus Nome comum estádio ECHCO DIGHO CCHEL COMBE BRAPL capim arroz capim colchão capim carrapicho trapoerava capim marmelada perfilhamento florescimento frutificação p.v. vegetativo perfilhamento AMAHI IAQGR POROL RAPSV caruru corda-de-viola beldroega nabo florescimento p.v. vegetativa pré-florescimento florescimneto PTNHY losna-branca florescimento 84 90 80 40 70 60 4 DAT 40 7 DAT 20 14 DAT 28 DAT 0 4 5 6 7 8 14 DAT 28 DAT 1 9 2 3 4 7 DAT 14 DAT 28 DAT 6 7 8 9 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 4 DAT 5 6 Amar anthus hibr idus (D) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 4 5 TRATAMENTOS (C) 3 3 7 DAT Commelina benghalensis 2 13 14 10 5 4 4 DAT TRATAM ENTOS 1 58/128 12 180 36 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 80 3 51/105 110 45 88 23 13 4 12 3 Echinochloa colonum (B) 100 2 58 12p 7p 64 27 60 Digitaria horizontalis (A) 1 densidade plantas/m2 altura No (cm) folha código 7 8 9 4 DAT 7 DAT 14 DAT 28 DAT 1 2 3 4 5 6 7 8 9 tr atamentos t rat ament os Ipomoea grandif olia ( E) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 4 DAT 7 DAT 14 DAT 28 DAT 1 2 3 4 5 6 7 8 9 t r at ament os Figura 1. Eficácia agronômica dos produtos estudados sobre as plantas daninhas (DIGHO (A), ECHHO (B), COMBE (C), AMAHI (D) e IAQR (E) Tabela 3. Avaliação da fitotoxicidade aparente, altura e stand aos 7, 14 dias após aplicação do herbicida em pós-emergência e em pré-plantio na cultura do algodoeiro. Tratamentos Glifosate Glifosate Glifosate Glifosate Glifosate Glifosate Glifosate Glifosate Testemunha Teste (F) C.V.(%) D.M.S Doses ℓ ou kg/ha 1,0 2,0 3,5 1,0 1,5 3,0 4,5 2,0 - Fitotoxicidade Altura (cm) Stand dias 7 1,00 A 1,00 A 1,00 A 1,00 A 1,00 A 1,00 A 1,00 A 1,00 A 1,00 A - 14 1,00 A 1,00 A 1,00 A 1,00 A 1,00 A 1,00 A 1,00 A 1,00 A 1,00 A - 7 6,00 A 5,00 A 4,75 A 6,25 A 5,75 A 4,50 A 5,25 A 5,25 A 6,25 A 1,65ns 21,84 2,868 14 19,50 A 18,00 A 17,00 A 20,00 A 19,20 A 19,00 A 17,50 A 19,20 A 14,50 A 1,63ns 14,42 6,349 7 6,50 A 6,50 A 5,75 A 6,75 A 7,25 A 5,75 A 6,50 A 6,50 A 7,25 A 0,33ns 28,01 4,438 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CORBUCCI, T. Manejo integrado de plantas daninhas em sistema de plantio direto. In: Manejo integrado, fitossanidade, cultivo protegido, pivô central e plantio direto. Viçosa: Laércio Zambolim (Ed.). 2001. p.583-608. EWRC (EUROPEAN WEED RESEARCH COUNCIL). Report of 3rd and 4th meetings of EWRC – Comittee of Methods in Weed Research. Weed Research, v.4, n.1, p.88, 1964. FOLONI, L.L. Influence of rainfall on the weed control efficacy of sulfentrazone and carfentrazone tank mixtures with glyphosate. In: INTERNATIONAL WEED SCIENCE CONGRESS – IWSC., 3, 2000, Foz de Iguassu, PR. p.248 RONCHI, C.P.; SILVA, A.A.; FERREIRA, L.R.; MIRANDA, G.V.; TERRA, A.A. 2002. Carfentrazoneethyl isolado e associado a duas formulações de glyphosate no controle de duas espécies de trapoeraba. WERLANG, R.C.; SILVA, A.A. Integração de glyphosate com carfentrazone-ethyl. Planta Daninha, v.20, n.1, p.93-102, 2002. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIÊNCIA DAS PLANTAS DANINHAS. Procedimento para instalação, avaliação e análise de experimentos com herbicidas. Londrina, 1995. 42p. WSSA. WEED SCIENCE SOCIETY OF AMERICA HERBICIDE HANDBOOK. Eighth Ed. 2002. Lawrence. USA. 493p.