UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO Escola de Ciências Agrárias e Veterinárias - Departamento de Ciências Veterinárias Fernando Jorge Coutinho Roriz Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros. Orientador: Prof. Dr. Filipe da Costa Silva Co-orientador: Dr. Paulo Alexandre Alves Capelo VILA REAL, 2010 UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO Escola de Ciências Agrárias e Veterinárias - Departamento de Ciências Veterinárias Fernando Jorge Coutinho Roriz Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros. Dissertação apresentada à Escola de Ciências Agrárias e Veterinárias Departamento de Ciências Veterinárias - da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Medicina Veterinária. Orientador: Prof. Dr. Filipe da Costa Silva Co-orientador: Dr. Paulo Alexandre Alves Capelo VILA REAL, 2010 i Este trabalho, foi elaborado com vista à obtenção do curso de Mestrado Integrado em Medicina Veterinária da UTAD, de acordo com o determinado no Decreto-Lei nº 74/2006 (Processo de Bolonha), de 24 de Março, e no Regulamento de Estudos Pós-Graduados em vigor na UTAD. ii Orientador Científico: __________________________________________________________ Professor Doutor Filipe de Costa Silva (Departamento de Ciências Veterinárias, UTAD) Co-orientador Científico: _______________________________________________________ Dr. Paulo Alexandre Alves Capelo (Médico Veterinário) iii À minha família, por tudo aquilo que para mim representa. À Mónica, pelo amor e suporte incondicional. iv Agradecimentos – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” Agradecimentos Agradeço ao Dr. Filipe Costa e Silva, meu Orientador de Mestrado, e amigo, sempre prestável em qualquer situação. Agradeço-lhe pela paixão e pela arte que me transmitiu, pelo seu apoio em todas as situações e pela sua paciência em me orientar em qualquer dúvida que me foi aparecendo ao longo do estágio e mesmo da dissertação. Agradeço-lhe ainda pela ajuda preciosa em todo este trabalho. Agradeço ao Dr. Paulo Alexandre Alves Capelo, pessoa que além de ser o motor de todos os meus conhecimentos práticos na área, sempre teve grande paciência e humildade no ensinamento dos mesmos. Agradeço-lhe também pela sua amável disposição e pelo apoio prestado em ter aceitado ser CoOrientador desta mesma Dissertação de Mestrado. Agradeço ao Dr. Jorge Manuel Evangelista pela paciência e ensino de toda a metodologia por ele aplicada na área. Uma palavra de enorme apreço merece também toda a equipa dos Serviços Veterinários Associados, pela prestabilidade, simpatia, e sabedoria que sempre me prestou durante todo o tempo em que a acompanhei. Gostaria de salientar uma palavra de grande estima ao Dr. Carlos Cabral e ao Dr. Pedro Meireles, pelo enorme apoio prestado, sem querer desta forma menosprezar qualquer elemento da equipa. Agradeço aos meus Pais, ao meu irmão, Cunhada e Sobrinho, que sempre me animaram e apoiaram em todos os momentos, tendo acompanhado o meu trabalho ao logo de todos os dias que dediquei a esta Dissertação. Obrigado por me animarem em todos os bons e maus momentos, por me ensinarem a crescer e a ter ambições. Simplesmente, obrigado por existirem! Um obrigado também a toda a restante família, em especial ao Avô António Roriz e à Avó Maria Coutinho, pelo amor que sempre me deram. Agradeço à Liliana Azevedo, Maria do Céu, Patrício Carvalho e Carlos Jardim, pelo apoio, ânimo e coragem que sempre me deram, pela sua amizade,e por me terem acompanhado em todos os momentos, altos e baixos, de toda a escrita deste documento. Finalmente, e sem querer menosprezar por vir quase no fim, mas antes pelo contrário, a salientar tudo o que me deu, uma palavra à Mónica Carvalho, pessoa essa que sem ela nada disto teria sido possível. Obrigado por me apoiares, por me incutires a paixão pela Veterinária, por me levantares sempre que caía, por me animares, me fazeres sorrir, por me mostrares o quanto faz sentido lutar por algo que ambicionamos. Obrigado por me ensinares a sonhar, por me ensinares a viver! Obrigado por me amares! v Agradecimentos – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” Sem ti, Mónica, nada seria na minha vida como hoje é! Obrigado, do fundo do coração! Ele tem sempre um lugar guardado para ti! Uma palavra de agradecimento também aos Pais da Mónica, pessoas que revelaram um enorme dedicação e apoio durante todos estes anos de Medicina Veterinária. A todos os que me ajudaram no decorrer do trabalho, deixo aqui o meu sentimento de gratidão. vi Abstract – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” Roriz F. “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros”. Vila Real, Portugal: 2010. Dissertação (Mestrado Integrado em Medicina Veterinária) apresentada à Escola de Ciências Agrárias e Veterinárias - Departamento de Ciências Veterinárias - da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Resumo O deslocamento do abomaso é uma das patologias mais frequentes em clínica de espécies pecuárias e a patologia que mais usualmente requer cirurgia abdominal em vacas leiteiras, podendo afectar bovinos de qualquer idade e sexo. Este pode começar como uma simples Dilatação Abomasal e dar-se depois à esquerda, à direita, ou mesmo no sentido anterior. Entre estes, o mais frequente é o deslocamento à esquerda. Apesar de se tratar de uma doença descoberta no século XIX, o facto de ter uma etiologia multifactorial faz com que seja uma afecção difícil de controlar. É uma patologia do periparto e surge directamente associada ao maneio nutricional, principalmente àquele praticado no período de transição. Os contributos considerados essenciais para o Deslocamento Abomasal (DA) são a atonia e a acumulação de gás abomasal, que consequentemente levam à distensão do órgão. São vários os factores de risco que favorecem a ocorrência do DA, dividindo-se estes em factores de risco de nível alimentar, climatérico e do animal. Todos estes têm vários parâmetros. Os sinais clínicos são comuns a diversas afecções, sendo importante a acentuada diminuição na produção de leite. O diagnóstico é baseado na auscultação associada à percussão, sendo audível uma ressonância metalotimpânica denominada “Ping de Deslocamento” e ainda na auscultação associada à sucussão, o que permite ouvir fluidos e sons de “chapinhar”, entre outros parâmetros diagnósticos mais exaustivos. A correcção do deslocamento mais segura e que mais recidivas evita é a cirúrgica, para a qual estão descritas diversas técnicas. As perdas produtivas e os encargos associados ao acompanhamento médico-veterinário fazem com que esta patologia tenha elevada importância económica. A prevenção está dependente do controlo dos vários factores de risco, procurando proporcionar uma boa adaptação do sistema digestivo e evitar o desequilíbrio de nutrientes, a imunossupressão durante o periparto e a diminuição da ingestão de matéria seca. Palavras-chave: deslocamento do abomaso, frequente, multifactorial, periparto, atonia, factores de risco, ping de deslocamento, cirurgia. vii Abstract – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” Roriz F. “Abomasal Displacement in Dairy Cattle”. Vila Real, Portugal: 2010. Dissertation (Master in Veterinary Medicine) presented in Agrarian and Veterinary science’s school – Department of Veterinary Science - Trás-os-Montes e Alto Douro University. Abstract Abomasal displacement is one of the most frequent pathologies in large animal medicine and the one that most frequently requires surgery in dairy cows. It might affect cows in any age or sex. It might begin like a simple Abomasal Bloat and then develop to the left, right, or anterior way. Among these, left abomasal displacement is the most frequent one. Although it is a pathology already described in the XIX century, the fact that it has a multifactorial etiology makes it difficult to control. It is a peripartum pathology and it appears directly associated to nutritional management, mainly the one practiced during the transitional period. The essential contributes for the abomasal displacement are the atony of the organ, and the accumulation of abomasal gas, factors that lead to the organ’s distension. There are several risk factors, that might be alimentary, climatic and of the animal itself. All of these have several parameters. Clinical signs are common to several affections, and the most important one is the reduction of milk production. Diagnosis is based on the auscultation associated to percussion, where a metallictympanic resonant sound can be heard called the Abomasal Ping, and on the auscultation associated to succussion or ballottement, that might enable the hearing of a splashing or wave sound. among other more exhaustive diagnostic parameters. The correction of Abomasal Displacement that prevents the most recurrences is surgery, for which multiple techniques are described. Production loss and Veterinary Surgeon expenses make this pathology of a high economical relevance. Prevention is dependent on the control of the risk factors, trying to proportionate a good digestive system adaptation and avoiding nutrient unbalance, periparturient imunossupression, and the reduction of dry matter ingestion. Key-words: Abomasal Displacement, Frequent, Multifactorial, Periparturient, Atony, Risc Factors, Abomasal Ping, Surgery. viii Lista de Abreviaturas, Siglas/Acrónimos e Sinais/Símbolos – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” Lista de Abreviaturas, Siglas/Acrónimos e Sinais/Símbolos - AGV: Ácidos Gordos Voláteis - AGNE: Ácidos Gordos Não Esterificados - AINES: Anti-Inflamatórios Não Esteróides - AP: Ante-Parto - AST: Aspartato Amino-Transferase (Transaminase Glutâmica-Oxaloacética) - BEN: Balanço Energético Negativo - BPM: Batimentos Por Minuto - cm: Centímetro - DA: Deslocamento do Abomaso - DAA: Deslocamento Anterior do Abomaso - DAD: Deslocamento do Abomaso à Direita - DAE: Deslocamento do Abomaso à Esquerda - EI: Espaço Intercostal - FB: Fibra Bruta - G: Gauges - g/L: Grama por Litro - IV: Intravenoso - IM: Intramuscular - L: Litro - L/h: Litro por Hora - Lx: Vértebra Lombar Número x - mEq/L: Miliequivalentes Por Litro - mg/L: Miligramas Por Litro - mg/Kg: Miligramas por Kilograma de Peso Vivo - MHz: Megahertz - mm: Milímetros - mmHg: Milímetros de Mercúrio - MS: Matéria Seca - NDF: Fibra Neutro Detergente - pH: Potencial Hidrogeniónico - PO: Per os - PP: Pós-parto ix Lista de Abreviaturas, Siglas/Acrónimos e Sinais/Símbolos – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” - RPT: Reticuloperitonite Traumática - SC: Subcutâneo - SU: Sem Unifeed - TMR: Total Mixed Ration - Tx: Vértebra Torácica Número x - US: Unifeed Simples - USRO: Unifeed com Suplementação de Ração na Ordenha - VA: Vólvulo Abomasal - VCM: Volume Celular Médio - ºC: Símbolo de Grau Célcio - % - Sinal de Percentagem - ® - Sínal de Registado x Índice Geral – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” ÍNDICE GERAL: Agradecimentos……………………………………………………………………………... v Resumo……………………………………………………………………………………… vii Abstract……………………………………………………………………………………... viii Lista de Abreviaturas, Siglas/Acrónimos e Sinais/Símbolos…………………….................. ix Índice de figuras………………………………………………………………….................. xv Índice de tabelas………………………………………………………………….................. xvi Índice de Gráficos/Quadros…………………………………………………………………. xvii I – Revisão Bibliográfica…………………………………………………………………… 1 1. Introdução………………………………………………………………………………… 1 1.1. Notas Introdutórias…………………………………………………………................. 1 1.2. Aspectos Históricos…………………………………………………………………… 1 2. Anatómo-Fisiológica e Exame do Sistema Gástrico dos Bovinos……………................... 2 3. Tipos de Deslocamento…………………………………………………………………… 5 3.1. Dilatação do Abomaso……………………………………………………................... 6 3.2. Deslocamento do Abomaso à Esquerda……………………………………................. 6 3.3. Deslocamento do Abomaso à Direita………………………………………................. 6 3.3.1. Deslocamento do Abomaso à Direita sem Torção………………………………… 6 3.3.2. Deslocamento do Abomaso à Direita com Torção………………………………… 7 3.4. Deslocamento Anterior do Abomaso………………………………………................. 8 4. Epidemiologia…………………………………………………………………………….. 8 5. Etiologia…………………………………………………………………………………... 10 6. Fisiopatologia…………………………………………………………………................... 11 6.1. Factores de Risco……………………………………………………………………... 13 6.1.1. Factores de Risco Associados à Dieta…………………………………………….. 13 6.1.1.1. Maneio e Nutrição no Pré-Parto……………………………………................... 13 6.1.1.2. Dieta Rica em Concentrado…………………………………………................. 14 6.1.1.3. Fibra Bruta na Dieta…………………………………………………................. 15 6.1.2. Factores de Risco Associados ao Animal……………………………….................. 15 6.1.2.1. Raça e idade…………………………………………………………................. 15 6.1.2.2. Produção Leiteira…………………………………………………….................. 16 xi Índice Geral – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” 6.1.2.3. Final de Gestação……………………………………………………................. 16 6.1.2.4. Doenças Concomitantes……………………………………………................... 17 6.1.2.4.1. Cetose Subclínica Pré-existente………………………………….................. 17 6.1.2.4.2. Hipocalcemia……………………………………………………………….. 17 6.1.2.5. Predisposição Genética…………………………………………………………. 18 6.1.2.6. Variados Factores de Risco Animal…………………………………................. 18 6.1.3. Factores de Risco Associados ao Ambiente……………………………………….. 18 6.1.3.1. Estação do Ano………………………………………………………………… 18 6.1.3.2. Influência Climatérica……………………………………………….................. 19 7. Sinais Clínicos………………………………………………………………….................. 19 7.1. Dilatação Abomasal……………………………………………………….................... 19 7.2. DAE………………………………………………………………………................... 19 7.3. DAD………………………………………………………………………................... 21 7.3.1. DAD sem torção…………………………………………………………………… 21 7.3.2. VA………………………………………………………………………................. 21 7.4. DAA………………………………………………………………………................... 22 8. Diagnóstico……………………………………………………………………................... 22 8.1. Anamnese…………………………………………………………………................... 22 8.2. Exame externo………………………………………………………………………… 22 8.2.1. Exame do meio ambiente………………………………………………................... 22 8.2.2. Exame do Estado Geral………………………………………………..………...… 23 8.2.2.1. Exame Visual Externo……………………………………………….................. 23 8.2.2.2. Exame Físico…………………………………………………………………… 24 8.2.2.3. Exames Específicos…………………………………………………………….. 25 8.2.2.3.1. Percussão…………………………………………………………................. 25 8.2.2.3.2. Auscultação com Percussão………………………………………………… 25 8.2.2.3.3. Sucussão…………………………………………………………………….. 27 8.2.2.3.4. Auscultação com sucussão………………………………………………….. 27 8.3. Exame Interno………………………………………………………………………… 27 8.3.1. Palpação Rectal…………………………………………………………………... 27 8.4. Exames complementares…………………………………………………….................. 28 8.4.1. Ultrassonografia……………………………………………………………………. 28 8.4.2. Hemograma e Bioquímica Sanguínea……………………………………………… 28 xii Índice Geral – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” 8.4.2.1. Hemograma…………………………………………………………………….. 28 8.4.2.2. Bioquímica Sanguínea……………………………………………….................. 29 8.4.3. Exames Semi-Quantitativos da Urina e do Leite………………………………….. 30 8.4.4. Laparotomia Exploratória (Laparoscopia)…………………………………………. 30 8.4.5. Abomasocentese percutânea (recolha de fluido do Abomaso)……………………. 31 8.5. Necrópsia……………………………………………………………………………… 31 9. Diagnósticos Diferenciais…………………………………………………………………. 32 10. Tratamento…………………………………………………………………….................. 33 10.1. Tratamento médico…………………………………………………………………… 34 10.1.1. Dilatação Abomasal, DAE, DAA………………………………………………… 34 10.1.2. DAD……………………………………………………………………………… 37 10.2. Tratamento Cirúrgico………………………………………………………………… 38 10.2.1. Preparação Cirúrgica Comum………………………………………….................. 38 10.2.2. Tratamento Cirúrgico Fechado…………………………………………………… 38 10.2.2.1. Abomasopexia percutânea por sutura cega…………………………………… 38 10.2.2.1.1. Procedimento Cirúrgico…………………………………………………… 38 10.2.2.1.2. Vantagens e Desvantagens………………………………………………… 39 10.2.2.2. Abomasopexia percutânea com sutura de Barras……………………………... 39 10.2.2.2.1. Procedimento Cirúrgico…………………………………………………… 39 10.2.2.2.2. Vantagens e Desvantagens………………………………………………... 40 10.2.2.3. Abomasopexia percutânea com sutura de Barras por Laparoscopia………….. 40 10.2.2.3.1. Procedimento Cirúrgico…………………………………………………… 41 10.2.2.3.2. Vantagens e Desvantagens………………………………………………... 42 10.2.3. Tratamento Cirúrgico Aberto……………………………………………………... 43 10.2.3.1. Omentopexia (Método de Hannover) ou Abomasopexia paralombar direita………………………...…….………………………………………………………… 43 10.2.3.1.1. Procedimento Cirúrgico…………………………………………………… 43 10.2.3.1.2. Vantagens e Desvantagens………………………………………………… 45 10.2.3.2. Abomasopexia Paramedial Direita…………………………………................. 46 10.2.3.2.1. Procedimento Cirúrgico…………………………………………………… 46 10.2.3.2.2. Vantagens e Desvantagens………………………………………………… 47 10.2.3.3. Abomasopexia Paralombar Esquerda…………………….…………………… 48 10.2.3.3.1. Procedimento Cirúrgico…………………………………………………… 48 xiii Índice Geral – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” 10.2.3.3.2. Vantagens e Desvantagens………………………………………………… 49 10.2.3.4. Omentopexia Paralombar Esquerda (Método de Utrecht)….………………… 50 10.2.4. Terapêutica Cirúrgica para DAD…………………………………………………. 50 10.2.5. Acções Pós-Cirúrgicas Comuns…………………………………………………... 51 11. Recidivância e Complicações……………………………………………………………. 52 12. Prognóstico………………………………………………………………………………. 52 12.1. DAE………………………………………………………………………………….. 52 12.2. DAD……………………………………………………………………….................. 54 13. Prevenção…………………………………………………….…………………………... 55 II – Investigação………………………………………………………………….................. 57 II.1. Material e Métodos…………………………………………………………………….. 57 III – Resultados……………………………………………………………………………... 58 IV – Discussão……………………………………………………………………................. 62 V – Conclusão……………………………………………………………………………….. 63 VI – Bibliografia………………………………………………………………….................. 64 VII – Anexos……………………………………………………………………………….... xviii xiv Índice de Tabelas – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” ÍNDICE DE FIGURAS: Figura 1 – Compartimentos Gástricos dos Ruminantes (imagem adaptada)……………….. 1 Figura 2 – Anatomia do Abdómen dos Ruminantes (imagem adaptada)…………………... 4 Figura 3 – Dilatação do Abomaso (imagem adaptada)……………………………………... 6 Figura 4 – Modos de Rotação do Abomaso (imagem adaptada)……………….................... 7 Figura 5 – Afundamento Pronunciado do Globo Ocular…………………………................ 24 Figura 6 – Zona de Auscultação do Ping de DA em DAE e DAD e VA (imagem adaptada)…………………………………………………………………………................. 26 Figura 7 – Auscultação com Sucussão Abdominal (imagem adaptada)……………………. 27 Figura 8 – Técnica de Rolamento (imagem adaptada)……………………………………… 35 Figura 9 – Anestesia local em L invertido (imagem adaptada)...…………………………… 44 Figura 10 – Preparação pré-cirúrgica de cirurgias presenciadas durante o estudo de campo……………………………………………………………………………………….. xx Figura 11 – Anestesia Local………………………………………………………................ xxi Figura 12 – Anestesia Paravertebral………………………………………………………… xxi Figura 13 – Abomasopexia paralombar direita observada durante o estudo de campo……………………………………………………………………………………….. xxii Figura 14 – Omentopexia Paralombar direita (método de Hannover) observada durante o estudo de campo……………………………………………………………………………. xxiii xv Índice de Tabelas – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” ÍNDICE DE TABELAS: Tabela 1 – Diagnósticos Diferenciais de DAE……………………………………………… 32 Tabela 2 – Diagnósticos Diferenciais de DAD e VA………………………………………. 33 Tabela 3 – Resultados SPSS V.11 relativos ao número de animais por tipo de DA……….. 59 Tabela 4 – Resultados SPSS v.11 relativos ao teste One Way ANOVA para a perda percentual de produção quando associada ao tipo de DA………………………………….. 60 Tabela 5 – Resultados SPSS v.11 relativos ao teste One Way ANOVA para a perda percentual de produção quando associada ao tipo de DA………………………………….. 60 Tabela 6 – Resultados SPSS v.11 relativos ao teste One Way ANOVA para a perda percentual de produção quando associada ao tipo de DA………………………………….. 60 Tabela 7 – Resultados SPSS v.11 relativos ao Crosstabs CHi-Square test associando o tipo de alimentação ao tipo de DA………………………………….............................................. 61 Tabela 8 – Resultados SPSS v.11 relativos ao Crosstabs CHi-Square test associando o tipo de alimentação ao tipo de DA………………………………….............................................. 61 Tabela 9 – Resultados SPSS v.11 relativos ao Crosstabs CHi-Square test associando o tipo de alimentação ao tipo de DA…………………………………............................................. 61 Tabela 10 – Registos obtidos no Estudo de Campo………………………………................ xviii xvi Índice de Gráficos – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” ÍNDICE DE GRÁFICOS: Gráfico 1 – Percentagem relativa das patologias associadas ao DA………………………… 59 Gráfico 2 – Tipo de Deslocamento e o número de casos associados……….……………….. 59 Gráfico 3 – Associação da perda percentual de produção ao tipo de DA…………………... 60 Gráfico 4 – Relação entre o tipo de DA e o tipo de alimentação………………….............… 62 xvii Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” I – Revisão Bibliográfica 1. Introdução 1.1 – Notas introdutórias Na actualidade, os bovinos seleccionados para altos níveis de produção leiteira são alimentados com grandes quantidades de granulado, altamente energético, sendo obrigados, porém, a permanecer grande parte do seu tempo em confinamento total, sendo o seu exercício limitado. Todos estes factores, entre outros que serão abordados mais adiante, contribuem para a atonia abomasal, o grande precursor do Deslocamento do Abomaso (DA) 4,24,41,63,76,103,104,151,152 . Assim nota-se cada vez mais uma taxa crescente do número de casos de DA, sendo uma das principais entidades patológicas na Clínica de Vacas Leiteiras de elevada produção 152 . Além disso, a sua importância é reforçada com as elevadas perdas económicas observadas, de entre as quais os custos com o tratamento, a diminuição da produção de leite, o maior cuidado com o maneio e também o refugo dos animais ou mesmo a sua morte 4,35,103,132. A escolha do tema Deslocamento do Abomaso foi feita pelo elevado número de casos observados e pelo interesse em perceber o porquê dessa incidência, e tentar procurar formas de ajudar os produtores a prevenir a ocorrência desta doença. Esta é uma patologia comum e que está descrita desde 1950, mas que apesar de ter várias resoluções com sucesso, não consegue ainda ser evitada, apresentado um importante impacto económico nas explorações leiteiras do nosso país. Durante a elaboração do presente documento, notou-se também alguma falta de publicações recentes sobre o tema. Porém, há que salientar que ocorreram muito poucas alterações acerca dos conhecimentos sobre esta patologia nos últimos anos. Segue-se então um esclarecimento mais detalhado sobre a patologia em questão. 1.2 – Aspectos Históricos O primeiro caso de DA foi diagnosticado e descrito em 1898 por Carougeau e Prestat, no “Journal de Médecine Vétérinaire et de Zootechnie” da Escola de Medicina Veterinária de Lyon em França. Estes referem-se a um caso de Vólvulo Abomasal (VA) num vitelo de 8 dias. Porém, se forem tidos em conta apenas os Deslocamentos observados em animais adultos, consideramos como primeiro caso, o descrito em 1928 por Hilger, também em França, seguido de Vink em 1930, na Holanda, com dois casos de Deslocamento do Abomaso à Direita (DAD) diagnosticados post mortem 1,42,81. 1 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” Surgiram entretanto alguns relatos de DA, de entre os quais o de Emsbo em 1945, que afirmava que o DAD era causa comum de mortalidade em Bovinos na Dinamarca, e também o de Loje, igualmente na Dinamarca, que afirmava o Deslocamento do Abomaso à Esquerda (DAE) ser mais frequente do que DAD 1,42. Em 1950, Begg descreveu pela primeira vez com algum detalhe um caso de Deslocamento do Abomaso à Esquerda 42,81,136 . Descrevia então três casos de DAE, um deles cujo diagnóstico foi efectuado por laparoscopia e outros dois nos quais foi encontrado um “som ressonante” do lado esquerdo, sob a metade inferior das últimas costelas, sendo esses animais submetidos então a jejum durante dois dias, como forma de tratamento 42. No entanto, em 1954, Moore, nos Estados Unidos, afirma ter encontrado o primeiro caso com diagnóstico positivo de um caso de DA em 1948, tendo proporcionado uma resolução cirúrgica 42,81. Sabe-se, porém, que Begg (1950) e Müller (1953) foram os primeiros a tentar a terapia cirúrgica para o DAE 1,42 . Quanto a tratamentos cirúrgicos, em 1959, Straiton e Mcintee, no Reino Unido, relatam a abomasopexia pela primeira vez 42. Por fim, e tendo em conta os inúmeros relatos que surgiram desde então, refere-se a importância da publicação de Dirksen, na Alemanha, em 1962, e também de Lagerweij e Numans, na Holanda, no mesmo ano, acerca de dois métodos de abomasopexia que se vieram a tornar muito usuais no presente, o método de “Hannover” e o de “Utrecht” 1,42 . 2 – Revisão Anatómo-Fisiológica e Exame do Sistema Gástrico dos Bovinos Os compartimentos gástricos dos ruminantes são divididos em quatro partes: Rúmen, Retículo, Omaso e Abomaso, pelos quais o conteúdo alimentar passa sucessivamente 16,36,55,85,119,127 . (Figura 1) Figura 1 – Compartimentos gástricos dos Ruminantes16 Todos estes compartimentos ocupam, no seu conjunto, praticamente toda a metade esquerda da cavidade abdominal e também uma parte substancial da direita 6,16,36. 2 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” Desses quatro compartimentos, o Abomaso é aquele que se equipara ao estômago de um Monogástrico. 9,14,15,16 Este localiza-se essencialmente no lado direito da cavidade abdominal e as suas relações anatómicas são com o peritoneu ventral da cavidade abdominal, com o retículo, cranealmente, e com o omaso, craneodorsalmente. Passa também sob o saco craneal do rúmen, cruzando em torno do omaso, na região do umbigo, da esquerda para a direita da linha média, onde ascende para formar o piloro, isto uma vez que a porção craneal, a região cárdica, tende a estar mais descaída para a esquerda 6,36,55,85,103,104,119,127. Há que notar, porém, que a projecção topográfica do abomaso para a cavidade abdominal varia essencialmente com a idade e com a fisiologia do animal (casos de gestação, fases de contracção rumino-reticular e omasal e estado de repleção abomasal). Pode-se dizer, no entanto, que a sua área principal de localização num bovino adulto será a nível do 5º/6º ao 10º/11º espaços intercostais, na região mais ventral do abdómen direito 36,85,103,119 . (Figura 2) No momento do nascimento, o Abomaso está preparado para levar a cabo a digestão do leite. O Abomaso predomina, assim, sobre os demais compartimentos, sendo notável, não só pelo seu tamanho, que ultrapassa o dos três restantes compartimentos, como também pela sua maturidade funcional. Neste momento, o abomaso estende-se desde o fígado e abdómen até à entrada da pélvis e desde o solo até metade do diâmetro vertical da cavidade abdominal. Só perto das três semanas de vida, quando há uma mudança alimentar nos animais, o Rúmen inicia a sua evolução mais concreta, dando origem, aos poucos e poucos, à anatomia normal da cavidade abdominal de um bovino adulto, no qual compreende 80% da capacidade dos compartimentos gástricos, ao passo que o Abomaso corresponde a apenas 7%. Note-se que este passa por uma fase de desenvolvimento grande até, aproximadamente, às 8 semanas, podendo esse período ser aumentado, dependendo do regime alimentar 36,55,62,102,144,145. Sendo o Abomaso o segmento dos compartimentos digestivos de um Ruminante que se equipara ao estômago normal de um Monogástrico, estudando a sua anatomia interna, vê-se que é revestido por uma mucosa glandular de coloração rosa, recoberta de um muco fluido, cuja suavidade ao tacto contrasta com a sentida nos outros compartimentos gástricos. A superfície da mucosa está aumentada em aproximadamente seis vezes, devido ao grande pregueamento da parede interna. Estas pregas formam-se desde a porção do Fundus (originada a partir do orifício Omaso-Abomasal, sendo a parte mais ampla do estômago) até ao Piloro (Porção mais distal do Abomaso, que se comunica com o Duodeno), constituído este por um Antro Pilórico (dilatação após o Corpo) e pelo Esfíncter Pilórico. Há que notar ainda que, tal como o estômago de um 3 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” Monogástrico, o Abomaso é constituído também pelo Corpo, porção entre o Fundus e o Piloro 16,36,55,85,127 . Os movimentos abomasais num animal adulto são bastante lentos, consistindo em contracções circulares da porção proximal e movimentos peristálticos mais fortes a nível do piloro. Esta segunda actividade parece ser desencadeada pelo contacto do conteúdo digestivo com o piloro, quando o omaso contrai. É possível que estas modificações normais da posição facilitem o deslocamento, juntamente com outros factores, uma vez que a ausência de propulsão do alimento e a acumulação de gás (atonia pós acumulação de gás no fundus), juntamente com mudanças de posição, possa facilmente levar ao deslocamento 36,62,103,104,107. Fig. 2 – A – Anatomia Normal do lado Esquerdo; B – Anatomia Normal do lado Direito; C – DAE; D – DAD com Vólvulo2 Como o abomaso está bem fixo cranealmente ao omaso, que tem um peso considerável, e distalmente à porção cranial do duodeno, estando também fixo pela sua curvatura menor pelo omento menor ao fígado, compreende-se ser a porção média aquela que tem uma maior facilidade em deslocar-se ao longo da porção ventral da cavidade abdominal. Além disso, as contracções do rúmen e retículo podem permitir ao abomaso, com uma posição relativamente flutuante devido à acumulação de gás, deslocar-se até ao lado esquerdo, entre o rúmen e a parede abdominal esquerda, a nível das três ou quatro últimas costelas. Já no deslocamento à direita, a porção média do Abomaso situar-se-á entre os intestinos e a parede abdominal direita. Note-se que estas situações serão explicadas de forma mais detalhada à frente 36. 4 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” Em situação normal, o exame físico do abomaso é muito limitativo, uma vez que este apenas pode ser localizado e estudado por meio do conhecimento anatómico, conjuntamente com a auscultação, ultrassonografia e paracentese, as quais nos permitem, com algum grau de segurança, saber que estamos na sua presença, ou ainda por palpação externa, percussão, punção ou radiografia. Assim, apenas em situações patológicas, como as que se verão mais à frente, entre outras, poderemos examiná-lo de forma mais concreta, por meio de sinais mais específicos 103,119 . Assim, o exame por palpação rectal e/ou externa apenas nos permite ter certezas de que realmente sentimos o abomaso em situações patológicas, tais como abomasites, DAD, entre outras. O mesmo acontece por percussão, uma vez que quando em situação normal, não nos é permitido saber com certeza os limites do órgão. Pode ser dito, porém, que o seu som à percussão é subtimpânico a relativamente maciço, dependendo do seu estado de repleção. Já em termos de auscultação, embora se saiba pouco acerca dos ruídos do abomaso, sabe-se distinguir entre o som quase nulo do peritoneu, o peristaltismo intestinal e o som das contracções ruminais, e da crepitação do omaso, pelo que o abomaso pode ser assim localizado 119. O abomaso pode ser identificado também por ecografia na linha média ventral, caudalmente ao processo xifóide, na região paramediana direita e esquerda. Este é visualizado como um órgão de ecogenicidade heterogénea, moderadamente ecogénico, devido ao seu conteúdo. A motilidade não pode ser observada, embora as suas dimensões relativas possam ser detectadas 18,19,20,103. Efectuando uma abomasocentese, pode ser avaliado o fluido quanto à sua cor, cheiro, presença ou não de sangue e quanto ao pH e valores de Cloretos. Em situação normal, a cor varia de verde-acastanhado (cor de azeitona) a cinza e o fluido apresenta um cheiro azedo. O seu pH varia de 1,38 a 4,50. Valores mais elevados ocorrem na presença de hemorragia, bílis ou abomasite crónica devida à Ostertagiose. Os valores normais de Cloreto no fluido abomasal de Bovinos são determinados por colorimetria ou mercurimetria. Em animais adultos oscilam entre 100 a 135 mmol/L. Estes valores aumentam relativamente (155 mmol/L) em caso de DA 20,103,119 . 3 – Tipos de Deslocamento do Abomaso Existem quatro formas de Deslocamento do Abomaso. São elas a Dilatação do Abomaso, o Deslocamento do Abomaso à Esquerda, o Deslocamento do Abomaso à Direita, e o Deslocamento Anterior do Abomaso, este último algo desconhecido 2,41,47,88,103,165. 5 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” Deve-se notar também que, devido à anatomia do abomaso e a todas as interligações com outros órgãos, quando este sofre deslocamento, o retículo, o omaso, o duodeno e o fígado também se deslocam conjuntamente 103. Sabe-se, contudo, que a forma mais comum de DA é o DAE 4,41,88,103. 3.1 – Dilatação do Abomaso Em qualquer tipo de Deslocamento, este é precedido por uma atonia abomasal. A atonia não permite ao Abomaso ter qualquer tipo de onda peristáltica, levando a acumular gás no seu interior, sem que consiga expulsá-lo, levando assim à Dilatação 84,103,149. (Figura 3) Fig. 3 – Dilatação do Abomaso 84 3.2 – Deslocamento do Abomaso à Esquerda (DAE) Caracteriza-se por um deslocamento completo ou parcial do abomaso dilatado entre o rúmen e a parede abdominal ventral. Assim, o abomaso localizar-se-á caudalmente ao omaso e à esquerda do rúmen. A curvatura maior, que passa ventralmente ao rúmen, é aprisionada entre o rúmen e a parede abdominal esquerda, sendo a sua posição mais usual no flanco esquerdo inferior 2,4,39,41,88,103,152. (Figura 2) 3.3 – Deslocamento do Abomaso à Direita (DAD) Dentro deste tipo de Deslocamento, poderemos também englobar dois subtipos: DAD com Torção ou Volvo Abomasal e DAD sem Torção 39,41,103. 3.3.1 – DAD sem Torção No caso de DAD, o abomaso enche com gás, mas permanece do lado direito do animal, posicionando-se entre o fígado e a parede abdominal direita. Em casos muito graves, pode estender-se caudalmente para a região pélvica. Nestes casos, o fluido acumulado encontra-se obstruído e o animal apresenta-se, eventualmente, em estado de choque e desidratação. Apesar 6 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” disso, apenas uma pequena quantidade de ingesta consegue passar, sendo assim as fezes escassas 2,39,41,103 . 3.3.2 DAD com Torção ou Vólvulo Abomasal (VA) O Vólvulo é a rotação do abomaso pelo seu eixo mesentérico, ao passo que a torção é a rotação de um órgão tubular ao longo do seu eixo longitudinal. Tanto um como o outro, resultam na obstrução vascular e lesão isquémica. Na generalidade, quando falamos em Torção e Vólvulo do Abomaso, as duas situações são englobadas como Vólvulo, sendo mais comum a rotação em torno do eixo maior do órgão 13,14,39,54. Seguidamente à fase de dilatação e deslocamento, o abomaso pode rodar no sentido dos ponteiros do relógio, ou em sentido contrário, visto pela direita, num plano vertical ao longo do eixo horizontal que passa transversalmente pelo orifício omaso-abomasal 2,39,103,138. Na sua forma aguda, devido a uma obstrução completa do piloro, esta manifesta-se por um grande desconforto para o animal. Esta rotação é na ordem dos 180 a 270º e denomina-se também de obstrução aguda. Envolve ainda uma grande distensão abdominal, com comprometimento circulatório e necrose isquémica 103. (Figura 2 e Figura 3) Fig. 3 – Modos de Rotação do Abomaso 86 Legenda: Diagrama ilustrando dois possíveis modos de rotação do abomaso, omaso e duodeno cranial aquando da ocorrência de VA; (1) normal; (2) dilatação simples e deslocamento à direita; (3) vólvulo de 180º em volta do eixo longitudinal do omento menor, no sentido contrário aos ponteiros do relógio, visto por detrás do animal; (2´) rotação do abomaso em 90º num plano sagital, no sentido contrário aos ponteiros do relógio, visto pelo lado direito do animal; (3’) rotação do abomaso e omaso de 180º em volta do eixo transverso do omento menor, empurrando o duodeno cranialmente, medial ao omaso; (4) vólvulo de 360º no sentido contrário aos ponteiros do relógio, fase final da rotação resultante de qualquer um dos modos de rotação. (D) duodeno, (E) esófago, (G) omento maior, (L) omento menor, (O) omaso, (P) piloro, (Q) retículo, (R) rúmen 7 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” 3.4 – Deslocamento Anterior do Abomaso (DAA) No Deslocamento Anterior, o Abomaso localiza-se cranealmente no abdómen, sem grande distensão de gás, encontrando-se entre o Retículo e o Diafragma 88,103,123,168. 4 – Epidemiologia A incidência do DA em bovinos leiteiros varia, dependendo do país, de 0 a 7% por ano, segundo dados de Van Winden. Deve-se considerar contudo uma grande variação no nível de exploração entre os vários países 24,78,152. Sabe-se também que quando a incidência do DA numa exploração é elevada, pode resultar em perdas económicas consideráveis 152 . Esta incidência foi indicada por Pehrson e Stengärd como sendo entre 10 a 20% 35. Analisando a relação entre os casos de DAE e DAD, diz-se ser traduzida por um rácio 7.4:1 103 . Wolf diz que o DAE predomina com uma taxa de aproximadamente 80% de ocorrência, ocorrendo esta essencialmente nas primeiras quatro semanas após o parto 163,164. Relativamente à taxa de sobrevivência associada ao DA, no DAD, a média de sobrevivência estimada ronda os 61-74% 125 . Já para DAE, não se tendo encontrado dados relativos a uma a taxa de mortalidade total, apenas se pode afirmar que, em vacas com DAE e diarreia associada, esta é muito maior (21%) do que a verificada para vacas com DAE e fezes normais (8%) 103. O DA ocorre essencialmente em bovinos de raça Holstein-Frísea, Holstein Alemã, Jersey e Guernsey 152,163,164 . Por outro lado, o DAE é raro ser encontrado em bovinos de raça German Fleckvieh. Geishauser et al. e Uribe et al. apresentam resultados de 0,24 para a heritabilidade de DA em gado Alemão (German black-pied cattle) e de 0,28 em vacas Holstein 152. Estudos comprovam que a selecção para uma elevada estatura e grande profundidade de abdómen e tórax podem explicar a predisposição racial anteriormente relatada. Estas raças podem ter um risco aumentado de DA, devido à grande distância, notada verticalmente, entre o abomaso e o cólon descendente, o que prejudica o esvaziamento do abomaso 35,161 . Assim, aceita-se genericamente que a predisposição genética é um importante factor de risco para a ocorrência de DA 35,163,164 . De acordo com Wolf et al., ambos os tipos mais comuns de DA (DAE e DAD) estão geneticamente altamente relacionados, concluindo que ambas as formas da doença são determinadas pelos mesmos genes 103,161,163. Numa análise relativa ao período crítico de ocorrência da patologia para DAE, o período de maior risco é aquele que complementa o primeiro mês pós-parto, sendo que o risco vai aumentando com a idade 152 . Wolf relata que o período que compreende as primeiras quatro semanas pós-parto é o mais importante, enquanto Radostits refere que 90% dos casos ocorrem 8 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” nas primeiras 6 semanas pós-parto, ocorrendo também casos ocasionais algumas semanas antes do parto 103,163,164. A primeira lactação é também um período de risco relativo de desenvolvimento de DA. Isso pode ser resultado de má adaptação social e nutricional da primípara 152. Por outro lado, contrariamente ao DAE, que ocorre essencialmente nas primeiras 4 semanas pós-parto, apenas 50-70% dos DAD são encontrados neste período, enquanto os restantes ocorrem independentemente do estádio de gestação ou lactação 35 . Pelo contrário, Radostits e outros autores dizem que o DAD ocorre geralmente em bovinos adultos, no período entre as 3 e as 6 semanas pós-parto 34,103,146 . Sendo os dados anteriores referentes a bovinos de leite, há que referir que o deslocamento abomasal à direita e o vólvulo foram descritos em bovinos de aptidão de carne entre o primeiro mês e os 6 anos de idade, com uma idade média de 10 meses 120. É reconhecida a maior incidência de DAE com o aumento da idade 35,163,164 . Porém, há 35 também relatos de que a incidência é aumentada em novilhas no primeiro parto . Já os casos de DAD ocorrem mais frequentemente em vitelos sem qualquer história de patologia prévia, desde alguns meses de idade até aos 6 meses. Ocorre também em vacas e touros adultos, mas em muito menor grau 103,104. Radostits et. al, afirma que o período de maior risco é entre os 4-7 anos de idade para todas as patolgias de DA 80,103,146. Realizando uma análise da relação de DA ao nível produtivo, sabe-se que quanto maior o nível produtivo, maior é o risco de desenvolvimento de DA 44. Por outro lado, as vacas com excesso de Condição Corporal no momento do parto apresentam um maior risco de DAE. Segundo Shaver, as incidências para uma condição corporal baixa (2,75 a 3,25), média (3,25 a 4) e alta (≥4) são respectivamente de 3.1, 6.3 e 8.2% 132. As vacas com DA apresentam uma menor ingestão alimentar antes do diagnóstico 99 .A afirmação é concordante com os estudos de Dirksen, que sugere que perante um menor enchimento ruminal, existe uma maior facilidade do Abomaso em deslocar-se para a esquerda, mesmo antes de serem detectados quaisquer sinais. O mesmo acontece com alimentação à base de forragem de má qualidade 69 . Estudos epidemiológicos mostram uma correlação entre o fornecimento de alimento com baixo teor de fibra e alto em concentrado e a incidência de DA 152,153 . Cameron sugere ainda o facto de o risco aumentar no final da gestação, devido à vaca ser alimentada com um nível baixo de fibra 24 . Posto isto, Shaver descreve ser recomendado um comprimento da fibra de 1,3 a 2,5 centímetros 9 132 . Conclui-se também daqui o facto de que Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” quanta mais silagem de milho se der, maior a probabilidade de ter um DA 25,151 . Van Winden refere ainda um risco 4 vezes maior para DA em fêmeas alimentadas ad libitum no período de 1 a 1,5 anos de idade 152. Há indicações de que a época e as alterações meteorológicas podem induzir a patologia 26,35,103 . Cannas da Silva relata que há uma maior incidência no Inverno e início da Primavera, que não podem ser relacionadas com uma maior frequência de partos. Diz-nos também que a incidência aumenta durante a mudança de dias com sol, quentes e secos, para dias com condições húmidas e frias. A explicação provável está no mau armazenamento da silagem e na diminuição da ingestão de alimento 26,103. 5 – Etiologia A etiologia do DAE é multifactorial. Porém, está intimamente relacionada com a quantidade e qualidade do alimento ingerido antes e depois do parto. O período de transição, que vai desde as 2 semanas pré-parto até às 2 a 4 semanas pós-parto, é o que maior risco apresenta na etiologia do DAE, como já foi referido. Deve-se ao facto de que a diminuição da ingestão de alimento no pré-parto e o seu lento aumento no pós-parto são factores de risco que causam diminuição do estado de repleção ruminal, reduzida relação forragem:concentrado e aumento da incidência de patologias no pós-parto 97,103,132,152,163,164. São indicadas como possíveis causas de DAE a alimentação no pré-parto com quantidades excessivas de concentrado, a diminuição do volume ruminal causada pela grande depressão da ingestão no pré-parto e reduzida relação forragem:concentrado, a diminuição da motilidade ruminal devida ao aumento do teor de AGV com consequente diminuição do enchimento abomasal. A alimentação com altos teores de concentrado resulta na diminuição da motilidade abomasal e na maior acumulação de gás neste compartimento 24,25,132,151,152,153 . Assim, pode-se compreender a etiologia do DAE como a alimentação com elevados teores de concentrado na gestação avançada, levando isso a uma distenção gasosa e hipomotilidade do abomaso 37,38,103,132. Estas causas serão as mesmas que levarão também a uma Dilatação Abomasal e a um DAA. A diferença reside na fisiopatogenia do processo 84,88,103,123,149,168 . Já no caso de DAD, a sua etiologia não está ainda muito compreendida, julgando-se porém ser semelhante à do DAE. Pensa-se que a atonia abomasal é o grande precursor da Dilatação Abomasal e deslocamento, com consequente torção. Neste caso, a distensão abomasal poderá ocorrer quer por obstrução pilórica ou por atonia primária da musculatura abomasal. O 10 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” último factor parece ser o mais provável como causa da obstrução em bovinos adultos. Porém, o primeiro é mais apontado como causa em jovens 37,38,39,97,132. Notar-se-á mais adiante porém, que estas não são as únicas causas, uma vez que há também numerosos factores de risco no DA, quer seja em DAE, DAD, DAA, ou uma simples dilatação. 6 – Fisiopatologia Tal como foi anteriormente afirmado para a etiologia, também a patogenia do DA está ainda muito por explorar e definir. Muitos dos documentos que relatam este tema têm já vários anos inclusive. Como se verá, a fisiopatologia do DA conta essencialmente com a explicação de quais os factores que levam à Dilatação Abomasal e ao favorecimento do seu deslocamento anterior, à esquerda, ou, pelo contrário, à direita. A redução da ingestão de matéria seca (MS) é de aproximadamente 35% na última semana pré-parto, o que faz aumentar as concentrações de triglicéridos hepáticos no pós-parto imediato 120 . A elevada quantidade de concentrado, dada na alimentação de vacas leiteiras, no pré-parto, provoca a diminuição da motilidade ruminal e o aumento da acumulação de gás no abomaso 65,103,104,132 ou total (atonia) . Este decréscimo da motilidade abomasal pode ser parcial (hipomotilidade) 17,95 . A atonia abomasal pode ter como causa uma elevada concentração de ácidos gordos voláteis, que em conjunto com a contínua fermentação microbiana da ingesta leva à acumulação de gás e, consequentemente, à distensão do órgão, sendo estes os dois contributos essenciais para o DA 35,41,63,73,103,146,152 . O gás acumulado no abomaso é composto maioritariamente por metano (70%), seguido de dióxido de carbono e azoto 152 . Para além da teoria da fermentação prolongada, facilitada pelo aumento do pH abomasal no pós-parto, que leva à produção de gás, existe outra teoria que defende que a quebra da concentração de cálcio plasmático, em conjunto com valores baixos de insulina, pode reduzir a secreção de ácido no abomaso, resultando num aumento da produção de gás 59 . Para a atonia, pode ainda ajudar a diminuição do tónus do músculo liso, causada por hipocalcemia 60,97. O tamanho das partículas ingeridas é importante para o estímulo mecânico da ruminação e para a prevenção do DAE, todavia, não está definido o tamanho mínimo que mantém o normal funcionamento de todos os compartimentos gástricos 41,63 . Porém, estudos que contemplam o tamanho das partículas da forragem foram já descritos na secção de Epidemiologia 132. A ocorrência do DAE está também associada a determinadas doenças concomitantes, que na sua maioria são acompanhadas por processos febris e inflamatórios. Nestes casos, a alteração 11 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” na motilidade abomasal pode ser provocada pelo efeito depressivo de endotoxinas e substâncias pirogénicas endógenas (Interleucina-1). As contracções retículo-ruminais são abolidas pela estimulação dos mediadores inflamatórios sobre o tónus do músculo gástrico liso, o que leva à inibição dos reflexos, e pelo efeito depressor directo sobre o núcleo central vagal. Apesar de não existirem relatórios acerca do efeito da febre, endotoxinas e mediadores inflamatórios directamente sobre abomaso, há registos desses mesmos efeitos no aparelho gastrointestinal de várias outras espécies, atestando que as funções motora e secretora podem ser inibidas 41,70,82. Muitas vacas com DAE apresentam também cetose clínica. No entanto, o papel de causa efeito nesta relação não está ainda esclarecido. A cetonémia grave pode deprimir a motilidade gastrointestinal. Contudo, a cetose pode resultar da diminuição da disponibilidade de nutrientes, que se seguiu à anorexia, causada pela diminuição de passagem da ingesta pelo estômago anterior e pelo desconforto causado pelo DAE 23,41,50,51,103. Um outro dado a ter em conta é a quantidade de espaço livre no abdómen, que permite a movimentação do abomaso. Tais factores encontram-se mais pormenorizadamente descritos na secção seguinte, relativa aos factores de risco associados ao animal. Em determinadas circunstâncias, o abomaso adopta posições anormais, o que aumenta a probabilidade do seu deslocamento. São disso exemplos o decúbito prolongado causado por claudicação, a hipocalcémia, um parto difícil, ou a existência de cubículos curtos que dificultam o acto de levantar. Todos estes factores devem ser considerados. No entanto, quando uma vacaria em particular tem uma incidência de DAE alta, deve ser imediatamente estudado o regime alimentar e o maneio nela praticados, uma vez que estes factores ocupam um lugar de destaque na etiologia do DA 34. O abomaso atónico e repleto de gás desloca-se ventralmente e por baixo do rúmen, ao longo da parede abdominal esquerda, geralmente em posição lateral ao baço e ao saco dorsal do rúmen. O fundo e a grande curvatura do abomaso são os primeiros a mudar de posição, seguidos do piloro e duodeno. O omaso, retículo e fígado também se deslocam. O deslocamento do abomaso à esquerda resulta invariavelmente na ruptura da zona de fixação do omento maior ao abomaso 2,4,36,39,41,63,103,152. O abomaso pode ocasionalmente ficar preso anteriormente entre o retículo e o diafragma, situação denominada de “deslocamento do abomaso anterior”. Num estudo com 161 deslocamentos de abomaso, 12% dos casos pertenciam ao deslocamento anterior 88,103,123,168. No caso de DAD, após a atonia inicial, há a acumulação de fluido e gás, o que empurra o abomaso gradualmente mais distendido numa posição caudal e direita. Após esta fase de 12 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” dilatação, relativamente comum aos outros tipos de deslocamento, a distensão abomasal pode ser de tal ordem, que impeça a sua evacuação de conteúdos para o intestino. Isso leva à gradual diminuição do trânsito intestinal 2,39,41,103. À medida que a pressão gasosa do abomaso aumenta, a disposição anatómica dos órgãos pode predispor a que ocorra um caso de VA. Ao mesmo tempo, a perfusão decresce, resultando em graus variados de isquémia na mucosa abomasal e na sua lesão com ulceração e perfuração, daí que um dos sintomas típicos seja o de fezes com melena 2,41,103. No caso de VA, após a fase anteriormente descrita, o abomaso gira simplesmente numa direcção horária ou antihorária, levando à necrose isquémica mais acentuada do órgão 2,39,86,103,138 . 6.1 - Factores de risco Como foi anteriormente verificado, existe ainda pouca informação disponível sobre dados epidemiológicos de DAD. Assim, e tendo em conta o que já foi descrito na etiologia do DA, sabe-se que a maior parte dos factores de risco se relacionam com o DAE, considerando-se portanto similares, uma vez que a causa primária da patologia é comum a todas as formas de DA. A causa exacta para o DAE é desconhecida, no entanto, foi observada uma associação entre a ocorrência desta doença e condições climatéricas adversas, dieta com elevados níveis de concentrados e baixos valores de fibra bruta (FB), doenças concomitantes, idade, raça e predisposição genética 41,103,104. De uma forma geral, podem ser distinguidas três grandes áreas de factores de risco de DA: Factores de risco associados à dieta; Factores de risco associados ao animal; e factores de risco associados ao ambiente 88,103,168. 6.1.1 - Factores de risco associados à Dieta Entre os vários factores de risco identificados, a nutrição, é provavelmente, o mais fácil de controlar em efectivos leiteiros 24 . Acrescentam-se, assim, outras informações não referidas ainda no capítulo de Epidemiologia. 6.1.1.1 - Maneio e nutrição no pré-parto De acordo com o observado em efectivos de produção leiteira, existe uma importante associação entre o balanço energético negativo (BEN), reflectido pelo aumento da concentração dos ácidos gordos não esterificados (AGNE), e o DAE 24,150,152,153 . Podem enunciar-se os seguintes factores de risco associados ao maneio nutricional do pré-parto e, consequentemente, 13 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” ao BEN: elevados níveis de condição corporal, inadequado fornecimento de dieta, dietas com níveis superiores a 1,65 Mcal de NEL/kg de matéria seca e estações de Inverno e Verão 24,26,35,87 . As vacas alimentadas com dietas altamente energéticas no período seco, podem ficar obesas, o que pode levar a uma diminuição da ingestão de matéria seca no pré-parto. Os partos durante os meses quentes de Verão também contribuem para a diminuição da ingestão de matéria seca. A lipidose hepática, comum em vacas com condição corporal superior à desejada, é considerada um factor de risco para o DAE 24,25,103,151. São ainda considerados factores de risco os casos de cetose diagnosticados antes do deslocamento abomasal. A cetose está associada a uma baixa ingestão de MS, o que conduz à diminuição da repleção e, consequentemente, do volume ruminal, reduzindo a motilidade dos pré-estômagos e, provavelmente, a motilidade abomasal. Este menor volume ruminal oferece ainda menor resistência ao DAE 24,103. O encurtamento do período seco, juntamente com a oferta de uma dieta com elevado teor energético durante todo o ciclo gestação-lactação, resulta numa melhoria do balanço energético, bem como do estado metabólico das vacas na lactação subsequente 108. 6.1.1.2 - Dieta rica em concentrado A produção leiteira cada vez mais intensiva fez com que se começasse a dar mais concentrado e menos forragem às vacas, para que assim produzissem mais leite. No entanto, esta adaptação leva a alterações metabólicas e a doenças, tais como DA e a acidose. As vacas produzem leite através da matéria seca que consomem. O grande problema é que, muitas vezes, a humidade de certos elementos incorporados na dieta é superior à suposta aquando da formulação, sendo o seu peso maior, administrando-se assim menos nutrientes do que o necessário e falhando a supressão das necessidades dos animais 73. Existe uma maior incidência de DAE quando é oferecida uma maior quantidade de concentrado na dieta, durante o pré-parto. A vantagem da dieta completa (TMR - total mixed ration) é permitir o controlo do rácio forragem: concentrado. Uma TMR específica para o grupo de transição com maior quantidade de fibra efectiva está recomendada no pós-parto inicial 152,153,87 . O aumento de concentrado na dieta aumenta a passagem de ingesta do rúmen para o abomaso, o que, por sua vez, causa a elevação da concentração de AGV, que pode inibir a motilidade abomasal 34,96,150,152 . A passagem da ingesta para o duodeno fica assim impossibilitada, acumulando-se no abomaso. O grande volume de metano e dióxido de carbono encontrados no abomaso depois da ingestão de concentrado, pode ficar aí aprisionado, causando 14 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” a sua distensão e deslocamento. Contudo, a importância do aumento da concentração de AGV abomasais como causa de atonia abomasal é ainda controversa 103. Há que ter em conta que, dietas deficientes em energia, oferecidas no final do pré-parto, podem também aumentar o risco de DAE, pela falha no aumento da capacidade de absorção das papilas ruminais e falha na adaptação da microflora ruminal à ingestão de dietas do pós-parto, com níveis energéticos superiores. Este aumento de absorção de energia pode ajudar a reduzir a incidência de lipidose hepática e cetose. A oferta de concentrado no pré-parto é polémica, sendo difícil definir os limites das suas vantagens e desvantagens. Até que mais dados estejam disponíveis, Shaver considera razoável a oferta de suplemento de concentrado no final da gestação na ordem dos 0,5 a 0,75% do peso vivo do animal 103,132. 6.1.1.3 - Fibra bruta na dieta Uma concentração de FB na dieta de vacas leiteiras inferior a 16-17% é considerada um importante factor de risco para DAE. A ração peletizada finamente moída e a fibra de curto comprimento podem ser factores de risco, por provocarem reduzida função ruminal e supressão do apetite, o que leva a uma repleção ruminal fraca e ao aumento da fermentação, que por sua vez faz aumentar os AGV e a produção de gás 103,131. Recentemente, Stengärde e Pehrson reportaram que a fibra neutro detergente (NDF), componente da silagem, era baixa em efectivos com problemas de DA e que alimentar com TMR é um factor de risco para o deslocamento. Concluíram que oferecer uma forragem com baixo NDF, ou seja inferior a 25%, era um factor de risco mais importante para o deslocamento do que a quantidade de concentrado dada junto ao parto e que o princípio para a prevenção do DA é manter um bom estado de repleção ruminal 96,137. Animais alimentados com forragens com elevada digestibilidade de NDF comem mais e produzem melhor 140. 6.1.2 - Factores de risco associados ao animal 6.1.2.1 - Raça e idade Os bovinos leiteiros apresentam um maior risco de desenvolver DAE e DAD do que bovinos de carne, da mesma forma que, entre os bovinos, as fêmeas estão mais predispostas a desenvolver DAE do que os machos. Contudo, os machos apresentam a mesma incidência de DAE e DAD 52,103. Os estudos de raça foram já discutidos no capítulo de Epidemiologia. 15 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” Como já foi referido, o risco para ambas as doenças aumenta com a idade, sendo maior entre os 4 e os 7 anos 80,103,146 . No entanto, é importante referir que ambas as alterações patológicas podem ocorrer em qualquer idade referem precisamente o contrário 87 34,52 . Este tema é controverso e outros estudos . Por exemplo, Sexton et al., apresentam a distribuição de 39 vacas com DAE de acordo com o número de lactação, sendo que 71,7% dos casos sugiram nas primeiras três lactações. De notar ainda que animais com idade inferior a um ano apresentam DAD com maior frequência do que DAE 146. 6.1.2.2 - Produção leiteira A relação entre a produção leiteira, ou o potencial da mesma, e o DAE foi examinada em vários trabalhos, tendo sido inconclusivos os resultados obtidos maior incidência da doença deu-se em vacas altas produtoras 40,58,103 . Nalgumas observações a 52,103 . Outros defendem que uma maior produção leiteira na lactação anterior não aparenta ser um factor de risco para o DAE 118 . Alguns estudos demonstraram uma associação entre efectivos leiteiros com elevada média de produção leiteira e com alta capacidade de transmissão genética dessa mesma característica e a elevada ocorrência de DAE 24,103,112 . Estudos posteriores concluíram que não havia diferença entre os efectivos produtores de leite que eram de alta ou baixa produção, e a sua relação com o DAE. Existem poucas correlações genéticas entre DAE, produção de leite e proteína, devendo estes factores ser independentes para a selecção 103. 6.1.2.3 - Final da gestação Uma vez que o parto parece ser o principal factor precipitante da doença, foi postulado que no período final da gestação o rúmen é levantado do chão abdominal pelo útero e o abomaso é empurrado anteriormente e para a esquerda, por baixo do rúmen. Depois do parto, o rúmen continua a encurralar o abomaso, especialmente se este está atónico ou distendido com comida, como é de prever caso a vaca seja alimentada intensamente 36,55,103,146. Um estudo apresentado por Constable et al. refere que durante as 2 primeiras semanas pós-parto ocorreram proporcionalmente menos vólvulos abomasais que DAE, 28% e 57% respectivamente 146 . Uma vez que foram menos os casos de DAD no pós-parto imediato, é sugerido que o volume ruminal pode influenciar directamente a direcção do deslocamento abomasal. Com base nos dados, é sugerido que a atonia abomasal é um pré-requisito para DAD e DAE. Acredita-se que um volume ruminal normal é uma barreira efectiva contra o DAE e que a grande incidência de DAE em vacas lactantes é o resultado do seguinte conjunto de factores: 16 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” diminuição do volume ruminal, aumento do espaço abdominal imediatamente depois do parto e uma maior exposição a factores que conduzem a atonia abomasal 35,37,38,68,97,103,152. A normal posição do abomaso, ligeiramente à direita da linha média, torna fora do periparto o deslocamento presumivelmente mais fácil para a direita 146 . Já o VA é esporádico e, como apresentado no estudo anterior, não está associado ao parto da mesma forma que os DA 41. Um outro factor prende-se com o facto de actualmente a selecção genética das vacas leiteiras ser feita de forma a dar preferência aos animais com maior profundidade corporal. Algumas famílias de vacas leiteiras possuem maior incidência de DAE, quando comparadas com outras, o que se tornou mais óbvio com a prática da transferência de embriões 34,35,74,163,164. 6.1.2.4 - Doenças concomitantes Comparando vacas com DAE com vacas controlo, as primeiras têm maior probabilidade de já terem tido retenção placentária, cetose, distócia, nados-mortos, metrite, mastite, patologia podal, gestação gemelar ou hipocalcémia 35,53,80,103,136,146 referidas também ocorrem, mas com menor frequência entidades patológicas e o DA é difícil de estabelecer . Nos animais com DAD as doenças 116 103 . A relação causa-efeito entre estas . As doenças do periparto enunciadas participam na diminuição da motilidade gastrointestinal, que, por sua vez, precipita o deslocamento 146. Apesar dos factores de risco em vitelos, touros e bovinos de aptidão de carne não estarem tão bem determinados como para as vacas leiteiras, podem ser considerados na patogénese os casos de úlcera do abomaso, corpos estranhos e sedimentos abomasais 146. 6.1.2.4.1 - Cetose subclínica pré-existente A cetose é uma das complicações mais comuns do DAE. A dúvida está em saber se a preexistência de cetose subclínica é ou não um factor de risco para o deslocamento. Alguns estudos clínicos afirmam que sim 27,41,50,103. O aumento da concentração de corpos cetónicos no leite é proclamado um importante factor de risco para DAE. As vacas com DAE têm o dobro da probabilidade de padecer de outra doença, quando comparadas a animais sem deslocamento, e a presença dessas entidades patológicas pode ser factor de risco para a cetose 50,103. 6.1.2.4.2 - Hipocalcemia A relação causa efeito entre hipocalcemia e DA não está totalmente esclarecida. Tem sido assumido que uma redução dos níveis de cálcio plasmático predispõe a vaca ao deslocamento 17 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” por diminuição da motilidade e esvaziamento abomasal 118 . Contudo, existe uma outra hipótese: as dietas ricas em concentrado provocam a acumulação de líquido no abomaso, atraso no seu esvaziamento e estimulam a libertação de calcitonina, resultando numa diminuição dos níveis de cálcio nas vacas que sofrem de DA. Nalguns casos, a hipocalcemia pode resultar do anormal funcionamento abomasal, em vez de ser causa deste 12. 6.1.2.5 - Predisposição genética O DAE e o DAD estão geneticamente correlacionados e ambas as formas da doença são determinadas pelo mesmo gene 103,104,161,163,164. Tal como referido anteriormente, a selecção de bovinos com maior profundidade corporal é também um factor de risco enorme a ser considerado 34,35,74,163,164. 6.1.2.6 - Outros factores de risco para o animal O exercício físico esporádico, incluindo saltar para montar outras vacas durante o estro, são factor de risco comum em casos de DA não associado ao parto. O exercício violento e o transporte de animais podem contribuir para a patogénese de VA em adultos ou vitelos, sem que exista uma história de doença imediatamente anterior associada à fase de dilatação abomasal 103. Ainda assim, alguns clínicos defendem que o exercício tranquilo, tal como andar na pastagem, ajuda a diminuir a incidência de DAE 41. O DAD surge, por vezes, após correcção do DAE pela técnica de rolamento 74. 6.1.3 – Factores de risco associados ao ambiente 6.1.3.1. Estação do ano Um estudo realizado no Canadá demonstrou uma maior incidência de DAE no final do Inverno/ início de Primavera, depois da época de estabulação, ou seja, de Janeiro a Abril 26,103 . São vários os outros estudos epidemiológicos que apontam para uma maior frequência de DA neste mesmo período, não estando unicamente atribuídos a um aumento do número de partos 24,26 . Num estudo norte americano, a probabilidade de ocorrência de DAE e de DAD variou consideravelmente durante o ano, com o menor número de casos registado no Outono. O DAE e DAD foram mais frequentes em Janeiro e Março, respectivamente. A maior incidência da doença na Primavera pode também estar relacionada com a menor qualidade da forragem armazenada 18 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” durante o Inverno, o que resulta na depleção do fornecimento das mesmas e ainda com as condições climatéricas características dessa estação 23,103. 6.1.3.2. Influência climatérica Em 2004 foi apresentado um estudo acerca da influência dos efeitos climatéricos na ocorrência de deslocamento do abomaso. Vários parâmetros foram avaliados diariamente, sendo eles: pressão atmosférica, pressão de vapor de água, humidade relativa, temperatura, variação de temperatura (máxima e mínima), precipitação, insolação e velocidade do vento. A velocidade do vento e a pressão atmosférica não tiveram qualquer efeito na doença. Houve uma maior probabilidade para o DA perante baixas pressões de vapor de água, elevada humidade relativa, baixa temperatura do ar, baixas variações de temperatura, elevada precipitação e baixa insolação. Uma alteração de dias solarentos, quentes e secos, para dias frios, encobertos e húmidos, esteve associada com o aumento da prevalência da patologia 26. 7 – Sinais Clínicos O DA apresenta uma variedade muito grande de sinais clínicos, que vão desde aqueles que são comuns a um grande número de alterações patologica, até aqueles que são mais específicos. A diversidade de sinais é de tal forma grande, que, em alguns casos, um sinal evidente pode não o ser noutros 41,103. 7.1 – Dilatação abomasal Todos os animais com DA começam por ter dilatação abomasal. Esta pode ser moderada a grave, inicialmente, e tende a agravar-se com o deslocamento. Porém, entende-se como Dilatação Abomasal apenas a fase sem qualquer tipo de Deslocamento 39,41,63,84,103,149 . Os sinais clínicos mais frequentes neste caso são a distensão abdominal moderada, visível ou não perceptível, fezes diarreicas, o decúbito prolongado, depressão moderada e alguma letargia, sinais de cólica (animal pontapeia o flanco, faz decúbito frequente, emite gemidos, encontra-se agitado) e, por fim, o bruxismo 34,63,84,103,149. 7.2 – DAE Animais com este tipo de patologia começam por ter anorexia parcial, ou seja, têm apetite selectivo por alimento mais rico em fibra (feno ou palha), recusando assim o concentrado. Em casos mais avançados, a anorexia pode ser total, com consequente diminuição da defecação, contracções ruminais e, consequentemente, com diminuição ou ausência total de ruminação 37,39,41,102,103,144,145 . 19 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” Dependendo do avanço do processo, as fezes podem apresentar-se muito duras e secas, recobertas com uma película de muco, indicando diminuição do trânsito intestinal, ou podem ser também sob o aspecto de uma diarreia de consistência pastosa, com componentes fibrosos pouco triturados 41,97,102,144,145. As frequências cardíaca e respiratória são geralmente normais (poderá haver alguma taquicardia de aproximadamente 100 bpm), bem como a temperatura corporal, que pode chegar aos 39.5ºC. Porém, em 40% dos casos poderá ser notória alguma bradicárdia (40 a 60bpm) 103,158 . Outro sinal frequentemente encontrado e devido a uma forte desidratação, é a presença de afundamento do globo ocular. Consequentemente à desidratação observada e também devido à dor gerada pela patologia, pode também ser notório algum grau de abatimento do animal 37,39,41,144,145 . Um dos sinais ao qual o produtor maior importância dá, talvez devido à sua enorme relevância em termos de perdas económicas, é a diminuição da produção leiteira e da quantidade de gordura no leite 37,39,41,144,145. Este último facto deve-se, nomeadamente, aos elevados níveis de concentrado ingeridos pela vaca implicarem uma menor mastigação e ruminação, o que, juntamente com uma maior ingestão de amido, levam a que a capacidade tampão do rúmen diminua. Assim, o pH ruminal decresce, havendo uma fermentação instável, o que leva a uma menor relação Acetato:Butirato/Propionato, com menor digestão de fibra e decréscimo dos precursores lácteos e de gordura no sangue. Tudo isto tem como grande consequência menor produção de leite 37. Também o próprio aspecto do animal pode indicar a presença da patologia. A postura de sofrimento, com sinais de cifose, pescoço esticado, embora típica de reticuloperitonite, pode ser indicativa de qualquer sinal de dor intensa a nível abdominal, adoptando o animal essa postura por forma a minimizar os sinais de dor 41,39,97,119,141,146. Pode ser também notório o abaulamento da fossa paralombar esquerda, logo atrás da última costela, notando-se uma notável assimetria da silhueta abdominal. Porém, deve ser referido que esta situação apenas é visível em casos de um grau de DA grave 5,17,19,56,75. Tal como na situação explicada anteriormente para a menor produção leiteira, o menor aporte energético da alimentação em bovinos com DA pode também levar a situações de cetose. Os sinais concomitantes com o DA são porém reduzidos, tais como fezes pouco digeridas, odor adocicado da expiração, urina e fezes 37,41,103,119,141,144,145. 20 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” 7.3 – DAD 7.3.1 – DAD sem torção Os sinais clínicos de um caso de DAD sem torção são bastante similares aos encontrados em casos de DAE, mas com algumas diferenças significativas. De entre estas diferenças, podem ser salientadas o tipo de excreção fecal, o nível de produção de leite, o grau de anorexia e a gravidade dos restantes sinais, embora similares 41,97. Neste caso, as fezes podem ser expulsas em quantidade bastante diminuta, secas, escuras, com muco, o que indica a diminuição do trânsito intestinal 37,41,103 . Além disso, também a anorexia é mais evidente, podendo chegar-se mais rapidamente a uma situação de anorexia total 37,41,103 . Quanto ao nível produtivo de leite, refere-se que em casos de DAD, seja ele com ou sem torção, a diminuição do nível produtivo é bastante mais abrupta do que em caso de DAE, atingindo níveis muito mais baixos e mais rapidamente 37,41,103. Todos os outros sinais, como sinais de cetose, desidratação, depressão, são bastante mais evidentes, mas todos eles, tal como os anteriores, podem ser confundidos com casos graves de DAE 37,41,103 . Destes, apenas não se verifica alteração na fossa paralombar, quer esquerda quer direita, pelo que já foi explicado na secção de Anatomia do presente documento. 7.3.2 – VA A situação é similar à apresentada para um caso de DAD sem torção. Neste caso, são mais notórios os sinais de dor e mais graves todos os outros sinais 37,39,41,97,103. O abdómen encontra-se visivelmente distendido no lado direito, sendo a depressão e fraqueza bastante marcadas. A desidratação é também um sinal óbvio, sendo que as frequências respiratória e cardíaca se encontram também elas aumentadas. Também as fezes são ainda mais secas e moldadas do que no caso anterior, apresentando-se mais escuras. Sinais como o decúbito, inquietude, vocalização, associados aos restantes sinais, podem ser indicativos de tal situação 37,39,41,97,103 . Um sinal importante é a palidez observada a nível das mucosas, apresentando-se estas também secas e frias. Esta também se verifica em DAD sem torção, embora não tão evidente 97,103 . Numa situação deste tipo, o tecido abomasal pode ficar totalmente desvitalizado, com necrose da parede abomasal. Assim, pode resultar em sinais de choque e endotoxémia 37,39,41. 21 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” 7.4 – DAA Os sinais clínicos de DAA são inespecíficos, variáveis e suaves. Estes são sinais compatíveis com uma indigestão pós-parto, com perda de peso, diminuição do volume fecal, sinais de cetose e diminuição da produção leiteira. Zadnik refere ainda a presença de algum refluxo de fluido abomasal 88,103,123,166,168. 8 – Diagnóstico 8.1 – Anamnese Todo o exame diagnóstico deverá começar por uma anamnese cuidada, de forma a tornálo exacto e rigoroso 68,119,158. Embora, na generalidade, as produções leiteiras intensivas tenham associadas doenças com sinais comuns, há certos indícios associados ao DA que poderão ser orientados pela anamnese 68,119,158. No caso de DAE, DAA e Dilatação Abomasal, esta deve incidir, além das questões normais da Anamnese, tais como, qual o motivo da consulta, história médica, há quanto tempo apareceram os sinais, se afecta um animal ou um grupo, entre outras demais questões, de entre estas destacam-se dúvidas mais específicas. Destas realçam-se questões como o nível produtivo do animal, idade, tipo e frequência de alimentação, alteração de dieta, frequência de ruminação, tipo de fezes, patologias concomitantes, alteração da condição corporal, alteração do nível produtivo 34,41,68,97,103,141,146,158. No caso de DAD, além das questões anteriores, deverá ser colocada a questão de algum trauma sofrido recentemente pelo animal 41,103. 8.2 – Exame Externo Este deverá compreender o exame do meio ambiente, exame visual e exame do estado geral 68,119,157 . 8.2.1 – Exame do meio ambiente Neste exame deve ser observado o acesso a determinado tipo de alimentos, a propensão para quedas e traumas e a sobrepopulação. Deve também ser avaliada a qualidade do alimento. O nível produtivo, embora não seja um factor ambiental, é também importante ser avaliado, pois como já foi referido, tem bastante influência na propensão de DA 37,68,119,157. Os estudos de Cannas da Silva e outros investigadores propõem também uma influência das alterações ambientais para o aparecimento de DA. As alterações climáticas, particularmente 22 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” quando são bruscas, interferem negativamente no estado hígido dos animais. Os aspectos ambientais compreendem época do ano, clima, sistema e qualidade do alojamento 24,28,41,103. 8.2.2 – Exame do Estado Geral Um exame clínico aprofundado e eficaz pode ser suficiente para realizar o diagnóstico final. Os sinais clínicos variam conforme o tipo de deslocamento, a possibilidade da livre passagem da ingesta e o grau de afecção vascular do abomaso 103,119,157 . O exame do estado geral tende a avaliar externamente o animal e a proceder-se ao exame físico, ou seja, à monitorização da temperatura rectal, auscultação da área pulmonar e cardíaca, da frequência cardíaca, frequência respiratória, estado de hidratação e mucosas, avaliação dos linfonodos, e finalmente à auscultação abdominal e dos movimentos de mistura ruminal 119,157. 8.2.2.1 – Exame visual externo O exame começa por uma inspecção visual, à distância, para tentar averiguar o estado mental, postura, atitude, temperamento, condição corporal, silhueta abdominal (em quatro quadrantes), o que nos permitirá focalizar depois na afecção abomasal 119,157. Podem haver manifestações de dor abdominal, que incluem o pontapear do abdómen, relutância em levantar ou deitar, movimentos mais lentos e cuidados. Pode também haver alguma vocalização por parte do animal 39,41,68,119,141. Deve ser avaliada também a excreção fecal e o apetite. Situações de tenesmo, diarreia e depressão poderão também ser observadas. A ruminação deverá estar presente e ser observada numa situação normal 68,97,102,157. Deve também ser avaliado o afundamento do globo ocular, bem como a qualidade do pêlo 37,39,41,103,141. A observação do flanco é também ela importante, pois em situações de distensão exagerada, pode ser notória uma alteração de conformação do flanco. A postura é também importante ser avaliada. Em caso de DAE, poderá ser notória na fossa paralombar esquerda alguma proeminência provocada pelo abomaso dilatado e deslocado. Em caso de DAD, o flanco direito pode estar mais distendido, em forma de meia-lua, ou mesmo uniformemente, na porção posterior à décima costela, na zona mediana entre o dorso e o ventre do animal, caso se trate de VA e DAD simples. Já no caso de torção abomasal, pode haver uma distensão bilateral 41,64,97,103,119,141 . 23 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” 8.2.2.2 – Exame Físico A temperatura rectal está geralmente normal, excepto numa situação de DAD, principalmente se for um VA, no qual aparece algo aumentada, ou num DAE agudo (39,5ºC) 22,103,158 . A auscultação pulmonar e cardíaca dever-se-á revelar normal, exceptuando em casos de patologia associada em que haja comprometimento pulmonar ou doença cardíaca 22,103,158. A frequência cardíaca não deve apresentar alterações em caso de DAE, excepto se bastante grave. Já no caso de DAD, tende a aumentar ligeiramente e mais ainda em VA, na qual aumenta com a gravidade da patologia. Em estado de gravidade tal, em que o animal se encontre em endotoxémia, tende a haver taquicardia 22,29,103,158. No caso da frequência respiratória, o comportamento é similar ao da frequência cardíaca 103,158 . Os linfonodos dever-se-ão apresentar normais, salvo haja alguma patologia concomitante em que haja compromentimento do sistema imune 68,119,158. Quanto ao estado de hidratação do animal e às mucosas, em qualquer caso de DA, o animal tende a aparecer com alguma desidratação. Esta desidratação tende a agravar-se com o grau de deslocamento e se for um caso de DAD e VA. Um sinal característico que pode ser observado é o afundamento do globo ocular e olhos mais secos, tal como a mucosa ocular, o que revela uma desidratação profunda. Tal situação pode também ser comprovada pela prega de pele e mucosas secas (ver figura 5) 37,39,41,102,103,141,144,145. Fig. 5 – Afundamento pronunciado do globo ocular (foto do autor) Os movimentos de mistura ruminal (auscultação abdominal) encontram-se diminuídos ou haver atonia, tal como os intestinais, diminuidos ou ausentes, dada a diminuição do trânsito intestinal, provocada pela diminuição da passagem do alimento, devido ao DA. À auscultação, não se ouvem, portanto, borborigmos intestinais, ou estes encontram-se bastante diminuídos. É também notório em DAE que, na zona de projecção do abomaso distendido, o rúmen não será audível, mas poderão ser ouvidas contracções mais diminuídas no cavado do flanco esquerdo. É 24 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” possível ouvir no abomaso deslocado uns sons espontâneos de ressonância timpânica e em intervalos regulares 68,119,128,158. Já a auscultação do abomaso é raramente efectuada, dado não possuir interesse de maior, uma vez que os sons são raramente audíveis, ou seja, borborigmos de baixa frequência acústica 68,119,158,17,57,77. À palpação abdominal nota-se essencialmente o que é possível observar no perfil abdominal, ou seja, pode ser possível sentir o abomaso repleto de gás, mas apenas quando a distenção é bastante grande. Neste caso, palpa-se a nível do cavado do flanco esquerdo, justamente após a última costela. Esta, porém, é difícil de interpretar 34,39,41,97,103,119,141. 8.2.2.3 – Exames específicos Como os exames anteriores podem ser inconclusivos, restam-nos exames específicos que poderão dar o diagnóstico definitivo. 8.2.2.3.1 – Percussão A percussão, embora não fornecendo dados quanto à dor, pressão, contornos do abomaso, permite obter informações de valor diagnóstico extremo, essencialmente quando associada à auscultação 49,68,119,128. Quando o abomaso está dilatado (DA), a sua percussão produz um som timpânico, porque se encontra repleto de gás, ou, pelo menos, em parte. É possível delimitar uma zona timpânica, frequentemente oval, que mascara a falta de sonoridade normal do rúmen, num DAE, e dissimula de forma evidente a sonoridade normal do fígado no caso de DAD 49,68,119,128. 8.2.2.3.2 – Auscultação com percussão A auscultação com percussão revela-se uma técnica essencial e pode dar o diagnóstico definitivo de uma situação de DA. A auscultação com percussão baseia-se na auscultação com ajuda de um martelo plexímetro, ou simplesmente com o bater dos dedos, percutindo a área em redor do estetoscópio. Como o abomaso se encontra distendido por líquido ou gás, o som obtido é claro, timpânico, de ressonância metálica e timbre variável, denominado geralmente de Ping de DA 41,68,103,119,128,141,102. É de referir que 3,5% das vacas não apresentam o som ping de DA, sendo estes devidos provavelmente aos casos raros em que o abomaso se posiciona entre o retículo e o fígado (DAA), em vez de ficar aprisionado junto da parede ruminal. O mesmo se passará com a Dilatação Abomasal simples 103,123,134,168. 25 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” No caso de DAE, o som Ping de DA é quase sempre encontrado, mas em alguns casos de difícil audição. Este deve ser audível desde a nona até à décima terceira costelas (ver fig 6). A zona de ressonância é variável em extensão e em posição e depende bastante do estado de distensão abomasal. É possível encontrar um som metalo-timpânico numa posição mais dorsal e no cavado do flanco. Raramente o ping de DA está situado craneal e ventralmente, na zona de projecção reticular 34,102,128,146. Fig. 6 – Zona de auscultação do Ping de DA em DAE (esquerda) 68 e DAD e VA (Direita) 102 Em DAD, a zona de ressonância (Ping de DA) não é fácil de encontrar e pode ser intermitente durante um período de 24 horas. O Ping de DA pode ser encontrado, em geral, da nona à décima terceira costelas e, frequentemente, na metade ou terço dorsal da zona delimitada por estas duas costelas (ver fig 6). No caso de torção, o Ping de DA encontrado é forte e a percussão desta zona revela um som líquido. O som de ressonância é raramente encontrado na fossa paralombar 34,128,146. Em DAA, a auscultação com percussão deve ser efectuada de ambos os lados do abdómen. Na maioria dos casos de DAA, grande parte dos sons, se não todos, são audíveis no terço cranial do abdómen, logo após o limite da silhueta cardíaca, e de ambos os lados do tórax. Podem também ser audíveis logo anteriormente ao retículo, sendo algo variável a posição do abomaso num caso de DAA. Assim, deve ser percutida toda esta zona 5,18,31,65. Com alguma frequência, durante o exame físico não é possível a auscultação do Ping de DA característico, mais em casos de DAE, do que em DAD. Isto pode ser devido a uma situação de DAA, ou em casos de resolução espontânea do DA. Estes casos são conhecidos por “floaters”, ou seja, o grau de deslocamento varia, uma vez que, em caso de DAE, por exemplo, o abomaso flutua entre o rúmen e a parede costal esquerda, adoptando diferentes posições. Noutros casos, apenas com uma regulamentação do regime alimentar pode haver resolução espontânea do DA, desde que este seja pequeno. De modo a evitar estas situações, deve ser-se mais persistente no exame físico 103,151. 26 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” 8.2.2.3.3 – Sucussão Na sucussão, são aplicadas forças de tensão ligeira no abdómen da vaca (na zona e abaixo do cavado flanco esquerdo e direito), prevendo assim ouvir som de líquido na cavidade abdominal. O som presente num DA é o de “splash” ou de uma “onda em rebentação”, o que implica a presença de líquido e gás no mesmo órgão 68,102,119. 8.2.2.3.4 – Auscultação com sucussão Fig. 7 – Auscultação com Sucussão abdominal 102 Na auscultação com sucussão, prevê-se ouvir melhor ainda o som da sucussão, uma vez que este pode ser difícil de ouvir quando se aplica apenas sucussão. O estetoscópio deve ser aplicado na zona onde mais se ouve o som Ping de DA 68,102,119. 8.3 – Exame interno 8.3.1 – Palpação Rectal No DAE, não é possível palpar o abomaso, a menos que a dilatação seja extrema. Contudo, algumas características do rúmen podem ser avaliadas. A palpação rectal permite constatar uma disposição anormal das vísceras abdominais. Para o DAE, a matéria fecal é emitida em reduzidas quantidades, com uma consistência por vezes diminuída e um aspecto algo gorduroso, advindo do baixo trânsito intestinal verificado, levando à maior acumulação de muco em torno do bólus fecal. Pode haver variações no aspecto das fezes, embora essas características tenham sido explicadas previamente 68,119,128. Já no caso de DAD, só é possível palpar o abomaso em certos casos de forte distensão abomasal. Por vezes, pode sentir-se o abomaso na parte direita da cavidade abdominal como um balão único e dilatado, cuja tensão pode ser variável. A sua superfície pode ser lisa, ou por vezes rugosa, quando o omento se prende em torno do abomaso. Mesmo que a palpação permita distinguir o deslocamento de outras doenças, não se consegue distinguir, contudo, o tipo de DAD, com ou sem torção. Tudo isso terá de ser avaliado por meio da avaliação do trânsito intestinal. No caso de DAD, a matéria fecal é emitida em menor quantidade, com consistência 27 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” nitidamente de trânsito intestinal diminuído, ou seja, envolta em muco. O seu aspecto foi já explicado anteriormente 64,68,119,128. No DAA e na Dilatação Abomasal não é possível, por palpação rectal, qualquer tipo de diagnóstico por meio da simples palpação, uma vez que a anatomia não o permite. Nestes casos, as fezes poderão ser mais líquidas a normais 103,123,128,134,168. 8.4 – Exames complementares 8.4.1 – Ultrassonografia A ecografia pode também ser usada como um auxiliar de diagnóstico em DA, quando os achados diagnósticos anteriores não são conclusivos e se tem à disposição um ecografo. Para isso, vão ser utilizados transdutores lineares de 3,5MHz. Certos autores como é o caso de Braun, sugerem porém sondas lineares de 5MHz 18,19,101,102,103,139,155. Em DAE, o abomaso é inspeccionado desde os últimos três-quatro espaços intercostais de ventral para dorsal, cada vez mais dorsalmente (na zona indicada anteriormente para percussão). Ventralmente, no abomaso deslocado é possível identificar ingesta fluidificada em quantidades variáveis. Ao deslocar a sonda dorsalmente pelo abomaso, é possível identificar cada vez mais conteúdo gasoso e o fenómeno de reverbação pode ocorrer. Por vezes, podem ser encontradas pregas rugosas no compartimento fluido do abomaso, o que é compatível com DAE e o distingue do Rúmen em caso de dúvida 18,19,103,155,101,102,139. Em DAD, seguindo a mesma técnica utilizada para o DAE, mas aplicando a sonda na zona de percussão de DAD, também é possível o mesmo tipo de observação 18,19,103,155,101,102,139 . 8.4.2 – Hemograma e Bioquímica Sanguínea As maiores variações da normalidade ocorrem a nível da bioquímica sanguínea. É de notar que no caso de DAD, as alterações são mais evidentes do que em DAE 116 . 8.4.2.1 – Hemograma Em DA, por si só, os valores de hemograma estão geralmente normais. O hematócrito encontra-se também ele normal, exceptuando em situações de complicação (torção abomasal e cronicidade da patologia) 29,92,103. Associado ao valor das proteínas totais, o hematócrito permite estimar o nível de desidratação do animal. Uma hipovolémia, ou mesmo um choque hipovolémico, pode instalar-se durante esta entidade patológica, provocando assim uma deterioração do estado geral do animal 29,64,92 . 28 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” Poderá haver uma ligeira hemoconcentração, evidenciada por aumento do valor do VCM (Volume Celular Médio), da hemoglobina e das proteínas séricas 29,103 . Usualmente apresentam uma ligeira hemoconcentração, evidenciada pelo aumento dos valores do hematócrito, hemoglobina e proteína plasmática total. Essa hemoconcentração é consequência da retenção de fluidos ao nível do abomaso deslocado e bloqueio no transporte dos mesmos para o duodeno 103,116,117 . No caso de DAD, poderá haver uma leucopenia com neutropenia com desvio à esquerda, devida à necrose isquémica, stress e possível estado inicial de peritonite 29,103. 8.4.2.2 – Bioquímica sanguínea As anomalias bioquímicas graves (azotémia, hipocloremia, hipocalemia, hipoglicemia) são frequentes em bovinos de carne com DA. Em vacas de leite, estas anomalias estão presentes, mais em casos de evolução lenta, e podem variar com a idade do animal. Nas vacas de leite, embora haja cetonúria, os valores de glicemia encontram-se geralmente normais. Estes valores são mais marcados em caso de DAD 29,57,92,103. Além disso, os sintomas de indigestão que acompanham o DA são geralmente acompanhados por manifestações de cetose. Assim, haverá também uma cetonémia decorrente do DA 11,29. Segundo os estudos de Nicol, metade das vacas que apresentam acidúria, estão também em alcalose metabólica. A esta situação dá-se o nome de acidúria paradoxal. Esta acontece dado que a desidratação e a hipocalemia resultam numa resposta renal, que consiste na reabsorção de sódio e na excreção de hidrogénio, o que faz com que a urina do animal seja ácida, mesmo estando ele em alcalose metabólica, daí o nome de acidúria paradoxal 34,92,146. Para uma avaliação laboratorial da alcalose metabólica (situação mais comum), há que ter em conta que o valor normal de bicarbonato sanguíneo é de 24mEq/L, ou 1500mg/L. A alcalose metabólica é causada pelo sequestro de ácido clorídrico no abomaso e no rúmen. O ácido clorídrico não segue o seu curso natural para o duodeno, onde normalmente é absorvido, para em seguida ir tamponar o bicarbonato de sódio no plasma. Desta forma, ocorre o aumento do pH sanguíneo, aumenta ainda a concentração de bicarbonato plasmática e a de cloro diminui 33,34,92,103,116,130,146 . Na torção abomasal, existe ainda a possibilidade de um problema ácido-base misto. Uma acidose metabólica, por produção de ácido láctico, pode instalar-se consecutivamente a lesões tissulares, sobrepondo-se à alcalose metabólica 33,92,116,146. 29 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” Em caso de acidúria, o valor normal de cloro no sangue (3,6g/L ou 100-110mEq/L) pode baixar para valores de 50mEq/L. Em caso de torção, os valores decrescem mais ainda. Já em caso de alcalose, a hipocalémia atinge valores na ordem de 187mg/L ou 4,6mEq/L. Estas concentrações muito baixas de potássio levam a uma degradação do estado geral do animal, com diminuição do tónus muscular e sonolência 33,92. As vacas com DA apresentam, geralmente, glicemia elevada, apesar de uma taxa elevada de insulina. Para certos autores, um aumento da concentração de glucose pode estar associado a stress e toxémia, o que explica a presença de valores normais em animais tranquilizados 64,92,117 . Em relação a enzimas hepáticas, as alterações são notadas geralmente na AST e bilirrubina, que aumentam, consequentemente à lipidose hepática que, geralmente, acompanha o DA. Nestas vacas, além das alterações hepáticas, há também diminuição da concentração de lipoproteínas 29,50,51,64,80,92,103. A calcemia é significativamente baixa. Estes valores baixam, em geral, mais após o parto, e podem ser uma causa do DA 33,64,92,103 . Todos os autores consideram que este problema pode ser uma causa ou consequência de DA, e deve ser imediatamente corrigido 92. Esta ocorre devido à alcalose metabólica e à diminuição da ingestão e absorção de cálcio 33. A concentração de sódio plasmático está normal a não ser que haja perda de água hipotónica ou perda renal de sódio, como compensação da fase inicial de alcalose 33,116,130. Em DAA, as análises laboratoriais mostram comummente hiperbilirrubinemia, cetonemia, suave hemoconcentração, e ligeiras hipocloremia, hipocalemia, e hipocalcemia 88. 8.4.3 – Exames semi-quantitativos da Urina e do Leite A Cetonúria acompanha o DA e trata-se de um elemento não negligenciável, que traduz um esgotamento do glicogénio hepático. Os corpos cetónicos acidificam a urina e podem modificar o seu pH, comprometendo ainda mais a uma acidúria 29,34,92,103,146. Os corpos cetónicos podem ser postos em evidência no leite, pelo reagente de Rothera no teste Ketolac® (para o leite) ou Ketostix® (para a urina). Este teste pode ser usado 2 semanas pósparto, para prever DA 11,103. Em caso de DA, pode haver uma acidúria paradoxal 11,103,146. 8.4.4 – Laparotomia Exploratória (Laparoscopia) A Laparoscopia permite a inspecção do conteúdo abdominal através de um endoscópio inserido na cavidade peritoneal, a partir de uma pequena incisão. É usado um endoscópio rígido, laparoscópio, ligado a uma fonte de halogéneo através de um cabo de fibra óptica para 30 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” transmissão de luz, permitindo assim a visualização do conteúdo abdominal e a posição dos diferentes órgãos, dando-nos assim a prova do tipo de DA existente. Os achados serão descritos mais à frente, na técnica de necrópsia 6,7,45,109. 8.4.5 – Abomasocentese percutânea (colheita fluido Abomaso) A abomasocentese percutânea destina-se à avaliação do fluido abomasal, comparando parâmetros normais com os valores lidos na altura. A medição do pH, ausência de microorganismos, aspecto e odor, permitem diferenciar o fluido abomasal, ruminal e de outros distintos fluidos de outros órgãos digestivos 103,156. O fluido abomasal normal é aquoso, com odor acre, cor verde acinzentada, sem sangue e pH entre 1.38 e 4.50 103,152. A punção de fluido abomasal pode revelar-se importante em suspeitas de DA, complicadas por úlceras e peritonite, essencialmente. Nestes casos, o líquido peritoneal revela uma elevada concentração de proteínas totais e o fluido abomasal um pH mais elevado, devido à presença de sangue, diferenciando-o de um DA simples. O fluido pode também conter sangue em caso de DAD com torção 103. No caso de DAE, a abomasocentese é efectuada entre o 10-11º espaços intercostais, no terço médio do abdómen. Já em DAD, entre o 8º-10º espaços intercostais 103. Um resultado negativo neste teste não pode nunca ser interpretado como não havendo DA, uma vez que o fluido abomasal pode ser mínimo e o abomaso não estar nesse preciso local de punção 103. 8.5 – Necrópsia Embora a necrópsia não seja uma técnica usual de diagnóstico, sendo utilizada apenas para confirmação post-mortem, é impostante descrever aquilo que pode ser encontrado, pois os achados são comuns à Laparotomia Exploratória. Durante a necrópsia de um animal com DAE, o abomaso além de ser encontrado fora da sua posição anatómica normal, pode encontrar-se cheio de gás e líquido, entre o rúmen e a parede abdominal esquerda e ventral. Em alguns casos, podem ser notadas ulcerações e aderências fibrinosas. O fígado pode também evidenciar esteatose, uma patologia concomitante bastante comum 54,103. Já no caso de DAD, o abomaso é encontrado visivelmente distendido com gás ou fluido abomasal e o rúmen com excessivo fluido ruminal, devido ao impedimento do trânsito intestinal. Em torção, o abomaso encontra-se torcido, geralmente no sentido anti-horário e distendido com 31 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” fluido sanguinolento. No caso da torção ocorrer na junção reticulo-omasal, pode ser encontrado o omaso também distendido. Numa oclusão completa, o abomaso pode encontrar-se rupturado, hemorrágico ou gangrenoso 54,103. 9 – Diagnósticos Diferenciais O DAE deve ser diferenciado das patologias dos pré-estômagos e do abomaso, que causam também inapetência a anorexia, cetose, reduzida ou motilidade reticuloruminal anormal e sons anormais à percussão e auscultação do abdómen esquerdo/direito, fluido viscoso à palpação 103,101,102,145,158. Assim, devemos estabelecer como diagnósticos diferenciais: Indigestão símples Cetose primária RPT crónica/ subaguda Indigestão vagal Síndrome da “vaca gorda” Timpanismo ruminal Pneumoperitoneu Afecção DAE Tabela 1 – Diagnósticos diferenciais de DAE 27,34,41,63,102,103,141,145,158 √/X √ √ √ √ √ √/X √ √ √/X √ √ √ √ √ √/X √ √ √ √ √ √ √/X √/X √ √ √ √/X √/X √ √ √/X Sinais Sinais vitais normais Inapetência a anorexia Diminuição da produção leiteira Diminuição da frequência e intensidade das contracções ruminais Ping de DA Som timpânico Ruminal confundível com Ping de DA Recuperação espontânea em 24h Fezes secas e em quantidade normal Ocorrência a 2-6 semanas pósparto Tratamento prolongado Estase ruminal com aumento do volume ruminal Emissão de gemidos Hemograma normal Teste de Barra , Preensão Lombar e Descida de Rampa Positivos Distensão abdominal progressiva com ou sem Distenção Abomasal Mais comum no pré-parto Desidratação comum Condição corporal excessiva no parto Cetonúria Caso de Diagnóstico Diferencial √ X X X X X X X X X X √ √/X √/X √ √ X √ X X X X X X √/X X √ X X X X X √/X X √ X X X X X X X √ √ √ √ X X √ √ X √ √/X X √ X √/X √/X X √ X √/X √/X √/X √/X X X X √/X √ √/X √ X X X √ X X X X √ X X X √ X √ √ X √ X X X √ X √/X √ √ X X X X X X √/X X X X X √ X X √/X X √/X X X √ X X DAE DAE/ DAD DAE DAE/ DAD DAE Legenda: √ - Presente X - não presente 32 DAE DAE Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” Ulceração abomasal com dilatação moderada Torção cecal Hidropisia fetal Dilatação/ Dilatação e torção cecal Obstrução intestinal Dilatação do cólon descendente e recto Peritonite difusa √/X √ X √ √ √ X √ √/X √ √/X √/X √/X √ √/X √ √ √/X X √ √ √ √ √ √ √/X √ √ √/X √ √ √ √ √ √ X √ √ √ √ √ √ X X X X √ √ √ X X X X √ √ X X X X √ √/X √ X √ √ X √ √ X X √/X √ √ √ √ X √X √ X X √/X √/X √ X X √ √/X √/X √/X √ √/X √ √/X √ √ √ X √ √ X √ √ √ √ √ √ √ √ √ √/X √ √/X √/X √ √/X √ √ X X √/X X X √/X X X √/X X X √/X X X √/X X X X X X √/X X √/X X X √ X √ √ X √ √ √ √/X X X √ X X X X X √ X X X √ √ X √ X X √ X √ √ √/X X √ X X √ X DAD DAD DAD DAD DAD DAD DAD DAD VA DAD Afecção Impactação do abomaso + Indig. vagal Tabela 2 – Diagnósticos diferenciais de DAD e VA 27,34,41,63,102,103,141,145,158 Sinais Sinais vitais normais Inapetência a anorexia Diminuição da produção leiteira Diminuição da frequência e intensidade das contracções ruminais Ping de DA Som timpânico à percussão direita confundível com Ping de DA Fezes secas e escuras em menor quantidade Estase ruminal com aumento de volume ruminal Emissão de gemidos Hemograma normal Distensão abdominal progressiva com ou sem Distenção Abomasal Desidratação comum Cetonúria Shock Abomaso na posição anatómica normal Melena Palpável rectalmente Hematoquésia Caso de Diagnóstico Diferencial Legenda: √ - Presente X - não presente 10 – Tratamento O tratamento do DA tem por objectivo reposicionar o abomaso na sua localização anatómica, tratar as alterações electrolíticas e de ácido-base, assim como as doenças que existam concomitantemente. São variadas as técnicas cirúrgicas e não cirúrgicas descritas para o tratamento do DA 41. A escolha do tratamento cirúrgico ou médico num caso simples de DA vai depender do valor do animal, da existência de outras doenças associadas, da fase de gestação e da experiência do clínico 34 . É de notar que, embora em número reduzido, há casos que recuperam mesmo sem tratamento, mais nos casos de DAA e DAE, outros apenas com tratamento médico, inclusive casos ligeiros de DAD 65,103. Podem ser tidos em conta alguns dados acerca do estado do animal antes de decidir realizar a cirurgia, como, por exemplo, o facto de se alimentar convenientemente ou não, o ter diarreia, o estado de hidratação ou os níveis de enzimas hepáticas. No entanto, não existe nenhuma regra, nem há dados totalmente decisivos. Desta forma, há que considerá-los em 33 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” conjunto e tentar tomar a decisão o mais depressa possível, o que comprovadamente faz aumentar a taxa de sucesso da cirurgia 117. A dificuldade em diferenciar inicialmente um DAD de um VA inicial, faz com que muitas vezes se opte pela cirurgia 17,41,146. 10.1 – Tratamento Médico 10.1.1 – Dilatação abomasal, DAA e DAE A terapêutica médica não apresenta resultados com tanto sucesso como a terapêutica cirúrgica. Esta inclui a correcção de todas as condições anteriores: hipocalemia, hipocalcemia, desidratação, acetonemia, correcção do trânsito gastro-intestinal, prevenção ou tratamento de infecções. Para isso, usam-se várias técnicas. A terapêutica médica inclui o uso de laxantes orais, ruminatórios, antiácidos e medicamentos colinérgicos, com o objectivo de estimular a motilidade gastrointestinal 34 . Apesar de alguns aspectos da terapêutica médica serem importantes como complemento à terapêutica cirúrgica, quando usados sozinhos a sua probabilidade de resolver um DAE é inferior a 5% 146. O “rolamento” (Figura 8) é uma técnica amplamente utilizada em casos simples de DAE e consiste, de acordo com o método de Reuff´s, em derrubar o animal sobre o seu lado direito e depois colocá-lo em decúbito dorsal. O princípio do método baseia-se no facto de o abomaso, repleto de ar, se deslocar para a posição mais dorsal (posição anatómica) enquanto o animal se apresenta em decúbito dorsal. Antes da sua execução, convém relembrar que é necessário um jejum de 36-48h para redução do tamanho do rúmen, permitindo então o reposicionamento do abomaso. O veterinário deve confirmar a localização do abomaso por auscultação associada a percussão. O animal é mantido nessa posição por aproximadamente 5 minutos, durante os quais é balançado gentilmente para a direita e para a esquerda, ao mesmo tempo que o abdómen é massajado vigorosamente, na tentativa de fazer o abomaso flutuar para a posição média ventral (fisiológica). Quanto mais tempo se mantiver nesta posição maior a quantidade de líquidos e gás sequestrados no abomaso que vão fluir no sentido do duodeno e dos pré-estômagos. Pode ser necessária uma sedação para facilitar a manipulação do animal. O animal é então rolado para a esquerda, ficando em decúbito lateral, de modo a que o rúmen esteja sempre em contacto com o peritoneu parietal esquerdo, o que evita a rápida recidiva do DAE imediatamente incentivado a levantar-se 34,37,41,141,158 . O animal é 34 . Em seguida, deve fazer-se auscultação do flanco esquerdo, de forma a comprovar a não presença do abomaso nesta posição 37,158 . A vantagem desta técnica é ser rápida, fácil e económica, no entanto, tem como desvantagem o facto de 34 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” aproximadamente 70% dos casos recidivarem, necessitando de novo rolamento ou cirurgia. O sucesso da técnica é de apenas 20% e existe ainda a possibilidade de casos de DAE virem a tornar-se casos de DAD, ou até mesmo VA 34,37,95,158 . O rolamento, ou qualquer outro procedimento que exija decúbito dorsal, deve ser evitado ao máximo em vacas gestantes, pois pode induzir volvo mesentérico 73 . Além disso, pode também levar à torção mesentérica, torção cecal, torção do cólon e do útero 97. Figura 8: Técnica do rolamento; (a) vista caudal de vaca com DAE, (b) vista caudal de vaca com DAE em decúbito lateral direito, (c) auscultação e percussão com a vaca em decúbito dorsal; (1) abomaso, (2) rúmen, (3) fígado (4) omaso 59. Após a terapêutica médica, sozinha ou em conjunto com o “rolamento”, o animal deve ser encorajado a comer o máximo de feno possível, para assim encher o rúmen com forragem grosseira. Isto vai actuar como dissuasor físico para a recorrência do deslocamento, bem como promover a motilidade ruminal e, por conseguinte, a motilidade gastrointestinal. Alimentos concentrados devem ser adicionados à dieta de forma gradual 34. Caso existam doenças associadas ao deslocamento, tais como metrite, mastite, cetose, estas devem ser tratadas em simultâneo, ou então o resultado do tratamento médico fica comprometido 34. Mais recentemente, foi ainda sugerida a acupunctura como terapêutica médica, em casos de DA 34. Foi realizado um estudo com 12 vacas com DA, tendo sido divididas em dois grupos, para avaliar a resposta à terapêutica com electro-acupunctura e moxabustão. Em ambos os grupos, os pontos de acupunctura usados bilateralmente eram: “Pi yu” (10cm lateral à linha média dorsal do 10º Espaço Intercostal, “Wei yu” (igual ao Pi Yu, mas no 11ºEI) e “Guan Yuan yu” (na depressão caudal da última costela, entre os músculos longíssimo e ileocostal). Em cada um dos grupos houve uma vaca que não respondeu ao tratamento e teve de ser submetida a 35 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” abomasopexia. Estes dois métodos terapêuticos são considerados uma alternativa eficiente, segura e económica, à cirurgia para correcção de casos de DA 60,70,82. Depois de diagnosticado e tratado um DA, o trato gastrointestinal recupera a sua normalidade mecânica e funcional, o que torna a administração de fluidos e electrólitos suficiente para a correcção das alterações ácido-base, de electrólitos e da hidratação nos casos simples de DA 34. É prática corrente a administração de cloreto de potássio, como descrita anteriormente, após a correcção do deslocamento, uma vez que a baixa de potássio leva a uma baixa motilidade gastrointestinal 92. Contudo, em animais que estão débeis, deve suspeitar-se de hipocalemia (<3,0 mEq/L) e estes necessitam de uma terapêutica mais intensa com fluidoterapia IV e suplemento de potássio. Ocasionalmente as vacas com hipocalemia não respondem aos suplementos de potássio, nem aos fluidos salinos e pioram, quando os níveis plasmáticos de potássio são inferiores a 2 mEq/L. Os animais que, apesar da resolução da hipocloremia e da alcalose, não respondem ao suplemento de potássio, são muitas vezes aqueles que foram tratados de forma agressiva para cetose, com a administração de glucose e corticosteróides 34 . A administração deve ser de cloreto de potássio por via oral, na dose de 30 a 120g, duas vezes ao dia, sob a forma de cápsulas de gelatina adicionadas à água de beber, ou através de uma sonda gástrica, para ajudar a corrigir o desequilíbrio electrolítico 64. No caso de suspeita de hipocalcemia devem ser administradas soluções de cálcio (Gluconato de Cálcio ou Magnésio, ou Hipofosfito de Cálcio à dose de 30g/600kg em solução de 10% IV), por via subcutânea (SC), ou intravenosa (IV) de forma lenta 64. Também a desidratação deve ser tratada com o auxílio de Solução Salina. Todos os valores de volume de fluidos devem ser então calculados (PV x %Desidratação) 23,41,103. Na correcção da acetonemia, podem ser utilizados corticoesteróides, em vacas vazias ou no início da gestação, preferindo-se córticos de acção lenta, como a dexametasona. Utiliza-se também glucose IV, ou percursores das mesma. Para diminuir a formação de corpos cetónicos, podemos utilizar niacina (12g/dia durante 8 dias). Como hepato-protectores podem também ser utilizados a metionina ou sorbitol. Poderá também ser utilizada solução parenteral de dextrose e administração oral de propilenoglicol, o que previne ocorrência de esteatose hepática. Niehaus refere ainda a utilização de Niacina oral e insulina em associação com glucose IV 2,41,93,103,111. Vários reguladores do trânsito gastrointestinal podem também ser utilizados. Destes, refere-se a combinação de Hioscina-n-butil-bromido e Dipirona como Antiespasmolíticos, actuando em sinergia em casos de DAD com espasmos do piloro 36 65 . Também o uso de Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” antidopaminérgicos está recomendado para correcção da paresia da motilidade. Entre estes, conta-se com a Metoclopramida e a Eritromicina 94,136,162 . Também a administração oral de Procinéticos, distribuída por 4 doses, com 12 horas de intervalo, associada a uma dieta hídrica de 48h, poderá ser indicada em caso de fezes muito secas 41,103,136. Podem finalmente ser instauradas medidas dietéticas, permitindo a redução do volume do rúmen e facilitando a reposição espontânea do abomaso em casos de DAE simples. Este método é, porém, difícil de instaurar, uma vez que os animais com DA apresentam geralmente um apetite caprichoso. É aconselhado, assim, suprimir a silagem de milho e o concentrado durante duas semanas 103,154. A principal desvantagem da terapêutica médica é a de ter sempre o risco de uma eventual recidiva 21,59. 10.1.2 – DAD Em casos com moderada dilatação e deslocamento mínimo está indicado o tratamento com 500ml de borogluconato de cálcio a 25% IV, que irá melhorar a motilidade abomasal e ajudar a proteger a mucosa de possíveis ulcerações. A estes animais num período de 3 a 5 dias, deve ser oferecido feno de boa qualidade e nenhum concentrado. Em casos com dilatação moderada, ligeira hemoconcentração e alcalose metabólica, o tratamento atempado com fluidos e electrólitos IV e per os (PO) apresenta bons resultados na restauração da motilidade gastrointestinal. A administração oral de 5 a 10 litros de óleos minerais por dia e de 500g de hidróxido de magnésio por animal adulto, a cada dois dias, têm sido usados na tentativa de evacuar o conteúdo abomasal 65,103. A combinação de jejum com hioscina-n-butilbrometo e dipirona apresenta, com base na experiência prática dos autores, recuperações ao fim de 48 horas, na ordem dos 77% 136 . A terapêutica médica pode incluir ainda a administração de medicamentos colinérgicos (no entanto, Radostitis et al. defendem que a sua eficácia é duvidosa) e de vitamina E e selénio, no sentido de estimular e restaurar a integridade do músculo liso. Um estudo realizado refere que este tratamento antioxidante, administrado antes da cirurgia correctiva do DA, acelera a convalescença, o que foi medido pela motilidade ruminal 126. Outras medidas a ser tomadas são: aumentar o exercício, proporcionar o acesso a pasto, aumentar a ingestão de fibra, aumentar o tamanho das partículas ingeridas para estimular a actividade ruminal e ter em atenção a ingestão de minerais com especial cuidado para o cálcio, fazendo os suplementos necessários 95. A técnica de rolamento do animal, descrita para o DAE, nunca deve ser executada em casos de DAD, uma vez que predispõe a ocorrência de torção 34,41. 37 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” 10.2 – Tratamento Cirúrgico São vários os métodos cirúrgicos disponíveis e a eleição de um vai depender, do caso em questão, do potencial rendimento individual do animal e da preferência e experiência do clínico 130 . Os métodos mais comuns são 21,34,41,91,146: - Tratamento Cirúrgico Fechado: Abomasopexia percutânea por sutura cega, Abomasopexia percutânea com sutura de barras (ou método Sterner/Grymer), Abomasopexia percutânea com sutura de barras por Laparoscopia; - Tratamento Cirúrgico Aberto: Abomasopexia paralombar esquerda, Omentopexia paralombar esquerda (ou método de Utrecht), Abomasopexia paramedial direita, Omentopexia paralombar direita (ou método de Hannover); 10.2.1 – Preparação cirúrgica comum A antibioterapia preventiva é considerada como um aspecto positivo. A administração de antibióticos de largo espectro, antes, durante e depois da cirurgia, permite a diminuição da probabilidade de desenvolvimento de microorganismos indesejáveis 39,43,144,145,146. Para preparação do campo cirúrgico é necessária uma correcta contenção do animal, permitindo apenas breves movimentos, de forma a minimizar o seu stress. A preparação asséptica permite limitar a contaminação proveniente da flora bacteriana do pêlo e mucosas. A preparação asséptica da zona cirúrgica começa pela tricotomia e lavagens sucessivas com água morna e sabão e antisséptico, como é o caso da clorhexidina, ou aplicação de solução alcoólica e iodada. A área cirúrgica deve ser então devidamente isolada, por meio de panos de campo, presos com pinças de campo (ver Figura 10 em Anexo) 39,43,144,145,146. 10.2.2 – Tratamento cirúrgico fechado 10.2.2.1 - Abomasopexia percutânea por sutura cega Esta técnica fechada, descrita por Hull em 1972, permite a fixação indirecta do abomaso à parede ventral do abdómen e é utilizada em casos de DAE 21,146. 10.2.2.1.1 – Procedimento Cirúrgico Durante a intervenção, o animal encontra-se em decúbito dorsal 34. Para isso, é fulcral a administração de um sedativo, como é o caso de Cloridrato de Xilazina (0,05–0,1 mg/kg IV), de forma a que o derrube do animal seja facilitado. O animal é forçado primeiro ao decúbito direito, 38 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” seguido de decúbito dorsal e os membros posteriores são colocados em extensão e puxados caudalmente. O campo cirúrgico à direita da linha média é então preparado, entre o apêndice xifóide e o umbigo. O abomaso é então auscultado com auxílio de percussão. Quando este for localizado, é efectuado um ponto cego, com uma agulha curva, englobando a parede abdominal e o abomaso. Esta agulha deverá ter entre 10 e 15cm e usar-se fio não absorvível e forte de poliamida ou nylon monofilamentar, como o Supramid Extra. Podem ser efectuados tantos pontos quanto considerados necessários, de acordo com a área de auscultação de Ping de DA. Após este procedimento, o animal é então colocado em decúbito esquerdo e, posteriormente, em decúbito esternal, sendo estimulado a levantar-se 34,89,95,114,115,146. 10.2.2.1.2 – Vantagens e Desvantagens Apresenta as vantagens de ser uma técnica rápida e económica 103,146. As desvantagens desta técnica fechada são: peritonite, celulite, recidiva ou evisceração abomasal, obstrução completa dos pré-estômagos, fixação de outro órgão que não o abomaso, formação de fístula na zona da sutura e tromboflebite da veia abdominal subcutânea 103,146. Entre as diversas complicações devem destacar-se aquelas que muitas vezes chegam a ser fatais e que estão principalmente relacionadas com a fixação de outros órgãos que não o abomaso, fistulação do local dos pontos, peritonite. É por isso que esta técnica está contraindicada em vacas leiteiras com elevado valor genético, assim como o próximo método cirúrgico 34 . 10.2.2.2 - Abomasopexia percutânea com sutura de barras Esta é uma técnica cirúrgica fechada, que foi descrita em 1982 por Grymer e Sterner, e é utilizada para corrigir o DAE 21,29. É uma extensão à técnica do rolamento e permite a fixação do abomaso, de forma indirecta, sem que seja necessária laparotomia 65,95. 10.2.2.2.1 – Procedimento cirúrgico A intervenção é realizada com o paciente em decúbito dorsal 65,95 . Assim, tal como no procedimento anterior, deve ser administrado um sedativo para auxiliar no derrube do animal e preparar o campo na mesma posição. É de seguida efectuada auscultação e percussão abdominal para localizar o abomaso e em seguida realizar a sua trocarterização, utilizando para isso um trocarter de 12cm de comprimento e 4mm de diâmetro. A trocarterização é executada a aproximadamente uma mão de distância caudalmente ao apêndice xifóide e uma mão para a direita da linha média. O trocarter é então removido, o que leva à saída de gás através da cânula 39 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” com um odor adocicado, semelhante a amêndoas torradas, característico do abomaso, confirmando assim a correcta posição. É então introduzido um tubo de polietileno com 20 cm de comprimento através da cânula, para aspirar o ar e algum fluido, sendo que, alternativamente, pode ser recolhida uma amostra de fluido abomasal, cujo pH é medido. No caso de estar mesmo no abomaso o pH será ácido situado entre os 2 e os 3. É introduzida depois através da cânula, para o interior do abomaso, uma barra de polipropileno com 3 cm de comprimento e 3,3 mm de diâmetro, ligada centralmente a um fio de poliamida, com 30 cm de comprimento. Remove-se então a cânula, mantendo-se a barra no interior do abomaso e o fio no exterior, fixo com uma pinça hemostática. É então inserida uma segunda barra com 5 cm de distância da primeira cranial ou caudalmente. Antes da remoção da cânula, deve permitir-se a saída do gás, para evitar a tensão do abomaso sobre as barras no momento em que o animal se levanta. É importante realçar que até ser introduzida a segunda barra, não deve ser permitida a saída de gás do abomaso, para facilitar a sua introdução. Após as duas barras introduzidas, atam-se os dois fios livremente, deixando o espaço de dois dedos entre o nó e a parede abdominal. Devem ser dados mais 4 ou 5 nós, de forma a evitar que se soltem. O animal é depois colocado em decúbito esquerdo e depois em decúbito esternal, sendo estimulado para que se levante 29,59,65,95,114,115,158. 10.2.2.2.2 – Vantagens e Desvantagens Como vantagens deste procedimento podemos referir o ser fácil, rápida (a técnica em si demora 10 a 15 minutos), mais económica, ter um sucesso comparável a técnicas de cirurgia de abdómen aberto e ainda permitir a confirmação da localização do órgão pelo odor, pH e sua auscultação e percussão com som típico 34,59,77,103 . As desvantagens incluem todas as associadas ao decúbito dorsal, necessitar de um ou dois assistentes, a possível infecção local, a peritonite, a eventual inclusão de outros órgãos que não o abomaso na fixação e a formação de uma fístula na sutura. É também de referir a recidivância da situação, devido à ruptura das suturas e reposicionamento anormal do abomaso, tal como a conspurcação dos pontos após a cirurgia, devido a camas pouco higiénicas. Está ainda descrita a diminuição da produção de leite em vacas tratadas com esta técnica, nos primeiros 4 meses de lactação, e o aumento do período entre o parto e a primeira inseminação artificial pós-parto 34,103,106,142,146,158 . 10.2.2.3 - Abomasopexia percutânea com sutura de barras por Laparoscopia Esta técnica cirúrgica fechada e minimamente invasiva foi descrita por Janowitz em 1998 e é usada na correcção do DAE 3,136,146. 40 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” 10.2.2.3.1 - Procedimento cirúrgico Neste método, o animal deverá estar devidamente contido. A sua cauda deverá ser presa, de modo a que não vá conspurcar a área cirúrgica. Deve-se fazer então a preparação cirúrgica do terço dorsal da fossa paralombar esquerda e do 11º espaço intercostal (vão ser necessários dois pontos de acesso ao abdómen no seu terço dorsal), como indicado na omentopexia paralombar direita. Procede-se então à anestesia local no ponto de entrada do laparoscópio, na fossa paralombar e na porta de entrada instrumental no 11º espaço intercostal 114,115,146. Faz-se então uma incisão com 8 a 10 mm de comprimento na zona anestesiada da fossa paralombar esquerda, seguida da introdução de uma agulha romba de insuflação no abdómen e realizando a sua insuflação. O trocarter rombo do laparoscópio é introduzido no abdómen e um laparoscópio com diâmetro de 8 a 10 mm é aí colocado. Procede-se então à identificação do abomaso. Este é distinguido do rúmen pelo seu contorno liso e posição mais lateral. O trocarter e estilete (introduzidos no abdómen ao nível do 11º espaço intercostal) são introduzidos o mais dorsal possível no abomaso (curvatura maior), guiados pelo laparoscópio. Devem ficar o mais profundo possível, para que, após a remoção do estilete, o trocarter se mantenha no lúmen abomasal. Após a remoção do estilete, e sem permitir que muito gás saia do abomaso, é inserida nesse mesmo órgão a barra modificada. Depois disto, permite-se a saída de todo o gás abomasal. O laparoscópio é removido, assim como o trocarter, sem que o abdómen seja desinsuflado. É feita a sutura de ambos os acessos abdominais. Depois deste processo, a vaca é sedada com Cloridrato de xilazina e colocada em decúbito dorsal. Procede-se à preparação cirúrgica de uma área de 30 cm por 25 cm do abdómen ventral paramediano e à anestesia local das áreas correspondentes às duas portas de cirurgia. Introduz-se o laparoscópio na zona cranial do abdómen, aproximadamente a 7 cm do apêndice xifóide e 7 cm lateral à linha branca. Sob observação laparoscópica é feita uma incisão 10 cm caudalmente à anterior, que será a porta instrumental. Os fios são exteriorizados através do uso de pinça laparoscópica. Só depois, todos os instrumentos laparoscópicos são retirados e as portas de acesso abdominal suturadas. O animal é então colocado em decúbito lateral direito. Importa referir que cada fio passa por um rolhão de algodão e é atado um ao outro, deixando algum espaço. Alternativamente, o nó pode ser dado com o animal em decúbito dorsal. O animal é então incentivado a levantar-se. A sutura é retirada 3 a 4 semanas após a cirurgia 114,115,146. A técnica anteriormente descrita é também denominada “Abomasopexia laparoscópica a dois passos”, sendo eles a inserção das barras, seguido da exteriorização dos fios e da fixação do abomaso. Estão descritas outras duas técnicas de um só passo: “Abomasopexia laparoscópica 41 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” com o animal em estação” e “Abomasopexia laparoscópica com o animal em decúbito dorsal”. A primeira foi descrita por Christiansen em 2004 e por Barisani no mesmo ano. A parte inicial é semelhante ao primeiro passo da técnica descrita por Janowitz. Em seguida, a barra é guiada até ao local de perfuração ventral do abdómen, recorrendo a um instrumento próprio e é realizada a perfuração e fixação 136 . Apresenta as vantagens de toda a técnica ser executada com o animal em estação e ainda o ser mais fácil de realizar sem assistente, no entanto, tem como desvantagem requerer mais vezes o uso de antimicrobianos 56,136. A abomasopexia laparoscópica a um passo, com o animal em decúbito dorsal, foi descrita por Newman et al. em 2005. Recorrendo a apenas dois acessos abdominais é realizada a fixação abomasal à parede ventral paramedial direita abdominal. A punção do abomaso é feita entre a prega retículo-abomasal e o piloro, ao longo da grande curvatura do abomaso, lateralmente à zona de ligação do omento maior 91. Uma técnica semelhante à anterior foi descrita em 2004, tratando-se de uma abomasopexia laparoscópica ventral, sem penetração do lúmen abomasal, para resolução de DAE ou prevenção de deslocamento. Requer 3 portas para acesso abdominal, uma para o laparoscópio, outra para a pinça que segura o abomaso e a terceira para a agulha, necessitando assim de dois cirurgiões. A abomasopexia é feita com 4 pontos simples interrompidos, cujo nó é dado por baixo da pele 7,90. 10.2.2.3.2 – Vantagens e Desvantagens Esta técnica minimamente invasiva foi desenvolvida para diminuir as complicações associadas à tradicional laparotomia e abomasopexia percutânea com sutura de barras. Possibilita a confirmação do deslocamento abomasal e a visualização de aderências 91 . A sua principal vantagem é garantir que a fixação realizada é efectivamente abomasal. Permite ainda verificar a 146 posição das barras e realizar as correcções necessárias . Na maioria dos casos não há necessidade de administrar antimicrobianos após a cirurgia 147 . Esta técnica apresenta a vantagem de ter uma área de fixação grande, o que faz diminuir a ocorrência de recidivas 7. A intervenção apresenta também um dispêndio curto de tempo (cerca de 30 minutos) 71. Apresenta como desvantagens o custo do material, a experiência do veterinário na manipulação do material e ainda a impossibilidade de tratar úlceras ou aderências concomitantes ao deslocamento, usando unicamente o laparoscópio 129,146 . Existe um outro detalhe importante, que é o facto de esta técnica só poder ser realizada quando existe deslocamento, não podendo, assim, ser usada como preventiva desta patologia, quando o abomaso ainda não se encontra deslocado, mas o animal apresenta já sinais de possível DA 5,7. 42 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” Quanto à abomasopexia laparoscópica a um passo, apresenta a vantagem de ser uma técnica que demora menos tempo a executar, eficiente, simples, com menor número de incisões necessárias, requer menor número de material especializado e permite a visualização do abomaso e da colocação das suturas. É ainda importante referir, que tem a seu favor, ser uma boa opção em casos de animais que sofrem de doenças concomitantes e que são pobres candidatos a cirurgia, por não aguentarem o tempo suficiente necessário à laparotomia 91. A desvantagem é a já descrita para as diversas técnicas que exigem o decúbito dorsal, como a eventual doença cardiopulmonar, bem como a eventual desorientação visual por o laparoscópio atingir a bolsa omental 91. Como complicações de todas estas técnicas laparoscópicas, pode enunciar-se a inflamação nos locais de incisão e de fixação. Nalguns casos a técnica não pode ser levada a cabo, como, por exemplo, quando existem aderências extensas e ainda, menos frequentemente, quando se encontram vestígios embrionários da estrutura umbilical 122,129. Esta técnica não deve ser realizada em animais gestantes, com endotoxémia, alterações respiratórias ou choque. Esta técnica apresenta a vantagem de ter uma área de fixação grande, o que faz diminuir a ocorrência de recidivas 5. 10.2.3 – Tratamento cirúrgico aberto 10.2.3.1 – Omentopexia (Método de Hannover) ou Abomasopexia paralombar direita Esta técnica foi descrita por Dirksen em 1961 e 1967 e permite a fixação indirecta do abomaso ao flanco direito, podendo ser utilizada no tratamento do DAE e DAD 21,34,61. 10.2.3.1.1 – Procedimento Cirúrgico A intervenção cirúrgica é realizada com o animal em estação (ver Figuras 13 e 14 em Anexos) 61,95,136,146. Começa por se prender a cauda da vaca, de modo a que não vá conspurcar a área cirúrgica. Faz-se depois a preparação do campo cirúrgico para uma laparotomia paralombar direita (área no flanco em forma de rectângulo, que vai desde a décima segunda costela até à tuberosidade coxal e desde os processos espinhosos até à virilha), remoção do pêlo e lavagem com água morna, seguida de solução iodada a 7,5%, depois é limpo com gaze, lavado com álcool isopropilo e depois novamente limpo com gaze. A anestesia é local, com Cloridrato de lidocaína a 2% (bloqueio anestésico linear, bloqueio anestésico em L invertido (ver Figura 9), ou anestesia paravertebral distal – T13 a L2, ou anestesia paravertebral proximal – T13 a L2). (ver 43 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” figura 12 em Anexo) Volta-se então a lavar com iodóforo. Coloca-se finalmente o pano de campo fenestrado, repelente da humidade, estéril e segura-se com 4 a 6 pinças Backhaus 61,91,95,113,114,115,143,144,145,146 . Figura 9: Anestesia local em L invertido, incluindo os ramos ventrais dos nervos vertebrais entre a 13º vértebra torácica e a 4º vértebra lombar 113. A incisão abdominal deve ser feita à distância de 6 a 8 cm, ventralmente aos processos transversos das vértebras lombares e a 4 a 6 cm da última costela. A incisão faz-se dorsoventral e com o comprimento de 20 a 25 cm. Começando pela pele e depois pelos músculos oblíquo externo, oblíquo interno e transverso do abdómen e então, com especial cuidado para não a atingir os órgãos abdominais, fazer a incisão do peritoneu. Deve ser efectuada então uma exploração dos órgãos da cavidade abdominal em busca de outras alterações ou patologias associadas (o cirurgião usa luvas devidamente desinfectadas, o mais estéreis possível). Palpa-se então com a mão esquerda o abomaso localizado entre o rúmen e a parede abdominal esquerda (o que confirma o diagnóstico de DAE). Procura-se depois a existência de aderências ou a persistência do ligamento redondo, que corre entre o umbigo e o fígado. O ligamento redondo persistente deverá ser dissecado. Deve-se então perfurar o abomaso na sua parte mais elevada (dorsal), com uma agulha hipodérmica de 14 ou 16 G ligada a um tubo de borracha, comprido o suficiente para neste procedimento ficar por fora do abdómen do animal, para remover o excesso de gás, facilitando o posterior reposicionamento do abomaso. Para esse efeito, a mão do cirurgião passa por cima do rúmen, encontrando o abomaso entre este e a parede abdominal esquerda. Após remoção da agulha, o cirurgião coloca a mão sob o rúmen na parte dorsal do abomaso, empurrando-o em direcção ventral e por de baixo do rúmen, reposicionando assim o órgão. Como alternativa, pode fazer-se ventralmente ao rúmen a tracção do omento, na sua zona mais forte, ou ao nível do piloro, que está localizado o mais longe possível em direcção ao ombro esquerdo do animal. Deve-se identificar o omento maior e retraí-lo dorso-caudalmente 44 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” através da incisão abdominal, até à porção mais espessa ligada ao piloro (confirmado pela observação de uma estrutura flácida saliente, comunmente designada de “orelha de porco”). Deve ser mantido exteriorizado através do uso de pinças uterinas. Fazem-se depois dois pontos em “U”, um caudal e outro cranial, à zona ventral da incisão abdominal, usando catgut crómico nº 3. Estes pontos devem incluir o músculo transverso, o peritoneu e ambas as camadas do omento maior e de novo o peritoneu e o músculo transverso (omentopexia)/abomaso (abomasopexia). Finalmente, sutura-se o peritoneu e o músculo transverso de forma contínua simples, usando catgut crómico nº 2 ou 3. A inclusão de parte do omento maior nesta sutura, na zona ventral da incisão abdominal, vai estimular futuras aderências entre o omento e o peritoneu. Alternativamente, pode suturar-se a parede pilórica abomasal lateral e o omento adjacente. Após esta, faz-se nova sutura contínua simples com catgut crómico nº 3 no músculo oblíquo interno e outra sutura igual para o músculo oblíquo externo e tecido subcutâneo. Alguns dos pontos devem englobar parte do músculo transverso do abdómen, para evitar deixar espaço morto entre estas duas suturas. Por fim, sutura-se a pele com sutura contínua ancorada ou sutura com pontos simples, usando fio não absorvível sintético (e.g. Supramid). Os 2 a 3 pontos mais ventrais da sutura de pele devem ser simples e interrompidos, de forma a permitir uma drenagem mais fácil, caso se venha a desenvolver uma infecção na zona de incisão 21,61,95,144,145,146,158. 10.2.3.1.2 – Vantagens e Desvantagens Esta técnica apresenta como vantagens ser realizada com o animal em estação (o que minimiza os riscos de regurgitação, especialmente importante em animais com pneumonia ou alterações músculo-esqueléticas), o animal também é sujeito a menos stress, o cirurgião não precisa de assistente e trabalha numa posição mais confortável, permite a reposição manual e a incisão apresenta poucos riscos 61. Contudo, apresenta algumas desvantagens, tais como o facto de não ser possível fazer a inspecção do abomaso na sua totalidade, a reposição ser relativa e não absoluta, a possível recidiva, o desenvolvimento de peritonite, a integridade da omentopexia pode ser afectada por fístulas ou por grandes quantidades de gordura em certos animais, há a possibilidade de um futuro DAD, apesar da omentopexia intacta e ainda existem estudos que indicam uma maior taxa de recidiva comparativamente às abomasopexias. Está, por isso, recomendada a sutura abomasoperitoneal 34,95,146 . Pode ocorrer ainda estenose funcional nos casos em que o piloro é incorporado na sutura 158 . Para evitar esta situação, que causaria problemas na passagem da ingesta, Niehaus (2008) defende que a fixação deve ser realizada, não na parte muscular do piloro, mas no antro pilórico do abomaso, a aproximadamente 3-5 cm proximal ao piloro 45 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” (piloricantropexia). Neste último caso, tratar-se-ia então de uma piloropexia e não de uma abomasopexia 93. 10.2.3.2 - Abomasopexia paramedial direita Esta técnica, descrita em 1959 por Staiton e McIntee, permite a fixação directa do abomaso à parede ventral do abdómen na sua posição anatómica correcta e pode ser realizada no DAE e no DAD 21,34. 10.2.3.2.1 – Procedimento Cirúrgico A intervenção é feita com o animal em decúbito dorsal, com os membros posteriores estendidos 61,95,136. O animal deve ser privado de água, pelo menos 12 horas antes da cirurgia. Isto ajuda a diminuir a possibilidade de regurgitação durante o decúbito dorsal. Dever-se-á também efectuar uma boa sedação (Cloridrato de xilazina) intravenosa, de forma a poder mais facilmente colocar o animal em decúbito dorsal, mantendo os membros posteriores em extensão. É então preparado o campo cirúrgico, da mesma forma que para a laparotomia no flanco. Neste caso, a área vai desde o apêndice xifóide até ao umbigo e com largura de 20 a 25 cm para cada lado da linha média, com maior cuidado na região paramediana direita. O bloqueio anestésico é realizado linearmente por infiltração (situado entre a linha média e a veia subcutânea do abdómen direita), ou em L (a 2 cm caudal ao apêndice xifóide, desloca-se para a direita 5 a 8 cm, entre a linha média e a veia subcutânea do abdómen, continuando caudalmente e paralelamente à linha média ventral), usando Cloridrato de lidocaína a 2%. Volta-se depois a lavar com iodóforo, colocando pano de campo fenestrado, repelente à humidade, estéril e segurá-lo com 4 a 6 pinças Backhaus. É então efectuada uma incisão abdominal paramedial direita, que começa a 6-8 cm do apêndice xifóide e 4-6 cm lateralmente à linha média ventral. A incisão tem 15 a 20 cm de comprimento. Esta deve ser efectuada numa sequência de quatro passos, abrangendo inicialmente a pele e tecido subcutâneo (incluindo o músculo peitoral profundo caudal, no terço cranial da incisão), seguido da túnica fibrosa externa do recto do abdómen, depois o músculo recto do abdómen e a túnica interna do recto do abdómen juntamente com o peritoneu. Deve proceder-se ao controlo de hemorragias, recorrendo a pinças hemostáticas, ou fazendo laqueação de vasos, caso seja necessário (é comum a metade caudal da incisão, na camada subcutânea, ser atravessada por um ramo da veia epigástrica). Caso o abomaso não tenha regressado à sua posição normal pelo decúbito dorsal, essa correcção deve ser feita pelo cirurgião manualmente, colocando o braço entre o rúmen e o peritoneu. Este deve também inspeccionar todo o abdómen, dando ênfase ao 46 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” abomaso, procurando úlceras (que, caso existam, devem ser reparadas), examinando o piloro e verificando a existência de neoplasias. Deverá ainda proceder à descompressão do abomaso com uma agulha estéril de 14 G, ligada a um tubo de borracha, e identificar as porções ventral, cranial e fúndica do abomaso (zonas em que a serosa está livre de omento). Faz-se então sutura a 2 ou 4 cm de distância do limite lateral direito da incisão, com 4 a 6 pontos em “U”, utilizando catgut crómico nº 3 e envolvendo 1 a 2 cm da parede abomasal, músculo oblíquo interno e peritoneu. Está indicada a medicação intraperitoneal, sendo aconselhada a administração de uma Tetraciclina solúvel em dose terapêutica (5-10mg/L), diluida em 1L de soro salino estéril. A incisão abdominal é fechada usando catgut crómico nº 2 ou 3, incluindo inicialmente o peritoneu e a túnica fibrosa interna do músculo recto do abdómen, numa sutura contínua simples, na qual se incorpora o abomaso. O músculo recto do abdómen é suturado de forma simples, contínua ou interrompida, usando catgut crómico nº 2. Para a baínha tendinosa externa do recto do abdómen está sugerida uma sutura interrompida horizontal, utilizando cagut crómico nº 2 ou 3. A sutura de pele é contínua ancorada e é feita com fio não absorvível (e.g. Supramid). Para prevenir a formação de seroma e abcessos deve evitar-se deixar um “espaço morto”, assim, a sutura deve incluir a túnica externa do músculo recto do abdómen. O animal é depois rolado, ficando em decúbito lateral esquerdo, previamente ao decúbito esternal, sendo depois encorajado a levantarse 61,95,145,146,158. 10.2.3.2.2 – Vantagens e Desvantagens Esta técnica apresenta a grande vantagem de permitir a exploração abdominal e principalmente abomasal em toda a sua extensão. Possibilita ainda a reposição fisiológica do abomaso, uma estabilização teoricamente mais segura do que uma omentopexia e a recidiva do deslocamento é rara. Esta é a técnica de eleição em casos de DA com aderências e também nos casos em que a estética da vaca seja relevante. Como desvantagens, há a referir a necessidade de rolar e manter o animal em decúbito dorsal, o que implica a presença de pelo menos um assistente e pode, embora seja raro, levar à formação de vólvulo intestinal ou uterino, quando o animal passa do decúbito para ficar em estação; o stress causado ao animal pelo decúbito, bem como ser uma posição menos confortável para o cirurgião trabalhar; as exigências pré-cirúrgicas; o risco de formação de hérnia ou fístulas na zona de incisão abdominal; a infecção da incisão abdominal por contaminação; a possibilidade de regurgitação durante o decúbito e ainda o edema parturiente ventral e os grandes vasos abdominais superficiais em vacas com úbere grande. A abomasopexia paramedial direita está contra-indicada em animais com broncopneumonia crónica ou aguda, hipotensão, certas 47 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” doenças músculo-esqueléticas, vacas no final de gestação, ou com distensão ruminal, edema ventral extenso e ainda em casos graves de VA, porque é difícil remover o fluido abomasal, sendo preferível realizar a cirurgia com o animal em estação, devido à sua condição sistémica comprometida 61,95,146,158. 10.2.3.3 - Abomasopexia paralombar esquerda Esta técnica está indicada para a correcção exclusiva do DAE, permitindo a fixação directa do abomaso à parede ventral do abdómen 61,158. Esta é a técnica indicada na resolução do DAE em vacas no final da gestação, uma vez que se o acesso fosse pelo flanco direito, o grande volume ocupado pelo útero grávido impediria a correcção 124 . Alguns clínicos recomendam a adaptação desta técnica ao flanco direito, para a correcção do DAD 158. 10.2.3.3.1 - Procedimento cirúrgico A intervenção é realizada com o animal em estação, com sedação/analgesia endovenosa. A cauda da vaca deverá ser presa, de modo a que não vá conspurcar a área cirúrgica. É realizada uma preparação cirúrgica para laparotomia lateral, como descrito anteriormente (zona de incisão ao nível da fossa paralombar esquerda), e ainda à direita da linha média, local onde o abomaso vai ser fixado. A anestesia na região paralombar é preparada, preferencialmente com anestesia paravertebral proximal (T13, L1, L2) (ver figura 12 em Anexo), havendo como alternativas a anestesia epidural a nível lombar, a anestesia paravertebral distal, o bloqueio anestésico em L invertido, ou ainda o bloqueio anestésico linear (ver figura 11 em Anexo). Coloca-se então o pano de campo fenestrado, repelente à humidade, estéril e segura-se com 4 a 6 pinças Backhaus. A incisão abdominal deve ser feita à distância de 6 a 8 cm, ventralmente aos processos tranversos das vértebras lombares e a 4 a 6 cm da última costela. A incisão é dorsoventral e com o comprimento de 20 a 25 cm. Tal como na abomasopexia à direita, incide-se primeiro a pele e depois os músculos oblíquo externo, oblíquo interno e transverso do abdómen e depois, com especial cuidado para não a atingir os órgãos abdominais, fazer a incisão do peritoneu. Procedese à inspecção de toda a cavidade peritoneal acessível. É aplicada uma sutura contínua simples, com um comprimento de 8 a 12 cm na curvatura maior do abomaso com fio não absorvível sintético (e.g. Supramid extra), deixando uma distância de 5 a 7 cm da sua ligação ao omento. A sutura não deverá atingir o lúmen abomasal. Deixa-se as duas extremidades do fio de sutura com aproximadamente 1 metro de comprimento. Deve-se então proceder à descompressão do abomaso com uma agulha hipodérmica de 14 G conectada a um tubo de borracha. A agulha deve 48 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” ser introduzida na zona mais dorsal do abomaso e obliquamente, para evitar que os fluidos removidos entrem na cavidade abdominal. Segundo Trent (2004), este procedimento pode ser realizado após a passagem dos fios de sutura pelo abdómen ventral, ou seja, depois do reposicionamento. Para reposicionar o abomaso, começa-se com a extremidade do fio mais cranial, o qual se prende a uma agulha em “S” ou uma agulha de necropsia. Protegendo a agulha com a palma da mão, introduz-se a mão direita ao longo da parede lateral do abdómen, entre o peritoneu e o abomaso deslocado, até palpar o apêndice xifóide. Insere-se a agulha na zona previamente preparada à direita da linha média, medialmente à veia abdominal subcutânea, forçando a agulha a atravessar a parede abdominal. Nesta fase é importante a ajuda de um assistente, que indica externamente o local a perfurar com a agulha, podendo realizar alguma tracção para facilitar a perfuração e depois poder segurar o fio. Deve repetir-se o procedimento anterior com a extremidade caudal do fio, com uma distância relativa ao primeiro de 3 a 10 cm. O assistente segura os dois fios e faz uma suave tensão, ao mesmo tempo que o cirurgião direcciona o abomaso à sua posição normal e depois se certifica de que não existam estruturas, como intestino delgado, por exemplo, presas entre o abomaso e a parede ventral do abdómen. O abomaso fica assim em contacto directo com o peritoneu, o que facilita a formação de aderências. As extremidades dos fios são atadas pelo assistente com um nó de cirurgião e mais três nós. São cortadas as extremidades, deixando-se cerca de 5 cm de comprimento em cada. Na sutura pode ser incorporado um botão grande ou um tubo de borracha para prevenir o stress tissular. Está indicada a medicação intraperitoneal com Tetraciclina em dose terapêutica, diluida em 1 L de soro salino estéril. A sutura da incisão paralombar é feita em quatro camadas, como anteriormente descrito para o flanco direito 61,95,113,114,115,134,136,143,145,146,158. 10.2.3.3.2 – Vantagens e Desvantagens As vantagens desta técnica são todas as já descritas para a abomasopexia paralombar direita, pelo facto de ser feita com o animal em estação, bem como permitir uma fixação directa e definitiva, uma vez que são usados fios não absorvíveis, e ainda possibilitar a visualização e tratamento de úlceras e aderências 34,61,95,146. A considerar contra esta técnica, há a dificuldade na sua execução, principalmente em vacas grandes ou com abdómen fundo, a possibilidade de infecção após a sutura na cavidade peritoneal, a eventual não fixação pelo rompimento da sutura, ou por não haver sobreposição directa do abomaso e peritoneu parietal, o que significa que outras estruturas ficaram aí interpostas, a punção de outras vísceras quando o cirurgião vai perfurar o abdómen ventral e ainda a lesão da veia subcutânea do abdómen 34,61,95,146. 49 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” 10.2.3.4 - Omentopexia paralombar esquerda (Método de Utrecht) A omentopexia paralombar esquerda foi descrita por Lagerweij e Numan em 1962 e 1968 e é usada para o tratamento cirúrgico de determinados casos de DAE 21. Esta técnica é muito semelhante à anteriormente descrita, sendo realizada com o animal em estação, e a incisão é feita ao nível da fossa paralombar esquerda. Procede-se à descompressão do abomaso através do uso de uma agulha hipodérmica de 14G, que tem acoplado um tubo de borracha. O abomaso é forçado a dirigir-se à sua posição anatómica natural, passando ventral e medialmente por baixo do rúmen. Aqui jaz a diferença relativamente à abomasopexia paralombar esquerda, que, como o nome indica, o abomaso é fixado; neste caso a estrutura fixada será o omento (junto a sua inserção na curvatura maior, próximo ao piloro), na zona ventral do abdómen, ao redor da linha branca 95. As vantagens e desvantagens são também em tudo semelhantes às da técnica anterior, tendo, no entanto, duas vantagens perante ela, que se prendem com a sua grande simplicidade e o facto de permitir uma maior motilidade, ou seja, maior liberdade de contracções do abomaso 95. 10.2.4 - Terapêutica cirúrgica para DAD Nos casos avançados de DAD e nos casos em que existe vólvulo abomasal é imperativa a intervenção cirúrgica 103,110,148 . O vólvulo ou torção abomasal provoca obstrução à passagem da ingesta para o duodeno, o que faz com que esta patologia seja considerada uma emergência cirúrgica 41. As técnicas cirúrgicas descritas para a correcção de DAD e VA são 34,41,61,95,146 : Omento/Abomasopexia paralombar direita e Abomasopexia paramedial direita. A omentopexia paralombar direita é mais apropriada em casos mais severos de VA, quando comparada com a abomasopexia paramedial direita 61. A omentopexia paralombar direita é a técnica mais universal. Ambas as técnicas foram já descritas no tratamento do DAE e são muito semelhantes para a correcção do DAD e VA. Na omentopexia poderá ser necessário um instrumento extra, quando comparado com a correcção do DAE, sendo ele um tubo gástrico com um diâmetro entre os 3 e os 6 cm, para a remoção de líquidos, que antecede a remoção de gás, nos casos em que há uma grande acumulação de fluidos abomasais. O principal aspecto a ter em conta é que ao fazer o acesso à cavidade abdominal pelo lado direito, deve ter-se o cuidado de não incidir o abomaso que aí estará localizado. As suas vantagens e desvantagens também são idênticas à omentopexia, tal como foi referido no deslocamento à esquerda. Pode ser associada a esta técnica uma abomasopexia, que vai ajudar a diminuir a probabilidade de recidiva 61,95,103,146. 50 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” 10.2.5 - Acções pós-cirúrgicas comuns Regra geral, para todos os tipos de cirurgias descritos deve ser considerada a administração sistémica adicional de electrólitos e fluidos, cálcio, selénio e vitamina E, para estimular o músculo liso, e antibióticos à base de Penicilina e Estreptomicina, caso necessário, durante 1 a 3 dias, bem como ajustar o maneio e nutrição, de acordo com as necessidades do paciente. Os pontos da sutura são, para todos os casos, removidos ao fim de 14 dias 21,61,95,145,146,158 . Após a cirurgia correctiva do DAE pode ser feita a transfaunação de 10L de líquido ruminal, devendo ser repetida no dia a seguir à cirurgia. Existem estudos que compararam animais em que este procedimento foi realizado, com animais que, através de um tubo orogástrico, receberam apenas água (grupo controlo). Os primeiros ingeriram maior quantidade de alimento, apresentaram um menor grau de cetonúria e produziram maior quantidade de leite 105 . O campo cirúrgico deverá ser desinfectado através de um spray antibiótico local, o que fornece, além de vantagem terapêutica, repelência contra moscas e sujidade 154. A administração pré-cirúrgica de eritromicina por via intramuscular (IM) e de flunixina meglumina (IV) é também benéfica. Resultados de um estudo de 2008, revelam que uma única dose de eritromicina aumenta o rácio de esvaziamento abomasal, a contracção ruminal e a produção de leite. Já os animais tratados com flunixina apresentaram unicamente um maior rácio de contracção ruminal 162. Um outro estudo avaliou o rácio de esvaziamento abomasal e concluiu que, após a cirurgia correctiva do DAE essa diminuição acentua-se. Os autores consideram que poderá, por isso, ser benéfica a administração de pró-cinéticos após a cirurgia 160. Regra geral, após a cirurgia é necessária uma fluidoterapia intensa, para corrigir a desidratação, a alcalose metabólica e restaurar a motilidade abomasal 34,41,103,146 . Existem diversos graus de desidratação, alcalose metabólica, hipoclorémia e hipocalémia, sendo que a fluidoterapia deveria preferencialmente estar adaptada a eles. Para isso é necessário realizar análises bioquímicas ao longo da fluidoterapia, para que esta possa ser ajustada. Contudo, na maior parte dos casos não há acesso a esta informação, logo, a escolha da solução irá recair na opção mais segura. São geralmente suficientes soluções electrolíticas contendo sódio, cloreto de potássio, cálcio e uma fonte de glucose. Um exemplo do referido anteriormente e que é recomendado e considerado seguro, é uma mistura de 2L de solução salina isotónica (0,9%), com 1L de cloreto de potássio isotónico (1,1%) e 1L de dextrose isotónica (5%), administradas por 51 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” via IV, numa taxa de de 4-6L/h 103 . Para a correcção da alcalose metabólica estão indicadas soluções isotónicas acidificantes, como por exemplo, uma solução de cloreto de sódio, ou cloreto de potássio. Está recomendada a administração desta solução por via intravenosa, com a frequência de 20L em 4 horas para vacas de 450kg. Uma solução salina normal pode também ser eficaz. As soluções de potássio só são indispensáveis quando a hipocalemia é grave 103 . A terapêutica electrolítica oral está principalmente aconselhada no pós-operatório que se segue à drenagem cirúrgica do abomaso. Está indicada a associação à fluidoterapia parenteral da mistura de cloreto de sódio (50-100g), cloreto de potássio (50g) e cloreto de amónio (50-100g), veiculada diariamente por via oral. A administração de cloreto de potássio (50g/dia) deve ser mantida até que o animal recupere o apetite 103 . É adequada a administração de antibióticos de largo espectro, nos casos em que é questionada a integridade da mucosa abomasal. A administração de anti-inflamatórios não esteróides (AINES) ou corticosteróides está aconselhada quando perante uma situação de choque, ou podem ser usados antes da cirurgia, como protectores de toxémia aguda pela manipulação do abomaso 41. 11 – Recidivância e Complicações As recidivas pós-cirúrgicas são mais comuns em casos de DAD do que DAE e, normalmente, o re-deslocamento dá-se para o mesmo lado do anterior 146 . Nas duas técnicas pode fazer-se a manipulação do omaso que ajuda à correcção do vólvulo. O omaso é levantado ou puxado dorso-lateralmente, na tentativa de reposicionar tanto o omaso como o abomaso 34 . As complicações pós-cirúrgicas são idênticas à síndrome de indigestão vagal e ocorrem em 14 a 21% dos casos. Os possíveis mecanismos que podem levar à semelhança com esta síndrome incluem: lesão do nervo vago, alterações da junção neuromuscular e da motilidade autónoma abomasal induzidas pela grande distensão da parede abomasal, trombose, necrose da parede abomasal e peritonite 103,125. 12 – Prognóstico Uma vez que não foram ainda apresentadas discussões sobre o prognóstico de Dilatação Abomasal e DAA, apresentam-se apenas as discussões dos casos de DAE e DAD. 12.1 – DAE O prognóstico pós-cirúrgico do DAE é bom 41 . O DAE raramente é fatal, no entanto, quando lhe está associada uma perfuração de úlcera abomasal, o prognóstico é desfavorável 103. 52 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” Num estudo realizado por Rohn et al. com 466 casos de DAE, 82% deles foram considerados curados após a cirurgia e regressaram à exploração. Posteriormente, a percentagem de sobrevivência foi um pouco inferior. Nos animais com DAE, os factores associados a um prognóstico favorável são a curta duração da doença, uma boa condição geral, bom apetite, fezes normais, um maior peso corporal, um hematócrito, hemoglobina e contagem de eritrócitos baixos, níveis baixos de ureia, AST e bilirrubina e níveis aumentados de sódio, potássio e cloro 80 . Pode, por isso, dizer-se que a determinação do prognóstico após a cirurgia pode ser conseguida com exames clínicos e laboratoriais, dando principal atenção ao exame físico, à função hepática e ao estado de desidratação 103,117 . A pressão luminal abomasal em animais com DAE está aumentada, tendo uma média de 8,7 mmHg, podendo variar entre 3,5 e 20,7 mmHg 32 . Este aumento pode contribuir para a patogénese da úlcera abomasal e é acompanhado de menor perfusão abomasal 159. Um estudo realizado em 2006 por Kalaitzakis et al. procurou encontrar dados úteis na previsão do prognóstico pós-cirúrgico de animais operados para DAE, que sofriam também de lipidose hepática. Concluiram que a resposta após a cirurgia está dependente da severidade da lipidose hepática (classificada de 0 a 5) e que todas as vacas da amostra padeciam de algum grau da doença, sendo que as que morreram apresentavam grau severo (5). Neste estudo, recomendam como diagnóstico de lipidose hepática em vacas com DAE a avaliação combinada de mais de um resultados da actividade de ornitina transcarbamilase no soro, aspartato aminotransferase, glutamato desidrogenase e da concentração de bilirrubina total plasmática (por ordem decrescente de sensibilidade). Todos estes níveis crescem com a gravidade da doença 75. Foi apresentado um trabalho que comparou a produção de leite e sobrevivência de vacas leiteiras após a correcção laparoscópica do DAE. Quanto à produção de leite, não houve diferenças significativas entre o grupo com DA e o grupo controlo. Já no que refere à sobrevivência pós-cirúrgica, o risco de abate na mesma lactação em que foi diagnosticado o deslocamento foi 8 vezes superior nos animais afectados pela doença, quando comparados ao grupo de controlo. Na lactação seguinte, após a correcção do DAE, o risco já foi semelhante entre os dois grupos. O risco de abate, imediatamente após a cirurgia, foi maior para os animais que, antes do tratamento, apresentavam pior condição corporal 73. Para além dos dados acima descritos, é importante referir que a maioria das perdas de efectivo após o tratamento, são devidas a doenças concomitantes e não directamente ao DA, nem ao método de tratamento utilizado. O prognóstico para o retorno à normal funcionalidade varia, 53 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” nos casos de cirurgia de abdómen fechado, entre os 71 e os 91%. Já nos casos de cirurgia de abdómen aberto/convencional, está entre os 80 e os 100% 146. 12.2 – DAD O prognóstico do DAD e do VA precoce é comparável ao de um DAE corrigido cirurgicamente. Contudo, o prognóstico de um DAD é sempre melhor do que o do VA, porque no primeiro o sistema vascular do abomaso é menos afectado, o que faz com que as alterações metabólicas sejam também menores 46 . A produtividade a longo termo de animais com DAD é igual ou melhor à de animais com DAE, uma vez que no deslocamento à direita são menos comuns as complicações que induzem a maioria de perdas nos casos de DAE 146. São vários os dados clínicos e laboratoriais que podem ser utilizados para prever o prognóstico em casos de DAD e VA 103 . Um estudo realizado com 458 vacas com DAD ou VA demonstrou que a observação de taquicardia e temperatura reduzida no primeiro exame indiciam um mau prognóstico 46 . Um outro estudo de 80 vacas com VA determinou que os melhores dados para prever o prognóstico pré-cirúrgico são: frequência cardíaca, estado de hidratação, período de inapetência e fosfatase alcalina plasmática considerado um indicativo de mau prognóstico 41,48 31 . Um anion gap de 30mEq/L foi . Os achados cirúrgicos e pós-cirúrgicos em animais com VA são bons indícios de prognósticos de recuperação 30,103 . Animais com vólvulo omaso-abomasal têm pior prognóstico, comparativamente aos que não envolvem o omaso 30 . Uma grande quantidade de fluido abomasal, trombose venosa e coloração abomasal azulada ou negra, observados antes da descompressão, são sinais de mau prognóstico, bem como uma diminuição da motilidade gastro-intestinal pós-cirúrgica 79,103,148. Os animais em que é necessário remover entre 1 a mais de 30 litros de líquido abomasal antes da reposição cirúrgica e aqueles que têm níveis de cloro plasmático inferiores a 79mEq/L antes da cirurgia, apresentam mau prognóstico 103 . A pressão luminal abomasal está aumentada quando ocorre vólvulo (variando entre 4.1 a 32.4mmHg, tendo como valor médio 11.7mmHg), sendo este aumento mais significativo do que nos casos de DAE 32,159 . Este acréscimo de pressão pode provocar lesão da mucosa, por oclusão vascular local, o que vai afectar o prognóstico de forma negativa. Entre os animais com VA, a pressão luminal abomasal foi significativamente maior nos animais que morreram ou foram refugados após a cirurgia, com uma média de 20.6mmHg, comparativamente aos animas que recuperaram e foram mantidos no efectivo, estes com uma média de 11.0mmHg 103 . A maioria dos animais com VA que são tratados cirurgicamente e ainda com fluidoterapia, apresentam melhorias ao fim de 24 a 72 horas após este tratamento, identificáveis 54 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” pela atitude e aumento do apetite. Contudo, um bom prognóstico só pode ser considerado 96h após a cirurgia. Animais em decúbito, que não consigam levantar-se, nem mesmo depois de corrigida a hipocalcémia, estão geralmente em acidose e o seu prognóstico é mau 34. As principais complicações do vólvulo abomasal incluem lesão directa de um ramo do nervo vago e a trombose vascular e são os principais motivos de um mau prognóstico póscirúrgico. Se um paciente com VA for diagnosticado e tratado nas primeiras 4 horas após o início dos sinais clínicos, estas complicações, anteriormente referidas, têm muito menor probabilidade de ocorrer, quando comparadas com os pacientes em que a cirurgia tarda 24 horas. Qualquer uma destas complicações resulta em distensão abdominal progressiva, desidratação, bradicardia, anorexia, diminuição da produção de fezes, hipomotilidade ruminal e perda de peso. Estes sinais mimetizam a indigestão vagal e não têm boa resposta ao tratamento sintomático, o que significa que podem sobreviver durante semanas até que sucumbam 34 . A fatalidade é elevada nos animais que desenvolvem complicações após correcção cirúrgica do VA, sendo que apenas 12 a 20% desses animais recuperam até à sua normal produção 103 . Uma outra complicação, mas menos comum, é a perfuração abomasal com peritonite difusa, que pode surgir 72horas após a cirurgia e que provoca a morte muito mais rapidamente 34,41,103. Daqui se conclui que quanto mais atempadamente são feitos o diagnóstico e a terapêutica, melhor será o prognóstico, o que está dependente da atenção dos produtores e do médico veterinário 34. 13 – Prevenção Uma vez que não está disponível qualquer informação relevante quanto ao controlo do DAD e VA, e já que a patogénese é similar ao DAE, parece racional recomendar a aplicação das mesmas medidas de controlo e prevenção enunciadas no DAE, tendo em especial atenção os planos alimentares 37,41,103,121. Propõem-se de seguida as principais medidas de Prevenção de DA: Medidas para o animal: Assegurar que as vacas são secas com uma condição corporal óptima e que se mantêm nessa mesma condição até ao parto 9,24,66,103; Favorecer a prevenção de doenças no peri-parto (mastite, metrite, retenção placentária, hipocalcémia, cetose) 41,103,130; 55 Revisão Bibliográfica – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” Programas reprodutivos que seleccionem para uma curva de lactação persistente, longo período de vida produtiva e elevada capacidade de ingestão de matéria seca, têm um efeito depressor na frequência de DA a longo termo 9,53; Melhorar o ambiente em volta do animal, tendo boas práticas de higiene, boa ventilação, pouco ruído e camas confortáveis 126; Monitorizar a repleção ruminal perto do parto 12,103,132, Monitorizar para sinais de acidose 12,74,132; Monitorizar para cetose, incluindo a subclínica 12,74; Monitorizar para hipocalcémia, incluindo a subclínica 12,100; Prevenir e/ou tratar hipocalcémia 12,100; Tratar rapidamente a cetose subclínica 12,74; Prevenir e/ou tratar retenção placentária, metrite e mastite, junto ao parto Considerar o uso de AINES no tratamento de vacas no periparto 12; Considerar não cruzar novilhas de substituição de linhas que parecem ter problemas 12,41 ; particulares com DA 12,49,103; Medidas para o Efectivo: Atenção pormenorizada às rações de vacas secas e vacas no período de transição: o Maneio cuidado da transição da ração de vacas secas para lactantes, introduzindo gradualmente fontes de energia rapidamente fermentescíveis (incluindo silagem de milho e concentrados) 9,130,132; o Oferecer algum concentrado antes do parto, para que o rúmen se adapte 37,53,103,137; o Assegurar fibra adequada e de tamanho suficiente 103,132,137; o Separar vacas em lactação de vacas secas 133; o Maximizar a ingestão de MS no pós-parto imediato 12,52,53,66,103; o Assegurar alimentos palatáveis e água disponíveis ad libitum para vacas no periparto 8,12; o Aumentar o número de bebedouros nos parques 133; o Considerar o suplemento com antioxidantes em efectivos que se sabe terem problemas com deficiência de vitamina E e selénio 10,12,133 ; o Assegurar uma maternidade, onde as vacas que estão numa situação stressante tenham acesso a uma zona mais tranquila, mais higiénica, com boas camas, 56 Investigação – Materiais e Métodos – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” o Evitando o desequilíbrio na relação entre agentes bacterianos ambientais e imunidade do animal 133; Considerar o uso de perfis metabólicos em vacas nos 7-10 dias antes e depois do parto para monitorizar o seu estado nutricional 12; Usar outros métodos para recolha de dados acerca da ração, como a avaliação fecal (“Teste da bota”) 12; Seleccionar touros para reduzir problemas de distócia 12. II- Investigação II.1 - Material e Métodos Durante o período de estágio curricular e de recolha de dados para a formulação da Tese de Mestrado, foram acompanhados três grupos de Médicos Veterinários de renome, sendo estes o Dr. Paulo Alexandre Alves Capelo, com actividade na maioria do Concelho de Barcelos, Dr. Jorge Manuel Evangelista, com actividade na zona circundante de Aveiro, e ainda toda a equipa dos Serviços Veterinários Associados, com actividade no Concelho de Barcelos, Vila Nova de Famalicão, Vila do Conde, Póvoa do Varzim, Trofa, e Santo Tirso. Houve ainda a oportunidade de acompanhar toda a prática clínica por eles efectuada. Porém, a prática clínica e de recolha de dados apenas se verificou durante o período de estágio clínico com o Dr. Paulo Capelo, sendo este de 2 meses, e mais duas semanas com os Serviços Veterinários Associados. Desse mesmo acompanhamento clínico, foram recolhidos dados acerca de cada Exploração e Animal com Deslocamento de Abomaso. Os dados consistem em: Nome do Proprietário e Local da Exploração: para permitir saber se houve mais do que um caso durante o período de recolha dos dados; Qual o caso concreto: isto é, se estava na presença de um DAE/DAD/DAA/Dilatação Abomasal; Qual o número de animais por exploração: para saber se havia alguma relação do número de animais com o aparecimento de casos de DA; Tipo de Alimentação fornecida aos animais. Neste caso, apenas foi possível a distinção de alimentação com Unifeed simples (US), Unifeed com suplementação de ração na ordenha (USRO) e sem Unifeed (SU), uma vez que nem todos os proprietários se mostravam receptivos em revelar qual a marca de ração utilizada; Nível Produtivo do animal afectado com DA antes e no momento do DA; Patologias Intercorrentes: patologias manifestadas 57 antes de aparecer o DA; Resultados – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” Patologia no Pós-parto (PP) ou Ante-parto (AP) Maneio, classificado em 3 categorias: o Mau: explorações com maus tratos aos animais, sem separação de vacas lactantes de não lactantes, com más condições de higiene; o Razoável: explorações apenas com más condições de higiene, ou sem separação de vacas lactantes e não lactantes; o Bom: explorações cujo maneio dos animais é mais cuidado, com boas condições sanitárias, estrutura física razoável. Também se incluem as explorações com todos os registos de todos os animais, com um maneio criterioso dos animais, com boas condições sanitárias, estrutura física com boa separação, bons acessos à lactação e com todas as condições de higiene para os animais; Note-se que outras informações de notável importância para um estudo epidemiológico, tais como a idade do animal, as informações do contraste leiteiro, tempo desde o parto até ao diagnóstico de DA, número de casos de DA em cada exploração, foram informações que se tentaram recolher durante o levantamento de dados, mas os quais o produtor, por insuficiência de registos, ou por não querer revelar, não facultou. Outra informação importante seria a da melhoria ou não da vaca, o que envolveria um estudo por vários meses, ou mesmo anos, para avaliar a incidência. Pode, porém, ser dito que todos os animais apresentaram melhoria nas semanas seguintes. Para uma análise pormenorizada dos resultados, foi utilizado o programa estatístico SPSS v.11 e seguido o método aconselhado por Maroco 83. III – Resultados Após a análise estatística dos dados colhidos no estudo de campo (tabela 3 em anexo), apenas foi possível encontrar alguma relação estatisticamente significativa nos campos relativos à diferenciação do tipo de DA e à perda de produção consequente ao DA. É de seguida apresentada uma análise pormenorizada. Relativamente à patologia associada ao DA, foram englobados todos os tipos de DA e apenas se pode concluir, com base nas percentagens relativas a cada um dos tipos de patologias, que vacas com Cetose (33,3%) apresentam maior risco de vir a desenvolver DA, seguidas das que têm patologias reprodutivas (23,3%), esteatose (21,7%), patologia podal (13,3%), distócia (5%) e patologia digestiva (3,3%). Todos os outros casos são considerados como não significativos para a análise. Os resultados são apresentados no gráfico 1. 58 Resultados – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” Gráfico 1 – Percentagem relativa das patologias associadas ao DA. Para avaliar a significância estatística percentual do tipo de deslocamento de abomaso, (recorreu-se ao Teste Binominal, implementado no software de análise de dados SPSS (v.11; SPSS Inc, Chicago, IL) como descrito em Maroco (2007) 83. Considerou-se α = 0,05. A percentagem de animais que apresentavam DAE foi de 84% (n s = 53) e a percentagem de animais que apresentavam DAD ou DAA foi de 16% (nn = 10). A análise estatística inferencial indica que a percentagem de Animais com DAE é significativamente diferente de 50% (p< 0.001 ; N= 63). De seguida, apresentam-se os outputs do SPSS para o teste binominal. Tabela 3 – Resultados SPSS v.11 relativos ao número de animais por tipo de DA. Binomial Test- Proporção DAE versus DAD /DAA 53 Observed Prop. ,84 10 ,16 63 1,00 N tipo de deslocamento DAE DAD e DAA Total a. Based on Z Approximation. Gráfico 2 – Tipo de Deslocamento e número de casos associados 59 Test Prop. ,50 Asymp. Sig. (2-tailed) ,000 a Exact Sig. (2-tailed) ,000 Resultados – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” Relativamente à perda percentual de produção leiteira devida a DA, esta análise foi também efectuada com o SPSS v.11, segundo as indicações de Maroco 83 , e recorreu-se ao estudo “one-way ANOVA”, com um α = 0,05. Deve ser tido em conta o facto de não terem sido contabilizados os animais que não se encontravam em lactação no momento da doença nem as novilhas, nem vacas com DAA, daí n ser de 50 e não 63. A perda percentual média para as vacas com DAE foi de 68,33% (n = 42) e a perda percentual média para as vacas com DAD foi de 92,62% (n = 8). A análise estatística indica que a perda percentual média dos animais com DAE é significativamente menor (p= 0.001 ; n= 50). De seguida, apresentam-se os outputs do SPSS para o teste “Oneway ANOVA”. Tabela 4, 5 e 6: Resultados SPSS v.11 relativos ao teste One Way ANOVA para a perda percentual de produção quando associada ao tipo de DA. ANOVA Perda Percentual Between Groups Within Groups Total Sum of Squares 3964,769 16550,519 20515,288 df Mean Square 3964,769 344,802 1 48 49 F 11,499 Sig. ,001 Case Processing Summary Cases Missing N Percent 0 ,0% 0 ,0% Valid Perda Percentual tipo de deslocament o DAE DAD N 42 8 Percent 100,0% 100,0% Gráfico 3: Associação da perda percentual de produção ao tipo de DA. 60 Total N 42 8 Percent 100,0% 100,0% Resultados – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” Por fim, foi também efectuada a análise da relação entre o tipo de DA e o tipo de alimentação. Para isso recorreu-se ao Crosstabs CHi-Square test implementado no software de análise de dados SPSS v.11, como descrito em Maroco (2007) 83. Considerou-se α = 0,05. Para esta análise, excluiu-se o deslocamento de abomaso anterior. A análise estatística pelo Fisher's Exact Test indica que não existe diferença estatisticamente relevante entre o tipo de alimentação e o tipo de deslocamento (p= 0.283 ; n= 62), tal como se pode comprovar pelas tabelas apresentadas de seguida. Porém, e em análise do gráfico 4, essa relação poderia ser considerada relevante, se se considerasse apenas este gráfico. Tabelas 7, 8 e 9: Resultados SPSS v.11 relativos ao Crosstabs CHi-Square test associando o tipo de alimentação ao tipo de DA: Case Processing Summary Valid N tipo de deslocamento * Tipo de aliment ação Percent 62 Cases Missing N Percent 100,0% 0 Total N ,0% Percent 62 100,0% tipo de deslocamento * Tipo de ali mentação Crosstabulation tipo de deslocament o DAE DAD Total Count % wit hin t ipo de deslocament o % wit hin Tipo de alimentação % of Total Count % wit hin t ipo de deslocament o % wit hin Tipo de alimentação % of Total Count % wit hin t ipo de deslocament o % wit hin Tipo de alimentação % of Total Tipo de alimentação SU US USR 8 35 10 Total 15,1% 66,0% 18,9% 100,0% 88,9% 89,7% 71,4% 85,5% 12,9% 1 56,5% 4 16,1% 4 85,5% 9 11,1% 44,4% 44,4% 100,0% 11,1% 10,3% 28,6% 14,5% 1,6% 9 6,5% 39 6,5% 14 14,5% 62 14,5% 62,9% 22,6% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 14,5% 62,9% 22,6% 100,0% 61 53 Discussão – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” Gráfico 4: Relação entre o tipo de DA e o tipo de alimentação. Há que notar que SU se refere ao tipo de alimentação sem Unifeed, US com Unifeed Simples e USR Unifeed com suplementação de ração às melhores produtoras. IV – Discussão Da análise dos Resultados, conclui-se facilmente a veracidade dos argumentos de Mesaric, Smith, Radostits e Aubry, quando dizem que a prevalência de DAE é substancialmente mais raro 4,41,88,103. O facto de não ter aparecido qualquer caso de Dilatação Abomasal, deve-se, provavelmente, ao facto de uma Dilatação preceder geralmente os outros tipos de DA, o que torna difícil a sua identificação, uma vez que os sintomas ocorrem numa fase inicial e algo vestigiais 84,103,149. Do estudo conclui-se também que a Cetose é a patologia mais comum em DAE, DAD, e DAA, o que é concordante com os estudos e bibliografia já verificados 41,50,51,103 . Dos restantes casos, denota-se a maior prevalência de Esteatose Hepática, o que vem a ser concordante com a Cetose 23,41,50,51,103. Após a ocorrência de DA, o nível produtivo tende, como se sabe, a baixar, e este desce mais com a gravidade da situação. Assim, nota-se claramente que a produção após o diagnóstico do caso de DA, foi menor para DAD do que para DAE 39,41,145,37. Já no caso de DAA, a produção notada no estudo efectuado foi nula, mas há que referir que se tratam de vacas secas, ou mesmo de novilhas, ou seja, cuja produção esperada seria de zero. Da análise da relação do número de casos de DA com o Tipo de Alimentação, com base simplesmente no gráfico 4, nota-se que esta ocorreu em maior número em vacas alimentadas 62 Conclusão – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” com Unifeed Simples. Estes resultados são de estranhar, uma vez que seriam esperados maior número de DA em vacas cuja alimentação se baseasse em Unifeed com suplementação de concentrado às melhores produtoras, tal como afirma Van Winden e Cammark 25,151 . Porém, e talvez devido ao regime alimentar apenas com Unifeed ser o mais implementado na região onde o estudo foi efectuado, se verifique uma maior incidência em vacas alimentadas com Unifeed. Seria útil a medição do comprimento e teor de fibra da dieta para uma melhor análise. Porém, devido à falta de informação por parte do produtor e mesmo de material apropriado, (sort box), tal não foi possível 24,25,152,153 . Há que considerar porém a falta de relevância estatística destes 51 dados . Mais nenhuma análise estatística de relevância foi, no entanto, possível, uma vez que a percentagem de erro estatístico era bastante elevada, daí que qualquer conclusão fosse errónea com base nessa análise. V- Conclusão Conclui-se, assim, que o DA é ainda hoje uma patologia bastante frequente e que muitas falhas a nível de maneio, quer físico, quer alimentar, se têm verificado ainda. O que todos os produtores perguntam aos clínicos de Bovinos, quando têm uma incidência moderada a elevada de DA na sua exploração, é o que podem fazer para evitar essa situação. Não existe uma solução, existem sim várias medidas que podem ser tomadas, que vão ajudar a diminuir o número de casos desta patologia e, na sua grande maioria, das restantes patologias do periparto. Essas medidas foram descritas acima e exigem um grande esforço e empenho na mudança dos hábitos de trabalho, tendo algumas delas resultados imediatos, mas outras não, requerendo uma maior persistência. O produtor deverá seguir todos os critérios contrários aos factores predisponentes de DA, prevenindo, assim, a incidência da patologia. Para isso, e para uma melhor análise, um bom sistema de registos de dados relativos à exploração é indispensável. Ele deve incluir a alimentação, seus componentes e análises; produção de leite; índices reprodutivos; prevalência das mais diversas patologias entre elas DA, RP, metrite, mastite, aborto; condição corporal. Ou seja, tantos dados quanto possível. Todas estas alterações devem ser sugeridas pelo médico-veterinário que dá apoio à exploração em causa. Todas as alterações propostas visam facilitar o maneio alimentar adequado a cada fase do ciclo produtivo e reprodutivo e proporcionar melhores condições de higiene e maior conforto aos animais. 63 Bibliografia – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” VI – Bibliografia 1. Akraiem AM. Kontrollierte klinische Studie über die Auswirkungen einer Pyloroplastik auf Krankheitsverlauf und Heilungsrate bei Kühen mit Labmagen-Blättermagendrehung. 1 st Ed. Giessen: Germany, 2007; 90:1-90pp. 2. Allen DG. The Merk Veterinary Manual 50th Anniversary Edition. 2008. Publicado em: http://www.merckvetmanual.com/mvm/index.jsp?cfile=htm/bc/21802.htm. 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Carvalho – Macieira Rates Jorge - Cristelo Zé - Paradela Vitor – Macieira Rates Zé - Paradela Tone Pedrosa – Macieira de Rates Joaquim – Vilar de Figos Moizés - Cristelo Zé Augusto - Carvalhal Deolinda - Negreiros Laida - Barqueiros Fernanda - Rio Tinto Dimas - Paradela Luís Geraz - Negreiros Dimas - Paradela Zé – Negreiros Nuno – Gueral Pedro - Barqueiros Pedro - Barqueiros Mário - Carvalhal Zé Nuno - Paradela Fonseca - Remelhe João - Negreiros DAE DAD DAE DAE DAE DAE DAA DAE DAE DAE DAE DAD DAE DAE DAD DAE DAE DAE DAE DAE DAE DAD DAE DAE DAE DAE DAE DAD DAE DAE DAE 160 170 170 120 40 52 85 65 70 60 70 100 70 100 15 70 120 50 90 25 30 70 30 200 50 160 160 85 98 67 85 US USRO USRO US US US USRO SU SU USRO USRO USRO USRO US US US USRO US US SU SU US SU USRO US US US USRO USRO US US Nível Produtivo (Total (L)/dia) 48 Seca 50 5 40 10 40 8 30 Seca 26 12 30 Seca 35 8 30 7 30 6 30 3 40 Seca 40 7 35 4 23 3 27 6 45 15 20 5 0 0 30 15 40 15 30 0 0 0 40 8 25 1 37 12 50 7 42 1 33 5 36 10 47 9 xviii Perda Percentual 0% 90% 75% 80% 0% 53,85% 0% 77,14% 76,67% 80% 90% 0% 82,50% 88,57% 86,96% 77,78% 66,67% 75% 0% 50% 62,50% 100% 0% 80% 96% 67,57% 86% 97,62% 84,85% 72,22% 80,85% Doenças intercorrentes Maneio Patologia Ante ou Pós-parto Cetose Metrite Cetose Bom Bom Bom Razoável Mau Mau Razoável Mau Bom Razoável Mau Bom Mau Mau Mau Mau Razoável Bom Razoável Mau Mau Mau Mau Bom Mau Bom Bom Mau Mau Mau Mau AP PP PP PP AP PP AP PP PP PP PP AP PP PP PP PP PP PP PP PP PP PP PP PP PP PP PP PP PP PP PP Cetose Patologia Podal Cetose + Patologia Podal Esteatose hepática + Cetose Fertilidade + Esteatose hepática Úlcera abomaso Cetose Cetose + Esteatose Hepática Patologia Podal Cetose Esteatose Hepática Distócia Esteatose Hepática Esteatose Hepática Cascos + Tumefacção Artículação Sacroilíaca Cetose Cetose Metrite Cetose Cetose Cetose + Patologia Podal Cetose Esteatose Hepática Metrite Anexos – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 Fonseca – Macieira Rates Manuela - Macieira Rates Dimas - Paradela Joaquim - Paradela Quim - Góios Carvalho - Barqueiros M. Campos – Remelhe Tone Pedrosa – Macieira de Rates Moizés - Cristelo Faria - Remelhe Olivério - Negreiros Américo - Paradela Pedro - Barqueiros Quim - Góios Tone Pedrosa – Macieira de Rates Fonseca – Macieira Rates Dimas - Paradela Miguel - Cristelo Evaristo - Cristelo Joaquim Silva - Junqueira Joaquim Silva - Junqueira Goreti - Fradelos Silvina - Fradelos Ricardo – Touguinha Ricardo – Touguinha Soc. Agr. Telha – (Sto. Tirso) Manuel - Minhotães Rui – Louro (V.N.Famalic.) Jorge - Fradelos Henrique - Fradelos Joaq. Ferreira – Lagoa (V.N.Fam) Carvalho - Nine DAE DAD DAE DAE DAD DAD DAE DAE DAE DAE DAE DAE DAE DAE DAE DAE DAE DAD DAE DAE DAE DAE DAE DAE DAE DAE DAE DAE DAE DAE DAE DAE 120 90 30 70 85 65 170 100 70 65 78 52 160 85 100 120 30 86 79 130 130 112 70 108 108 200 130 75 60 75 130 102 USRO US SU US USRO SU USRO US US US US US US USRO US US SU US SU US US US US US US US US US US US US US 38 35 39 0 35 27 43 32 23 32 27 35 49 36 30 33 32 34 42 0 0 0 20 30 30 30 35 35 35 20 26 36 24 0 15 8 4 6 10 12 7 8 16 6 Seca Seca 7 Seca 9 0 3 8 6 10 0 22 27 16 16 8 16 9 20 10 xix 36,84% 100% 61,54% 0% 88,57% 77,78% 76,74% 62,50% 69,56% 75% 40,74% 82,86% 0% 0% 76,67% 0% 71,87% 100% 92,86% 0% 0% 0% 100% 26,67% 10% 46,67% 54,29% 77,14% 54,29% 55% 23,08% 72,22% Cetose Metrite + Mamite Esteatose Hepática Metrite Esteatose Hepática Esteatose Hepática Metrite Metrite Esteatose Hepática Cetose Cetose Distócia Cetose Esteatose Hepática + Patologia Podal Patologia Podal + Metrite Esteatose Hepática Metrite Cetose + Mamite Metrite Metrite Patologia Podal Metrite Metrite Recidiva DAE Cetose Nervosa Rompimento vaginal no parto Mamite Cetose Razoável Mau Mau Mau Razoável Mau Bom Mau Mau Mau Mau Mau Bom Razoável Mau Razoável Mau Mau Mau Razoável Razoável Mau Mau Bom Bom Bom Bom Bom Mau Bom Mau Mau PP PP PP PP PP PP PP PP PP PP PP PP AP AP PP AP PP PP PP PP PP PP PP PP PP PP PP PP PP PP PP PP Anexos – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” A B C D E F G H Figura 10: Preparação pré-cirúrgica de cirurgias presenciadas durante o estudo de campo: A – mesa com material a ser utilizado durante a cirurgia; B – material cirúrgico esterilizado, após fervedura e aplicação de solução iodada; C – lavagem da área cirúrgica com água e sabão; D – tosquia da área cirúrgica; E – secagem da área cirúrgica; F – aplicação de álcool; G – aplicação de solução iodada; H – desinfecção do cirurgião; xx Anexos – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” A B C Figura 11: Anestesia Local: A – Aplicação ventro-dorsal de lidocaína; B – aplicação perpendicular à linha do corpo de lidocaína; C – imagem após percorrida a zona a ser alvo de corte cirúrgico; A B C Figura 12: Anestesia paravertebral: A – tosquia da zona a ser injectado o anestésico; B – injecção caudalmente e perpendicularmente à apófise transversa; C – injecção com ângulo de 45º caudal à apófise transversa; xxi Anexos – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” A B C D E F G H I J K L M N O P Figura 13: Abomasopexia paralombar direita observada durante o estudo de campo: A – incisão da pele; B – cirurgião explorando a área abdominal; C – Abomaso (zona do piloro) exposta; D – Fixação do Piloro com pinça não traumática; E, F e G – sutura das paredes do abomaso ao músculo transverso do abdómen e peritoneu; H – xxii Anexos – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” sutura do oblíquo interno; I – Frasco de Glicose 30%; J – instilação de glicose 30% para a cavidade abdominal pelas camadas ainda não suturadas; K – Penicilina e Estreptomicina retiradas do frasco estéril; L – aplicação local de penicilina e estreptomicina sobre as camadas musculares; M e N – sutura da pele; O – aplicação de spray de terramicina sobre a sutura de pele; P – aplicação intramuscular de penicilina e estreptomicina; A B C D E F G H I J K L Figura 14: Omentopexia paralombar direita (Método de Hannover) observada em campo, com sobreenchimento por gás e com outro método de Antibioterapia: (Há que denonar que apenas se apresentam algumas fotos, uma vez que as restantes são comuns à cirurgia anterior) A – abertura da parede peritoneal, permitindo a entrada de gás para a cavidade; B – perfuração com canulação do abomaso repleto de gás; C – visualização de que sai gás pela cânula, uma vez que incendeia face a fonte de fogo; D – retirada de porção do omento denominada “orelha de porca”, após reposicionamento do abomaso; E – fixação do omento por meio de pinça traumática, à parede abdominal; F e G – sutura do omento ao peritoneu e músculo transverso do abdómen; H – sutura do músculo transverso do abdómen; I – xxiii Anexos – “Deslocamento do Abomaso em Bovinos Leiteiros” sutura do músculo oblíquo interno do abdómen; J – sutura do músculo oblíquo externo do abdómen e instilação de antibiótico à base de Penicilina e Estreptomicina nas paredes musculares; K e L – injecção de antibiótico em todas as camadas musculares e no interior da cavidade abdominal; xxiv