Valores eternos.
TD
Recuperação
ALUNO(A)
MATÉRIA
ANO
SEMESTRE
Literatura
2º
1º
DATA
Julho/2013
PROFESSOR(A)
TOTAL DE ESCORES
ESCORES OBTIDOS
Marcos
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1. O quadro Abaporu, de Tarsila do Amaral, inspirou o Manifesto Antropofágico feito
por Oswald de Andrade na 1ª fase do Modernismo brasileiro. Identifique a relação
do quadro com o conteúdo do Manifesto
(Abaporu. Tarsila do Amaral, Óleo sobre tela,
1928, reprodução do original colorido.)
Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.
Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os
coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.
Tupi, or not tupi that is the question.
Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.
Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.
/.../ Queremos a Revolução Caraíba. Maior que a Revolução Francesa. A unificação de todas as revoltas eficazes na
direção do homem. Sem nós a Europa não teria sequer a sua pobre declaração dos direitos do homem.
A idade de ouro anunciada pela América. A idade de ouro. E todas as girls.
(ANDRADE, Oswald. Manifesto Antropófago (fragmento).
Revista de Antropofagia, Ano 1, No. 1, maio de 1928.)
É correto afirmar:
a)
b)
c)
d)
O Manifesto Antropófago dá continuidade às ideias do Movimento Verde-amarelo, do qual participou Tarsila.
O Manifesto e o quadro ironizam a figura do índio que representou o herói nacional no Romantismo.
A figura deformada do índio mostra a ideia que o Manifesto tem do povo brasileiro do início do século XX.
A figura do índio e seus rituais antropófagos simbolizam as ideias nacionalistas e a abertura da nossa cultura para
as influências estrangeiras.
e) O quadro Abaporu inspirou o Manifesto Antropófago, mas não relaciona a figura do índio a nenhum ritual.
2. Observe o trecho abaixo:
“Então Macunaíma enxergou numa lapa bem no meio do rio uma cova cheia d’água. E a cova era que nem marca
dum pé gigante. Abicaram. O herói depois de muitos gritos por causa do frio da água entrou na cova e se lavou
inteirinho. Mas a água era encantada porque aquele buraco na lapa era marca do pezão de Sumé, do tempo em que
andava pregando o evangelho de Jesus pra indiada brasileira. Quando o herói saiu do banho estava louro e de olhos
azuizinhos, água lavara o pretume dele. E ninguém não seria capaz mais de indicar nele um filho da tribo retinta dos
Tapanhumas.”
(ANDRADE, M. Macunaíma: o herói sem nenhum
caráter. 22.ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1986. p. 29-30)
Na passagem, Mário de Andrade retoma uma tradição de contar histórias, onde Macunaíma, o herói da nossa gente,
representa uma espécie de símbolo de afirmação da nossa mestiçagem que até então, antes do modernismo, era
vista como sinal de inferioridade. Ao sair da água encantada, porém, ele consegue ficar branco, enquanto seus dois
irmãos, mais adiante, continuam com os traços indígenas e negroides. Essa metáfora compõe, junto com a forma de
contar histórias:
a)
b)
c)
d)
o pobre cenário de nossa relação com o passado.
o irremediável apego a uma tradição narrativa, sem mais sentido para a época.
o mergulho nas nossas raízes e o desafio de compreendê-las na sua complexidade.
uma discussão que confirma, apenas, a falta de sentido de nossa malandragem, como marca da nossa
identidade.
e) a abertura para todos os ufanismos e exageros nacionalistas que marcariam a nossa trajetória de desembaraço
de contradições.
3. Analise as imagens ao lado.
A tela “Abaporu” (1928), referida no texto, inspirou o movimento antropofágico. O diálogo
entre as personagens na peça Tarsila caracteriza esse movimento por meio da descrição
do “Abaporu”. A tela “A negra” (1923) é precursora da fase antropofágica. Observando os
temas, as formas e a composição das imagens, explique por que a tela “Antropofagia”
(1929) dá continuidade ao movimento lançado em 1928.
4. Leia os textos I e II.
Texto I
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
(Camões)
Texto II
O senhor... Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda
não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me
ensinou. Isso que me alegra, montão. E, outra coisa: o diabo, é às brutas; mas Deus é traiçoeiro! Ah, uma beleza de
traiçoeiro – dá gosto! A força dele, quando quer – moço! – me dá o medo pavor! Deus vem vindo: ninguém não vê.
Ele faz é na lei do mansinho – assim é o milagre. E Deus ataca bonito, se divertindo, se economiza.
(Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas.)
a) Comparando os textos I e II, identifique a ideia comum a ambos e transcreva uma informação de cada um deles
para justificar a sua resposta.
b) No texto II, explique como se fazem presentes o diabo e Deus, explicitando a relação de sentido estabelecida.
5. Foi com o Congresso Regionalista do Nordeste, realizado em 1926 no Recife, que se firmou uma arte que se inscreve
na Modernidade, sem perder o diálogo com os conceitos de Região e Tradição. Daí nascerem as raízes do que viria a
ser o Romance Regionalista de 30. Quais características podemos reconhecer nesse romance regionalista?
a) A temática urbana será predominante em quase todas as obras escritas nesse período.
b) As inovações literárias, particularmente no campo formal, trazidas pelos modernistas de 22, serão adotadas pela
Geração de 30.
c) O Nordeste rural e suas várias paisagens (a do sertão, a das plantações de cana e de cacau) são temas
perseguidos pelo Romance de 30.
d) Macunaíma e Serafim Ponte-Grande são os dois romances mais importantes escritos pela Geração de 30.
e) Graciliano Ramos, Jorge Amado, Rachel de Queirós, Érico Veríssimo e Antonio Calado são os principais nomes
do Romance de 30.
6. O excerto abaixo, de Vidas Secas, trata da personagem sinhá Vitória:
Calçada naquilo, trôpega, mexia-se como um papagaio, era ridícula. Sinhá Vitória ofendera-se gravemente com a
comparação, e se não fosse o respeito que Fabiano lhe inspirava, teria despropositado. Efetivamente os sapatos
apertavam-lhe os dedos, faziam-lhe calos. Equilibrava-se mal, tropeçava, manquejava, trepada nos saltos de meio
palmo. Devia ser ridícula, mas a opinião de Fabiano entristecera-a muito. Desfeitas essas nuvens, curtidos os
dissabores, a cama de novo lhe aparecera no horizonte acanhado. Agora pensava nela de mau humor. Julgava-a
inatingível e misturava-a às obrigações da casa. (...) Um mormaço levantava-se da terra queimada. Estremeceu
lembrando-se da seca (...). Diligenciou afastar a recordação, temendo que ela virasse realidade. (...) Agachou-se,
atiçou o fogo, apanhou uma brasa com a colher, acendeu o cachimbo, pôs-se a chupar o canudo de taquari cheio de
sarro. Jogou longe uma cusparada, que passou por cima da janela e foi cair no terreiro. Preparou-se para cuspir
novamente. Por uma extravagante associação, relacionou esse ato com a lembrança da cama. Se o cuspo
alcançasse o terreiro, a cama seria comprada antes do fim do ano. Encheu a boca de saliva, inclinou-se – e não
conseguiu o que esperava. Fez várias tentativas, inutilmente. (...) Olhou de novo os pés espalmados. Efetivamente
não se acostumava a calçar sapatos, mas o remoque de Fabiano molestara-a. Pés de papagaio. Isso mesmo, sem
dúvida, matuto anda assim. Para que fazer vergonha à gente?
Arreliava-se com a comparação. Pobre do papagaio. Viajara com ela, na gaiola que balançava em cima do baú de
folha. Gaguejava: - "Meu louro." Era o que sabia dizer. Fora isso, aboiava arremedando Fabiano e latia como Baleia.
Coitado. Sinhá Vitória nem queria lembrar-se daquilo.
(Graciliano Ramos, Vidas secas. Rio de Janeiro/São Paulo: Record, 2007, p.41-43.)
a) Por que a comparação feita por Fabiano incomoda tanto sinhá Vitória? Que lembrança evoca?
b) Tendo em vista a condição e a trajetória de sinhá Vitória, justifique a ironia contida no nome da personagem. Que
outra personagem referida no excerto acima também revela uma ironia no nome?
7. Explique através da análise psicológica a relação de Paulo Honório, narrador de S. Bernardo, de Graciliano
Ramos, com os empregados na fazenda São Bernardo.
8. A segunda fase modernista do Brasil em prosa se caracteriza pelo regionalismo, ou seja, a relação do homem com o
meio em que vive. Esse regionalismo já estava presente na época do romantismo, só que agora com uma nova
feição, principalmente pelo seu contexto histórico e pelas características dos autores desse momento. A obra que
marca o início do romance regionalista no modernismo é:
a) Vidas Secas
b) O Quinze
c) A bagaceira
d) São Bernardo
e) Fogo Morto
9. "A língua sem arcaísmo. Sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como
falamos. Como somos".
Neste trecho do Manifesto Pau-Brasil, de Oswald de Andrade, depreende-se um dos programas propostos
pelos modernistas:
a) Invenção de uma nova língua, estruturalmente diferente da falada e escrita pelos portugueses.
b) A imitação do discurso dos autores populares da literatura oral brasileira.
c) A incorporação da fala brasileira à língua literária nacional.
d) A volta à língua do Brasil dos primeiros tempos da colonização.
e) O repúdio à literatura dos escritores do passado, apenas porque eram afeitos à extrema correção.
10. No meio do caminho– eis uma criação que, digamos assim, universaliza a poesia de Carlos Drummond de Andrade.
Lendo-a e nos familiarizando com o discurso nela presente, podemos perfeitamente registrar algumas demarcações,
algumas características, posicionamentos ideológicos que predominaram na época em que se fizeram vistos alguns
representantes da chamada segunda fase modernista, em especial, na poesia. Nesse sentido, cite duas
características que marcam essa fase modernista.
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
11. Observe o texto abaixo:
Fazendeiro de cana
Minha terra tem palmeiras? Não.
Minha terra tem engenhocas de rapadura e cachaça
e açúcar marrom, tiquinho, para o gasto.
[...]
Tem cana caiana e cana crioula,
cana-pitu, cana rajada, cana-do-governo
e muitas outras canas de garapas,
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra
e bagaço para os porcos em assembleia grunhidora
diante da moenda
movida gravemente pela junta de bois
de sólida tristeza e resignação.
As fazendas misturam dor e consolo
em caldo verde-garrafa
e sessenta mil-réis de imposto fazendeiro.
Carlos Drummond de Andrade.
Assinale a alternativa incorreta:
Carlos Drummond de Andrade, neste poema, valendo-se das linguagens desenvolvidas pelo Modernismo:
a)
b)
c)
d)
e)
retoma a linguagem do poema romântico, de maneira simétrica e linear, apontando a ideologia nele subjacente.
retoma parodisticamente um importante poema do Romantismo brasileiro.
faz, em relação ao romântico, uma ruptura ao nível da consciência e ao nível da linguagem.
satiriza o sentimento ufanista, comum aos poetas românticos.
desmitifica a visão ingênua dos românticos, operando uma leitura crítica da realidade.
12. Cidadezinha qualquer
Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.
Carlos Drummond de Andrade
Todas as características modernistas citadas abaixo podem ser identificadas no poema de Drummond, exceto:
a)
b)
c)
d)
Reaproveitamento do popular e do coloquial, uso de uma linguagem simples, fácil, próxima da expressão oral.
Concepção do poético como um texto aberto; um discurso que oferece multiplicidade de sentidos e interpretações.
Crítica ao mundo rural, ao universo primitivo, distante do progresso, da civilização mecânica e industrial.
Exploração do imprevisível, do inesperado; o corte brusco, a fragmentação de ideias possibilita o surgimento do
humor.
e) Interesse pelo homem comum, ordem social e pela vida cotidiana.
13. "Crítico feroz do Modernismo, grande incentivador da disseminação da cultura, defensor dos valores e riquezas
nacionais; conhecido, particularmente, pela sua grande obra infantil, em que se destacam os personagens do Sítio do
Pica-Pau Amarelo."O nome do autor a que se refere a afirmativa acima é:
a) Lima Barreto
b) José Lins do Rego
c) Monteiro Lobato
d) Mário de Andrade
e) Graça Aranha
14. O Poema de sete faces revela uma das criações deste célebre representante de nossas letras – Carlos Drummond
de Andrade. Assim, tendo-o como subsídio, procure, após uma leitura atenta, registrar algumas impressões acerca
das características ideológicas e do estilo artístico que tanto demarcaram a trajetória desse alguém tão nobre, por
excelência
Poema de sete faces
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu
coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
15. Entre os artistas que se destacaram no cenário artístico nacional, podemos destacar Graciliano Ramos, compondo a
segunda fase do Modernismo, sobretudo na prosa. Assim, entre as magníficas obras que criara, uma delas se
destaca pela temática voltada para o regionalismo brasileiro - Vidas Secas. Acerca dela, procure explicitar algumas
particularidades relacionadas à temática trabalhada pelo autor em questão, enfatizando, sobretudo, os
posicionamentos ideológicos por ele firmados – oriundos de todo um contexto social dominante. Para facilitar seu
posicionamento frente à questão, propusemo-nos em descrever uma passagem:
“A cachorra Baleia estava para morrer. Tinha emagrecido, o pelo caíra-lhe em vários pontos, as costelas avultavam
num fundo róseo, onde manchas escuras supuravam e sangravam, cobertas de moscas. As chagas da boca e a
inchação dos beiços dificultavam-lhe a comida e a bebida.”
16. Em São Bernardo, a velhice é o momento em que o narrador-protagonista Paulo Honório:
a) aproveita, apesar dos problemas cotidianos, toda a riqueza e prestígio que conseguiu durante sua vida de
sacrifícios.
b) se vê falido economicamente e se conscientiza de que sua vida foi consumida inutilmente na posse da fazenda
São Bernardo.
c) reconhece a forma desumana como tratou Madalena e as demais pessoas, mas não é capaz de reconstruir novo
projeto de vida.
c) se sente contrariado, pois, apesar de saudável física e emocionalmente, constata que viveu apenas em função
dos outros.
e) avalia o passado positivamente, contrastando-o com a solidão do presente e a incerteza do futuro.
17. O romance São Bernardo, de Graciliano Ramos, publicado em 1934, é narrado em primeira pessoa pelo narradorpersonagem Paulo Honório, que decide escrever o livro em determinada altura da sua vida. O principal motivo que
levou Paulo Honório a escrever a sua história foi:
a) o desejo de mostrar como ele conseguiu, com enorme esforço, tornar-se um proprietário rural bem sucedido,
apesar de sua origem extremamente humilde.
b) o desejo de mostrar como se formavam os conflitos políticos e sociais no interior do Nordeste brasileiro, tema
recorrente na ficção da chamada “Geração de 30”.
c) a tristeza que toma conta dele depois que a fazenda São Bernardo deixa de ser produtiva, o que ela tinha sido
graças ao seu empenho.
d) tentar compreender o que teria levado Madalena ao fim trágico da sua existência, bem como as razões de a vida
conjugal deles não ter se realizado como gostaria.
e) revelar quais foram os motivos pelos quais Madalena se matou, visto que ela se sentia culpada por ter traído o
marido com Padilha, antigo proprietário da São Bernardo.
18. MEUS SETE ANOS
Papai vinha de tarde
Da faina de labutar
Eu esperava na calçada
Papai era gerente
Do Banco Popular
Eu aprendia com ele
Os nomes dos negócios
Juros hipotecas
Prazo amortização
Papai era gerente
Do Banco Popular
Mas descontava cheques
No guichê do coração
(ANDRADE, Oswald de. OBRAS COMPLETAS-VIl. 5 ed.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971. p. 162.)
Na literatura brasileira, a idade de oito anos é tomada como referência a uma infância harmoniosa.
No poema de Oswald de Andrade, essa referência está considerada no título e recebe um tratamento que revela um
traço característico do Modernismo brasileiro.
Identifique esse traço, justificando sua resposta.
19. Augusto dos Anjos é autor de um único livro, Eu, editado pela primeira vez em 1912. Outras Poesias acrescentaramse às edições posteriores. Considerando a produção literária desse poeta, apresente duas características que
marcam desse autor.
O fragmento a seguir situa-se no último capítulo de Triste fim Policarpo Quaresma e mostra Quaresma logo
após ter denunciado ao presidente Marechal Floriano Peixoto as injustiças feitas aos prisioneiros na prisão.
Como lhe parecia ilógico com ele mesmo estar ali metido naquele estreito calabouço. Pois ele, o Quaresma
plácido, o Quaresma de tão profundos pensamentos patrióticos, merecia aquele triste fim?[...]
Por que estava preso? Ao certo não sabia; o oficial que o conduzira nada lhe quisera dizer; e, desde que saíra
da ilha das Enxadas para a das cobras, não trocara palavra com ninguém, não vira nenhum conhecido no caminho.
Entretanto, ele atribuía a prisão à carta que escrevera ao presidente, protestando contra a cena que presenciara na
véspera. Não se pudera conter. Aquela leva de desgraçados a sair assim, a desoras, escolhidos a esmo,para uma
carniçaria distante, falara fundo a todos os seus sentimentos; pusera diante dos seus olhos todos os seus princípios
morais; desafiara a sua coragem moral e a sua solidariedade humana; e eleescrevera a carta com veemência, com
paixão, indignado. Nada omitiu do seu pensamento; falou claro, franca e nitidamente. Deveria ser por isso que ele estava
ali naquela masmorra, engaiolado, trancafiado, isolado dos seus semelhantes como uma fera, como um criminoso,
misturado com seus detritos, quase sem comer... Como acabarei? Como acabarei?
E a pergunta lhe vinha, no meio da revoada de pensamentos que aquela angústia provocava pensar. Não havia
base para qualquer hipótese. Era de conduta tão irregular e incerta o governo que tudo que ele podia esperar; a
liberdade ou a morte, mais esta que aquela.
O tempo estava de morte, de carnificina; todos tinham sede de matar, para afirmar mais a vitória e senti-la bem
na consciência coisa sua, própria, e altamente honrosa. Iria morrer, quem sabe se naquela mesma noite mesmo? E que
tinha ele feito de sua vida? Nada. Levara toda ela atrás da miragem de estudar a pátria, por amá-la e querê-la muito, no
intuito de contribuir para a sua felicidade e prosperidade. Gastara sua mocidade nisso, a virilidade também; e, agora que
a estava na sua velhice, como ela o recompensara, como ela o premiara como ela o condecorava? Matando-o e o que
não deixara de ver, de gozar, na sua vida? Tudo. Não brincara, não amara – todo esse lado da existência que parece
fugir um pouco a sua tristeza necessária, ele não vira, ele não experimentara.
Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe
importavam os rios? Eram grandes? Pois que fosse... Em que contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do
Brasil? Em nada... o importante é que ele tivesse sido feliz.Foi? Não. Lembrou-se das suas coisas de tupi, do folclore,
das tentativas agrícolas... Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma!
O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, o escárnio; e levou-o à loucura. Uma decepção. E a agricultura?
Nada. As terras não eram produtivas e ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando o seu
patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele não a viu
combater como feras? Pois não a via matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma decepção, uma
série, melhor, um encadeamento de decepções.
(São Paulo: Saraiva, 2007.)
20. Após a leitura do texto, responda às questões a seguir:
a) Quem é o autor da obra acima citada?
b) Que período literário ele pertence?
c) Quais são as características da sua obra?
21. Cite outra obra do mesmo autor que foi estudado e explique por que razão ela é considerada uma obra crítica.
22. “No início do século XX, a literatura brasileira atravessa um período de transição. De um lado,ainda era forte a
influência das tendências artísticas da segunda metade do século XIX; de outro,já começava a grande renovação
modernista, cujo marco no Brasil é a Semana de Arte Moderna(1922). A esse período de transição, que não chega a
constituir um movimento literário, chamamos de Pré-Modernismo.” O texto ressalta que os escritores Pré-Modernistas
contribuíram com algumas importantes novidades para o Modernismo. Quais foram elas?
23. Tupy or not tupy that is the question.” Este fragmento foi extraído do movimento Manifesto Antropófago de autoria de
Oswald de Andrade. Tal movimento pregava a antropofagia, isto é,a deglutição cultural. Explique o movimento a
Antropofagia:
24. A primeira fase do Modernismo teve como os seus principais representantes Oswald de Andrade e Mário de Andrade.
Sobre o período que durou de 1922 a 1928, responda:
a) Qual o marco inicial do movimento?
b) Quais eram as ideias pregadas neste período?
25. Qual a escola literária que foi o principal alvo das críticas do poetas modernistas?
a) Simbolismo
b) Pré-Modernismo
c) Romantismo
d) Parnasianismo
e) Realismo
26. Obra pré-modernista eivada de informações históricas e científicas, primeira grande interpretação da realidade
brasileira, que, buscando compreender o meio áspero em que vivia o jagunço nordestino, denunciava uma campanha
militar que investia contra o fanatismo religioso advindo da miséria e do abandono do homem do sertão. Trata-se de:
a) O sertanejo, de José de Alencar.
b) Pelo sertão, de Afonso Arinos.
c) Os Sertões, de Euclides da Cunha.
d) Grande Sertão: veredas, de Guimarães Rosa.
e)
Vidas Secas, de Graciliano Ramos
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