CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS – CEFET/MG DIRETORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO - DPPG PR O G R A M A D E PÓ S- G R AD U AÇ ÃO EM MO DE L AG E M M AT E M ÁT IC A E CO M P UTAC IO NA L - P PG M MC MODELAGEM ELETROMAGNÉTICA DE ATERRAMENTOS ELÉTRICOS NOS DOMÍNIOS DO TEMPO E DA FREQÜÊNCIA Aluno: Rafael Silva Alípio Orientador: Prof. Dr. Marco Aurélio de Oliveira Schroeder Co-orientador: Prof. Dr. Márcio Matias Afonso Belo Horizonte, 12 de dezembro de 2008 CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS – CEFET/MG DIRETORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO - DPPG PR O G R A M A D E PÓ S- G R AD U AÇ ÃO EM MO DE L AG E M M AT E M ÁT IC A E CO M P UTAC IO NA L - P PG M MC Modelagem Eletromagnética de Aterramentos Elétricos nos Domínios do Tempo e da Freqüência por Rafael Silva Alípio Texto da Dissertação de Mestrado submetido à Banca Examinadora designada pelo Colegiado do Programa de Pós-Graduação em Modelagem Matemática e Computacional do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção de título de Mestre em Modelagem Matemática e Computacional. Linha de pesquisa: Métodos Matemáticos Aplicados Orientador: Prof. Dr. Marco Aurélio de Oliveira Schroeder Co-orientador: Prof. Dr. Márcio Matias Afonso Belo Horizonte, 12 de dezembro de 2008 A412m Alípio, Rafael Silva Modelagem eletromagnética de aterramentos elétricos nos domínios do tempo e da freqüência. – 2008. 140 f. Orientador: Marco Aurélio de Oliveira Schroeder Co-orientador: Márcio Matias Afonso Dissertação (mestrado) – Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais. 1. Aterramento elétrico – Teses. 2. Eletromagnetismo. 3. Transitórios (eletricidade). 4. Descargas atmosféricas. I. Schroeder, Marco Aurélio de Oliveira. II. Afonso, Márcio Matias. III. Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais. IV. Título. CDD 621.31921 i Dedico este trabalho ao arquiteto maior de minha formação técnico-científica, Prof. Marco Aurélio de Oliveira Schroeder. ii AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar agradeço principalmente à minha família: meu pai Cleides Alípio, minha mãe Maria Ilza Silva Alípio e minha irmã Ludmara Silva Alípio. Agradeço fortemente a todos eles pela confiança em mim depositada. Em especial devo lembrar que meus pais nunca deixaram faltar nada no que diz respeito aos meus estudos e que realizaram todos os tipos de esforços para que eu pudesse prosseguir em minha incessante busca pelo saber. Sem eles com certeza eu não chegaria até aqui. Aproveito a oportunidade para agradecer aos meus tios Evander Alípio e Paulo Huet Alípio, que sempre me motivaram e fizeram-me acreditar que poderia ir além. O entusiasmo por eles transmitido foi essencial em minha caminhada. Um agradecimento especial deve ser dedicado ao Prof. Marco Aurélio de Oliveira Schroeder. Devo ressaltar que fui privilegiado em termos de orientação. É de praxe no meio acadêmico utilizar a metáfora de pai para os orientadores e filho para os orientandos. No meu caso, pode-se dizer que tal metáfora se traduziu em realidade. Agradeço a confiança depositada em minha pessoa ao permitir-me a honra de usufruir de sua orientação séria e segura. Agradeço ainda pela orientação calcada na amizade e por todo o incentivo e tranqüilidade passadas ao longo do mestrado. Agradeço também por proporcionar-me tantas oportunidades profissionais, desde os tempos de minha graduação. Saliento e novamente agradeço por ter sido além de orientador um amigo e um pai. Agradeço ao Prof. Márcio Matias Afonso pelas valiosas discussões e orientações com relação ao trabalho desenvolvido. Vale destacar sua capacidade e conhecimento ímpares tanto da teoria eletromagnética como de método numéricos, essenciais para o presente trabalho. Um agradecimento sincero é direcionado ao Prof. Tarcísio Antônio Santos de Oliveira por toda a ajuda técnica, pedagógica e pessoal dada desde os tempos de graduação e ao longo do mestrado. Não posso deixar de mencionar que o Prof. Tarcísio foi quem me mostrou pela primeira vez, em suas excelentes aulas, a beleza rara do Eletromagnetismo. Agradeço à Prof.ª Úrsula do Carmo Resende por todas as excelentes sugestões e ensinamentos durante meu mestrado e, principalmente, pela incansável paciência de auxiliar e ensinar sempre. Gostaria de lembrar que, como minha orientadora de trabalho de fim de curso, durante a graduação em Engenharia Elétrica, nunca aprendi tanto em tão pouco tempo como aprendi com a Prof.ª Úrsula. Agradeço ainda a brilhante matemática Maria Suzana Balparda de Carvalho por todos os ensinamentos, essenciais, durante minha graduação e aproveito para frisar sua inesgotável dedicação ao ensino, proporcional a sua sabedoria. Agradeço ainda a todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Modelagem Matemática e Computacional, em especial Sérgio Ricardo de Souza por todos os excelentes conselhos e apoio digno de um ótimo coordenador, Flávio Luis iii Cardeal Pádua pelas brilhantes aulas de algoritmos, Fausto de Camargo Júnior pelos ensinamentos fundamentais de álgebra linear, Magno Meirelles Ribeiro em suas excelentes aulas de modelagem matemática, João Francisco de Almeida Vitor pelos ensinamentos de elementos finitos e Henrique Elias Borges pelos ensinamentos de modelagem computacional e orientação a objetos. Agradeço aos colegas da CEMIG (Companhia Energética de Minas Gerais) pelo trabalho em conjunto e por compartilharem seus conhecimentos ao longo de meu mestrado, em especial aos engenheiros Sandro de Castro Assis e Rafael Rennó Nunes. Agradeço a todos os brilhantes alunos de iniciação científica, envolvidos direta ou indiretamente neste trabalho, Felipe Alves Dias, Roberta Kellem de Oliveira, Marina Moreira Silveira Andrade e em especial a aluna Maisa Laila de Fátima Oliveira com quem trabalhei diretamente. Agradeço também às alunas de mestrado Adriana Generoso Pedrosa e Clarissa Gomes Cosentino Alvarez. Aproveito a oportunidade de agradecer meus colegas/amigos de graduação do CEFET-MG, que sempre me motivaram, em especial Gilberto Silveira, Petrus Bonato, Gustavo Gonçalves, Fábio Arruda, Naiara Duarte, Ciby Rosa, Francisco Bernardes, Guilherme Miranda e Cláudio Henrique. Um agradecimento póstumo é direcionado ao meu amigo Jomar Sales, que se aqui estivesse com certeza estaria vibrando comigo neste momento. Agradecimento especial deve ser direcionado ao amigo Weberton Luiz Gonçalves Eller por toda sua ajuda durante o mestrado e pelas belas discussões técnicas propiciadas por seu brilhantismo. Não posso deixar de mencionar uma das pessoas mais especiais e que tem me acompanhado já durante longo tempo, minha querida companheira Mirelle Karoline Alves de Macedo. Ressalto sua postura incansavelmente amorosa, solidária e compreensiva durante o período que dediquei à elaboração desta dissertação. Agradeço por cada palavra de apoio e de força, principalmente naqueles momentos mais difíceis e de cansaço elevado. Com certeza essa caminhada teria sido muito mais difícil sem sua agradável presença. Por fim, não menos importante, agradeço por sua ajuda no texto, primordial para sua contínua melhoria. Ao concluir este trabalho completo nove anos de estudo no CEFET-MG, desde o curso técnico em Eletrônica, passando pela Engenharia Elétrica e agora concluindo o Mestrado em Modelagem Matemática Computacional. Atualmente, obtive o enorme prazer e a importante missão de compor, como professor contratado, o corpo docente do Curso de Engenharia Elétrica. Espero honrar o posto obtido como uma forma mínima de agradecimento a essa bela instituição a que devo toda minha formação técnico-científica. Por fim, agradeço a todos os leitores por dispensarem seu precioso tempo na leitura do presente texto. Ao adentrar as páginas desta dissertação sintam-se à vontade, estaremos todos falando a mesma linguagem: as Equações de Maxwell. iv “If the doors of perception were cleansed everything would appear to man as it is: Infinite.” William Blake “O leitor atento, verdadeiramente ruminante, tem quatro estômagos no cérebro, e por eles faz passar e repassar os atos e os fatos, até que deduz a verdade, que estava, ou parecia estar escondida.” Machado de Assis v Sumário SUMÁRIO RESUMO.......................................................................................................... vii ABSTRACT..................................................................................................... viii LISTA DE FIGURAS ......................................................................................... ix LISTA DE TABELAS ........................................................................................ xi CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO........................................................................... 1 1.1 – Relevância .................................................................................................................. 1 1.2 – Contextualização........................................................................................................ 3 1.3 – Objetivo do trabalho .................................................................................................. 4 1.4 – Organização do texto................................................................................................. 5 CAPÍTULO 2 – RESPOSTA DE ATERRAMENTOS ELÉTRICOS A CORRENTES IMPULSIVAS .............................................................................. 7 2.1 – Introdução ................................................................................................................... 7 2.2 – Comportamento do aterramento frente a descargas atmosféricas ...................... 8 2.2.1 – Definição da impedância de aterramento ...................................................... 10 2.2.2 – Composição da corrente no solo ................................................................... 13 2.2.3 – Efeito de propagação no solo e comprimento efetivo de aterramento .......... 14 2.2.4 – Efeito da intensidade da corrente .................................................................. 19 2.2.5 – Dependência dos parâmetros eletromagnéticos do solo com a freqüência . 22 2.3 – Conclusões ............................................................................................................... 25 CAPÍTULO 3 – FRONTEIRAS DA MODELAGEM DE ATERRAMENTOS ELÉTRICOS ..................................................................................................... 27 3.1 – Introdução ................................................................................................................. 27 3.2 – Modelagem no contexto científico ......................................................................... 28 3.3 – A natureza dos modelos ......................................................................................... 30 3.4 – Construção de modelos .......................................................................................... 32 3.5 – Modelagem de aterramentos elétricos .................................................................. 35 3.5.1 – Introdução ...................................................................................................... 35 3.5.2 – Estudo do Estado da Arte .............................................................................. 36 3.5.3 – Qual tipo de modelagem adotar? .................................................................. 51 3.6 – Conclusões ............................................................................................................... 54 Sumário vi CAPÍTULO 4 – MODELAGEM DE ATERRAMENTOS ELÉTRICOS PARA FENÔMENOS TRANSITÓRIOS ...................................................................... 56 4.1 – Introdução ................................................................................................................. 56 4.2 – Equações de Maxwell e a essência do Eletromagnetismo .................................. 57 4.3 – Modelo matemático.................................................................................................. 60 4.3.1 – Condutores imersos em um meio infinito ...................................................... 61 4.3.2 – Solução do modelo matemático .................................................................... 68 4.3.3 – Aspectos adicionais ....................................................................................... 76 4.4 – Conclusões ............................................................................................................... 79 CAPÍTULO 5 – MODELAGEM COMPUTACIONAL E ANÁLISE DA RESPOSTA TRANSITÓRIA DE ATERRAMENTOS ELÉTRICOS.................. 82 5.1 – Introdução ................................................................................................................. 82 5.2 – Aspectos computacionais básicos ........................................................................ 83 5.3 – Validação do modelo ............................................................................................... 87 5.3.1 – Comparação com resultados experimentais ................................................. 87 5.3.2 – Comparação com resultados de outras modelagens .................................... 93 5.3.3 – Conclusões .................................................................................................... 95 5.4 – Resultados e análises de sensibilidade: eletrodos horizontais ......................... 95 5.4.1 – Introdução ...................................................................................................... 95 5.4.2 – Faixa de valores para os parâmetros de interesse ....................................... 96 5.4.3 – Ondas de corrente injetadas.......................................................................... 96 5.4.4 – Determinação de impedância na freqüência ................................................. 97 5.4.5 – Determinação de impedância impulsiva ...................................................... 102 5.4.6 – Determinação de comprimento efetivo de eletrodos horizontais ................ 103 5.4.7 – Cálculo de tensão no domínio do tempo ..................................................... 107 5.4.8 – Cálculo de campo elétrico no nível do solo ................................................. 113 5.5 – Estudo de circuitos equivalentes para representação de hastes verticais de aterramento ..................................................................................................................... 118 5.5.1 – Impedância de hastes verticais ................................................................... 120 5.5.2 – Hastes verticais inseridas em solos de resistividade elevada ..................... 121 5.6 – Conclusões ............................................................................................................. 127 CAPÍTULO 6 – CONCLUSÕES ..................................................................... 131 6.1 – Introdução ............................................................................................................... 131 6.2 – Potencialidades do modelo eletromagnético desenvolvido ............................. 132 6.3 – Propostas de continuidade ................................................................................... 133 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 136 vii RESUMO As descargas atmosféricas são responsáveis pelas principais solicitações dos aterramentos elétricos e pela maior parcela dos desligamentos não programados dos sistemas elétricos. O apurado conhecimento do comportamento eletromagnético transitório do aterramento sob essas condições é de fundamental importância na determinação de práticas eficazes de proteção de sistemas elétricos contra as descargas atmosféricas. Tal comportamento pode ser estimado por meio do estabelecimento de um modelo matemático e computacional que represente de forma fisicamente consistente o aterramento. Neste trabalho é apresentada uma modelagem de sistemas de aterramento elétrico para investigação de fenômenos transitórios decorrentes da injeção de correntes impulsivas. O modelo é baseado na solução direta das equações básicas do eletromagnetismo no domínio da freqüência. A resposta no domínio do tempo é obtida por meio da aplicação de uma transformada inversa de Fourier. O modelo desenvolvido contempla os acoplamentos eletromagnéticos entre os componentes do aterramento, os efeitos de propagação e a dependência da freqüência dos parâmetros do solo. Foi desenvolvida uma ferramenta computacional que implementa o modelo eletromagnético em questão. Comparações com resultados experimentais mostraram a consistência de tal ferramenta. A atual versão da ferramenta é capaz de gerar os seguintes resultados no domínio da freqüência: impedância de aterramento, perfil de potencial e distribuição de corrente ao longo do aterramento, distribuição de potenciais no nível do solo, distribuição de campo elétrico no nível do solo e ao longo da superfície do eletrodo. São resultados gerados no domínio do tempo: impedância impulsiva de aterramento, tensão transitória resultante no ponto de injeção, potenciais e campo elétrico no nível do solo. A sua aplicação a configurações básicas de aterramento permitiu análises diversas. Nessas, avalia-se o comportamento do aterramento segundo algumas condições, que incluem diferentes configurações, valores de resistividade do solo e onda de corrente injetada. A ferramenta desenvolvida pode ser um instrumento de valor no auxilio ao estudo, análise e projeto de aterramentos, sobretudo quando é avaliado o desempenho e comportamento dos mesmos frente a ocorrências rápidas. viii ABSTRACT Lightning is the main cause of grounding solicitations and non-scheduled electrical systems outages. The accurate knowledge of grounding electromagnetic transient behavior under these conditions is of great importance in determination of lightning protection practices for electric systems. Such behavior may be estimated by the establishment of a mathematical and computational model physically consistent which represents the grounding. In this work a grounding system model for high frequencies transient analysis is presented. This model is based on the direct solution of basic electromagnetic equations in frequency domain. The time domain response is obtained by application of a Fourier inversion technique. The developed model include electromagnetic coupling between grounding components, propagations effects and frequency dependence of soil parameters. A computational tool based on the cited model was developed. Comparison between simulated and experimental results has shown tool consistence. The current version of developed tool generates the following results in frequency domain: grounding impedance, potential and current distribution along grounding, potential distribution in soil surface, electric field distribution on grounding and soil surface. Results in time domain are: impulsive grounding impedance, transient voltages along grounding and potentials and electric field on soil surface. Its application to basic grounding configurations provided several sensitivity analyses. In those, the grounding behavior was evaluated by considering different configurations, soil resistivity and injected current waves. The developed tool may be useful in study, analysis and design of grounding systems, mainly in evaluation of grounding response to high frequency occurrences. ix LISTA DE FIGURAS Figura 2.1 – Componentes de corrente no solo e circuito equivalente do aterramento – adaptada de [1]. ..................................................................................................................... 9 Figura 2.2 – Impedância de aterramento ao longo do espectro de freqüência característico de uma descarga atmosférica [9]. ............................................................................................. 11 Figura 2.3 – Influência do tempo de frente da onda de corrente injetada na impedância impulsiva. ............................................................................................................................. 13 Figura 2.4 – Atenuação e distorção da corrente ao longo do eletrodo – adaptada de [5]. ......... 15 Figura 2.5 – Impedância de um eletrodo horizontal (raio 1 cm e profundidade 0,5 m) para diferentes comprimentos inseridos em um solo de (a) baixa resistividade (ρ = 100 Ω.m) e (b) alta resistividade (ρ = 1.000 Ω.m) [9]. ............................................................................ 17 Figura 2.6 – Curva de impedância impulsiva em função do comprimento de um eletrodo horizontal para injeção de uma onda de corrente impulsiva de 1,2/20 µs. ......................... 18 Figura 2.7 – Curva de impedância impulsiva em função do comprimento de um eletrodo horizontal para injeção de uma onda de corrente impulsiva de 3/20 µs. ............................ 19 Figura 2.8 – Representação da região de ionização em um sistema de aterramento submetido à injeção de uma corrente I – adaptada de [17]. ................................................................. 21 Figura 2.9 – Representação da ionização do solo em um sistema de aterramento de pequeno porte submetido à injeção de corrente sendo I3 > I2 > I1 – adaptada de [17]. ..................... 21 Figura 3.1 – Natureza iterativa do processo de modelagem. ..................................................... 34 Figura 3.2 – Modelagem do eletrodo de aterramento por meio de uma série de circuitos π. .... 37 Figura 4.1 – Sistema físico sob estudo. ...................................................................................... 61 Figura 4.2 – Fontes de corrente em cada eletrodo. .................................................................... 62 Figura 4.3 – Eletrodo emissor (j) e distâncias ao ponto P. ......................................................... 64 Figura 4.4 – Eletrodo emissor (j) e distâncias ao eletrodo receptor (i). ...................................... 65 Figura 4.5 – Distribuição de corrente ao longo do eletrodo. ....................................................... 73 Figura 4.6 – Relação entre queda de tensão ( ∆V ) e elevação de potencial médio ( V ) em cada elemento com os potenciais nodais do elemento em questão (Vk e Vl). .................... 74 Figura 4.7 – Concentração da corrente transversal nos nós do elemento. ................................ 76 Figura 4.8 – Modelagem proposta e dipolo de Hertz. ................................................................. 81 Figura 5.1 – Eletrodo horizontal com 15 m de comprimento [99]. .............................................. 88 Figura 5.2 – Corrente injetada no eletrodo horizontal. ................................................................ 89 Figura 5.3 – Potenciais em relação ao terra remoto medidos e calculados em três pontos distintos (comprimento de 15 m, raio 12 mm, profundidade de 0,6 m, resistividade do solo igual a 70 Ω.m e permissividade relativa do solo igual a 15) – Fonte [65]. ......................... 89 Figura 5.4 – Potenciais em relação ao terra remoto calculados em três pontos distintos a partir da modelagem apresentada nesta dissertação. .................................................................. 90 Figura 5.5 – Haste vertical com 6 m de comprimento [99]. ........................................................ 91 Figura 5.6 – Corrente injetada na haste vertical. ........................................................................ 91 Figura 5.7 – Potenciais em relação ao terra remoto medidos e calculados no ponto de injeção de corrente para uma haste vertical (comprimento de 6 m, raio 16 mm, resistividade do solo igual a 50 Ω.m e permissividade relativa do solo igual a 15) – Fonte [65]. ................. 92 Figura 5.8 – Potenciais em relação ao terra remoto calculado no ponto de injeção a partir da modelagem apresentada nesta dissertação (haste vertical). .............................................. 92 Figura 5.9 – Configuração simulada para cálculo de campo elétrico na superfície do solo [62].93 Figura 5.10 – Distribuição de campo elétrico na superfície do solo – Fonte [62]. ...................... 94 Figura 5.11 – Distribuição de campo elétrico na superfície do solo determinado a partir da modelagem apresentada nesta dissertação. ....................................................................... 94 Figura 5.12 – Formas de onda de correntes injetadas. .............................................................. 97 Figura 5.13 – (a) Módulo e (b) ângulo da impedância de eletrodos horizontais de aterramento em função da freqüência inseridos em um solo de ρ = 1.000 Ω.m. .................................. 100 Figura 5.14 – (a) Módulo e (b) ângulo da impedância de eletrodo horizontal de aterramento de 50 m em função da freqüência para solos de diferentes valores de resistividade. ........... 101 Figura 5.15 – Curvas de impedância impulsiva em função do comprimento do eletrodo para diferentes valores de resistividade e injeção de uma onda de corrente de 1,2/20 µs. ...... 103 Figura 5.16 – Curvas de impedância impulsiva em função do comprimento do eletrodo para diferentes valores de resistividade e injeção de uma onda de corrente de 3/20 µs. ......... 105 x Figura 5.17 – Curvas de impedância impulsiva em função do comprimento do eletrodo para resistividade do solo 2.400 Ω.m e injeção de uma onda rápida (1,2/20 µs) e uma onda lenta (3/20 µs). ............................................................................................................................ 106 Figura 5.18 – Tensões resultantes da injeção de uma onda de corrente de 1,2/20 µs na extremidade de eletrodos horizontais para solos com valores de resistividade de (a) 500 Ω.m (b) 1.000 Ω.m (c) 2.400 Ω.m e (d) 5.000 Ω.m. ........................................................... 111 Figura 5.19 – Tensões resultantes da injeção de uma onda de corrente de 1,2/20 µs na extremidade de um eletrodo horizontal de 70 m para solos com valores de resistividade de (a) 500 Ω.m (b) 1.000 Ω.m (c) 2.400 Ω.m e (d) 5.000 Ω.m considerando a variação dos parâmetros eletromagnético do solo (σ e ε) com a freqüência.......................................... 113 Figura 5.20 – Campo elétrico ao longo da superfície do solo devido a um eletrodo horizontal considerando (a) apenas fontes de corrente transversal e (b) as fontes de corrente, transversal e longitudinal. .................................................................................................. 115 Figura 5.21 – Campo elétrico ao longo da superfície do solo devido a um eletrodo horizontal incluindo a variação dos parâmetros eletromagnéticos com a freqüência. ....................... 116 Figura 5.22 – Campo elétrico transitório na superfície do solo devido a um eletrodo horizontal nos pontos (a) x = 2,5 m (b) x = 17,5 m e (c) 25 m. .......................................................... 118 Figura 5.23 – (a) Situação física (b) Circuito equivalente em baixas freqüências (c) Circuito equivalente em altas freqüências. ..................................................................................... 119 Figura 5.24 – Módulo da impedância de (a) haste curta l = 3 m e (b) haste longa l = 30 m em um solo mais condutivo ρ = 30 Ω.m e menos condutivo ρ = 300 Ω.m . ....................... 122 Figura 5.25 – Impedância de haste vertical inserida em solo de resistividade ρ = 1.000 Ω.m (a) módulo da impedância (b) ângulo da impedância. ............................................................ 125 Figura 5.26 – Impedância de haste vertical inserida em solo de resistividade ρ = 2.000 Ω.m (a) módulo da impedância (b) ângulo da impedância. ............................................................ 126 Figura 5.27 – Resposta transitória de haste vertical de aterramento em um solo resistivo ( ρ = 2.000 Ω.m ) calculada por meio das modelagens de circuito e eletromagnética. ... 126 xi LISTA DE TABELAS Tabela 2.1 – Relação entre a corrente condutiva e a corrente capacitiva para diferentes valores de resistividade do solo em função da freqüência. .............................................................. 14 Tabela 4.1 – Conjunto de vinte variáveis utilizadas por Maxwell em seu trabalho Uma teoria dinâmica do campo eletromagnético [87], [89], [92]. ........................................................... 58 Tabela 5.1 – Razão entre a resistividade do solo em baixas e altas freqüências. ................... 109 CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO 1.1 – Relevância O tema aterramentos elétricos tem despertado ao longo do tempo o interesse de diversos pesquisadores. Muito provavelmente, tal interesse está relacionado à importância do aterramento para um bom desempenho do sistema aterrado e, principalmente, devido à questão de segurança de seres vivos. Historicamente, os primeiros esquemas de aterramento foram fruto de uma longa evolução, orientada pelo objetivo de proteger melhor as pessoas contra choques elétricos e dos efeitos gerais da passagem de corrente pelo corpo humano. No caso do Brasil, devido às características peculiares do solo, que possui valor médio de resistividade elevado (superior a 1.000 Ω.m na maior parte do território), o projeto e construção de malhas de aterramento adequadas à segurança de seres vivos e que garantam um bom desempenho do sistema, constituem laboriosa tarefa. Nesse sentido, os sistemas de aterramento apresentam uma singular importância no que concerne a sua influência no desempenho do sistema aterrado e proteção humana. Somada às características peculiares do solo brasileiro, deve-se salientar a elevada densidade de incidência de descargas atmosféricas nos sistemas elétricos ou em suas proximidades. Elas são as responsáveis pelas principais solicitações dos aterramentos elétricos e pela maior parcela dos desligamentos não programados das linhas de transmissão. Às descargas atmosféricas está associada uma grande quantidade de energia sendo que, quando da incidência de um raio em uma linha de transmissão, por exemplo, a corrente advinda dele deve ser eficientemente escoada para terra através do sistema de aterramento. A eficiência implica não unicamente em rapidez, mas também no mínimo de interferência nos arredores do sistema de aterramento. Tal eficiência pode ser obtida por meio de práticas adequadas de aterramento, que exige um apurado conhecimento do comportamento eletromagnético transitório do aterramento. O desconhecimento desse comportamento conduz a soluções inadequadas, a maioria delas ligadas aos “achismos”, freqüentes na área de aterramentos elétricos. Especificamente, na investigação de técnicas de aterramento para proteção de sistemas contra descargas atmosféricas os problemas se avolumam. Quando o Capítulo 1 - Introdução 2 sistema de aterramento não é adequadamente dimensionado, a incidência de uma descarga atmosférica no sistema elétrico pode gerar elevadas sobretensões ocasionando o rompimento do isolamento e estabelecimento de arcos elétricos, destruição de equipamentos, situações de riscos para os seres humanos localizados nas proximidades do local de incidência e, evidentemente, desligamento do sistema elétrico. Outro problema está relacionado ao recente desenvolvimento e utilização da eletrônica em diversas aplicações, dentre elas, nas subestações elétricas. No início, a preocupação com possíveis interferências eletromagnéticas era pouca ou inexistente, tendo em vista a utilização de equipamentos eletromecânicos. Sérios problemas podem ocorrer quando da substituição dos equipamentos antigos por sistemas eletrônicos modernos e sensíveis. Deve-se lembrar ainda que um outro problema está relacionado à proteção de seres vivos em instalações sujeitas a incidência de descargas atmosféricas. Na opinião do autor deste trabalho ênfase aquém da esperada é dada a esse último tema, sendo o foco, em geral, na proteção de equipamentos. Das exposições do parágrafo anterior podem surgir inúmeras questões relacionadas à avaliação do comportamento e estimativa da resposta transitória do aterramento frente à incidência de descargas atmosféricas. A resposta a elas pode ser obtida por meio do estabelecimento de um modelo matemático que represente de forma fisicamente consistente um sistema de aterramento real. A partir do equacionamento consistente da interação da descarga atmosférica com o sistema de aterramento, várias realizações técnicas importantes podem ser derivadas: cálculo e previsão das sobretensões associadas às descargas em diversos pontos do aterramento, cálculo dos campos eletromagnéticos nas proximidades do sistema aterrado, avaliação das tensões induzidas em estruturas e equipamentos nos arredores do aterramento, quantificação das tensões de passo e toque etc. Julga-se, portanto, que no estudo do comportamento e desempenho de sistemas de aterramentos frente a solicitações oriundas da incidência de descargas atmosféricas é de fundamental importância o estabelecimento de um modelo fisicamente consistente para sua representação. Uma dificuldade associada à grande parte das modelagens presentes na literatura refere-se às excessivas simplificações assumidas pelas mesmas, o que leva a inconsistências físicas em relação ao fenômeno investigado e falta de generalidade de aplicação. Com esses comentários iniciais, denota-se a relevância do tema em investigação: modelagem de aterramentos elétricos e avaliação de sua resposta frente a descargas atmosféricas. Pretende-se gerar uma contribuição que subsidie a Capítulo 1 - Introdução 3 investigação do comportamento transitório do aterramento em altas freqüências e na definição de técnicas e soluções de proteção contra descargas atmosféricas. 1.2 – Contextualização O tema em questão tem despertado amplo interesse das companhias energéticas brasileiras. Esse interesse parece estar relacionado à carência das concessionárias de metodologias consistentes de avaliação do comportamento transitório do sistema elétrico quando da incidência de descargas atmosféricas. Tal carência conduz a prejuízos como, por exemplo, desligamentos do sistema e destruição de equipamentos. Julga-se que existem ainda muitas questões em aberto na investigação da interação de descargas atmosféricas com os sistemas elétricos. Levando-se em consideração seus efeitos devastadores, urge obter respostas a tão relevantes questões. Recentemente, por meio de um projeto cooperativo (P&D CEMIG1/ANEEL2) entre a CEMIG e o GEAP3/CEFET-MG, investigações aprofundadas da interação de descargas atmosféricas com o sistema elétrico têm sido conduzidas com o objetivo de avaliar o desempenho de linhas de transmissão frente a esses fenômenos. Percebe-se que um elemento essencial no desempenho de um sistema elétrico frente às descargas atmosféricas é o aterramento elétrico, uma vez que está presente em praticamente todas as partes do sistema em questão. Adicionalmente, a sua interação com os sistemas de energia é de fundamental importância na avaliação do desempenho em causa. Apesar dos inúmeros trabalhos desenvolvidos sobre o tema, alguns pontos ainda merecem investigações adicionais (e, portanto, susceptíveis a intensa pesquisa), tais como: i) A quantificação experimental da variação da permissividade elétrica e resistividade de solos típicos com a freqüência (para um espectro característico das descargas atmosféricas); ii) O desenvolvimento de uma rotina computacional, acoplada com o EMTP (Electromagnetic Transients Program) / ATP (Alternative Transients 1 CEMIG – Companhia Energética de Minas Gerais ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica 3 GEAP – Grupo de Eletromagnetismo Aplicado (Cadastrado na base de dados do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) 2 4 Capítulo 1 - Introdução Program), que caracterize o comportamento de aterramentos elétricos frente aos transitórios eletromagnéticos estabelecidos pelos surtos atmosféricos. Nesse sentindo foram eleitos os seguintes tópicos principais e norteadores do projeto em questão: i) O levantamento experimental da variação com a freqüência dos parâmetros eletromagnéticos de solos típicos; ii) O desenvolvimento de um modelo eletromagnético computacional (que utilize os resultados experimentais) para quantificar a resposta de aterramentos elétricos às solicitações associadas às descargas atmosféricas; iii) O acoplamento deste modelo com o ATP com o objetivo de proceder a avaliações do desempenho de sistemas de transmissão frente a descargas atmosféricas. A presente dissertação, resultado de parte das pesquisas que vem sendo desenvolvidas neste projeto, se insere e contempla parcialmente o segundo tópico. 1.3 – Objetivo do trabalho O objetivo principal deste trabalho é o estudo do comportamento transitório de sistemas de aterramento elétrico, especialmente quando solicitados por descargas atmosféricas. A despeito dos avanços nas investigações relativas ao tema, permanecem, todavia, muitas questões a serem resolvidas. A elucidação e solução de tais questões podem ser realizadas mediante o estabelecimento de um modelo matemático e computacional, consistente fisicamente, que permita a simulação da injeção de correntes de descarga em diferentes configurações de aterramento. A obtenção de uma modelagem completa para o aterramento elétrico encerra elevada complexidade, que se tornará clara ao longo dessa dissertação. Levando-se em consideração o contexto e o objetivo principal deste trabalho, as seguintes atividades podem ser definidas como norteadoras: 5 Capítulo 1 - Introdução • Estabelecimento de uma modelagem matemática e computacional, que seja fisicamente consistente para representação de sistemas de aterramento de configurações genéricas; • Desenvolvimento de uma ferramenta computacional, que implemente a modelagem desenvolvida. Validação da ferramenta com resultados experimentais; • Aplicação da modelagem desenvolvida em configurações básicas de aterramento avaliando-se a sensibilidade destas em relação a variáveis típicas do projeto de aterramentos. Aplicação na estimativa da resposta transitória de sistemas de aterramentos às descargas atmosféricas. 1.4 – Organização do texto O presente texto está organizado em seis capítulos, incluindo este capítulo introdutório. No capítulo 2 são destacados os aspectos básicos concernentes ao comportamento de sistemas de aterramento a solicitações oriundas da incidência de descargas atmosféricas. Este capítulo apresenta uma abordagem predominantemente qualitativa, enfatizando o entendimento e compreensão dos conceitos físicos, dispensando desenvolvimentos matemáticos. No capítulo 3 apresenta-se uma evolução histórica da pesquisa da resposta de sistemas de aterramento elétrico à incidência de descargas atmosféricas, com ênfase nos aspectos de modelagem. Os principais trabalhos e metodologias de modelagem, desde 1930 até 2008, são descritos e analisados. Ao final é apresentada uma discussão acerca das vantagens e desvantagens das diversas filosofias de modelagem. Os capítulos 4 e 5 referem-se às realizações próprias deste trabalho e as suas correspondentes contribuições. No capítulo 4 são descritos os aspectos básicos do modelo eletromagnético para avaliação da resposta transitória do aterramento elétrico. É apresentada, em detalhes, a solução para o modelo a partir da aplicação do Método dos Momentos. Capítulo 1 - Introdução 6 Além disso, são discutidos alguns aspectos físicos essenciais contemplados pela modelagem. No capítulo 5 são apresentados os resultados, com respectivas análises, oriundos da implementação computacional do modelo apresentado no capítulo 4, na avaliação da resposta transitória de aterramentos elétricos a incidência de descargas atmosféricas. São consideradas configurações básicas de aterramento constituídas por eletrodos horizontais e hastes verticais. É também incluída uma seção de validação da modelagem apresentada, em que são apresentas comparações de resultados gerados pela aplicação da modelagem com aqueles obtidos por outros modelos considerados precisos e, inclusive, com aqueles derivados de medições diretas. No capítulo 6 são apresentadas as implicações deste trabalho preliminar, ressaltadas as principais contribuições e destacadas as propostas de continuidade. CAPÍTULO 2 – RESPOSTA DE ATERRAMENTOS ELÉTRICOS A CORRENTES IMPULSIVAS 2.1 – Introdução Quando submetidos a uma corrente de descarga atmosférica, os eletrodos de um sistema de aterramento apresentam um comportamento bastante particular. Aparentemente, há certa confusão de conceitos básicos em relação a esse comportamento no meio técnico-científico. Esses conceitos são fundamentais para compreensão dos problemas envolvendo o projeto de aterramentos elétricos para proteção contra descargas atmosféricas. Este capítulo insere-se neste cenário e tem como objetivo apresentar de forma sucinta aqueles conceitos considerados mais relevantes para compreensão da resposta de aterramento a correntes impulsivas de altas freqüências. O tema aterramento elétrico, em função da generalidade de suas aplicações e do número significativo de variáveis que influenciam o seu desempenho, encerra considerável complexidade [1]-[3]. Particularmente, na avaliação da resposta do aterramento para correntes impulsivas de altas freqüências, tal complexidade se avoluma [4]-[6]. Em relação à generalidade de aplicações do aterramento elétrico é interessante comentar as diferentes visões que os profissionais da área de Engenharia Elétrica possuem em relação ao tema [4]. No caso dos profissionais que atuam na área de Sistemas Elétricos de Potência (SEP), o aterramento elétrico corresponde à necessidade de um caminho de baixa impedância, utilizado como referência do sistema elétrico, e que possa garantir uma rápida atuação da proteção, quando da ocorrência de faltas para a terra, além de manter as tensões de passo e toque dentro de níveis toleráveis aos seres humanos. Para aqueles profissionais que atuam na área de Eletrônica e Telecomunicações, em geral, o aterramento elétrico significa garantir um baixo valor de impedância entre os equipamentos, bem como entre os equipamentos e a terra. Já para os profissionais que trabalham com sinais na faixa de 8 Capítulo 2 – Resposta de Aterramentos Elétricos a Correntes Impulsivas radio freqüência, genericamente, o aterramento elétrico constitui-se em um caminho de baixa impedância para as altas freqüências, além de ser um dos componentes no processo de propagação de sinais [4]. As distintas visões conduzem a diferentes práticas de execução dos aterramentos elétricos em instalações. Assim, o aterramento pode assumir configuração muito diversificada, conforme a natureza da função desempenhada. Todavia, apesar de aparentemente conflitantes, as correspondentes aplicações estão sempre associadas a dois fatores fundamentais [1]: i) Desempenho do sistema aterrado; ii) Questões de segurança (seres vivos). No primeiro caso, pode-se citar, por exemplo, o uso do solo como condutor efetivo de retorno, quando há injeção de corrente no aterramento ou, ainda, funções associadas à proteção do sistema. No segundo caso, o aterramento pode ser um fator de segurança por permitir o escoamento para a terra de cargas ou de correntes de descargas e, ainda, promover a distribuição segura de potenciais na superfície do solo, quando é injetada corrente nos eletrodos de aterramento [1]-[3]. Este trabalho insere-se no cenário de investigação dos transitórios oriundos da incidência de descargas atmosféricas em linhas de distribuição, transmissão ou subestações. Assim, em relação à avaliação da resposta do aterramento, é importante demarcar as fronteiras deste capítulo. Interessa destacar aspectos básicos concernentes ao comportamento de sistemas de aterramento típicos de SEP’s frente à incidência de descargas atmosféricas. A análise de configurações características de outras áreas de atuação, citadas anteriormente, foge do escopo deste trabalho. 2.2 – Comportamento do aterramento frente a descargas atmosféricas Um sistema de aterramento é constituído basicamente de três componentes [5]: i) Os condutores metálicos que ligam o sistema aos eletrodos de aterramento; ii) Os eletrodos de aterramento; iii) A terra que envolve os eletrodos. No desenvolvimento dos conceitos nas subseções seguintes, interessa principalmente a compreensão dos aspectos físicos envolvidos. Nesse sentido, é adotado um modelo conceitual simplificado para o sistema de aterramento, baseado na teoria de circuitos. Tal simplificação está relacionada com o foco do capítulo nos conceitos, evitando desenvolvimentos matemáticos. Para avaliação da natureza dos aterramentos considera-se que, em geral, uma conexão à terra apresenta efeitos resistivo, capacitivo e indutivo. A Fig. 2.1 ilustra um Capítulo 2 – Resposta de Aterramentos Elétricos a Correntes Impulsivas 9 circuito equivalente que representa estes efeitos para uma pequena porção ou elemento de um eletrodo de um sistema de aterramento. A corrente neste elemento é composta de duas parcelas: uma corrente transversal IT que dispersa para o solo e uma corrente longitudinal IL que é transferida para o restante do eletrodo. Figura 2.1 – Componentes de corrente no solo e circuito equivalente do aterramento – adaptada de [1]. A corrente longitudinal está associada às perdas internas no condutor e gera um campo magnético interno e em volta dele. Na Fig. 2.1, uma resistência R e uma indutância L em série são responsáveis pela modelagem desses efeitos. Ambos os parâmetros geram uma queda de tensão (∆VR e ∆VL) ao longo do eletrodo quando este é percorrido por uma corrente. A corrente transversal está associada à dispersão para o solo de correntes condutiva e capacitiva. A razão entre essas duas correntes não depende da geometria do eletrodo, mas apenas da freqüência característica do fenômeno solicitante e da condutividade e permissividade elétrica do solo. Esta razão é discutida mais detalhadamente em outra seção. Os efeitos transversais associados a essa corrente de dispersão são modelados na Fig. 2.1 por meio de uma condutância G e uma capacitância C em paralelo. Um aspecto que merece atenção refere-se ao cálculo dos parâmetros R, L, G e C do circuito ilustrado na Fig. 2.1. Tal aspecto é destacado no Capítulo 3. A representação ilustrada na Fig. 2.1 se aplica apenas a uma pequena porção do eletrodo. Adicionalmente, devem ser considerados os acoplamentos eletromagnéticos próprios e mútuos (capacitivo, condutivo e indutivo) entre os diversos elementos dos eletrodos de aterramento [6]. O conhecimento do comportamento completo do aterramento requer a solução de uma série de circuitos similares ao apresentado na Fig. 2.1 conectados de acordo com a geometria do aterramento, incluindo os efeitos mútuos [5]. A solução desse complexo circuito fornece a impedância vista do ponto de injeção de corrente, que corresponde à razão entre a Capítulo 2 – Resposta de Aterramentos Elétricos a Correntes Impulsivas 10 elevação de potencial desenvolvida neste ponto em relação ao terra remoto e a corrente de injeção. A impedância como foi definida é calculada para cada freqüência característica da onda de corrente injetada e constitui-se um conceito importante. Sua discussão detalhada é realizada na seção que se segue. 2.2.1 – Definição da impedância de aterramento O sistema de aterramento pode ser caracterizado eletromagneticamente por meio de uma impedância de aterramento. O conceito de impedância é amplamente utilizado; entretanto, sua definição original e limitações merecem destaque. Ela é originalmente definida no domínio da freqüência para excitações com variação senoidal no tempo e se aplica, geralmente, entre pontos próximos no espaço [6]. Na análise de fenômenos de baixa freqüência (50/60 Hz), os efeitos reativos podem ser desprezados. Neste caso, a aproximação do potencial constante é válida para os eletrodos de aterramento e o circuito equivalente para o aterramento fica reduzido a uma série de condutâncias acopladas. Assim, em baixas freqüências, o sistema de aterramento pode ser caracterizado eletromagneticamente por meio de uma resistência de aterramento [7], [8]. Em tais situações, a resistência de aterramento pode ser definida como uma condição limite da impedância de aterramento, sendo o valor desta para freqüência igual a zero. Neste caso a razão entre a elevação de potencial em relação ao infinito VT desenvolvida no ponto de injeção de corrente e a corrente injetada IJ resulta em um número real, que é a resistência de aterramento RT: RT = VT . IJ (2.1) Todavia, em geral, e principalmente na investigação de fenômenos de alta freqüência, o aterramento deve ser representado por uma impedância. No domínio da freqüência, para cada freqüência específica, uma impedância complexa deve ser precisamente determinada, como a solução do circuito equivalente do aterramento, ou seja: Z (ω ) = V (ω ) . I (ω ) (2.2) 11 Capítulo 2 – Resposta de Aterramentos Elétricos a Correntes Impulsivas O valor de Z (ω ) depende da geometria do aterramento e das características eletromagnéticas do solo, mas não da onda de corrente injetada se o sistema é linear. A Fig. 2.24 apresenta um gráfico de impedância em função da freqüência para um eletrodo horizontal de 30 m de comprimento (raio 0,7 cm e profundidade 0,5 m) inserido em um solo de resistividade 2.400 Ω.m e permissividade relativa 15 [9]. Nela fica nítido que em baixas freqüências a impedância pode ser aproximada por um número real puro e o aterramento representado por uma resistência de aterramento. Contudo, na faixa superior do espectro, os valores de módulo e fase da impedância diferem sensivelmente daqueles característicos de baixas freqüências. Nesta faixa, a modelagem do eletrodo por uma resistência não é consistente e o sistema de aterramento deve ser representado por meio de uma impedância. Detalhes adicionais desta figura são comentados posteriormente, na seção 2.2.2. 250 20 im pedância na condição de ba ixa freqüência 150 0 100 -20 va lor m ínim o de im pedância 50 módulo 0 2 10 3 10 Ângulo de Z(ω) (graus) Módulo de Z(ω) (Ω ) 200 40 -40 ângulo 4 10 Freqüência (Hz) 5 10 -60 6 10 Figura 2.2 – Impedância de aterramento ao longo do espectro de freqüência característico de uma descarga atmosférica [9]. 4 O gráfico ilustrado na Fig. 2.2 foi gerado a partir da modelagem matemática desenvolvida no Capítulo 4 e validada por medições no Capítulo 5 desta dissertação. Resultados desta natureza encontram-se em publicações dos pesquisadores envolvidos nesta dissertação em eventos nacionais e internacionais [9], [10]. Capítulo 2 – Resposta de Aterramentos Elétricos a Correntes Impulsivas 12 No domínio do tempo, o comportamento do aterramento frente a ondas de corrente impulsivas de alta freqüência costuma ser determinado em termos da impedância impulsiva ZP [11]. Este parâmetro é definido como a razão entre os picos de tensão e corrente no ponto de injeção. A impedância impulsiva nem sempre é facilmente determinada, tendo em vista que os picos de tensão e corrente em geral não ocorrem simultaneamente. Todavia, é um conceito bastante atrativo do ponto de vista prático, tendo em vista que a máxima sobretensão resultante no ponto de injeção pode ser determinada simplesmente pela multiplicação do valor do pico de corrente por ZP. A impedância impulsiva, diferentemente do conceito original de impedância no domínio da freqüência, depende da forma de onda injetada, com destaque para o tempo de frente da mesma. Este aspecto pode ser observado na Fig. 2.35 que ilustra a resposta de um eletrodo horizontal de aterramento de 50 m de comprimento (raio 1 cm e profundidade 0,5 m) a duas ondas de corrente distintas, uma onda rápida (1,2/20 µs) e uma onda lenta (3/20 µs). O solo possui resistividade de 1.000 Ω.m e permissividade relativa 15. A razão entre o pico de sobretensão no ponto de injeção e o pico da corrente injetada é maior para a onda mais rápida (53,1 Ω) comparada à onda mais lenta (37,8 Ω). É importante salientar que, apesar dos distintos valores de impedância impulsiva, a razão entre os valores instantâneos de tensão e corrente ao longo da cauda é praticamente constante (~34 Ω) para ambas as ondas. Nesta faixa, o comportamento do aterramento se assemelha àquele característico de fenômenos de baixa freqüência e a referida razão aproxima-se do valor da resistência de aterramento. Da análise dos gráficos das Figs. 2.2 e 2.3 fica claro que o comportamento de um sistema de aterramento possui a natureza de uma impedância. Apenas para fenômenos bastante particulares (aqueles de baixa freqüência) o aterramento pode ser adequadamente modelado por uma resistência de aterramento [5], [6], [13]. Um estudo espectral das formas de ondas típicas de descargas atmosféricas revela componentes tanto de alta quanto de baixa freqüência [13]. A alta freqüência está associada à elevação extremamente rápida da frente de onda da corrente (da ordem de 0,7 µs para correntes associadas às descargas de retorno subseqüentes e 5 µs para as correntes associadas às primeiras descargas de retorno [14]), enquanto que os componentes de baixa freqüência localizam-se na cauda alongada da onda ou acompanham a corrente de impulso decrescente. Componentes de baixa freqüência 5 O gráfico ilustrado na Fig. 2.3 foi gerado a partir da modelagem matemática desenvolvida no Capítulo 4 e validada por medições no Capítulo 5 desta dissertação. Resultados desta natureza encontram-se em uma publicação específica dos pesquisadores envolvidos nesta dissertação [12]. 13 Capítulo 2 – Resposta de Aterramentos Elétricos a Correntes Impulsivas são significativos para efeitos de dispersão de corrente condutiva, adequadamente modelados por meio de uma resistência. Componentes de alta freqüência são significativos para efeitos reativos associados à indução de tensão e fuga de corrente capacitiva para o solo, adequadamente modelados por meio de indutância e de capacitância. Claro está a importância fundamental da distinção dos conceitos de impedância e resistência de aterramento na avaliação de correntes impulsivas de altas freqüências. Um sistema de aterramento efetivo deve apresentar não só uma baixa resistência, mas também uma baixa impedância de forma a garantir a maximização da dissipação de ambos os componentes, de alta e baixa freqüência, característicos dos surtos atmosféricos. 60 sobretensão corrente Sobretensão (kV) Corrente (kA/20) 50 40 Zp = Vp / Ip Para onda rápida: Zp = 53,1 Ω (53,1 kV / 1 kA) Para onda lenta: Zp = 37,8 Ω (37,8 kV / 1 kA) 30 Na cauda: v(t) / i(t) ≅ 34 Ω 20 10 0 0 5 10 15 20 25 Tempo (µs) 30 35 40 Figura 2.3 – Influência do tempo de frente da onda de corrente injetada na impedância impulsiva. 2.2.2 – Composição da corrente no solo A corrente que dispersa para o solo, conforme já destacado anteriormente, é composta de duas parcelas, uma condutiva e outra capacitiva. A corrente de condução é proporcional à condutividade elétrica do solo σ e está em fase com a tensão transversal VT (vide Fig. 2.1). A corrente capacitiva é proporcional à freqüência angular ω associada ao fenômeno solicitante e à permissividade elétrica do solo ε e está defasada de 90º da tensão transversal VT. Para ocorrências lentas a corrente Capítulo 2 – Resposta de Aterramentos Elétricos a Correntes Impulsivas 14 capacitiva em geral pode ser desprezada, tendo em vista seu reduzido valor comparado à corrente condutiva. Contudo, em ocorrências rápidas, a corrente capacitiva pode atingir a mesma ordem de grandeza das correntes condutivas, principalmente em solos com elevados valores de resistividade. A relação entre ambas correntes não depende da geometria do eletrodo, mas apenas da relação σ / ωε. A Tabela 2.1 apresenta os valores dessa relação para diferentes valores de resistividade do solo ρ (ρ = 1 / σ) e freqüência, considerando um solo com permissividade relativa ε r = 10 [15]. Tabela 2.1 – Relação entre a corrente condutiva e a corrente capacitiva para diferentes valores de resistividade do solo em função da freqüência. ρ (Ω.m) f (MHz) 0,01 0,05 0,1 0,3 0,5 1 100 500 1797,51 359,50 179,75 59,92 35,95 17,98 359,50 71,90 35,95 11,98 7,19 3,60 σ / ωε 1000 179,75 35,95 17,98 5,99 3,60 1,80 2400 5000 74,90 14,98 7,49 2,50 1,50 0,75 35,95 7,19 3,60 1,20 0,72 0,36 A importância do efeito capacitivo também está expressa no gráfico de Z (ω ) ilustrado na Fig. 2.2. Na faixa inferior do espectro de freqüência a impedância de aterramento é próxima do valor da resistência de aterramento. Nesta faixa, os efeitos da corrente capacitiva são desprezíveis em relação àqueles da corrente condutiva. À medida que a freqüência aumenta, o módulo da impedância difere do valor da resistência de aterramento, tornando-se menor devido ao efeito capacitivo. Efeito similar pode ser observado no ângulo da impedância de aterramento. O valor da impedância decai até que os efeitos indutivos passam a influenciar significativamente a impedância de aterramento. A impedância atinge um valor mínimo em uma determinada freqüência em que os efeitos capacitivo e indutivo se compensam (neste ponto o ângulo da impedância é zero, conforme ilustra a Fig. 2.2). A partir desta freqüência o efeito indutivo começa a predominar. 2.2.3 – Efeito de propagação no solo e comprimento efetivo de aterramento Quando uma corrente impulsiva de alta freqüência é injetada no sistema de aterramento, a onda eletromagnética associada ao surto se propaga ao longo do Capítulo 2 – Resposta de Aterramentos Elétricos a Correntes Impulsivas 15 eletrodo. A propagação da onda eletromagnética em um meio com perdas, como o solo, apresenta dois fenômenos associados: atenuação e distorção da onda. O primeiro constitui-se no decréscimo da amplitude da onda de corrente ao longo do eletrodo. O segundo representa a deformação da onda à medida que se propaga e corresponde fisicamente às diferentes velocidades que cada componente de freqüência apresenta, não apresentando assim uma propagação uniforme como um todo. A atenuação aumenta com a freqüência e com a condutividade do solo, assim como as perdas. Em resumo, a onda de corrente que se propaga ao longo do eletrodo de aterramento tem sua amplitude atenuada e sofre deformação com o aumento do tempo de frente ao longo da direção de propagação. Esses aspectos estão ilustrados na Fig. 2.4. Figura 2.4 – Atenuação e distorção da corrente ao longo do eletrodo – adaptada de [5]. Como conseqüência direta do fenômeno de atenuação, a corrente que dispersa do eletrodo de aterramento apresenta uma distribuição não uniforme ao longo do mesmo. A densidade de corrente de dispersão (A / m) diminui ao longo do eletrodo. Dessas considerações deriva-se o importante conceito de comprimento efetivo, que corresponde a um comprimento limite do eletrodo de aterramento. Eletrodos com comprimento superior a esse valor limite não implicam na redução da impedância de aterramento. Tal comportamento fica explícito quando, por exemplo, verifica-se que o aumento além de determinado comprimento do cabo contrapeso ligado à torre de uma linha de transmissão não afeta o desempenho da mesma frente a descargas atmosféricas. Isto ocorre justamente porque a atenuação do campo para tal comprimento já é tão acentuada, que a corrente que dispersa para o solo a partir dali é desprezível. A existência de eletrodo a partir desse ponto é inócua e não afeta o valor da impedância de aterramento. O comprimento efetivo diminui com o aumento da condutividade do solo e da freqüência máxima representativa do fenômeno solicitante [5]. Tal comportamento é prontamente compreendido levando-se em consideração os aspectos de propagação, tendo em vista que a atenuação se acentua com o 16 Capítulo 2 – Resposta de Aterramentos Elétricos a Correntes Impulsivas crescimento da freqüência e da condutividade do meio. Esses dois efeitos podem ser visualizados na Fig. 2.56, que ilustra o comportamento da impedância de um eletrodo horizontal (raio 1 cm e profundidade 0,5 m) para diferentes comprimentos, inserido em um solo de baixa resistividade (Fig. 2.5(a)) e em um solo de alta resistividade (Fig. 2.5(b)). Note-se que em baixas freqüências, onde os efeitos de propagação são reduzidos, o aumento do comprimento do eletrodo implica na diminuição do módulo da impedância de aterramento praticamente em proporção inversa, enquanto em altas freqüências, onde tais efeitos são predominantes, a influência do comprimento é pequena, e os valores de impedância são muito próximos. Isso ocorre porque no espectro superior a atenuação do campo eletromagnético é bastante acentuada. Comparando-se as Fig. 2.5(a) e Fig. 2.5(b) pode-se notar ainda que os efeitos de propagação são mais pronunciados no solo de baixa resistividade. De acordo com a Fig. 2.5(a) os valores de impedância dos eletrodos de diferentes comprimentos são praticamente coincidentes já para freqüências a partir de 100 kHz. No caso do solo menos condutivo, comportamento similar somente é observado na faixa superior do espectro, para freqüências próximas de 1 MHz (ver Fig. 2.5(b)). 40 ρ = 100 Ω .m εr = 5 35 Impedância (Ω ) 30 25 20 15 10 L = 15 m L = 20 m L = 25 m 5 2 10 L = 30 m 3 10 4 10 Freqüência (Hz) (a) 6 Idem nota 4, pág. 11. 5 10 6 10 17 Capítulo 2 – Resposta de Aterramentos Elétricos a Correntes Impulsivas 160 ρ = 1.000 Ω .m εr = 5 140 Impedância (Ω ) 120 L = 15 m 100 L = 20 m 80 L = 25 m 60 40 2 10 L = 30 m 3 10 4 10 Freqüência (Hz) 5 10 6 10 (b) Figura 2.5 – Impedância de um eletrodo horizontal (raio 1 cm e profundidade 0,5 m) para diferentes comprimentos inseridos em um solo de (a) baixa resistividade (ρ = 100 Ω.m) e (b) alta resistividade (ρ = 1.000 Ω.m) [9]. O comprimento efetivo Lef de um eletrodo é, em geral, definido como aquele comprimento a partir do qual não há redução significativa de sua impedância de aterramento. No domínio da freqüência, o valor de Lef é, portanto, definido para cada freqüência. No caso de correntes impulsivas, que envolvem um amplo espectro de freqüência, a definição de Lef para cada uma delas pode não ser a metodologia mais adequada. Nesses casos, a quantificação do valor de Lef é realizada mediante o cálculo da impedância impulsiva. Assim, o comprimento a partir do qual a impedância impulsiva não apresenta diminuições significativas é definido como comprimento efetivo. O valor de Lef pode ser determinado a partir do ponto em que a derivada da curva que expressa a impedância impulsiva em função do comprimento é desprezível. Na Fig. 2.67, esse tipo de curva é ilustrada para um eletrodo horizontal (raio 1 cm e profundidade 0,5 m) inserido em diferentes solos. As curvas foram obtidas do cálculo de Zp a partir das ondas de sobretensão resultantes da injeção de uma corrente 7 Os gráficos ilustrados nas Figs. 2.6 e 2.7 foram gerados a partir da modelagem matemática desenvolvida no Capítulo 4 e validada por medições no Capítulo 5 desta dissertação. Outros resultados dessa natureza podem ser encontrados no Capítulo 5. 18 Capítulo 2 – Resposta de Aterramentos Elétricos a Correntes Impulsivas impulsiva de 1,2/20 µs, para diferentes comprimentos do eletrodo. Levando-se em conta essa última definição na determinação do comprimento efetivo, o seu valor não é constante para uma configuração de aterramento inserida em um determinado solo. Para injeção de ondas de corrente rápidas, cujos componentes de freqüência na faixa superior do espectro são significativos, o comprimento efetivo apresenta valores reduzidos se comparados àqueles característicos da injeção de ondas de corrente lentas. Tal comportamento está intimamente relacionado com o fenômeno de atenuação acentuado no caso dos componentes de freqüência mais elevada, característicos de ondas de corrente rápidas. A Fig. 2.77 apresenta curvas similares àquelas da Fig. 2.6, para mesma configuração de aterramento, e injeção de uma corrente impulsiva de 3/20 µs. Comparando-se ambas as figuras, fica claro que o valor do comprimento efetivo é mais elevado no caso em que o aterramento é solicitado por uma onda de corrente mais lenta. Os valores adotados para tempo de crista e cauda e caracterização das ondas como rápidas ou lentas são oriundos de medições realizadas na estação do Morro do Cachimbo, em Minas Gerais [14]. 300 250 Solo εr = 15 Zp (Ω ) 200 150 100 2.000 Ω .m 1.000 Ω .m 50 0 10 500 Ω .m 20 30 40 50 60 Comprimento do eletrodo (m) 70 80 Figura 2.6 – Curva de impedância impulsiva em função do comprimento de um eletrodo horizontal para injeção de uma onda de corrente impulsiva de 1,2/20 µs. 19 Capítulo 2 – Resposta de Aterramentos Elétricos a Correntes Impulsivas 300 250 Solo εr = 15 Zp (Ω ) 200 150 100 2.000 Ω .m 50 500 Ω .m 0 10 20 30 1.000 Ω .m 40 50 60 Comprimento do eletrodo (m) 70 80 Figura 2.7 – Curva de impedância impulsiva em função do comprimento de um eletrodo horizontal para injeção de uma onda de corrente impulsiva de 3/20 µs. Neste ponto é oportuno destacar um aspecto de ordem prática relacionado ao conceito de comprimento efetivo do eletrodo de aterramento que nem sempre é bem compreendido. O aumento do comprimento do eletrodo implica na redução da resistência de aterramento associada a fenômenos de baixa freqüência. Todavia, no caso de transitórios eletromagnéticos de alta freqüência esse aumento do comprimento pode não refletir diretamente na redução da impedância de aterramento. Atingido o comprimento efetivo do eletrodo de aterramento, posterior aumento de seu comprimento se traduz na redução da resistência, mas não da impedância de aterramento. A utilização de longos eletrodos, que possuem uma baixa resistência de aterramento, pode gerar a falsa expectativa de uma correspondente baixa impedância. Uma vez mais fica clara a importância fundamental da distinção entre os conceitos de resistência e impedância de aterramento. A incompreensão desses conceitos pode conduzir a análises e conclusões errôneas. 2.2.4 – Efeito da intensidade da corrente Em condições práticas, para uma ampla faixa de intensidades de corrente, o solo apresenta comportamento linear [5]. Isso significa que a razão entre a amplitude da sobretensão resultante no ponto de injeção e da corrente injetada é constante, ou, Capítulo 2 – Resposta de Aterramentos Elétricos a Correntes Impulsivas 20 em outras palavras, a função de transferência que descreve o sistema independe da onda injetada. Todavia, dependendo da intensidade da corrente imposta ao aterramento, da dimensão dos eletrodos e da resistividade do solo, o campo elétrico no solo circunvizinho aos eletrodos pode ultrapassar um valor crítico e romper a rigidez dielétrica do meio. Neste caso, o solo possui um comportamento não-linear. O valor de 300 kV/m é tipicamente adotado como campo elétrico crítico (ECR) na literatura [16]. Para valores de campo elétrico superiores ao valor crítico a ionização do solo se processa e há a ocorrência de descargas elétricas do eletrodo para o solo. Esse processo basicamente transforma a porção do solo (um dielétrico) ionizada em um condutor. A disrupção se inicia na superfície do eletrodo, onde a densidade de corrente de dispersão é mais intensa, e continua até o ponto em que o campo elétrico decai a um valor inferior ao crítico. O aumento aparente da condutividade na porção do solo em que o fenômeno de ionização se processa resulta no crescimento da corrente de dispersão na região. Tal efeito é classicamente modelado mediante uma ampliação do raio equivalente do eletrodo [16]. Em termos práticos, a ocorrência do fenômeno de ionização se traduz na redução da impedância de aterramento. Naturalmente, como o fenômeno em questão é não-linear, o conceito de impedância, levando-se em consideração sua definição original, não se aplica em um sentido exato. Uma análise física imediata revela que o efeito da disrupção no solo praticamente só influencia os parâmetros transversais do aterramento. Assim, sob o ponto de vista da teoria de circuitos, a inclusão do fenômeno de ionização implicaria na reavaliação dos parâmetros G e C do circuito da Fig. 2.1, mas não dos parâmetros R e L. A avaliação do fenômeno de ionização não é uma tarefa trivial e encerra duas complexidades principais [5]. A primeira delas refere-se à determinação do valor de ECR, que é o valor limite do campo elétrico no solo, acima do qual sua ionização se processa. De uma forma geral, os trabalhos não conseguem apontar metodologias consistentes para definição de ECR, o que acaba o tornando um fator de calibração, de forma a fazer com resultados oriundos de investigações teóricas e realizações experimentais se aproximem [15], [16]. Uma segunda complexidade está associada à distribuição não uniforme da corrente de dispersão ao longo do eletrodo (e do campo elétrico associado) devido ao efeito de atenuação. Assim, o fenômeno de ionização não se processa de maneira linear ao longo do aterramento, sendo mais intenso junto aos eletrodos próximos do ponto de injeção do sistema, conforme ilustra a Fig. 2.8 [17]. É também importante ressaltar que o processo de ionização é mais intenso para eletrodos de aterramentos de pequenas dimensões submetidos a correntes de Capítulo 2 – Resposta de Aterramentos Elétricos a Correntes Impulsivas 21 alta intensidade. Em alguns sistemas de pequeno porte, com solo fortemente ionizado, a geometria do aterramento, em alguns casos, pode até descaracterizar-se, dada a grande abrangência da região ionizada. Esse último efeito é ilustrado na Fig. 2.9. Assim, para os sistemas de aterramento típicos de linhas de distribuição, por exemplo, que são formados geralmente por pequenas hastes verticais interligadas, o fenômeno merece ser investigado com cautela. Já na análise de sistemas de aterramento tipicamente empregados nas torres de linhas de transmissão, que possuem grandes dimensões, mesmo para estudos de propagação de correntes de descargas atmosféricas, a ionização do solo costuma não se caracterizar como um aspecto de maior importância [17]. Figura 2.8 – Representação da região de ionização em um sistema de aterramento submetido à injeção de uma corrente I – adaptada de [17]. Figura 2.9 – Representação da ionização do solo em um sistema de aterramento de pequeno porte submetido à injeção de corrente sendo I3 > I2 > I1 – adaptada de [17]. 22 Capítulo 2 – Resposta de Aterramentos Elétricos a Correntes Impulsivas 2.2.5 – Dependência dos parâmetros eletromagnéticos do solo com a freqüência Um aspecto essencial no estudo e simulação de aterramentos elétricos é a modelagem adequada do solo. Exceto para valores elevados de campo elétrico, que causam significativa ionização do meio, o comportamento eletromagnético do solo é essencialmente linear, mas com significativa dependência da condutividade elétrica (σ) e permissividade elétrica (ε) em relação à freqüência. A permeabilidade magnética µ é, em geral, praticamente igual a permeabilidade magnética do vácuo (µ0) [18], [19]. Para uma configuração do aterramento elétrico, os parâmetros determinantes da forma de propagação do campo eletromagnético associado a uma onda de corrente injetada, em condições em que não há a ocorrência significativa de fenômenos não-lineares, são σ, ε e µ. Neste sentido, a determinação do comportamento de tais parâmetros de forma mais próxima possível da realidade é fundamental para o estudo completo do sistema de aterramento. O comportamento dos parâmetros σ e ε ao longo do espectro típico de descargas atmosféricas é determinado, em geral, por meio de medições. A partir das medições, expressões aproximadas em função da freqüência podem ser estabelecidas para σ e ε. Em 1987 S. Visacro e C. M. Portela apresentaram um trabalho decorrente de uma série de resultados experimentais, considerando-se determinadas categorias de solo e freqüências desde 100 Hz até 1 MHz, que possibilitaram o levantamento das seguintes relações matemáticas empíricas, aproximadas, para estimar a variação da resistividade (ρ = 1 / σ) e da permissividade relativa do solo com a freqüência [18]: 0,072 100 ρ ≈ ρ 100Hz , f − 0,535 6 ⋅ f −0,597 ε r ≈ 2,34 × 10 ( ρ100Hz ) sendo: • f a freqüência elétrica (Hz); • ρ100Hz é a resistividade do solo em baixa freqüência (Ω.m); • ρ é a resistividade do solo em função da freqüência (Ω.m); • ε r é a permissividade relativa do solo em função da freqüência (-). (2.3) Capítulo 2 – Resposta de Aterramentos Elétricos a Correntes Impulsivas 23 Pesquisas posteriores apoiadas em técnicas de medição mais precisas e metodologias de análise estatística dos resultados experimentais foram conduzidas por Portela [19], [20]. Baseando-se em várias medições para um número relativamente grande de amostras de solo, considerando-se desde freqüências mais baixas até 2 MHz , apresentou-se a seguinte equação para estimar a dependência dos parâmetros do solo com a freqüência [21]: α π ω ; σsolo m iωεsolo = σ0 + ∆i cotang α m i 6 2 2π ×10 (2.4) sendo: • ω é a freqüência angular (rad/s); ω = 2πf , sendo f a freqüência elétrica (Hz); • σ0 é a condutividade elétrica do solo em baixa freqüência (S/m); • α é um parâmetro do modelo do solo (-); • ∆i é um parâmetro do modelo do solo (S/m); • σsolo é a condutividade do solo em função da freqüência sendo a parte real do resultado à direita na equação (2.4) (S/m); • εsolo é a permissividade do solo em função da freqüência sendo a parte imaginária do resultado à direita na equação (2.4) dividida por ω (F/m). Os parâmetros α e ∆i , que definem a variação com a freqüência, são obtidos por meio de uma técnica de medição especial, que se encontra detalhada em [19]. Por outro lado, esses dois parâmetros apresentam distribuição estatística conhecida, de forma que, não havendo maiores informações ou ocorrendo dificuldades de medição, tal distribuição pode subsidiar na definição de valores razoáveis dos parâmetros α e ∆i para vários estudos [20]. Considerando-se os resultados das avaliações do desempenho de sistemas de aterramento submetidos à injeção de correntes de descargas atmosféricas, para solos com valores intermediários de condutividade elétrica ( 100µS/m<σ0 <10.000µS/m ), sugere-se [21]: • Para obtenção de valores medianos: Capítulo 2 – Resposta de Aterramentos Elétricos a Correntes Impulsivas α ≅ 0,706 . ∆i ≅ 11,71 mS/m • 24 (2.5) Para obtenção de valores razoavelmente seguros: α ≅ 0,806 ∆i ≅ 9,23 mS/m (2.6) ou α ≅ 0,856 . ∆i ≅ 7,91 mS/m (2.7) A despeito da diferença entre as expressões oriundas de diferentes trabalhos de pesquisa, o comportamento qualitativo observado se assemelha [18], [19]. No que concerne à permissividade elétrica do meio é observada sua diminuição nas faixas superiores do espectro. Essa diminuição, no entanto, não implica necessariamente na diminuição da corrente capacitiva, uma vez que a mesma é proporcional ao produto da permissividade pela freqüência. Quanto à condutividade do solo, verifica-se um aumento sensível com a freqüência e, particularmente, nota-se a diferença entre os valores da condutividade nas faixas de freqüências dominantes nos fenômenos transitórios e aqueles na faixa de freqüências em que usualmente a resistividade é medida (baixa freqüência). Com base nos comentários anteriores, o efeito global da variação de σ e ε com a freqüência se traduz fisicamente em uma redução da impedância de aterramento. Em alguns casos essa redução é cerca de 10%, podendo atingir o valor de 30% [5]. Deve-se salientar que, na avaliação da variação da condutividade e permissividade com a freqüência, o efeito do tipo de solo é bastante acentuado, o que implica na necessidade de se considerar as características específicas de cada solo, nas aplicações de aterramento, ainda que de forma aproximada. Esse aspecto dificulta a obtenção de uma formulação geral para dependência dos parâmetros do solo com a freqüência. Talvez essa dificuldade seja uma das justificativas para o fato de poucos trabalhos da área incluírem a variação de σ e ε com a freqüência. Capítulo 2 – Resposta de Aterramentos Elétricos a Correntes Impulsivas 25 2.3 – Conclusões Neste capítulo foram abordados conceitos fundamentais relacionados à resposta do sistema de aterramento frente às correntes de descargas atmosféricas. Devido ao razoável volume de conceitos abordados, julga-se adequado um breve resumo das análises preliminares. Mostrou-se que o aterramento deve ser modelado por uma impedância. A sua representação por uma resistência constitui-se um caso bastante particular e limitado à investigação de fenômenos lentos. A corrente no solo é composta por uma parcela condutiva e outra capacitiva. Em baixas freqüências a corrente capacitiva é desprezível em relação à condutiva. Entretanto, para freqüências mais elevadas, a relação entre ambas se aproxima da unidade, principalmente em solos com elevado valor de resistividade. A onda de corrente de descarga atmosférica injetada no sistema de aterramento se propaga ao longo do eletrodo e apresenta atenuação de amplitude e distorção da forma de onda. Da análise da propagação deriva-se o importante conceito de comprimento efetivo do eletrodo, que está associado ao valor mínimo de impedância impulsiva para determinada geometria do eletrodo e resistividade do solo. A ionização do solo, devido a correntes de alta intensidade, caracteriza-se por um aparente aumento da condutividade elétrica da porção ionizada. Tal efeito é mais pronunciado em aterramentos concentrados e de pequeno porte. A ionização do solo conduz a uma redução da impedância de aterramento. A variação dos parâmetros eletromagnéticos do solo (σ e ε) com a freqüência é significativa ao longo do espectro característico de surtos atmosféricos. Devido à dificuldade de se obter uma formulação geral para tal variação, ela é, geralmente, negligenciada. A análise predominantemente qualitativa apresentada ao longo do capítulo constitui um passo fundamental para compreensão do comportamento de sistemas de aterramento frente à incidência de descargas atmosféricas. A abordagem qualitativa apresentada propicia a ampliação do domínio de compreensão, principalmente, dos aspectos físicos envolvidos na resposta do aterramento. Esse domínio físico e conceitual é essencial para aqueles engenheiros eletricistas que desejam investigar transitórios oriundos da incidência de descargas atmosféricas. No entanto, em termos práticos de engenharia, tão importante quanto o conhecimento qualitativo do fenômeno investigado, é a quantificação de variáveis relacionadas a ele. No caso de sistemas de aterramento, tal quantificação é de fundamental importância para determinação de, por exemplo, configuração da malha de aterramento, níveis máximos de sobretensão e isolação necessária, níveis de corrente para ajuste da Capítulo 2 – Resposta de Aterramentos Elétricos a Correntes Impulsivas 26 proteção e campos gerados para estudos de interferência eletromagnética. A quantificação das variáveis relacionadas ao fenômeno investigado é feita mediante o estabelecimento de modelos matemáticos para o sistema de aterramento. Um modelo simplificado para o eletrodo de aterramento pode ser, por exemplo, aquele apresentado na Fig. 2.1 e adotado na abordagem conceitual deste capítulo. O estabelecimento de um modelo completo para representação de sistemas de aterramento encerra considerável complexidade. Esta se relaciona principalmente ao número elevado de variáveis que influenciam o comportamento do aterramento. Ademais, os diversos fenômenos descritos ao longo do capítulo ocorrem, em geral, simultaneamente, o que agrega outra complexidade ao processo de modelagem. Em alguns casos, o efeito de determinado fenômeno prevalece sobre os demais; entretanto, nem sempre a análise e determinação destes fenômenos predominantes são triviais. O estabelecimento de um modelo matemático fisicamente consistente para avaliação da resposta do aterramento frente a correntes impulsivas de alta freqüência constitui o objetivo principal deste trabalho. Essa tarefa é postergada para o Capítulo 4. Antes, julga-se importante avaliar a seguinte questão: como os sistemas de aterramento têm sido modelados por outros autores? A resposta, ao menos em parte a essa pergunta, é objeto do capítulo seguinte. CAPÍTULO 3 – FRONTEIRAS DA MODELAGEM DE ATERRAMENTOS ELÉTRICOS 3.1 – Introdução Desde os primeiros sistemas elétricos até os dias atuais houve um considerável avanço no entendimento dos conceitos e técnicas concernentes a um sistema de aterramento elétrico. Esse avanço está bem documentado em uma série de artigos e trabalhos que culminaram com o estabelecimento de algumas normas para projeto e instalação do aterramento. O objetivo inicial dessas normas era orientar de forma geral os engenheiros e técnicos, por meio de algumas recomendações, no dimensionamento e construção de sistemas de aterramento. Apesar desse nítido desenvolvimento, os aterramentos ainda são motivo de muita discussão e erros conceituais, principalmente devido ao costume de se utilizar soluções prontas e ao tratamento dogmático destinado às normas. Contudo, deve-se lembrar que não se pode legislar sobre a física. Para o estudo e pesquisa dos sistemas de aterramentos o requisito mais importante e essencial é o entendimento das leis da física envolvidas e dos conceitos fundamentais relacionados. Esse entendimento está intimamente ligado à compreensão das equações que regem todos os fenômenos da engenharia elétrica: as Equações de Maxwell. Dentre as investigações ligadas aos sistemas de aterramento, sua modelagem para avaliação da resposta frente a fenômenos transitórios de alta freqüência tem atraído a atenção de muitos grupos de pesquisa, levando-se em conta o volume de recentes publicações. Os modelos de aterramento desempenham como função essencial a predição de algumas variáveis importantes para dimensionamento da proteção contra surtos, como, por exemplo, impedância de aterramento e níveis máximos de sobretensão. Os modelos de sistema de aterramentos são ainda fundamentais no auxílio da solução de alguns problemas atuais importantes, como: avaliação do desempenho de linhas de transmissão frente às descargas atmosféricas, estudos de compatibilidade eletromagnética envolvendo subestações, proteção de linhas de transmissão, construções residenciais e instalações críticas contra incidência de raios e qualidade da energia fornecida etc. Capítulo 3 – Fronteiras da Modelagem de Aterramentos Elétricos 28 Quando submetidos a uma corrente de descarga atmosférica, os eletrodos de um sistema de aterramento apresentam um comportamento bastante particular. A completa investigação desse comportamento deve contemplar dois pontos principais: i) o entendimento dos conceitos físicos relacionados ao fenômeno e ii) o estabelecimento de um modelo para o sistema de aterramento incluindo o acoplamento eletromagnético entre seus componentes. Esses dois pontos estão relacionados, de forma que para obtenção de um modelo que seja consistente com a realidade é importante o entendimento dos conceitos referentes ao comportamento do aterramento. Os conceitos, juntamente com o modelo, são fundamentais para análise e obtenção de soluções para problemas envolvendo a proteção contra descargas atmosféricas. Este capítulo tem por objetivo apresentar uma descrição sucinta de algumas metodologias adotadas para modelagem de aterramentos. Devido ao grande volume de trabalhos que foram apresentados na literatura durante os últimos anos, a tarefa de descrever todos eles seria bastante extensa, além de fugir do escopo principal desta dissertação. Dessa forma, procurou-se incluir aqueles mais essenciais e que desempenharam um papel destacado para o desenvolvimento da área de modelagem de aterramentos elétricos. Esta laboriosa e importante pesquisa do estado da arte da modelagem de aterramentos é descrita na seção 3.5 deste capítulo. As seções que a precedem são dedicadas a uma breve descrição dos aspectos gerais relativos aos modelos e processo de modelagem no contexto científico. Nelas são abordadas questões conceituais e filosóficas essenciais para ampla e profunda compreensão dessa poderosa ferramenta, que são os modelos matemáticos. 3.2 – Modelagem no contexto científico Na incessante busca por novos conhecimentos e esclarecimentos acerca dos fenômenos e eventos ao redor, os cientistas recorrem não apenas às sensações ou manifestações imediatas, mas principalmente à reflexão e ao conhecimento acumulado por meio da formulação de hipóteses e da estruturação de modelos. Nesse sentido, a abstração constitui uma ferramenta essencial no processo de aquisição de novos conhecimentos, uma vez que, para se compreender a imensa variedade de formas, estruturas, comportamentos e fenômenos residentes no universo, é necessário interpretá-los e, a partir da abstração, selecionar aqueles de maior relevância para o problema em investigação e elaborar para eles descrições Capítulo 3 – Fronteiras da Modelagem de Aterramentos Elétricos 29 adequadas. Na nobre tarefa de modelar o mundo os cientistas constroem, portanto, esquemas abstratos da realidade em que os objetos de investigação são reduzidos a representações convenientes. A abstração deve ser não apenas ferramenta, mas uma qualidade do bom pesquisador. Segundo Sayão, “a evolução da humanidade no seu aspecto mais abrangente – a evolução das ciências, artes e filosofia – pode ser encarada como uma trajetória rumo à aquisição progressiva da capacidade individual de abstração” [22]. Nesse percurso de evolução da humanidade os modelos têm sido a luz para os caminhos pouco iluminados quase sempre atravessados pelos pesquisadores na busca por novos conhecimentos. Eles têm sido utilizados nas mais diversas áreas do conhecimento com o objetivo de auxiliar na compreensão e estudo de temas específicos [23]-[30]. Os modelos são empregados, por exemplo, para descrever a proliferação de um mosquito transmissor de doenças, no planejamento estratégico empresarial, na descrição do fluxo de aviões em um aeroporto e até mesmo para compreensão da origem do universo por meio da formulação de modelos como o Big Bang. Claro está a generalidade da aplicação dos modelos e sua relevância no contexto científico. Apesar da importância dos modelos deve-se destacar que eles são representações aproximadas da realidade, o que constitui uma característica intrínseca do processo de modelagem. Isso não caracteriza um problema, no entanto, como lembra Capra: “o que torna a ciência tão bem sucedida é a descoberta de que podemos utilizar aproximações. Se nos satisfizermos com uma compreensão aproximada da natureza podemos descrever grupos selecionados de fenômenos, negligenciando outros que se mostrem menos relevantes. Assim podemos explicar muitos fenômenos em termos de poucos e, conseqüentemente, compreender aspectos da natureza de forma aproximada, sem precisar entender tudo ao mesmo tempo. Esse é o método científico: todas as teorias e modelos científicos são aproximações da verdadeira natureza das coisas; o erro envolvido na aproximação é, não raro, suficientemente pequeno para tornar significativa essa aproximação” [31]. Pode-se dizer, portanto, que os modelos são criações com o objetivo de representar alguns aspectos da realidade e torná-los descritíveis qualitativa e quantitativamente. A existência de modelos jaz na impossibilidade de descrever os objetos com perfeição seja por uma limitação filosófica, seja por uma limitação técnica, esgotando as possibilidades de observação, o que permite e exige o aparecimento de modelos [22], [25]. Eles possibilitam ir além das observações humanas e dos recursos técnicos existentes. As conclusões e resultados gerados serão tão relevantes quanto mais significativas forem as aproximações adotadas. 30 Capítulo 3 – Fronteiras da Modelagem de Aterramentos Elétricos Os modelos apresentam também uma dimensão heurística, pois uma vez elaborados para explicar ou compreender determinado aspecto da realidade, estão sujeitos a pontos de evolução e existe a possibilidade de gerar novos conhecimentos e percepção de outros aspectos não imaginados antes de sua elaboração [22]. Deve-se salientar, ainda, que uma mesma realidade física pode ser representada por meio de diferentes modelos, que, ocasionalmente, são completamente distintos entre si [25]-[28]. Cada modelo se destina a explorar determinadas faixas características do fenômeno investigado. Aqueles mais completos e que abrangem uma maior faixa de operação podem chegar a explicações complementares, já os mais simples podem gerar resultados contraditórios e inconsistentes. 3.3 – A natureza dos modelos Conforme destacado na seção 3.2 os modelos, de uma forma geral, buscam a formalização do universo por meio de esquemas abstratos. Deve-se lembrar, entretanto, que essa formalização do universo não é trivial; a realidade do universo envolvente é extremamente complexa se forem levadas em consideração todas as variáveis. Um modelo é, portanto, uma representação simplificada da realidade. A idealização é intrínseca à natureza dos modelos e, ainda, uma reação tradicional do homem à aparente complexidade da realidade em que está submerso [22]. Assim, um modelo busca uma visão das características mais essenciais do domínio. Esta simplificação exige criatividade, tanto sensorial quanto intelectual, o que, evidentemente, implica admitir-se que, na construção de modelos, algumas características da realidade, que não se referem diretamente aos objetivos buscados, são desprezados ou abandonados, em função da maior inteligibilidade ou facilidade de compreensão [23]. As aproximações adotadas durante o processo de modelagem definem a precisão do modelo. Enquanto representação de algum aspecto da realidade, um modelo pode ou não assumir uma analogia com a realidade que ele modela. Ele pode possuir uma forma própria independente do original que representa. Esse hiato representacional depende do objeto específico de investigação [24]. Por exemplo, a modelagem computacional orientada a objetos possui um baixo hiato representacional, enquanto o modelo atômico quântico matricial de Heisenberg apresenta um hiato representacional elevado. A despeito da existência ou não de diferenças entre a realidade e a estrutura Capítulo 3 – Fronteiras da Modelagem de Aterramentos Elétricos 31 do modelo, nele deve ser incluído um modo de expressão das conclusões e resultados gerados que seja claro e condizente com a realidade. O modo de expressão pode ser, por exemplo, numérico, gráfico ou discursivo. A estrutura interna do modelo, matemática e conceitual, juntamente com o modo de expressão empregado definem a simplicidade do modelo. As idéias de simplificação da realidade e estrutura interna do modelo estão intimamente relacionadas com o conceito de características desejáveis de um modelo. Elas são basicamente três: precisão, simplicidade e adequação. A precisão define o grau de concordância dos resultados gerados com a realidade e está ligada às idealizações adotadas durante o processo de modelagem. A simplicidade define a dificuldade de exploração do modelo com o objetivo de gerar e visualizar resultados e está relacionada com a complexidade da estrutura interna do modelo. A adequação é encarada como uma característica chave e é função das duas outras. Um modelo adequado é aquele que possui uma estrutura que seja simples e apresente conclusões precisas. A adequação resume o objetivo e o dilema de um bom modelo, que é aliar simplicidade à precisão. Outro aspecto importante no delineamento da natureza de um modelo está relacionado com sua classificação. Os modelos são tipologizados de várias formas, em função de sua finalidade, método de exploração ou ainda de acordo com a área do conhecimento. Devido à interdisciplinaridade da modelagem, essa tarefa taxonômica é, em geral, complexa sendo difícil definir, sem ambigüidade, até mesmo os tipos mais gerais. Nesta dissertação é proposta uma classificação orientada à finalidade, que ressalta as diferentes formas de utilização dos modelos. A exploração do modelo pode ser guiada segundo diferentes objetivos, nomeadamente para predição, prescrição, explicação ou descrição ou um conjunto destes. Essa proposta sintética de taxonomia procura abranger as finalidades mais gerais dos modelos e evitar redundâncias. Os modelos preditivos são aqueles construídos com o propósito de prever um conjunto de variáveis, comportamentos ou fatos. Como exemplo pode-se citar um modelo matemático empregado nas ciências econômicas para previsão do PIB de um país [29]. Os modelos prescritivos permitem determinar “o que fazer” para atingir determinado objetivo. Um modelo de aterramento pode, por exemplo, determinar as condições necessárias para que a tensão de passo seja mantida abaixo dos valores determinados por norma. Os modelos explicativos procuram descrever determinado fenômeno e responder basicamente a pergunta “por quê?”. Em geral fazem parte de uma teoria Capítulo 3 – Fronteiras da Modelagem de Aterramentos Elétricos 32 mais ampla que é simplificada com objetivo de reduzir a complexidade e melhor entendê-la. A teoria de circuitos a parâmetros concentrados é um modelo que simplifica a teoria eletromagnética e permite explicar de forma relativamente simples os efeitos resistivo, indutivo e capacitivo em um sistema elétrico. Os modelos descritivos objetivam explicar algum fenômeno tal qual ele se apresenta ou funciona. A utilidade destes modelos repousa basicamente na possibilidade de resolver um problema específico de decisão. A utilização de modelos matemáticos que descrevem a interação de um determinado vírus com o sistema imunológico humano pode auxiliar na decisão de quais estratégias de tratamento adotar [30]. 3.4 – Construção de modelos As seções anteriores foram dedicadas à discussão dos aspectos filosóficos e conceituais principais dos modelos. Entendidos esses aspectos torna-se interessante compreender o processo de construção de modelos, particularmente modelos matemáticos. Devido à generalidade de aplicação dos conceitos de modelagem não existe um procedimento exato a ser seguido, apenas algumas orientações gerais. O processo de modelagem não deve ser encarado como algo rígido, mas com especificidades que acompanham cada problema e área do conhecimento. Os passos gerais que podem auxiliar a construção de um modelo matemático são descritos a seguir [25], [28]. Passo 1 – Identificar o problema: Qual é o problema a ser explorado? A resposta precisa a essa questão é de fundamental importância para os passos seguintes. O problema deve ser bem especificado para permitir uma eficaz transposição da descrição conceitual para linguagem matemática. Problemas mal enunciados ou ambíguos podem gerar representações matemáticas e modelos inadequados para solução do problema proposto. Passo 2 – Fazer suposições: Em geral a inclusão de todos os fatores que influenciam o problema identificado é inviável, o que tornaria a complexidade do modelo extremamente elevada. A tarefa de modelagem é então simplificada por meio da redução do número de fatores sob consideração. Aquelas variáveis que possuírem uma influência reduzida comparada a outros fatores podem ser descartadas, o que Capítulo 3 – Fronteiras da Modelagem de Aterramentos Elétricos 33 minimiza a complexidade do modelo. Após essa primeira simplificação, as relações entre as variáveis selecionadas para estudo devem ser determinadas. Em problemas mais complexos as relações entre todas as variáveis envolvidas podem ser de difícil identificação inicialmente. Nestes casos algumas variáveis podem ser estudadas separadamente a partir da criação de sub-modelos, que, posteriormente, podem ser conectados. Novamente, se forem assumidas relações relativamente simples, a complexidade do modelo pode ser reduzida. É importante salientar que as suposições feitas neste passo estão diretamente relacionadas com a precisão dos resultados gerados. Passo 3 – Solucionar ou interpretar o modelo: Após a definição das relações entre as variáveis, o modelo deve ser solucionado. Em geral os modelos são constituídos por uma série de equações matemáticas, que devem ser resolvidas para se obter informações acerca do problema investigado. Neste passo são gerados os primeiros resultados. Ocasionalmente, podem ocorrer situações em que a solução ou interpretação do modelo seja demasiadamente complexa ou até mesmo não existam instrumentos, analíticos ou numéricos, capazes de prover uma solução satisfatória. Nestes casos, pode ser necessário retornar ao passo 2 para que outras simplificações sejam feitas. Passo 4 – Verificar o modelo: A utilização efetiva do modelo deve ser precedida de um processo de verificação. Antes, porém, de submeter o modelo a testes de validação, que podem ser caros e demorados, é importante que se avalie a coerência conceitual dos resultados gerados. Após essa avaliação é comum submeter o modelo a verificações experimentais. Nesse procedimento é importante atentar que a aquisição de dados e medições deve ser realizada dentro da faixa de trabalho do modelo, que é definida de acordo com as suposições adotadas no passo 2. A realização de testes fora desta faixa pode conduzir a suposições errôneas ou incompletas. Um cuidado especial deve ser levado em consideração ao traçar conclusões a partir dos resultados empíricos. Não se devem extrapolar generalizações a partir de situações particulares. Assim, um modelo não se torna uma lei apenas porque foi verificado repetidamente em algumas situações específicas. O que se pode afirmar é que sua razoabilidade foi corroborada por meio dos dados coletados. Passo 5 – Implementar o modelo: Concluídas as devidas verificações e procedimentos de validação, o modelo deve ser implementado em sua forma final. Neste passo é importante a criação de uma interface adequada aos usuários, que Capítulo 3 – Fronteiras da Modelagem de Aterramentos Elétricos 34 facilite a operação e exploração do modelo. Outra tarefa essencial a ser desenvolvida nesta etapa é a divulgação do ferramental desenvolvido. Modelos com interfaces de difícil utilização ou pouco divulgados possuem grande probabilidade de insucesso. Passo 6 – Manter o modelo: A manutenção do modelo é de fundamental importância, sendo provável a existência de diversos pontos de evolução na primeira versão. Para exemplificar, algumas considerações feitas no passo 2 podem ser revistas; novas situações podem ser incluídas; métodos de solução do modelo mais robustos e eficazes podem ser adotados. A manutenção do modelo é essencial para que ele continue atualizado e suas respostas ao problema investigado continuem consistentes e confiáveis. Uma vez mais deve ser enfatizado que o processo de modelagem descrito acima, uma espécie de meta-modelo, não corresponde exatamente ao processo real. Ao contrário, é uma aproximação como são todos os modelos da realidade e possui limitações. O procedimento como foi descrito parece, por exemplo, consistir em etapas discretas que levam ao objetivo final que é a obtenção do modelo, porém isso raramente ocorre na prática. A construção de modelos se aproxima mais de um processo iterativo, conforme ilustra a Fig. 3.1. De acordo com o esquema a construção de um modelo não é um processo em cascata. Na verdade, pode-se dizer que o que existem são iterações e que ao fim de cada uma delas se têm uma versão do modelo que pode necessitar de refinamento ou simplificação. Figura 3.1 – Natureza iterativa do processo de modelagem. Capítulo 3 – Fronteiras da Modelagem de Aterramentos Elétricos 35 3.5 – Modelagem de aterramentos elétricos 3.5.1 – Introdução Conforme descrito nas três seções precedentes os modelos possuem uma ampla aplicação no cenário científico. Além disso, mostrou-se que um modelo, uma idéia aparentemente simples, encerra uma série de importantes questões filosóficas e conceituais. Ademais, constatou-se que a obtenção de modelos adequados é uma tarefa árdua. Este trabalho encontra-se inserido em um contexto de engenharia elétrica aplicada, particularmente no estudo de modelagem de aterramentos elétricos para avaliação de sua resposta a transitórios eletromagnéticos. Antes, porém, de propor um modelo para tal tipo de avaliação é importante realizar-se uma revisão e discussão da literatura pertinente do tema. Estes dois últimos pontos são o objetivo principal desta seção. Como já foi salientado na introdução deste capítulo, é realmente grande a quantidade de trabalhos propondo modelos para análise do comportamento transitório de sistemas de aterramento. No entanto, a despeito do elevado número de trabalhos, uma análise geral permite uma divisão em três grupos principais de metodologias adotadas: • métodos baseados na aplicação da teoria de campos; • métodos baseados na teoria de linhas de transmissão; • métodos baseados na teoria de circuitos. Obviamente, cada uma deles tem as suas vantagens, desvantagens e domínios de aplicação, dependendo do tipo de estudo que se pretende realizar. As metodologias citadas podem ainda ser desenvolvidas no domínio do tempo ou no domínio da freqüência. De forma análoga, cada uma delas possui limitações, que são devidamente expostos e discutidos ao longo desta seção. A exposição a seguir é feita sob um ponto de vista histórico da evolução do tema de modelagem de aterramentos. À medida que os modelos são descritos, eles são incluídos em um dos três grupos destacados. Por fim são apresentados alguns comentários críticos e uma discussão acerca de qual tipo de modelagem adotar neste trabalho. Capítulo 3 – Fronteiras da Modelagem de Aterramentos Elétricos 36 3.5.2 – Estudo do Estado da Arte Os primeiros trabalhos de investigação do comportamento de eletrodos frente a correntes impulsivas foram essencialmente experimentais. Esses trabalhos iniciais tinham por objetivo principal estimar a impedância impulsiva do eletrodo de aterramento. Por meio da impedância impulsiva e do conhecimento da magnitude das ondas de corrente de descargas atmosféricas, era possível estimar os níveis máximos de sobretensão a que o sistema de aterramento era submetido. Os resultados de testes experimentais realizados por pesquisadores durante as décadas de 30 e 40 [32]-[36] indicavam que a impedância impulsiva dos eletrodos é em geral diferente do valor da resistência CC ou CA a 60 Hz. Evidenciava-se, assim, o comportamento diferenciado dos eletrodos de aterramento quando solicitados por correntes impulsivas, quando comparados com o comportamento da mesma configuração solicitada por fenômenos de baixa freqüência. Trabalhos teóricos pioneiros investigando o comportamento de eletrodos de aterramento frente a fenômenos de alta freqüência foram conduzidos por E. D. Sunde. Esses trabalhos culminaram com a publicação, no fim da década de 40, de um dos livros mais citados em estudos envolvendo aterramentos elétricos [37]. Sunde abre o livro com uma revisão dos conceitos básicos do eletromagnetismo e das Equações de Maxwell. Nos capítulos seguintes trata de conceitos fundamentais como resistividade do solo e técnicas para medi-la, resistência de aterramento de configurações típicas e acoplamento entre os eletrodos. Os dois últimos capítulos são destinados à investigação do comportamento de eletrodos de aterramento para fenômenos rápidos. Para esse fim, Sunde adota uma abordagem baseada na teoria de linhas de transmissão em um meio condutivo. Nesse trabalho o autor estabelece fórmulas para cálculo dos parâmetros elétricos de uma linha enterrada dependentes do comprimento do eletrodo. Essas expressões são utilizadas em vários trabalhos atuais. São também estabelecidas relações entre as características de surto dos eletrodos e algumas variáveis como a resistividade e permissividade elétrica do solo, profundidade, diâmetro e comprimento do condutor, separação entre eletrodos e o efeito da ionização do solo. Apesar das grandes contribuições oriundas de testes experimentais e do trabalho de Sunde, até a década de 70 pouco se evoluiu no que diz respeito ao estabelecimento de modelos que fossem capazes de predizer o comportamento do aterramento frente a uma corrente impulsiva. Dessa forma, as configurações de aterramento empregadas eram geralmente aquelas adotadas para fenômenos lentos Capítulo 3 – Fronteiras da Modelagem de Aterramentos Elétricos 37 com algumas modificações. Essas modificações eram norteadas principalmente pelos resultados experimentais e pelas análises teóricas desenvolvidas por Sunde. No fim da década de 70 e início da década de 80 alguns trabalhos foram publicados propondo modelos no domínio do tempo baseados na teoria de linhas de transmissão [38]-[41]. Nesses trabalhos, o procedimento usual adotado é a divisão dos eletrodos de aterramento em diversos segmentos. Cada um desses segmentos é modelado como um circuito π , composto pelos parâmetros longitudinais R + jω L e pelos parâmetros transversais G + jω C , conforme ilustra a Fig. 3.2. Esses parâmetros são assumidos distribuídos ao longo de uma linha de transmissão enterrada no solo. A partir da definição dos parâmetros as equações de propagação de onda em uma linha de transmissão são solucionadas para cada segmento. O que diferencia basicamente os trabalhos que adotam tal abordagem é a forma como são calculados os parâmetros e o método empregado para solução das equações oriundas da teoria de linhas de transmissão. Deve-se destacar a importância desses trabalhos, que, apesar dos limites de validade, representam um primeiro esforço no sentido de estabelecer um modelo analítico, que fosse capaz de prever o comportamento transitório de configurações típicas de aterramento. Os principais trabalhos da época citada são descritos de forma sucinta a seguir. Figura 3.2 – Modelagem do eletrodo de aterramento por meio de uma série de circuitos π. No início de 1983 A. P. Meliopoulos e M. G. Moharam propuseram um modelo baseado na segmentação dos eletrodos de aterramento e modelagem de cada segmento como uma linha de transmissão [39]. Cada segmento é caracterizado pelos parâmetros R, L, G e C. O parâmetro G é calculado por meio da solução da equação de Laplace [42]-[45]. Os parâmetros L e C são determinados a partir de relações com G válidas para o modo de propagação TEM (Transverso EletroMagnético). No cálculo 38 Capítulo 3 – Fronteiras da Modelagem de Aterramentos Elétricos dos parâmetros não é incluído o efeito da interface solo-ar nem os acoplamentos entre os diversos segmentos. Obtidos os parâmetros elétricos, o método utilizado por H. W. Dommel [46] é adotado para solução das equações de propagação na linha. O modelo é utilizado para simulações de eletrodos horizontais e malhas lineares. A partir das simulações, os autores concluem que as sobretensões originadas de uma solicitação ao aterramento são dependentes da separação entre os eletrodos, do tempo de subida e da resistividade e permissividade elétrica do solo. Nesse trabalho é descrita ainda uma forma de se acoplar o modelo desenvolvido ao EMTP [48], [47]. C. Mazzeti e G. M. Veca, em 1983, apresentaram um modelo matemático para eletrodos horizontais [40]. O eletrodo é considerado infinito sendo modelado com uma linha de transmissão. Nesse trabalho os autores assumem o solo como um meio predominantemente condutivo. A partir dessa consideração desprezam a resistência R e a capacitância C. A indutância L e a condutância G são obtidas a partir das expressões clássicas para linhas aéreas, o que é uma suposição fisicamente inconsistente, já que nesse caso a linha de transmissão está enterrada. O efeito da interface solo-ar não é levado em consideração no cálculo dos parâmetros. As equações diferenciais de propagação na linha são solucionadas por integração numérica. Nas simulações implementadas são avaliados o comprimento efetivo, a impedância impulsiva e distribuição de potencial ao longo de condutores horizontais. Os autores concluem que o comprimento efetivo aumenta com a resistividade do solo e que a impedância impulsiva é dependente do comprimento do eletrodo, condutividade do solo, intensidade e forma da corrente injetada. Os resultados obtidos estão qualitativamente corretos, entretanto as avaliações quantitativas são comprometidas devido às aproximações adotadas. Os autores propõem ainda a consideração do efeito de ionização do solo por meio de um aumento aparente da seção transversal do eletrodo. Esse aumento é estimado a partir da determinação do r r campo elétrico na superfície do condutor por meio da conhecida expressão E = ρ J . No caso desse campo elétrico atingir um valor superior a determinado valor crítico, considera-se que se inicia o processo de disrupção elétrica no solo e há a formação de canais de plasma de alta condutividade. Esse aumento da condutividade do solo é representado por uma modificação da seção transversal do eletrodo. O novo raio do condutor é definido como a distância, medida a partir do centro do eixo do condutor, na qual o campo elétrico se torna inferior ao valor determinado como crítico. A verificação do campo elétrico na superfície do eletrodo é processada para cada passo de tempo e, quando ultrapassa o valor crítico, os parâmetros elétricos são recalculados para o novo raio. A partir da inclusão do fenômeno de ionização nas Capítulo 3 – Fronteiras da Modelagem de Aterramentos Elétricos 39 simulações é destacado que sua desconsideração pode gerar erros no cálculo da impedância impulsiva. R. Velazquez e D. Mukhedkar, em 1984, publicaram um trabalho propondo um modelo para eletrodos horizontais baseado na teoria de linhas de transmissão incluindo todos os parâmetros elétricos [41]. O eletrodo é dividido em segmentos e cada um é modelado como uma linha de transmissão com parâmetros R, L, G e C. Esses parâmetros são calculados por meio de equações propostas por Sunde [37], que dependem do comprimento de cada segmento. Os parâmetros são considerados distribuídos uniformemente. As equações empregadas no cálculo aparentemente incluem o acoplamento entre os segmentos, mas não o efeito da interface solo-ar. As equações diferenciais de propagação na linha são solucionadas com o auxílio da transformada de Laplace. O efeito de ionização é modelado de forma bastante similar ao trabalho de Mazzeti e Veca [40]. Entretanto, uma maior precisão é obtida no modelo de Velazquez e Mukhedkar já que o eletrodo é dividido em uma série de segmentos, sendo o campo elétrico calculado na superfície de cada um deles. O modelo é aplicado para avaliação da impedância impulsiva e distribuição de potencial para eletrodos horizontais. De uma forma geral a modelagem baseada na teoria de linhas de transmissão empregada nesses trabalhos do fim da década de 70 e início da década de 80 adotam algumas simplificações que merecem ser destacadas. Na dedução das equações de propagação de ondas de corrente e tensão ao longo de uma linha de transmissão, os campos eletromagnéticos que circundam o condutor são assumidos perpendiculares entre si (modo de propagação TEM). Isso não corresponde à situação real dos campos gerados pelas correntes em um eletrodo de aterramento, já que no caso de altas freqüências o componente longitudinal do campo elétrico não pode ser desprezado. Ademais, na dedução dessas equações considera-se que as variações da tensão transversal e da corrente longitudinal são lentas, ou seja, essas grandezas podem ser consideradas uniformes ao longo de uma seção da linha. Essa consideração pode não ser válida no caso de fenômenos rápidos, sendo que o eletrodo deveria ser segmentado em um número muito grande de elementos, o que inviabilizaria a aplicação da teoria de linhas. O cálculo dos parâmetros R, L, G e C também merece investigações adicionais. As relações típicas entre esses parâmetros, normalmente adotadas para linhas aéreas, não podem ser utilizadas, já que são válidas apenas para o modo de propagação TEM. Além disso, no cálculo dos parâmetros transversais G e C uma atenção especial deve ser dedicada ao se definir o caminho de integração do campo elétrico, já que, para fenômenos rápidos, o cálculo do potencial escalar depende desse caminho. É também importante destacar que as Capítulo 3 – Fronteiras da Modelagem de Aterramentos Elétricos 40 configurações simuladas possuem geometria limitada a condutores horizontais e malhas simples. Essas limitações estão ligadas ao limite de aplicabilidade da teoria de linhas de transmissão. Adicionalmente, a maioria desses modelos não inclui o acoplamento eletromagnético entre os diversos segmentos, o que é de fundamental importância para investigação de fenômenos de alta freqüência. Na tentativa de tratar ou minimizar alguns dos problemas citados, A. D. Papalexopoulos e A. P. Meliopoulos apresentaram, em 1987, um novo trabalho [49]. A abordagem adotada é bastante similar à empregada no trabalho anterior de um dos autores [39]. Assim, cada eletrodo é divido em diversos segmentos, cada um deles com parâmetros R, G, L e C. O cálculo desses parâmetros, ao contrário do trabalho anterior, é realizado a partir de uma solução mais elaborada das equações de Maxwell. Neste cálculo, porém, a parcela não conservativa do campo elétrico, que traduz o acoplamento indutivo mútuo, é descartada. Além disso, não fica claro se o efeito da interface solo-ar foi incluído no cômputo dos parâmetros. O modelo proposto foi utilizado para simular malhas de aterramento de diversos tamanhos inseridas em solos com diferentes valores de resistividade e permissividade. Apesar do grande número de simulações realizadas, elas se limitam à freqüência máxima de 420 Hz, o que restringe bastante a aplicabilidade dos resultados gerados na investigação de solicitações associadas a descargas atmosféricas. No fim no ano de 1989, D. Mukhedkar e outros autores apresentaram um novo trabalho, que propunha um modelo para análise do desempenho de malhas de aterramento frente a transitórios [50]. A partir da divisão dos eletrodos em diversos segmentos, cada um deles é modelado por meio de um circuito equivalente a parâmetros concentrados L e G. A conexão de todos os circuitos equivalentes permite formar uma rede, que representa a malha de aterramento. A solução dessa rede é processada mediante a aplicação da teoria de circuitos. Além de desprezar os efeitos resistivo e capacitivo, neste trabalho são adotadas outras simplificações como, por exemplo, a desconsideração do acoplamento eletromagnético entre os elementos e do efeito da interface solo-ar. Os resultados gerados foram comparados com dados experimentais e, a despeito das idealizações citadas, uma boa concordância foi observada de acordo com os autores. No entanto, os dados empíricos apresentados se referem a algumas situações particulares e solicitações relativamente lentas, o que pode comprometer análises direcionadas para fenômenos transitórios oriundos da incidência de uma descarga atmosférica. Por volta da segunda metade da década de 80, seguindo uma direção diferente dos trabalhos apresentados até então, F. Dawalibi e L. Grcev publicaram alguns trabalhos que foram a base para o primeiro modelo de aterramentos baseado na Capítulo 3 – Fronteiras da Modelagem de Aterramentos Elétricos 41 solução mais elaborada das equações de campo. Dawalibi já era nessa época um pesquisador renomado, autor de cerca de sessenta artigos nas áreas de aterramentos, resistividade do solo e interferência eletromagnética. Em 1986 publicou um artigo (dividido em duas partes) particularmente importante para o desenvolvimento do modelo para transitórios em aterramentos [51]. Nesse trabalho, o pesquisador analisa a resposta de condutores cilíndricos utilizando a teoria eletromagnética no domínio da freqüência. Entretanto, apesar da solução ter sido formulada para correntes de baixa e alta freqüência, as expressões analíticas utilizadas no modelo computacional foram desenvolvidas a partir de aproximações quase-estáticas para possibilitar a integração numérica da solução geral. Nesse mesmo ano, Grcev defendia sua tese de doutorado [52]. Nela, o pesquisador desenvolveu as bases da metodologia para análise de configurações de aterramento genéricas para todo o espectro de freqüência de interesse baseado em técnicas computacionais envolvendo Método de Momentos, integração numérica das integrais de Sommerfeld e Transformada Rápida de Fourier (FFT) [53], [54]. Essa metodologia foi aplicada inicialmente para configurações de hastes horizontais e os primeiros resultados computacionais estão na tese de Grcev [52]. Em 1990 os dois pesquisadores se encontraram para escrever um artigo que foi aclamado por muitos pesquisadores da época, sendo, por exemplo, denominado de masterpiece por A. M. Mousa na discussão original gerada no periódico [55]. Nesse artigo um modelo eletromagnético para transitórios em sistemas de aterramento é descrito de forma detalhada. Os aspectos principais desse modelo são expostos a seguir. O problema transitório é solucionado no domínio da freqüência, o que implica a consideração de um sistema linear. Para cada freqüência têm-se uma função de transferência e a solução no domínio do tempo é obtida a partir de uma transformada de Fourier inversa. O modelo é baseado na solução dos campos eletromagnéticos para segmentos cilíndricos condutores com a aproximação destes por correntes r filamentares. Para cada segmento é calculado o campo elétrico E ( r ) , devido às distribuições de corrente I ( r ') e carga q ( r ') ao longo da superfície do condutor, por r meio do potencial elétrico escalar φ ( r ) e do potencial vetor magnético A ( r ) : r r r E ( r ) = −∇φ ( r ) − jω A ( r ) . (3.1) O potencial escalar é obtido a partir da integração, ao longo do segmento, da distribuição de carga e da função de Green relacionada. O potencial vetor é obtido a Capítulo 3 – Fronteiras da Modelagem de Aterramentos Elétricos 42 partir da integração, ao longo do segmento, da distribuição de corrente e da função de Green relacionada. Com a introdução dessas integrais em (3.1) e após algumas manipulações, a seguinte equação integral para o campo elétrico é obtida: r jωµ E(r) = − I ( r ') G1 ( r, r ') dl , 4π ∫l (3.2) onde ω é a freqüência angular (rad/s), µ é a permeabilidade magnética do meio (H/m) e G1 ( r, r ') é a função de Green resultante das manipulações. Essa equação ainda considera o campo elétrico devido a um segmento em um meio semi-infinito. O efeito da interface solo-ar é considerado baseado no trabalho de A. Sommerfeld [53]. Esse efeito é introduzido por meio de alguns termos de correção nas funções de Green. Esses termos envolvem integrais conhecidas como integrais de Sommerfeld. A equação integral para o campo elétrico e a solução das integrais de Sommerfeld definem o modelo matemático. A solução do modelo é obtida a partir da aplicação do Método de Momentos, que permite a redução da equação integral (3.2) a um sistema de equações lineares para determinar a distribuição de corrente ao longo dos eletrodos [56]. O sistema de aterramento é divido em N segmentos e, nesse primeiro trabalho, é considerada uma distribuição de corrente longitudinal uniforme ao longo de cada segmento, podendo variar de um para outro. Ao fim do condutor a corrente é assumida igual a zero. A partir dessas considerações e da aplicação do Método de Momentos, a matriz de impedâncias é obtida avaliando-se o acoplamento entre os segmentos por meio da seguinte expressão: zmn = − Em ⋅ l m , In (3.3) onde os subscritos m e n detonam dois segmentos genéricos, l m é o comprimento do segmento m e Em é o campo elétrico tangencial no centro do segmento m devido a corrente I n do segmento n. A distribuição de corrente [ I ] é determinada pela solução da seguinte equação matricial: [ Z ] ⋅[ I ] = [ Zs I s ] , (3.4) Capítulo 3 – Fronteiras da Modelagem de Aterramentos Elétricos 43 onde [ Z ] é a matriz de impedâncias e [ Zs I s ] é a matriz de excitação; I s é a corrente de injeção e Z s é a impedância entre o segmento de injeção e os demais segmentos. Uma vez determinada a distribuição de corrente, o campo elétrico pode ser obtido em qualquer ponto a partir da soma das contribuições de cada segmento. A corrente transversal é calculada a partir do produto do campo elétrico normal à superfície do condutor e da condutividade do solo. O potencial elétrico em um ponto e a diferença de potencial entre dois pontos são obtidos pela integral de linha do campo elétrico. A impedância de aterramento é determinada pela razão entre o potencial elétrico do ponto de injeção e a corrente de injeção. Apesar desse primeiro trabalho não apresentar resultados computacionais para validar o modelo descrito, ele foi bem aceito, pois, além de bastante completo, é baseado na solução direta das equações de campo. Não obstante, alguns comentários merecem ser feitos. Na escolha da distribuição de corrente e divisão do sistema em segmentos, o primeiro segmento é adotado como ponto de injeção e sua corrente longitudinal é definida como igual à corrente injetada. Isso significa que no primeiro segmento existe apenas corrente longitudinal, sendo desprezada a corrente transversal (caso contrário, o princípio de conservação da carga é violado). Essa consideração pode ocasionar, por exemplo, algum erro no cálculo dos potenciais próximos ao ponto de injeção. No cálculo da corrente transversal o campo elétrico é avaliado em pontos bastante próximos ao condutor, o que gera instabilidade numérica. Para contornar o problema é utilizada uma expressão aproximada para o campo elétrico próximo aos condutores, de forma que a corrente transversal também possui um valor aproximado. Por fim é importante destacar que os autores não consideram a variação dos parâmetros eletromagnéticos do solo com a freqüência. Após esse trabalho inicial, outros foram publicados pelos autores de forma independente [57]-[66]. Dawalibi e outros autores realizaram a transposição do modelo desenvolvido juntamente com Grcev para diversas situações práticas de engenharia: cálculo de campos eletromagnéticos irradiados por condutores energizados [57], [58]; avaliação dos campos gerados por sistemas de aterramentos de subestações de distribuição [59]; avaliação da resposta transitória de malhas de aterramento de subestações de alta-tensão [60]; análise do desempenho de sistemas de aterramento de subestações de alta-tensão incluindo algumas estruturas metálicas acima do solo [61]. Grcev aplicou o modelo desenvolvido na avaliação do desempenho de eletrodos horizontais e malhas de aterramento [62], [63] e, juntamente com F. E. Menter, no cálculo dos campos eletromagnéticos oriundos de eletrodos de aterramentos Capítulo 3 – Fronteiras da Modelagem de Aterramentos Elétricos 44 energizados [64]. Grcev obteve ainda aprimoramentos importantes com relação ao tempo computacional e utilizou outras distribuições de corrente na aplicação do Método de Momentos [65]. Estudos importantes sobre o comportamento da impedância de malhas de aterramento ao longo do espectro de freqüência característico das descargas atmosféricas foram apresentados por Grcev [66]. Paralelamente aos desenvolvimentos de Grcev e Dawalibi, no início da década de 90, uma série de trabalhos foram publicados por S. Visacro e C. M. Portela, propondo uma modelagem no domínio da freqüência baseada nas equações de campo [67]-[69]. A versão final do modelo está detalhada na tese de doutorado de Visacro [70]. Na solução final do modelo são empregados alguns conceitos típicos da teoria de circuitos, o que justifica o nome HEM (Hybrid Electromagnetic Model) que recebeu mais tarde [71]. Na abordagem adotada, os eletrodos são divididos em diversos segmentos. Cada segmento é considerado fonte de uma corrente transversal IT que dispersa do condutor em direção ao solo e de uma corrente longitudinal IL que circula ao longo do segmento. A corrente IT gera um campo elétrico de natureza divergente que estabelece uma elevação de potencial em relação ao infinito no próprio segmento e nos demais. A corrente IL gera um campo elétrico não conservativo que estabelece uma queda de tensão no próprio segmento e nos demais. Considerando um par de segmentos, a corrente IT promove os acoplamentos capacitivo e condutivo (próprio e mútuo) entre eles e a corrente IL promove os acoplamentos indutivo e resistivo (próprio e mútuo). Esses acoplamentos são computados a partir da definição das impedâncias transversal ZTij e longitudinal ZLij entre os segmentos, onde o índice i se refere ao segmento receptor e o índice j se refere ao segmento emissor de campo. A partir dessas considerações são estabelecias as seguintes equações matriciais: Vij = ZTijITj , (3.5) ∆Vij = ZLijILj , (3.6) onde Vij se refere ao potencial médio do elemento i devido à corrente transversal do elemento j e ∆Vij é a queda de tensão ao longo do elemento i devido à corrente longitudinal fluindo no elemento j. As grandezas mencionadas são calculadas com o auxílio do potencial escalar elétrico e potencial vetor magnético. Nesse cálculo os efeitos de propagação são incluídos. O efeito da interface solo-ar é considerado por meio da aplicação do método das imagens tradicional, o que constitui uma aproximação [42]-[45]. Na solução do modelo estabelecido pelas equações (3.5) e (3.6) são utilizadas algumas relações típicas da análise de circuitos. O potencial médio Capítulo 3 – Fronteiras da Modelagem de Aterramentos Elétricos 45 em cada segmento é definido como a média entre os potenciais nodais e a queda de tensão ao longo do segmento como a diferença entre os potenciais nodais. As correntes transversal e longitudinal, em cada nó, são relacionadas por meio da lei de Kirchhoff das correntes. A partir da aplicação dessas relações, as equações (3.5) e (3.6) são acopladas em um único sistema do tipo A.VN = b. Nesse sistema o vetor VN se refere às tensões nodais, o vetor b se refere à injeção de corrente em cada nó e a matriz A se refere ao cálculo das impedâncias ZTij e ZLij, que dependem apenas da geometria do sistema de aterramento e das características eletromagnéticas do meio (solo). O cálculo da matriz A, e posterior determinação do vetor VN, permite o cálculo das demais grandezas de interesse, como a distribuição de corrente e de potencial ao longo do eletrodo. Esses trabalhos incluem ainda a variação dos parâmetros eletromagnéticos do solo com a freqüência, o que constitui uma contribuição significativa em relação aos demais trabalhos [18]. No entanto, a formulação adotada para quantificar essa variação merece investigações adicionais [19]. Esse modelo, dada sua generalidade, foi posteriormente aplicado na investigação de linhas, torres de transmissão e medição de ondas de corrente de descargas atmosféricas [72]-[74]. Outro importante estudo de sistemas de aterramento baseado na teoria de campo foi apresentado em meados de 1996 por R. G. Olsen e M. C. Willis [75]. Nesse trabalho, o objetivo principal dos autores é verificar as condições nas quais a aproximação de campos quase-estáticos é válida. Para tal fim, os autores propõem a modelagem de um eletrodo vertical a partir da teoria de antenas, nomeada modelagem exata. É suposta uma distribuição de corrente longitudinal e os campos eletromagnéticos são calculados com o auxílio do potencial de Hertz, sendo o efeito da interface solo-ar levado em consideração a partir da solução das integrais de Sommerfeld [45], [53]. A distribuição de corrente é obtida da solução da equação de Pocklington por meio do Método dos Momentos [42], [56]. Outra abordagem, baseada na modelagem do eletrodo vertical a partir da teoria de circuitos, nomeada modelagem quase-estática, é utilizada para fins de comparação e estabelecimento dos limites de validade da aproximação de campos quase-estáticos. Dois tipos de resultados gerados por ambas as concepções são comparados: distribuição de corrente e tensões de passo e toque. Da análise dos resultados os autores chegaram às seguintes conclusões principais: i) O método de cálculo exato das tensões de passo e toque se reduz ao método quase-estático quando a freqüência tende a zero; ii) Uma condição suficiente para validade da aplicação da aproximação quase-estática é que o comprimento dos eletrodos enterrados seja menor que um décimo do comprimento de onda no solo; iii) Para freqüências elevadas, os métodos quase-estáticos superestimam os valores de tensão de passo e toque. Deve-se ressaltar que a Capítulo 3 – Fronteiras da Modelagem de Aterramentos Elétricos 46 metodologia dos autores é bastante interessante, pois buscam estabelecer limites de validade para modelos mais simplificados e não apenas comparar resultados e definir aqueles que concordam e aqueles que não concordam com a teoria de campo. Esse é um aspecto importante, já que, se bem definidos os limites de validade de cada teoria, pode-se aplicar, por exemplo, a teoria de circuitos na resolução de determinados problemas com a segurança de que o erro cometido é aceitável. Aplicações desse tipo permitem a redução do esforço computacional em diversas situações, além de possibilitar uma análise rápida e confiável de determinados problemas. Por fim, vale salientar que, apesar de apresentar uma contribuição importante, os critérios estabelecidos nesse trabalho se limitam à configuração de um eletrodo vertical. Não se pode afirmar, portanto, que os mesmos critérios são válidos para configurações de aterramento mais complexas. Após a predominância da pesquisa e estudo dos sistemas de aterramento a partir da teoria de campo durante os anos 90, ao final dessa década novos modelos baseados na teoria de circuitos e linhas de transmissão foram propostos. Mais precisos e robustos em relação àqueles modelos apresentados ao longo da década de 80, essa nova tendência de abordagem tem sido a predominantemente empregada por pesquisadores do tema durante os últimos anos. Aqueles trabalhos considerados mais relevantes dentro dessa nova tendência são descritos a seguir. Em 1999 A. F. Otero, J. Cidrás e J. L. del Álamo apresentaram um modelo no domínio da freqüência baseado na teoria de circuitos [76]. O sistema de aterramento é considerado como uma rede de condutores cilíndricos interconectados. Cada condutor é inicialmente dividido em diversos segmentos. A metodologia proposta é baseada no estudo dos acoplamentos indutivo, capacitivo e condutivo entre esses segmentos. Cada segmento é considerado como fonte de uma corrente longitudinal em seu interior e de uma corrente transversal que deixa o condutor em direção ao solo. Os segmentos são feitos suficientemente pequenos de maneira que o potencial em relação ao infinito (potencial médio) em cada um é considerado constante e igual à média entre suas tensões nodais. A partir desses conceitos é proposto um circuito equivalente do sistema de aterramento composto por nós e ramos. Cada ramo possui uma resistência própria e indutâncias próprias e mútuas associadas. Cada nó, devido à condutividade do meio circundante e dos efeitos capacitivos, possui uma fonte de corrente para o solo. O sistema de aterramento é solicitado pela injeção de uma onda de corrente em um ou mais nós. Baseado nas considerações acima, o circuito elétrico equivalente obtido é estudado a partir da tradicional técnica de análise nodal. A aplicação dessa técnica resulta em um sistema do tipo A.VN = b, onde o vetor VN se refere às tensões nodais, o vetor b se refere à injeção de corrente em cada nó e a matriz A se refere ao 47 Capítulo 3 – Fronteiras da Modelagem de Aterramentos Elétricos cálculo das resistências e indutâncias e dos acoplamentos indutivo, capacitivo e condutivo entre os segmentos. A resistência de cada condutor é calculada a partir de expressões típicas da literatura, que levam em consideração o efeito pelicular. A indutância mútua é calculada por meio da fórmula de Neumann [77]. Os acoplamentos condutivo e capacitivo são calculados com o auxílio do potencial escalar elétrico gerado pela corrente transversal. Nesse último cálculo, o efeito da interface solo-ar é levado em consideração aplicando o método das imagens modificado proposto por T. Takashima et al. [78]. No cálculo de todos os acoplamentos a aproximação quaseestática é adotada e os efeitos de propagação são desconsiderados. O cálculo da matriz A e posterior determinação do vetor VN permite o cálculo das demais grandezas de interesse. Todos os cálculos são realizados no domínio da freqüência; a resposta no tempo é obtida por meio da transformada inversa de Fourier. Os resultados obtidos aplicando o método proposto são comparados com estudos realizados por Grcev [65]. Os perfis de tensão obtidos para as configurações simuladas apresentarem comportamento similar àqueles obtidos por Grcev. São observadas, no entanto, diferenças entre os tempos de subida das ondas de tensão transitória e entre os valores máximos de sobretensão. Essas diferenças podem ter papel significativo no estudo de transitórios associados a ondas de corrente de altas freqüências. No início do ano 2000, os autores Otero e Cridrás, juntamente com Garrido, publicaram uma continuação desse trabalho incluindo o efeito da ionização do solo [79]. A inclusão da ionização é processada mediante um aumento do raio daqueles segmentos a partir dos quais ocorre a formação de canais de descarga para o solo. Supõe-se que a formação desses canais se dá nos casos em que o campo elétrico normal a cada segmento ultrapassa um valor limite Ec. O campo elétrico na superfície de cada r r r r segmento é obtido a partir da conhecida expressão J = σE +jω εE , onde J é r densidade de corrente que dispersa do condutor, E é o campo elétrico na superfície do condutor, σ é a condutividade elétrica do solo, ε é a permissividade elétrica do solo e ω é uma das freqüências representativas do espectro de freqüência associado à onda injetada. Note que nessa formulação a corrente de deslocamento é incluída, o que não ocorre nos modelos de Mazzetti e Velazquez no domínio do tempo. Na r expressão anterior, J é umas das grandezas obtidas a partir da determinação do vetor r VN. Calculado o campo elétrico E para todas as freqüências representativas do r fenômeno, aplica-se uma transformada inversa de Fourier e obtém-se E ( t ) . Assim, para cada instante de tempo, aqueles segmentos cuja intensidade de campo elétrico r associado E ( t ) for superior ao valor crítico Ec, têm seu raio r aumentado para um 48 Capítulo 3 – Fronteiras da Modelagem de Aterramentos Elétricos valor rc dado por rc ( t ) = r ⋅ E(t) Ec . O efeito de rc ( t ) é incluído no cálculo dos acoplamentos condutivo e capacitivo e, por meio de uma nova transformada de Fourier, obtêm-se uma nova solução no domínio da freqüência. A partir de uma transformada inversa, tem-se a solução final no domínio do tempo. Os resultados obtidos a partir da metodologia descrita foram comparados com aqueles obtidos por A. C. Liew e M. Darveniza [80]. Uma boa concordância entre os resultados foi obtida. Em 2001, Y. Liu e outros pesquisadores do departamento de eletricidade e descargas atmosféricas da Universidade de Uppsala, Suécia, publicaram um trabalho propondo um modelo “melhorado” para sistemas de aterramento, baseado na teoria de linhas de transmissão [81]. Na definição do modelo os autores assumem algumas simplificações. É adotada a aproximação de que o campo eletromagnético que circunda o condutor é quase-TEM. Elementos verticais, como, por exemplo, as hastes que interligam o sistema aéreo ao sistema de aterramento, são desconsiderados. O acoplamento entre elementos perpendiculares é desprezado, o que é plausível levando-se em consideração o acoplamento magnético, mas não o elétrico. Nesse trabalho não é interesse dos autores investigarem o fenômeno de ionização, portanto esse efeito não é incluído na modelagem. A partir das considerações descritas, cada eletrodo é assumido como parte de uma linha de transmissão. O acoplamento entre os condutores é considerado a partir do cálculo das capacitâncias, condutâncias e indutâncias mútuas. Esses e os demais parâmetros da linha (R, L, G e C) são obtidos por meio do software Ace da ABB [82]. Segundo os autores, esse software inclui nos cálculos o efeito da interface solo-ar, entretanto não deixam claro qual procedimento é adotado para essa finalidade. Obtidos os parâmetros, cada eletrodo, modelado como uma linha de transmissão, é dividido em diversas seções. Essas seções são assumidas suficientemente pequenas de forma que cada uma possa ser representada por um circuito concentrado. Os circuitos concentrados resultantes desse procedimento são implementados e simulados no EMTP/ATP [48]. Para fins de validação, os autores realizaram simulações de configurações similares às realizadas por Grcev em dois de seus trabalhos [65], [66]. Os perfis de tensão nas configurações simuladas apresentam comportamento similar àqueles obtidos por Grcev. Entretanto, existem diferenças entre os tempos de subida das ondas de tensão transitória e os valores máximos de sobretensão apresentam disparidades de até 8%, o que pode ser significativo no caso de distúrbios oriundos da incidência de uma descarga atmosférica. Por fim, os autores investigam a influência dos parâmetros permissividade relativa do solo, resistividade do solo e condutividade e diâmetro do Capítulo 3 – Fronteiras da Modelagem de Aterramentos Elétricos 49 eletrodo na distribuição de tensão transitória no sistema de aterramento. De acordo com os resultados obtidos, alguns pontos são destacados. A resistividade do solo é o parâmetro que mais influencia a resposta transitória dos eletrodos. A permissividade relativa possui influência moderada em solos de baixa resistividade, o que leva os autores a desprezarem o acoplamento capacitivo na maioria das simulações. Contudo, destacam que a influência da permissividade do solo deve ser considerada em solos de maior resistividade para obtenção de resultados mais precisos. A condutividade do eletrodo e o efeito pelicular praticamente não influenciam o pico de tensão transitória do sistema de aterramento, enquanto que um aumento do diâmetro do eletrodo tende a diminuí-lo. M. I. Lorentzou e outros apresentaram um modelo também baseado na teoria de linhas de transmissão em 2003 [83]. O procedimento adotado é aquele característico deste tipo de abordagem em que os eletrodos são divididos em elementos, cada um representado por um circuito π a parâmetros concentrados R, L, G e C. No texto não há informações sobre o procedimento de cálculo desses parâmetros; portanto não se pode afirmar se o efeito da interface solo-ar foi levada em consideração. As distribuições de tensão e corrente ao longo do eletrodo são obtidas a partir da solução das “equações do telégrafo” [77]. No procedimento de solução de tais equações, os autores estabelecem uma relação entre a corrente de injeção, representada por uma dupla exponencial, e as tensões nodais. Esse procedimento permite a obtenção de expressões matemáticas fechadas para corrente e tensão ao longo do eletrodo. O fenômeno de ionização é considerado a partir de uma variação dinâmica do raio do eletrodo. A formulação é aplicada na investigação de eletrodos horizontais, típicos de aterramentos de linhas de transmissão. Os resultados são comparados com outras formulações baseadas na teoria de circuitos, linhas de transmissão e simulações no EMTP, sendo uma boa concordância observada. Os resultados também são validados com dados experimentais obtidos por outros autores. No entanto, a carência de comparações com modelos mais precisos e dados experimentais realmente representativos de fenômenos de alta freqüência limita a confiabilidade do modelo. Em 2005, Y. Liu e outros pesquisadores da universidade de Uppsala publicaram um novo trabalho propondo uma abordagem não uniforme da teoria de linhas de transmissão para análise do transitório em sistema de aterramentos [84]. O procedimento geral é aquele tradicionalmente adotado na modelagem baseada na teoria de linhas; o eletrodo é dividido em segmentos e, depois de calculados os parâmetros elétricos para cada um, obtém-se a resposta transitória do sistema a partir da solução das conhecidas equações de uma linha de transmissão. A principal Capítulo 3 – Fronteiras da Modelagem de Aterramentos Elétricos 50 contribuição dos pesquisadores nesse trabalho está na metodologia adotada para o cálculo dos parâmetros elétricos. Segundo os autores, durante o transitório a distribuição de corrente nos segmentos não é uniforme e varia no tempo. Portanto, os diversos acoplamentos entre esses segmentos também devem variar no tempo. Adicionalmente, é considerado que os campos eletromagnéticos que circundam o eletrodo não são exatamente TEM, o que implica que o cálculo dos parâmetros elétricos depende do comprimento do condutor. As equações a serem solucionadas para cada segmento possuem então a seguinte forma: − − ∂V ( x, t ) ∂x ∂I ( x, t ) ∂x = re I ( x, t ) + l ( x, t ) ∂I ( x , t ) ∂t = g ( x, t ) V ( x, t ) + c ( x, t ) , ∂V ( x, t ) ∂t (3.7) . (3.8) Em (3.7) e (3.8) V ( x, t ) e I ( x, t ) são as distribuições de tensão e corrente ao longo do segmento, re é a resistência série por unidade de comprimento e l ( x, t ) , g ( x, t ) e c ( x, t ) são a indutância, condutância e capacitância por unidade de comprimento, respectivamente, na posição x e tempo t . As equações (3.7) e (3.8) são solucionadas pelo método de diferenças finitas no domínio do tempo (FDTD). No processo de solução, a cada passo de tempo, os parâmetros l ( x, t ) , g ( x, t ) e c ( x, t ) são recalculados. Isso garante a inclusão da variação no tempo dos diversos acoplamentos, apontada pelos autores. O outro ponto destacado, a dependência dos parâmetros com o comprimento do segmento, é levado em consideração baseado no trabalho de Sunde [37]. No cálculo dos parâmetros, o efeito da interface solo-ar é incluído a partir de coeficientes de reflexão, que são função das diferenças de condutividade e permissividade elétrica entre o solo e o ar. As expressões finais obtidas para os parâmetros elétricos são dependentes do comprimento do condutor, mas esses parâmetros são considerados distribuídos uniformemente ao longo do mesmo. O caráter não uniforme desse modelo está associado à variação dos parâmetros no tempo. Note ainda que, apesar dos autores destacarem que os campos não são TEM, as equações (3.7) e (3.8) são deduzidas para esse modo de propagação. O comprimento efetivo de eletrodos horizontais é avaliado a partir do modelo proposto, porém os resultados obtidos não são comparados com medições ou resultados de outros autores. Capítulo 3 – Fronteiras da Modelagem de Aterramentos Elétricos 51 Ainda em 2005, Jinliang He e outros publicaram um trabalho com o objetivo de avaliar o comprimento efetivo de cabos contrapeso para transitórios associados a descargas atmosféricas [85]. Nas análises teóricas os autores adotaram uma abordagem baseada na teoria de linhas de transmissão. Os eletrodos são divididos em diversos segmentos e cada um deles é modelado como circuito π a parâmetros concentrados R, L, G e C. Esses parâmetros são calculados a partir de expressões obtidas por Sunde [37], o que justifica a definição de modelo a parâmetros concentrados não-uniforme, segundo os autores. O efeito de ionização do solo é modelado por meio da mesma metodologia adotada por Velazquez e Mukhedkar [41]. Os autores não deixam claro como são solucionadas as equações das linhas de transmissão. A partir do modelo descrito, são investigados os fatores que influenciam o comprimento efetivo dos cabos contrapeso. As principais conclusões são: o comprimento efetivo aumenta com a resistividade do solo e tempo de frente da onda de corrente e diminui com a magnitude da corrente. Alguns resultados teóricos são comparados com medições. Apesar do modelo apresentado ser relativamente simples é observada uma ótima concordância entre simulações e medições, de acordo com os autores. Com base nos dados medidos e simulados, a partir da técnica de mínimos quadrados, é obtida uma fórmula para estimar o comprimento efetivo de cabos contrapeso. Em 2008, os autores apresentaram um novo trabalho em que o mesmo modelo é estendido para representação de malhas de aterramento [86]. A influência de diferentes parâmetros no desempenho de uma malha de aterramento frente a uma corrente de descargas é analisada. De acordo com os autores o desempenho é influenciado pela forma de onda injetada, amplitude e ponto de injeção. O conceito de área efetiva da malha de aterramento é investigado e, a partir de simulações, os autores apresentam uma fórmula para o raio efetivo dos eletrodos utilizados na construção de malhas para proteção contra descargas atmosféricas. 3.5.3 – Qual tipo de modelagem adotar? Tendo em vista a sucinta revisão dos principais trabalhos que propõem metodologias para investigação do comportamento transitório de um sistema de aterramento frente a fenômenos de alta freqüência, algumas análises preliminares podem ser esboçadas. Recentemente, um grande número de modelos para investigação do transitório associado a sistemas de aterramentos têm sido propostos. Entretanto, aparentemente não existe um consenso com relação aos limites de aplicabilidade de cada um deles, Capítulo 3 – Fronteiras da Modelagem de Aterramentos Elétricos 52 interpretação dos resultados e validade dos mesmos. Um ponto a ser destacado é a carência de resultados experimentais para validação dos modelos. Os modelos baseados na solução das equações de campo desenvolvidos no domínio da freqüência para cálculo de transitórios eletromagnéticos possuem algumas vantagens em relação àqueles desenvolvidos no domínio do tempo. Tais modelos são extremamente adequados para o estudo de campos eletromagnéticos e propagação de ondas. Por exemplo, no estudo da propagação de uma onda eletromagnética em um eletrodo de aterramento, os efeitos de defasamento e atenuação podem ser diretamente incorporados nas equações de campo relativas a cada freqüência. Além disso, a variação com a freqüência dos parâmetros eletromagnéticos do meio em que o aterramento está inserido pode ser incluída. Este último ponto é particularmente importante na investigação de sistemas de aterramento inseridos em solos típicos, cujos parâmetros eletromagnéticos (σ e ε) têm nítida variação com a freqüência, principalmente para espectros elevados. Deve-se ressaltar ainda que, devido ao fato de se basearem na solução direta das equações de Maxwell, esses modelos são aplicáveis a configurações genéricas. Por outro lado, os modelos desenvolvidos no domínio da freqüência costumam demandar grande tempo computacional para os cálculos, sendo este problema crítico para malhas de aterramento extensas, que exigem uma quantidade excessiva de segmentos. Por exemplo, para modelagem de uma malha de aterramento de subestação de 60 x 60 m² com elementos quadrados de 10 x 10 m² necessitar-se-ia facilmente da ordem de dez mil segmentos para obtenção de uma resposta satisfatória, o que significa a manipulação, para cada freqüência do espectro, de matrizes da mesma ordem. Deve-se observar, no entanto, que este tipo de problema já foi mais crítico no passado, em que os computadores possuíam freqüência de processamento e capacidade de armazenamento de dados sensivelmente inferiores aos dos computadores atuais. Ainda assim, é importante lembrar que, mesmo para um computador atual, uma simulação do exemplo citado pode consumir algumas horas. Outra desvantagem do cálculo no domínio da freqüência é que o mesmo não permite incorporar diretamente fenômenos não lineares que podem estar presentes no estudo de sistemas de aterramento, como por exemplo, a ionização do solo. Contudo, a inclusão de tais fenômenos pode ser feita de forma indireta, conforme discutido na seção 3.5.2 ou ainda por meio de rotinas que implementem um domínio híbrido freqüência-tempo. Os modelos baseados na teoria de linhas de transmissão assumem que a propagação do campo eletromagnético guiado pelo eletrodo é ditada pelo modo TEM. Mesmo em abordagens mais modernas em que os parâmetros são calculados por Capítulo 3 – Fronteiras da Modelagem de Aterramentos Elétricos 53 equações que dependem do comprimento do eletrodo, o modo de propagação TEM é implicitamente adotado, pois as equações de propagação, que são solucionadas, são deduzidas para esse modo. Essa representação não é fisicamente consistente, tendo em vista que o campo elétrico longitudinal não é desprezível em fenômenos de alta freqüência. Deve-se destacar, ainda, que as configurações permitidas por essa abordagem são limitadas a condutores horizontais não sendo adequada para representação de hastes verticais e configurações genéricas. Pode-se dizer, portanto, que o tratamento da propagação da descarga atmosférica por ondas trafegantes em uma linha de transmissão distancia-se razoavelmente do fenômeno de propagação real. Esse distanciamento é ainda maior quando o mesmo procedimento é adotado para hastes verticais. Ademais, como a modelagem baseada na teoria de linhas é geralmente realizada no domínio do tempo para o fenômeno específico investigado, ela não permite a inclusão da variação dos parâmetros do solo com a freqüência. Isso implica também que apenas uma freqüência representativa do espectro é considerada para o cálculo dos parâmetros do modelo de linha de transmissão. Em geral, a principal vantagem do emprego de metodologias baseadas na teoria de linhas de transmissão no domínio do tempo em relação ao emprego de metodologias baseadas na teoria de campo no domínio da freqüência é que aquelas, normalmente, demandam menor tempo computacional para os cálculos. Outra vantagem importante é que o desenvolvimento no domínio do tempo permite a inclusão direta de modelos que contemplam os efeitos não lineares. Em alguns casos, a opção por esses modelos pode ainda estar relacionada com a maior facilidade de integração com softwares da série EMTP ou similares. As metodologias baseadas na teoria de circuitos a parâmetros concentrados modelam os componentes de sistemas de aterramentos por associações simples de elementos RLC. Este tipo de modelagem pode ser desenvolvida no domínio da freqüência ou ainda utilizando programas computacionais que operem no domínio do tempo como softwares da série EMTP ou similares. Os modelos oriundos desta abordagem em geral não incluem de forma adequada o acoplamento entre os componentes do aterramento além de desconsiderar os efeitos de propagação. Esta última aproximação particularmente limita a aplicabilidade desta metodologia a freqüências da ordem de poucos kHz. Resta agora responder a importante pergunta que dá título a esta seção: qual tipo de modelagem adotar? A resposta a essa questão deve levar em conta dois aspectos principais: o conhecimento adquirido por meio da revisão da literatura apresentada e, ainda, a contemplação das características desejáveis de um modelo. 54 Capítulo 3 – Fronteiras da Modelagem de Aterramentos Elétricos Em relação ao primeiro aspecto deve-se salientar que o modelo a ser proposto é fruto da evolução do tema desde o início da década de 30. Uma análise dos erros e acertos, que resultaram em grandes contribuições dos pesquisadores ao longo dos anos, é de fundamental importância para formulação de um modelo fiel à realidade e desprovido de simplificações inconsistentes. Como disse certa vez o gênio Isaac Newton, “para enxergar mais longe é preciso se apoiar no ombro de gigantes”. O segundo aspecto está relacionado com a precisão, simplicidade e adequação do modelo. Na medida do possível deve-se buscar uma harmonia entre as duas primeiras características citadas com vistas à obtenção de um modelo adequado. Devido a carência de resultados experimentais para verificação das diferentes abordagens entende-se que o melhor caminho é adotar aquela que se baseia na descrição física mais apurada do fenômeno investigado. Portanto, a teoria de campo será adotada para formulação do modelo. Além disso, é objetivo deste trabalho modelar sistemas de aterramentos inseridos em solos típicos. Assim, os desenvolvimentos e cálculos são realizados diretamente no domínio da freqüência, que permite a inclusão da variação dos parâmetros eletromagnéticos do meio com a freqüência. As eventuais simplificações adotadas são definidas no Capítulo 4. Elas têm o objetivo principal de reduzir o tempo computacional e evitar uma elevada complexidade do modelo, que pode ser desnecessária. Os erros associados devem ser explicitados e, conforme destacado na seção 3.4, o modelo atualizado de forma a reduzi-los, por meio de melhorias e refinamentos. 3.6 – Conclusões A visão crítica e análises apresentadas nesse capítulo não têm por objetivo desqualificar os trabalhos citados. Na verdade, é anseio dos pesquisadores envolvidos no desenvolvimento dessa dissertação de mestrado incitar uma discussão acerca do domínio de aplicabilidade dos diversos modelos disponíveis na literatura para investigação da resposta de aterramento frente às descargas atmosféricas. É consenso entre os diversos pesquisadores que os efeitos das descargas atmosféricas são devastadores para os componentes do sistema elétrico. Nesse sentido, entendese que, ao propor um modelo para analisar o comportamento transitório do sistema, o mínimo de simplificações deve ser adotado. Não se deve insistir em adotar metodologias simplórias para investigação de um fenômeno tão sério e devastador. Porém, a necessidade de respostas rápidas para solução de alguns problemas deve 55 Capítulo 3 – Fronteiras da Modelagem de Aterramentos Elétricos ser levada em conta. Isso ocorre principalmente no atual mercado de empresas de consultoria em engenharia elétrica. Nesses casos, modelos mais simplificados podem ser adotados para análises qualitativas. O que não se pode confundir é a definição de modelos de engenharia com aqueles que oferecem respostas rápidas. Um modelo de engenharia deve oferecer, além de rapidez, respostas precisas e consistentes com a realidade física. Cabe aqui lembrar mais uma vez a importância do conhecimento dos conceitos básicos e leis da física relacionadas ao fenômeno investigado. Vale ressaltar, ainda, a importância desempenhada pelo trabalho de pesquisa, principalmente aquele realizado em parceria com empresas de engenharia aplicada. Espera-se apresentar, com base nas reflexões deste capítulo, um modelo que represente de forma consistente o comportamento transitório do aterramento. Obviamente simplificações serão assumidas; elas são inerentes ao conceito de modelo. No entanto, essas simplificações serão adotadas de forma que o fenômeno representado não seja distorcido. Espera-se, ainda, que esse trabalho gere muitas publicações e que elas sejam apreciadas e criticadas por diversos outros pesquisadores, assim como alguns trabalhos foram aqui criticados. Essas críticas com certeza serão fundamentais para o desenvolvimento de modelos cada vez mais precisos e, quem sabe, para a mudança na visão do que deve ser um verdadeiro modelo de engenharia. CAPÍTULO 4 – MODELAGEM DE ATERRAMENTOS ELÉTRICOS PARA FENÔMENOS TRANSITÓRIOS 4.1 – Introdução No presente capítulo é apresentado um modelo matemático para avaliação da resposta transitória de sistemas de aterramento. Levando-se em consideração o escopo desta dissertação, o conteúdo que será aqui abordado possui particular importância. Neste sentido, o autor convida os leitores a fazerem um balanço do que foi desenvolvido até o momento. No Capítulo 1 foi apresentada uma contextualização do tema investigado e destacados os objetivos principais desta dissertação, dentre eles, a avaliação do comportamento transitório de sistemas de aterramento. No Capítulo 2 foram apresentados os conceitos considerados mais relevantes para compreensão da resposta de aterramentos elétricos a correntes impulsivas de altas freqüências e destacadas as variáveis e fenômenos que influenciam seu comportamento. No Capítulo 3 foram analisadas algumas metodologias presentes na literatura técnica (nacional e internacional) de modelagem de aterramento e dos fenômenos associados ao seu comportamento com o objetivo de estimar sua resposta transitória. Restam ainda alguns pontos importantes a serem desenvolvidos nesta dissertação, dentre eles, um dos principais objetivos do trabalho: a avaliação do comportamento de sistemas de aterramentos frente à injeção de correntes advindas da incidência de descargas atmosféricas. Como avaliar tal comportamento? A resposta a essa pergunta, levando-se em consideração as importantes reflexões técnicas e filosóficas oriundas dos capítulos anteriores, é o objetivo principal deste capítulo. O modelo a ser descrito contempla os aspectos destacados como fundamentais ao longo e, principalmente, ao final do Capítulo 3. Assim, o modelo é baseado na solução das equações de campo no domínio da freqüência e procura estabelecer uma harmonia entre precisão e simplicidade, atendendo ao conceito de características desejáveis. Alguns aspectos do modelo em questão correspondem à tese de doutorado desenvolvida por S. Visacro [70]. Todavia, determinados pontos não abordados no trabalho deste autor são inseridos nesta dissertação como, por exemplo, Capítulo 4 – Modelagem de Aterramentos Elétricos para Fenômenos Transitórios 57 a inclusão do método das imagens modificado e solução do modelo por meio da aplicação do Método dos Momentos. Devido à generalidade da metodologia apresentada por Visacro, ela foi posteriormente ampliada para consideração dos acoplamentos entre elementos no ar e no solo e, em seguida, aplicada para avaliação do desempenho de linhas de transmissão frente a descargas atmosféricas e dos efeitos de contaminação das ondas de corrente de descargas atmosféricas medidas em torres instrumentadas [14], [72]. Os aspectos básicos da modelagem proposta são apresentados na seção 4.3 deste capítulo. Antes, na seção 4.2, são apresentadas as equações fundamentais que regem o modelo desenvolvido, as equações de Maxwell. Adicionalmente, ao fim do capítulo são destacados alguns detalhes adicionais importantes concernentes ao modelo. 4.2 – Equações de Maxwell e a essência do Eletromagnetismo Entre os anos de 1856 e 1864, James Clerk Maxwell apresentou três artigos essenciais para fundamentação e formulação da teoria eletromagnética como é hoje conhecida [87]-[92]. Neles, Maxwell analisou e sintetizou as contribuições relativas ao eletromagnetismo dadas por H. C. Oersted, J. C. F. Gauss, A. M. Ampère, M. Faraday, J. Henry, J. Biot, F. Savart e outros incluindo ele próprio, quem introduziu o conceito essencial de corrente de deslocamento. Nos dois primeiros artigos (Sobre as linhas de força de Faraday de 1856 e Sobre linhas de forças físicas de 1862), Maxwell analisa e escreve sob a forma diferencial as leis de Ampère e Faraday, deduz a equação da continuidade para circuitos fechados e chega ao conceito de corrente de deslocamento que é incluída na lei de Ampère [90], [91]. No terceiro artigo, Uma teoria dinâmica do campo eletromagnético (1864), todas as equações deduzidas nos artigos anteriores são colocadas juntas e o termo campo eletromagnético é introduzido [92]. Maxwell define o campo eletromagnético como aquela parte do espaço que contém e envolve corpos em condições elétricas e magnéticas. Neste artigo, Maxwell apresenta também seus resultados em vinte equações para as variáveis que ele denomina de momento eletromagnético, intensidade magnética, força eletromotriz, corrente verdadeira, corrente de deslocamento, corrente total e finalmente duas quantidades escalares, eletricidade livre (carga elétrica) e potencial elétrico. Em seu trabalho original escreveu todas as suas equações como somas de derivadas e usou letras diferentes para cada um dos três componentes de um vetor. Escreveu uma equação Capítulo 4 – Modelagem de Aterramentos Elétricos para Fenômenos Transitórios 58 para cada componente. A Tabela 4.1 ilustra os termos utilizados originalmente por Maxwell e os termos correspondentes em notação moderna. Tabela 4.1 – Conjunto de vinte variáveis utilizadas por Maxwell em seu trabalho Uma teoria dinâmica do campo eletromagnético [87], [89], [92]. Variáveis utilizadas por Maxwell Símbolos utilizados por Maxwell (equivalente moderno) (equivalente moderno) Momento eletromagnético (Potencial vetor magnético) F , G, H r (A) Intensidade magnética α , β ,γ (Intensidade de campo magnético) r (H ) Força eletromotriz P, Q, R r (E ) p, q, r r (J ) (Intensidade de campo elétrico) Corrente verdadeira (Densidade de corrente de condução) Deslocamento Elétrico f , g, h r (D) (Densidade de fluxo elétrico) Corrente total (Densidade de corrente de condução e ( p, q , r ) 1 = ( p , q, r ) + d ( f , g, h) dt r de deslocamento) ( JT ) Eletricidade livre e (Densidade volumétrica de carga) ( ρv ) Potencial elétrico ϕ (Potencial escalar elétrico) ( ϕ ou V ) Depois de apresentar todas as equações e as relações entre elas, Maxwell parte para investigar se as propriedades que constituem o campo eletromagnético são suficientes para explicar a propagação da luz através da substância etérea ainda em uso na época. Chega às equações de onda para os três componentes do campo magnético, com a velocidade das vibrações transversas comparável à velocidade da luz no vácuo. Conclui: “O acordo dos resultados parece mostrar que a luz e o magnetismo são efeitos da mesma substância, e que a luz é um distúrbio eletromagnético propagando através do campo de acordo com leis eletromagnéticas” [89]. Capítulo 4 – Modelagem de Aterramentos Elétricos para Fenômenos Transitórios 59 Uma síntese coerente da eletricidade, magnetismo e óptica foi finalmente apresentado por Maxwell em 1873 em seu livro (em dois volumes), Um tratado sobre eletricidade e magnetismo em que desenvolveu a interpretação dinâmica do eletromagnetismo [93]. Maxwell faleceu em 1879. Nos anos seguintes, sua teoria foi desenvolvida por vários pesquisadores. R. H. Hertz conduziu uma série de experiências fundamentais onde se propôs detectar ondas eletromagnéticas, além da luz, e medir suas velocidades. Ele produziu essas ondas usando dois fios ligados a uma bobina de arco metálico, cujas extremidades ficavam próximas uma da outra, e por onde faíscas podiam ser observadas (devido à corrente induzida no arco). Por meio desses experimentos, Hertz não só produziu ondas eletromagnéticas, mas demonstrou que elas tinham as propriedades de reflexão, refração e interferência. Em 1889 apresentou uma análise teórica das ondas emitidas por um radiador relacionando-as com suas fontes. Em 1894 o físico britânico O. J. Lodge foi o primeiro a fazer uso das ondas hertzianas (como eram chamadas) para telegrafia sem fio, porém não pensou que o fenômeno pudesse ter utilidades práticas. Esse feito coube ao célebre engenheiro N. Tesla que, em 1896, fez a primeira comunicação sem fio entre dois pontos distantes na cidade de Nova York e, posteriormente, ao engenheiro italiano G. Marconi que, em 1901, fez a primeira comunicação transatlântica [89]. Oliver Heaviside também possui um papel importante na divulgação das idéias de Maxwell [94]. Ele analisou em detalhes as conseqüências da teoria de Maxwell e estudou vários tipos de ondas eletromagnéticas. Em um artigo publicado em 1884 usou relações de simetria entre forças elétricas e magnéticas na formulação das equações do eletromagnetismo. Em seu livro Teoria Eletromagnética publicado em 1893 usou pela primeira vez a notação vetorial escrevendo rot e div em negrito [94]. Essa notação seria amplamente adotada desde então e as vinte equações originais escritas por Maxwell foram reduzidas às seguintes quatro equações para meios homogêneos, lineares e isotrópicos, no domínio do tempo [42]-[45]: r r ρ ∇•E = v , ε r r r ∂B , ∇×E = − ∂t r r ∇•B = 0, (4.1) (4.2) (4.3) Capítulo 4 – Modelagem de Aterramentos Elétricos para Fenômenos Transitórios r r r r ∂E . ∇ × B = µ J + εµ ∂t 60 (4.4) Em algumas representações, as equações (4.1)-(4.4) são escritas utilizando as relações constitutivas da matéria, ou seja [42]-[45]: r r D =εE , (4.5) r r B = µH , r r J =σE . (4.6) (4.7) Os campos podem ainda ser escritos em termos de dois potenciais, potencial r escalar elétrico ( V ) e potencial vetor magnético ( A ). As relações entre os campos eletromagnéticos e tais potenciais são dadas por [42]-[45]: r r r B = ∇× A , r r r ∂A . E = −∇ V − ∂t (4.8) (4.9) As equações de Maxwell (4.1)-(4.4) sintetizam todo o conhecimento relativo à teoria de campos eletromagnéticos e constitui-se a base da engenharia elétrica. Tais equações despertam tanta admiração, que certa vez ao se ver envolvido pela rara beleza das equações de Maxwell o físico Boltzmann, citando as palavras do Fausto de Goethe, perguntou: “Terá sido um Deus quem escreveu tais símbolos?”. Como obter um modelo para avaliação do comportamento eletromagnético de sistemas de aterramento a partir das equações de Maxwell? A resposta a essa importante questão é apresentada de forma detalhada na seção que se segue. 4.3 – Modelo matemático Deseja-se obter, a partir das equações de Maxwell, um modelo matemático para avaliação da resposta transitória de sistemas de aterramentos elétricos. O sistema a ser modelado, ilustrado na Fig. 4.1, é constituído por uma malha de aterramento genérica imersa em um solo real de características eletromagnéticas condutividade elétrica σs, permissividade elétrica εs e permeabilidade magnética µs. Capítulo 4 – Modelagem de Aterramentos Elétricos para Fenômenos Transitórios 61 Acima do solo e separado por uma interface horizontal está o meio ar com características eletromagnéticas condutividade elétrica σa, permissividade elétrica εa e permeabilidade magnética µa. Considera-se que a condutividade elétrica da malha de aterramento é muito superior à do solo. Ao ser solicitado por uma onda de corrente i(t), uma descarga atmosférica, por exemplo, é de fundamental importância o conhecimento do comportamento transitório do sistema de aterramento. Esse comportamento transitório pode ser previsto de forma confiável por meio da obtenção de um modelo que seja fisicamente consistente. Uma descrição de tal modelo é apresentada a seguir. Figura 4.1 – Sistema físico sob estudo. 4.3.1 – Condutores imersos em um meio infinito Para fins de aplicação na avaliação do desempenho de sistemas de aterramento, interessa desenvolver uma formulação aplicável a configurações genéricas de eletrodos, que seja eficiente do ponto de vista computacional e consistente com a física do problema. O modelo a ser apresentado é utilizado, principalmente, para o estudo do comportamento eletromagnético de sistemas de aterramento constituídos de condutores cilíndricos, que corresponde às aplicações práticas de interesse. Tendo em vista tais considerações, é apresentada uma forma compacta de representação do aterramento, baseada em simplificações consistentes, que mantenham as informações físicas essenciais do fenômeno investigado. Nesta abordagem, o comportamento global do aterramento é obtido a partir da superposição dos efeitos transversais e longitudinais para uma geometria cilíndrica correspondente aos eletrodos [70]. Cada eletrodo é considerado fonte de uma densidade de corrente transversal IT / L (sendo L o comprimento do eletrodo) que dispersa do condutor em direção ao solo e de uma corrente longitudinal IL que circula ao longo do eletrodo, conforme ilustra Capítulo 4 – Modelagem de Aterramentos Elétricos para Fenômenos Transitórios a Fig. 4.2 [14], [70], [72]. 62 Assume-se que ambas as fontes possuem variações harmônicas no tempo. Essas duas fontes de corrente são necessárias e suficientes para que o sistema sob estudo atenda as condições físicas impostas por todas as equações de Maxwell. A fonte de corrente transversal, devido ao fato de possuir natureza divergente, apresenta efeito elétrico, mas não magnético, conforme as equações (4.1) e (4.3). A cada fonte de corrente transversal está associado um campo elétrico de natureza conservativa. Este campo gera elevação de potencial em relação ao infinito em pontos genéricos no meio em que o eletrodo se encontra inserido, inclusive nos demais eletrodos. Por outro lado, a fonte de corrente longitudinal, devido ao fato de possuir natureza solenoidal, apresenta efeito eletromagnético, conforme as equações (4.2) e (4.4). A cada fonte de corrente longitudinal está associado um campo magnético, que por sua vez, gera um campo elétrico de natureza não-conservativa. O efeito deste campo elétrico de natureza solenoidal se traduz na força eletromotriz induzida em outros eletrodos e nele próprio. Pode-se afirmar, portanto, que as duas fontes de corrente descritas são particularmente adequadas para a formulação e solução dos campos eletromagnéticos oriundos de sistemas de eletrodos energizados. A dedução desses campos, associados a cada fonte de corrente, é apresentada a seguir. Figura 4.2 – Fontes de corrente em cada eletrodo. Seja um meio linear, homogêneo e isotrópico, caracterizado por uma constante de propagação γ , para grandezas com variação harmônica no tempo de freqüência angular ω , sendo γ = jωµ (σ + jωε ) = α + jβ , (4.10) Capítulo 4 – Modelagem de Aterramentos Elétricos para Fenômenos Transitórios 63 onde µ , σ e ε são a permeabilidade magnética, a condutividade elétrica e a permissividade elétrica do meio, respectivamente, e α e β correspondem à constante de atenuação e à constante de defasamento, respectivamente. Considere-se uma densidade de carga volumétrica p v distribuída dentro de uma esfera inserida neste meio e variando harmonicamente no tempo. Se o raio dessa esfera tender a zero, a distribuição de carga p v tende a uma carga pontual Q com pulsação harmônica no tempo, ou seja [95], [96]: Q = Qe jωt . (4.11) r Sendo r a distância entre um ponto genérico no meio e o centro da esfera e ar o r vetor unitário na direção radial, o potencial escalar V e o vetor campo elétrico EV associados à carga Q , são dados por: 1 Q −γ r V = 4πε r e . r r E = −∇V = 1 Q (1 + γ r ) e−γ r ar r V 4πε r 2 (4.12) Considere-se agora uma corrente elétrica IT fluindo para fora da esfera considerada. A relação entre a corrente IT , incluídas a corrente de condução e a corrente de deslocamento, e a carga Q é dada por: Q= ε σ + jωε IT , (4.13) sendo IT = IT e jωt . A partir das equações (4.13) e (4.14), (4.12) pode ser reescrita como (4.14) Capítulo 4 – Modelagem de Aterramentos Elétricos para Fenômenos Transitórios 1 IT −γ r V = 4π (σ + jωε ) r e . r r r 1 I − r γ T E = −∇V = (1 + γ r ) e ar V 4π (σ + jωε ) r 2 64 (4.15) As equações (4.12) e (4.15) foram deduzidas considerando-se uma distribuição de carga e uma fonte de corrente transversal pontuais. Seja agora um eletrodo cilíndrico genérico de comprimento L j , designado por eletrodo emissor (índice j), conforme ilustra a Fig. 4.3, do qual dispersa uma corrente total I Tj . Assumindo-se que o comprimento L j é suficientemente pequeno, por razões que se tornarão claras adiante no texto, pode-se considerar a corrente total I Tj distribuída uniformemente ao longo do eletrodo e o efeito transversal deste pode ser representado como uma soma finita de fontes de corrente transversal pontuais. Dessa maneira, a partir das Equações (4.15), o potencial escalar médio no ponto P , gerado pela corrente transversal total I Tj injetada no meio por todo o comprimento do eletrodo é dado por [14], [72]: V= ITj e−γ r 1 dl j . 4π (σ + jωε ) L∫j L j r Figura 4.3 – Eletrodo emissor (j) e distâncias ao ponto P. (4.16) Capítulo 4 – Modelagem de Aterramentos Elétricos para Fenômenos Transitórios 65 Suponha-se agora que o ponto P está sobre a superfície de outro eletrodo, designado por eletrodo receptor (índice i), de comprimento L i , conforme ilustra a Fig. 4.4. Nesta condição, o potencial escalar médio ao longo do eletrodo receptor, devido à densidade de corrente linear que deixa o eletrodo emissor é dado por [14], [72]: 1 Vij = L ∫ V dli i Li 1 V = ij 4π (σ + jωε ) L j L i e −γ r I Tj ∫ ∫ r dl j dli Li L j . (4.17) Figura 4.4 – Eletrodo emissor (j) e distâncias ao eletrodo receptor (i). Um procedimento similar pode ser adotado para obtenção dos campos e potenciais associados à fonte de corrente longitudinal. Considere uma corrente longitudinal filamentar I Lj fluindo ao longo do eletrodo emissor ilustrado na Fig. 4.3. O r r potencial vetor A e o vetor campo elétrico EA no ponto P devido a essa corrente são dados por [45]: Capítulo 4 – Modelagem de Aterramentos Elétricos para Fenômenos Transitórios r µ e−γ r r A = 4π ∫ ILj r dl j Lj r r µ E = − jωA = − jω A 4π e −γ r r ∫ ILj r dl j Lj , 66 (4.18) sendo I Lj = I Lje jωt . (4.19) Suponha-se agora que o ponto P está sobre a superfície de outro eletrodo, designado por eletrodo receptor, de comprimento L i , conforme ilustra a Fig. 4.4. Nesta condição, a força eletromotriz induzida no eletrodo receptor, devida à corrente longitudinal I Lj ao longo do eletrodo emissor, é dada por [14], [72]: r r ∆Vij = EA ⋅ dli ∫ Li . e −γ r r r µ ∆Vij = − jω ILj dl j ⋅ dli 4π L∫i L∫j r (4.20) As equações integrais (4.17) e (4.20) definem o modelo matemático. A partir da determinação das distribuições de corrente I Tj e I Lj as demais grandezas de interesse podem ser calculadas. Definido o modelo matemático deve-se proceder à solução do mesmo por meio da aplicação de uma técnica adequada. A escolha desta técnica é crítica para o desenvolvimento do modelo, posto que ela deve manter um compromisso entre precisão, complexidade do código computacional resultante e tempo de processamento. Os detalhes concernentes à solução do modelo são apresentados na seção seguinte. Antes, porém, julga-se oportuno alguns comentários com relação ao modelo apresentado. As equações (4.17) e (4.20) são essenciais para interpretação do modelo e quantificam uma informação física fundamental para o fenômeno investigado: a interação eletromagnética entre os diversos eletrodos. As equações (4.17) podem ser interpretadas fisicamente como a interação eletromagnética entre dois eletrodos quaisquer devido às fontes transversais, onde Vij é a elevação de potencial médio em relação ao infinito no eletrodo receptor devido ao campo elétrico divergente associado Capítulo 4 – Modelagem de Aterramentos Elétricos para Fenômenos Transitórios 67 à corrente transversal I Tj no eletrodo emissor. As equações (4.20) podem ser interpretadas fisicamente como a interação eletromagnética entre dois eletrodos quaisquer devido às fontes longitudinais, onde ∆Vij é a força eletromotriz induzida no eletrodo receptor devido ao campo elétrico solenoidal associado à corrente longitudinal I Lj no eletrodo emissor. A completa avaliação do comportamento de cada eletrodo deve contemplar os efeitos físicos característicos de ambas as fontes, transversal e longitudinal. r De acordo com as Equações (4.15) e (4.18) o vetor campo elétrico total E no ponto P é dado por: r r r E = EV + EA , (4.21) r onde a parcela EV está associada à natureza divergente do campo elétrico e a r parcela EA está associada à natureza solenoidal do campo elétrico. Da mesma forma, a tensão entre dois pontos genéricos a e b , Vab , é dada por: b r b r r r Vab = ∫ E ⋅ dl = ( Va − Vb ) + ∫ E A ⋅ dl , a (4.22) a r sendo d l o vetor diferencial de comprimento na direção do caminho de integração entre os pontos a e b ; Va e Vb os potenciais nos pontos a e b , respectivamente, r devidos somente ao campo elétrico EV , ou seja, independentes do caminho de b integração; r ∫E A r r ⋅ dl a parcela da tensão devida ao campo elétrico EA , que depende a do caminho de integração. É importante ainda salientar a relação entre a corrente longitudinal IL e a corrente transversal total IT em cada eletrodo. Em princípio, considerando-se que ambas as fontes de corrente são função da posição ao longo do eletrodo, a relação mais geral entre elas seria: Capítulo 4 – Modelagem de Aterramentos Elétricos para Fenômenos Transitórios IL = IL ( l ) I T ( l ) dI L ( l ) . = dl L 68 (4.23) As equações (4.23) expressam fisicamente o princípio da conservação da carga, ou seja, a variação da corrente longitudinal ao longo do eletrodo corresponde exatamente à corrente que foi dispersa para o meio em que o eletrodo se encontra inserido. 4.3.2 – Solução do modelo matemático Conforme destacado na seção anterior, a partir da determinação das distribuições de corrente I Tj e I Lj outras grandezas de interesse podem ser calculadas. Portanto, o problema consiste em solucionar as equações integrais (4.17) e (4.20). Um método adequado para obtenção da solução de tais equações é o Método dos Momentos (MoM) [42], [56]. A aplicação do MoM permite a redução de uma equação integral a um sistema de equações lineares cuja solução pode ser obtida por meio de algoritmos numéricos de inversão de matrizes [56]. O procedimento inicial consiste em discretizar o sistema sob estudo, constituído de eletrodos cilíndricos, em N elementos uniformes cada um de comprimento l = Le , sendo Le o comprimento do eletrodo. A razão entre o N comprimento e o raio de cada elemento é muito maior que a unidade, o que permite a aproximação por correntes filamentares. Além disso, o comprimento de cada elemento é suficientemente pequeno de forma que a corrente total que dispersa do mesmo pode ser considerada distribuída uniformemente ao longo de l . Essas considerações são fundamentais e importantes no auxílio da escolha de funções base adequadas para representação das distribuições de corrente desconhecidas I Tj ( l ) e I Lj ( l ) . Tal escolha deve ser condizente com a variável física investigada, além de minimizar, sempre que possível, o esforço computacional de implementação. A corrente transversal total pode ser representada por uma combinação linear de N funções base PTn ( l ) . Em geral, a corrente I Tj ( l ) em qualquer ponto ao longo do eletrodo é dada por [42], [56]: Capítulo 4 – Modelagem de Aterramentos Elétricos para Fenômenos Transitórios 69 N ITj ( l ) = ∑ cTn PTn ( l ) , (4.24) n =1 onde cTn são coeficientes desconhecidos e a função base PTn ( l ) é definida como [42], [56]: 0 PTn ( l ) = 1 0 L < ( n − 1) l ( n − 1) l ≤ L ≤ nl . (4.25) L > nl Mas, de acordo com as equações (4.24) e (4.25), o coeficiente cTn corresponde à corrente transversal ITn do elemento n , ou seja, 0 cTn ( l ) = I Tn 0 L < ( n − 1) l ( n − 1) l ≤ L ≤ nl . (4.26) L > nl A partir das equações (4.24)-(4.26), a segunda das equações (4.17) pode ser reescrita, para um elemento qualquer, como Vij = 1 4π (σ + jωε ) l jl i N e −γ r I P l dl j dli . Tn Tn ( ) ∫l l∫ ∑ r n = 1 i j (4.27) Partindo da premissa de que a integral (4.27) não apresenta pontos de singularidade, a integração e a somatória podem ser permutados, então 1 Vij = 4π (σ + jωε ) l jl i e −γ r ITn ∫ ∫ PTn ( l ) dl j dli . ∑ r n =1 li l j N (4.28) Para determinação dos N coeficientes desconhecidos cTn em (4.24), ou, em outras palavras, para determinação da corrente transversal ITn em cada elemento são necessárias N equações linearmente independentes. Para um determinado n e fazendo-se j = n , a equação (4.28) fornece a elevação de potencial médio em relação ao infinito no elemento i devida à corrente transversal que deixa o elemento n . Agora, Capítulo 4 – Modelagem de Aterramentos Elétricos para Fenômenos Transitórios 70 fixando-se o índice i na equação (4.28) e variando o índice n de 1 até N e fazendo j = n , têm-se a elevação de potencial médio no elemento i devida às contribuições de todos os elementos, ou seja: Vi = IT 1 1 4π (σ + jωε ) l1l i +... + ITN ∫ ∫ PT1 ( l ) l i l1 1 4π (σ + jωε ) l N l i e−γ r 1 dl1dli + IT 2 r 4π (σ + jωε ) l 2l i ∫ ∫ PT 2 ( l ) li l 2 e−γ r dl2 dli + r −γ r e ∫ ∫ P (l) r TN dlN dli . (4.29) li l N Mas, variando-se o índice i de 1 até N obtêm-se N equações linearmente independentes cada uma interpretada como o potencial médio em cada elemento, assim 1 4π (σ + jωε ) l 1l 1 V1 = I T 1 ∫ ∫ PT 1 ( l ) l1 l 1 e −γ r 1 dl1dl1 + ... + I TN r 4π (σ + jωε ) l N l 1 PTN ( l ) ∫∫ l1 l N e −γ r dl N dl1 r . (4.30) . . . VN = I T 1 1 4π (σ + jωε ) l 1l N −γ r e ∫ ∫ P (l ) r T1 dl1dl N + ... + I TN l N l1 1 4π (σ + jωε ) l N l N −γ r e ∫ ∫ P (l) r TN dl N dl N lN lN As N equações (4.30) podem ser reescritas na forma matricial V = ZT I T , (4.31) onde V corresponde ao vetor elevação de potencial médio em relação ao infinito em cada elemento, IT ao vetor de corrente transversal em cada elemento e ZT é definida como matriz de impedância transversal. A dimensão dos vetores V e IT é N x 1 e da matriz ZT é N x N, em que N é o número total de elementos. Os termos na matriz de impedância transversal ZT são dados por: 1 zTij = 4π (σ + jωε ) l jl i e −γ r ∫ ∫ PTn ( l ) r dl j dli . li l j (4.32) Os termos z Tij correspondem à impedância transversal entre dois elementos, sendo um deles denominado elemento emissor de corrente (j) e outro receptor (i). Este Capítulo 4 – Modelagem de Aterramentos Elétricos para Fenômenos Transitórios 71 conceito está associado a uma impedância de circuito aberto, também conhecida como impedância generalizada [56]. A impedância zTij é igual ao potencial médio no elemento receptor, devido à fonte de corrente transversal no elemento emissor, dividido pela corrente transversal deste último. Ela representa a interação eletromagnética entre os diversos elementos e traduz fisicamente os acoplamentos elétricos (capacitivo e condutivo) próprio e mútuo entre eles. O valor de zTij depende apenas da geometria do aterramento e das características eletromagnéticas do meio. A corrente longitudinal pode ser representada por uma combinação linear de N funções base PLn ( l ) . Em geral, a corrente I Lj ( l ) em qualquer ponto ao longo do eletrodo é dada por N ILj ( l ) = ∑ cLn PTn ( l ) , (4.33) n =1 onde cLn são coeficientes desconhecidos e a função base PLn ( l ) é definida como L < ( n − 1) l 0 PLn ( l ) = 1 0 ( n − 1) l ≤ L ≤ nl . (4.34) L > nl Mas, de acordo com as equações (4.33) e (4.34), o coeficiente cLn corresponde à corrente longitudinal I Ln do elemento n , ou seja, 0 cLn ( l ) = I Ln 0 L < ( n − 1) l ( n − 1) l ≤ L ≤ nl . (4.35) L > nl A partir das equações (4.33)-(4.35), a segunda das equações (4.20) pode ser reescrita, para um elemento qualquer, como ∆Vij = − jω µ 4π N e −γ r r r I P l ( ) ∫ ∫ ∑ Ln Ln r dl j ⋅ dli . l i l j n =1 (4.36) Capítulo 4 – Modelagem de Aterramentos Elétricos para Fenômenos Transitórios 72 Partindo da premissa de que a integral (4.36) não apresenta pontos de singularidade, a integração e a somatória podem ser permutados, então ∆Vij = − jω µ 4π −γ r N e ∑ I ∫ ∫ P (l) r n =1 Ln Ln r r dl j ⋅ dli . (4.37) li l j Para determinação dos N coeficientes desconhecidos cLn em (4.33), ou, em outras palavras, para determinação da corrente longitudinal I Ln em cada elemento são necessárias N equações linearmente independentes. Para um determinado n e fazendo-se j = n , a equação (4.37) fornece a queda de tensão induzida no elemento i devida à corrente longitudinal ao longo elemento n . Agora, fixando-se o índice i na equação (4.37) e variando o índice n de 1 até N e fazendo j = n , têm-se a queda de tensão induzida no elemento i devida às contribuições de todos os elementos. Por meio deste raciocínio, de maneira bastante similar ao procedimento adotado para a fonte de corrente transversal, as quedas de tensão induzidas e correntes longitudinais em cada elemento podem ser relacionadas de acordo com a seguinte equação matricial: ∆V = ZL I L , (4.38) onde ∆ V corresponde ao vetor de quedas de tensão em cada elemento, IL ao vetor de corrente longitudinal em cada elemento e ZL é definida como matriz de impedância longitudinal. A dimensão dos vetores ∆ V e IL é N x 1 e da matriz ZL é N x N, em que N é o número total de elementos. Os termos na matriz de impedância longitudinal ZL são dados por zLij = − jω µ e −γ r r r P l dl j ⋅ dli . ( ) Ln 4π l∫ l∫ r i (4.39) j Os termos z Lij correspondem à impedância longitudinal entre dois elementos, sendo um deles denominado elemento emissor de corrente (j) e outro receptor (i). A impedância zLij é igual à queda de tensão induzida no elemento receptor, devido à Capítulo 4 – Modelagem de Aterramentos Elétricos para Fenômenos Transitórios 73 fonte de corrente longitudinal no elemento emissor, dividida pela corrente longitudinal deste último. Ela representa a interação eletromagnética entre os diversos elementos e traduz fisicamente os acoplamentos magnéticos (resistivo e indutivo) próprio e mútuo entre eles. O valor de z Lij depende apenas da geometria do aterramento e das características eletromagnéticas do meio. A Fig. 4.5 ilustra a distribuição de corrente ao longo do eletrodo de aterramento, levando-se em consideração as distribuições de corrente propostas para as fontes transversal e longitudinal. Pode afirmar que, para valores adequados de l , as distribuições de corrente propostas constituem uma boa aproximação da distribuição de corrente real. I Lj ( l ) l I Lj ( l ) Figura 4.5 – Distribuição de corrente ao longo do eletrodo. As equações (4.31) e (4.38) representam, respectivamente, os efeitos das fontes de corrente transversal e longitudinal, de forma independente. Contudo, o sistema físico a ser estudado é único e, portanto, não é independente. Logo, tais equações devem ser acopladas para que possam expressar relações dependentes e, assim, representar de forma consistente a resposta do sistema a solicitações diversas. O acoplamento entre os dois sistemas matriciais é realizado por meio de alguns passos, que são descritos sucintamente a seguir [14]. O primeiro passo corresponde à inversão das matrizes ZT e ZL e obtenção -1 -1 das matrizes admitância transversal YT = ZT e admitância longitudinal YL = ZL . A partir dessas relações as equações (4.31) e (4.38) podem ser reescritas como: Capítulo 4 – Modelagem de Aterramentos Elétricos para Fenômenos Transitórios 74 IT = YT V , (4.40) IL = YL ∆V . (4.41) O segundo passo corresponde a dois tipos de relacionamentos [10]: i. O primeiro corresponde à relação entre o potencial médio de cada elemento, dado pelos termos do vetor V, e os potenciais nodais do elemento correspondente. Esta relação determina que o potencial médio do elemento é expresso pela média aritmética dos potenciais nodais. ii. O segundo corresponde à relação entre a queda de tensão em cada elemento, dada pelos termos do vetor ∆V, e os potenciais nodais do elemento correspondente. Esta relação determina que a queda de tensão no elemento é expressa pela diferença entre os potenciais nodais. A Fig. 4.6 ilustra essas duas relações. Figura 4.6 – Relação entre queda de tensão ( ∆V ) e elevação de potencial médio ( V ) em cada elemento com os potenciais nodais do elemento em questão (Vk e Vl). A aplicação das duas relações descritas para cada elemento permite reescrever as equações (4.40) e (4.41) da seguinte forma: IT = YTM VN , (4.42) IL = YLM VN , (4.43) onde VN corresponde ao vetor de tensões nodais, ou seja, cada elemento do mesmo expressa a tensão em cada nó de conexão entre dois ou mais elementos. Esse vetor tem dimensão p x 1, onde p corresponde ao número total de nós. Observa-se que com a transformação das equações (4.40) e (4.41) para as equações (4.42) e (4.43), as matrizes YT e YL foram substituídas, respectivamente, pelas matrizes YTM e YLM Capítulo 4 – Modelagem de Aterramentos Elétricos para Fenômenos Transitórios 75 (denominadas matrizes modificadas), ambas de dimensão N x p. Tal substituição é fruto da transformação dos vetores V e ∆V em um único vetor de tensões nodais VN [14]. O terceiro passo corresponde ao estabelecimento de relações entre as correntes transversal e longitudinal. A lei de Kirchhoff das correntes é forçada para cada nó do sistema sob estudo, ou seja, a somatória das correntes que entram (ou que deixam) um determinado nó é nula. Na aplicação de tais relações a corrente transversal de cada elemento é dividida igualmente entre os nós extremos do elemento em questão, conforme ilustra a Fig. 4.7. Por meio desse procedimento, são estabelecidas relações entre as fontes de corrente transversal e longitudinal ao longo de todo o eletrodo. Devido às aproximações com relação às funções base utilizadas e à distribuição da corrente transversal em cada nó, a equação diferencial definida pelas equações (4.23) é aproximada por uma equação de diferenças. O estabelecimento de equações de diferença para as correntes em cada nó do sistema sob estudo permite reduzir as equações (4.42) e (4.43) a uma única equação matricial que assume a forma [14]: Ax=b a11 a12 K a1 p VN 1 1 a21 a22 L a2 p VN 2 = 0 , M M M M M M a p1 a p 2 K a pp VNp 0 (4.44) onde: • A é a matriz resultante do relacionamento das correntes transversal e longitudinal para cada nó do sistema sob estudo, de dimensão p X p. Em termos mais gerais, essa matriz representa uma composição das matrizes originais ZT e ZL , o que significa que seus termos dependem apenas da geometria do aterramento e das características eletromagnéticas do meio. • x é o vetor dos potenciais nodais VN , de dimensão p X 1. • b é o vetor correspondente à injeção de correntes externas, de dimensão p X 1. Este vetor é resultado da aplicação da lei de Kirchhoff das correntes para cada nó do sistema. Ele possui o valor “1” nos nós em que há injeção de corrente externa e “0” nos demais nós. No caso da equação (4.44) considerase injeção de corrente apenas em um nó. Capítulo 4 – Modelagem de Aterramentos Elétricos para Fenômenos Transitórios 76 Figura 4.7 – Concentração da corrente transversal nos nós do elemento. A partir da solução da equação matricial (4.44) e obtenção do vetor VN é possível computar as correntes transversal e longitudinal em cada elemento, a partir das equações (4.42) e (4.43), respectivamente, o que permite a determinação das distribuições de corrente transversal e longitudinal, a partir das equações (4.24) e (4.33), respectivamente. Obtidas as distribuições de corrente, pode-se calcular outras variáveis importantes e de interesse na análise de sistemas de aterramentos como impedância de aterramento, potenciais ao longo da malha de aterramento, tensões induzidas e campos eletromagnéticos no meio em que a malha se encontra inserida. 4.3.3 – Aspectos adicionais A. Transformada tempo X freqüência No modelo descrito o problema transitório é solucionado no domínio da freqüência. Assim, define-se o sinal de corrente, no domínio do tempo, a ser injetado no sistema. Este sinal pode ser, por exemplo, uma onda de corrente representativa de uma descarga atmosférica. A partir da aplicação de uma transformada direta de Fourier pode-se levantar o espectro de freqüência do sinal em questão e determinar o conjunto de freqüências de interesse. Para cada uma dessas freqüências o procedimento exposto na sub-seção 4.3.2 é aplicado. A partir da resposta em freqüência, a função de transferência H ( jω ) do sistema é obtida. Deve-se salientar que tal função de transferência é dependente apenas da geometria e características eletromagnéticas do aterramento e do meio em que está inserido. A partir da multiplicação, no domínio da freqüência, da função de transferência pela onda injetada, obtêm-se a resposta do sistema à onda injetada no domínio da freqüência. Finalmente, aplicando-se uma transformada de Fourier inversa é possível determinar a resposta do sistema frente à onda de corrente injetada no domínio do tempo. Capítulo 4 – Modelagem de Aterramentos Elétricos para Fenômenos Transitórios 77 Dessa forma, se i ( t ) representa a onda de corrente injetada no sistema de aterramento e x ( t ) representa a resposta do sistema a essa onda injetada, então { } x ( t ) = F-1 H ( jω ) ⋅ F i ( t ) , (4.45) onde F e F-1 são a transformada direta e inversa de Fourier, respectivamente, ω é a freqüência angular do sinal injetado. B. Dependência dos parâmetros do solo em relação à freqüência Os valores da condutividade e permissividade elétrica do solo variam com a freqüência. Assim, para fenômenos transitórios rápidos, nomeadamente aqueles relacionados com a incidência de descargas atmosféricas, é importante a inclusão da variação dos parâmetros eletromagnéticos do solo ao longo do espectro de interesse (0 a 1 MHz). Estudos de ordem experimental tentam quantificar, por meio de expressões aproximadas, a dependência desses parâmetros com a freqüência, conforme destacado no Capítulo 2. Neste trabalho, a variação da condutividade e da permissividade do solo em função da freqüência é considerada, salvo indicado o contrário, segundo o trabalho de Portela [19]. A escolha dessa formulação relaciona-se ao fato dela se basear em técnicas de medição mais precisas e em um tratamento mais rigoroso dos dados medidos. Os valores de condutividade e permissividade elétrica para as freqüências de interesse são determinados a partir da equação (2.4), apresentada na seção 2.2.5. Neste cálculo, os parâmetros α e ∆i são adotados de forma a se obter valores medianos e são dados pela equação (2.5). C. Composição da corrente no meio A corrente elétrica que eventualmente flui no solo é constituída por duas parcelas: a corrente de condução e a de deslocamento. A consideração de ambas é de fundamental importância, uma vez que, dependendo da faixa de freqüência considerada e da resistividade do solo, a relação entre tais correntes pode alcançar o valor unitário. No modelo apresentado ambas as parcelas são computadas. D. Efeitos não-lineares A dispersão de altas intensidades de corrente do eletrodo corresponde ao estabelecimento de campos elétricos intensos na região próxima ao mesmo. Tais Capítulo 4 – Modelagem de Aterramentos Elétricos para Fenômenos Transitórios 78 campos podem causar a ionização do solo, que corresponde a um fenômeno nãolinear. A inclusão desse efeito pode ser realizada de forma indireta, dentro de certa ordem de aproximação, mediante um aumento equivalente no raio do eletrodo de aterramento. Uma metodologia adequada para tal fim foi apresentada por Cidrás e outros e descrita na sub-seção 3.5.2 do Capítulo 3 [79]. E. Consideração do meio semi-infinito Como comentário final desta sub-seção, deve-se salientar que o cálculo dos termos das matrizes de impedância transversal e longitudinal, conforme apresentados na sub-seção 4.3.2, são válidos para um meio infinito. Contudo, no caso de sistema de aterramentos, os eletrodos estão inseridos em um meio que pode ser considerado como semi-infinito e não infinito. A inclusão do efeito da interface solo-ar é realizada de forma distinta para as fontes de corrente transversal e longitudinal. No cálculo dos termos da matriz de impedância transversal são somadas as parcelas associadas à imagem de cada elemento emissor, multiplicada por um fator que depende das características eletromagnéticas do meio. Este método é conhecido na literatura como método das imagens modificado e pode ser aplicado para avaliação do efeito da interface solo-ar na propagação dos campos eletromagnéticos associados à fonte de corrente transversal [14], [78]. A partir dessas considerações, a impedância transversal entre os elementos i e j, é dada por [14]: zTij = 1 e−γ r e−γ r ' ∫ ∫ PTn ( l ) dl j dli + ∫ ∫ Γr PTn ( l ) dl j 'dli , 4π (σ + jωε ) l jl i li l j r r' l i l j' onde Γr = (σ s + jωε s ) − (σ a + jωε a ) (σ s + jωε s ) + (σ a + jωε a ) (4.46) é o coeficiente de reflexão e os índices s e a correspondem ao solo e ar, respectivamente. No cálculo dos termos da matriz de impedância longitudinal são somadas as parcelas associadas à imagem simples de cada elemento emissor. Neste caso, o método das imagens tradicional é empregado para avaliação do efeito da interface solo-ar na propagação dos campos eletromagnéticos associados à fonte de corrente longitudinal. A partir dessas considerações, a impedância longitudinal entre os elementos i e j, é dada por [14]: Capítulo 4 – Modelagem de Aterramentos Elétricos para Fenômenos Transitórios µ e −γ r r r e− γ r ' r r PTn ( l ) z Lij = − jω dl j ⋅ dli + ∫ ∫ PTn ( l ) dl j ' ⋅ dli 4π l∫ l∫ r r' l l i j i j' 79 (4.47) Nas equações (4.46) e (4.47) l j , l i e l j ' correspondem aos comprimentos dos elementos emissor (j), receptor (i) e imagem (j’), respectivamente; dl j , dli e dl j ' correspondem aos elementos diferenciais de comprimento dos elementos emissor (j), receptor (i) e imagem (j’), respectivamente; r ' corresponde a distância entre a imagem (j’) e o elemento receptor (i). Deve-se salientar que a aplicação do método das imagens restringe a aplicação do modelo a freqüências entre 1 MHz e 2 MHz [62]. A inclusão do efeito da interface solo-ar é realizada de forma mais precisa mediante a solução das integrais de Sommerfeld para os campos oriundos dos eletrodos de aterramento. A inclusão de tais integrais na modelagem de aterramentos foi feita por Grcev e Dawalibi em um artigo de 1990, porém não são apresentados resultados neste trabalho [55]. Em trabalhos posteriores, os referidos autores adotam o método das imagens modificado [57]-[66]. Olsen também inclui as integrais de Sommerfeld na investigação de sistemas de aterramento; no entanto apenas configurações de aterramento bastante simples foram analisadas [75]. O trabalho original de Visacro inclui o efeito da interface solo-ar por meio do método das imagens tradicional tanto para fonte de corrente transversal quanto para a longitudinal [70]. 4.4 – Conclusões Neste capítulo foram apresentadas as características de um modelo, desenvolvido com base nas equações de Maxwell, que permite a avaliação da resposta de sistemas de aterramentos frente a fenômenos transitórios de alta freqüência. O fato de se basear diretamente nas equações de campo garante uma generalidade de aplicação do modelo. Assim, o método descrito pode ser aplicado para configurações genéricas de eletrodos de aterramento. Ademais, a utilização da metodologia desenvolvida não se restringe somente às análises de propagação de descargas atmosféricas, mas pode também ser estendida para outras análises em condições transitórias como, por exemplo, solicitações de baixa freqüência (tipo curto circuito), considerando-se a injeção de sinais com variação no tempo, que possuam transformada de Fourier. Capítulo 4 – Modelagem de Aterramentos Elétricos para Fenômenos Transitórios 80 Alguns aspectos do modelo apresentado correspondem à tese de doutorado apresentada por Visacro [70]. Todavia, algumas contribuições específicas desta dissertação merecem ser destacadas: i) O ponto de partida para a dedução das equações que expressam o modelo apresentado se baseia na consideração de uma fonte de corrente transversal e uma fonte de corrente longitudinal inserida no solo, similar à proposta de Visacro [70]. Entretanto, a obtenção das expressões que quantificam os acoplamentos eletromagnéticos entre os elementos do aterramento se processa de maneira relativamente distinta nos dois trabalhos, principalmente aquelas relacionadas ao acoplamento transversal. No trabalho de Visacro as expressões que definem o acoplamento transversal são obtidas diretamente da consideração de uma fonte de corrente transversal. Assim, aparentemente, o potencial escalar elétrico é determinado a partir de uma expressão incompleta do campo elétrico referente à fonte transversal de corrente, que não inclui a parcela associada ao efeito de propagação e que cai com o inverso da primeira potência da distância à fonte. Nesta dissertação, na determinação do potencial escalar elétrico, parte-se, primeiramente, de uma carga pontual e, posteriormente, estabelece-se uma relação entre esta carga e a fonte transversal de corrente. Tal relação permite a determinação direta do potencial escalar e, a partir dele, o cálculo do campo elétrico transversal completo, que inclui uma parcela que cai com o quadrado da distância à fonte e outra que cai com a primeira potência dessa distância, associada à propagação. A determinação das expressões que definem o acoplamento longitudinal se processa de maneira bastante similar em ambos os trabalhos. Vale lembrar apenas que, nesta dissertação, destaca-se de maneira clara que os acoplamentos longitudinais estão associados ao efeito integral da parcela não-conservativa do campo elétrico. Deve-se ressaltar que as expressões obtidas para os elementos das matrizes ZT e ZL, que expressam os acoplamentos eletromagnéticos entre os diversos elementos, são as mesmas. Todavia, a forma como foram conduzidas as deduções neste trabalho deixa clara a relação entre a modelagem proposta e aquela baseada na composição de dipolos de Hertz, uma vez que a fonte de corrente transversal está associada aos efeitos de carga em um dipolo e a fonte de corrente longitudinal aos efeitos da corrente que flui ao longo do dipolo. A Fig. 4.8 apresenta as duas modelagens. Capítulo 4 – Modelagem de Aterramentos Elétricos para Fenômenos Transitórios 81 l l Figura 4.8 – Modelagem proposta e dipolo de Hertz. ii) Nessa dissertação o efeito da interface solo-ar foi incluído de forma mais rigorosa por meio da aplicação do método das imagens modificado [14], [78]. A inclusão deste método a despeito do método das imagens tradicional pode ser relevante dependendo da freqüência e das características eletromagnéticas do solo. iii) A solução do modelo matemático desenvolvido é obtida mediante a aplicação do MoM. A utilização desse método garante uma maior generalidade, precisão e robustez à modelagem apresentada. Neste trabalho são utilizadas funções base do tipo pulso, uma vez que modelam bem a distribuição de corrente no aterramento. Todavia, funções base mais sofisticadas como, por exemplo, a triangular podem ser adotadas. A utilização de uma função deste tipo permitiria a discretização da malha de aterramento em um número menor de elementos, o que resultaria em ganho computacional. Ademais, a possibilidade de utilização das mais diversas funções base permite ampliar o campo de aplicação da modelagem apresentada. Assim, a modelagem de elementos aéreos (torre e cabos, por exemplo) poderia ser realizada mediante a aplicação da modelagem desenvolvida e escolha de uma função base adequada a esse tipo de estudo. A principal aplicação do modelo que se pretende discutir neste trabalho referese à avaliação do desempenho de sistemas de aterramento quando submetidos a transitórios oriundos da incidência de descargas atmosféricas. Essa avaliação é complexa e deve contemplar as diversas variáveis associadas aos sistemas de aterramentos. A análise da resposta transitória de sistemas de aterramentos, com base na metodologia descrita e a validação do modelo por meio de comparações com medições e outras modelagens, é apresentada no capítulo a seguir. CAPÍTULO 5 – MODELAGEM COMPUTACIONAL E ANÁLISE DA RESPOSTA TRANSITÓRIA DE ATERRAMENTOS ELÉTRICOS 5.1 – Introdução Conforme já comentado, o projeto e dimensionamento de sistema de aterramento são particularmente importantes no Brasil, devido às características peculiares do solo, que possui valores (típicos) de resistividade muito elevados se comparados àqueles de outros países. Tais características conferem uma importância ímpar ao aterramento elétrico, no que concerne à sua influência no desempenho do sistema aterrado frente a diversas solicitações. Dentre estas, aquelas advindas da incidência de descargas atmosféricas possuem particular relevância. Nesse sentido, é de fundamental importância um estudo aprofundado do aterramento, que inclua basicamente dois aspectos: i) análise de sensibilidade para o comportamento do aterramento, quando são consideradas faixas típicas das variáveis envolvidas (por exemplo, configuração do aterramento e parâmetros do solo); ii) estimativa do desempenho do sistema de aterramento quando submetido a solicitações impostas, principalmente aquelas associadas a surtos atmosféricos. A existência de um modelo matemático fisicamente consistente para o sistema de aterramento é um requisito essencial para esse tipo de estudo. A modelagem apresentada no capítulo anterior apresenta características bastante adequadas no que se refere à sua implementação computacional para as aplicações de interesse. Constitui-se, portanto, objetivo principal deste capítulo a apresentação e aplicação de uma ferramenta computacional, que implementa a modelagem descrita no Capítulo 4. Uma breve descrição dos aspectos computacionais mais relevantes do código gerado é feita na seção 5.2. Com o intuito de destacar a efetividade e potencialidade da ferramenta desenvolvida, apresenta-se uma seqüência de resultados de simulações envolvendo algumas análises clássicas e outras originais Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 83 deste trabalho. Os resultados gerados podem ser agrupados em dois conjuntos principais: i. Resultados para fins de validação: Comparação dos resultados gerados pela modelagem apresentada com medições e com os obtidos por outras filosofias de modelagem de aterramento. Esse conjunto de resultados tem o objetivo principal de destacar a efetividade da modelagem apresentada bem como validá-la. A comparação é apresentada na seção 5.3. ii. Resultados para fins de estudo: Análise de sensibilidade para o comportamento do aterramento dentro de faixas típicas das variáveis envolvidas e avaliação de seu desempenho quando submetido a surtos atmosféricos. Esse conjunto de resultados tem o objetivo principal de destacar a potencialidade da modelagem apresentada para análise e projeto de sistemas de aterramento. Essa análise é apresentada nas seções 5.4 e 5.5. 5.2 – Aspectos computacionais básicos No modelo proposto o problema transitório é solucionado no domínio da freqüência. Após a determinação do conjunto de freqüências de interesse o procedimento descrito na sub-seção 4.3.2 é aplicado, para cada uma delas. Esse procedimento foi implementado, inicialmente, em MATLAB® [97]. A escolha dessa plataforma foi feita por vários motivos, dentre eles a facilidade de entrada e saída de dados, facilidade de implementação e similaridade com as linguagens C/C++, além de ser uma excelente plataforma para realização de testes e implementação de versões beta. Atualmente, o código desenvolvido está sendo transferido para linguagem C, o que permite uma redução significativa do tempo computacional, uma vez que é uma linguagem compilada. O algoritmo a seguir apresenta os passos seguidos pela ferramenta computacional desenvolvida para cálculo do aterramento. 1. Entrada de dados 2. Discretização dos eletrodos e numeração dos nós 3. Para cada freqüência simulada Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 84 4. Cálculo dos parâmetros do solo e coeficiente de reflexão 5. Para cada elemento i 6. Para cada elemento j 7. Cálculo das impedâncias transversal e longitudinal entre os elementos i e j fim 6 fim 5 8. Obtenção das matrizes de impedância transversal e longitudinal 9. Cálculo das matrizes de admitância transversal e longitudinal 10. Cálculo das matrizes modificadas de admitância transversal e longitudinal 11. Obtenção do sistema matricial Ax=b 12. Solução do sistema matricial e cálculo das correntes transversal e longitudinal, da queda de tensão e potencial médio em cada elemento do eletrodo fim 3 13. Obtenção de resultados no domínio da freqüência 14. Algoritmo de transformação freqüência x tempo 15. Obtenção de resultados no domínio do tempo É oportuno destacar alguns aspectos referentes aos principais itens do algoritmo apresentado: • Item 1 – Os dados de entrada constituem-se apenas da geometria do aterramento (coordenadas do ponto inicial e extensão) e dos parâmetros do solo (resistividade e permissividade elétrica). • Item 2 – A discretização do eletrodo é automática e segue um algoritmo que garante que a aproximação por correntes filamentares seja válida. Neste trabalho foi adotado o comprimento de cada elemento igual a 10 vezes o raio Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 85 do eletrodo. A numeração dos nós também é automatizada, de forma a minimizar o esforço computacional, essencialmente naqueles casos em que há cruzamento de nós. Deve-se ressaltar que, uma vez que o número de elementos depende do comprimento e raio dos eletrodos, o tempo computacional aumenta com a extensão dos eletrodos. Assim, a simulação de grandes malhas de aterramento pode demandar algumas horas. • Item 3 – As freqüências a serem simuladas são determinadas de duas formas distintas, dependendo do tipo de resultado que se deseja obter. Para resultados no domínio da freqüência, deve-se, a partir da aplicação de uma transformada direta de Fourier, fazer o levantamento do espectro de freqüência da onda representativa da solicitação investigada. A faixa de freqüência simulada, neste caso, deve ser aquela em que os componentes de freqüência da solicitação possuem amplitude considerável (no caso de uma onda representativa da corrente de uma descarga atmosférica, essa faixa é, em geral, de 100 Hz a 1 MHz). Para resultados no domínio do tempo, além da análise anterior, deve-se atentar para o conceito de freqüência de amostragem introduzido por H. Nyquist. A freqüência de amostragem encontra-se intimamente ligada à precisão da resposta obtida no tempo [54]. • Item 4 – Os parâmetros do solo, condutividade e permissividade, são calculados em função da freqüência simulada. O valor da permeabilidade magnética do solo é adotado igual ao do vácuo. A constante de propagação no solo é função da freqüência e dos parâmetros eletromagnéticos citados. O coeficiente de reflexão está relacionado à consideração do meio semi-infinito e está bem definido na equação (4.46). • Item 7 – O cálculo das impedâncias transversal e longitudinal implica na solução das integrais duplas (4.32) e (4.39). Tais integrais não possuem solução analítica e foram avaliadas numericamente. Uma extensa pesquisa para determinação da técnica numérica mais adequada foi realizada, sendo o método de Gauss-Legendre escolhido [98]. Esse método além de possuir uma boa precisão para um número reduzido de iterações, em relação a outras técnicas tradicionais, é de fácil implementação computacional [98]. Neste trabalho resultados satisfatórios foram obtidos empregando-se 4 pontos de Gauss. Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos • 86 Itens 8 a 12 - Um aspecto importante com relação à avaliação dos acoplamentos eletromagnéticos refere-se ao fato de que a formulação apresentada satisfaz o teorema da reciprocidade [45]. Assim, os campos eletromagnéticos são os mesmos quando pontos de fonte de corrente e observação de campo são permutados. Portanto, as matrizes de impedância transversal e longitudinal, oriundas da aplicação, respectivamente, das equações (4.46) e (4.47), são simétricas. Essa especificidade permite a otimização do código e o ganho de tempo computacional na obtenção das matrizes de impedância (passo 8), admitância (passo 9), admitância modificada (passo 10) e na obtenção e solução do sistema matricial resultante (passos 11 e 12, respectivamente). • Item 13 – A atual versão da ferramenta computacional gera os seguintes resultados no domínio da freqüência: impedância de configurações básicas de aterramento, perfis de potencial ao longo da malha de aterramento, potencias no nível do solo, distribuição de corrente no aterramento, campo elétrico ao longo do eletrodo e no nível do solo. • Item 14 – A transformada freqüência x tempo foi realizada utilizando o algoritmo de Transformada Rápida de Fourier (FFT) [54]. A escolha desse algoritmo está relacionada à sua praticidade, por não necessitar de desenvolvimentos analíticos para ser implementado. Além disso, permite, com certa facilidade, a consideração de diferentes formas de onda injetada nos sistemas estudados. • Item 15 - A atual versão da ferramenta computacional gera os seguintes resultados no domínio do tempo: impedância impulsiva de configurações básicas de aterramento, tensão transitória resultante no ponto de injeção, potenciais e campo elétrico no nível do solo. Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 87 5.3 – Validação do modelo 5.3.1 – Comparação com resultados experimentais Analisam-se nesta seção duas configurações de aterramento, que fazem parte de um conjunto de sistemas de aterramento cuja resposta transitória a correntes impulsivas foi medida pela Electricité de France (EDF) [99]. Foram medidos os potenciais em relação ao terra remoto em pontos do sistema de aterramento, resultantes da injeção de correntes com frente de onda bastante rápida. Os resultados oriundos de tais medições são bastante utilizados na literatura para aferição de modelos de cálculo de sistemas de aterramento. Um desses modelos foi apresentado por Grcev e outro por Otero et al., ambos fundamentados em modelos no domínio da freqüência [65], [76]. No primeiro adota-se uma metodologia de cálculo mais robusta em que as equações de campo são diretamente solucionadas a partir da aplicação do Método dos Momentos. No segundo faz-se um cálculo aproximado, baseado na teoria de circuitos em que são incluídos os acoplamentos eletromagnéticos, porém desprezados os efeitos de propagação. Y. Liu e outros também utilizaram os dados experimentais comentados para fins de validação de um modelo de cálculo no domínio do tempo, baseado na teoria de linhas de transmissão [84]. Detalhes adicionais dos trabalhos citados podem ser encontrados no Capítulo 3. Portanto, a intenção desta seção é proporcionar uma primeira comparação entre os resultados obtidos com a modelagem desenvolvida nesta dissertação com aqueles obtidos da medição real em sistemas de aterramento. O primeiro sistema de aterramento está ilustrado na Fig. 5.1 e corresponde a um eletrodo horizontal de cobre de 15 m, com raio igual a 12 mm e enterrado a 0,6 m da superfície do solo. De acordo com as poucas informações encontradas nos artigos referenciados, cita-se apenas que o solo possui resistividade elétrica de 70 Ω.m e permissividade elétrica relativa estimada em 15, não sendo mencionadas quaisquer variações desses parâmetros com a freqüência. Também, não há maiores detalhes sobre a injeção da corrente e sobre a forma em que as medições foram efetuadas, mas apenas que a injeção de corrente foi feita numa das extremidades do cabo e que foram medidas os potenciais no ponto de injeção e a 3,5 m e 7 m do mesmo, em relação ao terra remoto. Em função das poucas informações apresentadas, para realização da simulação computacional, as seguintes considerações foram assumidas: Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos i. 88 A escassez de informações sobre a corrente injetada dificulta a reprodução da forma de onda para fins de simulação. Na simulação a forma de onda foi aproximada por uma dupla exponencial, ilustrada na Fig. 5.2, na tentativa de reproduzir a corrente real injetada apresentada por Grcev [65]. ii. Adotou-se um modelo de solo com condutividade do solo σ s e permissividade elétrica ε s invariantes com a freqüência e iguais a: σs = 1 S/m 70 ε s = 15ε 0 F / m Os resultados experimentais e aqueles obtidos por Grcev estão ilustrados na Fig. 5.3. Sob as considerações citadas, por meio da ferramenta computacional desenvolvida nesta dissertação, foram obtidos os resultados ilustrados na Fig. 5.4. De um modo geral os resultados da simulação são bastante próximos das medições e daqueles calculados por Grcev [65]. O ajuste entre as formas de onda medidas e calculadas foi bastante razoável, o que corrobora a efetividade da modelagem apresentada. Além disso, acredita-se que com uma melhor modelagem da onda de corrente injetada no eletrodo, com a representação mais apurada, principalmente, da frente de onda, seriam obtidos valores calculados bem mais próximos dos valores medidos disponibilizados. Figura 5.1 – Eletrodo horizontal com 15 m de comprimento [99]. Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 89 40 35 30 Corrente (A) 25 20 15 10 5 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 Tempo (µs) 0.5 0.6 0.7 Figura 5.2 – Corrente injetada no eletrodo horizontal. Figura 5.3 – Potenciais em relação ao terra remoto medidos e calculados em três pontos distintos (comprimento de 15 m, raio 12 mm, profundidade de 0,6 m, resistividade do solo igual a 70 Ω.m e permissividade relativa do solo igual a 15) – Fonte [65]. Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 90 800 700 600 V (x=0; t) Potencial (V) 500 400 V (x=3,5; t) 300 V (x=7; t) 200 100 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 Tempo (µs) 0.5 0.6 0.7 Figura 5.4 – Potenciais em relação ao terra remoto calculados em três pontos distintos a partir da modelagem apresentada nesta dissertação. O segundo sistema de aterramento está ilustrado na Fig. 5.5 e corresponde à haste vertical de 6 m, com raio igual a 16 mm. Informa-se na referência que o solo possui resistividade elétrica de 50 Ω.m e permissividade elétrica relativa estimada em 15, não sendo mencionadas quaisquer variações desses parâmetros com a freqüência. As informações com relação à corrente injetada são praticamente inexistentes neste caso, sendo apenas informado que a injeção foi feita na extremidade superior da haste e que se mediu o potencial neste ponto em relação ao terra remoto. Também não há menção sobre a profundidade de cravação da extremidade superior da haste, apesar de uma pequena variação deste parâmetro não causar grandes variações nos resultados. Em função das poucas informações apresentadas, para realização da simulação computacional, as seguintes considerações foram assumidas: i. Neste caso não foi possível reproduzir em maiores detalhes a onda de corrente injetada. Na simulação a forma de onda foi aproximada por uma dupla exponencial, ilustrada na Fig. 5.6, na tentativa de reproduzir uma onda similar à corrente real injetada apresentada por Grcev [65]. Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos ii. 91 Adotou-se um modelo de solo com condutividade do solo σ s e permissividade elétrica ε s invariantes com a freqüência e iguais a: σs = 1 S /m, 50 ε s = 15ε 0 F / m . Considerou-se a extremidade superior da haste a 0,5 m da superfície do solo. Figura 5.5 – Haste vertical com 6 m de comprimento [99]. 35 30 25 Corrente (A) iii. 20 15 10 5 0 0 0.5 1 1.5 Tempo (µs) 2 2.5 Figura 5.6 – Corrente injetada na haste vertical. 3 Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 92 Os resultados experimentais e aqueles obtidos por Grcev estão ilustrados na Fig. 5.7. Sob as considerações citadas, por meio da ferramenta computacional desenvolvida nesta dissertação, foram obtidos os resultados ilustrados na Fig. 5.8. Da análise das figuras, podem ser estabelecidas as mesmas conclusões apresentadas para o caso do eletrodo horizontal. Deve-se salientar, no entanto, que no caso da haste vertical, houve uma dificuldade mais elevada na fiel reprodução da onda de corrente real injetada. Uma vez mais vale destacar que, a partir de uma melhor modelagem da corrente de injeção, melhores resultados poderiam ser obtidos. Figura 5.7 – Potenciais em relação ao terra remoto medidos e calculados no ponto de injeção de corrente para uma haste vertical (comprimento de 6 m, raio 16 mm, resistividade do solo igual a 50 Ω.m e permissividade relativa do solo igual a 15) – Fonte [65]. 450 400 350 Potencial (V) 300 250 200 150 100 50 0 0 0.5 1 1.5 Tempo (µs) 2 2.5 3 Figura 5.8 – Potenciais em relação ao terra remoto calculado no ponto de injeção a partir da modelagem apresentada nesta dissertação (haste vertical). Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 93 5.3.2 – Comparação com resultados de outras modelagens Apresenta-se nesta seção a comparação de resultados de cálculo de campo elétrico de eletrodos energizados obtidos por meio da modelagem apresentada e aqueles obtidos por Grcev [62] a partir da aplicação do modelo desenvolvido juntamente com Dawalibi [55]. Este modelo foi selecionado para fins de comparação uma vez que também é baseado na solução direta das equações de campo e, em princípio, apresenta resultados confiáveis. O sistema de aterramento está ilustrado na Fig. 5.9 e corresponde a um eletrodo horizontal de 15 m (estendido entre os pontos x = 2,5 m e x = 17,5 m), com raio igual a 7 mm e enterrado a 1 m da superfície do solo. O solo é caracterizado por uma resistividade ρ = 2.000 Ω.m e permissividade relativa 4. O eletrodo é energizado por meio da injeção de uma corrente harmônica (1 + j0) para três freqüências distintas: 50 Hz, 2,247 MHz e 6,741 MHz. Essa configuração foi simulada por Grcev e por Dawalibi e Selby de forma independente [57], [62]. Resultados bastante similares foram obtidos em ambos os trabalhos. Nesta seção para fins de comparação com a modelagem desenvolvida adotam-se os resultados obtidos por Grcev, pois estão sob uma forma mais didática para apresentação. A partir da injeção das correntes citadas foi determinada a distribuição de campo elétrico na superfície acima do eletrodo ao longo do eixo x. Os resultados obtidos por Grcev estão ilustrados na Fig. 5.10 e aqueles obtidos a partir da modelagem desenvolvida nesta dissertação são apresentados na Fig. 5.11. De um modo geral os resultados da Fig. 5.11 estão em ótima concordância com aqueles obtidos por Grcev [62]. Pequenas diferenças são observadas apenas na curva referente à freqüência de 6,741 MHz. Figura 5.9 – Configuração simulada para cálculo de campo elétrico na superfície do solo [62]. Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 94 É importante salientar que os resultados apresentados foram gerados somente para fins de comparação, uma vez que o método das imagens modificado é válido apenas para freqüências próximas de 2 MHz. No trabalho citado de Grcev o efeito da interface solo-ar também é incluído por meio da aplicação do método das imagens modificado [62]. Figura 5.10 – Distribuição de campo elétrico na superfície do solo – Fonte [62]. Intensidade de campo elétrico (V/m) 25 50 Hz 2,247 MHz 6,741 MHz 20 15 10 5 0 0 2.5 5 7.5 10 12.5 15 Distância ao longo do perfil (m) 17.5 20 Figura 5.11 – Distribuição de campo elétrico na superfície do solo determinado a partir da modelagem apresentada nesta dissertação. Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 95 5.3.3 – Conclusões Os resultados desta seção indicam a consistência do modelo desenvolvido. Uma vez validado, é interessante explorar suas potencialidades na análise de sistemas de aterramento. A ferramenta desenvolvida pode apresentar papel importante no estudo de aterramentos elétricos, não somente por fornecer resultados objetivos nos domínios do tempo e da freqüência para seu comportamento em condições estabelecidas (configuração, tipo de solo e tipo de ocorrência), mas principalmente devido à possibilidade da realização de uma análise de sensibilidade relacionando as variáveis de interesse e o comportamento do aterramento. Dessa análise podem ser derivadas práticas concretas de, por exemplo, melhoria do desempenho do aterramento frente a correntes impulsivas de descargas. Nos itens a seguir ilustra-se a aplicação da modelagem apresentada no desenvolvimento de uma análise de sensibilidade das variáveis envolvidas no comportamento de aterramentos com relação ao seu desempenho, considerando configurações básicas do mesmo. Como o interesse principal deste trabalho é a avaliação do comportamento transitório do aterramento frente a fenômenos de alta freqüência, os resultados apresentados contemplam, basicamente, nos domínio do tempo e da freqüência, o comportamento do aterramento quando solicitado pela injeção de uma onda de corrente representativa de descarga atmosférica em termos de tempo de frente e de cauda. 5.4 – Resultados e análises de sensibilidade: eletrodos horizontais 5.4.1 – Introdução O objetivo desta seção é investigar o comportamento de eletrodos horizontais, nos domínios do tempo e da freqüência, avaliando-se aspectos importantes como: impedância na freqüência, impedância impulsiva, comprimento efetivo, tensões transitórias e campos eletromagnéticos gerados no meio. As configurações simuladas são compostas por eletrodos horizontais de comprimentos diversos, todos eles com raio igual a 1 cm e inseridos a uma profundidade de 0,5 m no solo. Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 96 5.4.2 – Faixa de valores para os parâmetros de interesse Com o objetivo de promover análises de sensibilidade para alguns parâmetros, simulou-se as configurações descritas anteriormente para diversas resistividades do solo e para diversos comprimentos do eletrodo, conforme apresentado a seguir. Resistividade do solo: 500, 1.000, 2.400, 5.000 e 10.000 Ω.m. Comprimento do eletrodo: 10, 15, 20, 30, 50, 70 e 90 m. Os valores adotados para resistividade do solo têm o objetivo de contemplar desde solos de baixa resistividade até solos de resistividade elevada, passando por valores típicos como 1.000 Ω.m (valor médio brasileiro) e 2.400 Ω.m (valor médio de Minas Gerais) [14], [15]. Nas simulações em que é incluída a variação dos parâmetros eletromagnéticos do solo com a freqüência, os valores de resistividade adotados são função da freqüência e da resistividade a 100 Hz e expressos de acordo com a formulação indicada no item B da seção 4.3.3. Os valores adotados para comprimento do eletrodo também tem por objetivo avaliar valores típicos de eletrodos horizontais encontrados em configurações práticas [15]. O valor utilizado para permissividade relativa do solo nas simulações foi 15, uma vez que esse é um valor usualmente adotado na literatura [65]. Nas simulações em que é incluída a variação dos parâmetros eletromagnéticos do solo com a freqüência, os valores de permissividade adotados são função da freqüência e expressos de acordo com a formulação indicada no item B da seção 4.3.3. 5.4.3 – Ondas de corrente injetadas Aparentemente, nas referências consultadas não há uma padronização no que diz respeito às características da onda de corrente de descarga utilizada em simulações, principalmente em sua região mais crítica, que é a frente de onda. Nas simulações apresentadas nessa seção são consideradas ondas com tempo de frente de 1,2 µs e 3 µs. O valor de 3 µs aproxima-se dos tempos de frente associados às primeiras descargas de retorno medidas na Estação do Morro do Cachimbo, no Brasil [14]. O valor de 1,2 µs aproxima-se dos valores de tempo de frente das descargas de retorno subseqüentes, também medidas na Estação do Morro do Cachimbo [14]. O tempo de cauda apresenta pouca influência no comportamento transitório do sistema de aterramento [70]. Nas simulações foi adotado o valor de 20 µs, ou seja, neste 97 Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos tempo a onda, depois de atingido o valor de pico, passa pela metade da amplitude máxima. As ondas injetadas apresentam um valor de pico de 1 kA. A onda de corrente de descarga foi modelada por meio da função dupla exponencial: i ( t ) = A ( eαt − eβt ) , (5.1) onde A , α e β são parâmetros ajustados para que a onda dupla exponencial apresente amplitude, tempo de frente e tempo de cauda desejados. Para a onda com tempo de frente de 1,2 µs os valores dos parâmetros são: A = 1.093,86 , α = 39.143,21 e β = 2.236.641,15 . Para a onda com tempo de frente de 3 µs os valores dos parâmetros são: A = 1.303,67 , α = 47.916,56 e β = 709.288,10 . A Fig. 5.12 ilustra as duas ondas de corrente. 1 Corrente (kA) 0.8 dupla exponencial (1,2/20 µs) 0.6 dupla exponencial (3/20 µs) 0.4 0.2 0 0 2 4 6 8 10 Tempo (µs) Figura 5.12 – Formas de onda de correntes injetadas. 5.4.4 – Determinação de impedância na freqüência Esta seção apresenta a análise da impedância de aterramento de eletrodos horizontais no domínio da freqüência. A análise da impedância no domínio da freqüência é de fundamental importância uma vez que, além de ser o domínio original Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 98 de sua definição, possibilita a fácil visualização das características condutivas, capacitivas e indutivas do aterramento bem como dos efeitos de propagação. A Fig. 5.13 ilustra o módulo (Fig. 5.13(a)) e o ângulo (Fig. 5.13(b)) da impedância de eletrodos horizontais de diferentes comprimentos, inseridos em um solo de ρ = 1.000 Ω.m, ao longo do espectro de freqüência característico de uma descarga atmosférica. Conforme se pode observar, em baixas freqüências, a impedância dos eletrodos apresenta módulo constante e ângulo de fase próximo de zero, aproximando-se do conceito de resistência de aterramento. Observa-se ainda que o aumento do comprimento do eletrodo implica na redução quase em proporção inversa do módulo da impedância de aterramento na faixa inferior do espectro. Nesta faixa, os r r efeitos condutivos, associados à corrente de condução ( J c = σE V ), são dominantes. Na faixa superior do espectro de freqüência torna-se clara a influência dos efeitos r r capacitivos, relacionados à corrente de deslocamento ( J d = jωεE V ), e dos efeitos r r indutivos, ligados à parcela não conservativa do campo elétrico ( E A = − jωA ). No caso dos eletrodos de menor comprimento (10, 15 e 20 m), a densidade de corrente transversal é elevada se comparada à dos eletrodos de maior comprimento. Neste caso, os efeitos transversais, associados à composição das correntes de condução e deslocamento, são dominantes dentro de certa faixa de freqüência. Particularmente para freqüências mais elevadas, torna-se evidente o efeito capacitivo, principalmente para os eletrodos de 10 e 15 m. Esse efeito pode ser observado na redução do módulo da impedância de aterramento e diminuição do ângulo da impedância até atingir valores negativos, conforme ilustra a Fig. 5.13. Os efeitos capacitivos são significativos até determinado valor de freqüência, a partir do qual os efeitos indutivos são preponderantes. A partir desse ponto é observado um aumento gradual do módulo e ângulo da impedância de aterramento. Tal fato pode ser observado para o eletrodo de 10 m e, principalmente, para os eletrodos de 15 e 20 m (ver Fig. 5.13). Por outro lado, no caso de eletrodos de maior comprimento, em que a densidade de corrente transversal é reduzida se comparada àqueles de menor comprimento, uma vez que a corrente que dispersa é melhor distribuída ao longo do condutor, os efeitos longitudinais tornam-se dominantes. Tal fato é sugerido pelo aumento do módulo e ângulo da impedância de aterramento na faixa superior do espectro de freqüência, para eletrodos de comprimento a partir de 30 m, como ilustra a Fig. 5.13. Deve-se salientar que na faixa de altas freqüências os efeitos capacitivos também estão presentes, todavia estes são “anulados” devido à significativa influência dos efeitos indutivos. Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 99 Pode-se ainda observar na Fig. 5.13, principalmente no caso dos aterramentos mais distribuídos (maiores comprimentos), que em altas freqüências a influência do comprimento do eletrodo é pequena, e os valores de impedância são muito próximos. Isso ocorre porque os efeitos de atenuação da onda de corrente são mais significativos em freqüências elevadas. O efeito de propagação pode ser observado mesmo em aterramentos mais concentrados nos casos em que a resistividade do solo é reduzida, uma vez que os efeitos de atenuação são mais acentuados em meios mais condutivos. A impedância do aterramento, definida no domínio da freqüência, depende da geometria do aterramento (no caso, principalmente o comprimento do eletrodo) e das características eletromagnéticas do meio (no caso, principalmente a resistividade do solo). Assim, na Fig. 5.13 foi avaliado o comportamento do aterramento para diferentes comprimentos, mantendo-se fixo o valor de resistividade. Todavia, é também de interesse avaliar o efeito da variação da resistividade do solo mantendo-se fixo o comprimento do eletrodo. Um gráfico dessa natureza é apresentado na Fig. 5.14, que ilustra o módulo (Fig. 5.14(a)) e ângulo (Fig. 5.14(b)) da impedância de aterramento de um eletrodo horizontal de 50 m, inserido em solos de diferentes valores de resistividade. A despeito do comprimento elevado do eletrodo, pode-se observar nitidamente a influência dos efeitos capacitivos no comportamento da impedância do aterramento inserido em solos de alta resistividade (2.400 Ω.m e principalmente 5.000 Ω.m e 10.000 Ω.m), dentro de certa faixa de freqüência. Esse comportamento é observado em solos resistivos, pois, em freqüências elevadas, os efeitos relacionados às fontes de corrente transversal são dominados pela corrente de r r deslocamento ( J d = jωεE V ), uma vez que o solo possui baixa condutividade, r r acarretando valores reduzidos de corrente condutiva ( J c = σE V ) em relação à de deslocamento. Os efeitos capacitivos na situação analisada são significativos até determinada freqüência a partir da qual, como já comentado em outra situação analisada, os efeitos indutivos são preponderantes. Para os solos de menores valores de resistividade dentre os analisados (500 Ω.m e 1.000 Ω.m), os efeitos indutivos são predominantes e praticamente não se observa comportamento tipicamente capacitivo da impedância de aterramento ao longo da faixa de freqüência avaliada. Pode-se notar, ainda, que os efeitos indutivos são mais pronunciados nos solos de menores valores de resistividade, uma vez que nestes casos os efeitos transversais associados às correntes capacitivas apresentam reduzida influência no comportamento do aterramento. Observa-se, também, uma menor variação no módulo da impedância Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 100 para solos de resistividade menores, comportamento relacionado ao fato dos efeitos de propagação serem mais pronunciados nesses solos. 160 Módulo da impedância (Ω ) 140 L = 10 m 120 L = 15 m 100 80 L = 20 m 60 L = 30 m 40 L = 50 m L = 70 m L = 90 m 20 2 10 3 4 10 10 Freqüência (Hz) 5 6 10 10 (a) 40 L = 90 m Ângulo da impedância (graus) 30 L = 70 m 20 L = 50 m L = 30 m 10 L = 20 m 0 -10 L = 15 m -20 L = 10 m -30 2 10 3 10 4 10 Freqüência (Hz) 5 10 6 10 (b) Figura 5.13 – (a) Módulo e (b) ângulo da impedância de eletrodos horizontais de aterramento em função da freqüência inseridos em um solo de ρ = 1.000 Ω.m. 101 Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 400 ρ = 10.000 Ω .m Módulo da impedância (Ω ) 350 300 250 200 ρ = 5.000 Ω .m 150 100 ρ = 2.400 Ω .m 50 ρ = 1.000 Ω .m ρ = 500 Ω .m 0 2 10 3 10 4 10 Freqüência (Hz) 5 10 6 10 (a) 60 ρ = 500 Ω .m ρ = 1.000 Ω .m Ângulo da impedância (graus) 40 ρ = 2.400 Ω .m 20 0 -20 ρ = 5.000 Ω .m -40 ρ = 10.000 Ω .m -60 -80 2 10 3 10 4 10 Freqüência (Hz) 5 10 6 10 (b) Figura 5.14 – (a) Módulo e (b) ângulo da impedância de eletrodo horizontal de aterramento de 50 m em função da freqüência para solos de diferentes valores de resistividade. É importante salientar que, com base nas análises e comentários apresentados, não se pode generalizar ou procurar “regras de bolo” no estudo de Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 102 sistemas de aterramento. Por exemplo, na análise de um eletrodo de aterramento de 50 m, os efeitos capacitivos podem ser desprezíveis (Fig. 5.13) ou acentuados dependendo do valor de resistividade do solo (Fig. 5.14). Conclusões similares podem ser ampliadas para análise dos efeitos indutivos. Assim, para obtenção de respostas confiáveis e consistentes com a realidade, é de fundamental importância um estudo aprofundado da sensibilidade do aterramento às diversas variáveis envolvidas. Estudos dessa natureza podem ser realizados mediante aplicação da ferramenta desenvolvida nesta dissertação. 5.4.5 – Determinação de impedância impulsiva No projeto de aterramentos a resposta dos eletrodos a correntes de descargas atmosféricas pode ser avaliada em função de três parâmetros básicos [5]: i) a elevação de potencial em relação ao infinito no ponto de injeção, usualmente designada por GPR (grounding potential rise); ii) o perfil de potencial ao longo dos eletrodos; iii) a distribuição de potencial na superfície do solo nas proximidades da malha de aterramento. Em grande parte das situações é de interesse, principalmente prático, o conhecimento das condições críticas, que podem ser determinadas e quantificadas a partir dos valores de pico de sobretensão desenvolvidos. Nesses casos, é comum aproximar a impedância de aterramento pela impedância de aterramento impulsiva (Zp). A partir da quantificação da impedância impulsiva, a máxima GPR pode ser prontamente estimada por meio da multiplicação de Zp pelo valor de pico da corrente injetada. Tal possibilidade é bastante adequada e atrativa do ponto de vista aplicado na avaliação e determinação de práticas imediatas de proteção contra descargas atmosféricas. A Fig. 5.15 apresenta curvas de impedância impulsiva em função do comprimento do eletrodo para diferentes valores de resistividade do solo e injeção de uma onda de corrente de 1,2/20 µs. Esse tipo de gráfico é bastante importante e útil na prática, inclusive quando da determinação do comprimento e instalação de eletrodos de aterramento. Suponha-se, por exemplo, que a resistividade medida no local seja da ordem de 2.400 Ω.m. De acordo com o gráfico da Fig. 5.15, a instalação de um eletrodo de 30 m determina um valor de Zp igual a aproximadamente 150 Ω. Dessa forma, conhecendo-se o valor de pico da onda de corrente injetada, pode-se prontamente determinar a máxima elevação de potencial no ponto de injeção. As curvas ilustradas na Fig. 5.15 foram simuladas para valores típicos de solos brasileiros; todavia, gráficos mais completos podem ser obtidos a partir da ferramenta Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 103 desenvolvida com o objetivo de auxiliar na determinação de comprimentos adequados de eletrodos horizontais e cabos contrapeso. De acordo com as curvas da Fig. 5.15, pode-se observar que eletrodos inseridos em solos de resistividade elevada apresentam valores significativos de impedância impulsiva. Ainda de acordo com a Fig. 5.15, constata-se que a impedância impulsiva diminui com o aumento do comprimento do eletrodo até determinado ponto, a partir do qual posteriores acréscimos não implicam na redução da impedância impulsiva. Esse resultado é de fundamental importância e é melhor explorado no item a seguir. Observa-se que em solos de menores resistividades, as variações de ZP também são menores, uma vez que os efeitos de propagação mais significativos. Resultado similar foi obtido na análise da impedância no domínio da freqüência. 700 600 Zp (Ω ) 500 400 300 200 ρ = 5.000 Ω .m ρ = 2.400 Ω .m 100 ρ = 1.000 Ω .m ρ = 500 Ω .m 0 10 20 30 40 50 60 70 Comprimento do eletrodo (m) 80 90 Figura 5.15 – Curvas de impedância impulsiva em função do comprimento do eletrodo para diferentes valores de resistividade e injeção de uma onda de corrente de 1,2/20 µs. 5.4.6 – Determinação de comprimento efetivo horizontais de eletrodos O comprimento efetivo (Lef) de eletrodos de aterramento é um conceito amplamente utilizado no estudo e projeto de sistemas de aterramento. Em geral, ele é definido como aquele comprimento do eletrodo a partir do qual um aumento de extensão não implica a redução da impedância impulsiva de aterramento. As curvas Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 104 da Fig. 5.15 permitem a quantificação do comprimento efetivo de eletrodos horizontais para os valores de resistividade selecionados e onda de corrente injetada. Para solo com ρ = 2.400 Ω.m, por exemplo, o valor de Lef é pouco mais que 50 m. Já um solo com ρ = 5.000 Ω.m, o valor de Lef é elevado, próximo de 90 m. A dispersão de corrente para faixas do condutor além do comprimento efetivo é desprezível; portanto, eletrodos de comprimento superior a este praticamente não contribuem para melhoria do desempenho ou redução da impedância impulsiva de aterramento. O conceito de comprimento efetivo encontra-se intimamente relacionado ao fenômeno de propagação das ondas de corrente e tensão ao longo do aterramento, característico de transitórios de alta freqüência, como já comentado no Capítulo 2. Assim sendo, o valor de Lef é menor para aterramentos solicitados por ondas de corrente rápida, uma vez que nesses casos os efeitos de propagação são mais acentuados. A Fig. 5.16 apresenta curvas similares àquelas da Fig. 5.15 para injeção de uma onda de corrente de 3/20 µs. Conforme se pode observar pela Fig. 5.16, os valores de comprimento efetivo para solos com mesma resistividade obtidos para injeção da onda de corrente de 3/20 µs são superiores àqueles obtidos para injeção da onde de corrente de 1,2/20 µs. Para solo com ρ = 2.400 Ω.m, por exemplo, o valor de Lef é perto de 80 m. Já um solo com ρ = 5.000 Ω.m, o valor de Lef é superior a 90 m. Pode-se observar, também, que o comprimento efetivo é tanto maior quanto maior for a resistividade do solo. Isso ocorre devido aos reduzidos valores de condutividade, o que diminui relativamente a atenuação das ondas de tensão e corrente que se propagam através do eletrodo. Das análises anteriores e curvas apresentadas, alguns comentários relevantes podem ser destacados: i. De acordo com a definição de impedância impulsiva e de comprimento efetivo, pode-se inferir imediatamente que acréscimos no comprimento do eletrodo além do efetivo não implica na diminuição da elevação de potencial máxima no ponto de injeção. 105 Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 700 600 Zp (Ω ) 500 400 300 200 ρ = 5.000 Ω .m 100 0 10 ρ = 500 Ω .m 20 ρ = 2.400 Ω .m ρ = 1.000 Ω .m 30 40 50 60 Comprimento do eletrodo (m) 70 80 90 Figura 5.16 – Curvas de impedância impulsiva em função do comprimento do eletrodo para diferentes valores de resistividade e injeção de uma onda de corrente de 3/20 µs. ii. De acordo com as Figs. 5.15 e 5.16 pode observar que o comprimento efetivo apresenta valores mais elevados para aterramentos solicitados por ondas de corrente mais lentas. Entretanto, deve-se observar que, por meio desse raciocínio, o valor de Lef pode se tornar excessivamente elevado para solicitações oriundas da injeção de ondas de corrente muito lentas. Nestes casos, o comportamento da impedância de aproxima daquele de uma resistência e acréscimos no comprimento implicam na “contínua” redução da resistência de aterramento. Assim, ao tratar do conceito de comprimento efetivo deve-se ficar claro que sua aplicação se restringe a investigação de transitórios de altas freqüências, associados principalmente à incidência de descargas atmosféricas. Assim, quando se utiliza os termos “onda rápida” e “onda lenta” nesta seção, entende-se que ambas representam ondas de corrente características de descargas atmosféricas; todavia, a rápida apresenta tempo de frente mais reduzido se comparado à lenta. iii. A Fig. 5.17 apresenta as curvas de impedância impulsiva em função do comprimento do eletrodo para um solo de resistividade 2.400 Ω.m e injeção de uma onda de corrente rápida (1,2/20 µs) e uma onda de corrente lenta (3/20 µs). Observa-se que as duas curvas apresentam comportamento bastante similar até que o comprimento efetivo para o eletrodo solicitado pela onda de Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 106 corrente rápida é atingido. A partir desse ponto, reduções no valor da impedância impulsiva somente são observadas para o eletrodo solicitado pela onda lenta até que seu comprimento efetivo também seja atingido. Das curvas ilustradas na Fig. 5.17 deriva-se uma observação importante; nem sempre a injeção de ondas de corrente mais lentas implica em níveis de sobretensão inferiores àqueles oriundos da injeção de uma onda de corrente mais rápida. Essa conclusão somente é verdadeira naqueles casos em que o eletrodo apresenta comprimento superior ao comprimento efetivo referente à onda de corrente rápida. Por exemplo, de acordo com a Fig. 5.17, para um eletrodo de 30 m, inserido em um solo de resistividade igual a 2.400 Ω.m, os valores de pico de sobretensão desenvolvidos a partir da injeção de uma onda de corrente rápida e lenta seriam praticamente os mesmos. Já para um eletrodo de 70 m, os valores de pico de sobretensão observados a partir da injeção de uma onda de corrente rápida seriam mais elevados se comparados àqueles observados a partir da injeção de uma onda lenta. 350 300 Zp (Ω ) 250 200 150 onda rápida onda lenta 100 50 10 20 30 40 50 60 70 Comprimento do eletrodo (m) 80 90 Figura 5.17 – Curvas de impedância impulsiva em função do comprimento do eletrodo para resistividade do solo 2.400 Ω.m e injeção de uma onda rápida (1,2/20 µs) e uma onda lenta (3/20 µs). Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 107 5.4.7 – Cálculo de tensão no domínio do tempo A avaliação das sobretensões transitórias desenvolvidas no aterramento é de fundamental importância, uma vez que revela parâmetros de grande importância prática, como, por exemplo, a tensão máxima a que fica submetido o aterramento quando da incidência da descarga atmosférica e o instante de tempo em que esse máximo ocorre. Ademais, pode-se avaliar o tempo a que o aterramento fica submetido a determinados níveis transitórios de tensão. A Fig. 5.18 ilustra os gráficos de sobretensão no ponto de injeção para eletrodos horizontais inseridos em solos com diferentes valores de resistividades e solicitados por uma onda de corrente de 1,2/20 µs. Das curvas da Fig. 5.18 pode-se derivar diretamente os valores de pico de tensão desenvolvidos no ponto de injeção do aterramento. Como esperado, nota-se que os maiores níveis de sobretensão são observados nos solos com valores de resistividade mais elevados. O comprimento efetivo do eletrodo pode também ser estimado a partir das curvas ilustradas na Fig. 5.18, como aquele comprimento a partir do qual não há redução significativa do valor de pico de tensão resultante no aterramento. Para um solo de resistividade de 500 Ω.m, por exemplo, percebe-se que um aumento do comprimento do eletrodo além de 30 m não resulta em redução do valor de pico de tensão. A partir desse comprimento, o valor máximo de tensão resultante não se modifica, mesmo quando se tem um eletrodo de 90 m. Deve-se salientar que nas curvas geradas adota-se um passo de 10 m até o comprimento de 30 m (10, 20 e 30 m) e 20 m até o comprimento de 90 m (30, 50, 70 e 90 m). Maior exatidão com relação ao comprimento efetivo nas situações investigadas, assim como em condições adicionais, pode ser obtida com um refinamento do procedimento pela diminuição do passo de variação do comprimento do condutor. Obviamente, a determinação do comprimento efetivo pode ser realizada mediante análise das curvas apresentadas anteriormente na Fig. 5.15. Os gráficos da Fig. 5.18 foram obtidos para valores fixos de resistividade e permissividade elétrica do solo. Anteriormente, já havia sido considerado qualitativamente o efeito da dependência dos parâmetros do solo com a freqüência. De forma geral, o aumento da condutividade com a freqüência implica na redução da impedância de aterramento. Já a diminuição da permissividade considerada isoladamente resulta no aumento dessa mesma grandeza. Entretanto, deve-se ressaltar que a corrente capacitiva é proporcional ao produto da permissividade pela freqüência, sendo observado um aumento dessa relação ao longo do espectro, o que implica, portanto, também na redução da impedância de aterramento. A análise apenas qualitativa dos efeitos da variação dos parâmetros do solo com a freqüência Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 108 não permite a quantificação das intensidades reais deste efeito sobre o comportamento do aterramento. Para ilustrar essa influência foi calculada a tensão resultante em um eletrodo de aterramento de 70 m ao ser injetada uma corrente impulsiva de 1,2/20 µs em uma de suas extremidades. No cálculo das sobretensões foram consideradas duas hipóteses: i) valores de resistividade e permissividade do solo variáveis com a freqüência e ii) valores fixos de resistividade e permissividade do solo. Os resultados para essas duas hipóteses estão ilustrados na Fig. 5.19. É notável o efeito da variação dos parâmetros do solo com a freqüência, que influencia não apenas na amplitude, mas na forma da onda de sobretensão resultante. O valor de pico da onda de tensão é reduzido nas simulações em que a variação dos parâmetros do solo é incluída. Tal efeito é prontamente compreendido uma vez que, conforme já comentado, um dos efeitos previstos quando da inclusão da dependência dos parâmetros do solo com a freqüência corresponde à redução da impedância de aterramento. Observa-se que o efeito na redução da amplitude máxima de tensão é mais pronunciado, principalmente, em solos de resistividade elevada. Tal efeito pode ser melhor compreendido a partir de uma análise da razão entre o valor da resistividade para baixas freqüências (100 Hz) e para freqüências mais elevadas, obtida a partir da formulação de Portela [19], conforme Tabela 5.1. A referida razão aumenta quase que em proporção direta com o aumento da resistividade. Observe-se, por exemplo, que um solo de resistividade igual a 5.000 Ω.m, medida a partir de técnicas típicas de baixas freqüências, é reduzida de quase 50 vezes para uma freqüência de 2 MHz. Essa redução acentuada permite compreender as sensíveis diminuições nos níveis máximos de tensão transitória, sobretudo em eletrodos inseridos em solos de elevado valor de resistividade. Nota-se, também, que as formas de onda de tensão transitória são alteradas não apenas na amplitude, mas também na forma. Tal alteração está intimamente ligada ao fato de que em freqüências elevadas os efeitos condutivos tornam-se significativos quando considerada a variação dos parâmetros do solo, o que implica na alteração do defasamento da impedância, sobretudo em freqüências mais elevadas. Esse efeito se traduz na distorção da onda de tensão transitória resultante em relação àquela obtida sem a inclusão da variação dos parâmetros eletromagnéticos, conforme ilustram os gráficos da Fig. 5.19. Tal aspecto elucida bem a correspondência entre defasamento no domínio da freqüência e distorção no domínio do tempo. Salienta-se que no estudo das sobretensões originadas em um sistema de aterramento devido à incidência de descargas atmosféricas, é de fundamental importância o conhecimento não apenas dos picos de tensão desenvolvidos, porém também a forma da onda de tensão transitória. As curvas ilustradas na Fig. 5.19 sugerem que a inclusão da variação dos parâmetros do Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 109 solo com a freqüência é fundamental para a correta quantificação das variáveis citadas. Julga-se, portanto, que no estudo e modelagem de aterramentos atenção especial deve ser dispensada na análise das características do solo, o que praticamente não é observado atualmente nos trabalhos presentes na literatura especializada. De qualquer maneira, a não inclusão da variação dos parâmetros eletromagnéticos do solo com a freqüência conduz a um estudo conservativo das sobretensões. Tabela 5.1 – Razão entre a resistividade do solo em baixas e altas freqüências. ρ100Hz (Ω.m) ρ100Hz / ρ500kHz ρ100Hz / ρ1MHz ρ100Hz / ρ2MHz 500 2,79 3,91 5,75 1000 4,57 6,83 10,51 2400 9,57 14,99 23,82 5000 18,86 30,14 48,54 70 60 L = 10 m Tensão (kV) 50 40 L = 20 m 30 L = 30 m 20 L = 50 m L = 70 m 10 L = 90 m 0 0 2 4 6 Tempo (µs) (a) 8 10 Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 140 L = 10 m 120 Tensão (kV) 100 80 L = 20 m 60 L = 30 m 40 L = 50 m L = 70 m 20 L = 90 m 0 0 2 4 6 8 10 Tempo (µs) (b) 350 L = 10 m 300 Tensão (kV) 250 200 L = 20 m 150 L = 30 m 100 L = 50 m L = 70 m 50 L = 90 m 0 0 2 4 6 Tempo (µs) (c) 8 10 110 111 Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 800 700 L = 10 m Tensão (kV) 600 500 400 L = 20 m 300 L = 30 m 200 L = 50 m L = 70 m 100 0 L = 90 m 0 2 4 6 8 10 Tempo (µs) (d) Figura 5.18 – Tensões resultantes da injeção de uma onda de corrente de 1,2/20 µs na extremidade de eletrodos horizontais para solos com valores de resistividade de (a) 500 Ω.m (b) 1.000 Ω.m (c) 2.400 Ω.m e (d) 5.000 Ω.m. 40 σ (ω) e ε(ω) σ e ε fixos 35 Tensão (kV) 30 25 20 15 10 5 0 0 2 4 6 Tempo (µs) (a) 8 10 Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 60 σ (ω) e ε(ω) σ e ε fixos 50 Tensão (kV) 40 30 20 10 0 0 2 4 6 8 10 Tempo (µs) (b) 90 80 σ (ω) e ε(ω) σ e ε fixos 70 Tensao (kV) 60 50 40 30 20 10 0 0 5 10 15 Tempo (µs) (c) 20 25 112 113 Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 150 σ (ω) e ε (ω) σ e ε fixos 125 Tensão (kV) 100 75 50 25 0 0 5 10 15 20 25 Tempo (µs) (d) Figura 5.19 – Tensões resultantes da injeção de uma onda de corrente de 1,2/20 µs na extremidade de um eletrodo horizontal de 70 m para solos com valores de resistividade de (a) 500 Ω.m (b) 1.000 Ω.m (c) 2.400 Ω.m e (d) 5.000 Ω.m considerando a variação dos parâmetros eletromagnético do solo (σ e ε) com a freqüência. 5.4.8 – Cálculo de campo elétrico no nível do solo As correntes que circulam pelos eletrodos de aterramento, quando solicitado por fenômenos transitórios de alta freqüência, podem induzir tensões nos cabos e equipamentos nas proximidades. Tais tensões induzidas acarretam o mal funcionamento ou mesmo a destruição de equipamentos eletrônicos sensíveis em, por exemplo, uma subestação automatizada [99]. Em freqüências elevadas, o cálculo da tensão entre dois pontos é dependente do caminho e deve ser avaliada por meio da integração do campo elétrico entre eles. Dessa forma, para quantificação dos valores de tensão induzida é de fundamental importância o conhecimento apurado das distribuições espaciais e temporais de campo elétrico nas proximidades do aterramento, quando solicitado por uma corrente advinda da incidência de descarga atmosférica [101]. Conforme já comentado no Capítulo 4, o campo elétrico total associado a um eletrodo de aterramento energizado é composto por uma parcela conservativa Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 1 IT −γ r V = 4π (σ + jωε ) r e , r r 1 IT −γ r r E = −∇V = (1 + γ r ) e ar V 4π (σ + jωε ) r 2 114 (5.2) e uma parcela solenoidal r µ e −γ r r = A I ∫ Lj r dl j 4 π L j r r µ E = − jω A = − jω A 4π e −γ r r I ∫L Lj r dl j j . (5.3) A inclusão de ambas as parcelas do campo elétrico nos procedimentos de cálculo é essencial para correta quantificação das tensões induzidas nas proximidades do aterramento. A Fig. 5.20 ilustra o perfil de campo elétrico ao longo da superfície do solo, acima de um eletrodo de 15 m, inserido em um solo de resistividade igual a 1.000 Ω.m, considerando duas metodologias de cálculo. Para melhor visualização da distribuição do campo, o eletrodo foi posicionado entre os pontos 2,5 e 17,5 m com relação à origem do eixo de referência. Na Fig. 5.20(a) considera-se apenas as fontes transversais de corrente (incluindo a corrente de deslocamento), desprezando-se os efeitos das fontes de corrente longitudinais, o que se constitui uma aproximação típica de metodologias desenvolvidas para baixas freqüências. Na Fig. 5.20(b) considera-se o modelo completo, incluindo ambas as fontes de corrente, transversal e longitudinal. Observa-se que o campo elétrico diminui com o aumento da freqüência quando é considerada a metodologia simplificada de cálculo, conforme Fig. 5.20(a). Todavia, quando ambas as fontes de campo são consideradas nota-se um comportamento completamente diferente, conforme ilustra a Fig. 5.20(b). É nítida a contribuição do componente de campo elétrico associado à variação da corrente longitudinal, principalmente em freqüências mais elevadas. A Fig. 5.21 apresenta os valores de campo elétrico calculados a partir do modelo completo com a inclusão da variação dos parâmetros eletromagnéticos do solo com a freqüência. Nota-se que o comportamento do campo elétrico é bastante distinto daquele ilustrado na Fig. 5.20(b) e que este apresenta valores reduzidos em freqüências elevadas uma vez que, dada a variação dos parâmetros do solo ao longo do espectro, nesta faixa o solo apresenta valores elevados de condutividade elétrica e o efeito de atenuação é acentuado. Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 115 Intensidade de campo elétrico (V/m) 25 60 Hz 1 MHz 2 MHz 20 15 10 5 0 0 5 10 15 Distância ao longo do perfil (m) 20 (a) 40 60 Hz 1 MHz 2 MHz Intensidade de campo elétrico (V/m) 35 30 25 20 15 10 5 0 0 5 10 15 Distância do longo do perfil (m) 20 (b) Figura 5.20 – Campo elétrico ao longo da superfície do solo devido a um eletrodo horizontal considerando (a) apenas fontes de corrente transversal e (b) as fontes de corrente, transversal e longitudinal. Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 116 Intensdae de campo elétrico (V/m) 25 60 Hz 1 MHz 2 MHz 20 15 10 5 0 0 5 10 15 Distância ao longo do perfil (m) 20 Figura 5.21 – Campo elétrico ao longo da superfície do solo devido a um eletrodo horizontal incluindo a variação dos parâmetros eletromagnéticos com a freqüência. A Fig. 5.22 apresenta o valor absoluto do campo elétrico transitório em três pontos distintos ao longo da superfície do solo com a adoção de parâmetros do solo fixo e variáveis com a freqüência, considerada a injeção de uma corrente impulsiva de 1,2/20µs. Observam-se claras diferenças tanto na amplitude como na forma da onda resultante. As conclusões e comentários apresentados na análise das ondas de sobretensão, resultantes no ponto de injeção com a inclusão da variação dos parâmetros do solo, são válidos para os resultados obtidos para o campo elétrico transitório. É nítida a diferença entre os valores e comportamento do campo elétrico, nos domínios do tempo e da freqüência, dependendo da metodologia de cálculo empregada. O emprego de metodologias simplificadas, baseadas em aproximações típicas de fenômenos de baixa freqüência, mostrou-se inconsistente no cálculo de campos na faixa superior do espectro, apresentando comportamento bastante distinto daquele obtido mediante aplicação da modelagem completa. Metodologias que incluem a variação dos parâmetros do solo com a freqüência apresentam valores reduzidos de campo elétrico, sobretudo na faixa superior do espectro. A avaliação do campo elétrico transitório também ilustra a acentuada influência da inclusão da dependência dos parâmetros do solo com a freqüência, com alterações na amplitude e forma da onda resultante. Deve-se salientar que nos estudos de compatibilidade Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 117 eletromagnética e cálculos de tensões induzidas, a correta determinação da frente de onda do campo elétrico é essencial. 25 Intensidade de campo elétrico (kV/m) x = 2,5 m σ e ε fixos 20 x = 2,5 m σ (ω) e ε(ω) 15 10 5 0 0 10 20 30 40 50 30 40 50 Tempo (µs) (a) 25 Intensidade de campo elétrico (kV/m) x = 17,5 m σ e ε fixos 20 x = 17,5 m σ (ω) e ε(ω) 15 10 5 0 0 10 20 Tempo (µs) (b) Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 118 Intensidade de campo elétrico (kV/m) 1.2 x = 25 m 1 σ e ε fixos x = 25 m 0.8 σ (ω) e ε(ω) 0.6 0.4 0.2 0 0 10 20 30 40 50 Tempo (µs) (c) Figura 5.22 – Campo elétrico transitório na superfície do solo devido a um eletrodo horizontal nos pontos (a) x = 2,5 m (b) x = 17,5 m e (c) 25 m. É importante destacar, ainda, que o campo elétrico calculado nesta seção é devido apenas à corrente que circula no aterramento. Todavia, na determinação do campo elétrico total na superfície do solo, deve ser acrescida a parcela de campo referente à corrente do canal da descarga atmosférica. Essa última parcela é significativa e representa a maior parte do campo elétrico induzido na superfície do solo, quando da incidência de uma descarga atmosférica no sistema elétrico [102]. 5.5 – Estudo de circuitos equivalentes para representação de hastes verticais de aterramento O conjunto de simulações apresentadas nesta seção tem como objetivo investigar circuitos equivalentes simplificados para representação de hastes verticais de aterramento. Essa configuração é uma das mais simples e utilizadas como meio de conexão do sistema elétrico à terra [10], [103]. Representa, ainda, a configuração predominantemente utilizada nos sistemas de aterramento de redes de distribuição e edificações. O comportamento de hastes verticais de aterramento é bem conhecido Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 119 em baixas freqüências e é, em geral, analisado a partir de metodologias baseadas na teoria de circuitos. Todavia, seu desempenho em altas freqüências também é importante, principalmente quando são submetidas a surtos atmosféricos [10]. Neste último caso, o valor da impedância do aterramento é um parâmetro de fundamental importância, uma vez que, a partir dela, pode-se determinar os níveis máximos de tensão a que o aterramento fica submetido. Em baixas freqüências, essa impedância é usualmente aproximada por uma resistência de aterramento e a haste modelada por um simples resistor [103]. Já em altas freqüências, esta é normalmente modelada por um circuito RLC concentrado [10], [103]. Esses dois modelos são ilustrados na Fig. 5.23. l (a) (b) (c) Figura 5.23 – (a) Situação física (b) Circuito equivalente em baixas freqüências (c) Circuito equivalente em altas freqüências. Modelagens baseadas na teoria de circuito adotam a aproximação de campos eletromagnéticos quase-estáticos. Conseqüentemente, sua validade é limitada a alguns kHz e a análise de transitórios associados à incidência de descargas atmosféricas fica comprometida. Nesses casos, metodologias mais precisas, baseadas diretamente na solução das equações de campo, como a apresentada nesta dissertação, devem ser aplicadas. Em princípio, é possível a utilização de metodologias mais robustas e precisas para todos os casos. Todavia, nem sempre a aplicação de tais abordagens é prática, principalmente por duas razões. Primeiro, existe um grande número de softwares baseados em aproximações quase-estáticas, por exemplo, o EMTP/ATP. Segundo, os códigos computacionais baseados diretamente nas equações de campo apresentam, em geral, tempo computacional elevado e devem ser evitados sempre que possível. Na impossibilidade de utilização de uma metodologia mais rigorosa para análise de hastes verticais, o estudo é usualmente desenvolvido a partir de circuitos equivalentes. Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 120 Nessas situações, é importante adotar um circuito equivalente que represente o aterramento de forma apurada, dentro das faixas de freqüência de interesse. Segundo Olsen e Willis, a utilização de circuitos equivalentes para representação de hastes verticais é limitada a uma freqüência que depende do comprimento do aterramento e das características eletromagnéticas do meio [75]. De acordo com esses autores, a utilização de um circuito RLC equivalente é limitada a hastes de comprimento inferior a um décimo do comprimento de onda no solo, o que praticamente limita seu uso em baixas freqüências [75]. Nesta seção são avaliadas as condições gerais, analisando não apenas o comprimento de onda, mas também a resistividade do solo, em que um circuito equivalente simples pode ser utilizado, a despeito de um modelo mais complicado. As conclusões são determinadas a partir da comparação dos valores de impedância calculados por meio da metodologia apresentada nesta dissertação e aqueles obtidos do cálculo de um circuito equivalente. 5.5.1 – Impedância de hastes verticais Duas metodologias de cálculo da impedância de hastes verticais são apresentadas nesta seção. A primeira é baseada no circuito equivalente ilustrado na Fig. 5.23(c). Os parâmetros R, L e C podem ser calculados a partir das seguintes expressões propostas por Sunde [37]: R= ρ 4l ln − 1 ( Ω ) , 2π l r 4l C = 2πε l ln − 1 r L= −1 ( F) , µ 0 l 2l ln − 1 ( H ) . 2π r (5.4) (5.5) (5.6) A segunda metodologia de cálculo emprega a modelagem eletromagnética proposta nesta dissertação. Uma vez que ela é baseada na solução rigorosa das equações de Maxwell, adota um número reduzido de simplificações e foi validada por meio de comparação com resultados de medição, serve como um padrão de comparação. Duas configurações são simuladas, uma haste curta ( l = 3 m ) e uma longa ( l = 30 m ), inseridas em um solo mais condutivo ( ρ = 30 Ω.m ) e menos condutivo ( Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 121 ρ = 300 Ω.m ). Um raio de 1,25 cm para haste e permissividade relativa do solo igual a 10 são adotados em todas as simulações. Os parâmetros utilizados nas simulações são semelhantes aos de dois outros trabalhos da literatura, um de Grcev e Popov [103] e outro de Olsen e Willis [75], o que permite uma comparação direta dos resultados obtidos nesta seção e por outros autores. A Fig. 5.24 ilustra a comparação dos resultados obtidos do cálculo da impedância de haste vertical, ao longo da freqüência, por meio do modelo de circuitos e do modelo eletromagnético proposto nesta dissertação. Conforme se pode observar, na faixa superior do espectro o modelo de circuito superestima o valor da impedância, sendo tal efeito mais nítido no caso de hastes longas. Nesta faixa de freqüência, o cálculo do circuito equivalente leva a valores elevados da reatância indutiva, reduzindo a influência do ramo RC, o que ocasiona em valores de impedância irreais. O valor de impedância computado por meio do circuito RLC equivalente está em acordo com o modelo eletromagnético para freqüências em que o comprimento de onda é cerca de dez vezes o tamanho da haste, conforme as conclusões de Olsen e Willis [75]. Os resultados também estão em ótima concordância com aqueles obtidos por Grcev [103]. Nota-se que um melhor ajuste entre os valores de impedância calculados por ambas as metodologias é obtido para haste curta inserida em um solo mais resistivo ( l = 3 m e ρ = 300 Ω.m ). Essa observação possui particular importância para locais em o solo apresenta resistividade elevada, como é o caso brasileiro, e é melhor explorada no item seguinte. 5.5.2 – Hastes verticais inseridas em solos de resistividade elevada Nesta seção é considerada uma haste vertical curta, que corresponde a grande parte das aplicações práticas, inserida em solos de resistividade elevada. As Figs. 5.25 e 5.26 ilustram a impedância em função da freqüência, computada por meio dos modelos de circuito e eletromagnético. Dois valores típicos de resistividade de solos brasileiros são adotados (1.000 Ω.m e 2.000 Ω), sendo a permissividade relativa igual a 10. A haste possui 3 m de comprimento e raio 1,25 cm, em todas as simulações desta seção. Conforme se pode observar em ambas as Figs. 5.25 e 5.26, uma ótima concordância é obtida entre as duas metodologias em praticamente toda a faixa de freqüência analisada, principalmente os resultados concernentes ao módulo da impedância. Esse comportamento é consistente com a interpretação de circuitos elétricos, uma vez que valores mais elevados de resistividade implicam em um aumento da influência do ramo RC, o que reduz os efeitos da reatância indutiva, principal responsável por valores extremamente elevados 122 Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 3 10 circuito RLC equivalente Módulo da impedância (Ω ) modelagem eletromagética 2 ρ = 300 Ω .m 1 ρ = 30 Ω .m 10 10 0 10 2 10 3 4 10 5 10 10 Freqüência (Hz) 6 10 7 10 (a) 3 10 Módulo da impedância (Ω ) circuito RLC equivalente modelagem eletromagnética 2 10 ρ = 300 Ω .m 1 10 ρ = 30 Ω .m 2 10 3 10 4 5 10 10 Freqüência (Hz) 6 10 7 10 (b) Figura 5.24 – Módulo da impedância de (a) haste curta l = 3 m e (b) haste longa l = 30 m em um solo mais condutivo ρ = 30 Ω.m e menos condutivo ρ = 300 Ω.m . Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 123 e irreais de impedância. O efeito do ramo RC pode ser observado a partir da diminuição do módulo da impedância e do seu ângulo até valores negativos em freqüências elevadas, conforme ilustram as Figs. 5.25 e 5.26. Pequenas diferenças entre as duas metodologias são observadas apenas para freqüências acima de 5 MHz, principalmente nas curvas de ângulo da impedância, o que, todavia, não representa um problema na análise de problemas típicos associados a transitórios oriundos de surtos atmosféricos. No caso de descargas, a faixa de freqüência de análise do problema é, na maior parte das aplicações, determinada pelos componentes de freqüência mais elevados existente no espectro de freqüência da onda de corrente injetada. Uma vez que em aplicações práticas essa faixa de freqüência é da ordem de 100 Hz a 1 MHz, a resposta transitória do aterramento é pouco influenciada por componentes de freqüência acima de 5 MHz. Essa afirmação pode ser facilmente confirmada por meio da avaliação da sobretensão transitória resultante da injeção de uma onda de corrente impulsiva em uma haste de aterramento vertical, obtida por meio dos modelos de circuito e eletromagnético. Um gráfico dessa natureza é ilustrado na Fig. 5.27, que corresponde à resposta no tempo de uma haste vertical imersa em um solo de resistividade 2.000 Ω.m para injeção de uma corrente impulsiva de 0,7/20 µs. Observa-se que os resultados obtidos pelas modelagens distintas estão em excelente concordância. Os resultados obtidos nesta seção sugerem que um circuito equivalente simples pode ser utilizado com boa aproximação na análise de hastes verticais, inseridas em solos de resistividades elevadas, submetidas a surtos de altas freqüências. Nesta seção foram analisadas hastes curtas; todavia, resultados bastante similares podem ser obtidos para hastes mais longas utilizando mais de uma seção de circuito RLC [10]. Considerando os gráficos analisados e os comentários anteriores, alguns pontos podem ser destacados: i) Um circuito RLC equivalente pode ser utilizado para estudo preliminar e conservativo de hastes verticais, uma vez que o mesmo superestima os valores de sua impedância de aterramento, principalmente em solos mais condutivos; ii) Na análise de surtos de alta freqüência, hastes verticais curtas, imersas em solos mais resistivos, podem ser modeladas, com boa aproximação dentro do espectro de freqüência característico deste tipo de fenômeno, por um circuito RLC equivalente. Nesse sentido, simulações confiáveis podem ser 124 Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos desenvolvidas em programas de transitórios eletromagnéticas como, por exemplo, o EMTP/ATP; iii) A análise de hastes mais longas pode ser realizada de maneira similar à descrita nesta seção mediante a adição de novas seções de circuito RLC [10]. Cabe, ainda, destacar que apesar dos resultados oriundos da aplicação de metodologias simples baseadas na teoria de circuitos coincidirem razoavelmente bem com os resultados da aplicação da modelagem eletromagnética proposta, deve-se ter em mente que a análise por meio do circuito equivalente é limitada. Dela pode-se obter variáveis de importância imediata para determinação de proteção contra descargas atmosférica, como a impedância de aterramento e máxima elevação de potencial. Todavia, análises mais complexas de cálculo de campo elétrico e tensões induzidas em um estudo de compatibilidade eletromagnética, por exemplo, necessitam de modelagens mais robustas e precisas. 350 Módulo da impedância (Ω ) 300 250 200 150 100 circuito RLC equivalente 50 modelagem eletromagnética 0 2 10 3 10 4 5 10 10 Freqüência (Hz) (a) 6 10 7 10 125 Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 100 Ângulo da impedância (graus) 80 60 40 20 0 -20 -40 circuito RLC equivalente -60 -80 2 10 modelagem eletromagnética 3 10 4 5 10 10 Frequency (Hz) 6 10 7 10 (b) Figura 5.25 – Impedância de haste vertical inserida em solo de resistividade ρ = 1.000 Ω.m (a) módulo da impedância (b) ângulo da impedância. 700 Módulo da impedância (Ω ) 600 500 400 300 200 100 0 2 10 circuito RLC equivalente modelagem eletromagnética 3 10 4 5 10 10 Freqüência (Hz) (a) 6 10 7 10 126 Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 100 80 Ângulo da impedância (graus) 60 40 20 0 -20 -40 circuito RLC equivalente -60 modelagem eletromagnética -80 -100 2 10 3 10 4 5 10 10 Freqüência (Hz) 6 10 7 10 (b) Figura 5.26 – Impedância de haste vertical inserida em solo de resistividade ρ = 2.000 Ω.m (a) módulo da impedância (b) ângulo da impedância. 700 600 Tensão (kV) 500 400 300 200 circuito RLC equivalente modelagem eletromagnética 100 0 0 2 4 6 8 10 Tempo (µs) Figura 5.27 – Resposta transitória de haste vertical de aterramento em um solo resistivo ( ρ = 2.000 Ω.m ) calculada por meio das modelagens de circuito e eletromagnética. Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 127 5.6 – Conclusões Neste capítulo foram apresentados os aspectos computacionais gerais de uma ferramenta computacional cujo código implementa o modelo matemático apresentado no Capítulo 4. Um conjunto de resultados objetivos, oriundos da aplicação da citada ferramenta, foi obtido nos desenvolvimentos deste capítulo. De forma abrangente, constitui-se importante contribuição a ferramenta computacional desenvolvida para simulação de aterramentos elétricos e cálculo do transitório eletromagnético que nele se estabelece devido à injeção de uma corrente impulsiva. Naturalmente, uma vez que a formulação do modelo se baseia na solução direta das equações básicas do eletromagnetismo, a ferramenta desenvolvida apresenta como características essências a consistência física e generalidade de aplicação. Apresenta, ainda, como destaque a capacidade de incluir o acoplamento eletromagnético entre os elementos do aterramento e a variação dos parâmetros do solo com freqüência, que é acentuada na faixa de freqüências analisadas. Na seção 5.3 foram apresentados dois procedimentos distintos com fins de validação do modelo. O primeiro constituiu-se na comparação dos resultados gerados pela ferramenta desenvolvida com resultados experimentais, obtidos por medições realizadas na França pela EDF, para tensão transitória resultante da injeção de uma corrente impulsiva em um eletrodo horizontal e em uma haste vertical. Uma concordância bastante razoável entre os resultados gerados e medidos foi observada. O segundo constituiu-se na comparação dos resultados obtidos da modelagem desenvolvida com aqueles gerados por outro modelo, também baseado na solução direta das equações de campo e considerado referência na literatura, para cálculo de campo elétrico gerado por um eletrodo energizado. Uma ótima concordância foi observada entre os resultados obtidos por ambos os modelos. Da aplicação da ferramenta a uma configuração básica de eletrodo horizontal, decorreram algumas análises de sensibilidade do aterramento a algumas variáveis relacionadas. De tais análises, algumas merecem destaque. • Impedância na freqüência Uma análise do módulo e ângulo da impedância de eletrodos horizontais, ao longo do espectro de freqüência característico de uma descarga atmosférica, para diversos comprimentos de eletrodo e diferentes tipos de solo, foi realizada. Observouse que na faixa de baixas freqüências a impedância possui módulo praticamente Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 128 constante e ângulo de fase igual a zero, ou seja, se aproxima de uma resistência. Além disso, para aumentos do comprimento do eletrodo nesta faixa notou-se uma redução da impedância quase em proporção inversa. Todavia, na faixa superior do espectro, em que os efeitos de propagação são pronunciados, observou-se de maneira geral que a influência do tamanho do eletrodo é pequena e os valores de impedância são muito próximos, mesmo para aterramentos de grande extensão. Mostrou-se que para o valor de resistividade médio brasileiro (1.000 Ω.m), eletrodos de menor comprimento apresentam predominância dos efeitos capacitivos e eletrodos de maior comprimento dos efeitos indutivos na faixa de altas freqüências. Todavia, por meio da simulação de diferentes solos, mostrou-se que tal análise não pode ser generalizada e que o efeito capacitivo se torna significativo mesmo para eletrodos longos quando imersos em solos de elevada resistividade. • Impedância impulsiva Foram obtidos gráficos que relacionam a impedância impulsiva do aterramento com o comprimento do eletrodo para diferentes valores de resistividade do solo. Como esperado, verificou-se que a impedância impulsiva de uma mesma configuração de aterramento é maior quando este se encontra enterrado em um solo de resistividade mais elevada. Contatou-se, ainda, que a impedância impulsiva diminui com o aumento do comprimento do eletrodo até atingir um patamar a partir do qual posteriores acréscimos no comprimento não refletem na redução da impedância impulsiva. • Comprimento efetivo de eletrodo de aterramento A partir dos gráficos de impedância impulsiva em função do comprimento do eletrodo foi determinado o comprimento efetivo de eletrodos horizontais de aterramento para diferentes valores de resistividade do solo. Os resultados ilustraram que o comprimento efetivo depende do tempo de frente da onda de corrente injetada no aterramento e é tanto maior quanto mais lenta a solicitação. Mostrou-se que eletrodos inseridos em solos de resistividade mais elevada apresentam valores maiores de comprimento efetivo. Constatou-se que, dentre as ondas de corrente características de descargas atmosféricas, a injeção de uma onda mais lenta nem sempre resulta em picos de tensão transitória menores que aqueles oriundos da injeção de uma onda mais rápida. Mostrou-se que essa conclusão somente é verdadeira naqueles casos em que o Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 129 eletrodo apresenta comprimento superior ao comprimento efetivo referente à onda de corrente rápida. • Tensões transitórias Da resposta em freqüência da impedância e aplicação de uma transformada inversa de Fourier, obtiveram-se gráficos da tensão transitória no ponto de injeção do aterramento. Verificou-se que o aumento do comprimento do eletrodo é eficaz na redução dos valores de pico de tensão desenvolvidos até o comprimento efetivo, a partir do qual acréscimos adicionais no comprimento não refletem em novas reduções. Nos casos analisados em que a dependência dos parâmetros do solo com a freqüência foi incluída, foram observadas alterações sensíveis tanto na amplitude como na forma da onda de tensão transitória resultante. Reduções maiores nos valores de pico de tensão foram observadas para solos com resistividade elevada. Esse efeito relaciona-se com a acentuada redução da resistividade do solo observada em solos pouco condutivos. Para um solo de, por exemplo, resistividade 5.000 Ω.m, medida em baixa freqüência, observou-se a redução desse valor de cerca de 50 vezes para uma freqüência de 2 MHz. As distorções mais significativas na forma de onda também foram observadas para solos mais resistivos. De maneira geral, a não inclusão da dependência dos parâmetros do solo com a freqüência conduz a um estudo conservativo das sobretensões resultantes. • Campos elétricos Uma análise da distribuição do campo elétrico no nível do solo gerada por um eletrodo horizontal energizado foi realizada. Adotaram-se três formas de cálculo do campo elétrico no domínio da freqüência: i) forma simplificada com a desconsideração da parcela de campo não conservativa; ii) forma completa com a inclusão da parcela não conservativa; iii) forma completa com a inclusão da variação dos parâmetros do solo com a freqüência. Mostrou-se que, no cálculo do campo elétrico no nível do solo, a forma simplificada conduz a valores menores que os obtidos por meio da forma completa na faixa de altas freqüências. O emprego da forma completa com inclusão da dependência dos parâmetros do solo com a freqüência gera resultados distintos das duas metodologias anteriores, sendo os campos fortemente atenuados nas freqüências elevadas. Capítulo 5 – Modelagem Computacional e Análise da Resposta Transitória de Aterramentos Elétricos 130 A avaliação dos campos elétricos transitórios em pontos específicos na superfície do solo levou a conclusões bastante similares àquelas obtidas no caso da investigação das sobretensões, sendo observadas alterações na amplitude e forma da onda de campo elétrico resultante da injeção de uma corrente impulsiva. Salienta-se que a correta determinação da frente de onda do campo elétrico é de fundamental importância para estudos ligados à interferência eletromagnética e cálculo de tensões induzidas. Um terceiro tipo de análise realizada neste trabalho teve como objetivo a investigação de circuitos simplificados para representação de hastes verticais de aterramento no estudo de fenômenos impulsivos. A análise foi realizada por meio da comparação da impedância no domínio da freqüência obtida do cálculo de um circuito RLC equivalente e emprego da modelagem desenvolvida. Para análises preliminares e conservativas constatou-se que a utilização de um circuito RLC para modelagem da haste vertical é válida, uma vez que o mesmo superestima os valores de impedância, sobretudo para solos mais condutivos. No caso de solos de resistividade elevada, como é o caso brasileiro, verificou-se que o emprego do circuito equivalente apresenta valores de impedância e comportamento de tensão transitória bem próximos daqueles obtidos a partir da modelagem desenvolvida quando são consideradas hastes curtas. Nesse sentido, simulações de transitórios de alta freqüência podem ser realizadas, de forma confiável, mediante a utilização de softwares do tipo EMTP/ATP. Contudo, devese atentar que a análise por circuitos equivalentes permite apenas a quantificação de variáveis mais diretas como impedância de aterramento e máxima elevação de potencial. Análises mais complexas como cálculo de campos eletromagnéticos e quantificação de tensões induzidas, por exemplo, necessitam de modelagens mais robustas e fisicamente consistentes, como a desenvolvida nesta dissertação. CAPÍTULO 6 – CONCLUSÕES 6.1 – Introdução Ao final dessa dissertação cumpre avaliar alguns aspectos relativos às contribuições e conseqüências do trabalho desenvolvido bem como responder a importante pergunta: qual é a utilidade e aplicação da modelagem e ferramenta desenvolvidas? O autor desta dissertação tem observado, em sua ainda bastante breve experiência como pesquisador, que muitos trabalhos de altíssima qualidade desenvolvidos por diversos pesquisadores com relação à teoria, simulação e modelagem matemática, com ampla aplicabilidade industrial, são confinados às universidades ou possuem divulgação relativamente restrita em termos de aplicação prática. Uma vez que os problemas de engenharia, independentemente dos níveis de abstração teórica envolvidos, são de cunho prático, julga-se que o estabelecimento de uma relação, de mútuo benefício, entre academia e indústria é de fundamental importância. A intensidade e o sucesso de tal relação dependem do estreitamento de laços entre os engenheiros da indústria e os pesquisadores da universidade. O presente trabalho representa um passo nessa direção com o estabelecimento de uma parceria de pesquisa com a Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG) no estudo da interação de descargas atmosféricas com os sistemas elétricos. Nesta primeira etapa procurou-se desenvolver uma ferramenta de simulação de sistemas de aterramento que contemple, de forma fisicamente consistente, a análise de transitórios de alta freqüência. Espera-se que ela possa auxiliar os engenheiros na solução de problemas relacionados ao desempenho de sistemas de aterramento e proteção contra descargas. Vislumbra-se, ainda, o desenvolvimento de um software completo cujo cerne é um código computacional que utiliza o estado da arte do tema modelagem de aterramentos elétricos em altas freqüências. Esta dissertação marca o início do desenvolvimento desse software. Como uma etapa preliminar à implementação da referida ferramenta computacional procedeu-se a um laborioso desenvolvimento analítico a partir da aplicação das equações de Maxwell à configuração básica de interesse, constituída de condutores cilíndricos imersos em um meio homogêneo e infinito. Os desdobramentos desse desenvolvimento culminaram com o estabelecimento de um modelo consistente Capítulo 6 – Conclusões 132 e geral para representação de sistemas de aterramento. As características essenciais e potencialidades do modelo em questão merecem ser destacadas. 6.2 – Potencialidades do modelo eletromagnético desenvolvido A modelagem desenvolvida e apresentada no Capítulo 4 desta dissertação, baseada diretamente nas equações básicas do eletromagnetismo, é aplicável a configurações genéricas de aterramento. O seu emprego em domínios específicos de configurações práticas de engenharia permite a exploração de certas simetrias e a realização de consideráveis simplificações, que refletem diretamente na redução do esforço de cálculo. O modelo permite a inclusão dos acoplamentos eletromagnéticos entre os diversos elementos do aterramento, aspecto de fundamental importância na análise de fenômenos transitórios de alta freqüência. Ademais, uma vez que o cálculo do transitório é realizado no domínio da freqüência, o modelo permite a inclusão da variação dos parâmetros eletromagnéticos do solo, condutividade e permissividade elétrica, que é acentuada na faixa de freqüência característica dos fenômenos impulsivos investigados. Outro aspecto de relevo decorre da aplicação do Método dos Momentos para solução do modelo matemático desenvolvido. A possibilidade de escolha de diferentes funções base para representação das distribuições de corrente ao longo dos eletrodos de aterramento conduz a um aumento da generalidade de aplicação da modelagem e permite a redução do número de elementos resultantes da discretização da malha de aterramento. A versão atual da ferramenta computacional que está sendo desenvolvida implementa configurações de aterramento compostas por eletrodos horizontais, hastes verticais e, ainda em fase de testes, malhas quadriculadas. A entrada de dados é bastante otimizada, sendo informadas apenas as coordenadas dos eletrodos e as características eletromagnéticas do solo. A partir desses dados uma série de importantes resultados, nos domínios do tempo e da freqüência, são gerados. São resultados obtidos no domínio da freqüência: impedância de aterramento, perfil de potencial e distribuição de corrente ao longo do aterramento, distribuição de potenciais no nível do solo, distribuição de campo elétrico no nível do solo e ao longo da superfície do eletrodo. Capítulo 6 – Conclusões 133 São resultados obtidos no domínio do tempo: impedância impulsiva de aterramento, tensão transitória resultante no ponto de injeção, potenciais e campo elétrico no nível do solo. Julga-se que a ferramenta desenvolvida pode ser um instrumento de valor no auxilio ao estudo, análise e projeto de aterramentos, sobretudo quando é avaliado o desempenho e comportamento dos mesmos frente a ocorrências rápidas. Pode, ainda, servir de subsídio a estudos relacionados ao tema de compatibilidade eletromagnética no cálculo de campos eletromagnéticos e tensões induzidas nas proximidades do aterramento. Como ilustração das possibilidades associados a sua aplicação, apresentou-se no Capítulo 5 uma série de análises de sensibilidade, relacionando diversas variáveis presentes na análise de aterramentos e o seu desempenho, para configurações básicas, nos domínio do tempo e da freqüência. A despeito do caráter ilustrativo das aplicações, alguns aspectos interesse foram derivados. Um resumo dos principais resultados obtidos encontra-se no fim do Capítulo 5 (seção 5.6 – Conclusões). Deve-se ainda salientar outro aspecto de interesse da possibilidade de aplicação da modelagem apresentada em adição à questão, até então considerada, de avaliação do desempenho do aterramento propriamente. A aplicação da ferramenta desenvolvida a uma série de configurações e situações pode auxiliar na obtenção de um banco de informações objetivas sobre o comportamento do aterramento em diversas situações práticas. A divulgação de, por exemplo, tabelas que relacionam a configuração de aterramento, comprimento efetivo e características da onda solicitante pode ser extremamente útil aos engenheiros e técnicos que trabalham com proteção de sistemas contra descargas atmosféricas. A ferramenta pode ainda servir como padrão para calibração de outras modelagens mais simplificadas e que demandam menor tempo computacional. A quantificação de impedâncias equivalentes do aterramento para aplicação de um modelo de circuitos é um exemplo desta última aplicação. 6.3 – Propostas de continuidade Tendo em vista as realizações deste trabalho e a experiência adquirida durante a produção desta dissertação, julga-se que alguns itens merecem explorações adicionais, podendo-se citar, dentre estes: Capítulo 6 – Conclusões • 134 Avaliação da consideração do solo como meio homogêneo mediante a ampliação da modelagem apresentada para um meio que apresente camadas estratificadas; • Desenvolvimento de uma modelagem mais adequada para inclusão do efeito da interface solo-ar na investigação da propagação de surtos em eletrodos de aterramento como, por exemplo, a inclusão das integrais de Sommerfeld; • Inclusão de efeitos não lineares na ferramenta desenvolvida, sobretudo o fenômeno de ionização do solo. Posterior avaliação desse efeito no desempenho e comportamento transitório do aterramento; • Avaliação da influência da forma de onda de corrente injetada a partir da análise de outras funções diferentes da dupla exponencial como, por exemplo, onda de corrente tipo rampa, côncava e função de Heidler; • Investigação mais aprofundada do efeito da variação dos parâmetros eletromagnéticos do solo com a freqüência na resposta transitória do aterramento; • Análise detalhada da relação entre a resistividade e tempo de frente da onda de corrente injetada e o comprimento efetivo de eletrodos de aterramento. Estabelecimento de relações matemáticas para essa relação e posterior obtenção de fórmulas práticas para cálculo do comprimento efetivo; • Avaliação das tensões induzidas em equipamentos situados nas proximidades do aterramento e das tensões de toque e passo. Comparação dos resultados obtidos para essas variáveis mediante aplicação da metodologia apresentada nesta dissertação e aquelas recomendadas por normas; • Determinação de limites em que os efeitos de propagação são significativos com vistas à obtenção de modelagens simplificadas para investigação de fenômenos mais lentos; • Extensão da modelagem para outros elementos do sistema elétrico como, por exemplo, torres, cabos fase e pará-raios; • Investigação de outras funções base para representação das distribuições de corrente ao longo dos eletrodos. A função pulso adotada nesta dissertação 135 Capítulo 6 – Conclusões corresponde a uma escolha razoável para o problema investigado; contudo, requer a divisão da malha de aterramento em um número razoável de elementos para obtenção de resultados precisos. A opção por uma função base triangular, por exemplo, adiciona pouca complexidade ao código computacional, porém pode reduzir drasticamente o número de elementos em que a malha de aterramento é discretizada, uma vez que a corrente em cada elemento é modelada por uma função que leva em conta a redução da corrente no espaço; • Desenvolvimento de uma análise detalhada da escolha de valores adequados para a freqüência máxima de simulação e passo de freqüência, como por exemplo, a investigação da aplicação da transformada wavelet. Adicionalmente, investigação de outras técnicas para o processo de inversão freqüência-tempo, bem como melhor avaliação das vantagens e desvantagens das técnicas existentes. Referências Bibliográficas 136 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. S. Visacro Filho, Aterramentos elétricos, Artliber, São Paulo, 2002. 2. G. Kindermann, J. M. Campagnolo, Aterramento elétrico, Sagra Luzzatto, 4ª Ed, Porto Alegre, 2002. 3. J. R. Dunki-Jacobs, C. 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