ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO E OPERAÇÕES ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 1 Objetivo Específico da Disciplina Situar a área de produção no contexto integrado da empresa, no sentido de tornar claro aos participantes como a administração da produção e operações (industriais ou de serviços) pode contribuir estrategicamente para tornar as empresas mais competitivas. Apresentar as principais ferramentas e técnicas para a otimização de sistemas de produção. Apresentar a estrutura de relações entre as várias sub-funções na área de produção, bem como a contribuição das mesmas para o desempenho total da empresa. A Administração da Produção ou Administração de operações é a função administrativa responsável pelo estudo e pelo desenvolvimento de técnicas de gestão da produção de bens e serviços. Segundo Slack (1996, p.34) a produção é a função central das organizações já que é aquela que vai se incumbir de alcançar o objetivo principal da empresa, ou seja, sua razão de existir. A função produção se preocupa principalmente com os seguintes assuntos: Estratégia de produção: as diversas formas de organizar a produção para atender a demanda e ser competitivo. Projeto de produtos e serviços: criação e melhora de produtos e serviços. Sistemas de produção: arranjo físico e fluxos produtivos. Arranjos produtivos: produção artesanal, produção em massa e produção enxuta. Ergonomia Estudo de tempos e movimentos Planejamento da produção: planejamento de capacidade, agregado, plano mestre de produção e sequenciamento. Planejamento e controle de projetos Objetivo Específico Dar uma visão geral da estrutura do curso, uma introdução do que é Administração da Produção, além de seus principais marcos e nomes na história da Administração. Apresentação do Curso Caro aluno: ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 2 Olá. Meu nome é José Correia, sou , administrador de empresas, pósgraduado MBA em Gestão de Operações e Logística.Sou professor no ensino superior desde 2008. Será um prazer preparar a disciplina Administração da Produção e Operações . Espero que aproveite bem. Estrutura do curso de Administração da Produção O curso foi dividido em 36 aulas, cujos títulos listamos abaixo e, resumidamente, abordaremos, em cada uma delas, o seguinte: Apresentação da estrutura do curso Introdução, marcos e principais nomes da Administração da Produção (AP). Relações entre custo, volume e lucro Primeiras noções de quanto se deve produzir a partir de custos estimados de produção (fixos e variáveis). “Ponto de Equilíbrio” da empresa. Alavancagem operacional e sua aplicação em análises de mercado. O aluno terá uma visão macro dos níveis de produção e suas conseqüências no resultado financeiro da empresa. Introdução à Previsão de Demanda Previsão das demandas é o ponto onde tudo começa. Demandas de curto e médio prazos, no nível operacional, e de longo prazo no nível estratégico. Quais as informações necessárias para uma estimativa consistente de demandas. Modelagem matemática para Previsão de Demanda Modelagem matemática aplicada para se conseguir prever as demandas futuras de curto, médio e longo prazos, estimadas a partir de uma base técnica. Desenvolvimento de Processos de Produção Análise da seqüência de operações, que podem ser realizadas em várias formas de layout. Nesta aula, serão estudados os “desenhos” de layout possíveis, com base no produto, no processo e na demanda prevista estudada na aula 3, e sua importância no resultado financeiro operacional estudado na aula 2. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 3 Manufaturar ou não Será estudada a viabilidade, ou não, da terceirização, com apoio da ferramenta da “árvore de decisões”. Localização de Instalações Esta aula propõe uma análise dos fatores que influenciam na definição da localização das instalações de uma empresa. A localização correta de uma instalação pode ser um fator do fracasso ou sucesso de um empreendimento. Planejamento Agregado da Produção O Planejamento Agregado da Produção representa uma das mais importantes decisões de médio prazo das empresas, elo entre o Planejamento da Capacidade e a Programação e Controle da Produção e Operações. Programação e Controle da Produção Programar e controlar a produção são atividades operacionais que encerram o ciclo do planejamento. Nesta aula, será analisado o conflito de se produzir com qualidade, nos níveis desejados de produtividade, com o menor estoque possível e mantendo o melhor atendimento ao cliente. Sistema MRP Nesta aula, veremos o que é essa ferramenta tecnológica de gestão da produção chamada MRP. Planejamento e Controle Just in Time Será estudado o just in time, como filosofia, e como um método para planejamento e controle de operações. Produtividade Um fator de sucesso de longo prazo das empresas é a produtividade. Estudaremos seus principais fatores e uma metodologia para avaliá-los quantitativamente. Administração da Qualidade Total ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 4 TQM (Total Quality Management) é uma das mais significativas idéias do cenário da Administração da Produção nos últimos anos. Estudaremos a melhoria de todos os aspectos de desempenho da produção e como essa melhoria deve ser administrada. Introdução à Gestão de Projetos Os projetos são ferramentas de controle e de previsão de utilização de recursos (humanos, materiais, financeiros etc.) importantíssimos. Nesta e na próxima aula, estudaremos o que são projetos. Planejamento e Controle PERT-CPM Montagem de um Cronograma Físico e Financeiro de Controle das atividades de um projeto e o que é a Rede PERT-CPM. Agora, vamos ao curso propriamente dito. O que é Administração da Produção? Administração da Produção é o gerenciamento das atividades envolvidas na fabricação dos bens de um empresa, no curto, médio e longo prazos, de forma a facilitar as operações do Marketing, da Logística, preservando a qualidade do produto e reduzindo os seus custos. Considere, ainda, que essas atividades devem ser realizadas, obedecendo às leis vigentes, preservando meio ambiente, os trabalhadores e a comunidade local. Além disso, a AP desenvolve projetos de produtos, seu processo de fabricação, controles qualitativos e quantitativos dos resultados e a manutenção dos equipamentos envolvidos nesse processo. Alguns autores entendem a AP como um sistema com entradas, processamento, saídas e dispositivos de controle. Principais marcos históricos e nomes da Administração da Produção. Revolução Industrial ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 5 Inglaterra por volta de 1700. Substituição de parte da força humana e da água, pela mecanização, quando James Watt desenvolve a máquina a vapor - o que permitiu que sistemas fabris pudessem ser instalados longe dos rios. Em 1776, Adam Smith (A Riqueza das Nações) estuda os benefícios da divisão do trabalho com a especialização da mão-de-obra. Período pós-guerra civil nos EEUU No começo do século XX, acontece uma grande expansão da capacidade de produção, causada pela abolição dos escravos, êxodo de trabalhadores do campo para as cidades e a maciça imigração. Surgem os primeiros impérios industriais, dividindo capital e trabalho, e as primeiras acumulações de capital (J. P. Morgan, Jay Gould, Cornelius Vanderbilt), gerando enorme capacidade de produção. Linhas férreas são construídas para a colonização do oeste americano. Acontece a Primeira Guerra Mundial, criando uma demanda potencial. Administração Científica Surge da necessidade de produção dos empreendedores, engenheiros, administradores, consultores, executivos etc. Frederick Winslow Taylor,1856-1915, conhecido pai da administração científica, estuda os sistemas fabris, como objetivo de minimizar desperdício de tempo, esforço e recursos. Frank B. Gilbreth, 1868-1934 (estudos de movimentos, métodos, consultoria), Lillian M. Gilbreth, 1878-1973 (fadiga, ergonomia, seleção e treinamento), Henry L. Gantt, 1861-1919 (Gráfico de Gantt, sistemas de remuneração e humanização dos processos), Carl G. Barth, 1860-1939 (modelagem matemática, crono-análise, consultoria), Harrington Emerson, 1885-1931 (estudos de eficiência e métodos de controle), Morris L. Cooke, 1872-1960, (administração científica aplicada a outras formas de organização), Henry Ford, 1863-1947, (linha de produção em série com o Ford Modelo T). Relações Humanas e Behaviorismo Surge, entre as duas grandes guerras, contrapondo-se ao rígido regime de trabalho imposto pela administração científica. Seu principal nome foi Elton Mayo. São iniciados estudos sobre o ambiente de trabalho, iluminação, dispositivos e ferramental projetados, adequadamente, às dimensões e capacidade física do homem, que facilitavam a produção. Estímulo e motivação passam a ser enxergados como fatores de produtividade. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 6 Pesquisa Operacional A Segunda Guerra Mundial exige a gestão de grande quantidade de variáveis (suprimento, aviões, navios, homens, recursos etc.) combinadas. Daí, surge a necessidade da abordagem de sistemas totais, ações interdisciplinares, logística e técnicas matemáticas suportadas pelo advento dos computadores. Em Harvard, começa o estudo de Logística. Revolução dos Serviços Hoje, mais de dois terços da força de trabalho americana está empregada em serviços e, também, dois terços do seu PIB são por eles gerados. O PIB americano representa um terço do PIB do planeta. A evolução dos computadores (software e hardware), a terceirização, a tecnologia da informação e fatores ligados ao comportamento humano e suas necessidades criaram também o home office. Atividade Imagine a linha de produção da Volkswagem. Tenha em conta só os 4 modelos: Gol, Fox, Polo e Golf, todos com 2 ou 4 portas, com 3 opções de motores (1.0, 1.6 e 1.8 litros, por exemplo), cada um com 6 cores, com 2 acabamentos de interior, e assim por diante, com outros opcionais. Como se conseguem produzir em série tantos veículos diferentes? Estude opções e dê asas à imaginação. Relações entre Custo, Volume e Lucro Produzir além da demanda do mercado gera estoque e, conseqüentemente, custo. A minimização dos custos de produção faz-se com quantidades planejadas, programadas e predefinidas, de forma a se obter melhor controle e maior qualidade. Sabe-se que as demandas dos produtos e serviços apresentam efeitos sazonais e imprecisões na sua previsão de médio e longo prazos. Nesta aula, iremos trabalhar com os principais números da produção, sempre no âmbito operacional da empresa, isto é, nas atividades envolvidas na compra de matérias-primas, seu processo de produção ou transformação em produtos acabados, agregando valor e criando bens a serem vendidos com lucro. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 7 O material de apoio é fundamental para a melhor compreensão dos temas aqui abordados. Como manusear custos e receitas operacionais da empresa? Quais são os principais itens que compõem os custos e receitas operacionais da empresa? Como eles se relacionam? As empresas, como regra, possuem custos e receitas operacionais. Vamos estudar um pouco de cada um deles. Existem, basicamente, três tipos de custos operacionais. CUSTOS VARIÁVEIS São custos de se produzir um bem e variam, proporcionalmente, à quantidade produzida. Um custo variável típico é a matéria-prima. Suponhamos que, para fabricarmos uma mesa, consumimos 4 pés e 5 m2 de madeira. Para 2 mesas, consumiremos 8 pés e 10 m2 e assim sucessivamente.Se terceirizarmos os pés das mesas, essa proporcionalidade se manterá, pois o novo fabricante deverá cobrar um determinado valor para cada pé de mesa fornecido. A mão-de-obra direta também é um importante custo variável. Para montar nossa mesa, 2 homens consomem 2 horas de trabalho e, fatalmente, para 2 mesas consumirão 4 horas. Se considerarmos números de produções contínuas e maiores, teremos uma visão melhor. Se precisamos de 4 homens, trabalhando 1 dia para montar 10 mesas, vamos precisar de 8 homens trabalhando 1 dia para montar 20 mesas, ou ainda 4 homens trabalhando 2 dias para montarem as 20 mesas. Existe uma relação diretamente proporcional entre os recursos utilizados e os resultados obtidos. Outros custos variáveis além da mão-de-obra direta e da matéria-prima: -Energia elétrica, água, combustíveis etc. consumidos na produção; -Mão-obra-obra de manutenção e itens de reposição e sobressalentes; -Royalties e impostos variáveis. CUSTOS FIXOS São chamados fixos porque não variam à medida que se varia a produção dos bens. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 8 Vejamos o caso evidente de custo fixo: o aluguel. Se uma empresa paga uma certa quantia de aluguel para usar um prédio para produzir algum bem, essa quantia permanecerá fixa por um contrato, independente de a empresa produzir mais ou menos bens, ou até se ela der férias coletivas aos seus funcionários e não produzir nada em certo período. O aluguel é, portanto, um custo fixo. São outros custos fixos: Depreciação de equipamento; Juros sobre investimentos; Seguros e impostos que incidem sobre equipamentos; Amortização de patentes ou licenças de fabricação e de uso de tecnologia. CUSTOS SEMI-FIXOS OU SEMI-VARIÁVEIS Todos os custos envolvidos na produção devem ser monitorados. Alguns se caracterizam bem como fixos ou como variáveis. Vamos analisar alguns custos que, por vezes, são fixos e outras vezes, variáveis. Mão-de-obra indireta (ou pessoal administrativo). Se uma empresa detecta, de um mês para outro, uma queda de 10 % nas suas vendas, ela não demite, imediatamente, 10 % de seu pessoal indireto. Uma gestão sensata avaliará o cenário de curto prazo, acompanhará suas vendas nos meses subseqüentes e aí tomará ações, como propor férias aos funcionários, relocar pessoal, revisar terceirização etc. E só depois, mantida a queda das vendas, sem perspectivas de retorno ao volume anterior no curto e médio prazo, começaria a reduzir pessoal. Isso significa entender a mão-de-obra indireta de curtíssimo prazo como um custo fixo e de longo prazo como um custo variável. Essas interpretações variam de empresa para empresa. Economia por escala. Outro custo que as vezes se considera fixo e outras vezes variável. Podemos dizer que, algumas vezes, quanto maior a quantidade comprada, menor o custo unitário do item adquirido. As empresas também lidam com essa forma de precificação. É custoso para as empresas ficarem trocando, constantemente, os modelos de produção e os set up de máquinas (veremos ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 9 com detalhes o que é set up mais adiante). Por isso, as organizações estão dispostas a concederem maiores descontos para maiores lotes de produção e de compra. Insumos indiretos de produção. São custos referentes àquela parte da mão-de-obra que, por vezes, é entendida como custo fixo e, por vezes, como variável. Exemplos: Energia elétrica, água, matériais de escritório, refeições e serviços auxiliares da mão-de-obra indireta ou administração. Analisando, graficamente, os custos das empresas Para nos auxiliar na compreensão, podemos montar um gráfico da seguinte forma: -No eixo X, a quantidade produzida -No eixo Y, os custos expressos em R$ por exemplo -O Custo Fixo (CF) -O Custo Variável (CV) -E, finalmente, o Custo TotaL (CT), que é a soma de CF e CV. O Custo Fixo (CF) é constante e não varia quando aumenta ou diminui a produção. O Custo Variável (CV) é diretamente proporcional à quantidade que se produz. Se entendermos cvu como custo variável unitário, ou custo variável para fabricação de uma peça, podemos entender o Custo Variável (ou ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 10 Custo Variável Total) como o produto de cvu pela quantidade produzida (CV = cvu x Q). RECEITAS OPERACIONAIS. Da mesma forma como trabalhamos com os custos operacionais da empresa, consideraremos somente as receitas operacionais, diretamente ligadas à produção. A expressão da Receita Total de uma empresa em um certo período (para um único item produzido) é: RT = P x Q, onde: RT = Receita total; P = Preço de venda desse único produto; Q = Quantidade produzida. Analisando, graficamente, Receitas e Custos, temos: O ponto de intersecção de RT (Receita Total) com CT (Custo Total) define uma quantidade produzida Qe, que é chamada de Ponto de Equilíbrio, em que as receitas são iguais à soma do Custo fixo e do Custo variável da empresa. Sabemos que: L = RT – CT, onde: L = Lucro; RT = Receita total;e, CT = Custo total. No ponto onde a receita total é igual ao custo total, teremos L = 0. EXERCÍCIO RESOLVIDO Uma empresa produz um bem cujo custo unitário variável é R$ 120,00. Seu Custo Fixo mensal é R$ 100.000,00 e o preço de venda do produto é R$ ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 11 200,00. a) Qual é o Ponto de Equilíbrio da empresa? b) Quanto tem que produzir para lucrar mensalmente R$ 50.000,00? a No ponto de equilíbrio, o lucro é zero. L = RT – CT, então 0 = RT- CT e RT = CT. Sabemos que: RT = P x Q e também CT = CF + cvu x Q. Substituindo os valores de RT e CT, teremos; P x Q = CF + cvu x Q, daí 200 Q = 100.000 + 120 Q. Resolvendo, teremos: Q = 1.250 peças por mês. b) L = RT – CT e o exercício propõe que o lucro L seja R$ 50.000,00. Resolvendo: 50.000 = RT – CT 50.000 = P x Q – {CF + (cvu x Q)} 50.000 = 200 Q – (100.000 + 120 Q} 150.000 = 80 Q Q = 1.875 peças por mês. ATIVIDADE Com base nos dados iniciais desse exercício, proponha novos problemas: Por exemplo: - Qual o nível de produção (quantidade a ser produzida) para um prejuízo mensal de R$ 50.000,00? Quanto tem que reduzir seu Custo Fixo para lucrar R$ 20.000,00 por mês, mantendo P = 200,00, cvu = R$ 120,00 e Q = 1.250 peças? ALAVANCAGEM OPERACIONAL: utiliza o conceito da elasticidade para estabelecer uma dimensão quantitativa para a produção. Exemplo. A indústria do cimento e aço no Brasil tem o crescimento do mercado desses itens atrelado à elasticidade de 2,5 em relação ao PIB do Brasil. Se o PIB do Brasil cresce 4 %, a demanda de aço e cimento irá crescer 10 %. Ocorre, também, o inverso, se o PIB cair 4 %, a demanda de aço e cimento cairá 10 %. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 12 Vejamos o exemplo da nossa empresa no slide anterior. Supondo as duas situações abaixo: Analisando os números para chegaremos à Alavancagem Operacional. Um aumento de 300 peças na produção (de 2.000 para 2.300) significa aumento percentual de 15 % (300 peças em 2.000). Esse aumento de produção resulta em aumentar o lucro operacional em R$ 24.000,00 por mês, passando de R$ 60.000,00 para R$ 84.000,00 - o que, percentualmente, significa 40 %. Confira esses cálculos como forma de exercício. A produção cresce 15% e o lucro, 40 %. O cálculo do GAO (Grau de Alavancagem Operacional) é feito assim: 40% ÷ 15 % = 2,67. A cada aumento unitário percentual, iremos aumentar 2,67 % o lucro operacional da empresa. O GAO mede a variação percentual do Lucro em relação à variação percentual da produção ou da quantidade produzida. Quanto maior o GAO de uma empresa, maior será o risco dela, isto é, pequenas variações na quantidade produzida refletem mais significativamente no lucro operacional, tanto para cima quanto para baixo, quanto maior for o GAO da empresa. Empresas que têm toda produção terceirizada (Custo Fixo operacional próximo de zero) possuem um GAO muito baixo. São empresas que possuem pouco risco e também pouca possibilidade de oferecerem resultados operacionais surpreendentemente altos. O preço de mercado de um item é feito pelo mercado. As empresas, hoje, administram seus custos fixos e variáveis e os volumes de produção. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 13 O ponto de partida da Administração da Produção é a previsão das demandas de curto e médio prazos, no nível operacional, e de longo prazo no nível estratégico. Introdução à Produção de Demanda – “Produzir além da demanda do mercado gera estoque e, consequentemente, custo. A minimização dos custos de produção fazse com quantidades planejadas, programadas e predefinidas, de forma a se obter melhor controle e maior qualidade”. Você tem alguma experiência ou utiliza esse estudo de demandas? Caso conheça, apresente suas sugestões. Caso não, aproveite ao máximo! Quanto devemos produzir para atender a demanda do mercado e não gerarmos custos desnecessários de estoque? Teremos duas aulas para estudar, trocar idéias e experiências com seus colegas e tutor. As previsões de demandas dependem de alguns fatores: 1 - Disponibilidade de dados, tempo e recursos. Métodos sofisticados envolvem modelos matemáticos 2- Horizonte de previsão. Alguns métodos são mais eficientes para previsões de longo prazo (demandas anuais), enquanto outros são aplicados para períodos mais curtos, meses, semanas ou dias. Devemos ter em conta, sempre, que os métodos não conduzem a resultados exatos e a chance de erro aumenta à medida que nos distanciamos da previsão futura. Alguns estudiosos dizem, jocosamente, que “as previsões são excelentes para se prever o passado e nos enganar acerca do futuro”. Ironia à parte, as previsões de demanda são feitas desde que se projeta uma indústria ou empresa de serviços e, depois, com ela operando, nas correções dos efeitos sazonais do mercado. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 14 Os mercados são dinâmicos e continuadamente nos oferecem uma gama enorme de fatores aleatórios que nenhuma previsão consegue captar. MÉTODOS DE PREVISÃO Qualitativos São baseados na sensibilidade de pessoas que tenham condições de opinar sobre as demandas futuras: vendedores, gerentes, clientes, fornecedores etc. Não se apóiam em nenhum modelo matemático, embora possam ser conduzidos de maneira sistemática. São muito úteis quando da ausência de dados e, também, no início de um projeto ou de uma empresa. Quantitativos (utilizam modelos matemáticos) Métodos causais A demanda de um item (ou itens) pode estar relacionada com variáveis externas à empresa. Crescimento da população (ou de uma classe específica dela), como número de alvarás expedidos para construção, consumo de certos produtos etc. são fatores indutores da demanda de produtos afins. Séries Temporais A análise de séries temporais exige somente o conhecimento de valores passados da demanda e será o modelo a ser visto na nossa próxima aula. Mantenha a tranqüilidade, afinal temos duas aulas para conversar sobre esse assunto. Hoje, podemos desenvolver a previsão da demanda de curto prazo, utilizando 3 métodos. Veja como é simples: 1 - Método da média móvel aritmética. É o mais simples de todos. Uma fábrica de bicicletas listou suas vendas mensais. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 15 A previsão da demanda de bicicletas de maio, se calculada pelo método da média móvel aritmética, poderá ser estimada de várias formas. Se ela se basear nas duas demandas anteriores (esse método se baseia sempre nas demandas imediatamente anteriores), será calculada como a média das duas demandas anteriores: D maio = (D abril + D março) ÷2, ou (278+282) ÷ 2 = 280 Se utilizarmos o método com base nos três meses anteriores, teremos: D maio = (D abril + D março + D fevereiro) ÷3, (262+282+278) ÷3 = 274 Poderíamos, ainda, usar, para o cálculo, a previsão de 4 ou 5 meses anteriores, mas à medida que nos afastamos do período a ser previsto, mais expostos a fatores aleatórios estaremos. Algumas considerações importantes: Passado o mês de maio, o administrador deverá ter em mãos a demanda real do período, comparar com as previsões de 274 e 280) e verificar qual se mostra mais próxima à realidade, para que seja adotado um critério (se 2 ou 3 meses anterior como base). Devem ser considerados os fatores de descontinuidade (sazonalidade) dos períodos estudados. Em julho nas férias escolares poderemos ter um aumento das vendas de bicicletas. Verificamos o que aconteceu no ano anterior. Se a demanda aumentou de junho para julho no ano passado e se corrigirmos a nossa previsão. Em outubro temos o dia das crianças e em dezembro o Natal. Devemos corrigir as previsões com base nos anos anteriores 2. Método da média móvel geométrica. É bastante simples também. Seja o exemplo anterior, vendas mensais da fábrica de bicicletas. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 16 A demanda de bicicletas de maio, pelo método da média móvel geométrica, poderá ser estimada, também, de várias formas. Se ela se basear nas duas demandas imediatamente anteriores, será calculada como a média geométrica das duas demandas anteriores: Se utilizarmos o mesmo método com base nos três meses anteriores, teremos: Todas as considerações do método da média móvel aritmética, quanto às correções de descontinuidade (férias escolares, Dia da criança e Natal, lembra-se?) também devem se consideradas nesse método. 3. Método da média móvel ponderada. É montada da mesma forma que o cálculo baseado na média móvel aritmética e, somente aos meses anteriores considerados, são atribuídos pesos. Vamos aos números da fábrica de bicicletas. Vamos calcular a previsão de demanda de maio, com base nos três meses anteriores, considerando que abril, pela proximidade no tempo, terá um ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 17 peso maior que março e este, por sua vez, maior que fevereiro. Atribuiremos peso 3 para abril, peso 2 para março e peso 1 para fevereiro. A soma dos pesos será, portanto, 6. Os pesos são critérios que variam em cada atividade. O resultado será: Atividades propostas 1 - Da aula passada: Um lava car cobra de cada carro lavado R$ 25,00 e estima que seus custos variáveis (sabão, água etc.) sejam R$ 5,00 por carro. Seus custos fixos mensais (salários, energia elétrica, aluguel, telefone etc.) são R$ 4.200,00. Calcule: O Ponto de Equilíbrio da empresa? Em um certo mês, lavou 150 carros. Teve lucro ou prejuízo e de quanto? Quantos carros tem que lavar para lucrar R$ 2.000,00 por mês? Quantos carros tem que lavar para lucrar 20 % do seu custo total mensal? Modelagem Matemática para Previsão de Demanda – A proposta desta aula é definir uma metodologia para se estimar as demandas (ou vendas) mensais para o ano 200x, com base nas demandas efetivas do ano 200y(ano anterior). Isso pode ser feito com base científica. Os estudiosos do assunto detectaram três tipos de ciclicidades do mercado. 1. Efeitos de Longo Prazo Literalmente, exercem pouca influência nos mercados, no curto prazo, e dependem do crescimento populacional e da qualidade de vida do mercado. Crescimento populacional: As demandas tendem a crescer na mesma taxa de crescimento populacional da região onde atuam. Devemos considerar, também, que o crescimento de uma população varia para cada faixa etária. Vários países europeus têm sua população de jovens com taxas negativas e a de idosos com taxas positivas de crescimento. Melhoria da qualidade de vida: É natural que, nas sociedades onde se percebe uma melhoria da qualidade vida da população, cada vez mais ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 18 pessoas tenham acesso a mais produtos e a bens e serviços, resultando em um aumento da demanda desses bens. 2. Efeitos de Médio Prazo São os efeitos mais difíceis de serem identificados. Basicamente, referem-se à acomodação das sociedades, empresas, instituições e países, quando atingem determinada posição em relação aos seus pares. A IBM foi, durante bom tempo, o ícone do sucesso no meio empresarial. A Argentina, na década de 40, foi a sétima economia do planeta. A Rússia era uma das duas superpotências do século passado. O Paraguai viveu anos de desenvolvimento até 1864, ano em que foi derrotado por não menos que três países (Brasil, Argentina e Uruguai). Nosso modelo não prevê a existência desses efeitos pelo caráter de extrema aleatoriedade. 3. Efeitos de Curto Prazo São efeitos causados pela sazonalidade. As empresas possuem atividades cíclicas cuja freqüência pode ser diária, semanal, mensal e anual. Podemos entender a freqüência anual como múltiplo comum das outras três anteriores, ou seja, anualmente, temos, em média, 365 ciclos diários, 52 ciclos semanais e 12 ciclos mensais. Depois desses, iniciamos novo ciclo anual e assim sucessivamente. Além disso, o exercício econômico e contábil das empresas também é anual e não são incomuns comparações de resultados mensais de um mês de um certo ano em relação ao mesmo mês do ano anterior. Essa comparação atenua o efeito da sazonalidade. Não podemos comparar, por exemplo, o volume de vendas da semana que antecedeu o Natal de 2005 com a terceira semana de janeiro do ano subseqüente. Podemos comparar o volume de vendas da semana que antecedeu o Natal de 2005 com igual período do Natal de 2004 ou de 2003 e assim sucessivamente. A Modelagem Matemática Um conjunto de símbolos e relações matemáticas que traduz ,de alguma forma, um fenômeno em questão ou um problema de situação real, é denominado de Modelo Matemático. (BIEMBENGUT, 1997, p. 89). Uma proposta de previsão de demanda apóia-se no modelo matemático dos “Mínimos Quadrados” e, a partir das demandas mensais ocorridas em um determinado ano (ano base), torna-se possível estabelecer, tecnicamente, a previsão das demandas do ano subseqüente. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 19 Para isso, devemos considerar: 1 - O ano de referência (ano base) não poderá ter “acidentes econômicos” significativos ou fatos anormais que alteraram as demandas, pois, como veremos mais à frente, esses acidentes são transferidos para as previsões do ano seguinte. 2 - O ano para o qual se calculam as previsões de demandas deverá também, transcorrer sem acidentes que causem impacto positivo ou negativo nas atividades econômicas do mercado. O modelo dos “mínimos quadrados” propõe uma função linear (y = a + bx) que melhor representa um conjunto de n pontos {x;y}, com base na resolução do sistema: } Método dos Mínimos Quadrados em que n = número de pontos {x;y} a e b são as variáveis da equação Calcular a equação linear que melhor representa o conjunto dos 5 pontos {x; y}: A={0;2}, B={2;10}, C={1;6}, D={-2; -6} e E={3;1}. Para definirmos a equação y = a + b x, precisamos encontrar os valores das constantes a e b. Para tanto, montamos a tabela abaixo, onde aparecem, em negrito, as colunas calculadas. Montando as equações, teremos: ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 20 Resolvendo esse sistema de duas equações e duas incógnitas, encontramos: a = 2, e b = 4, resultando a equação final em y = 2+ 4 x, que é a equação que gerou os pontos da tabela. Faça a verificação, substitua x na equação e confirme os valores de y. Um exemplo prático Uma empresa teve, em 2006, o volume de vendas em peças registrado na tabela abaixo. O que podemos prever para 2007, utilizando o “Método dos Mínimos Quadrados”? Com base nos dados de 2006, montamos a tabela de forma a encontrar a equação que melhor se ajusta ao conjunto de pontos, pelo método dos mínimos quadrados, como segue: Vamos calcular a previsão de demanda de maio, com base nos três meses anteriores, considerando que abril, pela proximidade no tempo, terá um ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 21 peso maior que março e este, por sua vez, maior que fevereiro. Atribuiremos peso 3 para abril, peso 2 para março e peso 1 para fevereiro. A soma dos pesos será, portanto, 6. Os pesos são critérios que variam em cada atividade. O resultado será: Montando as equações, teremos: Resolvendo o sistema, encontramos a equação que melhor representa as vendas de 2006: y = 429,06 + 21,50 b, ou, de outra forma: Vendas = 429,06 + 21,50 . mês de referência. A tabela seguinte será montada com: - as vendas efetivas de 2006; - os valores de cada mês, encontrados pela substituição do mês na equação (jan =1, fev =2, etc. até dez = 12); - os 12 coeficientes de correlação entre as vendas efetivas e o valor da reta, que se encontra dividindo as vendas reais pelo valor da reta, para cada mês. Vamos visualizar a tabela e o gráfico dos pontos encontrados. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 22 Analisando o gráfico acima, percebe-se que a reta da equação se ajusta aos pontos das vendas realizadas no ano de 2006. Os coeficientes de cada um dos doze meses é a correlação entre as vendas reais efetivadas em 2006 e os valores encontrados na equação. Vamos, agora, estender a reta de tendência de 2006 para 2007 e aplicar o mesmo coeficiente de correlação de janeiro de 2006 em janeiro de 2007, entendendo que, em 2007,dar-se-á o mesmo efeito relativo da sazonalidade ocorrido em 2006. Esse processo deverá ser repetido para os todos os meses do ano de 2006. Dessa forma, a nova tabela, contendo as vendas efetivas ocorridas em 2006 e a previsão para 2007, fica assim: ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 23 Passos a serem dados: 1. Janeiro de 2007 passa a ser 13 fevereiro, 14 e assim por diante. 2. Os coeficientes são repassados de um para outro ano. 3. Os valores da reta de 2007 são encontrados, substituindo 13, 14, 15, na equação da reta. Ex: Janeiro de 2007 x = 13. Substitui 13 na equação Vendas = 429,06 + 21,50 x. 4. As vendas de 2007 serão o produto de pelos valores da reta. Ex: Previsão de vendas de maio de 2007 794,56 x 0,950 = 510 Veja, abaixo, como ficam os números em um gráfico com o ano de 2006 e as previsões de demandas para 2007. Note que os picos e vales dos dois anos se mantêm, transportando os efeitos mensais da sazonalidade, de 2006 para 2007. Considerações finais ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 24 Para a aplicação prática desse modelo, devemos considerar que, tanto a ano base (no caso 2006), como o ano que se queira prever (2006), sejam anos típicos, nos quais não se tenham fatores anormais, nem na economia do país (eleições, planos econômicos etc.), nem no setor no qual a empresa atua (incentivos, redução de impostos etc.). Além disso, podemos fazer ajustes nos valores previstos, como aumento de 10 % nas vendas estabelecido como meta pelo Departamento Comercial, ou valores progressivos, mês a mês, que poderão ser feitos corrigindo-se a equação da reta de tendência, ou ainda corrigindo meses ou períodos identificados como de maior potencial de atividade devido a promoções, ou outros fatores do segmento. Em razão das previsões de demanda, as empresas poderão ajustar o fluxo de caixa e seus prazos de recebimento e de pagamento (Ciclo de Caixa), podendo prever o caixa operacional ou giro operacional. Períodos em que as atividades são menores podem servir para manutenção, troca de equipamentos, expansão etc. Períodos de aumento de atividade terão um custo maior, tanto de mão-de-obra, como de insumos utilizados na produção. Atividade Agora, é a sua vez. Pegue dados mensais de uma empresa em determinado ano e estenda-os para o ano subseqüente, utilizando o “Método dos Mínimos Quadrados”. Você pode pegar dados anuais de 5 anos passados (de vendas em peças, em R$) de uma empresa, encontrar a reta e estendê-la por 5, 6 ou mais anos, para prever suas demandas futuras. Procure apoio de planilhas eletrônicas (Excel) e tire dúvidas com seus colegas e tutores. Arranjo Físico (layout) – Na Administração de Projetos que você já viu, a atividade de projeto é, em si mesma, um processo de transformação que começa com um conceito (ou idéia) e termina em uma especificação de algo a ser produzido. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 25 Os projetos criam produtos e/ou serviços e também servem para definir os processos pelos quais esses produtos e/ou serviços serão elaborados (construídos, montados, implantados, vendidos etc.). Os projetos de produtos (ou serviços) e de processos pelos quais eles são produzidos estão intimamente relacionados, ainda que, por vezes, sejam tratados separadamente. Seria incoerente definir o projeto de um produto ou serviço sem qualquer consideração sobre o modo como deva ser produzido. Ao contrário, o processo rígido pode restringir a diversificação dos produtos fabricados na empresa. Em nossa aula de hoje, vamos nos limitar a estudar os projetos de processos utilizados para se produzirem bens e serviços e adequá-los às diversificações dos produtos. Os projetos de processos são elaborados a partir de layout, ou, em bom português, arranjo físico. Os arranjos físicos referem-se à localização física dos recursos que transformam matérias-primas em produtos acabados. Os recursos utilizados são: máquinas, matérias do processo, matérias-primas e o homem. Nos arranjos físicos, temos, também, que prever a circulação de todos esses recursos, das máquinas de movimentação de materiais e, muitas vezes, dos clientes, inspecionando o andamento da montagem de produto adquirido. Você se lembra do exemplo da fábrica de alfinetes? Hoje, vamos entender por que ela passou a produzir mais quando se alterou o processo de produção. As decisões sobre o tipo de arranjo físico são importantes em todos os processos de produção: É uma atividade difícil e de longa duração, devido às dimensões físicas dos recursos de transformação envolvidos (máquinas, equipamentos, prateleiras para estoque etc.). O re-arranjo físico de um processo é caro, consome tempo e impõe paradas na produção. Arranjos físicos errados levam a fluxos mais longos ou confusos, estoque de materiais em processo, filas de espera (até de clientes), tempos de processamento mais longos, inflexibilidade de operações e, como conseqüência, custos mais altos de produção. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 26 Não se pode errar quando se decide por um processo de produção. O custo desse erro pode ser decisivo para o futuro da empresa. A maioria dos arranjos físicos existentes deriva, na prática, de apenas 4 tipos básicos: 1- Arranjo físico posicional 2- Arranjo físico por processo 3- Arranjo físico por produto 4- Arranjo físico celular Arranjo físico posicional Conhecido, também, como arranjo físico por posição fixa. Construção de um navio em um estaleiro ou de um avião de grande porte. Construção de uma ferrovia, rodovia ou ponte. Construção de um edifício. O bem produzido nada ou pouco se movimenta. Muitas vezes, permanece estático durante todo o processo de fabricação. Os recursos já se movimentam e se ajustam ao andamento do processo. Note que, em todos os exemplos citados, o termo construção se ajusta bem ao que, efetivamente, é produzido. Os homens com máquinas, ferramentas e materiais deslocam-se ao longo dos pontos onde se trabalha, ao longo de todo o processo produtivo. Arranjo físico por processo Neste tipo de arranjo, os processos similares estão localizados próximos uns dos outros. As máquinas com a mesma função são agrupadas em um único local. A seqüência das operações da fabricação irá definir o fluxo do material. Características: - Flexibilidade, permitindo fabricar produtos de vários tipos e tamanhos. - Investimento alto e, por vezes, algumas máquinas ficam ociosas. - Único supervisor por função. - Ocupa grande espaço. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 27 - Não é o ideal para fabricação contínua de um mesmo produto. Biblioteca é um bom exemplo. Arranjo físico por produto Um exemplo típico de aplicação desse arranjo. É o modelo de layout mais indicado para fabricação de produtos em série ou em linha. A seqüência das operações define a posição de cada máquina do processo de transformação. Vejamos o exemplo abaixo de uma fábrica de goiabada ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 28 Arranjo Físico por produto - Fábrica de Goiabada Características desse tipo de arranjo: - É o de melhor produtividade para grandes produções contínuas. - Apresenta dificuldades para modificações significativas ou troca de produtos. - Tem grande capacidade de produção, porém sua expansão também fica difícil. O projeto inicial da linha já deve prever essas expansões. Neste processo, máquinas e equipamentos são dispostos em linha até o setor de embalagem, que monta os produtos acabados (lata, tabletes de ½ ou de 1 kg). A goiaba entra no processo, passa por uma seleção, vai para a lavagem e limpeza, é cozida, depois são adicionados o açúcar, conservantes, condimento. É resfriada até o ponto de ser enviada para os três setores de embalagem. Outros exemplos: - Montadoras de automóveis. - Produtos de grande demanda em geral. Arranjo físico celular Arranjo físico celular – Nova Fábrica de móveis ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 29 É aquele em que os recursos a serem transformados (matérias-primas), quando entram na operação, são pré-selecionados e desviados para células de produção de determinado item a ser fabricado. Cada célula em si pode ser arranjada segundo o layout por processo ou por produto. No exemplo esquematizado, vamos supor que o nosso fabricante de móveis para escritório criou duas células de produção em série, uma para carteiras escolares e outra para mesas de computador devido à grande demanda desses itens. A sua fábrica continua trabalhando como uma célula por processo para atender os clientes atuais. Toda a matéria-prima continuará estocada no mesmo ponto. Quando ela entrar na operação, será dirigida para sua célula de manufatura. Note, no layout do exemplo, que a entrada de matéria-prima e demais recursos acontecem em um só ponto. Depois de checada, ela vai para a célula de produção correta. Podem existir células dentro de outras células. Se tivermos dois modelos de carteiras escolares, um com apoio do caderno fixo e outro móvel, poderíamos ter dentro da célula principal duas microcélulas, uma para cada produto. A maioria das empresas possui arranjos físicos mistos (híbridos), que combinam elementos convenientes de cada um dos modelos. A decisão sobre qual arranjo físico é melhor deve ter em conta aspectos qualitativos e quantitativos. Para avaliar os aspectos quantitativos, recomenda-se calcular os custos de produção (fixos e variáveis, como aprendemos na aula 2) para cada tipo de arranjo, considerando que o custo total varia à medida que aumenta a quantidade produzida. Feito isso, poderá ser definido o método para todas as quantidades a serem produzidas. Graficamente: ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 30 Fica evidente que, se a empresa pensa em produzir entre 0 e a quantidade Q1, deverá optar pelo arranjo Posicional que apresenta o menor custo total. Entre Q1 e Q2, o arranjo de menor custo total é por Processo. Acima da quantidade Q2, o arranjo por Produto mostra-se com menor custo total. Já o arranjo Celular não será indicado em qualquer nível de produção. Atividade 1. Pense em um serviço ou em um bem. Imagine como ele pode ser produzido ou elaborado. Que tipo de arranjo físico você sugere? Pense em vários produtos. Exercite esse raciocínio. 2. Relacione o tipo de restaurante com o modelo de arranjo físico que melhor representa. 1. { } Um restaurante industrial do tipo “bandejão” 2. { } Um restaurante fino “a la carte” 3. { } Um restaurante de comida por quilo, self-service. 4. { } Um “fast-food” Mc Donald’s 5. { } Um restaurante de rodízio de carnes (F) Posicional (C) Celular (P) Por produto (S) Por processo A Terceirização Há alguns anos, surgiu, no mundo dos negócios, a terceirização, que consistia, basicamente, em passar atividades fora do foco principal da empresa para outros fornecedores. A princípio, atividades como segurança, refeições dos funcionários, transporte, contratações de novos colaboradores etc. foram sendo passadas para outras empresas, os terceiros. Em seguida, algumas empresas passaram, também, a terceirizar parte dos itens que compunham seu produto principal, como hoje se verifica, de forma acentuada, nas montadoras de automóveis. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 31 Outras empresas seguiam na direção contrária dessa teoria, isto é, verticalizavam suas atividades. Verticalizar pode ser entendido como estender as atividades de uma empresa o mais próximo possível do fornecimento de todas as matérias-primas que compõem um produto, até o último serviço de entrega desse produto ao cliente, incluindo frete, assistência pós-vendas etc. vamos entender como isso funciona. Nesta aula, vamos utilizar a teoria das probabilidades, estudada em Estatística. Relembrando: Se tivermos, dentro de uma urna, 4 bolas numeradas de 1 a 4, a probabilidade de se tirar a bola escolhida é 25 % ou, em decimal, 0,25. Se somarmos todas as probabilidades, teremos sempre 100 % ou, em decimal, 1. Se tirarmos a nossa bola escolhida, teremos sucesso 25 %; se não tirarmos, consideramos fracasso com 75 % de probabilidade. Quando se produz uma peça em uma máquina, ela pode sair com defeitos ou não. Supondo que a probabilidade de uma peça sair com defeito em uma máquina seja de 5 %, a probabilidade de ela sair perfeita será de 95 %. Vamos estabelecer isso como regra. Seja a linha de produção acima, em um layout por produto, visto em aulas passadas como o arranjo em que a disposição das máquinas é feita dependendo da seqüência das operações; seja a seqüência de três operações abaixo: ABC. A peça bruta entra na máquina A, vai para a B e, finalmente, fica pronta depois que sai da C. Ela poderá ter defeito nas 3 operações. Ela poderá sair perfeita, ter 1 defeito (causado em A, B ou C); poderá ter 2 defeitos, causados em {A e B}, {A e C} ou {B e C} e poderá ter 3 defeitos causados em A, B e C. Vamos exemplificar numericamente. A probabilidade de A ter defeito é de 2 %; de B é 3 % e de C é 5 %. Para ter um único defeito em A, calcula-se desta forma: Defeito em A = 0,02. Acerto em B = 1 – 0,03 = 0,97 ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 32 Acerto em C = 1 – 0,05 = 0,95 Agora, calculando um único defeito em B, teríamos: Calcule, como atividade, a probabilidade de termos um único defeito em C. Probabilidade de um único defeito em C , em PORCENTAGEM: A soma de todas as probabilidades de termos um único defeito é: 1 defeito em A = 1,843 1 defeito em B = 2,793 1 defeito em C = 4,753 TOTAL = 9,389% Agora, a probabilidade de termos 2 defeitos. Primeiro, considerando defeito em A e C e acerto em B 2 defeitos, considerando defeito em B e C e acerto em A Calcule, agora, para dois defeitos (em A e B), teríamos uma probabilidade. A soma de todas as probabilidades de termos um único defeito é: 2 defeitos (A e C) = 0,097 % 2 defeitos (B e C) = 0,147 % 2 defeitos (A e B) = 0,057 % TOTAL = 0,301 % Probabilidade de 3 defeitos. Agora, mais rapidamente, pois você já entendeu o processo, correto? 0,02 x 0,03 x 0,05 = 0,00003 ou 0,003 %. Probabilidade de sair perfeita ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 33 0,98 x 0,97 x 0,95 = 090307 ou 90,307%. A soma das probabilidades, logicamente, tem que resultar em 100 % ou igual a 1, pois essa quantidade de falhas cobre todas as possibilidades do evento. Conferindo, então: Probabilidade de 1 defeito = 9,389 Probabilidade de 2 defeitos = 0,301 Probabilidade de 3 defeitos = 0,003 Probabilidade de sair perfeita = 90,307 TOTAL 100 % Dessa forma, conclui-se que, de cada 100.000 peças que entram nessa linha de produção, 90.307 saem perfeitas, 9.389 saem com 1 defeito, 301 saem com 2 defeitos e 3 saem com 3 defeitos. Outra possibilidade de termos máquinas em processo e em paralelo. No esquema exemplificado abaixo, todas as peças entram em A (100 % delas). Depois de processadas em A, 60 % vão para B e 40 % para C. Supondo as probabilidades de defeitos (A = 2 %), (B = 3 %) e (C = 5 %). Nesse caso, nunca teremos peças com 3 defeitos. Teremos com 1 defeito (em A, B ou C), teremos peças com 2 defeitos (em A e B ou em A e C) e peças perfeitas. Vamos ao cálculo para 1 único defeito. Peças com 1 defeito: Defeito só em A: [0,02 x (0,6 x 0,97)] + [0,02 x (0,4 x 0,95)] = 0,01924 ou 1,924 % Continuando o cálculo para um só defeito Defeito só em B: 0,98 x (0,6 x 0,03) = 0,01764 ou 1,764 % Defeito só em C: 0,98 x (0,4 x 0,05) = 0,0196 ou 1,96 % Total de peças com 2 defeitos: 1,924 + 1,764 + 1,96 = 5,648 % ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 34 Peças com 2 defeitos: Defeito em A e B: 0,02 x (0,6 x 0,03) = 0,00036 ou 0,036 % Defeito em A e C: 0,02 x (0,4 x 0,05) = 0,0004 ou 0,04 % Total de peças com 2 defeitos: 0,036 + 0,04 = 0,076 % Peças sem defeitos: (0,98 x 0,6 x 0,97) + (0,98 x 0,4 x 0,95) = 0,94276 ou 94,276 % Conferindo todas as possibilidades 5,648+ 0,076 + 94,276 = 100 % Vimos, até agora, uma ferramenta usada para se quantificar a probabilidade de defeitos em linhas de produção e inseri-los nos custos operacionais. Ainda que as empresas na busca da Qualidade Total procurem trabalhar com defeito zero, existem falhas mecânicas e humanas nos processos, falhas essas que devem ser reduzidas ao máximo, porém não podem ser desconsideradas. Por vezes, as empresas têm que decidir entre dois ou mais métodos de produção. Elas montam esses métodos em um único gráfico chamado “árvore de decisões” com tantos “galhos” quantos métodos possíveis. Uma empresa produz um bem que não pode ter defeito. Quando produz 1.000 peças em média, observa que 950 são perfeitas e 50 são descartes. Cada peça tem um custo unitário de R$ 50,00. Isso representa um custo total de R$ 50.000,00 para 950 peças perfeitas (R$ 52,631 por peça). Se um fornecedor terceirizado lhe garantir um menor custo unitário por peça perfeita, ele deve terceirizar o produto. TERCEIRIZAÇÃO: Se uma empresa terceiriza parte de sua produção, está repassando a um fornecedor uma parte do seu lucro. Fazem isso para não verticalizar demais suas operações. Os fabricantes de cigarros não teriam condições operacionais de produtividade para plantarem o fumo, colher, processar (produzir o cigarro) e distribuir. Eles se concentram nas atividades mais lucrativas dessa cadeia que agregam mais valor, que é produzir e distribuir, deixando as atividades de menor valor agregado para seus fornecedores. Um automóvel possui próximo de 10.000. Nenhuma empresa produziria todos esses itens com eficiência. As montadoras concentram-se em produzir os componentes principais, que fazem o diferencial do automóvel, como câmbio, motor, chassi, e desenvolvem fornecedores certificados para os demais itens. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 35 A Alemanha é o maior produtor mundial de café solúvel. Entretanto, possivelmente não tenha mais de uns poucos pés de café plantados. As terras lá são destinadas a culturas mais caras. Os alemães compram café e agregam tecnologia e valor para torná-lo solúvel. Essa, talvez, seja a parte mais lucrativa da cadeia do café solúvel. A decisão de se terceirizar, ou não, pode ser tomada em empresas que sofrem oscilações grandes nos volumes demandados de forma moderada. No Brasil, produtos, como biquínis, chocolate, roupas de inverno, brinquedos etc. têm demanda muito variada. Uma solução seria calcular com base na previsão da demanda. Como já vimos em aulas passadas, resume-se em definir um nível constante de produção (nível ótimo da capacidade) e terceirizar o que estiver acima dessa produção. A diferença “A” entre o que é produzido e o que é vendido pode ser repassada a terceiros. Caso o mercado registre uma queda na demanda real, o fabricante pode cancelar a produção terceirizada, garantindo a colocação dos produtos fabricados por ele no mercado. A diferença “B” pode ser usada para criar um estoque estratégico antes de um período de forte demanda, garantindo a disponibilidade dos produtos aos clientes. Uma saída para fabricantes de biquíni, por exemplo, seria exportar e aproveitar o verão de outros países, meses defasados do nosso verão. VERTICALIZAÇÃO ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 36 Como o próprio termo propõe, significa crescer suas atividades nos segmentos anterior e posterior da cadeia de produção. Algumas atividades dependem tanto do fornecimento de suas matériasprimas que se obrigam a verticalizar pelo menos parte de seus insumos. Uma indústria de papel que consome hectares de árvores por dia não pode depender de fornecedores. É estratégico possuir seu próprio reflorestamento, tendo em conta que o período de corte das árvores é relativamente grande e cortar árvores jovens é muito improdutivo. Além disso, a verticalização impõe o sucesso de toda cadeia (de todas as empresas da cadeia) ao sucesso do segmento do mercado no qual atua(m) a(s) empresa(s). Novas tecnologias podem deixar todo um império de empresas totalmente vulnerável. A Coca-cola, além de produzir o refrigerante, possui, também, o sistema de distribuição de seus produtos. A logística de distribuição e o marketing devem ser os componentes estratégicos principais de seus produtos. Terceirizar é segurança. Nosso fabricante de móveis para escritório assumiu as vendas da empresa e, em um primeiro momento, terceirizou a estrutura metálica dos móveis para um ex-funcionário que alugou suas instalações. Ele passou a comprar estruturas somente quando tinha certa sua venda. Em um segundo momento, terceirizou para outro funcionário a fabricação dos assentos e encostos das cadeiras e mesas e também só as comprava quando vendia. Chegou a um certo ponto em que ele só comprava componentes de seus móveis quando já tinha feito as vendas. Seu risco era zero. Tecnicamente, ele passou a não ter custos fixos operacionais. Somente tinha os custos variáveis, que praticamente era o móvel pronto. Restava ao nosso empreendedor colocar a margem de lucro que o mercado pudesse pagar. Seu Grau de Alavancagem operacional passou a tender a zero. Atividade 1. Para as empresas abaixo, coloque, nos parênteses, F, se for fácil verticalizar, e D, se for difícil. ( ) Um restaurante de rodízio de carnes. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 37 ( ) Um fabricante de pneus. ( ) Um fornecedor de microcomputadores. ( ) Um hospital. ( ) O nosso fabricante de móveis. 2. Para as empresas abaixo, coloque, nos parênteses, F, se for fácil terceirizar, e D, se for difícil. ( ) Uma montadora de automóveis. ( ) Um restaurante industrial. ( ) Um fabricante de cimento a granel. ( ) Um fabricante de brinquedos. ( ) Um fabricante de vinhos. A Localização Quanto custa a localização errada de uma empresa e quais fatores são determinantes na escolha de sua localização. Para localizar estrategicamente uma empresa, precisamos decidir, em linhas gerais, sobre: qual país, qual estado, qual cidade, qual bairro e, finalmente, qual rua e localização. Vamos apresentar, com base nos fatores estudados, a seleção regional até chegarmos à cidade. Neste ponto, apresentaremos dois modelos de decisão de escolha. “Localizar significa determinar o local do centro de operações, onde serão prestados os serviços e/ou fabricados os produtos que geram as receitas da empresa e onde se fará a administração do empreendimento.” Definir uma localização para se instalar um empreendimento é uma decisão estratégica e faz pare do planejamento global do negócio. Desse modo, dois aspectos são os mais importantes: 1 - A localização de uma empresa deve ter em conta minimizar os custos totais de produção. Deve-se considerar custo de transportes (matériasADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 38 primas e produtos acabados), estoques, mão-de-obra, visibilidade, outros insumos (água, energia elétrica, combustíveis etc.) nessa ponderação. 2 - A re-localização do centro de uma unidade produtiva da empresa gera um custo alto demais, tornando-se, muitas vezes, inviável. Algumas empresas precisam ficar próximas de seus clientes (supermercados, farmácia, padaria etc.). Outras são atraídas pela proximidade das matérias-primas (indústria cerâmica, fábrica de cimento etc.). Algumas necessitam de mão-de-obra especializada e se limitam a regiões que possam oferecê-la. Existem, também, os polos de tecnologia onde empresas de tecnologia de ponta se instalam. Cada empresa e cada produto fabricado possuem suas particularidades (porte, logística, recursos necessários, nível de mão-de-obra etc.), fazendo com que os problemas referentes à sua localização sejam específicos de cada situação. Às vezes, o crescimento da demanda não pode ser atendido somente com a mera expansão da capacidade, tornando necessária a busca de um novo local para as operações. Sempre que tratamos do assunto de escolher um local para uma instalação, estamos nos referindo a uma nova instalação. Escassez de matérias-primas e aspectos de legislação ambiental ou urbana também forçam as empresas a se mudarem para outras regiões. Quando uma empresa já está operando, existem três opções para se localizar uma unidade. 1) Expandir a unidade existente. Dependerá de espaço e do tamanho dessa expansão. 2) Instalar uma nova unidade ao lado dessa existente. Também dependerá do espaço e do tamanho dessa unidade. 3) Fechar uma unidade e abri-la em outro local. Vários autores classificam disponibilidade ao cliente. os bens de produção, quanto à sua Para serviços e alguns produtos, a análise dessa classificação é muito importante para a localização das empresas: ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 39 Bens de conveniência. São aqueles em que a disponibilidade imediata do produto é um fator importante da venda. Nesse caso, o estoque é fator de sucesso do negócio. O cliente passa em frente a uma loja, vê uma calça na vitrine, entra e compra. Aqueles produtos que ficam em frente ao caixa dos supermercados são bons exemplos de bens de conveniência. Bens de comparação. São aqueles produtos que se comparam antes de comprar. Um carro modelo “A” custa R$ 40.000,00, mas a entrega é daqui a 30 dias. O modelo “B” custa R$ 42.000,00 e a entrega é imediata, na cor que o comprador quer, já vem com seguro etc. O comprador compara os produtos e sua relação custo/benefício e decide. Bens de consumo especiais. Neste grupo, estão produtos cujos compradores aguardam o prazo normal de fabricação para adquiri-los. Carros especiais, obras de arte, apartamentos em construção, algumas jóias e objetos de grande valor fazem parte desse grupo. Nesse caso, a disponibilidade imediata não é tão importante. FATORES DETERMINANTES NA LOCALIZAÇÃO. Consideradas as opiniões de vários autores, existem fatores importantes para serem analisados na escolha da localização de uma unidade produtiva. Esses autores separam em seis blocos de fatores. Fatores de avaliação quantitativa: dizem respeito aos volumes dos recursos necessários ao bem a ser produzido, que podem ser encontrados em uma determinada região. Os mais importantes são: 1) Disponibilidade e transporte de matéria-prima e semi-acabados. 2) Energia e combustíveis. 3) Água e esgoto (escoamento de resíduos e efluentes tratados). 4) Transportes em geral. 5) Facilidades governamentais e atrativos diversos. Fatores de avaliação qualitativa: tratam da qualidade dos recursos necessários, disponibilizados na região: 1) Mão-de-obra da região, ambiente sindical e social. 2) Perspectivas do mercado local. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 40 3) Alternativas para o transporte local de qualidade ou saturação de seus meios. 4) Acidentes, fatores geográficos, clima e segurança. 5) Sistemas de comunicação existentes. Macro-fatores: fatores do nível estratégico da empresa 1) Fatores ecológicos. 2) Necessidade da criação de núcleos sociais, cooperativas, vila operária etc. 3) Definição de meio rural, urbano ou grandes centros. 4) O processo de fabricação e suas necessidades de energia, matéria-prima, mão-de-obra e sua integração com outras empresas locais. 5) Análise de previsão futura das demandas e dos recursos disponíveis. Micro-fatores: fatores que irão impactar com a comunidade local e a região específica 1) Conseqüência para a comunidade (ruído, trânsito, efluentes etc.). 2) Posição com relação aos transportes (aeroportos, portos, rodovias e ferrovias). 3) Segurança local contra acidentes (inundações, incêndios, roubos etc.) 4) Acesso dos funcionários à empresa. Fatores da seleção regional: fatores que dizem respeito à macro região. Matéria-prima e meios de transporte e relação peso/volume entre matériaprima e produto acabado. Mão-de-obra. Custos logísticos (armazenagem, movimentação, transportes etc.) Condições climáticas, intemperismo, umidade e aspectos voltados ao produto e ao processo. Leis, cultura e costumes regionais. Incentivos e subsídios locais. Fatores para a escolha da região específica: fatores para escolha entre cidades próximas. Região urbana, rural ou periferia. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 41 Transporte, zoneamento, serviços e impostos municipais e sindicalização locais. Clima. Facilidade de aquisição e qualidade de terrenos. Incentivos municipais. AVALIAÇÃO DE ALTERNATIVAS DE LOCALIZAÇÃO Existem dois modelos principais de avaliação de localização. 1º) Ponderação qualitativa. Seja uma empresa fabricante de refrigerante e cerveja, que estuda uma localização para montar uma unidade produtiva. Ela ponderou entre os 6 fatores já estudados e está para optar entre as cidades “A” e “B”. O primeiro passo para essa decisão é listar os principais fatores necessários ao processo produtivo e sua colocação no mercado. A empresa chegou a 6 fatores, seu grau de importância, e monta a tabela a seguir. Passos da montagem. 1º) Definição dos fatores mais determinantes e seu pesos conforme importância. 2º) Atribuir nota a cada cidade quanto à competência em atender a cada um dos recursos necessários. 3º) Multiplicar os pesos de cada fator pela nota de cada cidade para chegar ao total de pontos obtidos por cada uma das cidades. 4º) Somar todos os pontos obtidos por cada cidade e concluir qual é a que apresenta melhores condições de oferecer recursos à empresa. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 42 2º Comparação entre custos fixos e variáveis é outra forma de avaliar a localização, calculando os custos fixos e variáveis (vistos na 2ª aula) para cada localização. A nossa fábrica de refrigerantes e cervejas calculou os custos de fabricação para as duas cidades, “A” e “B”, e chegou à seguinte conclusão: Custo total na cidade “A” é: CTA = 450.000 + 320 Q, onde Q = volume em m3 produzido no mês. Analogamente CTB = 500.000 + 280 Q. No ponto de intersecção entre as duas retas CTA = CTB, substituindo os termos em cada equação, teremos: 450.000 + 320 Q = 500.000 + 280 Q, e resolvendo a equação resulta que Q = 1.250 peças (QE). CONCLUSÃO Se a empresa produzir entre 0 (zero) e Qe, o custo total da cidade “A” é menor (a reta azul fica abaixo da vermelha) e, acima de QE, o custo total da cidade “B” é menor Empresas com várias filiais, vários centros de distribuição e clientes espalhados por todo o país, decidem a localização de suas instalações utilizando modelagens matemáticas complexas e pesquisa operacional e se ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 43 apóiam na rede dos modais de transportes utilizados para receberem suas matérias-primas e distribuírem seus produtos. Grandes transportadoras, que, em um único trajeto de caminhão, carregam e descarregam, várias vezes, cargas de pesos e tamanhos diferentes, necessitam de sistemas informatizados para estabelecerem os trajetos e, também, a localização ideal de suas filiais e a melhor rodovia para acessálas. ATIVIDADES PROPOSTAS 1ª) Uma empresa estuda montar uma nova unidade e tem, como opções, duas cidades, com seus custos fixos e variáveis, como segue. Calcule a quantidade produzida em que os custos totais sejam iguais e determine em qual cidade é melhor se instalar para a) produções maiores e b) produções menores que essa quantidade. 2ª) Simule uma situação de duas opções de cidades para instalar uma unidade produtiva. Defina os recursos mais importantes para a empresa. Estabeleça critérios (graus) de importância para cada recurso. Atribua, para cada cidade, uma nota da capacidade de oferecer cada um dos recursos e decida por uma delas (utilizando o modelo da avaliação qualitativa visto nesta aula). Sugestões de empresas: Refinaria de petróleo; Um estaleiro; Fábrica de aviões; Uma fábrica de móveis; Churrascaria; Um posto de gasolina; Fábrica de biquínis; ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 44 Uma confecção de roupas de inverno; Uma vinícola; Uma fábrica de geléia de frutas. Planejamento Agregado da Produção O planejamento agregado é recurso utilizado de projeção de um processo de balanceamento da produção a ser efetivada com a demanda prevista estudada na 3ª aula, elaborada para médios prazos, em geral 6 meses, 1 ou 2 anos. Empresas que atuam em mercados relativamente estáveis aplicam esse método para períodos maiores, e ano a ano, fazem os ajustes necessários para corrigir eventuais acidentes de demanda. É um método utilizado por empresas que têm poucos produtos na sua linha de fabricação ou que ainda produzam outros bens vendidos de forma casada com esses, que são os mais importantes. Vamos utilizar, ao longo de toda aula de hoje, uma empresa fictícia, que produz uma peça especial para um tipo de máquina. Ela possui 16 funcionários na produção e cada um produz 1.000 peças por mês ou 2.000 por bimestre. No nosso exemplo, vamos trabalhar com os bimestres do ano, para podermos nos concentrar no método, e não trabalhar com tabelas longas, para facilitar o manuseio dos dados. Depois de entendido o método, extrapolá-lo para 12 meses por ano ficará simples. Usaremos como ferramenta a planilha eletrônica Excel e ao longo do exercício iremos supondo valores de custos para os recursos utilizados. Seja então, a previsão de vendas bimestrais para 2007 da tabela abaixo. A produção de 192.000 peças ao ano resultaria em uma produção média bimestral de 32.000 peças. Visualizando graficamente nossa situação, temos: ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 45 No primeiro bimestre, produziríamos 32.000 peças e a demanda seria de 24.000, resultando em um estoque de 8.000 peças. No segundo bimestre, teríamos mais estoque se acumulando. Qual é a melhor forma de administrar essa situação? Produzir e estocar, ou produzir só a quantidade demandada, reduzindo o quadro de funcionários? Fazer horas extras nos períodos de maior demanda? É o que veremos hoje. As empresas devem contabilizar todos os seus custos, fixos e variáveis, e distribuí-los na produção. Para o nosso exemplo, vamos admitir que a empresa tenha os seguintes custos: Custo médio de contratação de 1 funcionário R$ 1.000,00. Custo médio de demissão de 1 funcionário R$ 3.000,00. Custo médio de estocagem R$ 1,00 por (peça x bimestre). Custo total médio de produção normal R$ 2,00 por peça. Custo total médio de produção na hora extra R$ 2,80 por peça. Os custos fixos fazem com que o custo total unitário varie conforme a quantidade produzida. A empresa deve ter em seu histórico o custo médio para poder utilizar esse método. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 46 Existem várias formas de atuação para se balancear a produção e ajustá-la à demanda. Algumas decisões são estratégicas, por exemplo, se a empresa deseja trabalhar com um bom estoque, ou então se irá dar férias coletivas, retirar um produto de fabricação (ou substituí-lo). Para tanto, são tomadas decisões de forma a otimizar os custos. A primeira estratégia e mais simples de ação é chamada de Manutenção da Força de Trabalho. Como no início do período (três primeiros bimestres), a produção é maior que a demanda, produzimos a mais e estocamos para compensar o período no qual essa situação se inverter. Essa situação será representada na tabela abaixo. A previsão de demanda anual, 192.000 peças, equivale a 32.000 peças cada período. Dessa forma, não são necessárias horas extras, nem demissões, nem contratações. O inconveniente dessa estratégia é o custo do estoque, que calculamos da seguinte forma: Total de peças estocadas (8000 + 14000 + 16000 + 12000 + 2000) = 52 000. Custo de estocagem por bimestre = 1,00 R$ por peça Custo de estocagem = R$ 52.000,00. (Além dos custos normais de produção) 1 Previsão de demanda - Demanda prevista calculada pela empresa. 2 Estoque inicial - Peças estocadas no início do período ou no final do período anterior. 3 Quantidade inicial de funcionários - Funcionários que iniciaram trabalhando no período. 4 Contratações - Funcionários contratados para trabalhar no período. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 47 5 Demissões - Funcionários a serem demitidos,que não vão trabalhar no período. 6 Quantidade total de funcionários - Funcionários que iniciaram trabalhando mais contratações e menos as demissões. 8 Produção regular - É o produto do número de funcionários (linha 6) vezes 2.000 peças produzidas por cada um. 9 Horas extras - Peças a serem produzidas em horas extras para atingir os objetivos da estratégia. 10 Subcontratação - Peças produzidas com contratações de terceiros, quando houver. 11 Produção Total - É a quantidade total de peças produzidas na produção regular somadas com produção nas horas extras e com as peças produzidas pela eventual subcontratação. 12 Produção – previsão de demanda. Total de peças produzidas menos previsão de demanda, estoque no período. 13 Estoque final - Estoque acumulado no período mais estoque anterior. Segunda estratégia: Contratar e demitir sempre que necessário. Pressupõe que a produção seja diretamente proporcional à quantidade de funcionários. Numericamente, ela é importante de ser conhecida, pois, em períodos de recessão, em parte ela poderá ser adotada. Empresas que desativam linhas de produção ou encerram atividades em uma unidade podem utilizar essa estratégia para avaliar seus custos. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 48 Fazendo esses ajustes em todos os bimestres, teríamos um total de 9 contratações e 8 demissões, cujos custos seriam. Demissões R$ 3.000,00 x 8 = R$ 24.000,00 Contratações R$ 1.000,00 x 9 = R$ 9.000,00 Custo total da estratégia R$ 33.000,00 Esta estratégia não prevê estoques e o número de funcionários é ajustado período a período, de forma a se produzir, exatamente, a quantidade da demanda prevista. Terceira estratégia: Estratégia de Nivelamento por horas extras. Propõe a manutenção da força de trabalho, produzindo o necessário para atender a demanda prevista e, quando a produção regular não atende a demanda, produzir com horas extras. Vamos à tabela. O custo da implantação dessa estratégia é calculado da seguinte forma: 16.000 peças produzidas com 0,8 centavos além do custo normal (2,80 – 2,00), ou 16.000 x 0,80 = R$ 12.800,00. Das três estratégias propostas, essa é a melhor. Nesta situação, não temos estoques, nem demissões, nem contratações. Teria que ser produzido, em horas extras, um total de 16.000 peças. Numericamente, a melhor das três estratégias é a terceira, entretanto nossa hipótese não prevê um número limite de horas extras por período e por funcionário, legislado conforme a categoria sindical. Observações importantes: Nestes exemplos, não foi considerada a questão financeira. Não consideramos o custo de capital dos desembolsos antecipados que ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 49 poderiam ser postergados. Uma análise mais detalhada deverá considerar o valor presente de todos esses desembolsos. A idéia de zerar os estoques também deveria ser mais bem analisada. Um estoque de segurança para cobrir eventuais aumentos de demanda ou imprevistos na produção é sempre oportuno. Os custos de demissão foram estimados para efeitos de cálculo. Eles podem ser relativamente próximos, se levantados no Depto. de RH. ATIVIDADES PROPOSTAS Com base na empresa utilizada nos exemplos, monte a estratégia de trabalho, considerando as seguintes alterações: converta os bimestres em meses, dividindo as previsões de demanda bimestrais por dois: - Monte a planilha em meses; - Você terá sempre 14 funcionários produzindo cada um 1.000 peças por mês; - Estoque final, em todos os meses, mínimo de 2.000 peças. - Não permita ociosidade. Os 14 funcionários deverão produzir o que conseguirem no mês. - Caso falte produção, o que certamente irá acontecer, estude duas alternativas: a) Contrate funcionários. b) Contrate horas extras. Qual é o custo acima dos custos normais de produção para essas estratégias a e b? Lote Econômico de Produção Para melhor administrar a produção, as empresas utilizam o que se chama de Plano de Produção ou Plano Mestre de Produção (PMP). É um documento que informa quais itens serão produzidos e quanto de cada um, para um certo período. Normalmente, o PMP é montado em um planejamento por semanas. Caso a empresa tenha poucos componentes montados em várias combinações, no PMP são colocados esses componentes. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 50 Em uma fábrica de cadeiras para escritório, teríamos programados para serem fabricados os seus componentes, por exemplo, 1.000 acentos, 400 encostos pequenos, 600 encostos grandes, 500 armações com portacadernos e 500 armações simples. Dá-se mais preferência aos componentes unitários que ao produto acabado Programar a produção é: 1. Distribuir, de forma otimizada, as operações necessárias pelos centros de trabalho existentes, processo que recebe o nome de alocação de carga; 2. Determinar a ordem na qual as operações serão realizadas ou seqüência de tarefas. 3. Controlar a produção e assegurar que as ordens de fabricação serão cumpridas de forma correta e na hora certa. Toda vez que a empresa troca o produto na sua linha de fabricação, ela tem um custo de set up ou preparação. Cada troca de produto é chamado de rodada (ou batch). Muitas trocas representam muito custo de set up. Em contrapartida, se ela “roda” um único produto por muito tempo, terá que estocá-lo - o que também gera custo. Para resolver esse impasse, calculamos o Lote Econômico de Fabricação (LEF). LEF = , em que Cprep = Custo de preparação das máquinas ou custo do set up. Envolve os custos de tempo de parada dos equipamentos mais os custos de dispositivos envolvidos na troca de rodada. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 51 Cm = Custo unitário de manutenção de estoque, que será explicado mais adiante. D = Demanda anual em peças. O custo unitário de manutenção resulta de dois grupos de custos: CC ou custo de capital (do valor estocado). CA ou custo de armazenagem. 1º Custo de capital (CC). Uma peça tem um custo de fabricação. Se esse valor estivesse aplicado no mercado financeiro, renderia uma porcentagem i % ao ano, ou então se tivermos que captar dinheiro no mercado, pagaríamos i % ao ano por esse valor. Poderemos considerar i como porcentagem anual paga pelo capital utilizado para fabricação desse item. CC = c x i em que CC = custo de capital c = custo do item i = custo de captação de recursos no mercado (em %). 2º Custo de Armazenagem (CA). O custo de estocagem de um produto pode ser expresso como uma porcentagem do seu valor. Por exemplo, estocar um produto pode custar a% ao ano do seu valor. As empresas contabilizam dessa forma seus custos de estocagem. Teremos, então CA = c x a em que CA = custo de armazenagem c = custo do item a = custo de armazenagem de um produto (em %). Concluindo Cm = (c x i) + (c x a) ou Cm = c x (i + a) Uma aplicação prática. Uma empresa fabricante de mesas para cozinha quer calcular o número de rodadas anuais de sua linha de produção. O custo de preparação de máquinas é R$ 20,00, pois existe pouca diferença entre um produto e outro. O custo unitário médio de fabricação é R$ 30,00 e sobre ele incide uma taxa anual de 25 % de captação de recursos e 35 % ao ano como custo de armazenagem. Estima-se que a demanda anual prevista será de 5.000 mesas. Determine: ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 52 Quantas mesas devem ser produzidas de cada vez (LEF)? Qual intervalo médio entre as rodadas, em dias úteis, considerando 250 dias úteis ao ano? Vamos calcular primeiro o Cm. Cm = c x (0,25 + 0,35) ou Cm = 30 x 0,6 finalmente Cm = 18 LEF = = 105 mesas Fazemos 5.000 mesas por ano em lotes de 105 mesas. Teremos, então, 5.000 ÷ 105 = 48 rodadas O intervalo entre as rodadas será de 250 ÷ 48 = 5,2 dias aproximadamente. Uma questão-chave na programação de produção é a seqüência de tarefas, pois esta afeta o custo de preparação. Mudanças nas linhas de fabricação de produtos similares podem representar pequenos custos de preparação (set up). Ao contrário, mudanças na fabricação de bens completamente diferentes geram custos mais altos de preparação. Para definirmos a seqüência, precisamos saber a medida de urgência com que um produto precisa ser fabricado. Essa urgência é calculada como o Tempo de Esgotamento (TE). Um exemplo. Se tivermos em estoque 4.000 peças de um produto e sua taxa de consumo for de 800 peças por semana, teremos: Te = 4.000 ÷ 800 = 5 semanas, portanto podemos entender que: Te = Estoque disponível ÷ Taxa de consumo. Programação para sistemas de volume intermediário. Existem duas questões fundamentais a responder, para se programar a produção em uma empresa que fabrica vários itens: 1ª Quanto produzir de cada item? Além do bom senso e de experiências passadas, podemos utilizar o cálculo do Lote Econômico de Fabricação (LEF). ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 53 2ª Em que ordem (ou seqüência) produzir? Isso será respondido pelo cálculo do Tempo de Esgotamento (Te). Seja o exemplo apresentado na tabela abaixo com 5 produtos e suas situações de estoque. Vamos efetuar as 3 primeiras rodadas de produção. Já o produto E terá seu estoque final assim calculado: 900 (estoque inicial) - 800 (consumo na semana) + 2.800 (quantidade produzida) 2.900 = estoque no final da semana 1 Depois da 1ª semana, teremos a seguinte situação: O produto crítico, agora, passou a ser o C, que se esgotará em 3 semanas. O seu LEF é de 5.000 peças e a rodada demora 1,5 semanas. Dessa forma, nossa próxima tabela será feita avaliando a situação daqui a 1,5 semanas. Vamos a ela, sem esquecer que o consumo no período, agora, é de 1,5 semanas. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 54 O produto a entrar em produção é o B, que passou a ter o menor Te (1,525). Seu LEF é de 2.300 peças e leva 1 semana para ser produzido. A próxima tabela vai trazer a situação do final da semana 3,5 e assim segue. Seqüência de tarefas (ou trabalhos ou operações). Se tivermos um grupo de produtos, tarefas ou serviços a serem executados, um de cada vez (em uma mesma máquina ou linha de máquinas), podemos utilizar a metodologia a seguir. Para isso, vamos definir algumas informações necessárias: (TP) Tempo de processamento: é o tempo efetivamente gasto desde que um trabalho se inicie até que ele termine. (TE) Tempo de espera: é o tempo que um trabalho espera desde o início das operações até o seu início propriamente dito. (TT) Tempo de término: é a soma dos tempos de espera (TE) mais o tempo de processamento (TP) de um trabalho, isto é, o tempo desde o início das operações até o término do trabalho. (DD) Data devida: é a data na qual o trabalho deve estar pronto. (AT) Atraso de um trabalho: é a diferença entre a data de término do trabalho (TT) e a data devida (DD). Sejam os cinco trabalhos (ou atividades distintas ou inter-relacionadas), em sua ordem de chegada, a serem feitos e informações pertinentes em dias. Devemos calcular, progressivamente, o Tempo de Espera, o Tempo de Término, e o Atraso de cada trabalho. Vejamos na tabela a seguir. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 55 Na planilha abaixo, percebe-se que, se os trabalhos forem mantidos por ordem de chegada (na ordem em que a planilha foi montada): O trabalho A será terminado em 9 dias e o D um dia antes da Data Devida. Teremos 3 trabalhos com atraso: B, C e E sofrerão atrasos de 4, 5 e 13 dias respectivamente. O total de atraso será de 22 dias, resultando em uma média de 4,4 dias por produto. A soma dos atrasos deverá desconsiderar os números negativos da tabela, pois os adiantamentos não implicam possibilidade de atrasos. Ao administrador da produção caberá alterar a seqüência, de forma a minimizar a média dos atrasos, ou priorizar os trabalhos mais importantes. IMPORTANTE. Faça a 2ª atividade proposta para entender que essa ferramenta permite encontrar soluções mais interessantes de seqüenciamento. ATIVIDADES PROPOSTAS 1ª No primeiro exercício que resolvemos hoje, na primeira rodada, colocamos em fabricação o produto E. Na segunda, o produto C e, na terceira, o produto B. Faça a 4ª e 5ª rodadas e verifique quais produtos deveriam entrar em fabricação em cada uma delas. 2ª No exemplo de seqüenciamento de tarefas, calcule quantos atrasos e a média desses atrasos para as seguintes seqüências de trabalhos: ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 56 1ª C, D, E, A e B 2ª E, D, C, B e a MRP Planejamento das necessidades de materiais ou planejamento dos recursos de manufatura. Ambos significados compartilham do mesmo tema, isto é, auxiliam as empresas a planejar e controlar as suas necessidades de recursos, com ajuda de sistemas informatizados. O MRP original data dos anos 60 e significava Material Requirements Planning, ou Planejamento das Necessidades de Material (chamado de MRP I). É um sistema informatizado que permite às empresas calcularem, antecipadamente, quantos itens e componentes de um determinado produto são necessários na fabricação e em que momento devem estar disponibilizados. A versão MRP I administrava, exclusivamente, a fabricação. Toda vez que a empresa troca o produto na sua linha de fabricação, ela tem um custo de set up ou preparação. Cada troca de produto é chamado de rodada (ou batch). Muitas trocas representam muito custo de set up. Em contrapartida, se ela “roda” um único produto por muito tempo, terá que estocá-lo - o que também gera custo. Para resolver esse impasse, calculamos o Lote Econômico de Fabricação (LEF). Se você for construir uma casa, a seqüência das tarefas e sua duração, de forma simplificada, seriam estas: 1- Preparação do terreno: 10 dias; 2- Fundações: 20 dias; 3- Alvenaria: 30 dias; 4- Laje de cobertura: 30 dias; 5- Telhado: 20 dias; 6- Piso e revestimento: 30 dias; 7- Elétrica e hidráulica: 20 dias; 8- Acabamentos: 30 dias. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 57 As telhas e o madeiramento do telhado deverão estar disponibilizados na obra 90 dias depois de ser iniciada. Da mesma forma, os pisos e revestimentos devem estar disponibilizados na data correspondente a 110 dias. Qualquer adiantamento desses materiais significa gastos antecipados e conseqüente descapitalização da empresa. Qualquer demora desses materiais significa atraso na entrega final da obra. Se essa casa fosse construída com auxílio do MRP, quando colocada a necessidade do telhado, ela detalharia todas as quantidades dos componentes: vigas, caibros, ripas, pregos, telhas, cumeeiras etc. e, simultaneamente, listaria o ferramental necessário à execução do telhado (martelo, argamassa etc.). O papel do MRP na conciliação dos fornecimentos e da demanda dos recursos Nos anos 80 e 90, o sistema e o conceito do planejamento das necessidades de materiais foram expandidos e integrados a outras áreas da empresa (Financeira, Engenharia, P&D, RH, Contabilidade etc.). Essa versão ficou conhecida como MRP Dois ou MRP II, ManufacturingResource Planning ou Planejamento dos Recursos de Manufatura. Os pais do MRP são Oliver Wight e Joseph Orlicky. As informações necessárias para se rodar o MRP I, assim como alguns de seus resultados podem ser vistos no desenho esquemático abaixo. O sentido das setas indicam entradas e saídas de dados ou informações. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 58 A Gestão da Demanda é feita em conjunto com a carteira de pedidos e a previsão de vendas. Pode englobar atividades como a distribuição física e os serviços aos clientes, cadastramento de pedidos, entregas a serem efetuadas etc. A gestão da carteira de pedidos é uma função do departamento comercial da empresa. Essa carteira é dinâmica e mutante e oscila com pedidos cancelados, pedidos confirmados e alterações da ordem de prioridade de entrega. Ela carrega, dia-a-dia, o que cada cliente pediu, em que quantidade e em que data deve ser entregue. É o resumo quantitativo do que deve ser produzido. A previsão de demanda já foi vista na nossa aula de número três. Ela, apesar de imprecisa e de se basear em dados passados, é a única forma de se planejar o que produzir, principalmente para produtos que exigem a disponibilidade imediata na comercialização. Praticamente todas as empresas fazem uma previsão de sua demanda e o acerto dessa previsão com a demanda real pode ser fator de sucesso. O programa mestre de produção, PMP (Master Production Schedule), é a fase mais importante do planejamento e controle da produção . Ele recebe os dados de cada item produzido e de seus componentes. Uma cadeira ficaria decomposta em 4 pés, um acento, uma encosto, 500 g de espuma para o acento, 400 g de espuma para encosto, 0,5 m2 de napa para revestimento, armação metálica do encosto, 4 parafusos para prender o encosto na armação, 200 g de cola, 20 grampos para prender a napa do encosto e do acento às tábuas, 4 pés de borracha e 50 g de tinta para armação metálica e para os 4 pés. Nele, também são inseridos os tempos de execução, montagem, secagem da cola, pintura etc. de todas atividades ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 59 envolvidas. Além disso, a seqüência das atividades de montagem da cadeira é extremamente detalhada, com respectivo custo, ordens de compra de cada item e data da chegada de cada recurso no setor de trabalho. A partir dos prazos de entrega, os pedidos são feitos, antecipadamente, de forma que os itens sejam entregues no exato momento de necessidade. O PMP é formado pelos registros com escala de tempo contendo, para cada produto final, as informações de demanda e estoque disponível em tempo real. Quando não há estoque suficiente para atender a demanda futura, quantidades de pedido são inseridas no programa. O PMP gerencia várias entradas de dados, como mostra a figura abaixo. O PMP também pode ser usado em serviços. Em um hospital, ele definiria quais cirurgias teriam prioridade, faria o planejamento das salas e dos horários. Faria o aprovisionamento de materiais cirúrgicos, assim como instrumentação, sangue, acessórios e, simultaneamente, programaria o pessoal de apoio, com anestesistas enfermeiras etc. O PMP é montado, contendo as informações de demanda e estoque disponível para todos os produtos a serem fabricados. Seja o exemplo da planilha abaixo, montado de forma a minimizar os estoques, suficientes para atender a demanda da semana imediatamente posterior. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 60 A Demanda indicada é a prevista. Disponível é a quantidade de peças que excede a necessidade mais o estoque mínimo para a demanda prevista do período (semana) seguinte. Outra possibilidade de PMP é montá-lo de forma a nivelar a produção, que ficaria como representado na planilha a seguir. Uma produção (PMP) constante estabiliza a produção, e os estoques variam conforme a demanda. Características importantes do MRP Todos os produtos devem ser subdivididos nas menores partes ou itens possíveis (lembre-se do exemplo da cadeira citado no início da aula). Quantidades múltiplas de alguns itens serão necessárias, isto é, o MRP deve conhecer a quantidade necessária de todos itens para multiplicar pelas quantidades produzidas. Um mesmo item pode ser utilizado em diferentes partes do produto final. Todos eles devem ser considerados. A estrutura pára quando ela chega nos itens que não são fabricados pela empresa. Aqui, começam a ser geradas as ordens de compra. Cada produto tem sua lista de material, por vezes muito grande. Pode-se utilizar, para planejamento de médio e curto prazos, listas que representem um produto médio. Por exemplo, uma fábrica de mesas pode produzi-las ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 61 com 4 ou 6 cadeiras. Para planejamento futuros, a empresa pode estimar conjuntos com 5 cadeiras ou ponderar pelo número de mesas vendidas de cada tamanho Colocadas todas as informações sobre os produtos a serem fabricados, o MRP I irá informar quanto e quando cada item deverá estar disponibilizado na própria empresa para itens ou componentes produzidos internamente e informar as ordens de compras para itens ou componentes terceirizados, considerando seus prazos de fabricação e de entrega. O MRP II (MRP 2) baseia-se em um sistema integrado, contendo uma base de dados única acessada por toda a empresa, limitados os acessos a suas respectivas áreas de atuação. Nele, além das informações de gestão da produção, Obtêm-se informações da área financeira, da engenharia, da gestão de estoques, contas a pagar e a receber etc. O MRP II, apesar de sua dependência da tecnologia da informação para tal integração, manipula dados recebidos de vários setores da empresa - o que sugere uma necessidade enorme de fidelidade desses dados. O processo de tomada de decisões, feito com base nesses dados e nos cálculos do MRP II, ainda dependerá dos gestores da empresa. ATIVIDADES PROPOSTAS Complete os PMPs abaixo, nas linhas cinzas: a) Nivelando a produção no período ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 62 b) Trabalhando com estoque zero no final das semanas Planejamento e Controle Just In Time (JIT) O Sistema Just In Time já foi implantado com sucesso em um grande número de empresas no Brasil. É uma metodologia de gestão da produção muito interessante, tanto para empresas de serviços como de manufaturas, além de ser uma filosofia organizacional. A definição mais simples do sistema Just In Time. “O JIT visa atender à demanda instantaneamente, com qualidade perfeita e sem desperdícios”.(BICHENO, 1991) Outros termos são usados para descrever o JIT: ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 63 Abordagem tradicional – estoques separam os estágios A principal diferença entre esses dois processos é que, no tradicional, um problema que interrompe a produção no estágio A tem seu efeito amortecido pelo estoque a sua frente. Na abordagem JIT, um problema no estágio A, que pare esse setor, será sentido, de imediato, no estágio B e, muito rapidamente, no estágio C. Dessa forma, as linhas de produção têm que passar por manutenções preventivas constantemente. Ver adendo sobre manutenção no final desta aula. A abordagem JIT requer alto desempenho de todos os elementos e componentes da produção e da empresa. A qualidade deve ser alta. Problemas na produção causados por erros reduzem o fluxo de materiais e a confiabilidade interna, além de gerar estoques, caso esses erros reduzam a produtividade ou o ritmo dos trabalhos. A velocidade do fluxo de material deve ser alta, pois os lead times (período de tempo desde o pedido do cliente até a data da entrega do produto) são curtos devido à eliminação dos estoques. A confiabilidade é pré-requisito para um fluxo rápido. Se os equipamentos e as pessoas não forem confiáveis, não se consegue um fluxo rápido. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 64 A flexibilidade é muito importante para que se consiga produzir em pequenos lotes, com fluxos rápidos e lead times curtos. O JIT existe com: a) uma filosofia de produção; b) como um conjunto de técnicas para gestão da produção a) UMA FILOSOFIA DE PRODUÇÃO. O JIT é uma expressão ocidental para uma série de técnicas desenvolvidas pelos japoneses com o intuito de fazer bem as tarefas, fazer cada vez melhor e eliminar todos os desperdícios em cada passo do processo. Surgiu no Japão, na Toyota Motor Company, durante a crise do petróleo, no início dos anos 70, quando a filosofia era “dê importância a cada grão de arroz”, criada no país superpovoado e com escassez de recursos. Eliminação de desperdícios. Desperdício pode ser qualquer atividade que não agrega valor na produção. Na Toyota, foram observados sete tipos de desperdícios: 1. Superprodução. Não produzir além do necessário, isto é, produzir somente no momento certo e na quantidade certa. 2. Tempo de espera. Eficiência de máquinas e de mão-de-obra impõe a redução dos tempos, reduzindo estoques e manuseios que representam custos significativos e não agregam valor. 3. Transporte. Os transportes representam também manuseio e estoque em trânsito, duas formas de custo que não agregam valor. Muitos fornecedores montam células de produção próximas de seus clientes. 4. Processo. Projetos imperfeitos podem gerar operações e movimentos desnecessários. 5. Estoque. Representam altos custos e só são eliminados se detectadas suas causas. 6. Movimentação. Assim como os transportes, a movimentação interna pode gerar manuseio excessivo e estoque em trânsito. 7. Produtos defeituosos. Refugos, sucatas e re-trabalhos são falhas na qualidade simplesmente inaceitáveis no JIT. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 65 b) TÉCNICAS JIT. A força motriz do JIT é seu conjunto de técnicas que representam os meios para evitar desperdícios e a precisão dos processos para preservar as entregas. Resumidamente, são elas: Práticas básicas de trabalho. Preparação básica para a organização de seus funcionários, conforme esquema abaixo. Envolvimento de todos. Visto como um “sistema total”, a filosofia JIT define diretrizes que envolvem todos os funcionários e processos na organização. Esses funcionários assumem responsabilidades importantes dentro do processo, desde o projeto até o produto final. Passa a ser uma cultura organizacional voltada para a “Qualidade Total”. Os funcionários devem ser treinados, capacitados e motivados a assumirem total responsabilidade sob todos os aspectos de seu trabalho. Eles deverão participar da seleção de novos funcionários, na negociação com os fornecedores e clientes, na avaliação do desempenho das equipes e melhorias, no planejamento e revisão dos trabalhos e na elaboração do orçamento das melhorias. Visibilidade. Os funcionários devem ser informados, explicitamente, dos projetos de melhoria da qualidade, novos processos, produtos, operações etc. As medidas de visibilidade poderão envolver: - Painéis, exibindo as melhorias de desempenho nos locais de trabalho. - Sinais luminosos e sonoros de alerta. - Gráficos de desempenho. - Locais onde são expostos produtos dos concorrentes e produtos próprios, com seus defeitos, quando existir. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 66 Aprimoramento contínuo. A palavra japonesa para aprimoramento contínuo é kaizen. Atender a demanda no momento exato, com qualidade perfeita e sem desperdício é muito difícil de conseguir. As empresas estabelecem metas cada vez mais ambiciosas em relação a resultados qualitativos, impedindo a acomodação dos funcionários na busca dos objetivos ideais da organização. Fornecimento JIT. Os fornecedores (terceirizados) serão partes integrantes do sistema JIT. Deverão disponibilizar seus produtos no exato momento em que forem necessários, no exato significado da parceria. Algumas empresas até cedem, dentro da própria instalação, locais apropriados para esses terceiros desenvolverem suas atividades. Projeto para manufatura. O aprimoramento dos projetos pode reduzir, drasticamente, os custos de produção, isto é, os projetos devem considerar não só o produto, mas facilitar e baratear processo de fabricação. Máquinas simples e pequenas. Várias máquinas pequenas no lugar de uma única e grande. Isso gera também flexibilidade e tira a dependência total da máquina grande. Customizar as máquinas. Manutenção produtiva total (TPM). Eliminação da variabilidade em processos, causadas por falhas ou quebras. Proporcionar o envolvimento de todos os funcionários no zelo e manutenção dos equipamentos, máquinas e ferramentas utilizadas no processo de produção. Ver adendo sobre manutenção no final desta aula. Foco na operação. A simplicidade, a repetição e a experiência trazem a competência. Os processos devem ser práticos e descomplicados. Arranjo físico e fluxos. Já vimos na aula número 5. Posicionar os postos de trabalhos próximos uns aos outros e na seqüência das operações. Racionalidade das operações de movimentação e bom senso. Redução dos tempos de set up. A troca dos itens a serem fabricados deve ser a mais barata possível, em termos de tempo e de alterações nos equipamentos envolvidos. Compare o tempo que levamos para trocar um pneu de carro com o que leva uma equipe Fórmula 1. O projeto dos dispositivos envolvidos na troca na Fórmula 1 foi desenvolvido com o foco na operação. O Planejamento e controle JIT envolve uma técnica conhecida como kanban, palavra japonesa que significa cartão ou sinal. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 67 É um método que controla a transferência de materiais de um estágio para outro na produção. De forma simples e voltando ao exemplo dos nossos estágios do início da aula, quando o estágio B (cliente do estágio A) precisa de materiais para processar, ele sinaliza com cartões. Diferentes cores representam diferentes níveis de urgência ou diferentes produtos. Ele é subdividido em: - Kanban de transporte: avisa o estágio anterior que os materiais já podem ser retirados. - Kanban de produção:sinaliza que um item pode começar a ser produzido para estoque ou para ser enviado aos estágios seguintes. - Kanban de fornecedor: sinaliza um fornecedor que é necessário enviar material ou componentes para um estágio na produção. principal objetivo da produção no sistema JIT é atender a demanda instantaneamente, com qualidade e sem desperdícios, e sua justificativa central é que os baixos níveis de estoque por ele gerados economizam investimentos e geram impacto significativo na habilidade da produção em aprimorar sua própria eficiência, produzindo com qualidade. O sistema JIT trabalha, também, em perfeita sintonia como MRP I e II. Adendo sobre MANUTENÇÃO Existem três tipos principais de manutenção: 1. Manutenção corretiva. Como o próprio nome diz, esse tipo de manutenção ocorre no momento de uma quebra ou de uma falha. Na nossa casa, acontece quando o televisor apresenta um defeito e nós chamamos um técnico. Nos automóveis, só trocamos as lâmpadas dos faróis quando elas queimam. 2. Manutenção preventiva. É feita antes de o equipamento apresentar defeito. Visa eliminar ou reduzir a probabilidade de paradas nos equipamentos. É o que se faz nos aviões, ou o que fazemos quando trocamos o óleo do automóvel. 3. Manutenção preditiva. É feita antes da parada do equipamento, quando este sinaliza um possível problema. Quando começa a aparecer uma vibração anormal no equipamento, é sinal de que algum problema poderá aparecer. Quando o pneu do automóvel faz o volante vibrar, percebemos que algo não está normal. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 68 ATIVIDADES Com o que vimos hoje, analise, em que tipos de empresas (grande, pequena, de produtos para encomenda, de bens especiais, duráveis etc), o JIT se encaixa perfeitamente e em quais delas o sistema apresentaria dificuldades de ser implantado, como cultura (filosofia) e como ferramenta da produção? Medidas Comparativas de Produtividade Não é difícil encontrarmos produtividade. textos que confundem produção com No mercado atual, mais do que a produção, as empresas têm que aumentar sua produtividade. Existem fatores importantes, dentro e fora das empresas, que interferem na produtividade. Hoje, vamos entender o que são medidas comparativas de produtividade e como calculá-las. Muitas vezes, produtividade é confundida com produção. Qualidade à parte, podemos dizer que produção é tudo o que é fabricado, reformado, consertado e pré-elaborado por uma organização dentro de um período do tempo. O PIB de um país (produto interno bruto) é uma medida de produção. Ele informa tudo o que foi produzido por um país em determinado período de tempo, usualmente de um ano. Algumas vezes, vemos, nos cadernos de economia, PIB trimestral, que é usado para comparar a evolução do PIB dentro de um mesmo ano. Dessa forma, se compara o PIB de um trimestre com trimestres anteriores e se conseguem constatar as tendências de crescimento ou de queda. Uma medida de produtividade é o PIB per capita (renda per capita) de um país). Ele estabelece a relação entre tudo o que foi produzido por um país em um determinado período (PIB) e o número de habitantes desse país, nesse ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 69 período. Isto é, quanto produziu em média cada habitante de um país em um certo período. Não podemos comparar a produção da China com a produção da Suíça. Os números por si pouco representariam. Poderíamos concluir que os chineses vivem melhor, ou tem mais poder de compra que os suíços. Temos que estabelecer uma relação dessas produções com o número de habitantes de cada país. No caso do PIB per capita, o índice de produtividade é resultado do PIB (produção) dividido pelo número de habitantes (recurso utilizado). Dessa forma, estaríamos distribuindo a produção do país pela sua população. Podemos ter, ainda, PIB dividido pela população economicamente ativa do país e, assim, outros índices de produtividade. 2 definições de produtividade a) uma filosofia de produção; b) como um conjunto de técnicas para gestão da produção “Produtividade é minimizar, cientificamente, o uso de recursos materiais, mão-de-obra, máquinas, equipamentos etc. para reduzir custos de produção, expandir mercados, aumentar o número de empregados, lutar por aumentos reais de salários e pela melhoria do padrão de vida, no interesse comum do capital, do trabalho e dos consumidores” (Japan Productivity Center for Social-Economics Developement). “Produtividade é a relação entre a quantidade de bens produzidos e a quantidade de recurso ou recursos utilizados” (Organização Internacional do Trabalho – OIT). Para as empresas, as considerações são análogas às dos países. Seja uma empresa que produz 20 cadeiras por dia com 5 m2 de madeira. O seu índice de produtividade para o item madeira é: Produtividade = Produção ÷ recurso = 20 ÷ 5 = 4 cadeira por m2 de madeira. Aumentar a produtividade seria produzir mais de 4 cadeiras com 1 m2 de madeira. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 70 Aumentar a produção seria produzir mais de 20 cadeiras por dia. As empresas produzem utilizando 5 tipos de recursos diferentes. Vamos a eles e sua influência na produtividade (MARTINS, 2000): 1 - Recursos Materiais 1 - Devem ser utilizados materiais com a qualidade adequada. Não se justifica um automóvel ter um motor que dure 200.000 km e um câmbio que dure 100.000 ou 300.000 km. A qualidade e vida útil devem se adequar à proposta do produto e não a melhor qualidade possível. 2 - Recursos Patrimoniais 2- São as máquinas, Também devem ser possuírem qualidade como planejadas. O sucesso da empresa. equipamentos e ferramentas envolvidos na produção. adequadas às atividades envolvidas na produção e tal que permita que as operações sejam desenvolvidas nível de automação pode ser fator determinante do 3 - Capital 3- O capital investido deve permitir que a empresa atue em igualdade de condições com seus concorrentes, no que se refere aos investimentos tecnológicos e remuneração dos recursos humanos. 4 - Recursos humanos 4- É esse o recurso da empresa que decide quanto investir em todos os cinco recursos. A remuneração e benefícios devem proporcionar igualdade de qualidade de funcionários com os demais concorrentes. Profissionais mais qualificados tendem a aumentar a produtividade da empresa. Cada vez mais, esse recurso se configura como o mais importante das empresas. 5 - Recursos tecnológicos 5 – Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), know how, patentes, licenças de fabricação. Tecnologias avançadas produzem um diferencial que é traduzido em lucro. Esse lucro pode ser reinvestido em novas tecnologias, formando um círculo vicioso e distanciar, positivamente, a empresa de suas concorrentes. Fatores internos e externos à organização que contribuem para o aumento da produtividade nas organizações. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 71 Externos Ambiente psicológico: - Bom relacionamento entre empregados e empregador. - Justiça Social e equidade. - Participação produtividade. dos trabalhadores nos resultados do aumento da - Metodologias operacionais motivadoras. Disponibilidade de capital e crédito: - Modernização dos equipamentos e dos modelos de gestão. - Condições gerais de crédito (disponibilidade, juros, burocracia etc.). - Incentivos a aumento de produtividade. Formação profissional: - Qualificação, instrução, cultura e nível da mão-de-obra do mercado. - Cursos profissionalizantes e de extensão no mercado. Segurança econômica: - Estabilidade econômica dos empregados e do mercado. - Credibilidade do governo. Tributação - Distribuição de renda e riqueza. Oportunidades iguais a todos.v - Política fiscal e tributária justa. Mercado - Extensão, intensidade, profundidade e estabilidade. - Informações e dados estatísticos disponíveis. - Poder aquisitivo. Logística - Acessos dos recursos e distribuição dos produtos acabados. - Infra-estrutura para transporte e armazenagem. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 72 Energia - Eficiência, qualidade, custo e diversidade (elétrica, gás, carvão, lenha etc.). Participação do governo - Comportamento e expectativa da atuação dos governos municipais, estaduais e federal. Interno Histórico da empresa - Metodologia da organização. - Empresa familiar e fatores tradicionais. Organização da empresa em bases científicas e profissionais - Divisão equânime do trabalho. - Definições claras de autoridade, responsabilidade e disciplina. - Unidades de comando e direção. - Subordinação do interesse particular ao interesse geral. - Remuneração e benefícios justos. - Precisão e exatidão na descrição das tarefas. - Controles qualitativos e quantitativos de gastos. - Velocidade de resposta à dinâmica do mercado (tecnologia, moda processos etc.). - Previsibilidade e intuição. - Planejamento e direção. Métodos contínuos destinados a economizar. - Simplificação, especialização. Estudo do trabalho - Simplificação e padronização racional dos produtos. - Estudos de métodos de produção (O&M). - Medição dos trabalhos (cronoanálise). ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 73 Máquinas, equipamentos e ferramental da empresa - Utilização adequada de máquinas e equipamentos. - Conservação e manutenção das máquinas. - Adequação dos locais de trabalho para boa circulação e boas condições de trabalho (iluminação, ventilação, ergonomia etc.). Mão-de-obra - Bons sistemas de comunicação. - Formação profissional e treinamento adequado. - Condições de trabalho (higiene, segurança etc.). - Alimentação, transporte e benefícios gerais. As medidas de produtividade utilizam números, índices ou porcentagens para expressar, de forma comparativa, relações de produtividade entre duas ou mais situações, duas ou mais empresas ou variações de resultados ao longo do tempo. Um exemplo claro é a comparação do PIB entre dois países, ou de um mesmo país de um ano para outro.Nas empresas, essa análise não é diferente. Vamos a um exemplo numérico, comparando alguns recursos das empresas Alfa e Beta, que produzem peças iguais. As comparações só se justificam se as peças forem iguais, pois vamos comparar os recursos utilizados na sua fabricação. Peças diferentes implicam recursos diferentes. Alfa produz 12.000 peças por mês, gasta R$ 20.000,00 em matérias-primas e consome 5 horas de trabalho por cadeira. Beta produz 23.560 peças por mês, gasta R$ 38.000,00 mensais em matérias-primas e 5,3 horas de trabalho por cadeira. Qual é a mais produtiva? Podemos ver que Beta produz quase o dobro de peças que Alfa por mês, mas será que é mais produtiva que Beta? Só podemos comparar a produtividade entre essas empresas para recursos iguais. Primeiro, vamos comparar as matérias-primas, lembrando que produtividade é a relação entre produção e recurso(s) utilizado(s). Calculando: ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 74 Novamente: produtividade é a relação entre produção e recurso(s) utilizado(s). e lemos: produtividade de Alfa em relação à Beta é a produtividade de Alfa menos produtividade de Beta, dividido pela produtividade de Beta. 1º Matérias-primas No item matéria-prima, Alfa tem menor produtividade que Beta, pois o resultado dessa comparação é negativo em 3, 23 %. 2º Mão-de-obra Normalmente, as empresas não trabalham comparando mais de um recurso em um único índice, isto é, esses índices não se somam aritmética ou geometricamente. O conceito de empresa mais produtiva fica com aquela que, preservada a qualidade do que fabrica, consegue produzir com menor custo unitário. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 75 Devido a isso, as empresas têm que focar seus esforços no aumento da produtividade nos recursos que representem mais percentualmente no custo total do que se estiver produzindo. ATIVIDADES O exemplo das empresas Alfa e Beta previa cálculo da produtividade de Alfa em relação à Beta. Calcule a produtividade de Beta em relação à Alfa, compare os resultados numéricos e veja o que acontece com os sinais (positivo e negativo) dos índices. Administração da Qualidade Total Você sabe que os programas de qualidade total existem há mais de 50 anos. Eles começaram com os círculos de controle de qualidade aplicados na produção e, hoje, abrangem as organizações em todos seus departamentos. Em um certo momento, virou modismo acreditar que duraria pouco e, hoje, quase todas as grandes empresas possuem seus programas. Vamos, agora, conhecer os principais nomes de seus elaboradores e listar alguns obstáculos e fatores que contribuem para o seu sucesso. A Administração da Qualidade Total (Total Quality Management), ou TQM, como é mais conhecida, tem, como um dos seus primeiros idealizadores, Feigenbaum, no final dos anos 50. Esse conceito possui várias definições. Uma das mais bem aceitas afirma: “TQM é uma filosofia, uma forma de pensar e trabalhar, que se preocupa com o atendimento das expectativas e das necessidades dos consumidores”. A idéia central é mover o foco da qualidade das atividades operacionais e transformá-la em responsabilidade de toda organização, assim como a redução de custos da qualidade, de custos das falhas, dentro de um processo de melhoria contínua. A TQM também pode ser entendida como uma extensão natural de três abordagens anteriores da qualidade. Originalmente, a qualidade era alcançada pela inspeção. Eram separados os produtos com defeitos antes de chegarem aos clientes. A seguir, prevaleceu o controle de qualidade, ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 76 que era mais sistemático. Além de detectar os defeitos, tratava de corrigir os problemas. Depois, tivemos a garantia da qualidade, que ampliou a responsabilidade pela qualidade, ao incluir outras funções e departamentos, mesmo que não envolvidos diretamente nas operações produtivas. Começou a ser usado o controle estatístico. Hoje, temos a TQM, que pode ser vista como um programa que atua da seguinte forma. - Atendimento das necessidades e expectativas dos consumidores. - Inclusão de todos departamentos e pessoas dentro da organização. - Análise de todos os custos relacionados com qualidade. - Atitude de “fazer“as coisas certas da primeira vez”. - Desenvolvimento de sistemas e procedimentos que auxiliem na qualidade e melhoria. - Desenvolvimento de um processo de melhoria contínua. Nas últimas sete décadas, tivemos, pelo menos, seis grandes nomes que inovaram no estudo da qualidade. São conhecidos como os “gurus” da qualidade: ARMAND FEIGENBAUM. Doutor pelo MIT (Massachussetts Institute of Technology), definia TQM como “um sistema capaz de integrar esforços de desenvolvimento, manutenção e melhoria da qualidade de todos os grupos da organização, permitindo levar a produção e o serviço aos níveis mais econômicos da operação, atendendo, plenamente, à satisfação do consumidor”. Esse conceito lançado nos Estados Unidos foi aplicado pela primeira vez na prática em escala ampla no Japão, onde se popularizou com a sigla TQM. JOSEPH M. JURAN. Assim como Deming (veremos a seguir), trabalhou como educador na qualidade japonesa. Criou a expressão “adequação do uso” tentando tirar os administradores da visão fabril tradicional de qualidade para uma abordagem voltada ao usuário dos produtos ou serviços. Os bens produzidos deixavam de atender especificações para atender aos clientes. KAORU ISHIKAWA. Apoiou-se nos trabalhos de Feigenbaum, Deming e Juran e criou o conceito dos “círculos de controle de qualidade”, com a ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 77 participação efetiva dos trabalhadores nas sugestões de melhoria. Criou, também, os diagramas de causa-e-efeito. Pregava que os CEP (controles estatísticos de processo) eram excessivos e antipáticos aos trabalhadores. GENICHI TAGUCHI. Ex-diretor da Academia Japonesa de Qualidade, atuava na busca da qualidade a partir da engenharia, por meio da otimização do design do produto. Estimulou reuniões interativas de operários e gerentes, visando a sugestões nos projetos dos produtos. PHILIP B. CROSBY. Ficou conhecido por seus trabalhos sobre o custo da qualidade. Afirmava que muitas organizações não sabem quanto gastam em qualidade, consertando erros ou fazendo certo. Apresentou um programa de zero defeito que entendia poder reduzir o custo total da qualidade, baseado nas seguintes máximas: - Qualidade é conformidade às exigências. - Prevenção e não inspeção. - O padrão de desempenho deve ser “zero defeito”. - Mensure o preço da não-conformidade. - Não existe a figura chamada “problema de qualidade”. WILLIAM EDWARDS DEMING. Muitos entendem ser Deming o maior nome da filosofia de qualidade dos últimos 50 anos. Sua principal idéia é que a qualidade começa com a alta administração da empresa e é uma atividade estratégica. A filosofia básica de Deming é que “a qualidade e a produtividade aumentam à medida que a variabilidade do processo (imprevisibilidade do processo) diminui”. Enfatizou a necessidade de métodos estatísticos de controle, participação, educação e melhoria objetiva no seu trabalho, que listava 14 pontos para a melhoria da qualidade, publicado em 1990: 1. Estabeleça constância de propósitos para a melhoria do produto e do serviço, com o objetivo de tornar-se competitivo, manter-se em atividade, bem como gerar empregos. 2. Adote a nova filosofia. Estamos em uma nova era econômica. A administração deve acordar para o desafio, conscientizar-se de suas responsabilidades e assumir o processo de transformação. 3. Deixe de depender da inspeção para atingir a qualidade. Elimine a necessidade de inspeção, introduzindo a qualidade no produto, desde seu 1º estágio. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 78 4. Cesse a prática de aprovar orçamentos com base no preço. Trabalhe para minimizar o custo total. Desenvolva um único fornecedor para cada item e estabeleça um relacionamento de longo prazo na lealdade e parceria. 5. Melhore, constantemente, o sistema de produção e de prestação de serviços, de forma a melhorar a qualidade e produtividade e também reduzir, de forma sistemática, os custos. 6. Institua treinamento no local de trabalho. 7. Institua a liderança. Os líderes devem ter a função de ajudar as pessoas, máquinas e dispositivos a executarem melhor um trabalho. Revise, também, sua chefia administrativa. 8. Elimine o medo, de forma que todos trabalhem com eficácia para a empresa. 9. Elimine as barreiras entre os departamentos. As pessoas engajadas com vendas, pesquisa, projetos e produção devem trabalhar em equipe, de modo a preverem problemas de produção e de uso do produto e serviço. 10. Elimine lemas, exortação e metas para a mão-de-obra que exijam nível zero de falhas. Essa meta é utópica. Estabeleça novos níveis de produtividade. O grosso das causas da baixa qualidade e produtividade encontra-se no sistema, estando, portanto, fora do alcance dos trabalhadores. 11. Elimine padrões de trabalho (quotas) na linha de produção. Substituaos pela liderança. Elimine, também, o processo de administração por objetivos, por cifras. Substitua-os pela administração por processos por meio de exemplos de líderes. 12. Os operários devem se orgulhar de seu desempenho. Os chefes devem ser cobrados pela qualidade e não por números absolutos. 13. Institua um forte programa de educação e auto-aprimoramento. 14. Engaje todos da empresa (sem exceção) no processo de realizar a transformação. Deming diagnosticou cinco doenças fatais no estilo ocidental de administração. 1. Faltas de constância de propósito. Pensamento apenas em dividendos de curto prazo, sem planos contínuos e longos para operar no longo prazo. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 79 2. Ênfase exagerada nos lucros de curto prazo. Resultados contábeis são priorizados em detrimento de estabelecer uma cultura pela qualidade com resultados de médio e longo prazos. 3. Avaliação de desempenho, do mérito ou revisão anual. Essas avaliações estimulam o desempenho de curto prazo, porém desestimulam o risco, promovem o medo e criam “estrelas” que trabalham mais para si do que para empresa. 4. Rotatividade de direção. No mundo ocidental, os administradores trabalham poucos anos em uma mesma empresa, sempre em busca de resultados rápidos. Dessa forma, não se comprometem com profundas e longas mudanças. 5. Dirigir a empresa apenas com base em números visíveis. Alguns resultados são muito difíceis de serem medidos, mas não devem ser desprezados. A Organização Internacional de Padronização (www.iso.ch) em Genebra emite diretrizes da qualidade aceitas pela Comunidade Européia e Estados Unidos, com suas normas ISO 9000, de reconhecimento mundial. Existem dois prêmios famosos em todo mundo para a promoção da qualidade: O prêmio Deming no Japão e o prêmio Malcolm Baldrige nos Estados Unidos. No Brasil, foi criado, há alguns anos, o Prêmio Nacional da Qualidade. Tolovi, em seu livro Porque os programas de qualidade falham?, alerta para alguns fatores do fracasso de programa de qualidade. Não envolvimento da alta direção. Ansiedade por resultados. Desinteresse da média gerência. Planejamento inadequado. Treinamento mal feito. Falta de apoio ou competência técnica. Sistema de remuneração inconsistente. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 80 Escolha inadequada dos multiplicadores da idéia. Descuido com a motivação. Alguns autores listam os fatores abaixo como importantes ferramentas de sucesso dos programas de melhoria do desempenho e qualidade. Estabelecer uma estratégia de longo prazo de um programa de TQM, que inclua: As prioridades competitivas da organização e como se espera que o programa contribua para atingir o aumento de produtividade. Os papéis e responsabilidades de todos os envolvidos. Os recursos que serão disponibilizados para a melhoria da qualidade. A abordagem geral e a filosofia de melhoria da qualidade da organização. Apoio da alta direção. Entender e acreditar no elo “fazer certo as coisas” e o negócio global da empresa. Entender as práticas da qualidade e se colocar em condições de interpretar seus princípios e técnicas. Estar em condições de participar do processo de solução para eliminar erros. Formular e manter clara a idéia do que a qualidade significa para a organização. Estabelecer um grupo de comando para planejar a implementação do programa e assegurar o seu andamento autosustentado. Melhoria baseada em grupos. Apesar de as atividades poderem ser desenvolvidas individualmente, o processo não gera o aprendizado, se não houver acesso das informações aos elementos do grupo. O reconhecimento formal do sucesso destaca a importância do processo de melhoria e recompensa o esforço e a iniciativa. O treinamento é o centro da melhoria da qualidade. Os gerentes de treinamento de muitos programas de TQM são seus principais impulsionadores. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 81 EuroDisney, BMW, McDonalds experimentaram com sucesso esse programa e se tornaram divulgadores mundiais de seu benefícios, ilustrando, com filmes, as suas ações, planos e resultados. Os programas de qualidade que alcançaram sucesso foram determinantes à consolidação de muitas empresas no mercado. ATIVIDADES Monte um plano de ação para melhoria da qualidade, simplesmente listando, cronologicamente, essas ações, para duas pequenas empresas:uma exclusivamente de serviço (salão de beleza, spa, lava-car, consultoria etc.) e outra que produza bens de baixo valor (fábrica de vassouras, de cadeiras, de tijolos etc.). Divida em ações: 1. dentro do processo de atendimento (nos serviços) e produtivo (na fábrica) 2. no estabelecimento da filosofia TQM. Projetos na Gestão da Produção projetos dos processos de fabricação desses administrados nas suas etapas de desenvolvimento. bens e como são Existem várias definições de projetos e, até por isso, nenhuma é completa. Segundo o PMI – Project Management Institute –, projeto “é um esforço temporário empreendido para criar um produto ou serviço único”. Na aula de hoje, vamos estudar os projetos como ferramentas de apoio à produção, uma vez que já foram estudados em outra disciplina na sua forma mais abrangente. Os pontos importantes dos projetos de apoio à produção são quatro: O objetivo final dos projetos é satisfazer as necessidades dos consumidores. Essa atividade se aplica tanto a produtos (ou serviços)como a processos de fabricação. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 82 A atividade de projeto é em si um processo de transformação. O projeto começa com um conceito e termina na sua tradução em uma especificação de algo a ser produzido. PMI- Project Manegement Institute. Entidade líder de mercado com 120 mil associados, criada nos Estados Unidos (Pensilvânia) em 1969, sem fins lucrativos. projeto do produto ou serviço Para se fabricar um produto ou criar um serviço, é preciso ...... projeto do processo que irá gerar esse produto ou serviço. Esses projetos devem ser elaborados simultaneamente, pois estão inter-relacionados. Muitas empresas projetam primeiro o produto e, a partir dele, definem o processo de produção. Isso ,muitas vezes, não se mostra como a melhor forma de sucesso do empreendimento. Já se constatou que melhores resultados de qualidade, tempo de fabricação e custos podem ser obtidos quando os projetos dos produtos e de seus processos de fabricação são concebidos conjuntamente. A tabela a seguir ilustra o impacto do projeto de um produto ou serviço nos objetivos de desempenho de cinco fatores. O 1º estágio de um projeto é a concepção, uma idéia geral, vaga e até mal definida do que pode ser uma solução para uma necessidade percebida. Em sua evolução, essa idéia é refinada e progressivamente detalhada, até que contenha informações suficientes para ser transformada em um produto ou serviço por meio de um processo. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 83 Dessa forma, a primeira tarefa do marketing é reunir informações dos clientes para compreender suas necessidades e expectativas e encontrar oportunidades no mercado. Depois disso, os projetistas analisam essas necessidades e expectativas como foram interpretadas pelo marketing e procuram criar uma especificação para um produto ou serviço. Criado o produto, ele é posto no mercado, e sua aceitação é avaliada, gerando novas informações para o marketing rever ou não o produto. Os produtos e serviços adquiridos pelos clientes são entendidos por eles como “conceitos”. Quando alguém vai com a família a um restaurante, não vai só com o intuito de saciar a fome. Vai procurando um lugar agradável, que tenha uma alimentação bem feita, bem apresentada, onde possa se descontrair e conversar com seus familiares. Em geral, podemos entender um serviço como um produto oferecido. Dessa forma, a partir de agora, quando dissermos produto, estamos nos referindo a um produto ou serviço. Algumas empresas praticam o que é conhecido como “Engenharia Reversa”, que consiste em desmontar um produto de um concorrente, entender seu funcionamento e inserir melhorias, qualidade, estética etc. Os japoneses ficaram famosos no mundo todo por essa prática. Uma outra opção, mais discreta, seria conseguir a licença de fabricação com as melhorias encontradas. O resultado final da atividade do projeto é uma especificação detalhada do produto, que inclui: ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 84 1) o conceito global com a forma, função e o objetivo do projeto e seus benefícios. 2) o pacote, que irá especificar todo o conjunto de produtos necessários para preparar e apoiar o conceito. 3) o processo pelo qual o pacote será criado, especificando como os vários produtos e serviços serão produzidos. Os projetos de produtos podem ser divididos em seis fases, como mostra a figura ao lado, e cujo resultado final detalhamos nos três itens em negrito acima. Um projeto é iniciado com a geração do conceito. A idéia para conceitos de novos produtos pode vir de fontes externas à organização (consumidores, concorrentes, pesquisa de mercado etc.) ou de fontes de dentro da organização (funcionários, marketing, pessoal de vendas, departamento de P&D etc.). Cabe às empresas se movimentarem para captar e provocar reações que resultem nesses conceitos. Os projetistas precisam ser seletivos na escolha dos conceitos nos quais trabalharão até o ponto de projetar os aspectos preliminares. Essa seleção passa, também, por quatro fases anteriores, que juntas se configuram como a triagem: ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 85 1. Crivo técnico, em que os próprios projetistas eliminam as alternativas de projeto inviáveis tecnicamente. 2. Crivo do marketing, o qual eliminará os conceitos que funcionarão nos mercados, que sejam muito semelhantes a produtos já existentes, incapazes de gerar demanda compensadora dos esforços e inadequadas à política de marketing da empresa. 3. Crivo da função produção, que verificará se existe na empresa capacidade de produção, habilidades de seus recursos humanos e nível tecnológico exigido. 4. Crivo financeiro, que trata de verificar as necessidades de capital e investimento, avalia custos operacionais, suas margens de lucro e sua taxa de retorno. Gerado um conceito de produto aceito pelos diversos departamentos envolvidos, a etapa seguinte é criar um projeto preliminar com a primeira versão das especificações dos produtos componentes do pacote e a definição dos processos para criação do produto. Para essa etapa, são utilizados os Diagramas de Fluxos, que identificam os principais elementos de um processo e a seqüência das atividades, como visto na disciplina Administração de Projetos. Com base na análise no projeto preliminar, será feita uma avaliação do produto e todas as melhorias são sugeridas antes de o produto ser prototipado. Nessa análise, são utilizadas técnicas visando: Assegurar que o produto atenda às necessidades de seus clientes. Existe uma técnica chamada Desdobramento da função qualidade (QFD – Quality Function Deployment), desenvolvida pela Mitsubishi, em Kobe, a qual, resumidamente, tenta captar o que o cliente precisa e providenciar. Reduzir custos desnecessários (Engenharia de Valor). Basicamente, busca eliminar custos que não contribuam para o valor e o desempenho do produto ou serviço, reduzindo o número de componentes, usando materiais mais baratos e simplificando processos. O método de Tagushi (ver aula 13 – TQM), que propõe ser o produto robusto a ponto de manter suas funções, mesmo em condições bastante adversas. Um azulejo não é fabricado para sofrer impactos na parede, mas deve ter uma resistência tal que não seja afetado com uma pancada de pequena intensidade ocorrida acidentalmente. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 86 Esta etapa consiste em transformar o projeto melhorado em um protótipo que possa ser testado, alterado, melhorado, corrigido e transformado no projeto final. Uma ferramenta de apoio à prototipação é o CAD – Computer-Aided Design (projeto auxiliado por computador). O CAD permite o uso de simulações de produtos em computador, no qual seu desempenho pode ser testado com alto grau de exatidão, sem necessidade de testes físicos. Uma modalidade muito interessante de desenvolvimento de projetos de produtos é a “Engenharia Simultânea”, que é o desenvolvimento do projeto do produto (ou serviço) no mesmo tempo em que o projeto do processo, com interação contínua. À medida que o projeto do produto vai sendo montado em suas várias fases, o projeto do processo de fabricação vai sendo definido, passando pelas seis mesmas fases mostradas na figura anterior. Na fabricação do produto, já vai sendo definido o melhor processo a ser utilizado. A Engenharia Simultânea têm como ponto chave a rapidez de resposta ao mercado, com menor tempo de lançamento de produtos e a resolução rápida de conflitos e ordenamento, fase a fase, das etapas do projeto do produto e do processo. ATIVIDADES A atividade de projetar um produto é por si só uma atividade criativa. Crie um produto (pouco complexo, para reduzir o grau de dificuldade do trabalho), com o objetivo de atender uma necessidade sua. Desenvolva as fases de montagem desse produto e as fase de desenvolvimento do processo de fabricação (de como será montado na fabricação). Liste, ordenadamente, cada uma das fases e as etapas do projeto do produto e do processo. Estratégia da Produção Vamos enumerar os cinco principais objetivos de desempenho da produção,que deverão nortear suas atividades para atender as expectativas dos clientes. Papel e objetivos estratégicos da produção ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 87 Cada um dos departamentos de uma empresa ou organização tem sua própria função, normalmente associada diretamente ao seu nome. A função do marketing é posicionar os produtos ou serviços da empresa no mercado. A função do departamento de finanças é controlar os recursos financeiros. A função da produção é ”produzir” os serviços e bens demandados pelos consumidores. Boa parte das empresas tem a opção de contratar de terceiros a produção de seus bens e serviços, simplesmente pagando a outra empresa para fornecer o que sua produção faz. Dessa forma, diminui seu grau de alavancagem operacional, reduzindo seus riscos, como foi visto na nossa segunda aula. Para justificar sua existência, a função produção desempenha três papéis importantes: 1. Apoio para a estratégia empresarial, desenvolvendo políticas apropriadas aos recursos utilizados. 2. Implementador da estratégia empresarial, que transforma decisões estratégicas em realidade operacional. 3. Impulsionador da estratégia empresarial, fornecendo os meios para obtenção de vantagens competitivas. A função produção possui cinco objetivos de desempenho, que podem ser traduzidos em vantagens estratégicas. São eles: Vantagem da qualidade Executar as operações sem erros e de forma correta não apenas leva à satisfação dos consumidores, como torna mais fácil a vida das pessoas envolvidas nessas operações. Aumentando a confiança interna, reduz custos e, conseqüentemente, aumenta produtividade. Vantagem da rapidez A redução dos prazos de entrega (ou lead time) é proporcional à redução dos estoques dos produtos em processo e em espera dentro da fábrica, além de facilitar as operações, com menor número de itens em circulação. A empresa investe menos em estoques, atende mais rapidamente seus clientes e fica menos sujeita a devoluções por demoras ou obsolescência de produtos ou processos. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 88 Vantagem da confiabilidade A confiabilidade nas operações internas da empresa é tão importante quanto a confiança dos consumidores no produto ou serviço. A confiabilidade economiza tempo, pela segurança que causa nos funcionários de terem disponibilizados os recursos necessários às suas atividades, resultado esse que se traduz em menores custos. A redução da perturbação causada pela falta de confiabilidade interfere na estabilidade (segurança de que não haverá surpresas), permitindo aos funcionários concentrarem-se no foco de suas atividades. Vantagem da flexibilidade O planejamento dos processos e dos produtos deve permitir que a empresa possa responder, rapidamente, às mudanças do mercado. As mudanças podem acontecer de quatro formas diferentes: - Flexibilidade de produto ou serviço – mudança de produtos ou serviço. - Flexibilidade de mix – mudança ampla do composto oferecido. - Flexibilidade de volume – quantidades diferentes de produtos ou serviços. - Flexibilidade de entrega – tempos de entrega diferentes. A flexibilidade agiliza a resposta às expectativas do mercado, otimiza o tempo e mantém a confiabilidade interna e externa dos consumidores. Vantagem do custo Os custos são afetados pelos efeitos das quatro vantagens citadas. Entretanto, eles sofrem influência direta de quatro aspectos importantes: - Operações de alta qualidade não consomem tempo nem esforços de correções ou retrabalho (reprocesso). Por essa ótica, alta qualidade significa menores custos. - Operações rápidas reduzem o estoque em processo e seus custos administrativos indiretos. - Operações confiáveis não trazem surpresas desagradáveis aos clientes internos e externos. Isso elimina o prejuízo de interrupções e permite seqüência ordenada e harmônica das atividades. - Operações flexíveis e previsíveis permitem adaptações rápidas às circunstâncias mutantes e não interferem em outras operações da ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 89 empresa. As operações podem ser alteradas sem desperdiçar tempo e capacidade, reduzindo, novamente, os custos. Efeitos internos dos cinco objetivos de desempenho A figura acima mostra a interação dos cinco objetivos de desempenho da produção com as expectativas do cliente Estratégia da produção Quando uma organização decide por uma estratégia, ela assume um compromisso com um conjunto de ações que nortearão suas atividades do dia-a-dia, com objetivos traçados que serão comparados com os resultados finais obtidos, e que avaliarão o sucesso ou não da estratégia. Decisões estratégicas podem ser entendidas como: - Abrangentes e, por isso, significativas em toda a organização. - Catalisadoras da postura da organização dentro do seu ambiente. - Definidoras das metas da organização e de seus objetivos de longo prazo. - Padrão global de decisões e ações que definem o comportamento da organização em um ambiente econômico, político e social, com objetivos de fazê-la atingir suas metas de longo prazo. Existe uma hierarquia estratégica dentro das organizações. De forma simplificada, a estratégia corporativa é o ponto de partida para a definição das demais estratégias de todas as unidades de negócios (ou ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 90 departamentos) da organização. Depois dela, temos a estratégia do negócio, que define a posição da empresa com relação ao mercado, consumidores e concorrentes, estabelecendo missões e objetivos individuais para cada unidade da organização. Por último, temos a estratégia funcional, subordinada às duas anteriores, operando nas ações de curto prazo. A estratégia da produção ou das operações da produção é o padrão de decisões e ações que definem o papel, os objetivos e as atividades da produção a fim de contribuírem e apoiarem para a estratégia de negócios da organização. Dessa forma, ela tem dois propósitos: 1º Contribuir, de forma direta, para os objetivos estratégicos do nível imediatamente superior na hierarquia. 2º Auxiliar todas as outras partes do negócio para que contribuam para a estratégia corporativa da organização. O conteúdo da estratégia da produção é um conjunto de políticas, planos e ações escolhidos para atingirem os objetivos de apoio à estratégia corporativa. Esse conteúdo deve ter três prioridades: 1ª - Enfatizar as necessidades dos consumidores da empresa. Se eles buscam produtos de baixo preço, a produção deverá dar ênfase nos custos. Se o mercado exige qualidade, é ideal que a produção priorize bons controles. Resumindo: a administração deverá focar seus esforços nas cinco vantagens estratégicas mais oportunas, vistas no início desta aula. 2ª - Acompanhar as atividades dos concorrentes. Os concorrentes podem, em determinado momento, oferecer novos produtos ou serviços revitalizados, que absorvam fatia importante do mercado. A produção deve ter resposta rápida a essas inovações. No mercado automobilístico, assistimos, todos os dias, a propagandas em que uma montadora dá 3 anos de garantia e, na semana seguinte, seu concorrente também disponibiliza seus veículos da mesma forma. Uma montadora lança um modelo com câmbio automático e sua concorrente faz o mesmo em menos de 30 ou 40 dias. Essa flexibilidade é fator de sobrevivência de alguns produtos. 3º - Avaliar em qual estágio do ciclo de vida do produto estão os produtos ou serviços da empresa, para estimar sua substituição ou melhorias. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 91 Segundo Phillip Kotler (1995), o ciclo de vida de um produto traz as seguintes considerações: Os produtos e serviços têm vida limitada. Saber em qual estágio está é fundamental para dimensionar a logística necessária à produção e à boa distribuição dos produtos. Em cada estágio, o esforço e os desafios de atendimento ao cliente são diferentes. Os resultados financeiros oscilam em razão do estágio dos produtos. Os produtos e serviços exigem diferentes ações mercadológicas, financeiras, da produção, de compras, em cada etapa do ciclo de vida. Às vezes, fica muito difícil identificar em qual fase o produto está, se no crescimento, maturidade ou declínio. Quando um produto novo é lançado não se têm a exata noção da sua longevidade. A administração da produção precisa se focar no curto prazo para suas atividades diárias, no desenvolvimento de fornecedores de matérias-primas, terceiros e capacidade de produção, sem saber, exatamente, se a demanda será crescente ou não e por quanto tempo (meses, anos, décadas). A distribuição física também passa pelas mesmas dificuldades. Estoques, dimensionamento da frota de entrega (ou transportadoras), depósitos intermediários viverão as mesmas expectativas da demanda e da longevidade do produto. Todos os esforços da gestão da produção, quer na montagem da estratégia da produção, quer nas atividades diárias, confrontar-se-ão com os cinco objetivos de desempenho citados: qualidade, rapidez, flexibilidade, confiabilidade e custo. A dosagem de esforço em cada um desses objetivos faz parte da estratégia corporativa da organização, que deverá ser acompanhada pela estratégia funcional da produção. Bibliografia GAITHER, N. ; FRAZIER, G. Administração da Produção e Operações. 8. ed. São Paulo: Pioneira, 2001. KOTLER, P. Administração de Marketing. 4. ed. São Paulo:Atlas, 1995. ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 92 MOREIRA, D. A. Introdução à Administração da Produção e Operações. São Paulo: Pioneira, 1998. RITZMAN, L. P. ; KRAJEWSKI, L. J. Administração da Produção e Operações. São Paulo: Pearson, 2004. SLACK N. et al. Administração da Produção. São Paulo: Atlas, 1997. (Aula de hoje - ver páginas 55 a 88). ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO PROF. JOSÉ CORREIA Página 93