PRH-ANP é
10!
Qualificação
para enfrentar
os desafios
O legado do
programa para
as universidades
Empresas do
setor disputam
profissionais
Prêmios atestam
qualidade
das pesquisas
Página 4
Página 12
Página 20
Página 25
Editorial
Os resultados
de uma parceria
inovadora
A Agência Nacional do
Petróleo, Gás Natural e Biocombustívei — ANP tem o orgulho
de comemorar os 10 anos de seu
Programa de Recursos Humanos,
o PRH-ANP, uma das poucas iniciativas de formação e capacitação profissional que congregam
num só esforço, e com resultados
indiscutíveis, o Estado brasileiro, a
Universidade e o setor industrial
para o qual foi concebido.
E não estamos brindando
apenas aos milhares de profissionais formados com as bolsas
do programa, nem apenas
os resultados para as cadeias
produtivas de petróleo, gás e
biocombustíveis ao empregar
esses profissionais qualificados.
Estamos formando doutores,
mestres e bacharéis que se
empregam e contribuem com
inovações e desenvolvimento
também para as atividades de
áreas afins à petrolífera, como as
de Engenharia, Metalurgia, Química, Matemática, Física, Economia, Direito e as disciplinas que
envolvem o meio ambiente.
O PRH-ANP, na verdade, tem
uma história que se confunde
com a da própria Agência, e a
do setor de óleo e gás do Brasil.
Foi lançado no segundo ano de
existência e funcionamento da
ANP, no terceiro ano da vigência
da Lei 9.478, de 1997, a Lei do
Petróleo, que atribuiu à ANP a
ser criada a missão de gerir os
recursos petrolíferos da União.
Nesses 12 anos da Lei, 11 anos
da ANP e 10 do PRH, o setor de
óleo e gás cresceu mais de 300%,
alcançou um peso próximo
dos 11% de toda arrecadação
federal em 2008. O modelo
regulador de concessões deu ao
País a autossuficiência em óleo,
multiplicou por três a participação do gás na matriz energética
brasileira, ampliou sensivelmente
o conhecimento geológico do
subsolo do País. Nesse período, a
ANP também inseriu o biodiesel
no consumo nacional e levou os
combustíveis consumidos pelos
brasileiros a padrões internacionais de qualidade.
Todas essas conquistas
foram possíveis com a contribuição dos servidores da ANP,
dos seus diretores e ex-diretores
e também com a parceria da
Universidade brasileira — estudantes, coordenadores,
professores visitantes —, sem a
qual teria sido impensável tanto
3
Arquivo ANP
o PRH quanto nosso não menos
fundamental Programa de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D).
Por isso, e porque o Brasil se
depara com um novo momento
em sua História energética e
econômica, diante da nova fronteira petrolífera do pré-sal, não
nos cabe somente agradecer
a todos esses protagonistas do
êxito de nosso programa, como
lançar o desafio: vamos pensar
e agir para os próximos 10 anos!
Que sua colaboração com a ANP,
assim como sua contribuição ao
desenvolvimento do País não só
continue como cresça, no ritmo
exigido pelo Brasil.
Haroldo Lima
Diretor-Geral da ANP
Revista 10 anos PRH-ANP
História
Mirian Fichtner
4
Laboratório de
Análise Química
de Combustíveis,
único do gênero
no Brasil, da UFRJ,
criado com recursos
da taxa de bancada
do PRH-ANP
Primeiro programa de
recursos humanos destinado
especificamente à formação de
mão de obra para o setor petróleo e gás natural, o PRH-ANP
está completando uma década
de existência, com muitos
motivos para comemorar. Além
dos excelentes resultados que
ostenta, o programa firma-se
como um importante instrumento para enfrentar os novos
desafios que se impõem ao
setor, principalmente a partir
das descobertas de grandes volumes de petróleo e gás natural
em camadas do pré-sal nas
bacias de Campos e Santos.
Fruto da iniciativa da primeira
diretoria da Agência Nacional de
Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o PRH-ANP foi
inspirado na obrigação prevista
na chamada Lei do Petróleo (Lei
9.478 de 1997), que flexibilizou o
monopólio nas atividades básicas
da indústria, até então exercido
pela Petrobras, e atribuiu à ANP
a responsabilidade pelo aporte e
estímulo à pesquisa e ao desenvolvimento científico e tecnológico aplicado ao setor.
“A Petrobras era monopolista e assumia a responsabilidade
de formar pessoal. Com a flexi-
Revista 10 anos PRH-ANP
5
PRH-ANP, uma
década de sucesso
bilização do monopólio, sentiuse a necessidade de estimular
o surgimento de programas
de formação e qualificação de
pessoal, voltados para a atividade do petróleo e para outras
atividades que diziam respeito à
cadeia produtiva dessa indústria”, explica Elói Fernández y
Fernández, ex-diretor da ANP,
hoje diretor-geral da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), um dos mentores
do programa.
O PRH-ANP chega aos 10
anos ostentando números que
não deixam dúvidas sobre seu
sucesso. Desde que o programa
foi criado, em 1999, até o ano
Tipos de bolsa concedidos (*)
Graduação (a partir do 5º período, inclusive)
24
450,00
Mestrado (MSc)
Doutorado (DSc I) (até aprovação do exame de qualificação)
24
1.248,60
24
1.840,50
Doutorado (DSc II) (elaboração de tese)
36**
2.278,20
Coordenação PRH-ANP/MCT (COO) ***
48
1.254,00
Pesquisador Visitante PV ***
48
passado, foram investidos R$ 164
milhões na concessão de 4.586
bolsas de estudos em 44 cursos
de graduação e especialização,
distribuídos por 31 instituições
de ensino em 16 estados. Atualmente, estão em atividade 36
2.000
1.565
1.500
1.000
803
558
500
193
TÉCNICO
GRADUAÇÃO
Variável (****)
Observações:
(*) Todos os tipos de bolsa requerem renovação anual
(**) Limite máximo de 48 meses para o Doutorado
(***) Admitido um por programa
(****) Valor equivalente ao salário bruto pago pela instituição a pesquisador do mesmo nível, limitado a R$ 5.200,00.
3.119 profissionais formados (1999–2008)
0
Duração (meses) Valor mensal (R$)
MESTRADO
DOUTORADO
programas de nível superior, em
23 instituições de 13 estados.
A base do programa foi
a inclusão de disciplinas de
especialização específicas para
atender às necessidades das
indústrias do petróleo, gás natural e de biocombustíveis no
currículo de várias universidades do País. As parcerias com
as instituições de ensino começaram com um sistema de
editais, organizado pela ANP,
em três chamadas distintas.
Com o primeiro edital, publicado em 1999, apresentaram-se
71 propostas de instituições
de ensino de nível superior de
vários estados da federação – e
selecionadas 16, distribuídas
geograficamente pelas regiões
Nordeste, Sudeste e Sul do País.
O segundo edital, publicado no
Revista 10 anos PRH-ANP
6
Renata Moraes
Protótipo
de motor
desenvolvido
por bolsista
do PRH-25, da
Universidade
de Campina
Grande, Paraíba
mesmo ano, atraiu 60 projetos e
15 foram aprovados pela comissão de avaliação, privilegiando
outras instituições de ensino, mas
mantendo o caráter abrangente
e multirregional. No último deles,
de 2000, mais 18 propostas foram
apresentadas, com a implementação de cinco novos PRHs –
totalizando os 36 programas em
atividade atualmente.
O processo foi concluído
com a celebração das primeiras parcerias e a criação dos
Comitês Gestores, compostos
por docentes das instituições
participantes. “A criação de
Revista 10 anos PRH/ANP
disciplinas de especialização em
petróleo e gás natural, dentro
dos cursos já existentes, foi o
‘pulo do gato’ do programa,
porque criar novos cursos seria
muito complicado”, avalia Ana
Cunha, coordenadora de atividades do PRH-ANP.
Atualmente, há 2.200
ex-bolsistas atuando em 170
empresas do setor de petróleo
em todo o Brasil, 24 são funcionários da própria ANP e outros
640 são servidores concursados
da Petrobras.
Isto sem falar nos ex-bolsistas
que se dedicaram à carreira
acadêmica, pela qual ampliam
a reprodução do conhecimento e realimentam a pesquisa.
“É um programa que não só
cumpre a sua principal missão,
que é formar profissionais para
atender à demanda do setor
de petróleo, privado ou público, mas também vem dando
uma contribuição sistêmica à
produção científico-tecnológica
do País, contribuindo inclusive
para aumentar os nossos índices
internacionais de publicações”,
ressalta Florival Carvalho, superintendente de Planejamento e
Pesquisa da ANP.
7
Distribuição de recursos
por região em 2008
Norte-Nordeste
45%
Distribuição de bolsas
por região em 2008
Sul- Sudeste
55%
AS TENDÊNCIAS DO
MERCADO
Os 36 programas de nível
superior em atividade hoje, em
23 universidades de diferentes
estados brasileiros, têm ênfase
em engenharias (do Petróleo,
Química, Mecânica, Metalúrgica
e dos Materiais), Geociências
(Geologia e Geofísica), Direito,
Economia e Química. Os cursos
são orientados de acordo com
as tendências do mercado,
pela ANP, de forma a privilegiar
as competências regionais e
promover o desenvolvimento
de uma cultura de ensino e pesquisa aplicada ao setor.
“As bolsas concedidas pelo
programa tinham um valor mais
alto do que outros já existentes.
Isso provocou uma corrida de
alunos, gerou mais concorrência
e garantiu uma seleção de alto
nível. Sinto-me muito orgulhoso
de ter participado da criação do
PRH-ANP, pois as empresas existem hoje em função da mão de
obra formada pelo programa. Já
houve casos de contratação de
turmas inteiras. Isso é fantástico”, define Raimar Van Den Bylaardt, gerente de Tecnologia do
Instituto Brasileiro de Petróleo
e Gás (IBP). Ex-servidor da ANP,
Raimar é considerado um dos
“pais” do PRH-ANP.
Os critérios para a seleção
dos bolsistas e a aplicação dos
recursos do PRH-ANP são definidos pelos Comitês Gestores
das instituições participantes.
A fonte de recursos é o Fundo
Setorial CT-Petro (Plano Nacional de Ciência e Tecnologia do
Setor de Petróleo e Gás Natural),
administrado pela Financiadora
de Estudos e Projetos (Finep). A
previsão de recursos para 2009
é de R$ 20 milhões, elevando
para R$ 184 milhões o total dos
investimentos do programa desde a sua criação. Para o início de
2010, outros R$ 20 milhões vão
dar fôlego a dez novos programas, que serão contemplados
nos próximos editais a serem
lançados pela ANP.
O PRH-ANP abrangeu, entre
1999 e 2004, duas vertentes: uma
voltada para profissionais de
nível superior (PRH-ANP/MCT) –
incluindo graduação e pós-graduação stricto sensu, e a outra voltada para a educação profissional
de nível técnico (PRH-ANP/MECTécnico). Atualmente somente
está em atividade o PRH-ANP/
MCT, voltado para profissionais
de nível superior.
Norte-Nordeste
441
Sul- Sudeste
577
Além das bolsas de estudos,
o programa concede “taxa de
bancada”, um suporte financeiro para gastos específicos do
programa que não se enquadrem como bolsas de estudo.
O PRH-ANP integra a Coordenadoria de Tecnologia e Formação
de Recursos Humanos (CTC) da
Agência, junto com o Programa
de Investimentos em Pesquisa e
Desenvolvimento (P&D).
O PETRÓLEO NOS
ANOS 90
Os últimos anos da década
de 90 marcaram o início do
processo de reforma pelo qual
passaria a indústria de petróleo
e gás natural do Brasil, com os
objetivos expressos de
atrair investimentos para o setor
e incentivar a concorrência.
A Lei nº 9.478, de 1997 — a Lei
do Petróleo — mudou a forma
de exercício do monopólio da
União sobre as jazidas de óleo e
gás (desde 1953 exercido diretamente pela estatal Petrobras) –
estabelecendo a concessão de
áreas exploratórias por meio de
licitações públicas.
Criada pela Lei do Petróleo e implantada em 1998, a
Agência Nacional do Petróleo
Revista 10 anos PRH-ANP
8
Bolsas concedidas
O PRH em números
Investimentos
R$ 184 milhões (*)
Bolsas concedidas
4.586
Programas de pós-graduação
28
Instituições de ensino
23
Estados da federação
13
Novas especializações
mais de 200
(*) inclui os R$ 20 milhões previstos para 2009.
nasceu com as atribuições de
regulação, contratação e fiscalização das atividades no setor
de petróleo e gás natural. Em
junho de 1999, a ANP realizou
a primeira rodada de licitação
de blocos para a contratação
das atividades de exploração,
desenvolvimento e produção
de petróleo e gás natural.
O primeiro leilão trouxe 40 novos agentes para o
setor (hoje já são cerca de 80
empresas) e expôs um velho
problema: a falta de mão de
obra qualificada para atuar
neste mercado – o que levou a
ANP a implementar, ainda em
Mestrado
1.128
Doutorado
400
Técnico
813
Graduação
2.245
1999, o Programa de Recursos
Humanos (PRH) para incentivar
a formação de pessoal especializado, de forma a contribuir
efetivamente com as políticas
de apoio ao desenvolvimento
econômico do País.
OS DESAFIOS FUTUROS
Depois de uma década de
sucesso, o PRH-ANP vem sendo
preparado para os desafios
do futuro, que caminham
lado a lado com a descoberta
de novas fontes de energia
que poderão substituir os
hidrocarbonetos e o início da
exploração e produção do
ANO
PRH-ANP/MCT
Superior
PRH-ANP/MEC
Técnico
1999
538.777,98
2000
8.325.050,26
2001
13.031.344,91
3.412.648,80
2002
18.075.749,14
2003
Fonte de recursos
ANP
petróleo que está nos grandes
reservatórios do pré-sal – uma
área de 800km de extensão,
situada abaixo de uma
barreira de sal de até 2Km de
espessura, a até 5Km abaixo do
nível do mar.
“O mundo inteiro faz
investimentos significativos na
busca de uma resposta para a
questão das fontes limpas de
energia. E o Brasil tem que ficar
atento aos desdobramentos
que vão gerar novas oportunidades a partir das pesquisas
que estão sendo incrementadas nesta busca internacional
por combustíveis alternativos”,
Fonte de recursos
CT-Petro
538.777,98
Totais
538.777,98
8.325.050,26
8.325.050,26
3.412.658,80
13.031.344,91
16.444.003,71
643.360,00
643.360,00
18.075.749,14
18.719.109,14
11.153.738,00
873.840,00
873.840,00
11.153.738,39
12.027.578,39
2004
22.476.978,00
417.340,00
417.340,00
22.476.978,00
22.894.318,00
2005
15.000.000,00
15.000.000,00
15.000.000,00
2006
24.000.000,00
24.000.000,00
24.000.000,00
2007
27.000.000,00
27.000.000,00
27.000.000,00
2008
19.400.000,00
19.400.000,00
19.400.000,00
2009*
20.000.000,00
20.000.000,00
20.000.000,00
158.462.860,70
184.348.837,48
Totais
159.001.638,29
*Valor aprovado para 2009.
Revista 10 anos PRH-ANP
5.347.188,80
5.885.976,78
9
Da universidade aos eventos internacionais
Em 2004, enquanto fazia curso de doutorado
com bolsa do PRH-ANP na Universidade Federal do
Paraná (UFPR), a engenheira química Patrícia Raquel Silva foi convidada a participar do “1º Fórum
para Jovens do Congresso Mundial de Petróleo”,
em Pequim, na China – um evento direcionado a
jovens pesquisadores do setor de petróleo e gás.
A estudante fez a apresentação oral do trabalho de pesquisa “Novas tecnologias para avaliação
da permeação de hidrogênio e monitoramento
da corrosão na indústria do petróleo”, conduzido
juntamente com seu orientador e outro aluno de
doutorado, que apresentava uma nova técnica
para identificar e monitorar o processo de corrosão
típico das refinarias de petróleo.
O trabalho ficou entre os oito melhores e Patrícia foi convidada a apresentá-lo no 18º Congresso
Mundial do Petróleo, o maior evento mundial do
aconselha Elói Fernández.
Na opinião de Raimar Van
Den Bylaardt, o tempo de existência do PRH-ANP já é prova de
que se trata de um programa
bem-sucedido, haja vistos os
diferentes governos que estiveram à frente do País ao longo
destes anos. Mas, consolidada
sua importância como um dos
sustentáculos do crescimento
setor, realizado em Joanesburgo, na África do Sul
– parte da viagem foi paga pela taxa de bancada
oferecida pelo programa.
Patrícia foi uma das primeiras bolsistas do PRHANP – ingressou em 2000, com bolsa de mestrado. Em
2006, passou a ser aluna não-bolsista do programa,
porque fez concurso para o Instituto de Tecnologia do
Paraná (Tecpar), onde atualmente trabalha na Divisão
de Biocombustíveis. Ela concluiu o doutorado em 2007.
“A participação no PRH possibilitou que eu
desenvolvesse meus projetos de pós-graduação e
outros trabalhos de solução de problemas reais da
indústria, sobretudo na área de corrosão no setor
de petróleo e gás”, afirma Patrícia, acrescentando
que sua visão do programa é muito positiva e que
faz questão de divulgá-lo. “Sou muito grata pela
experiência realmente única e muito valiosa para
minha formação profissional”.
do setor energético brasileiro, é
chegada a hora de pensar em
novos modelos para o futuro. “O
PRH-ANP é uma raridade e, se
não fosse um bom programa,
não teria resistido tanto tempo.
Mas ainda estamos longe de
formar pessoal para atender às
novas demandas que se apresentam no setor, agora com o
pré-sal”, argumenta.
Silvene Trevisan
Patrícia
Raquel Silva,
do Paraná,
foi uma das
primeiras
bolsistas do
PRH-ANP
Somados o acervo de
realizações do programa, a
infraestrutura implantada nas
diversas universidades parceiras
e as alternativas que vêm sendo
pesquisadas e inseridas na matriz energética mundial – além
da promessa brasileira com as
descobertas de petróleo no
pré-sal – uma conclusão é certa:
o PRH-ANP terá vida longa.
Revista 10 anos PRH-ANP
Futuro do PRH-ANP
10
Novos recursos
levarão programa
a mais um salto
O ano do décimo aniversário do PRH-ANP marca também
seu momento de maior expansão, do ponto de vista financeiro.
A recém-aprovada entrada da
Petrobras como agente financiador ampliará em R$ 20 milhões a
verba de execução do programa,
que este ano foi de R$ 20 milhões. “Trata-se de um volume de
recursos jamais movimentado”,
comemora o superintendente
de Planejamento e Pesquisa da
ANP, Florival Rodrigues de Carvalho. O aporte da estatal permitirá o lançamento, ainda em 2009,
de editais para a seleção de dez
novos programas universitários
para integrar o PRH-ANP, entre
outras novidades.
“Os novos recursos farão
saltar dos atuais 36 para 46 os
programas em atividade nas
instituições de ensino de todo
o País, com bolsas de iniciação
científica, mestrado e doutorado no âmbito do PRH-ANP”,
acrescenta o superintendente.
Serão oferecidas, ao todo, 80
bolsas de iniciação científica, 40
de mestrado e 20 de doutorado. Com isso, o total de bolsas
pagas a estudantes saltará de
578, em 2009, para mais de
1.000 no próximo ano.
Revista 10 anos PRH-ANP
NOVAS ÁREAS
DE ÊNFASE
Florival Carvalho adianta
que as áreas de ênfase dos
novos programas serão: présal, biocombustíveis (etanol e
biodiesel), eficiência energética,
saúde ocupacional e segurança
operacional. São áreas que, segundo as principais companhias
do setor, necessitam mais fortemente de investimentos em
pesquisa e desenvolvimento.
Outra mudança prevista será
a retomada do PRH-ANP Técnico,
com concessão de bolsas para
estudantes de nível médio.
Segundo o superintendente,
este projeto será conduzido pela
Petrobras com verbas próprias,
além dos R$ 20 milhões acertados para os PRHs universitários. “A empresa elabora uma
proposta que até o fim do
ano já deverá estar aprovada”,
afirma. Os recursos investidos
pela Petrobras nos programas
são provenientes da participação especial que a empresa
precisa pagar como compensação financeira pela produção de petróleo e gás em
campos de grande produtividade. A legislação determina
que 1% do faturamento desses
campos seja aplicado em pesquisa e desenvolvimento.
Além do pagamento de
bolsas para estudantes de
graduação e pós-graduação,
o PRH-ANP concede bolsas a
coordenadores e professores
visitantes – além de fornecer
uma taxa de bancada que dobra o valor que cada instituição
recebe em bolsas, e que pode
ser usada na compra de equipamentos e insumos para laboratórios, livros, passagens para
congressos ou o investimento
11
Fred Bailoni
Florival Carvalho
e a equipe da
Coordenadoria
de Tecnologia e
Recursos Humanos
da ANP: mais
R$ 20 milhões em
recursos garantem
o lançamento de
novos editais e a
entrada de mais
instituições de
ensino no PRH
que o coordenador julgar necessário para que o programa
atinja uma alta produtividade.
CONTROLE MAIS
RIGOROSO
A boa administração dos
recursos é um dos critérios de
avaliação dos programas – que
passarão a ter um controle de
qualidade mais rigoroso. Daqui
para frente, adianta Florival
Carvalho, os que não atingirem um conjunto mínimo
de critérios de produtividade
deixarão de receber novas
bolsas – o que levará à sua
extinção. Outros critérios de
avaliação são empregabilidade
dos bolsistas e produção científica. “Em geral, os programas
são muito bem avaliados, mas
houve também aqueles que tiveram uma baixa produtividade. Nesses casos, conversamos
com o reitor da instituição, e
houve troca de coordenadores”, comenta.
O superintendente torce
para que o próximo edital traga
instituições de estados brasileiros ainda não contemplados
pelo programa. “O PRH-ANP
ainda é muito litorâneo, muito
concentrado nas áreas produtoras de petróleo. O Rio de Janeiro,
por exemplo, tem um terço das
bolsas. Espero que tenhamos
propostas de universidades do
Centro-Oeste e do Norte. Tenho
visitado instituições de todo o
País para divulgar o programa,
e espero que o esforço tenha
como resultado uma maior
diversificação”.
Revista 10 anos PRH-ANP
Universidades
12
PRH contribui para avanços
na Educação Superior
A criação do Programa
de Recursos Humanos da ANP
(PRH-ANP) para o setor de
petróleo, gás natural e biocombustíveis foi uma resposta do
governo federal, por intermédio da ANP, ao desafio tecnológico colocado pelo setor que
é estratégico para o desenvolvimento econômico do País,
principalmente nos últimos 20
anos. Embora o objetivo central
seja a formação de mão de
obra especializada para o setor
– o que beneficia diretamente
os profissionais e a indústria
– os resultados obtidos ao
longo destes 10 anos ajudaram
também a mudar o perfil das
universidades parceiras.
É uma iniciativa inovadora que mostra a
visão estratégica dos gestores e foi
fundamental para o sucesso do programa
ao longo desses 10 anos’
Clovis Maliska
Além da inclusão de
disciplinas de especialização
específicas para atender às
necessidades dessa indústria –
que é a base do programa – as
universidades criaram novos
Revista 10 anos PRH-ANP
cursos próprios, embaladas
pelo sucesso do PRH-ANP. É o
caso da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ), que
incluiu duas disciplinas em seu
currículo, voltadas especificamente para o setor: Petróleo e
Meio Ambiente. “Estas matérias
eram dispersas em algumas
carreiras e foram organizadas
para atender às novas demandas do mercado e da área de
pesquisa e desenvolvimento”,
diz Jussara Lopes de Miranda,
coordenadora do PRH-01, com
ênfase em Química, da UFRJ.
Na avaliação de Clovis Maliska, coordenador do PRH-09,
da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o PRH-ANP
passou a organizar a atividade
de pesquisa para o setor de
petróleo nas universidades, que
antes era dispersa e acontecia
de forma isolada. ”Isso foi fundamental para o desenvolvimento
do setor. Houve uma sistematização das disciplinas, foram
13
Arquivo UFSC
Renata Moraes
Os jovens
bolsistas dos
PRHs da UFRN
reunidos na
abertura da
exposição que
comemorou
os 10 anos do
programa
criados novos cursos, e todos os
interessados nesta área foram
aglutinados em espaços físicos e
estruturas comuns. A atividade
de petróleo nas universidades
ganhou visibilidade”, ressalta.
O coordenador do PRH-05,
na Universidade Estadual Paulista (Unesp), Dimas Dias Brito,
concorda com a avaliação de
que o programa mexeu de fato
com a academia, nos segmentos ligados à área de petróleo
e gás. “Nós percebemos que o
PRH-ANP promoveu inovações
estruturais na organização
acadêmica, introduziu novos
desafios no ensino e na pesquisa, induziu as atividades transdisciplinares e levou à criação
de novos cursos de mestrado,
de graduação e de extensão, de
forma que o impacto foi muito
grande”.
MOLA PROPULSORA
A taxa de bancada também
é apontada pelos coordenadores das universidades como
um dos grandes diferenciais do
PRH-ANP, pois ajudou a melhorar a infraestrutura das instituições. Os recursos financeiros
que vêm carimbados para
gastos específicos do programa têm sido considerados a
mola propulsora do programa.
“É uma iniciativa inovadora, que
mostra a visão estratégica dos
gestores e que certamente foi
fundamental para o sucesso do
programa ao longo desses 10
anos”, ressalta Clovis Maliska.
Para o professor Dimas Brito, a grande vantagem desses
recursos que o governo aporta
às universidades brasileiras
para o programa é o fato de
não ficarem restritos à formação dos alunos. “O aporte
financeiro enriquece o acervo
bibliográfico, implementa
melhorias nos laboratórios já
existentes ou cria novas unidades de pesquisa, e permite
a aquisição de softwares de
apoio às atividades de campo.
Ou seja, consolida núcleos
de excelência e provoca o
aumento da produtividade
científica, além de reconhecer
e dar visibilidade a universida-
O coordenador
do PRH-09,
Clóvis Maliska
(à direita), e
a equipe de
bolsistas do
programa na
Universidade
Federal de Santa
Catarina (UFSC)
Revista 10 anos PRH-ANP
14
Pará
UFPA
de junto à indústria”, resume.
Um dos exemplos práticos
da aplicação desses recursos
foi a instalação de um sistema
de alarme na Biblioteca do
Departamento de Química
da UFRJ, que eliminou o
problema de furto de livros
caros que vinha ocorrendo
sistematicamente, segundo
Jussara Miranda. A taxa de
bancada também financiou a
montagem de um laboratório
para ‘Análise de Combustíveis’,
uma disciplina eletiva criada
no âmbito do PRH-ANP, que
promove a capacitação dos
alunos na análise prática de
gasolina, álcool, diesel e biodiesel. É o único laboratório
Uma vez que esse dinheiro é aplicado no
ensino e na pesquisa gera o profissional que o
setor e o País precisam’
Instituições
conveniadas
São Paulo
USP/Unesp/Unicamp
Paraná
UFPR/UTFPR
Santa Catarina
UFSC
Dimas Brito
universitário do País focado
na análise de derivados de petróleo. “Os alunos saem com
formação de quem põe a mão
na massa, de quem faz, e não
apenas com formação teórica”,
destaca a coordenadora.
Revista 10 anos PRH-ANP
FORMAÇÃO
DIRECIONADA
Outro ponto do programa
que os coordenadores defendem em uníssono é o foco na
área de pesquisa de interesse
do setor de petróleo e gás na-
tural. Esta formação direcionada
faz com que os bolsistas sejam
imediatamente absorvidos pelo
mercado de trabalho – muitas
vezes até antes da conclusão
dos cursos. “As empresas
demandam muito este tipo de
15
Ceará
UFC
Rio Grande do Norte
UFRN
Paraíba
UFCG
Pernambuco
UFPE
Bahia
UFBA/Unifacs
Minas Gerais
Unifei
Espírito Santo
Ufes
Rio de Janeiro
UFRJ/UFF/Uerj/Uenf/PUC-Rio/Impa
Rio Grande do Sul
UFRGS/Furg
mão de obra qualificada. Não
fosse o PRH-ANP, a situação seria
caótica”, define Jussara. “Uma
vez que esse dinheiro é aplicado
no ensino e na pesquisa gera o
profissional que o setor e o País
precisam”, endossa Dimas Brito.
Nas universidades da região
Nordeste, a avaliação não é
diferente. “O programa nos
coloca em posição de destaque
nos segmentos estratégicos, ao
possibilitar o financiamento de
atividades mais de acordo com
a dinâmica do mercado”, define
Yanko Marcius de Alencar Xavier,
coordenador do PRH-36, da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (UFRN), que tem foco
no Direito do Petróleo.
Segundo o professor do
PRH-14, também da UFRN,
Afonso Avelino Dantas Neto,
o programa está profundamente envolvido na formação
de mão de obra especializada
para o setor, desde a sua criação. “Podemos asseverar que,
no âmbito das diversas universidades em que o PRH-ANP foi
implantado, já estão criadas
as condições que permitem a
formação de excelentes profissionais, seja em graduação,
mestrado ou doutorado”.
Além dos benefícios que
representa para as instituições
de ensino superior, o programa
traz retorno também para a
sociedade brasileira, na avaliação do coordenador do PRH-04,
da Universidade de São Paulo
(USP), Murilo Fagá, à medida
que significa uma compensação
pela exploração de recursos
naturais não-renováveis. “Nosso
foco é a racionalização do
uso da energia para reduzir os
impactos ambientais. O programa foi essencial para o Brasil
também neste aspecto, porque
valorizou o petróleo como insumo. Queremos que a sociedade
use melhor esses recursos, que
são finitos”, diz ele.
O programa foi essencial também por ter
valorizado o petróleo como insumo. Queremos
que a sociedade use melhor esses recursos,
que são finitos’
Murilo Fagá
O modelo inovador e
criativo que norteou a criação
do PRH-ANP, segundo Dimas
Brito, tem trazido de fato
largos benefícios também à
sociedade brasileira, além das
instituições acadêmicas. “Não
há qualquer dúvida sobre isso
e faremos todos os esforços
necessários para que esse
programa permaneça, continue e progrida”, concluiu.
Revista 10 anos PRH-ANP
16
As instituições conveniadas
PRH
INSTITITUTO ENFOQUE
PRH01
UFRJ
PRH02
UFRJ
PRH03
UFRJ
PRH04
USP
PRH05
PRH06
Unesp
UFPA
PRH07
PUC-RIO
PRH08
UFBA
PRH09
UFSC
PRH10
PRH11
PRH12
UTFPR
UFF
UFRGS
PRH13
UFRJ
PRH14
UFRN
PRH15
PRH16
Unicamp
Unifei
PRH17
Uerj
PRH18
UFRJ
PRH19
USP
PRH20
Uenf
PRH21
UFRJ
PRH22
UFRN
PRH23
Unifacs
PRH24
UFPR
PRH25
UFCG
PRH26
UFPE
PRH27
Furg
PRH28
UFPE
PRH29
Ufes
PRH30
UFRN
PRH31
UFC
PRH32
Impa
PRH33
Uerj
PRH34
UFSC
Formação de profissionais em Química para atuação nas áreas de exploração, produção, refino de petróleo,
processamento de gás natural, controle da qualidade de óleos e derivados, meio ambiente, energia e biocombustíveis.
Profissionais de Engenharia Civil para atuar na análise, exploração e desenvolvimento de sistemas petrolíferos.
Formação de profissionais nas áreas de Engenharia Naval, Oceânica e Submarina, com enfoque especial
em tecnologias de exploração em águas profundas.
Formação de profissionais em Energia, com enfoque na disponibilidade de energia, usos e impactos sociais
e no meio ambiente, regulação, economia e política da energia.
Formação de profissionais em Geologia e Ciências Ambientais Aplicadas, para o setor de petróleo, gás e de biocombustíveis.
Formação de profissionais em Geofísica.
Profissionais em Engenharia de Petróleo para atuar nas áreas de exploração, desenvolvimento, produção
e transporte de petróleo e gás.
Graduação em Geologia e graduação e pós-graduação em Geofísica, para atuação na área de exploração de petróleo.
Profissionais em Engenharia Mecânica e Química, graduados e pós-graduados, para atuação nas áreas de exploração,
produção, refino, controle da qualidade, meio ambiente em petróleo e gás natural.
Cursos de graduação, mestrado e doutorado em Engenharia Elétrica e Mecânica para o setor petróleo e gás.
Formação de profissionais com mestrado e doutorado para atuar nas áreas de Geologia e Geofísica Marinhas.
Profissionais de graduação e pós-graduação, capacitados para atuar na área de Exploração de Petróleo.
Formação de profissionais com graduação em Química e Engenharia Química e pós-graduação nos níveis de mestrado e
doutorado, para atuar em refino, processamento, meio ambiente, gestão e regulação na indústria do petróleo e gás natural.
Profissionais em Engenharia Química para o setor de petróleo e gás nos níveis de graduação, mestrado e doutorado,
com ênfase em Engenharia de Processos em Plantas de Petróleo e Gás Natural.
Formação de profissionais em Engenharia de Petróleo e Geoengenharia de Petróleo nos níveis de graduação e pós-graduação.
Profissionais em Engenharia da Energia e do Petróleo em níveis de graduação e mestrado .
Formação de Geólogos em níveis de graduação, mestrado e doutorado, especializados na área
de Análise de Bacias para exploração de petróleo.
Formação de profissionais graduados e pós-graduados em Geologia, para atuar nas diversas áreas do setor
de exploração de petróleo e gás natural.
Profissionais Engenheiros Navais em nível de graduação, mestrado e doutorado, com ênfase em Engenharia Oceânica,
Engenharia de Materiais e Tecnologia de Exploração em Águas Profundas.
Cursos de Engenharia de Exploração e Produção de Petróleo nos níveis de graduação, mestrado e doutorado,
para atuação nas áreas de exploração, produção, refino, transporte e distribuição.
Profissionais graduados em Engenharia de Produção, com ênfases em Economia do petróleo e gás
e pós-graduação em nível de mestrado e doutorado com ênfase em Planejamento Energético.
Cursos de graduação em Ciência da Computação e Engenharia de Computação e mestrado e doutorado
em Sistemas e Computação, voltados para o setor de petróleo e gás natural.
Profissionais graduados em Engenharias Elétrica, Química, Civil e Mecânica e com mestrado em Regulação da Indústria de Energia,
para atuação no setor de petróleo e gás natural.
Profissionais de Engenharias Mecânica, Química e Geologia com ênfase na área específica de Engenharia de Petróleo
para atuação nas áreas de refino, processamento e distribuição de derivados de petróleo.
Formação de profissionais graduados em Computação, Matemática e Engenharias Mecânica, Química e de Materiais,
com ênfase em tecnologia para o setor de petróleo e gás natural.
Formação de profissionais qualificados em Geociências e Engenharia Civil, para atuação na exploração de petróleo e gás natural.
Curso de formação em Oceanografia, Física, Química e Geologia, nos níveis de graduação e pós-graduação, aptos a atuar na exploração, explotação e transporte de produtos de petróleo e gás, em especial em mar aberto e ambientes transicionais da costa brasileira.
Formação de Engenheiros Químicos nos níveis de graduação, mestrado e doutorado, especializados em processos
químicos do petróleo.
Formação em Engenharias Mecânica e Ambiental, graduação em Oceanografia e pós-graduação nos níveis de mestrado e doutorado.
Graduação em Química e Engenharias de Materiais e Mecânica, pós-graduação nos níveis de mestrado
e doutorado, com ênfase na indústria do petróleo e gás.
Formação de recursos humanos em Engenharia e Ciências do petróleo e gás natural.
Formação de profissionais em Matemática e Computação Científica Aplicada, em nível de pós-graduação, voltada à indústria
do petróleo e gás natural.
Especialização de profissionais em Direito, com enfoque especial para o setor
de petróleo e gás natural.
Formação de Engenheiros nas Áreas de automação, controle e instrumentação para a Indústria do petróleo e gás.
PRH35
UFRJ
Formação em Engenharias Civil, Oceânica, Metalúrgica, de Materiais e do Petróleo, para o setor de petróleo e gás natural.
PRH36
UFRN
Formação de profissionais em Direito, graduados e pós-graduados em nível de mestrado,
com enfoque especial no setor de petróleo e gás natural.
Revista 10 anos PRH-ANP
Entrevista
17
Eugenius Kaszkurewicz/Finep
Escassez de mão de obra
qualificada é um gargalo
para crescimento do setor
João Luiz Ribeiro/Finep
A pluralidade de oportunidades e os desafios permanentes oferecidos pelo setor
de petróleo, gás natural e biocombustíveis – com ênfase para as novas reservas
do pré-sal e a substituição dos combustíveis de origem fóssil por fontes renováveis
de energia – estão gerando uma demanda crescente pela formação de recursos
humanos qualificados. Desta forma, é importante não só manter, como ampliar
o PRH-ANP, dentro dos programas de fomento à pesquisa e ao desenvolvimento
tecnológico. A opinião é do diretor da Financiadora de
Estudos e Projetos (Finep), Eugenius Kaszkurewicz,
que considera inquestionável o sucesso do PRH-ANP.
“A abrangência nacional do programa, o elevado
nível técnico dos trabalhos desenvolvidos pelos
bolsistas e o alto índice de empregabilidade desses
profissionais mostram que o programa
é, sem sombra de dúvida, uma
iniciativa de sucesso que vem
contribuindo para colocar
o Brasil numa posição
de destaque no cenário
mundial de petróleo, gás e
biocombustíveis.
Revista 10 anos PRH-ANP
18
João Carlos Machado
Palestra-exposição
promovida pelos sete
PRHs da UFRJ, em
agosto, no saguão do
Centro de Tecnologia,
campus do Fundão
>Qual a experiência da Finep
com este tipo de programa,
em fundos setoriais e para
formação de recursos humanos, fora do escopo do CNPq?
Kaszkurewicz – O apoio
a um programa continuado
de bolsas com abrangência
nacional e voltado para um
setor específico, como é o caso
do PRH-ANP/MCT, é inédito no
cenário de Ciência e Tecnologia do nosso País. Foi uma
decisão estratégica do Comitê
Gestor logo em suas primeiras
deliberações no ano de 2000
antevendo a enorme demanda
por mão de obra qualificada
que hoje se observa no Brasil.
As descobertas de reservatórios no présal e a crescente substituição das fontes de
combustível de origem fóssil pelas originárias
de biomassa vêm gerando expectativas de um
aumento ainda maior da demanda de recursos
humanos para esses setores’
>Existe o mesmo tipo de
demanda de outros fundos
setoriais?
Essa ação do Fundo Setorial
de Petróleo e Gás (CT-Petro) foi
Revista 10 anos PRH-ANP
pioneira e não existem outros
exemplos nesse formato no âmbito dos demais fundos setoriais.
>Há expectativa de aumento
de alocação de recursos para
o PRH-ANP/MCT?
O desenvolvimento tecnológico dos setores de petróleo,
gás natural e biocombustíveis
está em plena expansão e
a escassez de profissionais
qualificados permanece sendo
um gargalo para se alcançar
um crescimento ainda maior
desses setores. O Comitê
Gestor do CT-Petro está ciente
deste desafio e tem priorizado
ações que contribuam para o
aumento da formação e capacitação de recursos humanos
para esses setores. Nos últimos
3 anos, foram aprovados mais
de R$ 70 milhões para o PRHANP/MCT (mais de 40% do
total investido pelo CT-Petro
desde a criação do programa).
Para este ano, está previsto o
aporte de mais R$ 20 milhões,
o que significa permitir uma
ampliação no número de bolsas e a criação de novos programas temáticos. A alocação
de recursos do CT-Petro neste
programa, dentro da disponibilidade de recursos dos últimos anos, já atingiu seu limite.
O importante agora é garantir
outras fontes de recursos para
apoio ao programa, com uma
contrapartida significativa da
ANP, a entrada das operadoras
(empresas petrolíferas) utilizando a cláusula de P&D e o
suporte estratégico das Agências do Sistema Nacional de
Ciência e Tecnologia (SNCTI).
>Como se inserem os programas de Recursos Humanos
nos financiamentos da Finep?
A Finep apóia, tradicionalmente, a concessão de
recursos para bolsas no âmbito
19
dos projetos de pesquisa e
desenvolvimento tecnológico.
Esses recursos são provenientes dos fundos setoriais e,
essas bolsas, nas mais diversas
modalidades, são concedidas
através dos mecanismos do
CNPq, com base nos critérios
adotados por aquele órgão.
>Qual a importância do PRHANP/MCT do ponto
de vista da Finep?
Os setores focados pelo
PRH-ANP/MCT apresentam
uma pluralidade de temas,
oportunidades e desafios. As
descobertas de novos reservatórios na camada pré-sal e
a crescente substituição das
fontes de combustível de origem fóssil pelas fontes renováveis originárias de biomassa
vêm gerando expectativas de
um aumento ainda maior da
demanda de recursos humanos para esses setores. Neste
cenário, é importante que se
mantenham e se incrementem os programas voltados
para o desenvolvimento de
recursos humanos associados
aos programas de fomento à
pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico.
>Investir na formação de mão
de obra qualificada tem sido
uma prioridade do governo?
A “Formação e Capacitação
de Recursos Humanos para
Ciência, Tecnologia & Inovação
(CT&I)” é uma das linhas de
ação priorizadas pelo PACTI,
que é o plano do governo
para CT&I para o período
2007-2010, elaborado em sintonia com outros programas
estratégicos de governo.
De uma forma geral, essa
linha visa ampliar o número de
bolsas de formação, pesquisa
e extensão no País; favorecer
a inserção de pesquisadores
nas empresas; e promover a
expansão e a qualificação do
quadro de profissionais envolvidos nas atividades de pesquisa,
desenvolvimento e inovação
nas instituições científicas e
tecnológicas (ICTs). A principal
meta desta linha prioritária do
MCT é ampliar o número de
bolsas do sistema CNPq – Capes
de 102 mil em 2007, para 170
mil em 2010. A Finep participa
deste esforço como Secretaria
Executiva do Fundo Nacional
de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (FNDCT) e dos
fundos setoriais.
Nos últimos três anos, foram aprovados mais de
R$ 70 milhões para o PRH-ANP/MCT, mais de 40%
do total investido pelo CT-Petro desde sua criação.
E, para este ano, estão previstos mais R$ 20 milhões,
que permitirão ampliar o número de bolsas’
> Como a Finep vê a
relevância do PRH-ANP,
que tem merecido
alocação de verba continuamente nestes 10 anos
de sua existência?
A Finep vem acompanhando os resultados alcançados pelo PRH-ANP/MCT ao
longo desses 10 anos de apoio
continuado do CT-Petro. A
abrangência nacional do programa, o elevado nível técnico
dos trabalhos desenvolvidos
pelos bolsistas de graduação,
mestrado e doutorado, bem
como o alto índice de empregabilidade desses bolsistas,
mostram que o programa é,
sem sombra de dúvida, uma
iniciativa de sucesso que
vem contribuindo para
colocar o Brasil numa posição de destaque no cenário
mundial de petróleo, gás e
biocombustíveis.
Revista 10 anos PRH-ANP
Indústrias
20
Empresas do
setor disputam
profissionais
As mudanças impostas ao
setor de petróleo, gás natural
e biocombustíveis do Brasil,
na última década – em função
da abertura do setor a players
internacionais – trouxeram à
tona um problema que até
então era de conhecimento e
responsabilidade apenas da
Petrobras, que respondia pelo
monopólio do setor: a escassez
de pessoal qualificado para
atuar nesta indústria.
Nossa empresa mantém um contato ativo e
permanente com as universidades do País em
busca de bolsistas do PRH-ANP para atender
nossas necessidades’
Roberto Ardenghy (BG Group)
Crescendo a um ritmo mais
acelerado do que a oferta de
mão de obra, o mercado sofre
com a falta de disponibilidade
desses profissionais, que muitas
vezes são disputados a peso de
ouro pelas empresas do setor.
“Nossa empresa mantém um
contato ativo e permanente
com as universidades do País
em busca de bolsistas do
PRH-ANP para atender nossas
Revista 10 anos PRH-ANP
necessidades”, admite Roberto
Ardenghy, diretor de Assuntos
Corporativos do britânico BG
Group, que está no Brasil há
três anos e é dono de 25% do
consórcio que explora o Campo
de Tupi (pré-sal).
A companhia começou
com cerca de 30 funcionários,
em 2006, e hoje conta com um
quadro de aproximadamente 200
profissionais, a maioria contratada no mercado brasileiro. “As
estrangeiras não têm interesse
em trazer técnicos de fora. O
processo é caro e, além disso, eles
não falam a língua portuguesa
e não conhecem a geologia do
País”, argumenta o diretor.
Na opinião de Ardenghy,
o PRH-ANP é uma janela de
oportunidade para que o Brasil
tenha profissionais preparados
a enfrentar o desafio tecnológico que representa a busca
mundial por novas fontes de
energia – mais baratas e ambientalmente saudáveis. O BG,
por exemplo, está formando
equipe para elaborar o plano
de desenvolvimento dos campos do pré-sal. “O PRH-ANP
é um programa fundamental
que já prestou altos serviços
ao setor”, avalia.
Plataforma de
petróleo em alto
mar: exploração
na camada pré-sal
vai expandir a
demanda por mais
recursos humanos
EXCELÊNCIA DO
PROGRAMA
A Petrobras, que durante
décadas respondeu pela formação de pessoal para atender
suas necessidades, já reúne,
entre seus funcionários, cerca
de 640 profissionais oriundos
do programa, que ingressaram por meio de concurso. “O
PRH-ANP é um estímulo muito
importante para a canalização
de mão de obra para a indústria do petróleo, gás, energia e
biocombustíveis”, afirma Mária
21
Arquivo ANP
de Oliveira, gerente do Suporte
de Educação da Universidade
Petrobras (UP), apontando as
áreas de geociências e geologia, além de engenharia de
petróleo e de equipamentos
como as de maior carência
profissional no setor.
Na avaliação de Mária de
Oliveira, as bolsas concedidas
pelo PRH-ANP cumprem ainda
outro papel fundamental, que
é a retenção dos jovens nas
instituições de ensino. “Há uma
pesquisa que mostra que a
evasão nas universidades é mais
alta nos primeiros períodos, e
isso corre principalmente por
causa de dificuldades financeiras. Mesmo estudantes que não
pagam faculdade muitas vezes
não têm como arcar com os
custos de transporte e alimentação ou precisam trabalhar
para ajudar suas famílias”, relata.
A Petrobras, que tem
previsão de investimentos
de US$ 28,9 bilhões para o
pré-sal no período de 2009
a 2013, reconhece que os
O profissional que chega à Petrobras,
vindo do programa, costuma se sair melhor
do que os demais nos cursos de formação que
fazem aqueles que ingressam na companhia’
Wilson Lanzarini (Petrobras)
profissionais egressos do PRH,
que chegam a seus quadros por meio do processo
seletivo público, são muito
bem preparados. “O profissional que chega à Petrobras,
vindo do programa, contribui
bastante com os colegas nos
trabalhos em grupo e isso é
Revista 10 anos PRH-ANP
Arquivo ANP
22
percebido tanto entre pessoas que vieram de bolsas de
graduação quanto das bolsas
de pós”, afirma Wilson Lanzarini, consultor sênior da UP.
A gerente da Universidade Petrobras informou que a
companhia dará apoio financeiro a cinco programas que
já fazem parte do PRH e que
atingiram excelentes resulta-
A intenção da companhia é, futuramente,
apoiar outros 24 programas, permitindo que
o programa ofereça mais bolsas, beneficiando
mais pessoas e favorecendo ainda mais a
indústria do petróleo como um todo’
Mária de Oliveira
dos. Serão destinados recursos da participação especial.
Os primeiros aprovados são
quatro programas da UFRN.
“A intenção da companhia é,
futuramente, apoiar outros 24
programas, atingindo diversos
cursos em atividade atualmente. Esse apoio permitirá que o
programa possa oferecer mais
bolsas, beneficiando mais pessoas e favorecendo ainda mais
a indústria do petróleo como
um todo”, adiantou.
Revista 10 anos PRH-ANP
23
Arquivo ANP
CRIAÇÃO DA ABPG
O PRH-ANP foi além de suas
atribuições de formar mão de
obra qualificada para o setor.
O programa também inspirou
a criação, em 2004, da Associação Brasileira de Pesquisa e
Desenvolvimento em Petróleo e
Gás (ABPG), uma entidade com
sede em Natal, no Rio Grande
do Norte, que reúne pessoas
físicas e jurídicas ligadas ao
setor de petróleo, gás e áreas
afins, através da interação entre
a comunidade acadêmicocientífica, o poder público e o
setor produtivo. “O PRH-ANP é
um dos melhores programas de
formação de recursos humanos
que já surgiram no País. É de
uma relevância sem igual para o
desenvolvimento do setor”, diz
Tereza Neuma, presidente da
entidade.
Ela defende a publicação
de novos editais para o PRHANP de forma a comportar
o aumento da demanda
imposto pelo crescimento do
setor. “Temos novas necessidades reais, como os campos do
pré-sal que ainda não contam
com um programa de formação direcionado para suas
especificidades”,
diz Tereza Neuma.
A dirigente ressalta que,
além das profissões diretamente ligadas à exploração e produção de petróleo ou de combustíveis alternativos, outros
setores caminham a reboque
O PRH-ANP é um dos melhores programas
de formação de recursos humanos que já
surgiram no País. É de uma relevância sem
igual para o desenvolvimento do setor’
Tereza Neuma
da expansão do setor, como as
áreas ligadas a Direito, Economia, Administração, Tecnologia
da Informação e Relações
Internacionais. “A quantidade de
estudantes em formação ou de
profissionais recém-formados
que estão buscando a indústria
do petróleo como maneira
de aplicar suas habilidades e
prosperar economicamente é
de fato impressionante, indicando a riqueza, o peso e
o volume que está indústria
já adquiriu”, conclui.
Revista 10 anos PRH-ANP
Excelência Acadêmica
24
Trabalhos conquistam
prêmios e reconhecimento
no Brasil e no exterior
O grande número de trabalhos premiados por empresas e
instituições evidencia a qualidade das pesquisas desenvolvidas
pelas instituições parceiras do
PRH-ANP, em todo o País, com a
chancela do programa. Até hoje,
135 bolsistas já receberam prêmios, sendo 65 deles estudantes
de graduação, 30 de mestrado
e 40 de doutorado. Do total, 45
foram premiados em concursos
internacionais, como o Congresso Mundial de Petróleo.
O Prêmio Petrobras de Tecnologia, um dos mais importantes
no Brasil para as pesquisas na área,
já foi outorgado a 26 bolsistas. E,
só este ano, vários trabalhos já
receberam prêmios concedidos
por instituições como Petrobras,
Bahiagás, Odebrecht, Instituto
Brasileiro de Petróleo (IBP), entre
muitos outros.
Outros indicadores de produtividade acadêmica também são
motivo de orgulho para os gerenciadores do programa. Até hoje,
foram concluídos 1.865 trabalhos
de fim de curso, obtidas 11 patentes
e apresentados 566 trabalhos no
Brasil e 108 no exterior. Outros
293 trabalhos no Brasil e 92 no
exterior foram também publicados
em livros de resumos. A área de
publicações é outro destaque, com
37 livros editados, capítulos em 115
livros, e 190 publicações indexadas.
Na lista abaixo, estão alguns
exemplos de trabalhos premiados.
A lista completa pode ser consultada no site: www.anp.gov.br .
> PRH 1 (UFRJ, Instituto de Química)
Prêmio: Prêmio Petrobras Tecnologia 2008 – Categoria Refino
Bolsista: Luiza Torres Abrantes - Graduação
Orientador: Arnaldo Faro Jr
Trabalho: “Catalisadores de Pd-Ir E Pd-Pt para Melhoria do Índice de Cetano em Diesel”
Aplicabilidade: Os catalisadores são partículas utilizadas nas reações químicas que constituem o
processo do refino do petróleo, para acelerar ou melhorar as reações. Neste caso, os catalisadores
utilizados têm os objetivos de elevar a proporção de cetano no diesel, o que o torna de melhor
qualidade (porque tem desempenho melhor no motor), e o de reduzir a quantidade de compostos
aromáticos, portanto fazendo o diesel menos agressivo ao meio ambiente e à saúde humana.
>
PRH 36 (UFRN, Centro de Ciências Sociais Aplicadas)
Prêmio: Melhor Monografia do CCSA, 2008. UFRN. 1° lugar
Bolsista: Victor Rafael Fernandes Alves - Graduação
Orientador: Yanko Marcius de Alencar Xavier
Trabalho: “Aspectos Jurídico-Ambientais da Cadeia Produtiva do Biodiesel”
Aplicabilidade: O trabalho sugere mecanismos regulatórios, ambientais e institucionais para a inserção
sustentável do biodiesel na matriz energética brasileira. Sugere iniciativas de estudos ambientais e de
cooperação institucional.
Revista 10 anos PRH-ANP
25
>
PRH 10 (Universidade Técnica Federal do Paraná)
Prêmio: 4ª Edição do Prêmio Petrobras de Tecnologia – 2008 – Tecnologia de
Perfuração e de Produção
Bolsista: Hendy Tisserant Rodrigues – Mestrado
Orientador: Rigoberto Eleazar Melgarejo Morales
Trabalho: “Modelagem e Simulação do Escoamento Bifásico no Padrão de Golfadas na Horizontal e
Vertical através de um Modelo Numérico de Seguimento de Pistões”
Aplicabilidade: Os modelos desenvolvidos tornam possível aos profissionais da área de produção
estudar o escoamento de óleo e gás nos tubos horizontais e verticais (risers) — tubulações que
ligam as cabeças dos poços às plataformas. Permitem, assim, simular o comportamento das linhas
de produção em águas profundas, supondo uma determinada tensão sobre os tubos. Os modelos
auxiliam principalmente os engenheiros do setor a dimensionar melhor o tamanho dos dutos,
podendo reduzir os custos de produção.
>
PRH 14 (UFRN, Departamento de Engenharia Química)
Prêmio: Prêmio Bahiagás de Inovação 2008
Bolsista: Geraldine Angélica Silva Nóbrega - Doutorado
Orientador: Afonso Avelino Dantas Neto e Eduardo Lins de Barros Neto
Trabalho: “Estudo de uma coluna de absorção para desidratação do gás natural, utilizando microemulsão como absorvente”
Aplicabilidade: No processamento do gás natural, um dos objetivos é extrair toda a água associada,
o que se faz por meio de substâncias que absorvem a água. O trabalho inova no tipo de absorvente e
tem aplicação nas Unidades de Processamento de Gás Natural, as UPs.
>
PRH 31 (UFC, Engenharia e Ciências do Petróleo)
Prêmio: Prêmio Odebrecht para o Desenvolvimento Sustentável, 2008
Bolsista: Márcio Anderson Guedes Vasconcelos – Graduação
Orientador: Suely Helena de Araujo Barroso
Trabalho: “Proposição de um Pavimento Ecológico para a Cidade de Fortaleza a partir do aproveitamento de Resíduos Ambientais”
Aplicabilidade: O trabalho consistiu no estudo de materiais alternativos para a pavimentação de
rodovias, com aproveitamento de resíduos de construção e demolição de solo da cidade e uso, na
produção do ligante, do líquido das castanha de caju (LCC) no lugar de querosene.
Revista 10 anos PRH-ANP
26
> PRH 10 (Universidade Técnica Federal do Paraná)
Prêmio: 4ª Edição do Prêmio Petrobras de Tecnologia – 2008 – Tecnologia de Logística e de Transporte de Petróleo, Gás e Derivados.
Bolsista: Suelen Neves Boschetto - Doutorado
Orientador: Flavio Neves Junior
Trabalho: “Sistema de Apoio à Decisão das Operações de Transferência e Estocagem de Derivados de
Petróleo em Redes de Duto”
Aplicabilidade: O sistema desenvolvido serve para gerenciar a malha de dutos (oleodutos
e gasodutos) da Transpetro (subsidiária da Petrobras na área de transporte e transferência),
possibilitando a programação mensal das movimentações de todos os derivados, com a
especificação do horário de bombeamento, parada em dutos, necessidade de reversão de fluxo, entre
outras possibilidades operacionais.
> PRH 15 (Unesp/SP, Centro de Tecnologia do Petróleo)
Prêmio: 1º Lugar no 2009 SPE Latin American and Caribbean Student Paper Contest
Bolsista: Guilherme Avansi - Mestrado
Orientador: Denis Schiozer
Trabalho: “Use of Proxy Models in the Selection of Production Strategy and Economic Evaluation of
Petroleum Fields”
Aplicabilidade: O trabalho desenvolveu metodologia para facilitar o processo de análise e de decisão
na escolha da estratégia de produção de campos de petróleo. Estratégia de produção envolve
determinar se o campo será dividido em módulos, quantos poços e onde serão perfurados, qual o
cronograma de perfuração e instalação das unidades de produção, qual a produção projetada, entre
outros fatores. Os modelos utilizados permitem determinar melhor o número ótimo de poços e seu
posicionamento, para que a produção se dê da maneira mais apropriada e rentável.
> PRH 35 (UFRJ, Coordenadoria dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia)
Prêmio: Prêmio Petrobras de Tecnologia 2008 no Tecnologia de Perfuração e de Produção; 1º
Lugar no Latin America and Caribbean Regional Student Paper Contest; 2º Lugar no International
Student Paper Contest – Etapa final realizada no Colorado EUA, durante s SPE Annual Technical
Conference and Exhibition; e 1º Lugar na Jornada de Iniciação Científica do CT – 2008
Bolsista: Ana Carolina Caldas Aguiar – Graduação
Orientador: Theodoro Antoun Netto
Trabalho: “Análise Estrutural de Tubos Expansíveis para Poços de Petróleo”
Aplicabilidade: A tecnologia de tubos sólidos expansíveis é uma alternativa viável e econômica
à tecnologia convencional de perfuração/completação. A tecnologia convencional consiste
em aplicar tubos de aço como revestimento de poços. Ao final de cada fase perfurada, o poço
é revestido e passa a ser perfurado com uma broca de menor diâmetro. Assim, o poço adquire
formato de “telescópio”. O tubo expansível permite que o revestimento seguinte tenha diâmetro
igual ou muito pouco menor que o anterior, mediante expansão do tubo, após seu assentamento,
o que permite aumentar a profundidade perfurada mantendo o diâmetro do poço. O trabalho
comparou o desempenho dos tubos expansíveis com o de tubos convencionais. Tem aplicação no
desenvolvimento de reservas em cenários desafiadores como nas zonas de sal, reservas profundas
e lâminas de águas ultra-profundas.
Revista 10 anos PRH-ANP
Carlos Leandro
27
As pratas da casa
No setor de petróleo, gás natural e biocombustível,
o ‘santo de casa’ faz milagre. A ANP também tem
em seus quadros 24 profissionais egressos do PRH.
São mestres e doutores que depois de apreender
Ana Amélia Martini
Bolsa de Doutorado II
(PRH-13 / EQ/UFRJ) 2002/05.
Lotação na ANP: SAB
André Canelas
Bolsa de Mestrado
(PRH-21 / UFRJ) 2004/05
Lotação na ANP: SPP
Aroldo Almeida Carneiro
Bolsa de Graduação
(PRH-31/ UFC) 2000/00
Lotação na ANP: CSO
Bruna Rocha Rodrigues
Bolsa de Graduação
(PRH-34 / UFSC) 2003/2005
Lotação na ANP: SRP
Edson Marcello Peçanha Montez
Bolsa de Doutorado
(PRH-21 / UFRJ) 2000
Lotação na ANP: CMA
Eduardo da Silva Torres
Bolsas de Mestrado e Doutorado
(PRH-13 / UFRJ) 1999/2002
Lotação na ANP: SBQ
Felipe Rachid Rodrigues
Bolsa de Graduação
(PRH-21/ UFRJ) 2000/00
Lotação na ANP: SFI
Guilherme de Biasi Cordeiro
Bolsa de Graduação
(PRH-21 / UFRJ) 2004/05
Lotação na ANP: SCM
os conhecimentos técnicos proporcionados pelo
programa nas universidades brasileiras, passaram
por concursos públicos e hoje integram o quadro de
profissionais da agência reguladora.
Gustavo Ribeiro de Menezes
Bolsa de Graduação
(PRH-19/ USP) 2000/00
Lotação na ANP: NFP
Gustavo Santana Barbosa
Bolsa de Mestrado
(PRH-XX / UERJ) 1999/2001
Lotação na ANP: SDB
Jacqueline Barboza Mariano
Bolsa de Doutorado
(PRH-21 / UFRJ) 2005/07
Lotação na ANP: SPP
Juliana Ribeiro Vieira
Bolsa de Graduação
(PRH-17 / UERJ) 2000/01
Lotação na ANP: SDB
Luciana Tavares de Almeida
Bolsa de Mestrado e Doutorado
(PRH-01 / UFRJ) 2002/06
Lotação na ANP: CTC
Marina Abelha Ferreira
Bolsa de Mestrado
(PRH-18 / UFRJ) 2008
Lotação na ANP: SDB
Mario Jorge Figueira Confort
Bolsa de Mestrado
(PRH-13/ UFRJ) 2000/00
Lotação na ANP: SCM
Noele Ferreira Carvalho
Bolsa de Graduação
(PRH-15 / Unicamp) 2002/04
Lotação na ANP: SPL
Patrícia Mannarino Silva
Bolsa de Mestrado
(PRH-21/ UFRJ) 2000/00
Lotação na ANP: SCM
Raphael Queiroz
Bolsa de Graduação
(PRH-21 / UFRJ) 2003/05
Lotação na ANP: CSO
Renato Lopes Silveira
Bolsa de Pesquisador Visitante
(PRH-18/ UFRJ) 2000/00
Lotação na ANP: SDT
Ricardo Furtado
Bolsa de Doutorado
(PRH-15 / Unicamp) 2000/04
Lotação na ANP: SPL
Roberto Gonçalves de Carvalho
Bolsa de Mestrado
(PRH-08/ UFBA) 2000/00
Lotação na ANP: SRP
Sergio Henrique Sousa Almeida
Bolsa de Pesquisador Visitante
(PRH-20-/ UENF) 2000/00
Lotação na ANP: SDT
Vinícius Jorge de Medeiros
Bolsa de Graduação
(PRH-33/ UERJ) 2000/00
Lotação na ANP: SPL
Revista 10 anos PRH-ANP
Comemorações 10 anos
28
Cerimônia e
exposições celebram
êxito do PRH-ANP
Uma cerimônia no salão
nobre da CPRM (Serviço Geológico do Brasil), com a presença
de 200 pessoas, deu início, em 1º
de julho, às comemorações do
10º aniversário do Programa de
Recursos Humanos da Agência
Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (PRH-ANP).
Foi o momento de homenagear alguns dos que contribuíram
para o êxito do programa, como
Eloy Fernandez y Fernandez,
ex-diretor da Agência e um dos
idealizadores do PRH-ANP. O executivo, que atualmente é diretorgeral da Organização Nacional
da Indústria do Petróleo (Onip),
foi representado no evento pelo
superintendente regional da
organização, Alfredo Renault.
Após receber um troféu de
reconhecimento destinado ao
homenageado, Renault ressaltou o mérito do programa por
conectar mercado, universidade
e estudantes, contribuindo para
reduzir o déficit de formação
de mão de obra do País. Para
Renault, o programa confirma a
importância das agências reguladoras como lugar privilegiado
para o desenvolvimento de
políticas de Estado. Também
foram homenageados, com a
entrega de um certificado de reconhecimento, os 24 ex-bolsistas
do PRH-ANP que atualmente são
servidores da Agência.
Madga Chambriard, diretorageral da ANP em exercício na
ocasião, destacou os avanços do
Arquivo ANP
Mais de 200
pessoas
participaram da
cerimônia dos
10 anos do PRHANP. A
servidora Ana
Cunha (segunda
da esq. para a
dir.), que se dedica
ao programa
desde o início,
recebe o aplauso
do público
Revista 10 anos PRH-ANP
setor petrolífero brasileiro, nos
últimos 10 anos: “Atingimos a
auto-suficiência em petróleo, licitamos áreas que deram origem
à descoberta do pré-sal, fizemos
o Programa de Introdução do
Biodiesel na matriz energética.
Nosso Programa de Monitoramento da Qualidade de Combustíveis permite que hoje o Brasil
tenha um padrão internacional
de qualidade”, enumerou.
A importância da parceria
com a academia nessa caminhada também mereceu destaque
no discurso. “Queremos agradecer a todos os acadêmicos, aos
estudantes, professores visitantes,
coordenadores, toda essa valiosa
colaboração que nós obtivemos.
Mas não quero só agradecer,
quero incentivá-los, que todos
eles continuem contribuindo
com o Brasil! Encerramos 10
primeiros anos e já estamos pensando nos próximos 10”, concluiu.
Também participaram do
evento o coordenador do PRH-5,
Dimas Dias Brito, representando
todos os coordenadores do
programa; o superintendente
de Planejamento e Pesquisa
da ANP, Florival Carvalho; e os
diretores da ANP Victor Martins
e Nelson Narciso Filho.
Fotos Arquivo ANP
29
Da esquerda para a direita, Dimas
Brito (coordenador do PRH-05); Florival
Carvalho (ANP); Victor Martins, Magda
Chambriard e Nelson Narciso (diretores
da ANP); e Alfredo Renault (Onip), na
cerimônia de abertura das comemorações
dos 10 anos do programa
Exposição na UFRN, à esquerda. À direita, painel touch scream para visualização de mapas em 3D, exposto na UFRJ pelo PRH-02
Divulgação nacional reforça programa
Como parte das comemorações dos 10 anos do PRHANP, a Superintendência de Comunicação Institucional
(SCI) da ANP está levando adiante um abrangente conjunto de ações para promover o programa, tanto dentro
de instituições de ensino que já são conveniadas, como
externamente. O objetivo é fazer deste ano um novo marco
institucional do PRH-ANP.
Uma das principais frentes de ação é a realização de
exposições sobre o programa em todas as universidades
que já fazem parte do PRH-ANP. Nesses eventos, entre os
meses de agosto e novembro, são apresentados trabalhos
dos bolsistas da instituição e divulgados resultados atingidos
pelo programa. Também será lançado prêmio PRH-ANP. Os
principais objetivos são reconhecer o mérito dos trabalhos
desenvolvidos e contribuir com a promoção do programa.
A criação de uma marca comemorativa “PRH-ANP 10
anos” e de material promocional – como pins, canetas
e folders – contribuiu para o esforço de divulgação, que
inclui ainda ações de publicidade voltadas para jovens universitários. Na comunicação com esse público, é enfatizada não só a oportunidade de crescimento profissional para
quem é bolsista, mas também o benefício do programa
para toda a sociedade.
O lançamento de um hot site, com informações sobre
trabalhos desenvolvidos e resultados alcançados, reforça
a comunicação com os jovens. O programa também será
divulgado no 5º Congresso Brasileiro de P&D em Petróleo e
Gás, que acontece em Fortaleza entre 18 e 22 de outubro.
Revista 10 anos PRH-ANP
Artigo
30
Luís Eduardo Duque Dutra
“A universidade brasileira, quando comparada com as européias e mesmo com as da América Hispânica, é uma instituição tardia.
Como sabemos, prevaleceu entre nós, ao longo do Império, uma concepção utilitarista do sistema de ensino superior construído
ao redor da idéia de escolas profissionais, desvinculadas entre si e avessas à pesquisa básica. A universidade não raras vezes foi
vista, então, como instituição retrógrada e como sobrevivência medieval que cabia extirpar. Assim, esses 85 anos não representam
tempo suficiente para a superação desses preconceitos arraigados e para o amadurecimento de um espírito universitário
verdadeiramente contemporâneo entre nós.”
Aloísio Teixeira, reitor da UFRJ, Encerramento da Sessão Solene Comemorativa dos 85 anos da UFRJ
Pioneirismo e
responsabilidade
A herança portuguesa
pesa há séculos. A prática
do ensino e da pesquisa, o
desenvolvimento da ciência e
da tecnologia, no Brasil, que o
digam. Os colonizadores não
eram conhecidos por suas
Universidades. Na língua de
Camões, existia apenas uma –
em Coimbra – cuja marca era
o conservadorismo e, assim
mesmo, só com dois cursos:
Teologia e Direito.
O nosso retardo na pesquisa é flagrante ainda no início
do século XIX. Enquanto na
América espanhola, do Norte
ao Sul do Continente, contavam-se quase duas dezenas
de Universidades, enquanto na
América inglesa, de bem menor extensão, contava-se quase
uma dezena de Universidades,
no Brasil não havia sequer uma.
O monopólio dos religiosos sobre o ensino era incontestável
e os jesuítas eram os protagoRevista 10 anos PRH-ANP
nistas nas terras da Coroa. Não
por acaso, aqui, durante os
três primeiros séculos, ensino
superior só se admitia se fosse
sobre Deus: eram cursos de
Teologia.
Assinadas por D. João VI
logo após sua chegada, em
1808 e 1810, duas Cartas Régias
iniciam o curso médico e de
cirurgia e a Academia Real
Militar, ambos no Rio de Janeiro. Este é o marco preliminar,
quando finalmente se inicia o
ensino superior no Brasil, três
séculos após descoberto. O
filho de D. João VI, depois de
proclamar a independência,
não criou nenhuma instituição
de ensino superior. Apenas, em
1828, reconheceu as escolas
de Medicina de Salvador e de
Direito de Olinda. De notável,
durante o século XIX, apenas
as criações em Ouro Preto, em
1839, da Escola de Farmácia
e, algumas décadas depois,
em 1875, da Escola de Minas.
Nada poderia ser mais distante
da liberdade de espírito da
academia grega, da liberdade
de especulação da universidade medieval e da liberdade de
experimentação da universidade moderna. Eram escolas profissionais, de ensino superior.
Nelas, não se fazia ciência.
Muito depois, somente em
7 de setembro de 1920, o presidente Epitácio Pessoa cria a
Universidade do Rio de Janeiro.
É o marco inicial dos estudos
universitários brasileiros, extremamente tardio e ainda débil,
muito pouco comprometido
com a liberdade que requer
a busca artística e científica.
Quando da criação da Universidade do Rio, alguns relatos
críticos à época falavam que foi
apenas para conceder o título
de doutor honoris causa ao Rei
da Bélgica que, então, visitava
o Brasil. Era a última década
Carlos Leandro
31
Luís Eduardo Duque Dutra é chefe de
gabinete da Diretoria Geral da ANP
de Primeira República e o
processo de industrialização e
urbanização mal se iniciava. Faculdades de Direito, Medicina
e Pintura foram criadas desde a
vinda da família real portuguesa, mas, elas respondiam aos
interesses utilitaristas de formar
profissionais para a administração pública, advogados e
engenheiros.
Até a criação da Universi-
dade do Rio de Janeiro e ainda
por longo tempo, a pesquisa
não era — e continuou a não
ser — contemplada, a não ser
de maneira pontual, como o
foi no sanitarismo, com Adolfo
Lutz, Oswaldo Cruz e alguns
poucos mais. Eram exceções,
como o próprio D. Pedro II, um
inventor à frente de seu tempo.
No século passado, apesar
de ser obra da República e ter
sido formal o ato de sua criação,
a Universidade do Rio de
Janeiro refletia a permanente
estreiteza dos objetivos: apenas
reunia as Escolas Politécnica,
de Medicina e a Faculdade de
Direito, estabelecendo relações
administrativas e jurídicas estritamente formais e sob controle
direto do Ministério da Justiça
e posteriormente do Ministério
da Educação e Saúde.
As universidades foram
criadas tardiamente criadas e
feitas, assim, de uma maneira
torta. Nascida em 1939, a Universidade do Brasil foi resultado da fusão da Universidade
do Rio de Janeiro e da Universidade do Distrito Federal. A
UDF fora o primeiro suspiro
de iluminação universitária,
um movimento com consis-
Até a criação da Universidade do Rio de
Janeiro e ainda por longo tempo, a pesquisa
não era e continuou a não ser contemplada;
a não ser de maneira pontual, como o foi no
sanitarismo, com Adolfo Lutz, Oswaldo Cruz e
alguns poucos mais, que eram exceções’
tência e atestado de origem: o
inspirador era Anísio Teixeira e
fora criada por Pereira Passos,
prefeito do Rio de Janeiro, quatro anos antes. A iniciativa foi
efêmera. A liberdade de espírito artístico e científico, que o
ambiente universitário requer,
incomodava o getulismo, que,
ao fundar a Universidade do
Brasil daquele jeito, apenas
juntando pedaços distintos, em
nada contrabalançava o peso
do absolutismo lusitano.
Até o final da década de
1950, foram poucas as iniciativas importantes. Em São Paulo,
logo após a Revolução de 1932,
foi criada aquela que se tornaria
a segunda maior universidade
da América Latina. Em 1934,
inspirada por Julio Mesquita,
do Estadão, nasceu a Escola
de Filosofia, Ciências e Letras,
Revista 10 anos PRH-ANP
32
Em 1934, inspirada por Julio Mesquita,
do Estadão, a criação da Escola de Filosofia,
Ciências e Letras foi a origem da USP, hoje, a
referência brasileira entre as universidades em
quase todos os domínios do conhecimento’
a origem da USP — hoje,
indiscutivelmente, a referência
brasileira entre as universidades
em quase todos os domínios
do conhecimento. Na contramão do que ocorria no exterior,
o ensino superior brasileiro
acentuou sua fragmentação
com o sistema de cátedras,
viu sua pretendida autonomia
administrativa integralmente
tolhida durante a Era Vargas e,
duas décadas depois, com o
regime militar de 1964, conheceu a perseguição política de
cientistas e professores.
Foi um quadro político muito pouco favorável ao apoio à
pesquisa; ao contrário, muito
favorável ao ensino de dogmas
conservadores e totalitários.
Construiu-se uma república
de profissionais muito pouco afeitos à especulação,
à investigação e à reflexão
crítica. A criação do CNPq, em
1951, destoou da tendência,
Revista 10 anos PRH-ANP
como o único passo efetivo
em resposta às necessidades
de financiamento dos estudos
científicos e, particularmente,
ao apoio à pesquisa de base
em Matemática, Física e Química. Não por acaso, foi na esteira
do desenvolvimentismo de JK
que o distanciamento entre a
pesquisa e o ensino superior
foi enfrentado finalmente com
a criação da Universidade de
Brasília, a UnB, inspirada em
Darci Ribeiro e projetada por
Lucio Costa. Contudo, em 1964,
os militares impõem duas décadas de ditadura. Em meio a
alguns suspiros, a simples justaposição de diferentes unidades
de ensino por um comando
central, como observado repetidamente naquele momento
em todos os campi do país,
ainda deixa marcas profundas
na academia brasileira.
•••
Os vícios originais explicam
a insignificância da participação
da universidade nas conquistas
tecnológicas do setor de petróleo e gás no Brasil. A maior
empresa brasileira forma seus
funcionários na Universidade
Petrobras e realiza sua pesquisa
internamente, no Cenpes. A
empresa sempre foi hegemônica no campo da ciência e
tecnologia setorial e demanda
apenas de forma acessória a
colaboração das universidades, o que afinal beneficiou
alguns poucos departamentos
de UFRJ, USP, Unicamp, UFBA
e UFRS. A reforma do quadro
institucional do setor, que culminou com o fim do exercício
do monopólio das atividades
de E & P pela Petrobras e com a
perspectiva de crescimento da
produção nacional, em meados
da última década do século
passado, criou a oportunidade de mudanças. As barreiras
históricas entre o setor e a comunidade de ensino e pesquisa
precisavam ser ultrapassadas
de maneira a inserir a universidade na formação de pessoal e
no desenvolvimento tecnológico do setor.
Em 1999, o PRH-ANP foi
concebido e implementado
dentro daquela nova realidade
setorial e sem desconsiderar os aspectos históricos. O
momento era particularmente
difícil, tanto na universidade,
quanto no setor. O ensino
superior estava em situação
33
falimentar em decorrência de
cortes orçamentários nas universidades, no CNPq, Capes e
outras instituições de fomento.
Desde 1994, não se abriam
concursos para novos docentes. Os salários dos professores
e pesquisadores, os valores
das bolsas de ensino estavam
congelados. Equipamentos
importados, viagens de estudo
ao exterior, intercâmbios com
centros de pesquisa estrangeiros tornaram-se proibitivos
com a desvalorização do real.
No petróleo, o cenário internacional não era diferente.
Em 1999, o barril do petróleo
chegou a US$ 10 dólares, a
indústria norte-americana de
óleo e gás demitira durante
a década mais da metade de
seus funcionários, as grandes
petroleiras mundiais estavam
preocupadas em enxugar os
quadros de pessoal e, aqui no
Brasil, a Petrobras propunha a
seus funcionários um plano de
demissão voluntária.
Por parte da ANP, a visão
estratégica e a aposta no longo
prazo demonstraram-se plenamente justificadas. O programa
aportou recursos financeiros
em um momento crítico da
história da universidade, pagou
bolsas com valores bem superiores aos existentes naquele
momento. Pagou também
taxas de bancadas que permitiram a recuperação física de
salas de aula e laboratórios,
trouxe pesquisadores visitantes, geralmente aposentados e
ex-funcionários da Petrobras,
para as universidades, atraiu o
melhor dos corpos discentes e
docentes existentes.
Vale mencionar ainda que
o PRH teve sua orientação
determinada pela necessidade
de ampliar geograficamente
a capacitação em ensino e
pesquisa, de apoiar a interdisciplinaridade dos estudos e da
formação e de progressivamente reduzir a distância entre a
pesquisa e o ensino. Dentro do
limitado escopo de uma ação
setorial, pretendia-se contribuir
para vencer os vícios originais
da universidade brasileira e
aumentar a participação da academia no desenvolvimento de
ciência e tecnologia aplicadas.
Os anos que se seguiram,
com a elevação do preço do
petróleo e o crescimento da
produção nacional de óleo e
gás e, agora, de biocombustí-
veis, confirmaram o senso de
oportunidade e o pioneirismo
do programa. O PRH foi a
primeira iniciativa a chamar
a universidade para formar e
qualificar nas áreas de óleo,
gás natural, combustíveis e
outros derivados.
Por parte da ANP, a visão estratégica
e a aposta no longo prazo demonstraramse plenamente justificadas. O programa
aportou recursos financeiros em
um momento crítico da história da
universidade brasileira’
Na seqüência, a ANP implantou outros programas em
parceria com as universidades
brasileiras: o monitoramento da
qualidade dos combustíveis, os
planos pesquisa em geologia
e geofísica e a obrigatoriedade
contratual de as empresas de
E&P investirem 1% da participação especial em Pesquisa e
Desenvolvimento (a chamada
cláusula do 1%). Estes projetos
de parceria foram benéficos
para ambos: a ANP ampliou o
alcance de atuação em um país
de dimensões continentais;
Revista 10 anos PRH-ANP
34
Dentro do limitado escopo de uma ação
setorial, pretendia-se contribuir para vencer
os vícios originais da universidade brasileira
e aumentar a participação da academia no
desenvolvimento da C&T aplicada’
as universidades obtiveram
recursos para formar, qualificar
e aprofundar sua especialização
no domínio do petróleo.
Assim, a ANP tem agora a
responsabilidade de satisfazer
as expectativas criadas no meio
acadêmico, não apenas quanto
à continuidade dos progra-
mas acima mencionados, mas
também quanto à ampliação e
diversificação das linhas e dos
objetos de pesquisa.
Primeiro, a auto-suficiência
em óleo e, em seguida, a
descoberta do pré-sal são
conquistas recentes, resultado da abertura do mercado
liderada por uma empresa que
se manteve estatal, após quase
ser privatizada. A descoberta
recente do pré-sal é decisiva,
uma vez que muda o paradigma energético do País. Muito
mais por isso — e menos por
ter liderado o movimento que
resultou no G-20 e ser parte
dos Brics — talvez o século
XXI brasileiro seja aquele em
que se desfaçam finalmente as
amarras das trevas medievais,
que tão longe chegaram. Até
aqui, pelo menos, o petróleo
se apresenta como a melhor
oportunidade de inserir o Brasil
no cenário mundial, por um
lado, com uma nova posição
geopolítica, e, por outro lado,
com uma base científica e
tecnológica que venceu todos
os desafios que o mar lhe
impôs. É claro, espera-se que,
em matéria de ciclos extrativos,
as lições tenham sido suficientemente apreendidas.
Fotos da capa: arquivo ANP e Miriam Fichtner
PRH é 10! é uma publicação da
Agência Nacional do Petróleo, Gás
Natural e Biocombustíveis – ANP.
outubro de 2009
Escritório Central: Av. Rio Branco,
65, 12o ao 22o andar, Centro, Rio de
Janeiro-RJ, Brasil, CEP 20090-004.
Revista 10 anos PRH-ANP
Diretor-Geral: Haroldo Borges Lima.
Diretores: Nelson Narciso Filho, Victor de
Souza Martins, Allan Kardec Duailibe e
Magda Maria de Regina Chambriard.
Supervisão Técnica: Centro de Tecnologia e
Recursos Humanos (CTC) da ANP.
Coordenação Editorial: Superintendência de
Divulgação e Comunicação Institucional (SCI).
Renata Moraes
Ana Carvalhaes
Luís Henrique Ferraz
Exposições sobre PRH e suas
pesquisas foram feitas em 23
universidades do país. No alto
à esquerda, outdoor na Federal
do Pará (UFPA). Acima, bolsista
explica programa para novos
estudantes, no saguão da
Federal da Bahia (UFBA)
A comemoração dos 10 anos
do programa foi momento de
apresentação dos trabalhos dos
bolsistas às suas universidades.
Ao lado, painéis com pôsteres
dos estudantes na Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN)
João Carlos Machado
Aluísio Peixoto
Coordenadores, docentes e
estudantes se confraternizaram
nas aberturas das exposições.
Abaixo, à esquerda, a equipe do
PRH na Unicamp (SP). À direita,
painéis da ANP na Federal do
Espírito Santo (UFES)
Download

Revista PRH-ANP é 10! - CTC - PUC-Rio