PERSONAGENS: CLEMÊNCIA (a viúva de Alberto, mãe de Mariquinha e Júlia) MARIQUINHA (a filha que ama Felício, mas tem dois outros pretendentes interessados em seu dote) JÚLIA (a irmã de Mariquinha de 10 anos) FELÍCIO (sobrinho de Clemência, apaixonado por Mariquinha. Ele é pobre e vai armar para desmascarar os dois pretendentes de Mariquinha) GAINER (o inglês, arquiteta atos mirabolantes) NEGREIRO (negociante de negros novos, os chamados Meiacara – O escravo que, depois de proibido o tráfico, era importado por contrabando, sem se pagarem os direitos aduaneiros, de meia-cara.) Os personagens: Eufrásia, Cecília (a filha de Eufrásia), Juca (irmão de Cecília), João do Amaral (marido de Eufrásia) são personagens que fazem uma visita à casa de Clemência e conversam sobre banalidades (como vestidos). Estes não aparecem em uma edição da obra, a da Garnier) ALBERTO (marido de Clemência, que volta depois de 2 anos, pois não estava morto e sim prisioneiro. Ele representa o triunfo do bem, da virtude e da moral) Moços e moças (escravos) e por fim as pessoas que compõem a Folia de Reis. A peça em questão é de ato único e se passa no ano de 1842 no Rio de Janeiro. A INTRIGA E OS PERSONAGENS ALBERTO (marido morto/que retorna) FELÍCIO (primo/pretendente, mas pobre) CLEMÊNCIA( a mãe/viúva/acreditava que NEGREIRO Garnier a pretendia) MARIQUINHA GARNIER (maquinista/pretendente ao dote e a golpes) (traficante de negros/pretendente ao dote) A peça em questão é de ato único e se passa no ano de 1842 no Rio de Janeiro. Felício promove uma intriga entre os dois homens. Diz a Gainer que Negreiro o chamou de velhaco: Cena VII FELÍCIO - Mas veja como os homens são maus. Chamarem ao Senhor, que é o homem mais filantrópico e desinteressado e amicíssimo do Brasil, especulador de dinheiros alheios e outros nomes mais. Mais tarde, Felício fala com Negreiro que Gainer ameaçou entregá-lo ao comandante do brigue Wizart: Cena VII GAINER – Não precisa dize; basta chama velhaca a mim pra eu mata ele. Oh, que patifa de meia-cara! Eu vai dize a commander do brigue Wizart que este patifa é meia-cara; pra segura nos navios dele. Velhaa! Velchaca! Goddam! Eu vai mata ele! Oh! (sai desesperado) Cena XIII FELÍCIO, à parte – Espera, que eu te ensino, grosseirão. (Para Negreiro:) O Sr. Gainer, que há pouco saiu, disse-me que ia ao juiz de paz denunciar os meias-caras que o senhor tem em casa e ao comandante do brigue inglês Wizart os seus navios que espera todos os dias. NEGREIRO – Quê? Denunciar-me, aquele patife? Velhaco-mor! Denunciar-me? Oh, não que eu me importe com a denúncia ao juiz de paz,; com este eu cá me entendo; mas é patifaria, desaforo! A COMÉDIA DE COSTUMES A comédia de costumes caracteriza-se pela criação de tipos e situações de época, com uma sutil sátira social. Proporciona uma análise dos comportamentos humanos e dos costumes num determinado contexto social, tratando freqüentemente de amores ilícitos, da violação de certas normas de conduta, ou de qualquer outro assunto, sempre subordinados a uma atmosfera cômica. A trama desenvolve-se a partir dos códigos sociais existentes, ou da sua ausência, na sociedade retratada. As principais preocupações dos personagens são a vida amorosa, o dinheiro e o desejo de ascensão social. O tom é predominantemente satírico, espirituoso e cômico, oscilando entre o diálogo vivo e cheio de ironia e uma linguagem às vezes conivente com a amoralidade dos costumes. Levando em consideração o tempo de produção das peças de Martins Pena, como também as temáticas trabalhadas, não era de se espantar que a censura agisse contra algumas de suas obras, tal como aconteceu com “Os dous ou O inglês maquinista”, que estreou em 1845, sendo imediatamente censurada pela Câmara dos Deputados, porque "aparece em cena um contrabandista de africanos trazendo um debaixo de um cesto". De forma provocativa Martins Pena não só exibe todo o trâmite da contravenção, que envolvia deputados, desembargadores e ministros, como também transforma em vilões figuras respeitadas na sociedade. A protagonista, com ironia chamada Clemência, interrompe a conversinha social para ir lá dentro chicotear as "negras", a propósito de louças efetivamente quebradas pelo cão. À volta, ruborizada e ajeitando o lenço ao redor do pescoço, comenta que não gostava de "dar pancada". O inglês Gainer, personagem da obra, logo de saída se revela um refinado finório, buscando conseguir do governo imperial privilégios para a realização de empreendimentos mirabolantes: produzir açúcar a partir de ossos e construir uma máquina de beneficiar bovinos. Procura ainda, ao mesmo tempo, obter da família que o recepciona, a mão de Mariquinha, a brasileira virtuosa, ocultando suas verdadeiras intenções a respeito da jovem. É Felício, o rapaz brasileiro bom caráter e de fato sinceramente apaixonado pela moça, que percebe seu intento de, desposando-a, apossar-se do dote da família. Os propósitos nada nobres do estrangeiro, e sua pouca consideração pelos brasileiros, são também expressos de modo direto, por ele próprio. Como quando confessa, no seu português estropiado que acaba por acentuar seu alheamento em relação ao universo brasileiro – e que o torna ridículo aos olhos dos espectadores e leitores –, que “Destes tolas eu quero muito”. OBSERVAÇÕES: A obra de Martins Pena retrata o cotidiano de uma família de classe média alta no final da primeira metade do século XIX e uma de suas características é o uso de uma linguagem coloquial, urbana falada neste período. Há,às vezes, o uso de trocadilhos e procedimentos irônicos que criam o efeito humorístico da comédia de costumes. Apesar da apresentação de uma Folia de Reis, o aspecto religioso não é explorado pelo autor na peça como determinante para a construção da trama. O principal objetivo da obra é criticar os aspectos econômicos, políticos e sociais da elite do Rio de Janeiro. Tráfico de influência, suborno de agentes públicos, tráfico negreiro, casamento por interesse econômico são alguns dos aspectos explorados na peça. O uso do adjetivo “maquinista” pode ser uma referência aos projetos mirabolantes apresentados por Gainer, quanto ao fato de ele “tramar, maquinar” meios para apropriar do dinheiro alheio (público ou privado). Ditados populares, exploração polissêmica de alguns vocábulos, o modo de falar das personagens constituem recursos cômicos na peça. Como também a própria trama da obra que envolve certos enganos e intrigas. Há traços românticos na obra, tal como o final feliz que traz o perdão e o casamento dos amantes, em especial porque se defende o casamento por amor; a presença de costumes burgueses típicos do século XIX e a defesa de uma língua nacional também são traços dessa escola. Entretanto, Martins Pena dá pitadas realistas à obra ao produzir as críticas aos costumes daquele tempo. Na peça note a presença de recursos típicos do gênero dramático: ausência de narrador, presença de rubricas (instruções em itálico ou entre parênteses que orientam o ator sobre cenário, traje e reações expressivas).