CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO MESTRADO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL TÂNIA ALVES DE SOUSA OLIVEIRA O PROCESSO DE AVALIAÇÃO EM ARTES VISUAIS: Perspectivas e inovações direcionadas à formação docente Belo Horizonte 2013 TÂNIA ALVES DE SOUSA OLIVEIRA O PROCESSO DE AVALIAÇÃO EM ARTES VISUAIS: Perspectivas e inovações direcionadas à formação docente Dissertação apresentada ao Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre. Área de concentração: e Desenvolvimento Local. Inovações Sociais Linha de pesquisa: Educação e Desenvolvimento Local. Orientadora: Quaresma Belo Horizonte 2013 Profª. Drª.Adilene Gonçalves O48p Oliveira, Tânia Alves de Sousa O processo de avaliação em artes visuais: perspectivas e inovações direcionadas à formação docente. / Tânia Alves de Sousa Oliveira. – 2013. 195 f.: il. Orientador: Prof.ª Drª. Adilene Gonçalves Quaresma Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário UNA, 2013. Programa de Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local. Bibliografia f. 192-195. 1. Prática de ensino. 2. Educação artística I. Quaresma, Adilene Gonçalves. II. Centro Universitário UNA. III. Título. CDU: 37.015.31:7 Ficha catalográfica desenvolvida pela Biblioteca UNA campus João Pinheiro Dedico esta dissertação aos meus pais Mário Estanislau de Souza e Cacilda Alves de Souza (In memoriam) que ajudaram-me a descobrir as primeiras letras e incentivaram-me nos meus primeiros estudos. Ao meu esposo José Ramos de Oliveira pelo silêncio, pela espera, pelo carinho, compreensão e apoio nas longas noites de estudo e digitação. Aos meus filhos: Prof.Robinson, Dr.Roberson e a esposa Dra.Lúcia Maria, Dra.Rita de Cássia e o esposo Alex por compartilharem o meu sonho de ser mestra. Aos meus netos queridos: Leonardo, Lucas e Guilherme pelo amor, respeito e o doce encanto do sorriso contagiante que inebria a minha alma. Obrigada! AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus pela imensa graça de proteger-me, abençoar-me e permitir que eu chegasse até aqui. Agradeço à professora e doutora Lucília Regina de Souza Machado e à professora e doutora Matilde Meire Miranda Cadete, pessoas adoráveis que me receberam carinhosamente e foram o meu primeiro contato com a UNA. Ao corpo docente do Mestrado em GSEDL do Centro Universitário UNA, por compartilhar saberes e contribuir na construção dos meus conhecimentos: Dra. Lúcia Afonso, Dra.Ediméia, Dra. Eloísa, Dra. Áurea, Dr. Cláudio, Dra. Wânia, Dra. Raquel, Dra. Lucília, Dra. Matilde, Dra. Adilene. Muito obrigada pelas contribuições valiosas! À minha orientadora Professora e Doutora Adilene Gonçalves Quaresma, pelos ensinamentos, orientação competente demonstrada durante esta trajetória e por fazer parte deste momento especial na minha vida. Muito obrigada! Aos funcionários da biblioteca e da secretaria, à Prof. Gilmara Machado, o meu muito obrigada, pela forma carinhosa de atenderem minhas solicitações. Aos colegas de Mestrado pela amizade, companheirismo: Cleudes, Celina, Letícia, Aparecida, Conceição, enfim, todos vocês que estiveram juntos compartilhando os mesmos ideais. Obrigada pelo alegre e feliz convívio! É na medida em que avaliados e avaliadores dialoguem, instituições e sistemas se sintonizem e inteligências múltiplas se complementem que a avaliação irá emergindo propulsora das necessárias transformações educacionais e sociais e de advogada dos direitos humanos. (PENNA FIRME) RESUMO Esta pesquisa discute o processo de avaliação em Artes Visuais no contexto das orientações contidas na Política Educacional no processo ensino-aprendizagem para o Ensino Fundamental e Médio. Toma por referência pesquisa bibliográfica e empírica realizada em três estabelecimentos de Ensino Fundamental e Médio situados na cidade de Belo Horizonte. O quadro teórico compreende as discussões de Fernandes (2009); Freitas et al (2011); Gardner (2010); Gomes (2003); Hernández (2000); Liblik (2005); Luckesi (2009); Penna Firme (2005); Perrenoud (1999); Sant’anna (2010) e outros. A abordagem compreende: o objetivo e estrutura do texto; discute o conceito, as características e funções da avaliação que convergem na perspectiva da política educacional; discute-se os instrumentos de avaliação usados na escola; analisa-se os dados coletados e nas considerações finais são apresentadas algumas questões que requerem um debate aprofundado, tendo em vista avançar na construção de uma metodologia inovadora da avaliação no processo de ensino-aprendizagem, especificamente, aplicáveis às Artes Visuais. Palavras-chave: Avaliação. Ensino-aprendizagem. Educacional. Desenvolvimento Local. Artes Visuais. Inovação ABSTRACT This research discusses the evaluation process in Visual Arts in the context of the guidelines contained in the Educational Policy in the teaching- learning for primary and secondary education. Takes for reference and empirical literature search conducted in three schools of elementary and high school located in the city of Belo Horizonte. The theoretical framework includes discussions of Fernandes (2009 ); Freitas et al (2011); Gardner (2010); Gomes (2003); Hernández ( 2000); Liblik (2005); Luckesi (2009) ; Penna Firme (2005 ); Perrenoud (1999 ); Sant'anna (2010 ) and others. The approach includes: the purpose and structure of the text, discusses the concept, characteristics and functions of evaluation that converge in the perspective of educational policy; discusses the assessment instruments used in school; analyzes the data collected and in the final considerations are some issues that require a detailed discussion in view, move forward in building an innovative methodology of assessment in the teaching-learning process, specifically applicable to the Visual Arts. Keywords : Evaluation . Teaching and learning. Visual Arts . Educational Innovation. Local Development . LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AV – Artes Visuais CBC – Conteúdos Básicos Comuns CEP – Comitê de Ética em Pesquisa CNE – Conselho Nacional de Educação CONEP – Conselho Nacional de Ética em Pesquisa CRV – Centro de Referência Virtual DBAE – Discipline Basic Art Education DCE – Diretrizes Curriculares da Educação ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente ED – Escola de Design EF – Ensino Fundamental EM – Ensino Médio ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio IPASE – Instituto de Previdência e Assistência Social dos Servidores de Estado ISJB - Inspetoria São João Bosco LDB – Lei de Diretrizes e Bases MEC – Ministério da Educação e do Desporto PAAE - Programa de Avaliação da Aprendizagem Escolar PAC – Prova por Área do Conhecimento PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais PIP – Plano de Intervenção Pedagógica PMDI – Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado PPP – Projeto Político Pedagógico PROEB – Programa de Avaliação da Educação Básica UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura SAEB – Sistema de Avaliação do Ensino Básico SEE – Secretaria de Estado da Educação TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UEMG – Universidade do Estado de Minas Gerais SUMÁRIO INTRODUÇÃO 1 BREVE HISTÓRICO SOBRE O ENSINO E A AVALIAÇÃO EM ARTE NO BRASIL E AS CORRENTES PEDAGÓGICAS 1.1 13 21 As fases do ensino e da avaliação em Arte na escola no contexto das correntes pedagógicas 25 1.1.1 Primeira fase: Ensino e avaliação na Escola Tradicional 25 1.1.2 Segunda fase: Ensino e avaliação na Escola Nova 29 1.1.3 Terceira fase: Ensino e avaliação na Escola Tecnicista 30 1.1.4 Quarta fase: Ensino e avaliação na Escola Construtivista/Cognitivista 31 1.1.5 Quinta fase: Ensino e avaliação na Escola Progressista 33 1.2 .Perspectivas do ensino e avaliação em Arte no século XXI 37 2 CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES DA AVALIAÇÃO NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM 43 2.1 Avaliação da Aprendizagem em Artes Visuais 64 3 INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO 88 3.1 Os Instrumentos usados na avaliação em Artes Visuais 92 3.2 O Portfólio na aprendizagem em Arte 99 3. 3 Processos e instrumentos para a avaliação Autêntica 113 3.3.1 Critérios para a avaliação Autêntica 115 3.4 Efeitos aversivos das práticas de avaliação da aprendizagem escolar 119 4 PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA 123 5 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS 129 5.1 O que dizem os documentos 129 5.2 O que dizem as entrevistas 138 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 187 REFERÊNCIAS 192 APÊNDICES APÊNDICE A – CONTRIBUIÇÃO TÉCNICA DA DISSERTAÇÃO APÊNDICE B – ROTEIRO DAS ENTREVISTAS ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ANEXO B – AUTORIZAÇÃO PARA COLETA DE DADOS ANEXO C – TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA USO DE IMAGENS E DEPOIMENTOS ANEXO D – TERMO DE COMPROMISSO DE CUMPRIMENTO DA RESOLUÇÃO 196/96 ANEXO E – PARECER CONSUBSTANCIADO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA 13 INTRODUÇÃO O processo de avaliação do ensino-aprendizagem em Artes Visuais, de um modo geral, configura-se como parte integrante do processo educacional e acompanha as transformações na educação e na escola que decorrem das transformações na sociedade. A avaliação tem sido um assunto de amplo debate e discussão, extremamamente polêmico e contemporâneo. Houve muitas mudanças na educação e também na avaliação como parte desse processo. A avaliação é um tema ainda em construção, principalmente aquela centrada na Arte, em particular. Ao apresentar a necessidade de sanar a insuficiência de conhecimentos no campo da avaliação em Arte por alguns alunos do oitavo período, docentes em formação do curso de Artes Visuais – Licenciatura, alguns egressos e docentes atuantes; a ausência de parâmetros que fundamentam a avaliação, necessária para o ensino, para alunos e para professores; a falta de domínio e competência dos princípios subjacentes na área de Arte; a falta de aprofundamento da discussão sobre avaliação da aprendizagem, verdadeiro nó górdio da educação brasileira, constatase a não preparação dos docentes para a nova realidade e a necessidade de pesquisa vinculada à avaliação. No que se diz sobre a avaliação, enquanto uma atividade teórica e prática, não existe um paradigma amplamente aceito. Existe, isto sim, uma grande variedade de modelos e, entre eles, a respeito de uma melhor maneira de avaliar, pouco se concorda. É necessário transformar o discurso avaliativo em mensagem que faça sentido, tanto para quem a emite quanto para aquele que a recebe. O maior interesse de um processo de avaliação deveria recair no fato de se tornar verdadeiramente informador. A avaliação precisa tornar-se o momento e o meio de uma comunicação social clara e efetiva sobre o processo ensino-aprendizagem, principalmente indicando as dificuldades enfrentadas e as capacidades adquiridas, tanto por parte do professor como do aluno. É necessário que ela sempre forneça ao aluno informações sobre seus erros e dificuldades, bem como o êxito adquirido na 14 aprendizagem, para que ele possa compreender e sentir que lhe são úteis. O professor precisa tentar encontrar uma postura avaliativa e construir caminhos alternativos para proceder avaliações neste sistema escolar pouco aberto a mudanças. O tema desta pesquisa compreende o processo de avaliação em Artes Visuais no Ensino Fundamental e Médio. O problema pode ser assim sintetizado: Como proceder a avaliação em Artes Visuais? Esta questão, além de motivar a proposta de investigação, levantou várias outras questões nucleares que ofereceram possibilidades de orientação nesse estudo acerca da avaliação das atividades nas aulas de Arte, direcionadas à formação docente, a saber: Onde seria o “locus” da avaliação nas ações pedagógicas da escola no que se refere ao cotidiano escolar das aulas de Arte? Como proceder atividades de avaliação do educando em diferentes situações educativas no ensino da Arte, no âmbito do ensino Fundamental e Médio? Como seriam os instrumentos adequados para o professor utilizar no processo de avaliação do educando no ensino de Arte? Como avaliar e o quê avaliar nas atividades de Arte no Ensino Fundamental (EF) e Ensino Médio (EM)? Os futuros professores estão entrosados na compreensão de novas dinâmicas, das novas tecnologias e dos novos desafios, para a construção do processo avaliativo em Arte no âmbito da escola de EF e EM? A avaliação em Arte na escola é um simulacro ou trajetória de aprendizagem para se repensar no cotidiano escolar? De que modo os conhecimentos sobre avaliação em Artes Visuais poderiam favorecer à formação docente maior compreensão e viabilizar formas consequentes de realizar intervenções profissionais no processo avaliativo em situações educacionais que envolvem o ensino/aprendizagem das Artes Visuais no ensino Fundamental e Médio? O problema se relacionou com o contexto educacional do curso de Artes Visuais Licenciatura. Dentro dos processos educacionais o aluno desenvolve espírito crítico e autonomia para viver sua vida na sociedade contribuindo com o desenvolvimento local. 15 O problema explícito neste contexto se ajustou coerentemente à linha de pesquisa Educação e Desenvolvimento Local, pois, a pesquisa em questão, bem como a proposta de intervenção, permitiu rever os processos educacionais no que se refere à avaliação em Arte, bem como repensar esta avaliação no sentido da significação da mesma nas atividades de Arte em consonância com o desenvolvimento do educando tendo em vista sua inserção na escola e na comunidade. A pesquisa teve como objeto o processo de avaliação em Artes Visuais no Ensino Fundamental e Médio. A questão central foi: como se processa a avaliação em Artes Visuais no EF e EM? Considerou-se principalmente a prática, com o propósito de contribuir para a formação docente no que se refere à melhoria da avaliação nessa disciplina. Hernández (2000, p.174) aponta a necessidade de pesquisa vinculada à avaliação. “Esta necessidade”, continua ele, “é mais notória na Arte na educação, onde predominam alguns critérios apreciativos de caráter geral, que muito poucas vezes incidem no processo de aprendizagem” ( e em como está sendo realizado tanto pelo docente como pelo aluno). Ao se construir no espaço limítrofe entre a aprendizagem e a Arte, a avaliação enfrenta simultaneamente problemas de aplicação de critérios e formas. Esta situação a torna tarefa sempre inacabada, ainda em contínua construção, instrumento tecido no diálogo constante entre valores e fazeres. Estas considerações remetem às práticas, experiências, métodos, processos, estratégias, diretrizes, erros, sucessos, etc. que constituem o campo de onde parte a relação avaliação/Arte a serem investigadas. O conceito de avaliação continua restringindo-se sobretudo como processo de medição do êxito do ensino em termos das aquisições observáveis dos estudantes. Até recentemente, a finalidade básica da avaliação era proporcionar uma visão retrospectiva (ou pontual) sobre a aprendizagem do aluno e medir o aprendido antes de passar a séries posteriores ou receber uma qualificação que permitisse um exercício profissional. Hernández (2000, p.148), esclarece que, a partir de uma perspectiva ampla, “entende-se por avaliação um conjunto de ações direcionadas ao 16 recolhimento de uma série de dados sobre uma pessoa, fato, situação ou fenômeno com o fim de emitir um juízo sobre a mesma”. Costuma-se considerar que esse juízo seja expresso em função de alguns critérios prévios, ainda que nem sempre seja necessariamente assim, e tenha como finalidade recolher informação e valorizá-la, para estabelecer uma posterior tomada de decisão. Uma das questões mais controvertidas relacionadas à Arte na educação é a avaliação. Porém, sabe-se que nem tudo pode ser medido, mas tudo pode ser avaliado. Há que se reconhecer a necessidade e validade da avaliação em Arte. Entende-se por Arte a forma do ser humano expressar suas emoções, história e cultura através de alguns valores estéticos como beleza, harmonia, equilíbrio. Ela pode ser representada de várias formas como Teatro, Artes Visuais, Dança, Música, etc. Por sua vez, entende-se como Artes Visuais uma classe de formas de Arte, incluindo pintura, escultura, gravura, desenho, arquitetura, cerâmica, cestaria, entalhe e outras que incidem sobre a criação de obras que são principalmente visuais na natureza, além daquelas que resultaram dos avanços tecnológicos no século XX, como: fotografia, moda, artes gráficas, cinema, televisão, vídeo, holografia1, computação, performance, etc. Uma das crenças em relação aos conhecimentos vinculados às Artes Visuais é a de que não se possa, que não tenha sentido avaliá-los. Portanto, um aspecto que ainda conduz à provocação é o aspecto da avaliação deste ensino. Esta abordagem é direcionada à formação docente. Formar profissionais a partir da organização de situações de aprendizagem é a meta principal dos programas de formação de professores, da educação infantil à universidade. Um professor domina as habilidades do ofício e revela uma “competência prática” no âmbito do ensino, sendo capaz, sozinho e com outros, de definir e ajustar projetos com base nos objetivos e nos princípios de ética propostos, de analisar suas práticas e, através desta análise, de se autoqualificar ao longo de toda a sua carreira. Na graduação, os alunos em formação docente têm a oportunidade de engajar-se em atividades integradas, complexas e desafiadoras. Aqui, a formação consistirá, então, em 1 Holografia é uma técnica de registro de padrões de interferência de luz, que podem gerar ou apresentar imagens em três dimensões. 17 recorrer a mecanismos favoráveis à construção da avaliação especificamente aplicáveis às Artes Visuais. Será uma inovação dentro deste contexto. Entende-se por inovação, o surgimento de nova função produtiva graças à aplicação de conhecimentos e tecnologias antes não empregados. É preciso considerar que a distribuição de conhecimentos permanece profundamente desigual, insuficiente, e que é preciso repensar o processo inovativo em sua amplitude, questionando a experiência do ensino/aprendizagem na avaliação em Artes Visuais. O sucesso vai depender da ação consciente e determinada dos inovadores pela transformação educacional que se propor. Como hipótese para esse trabalho, pensou-se que os conhecimentos sobre avaliação em Artes Visuais podiam favorecer à formação docente maior compreensão e viabilizar formas consequentes de realizar intervenções profissionais no processo avaliativo em situações educacionais que envolvem o ensino/aprendizagem das Artes Visuais no Ensino Fundamental e Médio. Pensou-se ainda, nas possibilidades de introduzir aspectos inovadores na avaliação em diferentes situações educativas do cotidiano escolar das aulas de Arte, no âmbito do ensino Fundamental e Médio, direcionados à formação docente dos estudantes de Licenciatura em Artes Visuais. Como objetivo geral, analisou-se o processo de avaliação do educando em diferentes situações educativas no ensino das Artes Visuais, no âmbito do Ensino Fundamental e Médio. Nesse sentido, ao buscar identificar a pedagogia dessa relação, detectou-se a necessidade de reconstrução do processo de avaliação, como parte de um movimento, onde se imbricam compromisso e desenvolvimento de uma práxis pedagógica comprometida com a inclusão, com a pluralidade cultural, com o respeito às diferenças, com a construção coletiva. Como objetivos específicos: Identificou-se o conceito de avaliação, nas perspectivas e inovações em Artes Visuais no contexto educacional; Analisou-se as dificuldades presentes no Discutiu-se processo de processo de avaliação possibilidades de avaliação em Arte. em incorporação Artes Visuais no Ensino de inovações Básico; educacionais no 18 A investigação deste estudo visou contribuir tanto para a produção de conhecimentos acadêmicos a respeito da temática em questão, quanto para subsidiar as práticas de avaliação de futuros professores de Artes Visuais das Escolas de Ensino Fundamental e Médio, bem como repensar a função da avaliação nesse contexto de exigências de uma pedagogia focada no processo de aprendizagem. Pensou-se também que a partir desses estudos, houvesse possibilidade de elaborar uma proposta de intervenção relativa à construção de uma nova metodologia de avaliação em Artes Visuais, favorecendo a produção de novos conhecimentos e uma prática relevante nos processos educacionais. A educação desempenha um papel essencial no desenvolvimento das pessoas e das sociedades como uma via – certamente, entre outros caminhos, embora mais eficaz – a serviço de um desenvolvimento humano mais harmonioso e autêntico, de modo a contribuir para a diminuição da pobreza, da exclusão social, das incompreensões, das opressões e das guerras. A Arte na educação como expressão pessoal e como cultura é um importante instrumento para a identificação cultural e o desenvolvimento individual. Ela supera o estado de despersonalização, inserindo o indivíduo no lugar ao qual pertence. Dentre as artes, as Artes Visuais, quando têm a imagem como matéria-prima, tornam possível a visualização de quem somos, onde estamos e como sentimos. E completando este pensamento, Barbosa (2011, p. 18) afirma que “Não é só incluir Arte no currículo que o crescimento individual e o comportamento de cidadão como construtor de sua própria nação, acontecem”. É preciso muito mais. “Além de reservar um lugar para a Arte no currículo, é também necessário se preocupar como a Arte é concebida e ensinada. A falta de preparação de pessoal para ensinar Arte é um problema crucial, leva-nos a confundir improvisação com criatividade” (BARBOSA, 2011, p.15). A relevância social dessa investigação possibilita: contribuir com a produção educacional no que diz respeito a Arte no EF e EM; promover inovações educacionais no campo da avaliação em Artes Visuais; melhorar os processos e a efetividade educacionais nesse campo; favorecer a produção de novos 19 conhecimentos; ajudar na melhoria de qualidade das aulas; interagir com tecnologias contemporâneas no ensino da Arte; compartilhar atitudes e valores; valorizar a formação docente. Conforme o contexto acima, o tema proposto possui uma interface direta com os eixos estruturantes do curso de mestrado, em especial a educação, os processos de inovação e o desenvolvimento local. A temática proposta está diretamente ligada à área de concentração escolhida, uma vez que está focada nas inovações da avaliação no ensino das Artes Visuais e oferece uma proposta de intervenção de uma metodologia voltada para a melhoria dos resultados escolares, com possibilidade de concretizar mudanças na avaliação em Artes Visuais, ao garantir a qualidade na execução do trabalho avaliativo, o que pode auxiliar na redução da evasão escolar, na busca por valorizar saberes da prática. O objetivo desse texto é apresentar os resultados da pesquisa sobre o processo de avaliação em Artes Visuais: perspectivas e inovações direcionadas à formação docente em consonância com o desenvolvimento do educando, tendo em vista sua inserção na escola e na comunidade em torno das políticas educacionais e estrutura-se da seguinte forma: A introdução apresenta alguns pressupostos que orientam a discussão da temática, o objetivo e estrutura do texto; a primeira parte apresenta um breve histórico da avaliação no processo ensino-aprendizagem das Artes Visuais; a segunda parte apresenta o conceito, as características e funções da avaliação que convergem na perspectiva da política educacional; na terceira parte discute-se os instrumentos de avaliação a serem utilizados no processo de ensinoaprendizagem em Arte na escola; na quarta parte apresenta-se o desenho metodológico da pesquisa. Dados empíricos são apresentados e analisados na quinta parte, tendo em vista a caracterização das experiências construídas pelos professores, a partir dos depoimentos sobre avaliação, fornecidos pelos gestores e desenvolvidos pelos professores das escolas envolvidas; nas considerações finais retoma-se as páginas já escritas que possibilitam rever algumas questões que requerem um debate aprofundado, tendo em vista, avançar na construção de uma metodologia inovadora da avaliação que tenha o foco no processo de ensino- 20 aprendizagem. Conclui-se que, ao repensar a função da avaliação, haja possibilidade de elaborar uma proposta com mecanismos favoráveis à construção de uma nova metodologia de avaliação especificamente aplicáveis às Artes Visuais e que possa subsidiar e atender aos interesses dos docentes em formação, dos egressos, dos docentes atuantes e principalmente do educando. 21 CAPÍTULO 1 BREVE HISTÓRICO SOBRE O ENSINO E A AVALIAÇÃO EM ARTE NO BRASIL E AS CORRENTES PEDAGÓGICAS A avaliação é parte integrante do processo educacional, acompanha as transformações na educação e na escola que decorrem das transformações na sociedade. Sendo assim, é necessário apresentar um breve histórico da sua evolução, tendo em vista compreender os fatores que determinaram as mudanças conceituais e metodológicas que a envolvem, priorizando a análise da evolução histórica da avaliação em Artes Visuais. Enquanto acontecia o descobrimento do Brasil pelos portugueses, segundo Liblik (2005), a Europa vivia o Renascimento e logo a seguir contemplava o surgimento da nova Arte, o Maneirismo. O Brasil, como toda a América Latina, era rico na diversidade de sua cultura, porém, o colonizador impingia a sua forma de entender o mundo, na negação de quase todas essas manifestações. A Arte era entendida como adorno naquela sociedade rural de latifúndios, Colônia de engenhos e fazendas de gado. As mulheres, como lembra Liblik (2005), além de bordar e fazer cerâmica, praticavam outras atividades como cestaria, tecelagem, tingimento, rendas, abrolhos e os homens, por outro lado, trabalhavam com o couro, a fundição de facas, ferraduras, armas, a marcenaria e a carpintaria, ligados a uma estética própria. Quando se iniciou a colonização, os jesuítas tomaram para si a responsabilidade do Ensino, onde empregaram o Ratio Studiorum2 – Método Escolástico que vigorou por volta de 150 anos, com normas e princípios que regiam os estudos e a formação. Para os descendentes dos colonizadores, que eram mais instruídos, ofereciam o canto orfeônico e a música instrumental. O teatro, empregado para a catequização dos indígenas, surgia como força para influir junto ao senhor de engenho. Nesta época, a educação feminina era enfática nas boas maneiras e prendas domésticas. Em âmbito mundial, as avaliações aconteciam em forma de arguições em exames 2 Plano de Estudos da Companhia de Jesus, redigida por Inácio de Loyola, mas cuja elaboração definitiva data de 1599, após mais de meio século de experiência no campo educacional. 22 orais, sendo que somente “em 1702, em Cambridge, na Inglaterra, foi utilizado, pela primeira vez, o exame escrito” (SOEIRO; AVELINE, 1982, p.16). O europeu trouxe o estilo Barroco, que influenciou mudanças no conteúdo estético nacional e nos níveis de execução de objetos, adornos, obras e arquitetura, principalmente na cantaria3. Era um estilo também denominado Jesuítico ou Joanino. Na fase pombalina, segundo Soeiro e Aveline (1982), entre os anos de 1750 a 1777, o Marquês de Pombal administrou a Colônia por delegação de D.José I, rei de Portugal. Em 1759 os jesuítas foram expulsos e diante desse fato, passou a imperar a escola de leitura e de música em uma Reforma Pedagógica estruturada no Iluminismo e nas ideias de Verney, Locke e Bacon. A instrução baseava-se na civilidade das aparências, elitista e ornamental, reprodutivista com a perpetuação de uma ordem patriarcal e colonial. Em 1808, a família real veio de Portugal para o Brasil, segundo Ribeiro (1981), e várias ações favoreceram o despontar dos modelos europeus em nosso país, como a criação da Imprensa Régia; o 1º jornal – A Gazeta do Rio – 1808; a criação da Biblioteca Pública – 1810; a Primeira Revista – 1812; a criação do Museu Nacional – 1818. Nesse momento já acontecia o ensino do desenho e Manoel Dias de Oliveira introduziu o modelo vivo em suas aulas e o Seminário Episcopal de Olinda incluiu o desenho no currículo. Com a chegada da Missão Francesa, em 1816, efetivou-se o Ensino da Arte Erudita no Brasil. Essa Missão era constituída por um pintor de gênero e de batalhas, um pintor de história, um escultor, um gravador, um compositor seguidos de: mecânico, serralheiro, ferreiro, curtidores, carpinteiros e um secretário ( RIBEIRO, 1981). 3 Cantaria – arte de esculpir a pedra. 23 Segundo Barbosa (2005), naquele mesmo ano criou-se a Escola de Ciências, Artes e Ofícios, que em 1820 passou a ser Academia Real de Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura e em 1826, Escola Imperial das Belas Artes. Desde a chegada dos franceses, o objetivo de Lebreton, chefe da Missão, era unir as Belas Artes com a Indústria, o que não ocorreu. Utilizaram um modelo de ensino baseado no classicismo, cujos exercícios formais eram rigorosos, acreditavam no dom e a Arte era determinada como vocação. Segundo Liblik (2005) o estilo Barroco brasileiro, construído pelas mãos dos artesãos, foi deixado de lado e passou a vigorar o Neoclassicismo trazido pelos franceses. Dessa forma, no Brasil Império, a Arte era entendida como Belo Ideal. Até 1855, os métodos com o emprego do desenho figurado e cópias de estampa mantiveram-se iguais. Em 1862, o decreto 2883 torna facultativo o ensino do desenho, da música e da dança. “Aos homens, devia-se ensinar a ler, escrever e contar [...]. Às mulheres, a coser, a lavar, a fazer rendas e todos os misteres femininos” (VILLALTA, 1997, p. 351). Em 1881 a classe de desenho para mulheres foi criada como um meio de torná-las úteis para a sociedade. No ano de 1882, conforme Liblik (2005), surge George Grimm que emprega o desenho ao ar livre na Escola de Belas Artes. Nesse mesmo ano, nasce a preocupação pelo caráter de obrigatoriedade do ensino de Arte em vários países do mundo, como Inglaterra, França, Estados Unidos, Alemanha, Áustria, Suiça, Bélgica, Holanda, Itália que popularizaram o ensino do desenho e adaptaram-no à indústria como objetivo para a prosperidade no trabalho. Rui Barbosa, como intérprete da corrente liberal brasileira, seguiu o ideário positivista e redigiu o pensamento ético político de acordo com as modernas concepções e técnicas pedagógicas da época. Entre os anos de 1882 – 1883, implantou-se uma reforma do ensino. O pensamento era de que o ensino da Arte se 24 constituísse como base sólida para a educação popular, para o desenvolvimento industrial, para a educação técnica e artesanal do povo. Buscavam tais princípios em Walter Smith, nas ideias norte-americanas de que o desenho tinha ação propedêutica para a educação do caráter e da inteligência, bem como no pensamento francês de que o gosto e a habilidade artística desenvolvidos, tornavam o povo capaz de admirar o belo. No Brasil República, Rui Barbosa, principal figura da transição Império-República, entendia “o ensino do desenho como a matéria mais importante do currículo da escola primária e secundária” (GUIMARÃES,1996, p. 88) e acreditava que o desenho, de certo modo, poderia ser considerado como um instrumento para aprender a ver, a descobrir, a conservar, a recordar, a reproduzir, a criar, e em síntese seria utilizado para instruir, para educar o povo. De acordo com Liblik (2005), ao analisar as atividades de ensino, percebe-se o valor do desenho na sua funcionalidade e necessidade, principalmente quando é citado para o uso em diferentes profissões. Desta forma, o desenho não terá a finalidade de produzir mimo ou beleza, mas sim de contribuir no enriquecimento do país a partir do desenvolvimento industrial, da educação técnica e artesanal de seu povo. O uso do desenho no currículo primário e secundário é citado como concepção pedagógica. Na perspectiva de generalização do ensino do desenho, André Rebouças em 1878, com base na instrução pública da França, propõe a obrigatoriedade do seu ensino, porém, são as ideias de Walter Smith que perduram, adentrando ao novo século. Entre os anos de 1882 a 1959, utilizam-se o Manual de Geometria Popular, de autoria de Abílio César Pereira Borges, nas escolas primárias do país, como cópia dos métodos de Walter Smith. O mestre faz uma demonstração no quadro de como desenhar, enquanto os alunos observam e depois tentam repetir. Rui Barbosa, André Rebouças e outros dão ênfase ao efeito moral da Arte. No que concerne ao ensino, a Arte é entendida como desenho. “[...] A educação do caráter e da inteligência, iria ser o objetivo principal dos positivistas [...]” (BARBOSA, 2001, p. 41). 25 Em 1889 é Proclamada a República. A preocupação com a Identidade Nacional se faz presente – o que é o Brasil? Quem são os brasileiros? Neste contexto entendese a Arte como Acessório. Nas sementes da industrialização, vislumbra-se o início do tecnicismo (LIBLIK, 2005). Em seguida, as ideias de Fröbel com desenhos de figuras geométricas, traçado à mão livre, estilização das formas, desenho do objeto em partes e no todo, composição com elementos, desenho com tempo determinado e como apoio a outras disciplinas, como por exemplo, o desenho de mapas na Geografia influenciam a escola. Esta visão funcionalista da Arte a serviço de outras áreas do conhecimento vigora, em muitas instituições, até os dias de hoje. 1.1 As fases do ensino e da avaliação em Arte na escola no contexto das correntes pedagógicas As fases ou tendências pedagógicas no ensino da Arte associam-se à história dos movimentos artísticos, ou seja, às teorias estéticas. Dessa forma a pedagogia renovada corresponde à modernidade e aos paradigmas da arte moderna e a pósmodernidade corresponde às propostas atuais de ensino. O professor tem papel importante na experiência e prática pedagógica. Os métodos dessa prática situam-se para além dos tradicionais e novos, superando por incorporação, as contribuições de uns e de outros. Não se deve excluir as orientações da escola tradicional nem da escola renovada. Algo se conserva, se rompe e se transforma. Não há como avançar partindo do nada. Nessa perspectiva, busca-se conhecer as fases que contribuiram para o desenvolvimento da avaliação através da história. 1.1.1 Primeira fase: Ensino e Avaliação na Escola Tradicional A Escola Tradicional (conservadora) refletia a luz pedagógica de um modelo cuidadosamente estruturado e que se perdeu com o passar do tempo. Trata-se do Ratio Studiorum cuja aplicação nas salas de aula consolidou apenas parte do que foi 26 organizado nesse método escolástico. Pressupõe-se que esse método tem suas raízes na pedagogia jesuítica e permaneceu por longo tempo. As escolas públicas, religiosas, entendidas em sentido amplo como escolas católicas, em sua maioria, sedimentaram os seus procederes neste modelo jesuítico, mas sem os cuidados com a formação dos profissionais da educação, cerne deste método. De acordo com Liblik (2005), a predominância da Escola Tradicional até 1930, como tendência pedagógica, teve como repercussão a valorização da transmissão do conhecimento. A representação era calcada na forma acadêmica e em exercícios de cópia de modelos. O processo de ensino era centrado no conhecimento, na memorização, na repetição e na figura do professor, que adotava atitude autoritária na avaliação e de acordo com o desenvolvimento intelectual do aluno, por vezes, impingia castigos corporais. Os instrumentos avaliativos mais empregados eram a prova escrita e arguição oral e, os resultados apresentados em notas, boletins, quadros de honra; as notas de excelência contempladas por prêmios, cadernos de ouro e outros. O medo que os alunos tinham dos mestres e da avaliação eram constantes. A sociedade conservadora reforçava a estrutura escolar comprometida com a formação da elite, desde o Brasil Colônia. Nos boletins, segundo Liblik (2005), a escola supervalorizava atitudes, tais como comportamento, aplicação e ordem; deixava em segundo plano os conteúdos disciplinares. Os alunos recebiam estrelas conforme a nota. A avaliação era tarefa exclusiva do professor, que muitas vezes usava-a como forma punitiva, através de instrumentos diversos, para demonstrar autoridade. O aluno que não cumpria as normas era castigado, por exemplo, não participando das aulas de Arte, entendidas como lazer. O risco do julgamento neste caso era de excessiva subjetividade. Vários modelos avaliativos surgiram de acordo com cada instituição. Franz Cizek, educador vienense, apontado e considerado o Pai da Arte infantil, organizou aulas onde as crianças tinham liberdade para criar. Seu entendimento era “Nada ensinar, nada aprender! Deixar crescer as próprias raízes” (WILSON, 1990, p. 56). Desta forma apregoava a descolarização, a não interferência no trabalho das crianças e a autonomia na escolha de materiais e temas. Sua visão em relação ao trabalho da criança era a de que não deveria receber nenhum tipo de influência e 27 desta forma só era indicado aos adolescentes visitar exposições de Arte. Cizek e Richardson são os precursores da livre-expressão que foi disseminada posteriormente. Em 1919, Walter Gropius criou a Bauhaus, na Alemanha, com o objetivo de unir Arte e Indústria, um dos espaços mais importantes de pesquisa e discussão sobre Arte e técnica no século XX. “As ideias da Escola foram disseminadas na Europa e posteriormente em outros continentes” (LIBLIK, 2005, p.25). A Semana de Arte Moderna em 1922 foi um marco importante para o ensino de Arte no Brasil, início de grande revolução metodológica. Neste momento, artistas plasmam a sociedade sonhada na busca para colocar o país em sintonia com o desenvolvimento tecnológico e cultural, prioritariamente europeu. Anita Malfatti, segundo Liblik (2005), foi uma personalidade importante para o ensino da Arte nesse período. Ela orientava classes para crianças e jovens em São Paulo. Através de seus ensinamentos, a Arte passou a ser entendida como expressão, com ênfase na livre-expressão cujos principais aspectos eram a educação através da Arte, permitindo a autoexpressão e o individualismo. O desenvolvimento da criatividade e sensibilidade estética, autodeterminação e autoconfiança pela atividade de pesquisa e realização livre, sem imposição ou padrões préestabelecidos aconteceram a partir da prática nas Escolinhas de Arte. O papel do professor era transmitir as técnicas, o conhecimento sobre os materiais e propiciar ambiente para a criação. Herbert Read, segundo Liblik (2005), é outro autor que influenciou e contribuiu para o desenvolvimento do ensino da Arte. Seu pensamento repercutiu na Arte como base de toda a educação. Em 1941 ele conduziu, numa exposição no Rio de Janeiro, os trabalhos de Arte de crianças inglesas. Os principais educadores e autores que divulgaram esse tempo foram Franz Cizek, Herbert Read, Viktor Lowenfeld, John Dewey, Artus Perelet, Augusto Rodrigues, Lúcia Alencastro, Margaret Spencer, Lois Willan e João Francisco Duarte Júnior. Esses pensamentos foram compartilhados na América Latina, na África e no Egito. 28 Apesar das teorias propagadas, predominou o laisser faire e a prática do desenho livre caiu no senso comum como espontaneismo (LIBLIK, 2005). Independente das críticas tecidas ao laisser faire que predominou nesse momento, no período compreendido entre os anos de 1927 a 1935 a “Arte era considerada tão importante quanto às outras disciplinas” (BARBOSA, 2011, p. 56 ), sendo frequentes as matérias em jornais e periódicos, fato que deve ser considerado pelos educadores. Fruto do desconhecimento sobre a importância do ensino da Arte, bem como a insuficiência de conhecimento específico da linguagem a ser trabalhada, surgiu em 1947, segundo Liblik (2005), um entendimento de que o professor não precisaria saber Arte para atuar e, qualquer pessoa estaria apta a sugerir ideias na prática do fazer artístico. No que diz respeito à expressão, pensava-se que a Arte era uma atividade que se resolvia por si só e que bastava apenas papel e lápis para qualquer pessoa se expressar, como se essa atividade não necessitasse de encaminhamento algum. A avaliação efetuada pelo professor em relação ao gosto seria pessoal e em relação à proximidade da expressão teria um caráter realista. Nessa época a atividade de Arte era entendida apenas como forma de lazer, de preencher o tempo. Em 08 de julho de 1948, esclarece Liblik (2005), processou-se no corredor da Biblioteca Castro Alves, no prédio do Instituto de Previdência e Assistência Social dos Servidores de Estado - IPASE, no Rio de Janeiro, a criação da Escolinha de Arte do Brasil por Augusto Rodrigues – pernambucano, artista plástico, desenhista, pintor, gravador, chargista, ilustrador, ensaísta, poeta, educador e boêmio. Sabe-se que, os desdobramentos e contribuições desse momento para o ensino de Arte no país refletiram a valorização da produção infantil. Mais tarde, em 1961 houve a criação de Cursos Intensivos de Arte para professores, o que colaborou para a formação na área e o surgimento de Escolinhas de Arte em diferentes regiões do país. 29 1.1.2 Segunda fase: Ensino e Avaliação na Escola Nova A tendência pedagógica Escolanovista vigorou no país entre os anos de 1930 a 1970, com o objetivo maior de ajustar a pessoa ao meio. A escola era para todos. O ser humano era visto numa perspectiva existencialista. A repercussão era de que o professor passava a ser o facilitador e o orientador da aprendizagem, e o aluno, o centro do processo ensino-aprendizagem. Muitos experimentos foram realizados e empregados no ensino de Arte como jogos, dinâmicas de grupo e vivências criativas. Entendia-se que o ensino da Arte não era necessariamente para se relacionar à formação do artista, mas para desenvolver a capacidade criadora, a expressão, os aspectos afetivos e a espontaneidade do sujeito. Segundo Liblik (2005), utilizaram-se da autoavaliação para que o aluno tivesse vez e voz naquele ambiente. Uma postura democrática surgiu como tentativa para avaliar o aluno como um todo, com interesses e necessidades distintas. Iniciava-se o entendimento do aluno de que a avaliação era um elemento importante para o seu crescimento. O professor, por sua vez, observava, anotava, acompanhava as transformações e as experiências vividas e valorizava a qualidade e a autopercepção dos conhecimentos absorvidos. Empregavam conceitos como excelente, ótimo, muito bom, regular e fraco para descrever o desempenho dos alunos. Diante da falta de critérios fidedignos, a transposição das notas para conceitos criou uma insegurança que abriu uma grande margem na descrição subjetiva desses conceitos. De acordo com Liblik ( 2005), os principais autores da Escola Nova são Carl Rogers, O’Neill, Artus Perelet, John Dewey, Franz Cizek, Viktor Lowenfeld, Herbert Read, Augusto Rodrigues, Lúcia Alencastro, Margaret Spencer e Lois Willan. O trabalho com crianças excepcionais desenvolvido pela psiquiatra Helena Antipoff e as novas ideias sobre comunicação trazidas pelo Teatro de bonecos do argentino Javier Villafañe também foram influências fortes no Brasil. 30 Nesta época a avaliação era através de uma análise conjunta dos resultados, ou seja, o professor discutia os trabalhos e os avanços junto com os alunos a partir de critérios baseados na teoria de apoio e na observação. Estes entendimentos fazem pensar a Arte como área a serviço do pensamento científico e tecnológico. 1.1.3 Terceira fase: Ensino e Avaliação na Escola Tecnicista Segundo Liblik (2005), entre os anos de 1930 e 1950 e grande parte da década de 1970 nos Estados Unidos estabeleceu-se a valorização da medida, cuja preocupação maior estava nos objetivos da aprendizagem. Determinar os objetivos e verificar a aprendizagem a partir de testes, medidas, programas, materiais de ensino e outros instrumentos, tornava-se necessário. Observava-se e descrevia-se a mudança de comportamento do aluno. Ralph Tyler – com seus textos sobre currículo – e Benjamim Bloom podem ser considerados pais da avaliação educacional. Segundo Gomes (2005), é possível constatar a existência de um pensamento norteamericano em relação à avaliação da aprendizagem cuja literatura é veiculada no Brasil, por intermédio de autores diversos. Essas ideias (questionário escrito, gabaritos) se encontram presentes nos escritos de: Mager (1962), Bloom (1971,1972), Popham (1973) e Gagné (1976),e influenciaram os escritos sobre avaliação, produzidos no Brasil. Na França destacam-se os estudos de Pierón e Laugier (1930) - Docimologia4. Em seus estudos, Gomes (2005) vislumbra uma concepção de avaliação, dentro da trajetória teórica do processo, voltada para a dimensão tecnológica da avaliação. Essa concepção com ênfase ao seu caráter cientificista e nos métodos e procedimentos operacionais coloca em destaque a mensuração por meio de testes de habilidades e aptidões dos alunos. 4 Disciplina de base pedagógica e didática para o estudo sistemático e científico de provas escolares, dos métodos de avaliação empregados e dos fatores psicológicos que condicionam o comportamento de examinadores e examinados. O termo foi utilizado pelo psicólogo francês H. Pierón (1881 – 1964). 31 Com a promulgação da Lei 5.692 em 1971, em 1980 a tendência pedagógica vigente foi o Tecnicismo, cuja visão era adaptar o aluno à sociedade como meio para o mercado de trabalho. A autoinstrução na avaliação de objetivos instrucionais visava oportunizar retorno sobre a performance, o desempenho do aluno. As fichas de registro, os conselhos de classe, as notas ou conceitos, ou a combinação destes determinavam ou não o avanço do aluno O sistema de avaliação estava respaldado na produtividade do aluno. Neste período surgiram inúmeros livros didáticos para ensinar Arte, os quais contribuiram para a valorização das técnicas e seu repasse ( LIBLIK, 2005). Em 1972, Fayga Ostrower, artista plástica, educadora, pesquisadora e escritora realizou um curso de sete meses para vinte e cinco operários da Encadernadora Primor S/A, no Rio de Janeiro. No livro Universos da Arte, editado em 1983, Fayga relata suas experiências vividas que se constituem em rico material para análise avaliativa. Fayga desenvolveu seu trabalho com competência, democratizando os conteúdos de Arte a camadas menos favorecidas que atuavam em um contexto que lidava com a estética e sua aplicabilidade (LIBLIK, 2005). Nesta época a base teórica era a Gestalt – configuração e forma. Como critérios para a avaliação utilizavam-se a limpeza formal, a execução primorosa nos exercícios práticos e o domínio teórico dos elementos da linguagem visual. 1.1.4 Quarta fase: Ensino e Avaliação na Escola Construtivista/Cognitivista Desde os estudos de Jean Piaget – a Epistemologia Genética – houve uma preocupação em discutir como a criança processa a construção do saber. Pressupõe-se que no “construir” e reconstruir o conhecimento, acontece a aprendizagem. Nas Artes Visuais, este é o momento em que o aluno vai entender as diferentes linguagens artísticas no contexto histórico e a possibilidade de se ver participante na construção deste saber (LIBLIK, 2005). Dentro da “construção e reconstrução” do conhecimento, segundo Liblik (2005) estuda-se de forma individual e coletiva, diferentes técnicas para entender a contextualização e a fruição das diferentes modalidades de Arte. 32 O processo avaliativo se faz presente em momentos individuais e outros coletivos; há provas escritas e apresentação de trabalhos a partir de pesquisas realizadas pelos alunos. Importa o processo e importa o “produto” final. Ao final da década de 1990, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, a Arte passa a ser compreendida como Área de Conhecimento com ênfase em sua apreciação e compreensão, retomando seu conteúdo específico. O ensino das Artes Visuais prioriza o uso da imagem e trabalha a leitura e apreciação da obra de Arte (BRASIL, 1998). Nos Estados Unidos é criada a Discipline Basic Art Education – DBAE – com o apoio da Getty Center for Education in the Arts. O DBAE, como passou a ser chamado, se constitui em quatro pilares, quatro disciplinas que tratam do conhecimento em Artes Visuais a partir da Produção artística, História da Arte, Estética e Crítica. Além deste entendimento as Normas Nacionais para o Ensino de Arte, o Design, a ênfase na Arte Ocidental e a preocupação com a avaliação se constituíram em seus principais aspectos. Segundo os estudos de Liblik ( 2005), na década de 1990, esta forma de ensinar Arte nos Estados Unidos, chega no Brasil fortemente com a Abordagem Triangular, adaptação metodológica formulada por Ana Mae Barbosa a partir, prioritariamente, da Discipline Based Art Education - DBAE – com a proposta de acesso ao patrimônio cultural da humanidade, com o trabalho realizado nas Escuelas al Aire Libre no México e da Critical Studies na Inglaterra que compreendiam a Arte como expressão e cultura. Ao inserir questões do fazer, fruir e do contextualizar a Arte, Ana Mae defende a concepção de que um conhecimento construído em Arte, pode ser realmente um conhecimento em si, recusando a utilização das aulas de Arte para fins diversos. Através da Abordagem Triangular, a Arte é legitimada como as outras disciplinas, passível inclusive de ser avaliada, questionada e pesquisada. Ainda na década de 1990, Howard Gardner, psicólogo norte-americano, com base nas ideias que derivaram do Projeto Zero5 de Nelson Goodman (taxionomia6 dos 5 Projeto Zero – grupo de Pesquisa em cognição humana mantido pela Universidade de Harvard. 33 sistemas simbólicos), na teoria da Fisiologia, Antropologia, História Cultural e Pessoal, propõe a Teoria das Inteligências Múltiplas. Ele concebe a inteligência como a capacidade para resolver problemas ou elaborar produtos importantes. Analisa os fatores culturais e como o potencial humano é modelado a partir do conteúdo e do produto da aprendizagem (LIBLIK, 2005). Em 1995, o professor Nilson José Machado, da USP, a partir dos textos de Gardner, percebeu que nas inteligências múltiplas as competências trabalham de certa forma pareadas e que a inteligência pictórica associa-se naturalmente em manifestações artísticas de diversas naturezas. Desta maneira os estudos do professor Machado, naquele momento, abrem o leque de inteligências propostas, favorecendo diretamente o ensino também das Artes Visuais (LIBLIK, 2005). No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394/96 no seu artigo 8 situa a avaliação como instrumento de diagnóstico e prognóstico, configurando-se assim como calibração dialética que de forma pendular estabelece a relação de indissociabilidade entre a dimensão de onde se está para onde se quer ir. Firma-se assim um compromisso maior, segundo Liblik (2005), com a avaliação como parte integrante da organização da educação escolar e como instrumento capaz de diagnosticar e prognosticar. Há a indicação de que os processos avaliativos devem ser consistentes formal e politicamente e que deve ter como eixo norteador a qualidade. 1.1.5 Quinta fase: Ensino e Avaliação na Escola Progressista Como tendência pedagógica vivenciou-se a Pedagogia Progressista, entre os anos de 1980 e 1990. Um ensino competente e crítico surge como uma forma de preparação do aluno objetivando uma prática escolar transformadora. Entende-se o aluno dentro de uma visão histórica com múltiplas influências em sua realidade. Constrói-se esse entendimento sobre o que já foi vivido na escola e a avaliação torna-se uma aliada para a aprendizagem, identificando avanços e dificuldades, superados pela ação do docente. Incentiva-se o aluno a estudar e a criar novos 6 Expressão que se refere à classificação de níveis de pensamento e da ordem de aprendizagem. 34 saberes dentro de uma perspectiva crítica, e na participação efetiva percebe-se que a avaliação como um processo orienta e aperfeiçoa a aprendizagem (LIBLIK, 2005). De acordo com os estudos de Liblik (2005) a Pedagogia Progressista se subdivide em três momentos principais: a) Escola Libertadora Tem como o seu principal mentor e autor Paulo Freire, cujas ideias foram incorporadas em países subdesenvolvidos principalmente na década de 1960 a 1964 e 1975 até os nossos dias. Valorizou-se a experiência do aluno, assim como os conteúdos culturais universais. A prática da avaliação em grupo e a autoavaliação tornaram-se constantes. b) Escola Libertária Da década de 1980 até os dias atuais, esta escola foi influenciada por autores estrangeiros tais como Freinet, Lebret, Vasquez, Arroyo e espalhou-se no Brasil e em países socialistas. Pressupunha-se a auto-gestão, a pedagogia do trabalho e a importância do coletivo para mudar o social. A avaliação tomou caráter informal, neste período. c) Escola Crítico-Social dos Conteúdos O foco era a formação de pessoas críticas ao se apropriarem dos conteúdos trabalhados e do conhecimento para a superação do estágio em que se encontravam. Entende-se que a Arte naquele momento devia ser democratizada. Os instrumentos de avaliação são múltiplos e sempre em articulação com os objetivos, conteúdos, métodos e estratégias. A avaliação segue uma linha transformadora, que busca na formação crítica e competente dos cidadãos, um comprometimento com as mudanças sociais. Percebe-se nesta abordagem que o consenso não tem obrigatoriedade e em todos os sentidos o dissenso é respeitado. O processo avaliativo deve ser construído através da interação e do diálogo. Existe uma convergência pela captação de elementos humanos, políticos, sociais, culturais e éticos. Os saberes e a direção a ser tomada tanto em método quanto em avaliação são discutidos por todos (LIBLIK, 2005). 35 A FIG. 1 mostra que as tendências pedagógicas no histórico da avaliação em Arte que se sucederam, ainda estão presentes em diversos contextos educativos. Sabese que, na atualidade, os professores misturam orientações didáticas e várias concepções de Arte em suas práticas. São dificuldades que reforçam o reconhecimento de que a avaliação em Arte não deve se restringir apenas a uma tendência. Devem ser abordados processos, critérios e resultados que possibilitem chegar a uma nova metodologia que promova a compreensão desta temática conduzindo a uma avaliação que se quer formadora no processo de ensinoaprendizagem dos estudantes de Ensino Fundamental e Médio. A atual tendência em se pensar e planejar a avaliação em Arte é dotá-la de um caráter mais humano, no sentido de considerar o aluno como aprendiz e beneficiário do conhecimento. Entende-se aqui que a dificuldade de estabelecer uma avaliação direcionada às Artes Visuais é decorrente de insuficiência de conhecimento a respeito dessa temática. O presente trabalho se propôs a analisar aspectos conceituais e metodológicos da avaliação em Arte, enquanto produto desta reflexão. 36 FIGURA 1 - ESTRUTURA DAS ABORDAGENS PEDAGÓGICAS Conteúdo Escola Tradicional Acervo cultural, memória, conjunto de informações e padões técnicos. A partir de semelhanças com os modelos apresentados. A partir dos interesses dos alunos, individualidade. Processo criativo, expressão livre. Ateliê livre. Livre expressão, manifestações centradas em interesses e necessidades individuais. Valoriza-se o processo em detrimento do resultado, em âmbito do proceder, do fazer. Aspectos afetivos e psicomotores, originalidade, autoavaliação. Exercícios repetitivos até a perfeição. Perspectiva, Desenho Geométrico. Cores e desenhos livres: recorte e colagens com diversos materiais, argila, massa de modelar, confecções de instrumentos musicais com sucata, expressão corporal com música, improviso. Adorno / Belo ideal Expressão Arte entendida Como ... Observações Avaliação Método Repetição, memorização,incorporação de regras que possibilitam a cópia e a reprodução de um modelo ideal e visão realista. Escola Nova Fonte: LIBLIK, A.M.P., 2005, p.60. Escola Tecnicista Habilidades técnicas e comportamentais e domínio de materiais. Escola Construtivista Acervo cultural e processo de produção e criação. Escola Progressista Acervo cultural local, articulação com práticas sociais. Passos ou etapas pré-determinadas a partir de esquemas ou técnicas. Ênfase nos processos associados aos resultados. Processo de formação via sentidos: valorização de modelos do grupo social mais valorizado. Objetos observáveis e mensuráveis. Cópia de trabalhos. Faixas gregas, cópias de vasos, ampliação e redução de desenhos. Canto de hinos pátrios, complemento de desenhos inacabados; cores de acordo com modelos, elaboração de cartões. Avaliação do processo e do produto final. Inserção no mercado dos “produtos”. Diferentes processos. Pesquisa de técnicas e materiais. Estudo de história da Arte, leitura e releitura de obras de Arte. Função estética da arte – análise de documentos históricos. Artesanato como Arte. Função utilitária e decorativa de certos objetos. Acessório Expressão e produto (design) Conhecimento; expressão e cultura 37 1.2 Perspectivas do Ensino e Avaliação em Arte no século XXI Em pleno início do século XXI, o ensino das Artes Visuais ainda preserva os traços escolanovistas, marcas deixadas pelas influências de John Dewey, pesquisador norte-americano que rompe com a pedagogia clássica, (uma pedagogia preocupada com o desenvolvimento de uma instância transcendente, de cunho espiritual e religioso), ao integrar as faculdades cognitivas ao corpo e às atividades manuais. A pedagogia “progressiva-cientificista” de Dewey, segundo Zordan (2013), pôde tornar possível trabalhar-se com projetos centrados nos interesses dos aprendizes ao invés de seguir os programas curriculares tradicionais. Esse pensamento deu lugar às pesquisas de epistemologia genética de Piaget, na construção do conhecimento. Sob essa ótica, a aprendizagem se dá nas relações entre os sujeitos que aprendem e os objetos de conhecimento com os quais interagem. Esse tipo de perspectiva possibilitou uma série de pesquisas sobre sensibilidade cognitiva inerente ao saber artístico (ZORDAN, 2013, p. 3). Autores como Parsons, Gardner, entre outros, apontam quão importante são as relações entre o cognitivo individual e o domínio social internalizado pelo sujeito. E essas perspectivas, com o desenvolvimento da aprendizagem, interagem com as produções artísticas presentes em cada contexto cultural. Sabe-se que todas as tendências têm um propósito regido por um entendimento político de um contexto e de um tempo histórico. Hoje, as aulas de Arte apresentam influências das três pedagogias enunciadas – tradicional, escolanovista e tecnicista – em maior ou menor grau. Essas pedagogias, embora descritas separadamente, na prática se imbricam. Segundo Fusari e Ferraz (2001) o conhecimento presente dos principais aspectos pedagógicos, ideológicos e filosóficos cujo ensino e aprendizagem de Arte são marcados, possivelmente auxiliará o professor a entender as raízes de suas ações, além do seu próprio processo de formação. É possível, ao mesmo tempo, que ele considere que ainda existem questões referentes ao papel específico da educação escolar e também das aulas de Arte na transformação das relações sociais e sua melhoria. 38 Quando se exercita o rever a história, percebe-se que foram muitas as influências externas à realidade nacional, impingidas muitas vezes de interesses políticos em relação, não só aos métodos, abordagens e sistema de avaliação, mas em relação ao ensino como um todo. Pode-se observar, segundo a DCE de Arte (2009), que a avaliação em Arte deixa de ser um simples instrumento de mediação da apreensão de conteúdos, indo além, na busca de propiciar aprendizagens socialmente significativas para o aluno. Sendo processual e não há parâmetros comparativos entre os alunos, dificuldades e progresso de cada aluno são discutidos, a partir da própria produção. Nesse contexto, o maior e melhor investimento que se pode fazer é buscar na educação a construção do conhecimento que está condicionado a uma avaliação eficiente e eficaz da organização. Porém, a educação surge numa dupla encruzilhada: de um lado, o sistema escolar não consegue a universalização da educação básica de qualidade; de outro, as novas matrizes teóricas não possuem consistência global necessária para mostrar caminhos mais seguros dentro de transformações aceleradas que estão acontecendo no processo educativo (GADOTTI, 2000). Qualquer caminho que a educação contemporânea seguir, analisa Gadotti (2000), uma educação voltada para o futuro será sempre contestadora, uma educação com olhos voltados para a transformação social mais do que para a transmissão cultural. Há possibilidade de que a pedagogia da práxis, ofereça muito mais segurança do que a pedagogia centrada na transmissão cultural, neste instante que prefigura o novo milênio, pleno de possibilidades. Espera-se que, nos próximos anos, a educação torne-se mais democrática, menos excludente. Na sociedade da informação, segundo Gadotti (2000), a escola deve servir de orientação para o conhecimento, superando a visão na oferta de informações “úteis” para a competitividade, para obter resultados. Deve oferecer uma educação plena na direção de um futuro promissor, onde as crianças e jovens devem ser orientados criticamente em direção a uma informação que os façam 39 desenvolver seus conhecimentos e não deixar-se ficar sem instrução (GADOTTI, 2000). Como diz Dowbor (1998, p. 259), a escola deixará de ser “lecionadora” para ser “gestora do conhecimento”. Segundo o autor, “pela primeira vez a educação tem a possibilidade de ser determinante sobre o desenvolvimento”. A educação está numa fase voltada para o desenvolvimento, mas não basta “modernizá-la”, como querem alguns. É preciso transformá-la profundamente na sua capacidade de inovação, de sistematização da sua prática e experiência, para se chegar a um produto palpável, concreto e eficiente. Nesse contexto: O aprender a aprender propagou-se como a concepção de atendimento mais adequada para as demandas educacionais e, assim, pesquisadores, gestores e documentos normativos – como o 7 8 relatório da UNESCO (Delors, 1988), e os PCNs (Brasil, 1997) fazem apologia a esse “novo” paradigma educacional. Contudo, o aprender a aprender é o resgate do pragmatismo de Dewey,[...] é uma extensão das teorias de Taylor, Fayol e Mayo que traçam um percurso inverso ao princípio educativo dialético.[...] É a conversão dos meios em fins, a negação do diálogo e o fortalecimento da vontade de poder (OLIVEIRA et al., 2000, p.75 - 76). Resgatando a posição “freireana” de que a educação é política, pois não existe neutralidade nesse campo, Oliveira et al. (2000) fazem opção pela concepção crítico-dialética, que tem suas raízes no ideário de Marx e em teóricos seus seguidores9, e se ancora em bases, princípios e pressupostos radicalmente diferentes dos que cimentam o aprender a aprender, sintonizada com os ideais que defendem e com a utopia que os move a trabalhar e acreditar que é possível a constituição de uma educação de qualidade para todos. Segundo Romão (2009), entre educadores brasileiros tem-se encontrado essas duas concepções de avaliação com mais frequência, derivadas de concepções antagônicas de educação que, ao penetrarem nos umbrais escolares, acabam por 7 UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Tecnologia. PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais. 9 Gramsci, Makarenko e Snyders. 8 40 provocar dissonâncias entre as convicções proclamadas e as práticas levadas a efeito no cotidiano das relações pedagógicas. Assim comenta: Se encaramos a vida como algo dado, tendemos para uma epistemologia positivista e, consequentemente, para um sistema educacional perseguidor de “verdades absolutas” e “padronizadas”. Se, pelo contrário, encaramos a vida como processo, tendemos para uma teoria dialética do conhecimento e, por isso mesmo, engendradora de uma concepção educacional preocupada com a criação e a transformação (ROMÃO, 2009, p. 58). Essa pesquisa referencia-se na teoria dialética, entendendo a vida como processo que compreende contradições às quais a prática educativa precisa evidenciar para ação consciente na realidade. Sendo assim, o ensino e a avaliação em Arte, também devem se configurar como processos na construção de seres humanos livres, criativos, críticos, emancipados e capazes de promover a transformação social. A transformação do processo avaliativo nas escolas de Ensino Fundamental e Médio torna-se urgente na medida em que se testemunha o fracasso escolar, a reprovação, a exclusão, enfim uma série de resultados que não mais deviam fazer parte do cenário educacional. Não cabem também nesse contexto, aprovações que minimizam e mascaram o sentido de uma avaliação verdadeira. Não se pode generalizar ou aplaudir exceções e sim pensar, refletir no como é essencial buscar novas formas para um emprego consciente de avaliação no processo de ensinoaprendizagem que se quer significativo. Gadotti (2000) afirma que: A escola precisa dar o exemplo de ousar construir o futuro. Inovar é mais importante do que reproduzir com qualidade o que existe. A matéria-prima da escola é sua visão do futuro. A escola está desafiada a mudar a lógica da construção do conhecimento.[...] As categorias “contradição”, “determinação”, “reprodução”, “mudança”, “trabalho”, “práxis”, “necessidade”, “possibilidade” aparecem freqüentemente na literatura pedagógica contemporânea, sinalizando já uma perspectiva da educação, a perspectiva da pedagogia da práxis. Essas categorias tornaram-se clássicas na explicação do fenômeno da educação, principalmente a partir de Hegel e de Marx. A dialética constitui-se, até hoje, no paradigma mais consistente para analisar o fenômeno da educação. Pode-se e deve-se estudá-la e estudar todas as categorias anteriormente apontadas. Elas não 41 podem ser negadas, pois ajudarão muito na leitura do mundo da educação atual (GADOTTI, 2000, p.9-10). O pensamento de Gadotti (2000) vai de encontro ao de Penna Firme (1994, p.6): “O momento é mais para inovar em avaliação do que reproduzir tradicionais modelos [...]”. É nessa perspectiva que se faz necessário, entre os estudiosos e interessados da avaliação, o exercício pleno da capacidade crítica, porque tendências, que são avanços, e tendenciosidades, que são retrocessos, convivem na teoria e, sobretudo na prática. Distinguir umas e outras é imprescindível. Penna Firme (2005) lembra que a tentativa persistente de estudiosos, impregnada de experiências bem ou mal sucedidas na prática da avaliação vem atravessando, a partir do início do século XX, quatro gerações, numa evolução centenária, essencialmente conceitual. A primeira, associada à mensuração, não distinguia avaliação e medida. A segunda geração surgiu em busca de melhor entendimento do objeto avaliação. A terceira geração trouxe a preocupação com o mérito e a relevância, características essenciais do juízo de valor e a quarta geração surgiu com uma conceituação cuja característica principal foi a negociação, um processo interativo que se fundamentou num paradigma construtivista. Segundo Penna Firme (2005), critérios foram gerados: A preocupação dos estudiosos da área em definir padrões de excelência para a avaliação gerou um substancial conjunto de critérios agrupados em quatro categorias, encabeçadas pela dimensão utilidade, o que significa que uma avaliação não deverá jamais ser realizada se não o for para ser útil. Segue-se a dimensão viabilidade, segundo a qual ela terá que, além de útil, ser conduzida considerando aspectos políticos, práticos e de custo-efetividade. Em sintonia com tais características, e não menos importante é a ética com que deve ser realizada, no respeito aos valores dos interessados, incluindo grupos e culturas. E, finalmente, será importante considerar a característica precisão, no que tange as dimensões técnicas do processo (PENNA FIRME, 2005, p.1). Cada avaliação deve revestir-se de características próprias, segundo Penna Firme (2005, p.1), ”em sintonia com o contexto social, político, cultural e educacional onde se realiza e de forma tal que o avaliador é essencialmente um historiador, que descreve, registra, interpreta a história singular de cada cenário”. 42 Para Hoffman (2002), no âmbito da educação brasileira, as questões debatidas em avaliação, os preceitos expressos nos documentos legais, e as novas experiências desenvolvidas em várias regiões do país, expressam igualmente essas tendências universais. Estudiosos contemporâneos Arroyo (1986), Demo (2002), Luckesi (2009), Macedo (1994), Hadji (2001), Nóvoa (1995), Perrenoud (1999), Vasconcellos (2001), Penna Firme (2005), Zabala (2010), Barbosa (2011), Hernández (2000) apontam, em uníssono, a preocupação em superar o viés positivista e classificatório das práticas avaliativas escolares, retomando-as em seu sentido ético, de juízo consciente de valor, de respeito às diferenças, de compromisso com a aprendizagem para todos e a formação da cidadania. Os estudos em avaliação deixam para trás o caminho das verdades absolutas, dos critérios objetivos, das medidas padronizadas e das estatísticas, para alertar sobre o sentido essencial dos atos avaliativos de interpretação de valor sobre o objeto da avaliação, de um agir consciente e reflexivo frente às situações avaliadas e do exercício do diálogo entre os envolvidos. Os estudos contemporâneos em relação à avaliação da aprendizagem apontam novos rumos teóricos, tendo como diferencial básico a capacidade interativa do avaliador no processo. À medida em que os estudos apontam para o caráter interativo e intersubjetivo da avaliação, alertam também para a essencialidade do diálogo entre todos os que fazem parte desse processo, para a importância das relações interpessoais e dos projetos coletivos (HOFFMAN, 2002). Fundamenta-se esse princípio da avaliação na visão dialética do conhecimento, que implica o princípio de historicidade: - o conhecimento humano visa sempre o futuro, a evolução, a superação – uma ação que se projeta no futuro. Nesses estudos, percebe-se, no entanto, que as concepções pedagógicas não são lineares e é possível identificar a presença da pedagogia tradicional, a construtivista e a crítico-dialética, manifestando-se em correntes distintas ou imbricadas, justapostas, no contexto do processo ensino-aprendizagem da avaliação em Artes Visuais. 43 CAPÍTULO 2 CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES DA AVALIAÇÃO NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM Avaliar é indispensável em toda atividade humana e, portanto, em qualquer proposta de educação. Assim sendo, Freitas et al. (2011) postulam a existência de três níveis de avaliação integrados, simultaneamente, ao articularem: a avaliação realizada em sala de aula (aprendizagem), com a avaliação interna à escola e sob seu controle (institucional) e a avaliação de responsabilidade do poder público (sistemas). Acredita-se que a articulação, entre esses níveis citados, repercute nos processos de planejamento e participação docente no projeto da escola, bem como melhora a aprendizagem do estudante indiretamente. Igualmente, Fernandes (2009, p. 21) considera que “a avaliação pode melhorar a qualidade das aprendizagens e, em conseqüência, a qualidade do sistema educacional globalmente considerado”. O autor discute a avaliação como um elemento essencial de desenvolvimento dos sistemas, porque é muitas vezes a partir e por meio dela que as escolas podem empobrecer ou enriquecer o currículo. Dentro dessa concepção observa-se que: Os professores podem organizar o ensino com maior ou menor ênfase na experimentação ou na resolução de problemas; os alunos podem estudar com maior ou menor orientação; os pais e os encarregados de educação podem acompanhar a vida escolar de seus filhos ou educandos com maior ou menor interesse; a sociedade em geral pode estar mais ou menos informada acerca do que os jovens estão aprendendo e como estão aprendendo; os governos podem, ou não, estabelecer mais fundamentada e adequadamente as políticas educativas formativas (FERNANDES, 2009, p.21). Portanto, governos, políticos, escolas, gestores, professores, pais e alunos, estão todos interessados na avaliação, utilizam-na de diversas formas, seja para monitorar a qualidade da educação, seja para planejar ou melhorar seus projetos e programas, seja para monitorar o progresso dos alunos, ou ainda ajuizar-se acerca do trabalho realizado pela escola. 44 Os conceitos, características e funções da avaliação aqui apresentados têm como ponto de partida a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e as contribuições teóricas de vários autores, priorizando ao final, a avaliação do processo de ensino-aprendizagem em Arte. Esses autores têm concepções de educação diferentes, mas para a análise sobre Arte, isso vai ser desconsiderado. A avaliação do processo de ensino-aprendizagem, objeto de estudo dessa pesquisa, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) nº 9.394/96 em seu artigo 24, inciso V – diz que a verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios: a) Avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais; b) Possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar; c) Possibilidade de avanço nos cursos e nas séries, mediante verificação do aprendizado [...] (BRASIL, 1996). Da letra “a” entende-se que o aluno não pode ser avaliado num momento isolado do resto do processo, e que a avaliação não é o ponto alto do bimestre. A avaliação só se entende como processo contínuo. Da parte do professor, diz respeito à observação diária, à atenção dirigida ao que o aluno faz, ao que diz, ao modo como reage às diversas situações na sala de aula. Como se comporta ao enfrentar certos conteúdos, em que aspectos demonstra maior ou menor facilidade, quanto cresceu em relação aos comportamentos anteriores, como interage com a turma... e assim por diante (SAVIANI, 2006, p.170). O texto da LDB indica que, além de contínua, a avaliação seja cumulativa. Que os instrumentos e formas de avaliação priorizem uma visão global das matérias estudadas, levando o aluno a utilizar as capacidades que foi adquirindo em outros meses, em outras séries. Que as questões ou situações-problemas sejam abrangentes, interligando os saberes estudados. Sacristán e Pérez Gómez ( 2007) destacam que: O conceito de avaliação contínua é inerente às proposições que querem alcançar uma avaliação integrada normalmente no processo de ensino, com intenção formativa, desenvolvida por procedimentos informais. Em suas origens este conceito surge como alternativa aos exames que abrangem grande quantidade de conteúdos, após longos períodos de aprendizagem. A continuidade implica fracionamento da 45 exigência o que permite facilitar aos alunos a comprovação do que aprendem (SACRISTÁN; PÉREZ GÓMEZ, 2007, p.346). Esse processo aumenta a regulação da aprendizagem e diminui o tempo de ensino do professor. O sistema tradicional de avaliação, nesse sentido, foi substituído por um sistema de informação continuado que para muitos professores se transformou em exames parciais cujas classificações obtidas por acumulação chegam à qualificação definitiva. Portanto, a avaliação se transforma em operação final onde se constata a eficácia dos efeitos de um processo educativo organizado (SACRISTÁN; PÉREZ GÓMEZ, 2007). Ao detalhar e encadear os objetivos pode-se optar por uma avaliação mais frequente, segundo Sacristán e Pérez Gómez (2007), a fim de determinar se existe ou não a progressão prevista. Essa é a lógica da avaliação contínua. O caráter renovador dessa avaliação torna-se significativo como informação constante sobre o progresso do aluno e a orientação do mesmo. A avaliação por ser processo contínuo, visa à correção das possíveis distorções e ao encaminhamento para a consecução dos objetivos previstos. Trata-se da continuidade da aprendizagem dos alunos e não da continuidade de provas. O processo de avaliação se coloca como elemento integrador e motivador, e não como uma situação de terror, ameaça ou pressão. A avaliação não pode ficar atrelada a orientações ultrapassadas, portanto, em consonância com a LDB – Lei nº 9.394/96, a Secretaria de Estado de Educação, no uso de sua competência divulgou a Resolução SEE nº 2.197, em 26 de outubro de 2012, para entrar em vigor a partir do ano letivo de 2013, com orientações sobre a organização e funcionamento do ensino nas Escolas Estaduais de Educação Básica de Minas Gerais. Nela se destaca um direcionamento para a avaliação da aprendizagem através dos artigos 69 a 81, especificamente em seu Título V. De acordo com essa Resolução: A avaliação da aprendizagem dos alunos realizada pelos professores, em conjunto com toda equipe pedagógica da escola, como parte 46 integrante da proposta curricular e da implementação do currículo, redimensionadora da ação pedagógica deve: I. Assumir um caráter processual, formativo e participativo; II. Ser contínua, cumulativa e diagnóstica; III. Utilizar vários instrumentos [...] (SEE, 2012, p. 66). Essa resolução, em seus vários artigos sobre avaliação, traz subsídios para auxiliar o professor em seu processo avaliativo e esclarecer sobre pontos importantes como procedimentos, planos de intervenção pedagógica - PIP, promoção, progressão continuada e parcial, etc. bem como respaldá-lo em várias situações educativas do processo de ensino-aprendizagem. A Educação Básica de qualidade é um direito assegurado pela Constituição Federal e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Nos últimos anos, o Conselho Nacional de Educação (CNE), no cumprimento de sua missão legal de assegurar a participação da sociedade no aperfeiçoamento da educação nacional, realizou uma série de estudos, debates, seminários e audiências públicas que contaram com a participação dos sistemas de ensino, dos órgãos educacionais e sociedade civil. Esse trabalho resultou na atualização das Diretrizes Curriculares Nacionais e na produção de novas e importantes orientações, tendo em vista o atendimento às novas demandas educacionais geradas pelas transformações sociais e econômicas e pela acelerada produção de conhecimentos (BRASIL, 2013). Tendo como propósito a disseminação desses conhecimentos, o CNE, por meio desse documento, coloca à disposição das instituições educativas e dos sistemas de ensino de todo o Brasil um conjunto de Diretrizes Curriculares que articulam os princípios, os critérios e os procedimentos que devem ser observados na organização e com vistas à consecução dos objetivos da Educação Básica (BRASIL, 2013). O CNE espera que esta publicação, lançada em 2013, possa inspirar as instituições educacionais e os sistemas de educação na elaboração de suas políticas de gestão, bem como de seus projetos político-pedagógicos com vistas a garantir o acesso, a permanência e o sucesso dos alunos, resultantes de uma educação de qualidade social que contribua decisivamente para construção de uma sociedade mais justa e mais fraterna (BRASIL, 2013). 47 Nestas diretrizes, do ponto de vista teórico, muitas são as formulações que tratam da avaliação de um modo geral. No nível operacional, a avaliação das aprendizagens tem como referência o conjunto de habilidades, conhecimentos, princípios e valores que os sujeitos do processo educativo projetam para si de modo integrado e articulado com aqueles princípios e valores definidos para a Educação Básica, redimensionados para cada uma de suas etapas. A avaliação em sala de aula tem como contraponto dialético a avaliação institucional. As relações entre esses dois níveis são muito ricas, pois, permitem criar um novo entendimento sobre a publicização da atividade de ensino do professor – a avaliação do professor – sob a liderança do coletivo da escola, fugindo ao entendimento corrente da mera ‘responsabilização’ do professor e da escola por avaliação externa. (FREITAS et al. 2011, p.13) Essas avaliações para Freitas et al., (2011, p.47) seriam mais eficazes se planejadas e conduzidas no nível dos municípios, pelos conselhos municipais de educação, que teriam o papel de “regular os processos de avaliação das redes de educação básica, estruturando uma política de avaliação global para o município”. O resultado é um indicador da “saúde educacional da nação”. A ideia é de que os resultados de uma avaliação em larga escala sejam encaminhados à escola para que, dentro de um processo de avaliação institucional, ela possa usar estes dados, validá-los e encontrar formas de melhoria, inclusive, para a avaliação já realizada pelo professor em sala de aula. Embora a avaliação da aprendizagem em sala de aula seja o lado mais conhecido da avaliação educacional, o foco dessa pesquisa é a avaliação do processo de ensino-aprendizagem em Artes Visuais. A avaliação de um modo geral é um procedimento complexo, é um aspecto pedagógico que provoca polêmicas e tem um papel extremamente importante no processo de ensino-aprendizagem. Representa o nó górdio da educação, isto é, uma grande dificuldade, um problema difícil para ser resolvido. Seu lugar, ocupado na atividade pedagógica, a coloca no topo das atenções de estudantes e 48 educadores. Ela emerge na sala de aula ora como fonte de desenvolvimento, ora como ameaça. A avaliação é um dos suportes de qualquer ambiente acadêmico. A questão da avaliação do processo de ensino-aprendizagem, cujos protagonistas são o professor e os alunos, e cujo “locus” é a sala de aula, implica alguns conceitos para orientar esta caminhada. Nesse sentido, faz-se necessário compreender os conceitos, as características e funções da avaliação do processo ensinoaprendizagem em alguns autores. Sant’Anna (2010), no seu livro “Por que avaliar? Como Avaliar? Critérios e instrumentos”, destaca vários autores e seus conceitos, a saber: A avaliação educativa é um processo complexo, que começa com a formulação de objetivos e requer a elaboração de meios para obter evidência de resultados, interpretação dos resultados para saber em que medida foram os objetivos alcançados e formulação de um juízo de valor (SARABBI, 1971, apud SANT”ANNA, 2010, p. 28). Avaliação em educação significa descrever algo em termos de atributos selecionados e julgar o grau de aceitabilidade do que foi descrito. O algo, que deve ser descrito e julgado, pode ser qualquer aspecto educacional, mas é, tipicamente: a) um programa escolar, b) um procedimento curricular, c) o comportamento de um indivíduo ou de um grupo (THORNDIKE; HAGEN, 1960, apud SANT’ANNA, 2010, p. 29). “É um processo contínuo, sistemático, compreensivo, comparativo, cumulativo, informativo e global, que permite avaliar o conhecimento do aluno” (MARQUES, J. C., 1976, apud SANT’ANNA, 2010, p. 29). Os conceitos expressos acima, constatam a ênfase no desempenho do aluno e unanimidade dos autores em considerá-la um processo. Consequentemente deve ser percebida como aquela condição que imprime dinamismo ao trabalho escolar, pois diagnostica uma situação e permite modificá-la de acordo com as necessidades detectadas. A avaliação, segundo Zabala (2010), é considerada como um instrumento sancionador e qualificador, em que o sujeito da avaliação é o aluno e somente o aluno, e o objeto da avaliação são as aprendizagens realizadas segundo certos objetivos mínimos para todos. 49 Zabala (2010) menciona que: É possível encontrar definições de avaliação bastante diferentes e, em muitos casos, bastante ambíguas, cujos sujeitos e objetos de estudo aparecem de maneira confusa e indeterminada. Em alguns casos, o sujeito da avaliação é o aluno , em outros é o grupo, classe, professor, professora ou a equipe docente. Quanto ao objeto da avaliação, às vezes é o processo de aprendizagem seguido pelo aluno ou os resultados obtidos, enquanto que outras vezes se desloca para a própria intervenção do professor (ZABALA, 2010, p. 195). É importante destacar três referenciais selecionados por Antunes (2012) nos quais autores diferentes concordam em alguns pontos: O processo de avaliação da aprendizagem consiste essencialmente em determinar se os objetivos educacionais estão sendo realmente alcançados pelo programa do currículo e do ensino. No entanto, como os objetivos visados consistem em produzir certas modificações desejáveis nos padrões de comportamento do estudante, a avaliação é o processo mediante o qual determina-se o grau em que essas mudanças do comportamento estão realmente ocorrendo ( TYLER, 1969, apud ANTUNES, 2012, p.262) A avaliação é a coleta sistemática de evidências por meio das quais determinam-se mudanças que ocorrem nos alunos e como elas ocorreram. Incluem uma grande variedade de evidências que vão além do tradicional exame final de lápis e papel. É um sistema de controle de qualidade pelo qual pode ser determinada, em cada etapa do processo ensino-aprendizagem, a efetividade ou não do processo e, em caso negativo, que mudanças precisam ser feitas para assegurar sua efetividade antes que seja tarde (BLOOM, 1975, apud ANTUNES, 2012, p.262). “Avaliar significa emitir um julgamento de valor ou mérito, examinar os resultados educacionais para saber se preenchem um conjunto particular de objetivos educacionais “(AUSUBEL, 1982, apud ANTUNES, 2012, p. 262-263). Estudos realizados por esses autores revelam que procedimentos de coleta, organização e interpretação de dados de desempenho, formas de julgamento , tudo isso está envolvido na avaliação do rendimento escolar onde o aluno representa o objeto central da avaliação. A ideia de avaliação do rendimento escolar, associada a uma concepção de conhecimento, à emissão de juízo de valores, é mais complicada que procedimentos de medição. Nesse sentido a tarefa do professor ao avaliar exige 50 competência, discernimento, equilíbrio, e conhecimentos técnicos (ANTUNES, 2012). O conceito mais comum de avaliação estipulado por Luckesi (2009, p. 9) lembra que, “a avaliação é um juízo de qualidade sobre dados relevantes da realidade, tendo em vista uma tomada de decisão”. “Não se dá nem se dará num vazio conceitual, mas sim, dimensionada por um modelo teórico de mundo e”, consequentemente, “de educação”, que possa ser “traduzido em prática pedagógica”. Luckesi compartilha a afirmação de Perrenoud (1999, p.13) de que “Não se avalia por avaliar, mas para fundamentar uma decisão”. Em Luckesi (2009), o objetivo da avaliação é diagnosticar experiências, é propiciar decisões, é diagnosticar a aprendizagem que está ocorrendo e os elementos que estão confluindo para esta aprendizagem, é tomar decisões que auxiliem este processo de melhoria da aprendizagem na perspectiva de produzir resultados mais satisfatórios. De fato a avaliação pressupõe um juízo de qualidade e uma marca de subjetividade do avaliador, que devem ser objetivados em critérios e resultados. Ela conduz a uma tomada de decisão quando se trata de um processo de aprendizagem e essa tomada de decisão é o componente da avaliação que coloca mais poder na mão do professor. Ao longo do tempo vão-se percebendo as dificuldades e os avanços de cada aluno. Como princípio geral, as ações de avaliação não se destinam a punir ou a classificar, mas sim a promover; servem para averiguar resultados obtidos, não para recompensar ou para castigar e sim para ajudar o aluno e o próprio professor a estabelecer metas adequadas e a descobrir métodos eficientes, destinados a alcançar estas metas. Mediante a descoberta e apreciação dos fatos, são encontrados problemas que devem ser prevenidos ou solucionados, os pontos fracos que devem ser vencidos e as causas que devem ser superadas; situações que devem ser colocadas em seu nível normal. 51 Em relação às características da avaliação, segundo Luckesi (2009), é possível identificar três características que envolvem o ato de examinar e o ato de avaliar. Nos exames tem-se a característica pontual, onde verifica-se o aqui e o agora do conhecimento do aluno. Exemplo: exames de vestibular. Outra característica é a classificatória, que coloca o aluno em determinado nível de acordo com o seu resultado, onde as escalas de nota atuam definitivamente na vida do educando. Essa característica classificatória decide sobre a vida do educando e não o auxilia no seu crescimento, porque, além de seu papel específico na exclusão ela acaba por influenciar todas as outras práticas escolares. É uma forma pela qual o aluno pode ser aprovado sem deter os conhecimentos necessários numa unidade de ensino, ou seja, na escola. Exemplo10: Se o aluno recebe uma nota seis e é aprovado, isto quer dizer que ele domina só uma parte do conhecimento e não todo o conhecimento. Ou, em termos de avaliação um aluno obtém nota 5,0 e outro aluno obtém nota 4,0. O primeiro aluno está aprovado e o outro, não. O que o primeiro sabe é considerado suficiente. Suficiente para que? Acreditar que tais notas possam por si só explicar o rendimento do aluno e justificar uma decisão de aprovação ou retenção, sem que sejam analisados o processo de ensino-aprendizagem, as condições oferecidas para promover a aprendizagem do aluno, a relevância deste resultado na continuidade de estudos, é, sobretudo, tornar o processo avaliativo extremamente reducionista quanto às possibilidades de professores e alunos tornarem-se detentores de maiores conhecimentos sobre aprendizagem e ensino. Não se pode esquecer dos instrumentos utilizados para avaliar, que fundamentam este processo decisório e necessitam de questionamento, não só quanto à sua elaboração, mas quanto à coerência e adequabilidade com o que foi trabalhado em sala de aula e o modo com que o que vai ser avaliado foi trabalhado. E a terceira característica é a seletiva, onde a lógica da seleção conduz à manutenção ou eliminação do aluno na escola; sempre foi utilizada para excluir a 10 Nota explicativa baseada em Luckesi, 2009. 52 maior parte dos alunos dos estudos aprofundados, isto é, estudos intensivos para acadêmicos que queiram uma preparação imediata e específica para vestibular, concursos, etc. Luckesi (2009) identifica uma característica não pontual onde o professor acompanha o antes, o agora e o depois do desempenho do aluno em suas atividades. Outra característica: não classificatória e sim dinâmica, utiliza diferentes instrumentos e na reflexão dos seus resultados inclui a participação dos alunos, dos pais e de outros profissionais, qualifica e subsidia o reencaminhamento da ação, possibilitando consequências no sentido da construção do resultado que se deseja. E a última característica é a de promover a inclusão: a avaliação se destina ao diagnóstico que permite a decisão de direcionar ou redirecionar aquele aluno que precisa de ajuda, ela cria a base do modo de como incluí-lo dentro do círculo de aprendizagem, por isso mesmo é includente. O diagnóstico tem por objetivo aquilatar coisas, atos, situações, pessoas, tendo em vista tomar decisões para a obtenção de uma maior satisfatoriedade daquilo que se esteja buscando ou construindo. Sant’Anna (2010) afirma que o diagnóstico é utilizado para verificar conhecimentos que os alunos têm, pré-requisitos que os alunos apresentam e particularidades dos alunos. Percebe-se que, o professor, tendo em mãos o resultado do diagnóstico, pode estabelecer planos e metas para o desenvolvimento dos conteúdos e habilidades da disciplina com os alunos, redefinir e introduzir novos conhecimentos. Estudos realizados por Perrenoud (1999) apontam: A avaliação como uma invenção, mais tardia, nascida com os colégios por volta do século XVII e tornada indissociável do ensino de massa que se conhece desde o século XIX, com a escolaridade obrigatória. [...] Para ele, avaliar é – cedo ou tarde – criar hierarquias de excelência, ou seja, níveis, posições de qualidade do saber, em função das quais se decidirão a progressão no curso seguido, a seleção no início do Ensino Médio, a orientação para diversos tipos de estudos, a certificação antes da entrada no mercado de trabalho e, 53 frequentemente, a contratação. Avaliar é também privilegiar um modo de estar em aula e no mundo, valorizar formas e normas de excelência, estigmatizar a ignorância de alguns para melhor celebrar a excelência de outros (PERRENOUD, 1999, p. 9). Ele aborda a avaliação do ponto de vista da excelência à regulação das aprendizagens entre duas lógicas: A lógica formativa e a lógica da seleção. Ele não nega as contribuições da docimologia, psicometria, psicopedagogia e da didática 11 no que diz respeito à avaliação. Seu olhar descritivo mostra que não se pode melhorar a avaliação sem tocar no conjunto. Porém, antes de acontecer essa regulação é necessário regular o trabalho, as atividades, as relações de autoridade, cooperação e as relações entre família e escola. Incontestavelmente, a lógica formativa ganhou importância. Ela emergiu e depois se difundiu através da democratização do ensino e da busca de uma pedagogia diferenciada onde as forças e a legitimidade de ambas estão mais equilibradas. A discussão sobre regulação se insere na compreensão que o mesmo tem de que “avaliação” e “ensino” são processos que devem ser integrados e contínuos. As duas principais lógicas do sistema, a tradicional e a emergente não esgotam a realidade e o sentido das práticas avaliativas. A avaliação é tradicionalmente associada na escola, à criação de uma hierarquia de excelência no decorrer do ano letivo através de trabalhos, provas de rotina, provas orais, anotação de atividades pessoais e de dossiês que prefiguram o resultado final. Quando se fala em excelência, destaca-se a exposição de Perrenoud (1999): 12 Cada disciplina ou subdisciplina , tomada em um dado nível do curso, constitui um campo de excelência. A excelência é aí "oficialmente" comparada ao domínio dos conceitos, dos conhecimentos, dos métodos, das competências e dos valores que figuram no programa. Portanto, as normas de excelência são, em princípio, facilmente identificáveis: parecem decorrer logicamente do programa do ano. Cada hierarquia de excelência apresenta-se, então, como uma classificação, conforme o grau de domínio alcançado por cada aluno no interior de um campo disciplinar (ou de um campo mais restrito). Esse grau de domínio é tomado em certos momentos do 11 Docimologia: veja nota nº 4; Psicometria: ramo da estatística que estuda fenômenos psicológicos; Psicopedagogia: área de estudo dos processos e das dificuldades de aprendizagem do educando; Didática: parte da pedagogia que se ocupa dos métodos e técnicas de ensino. 12 Subdisciplina é cada uma das partes que resulta da divisão de uma disciplina. 54 curso e expresso de acordo com certas escalas numéricas ou certos códigos padronizados, em geral comuns ao conjunto das disciplinas (PERRENOUD, 1999, p.29). A continuação do curso ou a orientação para qualquer habilitação no final do ano seguem o comando das hierarquias de excelência. Elas regem o que se chama de êxito ou fracasso escolar. A escola, até os anos de 1960, não se sentia responsável pelas aprendizagens, limitava-se a oferecer a todos a oportunidade de aprender: cabia a cada um aproveitá-la. Nos anos de 1960, Bloom, citado por Perrenoud (1999, p. 14), defendeu uma pedagogia do domínio onde se dizia que “todo mundo pode aprender” com a condição de que o ensino fosse organizado de maneira a individualizar o conteúdo, o ritmo e as modalidades de aprendizagem em função de objetivos claramente definidos. Estabelecendo relação dentro das situações didáticas e intervenções contínuas privilegiou-se a avaliação como instrumento de regulação. Seu papel na perspectiva de uma pedagogia de domínio, passou a ser o de controlar o raciocínio do aluno e como ele adquiria conhecimentos, a fim de auxiliá-lo na conquista dos objetivos. Assim, nasceu a ideia de uma avaliação formativa em relação aos programas, sua transposição à pedagogia e às aprendizagens dos alunos. Segundo Perrenoud (1999, p. 15) “A avaliação formativa introduz uma ruptura porque propõe deslocar essa regulação ao nível das aprendizagens e individualizála”. Sant’Anna (2010) constata que A avaliação formativa é realizada com o propósito de informar o professor e o aluno sobre o resultado da aprendizagem, durante o desenvolvimento das atividades escolares. Localiza deficiências na organização do ensino-aprendizagem, de modo a possibilitar reformulações no mesmo e assegurar o alcance dos objetivos. É chamada formativa, pois indica como os alunos estão se modificando em direção dos objetivos (SANT’ANNA, 2010, p.34). 55 Perrenoud (1999, p.16) assinala: “Ela está no âmago das tentativas da pedagogia diferenciada e da individualização dos percursos de formação”. Percebe-se que assim se constitui a avaliação formativa no âmbito do processo ensinoaprendizagem que se quer presente na esfera da educação. A avaliação, segundo Sacristán e Pérez Gómez (2011, p. 322), “desempenha várias funções, atende a diversos objetivos para o sujeito avaliado, para o professor, para a instituição escolar, para a família e para o sistema social”. Sacristán e Pérez Gómez (2011, p. 323) apresentam sete funções das práticas de avaliação adotadas pela educação e dizem que “as funções que a avaliação cumpre são a base fundamental para o sucesso da aprendizagem e melhoria da qualidade da educação”. São elas: 1) Função de definir os significados pedagógicos e sociais; 2) Cumprir funções sociais; 3) Função de poder de controle sobre os avaliados; 4) Funções pedagógicas abrangendo vários encargos (como diagnóstico, garantia da aprendizagem, etc.); 5) Funções na organização escolar; 6) Projeção psicológica como fonte de motivação extrínseca e intrínseca; 7) Função de apoio da investigação no que diz respeito aos resultados e suas interpretações. Segundo Cook (1961) citado por Sant’Anna (2010) parte-se da constatação de que as funções da avaliação estão intimamente relacionadas às funções primordiais da educação, que são a integrativa e a diferenciada. Quando cumpre a educação sua função integrativa, busca tornar as pessoas semelhantes em ideias, valores, linguagem, ajustamento intelectual e social. Unifica e dá coesão ao grupo. Em sua função diferenciada, no entanto, visa a salientar as diferenças individuais, preparar as pessoas segundo suas competências particulares, formando-as para profissões e atividades específicas (SANT’ANNA, 2010, p. 37). As funções da avaliação seguem linhas de orientação, que relacionam as funções gerais da avaliação com a função educacional integrativa, e as funções específicas com as diferenciadas. São funções gerais da avaliação: fornecer as bases para o planejamento; possibilitar a seleção e a classificação de pessoal ( professores, alunos, especialistas, etc.); ajustar políticas e práticas curriculares. São funções “específicas” da avaliação: facilitar o 56 diagnóstico; melhorar a aprendizagem e o ensino (controle); estabelecer situações individuais de aprendizagem; interpretar os resultados; promover, agrupar alunos (classificação) (SANT’ANNA, 2010, p.37). Constata-se, portanto, que as múltiplas funções que a avaliação cumpre e pode cumprir tornam-se realidade quando se tem o conhecimento de seus resultados. A proposta de avaliação formativa fundamenta-se na observação e no registro do desenvolvimento dos alunos, em seus aspectos cognitivos, afetivos e relacionais, decorrentes das propostas de ensino. É contínua, diagnóstica e sistemática e é o eixo nos processos de ensino e aprendizagem. Faz parte da aula do professor e deve ser observada em cada situação de aprendizagem proposta pelo mesmo e realizada pelo aluno. Permite rever todos os passos do planejamento. Pressupõe que a escola, antes de avaliar seus alunos, avalie-se como Instituição. Porém, não se deve esquecer que as práticas existentes no processo de avaliação constituem, muitas vezes, uma herança da sociedade burguesa, no seio da qual emergiu e se cristalizou a pedagogia tradicional, um legado da pedagogia jesuítica através do Ratio Studiorum e da pedagogia Comeniana através da Didática Magna, dos séculos XVI e XVII cujas influências perduram até os dias de hoje (LUCKESI, 2012). Para Hoffmann (2009), a avaliação é essencial à educação. Inerente e indissociável enquanto concebida como problematização, questionamento, reflexão sobre a ação. Um professor que não avalia constantemente a ação educativa, no sentido indagativo, investigativo do termo, instala sua docência em verdades absolutas, prémoldadas e terminais. A avaliação é reflexão transformada em ação. Ação essa, que impulsiona o docente para novas reflexões. Reflexão permanente do educador sobre a realidade, e acompanhamento, passo a passo do educando, na sua trajetória de construção de conhecimento. Portanto, segundo Hoffmann (2006) a avaliação deve ser um processo em busca de melhorias reunindo informações e dados para subsidiar e incentivar a análise reflexiva das práticas. No desejo de estarem sempre concluindo os caminhos da 57 aprendizagem, educadores e educandos se desencontram, seguem rumos diferentes, não se conhecem, não dialogam, nem dão um tempo para refletir sobre a experiência educativa que ambos compartilham. A mediação na avaliação traduz-se em interação, onde emerge o encontro e o diálogo se abre. Alunos e professores percorrem, ao mesmo tempo, os caminhos do conhecimento no cenário educacional. Apesar dos desencontros, seguindo em frente, às vezes cruzam caminhos na mesma direção. Na análise de Hoffmann( 2006), não se pode delimitar a aprendizagem em tempos fixos. Ela é um processo permanente cuja natureza individual demonstra a experiência singular de cada um. Os pontos de chegada não devem ser valorizados, porque são pontos provisórios. Deve-se valorizar os rumos dos caminhos cujos passos devem se ajustar ao esforço que se torna essencial para provocar a curiosidade do aprendiz na busca do conhecimento. Dentro dos aspectos técnicos e metodológicos, Perrenoud ( 1999) considera legítimo tratar a avaliação como uma “medida”. Uma operação intelectual que vai orientar o aluno no universo de aspectos qualitativos e quantitativos. Mas não se pode esquecer que a avaliação é muito mais do que uma medida. É uma representação do valor escolar ou intelectual de outro indivíduo, construída por alguém. Nutre-se de uma relação social específica que une o professor ao aluno e através deles, entre seus respectivos grupos de pertencimento. Na sua análise a avaliação da aprendizagem, no novo paradigma emergente, é um processo mediador na construção do currículo e se encontra intimamente relacionada à gestão da aprendizagem dos alunos. Na avaliação da aprendizagem, o professor não deve permitir que os resultados das provas periódicas, geralmente de caráter classificatório, sejam supervalorizados em detrimento de suas observações diárias, de caráter diagnóstico. A avaliação é um processo que deve estar a serviço das individualizações da aprendizagem. Ele explora três modalidades da avaliação formativa, sob a perspectiva das regulações: regulações retroativas, regulações interativas e regulações pró-ativas. 58 Para o autor, essas modalidades de avaliação não ocorrem de maneira estanque, mas sim, de forma relacional, pois aparecem associadas, combinadas, interligadas. A regulação retroativa acontece como uma "remediação", na qual o professor realiza intervenções, buscando processos de aprendizagens anteriores aos que estão em realização, encontrando as reais defasagens. A regulação interativa é aquela que permite ao professor compreender como o processo de aprendizagem está ocorrendo, percebendo as aquisições e dificuldades dos alunos; essa regulação, irá levar o aluno a se conscientizar de seu processo de aprendizagem. É observação e intervenção em tempo real, enquanto o aluno desenvolve ações de aprendizagem. A regulação pró-ativa acontece como elemento que antecede os procedimentos que estimularão a aprendizagem. É um período de investigação sobre o contexto dos alunos, as aprendizagens já solidificadas, os interesses do grupo de discentes, os recursos disponíveis e as possíveis dificuldades. Segundo Perrenoud (1999, p. 116) "Ela é a comunicação contínua entre professores e alunos". A regulação interativa inclui as regulações retroativa e pró-ativa, configurando a perspectiva de associação das três modalidades. Essa modalidade de regulação não deve incidir na atividade, mas sim, na ação que gera aprendizagem, pois nem toda atividade gera a aprendizagem. Para isso, o professor deve planejar muito bem as aulas e selecionar ações que proporcionarão aprendizagem. Ele deverá investir tempo e motivação na preparação e condução das situações de aprendizagem, fazendo assim as regulações interativas. Para Perrenoud (1999, p.116) "(...) o professor deverá maximizar o conflito cognitivo e todos os processos suscetíveis ao desenvolvimento e fortalecimento dos esquemas ou saberes". Esse autor considera que a avaliação formativa desenvolvida pela regulação é vista sob a perspectiva de um processo deliberado e intencional, tendo como objetivo, 59 controlar os processos da aprendizagem, para que possa consolidar, desenvolver ou redirecionar essa mesma aprendizagem. Nessa abordagem, a avaliação formativa traz a ideia de que os processos cognitivos e metacognitivos dos alunos desempenham um papel fundamental na regulação e autorregulação das suas aprendizagens. Os alunos constituem parte ativa, por intermédio da mobilização consciente de um conjunto de recursos cognitivos, metacognitivos e afetivos. A ênfase é dada à compreensão dos processos cognitivos utilizados pelo aluno, que analisados e interpretados qualitativamente, dão condições ao prosseguimento do processo ensino-aprendizagem. Na reflexão de Perrenoud (1999) há uma preocupação em contextualizar os processos de ensino, de aprendizagem e de avaliação. A negociação e os contratos didáticos com os alunos criam condições para o desenvolvimento de processos de autoavaliação e de autorregulação da aprendizagem. Zabala (2010) reserva o termo formativo para: Uma determinada concepção da avaliação em geral, entendida como aquela que tem como propósito a modificação e a melhora contínua do aluno que se avalia; quer dizer, que entende que a finalidade da avaliação é ser um instrumento educativo que informa e faz uma valoração do processo de aprendizagem seguido pelo aluno, com o objetivo de lhe oportunizar, em todo momento, as propostas educacionais mais adequadas (ZABALA, 2010, p.200). É preciso reconhecer que para o bom desenvolvimento da avaliação formativa é necessário haver uma seleção criteriosa de tarefas, a qual promova a interação, a relação e a mobilização inteligente de diversos tipos de saberes e que, por isso, possuam elevado valor educativo e formativo. Para uma melhor compreensão é necessário rever alguns conceitos. De acordo com o Centro de Referência Virtual – CRV (2012): Regulação é o termo utilizado para se refletir sobre os processos específicos que visam ajustar as estratégias de ensino às aprendizagens dos alunos. Seu objetivo é 60 contribuir diretamente para a progressão das aprendizagens. A regulação é desencadeada pelo professor, ao reformular seu planejamento, adequando-o às necessidades do aluno. A regulação supõe a intervenção do professor na própria situação de aprendizagem ou em outros momentos, desde que constate a necessidade de reorientar o processo do aluno. Assim sendo, ele deverá utilizar recursos, definir ações no sentido de possibilitar novas aproximações do aluno ao conhecimento trabalhado. Para isso, poderá fazer uso de outras estratégias de ensino: levantar diferentes questões, exemplificar, pedir para outro aluno expor, fazer junto, propor desafios mais adequados, novas atividades de estudo, de pesquisa, sugerir leituras, fazer o aluno interagir com colegas que têm conhecimento do tema, propor debates, etc. A comunicação tem um papel fundamental na regulação. Uma prática dialógica e interativa favorece esquemas de regulação. Para desenvolvê-la, o professor tem que criar situações de confronto, de interação de trocas, de tomadas de decisão a fim de possibilitar a exposição de ideias, as argumentações, as justificativas, os planejamentos. Autorregulação é o movimento feito pelo próprio aluno no sentido de gerir seus projetos, seus progressos, suas estratégias diante das atividades de ensino e das dificuldades que venha a encontrar. A autorregulação supõe uma capacidade do aluno de avaliar (ou autoavaliar), com o fim de realizar correções ou ajustamento e desenvolvimento no seu processo de aprendizagem. A autorregulação consiste, portanto, em mobilizar as capacidades do aluno para administrar sua própria aprendizagem, diante das atividades propostas e das dificuldades que encontrar. É importante que o aluno tome consciência e reflita sobre esse processo. Nesse sentido, a autoavaliação e a metacognição13, como processos de conscientização dos mecanismos de aprendizagem, são indissociávies da autorregulação. As pedagogias de projeto e as pedagogias ativas – apoiadas em contextos significativos, os interesses do aluno, em desafios que o mobilizam 13 Metacognição: Uso de habilidades e estratégias para refletir e controlar o processo de aprendizagem. 61 profundamente – são as que mais favorecem a adesão do aluno às propostas de trabalho pedagógico e são estimuladoras da autorregulação ( CRV., 2012). Perrenoud (1999, p. 90) utiliza o termo regulação dos processos de aprendizagem para designar o “conjunto das operações metacognitivas do sujeito e de suas interações com o meio que modificam seus processos de aprendizagem no sentido de um objetivo definido de domínio”. É importante observar que Perreonud usa essa definição em sentido bastante amplo, de modo a englobar a regulação e a autorregulação: a idéia de metacognição remete necessariamente à autorregulação. Segundo ele, toda regulação é, em última instância, uma autorregulação, já que, intervenções externas agem no sujeito somente se forem, por ele, percebidas, interpretadas e assimiladas. Estudos realizados por Hadji (2001) apontam um conceito distinto entre remediação e regulação. A remediação está muito próxima da recuperação, o professor retorna aos mesmos exercícios, à mesma prática enquanto a regulação reorganiza a aprendizagem com novas atividades, com práticas diferentes e renovadas, onde dois momentos se completam: o momento do “feedback” e o momento do “encaminhamento”. Ambos voltados para os objetivos educativos estabelecidos pelo professor. Acredita-se que os estudos sobre regulação da aprendizagem podem acrescentar novos significados que aparecem em Perrenoud (1999) quando ele faz uma distinção entre regulação direta e regulação indireta. A regulação direta focada na atividade do aluno intervém no seu procedimento intelectual enquanto que a regulação indireta intervém nas condições de aprendizagem, como: motivação, participação, ambiente, envolvimento, organização das atividades, além da situação didática. Esse mesmo autor aponta alguns obstáculos à uma regulação eficaz das aprendizagens: a ênfase ao conteúdo em detrimento de uma lógica da aprendizagem; a dificuldade de compreensão do processo de aprendizagem dos alunos, os mecanismos de elaboração do raciocínio, da compreensão, da 62 memorização, etc; as rupturas ou descontinuidades nos processos: deixar inacabadas muitas regulações, porém bem-iniciadas; tendência a dar prioridade à regulação da tarefa em vez de regular a aprendizagem como processo. Para otimizar uma avaliação é necessário que o professor vá além de seus conhecimentos, dispondo de informações pertinentes e confiáveis, interpretando-as corretamente e em tempo hábil, fazendo intervenções corretas conduzindo-as de modo eficaz, assim, garantiria uma regulação efetiva da aprendizagem. Portanto, a reconstrução da prática avaliativa supõe professores com formação crítica e reflexiva, que seja capaz de ampliar seus horizontes compreendendo e reconhecendo a necessidade de uma formação contínua e construir algo diferente. A FIG. 2 a seguir mostra a avaliação numa abordagem sistêmica, situada no centro de um octógono com oito dimensões interrelacionadas: FIGURA 2 - A AVALIAÇÃO NO CENTRO DE UM OCTÓGONO. Fonte: PERRENOUD, P.,1999, p. 146. Tem-se como ponto de partida, as relações entre as famílias e a escola e, dirigindo-se no sentido dos ponteiros de um relógio permite-se relacionar cada dimensão da avaliação até ao ponto de chegada que são as satisfações pessoais e profissionais. Portanto, essa abordagem considerada por Perrenoud (1999) pode ser assim constituída: 63 a) A avaliação é o vínculo mais importante entre a escola e a família. b) Uma avaliação formativa, no sentido mais amplo do termo, não funciona sem regulação individualizada da aprendizagem. c) Os meios de ensino não são, em sua maioria, concebidos por uma pedagogia diferenciada resultante de uma avaliação formativa. Para ir nesse sentido, deve-se então aceitar um grande investimento na criação ou adaptação de instrumentos didáticos. d) Toda avaliação formativa baseia-se na aposta bastante otimista de que o aluno quer aprender e deseja ajuda para isso, que está pronto para revelar as suas dúvidas, suas lacunas, suas dificuldades de compreensão da tarefa. e) Não se faz avaliação formativa sozinho, porque apenas se pode avançar nesse sentido modificando profundamente a cultura da organização escolar, não só em escala de sala de aula, mas também de estabelecimento. f) A introdução de uma pedagogia diferenciada e de uma avaliação formativa leva, cedo ou tarde, a mexer nos programas. g) A vocação da avaliação formativa é a de contribuir para as aprendizagens. Acontecem fracassos que obrigam a fazer o balanço das aquisições; então não é mais possível remediar, deve-se tomar decisões de seleção ou de orientação. h) Não se pode responsabilizar o medo da mudança por todas as resistências dos professores. A situação é mais grave quando os professores pressentem que não encontrarão, em um novo sistema de avaliação, as satisfações, confessáveis ou não, que lhes proporciona a avaliação tradicional (PERRENOUD,1999). Acredita-se que um paradigma voltado para a avaliação está em andamento, apesar de que a perspectiva sistêmica ainda não faz parte da cultura comum de todos os pesquisadores e inovadores em educação. 64 2.1. Avaliação da aprendizagem em Artes Visuais O mundo de hoje caracteriza-se entre outros aspectos, segundo os PCNs (1998), pelo contato com imagens, cores e luzes através da história. As múltiplas manifestações visuais, criação e exposição conduzem à necessidade de uma educação voltada para o saber ver e perceber, distinguindo, nas formas e nos ambientes, sentimentos, sensações, ideias e qualidades. As Artes Visuais, possuindo formas tradicionais – desenho, pintura, escultura, gravura, arquitetura, objetos, cerâmica, cestaria, entalhe -, inserem outras modalidades resultantes dos avanços das novas tecnologias e transformações estéticas do século XX: fotografia, moda, artes gráficas, cinema, televisão, vídeo, computação, performance, holografia, desenho industrial, arte em computador. Cada uma, relata os PCNs (1998), tem a sua particularidade e é utilizada em várias possibilidades de combinações entre elas; os alunos podem comunicar-se entre si e com outras pessoas e expressar-se de diferentes maneiras. Na contemporaneidade “as linguagens visuais ampliam-se, criando novas combinações e modalidades: A multimídia, a performance, o videoclipe, e o museu virtual são alguns exemplos em que a imagem integra-se ao texto, som e espaço” (BRASIL, 1998, p. 63). A avaliação da aprendizagem em Arte não deve se limitar a um escore de rendimentos ou a impressão do rótulo do talento, também não pode se restringir ao instrumental do qual se vale para, apenas, levantar informações referentes à aprendizagem. A avaliação do processo ensino-aprendizagem em Arte não se resume a diagnóstico, apesar de também compreendê-lo – porque apenas diagnosticar o que não dá certo e não procurar alterar essa realidade é um exercitar em vão. Percebe-se, nesse estudo, que a teoria a respeito das práticas de avaliação em Artes Visuais são escassas no cenário nacional. Isso se torna notório devido ao fato de que essa disciplina só entrou para o currículo das escolas brasileiras, 65 oficialmente, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96 e ainda necessita de alguns ajustes na forma de implementação. Apesar da constatação acima, é possível identificar, contribuições relevantes nesse cenário, dos pesquisadores como Iavelberg (2003), Duarte Júnior (2005), Pimentel et al (2008), destacando contribuições notáveis de Ana Mae Barbosa (2011) buscadas em Gardner (2013), Hernández (2000), Boughton (2004), Zimmerman (2004), etc., para oferecer aos professores de Arte inspiração e sugestões para os seus trabalhos pedagógicos efetivos na sala de aula. As ações avaliativas hoje exercitadas pelos professores de Arte do Brasil não são frutos do acaso, mas decorrem da própria evolução do ensino desse campo de conhecimento no contexto escolar. Para Hernández (2000, p.154), “avaliar significa entender, interpretar e valorizar os conhecimentos aprendidos”. Ele afirma que a avaliação relacionada com o ensino da Arte tende a movimentar-se como parte do processo educativo, como um campo sobre o qual é necessário abrir múltiplas questões e contrastar outras propostas sobre a avaliação que seguiram outro tipo de enfoques e critérios14. Os critérios de avaliação são geralmente estabelecidos pelo sistema ou subsistema, embora o mais comum é que cada escola, através de seu regimento, registre os critérios ou normas a serem observados pelos responsáveis das diferentes disciplinas curriculares (SANT’ANNA, 2010, p.78). Nas questões avaliativas pode-se pensar que a maior parte dos instrumentos utilizados em outras áreas do conhecimento podem e devem ser empregados no ensino da Arte. Quanto maior for o elenco de instrumentos avaliativos ofertados ao aluno mais possibilidades ele terá para expressar a sua estrutura de conhecimento e tudo o mais que estiver sendo avaliado. Importante salientar que o profissional da educação deve fazer a adequação à faixa etária e aos conteúdos trabalhados. De acordo com as novas orientações 14 Conjunto de aspectos que servem de norma para avaliações. 66 curriculares15 o aluno faz Arte na escola, reflete sobre Arte e aprecia imagens das culturas – pode ser avaliado nesses três eixos ou ações de aprendizagem significativa. O professor precisa criar indicadores de avaliação com base nas tarefas e atividades desenvolvidas. Não se deve interferir no desenvolvimento da liberdade e espontaneidade da criança, e sim valorizar a riqueza plástica e formal de suas produções. Segundo Hernández (2000, p. 144), “uma das crenças que cercam a Arte na educação em relação aos conhecimentos vinculados às Artes Visuais é a de que não se possa, que não tenha sentido, avaliá-los”. Aceitar tudo como correto e adequado, respeitando e acatando tudo o que o aluno traz, é decorrência de uma concepção que tem suas raízes profundamente firmadas na corrente expressionista do século XX, que defendia o critério do livre exercício da criatividade e o conceito de “espontaneidade criadora”, o famoso laissez-faire.16 A “corrente expressionista” colocou a possibilidade de avaliação num beco sem saída: Por um lado, se avaliássemos o que se apresentava como livre exercício da criatividade do menino e da menina, estaríamos incorrendo no contrário do que se pretendia: em vez de deixar que a criança se expressasse, estaríamos limitando-a; em vez de possibilitar-lhe que mostrasse seu mundo sem barreiras, obrigava-se sua adequação ao critério da avaliação. Por outro lado,se houvesse avaliação, o menino e a menina, em vez de ser espontâneos e mostrar a riqueza de sua imaginação e experiências pessoais, acabariam fazendo representações estereotipadas (HERNÁNDEZ, 2000, p.144). Neste contexto, muitos professores passaram a acreditar que a autoexpressão abrange todo o universo da Arte, especialmente para as crianças mais novas. O processo avaliativo foi potencializado pela corrente Expressionista17 na área de Arte durante as décadas de 1920, 1930 e 1940, foi praticado durante anos sob o 15 Diretrizes Curriculares, PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais, PPP- Projeto Político Pedagógico; Proposta Triangular de Ana Mae Barbosa. Resolução SEE nº 2.197, etc. 16 Deixar fazer. Não intervenção no que fazem os outros. 17 Corrente cujas formas artísticas são voltadas para a expressão subjetiva e emotiva. 67 argumento de que tudo que o aluno fizesse deveria ser considerado como positivo pelo fato de que, dessa forma, estaria mostrando seus mundos interiores, suas experiências pessoais,etc. (HERNANDEZ, 2000). A substituição, em parte, da livre expressão por uma série de critérios observáveis e mensuráveis, na avaliação em Arte levou a uma necessidade de organização e superação da corrente Expressionista. Muitos professores pareciam acreditar que eles deviam deixar as crianças se expressarem e dessa forma seu compromisso de ensino já estaria realizado. Assim não observaram que toda expressão tem conteúdo, mesmo que ele pareça referir-se primeiramente à própria Arte. Para mostrar sua criatividade, a criança deve expressar alguma coisa. Com efeito, o trabalho expressivo produzido pela criança, segundo Duarte Júnior (2005), quando se considera do ponto de vista de um esteticismo rigoroso, não tem a menor importância, frente a uma obra dada a público enquanto Arte, e cujo valor residiria apenas em si mesma, nas suas formas expressivas, segundo determinados padrões estéticos. Porém, não significa que se deva ignorar o trabalho infantil, por completo. Mesmo porque este produto final consiste no registro do percurso empreendido pela criança, no seu desejo de se expressar, articulando sentimentos e experiências de vida. A importância de seu trabalho reside no fato de ele mapear um trajeto, de remeter à atividade que o precedeu, ajudando o professor a melhor compreendê-la. Portanto, pergunta-se: deve-se ou não avaliar a produção da criança? Pergunta articulada frequentemente por quem se encontra envolvido com a Arte na educação. Duarte Júnior (2005) esclarece: Inicialmente é preciso que se compreenda a avaliação (toda e qualquer avaliação) como uma ação reflexiva de suma importância em qualquer atividade que empreendemos: só determinamos com exatidão o nosso progresso e o que realmente conseguimos ao avaliarmos os resultados alcançados, isto é, ao compará-los com os objetivos previamente traçados e com os fins a que visávamos atingir. Com este procedimento podemos tomar consciência da efetividade ou não de nossos reforços, bem como das falhas e/ou méritos dos métodos. Neste sentido a atividade avaliativa faz parte do processo de conhecimento, seja conhecimento quanto à eficácia dos 68 instrumentos que empregamos, seja conhecimento quanto à nossa destreza em utilizá-los. Avaliar portanto, diz respeito a uma tomada de consciência com relação ao percurso até então seguido (DUARTE JÚNIOR, 2005, p.143). Pelo exposto pode-se compreender que, na realidade, a Arte produzida pela criança é, em si mesma um instrumento de avaliação: nela se encontra o registro não apenas dos vários aspectos de seu processo evolutivo, como também de sua relação com os materiais expressivos. A Arte infantil fornece ao professor um rico “dossiê” avaliativo. Ao atingir a fase de desenvolvimento, na faixa dos dez anos de idade, em que as preocupações estéticas começam a aflorar, certamente o trabalho de avaliação pode-se dar de maneira mais direta, cautelosa e conscienciosa. Neste ponto, a análise do produto elaborado pode começar a ser compreendida pela criança, em termos dos efeitos conseguidos e dos sentimentos e ideias ocorrentes ao longo do processo vivenciado. Nisto consiste o trabalho de avaliação, e não numa comparação do trabalho da criança com pretensos parâmetros estéticos, definidores da “boa” ou “má” arte (DUARTE JÚNIOR, 2005). Portanto, segundo Duarte Júnior (2005), para a avaliação no terreno da Arte, o que se deve ter em mente, é sempre uma atividade de diálogo e de discussão, produtora de conhecimento e de consciência de mundo. Avaliar, nestes termos, não é aplicarse uma nota ou conceito ao trabalho da criança: tal procedimento pressupõe uma escala comparativa, um padrão ideal do qual ela estaria mais próxima ou mais afastada. Aqui, o único marco comparativo da criança consiste nela mesma. Seus progressos, estagnações ou retrocessos apenas devem ser verificados com relação ao seu próprio ponto de partida, e nenhuma escala quantitativa pode medir tais mudanças. É qualitativamente, e em termos individuais, que se deve proceder a esta avaliação, que é sempre necessária e importante, desde que entendida desta maneira. Até recentemente, a finalidade básica da avaliação era proporcionar uma visão retrospectiva ( ou pontual) sobre a aprendizagem do aluno e medir o aprendido antes de passar a séries posteriores ou receber uma qualificação que permitisse um exercício profissional (HERNÁNDEZ, 2000, p. 148). 69 Hernández (2000, p.148) esclarece que, a partir de uma perspectiva ampla, entende-se por avaliação, “um conjunto de ações direcionadas ao recolhimento de uma série de dados sobre uma pessoa, fato, situação ou fenômeno com o fim de emitir um juízo sobre a mesma”. Costuma-se considerar que esse juízo seja expresso em função de alguns critérios prévios, ainda que nem sempre seja necessariamente assim, e tenha como finalidade recolher informação e valorizá-la, para estabelecer uma posterior tomada de decisões. A avaliação além de permitir obter evidências sobre o que o aluno lembra ou compreende da informação que foi estudada em sala de aula está vinculada à promoção do estudante. Pode-se distinguir três fases no processo de avaliação a partir desses aspectos: A avaliação inicial, cuja intenção é detectar os conhecimentos que os alunos já possuem ao iniciarem um curso ou estudo de um tema, deveria tentar coletar evidências sobre as formas dos alunos aprenderem. Assim, os professores poderiam obter informações de grande valor para seu planejamento posterior e seria um ponto de partida para iniciar um projeto, planejar uma unidade didática ou iniciar um processo de pesquisa (HERNÁNDEZ, 2000). Não seria um excesso lembrar-se da avaliação formativa, já mencionada em Perrenoud como aquela que se supõe que deveria estar na base de todo processo avaliador. Sua finalidade não é controlar e qualificar os estudantes, mas sim ajudálos a progredir no caminho do conhecimento, a partir do ensino que se ministra e das formas de trabalho utilizadas em sala de aula. A avaliação formativa implica, para os professores, uma tarefa de ajuste constante entre o processo de ensino e o de aprendizagem, para ir-se adequando à evolução dos alunos e para estabelecer novas pautas de ação em relação às evidências sobre sua aprendizagem. Nesse processo, a análise dos trabalhos dos alunos poderia ser realizada pela ótica de se levar em conta a exigência cognitiva das tarefas propostas, a detecção dos erros conceituais observados e as relações imprevisíveis. Esse momento de avaliação pode utilizar as mesmas estratégias de recolhimento de informação sobre os alunos, e ter as mesmas limitações em sua prática nas escolas sobre as quais se falava na avaliação inicial (HERNÁNDEZ, 2000, p.150). Por fim, a avaliação somativa é proposta como processo de síntese de um tema, de uma série ou um nível educativo, sendo o “momento” que permite reconhecer se os 70 estudantes alcançaram os resultados esperados, adquiriram algumas das destrezas e habilidades propostas em função das situações de ensino e aprendizagem. Na prática, de acordo com Hernández (2000, p.150), “esse tipo de avaliação se associa à noção de êxito ou fracasso dos estudantes na aprendizagem e serve como passagem para dar credibilidade oficial aos conhecimentos adquiridos”. No entanto, centrar-se na função da avaliação de dar crédito minimiza a possibilidade de uma avaliação em ciclo que destaque o processo seguido e sirva aos professores para avaliar sua própria tarefa e o progresso ou as dificuldades dos alunos. Em Arte, “alguns professores propõem, na fase de avaliação somativa, situações similares às apresentadas na avaliação inicial, para comprovar se mantiveram as mesmas concepções ou se as modificaram” (HERNANDEZ, 2000, p.150). O conjunto de saberes dos alunos influi em sua aprendizagem e avaliação, porque interessa que o aluno parta do que sabe para progredir no conhecimento da área. A avaliação em Arte deve passar por uma análise criteriosa. Deve-se investigar a natureza do conhecimento relacionado com a Arte, o posicionamento (subjetivo, objetivo) da resposta estética e a necessidade ou não da avaliação relacionada à Arte-educação. Depois do esclarecimento desses pontos não se pode esquecer que a avaliação é necessária porque valoriza o programa de ensino que se realiza, esclarece aos envolvidos sobre seu aprendizado e informa sobre a Arte-educação. Além disso relaciona objetivos e finalidades educativas com a aprendizagem realizada pelos estudantes, revelando o conhecimento básico e suas necessidades. A avaliação do processo de ensino-aprendizagem abrange três dimensões: o desempenho do aluno, o desempenho do professor e a adequação ao programa – currículo - projeto político-pedagógico. E estas, devem considerar a realidade do aluno, sua trajetória escolar e de vida. Portanto, é necessário que o professor tenha um plano de ensino elaborado para nortear seu trabalho. Desta forma, toda tarefa realizada pelos alunos deveria ter, por 71 intencionalidade básica, a investigação como ponto de reflexão sobre a prática dos envolvidos - professores e alunos. A avaliação acontece em todas as atividades com as trocas de informações do aluno, de seus colegas, do professor e da comunidade. Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino da Arte informam que: Avaliar implica conhecer como os conteúdos de Arte são assimilados pelos estudantes a cada momento da escolaridade e reconhecer os limites e a flexibilidade necessários para dar oportunidade à coexistência de distintos níveis de aprendizagem em um mesmo grupo de alunos. Para isso o professor deve saber o que é adequado dentro de um campo largo de aprendizagem para cada nível escolar, ou seja, o que é relevante o aluno praticar e saber nessa área (BRASIL, 1998, p. 95). Recomendam os PCNs de Arte (1998, p. 100) que, “ao avaliar, o professor precisa considerar a história do processo pessoal de cada aluno e sua relação com as atividades desenvolvidas na escola, observando os trabalhos e seus registros”. Para acatar essa recomendação, o professor precisa considerar informações e formação específica e continuada, sendo que ele convive com informações transitórias e que o conhecimento é sempre provisório, dialeticamente reconstruído. Segundo os PCNs de Arte, (1998, p. 101) “A avaliação em Arte constitui uma situação de aprendizagem em que o aluno pode verificar o que aprendeu, retrabalhar os conteúdos, assim como o professor pode avaliar como ensinou e o que seus alunos aprenderam”. Os PCNs de Arte, enfatizam: É importante que o aluno sinta no professor um aliado do seu processo de criação, um professor que quer que ele cresça e se desenvolva, que se entusiasma quando seus alunos aprendem e os anima a enfrentar os desafios do processo artístico. [...]. O aluno, que é julgado quantitativamente, [...], passa a se submeter aos desígnios das notas, sem autonomia, buscando condicionar sua ação para corresponder a juízos e gostos do professor. Este tipo de avaliação não colabora para a construção do conhecimento (BRASIL, 1998, p. 102). A avaliação mostra-se necessária, não só para o professor, mas para o próprio aluno. O professor pode conduzir sua prática avaliativa de forma que alcance efeitos 72 produtivos no rendimento escolar de seus alunos e na sua prática profissional. Por meio de uma avaliação criteriosa e consciente, o professor pode ser o responsável pelas transformações na escola e em seus alunos, na medida em que, de posse das informações que lhe permitem perceber o que deve ser mudado, se proponha a trabalhar em prol dessas transformações. Assim, entende-se que, a avaliação mostra-se mais do que uma mera classificação numérica, avaliar engloba uma série de fatores como: ajudar, incentivar, estimular, diagnosticar dificuldades e intervir; o que só é possível quando o professor é capacitado, é justo com os alunos e consigo mesmo.Um aluno, quando avaliado rigorosamente e tem sua individualidade ignorada, além de ser prejudicado no espaço escolar, poderá adotar, futuramente, em sua vivência social, esses mesmos critérios avaliativos, para si mesmo e para com os outros. Preconizam os PCNs de Arte (1998, p. 102) que “A função de avaliar não pode se basear apenas e tão somente no gosto pessoal do professor, mas deve estar fundamentada em certos critérios definidos [...]” . Para a definição desses critérios, o professor de Arte, munido dos conhecimentos adquiridos na sua formação, pode, em grande medida, considerar-se preparado para tal e, consequentemente, para realizar a avaliação do aprendizado de seus alunos, observando desde o início, os trabalhos desenvolvidos em sala de aula, o processo de criação, o interesse, o esforço, a dedicação e a vontade de aprender de cada um. O universo da avaliação em Arte representa um território bastante fértil para a investigação do professor, que pode explorar, documentar, contra-argumentar, construir uma ponte entre o conhecimento de sala de aula e o contexto externo. A forma como as aulas ocorrem, os conteúdos trabalhados, bem como as avaliações ou exposição dos trabalhos, trazem consigo um “retrato” da sua opção didática. Cada escola representa um território completamente distinto. E nesse sentido Gardner (2010) defende que: Uma escola centrada no indivíduo seria rica na avaliação das capacidades e tendências individuais. Ela procuraria adequar os indivíduos, não apenas a áreas curriculares, mas também a maneiras 73 particulares de ensinar esses assuntos. E depois dos primeiros anos, procuraria adequar os indivíduos aos vários tipos de vida e de opções de trabalho existentes em sua cultura (GARDNER, 2010, p.16). Gardner (2010) propõe um novo conjunto de papéis para os educadores, que poderia transformar esta visão em realidade. Que a escola tivesse os “especialistas em avaliação”, “o agente do currículo para o aluno” e o “agente de escolacomunidade”. Aos primeiros caberia tentar compreender potencialidades, as capacidades, interesses, inclinações e dificuldades dos alunos de uma escola, usando instrumentos de avaliação “justos para com a inteligência”. Quase toda avaliação depende indiretamente da medida das capacidades das inteligências linguística e lógico-matemática e são colocadas em um pedestal pedagógico nas escolas. Porém, se a escola atentar para avaliar outros tipos de inteligência diretamente, alguns alunos revelariam capacidades em áreas bastante diferentes. Ao segundo a tarefa seria auxiliar a combinação dos perfis, objetivos e interesses dos alunos a currículos e estilos de aprendizagem. E ao terceiro caberia a tarefa de adequar os alunos a oportunidades de aprendizagem na comunidade, buscando situações e opções não disponíveis na escola, para alunos cujos perfis cognitivos são diferenciados. Alunos que são incomuns, muitas vezes, considerados sem talento, teriam uma colocação na comunidade onde teriam chances de se desenvolver, de se realizar como pessoa humana e assegurar um papel profissional na comunidade. Este conjunto de papéis para os educadores envolveria uma complexa equação aluno-avaliação-currículo-comunidade que ocorreria adequadamente equilibrada. Na medida em que a avaliação gradualmente passa a fazer parte do cenário escolar, ela deixa de ser uma parte separada das atividades da sala de aula. Como num bom aprendizado, os professores e os alunos estão sempre avaliando. Não existe necessidade de “ensinar para a avaliação”, pois ela é onipresente. O objetivo seria, 74 portanto, aumentar a probabilidade dos alunos descobrirem um papel profissional ou ocupacional que combinasse com o seu perfil. Gardner (2010) acredita que qualquer nova forma de avaliação precisa satisfazer três critérios: 1º Deve ser justa para com a inteligência (não seja monitorada através das lentes da lógica ou da matemática); 2º Deve ser adequada em termos desenvolvimentais (utilizar técnicas apropriadas ao nível desenvolvimental da criança); 3º Deve estar ligada a recomendações (qualquer resultado vinculado às atividades recomendadas para a criança com o perfil intelectual) (GARDNER, 2010, p.66) Segundo esse autor, não se pode deixar que o uso de instrumentos padronizados, dominem a avaliação. Se os professores não forem capazes de avaliar a aprendizagem que ocorre em diferentes domínios, e através de diferentes processos cognitivos, as melhores inovações curriculares estão destinadas a permanecer inutilizadas. Para ele, as avaliações são contextualizadas. Elas refletem uma complexidade realística; o conteúdo é dominado como meio, não como um fim, e os alunos devem propor e esclarecer problemas, não apenas oferecer soluções. As medidas de avaliação pretendem ser úteis não somente para avaliar aquilo que os alunos aprenderam na escola, mas também como exemplo de uma boa pedagogia. Gardner (2010) chama a atenção para vários pontos relacionados às Artes Visuais, entre eles: 1º. “A avaliação da aprendizagem é crucial na Arte”. O sucesso de um programa de Arte não pode ser afirmado ou tomado como certo. Entretanto, as avaliações devem respeitar as inteligências específicas envolvidas, deve investigar aquelas capacidades e conceitos mais centrais na Arte. “Em vez de preparar um currículo que se adapte à avaliação, é necessário desenvolver avaliações que façam justiça àquilo que é mais importante em uma dada forma de Arte” (GARDNER, 2010, p. 124). 75 2º.” A aprendizagem artística não requer meramente o domínio de uma série de habilidades ou conceitos”. A Arte é uma área profundamente pessoal em que os alunos encontram seus próprios sentimentos, assim como os de outros indivíduos. ”Os alunos precisam de veículos educacionais que lhes permitam essa exploração; eles precisam ver que a reflexão pessoal é uma atividade respeitada e importante, e que sua privacidade não deve ser violada” (GARDNER, 2010, p. 124). 3º. “Em geral é arriscado, desnecessário, ensinar diretamente o discernimento artístico ou julgamentos de valor.” Entretanto, “é importante que os alunos compreendam que a Arte está permeada por questões de gosto e valor que importam para qualquer pessoa seriamente envolvida na Arte”. (GARDNER, 2010, p. 125). Essas questões podem ser melhor transmitidas através do contato com pessoas que realmente se importam com elas, que estão dispostas a apresentar e defender seus valores, mas que estão abertas à discussão e aceitam pontos de vista alternativos. 4º. A Arte é importante demais para ser deixada apenas com os “educadores”. Ela precisa ser um empreendimento cooperativo envolvendo artistas, professores, administradores, pesquisadores e os próprios alunos. Segundo Gardner (2010), estes pontos acima mencionados contribuíram para uma nova abordagem ao currículo e avaliação na Arte, chamada Arts PROPEL18. As ideias foram desenvolvidas a partir de 1985 com o apoio da Divisão de Arte e Humanidades da Fundação Rockefeller, o Harvard Project Zero unido ao Educational Testing Service e as escolas públicas de Pittsburg. O Objetivo, do projeto Arts PROPEL, resultante de vários anos de reflexão, “era o de desenvolver uma série de instrumentos de avaliação que pudessem documentar a aprendizagem artística durante o período final dos anos elementares e no ensino médio” (GARDNER, 2010, p. 125). Gardner (2010) assegura que: No começo tentou-se delinear os tipos de competência que se queria medir nos alunos, em três formas de Arte – música, arte visual e escrita imaginativa – observando três tipos de competência: produção – [...] pintar ou desenhar; escrever de forma imaginativa ou “criativa”; percepção ( efetuar distinções ou 18 O termo “Propel” significa propelir, impelir, impulsionar. 76 discriminações em qualquer forma de Arte – “pensar” artisticamente); e reflexão (distanciar-se das próprias percepções ou produções, ou das de outros artistas, e procurar entender os objetivos, métodos, dificuldades e efeitos atingidos). O termo PROPEL captura de modo acrônico este trio de competências, nas três formas de Arte enfatizando uma preocupação com a aprendizagem (learning) (GARDNER, 2010, p.126). Nos relatos desse autor, constatou-se que o ideal seria desenvolver instrumentos de avaliação adequados e administrá-los aos alunos de acordo com sua faixa etária. Concluiu-se que, na verdade, não há como avaliar competências e potencialidades sem que o aluno tenha tido alguma experiência significativa de trabalho artístico relevante. É necessário que os professores de Arte observem e examinem os alunos que já estão empenhados em atividades nessa disciplina. Os estudantes precisam de professores conscientes dos objetivos do programa educacional e sejam competentes em suas habilidades e entendimentos necessários sobre Artes Visuais. Para atingir esses objetivos desenvolveu-se módulos curriculares vinculados aos instrumentos de avaliação. Implementou-se um cuidadoso método de desenvolvimento de currículo e avaliação. Em cada forma de Arte, reuniu-se uma equipe multidisciplinar para definir as competências centrais naquela forma de Arte. Na área das Artes Visuais essas competências incluem sensibilidade ao estilo, apreciação de vários padrões de composição e a capacidade de planejar e criar um retrato ou uma natureza morta. Com base nos estudos de Gardner (2010), sabe-se que: Dentro da abordagem Arts PROPEL foram criados dois veículos educacionais: O primeiro tratava-se de uma série de exercícios chamados ”projeto de domínio” que deviam apresentar elementos perceptivos, produtivos e reflexivos. O projeto do domínio da composição funciona como um elemento tradicional das Artes Visuais – o arranjo das formas – e procura vincular este elemento às experiências produtivas e perceptivas do aluno (GARDNER, 2010, p.126). “No Arts PROPEL tentou-se criar um conjunto de projetos de domínio para cada forma de Arte os quais devem incluir a maioria dos conceitos importantes numa forma de Arte” (GARDNER, 2010, p.126). 77 Um segundo veículo educacional, chamado “processofólio” foi introduzido. São trabalhos em andamento, onde o aluno inclui os trabalhos concluídos, os esboços originais, desenhos provisórios, críticas deles mesmos e dos outros, trabalhos artísticos de outros que ele admira ou desgosta, e que tem a ver com seu projeto atual. Sabe-se que grande parte do Arts PROPEL foi dedicada à elaboração de sistemas de avaliação. Uma série de procedimentos de autoavaliação é apresentada em cada projeto de domínio. Os esboços e produto final do aluno, juntamente com suas reflexões são avaliados em várias dimensões qualitativas, tais como comprometimento, habilidades técnicas, imaginação e habilidades imaginativas críticas. Segundo Gardner (2010): Embora os projetos de domínio se prestem a várias formas de avaliação, a avaliação dos processofólios é uma operação mais desafiadora e delicada. As várias dimensões da avaliação ajudam a esclarecer o potencial único dos processofólios: a consciência de que o aluno tem de suas potencialidades; a capacidade de refletir corretamente; a capacidade de aproveitar a auto-crítica e de fazer uso da crítica dos outros; a sensibilidade em relação aos próprios marcos desenvolvimentais; a capacidade de utilizar produtivamente as lições dos projetos de domínio; a capacidade de descobrir e resolver novos problemas; a capacidade de relacionar projetos atuais com aqueles realizados em momentos anteriores e com aqueles que a pessoa espera realizar no futuro; a capacidade de passar facilmente de uma posição ou papel estético para outro, de forma adequada.O objetivo não é o de apenas avaliar em várias dimensões, mas também o de encorajar o aluno a desenvolver-se nestas dimensões.Este sistema de avaliação tem o potencial de alterar o que é discutido e valorizado na sala de aula (GARDNER, 2010, p.129-130). O Arts PROPEL foi adotado por vários sistemas escolares dos Estados Unidos. Em Cambridge, Massachusetts, por exemplo, houve o despertar de um grande interesse na utilização do Arts Propel nas Artes Visuais. Barbosa ( 2005) buscou inspiração nos estudos americanos para elaborar e sistematizar a Abordagem Triangular, onde fundamenta o ensino de Arte de forma consciente e coerente em sua relação com o conhecimento. Nessa concepção a autora defende um ensino que englobe o fazer, o fruir e o contextualizar a Arte, todos no mesmo patamar de importância e 78 compartilha suas investigações com os educadores brasileiros através de seus livros, artigos e palestras. Hernández (2000) afirma que tornam-se necessárias novas estratégias de avaliação que levem em conta essa variedade de conteúdos. A proposta curricular levada adiante por Gardner e pelo grupo vinculado ao Arts PROPEL reflete as pautas de avaliação que se relacionam com a orientação da Arte de caráter disciplinar, e sobre a qual Hernández realizou uma síntese que se reflete na FIG. 3. FIGURA 3 – ADAPTAÇÃO DA PROPOSTA CURRICULAR DO PROJETO ARTS PROPEL Conteúdo História Arte Seleção da Seleção histórica O que selecionar estudar Crítica vou para Seleção crítica Interessa-me? Estética Descrição, Interpretação Análise e Classificação Avaliação Análise estilística Significação histórica Significado e contexto histórico Como podemos pensar sobre o estilo: geral, histórico, pessoal? Análise visual Como podemos pensar sobre o estilo: geral, histórico, pessoal? Que significava em seu tempo? Perspectiva crítica e interpretativa Por que é importante para nós? Critérios de qualidade Como reajo diante da obra e por quê? O que penso sobre a qualidade da obra? Perspectiva histórica Contexto estético Aproximação ao valor Quais são suas perspectivas em relação à arte? Em que medida a arte se relaciona com a vida? Processo Forma Expressão Que decisões estou tomando O que fazendo? Podemos considerar como uma boa manifestação artística? Em que sentido? Com que argumentos? Integridade Funciona? Does this work? Arte/não-arte Isso é arte? Prática Artística Fonte – HERNÁNDEZ, 2000, p.160. estou O que digo? 79 Partindo dessa e de outras propostas que vão num sentido similar na medida em que levam em conta uma parte do conhecimento disciplinar relacionado com a Arte, Hernández (2000) observa que vale a pena destacar a aplicação de Stavropoulos (1993) sobre os trabalhos de Prawat ( 1989, 1996) e de Koroscik (1990, 1992). Essa autora projetou um instrumento de avaliação levando em conta o conhecimento básico, as estratégias de busca e a complexidade das transferências que os estudantes realizam e o relacionou com quatro dimensões do conhecimento artístico: formal (Elementos/Princípios, Meio, Técnica); descritiva (Objetos, Figuras, Representações, Símbolos, Imagens), interpretativa (Significado, Emoção, Sentimento, Expressão) e histórica. (Nomes, Dados, Títulos, Localizações, Período/ Movimento, Passado do Artista, Significado). Na estratégia de busca foram levantados quatro marcos para a utilização do aluno: Marco de conteúdo; de resolução de problemas; epistemológico e de pesquisa. Cada uma dessas dimensões é avaliada de acordo com uma escala que representa o grau de complexidade de compreensão dos alunos, em termos de níveis alto, baixo e inadequado. Hernández (2000) aborda alguns aspectos e razões para avaliar a aprendizagem do conhecimento em Artes Visuais e alerta que, no momento de planejar a avaliação , é necessário identificar os seguintes aspectos: a natureza dos conhecimentos relacionados com a Arte (com a cultura visual); a posição diante da dicotomia objetividade-subjetividade da resposta estética e seu impacto no ensino; a concepção da necessidade, ou não, da avaliação ( não como qualificação) relacionada à Arte na educação. O autor pontua que após esclarecer estas concepções, conscientiza-se que há necessidade de avaliar pelas seguintes razões: Para valorizar o programa de ensino que se realiza; porque os estudantes necessitam saber como estão aprendendo; porque é uma oportunidade para informar os outros sobre a educação em Artes Visuais. Além disso, permite: relacionar os objetivos e finalidades educativas com a aprendizagem realizada pelos estudantes; diagnosticar o conhecimento básico dos estudantes e suas necessidades; revisar e valorizar o ensino que se ministra; reconhecer, descrever, informar e comparar a aprendizagem dos estudantes. 80 “O que pode ser avaliado em Arte?” Hernández (2000, p.162) problematiza e aborda aspectos que podem ser avaliados: O conhecimento e a compreensão sobre os fenômenos e problemas relacionados com a arte, as obras e os artistas; a capacidade de dar forma visual às ideias; a argumentação que apoia temas e questões relativas à arte; a descrição, análise e interpretação das obras de arte e de seus significados; a curiosidade, a inventividade, a inovação, a reflexão e a abertura a novas ideias; a clareza no momento de expressar ideias, de maneira oral e escrita, sobre a arte; o fato de expressar e sintetizar ideias nas discussões sobre arte ou sobre as produções artísticas; a diferenciação das qualidades visuais na natureza ou no meio humano; a participação ativa em todas as atividades; a competência na utilização das ferramentas, dos equipamentos, dos processos e das técnicas relacionadas com as diferentes manifestações da cultura visual; as atitudes para as manifestações artísticas e seu papel na vida das pessoas ( HERNANDEZ, 2000, p.162 ). Esses aspectos podem servir de ponto de partida para reformular e ampliar os conhecimentos, atitudes e procedimentos que possam estar relacionados com a Arte na educação. Barbosa (2005) dá um destaque teórico à avaliação em Arte, quando remete o assunto a artigos relevantes: como o de Boughton (2004) e Zimermann (2004). Boughton (2004, citado por Barbosa 2005, p.375), compõe a diversidade de vozes e visões que abordam tópicos importantes para o ensino e aprendizagem da Arte e discute a avaliação na teoria e na prática, partindo da constatação de que: A concepção de avaliação em Arte no ensino e aprendizagem está dando lugar a uma nova visão. Compreende-se que apesar dos melhores esforços de peritos para claramente estabelecer os padrões esperados nas Artes Visuais, conduzir uma avaliação permanece como uma das mais complexas tarefas que os professores enfrentam em sua vida diária (BOUGHTON, 2004, citado por BARBOSA, 2004, p.375). Segundo Boughton (2004, apud Barbosa, 2005), diversos fatores contribuem para esta complexidade: Em primeiro lugar, para satisfazer diferentes propósitos educacionais a avaliação requer dos professores várias formas de análise e de relato; 81 Em segundo lugar, sabe-se que muitas discussões sobre avaliação na área são confusas por causa das discordâncias ou do não entendimento de termos-chave. E ainda, a limitação das palavras para descrever distinções sutis em qualidade das formas visuais, inibe a aplicação dos padrões bem como o uso de critérios de julgamento. Terceiro, sabe-se que o corrente esforço de políticos e diretores de escolas para engenhosamente definir a natureza da área quanto aos padrões de execução, ocorreu em um momento da história da Arte e da educação caracterizado por árduos desafios às ortodoxias modernistas estabelecidas. Novas ideologias pós-modernas questionaram dogmas sedimentados sobre a natureza da educação, e particularmente a natureza da própria Arte. Em quarto, é importante saber que recentes ideias e pesquisas proporcionaram um leque de sugestões para formas alternativas de evidência (dados), e também métodos de análise na condução da avaliação. Avaliação "autêntica" é um termo de uso popular que carrega consigo certas implicações para a aplicação em classe. Eisner (1972, 1996) percebeu a necessidade que os educadores tinham para diferenciarem os conceitos: avaliação, medida, teste e atribuição de nota, a fim de obter-se clareza em discussões sobre avaliação. Assim como a medida, o teste também está logicamente desvinculado da avaliação e requer que indivíduos respondam a tarefas das quais se extrai o produto para estimativa. Para Eisner (1996), tanto a medida quanto o teste produzem evidências que podem ser usadas para auxiliar os professores a avaliarem o aprendizado de seus alunos. A atribuição de notas é um processo reducionista usado para atribuir um símbolo como número ou letra, no qual se baseia um julgamento refletindo o grau alcançado dentro de um critério particular (BOUGHTON, 2004, apud BARBOSA, 2005). Segundo a investigação de Boughton (2004): 82 Diferentes pontos-de-vista observados por modernistas e pósmodernistas continuam a levantar questionamentos aos educadores sobre questões pedagógicas centrais de avaliação como a virtude da originalidade na produção de imagens (Freedman, 1994a; MacGregor, 1992), a relação da arte com o contexto (Chalmers, 1985; Blandy & Hoffman, 1993), os méritos relativos entre arte popular e Belas Artes (Duncum, 1996), a influência das novas tecnologias sobre a expressão (Freedman & Relan, 1992), o valor que têm as formas eurocêntricas de expressão em relação às de minorias culturais (Anderson, 1995; Garber, 1995; Hart, 1991; Stuhr, 1994), e questões de gênero em Arte na Educação (BOUGHTON, 2004, apud BARBOSA, 2005 p.379). Apesar da forte defesa contra os desafios aos valores estéticos tradicionais, a discussão entre proponentes de velhas e novas ideologias obscureceu os indicadores dos valores formalistas tradicionais (Eisner, 1994; Feldman, 1992; Smith, 1992), tornando mais difícil aos professores-avaliadores determinar uma base sobre a qual avaliar a qualidade da produção artística de seus alunos.. Segundo Boughton (2004) : Assim como é na comunidade da Arte mais ampla, há uma necessidade de se continuar a promover debates institucionais entre professores e membros dessa comunidade para examinar a validade de se “podar” o trabalho artístico vanguardista e trazer à tona a natureza da Arte (BOUGHTON, 2004, apud BARBOSA, 2005, p.380). Estratégias de avaliação estão aqui comentadas como um suporte e sugestões para os professores no processo avaliativo em Arte na educação. Recentes julgamentos e pesquisas sobre avaliação em Arte nos Estados Unidos indicam a rejeição do teste como um meio apropriado de determinar o entendimento artístico (GARDNER, 1996; SULLIVAN, 1993; ZIMMERMAN, 1994). O teste, segundo Gardner (1996); Wolfe (1988); Zimmerman, (1994), requer que os alunos atuem de maneira que não exemplificam os tipos de comportamento que alguém usaria, para manifestar seu conhecimento em um contexto cultural normal. Nesse sentido o teste é uma maneira não autêntica de determinar se alguém possui tipos específicos de conhecimento prático 19 em Arte. Estratégias de Avaliação Autêntica requerem alunos engajados em tarefas a longo prazo ou projetos desafiadores, complexos, significativos e que reflitam situações da vida real (BOUGHTON, 2004, apud BARBOSA, 2005). 19 Avaliação alternativa com base no desempenho do aluno. 83 A Avaliação é concebida, não como informação resgatada (Sullivan,1993), mas como uma forma de mapear os caminhos intelectuais dos estudantes, seu pensamento e entendimento. O projeto de Arts PROPEL conduziu nas escolas públicas de Pittsburg (Gardner, 1989, 1996; Wolfe, 1988), a longo prazo, um esforço de pesquisa no qual se explorou, dentre outras coisas, estratégias alternativas de avaliação (autêntica), baseadas em pastas, material escrito reflexivo e diálogo (BLAIKIE, 1994 in BOUGHTON, 2004). Segundo Boughton (2004) outro elemento importante para as estratégias alternativas de avaliação é a importância da autorreflexão crítica do estudante, que pode aparecer em pastas ou diários, tanto escritos quanto digitados. Somando-se às pastas compiladas, e comentários reflexivos escritos ou gravados, outras evidências foram recomendadas como apropriadas para a consideração durante a avaliação. Zimmerman (1994) descreveu uma série de medidas que incluem exposições dos trabalhos dos estudantes e de suas atuações; perfil de seu comportamento; questionários e gravações de entrevistas com os estudantes; métodos de multiplicação (que requerem do aluno que reensinem aos colegas conceitos recém-aprendidos); vídeos com o comportamento dos estudantes; e relatos verbais imediatos. Os critérios usados sobre práticas de avaliação, pelos professores, variam pouco de país para país. A maioria dos professores emprega uma variação sobre três categorias de critério: 1) Relativa habilidade de desenvolver e interpretar um tema; 2) Nível de especialização técnica; 3) Relativa habilidade de atingir a sensibilidade expressiva pessoal, através do uso de várias técnicas e processos 20 (BOUGHTON , 2004, citado por BARBOSA, 2005, p. 384). Sustenta-se que estudiosos pós-modernos desafiaram ortodoxias tradicionais da avaliação em Arte-Educação. Segundo Boughton (2004) levantaram questões específicas sobre a originalidade na produção de imagens: se estudar o contexto social do objeto de Arte do que sua forma é mais importante; se a Arte popular merece a mesma relevância das Belas Artes; se as novas tecnologias têm alterado significantemente a natureza de fazer Arte e análise; se deve ser julgada a Arte de 20 Doug Boughton – Northern Illinois University – USA “Avaliação: da teoria à prática”( tradução de Ana Helena Rizzi Cintra – USP) 84 minorias culturais de acordo com princípios eurocêntricos de estética, e se a Arte sobre a mulher, ou feita por ela, como era no passado, deve ser considerada diferentemente. Estas questões merecem ser consideradas na avaliação do aprendizado do estudante, e demandam contínuos debates entre aqueles que avaliam seu trabalho. Aponta-se que a "avaliação autêntica", de acordo com Boughton (2004), rejeita o teste em favor de projetos complexos, desafiadores, que reflitam situações da vida real dos alunos e que sejam de longo prazo. Na pasta incluem-se, as reflexões do estudante gravadas ou escritas, o diálogo entre o professor e o aluno que são dados coletados como evidências do trabalho em desenvolvimento. Discute-se que os estudantes podem coletar na pasta, para avaliação, trabalhos em andamento; trabalhos completados; rascunhos e anotações de ideias relacionadas ao trabalho; comentários e avaliações dele, professor e colegas; ensaios sobre o trabalho; fotografias e outros registros de fontes (BOUGHTON, 2004 apud BARBOSA, 2005). Observa-se que nos diálogos entre professor e aluno, professores tendem a não ouvir os estudantes com cuidado; a serem diretivos através de aulas expositivas. No entanto, os estudantes entendem mais de seu próprio sentimento e sensibilidade do que os adultos pensam. O diálogo, apropriadamente conduzido pode revelar valiosos insights para o processo de fazer Arte. “Constata-se que julgamentos globais podem produzir um maior grau de concordância dos juízes do que julgamentos que usam critérios de análise” BOUGHTON,2004, p.384). Recentemente, os exames e avaliações têm se mostrado estratégias capazes de provocar mudanças na educação. O interesse nesses dois tipos de avaliação não se limita apenas aos Estados Unidos, mas é de âmbito mundial. Zimmerman 21 (2004, citada por Barbosa, 2005) pontua que as avaliações medem a aquisição de 21 Enid Zimmerman – Universidade de Indiana, Bloomington, Estados Unidos. 85 conhecimentos e as habilidades dos alunos, mediante a resolução de problemas autênticos e realísticos. São avaliações autênticas de estudantes de Arte no contexto de sua comunidade que envolvem tanto a verificação dos procedimentos, como dos produtos da aprendizagem. Nessas avaliações o aluno tem a oportunidade de engajar-se em atividades integradas, complexas e desafiadoras, cuja colaboração de professores, estudantes e membros da comunidade local se faz necessária. O ambiente educacional local, a natureza e a diversidade da população estudantil, as filosofias e estratégias preferidas pelos professores, as diretrizes locais com respeito ao conteúdo e administração do programa, são fatores essenciais para que este processo seja bem-sucedido. Conforme Zimmerman (2004): As avaliações autênticas habitualmente são avaliações alternativas com base no desempenho do aluno, de quem são requeridas soluções para problemas da vida real, envolvendo decisões, similares às feitas por profissionais, como críticos de arte, historiadores de arte ou artistas e aplicáveis fora do ambiente da sala de aula. As tarefas envolvidas encorajam os alunos a aplicar conhecimentos prévios e habilidades relevantes para resolver “problemas realísticos” ao completar essas tarefas. Tem–se como exemplo, a participação em debates sobre lugares adequados para exposição de trabalhos de arte, mantendo portfólios do trabalho em processo e do trabalho acabado, exibidos posteriormente em áreas públicas ou apresentados em publicações de críticos de arte em jornais locais (ZIMMERMAN, 2004, apud BARBOSA, 2005, p. 405-406). Observa-se que a avaliação autêntica em sala de aula, conforme Shepard (1989), verifica a introdução básica construída pelo professor, sendo no contexto local adaptável, significativa e estruturada para que os alunos desenvolvam tarefas que tenham valor educacional intrínseco. Nesse contexto, a autoavaliação representa importante papel, os próprios alunos apresentam os seus trabalhos de forma pública e oralmente, e apresentam suas conclusões para assegurar que dominam as tarefas que assumiram. 86 Muitos pesquisadores22 sugerem que, ao conduzir avaliações autênticas, devem ser desenvolvidos diversos critérios usando múltiplas estratégias sobre uma grande variedade de tarefas, de forma a ter uma visão abrangente do progresso do aluno. Zimmerman (2004) contribui com suas investigações a respeito desse tipo de avaliação que contrasta com medidas padronizadas, quantitativas e qualitativas em Arte. Verifica-se que a avaliação autêntica envolve seleção, coleta e interpretação de informações a respeito de três tipos de atribuições: atribuições do programa, atribuições de aprendizagem do estudante e atribuições do professor. Alguns itens relativos à avaliação alternativa, segundo Zimmerman (2004), devem ser verificados para estabelecer um programa de avaliação autêntica: 1. Assegurar que os objetivos da avaliação sejam coerentes com os objetivos instrutivos; 2. Examinar os procedimentos e os produtos de aprendizagem; 3. Integrar as metodologias da avaliação com resultados de aprendizagem e conteúdo do currículo; 4. Observar a aprendizagem do aluno como ativa, holística e complexa; 5. Planejar processos diretamente relacionados às propostas de avaliação; 6. Gerar equilíbrio entre tarefas e resultados pretendidos do aluno; 7. Reconhecer quais são os critérios vitais para uma avaliação crítica do aluno; 8. Usar múltiplos recursos para medir o desempenho de tarefas que não sejam claras ou que requeiram criatividade, análise e integração do conhecimento; 9. Incluir uma ampla gama de competências que requeiram considerável grau de iniciativa do aluno. A avaliação autêntica encoraja o aluno a tornar-se participante ativo em sua aprendizagem e a incentivar pais e membros da comunidade a ser parceiros ativos nesse processo, e Zimmerman (2004) observa: Quando a herança artística dos estudantes e de suas comunidades locais é incorporada às avaliações autênticas, pesquisadores, estudantes, pais, professores e membros da comunidade podem aprender a valorizar as tradições de sua cultura e de outros lugares. Assim, são capazes de começar a agir de modo a assegurar que as avaliações em escolas locais sejam responsáveis pelos conceitos expressos em sua cultura e pela compreensão do que é Arte, como e por que é feita, das diferentes em experiências humanas e da variedade de contextos nos quais a Arte é criada e continua a ser criada (ZIMMERMAN, 2004, apud BARBOSA, 2005, p. 417). 22 Clark e Zimmerman, (1977, 2004); Rudner e Boston, (1994); Zimmerman, (1992, 1997b) 87 Os critérios e instrumentos para a avaliação autêntica ( que serão vistos no próximo capítulo) são recursos valiosos que serão somados e discutidos a outros recursos, como uma forma variada de se trabalhar a avaliação no ensino e aprendizagem das Artes Visuais e como possibilidade de contribuir para a literatura no campo das avaliações. 88 CAPÍTULO 3 INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO Os instrumentos de avaliação do ensino-aprendizagem são muitos e podem variar segundo a disciplina, as circunstâncias e os objetivos que se quer alcançar. No entanto, é preciso esclarecer aos professores que não se deve ficar presos a instrumentos tradicionais ou contemporâneos, superados ou atuais.Todos eles são válidos, desde que sejam aplicados de modo dinâmico, propiciando exercício de reflexão e espírito crítico do aluno. A avaliação, que durante décadas foi um instrumento ameaçador e autoritário, está mudando, mas continua sendo um dos grandes nós da educação moderna. A FIG. 4, montada com base em Sant’Anna e Ramos (2008), apresenta os instrumentos de avaliação mais usados na escola. Todos os especialistas concordam que nenhum é melhor do que o outro. O ideal é mesclá-los, adaptando-os às necessidades e à realidade de cada turma, e é óbvio, aos objetivos de cada educador. O presente capítulo apresenta e discute o potencial de cada instrumento de avaliação do processo ensino-aprendizagem em geral e, especificamente, em Arte, tendo em vista o foco desta pesquisa. Nesse sentido, traz os instrumentos indicados para a avaliação em geral constantes na Resolução SEE nº 2.197 e nas Diretrizes Curriculares Nacionais como também os instrumentos indicados para a avaliação em Arte constantes no CBC, na perspectiva do Arts PROPEL e avaliação autêntica, assim como os critérios e as condições necessárias para a execução da mesma. 89 FIGURA 4 - OS NOVE INSTRUMENTOS MAIS COMUNS USADOS NA AVALIAÇÃO DO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM. INSTRUMENTOS CARACTERÍSTICAS 1 Prova objetiva Série de perguntas diretas, para respostas curtas, com apenas uma solução possível. 2 Prova dissertativa Série de perguntas que exigem capacidade de estabelecer relações, resumir, analisar e julgar. 3 Seminário Exposição oral para um público leigo, utilizando a fala e materiais de apoio adequados ao assunto. 4 Trabalho em grupo Atividades de natureza diversa (escrita, oral, gráfica, corporal etc) realizadas coletivamente. 5 Debate Discussão em que os alunos expõem seus pontos de vista a respeito de assunto polêmico. 6 Relatório individual Texto produzido pelo aluno depois de atividades práticas ou projetos temáticos. 7 Autoavaliação Análise oral ou por escrito, em formato livre, que o aluno faz do próprio processo de aprendizagem. 8 Observação Análise do desempenho do aluno em fatos do cotidiano escolar ou em situações planejadas. 9 Conselho de classe Atividade que reúne um grupo de professores da mesma série, visando em conjunto chegar a um conhecimento mais sistemático da turma, bem como acompanhar e avaliar cada aluno individualmente, através de reuniões periódicas. Fonte – SANT’ANNA; RAMOS, Revista Nova Escola, 2008. O instrumento nº 1, prova objetiva, tem como vantagens precisão e clareza. É mais limitante do que a prova subjetiva. É fácil e rápida de elaborar e corrigir; pode medir tanto o raciocínio como a memória; permite a solução de grande quantidade de itens em pouco tempo, o que faculta ao professor avaliar uma amostragem relativamente grande de assuntos; é aplicável a qualquer área do conhecimento . É aquela em que as questões são de múltipla escolha ou do tipo “certo e errado”. O instrumento nº 2, prova dissertativa, é a prova com questões abertas. Difícil, porém tem como vantagem o aluno mostrar capacidade de redação e habilidade de contornar o problema central; subjetivismo presente na construção e no julgamento; fundamental a competência de quem julga as respostas; liberdade ao aluno de 90 mostrar a sua individualidade; encoraja o aluno a organizar e interpretar; boa para compreensão, aplicação e análise; melhor para habilidade de síntese. O instrumento nº 3, seminário, tem como vantagem contribuir para a aprendizagem do ouvinte e do expositor, exige pesquisa, planejamento e organização das informações; desenvolve a oralidade em público. O instrumento nº 4, trabalho em grupo, possibilita o trabalho organizado em classes numerosas e a abrangência de diversos conteúdos em caso de escassez de tempo. Esse procedimento não tira do professor a necessidade de buscar informações para orientar as equipes. Nem deve substituir os momentos individuais de aprendizagem. O instrumento nº 5, debate, desenvolve a habilidade de argumentação e a oralidade; faz com que o aluno aprenda a escutar com um propósito; aprenda a defender uma opinião fundamentando-a em argumentos convincentes. O instrumento nº 6, relatório individual, traz a possibilidade de avaliar o real nível de apreensão de conteúdos depois de atividades coletivas ou individuais. Possibilita ainda, averiguar se o aluno adquiriu conhecimento e se domina a estrutura de um texto. O instrumento nº 7, autoavaliação, permite que o aluno torne-se sujeito do processo de aprendizagem, que adquira responsabilidade sobre si mesmo, aprenda a enfrentar limitações e a aperfeiçoar potencialidades. Possibilita ainda, ao aluno, adquirir capacidade de analisar suas aptidões e atitudes, pontos fortes e fracos. O instrumento nº 8, observação, traz a possibilidade de perceber como o aluno constrói o conhecimento, seguindo de perto todos os passos desse processo. Esse instrumento serve como uma lupa sobre o processo de desenvolvimento do aluno e permite a elaboração de intervenções específicas para cada caso. O instrumento nº 9, conselho de classe, favorece a integração de professores, a análise do currículo e a eficácia dos métodos utilizados; facilita a compreensão dos fatos com a exposição de diversos pontos de vista; permite compartilhar informações 91 sobre a classe e sobre cada aluno para embasar a tomada de decisões. O resultado final deve levar a um consenso da equipe em relação às intervenções necessárias no processo ensino-aprendizagem considerando as áreas afetiva, cognitiva e psicomotora dos alunos (SANT’ANNA; RAMOS, 2008). Em consonância com a legislação nacional, com os fundamentos e procedimentos definidos pelos Conselhos Nacional e Estadual de Educação, com as normas do Sistema Estadual de Ensino de Minas Gerais e com a estratégia governamental de longo prazo definida no Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado – PMDI 20112030, a Secretaria de Estado de Educação, através da Resolução nº 2.197, de 26 de outubro de 2012, no uso de sua competência resolveu dispor no Título V, art.61 a 89, as diretrizes para a avaliação da aprendizagem, que entrou em vigor a partir do ano letivo de 2013. No que diz respeito aos instrumentos avaliativos o art.70 da resolução esclarece: Na avaliação da aprendizagem, a escola deverá utilizar procedimentos, recursos de acessibilidade e instrumentos diversos, tais como a observação, o registro descritivo e reflexivo, os trabalhos individuais e coletivos, os portfólios, exercícios, entrevistas, provas, testes, questionários, adequando-os à faixa etária e às características de desenvolvimento do educando e utilizando a coleta de informações sobre a aprendizagem dos alunos como diagnóstico para as intervenções pedagógicas necessárias (MG/SEE, 2012, p. 66). A enumeração dos instrumentos de avaliação é um diferencial nessa proposta em relação às diretrizes básicas de ensino previstas anteriormente pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/96. Alguns desses instrumentos já vêm sendo utilizados no campo da educação há várias décadas e outros apresentam-se como alternativas para o desempenho do aluno abrindo-se um leque de possibilidades. Assim, se inicia um novo processo. 92 3.1. Os instrumentos usados na avaliação em Artes Visuais As Artes Visuais, além das formas tradicionais – pintura, escultura, desenho, gravura, arquitetura, objetos, cerâmica, cestaria, entalhe -, incluem outras modalidades que resultam dos avanços tecnológicos e transformações estéticas do século XX: fotografia, moda, artes gráficas, cinema, televisão, vídeo, computação, performance, holografia, desenho industrial, arte em computador. Cada uma dessas modalidades artísticas, segundo os PCNs de Arte (1998), tem a sua particularidade e é utilizada em várias possibilidades de combinações entre elas, por intermédio das quais os alunos podem expressar-se e comunicar-se entre si e com outras pessoas de diferentes maneiras. No mundo contemporâneo as linguagens visuais ampliam-se, fazendo novas combinações e criam novas modalidades. A escola, como relatado nos PCNs de Arte (1998), deve colaborar para que os alunos passem por um conjunto amplo de experiências de aprender e criar, articulando percepção, imaginação, sensibilidade, conhecimento e produção artística pessoal e grupal. A avaliação no processo de ensino-aprendizagem de Arte precisa ser realizada com base nos conteúdos, objetivos e orientação do projeto educativo na área e tem três momentos para sua concretização, de acordo com os PCNs de Arte (1998): A avaliação pode diagnosticar o nível de conhecimento artístico e estético dos alunos, nesse caso costuma ser prévia a uma atividade; a avaliação pode ser realizada durante a própria situação de aprendizagem, quando o professor identifica como o aluno interage com os conteúdos e transforma seus conhecimentos; a avaliação pode ser realizada ao término de um conjunto de atividades que compõem uma unidade didática para analisar como a aprendizagem ocorreu (BRASIL,1998,p.56) Quanto aos objetivos gerais das Artes Visuais, apresentados nos PCNs de Arte (1998), espera-se que os alunos do Ensino Fundamental sejam capazes de: Expressar, representar ideias, emoções, sensações por meio da articulação de poéticas pessoais, desenvolvendo trabalhos individuais e grupais; 93 construir, expressar e comunicar-se em artes plásticas e visuais articulando a percepção, a imaginação, a memória, a sensibilidade e a reflexão, observando o próprio percurso de criação e suas conexões com o de outros; interagir com variedade de materiais naturais e fabricados, multimeios (computador, vídeo, holografia, cinema, fotografia), percebendo, analisando e produzindo trabalhos de Arte; reconhecer, diferenciar e saber utilizar com propriedade diversas técnicas de Arte, com procedimentos de pesquisa, experimentação e comunicação próprios; desenvolver uma relação de autoconfiança com a produção artística pessoal, relacionando a própria produção com a de outros, valorizando e respeitando a diversidade estética, artística e de gênero; identificar a diversidade e inter-relações de elementos da linguagem visual que se encontram em múltiplas realidades (vitrines, cenário, roupas, adereços, objetos domésticos, movimentos corporais, meios de comunicação), perceber e analisá-los criticamente; conhecer, relacionar, apreciar objetos, imagens, concepções artísticas e estéticas — na sua dimensão material e de significação —, criados por produtores de distintos grupos étnicos em diferentes tempos e espaços físicos e virtuais, observando a conexão entre essas produções e a experiência artística pessoal e cultural do aluno; freqüentar e saber utilizar as fontes de documentação de Arte, valorizando os modos de preservação, conservação e restauração dos acervos das imagens e objetos presentes em variados meios culturais, físicos e virtuais, museus, praças, galerias, ateliês de artistas, centros de cultura, oficinas populares, feiras, mercados; compreender, analisar e observar as relações entre as Artes Visuais com outras modalidades artísticas e também com outras áreas de conhecimento humano (Educação Física, Matemática, Ciências, Filosofia etc.), estabelecendo as conexões entre elas e sabendo utilizar tais áreas nos trabalhos individuais e coletivos; 94 conhecer e situar profissões e os profissionais de Artes Visuais, observando o momento presente, as transformações históricas já ocorridas, e pensar sobre o cenário profissional do futuro. Segundo opinião de Gardner (2010), a missão de professores e alunos é empenharse numa reflexão regular e apropriada acerca dos objetivos das Artes Visuais, das várias maneiras de atingi-los, de seu sucesso (ou falta do sucesso) na realização desses objetivos, e das implicações da avaliação na reconsideração dos objetivos e dos procedimentos. Os PCNs de Arte (1998) consideram que é fundamental que o professor discuta seus instrumentos, métodos e procedimentos de avaliação com a equipe da escola. O professor precisa ser avaliado sobre as avaliações que realiza, pois a prática pedagógica é social, de equipe de trabalho da escola e da rede educacional como um todo. Além dos objetivos, os PCNs de Arte (1998) apresentam os critérios de avaliação em Artes Visuais e o que se pretende avaliar dentro de cada um desses critérios. São eles: Criar formas artísticas por meio de poéticas pessoais; Estabelecer relações com o trabalho de Arte produzido por si, por seu grupo e por outros sem discriminação estética, artística, étnica e de gênero; Identificar os elementos da linguagem visual e suas relações em trabalhos artísticos e na natureza; Conhecer e apreciar vários trabalhos e objetos de Arte por meio das próprias emoções, reflexões e conhecimentos e reconhecer a existência desse processo em jovens e adultos de distintas culturas; Valorizar a pesquisa e a freqüentação junto às fontes de documentação, preservação, acervo e veiculação da produção artística. Nas aulas de Arte, os alunos do Ensino Médio ampliam seus estudos realizados no Ensino Fundamental. Ao darem continuidade ao seu aprendizado de fazer produtos 95 em linguagens artísticas, podem aperfeiçoar seus modos de elaborar ideias e emoções, de maneira sensível, imaginativa, estética tornando-as presentes em seus trabalhos de Artes Visuais e Artes Audiovisuais. A partir das culturas vividas com essas linguagens no seu meio sócio-cultural e integrando outros estudos, pesquisas, confrontando opiniões, refletindo sobre seus trabalhos artísticos, os alunos vão adquirindo competências que se estendem para outras produções ao longo de sua vida com a Arte. Consolidando-se no cotidiano escolar, os instrumentos avaliativos de um modo geral podem ser adotados especificamente para o ensino de Arte. Segundo Liblik (2005) os exemplos a seguir podem ampliar esse horizonte. Instrumentos individuais: Provas orais (estilo de pintores); Provas escritas – papel e lápis (História da Arte); Trabalhos individuais parciais (relatórios); Trabalhos individuais somativos (portfólio); Autoavaliação (com questionamentos); Processofólio (estratégia do Arts PROPEL)23. Instrumentos coletivos: Debates (com dois grandes grupos de argumentação); Painéis (com murais); Seminários: ( com transposição de saberes); Estudo de casos (numa situação determinada); Trabalhos em grupo (com formas de apresentação variada); Provas elaboradas - resolvidas em grupo (a partir de um texto dado); Psicodrama (como avaliação metafórica); Novas Mídias (empregando as ferramentas e programas dos computadores); Avaliação dos exercícios plásticos (desenho, pintura, recorte, colagem, montagem, modelagem, gravura, escultura, etc.); Exposição dos resultados plásticos ( com observação, comentários ); Avaliação de projetos (de maneira processual e somativa) . A definição dos Conteúdos Básicos Comuns (CBC) para os anos finais do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio constitui um passo importante no sentido de tornar a Rede Estadual de Ensino de Minas num sistema de alto desempenho. Para tanto surgiu uma proposta curricular de Arte do Ensino Fundamental – 6º a 9º ano e 23 Arts PROPEL: Uma nova abordagem ao currículo e avaliação nas artes, principalmente no nível do ensino médio. Embora alguns aspectos do Arts PROPEL sejam compartilhados por outras iniciativas contemporâneas, a abordagem difere tanto em termos de suas origens intelectuais quanto em sua mistura específica de componentes (Gardner, 2010). 96 Ensino Médio redigida no período de 2003 a 2010 para embasar o trabalho dos professores. A importância dos CBCs justifica tomá-los como base para a elaboração da avaliação anual do Programa de Avaliação da Educação Básica (PROEB), para o Programa de Avaliação da Aprendizagem Escolar (PAAE) e para o estabelecimento de um plano de metas para cada escola. O progresso dos alunos, reconhecidos por meio dessas avaliações, constitui a referência básica para o estabelecimento de sistema de responsabilização e premiação da escola e de seus servidores. Ao mesmo tempo, a constatação de um domínio cada vez mais satisfatório desses conteúdos pelos alunos gera conseqüências positivas na carreira docente de todo professor. A avaliação, neste currículo, será de metodologia formativa, visando à construção de conhecimentos durante todo o processo pedagógico e abrangendo as diversas áreas (a factual, a conceitual, a comportamental e a atitudinal) de maneira integrada. Pretende-se, assim, obter não só dados quantitativos, mas principalmente qualitativos, de forma a poder, constantemente, reformular e ressignificar tanto conteúdos quanto ações. Sendo assim, professor e aluno são agentes efetivos do processo educativo em seus vários aspectos. No aspecto factual segundo Zabala (2010, p. 202): “Uma aprendizagem significativa de fatos envolve sempre a associação dos fatos aos conceitos que permitem transformar este conhecimento em instrumento para a concepção e interpretação das situações ou fenômenos que explicam”. Zabala (2010, p. 205), quanto ao aspecto conceitual, refere-se aos conceitos construídos. “Resolução de conflitos ou problemas a partir do uso dos conceitos; exercícios que obriguem os alunos a usarem o conceito”. Quanto ao aspecto comportamental, referente à transformação dos fatos e conceitos que podem acarretar no comportamento do aluno, Zabala (2010, p.207) afirma: “ O 97 que define sua aprendizagem não é o conhecimento que se tem dele, mas o domínio de transferi-lo para a prática”. O aspecto atitudinal, refere-se à mudança de atitudes na vida do aluno. Conforme Zabala (2010): A fonte de informação para conhecer os avanços nas aprendizagens de conteúdos atitudinais será a observação sistemática de opiniões e das atuações nas atividades grupais, nos debates das assembleias, nas manifestações dentro e fora da aula, nas visitas, passeios e excursões, na distribuição das tarefas e responsabilidades, durante o recreio, na organização dos espaços, na preocupação com as questões estéticas no dia a dia, etc.(ZABALA, 2010, p. 209). Para que sejam obtidos resultados significativos no processo educacional, é preciso que esses aspectos sejam interagentes, uma vez que a construção do conhecimento é um movimento dinâmico. As estratégias de avaliação em Arte podem ser as mais variadas e deverão ser selecionadas pelo professor, dependendo de sua disponibilidade e da infraestrutura física que a escola oferece. De acordo com os autores dessa proposta, Pimentel et al. (2010), segue, para efeito de exemplo, uma lista com alguns instrumentos de avaliação que devem, preferencialmente, ser utilizados em conjunto: Pasta/Portafólio (pasta individual do aluno; permite que o professor tenha um registro constante do processo de aprendizagem do aluno e acesso aos materiais resultantes do trabalho do aluno em Arte); Diário de Bordo (caderno de anotações, gravador ou câmera onde o aluno registra o que aprendeu) ; Autoavaliação (oral ou escrita, individual ou em grupo); Entrevista (feita pelo professor ao longo do ano); Aferições conceituais e de termos técnicos (questionários e testes conceituais da Arte); Avaliação formativa (constante e processual). Considera-se nessa proposta, segundo Pimentel et al.(2010) critérios avaliativos embasados nos PCNs de Arte. Refletir sobre o sentido que a avaliação da aprendizagem em Arte possui no âmbito dos modelos pedagógicos é uma das possibilidades, entre tantas que a prática pedagógica envolve. 98 Arslan (2006) apresenta exemplos e sugestões para avaliar o trabalho de Arte e alerta sobre a postura do professor: Deve-se evitar juízos estéticos de bonito e feio, mas observar a adequação no uso dos materiais, as características expressivas e a dedicação aos trabalhos apresentados, em vez de procurar virtuosismo técnico e imagens realistas (ARSLAN, 2006, p. 87). Segundo essa autora, pode-se criar duas categorias para avaliação: trabalhos individuais e trabalhos em grupo, sendo que ambos podem corroborar a nota ou conceito. As notas podem ser dadas em discussão compartilhada pelos alunos, orientadas pelo professor, que com sua sensibilidade, promove a autoestima de todos e o gosto por continuar criando em Arte. Realizada com bom senso e análise comparativa de conjuntos de portfólios, a avaliação impede o destaque excessivo de um aluno ou o fracasso de outro. “No fazer artístico do aluno, os trabalhos práticos representam a tarefa mais delicada na avaliação do professor. Todo cuidado é pouco quando se tratar de avaliar o fazer artístico do aluno” (ARSLAN, 2006, p.87). Sabe-se que crianças e adolescentes mostram-se sensíveis a julgamentos que diminuem seus trabalhos de Arte. Sentem medo de serem colocados em situação de inferioridade quando precisam mostrar os seus trabalhos. É importante admitir que todos podem fazer trabalhos de qualidade expressiva e construtiva, onde se põem em prática saberes técnicos, conceitos e valores aprendidos (ARSLAN, 2006). A autora apresenta alguns exemplos de instrumentos avaliativos: 1. Projeto de fotografia (Instrumentos de avaliação: produção de texto sobre a invenção da máquina, relato por escrito da experiência, avaliação da câmara construída, discussão oral e exposição, avaliação dos ensaios fotográficos); 2. Prova de Arte (com avaliação compartilhada); 3. Exposição dos trabalhos (com perguntas previamente formuladas); 4. Discussão de trabalhos em roda de leitura (discutir segundo diferentes técnicas e linguagens visuais); 5. Escultura (critérios de discussão e avaliação); 6. Gravura (idem); 7. Discussão e orientações durante o processo de feitura de um trabalho; 8.Formas lúdicas de avaliar (com diversas 99 dinâmicas); 9. Proposta de encaminhamento de trabalhos (expor, arquivar, leiloar, trocar com outras crianças); 10. Ações para avaliar o “ver Arte” (múltiplas estratégias que envolvem palavras faladas ou escritas); 11. Conversas dirigidas sobre obras de Arte (promover leituras); 12. Cartas para artistas ou instituições culturais (possibilidade de verificar o que o aluno assimilou da aula); 13. Textos individuais e coletivos dos alunos (Crítica com base em roteiro, descrição e comentário de obras); 14. Seleção de obras seguindo coordenadas do professor (avaliar conceitos estudados) ; 15. Avaliação dos projetos de trabalhos (conteúdos definidos pelo professor). Subentende-se que o professor tem um número grande de alunos e não consegue ler todas as provas coletivamente, uma alternativa é separar exemplos significativos, analisá-los e distribuir as provas para que os alunos possam encaminhar suas dúvidas e questões. 3.2 O Portfólio na aprendizagem em Arte A utilização do Portfólio é uma modalidade de avaliação retirada do campo da Arte e teve sua difusão em espaço escolar na década de 1990 nos Estados Unidos e vem sendo evidenciado como um dos instrumentos que pode ser utilizado visando a uma avaliação mais dinâmica e eficiente do ensino. Nos cursos de Artes Visuais, a sua utilização se resume a um arquivo de trabalho que o aluno monta para formar seu currículo profissional. A modalidade portfólio para avaliação e até mesmo como estratégia de ensino, está institucionalizada nas escolas norte-americanas e em alguns países da Europa (HERNÁNDEZ, 2000). O portfólio aparece como estratégia de avaliação do programa de Arte-educação Arts-PROPEL, programa que tinha como finalidade a criação de novas formas de avaliação para o desenvolvimento das inteligências artísticas. Gardner (2010, p.117) explica a conexão dos portfólios com o trabalho dos artistas nos seguintes termos: Na vida cotidiana, são os artistas, interessados em ingressar numa escola, ou em competir para obter um prêmio ou uma exposição numa galeria, que montam as pastas (portfólios) com mais frequência. Constituídas assim, são coleções dos produtos acabados. Em troca, nossas pastas (portfólios), estão deliberadamente 100 pensadas para serem lembranças (GARDNER, 2010, p. 117). de “obras em processo” Arquitetos, desenhistas, artistas selecionam e ordenam mostras de sua trajetória profissional para poder apresentá-las num suporte físico (o portfólio), de maneira que o destinatário (um cliente, um dono de galeria, um examinador) possa apreciar os momentos mais significativos de seu percurso, ao mesmo tempo que adquirem uma visão global do mesmo. No ensino Fundamental e Médio, na formação dos professores (ou de qualquer profissional), também é possível levar adiante um processo de seleção e ordenação de amostras que reflitam a trajetória de aprendizagem de cada estudante, de maneira que, além de colocar em evidência seu percurso e refletir sobre ele, possam contrastá-lo com as finalidades iniciais de seu processo e as intenções educativas e formativas dos docentes. “A função do portfólio se apresenta assim como facilitadora da reconstrução e reelaboração por parte de cada estudante, de seu processo ao longo de um curso ou de um período de ensino” (HERNÁNDEZ, 2000, p.165). Segundo Hernández (2000), A utilização do portfólio como recurso de avaliação baseia-se na ideia da natureza evolutiva do processo de aprendizagem. O portfólio oferece aos alunos e professores uma oportunidade para refletir sobre o progresso dos estudantes em sua compreensão da realidade, ao mesmo tempo que possibilita introduzir mudanças durante o desenvolvimento do programa de ensino. Além disso, permite aos professores considerarem o trabalho dos alunos não de uma forma pontual e isolada, como acontece com as provas tradicionais, mas sim no contexto do ensino e como uma atividade complexa baseada em elementos e momentos de aprendizagem que se encontram relacionados. [...] a realização do portfólio permite que os alunos sintam a aprendizagem como algo próprio, pois cada um decide que trabalhos e momentos são representativos de sua trajetória, enquanto os relaciona na tentativa de dotar de coerência as atividades de ensino com as finalidades de aprendizagem que se havia proposto [...] (WINGGINS et al.1989, apud HERNÁNDEZ, 2000, p.165). A palavra portfólio tem origem na palavra “portafoglio” e deriva do verbo latino “portare” (transporta) e do substantivo “foglio” (folha) e designa a pasta que contém desenhos, fotos, textos, seja de profissionais como artistas plástico ou de alunos. 101 Shores e Grace (2001, p. 43) conceituam este instrumento como ”uma coleção de itens que revela, ao passar do tempo, diferentes aspectos do crescimento e do desenvolvimento de cada aluno.” Estes registros servem para mostrar o desenvolvimento de cada aluno ao decorrer do tempo e da maturidade a respeito da aprendizagem e respeitando o tempo de cada aluno em seus avanços. A realização do portfólio permite que os alunos reflitam sobre o processo educativo e tenham clareza em relação ao objetivo do uso do portfólio. É importante esclarecer que o portfólio não é um acúmulo de atividades juntas e nem a ordenação de evidências de aprendizagens, notas ou coleção de lembretes passados a limpo e colocados num formato. É importante que o portfólio tenha uma seleção de trabalhos dos estudantes em diferentes momentos e que não seja apresentado como uma amostra dos melhores trabalhos. É essencial verificar alguns componentes que estruturam um portfólio: o que se pode encontrar nele? Que tipos de evidências podem ser recolhidas e selecionadas? Não existem respostas, mas são necessários alguns elementos. Segundo Hernández (2000), cada exemplo selecionado pelo estudante deve ser recolhido, criado e organizado de tal modo que demonstre o processo do aluno. Existe uma indicação aos tipos de evidências que podem fazer parte de um portfólio: As anotações: São pequenos relatos que acompanham cada documento esclarecendo sua relevância enquanto evidência. As reproduções: São documentos que normalmente não se recolhem em sala de aula como gravações, anotações de visita a uma exposição e impressão de páginas da internet. Os artefatos: São documentos produzidos durante o trabalho do curso e vão desde as atividades de sala de aula até produções feitas por iniciativa própria e até mesmo 102 evidências a outras áreas de saber que sejam relevantes no processo de aprendizagem. Os atestados: São documentos sobre o trabalho do aluno produzidos por outras pessoas tais como comentários realizados pelos professores, ou por pessoas envolvidas no processo formativo dos estudantes. As produções: São documentos preparados para dar forma e sentido ao portfólio e incluem três tipos de matérias (explicação de metas, reflexões feitas no início do curso e cabeçalhos ou títulos), podem ser revisados e modificados ao longo do processo ensino aprendizagem, sua função é possibilitar aos estudantes a exemplificar de maneira pessoal o objetivo específico do portfólio. As reflexões: acontecem enquanto se elabora, organiza-se ou se revisa o portfólio, e apresentam-se as estratégias de diálogo com a informação que o estudante utiliza. O continente: Após a seleção dos documentos os mesmos serão colocados num lugar para ser compartilhado com outras pessoas e que possa ser avaliado pelo docente. Existem vários tipos de suportes para o portfólio como: caixas, classificadores, cartazes, CD_ROM entre outros. Neste último caso é bom lembrar que a maior parte das escolas ainda não oferece suporte de informática para todos os alunos, dificultando assim seu uso. A partir de Frison (2008), soube-se da existência de quatro tipos de portfólios: o de avaliação que tem por objetivo avaliar o progresso do aluno relativamente aos objetivos do programa; o de trabalho ou progresso que tem por objetivo possibilitar ao aluno e ao professor a avaliação conjunta do progresso; o demonstrativo que tem a finalidade de fazer a exposição dos melhores trabalhos dos alunos, ressaltando o que ele já sabe, por fim, o tipo arquivo cujo propósito é incluir todos os trabalhos acabados ou ainda em processo, realizados pelos alunos. Nesta perspectiva, considera-se que o portfólio vai além de um simples arquivo, constitui-se, pois, num instrumento dinâmico capaz de revelar esforços, progressos e 103 conquista pelo aluno ao longo do seu processo. O portfólio é um instrumento que permite tanto ao aluno quanto ao professor acompanhar o processo de seu desenvolvimento, refletindo com consciência todo o processo realizado. Segundo Vasconcellos (2003, p.106) os registros podem ser de dois tipos: o registro realizado no processo, que é feito ”durante os acontecimentos no cotidiano escolar”, como por exemplo, o diário de bordo, e o registro do produto no processo que é ”relativo ao balanço de um determinado percurso, de uma etapa ou período, mais ou menos extenso” onde se encontra, por exemplo, o portfólio. O autor defende ainda a troca de um sistema de avaliação com notas por um sistema de avaliação por registros, pois ”o fato de não poder assumir mais a nota do aluno num número favorece a abertura a outros olhares, a novas perspectivas” (VASCONCELLOS, 2003, p.107). Um dos instrumentos primordiais seria a anotação sistemática e constante por parte dos docentes, no que se refere aos fatos ocorridos em sala de aula. A confecção de diários de bordo, caderno de anotações, gravador e câmera em que o aluno registra acontecimentos, seus pensamentos, seus sentimentos, o que aprendeu, suas facilidades, dificuldades etc., auxiliaria a prática reflexiva do professor e o processo de avaliar os alunos ao mesmo tempo em que se autoavalia. O portfólio tem formatações diversas podendo ser uma pasta, um CD-Rom, uma bolsa, um álbum, etc, em que o aluno guarda suas produções ao longo de um determinado período. Dentre essas produções podem estar os trabalhos teóricos, os trabalhos práticos e outros tipos de registros pessoais, como os relatórios individuais e as autoavaliações. É preciso entender que esse é um instrumento que possibilita constante reflexão, sendo que o aluno e o professor poderão visualizar os produtos tendo em mente os objetivos e os critérios anteriormente acordados, dialogando com as soluções e os problemas que foram surgindo a partir das tarefas solicitadas. Tal diálogo proporcionará relembrar todo processo e programar e planejar as ações futuras (HERNÁNDEZ, 2000). 104 Desse modo, o portfólio é um instrumento que pode ser utilizado por professores e alunos simultaneamente e não se justifica a sua utilização para a avaliação apenas pelo professor. Em uma realidade em que os professores de Arte têm em média 500 alunos, levar todos esses portfólios para analisar seria um trabalho desumano. Embora seja um instrumento que surgiu no campo das Artes Visuais e arquitetura, ele vem sendo apropriado por professores de outras disciplinas, principalmente no Ensino Superior. Para Hargreaves, Arl e Ryan (2001), o portfólio deve conter os sucessos dos alunos para que eles possam apresentá-los aos professores, aos colegas, à equipe pedagógica e aos pais sendo um registro significativo das experiências em que o aluno alcançou êxito. No entanto, Hernández (2005) considera que o porfólio possa conter os problemas encontrados pelos alunos e as anotações sobre o que dificulta ou permite, a partir desses problemas, continuar aprendendo. Ao negociar a confecção de portfólio com os alunos, o professor deve saber que esse documento se apresenta como: [...] Um continente de diferentes classes de documentos (notas pessoais, experiências de aula, trabalhos pontuais, controles de aprendizagem, com outros temas fora da escola, representações visuais, etc.) que proporciona evidências do conhecimento que foi construído e das estratégias utilizadas para aprender. O que caracteriza como modalidade de avaliação não é seu formato físico (pasta, caixa, CD-ROM, etc.) como a concepção de ensino e aprendizagem que veicula. Ele oferece a oportunidade aos professores e aos alunos de refletirem sobre o desenvolvimento dos estudantes, diferente de outras formas de avaliação (HERNÁNDEZ, 2000, p.166). Ainda de acordo com Hernández (2000), a construção do portfólio é individual e deve ser proposta pelo professor ao início do ano letivo ou do projeto de ensino para que se possa acompanhar todo o seu processo. 105 O portfólio deve conter evidências significativas do desempenho para ser considerado um procedimento válido. A avaliação por meio deste instrumento é um processo que requer tempo, determinação, planejamento e fundamentação teórica. Essas técnicas são flexíveis para adaptação das estratégias de avaliação de acordo com as necessidades de cada aluno e auxiliam o profissional da educação a entender o desenvolvimento do aluno e a planejar atividades educativas com mais eficiência. Pode-se iniciar o uso desse instrumento a qualquer momento e a ordem dos passos propostos pode ser alterada segundo a necessidade do professor. Segundo Villas Boas (2004), alguns princípos orientam a construção do portfólio. O primeiro deles, é o da construção pelo próprio aluno, possibilitando-lhe fazer escolhas e tomar decisões. Essa construção assume diferentes formas a serem desenvolvidas. Pode ser construído durante um mês, um bimestre, um semestre, um curso, uma disciplina, de acordo com os objetivos do trabalho a ser realizado. Pode abranger um tema, uma unidade, um projeto ou as atividades desenvolvidas durante um determinado período. Se for a primeira vez que a escola trabalha portfólio, o processo terá de ser bem preparado, planejado e as famílias, informadas. No caso do professor, a análise do referencial teórico sobre avaliação e sobre o portfólio é fundamental. Shores e Grace (2000) defendem que o portfólio deve ser montado em dez passos. O portfólio deve conter as melhores produções do aluno, se possível por ele selecionadas, com base nos objetivos de aprendizagem e critérios de avaliação formulados com sua participação. Podem ser incluídos também provas, entrevistas, levantamentos, registros, dentre outros. No que se refere ao primeiro passo, ao definir a política de portfólio, o professor deve identificar o(s) objetivo (s) do portfólio, identificar os tipos de itens a serem coletados e identificar o cronograma, se existir, para a coleta de cada tipo de item. Cada professor coletará uma variedade de amostras de trabalhos, fotografias, diários de aprendizagem e registros de caso em portfólios de aprendizagem individuais. 106 Os alunos e os professores utilizarão tais itens durante o planejamento e a avaliação contínua, como uma forma de documentação do progresso individual em direção aos objetivos curriculares do ensino cotidiano. Os professores irão resumir as avaliações que realizarem com base nos portfólios e nos relatórios narrativos ao final de cada período do ano escolar. O segundo passo refere-se às coletas de amostras de trabalhos. As autoras sugerem que sejam definidas quais amostras serão coletadas, E, se possível, devese colher informações dos alunos sobre como fizeram o trabalho, do que mais gostaram, o que gostariam de ter feito de outro modo. Durante esse estágio, é importante registrar por que o aluno selecionou um item particular. Encorajá-lo a ditar seus pensamentos. No princípio os alunos podem dar respostas curtas. Conforme se trabalha com os alunos usando o processo, as respostas tornam-se mais detalhadas e a prática menos desagradável com o passar do tempo. Falar sobre amostras de trabalhos irá ajudar a preparar os alunos para os próximos passos do processo de portfólio. O terceiro passo consiste na documentação fotográfica. Ao tirar fotografias, é importante tomar notas das cenas quando se fotografa. Utilizando um pequeno bloco espiral para esse propósito, guardando-o com a câmera. Guardar as anotações até revelar as fotos e transferí-las para os portfólios individuais dos alunos. Deve ser certificado que as fotografias contam uma história. O quarto passo é encontrar-se regularmente com cada aluno para conversar sobre a variedade de suas atividades realizadas, registrando no diário de aprendizagem, que é um registro contínuo, escrito pelo aluno e pelo professor, de novas descobertas e de novos entendimentos. O diário de aprendizagem permite que se preserve evidências dos processos de entendimento e de pensamento de cada aluno, os quais podem sugerir atividades de continuidade para reforçar e ampliar o novo conhecimento e para capacitá-los para que ensinem uns aos outros. Além disso, os diários de aprendizagem também são dispositivos para estruturar e para concentrar as conferências individuais com os alunos, uma importante técnica da avaliação com portfólio que deve ser usada diariamente em sala de aula, para que os alunos se 107 familiarizem com o propósito da documentação, antes de iniciar as consultas aos diários de aprendizagem formais. O quinto passo refere-se à entrevista que é “uma técnica para pesquisar mais profundamente aquilo que um aluno sabe em uma área específica”. Shores e Grace (2001, p.109) descrevem as entrevistas como ocasiões em que o professor e o aluno discutem um único conteúdo em profundidade. São boas oportunidades de discutir informações e ideias com os alunos em uma situação natural, ao mesmo tempo em que validam o domínio de conceitos e ideias importantes. As entrevistas podem ocorrer espontaneamente ou planejadas. Exige prática e é melhor que seja planejada. O entrevistador deve deixar o aluno se sentindo à vontade, fazer perguntas diretas, objetivas e tomar nota ou gravar os comentários feitos durante as entrevistas. As notas escritas, transcrições ou fitas de entrevistas podem fazer parte dos portfólios dos alunos. O sexto passo refere-se à realização dos registros sistemáticos que são anotações feitas sobre as ações de um certo aluno em situações determinadas. A observação sistemática das atividades dos alunos também pode auxiliá-lo na avaliação da efetividade das estratégias particulares de ensino, de habilidades e de conceitos específicos para cada aluno. A tomada de notas para os registros sistemáticos é semelhante a escrever anotações de entrevistas. As anotações do professor preservam informações importantes sobre o que o aluno pensa e sobre o que gostaria de saber. Os registros sistemáticos são breves anotações que o professor faz de atividades casuais específicas, envolvendo um ou mais alunos. O sétimo passo acontece quando se realizam os registros de casos. A anotação de registros de casos envolve reconhecer eventos importantes para o desenvolvimento de determinados alunos, à medida em que eles ocorrem, e escrever narrativas breves e claras desses eventos. O professor funciona como um repórter de rua. Realiza registros de caso que tenham utilidade e que exigem um conhecimento do desenvolvimento do aluno e dos objetivos de seu programa de ensino. Também exige que o professor seja capaz de pensar e de escrever, 108 enquanto desempenha suas atividades normais. Os registros de caso representam complementos incompatíveis para explicações sobre a prática realizada em sua classe. O oitavo passo consiste no preparo de relatórios narrativos que são o resumo de achados sobre o crescimento e o desenvolvimento individual de um aluno durante um período de trabalho específico. O conteúdo de portfólios, juntamente com o material e com as anotações confidenciais sobre cada aluno em seu diário de ensino, são as fontes para relatórios narrativos, elas não devem ser longas (quatro a oito parágrafos são suficientes), mas devem ser completas. O nono passo faz do portfólio mais do que um simples arquivo de trabalho. Este passo transforma sua sala de aula de um sistema hierárquico, no qual o professor toma todas as decisões, em uma comunidade de aprendizagem na qual todos estão pensando, planejando, revendo e revisando seu trabalho. É a hora de conduzir reuniões de análise de portfólios em três vias. O propósito básico dessas reuniões não é só mostrar o trabalho para os pais, mas evocar as ideias dos pais sobre o trabalho dos filhos. Este passo não é possível em sala de aula onde os alunos ainda não estejam acostumados a ter responsabilidades importantes. Se o professor ainda não se sente confortável para permitir às crianças a responsabilidade de caminhar pela sala de aula, trocando ideias e juntando ou substituindo materiais, então pode-se, primeiramente, examinar maneiras de mudar suas técnicas de sala de aula, adaptando-as a um aprendizado centralizado no aluno. A reflexão séria não é algo rápido. De fato, à medida que os alunos se tornam mais reflexivos e habituados a avaliar seu próprio trabalho, eles irão necessitar de mais tempo, e não menos, para as consultas e reuniões de análise de portfólio. Muitos professores gostam de encorajar os alunos a decorarem seus portfólios com autorretratos ou com a produção de um texto introdutório sobre si mesmos. Essas 109 tarefas podem dar ao aluno um senso de “propriedade “ de seu portfólio, mas elas são atividades globais da classe toda e dirigidas pelo professor, as quais contribuem pouco para o aprendizado individual de cada aluno. Por outro lado, se um determinado aluno pinta um autorretrato, seria aconselhável fazer uma fotocópia colorida e adicioná-la a seu portfólio. O que se quer dizer é que dedicar tempo para a decoração dos portfólios ou para tarefas de escritas iguais contradiz o propósito básico da avaliação com portfólio, que é a capacitação de alunos para refletirem sobre seu progresso e determinarem seus próprios objetivos de aprendizagem. Décimo passo: Usando o portfólio em situação de transição. Se a política de portfólio de seu programa de ensino não menciona a transferência e o uso de portfólios demonstrativos, agora chegou a hora de aperfeiçoar a política. Estabelecer critérios para preservar itens. Adicionar o maior número possível de amostras de trabalhos ao portfólio demonstrativo a cada ano e estipular que a seleção desses itens ocorra durante a última reunião de análise de portfólio do ano. Ser claro sobre como os futuros professores deverão utilizar os portfólios: como referências na comunicação inicial com as crianças e as famílias, ao designar projetos individuais ou de pequenos grupos, etc. Planejar procedimentos para armazenar os portfólios entre as séries, entregando-os aos professores do próximo ano e devolvendo–os ao arquivo permanente de portfólios. Sugere-se que um arquivo seja reservado para esse fim e que professores e administradores usem um sistema de controle para localizar portfólios demonstrativos, quando esses estão em uso. Assim, auxilia o próximo professor, anexando “fatos especiais” à cópia do relatório narrativo final do portfólio de cada criança. Depois do professor ter estabelecido uma política e alguns procedimentos para preservar os portfólios de ano para ano, o próximo passo é enviá-los com os alunos que forem transferidos para outros programas ou escolas. Para Shore e Grace ( 2001): 110 O processo de montagem de portfólio proporciona uma reflexão e 24 uma comunicação contínua em uma comunidade de aprendizes , incluindo os alunos e todos os adultos presentes. Ele pode conduzir a uma individualização do currículo e da instrução, a um desenvolvimento profissional contínuo e a um maior envolvimento familiar. Quanto mais o professor executar essas técnicas de uso de portfólio, mais aprenderá sobre desenvolvimento do aluno, currículos, padrões e eficientes práticas de sala de aula (SHORE & GRACE, 2001, p.139). Para muitos professores, usar portfólios torna-se parte de uma exploração mais ampla e mais profunda do ato de ensinar e de aprender. A avaliação baseada em portfólios deve concentrar a atenção de todos, alunos, professores e familiares, nas tarefas importantes do aprendizado. O conteúdo de um portfólio pode conter textos, desenhos, fichas de avaliação, relatórios, colagens, entre outros. Amostras de trabalhos, observações dos professores e reflexões dos alunos estão entre os materiais que podem ser compartilhados com os pais. Villas Boas(2004) afirma que o portfólio é um dos procedimentos de avaliação condizente com a avaliação formativa. Originalmente, é uma pasta fina em que os artistas, fotógrafos e arquitetos colocam amostras de suas produções, as quais apresentam a qualidade e a abrangência de seu trabalho, de modo a ser apreciado por especialistas e professores. Em educação, o portfólio apresenta várias possibilidades, entre elas a sua construção pelo aluno. Neste caso, é uma coleção de suas produções, evidenciando sua aprendizagem. É um procedimento de avaliação que permite ao aluno participar da formulação dos objetivos de sua aprendizagem, avaliar seu progresso, oferecendo-lhe a oportunidade de registrar de modo contínuo, experiências e êxitos significativos para eles, que podem e devem ser compartilhados e discutidos com os professores. Villas Boas (2004) e Hernández(1991) defendem um aspecto em comum: o trabalho em parceria entre professor e aluno durante o desenvolvimento do portfólio. O aluno tem a oportunidade de participar ativamente no desenvolvimento de seu trabalho e, junto ao professor, rever, fazer autoanálise e refletir sobre seu processo de ensinoaprendizagem. 24 Pessoas que aprendem um ofício ou Arte. Principiante, inexperiente. 111 As intervenções do professor tendem a ser de maneira continuada, processual e, por isso, mais oportunas. A relação entre professor e aluno torna-se mais próxima, afetiva e dialógica, o que lhe permite avançar. Dessa forma, o favorecimento do diálogo no âmbito escolar pode proporcionar a verdadeira aprendizagem, porque não fomenta a hierarquia professor-produtor, aluno-receptor e sim a interação entre sujeitos. A característica reflexiva deste instrumento faz com que, ao considerarem os sucessos e os insucessos, tanto professor quanto aluno repensem suas atuações. A postura que assumem é a de pesquisa e indagação sistemática, o que lhes permite entender o processo de ensino- aprendizagem tornando a avaliação gradativa. No Ensino Fundamental, o portfólio possibilita às crianças construírem hipóteses e argumentarem sobre determinado conhecimento que, registrados de uma forma mais sistemática, mostrará um processo de continuidade na construção das aprendizagens, tornando-se uma estratégia que fará com que o aluno solidifique o que foi apreendido e principalmente que aprenda a aprender, condição fundamental para seu futuro escolar. Uma das dificuldades observadas para o uso do Portfólio, na avaliação, se refere às condições objetivas de trabalho dos professores. Por sua característica, tem como maior limitação, exigência de um maior tempo do docente, já que ele precisará fazer uma análise criteriosa dos trabalhos dos alunos. O portfólio promove o desenvolvimento de habilidades como reflexão, a autoavaliação e análise crítica tanto de alunos como de professores. O professor, para adotar convenientemente esse processo avaliativo, deve conhecer o componente curricular com que trabalha – objetivos, conteúdos e sua necessária articulação com os outros componentes curriculares – e ter uma sólida formação pedagógica que o capacite a organizar, desenvolver e avaliar a aprendizagem dos alunos, o trabalho pedagógico que coordena e a sua própria atuação. A avaliação por meio do portfólio exige do professor postura avaliativa diferente da tradicional. Ele não ensina para que os alunos tirem boas notas e sejam aprovados, mas 112 coordena o trabalho pedagógico por meio do qual os alunos aprendam e se desenvolvam como pessoas. Shores e Grace (2000) oferecem um manual que proporciona técnicas de avaliação com Portfólio em passos que são fáceis de conduzir e suficientemente simples para fazerem parte do processo cotidiano de ensino, tornando a avaliação com portfólio uma estimulante exploração do aprendizado de cada aluno. Hernández (2000), depois de estudos e revisão de várias perspectivas para poder interpretar o que o aluno aprende no campo da Arte, aposta na utilização do portfólio como recurso que permite a cada aluno reconstruir o processo que seguiu e situá-lo na avaliação. O portfólio apresenta vantagens e desvantagens. Vantagens: Foge dos padrões tradicionais e já exauridos de avaliação; permite uma interação do aluno com o professor, registrando suas dúvidas e críticas; pode ser usado disciplinarmente ou para um conjunto de disciplinas, ressaltando o tão importante caráter interdisciplinar da escola; permite que o professor avalie a evolução do aluno, seja na construção do conhecimento, na transferência e aplicação do que está sendo estudado e no interesse pessoal; estimula a curiosidade e ajuda na melhoria da autoestima, já que serve de antídoto para o mal das provas tradicionais que, quase sempre, geram medo, expectativa e frustração em nossos alunos. Desvantagens: A avaliação de portfólio exige um tempo maior do professor, pois, este necessita analisar criteriosamente os trabalhos dos alunos; é muito trabalhoso; é muito cansativo; demanda muito tempo; requer condições financeiras; os mediadores são exigentes; é muito pessoal; pode se tornar repetitivo; pode se transformar em “apenas um colecionador de atividades”; não deve ser o único meio de avaliação; é monótono e meio padronizado. 113 Pode-se perceber grandes possibilidades na utilização do portfólio como forma de avaliação desde que quatro pressupostos sejam pactuados e cumpridos pelos sujeitos envolvidos: autoavaliação, pré-definição de metas, engajamento do aluno e responsabilidade do avaliador/professor, pois, a falta desses, tornará o portfolio do aluno mera peça decorativa, um álbum de imagens. 3.3 Processos e instrumentos para avaliação autêntica Na perspectiva da avaliação autêntica nas aulas de Arte, os recursos para desenvolver conhecimentos, habilidades e técnicas em oficinas de Arte, segundo Zimmerman (2004), devem incluir: (1) peças artísticas selecionadas e produzidas durante período de tempo específico; (2) Portfólio contendo registros, anotações, diagramas e modelos de um trabalho inacabado; diagramas modelos ou fotocópias de slides, vídeos e/ou fotografias de produtos finalizados; (3) críticas de observadores, autoavaliação do aluno, de estudantes de outras turmas de Arte, diários e notas de alunos, que descrevam como desenvolveram as idéias refletidas nos trabalhos de Arte, resposta aos comentários e questionamentos dos professores, artigos de revistas e jornais sobre trabalhos de Arte e artistas do passado; (4) anotação de observações de professores em forma de lista de verificação ou relatos de eventos etc; (5) notas de entrevistas complicadas em forma de discussões do professor com estudantes sobre seu trabalho de Arte; (6) trabalho produzido por estudantes em resposta às tarefas específicas; (7) habilidades e conceitos recentemente adquiridos que os alunos compartilham com os seus pares; (8) lista de verificação relacionada a processos técnicos; e (9) grupos de apresentações e performances que são afirmações públicas da aprendizagem da Arte (ZIMMERMAN, 2004, citada por BARBOSA, 2005, p.406-407). A avaliação autêntica pode acontecer com projetos das oficinas de Arte, com aprendizagem em áreas como crítica de Arte, história da Arte e estética por meio de recursos de áudio e vídeo relacionado às aulas, em debates sobre questões de Arte, de performance, em aulas de avaliação crítica, em relatórios escritos sobre pesquisas em biblioteca, em visitas a galerias, em aulas e diários de notas, em ensaios, testes, investigações e em exames escritos (ARCHBALD e NEWMAN, 1998; BOGHTON, 1995, in ZIMMERMAN, 2004). Na avaliação da compreensão dos conteúdos de Arte pelo estudante e, ao mesmo tempo o desenvolvimento das inter-relações entre professores e aluno, o papel do 114 diálogo não deve ser minimalizado25. Os alunos podem aprender com questionamentos, discussão e debate, apresentações em geral de trabalhos para uma plateia eclética e com revisão de ideias nos debates. A aprendizagem da arte pode acontecer pela verificação de uma grande variedade de habilidades e não apenas pela avaliação de tarefas escritas (ROSS et al., 1993 in ZIMMERMAN, 2004). Os portfólios, contendo resumos de projetos, podem ser formativos, em andamento, concluídos ou uma combinação de ambos. Permitem ao estudante resolver problemas e fazer julgamentos, correr risco, ser criativo, encorajando-o a ser parceiro no processo da própria avaliação (ZIMMERMAN, 1992,1997b, citada por BARBOSA, 2005). Segundo Taylor, 1991: Portfólio de avaliação, algumas vezes é chamado de portfólio de processo. É um recurso valioso para evidenciar a aprendizagem de Arte, sendo também capaz de habilitar o estudante para: (1) avaliar sua aprendizagem dos conteúdos e habilidades do curso; (2) obter percepções nos seus processos criativos: (3) ter noção do crescimento e da realização do trabalho através do tempo; (4) aumentar suas habilidades em avaliação pela reflexão sobre seu próprio trabalho; (5) tornar-se aprendiz ativo em vez de passivo; e (6) conquistar autoconfiança ao vislumbrar que é aprendiz bem-sucedido (TAYLOR, 1991 in ZIMMERMAN, 2004, citada por BARBOSA, 2005, p. 408 ). As informações sobre o progresso e as realizações dos estudantes são fornecidas aos professores através dos Portfólios de avaliação do seguinte modo: (1) A demonstração da evidência do crescimento do aluno, sugerindo áreas de aprimoramento; (2) A promoção da comunicação com o aluno, pela reflexão dos trabalhos e comentários dos professores sobre essas reflexões; (3) A habilitação dos professores para desenvolver, avaliar e revisar os conteúdos dos cursos; (4) A ajuda aos professores na avaliação de seu sucesso em ensinar os conteúdos do curso; e (5) Disponível uma grande variedade de tarefas para ajudar pais, outros professores e administradores a compreender o crescimento dos alunos em Arte (ZIMMERMAN, 1992, apud BARBOSA, 2005). 25 Vem de minimalismo. Técnica ou estilo que se caracteriza pelo uso mínimo de elementos e pela simplificação da forma. 115 Percebe-se que o portfólio oferece uma estrutura para uma grande variedade de trabalhos e de reflexão sobre o desenvolvimento do aluno no processo de ensinoaprendizagem. 3. 3 .1 Critérios para a avaliação autêntica Ao conduzir avaliações autênticas, é necessário que sejam desenvolvidos critérios que utilizem estratégias múltiplas. Uma variedade de tarefas devem ser empregadas de forma estratégica, propiciando, assim, uma visão abrangente do progresso alcançado pelo aluno (Zimmerman 1992, 1997b, apud BARBOSA, 2005). Eis os seguintes critérios de seleção para ajudar a validade e a confiabilidade da avaliação por desempenho, segundo Zimmerman (2004): (1) determinar os resultados das avaliações; (2) decidir se os itens dos testes usados são coerentes; (3) julgar se as habilidades de uma área podem ser transferidas para outra e que generalizações podem ser feitas dos resultados; (4) decidir se a avaliação tem problemas significativos a serem resolvidos pelos alunos; (5) considerar se a avaliação requer dos alunos a mais elevada ordem de habilidades de pensamento para analisar e resolver questões, em vez de fatos, com resolução de problemas estruturados e descontextualizados; (6) determinar se a avaliação cobre adequadamente os conteúdos e os assuntos propostos; (7) estimar se os dados coletados e os processos realizados são os mais eficientes possíveis. Além disso, nos estudos de Zimmerman (2004): Os critérios para a avaliação autêntica incluem certificar-se de que os alunos exerçam seu poder de julgamento ao posicionar-se e ao esclarecer e resolver os problemas propostos. Assim, envolvem-se com as questões em profundidade; em vez de ter apenas uma noção da extensão dos problemas, localizam e analisam informações tanto quanto chegam a conclusões, comunicam claramente os resultados, reconhecem que as soluções dos problemas são múltiplas, demonstram a habilidade de investigação e expressão, e usam o conhecimento com eficiência e imaginação ao responder a questão (ZIMMERMAN, 2004, citada por BARBOSA, 2005, p.409). Sugere-se, segundo Zimmerman (2004), que as medidas e as tarefas da avaliação autêntica sejam compreensíveis aos alunos, pais, membros da comunidade e outros 116 professores e que empreguem referências concretas e linguagem clara. Os atributos de uma investigação disciplinada e a compreensão profunda de problemas devem estar reunidas nas tarefas realizadas. Além disso, os estudantes devem ser encorajados a captar relacionamentos, integrar o conhecimento e produzir novos conhecimentos. Percebe-se vários estudos sobre critérios para a avaliação de portfólios; Zimmerman (1997), apud BARBOSA (2005, p.410) descreve o portfólio “como uma coleta intencional de trabalhos que exibe os esforços, progressos e realizações dos estudantes em uma ou mais áreas”. Enfatiza que “a coleta deve envolver a participação e a autorreflexão dos alunos na seleção dos conteúdos e no julgamento de critérios para o mérito da escola” . Ao usar a avaliação de portfólios, sugere-se a aplicação dos critérios a seguir: Identificar o objetivo da avaliação; verificar um método claro para decidir o que deve ser colocado no portfólio, por quem e quando; e utilizar critérios específicos para avaliar conteúdos inteiros ou partes de trabalhos (ZIMMERMAN, 2004, apud BARBOSA, 2005). Algumas questões relacionadas aos critérios de avaliação de portfólio precisam ser formuladas: como será avaliado o progresso dos estudantes? Como serão comparados ou medidos diferentes trabalhos, vídeos, obras de arte, ensaios, publicações em jornais etc.? Como será feita a mediação do diálogo entre alunos e professores? Qual é o papel da reflexão do aluno? Como devem ser incluídas as contribuições de pais e outras pessoas? Qual é o melhor equilíbrio entre a inclusão do registro dos processos e dos produtos finais? O trabalho do ano inteiro deve ser submetido à avaliação ou apenas uma amostra representativa? É necessário, também, que os professores, ao fazer a avaliação de portfólios, tenham em mente questões como: é um trabalho representativo da produção do aluno? O trabalho é orientado, foi feito independentemente e/ou é parte de uma atividade de grupo? As obras que aparecem no portfólio representam tarefas efetivamente estabelecidas pelos professores e alunos? Os portfólios estão consistentemente revisados e os critérios foram aplicados acuradamente e com 117 justiça? Cada uma dessas questões e muitas outras não mencionadas poderiam constituir o ponto de partida para uma pesquisa que contribuiria enormemente para a literatura no campo das avaliações autênticas e da arte/educação. Algumas recomendações para avaliação autêntica são importantes para que sua perspectiva se concretize de forma significativa. Nesse sentido seguem-se os seguintes questionamentos: Quais são os papéis dos estudantes e professores ao planejar a avaliação autêntica? É o professor quem controla as avaliações? O professor decide e o estudante concorda? A influência dos professores e alunos tem o mesmo peso na escolha de critérios e na atribuição de notas da avaliação? Os estudantes controlam suas próprias avaliações? As respostas a essas questões dependerão da filosofia educacional do professor, da instituição, dos requisitos municipais e estaduais para a avaliação dos progressos e das realizações em Arte feitos pelos estudantes (ZIMMERMAN, 1997b, apud BARBOSA, 2005). Decisões devem ser tomadas, desde o início do processo, sobre como interpretar os resultados da avaliação. Podem se comparar as evidências de aprendizagem com o desempenho inicial do aluno (autorreferenciado), com critérios do curso ou padrões externos (critério referenciado), ou, ainda, com o desempenho de outros estudantes (norma referenciada). Muitas sugestões têm sido feitas por quem faz avaliações em sala de aula: nem todos os trabalhos dos estudantes precisam ser avaliados; fazer uma verificação sistemática dos trabalhos dos alunos por determinado período; fazer os sumários narrativos das avaliações de portfólio e sumários de testes tradicionais são algumas das sugestões para empregar, de modo eficiente e eficaz, amostragem dos trabalhos dos alunos em avaliações autênticas. Também, a verificação de realizações em cada nível de desempenho, com base em critérios específicos, precisa ser clara para avaliar ou julgar os estudantes ( ZIMMERMAN, 2004). Segundo Boughton (2004): 118 Uma recomendação específica para ajudar na atribuição de pontuação às tarefas de avaliação é reunir uma biblioteca de exemplares, com o propósito de servir de modelos de referência para mostrar caminhos diferenciados de como os estudantes podem ser bem-sucedidos em suas tarefas. Tal biblioteca de exemplares de trabalhos de alunos, com descrições detalhadas dos resultados por eles alcançados, tem a possibilidade de prover uma série de estudos de caso que servirão para: (1) demonstrar a natureza de um desempenho especializado; (2) ser usada para treinar avaliadores; (3) ajudar aos estudantes na aprendizagem de avaliar o próprio trabalho; e (4) desenvolver o estabelecimento de padrões e julgamentos críticos ( BOUGHTON, 2004, apud BARBOSA, 2005, P.412). Quando se está realizando uma avaliação autêntica, é importante considerar o equilíbrio entre os interesses de estudantes, professores e pais. Alunos, professores, programação adequada, conteúdo curricular e ambientes educacionais são possíveis focos de avaliação. O público que participará das avaliações autênticas pode ser composto de professores de Arte, arte-educadores que conduzem a pesquisa, administradores de escola e membros da comunidade local, tais como pais, artistas locais e outros cidadãos interessados. Em geral, porém, são professores, individualmente, que realizam a maioria das avaliações de Arte, por meio de verificação de trabalhos de outras formas que constroem ou escolhem para avaliar o progresso dos estudantes de Arte, e por atribuição de notas. É necessário que os professores de Arte aprendam a construir procedimentos e condutas sistemáticas de observação na avaliação para ter subsídios ao fornecer informações. É importante, então, que os pais sejam fontes de evidência de progressos e realizações dos estudantes. Os pais devem ser envolvidos nos processos de avaliação, afirma Zimmerman (2004), para que aprendam como e por que as avaliações são conduzidas e tornem-se colaboradores em suas escolas e comunidades. A avaliação autêntica engloba, no entanto, demanda de espaços e recursos para os professores e estudantes Para as avaliações autênticas serem bem-sucedidas, professores precisam de tempo extra para planejar, aconselhar-se com outros, desenvolver materiais, estratégias e ter reuniões com os estudantes. Também necessitam de espaço extra para guardar os portfólios e equipamentos, como câmeras de vídeo (ZIMMERMAN, 1992, apud BARBOSA, 2005). 119 É importante, também, levar em consideração que, na condução das avaliações autênticas, os aprendizes diferem em seus interesses, tanto nos estilos cognitivos, velocidade de aprendizagem, padrões de desenvolvimento, habilidades, motivações, hábitos de trabalho, temperamentos, quanto na etnicidade, sexo e classe social (ZIMMERMAN, 1994, apud BARBOSA, 2005). Os que planejam e desenvolvem avaliações autênticas precisam levar em consideração a quantidade e os tipos de recursos viáveis para estudantes de diferentes grupos socioculturais e econômicos. Além do Portfólio como instrumento principal para a avaliação em Arte, Gardner, (2010) sugere os projetos (e não apenas as provas do ano escolar) como opção regular para os alunos, onde todos teriam a oportunidade de executar e avaliar ( e ter avaliados) alguns de seus próprios projetos. Tais projetos não seriam apenas motivadores e educativos, mas teriam uma relação com atividades e competências a serem alcançadas pelos alunos. 3.4 Efeitos aversivos das práticas de avaliação da aprendizagem escolar Analisar a questão da afetividade em sala de aula, para Leite e Kager (2009) significa, pois, analisar as condições oferecidas para que se estabeleçam os vínculos entre sujeito e objeto. Neste sentido, assume-se que a natureza da experiência afetiva (prazerosa ou aversiva) depende, em grande parte, da qualidade da mediação vivenciada pelo sujeito, na relação com o objeto. De acordo com esses pressupostos, não se pode mais restringir a questão do processo ensinoaprendizagem apenas à dimensão cognitiva, dado que a afetividade também é parte integrante do processo. Leite (2009) aponta, pelo menos, cinco decisões no planejamento de ensino que, certamente, produzem marcas afetivas e interferem na futura relação que se estabelece entre o aluno e o objeto de conhecimento: escolha dos objetos de ensino; o aluno como referência para o início do trabalho pedagógico; a organização dos conteúdos; a escolha dos procedimentos e atividades de ensino; a escolha dos procedimentos de avaliação. 120 Leite (2009, p. 114) aponta que “[...] a avaliação torna-se profundamente aversiva quando o aluno discrimina que as consequências do processo podem ser direcionadas contra ele próprio”. De fato, o modelo e os instrumentos de avaliação adotados em grande parte das escolas têm contribuído com os altos índices de fracasso escolar, representado pela repetência, evasão e, agora, a exclusão intraescolar do aluno. Isso justifica a relevância de trabalhos que revelam os efeitos aversivos do modelo tradicional de avaliação e apontam a necessidade de resgate de uma concepção de avaliação favorável às condições de aprendizagem e desenvolvimento do aluno. As marcas aversivas, segundo Leite e Kager (2009), desenvolvidas pelas práticas de avaliação vivenciadas pelos alunos revelam: 1. medo e a ansiedade gerados pelo dia de avaliação; 2. desenvolvimento de um sentimento de incapacidade que contribui para a baixa autoestima; 3. perda da motivação para estudar e do interesse pela disciplina, além do desânimo, como consequência do insucesso; 4. diante do tipo de avaliação adotada: sensação de frustração e de exclusão por repetirem o ano letivo, após vivenciarem a experiência negativa com avaliação; 5. a sobrecarga de conteúdos exigidos pela escola em uma semana de provas, prejudicando o desempenho do aluno; 6. a avaliação como uma armadilha criada pelos professores, na medida em que cobram, intencionalmente, na prova, conhecimentos mais complexos, que não se relacionam com as práticas desenvolvidas na sala de aula; 7. a deterioração da relação sujeito-objeto, ou seja, os alunos, que vivenciaram experiências negativas com avaliação, desenvolveram aversão pela disciplina em que essas práticas de avaliar eram adotadas; 8. posturas e atitudes de alguns professores diante da classe, no momento da devolução das avaliações, reprimindo e humilhando os alunos que não foram bem; 121 9. atitudes de professores, diante do insucesso de seus alunos, consideradas como preconceituosas frente a eles, no sentido de não acreditarem em sua capacidade de recuperação; 10. alunos não recebiam um retorno do professor sobre seu desempenho, mas somente eram informados sobre a nota que tinham tirado; 11. avaliação como uma forma de punir os alunos, geralmente diante de situações julgadas como prova surpresa, para punir alguns alunos que estavam com procedimentos inadequados em sala de aula. Devido a esse sistema de avaliação, segundo Leite e Kager (2009), situações geradoras de medo e ansiedade, em relação à avaliação, acabam aumentando e gerando mais aversão à situação escolar e a determinados objetos de conhecimento. Sendo uma importante dimensão da mediação pedagógica do professor, as práticas de avaliação envolvem, sensivelmente, a dimensão afetiva, não se restringindo apenas aos aspectos cognitivos. Desta forma, devem ser planejadas e desenvolvidas como um instrumento sempre a favor do aluno e do seu processo de apropriação do conhecimento (LEITE e KAGER, 2009). Percebe-se que a avaliação pode desempenhar um papel disciplinador nas mãos do professor. Daí decorrem manifestações constantes do autoritarismo, podendo chegar à sua exacerbação. Conforme Luckesi (2009), um exemplo do uso autoritário do professor das práticas da avaliação é a definição do que será considerado como relevante ou irrelevante, em função exclusivamente do seu arbítrio pessoal ou, o que é pior, do seu estado psicológico de momento. Esse autor enfatiza que a avaliação da aprendizagem tem dois objetivos: auxiliar o educando no seu desenvolvimento pessoal pelo processo de ensino e aprendizagem, e responder à sociedade pela qualidade do trabalho educativo realizado. Estes dois objetivos não podem dissociar-se no uso escolar da avaliação “para não ser autoritária e conservadora, a avaliação tem a tarefa de ser diagnóstica, 122 ou seja, deverá ser o instrumento dialético do avanço, terá de ser o instrumento da identificação de novos rumos” (LUCKESI, 2009, p. 43) . A reflexão sobre esta prática é o que dignifica a função do professor e do papel social da escola. 123 CAPÍTULO 4 PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA Esse capítulo vem apresentar o percurso metodológico desenvolvido para a pesquisa. A abordagem desta pesquisa constituiu-se em abordagem qualitativa, que conforme Bauer e Gaskel (2000), tem a finalidade real de explorar o espectro de opiniões, as diferentes representações sobre o assunto em questão. Quanto ao delineamento, esse estudo constitui-se em exploratório e descritivo, considerando sua aproximação com a finalidade no desenvolvimento, esclarecimento e modificação de conceitos, ideias e práticas acerca de um determinado fato, atrelado à descrição e estudo das características de uma determinada população ou fenômeno (GIL, 2010). O local da coleta de dados compreendeu três estabelecimentos de ensino básico, a saber: uma Escola de Ensino Fundamental, uma Escola de Ensino Fundamental e Médio, e uma Escola de Ensino Médio situadas em Belo Horizonte e Contagem – MG. A escolha de escolas com razão administrativa e localização diferentes objetivou conhecer as realidades diversificadas que elas oferecem na avaliação do ensino de Arte. O conjunto de sujeitos da pesquisa foi composto por três diretores de escola de Ensino Fundamental e Médio, sendo um de cada escola, uma coordenadora de Ensino Médio da escola X, uma coordenadora e supervisora de Ensino Fundamental e Médio da escola Y uma supervisora da Escola Z, uma supervisora da escola Y, uma supervisora da escola X e cinco professores de Artes Visuais das referidas escolas, perfazendo um total de treze entrevistados. Os critérios de escolha e a definição dos sujeitos da pesquisa, durante o planejamento do projeto, levou em consideração representantes de três Instituições de Ensino com possibilidades de coordenar e executar as intervenções e os sujeitos da prática, ou seja, os professores. Os diretores das escolas e os gestores (coordenadores e supervisores) foram pessoas-chave para contatos desde o início e durante toda a construção do projeto. A escuta dos professores objetivou identificar 124 sua prática de avaliação. A representação de sujeitos de diversos níveis de envolvimento na pesquisa aumentou as chances de viabilização adequada da coleta de dados e do uso das análises para possível correção de rumos do projeto se fosse o caso, bem como, delinear o quadro empírico que foi confrontado com a teoria. Em decorrência desses critérios, com base em Minayo (2005), deduziu-se que a amostragem assumiu características de priorizar os sujeitos que podiam facilitar a intervenção; de considerar que o tamanho da amostra foi suficiente a partir das informações; de trabalhar com a noção de que os informantes foram suficientemente diversificados a ponto de possibilitarem abordagens de diferentes fontes; de verificar que a escolha do campo e dos sujeitos continham o conjunto das experiências que se pretendia captar. Escolheu-se, qualitativamente, um número representativo de sujeitos da pesquisa porque sabe-se que algumas pessoas selecionadas não cooperam ou não estariam disponíveis para a investigação. Isto tornou-se desejável que o tamanho das amostras considerasse as perdas que poderiam ocorrer. A coleta de dados foi feita a partir dos seguintes instrumentos: a) Pesquisa Bibliográfica em livros e artigos sobre o tema Avaliação em Artes Visuais; b) Pesquisa Documental nas escolas sobre as orientações oficiais e procedimentos de avaliação em Artes Visuais, principalmente no Projeto Político-Pedagógico e na Estrutura Curricular de cada escola; c) Pesquisa Empírica através de entrevista semiestruturada com diretores, coordenadores, supervisores e professores. Nela o entrevistador ficou livre para exercitar sua iniciativa no acompanhamento da resposta a uma pergunta e pode fazer perguntas relacionadas que não foram previamente imaginadas. As entrevistas aconteceram através de contatos com os sujeitos da pesquisa que puderam fornecer dados subjetivos com fontes de informações úteis. Eles cederam um tempo para proceder às entrevistas confirmando seu aceite 125 através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo A). Suas contribuições foram valiosas. As entrevistas aconteceram em dias e horários previamente acordados, na própria escola, antecedendo com um diálogo informal, a fim de familiarizar os entrevistados com o gravador. O projeto desta pesquisa como todas as pesquisas de qualquer área do conhecimento que envolvem seres humanos (na qualidade de sujeitos de pesquisa) passam pela análise de um Comitê de Ética em Pesquisa regularmente cadastrado e credenciado pelo CONEP. Para tanto, a comunidade UNA (e demais pesquisadores em todo o país) se cadastram para intermediar a tramitação dos protocolos de pesquisa entre pesquisadores, CEP’s e a CONEP e utilizam a PLATAFORMA BRASIL, (http://aplicacao.saude.gov.br/plataformabrasil/login.jsf). O projeto dessa pesquisa foi aprovado pelo CEP UNA, conforme Parecer no Anexo E. A entrevista semiestruturada foi elaborada através de um roteiro básico de questões que abriu possibilidades do sujeito da pesquisa colaborar com informações diversas e ricas, expressas nas palavras registradas no gravador, quanto nas pausas, no silêncio, nas repetições, nos gestos, contribuindo para o processo de investigação. A elaboração desse roteiro de entrevista procurou definir os objetivos da pesquisa, bem como tópicos fundamentais, de maneira a beneficiar a evolução e aprofundamento das concepções que orientam a avaliação da aprendizagem no ensino da Arte. O roteiro (Apêndice B) foi cuidadosamente planejado, elaborado com questões simples, diretas e claras, que direcionaram a conversa para aprofundamento da temática. As entrevistas foram gravadas e, posteriormente, foram transcritas na íntegra. O resultado da transcrição foi um trabalho de construção que se colocou como uma 126 verdadeira tradução das falas dos entrevistados com fidelidade às manifestações durante a entrevista, como voz, pronúncia, entonação, ritmo, gestos, mímica e postura. Alguns ajustes se fizeram necessários para melhor favorecer a leitura dos textos, gerando pequenas adequações sem prejudicar o conteúdo. Uma compreensão da prática pedagógica atual do processo de avaliação da aprendizagem em Arte foi proporcionada, ao ouvir os entrevistados, suas concepções de avaliação de ensinoaprendizagem, seus critérios avaliativos e a indicação do instrumental que privilegiam. Os dados foram tabulados inicialmente para se ter clareza das informações contidas nos mesmos, bem como para poder categorizá-los. Posteriormente foram analisados a partir da organização em categorias e unidades de análise, geradas a partir da seleção do material coletado, segundo Oliveira (2007), objetivando direcionar as discussões e conclusões. A identificação e agrupamento das categorias empíricas basearam-se nos conceitos centrais de investigação, tendo como norte uma perspectiva de interação e interpretação dos dados em sua complexidade, visando perceber as relações estabelecidas entre professores e alunos na vivência das práticas pedagógicas na avaliação em Artes Visuais. Para proceder à análise deste trabalho, ou seja, dos registros dos dados coletados optou-se pela análise de conteúdo, como um procedimento relevante. Nesse formato de análise, as categorias emergem das respostas à entrevista, tornando possível identificar elementos revelados do aporte teórico. Da leitura atenta do material coletado resultou o quadro de categorias e unidades de análise, baseadas nos objetivos e conceitos centrais da investigação, orientando-se por uma perspectiva de interação e interpretação dos dados em sua complexidade, visando perceber as relações estabelecidas entre os sujeitos da pesquisa na vivência das práticas pedagógicas e de gestão na avaliação do processo de ensinoaprendizagem em Arte. 127 O eixo norteador dessa pesquisa se resume na questão: Como se processa a avaliação em Artes Visuais no Ensino Fundamental e Médio? Esta questão, além de motivar a proposta de investigação, levantou várias outras questões nucleares, unidades de análise, dentro de cada categoria. Considera-se principalmente a prática, com o propósito de contribuir para a formação docente no que se refere à melhoria da avaliação na disciplina Arte; contribuir com a produção educacional no que diz respeito a Arte no EF e EM; promover inovações educacionais no campo da avaliação em Artes Visuais; melhorar os processos e a efetividade educacionais nesse campo; favorecer a produção de novos conhecimentos; ajudar na melhoria de qualidade das aulas; interagir com tecnologias contemporâneas no ensino da Arte; compartilhar atitudes e valores; valorizar a formação docente. Os dados analisados resultaram em sete categorias, quais sejam: 1. Conceito de avaliação e diretrizes; 2. A prática de avaliação na escola; 3. Dificuldades no processo de avaliação; 4. Importância e relevância da avaliação em Arte; 5. Procedimentos e instrumentos de avaliação; 6. Desempenho do aluno na avaliação da aprendizagem; 7. Cenário das ações pedagógicas. As categorias e suas respectivas unidades de análise estão sistematizadas no QUADRO 1. 128 QUADRO 1- CATEGORIAS E UNIDADES DE ANÁLISE DAS ENTREVISTAS CATEGORIAS DE ANÁLISE UNIDADES DE ANÁLISE Categoria 1: Conceito de avaliação e diretrizes. Unidade 1: Identificação do conceito de avaliação do processo de ensino-aprendizagem. Unidade 2: Diretrizes em relação ao processo de avaliação. Unidade 3: Tipos de avaliação mais comuns na prática pedagógica. Unidade 4: Momentos que se acredita estar avaliando. Unidade 5: A prática avaliativa nas aulas de Artes Visuais. Unidade 6: Dificuldades na avaliação dos alunos do Ensino Fundamental e Médio. Unidade 7: Percepção das dificuldades na avaliação do processo de ensino-aprendizagem por parte dos alunos, professores e pais. Unidade 8: Percepção da importância da avaliação no processo de ensino-aprendizagem em Artes Visuais. Unidade 9: Reflexão sobre a relevância da avaliação no processo de ensino-aprendizagem em Artes Visuais. Unidade 10:Procedimentos das atividades de avaliação em diferentes situações educativas, no ensino de Artes Visuais no âmbito do Ensino Fundamental e Médio. Unidade 11: Instrumentos de avaliação utilizados no processo de ensino-aprendizagem das Artes Visuais. Unidade 12: Identificação de estratégias diferentes da usual no ato de avaliar atividades de Arte. Unidade 13: Sugestões para avaliação em Artes Visuais. Unidade 14: A aprendizagem do aluno do ponto de vista do professor. Unidade 15: Identificação do “locus” da avaliação nas ações pedagógicas em relação ao cotidiano escolar das aulas de Arte. Unidade 16: As aulas de Arte no cenário da escola. Unidade 17: O envolvimento dos alunos com a disciplina Arte. Categoria 2: A prática de avaliação na escola. Categoria 3: Dificuldades no processo de avaliação. Categoria 4: Importância e relevância da avaliação em Arte. Categoria 5: Procedimentos e instrumentos de avaliação. Categoria 6: Desempenho do aluno na avaliação da aprendizagem. Categoria 7: Cenário das ações pedagógicas. Fonte: Entrevistas realizadas pela pesquisadora (2013). Os dados coletados na pesquisa bibliográfica, documental e de campo serviram para subsidiar a construção da proposta de intervenção (Apêndice A). A proposta construída é uma nova metodologia de avaliação em Artes Visuais no Ensino Fundamental e Médio direcionada à formação docente dos alunos do curso de Artes Visuais – Licenciatura. 129 CAPÍTULO 5 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS 5.1 O que dizem os documentos A documentação representa uma fonte natural de informação. A análise documental traz subsídios para se compreender a atuação dos professores em suas práticas avaliativas. A escolha dos documentos analisados nesta pesquisa compreendeu aqueles que poderiam possibilitar maior compreensão sobre o contexto avaliativo do processo de ensino-aprendizagem de Arte nas escolas de Ensino Fundamental e Médio. Os documentos, de fontes primárias, consultados foram: 1. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, Lei nº 9.394/96 (BRASIL,1996); 2. Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica, (BRASIL, 2013); 3. Parâmetros Curriculares Nacionais – Arte (BRASIL,1998); 4. Resolução do Conselho Estadual de Educação nº 2197 (MG/SEE, 2012, p. 66); 5. Conteúdos Básicos Comuns – CBC (PIMENTEL et al.2010). No que diz respeito a avaliação, a LDB (1996), em seu artigo 24, item V, sinaliza alguns critérios que devem ser observados quanto ao desempenho dos alunos na verificação do rendimento escolar direcionados a todas as disciplinas de um modo geral. O texto da Lei indica que, além de contínua, a avaliação seja cumulativa. Isso significa, em outros termos, que não se deve compartimentalizar os saberes segundo os meses em que são trabalhados. Que os instrumentos e as formas de avaliação devem priorizar uma visão global das matérias estudadas, levando o aluno a utilizar as competências que foi adquirindo em outros meses, em outras séries. Que as questões ou situações-problemas sejam abrangentes, interligando os saberes estudados. 130 Prossegue ainda, pontuando, que deverá haver prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos. Este é um aspecto crucial no entendimento da noção de avaliação da LDB, pois evidencia que a verificação do rendimento não está diretamente vinculada à aprovação ou reprovação dos alunos. Considerar os aspectos qualitativos no processo de avaliação significa, não limitar o olhar do professor aos conteúdos que podem ser objetivamente mensuráveis e quantificáveis. Isso não quer dizer que, no momento de definir se um aluno tem condições de ser promovido para a etapa seguinte, o professor não escolha por verificar (de maneira objetiva) se o aluno possui os conteúdos mínimos, ou se desenvolveu as aptidões necessárias para vir a aprendê-los. Fica claro que o processo da avaliação adquire finalidades que vão além da promoção ou reprovação dos alunos, e se dirigem para os cuidados de uma educação integral. A Educação Básica de qualidade é um direito assegurado pela Constituição Federal e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Diante das recentes mudanças ocorridas no Ensino Fundamental e Médio surgiu a necessidade da atualização das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica, justificando para tanto, que tais diretrizes se encontravam defasadas e superadas. São estas diretrizes que estabelecem a base nacional comum, responsável por orientar a organização, articulação, o desenvolvimento e a avaliação das propostas pedagógicas de todas as redes de ensino brasileiras. Na expectativa do Conselho Nacional de Educação, essas diretrizes devem inspirar às Instituições e Sistemas Educacionais, políticas de gestão e projetos políticospedagógicos voltados para uma educação de qualidade. Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (2013), direcionadas à todas as áreas de ensino de um modo geral, a avaliação do aluno, a ser realizada pelo professor, é redimensionadora da ação pedagógica e deve assumir um caráter processual, formativo e participativo, ser contínua, cumulativa e diagnóstica. 131 A avaliação formativa, que ocorre durante todo o processo educacional, deve proceder a um diagnóstico, às potencialidades do aluno e detectar problemas de ensino-aprendizagem. A intervenção imediata no sentido de sanar dificuldades que algum aluno possa apresentar é uma garantia para o seu progresso nos estudos. E a avaliação contínua pode assumir várias formas, tais como a observação e o registro das atividades do aluno, sobretudo nos anos iniciais do Ensino Fundamental, trabalhos individuais organizados ou não em portfólios, trabalhos coletivos, exercícios em classe e provas, dentre outros. Essa avaliação constitui, segundo as Diretrizes, um instrumento indispensável ao professor na promoção do sucesso de seus alunos na escola e pode indicar, ainda, a necessidade de atendimento complementar para enfrentar dificuldades específicas, a ser oferecido no mesmo período de aula, o que requer flexibilidade dos tempos e espaços para a aprendizagem e flexibilidade nas ações docentes. Para o Ensino Médio, as Diretrizes Curriculares da Educação Básica (2013) indicam que, a avaliação do processo de ensino-aprendizagem, conforme a LDB, pode ser adotada com vistas à promoção, aceleração de estudos e classificação e deve ser desenvolvida pela escola, refletindo a proposta expressa em seu projeto políticopedagógico. Importante observar que a avaliação do processo de ensinoaprendizagem deve assumir caráter educativo, possibilitando ao aluno analisar o seu percurso e, ao professor e a escola, identificar dificuldades e potencialidades individuais e coletivas. Portanto, uma avaliação que estimule a iniciativa dos estudantes. É importante ressaltar que o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) deve, progressivamente, compor o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) assumindo as funções26 de avaliação sistêmica, certificadora e classificatória, segundo essas diretrizes (BRASIL, art. 21, 2013, p.201). Os Parâmetros Curriculares Nacionais(1996) são instrumentos úteis no apoio às discussões pedagógicas na escola, principalmente, na reflexão sobre a prática 26 Funções cujos objetivos são; subsidiar as políticas públicas para a Educação Básica; aferir os conhecimentos tácitos e contribuir para o acesso à Educação Superior. 132 educativa. A área de Arte situa-se dentro dos PCNs e deve ser incorporada com objetivos amplos que atendam às características das aprendizagens, combinando o fazer artístico ao conhecimento e à reflexão em Arte. Esses objetivos devem assegurar a aprendizagem do aluno nos planos perceptivo, imaginativo e produtivo. Para isso o professor deve saber o que é relevante o aluno praticar e saber nessa área. A avaliação precisa ser realizada com base nos conteúdos, objetivos e orientação do projeto educativo em Arte. Os PCNs indicam para a avaliação em Arte, os seguintes critérios: 1. Criar formas artísticas; 2. Estabelecer relações com o trabalho de Arte produzido; 3. Identificar elementos da linguagem visual; 4. Reconhecer e apreciar trabalhos e objetos de Arte; 5. Valorizar as fontes de documentação, preservação e acervo da produção artística. Cada um desses critérios tem um parágrafo, no documento, explicando o seu alcance. De acordo com os PCNs, cabe à escola promover situações de autoavaliação a fim de que o aluno reflita sobre o seu papel de estudante. Uma autoavaliação orientada dentro de um roteiro flexível onde ele possa expressar suas ideias, comparar, observar, conhecer semelhanças e diferenças entre seus pares. Quanto aos conteúdos trabalhados, os PCNs sugerem uma avaliação feita por meio de imagens, dramatizações articuladas pelos alunos, assim como pequenos textos ou falas onde os alunos abordem os assuntos estudados. Percebe-se que a avaliação em Arte constitui uma situação de aprendizagem em que o aluno pode verificar o que aprendeu através de discussões, retrabalhar os conteúdos, assim como o professor pode avaliar como ensinou e o que seus alunos aprenderam. Ao analisar a Resolução do Conselho Estadual de Educação nº 2.197 (MG/SEE, 2012, p. 66), que dispõe sobre a organização e o funcionamento do ensino nas Escolas Estaduais de Educação Básica de Minas Gerais, percebe-se que no Título V sobre a avaliação no processo de ensino-aprendizagem, o texto se assemelha, em 133 alguns artigos, com as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (2013), também direcionado à todas as áreas de ensino de um modo geral. De acordo com essa resolução, a escola deve oferecer ao aluno diferentes oportunidades de aprendizagem definidas em seu Plano de Intervenção Pedagógica – PIP27, durante todo o ano letivo, levando-se em conta o seu desempenho global, seu envolvimento no processo de aprender e não apenas a avaliação de cada professor em seu componente curricular de forma isolada, considerando os princípios da continuidade da aprendizagem do aluno e a interdisciplinaridade. Para os alunos que não dominaram os conhecimentos básicos, a escola deve oferecer estudos contínuos, periódicos e independentes de recuperação como condições para que possam ser vencidas as dificuldades ainda existentes. No que diz respeito à Arte, como componente curricular, o objetivo educacional coloca ênfase nos domínios afetivo e psicomotor; deve ser avaliada para que se verifique em que nível as habilidades previstas foram consolidadas, sendo que a nota ou conceito, se forem atribuídos, não poderão influir na definição dos resultados finais do aluno. Ao analisar a proposta dos Conteúdos Básicos Comuns (CBC) para os anos finais do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio percebe-se que se constitui de um passo importante no sentido de tornar a rede estadual de ensino de Minas num sistema de alto desempenho. Os CBCs apresentam uma avaliação direcionada à disciplina Arte. Segundo Pimentel et al (2010) este currículo envolve uma metodologia formativa, visando à construção de conhecimentos durante todo o processo pedagógico e abrangendo as diversas áreas: a factual (fatos aprendidos), a conceitual (conceitos construídos), a comportamental (transformação do comportamento) e a atitudinal (mudanças de atitudes) de maneira integrada. Pretende-se, assim, obter não só dados 27 Plano elaborado conjuntamente pelos professores dos Componentes Curriculares com a finalidade de proporcionar a superação das defasagens e dificuldades dos alunos em temas e tópicos, identificados pelo professor e discutidos no Conselho de Classe. 134 quantitativos, mas principalmente qualitativos, de forma a poder, constantemente, reformular e ressignificar tanto conteúdos quanto ações. As estratégias de avaliação em Arte, aqui oferecidas, são as mais variadas e deverão ser selecionadas pelo professor, dependendo de sua disponibilidade e da infraestrutura física que a escola oferece. Os documentos consultados na Escola Y de Ensino Fundamental e Médio foram: 1. Regimento Escolar da Inspetoria São João Bosco – ISJB; 2. Proposta Pedagógica; 3. Caderno de orientações ( para professores e alunos); 4. Boletim. O Regimento Escolar da Inspetoria São João Bosco – ISJB, utilizado na Escola Y, tem na avaliação do aproveitamento do aluno um procedimento sistemático, contínuo e cumulativo, inerente ao processo ensino-aprendizagem, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos, para as disciplinas de um modo geral. Esse procedimento sistemático tem por objetivo avaliar a competência dos alunos, observando, prioritariamente, as habilidades cognitivas por eles desenvolvidas: compreensão, interpretação envolvendo relações, inferências, aplicações em situações novas, análise, síntese, etc., em cada área do conhecimento. A avaliação do aproveitamento do aluno considera seu desenvolvimento nos aspectos cognitivos, afetivo e psicomotor em cada um dos componentes curriculares. É adotado um sistema de pontos para o registro do aproveitamento numa escala graduada de 0 (zero) a 100 (cem) distribuídos em três etapas em que se divide o ano letivo, sendo que a pontuação mínima é 60%, para aprovação. O processo avaliativo objetiva informar ao aluno seu progresso ou dificuldades, suas necessidades quanto ao planejamento de atividades pedagógicas e do contexto escolar, ajustar objetivos e experiências e julgar o mérito para efeito de promoção. Além do Regimento Escolar a Escola Y possui uma Proposta Pedagógica que é um documento que fundamenta suas ações educativas, entre elas a verificação do 135 Rendimento Escolar que oferece o critério de avaliação contínua do desempenho do educando, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e o predomínio da avaliação diagnóstica, que serve para alimentar, sustentar e orientar a intervenção pedagógica, subsidiando a prática do professor. O professor, de acordo com essa proposta, utiliza de estratégias variadas para sanar as dificuldades salientadas pela avaliação diagnóstica e, para acompanhar o progresso do aluno. As atitudes básicas ao pleno exercício da cidadania e a aquisição de habilidades são avaliadas bem como os conteúdos curriculares. Os alunos são posicionados nas séries anuais, através de promoção, transferência, avaliação, aproveitamento de estudos conforme legislação vigente e o estabelecido em seu Regimento Escolar. A reclassificação, a recuperação, a aceleração e avanço escolar e o aproveitamento de estudos estão inseridos na proposta e são verificados de acordo com a legislação vigente. A Escola Y fornece um Caderno de Orientações em cada etapa, para cada aluno da escola, onde estão especificados: a distribuição de pontos no Ensino Fundamental e Médio, os instrumentos de avaliação, as datas de realização das provas, como se processa a comunicação dos resultados, a recuperação, os conteúdos fundantes e as orientações para estudos. Fornece ainda o Boletim Escolar que apresenta a distribuição de pontos por avaliações, exercícios, pesquisas e trabalhos de campo. Os instrumentos avaliativos são: avaliações quinzenais (4 pts), avaliações intermediárias (8 a 10 pts), avaliação final (10 a 12 pts) atividades (trabalhos, coletâneas, portfólio, etc. 4 a 10pts), para casa, lista de exercícios, frequência e disciplina (4 a 10 pts) e o total da etapa (30 pts). Esses pontos variam conforme as disciplinas e são obtidos através de atividades diversificadas ao longo de cada etapa letiva e através de avaliações sistemáticas que são elaboradas criteriosamente em cada área de conhecimento. Entre as atividades direcionadas pelos professores os alunos são avaliados também em trabalhos de pesquisa pela internet, no uso da biblioteca, excursões, visitas a museus, atividades extraclasse, etc. 136 Os documentos consultados na Escola Z de Ensino Fundamental foram: 1.Diretrizes de avaliação; 2.Projeto Político Pedagógico – PPP; 3. Boletim. Nas Diretrizes de Avaliação da Escola Z, entende-se que a avaliação é informativa e formativa, integra-se a um processo dinâmico e contínuo de acompanhamento e interpretação do desenvolvimento do educando, em relação à socialização e organização da sua vida escolar, na aquisição de habilidades / competências básicas de letramento, de leitura do mundo e na resolução de situações problemas, tendo como mecanismo o conteúdo de todas as disciplinas. O período escolar é dividido em três etapas, onde são realizadas avaliações em todas as disciplinas. Em cada etapa há três instrumentos avaliativos diversificados, por disciplinas. As avaliações são organizadas e arquivadas em portfólios ou nos próprios cadernos dos alunos onde pais ou responsáveis deixam sua assinatura. Ao final de cada etapa o sistema gera um boletim virtual e outro impresso com o registro de aspectos atitudinais e conceituais demonstrando o desenvolvimento do aluno, com legendas e porcentagens na tradução das notas que são mensuradas em 100 (cem) pontos. Esse boletim é entregue em Reunião de Pais. O professor de cada disciplina registra, ao longo de cada etapa, o desenvolvimento individual do aluno, delineando os avanços e dificuldades numa ficha de Registro Escolar, cujo objetivo é acompanhar o processo de ensino-aprendizagem do educando. O Projeto Político-pedagógico da Escola Z apresenta uma estrutura organizacional própria, com propósitos, finalidades e princípios norteadores do trabalho, com caracterização da clientela e do corpo docente. A concepção da aprendizagem é voltada para os quatro pilares da educação definidos no relatório de Jacques Delors (2012) e as diretrizes de avaliação são direcionadas à todas as disciplinas de forma equânime, conforme descritas acima. Não existe um direcionamento específico para a avaliação em Artes Visuais. 137 De acordo com a análise do Projeto político-pedagógico dessa escola percebe-se que as diretrizes de avaliação encontram-se defasadas e superadas em decorrência dos últimos atos legais e normativos a respeito da avaliação no processo de ensinoaprendizagem para o Ensino Fundamental, como por exemplo, a Resolução 2.197 de 2012 em consonância com a LDB, e as novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Básico de 2013, referendadas em artigos específicos para todas as redes e sistemas de ensino brasileiros. É preciso frisar que a Escola X de Ensino Médio mudou a direção, está em fase de reformulação de seu Projeto Político Pedagógico – PPP e seus professores reúnemse constantemente a fim de estudar um novo eixo norteador, buscando atender as recomendações da Resolução 2.197 de 2012, para definir novas propostas educacionais e definir uma linha para a avaliação. Mesmo em fase de reconstrução do processo, gestores e professores atuam de forma dinâmica e compromissada. Por esse motivo, o diretor não autorizou o acesso aos documentos da escola para serem analisados. Autorizou somente os depoimentos dos entrevistados, conforme Termo de Autorização de Uso de Imagens e Depoimentos. A Escola Y também mudou a direção, porém, segue a Proposta Pedagógica da escola, segue as diretrizes dos Parâmetros Curriculares Nacionais, o Regimento Escolar, bem como uma filosofia própria da sua rede. Estão sempre renovando e reconstruindo o processo. Os documentos foram selecionados e passaram por um processo de leitura e reflexão. Seus dados foram analisados de acordo com os aspectos relevantes ao estudo. Os PCNs e os CBCs apresentaram um eixo norteador para a avaliação específica em Arte. Eles representaram fontes essenciais de informação, fornecendo suportes às afirmações, interpretações e associações sugeridas por outros dados obtidos pela utilização de outros procedimentos de coleta, como por exemplo as entrevistas. 138 5.2 O que dizem as entrevistas Este texto, apresenta, analisa e discute as questões apontadas nas entrevistas semiestruturadas. . Uma vez definida a classificação das categorias e suas unidades de análise (Conforme quadro 1, na página 128) com os dados obtidos na sistematização das respostas dadas pelos entrevistados, é possível passar à identificação dos saberes necessários à prática docente na avaliação do processo de ensino-aprendizagem em Artes Visuais. Categoria 1: Conceito de avaliação e diretrizes Nesta categoria objetivou-se identificar o conceito e diretrizes de avaliação no processo de ensino-aprendizagem das Artes Visuais, nas perspectivas e inovações no contexto educacional. Portanto, nesta categoria reuniram-se duas unidades de análise. Unidade 1: Identificação do conceito de avaliação do processo de ensinoaprendizagem Avaliar vem do Latim “a + valere”, que significa atribuir valor e mérito ao objeto em estudo. O ato de avaliar propicia informações para melhorar as decisões do processo de ensino-aprendizagem, e também melhorar o resultado do próprio planejamento e desenvolvimento curricular. A concepção de avaliação em Arte no processo de ensino-aprendizagem está dando lugar a uma nova visão. Compreende-se que apesar dos melhores esforços de peritos para claramente estabelecer os padrões esperados nas Artes Visuais, conduzir uma avaliação permanece como uma das mais complexas tarefas que os professores enfrentam no cotidiano escolar. Segundo Boughton, citado por Barbosa (2005), isso requer dos professores várias formas de relatos, análises, para satisfazer propósitos educacionais diferenciados, 139 Na compreensão dos gestores e professores, quanto à essa primeira categoria, associam o conceito de avaliação às suas práticas como: verificar a aprendizagem, definir a produção do aluno, detectar a evolução do conhecimento, cobrar o aprendizado, analisar a intenção da criança, diagnosticar o aprendizado para ajudar o aluno em seu crescimento. Quanto às diretrizes são discutidas em equipe, decididas em reuniões. Trabalham com projetos diversificados. Seguem as Resoluções. As escolas não possuem um documento que seja especificamente voltado para a avaliação em Arte, conduzem a avaliação com orientações dos PCNs. Percebe-se aqui uma prática de avaliação relacionada com a aprendizagem do aluno. Segundo os PCNs é muito importante o entendimento entre alunos e professores em situação de avaliação. O modo como acontece o clima na escola, em relação à avaliação, corresponde a cada centro educativo a condução de sua cultura escolar. Cada centro educativo, ou seja, cada instituição escolar tem seus critérios diferenciados para a avaliação. A prática avaliativa permeia um ajuste constante entre o processo de ensinoaprendizagem que, segundo Hernández (2000), vai adequar a ação do aluno à evolução do seu conhecimento. É na avaliação formativa que ao cobrar as tarefas propostas, detectar erros, dificuldades, realizar análise dos trabalhos dos alunos, suas intenções, é que o professor irá ajudá-los a progredir no caminho do conhecimento e obter credibilidade dos conhecimentos adquiridos. Em relação à concepção de avaliação do processo de ensino-aprendizagem, o diretor da Escola X, escola de Ensino Médio, afirma: Eu tenho um conceito... sobre esse processo... de avaliação que é de que a avaliação é mais uma etapa... de ensino e não fim do ensino... então... existe essa questão histórica de que a avaliação é a última etapa do processo de ensino-aprendizagem...eu vejo que não... eu vejo que ela é mais um instrumento... para ensino... ou seja... a partir dela você vai reCONSTRUIR a sua prática de ensino... e traçar estratégias pra que ocorra a aprendizagem... mas o que a gente observa historicamente que... a avaliação é um fim... ou seja... após a avaliação é dada a nota simplesmente e... encerra-se um processo... e na verdade eu tenho essa visão ao contrário disso aí... embora ele não seja inédito... esse pensamento não é inédito da minha parte... mas é:::...na prática... isso não funciona ... essa teoria aí de que a 140 avaliação é meio e não fim... na prática ela não ocorre... na maioria dos casos. (Entrevistado 1. Diretor da Escola X). Para o diretor dessa Escola, portanto, a avaliação significa uma etapa do processo ensino-aprendizagem que vai ajudar o professor na reconstrução da prática de ensino e a traçar estratégias para que ocorra aprendizagens posteriores. Nesse sentido a avaliação é uma das possibilidades, entre tantas, que a prática pedagógica envolve, que é refletir sobre a postura docente no decorrer das ações de ensinar, promover a aprendizagem e avaliar. Esse pensamento vai de encontro às ideias contidas em Perrenoud (1999), quando aborda a avaliação entre duas lógicas: a lógica formativa e a lógica da seleção, afirmando que antes de regular a aprendizagem neste contexto é preciso regular o trabalho, as atividades, e isto está presente na compreensão de que avaliação e ensino são processos que devem ser integrados e contínuos. Esse autor considera que a avaliação formativa desenvolvida pela regulação é vista sob a perspectiva de um processo deliberado e intencional, tendo como objetivo, controlar os processos da aprendizagem, para que possa consolidar, desenvolver ou redirecionar essa mesma aprendizagem. Para Perrenoud (1999), na escola existe a criação de uma hierarquia de excelência através de várias atividades avaliativas que prefiguram o resultado final, conduzindo ao que se chama êxito ou fracasso. A democratização do ensino e a procura de uma pedagogia diferenciada traz à tona a lógica formativa que em sintonia com a lógica da seleção se equilibram, mantendo as forças e a legitimidade de ambas. Outra visão do conceito de avaliação está contida na fala do diretor da Escola Y, uma escola de Ensino Fundamental e Médio: Então. Eu entendo que a avaliação ela tem um intuito muito claro...um objetivo muito claro quer dizer... se nesse processo ensinoaprendizagem se realmente aconteceu a aprendizagem do nosso educando... então é importante que o professor ao avaliar...que ele lembre-se de perguntar...ocorreu a aprendizagem? Ou nós precisamos...precisaremos de retomar esse processo para que... o processo ensino- aprendizagem aconteça. (Entrevistado 2. Diretor da Escola Y). 141 Assim, buscar o sentido que a própria avaliação detém, demanda refletir sobre os seus resultados, sobre a importância do ato de avaliar. A partir desses resultados é que o professor poderá refazer sua prática pedagógica e promover a aprendizagem do aluno. Os resultados vão emergir na avaliação somativa que é proposta como um processo de síntese de um nível educativo, é o “momento” que permite reconhecer se o aluno alcançou o resultado esperado, se adquiriu competências ou habilidades dentro das situações do processo de ensino-aprendizagem que foram objetivadas. Na prática, segundo Hernández (2000), essa avaliação associa-se à noção de êxito ou fracasso onde o professor tem a possibilidade de avaliar o seu próprio trabalho e progresso ou as dificuldades dos alunos. O processo de classificação do aluno ocorre segundo o rendimento alcançado, tendo por base os objetivos previstos. Se a aprendizagem não ocorreu é necessário buscar um novo planejamento e concretizar essa fase da avaliação propondo aos alunos uma reconstrução do processo vivido. Para a diretora da Escola Z escola de Ensino Fundamental, o conceito de avaliação está expresso da seguinte forma: Bom... aqui na escola vou falar do conceito de avaliação que a gente trabalha aqui na escola... Que é o que eu acredito lógico ...Nós trabalhamos com uma avaliação processual...uma avaliação diária... mas ainda avaliamos com... avaliações periódicas com provas... com... textos... cada professor tem... uma diretriz de avaliação que a gente entrega que é a diretriz da escola... e nós trabalhamos dentro dessas diretrizes de avaliação:::... essas diretrizes elas são... são organizadas por nós... e... depois acompanhada por todos os... os professores aqui da nossa escola.(Entrevistada 3. Diretora da Escola Z). Nesse depoimento o conceito de avaliação se reporta à avaliação processual, porém, quando se toma a prova como medida, a avaliação perde o caráter de processualidade. 142 Nesse contexto, a prática avaliativa da escola está calcada no processo de aprendizagem e não apenas nos resultados. Destaca-se uma avaliação que se acredita informativa e formativa prevista em uma diretriz própria da escola, direcionada a todas as disciplinas, que se integra a um processo dinâmico e contínuo de acompanhamento e interpretação do desenvolvimento do educando em relação a organização da sua vida escolar. De acordo com a análise dessas diretrizes, alguns pontos estão defasados e superados, portanto, faz-se necessário uma atualização na prática avaliativa do processo de ensino-aprendizagem, baseado nos últimos atos legais e normativos, e organizar a avaliação com novas estratégias para a disciplina Arte de forma específica. A ideia defendida pela professora de Arte do Ensino Fundamental da Escola Z é de que “a avaliação é a definição da produção dos alunos dentro de sala de aula em grupo e individual” (Entrevistada 4), enquanto as professoras de Arte da Escola Y analisam a avaliação na percepção do interesse, da crítica, da intenção das crianças, em suas atividades variadas de Arte (Entrevistadas 5 e 6). Ao analisar o posicionamento da entrevistada 4 quanto ao conceito de avaliação, pode-se dizer em contrapartida, que avaliar não é apenas definir a produção do aluno, é mais que isso. É buscar melhorias através de um processo que reúne informações e dados para alimentar e estimular a análise reflexiva das práticas. Assim, a avaliação requer dos professores várias formas de análise e de relato, para satisfazer diferentes propósitos educacionais. Quanto ao depoimento das entrevistadas 5 e 6, é oportuno dizer que deve se levar em consideração, nas avaliações, o equilíbrio entre os interesses dos alunos. Eles se diferem na percepção e no interesse cultural pelos estilos, pela curiosidade, pela crítica pessoal, nas intenções. Cabe ao professor partir da realidade do aluno para então ampliar e instigar seus conhecimentos. Avaliar o posicionamento crítico de uma obra na percepção do aluno, falar sobre uma obra com um posicionamento pessoal são formas estratégicas de verificar essa realidade. 143 No Ensino Médio da Escola X, o professor de Arte tem um conceito próprio: “A avaliação pra mim é a maneira pela qual o professor tem de detectar o aprendizado...a evolução do conhecimento do aluno e aquilo que ele tá armazenando de conhecimento” (Entrevistado 7) . No Ensino Médio da Escola Y, o professor de Arte, em outras palavras afirma: “Eu acho que a avaliação é mais um instrumento para ajudar diagnosticar o aprendizado do aluno...é mais uma forma que a escola, que nós professores temos de ajudar o aluno a crescer”. (Entrevistado 8). O conceito de avaliação dos entrevistados 7 e 8 conduz ao diagnóstico que, segundo Sant’Anna (2010), é utilizado na verificação dos conhecimentos que o aluno traz consigo, pré-requisitos e particularidades que ele apresenta. Ajuda na tomada de decisões que direcionam ou redirecionam o processo de ensinoaprendizagem que se quer satisfatório. Percebe-se que cada entrevistado entende a avaliação sob diferentes perspectivas pedagógicas que vão se delineando através de suas práticas. A aprendizagem e o conhecimento passam a ter origem, limites e evolução a partir das experiências acumuladas. Os professores passam a conhecer melhor a personalidade do seu aluno, suas percepções diante das atividades de Arte, seus sentimentos e expectativas. Percebem que a avaliação conduz ao desenvovimento do educando e os ajuda na prática pedagógica, em direção a uma nova organização do processo. Unidade 2: Diretrizes em relação ao processo de avaliação. Os supervisores e coordenadores, enquanto profissionais da escola, compartilham responsabilidades no envolvimento relacionado ao acompanhamento e apoio às questões pedagógicas, como por exemplo, como orientar, acompanhar, subsidiar o professor na sua prática. Nessa perspectiva, as diretrizes em relação ao processo de avaliação são embasadas em resoluções, regimento escolar, no PPP da escola, nos PCNs, muitas vezes construídas numa colaboração conjunta entre gestores e professores. Eis um depoimento sobre as diretrizes: 144 Nós baseamos nos Parâmetros Curriculares ... e desenvolvemos alguns trabalhos independentes dentro da Instituição... nós não temos um material específico para a disciplina de Arte... esse material ainda está por ser construído... então... a gente trabalha com projetos diversificados seguindo... tendo como norte o nosso Projeto Político Pedagógico e o...os Parâmetros Curriculares (Entrevistada 9.Supervisora do Ensino Fundamental). Dentro do contexto educacional, não existe uma diretriz específica para a avaliação no processo de ensino-aprendizagem das Artes Visuais. Os coordenadores e supervisores, de maneira unânime, conduzem uma orientação dando ênfase aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Essa postura se faz presente em todas as escolas pesquisadas. Diante da constatação da insuficiência e incompletude de conhecimentos a respeito da avaliação no processo de ensino-aprendizagem, sobretudo em Artes Visuais, faz-se necessário repensar esta prática e construir saberes necessários para esta ação pedagógica. Rever os PCNs, o PPP, definir diretrizes básicas para o processo, buscar novas estratégias, pode se constituir no ponto de partida para a reconstrução desse processo avaliativo que produz inquietação às escolas de Ensino Fundamental e Médio pesquisadas. Eis um desafio a ser enfrentado para o desenvolvimento de um fazer pedagógico diferenciado. Categoria 2: A prática de avaliação na escola Nesta categoria objetivou-se identificar como ocorre a avaliação nas escolas pesquisadas, os momentos que se acredita estar avaliando e os tipos de avaliação mais comuns na prática pedagógica. Portanto, nesta categoria reuniram-se três unidades de análise. Unidade 3: Tipos de avaliação mais comuns na prática pedagógica Na escola Y de Ensino Fundamental e Médio, o diretor (Entrevistado 2) explicou: Aqui na Escola Y nós dividimos a avaliação em três etapas...a primeira etapa é que compõe os meses iniciais do primeiro semestre... a segunda etapa que é concluída no final de agosto... e a terceira etapa nos meses seguintes até dezembro... cada etapa tem 145 um valor... esse valor por disciplina ele é dividido por avaliações intermediárias...avaliações do final de cada etapa.... atividades avaliativas ao longo da etapa para consolidar esse processo de ensino-aprendizagem. (Entrevistado 2. Diretor de Ensino Fundamental e Médio). A explicação do diretor condiz com o Regimento Escolar da ISJB (Inspetoria São João Bosco), em seu cap.IV do Sistema de Avaliação, especificada em seus artigos 137 a 150, que compreende a avaliação como um processo sistemático, contínuo e cumulativo, cujos aspectos qualitativos prevalecem sobre os quantitativos, para todas as disciplinas. Esse processo tem por objetivos fornecer informações sobre os progressos ou dificuldades dos alunos que devem ser superados, a fim de planejar e replanejar atividades pedagógicas; ajustar os objetivos e experiências de aprendizagem às condições necessárias ao contexto onde situa a escola e julgar o mérito do aluno para efeito de promoção. Ao registrar o aproveitamento do aluno, a escola utiliza pontos com base numa escala graduada de 0 (zero) a 100 (cem) que são distribuídos pelas três etapas em que se divide o ano letivo, sendo que a pontuação mínima é 60%, para aprovação. Esta postura da Escola Y em relação às notas vai de encontro à Escola Tradicional e à sociedade conservadora que explicitava o resultado em notas e boletins seguindo o “Ratium Studiorum” dos Jesuítas. Este processo está presente nas escolas entrevistadas e vale a pena questionar: Até quando o resultado do desempenho do aluno será divulgado em notas e boletins? É possível construir uma nova forma de divulgar esses resultados? Existe alguma estratégia que possa inspirar essa construção? A prática avaliativa da escola X de Ensino Médio traz na fala do diretor (Entrevistado 1) o seguinte depoimento: Esse ano nós começamos com um projeto pedagógico novo e que... por óbvio nele está contido a... a reestruturação do processo de avaliação. Então esse ano nós começamos com um processo de avaliação [...] agora nós estamos com uma avaliação por área do conhecimento o que se aproxima da proposta do ENEM então a 146 escola agora depois de anos vem com uma lógica avaliativa que o aluno de fato vai se deparar é...quando ele for buscar estudos posteriores então é... fortalecemos a importância dos conselhos de classe e com a proposta de fortalecer também é... a política pedagógica da secretaria de educação que é pra avaliar o aluno no todo dos conhecimentos e não nas disciplinas ... no nos conteúdos curriculares de forma isolada então esse agora a partir desse ano nós começamos com esse projeto para poder fazer essa avaliação global do aluno e com métodos é... de instrumentos ... mais próximos da...da realidade atual.(Entrevistado 1. Diretor de ensino Médio). Este depoimento condiz com a Resolução 2.197 de 2012 que será o eixo norteador para a construção do novo PPP dessa escola, na qual o processo de avaliação compreende uma proposta redimensionadora da ação pedagógica, de caráter processual, formativo e participativo, ação que deve ser contínua, cumulativa e diagnóstica com a utilização de vários instrumentos, recursos e procedimentos cujos aspectos qualitativos prevaleçam sobre os quantitativos. A fala do diretor está embasada no art.80 dessa resolução, que leva em conta o desempenho global do aluno, o envolvimento no processo de aprender e que a promoção e progressão parcial do aluno devem ser decididas pelos professores e avaliadas pelo Conselho de Classe. Quanto a avaliação de cada professor em seu componente curricular, a resolução deixa claro que não deve ser uma avaliação de forma isolada. O processo de avaliação da escola Z de Ensino Fundamental, conforme relata a diretora (Entrevistada 3), segue as diretrizes de avaliação da própria escola no seu PPP: Como eu te disse é através dessa...dessas diretrizes... a gente trabalha é... no mínimo três instrumentos avaliativos cada professor tem que dar em cada etapa... a gente divide o ano em três etapas... cada etapa é desenvolvido um conteúdo esse conteúdo é avaliado os alunos são avaliados nesse processo e...a arte entra nesse... igualzinho a todos os outros conteúdos... o professor tem autonomia de escolher quais os instrumentos avaliativos que ele vai trabalhar naquela etapa. (Entrevistada 3.Diretora de Ensino Fundamental). Percebe-se nesse depoimento que não existe uma diretriz específica para as Artes Visuais. A disciplina Arte possui um diferencial das outras disciplinas, envolve sentimentos, emoções, criatividade e, sendo hoje uma área de conhecimento 147 oficializada pela LDB, requer um tratamento diferenciado no que diz respeito à avaliação do seu processo de ensino-aprendizagem. Ao analisar as diretrizes dessa escola, percebe-se que há necessidade de atualizar alguns aspectos da ação pedagógica no que diz respeito à avaliação de um modo geral, em consonância com os atos legais e normativos vigentes, e estruturar um eixo norteador sobre avaliação para as Artes Visuais. Não consta nas diretrizes desta escola um ponto importante que é “fazer prevalecer os aspectos qualitativos do aprendizado do aluno sobre os quantitativos”, ponto importante estabelecido no artigo 69, item IV da Resolução SEE nº 2.197 de outubro de 2012, além de outros pontos que devem ser apreciados e que constituem também parte integrante das Diretrizes Curriculares Nacionais (2013) ofertadas pelo MEC. Seria interessante se os profissionais reunissem, periodicamente, com a equipe gestora, para estudos, avaliação coletiva das ações desenvolvidas e redimensionamento do processo pedagógico no que diz respeito à avaliação no processo de ensino-aprendizagem, incluindo a construção de uma diretriz voltada para a avaliação em Artes Visuais. No discurso apresentado pelo professor de Arte do Ensino Médio da escola Y revela-se um compromisso com a avaliação: Olha... eu adoto o seguinte tipo de avaliação... na verdade eu uso desde a avaliação formal onde todos os conteúdos trabalham com aquele mesmo tipo de avaliação descritiva mas a avaliação que eu uso mais... eu uso o portfólio como uma forma de avaliação onde o aluno durante toda a etapa processa... processa a construção do conhecimento dele onde ele vai coletando esses dados... suas produções e depois eu uso esse material também como uma avaliação (Entrevistado 8. Professor de Ensino Médio). Ao utilizar a avaliação formal, percebe-se que o professor compartilha o mesmo tipo de avaliação com as outras disciplinas, avaliação ao que parece, exigência do sistema. Utiliza o portfólio que oferece uma oportunidade de reflexão entre professor e aluno sobre o progresso das atividades aplicadas e é condizente com a avaliação 148 formativa. É um recurso valioso para ter subsídios ao fornecer informações a respeito da trajetória do processo de ensino-aprendizagem do aluno. Para o professor de Arte do Ensino Médio da escola X (Entrevistado 7), as atividades práticas e o compromisso de interesse do aluno representam o tipo mais comum da sua prática avaliativa. No seu depoimento ele não deixou claro que atividades práticas são essas. Isso conduz a um questionamento: Seriam elaboradas de forma coerente e estruturadas, de modo que estabelecessem um compromisso com a construção do conhecimento? Aconteceria um envolvimento do aluno com sentimentos e emoções? Os procedimentos utilizados, a pertinência e eficácia dos recursos conduziriam ao interesse do aluno? A professora de Arte (Entrevistada 6) do Ensino Fundamental da escola Y avalia os alunos o tempo todo mas não citou o tipo de avaliação que utiliza, enquanto que a professora de Arte (Entrevistada 5) defende um tipo de avaliação protagonizado pelos alunos. No seu depoimento diz: As crianças é que fazem...eles amam fazer um concurso...então eles elegem os trabalhos mais bonitos e às vezes eles falam...é...fazer sorteio porque tão...tantos tão lindos porque são tão dedicados então... quando eu percebo isso é... nota MÁXIMA pra todos porque eles são...é...esmeram no capricho [...] porque...porque são tantos... eles falam assim...deu empate...deu 10..numa turma de 40...e quando eles fazem o concurso eles não sabem de quem é o trabalho porque o nome não tá exposto... e eles elegem assim ...cada trabalho é um número...eles fazem a votação...e às vezes dá empate mesmo porque... tão todos dedicados.(Entrevistada 5. Professora de Ensino Fundamental). Nesse contexto, os alunos que são do 5º ano avaliam com critérios estipulados pela professora, que dá a nota. Depois de verificar os resultados, eles tomam a decisão de expor os trabalhos selecionados no mural da escola para a apreciação de toda a comunidade escolar. Aqui, confirmamos a concepção de Luckesi (2009) quando afirma que a avaliação é um juízo de qualidade, para se tomar uma decisão, após verificar algo significativo na realidade avaliada. Ao fundamentar a decisão de expor o trabalho selecionado, os alunos se aproximam da tese de Perrenoud (1999, p.13), de que “não se avalia por avaliar, mas para fundamentar uma decisão”. 149 De acordo com os PCNs, a ação artística também costuma envolver criação grupal: nesse momento a Arte contribui para o fortalecimento do conceito de grupo. O aluno pode compreender o outro, intelectual e afetivamente, e pode ter atitudes cooperativas nos grupos de trabalho. Sem saber, estão avaliando. A professora, nesse contexto, permitiu e possibilitou ao aluno reconhecer em si e valorizar no outro a capacidade artística de se manifestar. Ao dar vez e voz aos alunos, a professora colaborou para que os alunos pudessem passar por um conjunto amplo de experiências de aprender, criar, avaliar, articular percepção, imaginação, sensibilidade, conhecimento e produção artística pessoal e grupal. Ao ampliar para além de si a avaliação, a professora avançou no processo da avaliação em Arte. Essa postura de dar vez e voz ao aluno surgiu na Escola Nova , quando o aluno começou a entender a avaliação como elemento importante para seu crescimento, continuou pela tendência construtivista onde, entre outras atividades, acontecia a apresentação de trabalhos realizados pelos alunos e culminou na pedagogia críticasocial onde entende-se o processo avaliativo tecido pelo diálogo e interação. A professora de Arte (Entrevistada 4) do Ensino Fundamental da escola Z avalia os trabalhos que os meninos fazem dentro e fora da sala de aula, mas não citou o tipo de avaliação que utiliza. Em outro momento da entrevista sabe-se que o caderno de atividades do aluno é um instrumento que ela leva para casa, corrige e dá o “feedback” para os alunos. Com esse procedimento, a professora pode verificar todo o caminho que o aluno percorreu para a realização de determinadas atividades, seus sentimentos, emoções, e assim ela pode refletir em relação ao seu próprio trabalho. Por outro lado o aluno pode aumentar o interesse, a curiosidade, melhorar a auto-estima e pode reconstruir o processo ensino-aprendizagem com base no “feedback” recebido. Unidade 4: Momentos que se acredita estar avaliando 150 As aulas de Arte oferecem momentos e oportunidades para que se processe a avaliação em várias situações educativas, em suas inúmeras e diferentes atividades. Todos os professores entrevistados compartilharam a afirmação de que acreditam estar avaliando o tempo todo, durante a aula inteira. Observam, acompanham o trabalho do aluno, interferem quando necessário, orientam e verificam o interesse e envolvimento com as atividades aplicadas. Isso demanda um processo contínuo, comparativo, sistemático, compreensivo, cumulativo, global, informativo e que auxilia na percepção do conhecimento do aluno. Unidade 5: A prática avaliativa nas aulas de Artes Visuais Nesse processo investigativo, considera-se principalmente a prática, com o propósito de contribuir para a formação docente no que se refere à melhoria da avaliação nesta disciplina. Destaca-se a prática avaliativa do professor de arte (Entrevistado 8) do Ensino Médio da escola Y, que utiliza várias formas de avaliação. Conhece seus alunos desde o Ensino Fundamental, suas diferenças, suas igualdades, o potencial de cada um e assim há uma possibilidade maior de um bom planejamento. Seu discurso revela: Olha... eu...eu... tem várias formas de avaliação...então desde o primeiro momento aonde eu proponho uma atividade ...um tema pro aluno eu começo a tentar perceber ... como o que é a receptividade dele em relação a esse conteúdo desde esse momento eu começo a avaliar... dentro do que ele começa a receber estas informações e depois ele começa a produzir...a desenvolver o conhecimento dele eu já começo a avaliar...então é um processo durante todo o conteúdo que é um assunto que eu... eu...programo 5 ou 6 aulas então...desde o primeiro momento ... pra mim é importante não só o resultado final mas é o processo ... de conhecimento que ele vai desenvolver durante todas as aulas e as etapas para chegar na conclusão da atividade.(Entrevistado 8. Professor de ensino Médio). Nesse depoimento, constata-se um processo formativo cujos componentes, tais como: proposta de atividade pelo professor, percepção da receptividade e produção do aluno, desenvolvimento do conhecimento e conclusão da atividade apresentam possibilidades para o professor estabelecer níveis de progressos alcançados, detectar atividades que não foram dominadas, enfrentar dificuldades encontradas 151 nesse percurso, para então procurar outras alternativas de avaliação. Dentro de suas formas variadas de avaliação, o professor (Entrevistado 8) avalia a criatividade, o interesse, mesmo sabendo que cada um tem uma forma de receber e conduzir a informação recebida. Segundo o professor (Entrevistado 7) de Ensino Médio da escola X, “avaliar é muito complicado”. Ele procura avaliar mais é a boa vontade, o compromisso, o interesse, a participação e a criatividade do aluno. Esses aspectos também são importantes no processo formativo e correspondem ao que Zabala (2010) compreende como conteúdos atitudinais. Em se tratando do ensino e avaliação em Artes Visuais, são aspectos importantes no processo formativo geral e especificamente para esta disciplina. Na escola X em que trabalha o professor que foi sujeito dessa pesquisa e a partir de seus relatos, tornou possível compreender que a realidade vivida por ele é bem diferente da escola Y e Z. Nessa escola as aulas de Arte acontecem somente no 1º ano. Apesar de serem muitas turmas ele administra apenas uma hora/aula por semana para o 1º ano do Ensino Médio. Preocupa-se em preparar o aluno para o ENEM. Suas aulas são muito teóricas e a avaliação procede da iniciativa da escola que segue o PAC - - Prova por Área de Conhecimento, (explicitada mais adiante), para todas as disciplinas. Por serem poucas aulas, o professor se sente pressionado a apresentar aos alunos uma quantidade maior de conteúdos possível e o trabalho acaba ficando fragmentado. Além disso ele necessita trabalhar em outra escola para preencher um cargo completo e receber um salário digno para sua sobrevivência. As ações de formação continuada tornam-se impossíveis para este professor conciliar tantas atribuições, assim trabalha a Arte isoladamente sem conhecer as propostas e as dificuldades dos demais, sem conhecer as propostas da atualidade. A nova direção, já em sua gestão, inaugurou um laboratório de Arte, tão eficiente quanto a uma sala ambiente, propondo novas perspectivas para o ensino da Arte na escola. Paralelamente organizou-se uma equipe de docentes para estudar documentos atuais que embasam a construção de um novo PPP (Projeto Político 152 Pedagógico) para a escola, principalmente, quanto à organização escolar e processos avaliativos para a prática pedagógica. Acredita-se que esta iniciativa provinda da direção da Escola X, com certeza, trará grandes benefícios para a escola no seu contexto educacional. As professoras do Ensino Fundamental, da escola Y e Z que participaram da entrevista, mostraram uma certa dificuldade em responder de forma esclarecida sua prática avaliativa nas aulas de Artes Visuais. Porém, disseram que avaliam todo o trabalho de produção individual ou coletivo apresentado; avaliam a participação e a boa vontade e avaliam a identificação e o reconhecimento crítico que os alunos fazem das obras estudadas em determinado contexto histórico. Questiona-se: Como esses alunos são avaliados? Como acontece a avaliação na perspectiva da participação e da boa vontade? Percebe-se nos relatos e práticas acima, que não há clareza por parte dos professores sobre sua prática de avaliação em Artes Visuais, o que reforça a importância dessa pesquisa e a necessidade de diretrizes mais específicas sobre o que e como avaliar em Artes Visuais. A diretora (Entrevistada 3) da escola Z relata: Aqui na escola a professora...é... a professora da manhã... ela tem um caderno que ela chama de portfólio e que os meninos vão coletando ali as atividades que são feitas ao longo do ano então eu observo que ela avalia esse caderno ... ela...eu vejo ela dá atividades de pesquisa para as crianças sobre os..o tema que ela tá trabalhando na época...ou o autor...ou pintor...ou escultor...que ela tá trabalhando...vejo muito ela trabalhar com...é... letras....números...é...o que que é isto...é grafitagem? Ela gosta muito dessas coisas...de... eu acho que é tudo arte visual mesmo [...] eu acho que ela gosta muito disso... no turno da tarde...é... é um trabalho muito voltado para datas comemorativas... e voltado para literatura... muitas vezes alguma... alguma atividade literária que puxa alguma coisa da Arte...muitas vezes aquela data comemorativa que puxa alguma coisa da Arte.(Entrevistada 3. Diretora de Ensino Fundamental). 153 Observa-se, nesse depoimento, que a diretora acompanha a prática da professora da manhã que sustenta uma prática formativa embasada em Hernández (2000) que aposta como recurso, o portfólio, que permite a cada aluno reconstruir o processo que seguiu e situá-lo na avaliação. Enquanto a professora da tarde faz um trabalho voltado para as datas comemorativas, que é um procedimento que vai contra o verdadeiro significado28 das Artes Visuais na educação e desconhece a metodologia adequada. É uma situação que destrói, em suas bases, as mais elementares condições para que o trabalho artístico seja efetivamente desenvolvido. Isto acaba por gerar situações perniciosas no interior da educação em Arte. Segundo os PCNs, há um descompasso entre os caminhos apontados pela produção teórica e a prática pedagógica da disciplina Arte. A prática corrente muitas vezes considera que o trabalho em Arte deve ter uma conotação decorativa, servindo para ilustrar temas de datas comemorativas, enfeitar paredes com motivos infantis, elaborar convites, cartazes, presentes para o dia dos pais, etc. E como fica a avaliação nesse contexto? A Arte visa o potencial criador da criança e esta prática, relatada acima, torna a disciplina inócua, com imposição de valores e cerceamento da criatividade. É no fazer artístico, na fruição e na contextualização e também no contato com os objetos de Arte que parte significativa do conhecimento em Artes Visuais acontece. Portanto é preciso rever o processo e resgatar o ensino da Arte como um fator importante na educação e na vida humana. A questão é repensar a educação sob a perspectiva da Arte, segundo Rubem Alves, citado por Duarte Júnior (2005) e se perguntar: A experiência da criança em Arte a cada momento deve ser avaliada pelo prazer que produz? Categoria 3: Dificuldades no processo de avaliação Nesta categoria objetivou-se analisar as dificuldades na avaliação do processo de ensino-aprendizagem na disciplina Arte, no âmbito do Ensino Fundamental e Médio 28 A integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, intuitivos, estéticos e cognitivos, assim como a promoção de interação e comunicação social, conferem caráter significativo às Artes Visuais. 154 e as dificuldades percebidas por alunos, professores e pais. Portanto, nesta categoria reuniram-se duas unidades de análise . Unidade 6: Dificuldades na avaliação dos alunos do Ensino Fundamental e Médio Os professores entrevistados não encontram dificuldades significativas para avaliar seus alunos, porém há um ponto que precisa ser levado em consideração que é o “tempo”. Eles só têm uma aula de Arte por semana e esta carga horária constitui um tempo muito curto para aplicar atividades avaliativas. Resolvem isto praticando avaliações contínuas, avaliando durante todo o processo de ensino-aprendizagem. A maioria utiliza o portfólio, diário de bordo ou mesmo um caderno de registros que facilitam o trabalho avaliativo. O Sistema de ensino precisa valorizar mais o ensino da Arte como área de conhecimento e buscar uma alternativa para colocar esta disciplina no mesmo patamar das outras áreas em relação à carga horária, em relação ao número de aulas semanais. Este é um desabafo que se ouve de professores compromissados não só com a disciplina, mas também com o desenvolvimento de seus alunos. Se assim for feito, os professores de Arte e os alunos estariam bem favorecidos. Unidade 7: Percepção das dificuldades na avaliação do processo de ensinoaprendizagem por parte dos alunos, professores e pais Os depoimentos dos diretores entrevistados elucidam bem quais dificuldades eles percebem no processo. Identificam essas dificuldades nos alunos e nos pais quando constatam que eles não entendem o que é uma avaliação, não entendem a importância da avaliação, principalmente em Artes Visuais. Quanto aos professores alguns não compreendem que ao avaliar os alunos, eles estão se avaliando. De acordo com o relato no discurso dos diretores entrevistados, é possível compreender essa situação e desvelar outras possibilidades interpretativas. Segundo o diretor (Entrevistado 2) da escola Y ele entende essas dificuldades da seguinte forma: 155 Bom... eu entendo assim... que a dificuldade é consolidar no aluno... que pra que haja aprendizagem ele precisa estudar... tem que haver a contrapartida do aluno... esse é o nosso maior trabalho... é de conscientizar o nosso aluno que essa aprendizagem ela precisa acontecer a partir do esforço desse aluno... da dedicação desse aluno... da busca desse aluno para que a aprendizagem se consolide... é importante para o professor a avaliação no âmbito de que ele precisa entender que quando ele está avaliando o seu aluno ele também está se avaliando... enquanto profissional... e os pais inteirar do processo para que possam ter a certeza de que escolheram uma escola que está pronta para o desenvolvimento integral do seu filho em todos os seus aspectos cognitivo...social...motor...psicológico.(Entrevistado 2. Diretor de Ensino Fundamental e Médio). De fato, ao avaliar o aluno, o professor também se avalia. Segundo Perrenoud (1999), aluno e professor estabelecem um contrato pedagógico e didático no qual cada um faz a sua parte. Assim, a avaliação compreende o que ambos fizeram ou deixaram de fazer. Às vezes, o aluno responsabiliza o professor pelo seu fracasso, ou o professor não reconhece que o fracasso da turma ou dos alunos pode ser por sua inabilidade pedagógica. Segundo Perrenoud (1999, p.165) “Se não se pode apagar totalmente esse aspecto, pode-se tentar arranjar o contrato pedagógico e didático de modo que não impeça o essencial, aprender e ensinar”. O aluno precisa reconhecer que não se aprende sozinho e que certas competências são coletivas ou exigem, pelo menos, uma forma de cooperação. É preciso, como afirma Perrenoud (1999), reconhecer a negociação como uma modalidade legítima de trabalho em todos os níveis. Principalmente, no nível escolar. A avaliação em Arte constitui uma situação de aprendizagem em que o aluno pode verificar o que aprendeu, retrabalhar os conteúdos, assim como o professor pode avaliar como ensinou e o que seus alunos aprenderam. Quanto aos pais é necessário, é importante que eles conheçam e apoiem os padrões ou os critérios do processo de aprendizagem. Reuniões, encontros são boas oportunidades para compartilhar os aspectos educacionais com os pais. O diretor (Entrevistado 1), da escola X faz a seguinte observação: ...aqui como escola apenas de ensino médio eu tenho observado que um grande número dos nossos alunos chegam aqui no 1º ano do Ensino Médio sem ter o hábito de serem avaliados... de passarem por processos avaliativos... sejam eles prova escrita, formal ou seja ele 156 arguição oral ou feira de ciências... enfim eu percebo que existe essa dif...esse estranhamento por parte do aluno em ser avaliado é... eles trazem já é...aquela...aquele pensamento de que a avaliação é algo punitivo e não para de fato construir o processo de ensinoaprendizagem... Então quando se pensa numa avaliação o aluno já tem já carrega até vamos chamar assim um trauma mesmo que seja de menor dimensão psicológica mas já carrega um trauma é... em relação.. ao que é... o significado da avaliação vê a avaliação como algo negativo mas eu entendo que a formação desse conceito e a quebra desse tabu ela tem que começar lá nas séries iniciais (Entrevistado 1. Diretor de Ensino Médio) Nesse depoimento o entrevistado 1, ao observar os alunos que chegam ao Ensino Médio, revela, segundo Leite (2009), o efeito aversivo do modelo tradicional de avaliação, adotado em grande parte das escolas, e aponta a necessidade de resgate de uma concepção de avaliação favorável às condições de aprendizagem e desenvolvimento do aluno lá nas séries iniciais. Alunos que vivenciaram experiências negativas com avaliação costumam desenvolver certa aversão pela disciplina, gerando aversão à situação escolar e a determinados objetos de conhecimento. E o diretor continua seu depoimento: ...em relação aos pais desses alunos é... eu acredito que a grande dificuldade muitas vezes é o pai desconhecer qual é o projeto da escola... desconhecer qual é a proposta da escola... pedagógica porque se o pai tiver o conhecimento de qual é a proposta da escola ele vai entender as razões e os métodos avaliativos... MAS... não basta só isso o que a gente observa na atualidade é que mesmo quando os pais têm ciência do projeto da escola e dos métodos avaliativos ou seja onde a escola pretende chegar... com o filho dele... no processo de ensino e aprendizagem é que os pais estão ausentes e não acompanham... esse processo do filho da maneira mais adequada...(Entrevistado 1. Diretor de Ensino Médio) Os pais que trabalham fora, que não têm um horário para o filho, ou aqueles julgados analfabetos, muitas vezes, não acompanham os estudos dos filhos e desconhecem realmente a proposta da escola. Outros não se interessam pelo que está acontecendo e só manifestam certo interesse quando descobrem que o filho pode receber uma reprovação. Cabe à escola buscar uma forma de conscientizar os pais ou responsáveis da importância do processo de ensino-aprendizagem, bem como da importância do acompanhamento do cotidiano escolar de seus filhos. 157 E finaliza: Com relação aos professores eu acho que o grande desafio é essa mudança do método... que muitas vezes o professor ...ele apresenta uma resistência à mudança... outras vezes a... o motivo da ... muitas vezes a resist...resistência é gratuita da personalidade do professor mas muitas vezes é porque ele também não tem a oportunidade de se capacitar em razão da da grande carga horária que ele possui... trabalhar no turno da manhã, tarde e noite a maioria dos professores hoje trabalham nos três turnos... então dão muitas aulas semanais e acabam não tendo nem tempo pra fazer essa capacitação. Entrevistado 1. Diretor de ensino Médio). A experiência docente desta pesquisadora comprova que, se os professores não estiverem sempre se atualizando, não estarão à altura de seus alunos e de suas potencialidades. Não se pode falhar como educador, muito menos como formadores de docentes profissionais. Com esse mundo em constante mudança é necessário que o professor procure se autoqualificar ao longo de sua carreira. É necessário estar atento às características próprias dos fundamentos para o ensino de Arte contemporâneo. Estar ciente das mudanças relacionadas às leis brasileiras, às novas diretrizes, enfim, para que um ensino de qualidade possa ser oferecido, todos necessitam estar cientes dessas mudanças. Há professores que buscam constantemente novos conhecimentos, querem se inovar. Outros, porém, se acomodam, são resistentes à qualquer mudança na escola. Apresentam como justificativa a falta de tempo ou porque estão perto de aposentar. São justificativas que não têm razão de ser, tendo em vista as oportunidades de capacitação que as escolas oferecem. Pergunta-se: Até quando a escola vai aceitar essa situação? Um comprometimento maior do aluno com os estudos, uma compreensão dos pais sobre a avaliação e a responsabilidade do professor no processo avaliativo são dados que coabitam no espaço escolar e exigem uma reflexão sobre o papel de cada um na educação escolar, no processo educativo. Categoria 4: Importância e relevância da avaliação em arte 158 Nesta categoria objetivou-se identificar a importância e relevância da avaliação no processo de ensino-aprendizagem em Artes Visuais. Portanto, nesta categoria reuniram-se duas unidades de análise. Unidade 8: Percepção da importância da avaliação no processo ensinoaprendizagem em Artes Visuais Os diretores entrevistados dão muita importância à avaliação em Arte quando, a partir da prática, o aluno consegue mostrar o que produziu, consegue consolidar esse conhecimento no campo da Arte. Os diretores pensam de forma unânime na Arte como uma disciplina tão importante quanto às outras disciplinas do currículo. É preciso que se compreenda a avaliação como uma ação reflexiva de suma importância em qualquer atividade trabalhada. Ela pode servir de meio para descobrir novos caminhos, novas rotas na longa caminhada que caracteriza o trabalho dos educadores. O contato gradativo com a literatura referente à avaliação possibilita rever conceitos, refletir e traçar novas estratégias. Unidade 9: Reflexão sobre a relevância da avaliação no processo ensinoaprendizagem em Artes Visuais A avaliação tem uma trajetória muito significativa na educação. É um assunto de amplo debate e discussão, extremamente polêmico e contemporâneo, principalmente aquela centrada na arte, em particular. Ao dialogar sobre a relevância da avaliação no processo ensino-aprendizagem em Artes Visuais com a supervisora da escola Z, tem-se o seguinte depoimento: Sim é muito importante porque as Artes Visuais estão pra todos os espaços ... na escola... em toda sociedade e...o aluno precisa é de uma orientação pra ele aprender a perceber o que está... muitas vezes o aluno não vê as artes expostas em todo lugar como Arte é...talvez uma... propaganda... uma situação ... é..que ele presencia 159 mas não vê aquilo como uma Arte (Entrevistada 10. Supervisora de Ensino Fundamental). A coordenadora do Ensino Médio (Entrevistada 11) da escola X sente a relevância dessa avaliação no trabalho que é feito com os alunos e a percepção da Arte presente em toda a escola, em todos os lugares. Da mesma forma, na entrevista com a supervisora (Entrevistada 12) do Ensino Fundamental da escola Y o discurso é o mesmo, ela acha que essa avaliação tem um caráter muito importante no desenvolvimento dos meninos, no desenvolvimento erudito, cognitivo e que, embora não seja primordial, a questão do ponto deve ser considerada na avaliação como em qualquer outra disciplina. Segundo a coordenadora e supervisora do Ensino Fundamental e Médio da escola Y, quanto à relevância da avaliação em Arte, ela comenta: “Grande relevância... eu acho que é de grande importância como qualquer outra disciplina... A Arte... ela é muito importante por que acho que é uma forma até pra gente perceber o que tá acontecendo com o aluno”. (Entrevistada 9. Coordenadora e Supervisora do Ensino Fundamental e Médio). Desse modo, os gestores estão envolvidos com a relevância da avaliação em Arte dando-lhe o “status” devido, conforme salienta a supervisora do Ensino Médio da escola X: “Eu dou importância igual as outras áreas e os alunos estão envolvendo mais e já estão entendendo a importância da Arte no Ensino Médio principalmente no ENEM” (Entrevistada 13. Supervisora do Ensino Médio). A possibilidade de serem aprovados desperta nos alunos um grande interesse no processo participativo, principalmente, nessa nova proposta de inserção da disciplina Arte como integrante na construção do conhecimento. Categoria 5:Procedimentos e instrumentos de avaliação Nessa categoria objetivou-se identificar e analisar os procedimentos e instrumentos avaliativos no processo de ensino-aprendizagem em Arte. Buscou-se dialogar com os coordenadores e supervisores das escolas selecionadas porque, no seu discurso, 160 havia possibilidade de detectar contribuições nesse sentido. Portanto, nesta categoria reuniram-se quatro unidades de análise. Unidade 10: Procedimentos das atividades de avaliação em diferentes situações educativas, no ensino de Artes Visuais no âmbito do Ensino Fundamental e Médio. De acordo com a coordenadora de Linguagem, Códigos e suas Tecnologias (Entrevistada 11) do Ensino Médio da escola X, no novo processo de avaliação que está sendo implantado na escola, a Arte acompanha o trabalho com os alunos de diversas formas, o tempo todo, na literatura, nos estilos de época, nas atividades festivas da escola, de forma interdisciplinar. Acentuou que, a partir do momento que a disciplina Arte começou a fazer parte do ENEM tal disciplina revestiu-se de grande importância. A aprendizagem da Arte é obrigatória pela LDB no Ensino Fundamental e Médio. Contudo, algumas escolas estão incluindo a Arte apenas em uma das séries de cada um desses níveis porque a LDB não explicitou que esse ensino é obrigatório em todas as séries. No caso do Ensino Médio, segundo Barbosa (2011): Algumas secretarias de educação estão usando o subterfúgio da interdisciplinaridade, e inclui todas as Artes na disciplina de Literatura, ficando tudo a cargo do professor de Língua e Literatura. Essa é uma forma de eliminar as outras linguagens de Arte, fazendo prevalecer o espírito educacional hierárquico da importância suprema da linguagem verbal e consequente desprezo pela linguagem visual (BARBOSA, 2011, p.13). Daí a necessidade de esclarecimento, e até mesmo campanha, em favor da Arte na escola, muito embora os PCNs tenham reconhecido seu lugar de destaque no currículo, ao dar à Arte a mesma importância que deu às outras disciplinas. Constata-se que, ao longo dos anos, a Arte foi assumindo a peja de mero suporte para as disciplinas consideradas mais importantes do currículo. Na tentativa de explicar as origens da desvalorização acirrada da Arte e de seu ensino, sabe-se que 161 isto é fruto de um processo histórico, uma herança da colonização brasileira, onde a Arte era concebida como trabalho manual, como acessório cultural de refinamento da elite intelectual, exatamente pelo fato de a ideia da Arte não ser considerada uma forma de conhecimento. Sob a égide da LDB, o ensino de Arte conquistou uma nova dimensão: assumiu o caráter de disciplina, responsável pela apresentação de um campo de conhecimento, particularizado por sua riqueza, diversidade e amplidão, como justifica Biasoli (1999, p. 165) ao afirmar que “[...] a Arte passa a ser entendida como uma área de conhecimento, com um domínio, uma linguagem, uma história [...]”. Porém, ainda existe um certo preconceito e a Arte continua destituída de importância no ambiente educacional. Esta disciplina por muito tempo foi considerada “menor” por alguns pais, alunos e professores talvez porque desconhecessem que estudar Arte é essencial, não só pelo conhecimento que se adquire nas aulas, mas também porque favorece a aprendizagem de outras disciplinas. De uma certa forma o ENEM vem reforçar a importância dessa disciplina, a partir do momento em que ela é inserida como parte no processo avaliativo. Enfim, para a Arte ter o mesmo valor das outras disciplinas não basta estar inserida no currículo, é preciso uma conscientização e tomada de atitude por parte de professores e de toda a escola. Não uma atitude conformista, mas um agir que busque uma verdadeira mudança, visando sempre o melhor para o aluno com o objetivo de torná-lo um cidadão crítico, criativo e que saiba ver, ouvir, sentir, preparar-se para atuar na sociedade e construir a sua história. Segundo a supervisora pedagógica (Entrevistada 13) do Ensino Médio da escola X: A avaliação é contínua e processual.No dia a dia toda atividade é avaliada ao longo do bimestre... no final de cada bimestre temos a prova por área de conhecimento... e a área a qual pertence Arte é Linguagens, Códigos e suas Tecnologias...a prova abrange 4 componentes curriculares Língua Portuguesa...Arte...Educação Física e Língua Estrangeira... a prova consta de 28 questões abrangendo as 4 disciplinas... 14 de Língua Portuguesa e as outras 14 divididas em três disciplinas.(Entrevistada 13. Supervisora de Ensino Médio). 162 Percebe-se que o processo avaliativo da escola X procura seguir o embasamento legal, conduzir a avaliação de acordo com a LDB, PCN e a Resolução 2.197 de 26 de outubro de 2012, pois, no que diz respeito ao caráter processual e contínuo a avaliação está acontecendo no dia a dia e a cada bimestre de uma forma global e não com os componentes curriculares isolados. A supervisora (Entrevistada 13) acrescentou que “O professor avalia o interesse, a participação... a parte teórica é que vai pra prova do PAC...prova por área de conhecimento”. Em seguida explicou o que é o PAC: Ele é equivalente ao ENEM... um tipo de avaliação que segue os padrões do ENEM onde o aluno faz provas durante dois dias das 4 áreas de conhecimento sendo que duas áreas num dia e duas áreas no outro e temos também a recuperação paralela recuperação de conteúdos isso deveria acontecer de acordo com a LDB... usa-se uma ficha com as atividades de recuperação paralela.. duas por ano... quer dizer uma por cada semestre.(Entrevistada 13. Supervisora de Ensino Médio). O PAC é uma inovação que a equipe dos professores da escola X organizou, com o objetivo de preparar os alunos para o ENEM. Os alunos estão sendo incentivados para realizarem o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e procuram valorizar o ensino da Arte que agora está inserida nesse exame. A escola oferece ainda oportunidades de recuperação para atendimento ao aluno que não apresentou domínio das aprendizagens básicas necessárias, previstas para o período. O depoimento da supervisora (Entrevistada 10) da escola Z mostrou como se procede as atividades naquele ambiente escolar: Bom nossa escola...essa avaliação acontece em cada aula... cada aula tem uma orientação... tem uma atividade proposta...os alunos são orientados para realizar as atividades e em cada atividade quando tem essa proposta.. essa orientação... ele realiza a atividade e é cobrada a realização da atividade... lógico que em cada uma ele vai colocar seu sentimento... ele vai expressar é...da forma que ele percebeu...daí a gente é...avalia ...o entendimento e o cumprimento desses critérios em cada atividade.(Entrevistada 10. Supervisora de Ensino Fundamental). E continuou: Bom a gente avalia da forma que a gente acredita que é essa forma... algumas atividades é...requer uma orientação ... os critérios e o aluno 163 vai expressar dentro de cada um é...o sentimento que ele percebe daquela...daquela atividade... daquele tema desenvolvido.(Entrevistada 10. Supervisora de Ensino Fundamental). O ano letivo, tendo em vista a avaliação nesta escola Z é dividido em três etapas. Em cada etapa são realizadas avaliações em todas as disciplinas onde são utilizados três instrumentos avaliativos diversificados. A escola Z, como já se esclareceu no início deste capítulo, possui diretrizes próprias de avaliação a serem seguidas pelos professores, porém, não tem diretrizes próprias para a avaliação em Arte. Percebe-se a necessidade de atualizar seu processo avaliativo de acordo com os últimos atos legais e normativos nacionais ( Diretrizes Curriculares, Resoluções, etc.) da Educação Básica que aconteceram devido às mudanças no contexto educacional nesses últimos anos. Na escola Y, segundo a supervisora e coordenadora do Ensino Fundamental e Médio, a avaliação em Arte acontece do seguinte modo: Nós utilizamos vários processos de avaliação ... nós temos a avaliação que é processual ... ela é dinâmica... e temos aquela que a gente avalia no dia a dia... que são todas as atividades independente da disciplina... e a gente tá sempre avaliando porque aqui nós trabalhamos com projetos interdisciplinares... então nesses projetos interdisciplinares a grande maioria a Arte está envolvida então é...é..a valorização está nesses trabalhos... em portfólios... em avaliações... nós damos avaliações é... intermediária e final igual qualquer outra disciplina. (Entrevistada 9.Supervisora e Coordenadora de Ensino Fundamental e Médio). Quando, nesse discurso é citado “projetos interdisciplinares”, vale a pena comentar um deles, elaborado na escola com a participação de todos os professores. Em 2012 a Escola Y iniciou um projeto interdisciplinar proposto pela rede, a qual a escola pertence, envolvendo todas as áreas do conhecimento a fim de atender à LDB sobre os estudos africanos. De acordo com o professor (Entrevistado 8) dessa escola, o “Projeto de Inculturação”, assim chamado, tratava-se de um projeto interdisciplinar para ser realizado em 2013. Os professores se reuniram diversas vezes e cada um ficou responsável por uma parte.Os alunos divididos, inicialmente, em duplas, depois em quartetos e por fim em grupos de cinco elementos utilizaram o laboratório de informática para pesquisar 164 “como trabalhar a Arte africana”. Focaram este trabalho na dança e nas Artes Visuais. O projeto se concretizou em 2013. Desde o início de seu desenvolvimento acontecia uma avaliação contínua, permanente, de autoavaliação e heteroavaliação29, numa relação estreita do processo ensino-aprendizagem entre alunos e professores. No segundo semestre, entre variadas atividades de Arte, como aconteceu no primeiro semestre, o projeto continua e somará suas atividades com a feira de ciências, que acontecerá no final do ano letivo com a presença da Direção e Inspetoria responsáveis pela manutenção da rede a qual esta escola pertence. Se a avaliação deste projeto der um resultado positivo, ele será implantado em outras escolas da rede de ensino. Segundo a supervisora (Entrevistada 12) da escola Y a avaliação se processa: Bem [...] no que se refere ao Ensino Fundamental porque é onde eu atuo aqui...as atividades de avaliação nós entendemos que as avaliações elas sejam processuais e contínuas... então todas as atividades que os alunos desenvolvem elas são tidas como avaliações e elas têm caráter...têm o caráter educativo inseridas nela... inclusive a... a... na disciplina de Arte porque como nós temos duas aulas semanais os meninos do Fundamental II têm duas aulas semanais... o professor ele consegue desenvolver uma atividade trabalhar com o conteúdo e logo em seguida desenvolver uma atividade que seja avaliativa... por ser também duas aulas e a...a questão da distribuição de pontos da disciplina de Arte é a mesma das outras disciplinas o tempo desse professor é mais reduzido porque infelizmente nós temos que pontuar que a... Instituição nós trabalhamos com os pontos... então... todas as atividades elas são avaliadas no sentido de distribuir pontos e de verificar o aprendizado do aluno.(Entrevistada 12. Supervisora do Ensino Fundamental II). Acredita-se que a escala de notas decide sobre a vida do educando e não o auxilia no seu crescimento. Esta é uma forma onde os alunos podem ser aprovados mas não detêm os conhecimentos necessários, detêm apenas uma porcentagem desse conhecimento. O aluno, que é julgado quantitativamente, submete-se às notas, sem autonomia, condicionando sua ação ao gosto do professor, muitas vezes. Este tipo de avaliação 29 Heteroavaliação está em oposição a autoavaliação neste contexto. Corresponde a “avaliação feita por outro ou por outros”. 165 classificatória não colabora para a construção do conhecimento. Entende-se que a avaliação, nesse processo, é uma simples classificação numérica, não pode ocorrer simplesmente com base em pontos, notas, mas deve estar fundamentada em critérios definidos. É um processo reducionista que se baseia em um julgamento dentro de um critério particular. No que diz respeito à pontuação, a Supervisora (entrevistada 12) esclarece: A maioria das Instituições brasileiras também trabalham com a questão da distribuição de pontos da verificação do conhecimento através da avaliação...é a ordem...é como o...o sistema escolar brasileiro ele... ele é feito dessa forma...[...] e a forma como aqui funciona... e...eu acho que ponto não é fundamental eu acho que a gente consegue avaliar a partir de outras formas mas é como aqui... aqui funciona dessa forma e consegue também desenvolver um trabalho interessante ... eu acho que... que a questão de pontuar uma avaliação não é algo que seja desmerecedor não... é algo que... eu acho que nós temos que ensinar pra os meninos como trabalhar com isso porque senão eles ficam uma questão de troca ... eu faço porque eu vou ganhar ponto e... não... eu faço porque eu vou adquirir um aprendizado com aquilo... mas isso é cultural eu acho que isso é trabalhado ao longo do tempo com eles mas assim é...é... o fato de pontuar... de se desenvolver uma atividade que ela seja avaliada com pontos não é negativo... é uma forma como a Instituição tem de trabalhar com a disciplina de Arte e com as outras disciplinas também.(Entrevistada 12. Supervisora de Ensino Fundamental). Esse caráter regulatório, limitado e fragmentário, implica em um processo de construção e prática restrita da avaliação, sendo sua elaboração delegada a equipes técnicas ou detentores de cargo de direção e/ou supervisão. Porém, a participação docente em atividades pedagógicas de reflexão coletiva (reuniões, encontros), aponta um processo de comunicação e compartilhamento de experiências que pode sinalizar mudanças nas práticas avaliativas. O relacionamento pedagógico, sustentado na reflexão coletiva, apoia-se no diálogo, nas diferentes perspectivas entre os gestores e professores, significa maior envolvimento e autonomia na vivência das práticas e aponta possibilidades de atualizar o processo de avaliação de forma diferenciada, inovadora, tendo como fundamento a participação coletiva e o poder compartilhado de decisão. E Penna Firme (1994, p. 6) sugere: “O momento é mais para inovar do que reproduzir tradicionais modelos”. 166 A revisão desses aspectos contribuirá para o fortalecimento das experiências práticas em construção na avaliação, aprofundando as dimensões em um projeto de processos inovativos em que os sujeitos assumem o curso das mudanças, conforme a realidade no seu contexto educacional. A valorização das ideias, que emergem nesses momentos de reflexão e compartilhamento, é fundamental para novas ações na “práxis” avaliativa. A educação brasileira consagrou a avaliação do aluno em função da atribuição de notas que funcionam como verdadeiras “medidas” da aprendizagem. Tornou-se, dessa maneira, prática habitual como apresentação de resultados da aprendizagem inculcando no aluno a ideia de que devem aprender para tirar notas e que a mesma expressa seu valor em números ou em letras. O processo avaliativo por meio de pontos, notas, vem da escola tradicional e permanece até os dias de hoje. Conforme o pensamento desta pesquisadora, criouse uma ideia de que “só se estuda para ganhar pontos e se não ganhar pontos não se estuda”. Ora, o saber não se reconhece por pontos. Mas existe uma forma de mudar essa postura: É criar no aluno a ideia de que se estuda para aprender e não para ganhar pontos. Essa mentalidade precisa, progressivamente, ser substituída. Os pontos são simples consequência, o que importa é o aprendizado, a construção e a apreensão do conhecimento. Então pergunta-se: Como os resultados serão apresentados se não houver pontos? Bem, acredita-se que uma informação, baseada nos objetivos da avaliação, pode demonstrar os seguintes resultados: o aluno alcançou uma aprendizagem parcial; o aluno alcançou uma aprendizagem total; o aluno não alcançou apendizagem satisfatória. Ou, pode-se buscar novas formas de definir os resultados que não sejam notas, como por exemplo, a avaliação descritiva, na qual os objetivos ou capacidades alcançadas pelo aluno são expressos em palavras. Esse processo de emitir resultados através da informação acima explicada, deve ser trabalhado não só com o aluno, mas também com os pais, responsáveis e toda comunidade, a fim de conscientizá-los do valor do estudo, da aprendizagem e 167 mostrar-lhes que a nota não tem nenhum valor, e dentro de si, não traz nenhuma informação confiável. Acredita-se que a forma mais indicada para o registro do resultado de avaliação em Arte é a avaliação descritiva em substituição ao ponto ou conceito. Expressar oralmente ou por escrito a avaliação do trabalho artístico pode ser mais revelador das habilidades desenvolvidas ou a desenvolver. Além de, em se tratando de avaliação em Arte, ser mais compatível com o conteúdo e os objetivos dessa área do conhecimento que lida, entre outros aspectos, com a criatividade, a sensibilidade, a estética, sendo esses aspectos muito particulares, apesar de existirem alguns parâmetros comuns. De forma descritiva fica mais fácil para o professor e o aluno compreenderem o que conseguiram e o que não conseguiram desenvolver em relação às habilidades exigidas em uma determinada atividade. Unidade 11: Instrumentos de avaliação utilizados no processo de ensinoaprendizagem das Artes Visuais. Os procedimentos e instrumentos de avaliação em Arte, são evidentes nas entrevistas a respeito da organização do trabalho pedagógico das escolas e da prática escolar cotidiana. Todas as escolas dividem a avaliação em três etapas. O ensino médio conduz uma avaliação que se aproxima do ENEM com avaliação global por área do conhecimento. Exercitam o simulado. Seguem uma avaliação contínua e processual, avaliam o tempo todo. Alguns professores utilizam como instrumentos avaliativos o portfólio, pesquisas, trabalhos interdisciplinares, trabalhos individuais e coletivos, registros e relatórios, trabalhos dentro e fora da sala, provas, autoavaliação, concursos, releituras, etc., conforme as diretrizes e o projeto de sua escola. Alguns professores buscam nos PCNs os objetivos da disciplina Arte, conforme especificados no capítulo três desta pesquisa, a fim de ajudá-los na avaliação, outros desconhecem esses objetivos. Segundo a professora (Entrevistada 4) da escola Z , os alunos trabalham as atividades avaliativas do seguinte modo: 168 Eles fazem o registro dos trabalhos em um caderno... que eles me entregam periodicamente por etapa...eles fazem trabalhos de pesquisa em casa que geralmente é sobre a vida e a obra de algum artista... de algum estilo de época...é...eles fazem produção em grupo e eu avalio de vez em quando com alguma prova...do conteúdo daquilo que tá sendo trabalhado no momento. (Entrevistada 4. Professora de ensino Fundamental). Em outro momento da pesquisa esse caderno é chamado de Portfólio. Instrumento utilizado pela maioria dos professores de Arte e algumas disciplinas do currículo já estão inserindo-o como uma alternativa eficaz de avaliação. A organização do trabalho dos alunos com habilidades diferentes, como registros dos trabalhos, pesquisa e produção, leva-os a se construirem como agentes da sua própria aprendizagem. Como se fossem autônomos, com capacidade de construir o seu próprio conhecimento. Porém, a avaliação em Arte pode se constituir, não só através do portfólio, de alguma prova, mas através de outros instrumentos, variados instrumentos selecionados segundo os objetivos que se quer alcançar, por exemplo; diário de bordo, entrevistas, seminário, autoavaliação, grupos de apresentação e performance, juri simulado, debates, etc. Ao ser questionado quanto aos instrumentos avaliativos utilizados em sua aula de Arte, o professor (Entrevistado 7) da escola X pontuou que utiliza “Atividades práticas e uma avaliação feita pela...pela Instituição”.(Entrevistado 7. Professor de Ensino Médio). Tendo em vista a reconstrução do PPP da escola X, deduz-se que as avaliações aplicadas aos alunos do Ensino Médio revestem-se de características próprias em sintonia com o contexto educacional onde se realizam. Segundo a professora (Entrevistada 6) da escola Y ela conduz a avaliação com textos para o aluno analisar como veículo de comunicação. Ela também utiliza o portfólio como instrumento de avaliação. Confirma em seu depoimento: Sim os alunos têm uma pasta e nessa pasta eles vão colocando tudo que eu vou dando então... os textos... as letras de música...os desenhos que eles fazem nas minhas aulas...as pinturas...aquilo que eles vão fazendo vai sendo colocado nessa pasta... ao final da etapa eu dou uma olhadinha e se tá completo...se tá completo... estando 169 completo o aluno já... eu já fico satisfeita.(Entrevistada 6. Professora de Ensino Fundamental). Conforme a fala dessa professora, ela afirma que não leva nada para casa para ser corrigido. Ela aproveita o espaço e o tempo escolar que a escola oferece, como a própria sala dos professores, os horários livres, corrige tudo e devolve para os alunos, comenta e os alunos colocam na pasta/portfólio. Na percepção da professora (Entrevistada 6), como ela mesma diz:” Eu acho que esse portfólio é uma forma também de controle para os pais...e os pais também conseguem ver que o filho está produzindo [...]”. Além desse portfólio a professora citou um outro tipo de portfólio como instrumento avaliativo. Trata-se do Portfólio de Práticas Culturais que funciona também como motivação para o aluno: Eu trouxe para a escola, nesse ano de 2013 é...chama Portfólio de Práticas Culturais então o...o ano letivo é dividido em três etapas...então na 1ª etapa, na 2ª e na 3ª os alunos têm que fazer dois trabalhos de práticas culturais por etapa... esse trabalho pode ser uma visita ao museu...uma visita ao cinema...assistir um filme ...um teatro...é...festa junina...é um trabalho sobre igreja que acha interessante a arquitetura daquela igreja também...uma praça que tem lá no bairro...quantos anos tem essa praça...quem fundou...qual era o prefeito na época...quem inaugurou... este tipo de coisa... então pode ser sobre uma avenida também...tudo isso é cultura...a Avenida Afonso Pena...ela é...ela possui é...o comprimento x... circulam por ali veículos assim... assim... assado... que Arte tem lá? ah tem o pirulito lá na Praça Sete... tem a praça da bandeira... tem isso...tem aquilo...aquilo é...então ...se o aluno trouxe duas práticas culturais por etapa ele...ele ganha a nota referente a uma avaliação intermediária que...eu não dou a avaliação intermediária... eu acho que é muita prova...é muita...muita coisa pra menino ficar decorando...decorando...eu acho que as práticas culturais rendem mais do que uma avaliação intermediária... eu fico só com a avaliação final...aquela no final da etapa... e a intermediária [...] é um trabalho que eu faço do sexto ao nono ano.(Entrevistada 6. Professora de Ensino Fundamental). O depoimento da professora (entrevistada 6) revela sua prática de organizar o ensino, em sintonia com alguns objetivos da Arte para o Ensino Fundamental, presentes nos PCNs de Arte que orienta essa prática no modo de buscar e saber organizar informações sobre a Arte em diversas formas, por exemplo: contato com artistas, documentos, acervos nos espaços da escola e fora dela (livros, jornais, vídeos, [...], cartazes) e acervos públicos (museus, galerias, centros de cultura, bibliotecas, fonotecas, videotecas, cinematecas), etc., reconhecendo e 170 compreendendo a variedade dos produtos artísticos e concepções estéticas presentes na história das diferentes culturas e etnias. A forma como essas aulas ocorrem, como os conteúdos são trabalhados, trazem consigo um “retrato” da opção didática da professora. Aqui, ela constrói uma ponte entre o conhecimento de sala de aula e o contexto externo, corroborando com as ideias de Gardner( 2000) que defende a adequação dos assuntos “não apenas às áreas curriculares, mas também a maneiras particulares de ensinar esses assuntos”. Para os alunos, a descoberta de um espaço no centro da cidade pode fornecer muitas alternativas para a educação fora dos muros da escola, seja com uma abordagem histórica, política, social, artística, cultural, arquitetônica, turística, patrimonial, enfim, um mundo de possibilidades que podem ser abertas com a mudança de mentalidades em relação à educação. O ensino da Arte, no contexto do museu, por exemplo, tem uma boa aceitação quando bem articulado com a escola/museu/professor de Arte. As ações educativas, desenvolvidas no espaço do museu, vêm se apresentando como trabalhos significativos para ampliar o diálogo com o público escolar e constituem uma alternativa de melhoria da qualidade do conhecimento artísticoestético. A professora utiliza processos onde recolhe dados e informações de seus alunos estimulando as práticas culturais em busca de melhorias. A relevância disto está na sintonia com as ideias de Hoffmann (2006) quando assinala que: o importante é apontar os rumos do caminho, ajustar os passos ao esforço necessário, torná-lo tão “sedutor” a ponto de aguçar a curiosidade do aprendiz para o que está por vir. Assim, pode-se estabelecer uma posterior tomada de decisão. Segundo Dowbor (2006), uma nova visão se apropria do universo do processo de ensino-aprendizagem. Além do currículo tradicional, os alunos devem conhecer e compreender a realidade onde vivem e onde serão chamados a participar futuramente como cidadãos e profissionais. Caminhos práticos são buscados 171 diferentemente, onde o ensino-aprendizagem no Desenvolvimento Local terá um papel mais amplo de conhecimento, o de formar uma nova geração de pessoas que conheçam os desafios a enfrentar. De acordo com o artigo 26 das Diretrizes Curriculares Nacionais (2013) para o Ensino Fundamental: Como protagonistas das ações pedagógicas, caberá aos docentes equilibrar a ênfase nos conhecimentos e valorização da experiência do aluno e da cultura local que contribui para construir identidades afirmativas, e a necessidade de lhes fornecer instrumentos mais complexos de análise da realidade que possibilitem o acesso a níveis universais de explicação dos fenômenos, propiciando-lhes os meios para transitar entre a sua e outras realidades e culturas e participar de diferentes esferas da vida social, econômica e política (BRASIL, 2013). Os espaços diversos de aprendizagem devem ser articulados com a escola para promover uma parceria nas transformações necessárias. A prática cultural exercida pelo aluno, quando assiste filmes, frequenta museus, vai ao teatro, participa das festas, é um envolvimento mais construtivo que se dá ao nível da sua própria cidade e dos seus entornos, na região onde vive. Entre o conhecimento formal e o local fecha-se o espaço aberto onde ele se desenvolve e aprende. Segundo o artigo 26, dessas Diretrizes para o Ensino Fundamental: A organização do trabalho pedagógico incluirá a mobilidade e a flexibilização dos tempos e espaços escolares, a diversidade nos agrupamentos de alunos, as diversas linguagens artísticas, a diversidade de materiais, os variados suportes literários, as atividades que mobilizem o raciocínio, as atitudes investigativas, as abordagens complementares e as atividades de reforço, a articulação entre a escola e comunidade, e o acesso aos espaços de expressão cultural (BRASIL, 2013). A ideia da educação para o Desenvolvimento Local, de acordo com Dowbor (2006), vincula-se à compreensão e à necessidade de se formar pessoas que no futuro possam atuar nas iniciativas de transformar seu entorno e gerar dinâmicas construtivas. 172 Quando a professora traz a cultura como um conjunto de ações que pode conduzir ao fortalecimento da aprendizagem do aluno, ela permite a configuração da identidade do lugar e de sua população. E é por intermédio da cultura que o aluno interage com o mundo à sua volta. A possibilidade de mobilizar os alunos e professores na pesquisa do local e da região é muito importante. Quando os alunos visitam as praças, avenidas e ruas, observam a arquitetura das igrejas, como tarefa de prática cultural, pesquisam, verificam suas histórias, aprendem sobre a cidade, terão capacidade e interesse de contrastar este desenvolvimento local com o processo de urbanização de outras regiões. Eles podem redescobrir o manancial de conhecimentos que existe ali, valorizá-lo e contextualizá-lo na sua classe, para a professora, para sua escola. Esta atividade extraclasse, torna-se fonte de estudo e aprendizagem não apenas para a disciplina de Arte, mas de conhecimentos de outras áreas. A Arte, por si só, não opera transformações na educação, mas a experiência com os processos de criação pode reorientar o sentido de ensinar, o papel do professor, a imagem da escola, bem como o valor das práticas culturais nas comunidades e na vida pessoal e profissional dos professores e nas relações entre as escolas e as instituições que promovem ações sociais. Os meios de aprender são numerosos e variados, considera-se essencialmente o que as crianças podem e devem se apropriar dos conhecimentos organizados, e a educação ocupa, nesse plano, um papel central no qual se espera a materialização desses conhecimentos em possibilidades de ação. O mundo educacional prevê o conhecimento trabalhado de forma organizada. Conhecimentos dispersos e subutilizados podem se tornar matéria-prima de um ensino diferenciado e condicionante para o desenvolvimento local. Quanto à avaliação na escola, a professora não permite que os resultados da avaliação intermediária (do regimento escolar) sejam supervalorizados em detrimento de suas observações diárias e práticas educativas. Assim, pode confrontar o que ensina com a realidade vivida. 173 Há uma tendência de fortalecimento de relações democráticas entre professor, aluno e pais, sendo perceptível no uso do portfólio. No capítulo III dessa investigação, além de expor vários instrumentos de avaliação e suas características, encontra-se em Shores e Grace (2001) o passo a passo para a elaboração desse instrumento avaliativo, o portfólio, bem como a apreciação de outros autores a respeito das vantagens e desvantagens na sua utilização. Para a professora (Entrevistada 5) do Ensino Fundamental da escola Y, os instrumentos que ela utiliza são:” Os próprios trabalhos de Arte que eles fazem...temos provas escritas também”. No desenrolar da entrevista percebe-se que esta professora dá vez e voz para o aluno, e no diálogo incessante os alunos vão falando de diversos pintores, escultores, então, na discussão em sala de aula há um momento extrovertido e sem estarem percebendo eles estão sendo avaliados. O portfólio também é usado como instrumento avaliativo nessa turma. Analisando a prática dessa professora, quando ela dá vez e voz ao aluno, confrontase com ideias presentes no Arts Propel, citado no capítulo III dessa investigação, sobre uma série de procedimentos de autoavaliação que apresenta importante papel no contexto da avaliação autêntica, onde os próprios alunos devem apresentar os seus trabalhos e colocar pública e oralmente suas conclusões para assegurar que dominam as tarefas que assumiram. No diálogo entre professor e aluno há uma tendência diretiva dos professores através de aulas expositivas e de não dar vez e voz para o aluno. No entanto, os estudantes entendem mais de seu próprio sentimento do que os professores pensam. O diálogo conduzido apropriadamente pode revelar valiosos “insights” para o processo avaliativo. No depoimento do professor (Entrevistado 8) da escola Y ele explica a utilização dos instrumentos avaliativos: Então... o que mais... seria mais importante... nós vamos dizer que é o que tem maior peso é o portfólio porque durante toda etapa que às vezes são 12 a 15 aulas então o aluno também tem a possibilidade de como são só 50 minutos de aula é uma aula só por semana então eu proponho uma atividade vou trabalhando com eles em sala mas 174 tem grande parte de alunos que tem uma... uma facilidade muito grande em terminar vamos dizer assim essa atividade em casa então este portfólio ele tem a oportunidade de aula e desenvolvendo as suas habilidades e chega no final da etapa eu...eu junto dele ele vai apresentar mostrar e apresenta o trabalho... Ele prossegue: Uma outra forma de avaliar tem a avaliação formal que faz parte do PPP da escola nós temos o simulado principalmente por causa do ENEM então eu trabalho as questões de ENEM com eles durante a etapa e no final nos últimos dias da etapa a gente faz um simulado onde cai de 8 a 12 questões de Arte . E continua: Uma outra forma que eu acho muito importante ... interessante no final da etapa eu peço pra eles que toda a atividade que a gente trabalha na sala e alguma atividade que eu passo pra casa ele vai fazer um relatório ele vai relatar tudo...seja o material que ele utilizou seja a justificativa do porque que ele chegou àquela conclusão o que que ele entendeu e no final ele vai apresentar um relatório tem momentos que eu peço que seja oral que é uma das partes mais interessante aonde outros alunos também podem colocar suas opiniões e muitas vezes eles me entregam só a parte escrita esses são os instrumentos que eu acho mais interessantes que eu tenho trabalhado nos últimos tempos.(Entrevistado 8.Professor de Ensino Médio). Confrontando esse depoimento com os PCNs de Arte é possível constatar uma sintonia, uma vez que os PCNs expressam que o professor deve saber o que é adequado para o aluno dentro de um campo largo de aprendizagem para cada nível escolar, ou seja, o que é relevante o aluno praticar e saber nessa área. Essas ideias também se encontram presentes no regimento escolar da escola, no PPP, definidos como suportes para a avaliação. Unidade 12: Identificação de estratégias diferentes da usual no ato de avaliar as atividades de Arte Encontrar e construir caminhos alternativos para proceder avaliações neste sistema escolar pouco aberto a mudanças é o grande desafio para o professor. Tem-se aqui três depoimentos diferentes que envolvem contato, parceria, atividade extraclasse. No depoimento da professora (Entrevistada 4) da escola Z ela diz: 175 Olha...de olhar o caderno...de olhar a produção todos os dias... eu acho que já é uma forma diferente...eu acho que o contato com o aluno ...a atenção que a gente dá pro aluno essa atenção individual na medida do possível ela é um jeito de... diferente de avaliar.(Entrevistada 4. Professora de Ensino Fundamental). Na escola Y , a professora (Entrevistada 5) fala de outra estratégia: Eu deixo os meninos avaliarem..eu não sei se isso acontece em outras séries porque na hora que eles fazem esse concurso...na hora que eles dão opinião no trabalho do outro....ajudam também... que às vezes uma criança está com coordenação motora... com dificuldade... menos...com menos habilidade... eles oferecem pra ajudar ...então eu vejo assim uma parceria entre eles... uma colaboração... perguntam se pode copiar aquela releitura do colega se pode fazer a colagem igual daquele outro colega que eles estão gostando...então eles interagem tanto... que eu acho fantástico tudo.(Entrevistada 5. Professora de Ensino Fundamental). E ainda na escola Y a professora (Entrevistada 6) diz: Eu saio com os meus alunos pra área livre pra trabalhar o meio ambiente... [...]então todos vão com o seu material... então é uma folha A4 de 60 que ela é mais durinha então...quem tiver lápis de cor leva...quem não tiver não precisa... pode fazer com luz e sombra... pra não forçar muito... eu não gosto muito de forçar o aluno...então se o aluno levou o lápis porque não tem lápis de cor e fez o que foi proposto ele...ele já está sendo avaliado... pra mim tá uma delícia... ele tentou fazer...fessora minha árvore tá meio torta eu falo...querido não se preocupe... o próximo ficará melhor...ele está sendo avaliado por mim sim...fessora mas eu vou ganhar total...eu falo... não se preocupe com isso gente...ponto não é tudo portanto é a experiência... mas eu dou a nota pra ele porque ele tentou...agora aquele que foi com a folha... chegou lá...sentou...e não fez NADA... ele não pode ser avaliado igualmente... eu acho que eu tenho que ser justa também... tenho que ser justa...porque ele não fez nada ...ele vai servir de...de um modelo ruim para os outros que estão tentando fazer... então esse não merece... esse nem tentou.(Entrevistada 6. Professora de Ensino Fundamental). As estratégias enunciadas pelas professoras apresentam uma amplitude de possibilidades onde o processo avaliativo se faz presente em momentos individuais e coletivos. Analisando essas estratégias, percebe-se que essas ideias estão presentes na LDB/1996, onde se encontram critérios para o rendimento escolar, observados na avaliação contínua do desempenho do aluno. “Da parte do professor a observação diária, a atenção dirigida ao que o aluno faz, ao que diz, ao modo como reage às diversas situações na sala de aula, como se comporta, como interage com a turma...”(Saviani, 2006, p.170). 176 Em vez de ser “imposta” em alguns momentos durante o ano, a avaliação deveria tornar-se parte do ambiente natural de aprendizagem. Na medida que passa a fazer parte do ambiente, não precisa mais ser separada do restante da atividade da sala de aula. Percebe-se ali que a avaliação é onipresente. Nesse espaço escolar da escola Y, o depoimento do professor (Entrevistado 8) apresenta a seguinte estratégia: No dia a dia uma das coisas que eu utilizo muito é o aluno poder falar ... relatar aquilo que ele tá vivendo... a experiência dele... então eu acho que uma coisa muito interessante que a gente faz e que dá certo e que nem sempre os outros fazem... porque depende do contexto... talvez não dê tempo pra ele... então uma situação é essa... uma outra situação que eu acho interessante... eu procuro... eu tenho especialização em arteterapia... então muitas das vezes eu proponho alguma...alguma dinâmica onde eles também falam...da dificuldade... seja mesmo que essas dificuldades sejam coisas pessoais... da família... ou de casa... então quando você descobre... o aluno sente que você está interessado não só que ele aprenda... que ele desenvolva o conhecimento na escola... mas você tem interesse pela vida dele... pelo que ele é... pelo que ele traz... isso ajuda muito e na escola ...tanto os pais como os próprios alunos como todos diante da escola falam muito dessa questão que a gente consegue fazer... que é procurar conhecer esse aluno... mais do que só dentro da sala dando atividade.(Entrevistado 8. Professor de Ensino Médio). Nesse contexto, é fundamental que o professor conheça o aluno, valorize-o, e seja capaz de despertar-lhe novos sentidos na construção do conhecimento. Quando o aluno sente que há um clima de confiança entre ele e o professor, ele se abre, adquire maior responsabilidade, aprende a enfrentar limitações, a aperfeiçoar potencialidades. Esta relação torna-se mais próxima, afetiva e dialógica, o que lhe permite avançar. O professor, ao tomar conhecimento das necessidades do aluno, pode sugerir atividades individuais ou em grupo para ajudá-lo a superar as dificuldades. Essa interação entre professor e aluno, visando a construção do conhecimento em seus vários aspectos e o envolvimento com sentimentos e emoções, está presente na linha de avaliação formativa. Sendo uma importante dimensão da mediação pedagógica do professor, as práticas de avaliação segundo Leite e Kager ( 2009) envolvem sensivelmente a dimensão afetiva, não se restringindo apenas aos aspectos cognitivos. Desta forma, devem ser planejadas e desenvolvidas como um instrumento sempre a favor do aluno e do seu 177 processo de apropriação do conhecimento. Cabe ao professor auxiliar o educando no seu desenvolvimento pessoal pelo processo de ensino-aprendizagem e responder à sociedade pela qualidade do trabalho educativo realizado. O professor (Entrevistado 7) da escola X, quando a pesquisadora perguntou-lhe se ele tinha uma estratégia diferente de avaliar, sua resposta foi imediata; “Creio que sim...porque eu olho muito mais a relação ser humano / ser humano”.(Entrevistado 7. Professor de Ensino Médio). Esse depoimento vai ao encontro do anterior. Unidade 13: Sugestões para avaliação em Artes Visuais Os dados obtidos nos depoimentos dos coordenadores e supervisores sobre essa unidade, revelaram-se insuficientes. As sugestões reproduzem o que já está acontecendo nas escolas selecionadas. Porém, notou-se a presença de alguns elementos significativos na prática de avaliação dos professores relacionadas com a aprendizagem dos alunos. Constata-se nesse estudo, que a teoria a respeito das práticas de avaliação em Artes Visuais são escassas no cenário nacional. Isso se torna notório devido ao fato de que essa disciplina só entrou para o currículo das escolas brasileiras, oficialmente, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96, e ainda necessita de alguns ajustes na forma de implementação. Diante da constatação acima, justifica-se a dificuldade que coordenadores e supervisores têm para sugerir propostas para a avaliação em Artes Visuais. Concluiu-se que a cultura de avaliação entre os gestores e professores pesquisados se encontra em construção, exigindo ainda tempo e estudos para que eles dominem o conhecimento ou pelo menos aprendam a articular e a desenvolver essa forma de avaliação diferenciada que as Artes Visuais requerem no contexto educacional do ensino Fundamental e Médio. Categoria 6: Desempenho do aluno na avaliação da aprendizagem 178 Nesta categoria objetivou-se analisar o desempenho do aluno na avaliação da aprendizagem do ponto de vista do professor. Portanto, nesta categoria há apenas uma unidade de análise. Unidade 14: A aprendizagem do aluno do ponto de vista do professor Analisando o desempenho dos alunos na avaliação do processo ensinoaprendizagem percebe-se, pela fala dos professores, que os alunos estão entendendo o contexto da Arte quando fazem a ligação do passado com o presente. Pelo diálogo, pela produção, interação, aprovação no ENEM, sabem identificar as influências dos grandes artistas do passado na contemporaneidade. Amam a Arte. Estão motivados e de um modo geral envolvidos com a Arte. Esse depoimento do professor (Entrevistado 8) da escola Y reflete o trabalho educativo inserido na avaliação: Interessante é quando a gente vê é...dá pra perceber no rosto deles... a forma deles questionar... deles colocar cada assunto... cada situação que acontece na sala de aula... então dá pra gente ver claramente pelo interesse deles... dá pra eu ver que eles entenderam... e uma outra forma que eu percebo bem que eles entenderam em Arte... é porque em todas as aulas... o início de cada aula eu tento fazer uma recapitulação muito rápida de 3 a 5 minutos da última aula... então eu peço pra que eles mesmos relatem... falem alguma coisa pra gente dar continuidade e não são todos... cada aula eu peço aluno diferente... então por aí eu percebo o tanto que eles têm entendido... porque eles conseguem relatar tudo que a gente trabalhou na aula anterior e muitas das vezes eles pesquisam... eles trazem mais informações ainda sobre aquele determinado assunto.(Entrevistado 8. Professor de Ensino Médio). O professor vê o aluno como sujeito da aprendizagem, sujeito que se interessa, que não esquece o aprendido, que pesquisa, se autoavalia e é mais crítico. Os alunos mostram-se capazes de apresentar o conhecimento que se construiu no processo: através do resultado das avaliações, do “feedback” do professor, no diálogo entre professor/aluno, na participação, na pesquisa. Ao relatar o conhecimento consolidase a aprendizagem. O depoimento da professora (Entrevistada 4) da escola Z revela como o aluno aprendeu: 179 Eu acho que é a própria participação ...deles dentro de sala de aula quando eles questionam ...quando eles perguntam... eles tão mostrando... além do interesse... que eles aprenderam aquilo que foi ministrado... alguma questão oral que a gente pergunta dentro de sala de aula...(Entrevistada 4. Professora de Ensino Fundamental). Dar vez e voz ao aluno é fundamental para que ele possa mostrar o seu desempenho, seu nível de conhecimento. É gratificante para o professor poder colher os frutos, saber que seu trabalho educativo não foi em vão. Categoria 7: Cenário das ações pedagógicas Nesta categoria objetivou-se identificar o cenário das ações pedagógicas e o “locus” no que diz respeito à avaliação em Artes Visuais, bem como o envolvimento dos alunos com a disciplina Arte. Portanto, nesta categoria reuniram-se três unidades de análise. Unidade 15: Identificação do “locus”30 da avaliação nas ações pedagógicas em relação ao cotidiano escolar das aulas de Arte As ações pedagógicas em relação às Artes Visuais se fazem presentes em cada aula, em cada atividade, na sala ambiente, nos laboratórios. Segundo a coordenadora (Entrevistada 11) da escola X, percebe-se a importância da avaliação em Arte e o lugar privilegiado que ela alcançou ao lado das outras disciplinas. A avaliação nas atividades da disciplina Arte é importante, o diretor abriu um novo conceito de avaliação e a Arte hoje se coloca juntamente com língua portuguesa... educação física... literatura... quase todas as matérias andam junto com a arte.(Entrevistada 11. Coordenadora de Ensino Médio). A Arte hoje estabelece vínculos muito estreitos com o cotidiano e com todas as outras formas do saber. Nesse depoimento constata-se uma perspectiva de interação da disciplina Arte no convívio com as outras disciplinas. Esse novo conceito de avaliação dado pelo diretor, que é avaliação global, ou seja, a avaliação por área do conhecimento, torna-se importante e capaz de propiciar maior 30 “Locus” como o lugar da avaliação na prática pedagógica. 180 responsabilidade aos estudantes acerca da construção de seu próprio processo de aprendizagem. Para a supervisora (Entrevistada 10) da escola Z, o “locus” da avaliação estaria na forma processual e cumulativa e encerraria em cada etapa. Ao mesmo tempo para a supervisora (Entrevistada12) da escola Y, o “locus” da avaliação seria primordial, porque fecharia o ciclo do processo de aprendizagem do aluno, para se ter a confirmação se houve realmente o aprendizado a fim de seguir em frente. Analisando o discurso dessas supervisoras, percebe-se que, para elas o “locus” da avaliação está na etapa final de um aprendizado, fechando um ciclo que se quer pronto e acabado. Um dos equívocos pedagógicos, é situar a avaliação como uma atividade formal que ocorre ao final do processo ensino-aprendizagem. Do ponto de vista processual, observando o interior da sala de aula, esta perspectiva mostra-se incompleta. Se a avaliação não for situada no interior das demais categorias deste processo, ela tenderá sempre a ser considerada de forma isolada, como atividade de final de processo. Para Antunes (2012, p. 261) “a avaliação do ensino-aprendizagem não constitui, assim, matéria pronta, discussão finalizada, teoria aceita”. Necessita um construir a cada dia, a cada aula, com cada grupo de alunos. É preciso reconhecer que se aprende a cada instante a verdadeira dimensão e direção da avaliação. Nesse sentido, percebe-se que o professor aprende a caminhar no percurso do seu prório caminho. Numa visão linear do processo, conforme Freitas et al. (2011), observa-se uma sucessão de etapas que começa com a definição dos objetivos do ensino, segue-lhe a definição dos conteúdos e dos métodos, passa pela execução do planejado e finalmente a avaliação do estudante. Dentro desta concepção, para melhorar o processo, basta apenas a otimização de cada etapa. Uma forma alternativa dessa organização abandona a visão linear acima, por outra, baseada em dois eixos interligados: objetivos / avaliação e conteúdo / método. 181 Assim, a avaliação não aparece no final, mas está justaposta aos próprios objetivos que dão base para a construção da avaliação. Porém, na escola atual, os objetivos permanecem embutidos na situação do processo ensino-aprendizagem e na própria avaliação definindo o destino do aluno. É esta posição da avaliação como reguladora de quais estudantes terão acesso aos novos conteúdos no futuro, que faz dela uma categoria central, predominante na prática pedagógica, voltada para a classificação e seleção. (FREITAS et al., 2011). Na verdade, o “locus” da avaliação do processo de ensino-aprendizagem em Arte está na sala de aula, na interação com os alunos, no dia a dia, nas diferentes situações educativas, nas ações pedagógicas do cotidiano escolar. Ela está o tempo todo presente e, consciente ou inconscientemente, orienta a atuação do professor na escola. Percebe-se, ao mesmo tempo, contradições e possibilidades existentes no processo ensino-aprendizagem. Unidade 16: As aulas de Arte no cenário da escola A Arte na educação como expressão pessoal e como cultura é um importante instrumento para a identificação cultural e o desenvolvimento individual. Barbosa (2011, p. 18) afirma que “Não é só incluir Arte no currículo que o crescimento individual e o comportamento do cidadão como construtor de sua própria nação, acontecem”. É preciso muito mais. É necessário se preocupar como ela é concebida e ensinada. Na escola Z, segundo a Diretora (Entrevistada 3) as aulas de Arte acontecem desde o 1º ano ao 6º ano do Ensino Fundamental: Tem um um conteúdo pré-determinado... a gente trabalha com as matrizes curriculares... eu observo que os professores... os nossos dois professores... tem um de manhã... um de tarde... eles trabalham muito mais com as artes plásticas... vamos falar assim... não é isso? é...eles não... eu não vejo muito música... eu não vejo teatro...eu vejo muito mais essas artes visuais que você diz... muito mais voltado para trabalhar os artistas... os escultores...é o desenho... o desenho livre... dobraduras... origamis... essas coisinhas da escola fundamental... realmente a arte visual...tá bem presente nessa escola...(Entrevistada 3. Diretora de ensino Fundamental). 182 As aulas de Arte contemplam os conteúdos pré-determinados promovidos pela escola, e não saberes adquiridos em situações extraescolares. Percebe-se que alguns conteúdos seguem o que está padronizado nos PCNs. Na escola X, o Diretor (Entrevistado 1) tem considerações a fazer sobre as aulas de Arte no cenário da sua escola: A aula de Arte aqui na escola ela...eu considero que ela tá um passo a frente já fazem alguns anos...já fazem alguns anos eu acredito que nos últimos cinco anos pra cá é...antes mesmo de eu tá como diretor os professores de arte já vêm fazendo um trabalho buscando essa associação da arte... com a Literatura... e isso modificou... o tipo da aula de Arte... então hoje... na escola é...a aula de Arte ela não é vista mais como aquela aula onde o aluno vai só colorir ...vai só desenhar... NÃO... hoje os professores de Arte aqui trabalham o conteúdo de uma forma densa... associada à literatura... associada às Artes Visuais... hoje conteúdos inclusive que estão presentes nas avaliações como o ENEM por exemplo...e agora eu como diretor ainda... é... fiz a sala de arte ... um dos espaços da escola agora foi disponibilizado para sala de Arte pra ser feitas as aulas práticas não mais dentro de sala ... então dentro de sala as aulas teóricas e possíveis de desenvolver alguma prática mais simples... mas tenho agora a sala de arte pra poder desenvolver as práticas ...(Entrevistado 1. Diretor de Ensino Médio). Nesse discurso, constata-se um cenário de aulas bastante teóricas ,tendo em vista a preparação para o ENEM. A disponibilização de um espaço apropriado para as aulas de Arte traz uma perspectiva de atividades práticas a serem desenvolvidas, modificando um cenário que se quer mais dinâmico e produtivo. Na escola Y, o Diretor (Entrevistado 2) afirma: Eu já vivi essas aulas de arte em diversas instituições...aqui na Escola Y eu vejo ainda a arte como uma disciplina de... de conteúdo teórico... eu não vejo ainda que o nosso aluno produz efetivamente é... algo no âmbito da arte... acho que é um trabalho que nós precisamos alcançar... que nós precisamos atingir... é uma meta que eu tenho eu gostaria muito que aqui tivesse em todos os lugares da escola produções dos nossos alunos e isso ainda vejo muito no âmbito da sala de aula... apenas como um processo teórico (Entrevistado 2. Diretor de Ensino Fundamental e Médio). Nesse depoimento, o diretor é muito enfático ao falar nas aulas de Arte como processo teórico. Acredita-se que os professores de Ensino Médio, preocupados em preparar os alunos para o ENEM, dão mais importância à teoria do que a prática. 183 Pergunta-se: Até que ponto o ENEM implica na mudança de trabalho em relação à Arte? Sabe-se, porém, que os alunos do Ensino Fundamental utilizam-se de várias atividades práticas no cenário educativo das aulas de Arte nessa escola. Unidade 17: O envolvimento dos alunos com a disciplina Arte A arte é uma disciplina que envolve os alunos de forma prazerosa e dinâmica se o professor souber conduzir suas aulas com habilidade e competência. Segundo a diretora (Entrevistada 3) da escola Z: Os alunos amam as aulas...não é...eles amam... eu acho que é é...uma organização de sala diferente ...são... são...são... mesas grandes... eles sentam em grupos... então é tudo diferente... eu acho a aula de Arte... eles gostam muito e a professora (Entrevistada 4) é muito querida... eles... o que eu observo é que eles gostam muito... a tarde há uma professora que é um espetáculo de professora...então o que a gente observa é assim... amam... amam a aula. (Entrevistada 3. Diretora de Ensino Fundamental). A professora (entrevistada 4) já havia mencionado o amor de suas crianças por ela e pela Arte. São alunos do Ensino Fundamental que expressam um interesse muito grande pela disciplina, que ficam na escola após o horário a fim de tirar dúvidas e resolver dificuldades com a professora. São muito aplicados em suas atividades. Ali não existe reprovação. Segundo o diretor (Entrevistado 2) na escola Y: No meu entendimento o envolvimento deveria ser maior porque é uma disciplina que deveria ser prazerosa a exemplo da educação física... como ainda estamos no âmbito da teoria... esse envolvimento ainda é pequeno...ele precisa ser aprimorado por todos nós da escola. (Entrevistado 2. Diretor de Ensino Fundamental e Médio). Quando acontecia esta entrevista, o desejo do diretor já estava se concretizando nessa escola, quando os alunos, engajados no projeto de Inculturação sobre a Arte africana, preparavam a apresentação de suas atividades num envolvimento muito significativo que contagiava toda a escola. 184 O diretor (Entrevistado 1) da escola X afirma: Hoje eu vejo os alunos... porque eu tenho essa visão do antes e do agora... porque eu tou aqui na escola há 17 anos... hoje eu vejo os alunos muito mais comprometidos com a aula de arte... nesta escola... repito... do que antes... criou-se esse novo conceito... os professores de arte aqui têm apostilas... eles desenvolvem inúmeras atividades... então por exemplo exposições que tem igual que no ano passado na CASA FIAT de cultura eles levaram os alunos... fizeram trabalho junto com Língua Portuguesa... então eu acho que todas essas ações elas... elas envolvem o aluno com o conteúdo de uma maneira onde ele vê o significado diferente das séries primárias.(Entrevistado 1. Diretor de Ensino Médio). O depoimento do diretor é confirmado, quando percebe-se que seu discurso está condizente com o dos seus colegas gestores, quando eles falam do compromisso dos alunos com a Arte, principalmente, depois que ela entrou como área de conhecimento, junto às outras disciplinas que fazem parte do ENEM. A organização também do espaço, disponibilizado só para as aulas de Arte, foi uma importante providência tomada pelo diretor, facilitando o trabalho criativo dos alunos nessa disciplina. Em síntese, o presente capítulo apresentou o sentido que a avaliação em Arte tem dado à escola de um modo geral, considerando o aspecto pedagógico no contexto das políticas educacionais em curso, em relação ao processo de ensinoaprendizagem. Pensando na complexidade desta relação, há questões que requerem um debate aprofundado, tendo em vista, avançar na construção de uma metodologia inovadora da avaliação no processo ensino-aprendizagem em Artes Visuais. Ao analisar o processo de avaliação do educando em diferentes situações educativas no ensino das Artes Visuais, no âmbito do Ensino Fundamental e Médio constatou-se que a avaliação em Artes Visuais, enquanto teoria e prática, não tem um paradigma amplamente aceito. Existe, isto sim, uma variedade ampla de modelos e, entre eles, discute-se a melhor maneira de avaliar e não se chega a um consenso. 185 Percebe-se que as diretrizes são direcionadas à avaliação da aprendizagem de um modo geral e não existe uma diretriz de avaliação específica voltada para as Artes Visuais. Durante a entrevista alguns professores mostraram dificuldade em definir os tipos de avaliação mais comuns na prática pedagógica bem como conceituar a avaliação de um modo geral. Os entrevistados de um modo geral conhecem poucos instrumentos e estratégias de avaliação. Pela insuficiência detectada sobre esse assunto tiveram dificuldades para dar sugestões para avaliação em Artes Visuais Sabem identificar o desempenho, o progresso de seus alunos. Mostraram dificuldade em identificar o “locus” da avaliação no processo ensino-aprendizagem. A maioria não tem claro o papel da disciplina. Algumas aulas de Arte são bem elaboradas e interessantes. Outras não. A avaliação é classificatória persistindo o modelo da escola tradicional, processo que não permite ao aluno possibilidades e leitura de mundo ampliadas. A nota limita os horizontes da formação do estudante e da própria avaliação. Cruzando os dados coletados nas entrevistas, análise dos documentos, estudos teóricos, cotidiano escolar, delineou-se um quadro que atestou o empenho das escolas na reconstrução do seu projeto pedagógico e na construção de práticas de intervenção. Assistiu-se assim as experiências vividas permitindo a configuração de um aprender a ensinar perante os novos desafios do contexto escolar em relação ao processo de avaliação em Arte. Tal análise mostra a necessidade de atualização dos entrevistados no sentido de buscar embasamento teórico para completar o conhecimento sobre as concepções da avaliação, buscar entender o sentido e o local onde se insere esta avaliação específica da Arte, conhecer novos instrumentos e estratégias para a prática da avaliação e discutir a possibilidade, de todos juntos, elaborar as diretrizes específicas de avaliação para o processo de ensino-aprendizagem das Artes Visuais. 186 Conclui-se, portanto, que a construção do conhecimento sobre avaliação em Arte, precisa, necessariamente, considerar as múltiplas dimensões e fatores que envolvem o cotidiano escolar, para cada professor, para cada aluno em particular com base no seu contexto e realidade concreta, possibilitando a elaboração de uma proposta com mecanismos favoráveis à construção de uma nova metodologia de avaliação especificamente aplicáveis às Artes Visuais. 187 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao retomar a leitura do breve histórico sobre a avaliação em Arte no processo ensino-aprendizagem, considerou-se as origens coloniais brasileiras, a fim de que se entendesse o processo formativo da cultura nacional. Essa cultura originou-se através de um transplante da cultura portuguesa: pensavam-se e viviam-se os valores e sentidos europeus, que pouco tinham a ver com as condições reais da terra. Nesse contexto, constatou-se que o processo avaliativo vivenciou diferentes momentos, que transitaram e ainda transitam entre as escolas com concepções que se alocam em extremos e ainda se fazem presentes, dificultando o delineamento de um espaço que favorecia outras concepções e práticas. Ao se fazer uma retrospectiva das diferentes concepções no decorrer de diversos momentos históricos, percebeu-se cinco fases e desdobramentos a respeito da avaliação que foram de encontro às práticas pedagógicas, o que implicou na utilização de um método lógico e único para todas as áreas de conhecimento. No princípio, na fase da Escola Tradicional constatou-se que o professor, por seu poder decisório, tornou-se o centro do processo pedagógico ao utilizar regras rígidas e severas, para assegurar a aprendizagem de seus alunos, incluindo mesmo punições e castigos corporais, o que somente acentuava a sua predominância no papel de transmissor do saber e o poder impositivo das regras, e, aos alunos cabia o papel de espectadores submissos e receptivos das informações transmitidas. Quanto à avaliação, havia uma valorização dos aspectos cognitivos e quantitativos expressos na verificação classificatória dos resultados. Isso pode ser evidenciado na metodologia proposta por Comênius (1985) que recomendava a observação e a reprodução de modelos artísticos perfeitos, de bases neoclássicas, e, posteriormente, a análise e a comparação das técnicas de desenho apreendidas. Ele afirmava, categoricamente, que esses exercícios deviam ser continuados, até que se criasse o hábito da Arte. 188 Presume-se nessa abordagem, que os pressupostos de Comênius já vislumbravam uma avaliação num processo contínuo como se faz hoje em dia. As ideias de Comênius (1985), instauradas no início oficial do ensino de Arte no Brasil, no século XVI, com os jesuítas, estimularam a ideia de Arte como aquisição de habilidades para o trabalho, ou seja, a ênfase no sentido utilitário do fazer artístico, fixado pela repetição, pelo aprimoramento e destreza motora. Essa postura, ainda hoje, se encontra arraigada nas práticas de muitos professores da escola contemporânea. Na segunda fase de desdobramento do processo avaliativo, ou seja, na Escola Nova constatou-se que todas as práticas pedagógicas estavam voltadas ao aluno em crescimento ativo e progressivo. Esta fase veio trazer contribuições relevantes: o professor deixou de ser o detentor do saber para reconhecer o papel ativo do educando; o professor passou a ocupar o papel de facilitador da aprendizagem do aluno de forma a permitir-lhe o desenvolvimento de suas habilidades inatas. A Escola Nova deixou marcas no processo avaliativo. Ela propugnou uma avaliação que não julgava em função de méritos ou padrões, mas sim que verificava os impasses e as dificuldades para o crescimento dos alunos e ao mesmo tempo, que era um meio auxiliar nesse crescimento, fazendo parte do processo de ensinoaprendizagem, dirigida com autoridade e não com autoritarismo, e respeitando o processo psicológico do aluno. Na perspectiva da Escola Tecnicista o foco foi avaliar, não apenas para medir mudanças comportamentais e de aprendizagem, mas também para quantificar os resultados e assegurar a eficácia do método. Os professores tecnicistas valiam-se de vários instrumentos avaliativos, como testes, escalas de atitude, inventários, questionários, check-list, fichas de registro, entre outros cuja finalidade buscava controlar a eficiência do ensino-aprendizagem. Assim, comparavam o desempenho obtido pelos alunos com os objetivos previamente estabelecidos. 189 A quarta fase de desdobramento avaliativo foi a avaliação na Escola Construtivista/Cognitivista cuja concepção apoiou-se na ideia de que aprender é fruto de uma construção pessoal, na qual os outros sujeitos são significativos para essa construção. O processo avaliativo acontecia em momentos individuais e coletivos; havia provas escritas e trabalhos a partir de pesquisas realizadas pelo aluno. Nas Artes Visuais o aluno procurava entender o contexto histórico das linguagens artísticas diferenciadas bem como tinha possibilidade de se ver como artífice dessa construção. A quinta fase foi a avaliação na Escola Progressista que se subdividiu em Escola Libertadora, Escola Libertária e Escola Crítico-Social dos conteúdos. Nessa fase o aluno foi estimulado a estudar dentro de uma perspectiva crítica e a criar novos saberes, percebendo a avaliação como um processo que orienta e aperfeiçoa a aprendizagem. Nessa fase a avaliação em grupo e a autoavaliação se tornaram práticas constantes além de abrigar um caráter informal. Os dados coletados permitiram afirmar a influência dessas abordagens nas escolas pesquisadas em termos de prática de avaliação em Artes Visuais. O ensino preservou os traços tradicionais, escolanovistas e tecnicistas em maior ou menor grau. Na prática essas pedagogias se imbricam, não são lineares, mas manifestamse justapostas no contexto do processo ensino-aprendizagem das Artes Visuais. O momento agora é de inovação e não de reprodução dos modelos avaliativos. Ousar e buscar uma nova ação avaliativa para se projetar no futuro...é o desafio. Quanto aos conceitos, características e funções da avaliação, apresentados nesta investigação, eles tiveram como ponto de partida a LDB e as contribuições teóricas de vários autores com prioridade ao final na avaliação do processo ensinoaprendizagem em Arte. Os conceitos expressos por seus autores constataram a ênfase no desempenho do aluno e unanimidade em considerar a avaliação como parte do processo de ensinoaprendizagem vinculado à escola. 190 Em relação às características da avaliação, tornou-se possível identificá-las no processo. Observou-se uma característica pontual onde o aqui e o agora do conhecimento é verificado; uma característica classificatória que determina o nível alcançado pelo aluno de acordo com o resultado e uma característica seletiva que conduz à permanência ou não do aluno na escola. Em contrapartida, detectou-se uma característica não-pontual, onde o professor pode acompanhar o aluno no antes, no agora e no depois de seu desempenho; uma característica dinâmica com a utilização de diferentes instrumentos avaliativos e uma característica diagnóstica que possibilita uma maior satisfatoriedade no que se está buscando ou construindo. Detectou-se, nesse estudo, as funções gerais e específicas da avaliação que fornecem as bases para o planejamento e possibilitam melhoria na aprendizagem. Constatou-se, nesse estudo, que a teoria a respeito das práticas de avaliação, especificamente, em Artes Visuais são escassas no cenário nacional devido ao fato de que sua entrada para o currículo só aconteceu oficialmente na LDB como área de conhecimento no mesmo patamar das outras disciplinas, em 1996, porém, ainda necessita de alguns ajustes na forma de sua implementação. Apesar dessa constatação, foi possível identificar contribuições relevantes nesse cenário, de pesquisadores citados ao longo desse trabalho. Apurou-se que não há nenhum embasamento legal e nenhuma diretriz específica de avaliação no processo de ensino-aprendizagem para as Artes Visuais. As diretrizes existentes são voltadas para as áreas de conhecimento de um modo geral. Verificou-se que, em Arte, os critérios de avaliação dependem dos conteúdos e objetivos de cada projeto ou sequência didática. No processo avaliativo, pode-se observar que cada conteúdo exige um instrumento de avaliação adequado: não é possível avaliar se o aluno compreendeu a história do desenvolvimento da máquina fotográfica por um ensaio fotográfico. Nesse caso, o instrumento pode ser um texto escrito sobre o assunto. Nem sempre se pode avaliar 191 um conteúdo teórico com base em um trabalho prático. Há necessidade de instrumentos específicos para avaliar o fazer e ver Arte. Essas ações só farão sentido se relacionadas aos conteúdos que estão sendo ensinados ou trabalhados. Ao pensar na formação de professores, tanto a inicial quanto a continuada, é preciso considerar a realidade de trabalho, bem como, ampliar o domínio de conhecimentos e o potencial reflexivo oportunizando o aperfeiçoamento profissional, a ação consciente, a escolha de formas de ensinar e avaliar mais adequadas e compromissadas com a realidade. Com base nos relatos da presente pesquisa, é necessário rever e alterar as práticas de avaliação adotadas tradicionalmente. O resultado dessa pesquisa em linhas gerais veio contemplar os objetivos delineados, bem como a hipótese. O processo de avaliação em Artes Visuais foi analisado em diferentes situações educativas no âmbito do Ensino Fundamental e Médio à luz dos pressupostos teóricos bem como na pesquisa de campo através da coleta de dados empíricos proporcionada pelas entrevistas semiestruturadas. Esses dados serviram para subsidiar a construção da proposta de intervenção, produto técnico, que é um guia metodológico de avaliação em Artes Visuais para o ensino Fundamental e Médio para o curso de formação docente em Artes Visuais – Licenciatura, estendido à toda comunidade docente em Artes Visuais. Considerando que a realidade pesquisada está diretamente associada à atividade profissional da pesquisadora, esta proposta de intervenção cumpre a exigência desse Mestrado Profissional e Interdisciplinar em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local de gerar um produto técnico como contribuição da pesquisa. Espera-se que o conteúdo e ações previstas possam contribuir com as práticas de avaliação do processo ensino-aprendizagem em Arte, consequentemente com os processos de mudanças conectados com a realidade histórico-social dos sujeitos e com os processos democrático-participativos. 192 REFERÊNCIAS ANTUNES, C. Na sala de aula, Petrópolis, Vozes, 2012. ARSLAN, L.M. Ensino de Arte. São Paulo: Thomson Learning, 2006. BARBOSA, A. M. (org.). Arte / Educação Contemporânea: consonâncias internacionais. São Paulo: Cortez, 2005. ______, Inquietações e mudanças no ensino da Arte. Sâo Paulo: Cortez, 2011. ______, Tópicos Utópicos. Belo Horizonte: Editora C/Arte, 2001. BAUER, M. W.; GASKEL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis:Vozes, 2000. BIASOLI, C. L. A. A formação do professor de Arte: do ensaio...à encenação. Campinas: Papirus, 1999. BOUGHTON, D. Avaliação: da teoria à prática. In: BARBOSA, A.M. (org.). Arte/educação contemporânea: Consonâncias Internacionais. São Paulo: Cortez, 2005. BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica / Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Brasília, 1996. BRASIL. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Arte.Brasília. MEC/SEF, 1998. CRV - Centro de Referência Virtual do Professor. Regulação e Auto-regulação, 2012. Disponível em: http;//crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/index.aspx Acesso em: 20 de novembro de 2012. COMÊNIUS, J. A. Didática Magna. Lisboa: Fundação Calouste Goulbenkian, 1985. DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez, 2012. DOWBOR, L. A. A reprodução social. São Paulo: Vozes, 1998. DUARTE JÚNIOR, J.F.Fundamentos Estéticos da Educação. Campinas, SP:Papirus, 2005. EISNER, E. Educating Artistic Vision. London: Macmilian, 1972. 193 FERNANDES, D. Avaliação em educação: olhares sobre uma prática social incontornável. Pinhais, Editora Mello, 2009. FERRAZ, M. H. C. T.; FUSARI, M. F. R. Arte na educação escolar. São Paulo: Cortez, 2001. FREITAS, L. C...[et al.]. Avaliação educacional: caminhando pela contramão. Petrópolis, Vozes, 2011. FRISON, L. M. B. Portfólio na Educação Infantil. Ciências e Letras, Porto Alegre, n. 43, p. 213-227, jan./jun. 2008. Disponível em: http://www.fapa.com.br/cienciaseletras. Acesso: 13/08/2013. GADOTTI, M. Perspectivas atuais da educação. Porto Alegre. Ed. Artes Médicas, 2000. GARDNER, H. Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre, Artmed, 2010. GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. Ed. Atlas,S. A., 2010. GOMES, S. S. Tessituras Docentes de Avaliação Formativa. Belo Horizonte, FAE/UFMG, 2005. GUIMARÃES, L. Desenho Design Desejo: sobre o ensino do desenho. Terezina: EDUFPI, 1996. HARGREAVES, A.; EARL, L.; RYAN, J. Educação para a mudança: recriando a escola para adolescente. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001. HADJI, C. Agir remediando de modo eficaz. In: Hadji, Charles. Avaliação desmitificada. Trad. Patrícia C. Ramos. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001. HOFFMANN, J. Avaliação mediadora: uma prática da construção da pré-escola à Universidade. Porto Alegre, Mediação, 2002. _____, Avaliação: mito e desafio – uma perspectiva construtivista. Porto Alegre: Educação e Realidade, 2006. HERNÁNDEZ, F. Cultura Visual, Mudança Educativa e Projeto de Trabalho. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. IAVELBERG, R. Para gostar de aprender Arte: sala de aula e formação de professores. Porto Alegre; Artmed, 2003. LEITE, S. A. S.; KAGER, S. Efeitos aversivos das práticas de avaliação da aprendizagem escolar. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2009. LIBLIK, A. M. P. Avaliação Educacional, Cinfop. Curitiba:UFPR, 2005. 194 LUCKESI, C. C. Avaliação da Aprendizagem Escolar. 20ª edição. São Paulo: Cortez, 2009. MINAYO, M. C. S. Avaliação por Triangulação de Métodos: Abordagem de Programas Sociais. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2005. MG/SEE – Secretaria de Estado da Educação. Resolução do Conselho Estadual de Educação nº 2.197 de 26 de outubro de 2012, p. 66. OLIVEIRA et al. A concepção crítico dialética na educação: Alternativa à concepção do aprender a aprender, priorizada pela “pós-modernidade”? – Trabalho, Política e Formação Humana: Interlocuções com Marx e Gramsci. PUC- Minas, 2000. OLIVEIRA, M. M. Como fazer pesquisa qualitativa. 3. Ed. Petrópolis (RJ): Vozes, 2007. OLIVEIRA, M. O. “O papel da cultura visual na formação inicial em Artes Visuais”. In: MARTINS, Raimundo; TOURINHO, Irene (Orgs.) Educação da cultura visual narrativas de ensino e pesquisa. Santa Maria: Edufsm, 2009. PENNA FIRME, T. Avaliação:Tendências e Tendenciosidades. Rio de Janeiro, Ensaio: Cesgranrio, 1994. _____,Os avanços da avaliação no século XXI. Rio de Janeiro, Ensaio: Cesgranrio, 2005. PERRENOUD, P. Avaliação: Da excelência à regulação das aprendizagens – entre duas lógicas. Tradução de Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: Artmed, 1999. PIMENTEL, L.G. et al. Conteúdos Básicos Comuns. Belo Horizonte, SEE/MG, 2010. RABELO, E. H. Avaliação: novos tempos, novas práticas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. RIBEIRO, M. L. S. História da Educação Brasileira: a organização escolar. São Paulo: Cortez & Morais, 1981. REFERÊNCIAS PARA FORMAÇÃO de Professores, MEC/SEF, 1998. ROMÃO, J. E. Avaliação Dialógica: desafios e perspectivas. São Paulo: Cortez, 2009. SACRISTÁN, J.G.; PÉREZ GÓMEZ, A. I.. Compreender e transformar o ensino. Porto Alegre, Artmed, 2011. SANT’ANNA, I. M. Por que avaliar? : Como avaliar? : critérios e instrumentos. Petrópolis, Vozes, 2010. SANT’ANNA, I. M. ; RAMOS, H.C. Os nove jeitos mais comuns de avaliar. Revista Nova Escola, 2008, p.18. 195 SAVIANI, D. A nova lei da educação LDB trajetória, limites e perspectivas. Campinas, SP: Autores Associados, 2006. SEE – Secretaria de Estado da Educação, MG. Resolução CNE / SEE nº 2.197 de 26 de outubro de 2012. SHORES, E.; GRACE, C. Manual de Portfólio: um guia passo a passo para o professor. Porto alegre: Artmed Editora, 2001. SOEIRO, L.; AVELINE, S. Avaliação Educacional. Porto Alegre: Sulina, 1982. VASCONCELLOS, C. S. Avaliação da aprendizagem: práticas de mudança – por uma práxis transformadora. São Paulo: Libertad,2003. VILLAS BOAS, B. M. F. Avaliação: políticas e práticas. Campinas: Papirus, 2004. VILLALTA, L. C. O que se fala e o que se lê: língua, instrução e leitura. In: NOVAIS, F. A história da vida privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. WILSON, B. Mudando Conceitos da Criação Artística: 500 anos de Arte/Educação para crianças. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE O ENSINO DE ARTE E SUA HISTÓRIA. São Paulo: MAC/USP, 1990. ZABALA, A. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre, Artmed, 2010. ZIMMERMAN, E. Avaliação autêntica de estudantes de Arte no contexto de sua comunidade. In: BARBOSA, A.M. (org.). Arte/educação contemporânea: Consonâncias Internacionais. São Paulo: Cortez, 2005. ZORDAN, P. B. M. B. G. Concepções didáticas e perspectivas teóricas para o ensino das Artes Visuais. 2005. Disponível em: www.periodicos.udesc.br Acesso em: 22 de agosto de 2013. APÊNDICES APÊNDICE A – CONTRIBUIÇÃO TÉCNICA DA DISSERTAÇÃO CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO MESTRADO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL TÂNIA ALVES DE SOUSA OLIVEIRA CONTRIBUIÇÃO TÉCNICA DA DISSERTAÇÃO GUIA DE METODOLOGIAS DE AVALIAÇÃO EM ARTES VISUAIS PARA O ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO BELO HORIZONTE - MG 2013 TÂNIA ALVES DE SOUSA OLIVEIRA GUIA DE METODOLOGIAS DE AVALIAÇÃO EM ARTES VISUAIS PARA O ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO Esta contribuição técnica foi elaborada a partir da dissertação de mestrado intitulada:“O PROCESSO DE AVALIAÇÃO EM ARTES VISUAIS: Perspectivas e Inovações direcionadas à formação docente”, tendo como autora Tânia Alves de Sousa Oliveira sob a orientação da prof. Dra. Adilene Gonçalves Quaresma. BELO HORIZONTE - MG 2013 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 05 2. EMBASAMENTO LEGAL 08 3. ARTES VISUAIS E AVALIAÇÃO: CONCEITOS 14 4. ARTES VISUAIS: OBJETIVOS GERAIS 17 5. CONTEÚDOS DE ARTES VISUAIS 19 6. CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO EM ARTES VISUAIS 23 7. INSTRUMENTOS E METODOLOGIAS DE AVALIAÇÃO EM ARTES VISUAIS 8. CONCLUSÃO 25 35 REFERÊNCIAS 36 Obra de Renoir 5 1 INTRODUÇÃO A avaliação tem sido um assunto de amplo debate e discussão, extremamente polêmico e contemporâneo. Houve muitas mudanças na educação e também na avaliação como parte desse processo. A avaliação é um tema ainda em construção, principalmente, aquela centrada na Arte, em particular. Enquanto uma atividade teórica e prática, a avaliação não tem um paradigma amplamente aceito. Existe, isto sim, uma grande variedade de modelos e, entre eles, a respeito de uma melhor maneira de avaliar, pouco se concorda. É necessário transformar o discurso avaliativo em mensagem que faça sentido, tanto para quem a emite quanto para aquele que a recebe. O maior interesse de um processo de avaliação deveria recair no fato de se tornar verdadeiramente informador. A avaliação precisa tornar-se o momento e o meio de uma comunicação social clara e efetiva sobre o processo ensino-aprendizagem, principalmente, indicando as dificuldades enfrentadas e as capacidades adquiridas, tanto por parte do professor como do aluno. Deve sempre fornecer ao aluno informações sobre seus erros e dificuldades, bem como o êxito adquirido na aprendizagem, para que ele possa compreender e sentir que lhe são úteis. O problema central é a postura avaliativa do professor, que deve tentar encontrar e construir caminhos alternativos, para proceder avaliações neste sistema escolar pouco aberto a mudanças. Esta contribuição técnica constitui-se como parte do trabalho de conclusão de curso do Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA e exigência legal, tendo em vista o caráter profissional do mestrado. Ela tem por referência pesquisa realizada no Mestrado Profissional, iniciado em 2012 e concluído em 2013, cujo objetivo foi analisar o processo de avaliação do educando em diferentes situações educativas no ensino das Artes Visuais, no âmbito do Ensino Fundamental e Médio. Nesse sentido, ao buscar identificar a pedagogia dessa relação, detectou-se a necessidade de reconstrução do processo de avaliação como parte de um movimento onde se imbricam 6 compromisso e desenvolvimento de uma práxis pedagógica comprometida com a inclusão, com a pluralidade cultural, com o respeito às diferenças, com a construção coletiva. A atualização do professor é importante, pois poderá apresentar aos alunos os conhecimentos mais avançados de sua época. Ao mesmo tempo que seus conhecimentos prévios merecem todo o respeito, o papel do professor só se completa no exercício de uma atividade constante de pesquisa, de estudo e de produção escrita reflexiva, de modo que ele possa avançar, garantindo um conteúdo substantivo e atualizado, em relação à cultura e educação, para si e para aqueles a quem pretende educar, ampliando progressivamente seu círculo de experiência. Ao concluir a investigação pensou-se, que, pretensiosamente haveria a possibilidade, a partir desses estudos, de elaborar uma proposta de intervenção relativa à construção de uma nova metodologia de avaliação em Artes Visuais, favorecendo a produção de novos conhecimentos e uma prática relevante nos processos educacionais. A intenção da proposta é reflexiva e surge com a possibilidade de contribuir com a produção educacional no que diz respeito às Artes Visuais no Ensino Fundamental e Médio; promover inovações educacionais no campo da avaliação em Artes Visuais; melhorar os processos e a efetividade educacionais nesse campo; favorecer a produção de novos conhecimentos; ajudar na melhoria de qualidade das aulas; interagir com tecnologias contemporâneas no ensino da Arte; compartilhar atitudes e valores; valorizar a formação docente. O objetivo dessa proposta é oferecer aos docentes, em formação, do curso de Artes Visuais – Licenciatura, aos egressos, docentes atuantes no ensino das Artes Visuais e gestores, um Guia de Metodologias voltado para a melhoria dos resultados escolares, com possibilidade de concretizar mudanças na avaliação em Artes Visuais, ao garantir a qualidade na execução do trabalho avaliativo, o que pode auxiliar na redução da evasão escolar, na busca por valorizar saberes da prática em consonância com o desenvolvimento do educando, tendo em vista sua inserção na escola e na comunidade em torno das políticas educacionais. 7 Para elaborar esse Guia de Metodologias buscou-se embasamento na dissertação “O processo de avaliação em Artes Visuais: perspectivas e inovações direcionadas à formação docente”, e embasamento teórico em Arslan (2006), Barbosa (2005), Gardner (2010), Hernández (2000), Liblik (2005), Sant’Anna (2010), entre outros e estrutura-se da seguinte forma: A introdução apresenta alguns pressupostos que orientam a discussão da temática, o objetivo e estrutura do texto; em seguida apresenta-se o conceito, objetivos gerais, conteúdo, critérios, instrumentos, metodologias de avaliação em Artes Visuais que convergem na perspectiva da política educacional. Conclui-se que, ao repensar a função da avaliação, haja possibilidade de encontrar nessa proposta, mecanismos favoráveis de avaliação especificamente aplicáveis às Artes Visuais e que atendam aos interesses dos docentes em formação, dos egressos, dos docentes atuantes e principalmente do educando. Obra de Renoir, 1884 8 2 EMBASAMENTO LEGAL Os documentos legais e oficiais consultados, para embasamento desse trabalho, foram: 1. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, Lei nº 9.394/96 (BRASIL,1996); 2. Resolução do Conselho Estadual de Educação nº 2197 (MG/SEE, 2012, p. 66); 3.Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica, (BRASIL, 2013); 4. Parâmetros Curriculares Nacionais – Arte (BRASIL,1998); 5. Conteúdos Básicos Comuns – CBC (PIMENTEL et al.2010). No que diz respeito a avaliação, a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) nº 9.394/96, em seu artigo 24, item V, sinaliza alguns critérios que devem ser observados quanto ao desempenho dos alunos na verificação do rendimento escolar direcionados a todas as disciplinas de um modo geral. São eles: a) Avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais; b) Possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar; c) Possibilidade de avanço nos cursos e nas séries, mediante verificação do aprendizado [...] (BRASIL, 1996). Da letra “a” entende-se que o aluno não pode ser avaliado num momento isolado do resto do processo, e que a avaliação não é o ponto alto do bimestre. A avaliação só se entende como processo contínuo. Da parte do professor, diz respeito à observação diária, à atenção dirigida ao que o aluno faz, ao que diz, ao modo como reage às diversas situações na sala de aula. Como se comporta ao enfrentar certos conteúdos, em que aspectos demonstra maior ou menor facilidade, quanto cresceu em relação aos comportamentos anteriores, como interage com a turma... e assim por diante (SAVIANI, 2006, p.170). O texto da LDB indica que, além de contínua, a avaliação seja cumulativa. Que os instrumentos e formas de avaliação priorizem uma visão global das matérias estudadas, levando o aluno a utilizar as capacidades que foi adquirindo em outros meses, em outras séries. Que as questões ou situações-problemas sejam abrangentes, interligando os saberes estudados. Que deverá haver prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos. Este é um aspecto crucial no entendimento da noção de avaliação da LDB, pois evidencia que a verificação do rendimento não está diretamente vinculada à aprovação ou reprovação dos alunos. 9 Considerar os aspectos qualitativos no processo de avaliação significa, não limitar o olhar do professor aos conteúdos que podem ser objetivamente mensuráveis e quantificáveis. Isso não quer dizer que, no momento de definir se um aluno tem condições de ser promovido para a etapa seguinte, o professor não escolha por verificar (de maneira objetiva) se o aluno possui os conteúdos mínimos, ou se desenvolveu as aptidões necessárias para vir a aprendê-los. Fica claro que o processo da avaliação adquire finalidades que vão além da promoção ou reprovação dos alunos, e se dirigem para os cuidados de uma educação integral. Em consonância com a legislação nacional, com os fundamentos e procedimentos definidos pelos Conselhos Nacional e Estadual de Educação, com as normas do Sistema Estadual de Ensino de Minas Gerais e com a estratégia governamental de longo prazo definida no Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado – PMDI 20112030, a Secretaria de Estado de Educação, através da Resolução nº 2.197, de 26 de outubro de 2012, no uso de sua competência resolveu dispor no Título V, art.61 a 89, as diretrizes para a avaliação da aprendizagem, que entrou em vigor a partir do ano letivo de 2013. No que diz respeito aos instrumentos avaliativos o art.70 da resolução esclarece: Na avaliação da aprendizagem, a escola deverá utilizar procedimentos, recursos de acessibilidade e instrumentos diversos, tais como a observação, o registro descritivo e reflexivo, os trabalhos individuais e coletivos, os portfólios, exercícios, entrevistas, provas, testes, questionários, adequando-os à faixa etária e às características de desenvolvimento do educando e utilizando a coleta de informações sobre a aprendizagem dos alunos como diagnóstico para as intervenções pedagógicas necessárias (MG/SEE, 2012, p. 66). A enumeração dos instrumentos de avaliação é um diferencial nessa proposta em relação às diretrizes básicas de ensino previstas anteriormente pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/96. Alguns desses instrumentos já vêm sendo utilizados no campo da educação há várias décadas e outros apresentam-se como alternativas para o desempenho do aluno, abrindo-se um leque de possibilidades. Assim, se inicia um novo processo. 10 A Educação Básica de qualidade é um direito assegurado pela Constituição Federal e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Diante das recentes mudanças ocorridas no Ensino Fundamental e Médio surgiu a necessidade da atualização das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica, justificando para tanto, que tais diretrizes se encontravam defasadas e superadas. São estas diretrizes que estabelecem a base nacional comum, responsável por orientar a organização, articulação, o desenvolvimento e a avaliação das propostas pedagógicas de todas as redes de ensino brasileiras. Na expectativa do Conselho Nacional de Educação, essas diretrizes devem inspirar às Instituições e Sistemas Educacionais, políticas de gestão e projetos políticospedagógicos voltados para uma educação de qualidade. Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (2013), direcionadas à todas as áreas de ensino de um modo geral, a avaliação do aluno, a ser realizada pelo professor, é redimensionadora da ação pedagógica e deve assumir um caráter processual, formativo e participativo, ser contínua, cumulativa e diagnóstica. A avaliação formativa, que ocorre durante todo o processo educacional, deve proceder a um diagnóstico, às potencialidades do aluno e detectar problemas de ensino-aprendizagem. A intervenção imediata no sentido de sanar dificuldades que algum aluno possa apresentar é uma garantia para o seu progresso nos estudos. E a avaliação contínua pode assumir várias formas, tais como a observação e o registro das atividades do aluno, sobretudo nos anos iniciais do Ensino Fundamental, trabalhos individuais organizados ou não em portfólios, trabalhos coletivos, exercícios em classe e provas, dentre outros. Essa avaliação constitui, segundo as Diretrizes, um instrumento indispensável ao professor na promoção do sucesso de seus alunos na escola e pode indicar, ainda, a necessidade de atendimento complementar para enfrentar dificuldades específicas, a ser oferecido no mesmo período de aula, o que requer flexibilidade dos tempos e espaços para a aprendizagem e flexibilidade nas ações docentes. 11 Para o Ensino Médio as Diretrizes Curriculares da Educação Básica (2013) indicam que, a avaliação do processo de ensino-aprendizagem, conforme a LDB, pode ser adotada com vistas à promoção, aceleração de estudos e classificação e deve ser desenvolvida pela escola refletindo a proposta expressa em seu projeto políticopedagógico. Importante observar que a avaliação do processo de ensinoaprendizagem deve assumir caráter educativo, possibilitando ao aluno analisar o seu percurso e, ao professor e a escola, identificar dificuldades e potencialidades individuais e coletivas. Portanto, uma avaliação que estimule a iniciativa dos estudantes. É importante ressaltar que o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) deve, progressivamente, compor o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) assumindo as funções31 de avaliação sistêmica, certificadora e classificatória, segundo essas diretrizes (BRASIL, art. 21, 2013, p.201). Os Parâmetros Curriculares Nacionais(1996) são instrumentos úteis no apoio às discussões pedagógicas na escola, principalmente, na reflexão sobre a prática educativa. A área de Arte situa-se dentro dos PCNs e deve ser incorporada com objetivos amplos que atendam às características das aprendizagens, combinando o fazer artístico ao conhecimento e à reflexão em Arte. Esses objetivos devem assegurar a aprendizagem do aluno nos planos perceptivo, imaginativo e produtivo. Para isso o professor deve saber o que é relevante o aluno praticar e saber nessa área. A avaliação precisa ser realizada com base nos conteúdos, objetivos e orientação do projeto educativo em Arte. De acordo com os PCNs, cabe à escola promover situações de autoavaliação a fim de que o aluno reflita sobre o seu papel de estudante. Uma autoavaliação orientada dentro de um roteiro flexível onde ele possa expressar suas ideias, comparar, observar, conhecer semelhanças e diferenças entre seus pares. 31 Funções cujos objetivos são; subsidiar as políticas públicas para a Educação Básica; aferir os conhecimentos tácitos e contribuir para o acesso à Educação Superior. 12 Ao analisar a Resolução do Conselho Estadual de Educação nº 2.197 (MG/SEE, 2012, p. 66), que dispõe sobre a organização e o funcionamento do ensino nas Escolas Estaduais de Educação Básica de Minas Gerais, percebe-se que no Título V sobre a avaliação no processo de ensino-aprendizagem, o texto se assemelha, em alguns artigos, com as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (2013), também direcionado à todas as áreas de ensino de um modo geral. De acordo com essa resolução, a escola deve oferecer ao aluno diferentes oportunidades de aprendizagem definidas em seu Plano de Intervenção Pedagógica – PIP32, durante todo o ano letivo, levando-se em conta o seu desempenho global, seu envolvimento no processo de aprender e não apenas a avaliação de cada professor em seu componente curricular de forma isolada, considerando os princípios da continuidade da aprendizagem do aluno e a interdisciplinaridade. Para os alunos que não dominaram os conhecimentos básicos, a escola deve oferecer estudos contínuos, periódicos e independentes de recuperação como condições para que possam ser vencidas as dificuldades ainda existentes. No que diz respeito à Arte, como componente curricular, o objetivo educacional coloca ênfase nos domínios afetivo e psicomotor; deve ser avaliada para que se verifique em que nível as habilidades previstas foram consolidadas, sendo que a nota ou conceito, se forem atribuídos, não poderão influir na definição dos resultados finais do aluno. Ao analisar a proposta dos Conteúdos Básicos Comuns (CBC) para os anos finais do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio percebe-se que se constitui de um passo importante no sentido de tornar a rede estadual de ensino de Minas num sistema de alto desempenho. Os CBCs apresentam uma avaliação direcionada à disciplina Arte. Segundo Pimentel et al (2010) este currículo envolve uma metodologia formativa, visando à 32 Plano elaborado conjuntamente pelos professores dos Componentes Curriculares com a finalidade de proporcionar a superação das defasagens e dificuldades dos alunos em temas e tópicos, identificados pelo professor e discutidos no Conselho de Classe. 13 construção de conhecimentos durante todo o processo pedagógico e abrangendo as diversas áreas: a factual (fatos aprendidos), a conceitual (conceitos construídos), a comportamental ( transformação do comportamento) e a atitudinal ( mudanças de atitudes) de maneira integrada. Pretende-se, assim, obter não só dados quantitativos, mas principalmente qualitativos, de forma a poder, constantemente, reformular e ressignificar tanto conteúdos quanto ações. As estratégias de avaliação em Arte, aqui oferecidas, são as mais variadas e deverão ser selecionadas pelo professor, dependendo de sua disponibilidade e da infraestrutura física que a escola oferece. Renoir – Meninas ao Piano, 1892 14 3 ARTES VISUAIS E AVALIAÇÃO: CONCEITOS As Artes Visuais expressam, comunicam e atribuem sentido a sensações, sentimentos, pensamentos e realidade por meio da organização de linhas, formas, pontos, tanto bidimensional como tridimensional, além de volume, espaço, cor e luz na pintura, no desenho, na escultura, na gravura, na arquitetura, nos brinquedos, bordados, entalhes, etc. O movimento, o equilíbrio, o ritmo, a harmonia, o contraste, a continuidade, a proximidade e a semelhança são atributos da criação artística. A integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, intuitivos, estéticos e cognitivos, assim como a promoção de interação e comunicação social, conferem caráter significativo às Artes Visuais. As Artes Visuais estão presentes no cotidiano da vida infantil. Ao rabiscar e desenhar no chão, na areia e nos muros, ao utilizar materiais encontrados ao acaso (gravetos, pedras, carvão), ao pintar os objetos e até mesmo seu próprio corpo, a criança pode utilizar-se das Artes Visuais para expressar experiências sensíveis. As Artes Visuais são linguagens e portanto uma das formas importantes de expressão e comunicação humanas, o que por si só justifica sua presença no contexto da educação. Segundo os PCNs de Arte (1998): As Artes Visuais, além das formas tradicionais – desenho, pintura, escultura, gravura, arquitetura, objetos, cerâmica, cestaria, entalhe -, inserem outras modalidades resultantes dos avanços das novas tecnologias e transformações estéticas do século XX: fotografia, moda, artes gráficas, cinema, televisão, vídeo, computação, performance, holografia, desenho industrial, arte em computador. Cada uma, tem a sua particularidade e é utilizada em várias possibilidades de combinações entre elas; os alunos podem comunicar-se entre si e com outras pessoas e expressar-se de diferentes maneiras. Na contemporaneidade as linguagens visuais ampliam-se, criando novas combinações e modalidades: A multimídia, a performance, o videoclipe, e o museu virtual são alguns exemplos em que a imagem integra-se ao texto, som e espaço (BRASIL, 1998, p. 63). A avaliação da aprendizagem em Arte não deve se limitar a um escore de rendimentos ou a impressão do rótulo do talento, também não pode se restringir ao 15 instrumental do qual se vale para, apenas, levantar informações referentes à aprendizagem. A avaliação do processo ensino-aprendizagem em Arte não se resume a diagnóstico, apesar de também compreendê-lo – porque apenas diagnosticar o que não dá certo e não procurar alterar essa realidade é um exercitar em vão. Avaliar, conforme registra os PCNs de Arte, é uma ação pedagógica das atividades dos alunos, que o professor realiza através de uma atribuição de valor apurada e responsável. Considera-se na avaliação o modo de ensinar os conteúdos nas diversas situações de aprendizagem. É necessário saber como esses conteúdos são assimilados pelo aluno, o que é adequado para cada nível escolar e o que é relevante para o aluno saber e praticar nessa área. O conceito mais comum de avaliação estipulado por Luckesi (2009, p. 9) lembra que, “a avaliação é um juízo de qualidade sobre dados relevantes da realidade, tendo em vista uma tomada de decisão”. “Não se dá nem se dará num vazio conceitual, mas sim, dimensionada por um modelo teórico de mundo e”, consequentemente, “de educação”, que possa ser “traduzido em prática pedagógica”. Luckesi compartilha a afirmação de Perrenoud (1999, p.13) de que “Não se avalia por avaliar, mas para fundamentar uma decisão”. Para Luckesi (2009), o objetivo da avaliação é diagnosticar experiências, é propiciar decisões, é diagnosticar a aprendizagem que está ocorrendo e os elementos que estão confluindo para esta aprendizagem, é tomar decisões que auxiliem este processo de melhoria da aprendizagem na perspectiva de produzir resultados mais satisfatórios. De fato a avaliação pressupõe um juízo de qualidade e uma marca de subjetividade do avaliador, que devem ser objetivados em critérios e resultados. Ela conduz a uma tomada de decisão quando se trata de um processo de aprendizagem e essa tomada de decisão é o componente da avaliação que coloca mais poder na mão do professor. Ao longo do tempo vão-se percebendo as dificuldades e os avanços de cada aluno. 16 A avaliação no processo de ensino-aprendizagem de Arte precisa ser realizada com base nos conteúdos, objetivos e orientação do projeto educativo na área e tem três momentos para sua concretização, de acordo com os PCNs de Arte (1998): A avaliação pode diagnosticar o nível de conhecimento artístico e estético dos alunos, nesse caso costuma ser prévia a uma atividade; a avaliação pode ser realizada durante a própria situação de aprendizagem, quando o professor identifica como o aluno interage com os conteúdos e transforma seus conhecimentos; a avaliação pode ser realizada ao término de um conjunto de atividades que compõem uma unidade didática para analisar como a aprendizagem ocorreu (BRASIL,1998,p.56). Como princípio geral, as ações de avaliação não se destinam a punir ou a classificar, mas sim a promover; servem para averiguar resultados obtidos, não para recompensar ou para castigar e sim para ajudar o aluno e o próprio professor a estabelecer metas adequadas e a descobrir métodos eficientes, destinados a alcançar estas metas. Mediante a descoberta e apreciação dos fatos, são encontrados problemas que devem ser prevenidos ou solucionados, os pontos fracos que devem ser vencidos e as causas que devem ser superadas; coisas que devem ser colocadas em seu nível normal. A autoavaliação dos alunos pode caminhar paralelamente à avaliação realizada pelos docentes. Renoir – Rosa e Azul, 1881 17 4 ARTES VISUAIS: OBJETIVOS GERAIS Os objetivos definem as intenções educativas, o motivo pelo qual educar; orientam a seleção de um conjunto variado de conteúdos. O aluno poderá desenvolver seu conhecimento e competência estética e artística na área de Arte, produzindo trabalhos pessoais e grupais a fim de desfrutar, valorizar e emitir juízo sobre os bens artísticos de distintos povos e culturas produzidos ao longo da história e na contemporaneidade. Nesse sentido, os objetivos gerais das Artes Visuais, apresentados nos PCNs de Arte (1998), organizam-se na perspectiva de que alunos do Ensino Fundamental e Médio sejam capazes de: Expressar, representar ideias, emoções, sensações por meio da articulação de poéticas pessoais, desenvolvendo trabalhos individuais e grupais; construir, expressar e comunicar-se em artes plásticas e visuais articulando a percepção, a imaginação, a memória, a sensibilidade e a reflexão, observando o próprio percurso de criação e suas conexões com o de outros; interagir com variedade de materiais naturais e fabricados, multimeios (computador, vídeo, holografia, cinema, fotografia), percebendo, analisando e produzindo trabalhos de Arte; reconhecer, diferenciar e saber utilizar com propriedade diversas técnicas de Arte, com procedimentos de pesquisa, experimentação e comunicação próprios; desenvolver uma relação de autoconfiança com a produção artística pessoal, relacionando a própria produção com a de outros, valorizando e respeitando a diversidade estética, artística e de gênero; identificar a diversidade e interrelações de elementos da linguagem visual que se encontram em múltiplas realidades (vitrines, cenário, roupas, adereços, objetos domésticos, movimentos corporais, meios de comunicação), perceber e analisá-los criticamente; 18 conhecer, relacionar, apreciar objetos, imagens, concepções artísticas e estéticas — na sua dimensão material e de significação —, criados por produtores de distintos grupos étnicos em diferentes tempos e espaços físicos e virtuais, observando a conexão entre essas produções e a experiência artística pessoal e cultural do aluno; frequentar e saber utilizar as fontes de documentação de Arte, valorizando os modos de preservação, conservação e restauração dos acervos das imagens e objetos presentes em variados meios culturais, físicos e virtuais, museus, praças, galerias, ateliês de artistas, centros de cultura, oficinas populares, feiras, mercados; compreender, analisar e observar as relações entre as Artes Visuais com outras modalidades artísticas e também com outras áreas de conhecimento humano (Educação Física, Matemática, Ciências, Filosofia etc.), estabelecendo as conexões entre elas e sabendo utilizar tais áreas nos trabalhos individuais e coletivos; conhecer e situar profissões e os profissionais de Artes Visuais, observando o momento presente, as transformações históricas já ocorridas, e pensar sobre o cenário profissional do futuro. Segundo opinião de Gardner (2010) a missão de professores e alunos é empenharse numa reflexão regular e apropriada acerca dos objetivos das Artes Visuais, das várias maneiras de atingi-los, de seu sucesso (ou falta do sucesso) na realização desses objetivos, e das implicações da avaliação na reconsideração dos objetivos e dos procedimentos. Renoir – Rosa e Azul – detalhe, 1881 19 5 CONTEÚDOS DE ARTES VISUAIS Os PCNs de Arte enfatizam o processo de ensino-aprendizagem de conteúdos que colaboram para que o aluno adquira um conhecimento com o qual saiba situar a produção de Arte. Os conteúdos da área de Arte estão organizados de tal maneira que possam atender aprendizagens cada vez mais complexas no domínio do conhecimento artístico e estético, seja no exercício do próprio processo criador, pelo fazer, seja no contato com obras de Arte e com outras manifestações presentes nas culturas ou na natureza. O estudo, a análise e a apreciação da Arte podem contribuir tanto para o processo pessoal de criação dos alunos como também para sua experiência estética e conhecimento do significado que ela desempenha nas culturas humanas. O conjunto de conteúdos está articulado dentro do processo de ensinoaprendizagem e explicitado por intermédio de ações em três eixos norteadores: produzir, apreciar e contextualizar. Tendo em conta esses três eixos, acredita-se que para selecionar e organizar os conteúdos gerais de Artes Visuais é preciso considerar os seguintes critérios: conteúdos que favoreçam a compreensão da Arte como cultura, do artista como ser social e dos alunos como produtores e apreciadores; conteúdos que valorizem as manifestações artísticas de povos e culturas de diferentes épocas e locais, incluindo a contemporaneidade e a Arte brasileira; conteúdos que possibilitem que os três eixos da aprendizagem possam ser realizados com grau crescente de elaboração e aprofundamento. Os conteúdos de Arte estão organizados de maneira que possam ser trabalhados ao longo do ensino Fundamental e Médio e seguem os critérios para seleção e ordenação propostos nos PCNs de Arte. Assim, os conteúdos de Artes Visuais são: Produção do aluno em Artes Visuais 20 A produção artística visual em espaços diversos por meio de: desenho, pintura, colagem, gravura, construção, escultura, instalação, fotografia, cinema, vídeo, meios eletrônicos, design, artes gráficas e outros. Observação, análise, utilização dos elementos da linguagem visual e suas articulações nas imagens produzidas. Representação e comunicação das formas visuais, concretizando as próprias intenções e aprimorando o domínio dessas ações. Conhecimento e utilização dos materiais, suportes, instrumentos, procedimentos e técnicas nos trabalhos pessoais, explorando e pesquisando suas qualidades expressivas e construtivas. Experimentação, investigação, utilização e capacidade de escolha de suportes, técnicas e materiais diversos, convencionais e não-convencionais, naturais e manufaturados, para realizar trabalhos individuais e de grupo. Apreciação significativa em Artes Visuais Contato sensível e análise de formas visuais presentes nos próprios trabalhos, nos dos colegas, na natureza e nas diversas culturas, percebendo elementos comuns e específicos de sistemas formais (natureza e cultura). Observação da presença e transformação dos elementos básicos da linguagem visual, em suas articulações nas imagens produzidas, na dos colegas e nas apresentadas em diferentes culturas e épocas. Identificação, observação e análise das diferentes técnicas e procedimentos artísticos presentes nos próprios trabalhos, nos dos colegas e em diversas culturas. Percepção e análise de produções visuais (originais e reproduções) e conhecimento sobre diversas concepções estéticas presentes nas culturas (regional, nacional e internacional). Reconhecimento da variedade de significados expressivos comunicativos e de valor simbólico nas formas visuais e suas conexões temporais, geográficas e culturais. Conhecimento e competência de leitura das formas visuais em diversos meios de comunicação da imagem: fotografia, cartaz, televisão, vídeo, histórias em 21 quadrinhos, telas de computador, publicações, publicidade, design, desenho animado, etc. Discussão, reflexão e comunicação sobre o trabalho de apreciação das imagens por meio de fala, escrita ou registros (gráfico, sonoro, dramático, videográfico, etc.) mobilizando a troca de informações com os colegas e outros jovens. Descoberta, observação e análise crítica de elementos e formas visuais na configuração do meio ambiente construído. Reconhecimento da diversidade de sentidos existentes nas imagens produzidas por artistas ou veiculadas nas mídias e suas influências na vida pessoal e social. Identificação de múltiplos sentidos na apreciação de imagens. As Artes Visuais como produção cultural e histórica Observação, pesquisa e conhecimento de diferentes obras de Artes Visuais, produtores e movimentos artísticos de diversas culturas (regional, nacional e internacional) e em diferentes tempos da história. Compreensão sobre o valor das Artes Visuais na vida dos indivíduos e suas possíveis articulações com a ética que permeia as relações de trabalho na sociedade contemporânea. Reflexão sobre a ação social que os produtores de Arte concretizam em diferentes épocas e culturas, situando conexões entre vida, obra e contexto. Conhecimento e investigação sobre a Arte do entorno próximo e distante a partir das obras, fontes vivas, textos e outras formas de registro (apresentadas material e/ou virtualmente). Conhecimento, valorização de diversos sistemas de documentação, catalogação, preservação e divulgação de bens culturais presentes no entorno próximo e distante. Utilização autônoma e frequência às fontes de informação e comunicação artística presentes em diversas culturas por meio de processos dialógicos diretos ou virtuais (museus, mostras, exposições, galerias, feiras, mercados, páginas e sítios informáticos). 22 Elaboração de formas pessoais de registro para assimilação, sistematização e comunicação das experiências com formas visuais, e fontes de informação das diferentes culturas. Reflexão sobre as Artes Visuais e a cultura brasileira em sua diversidade e presença na comunidade e no cotidiano dos alunos. Reconhecimento da presença de qualidades técnicas, históricas, estéticas, filosóficas, éticas, culturais nas produções visuais, sabendo observá-las como fonte de pesquisa e reconhecendo-as como veículo de compreensão diferenciada do ser humano e suas culturas. Conhecimento crítico de diferentes interpretações de Artes Visuais e da cultura brasileira, produzidas por brasileiros e estrangeiros no país. Cabe ao professor de Arte, ao ensinar conceitos e princípios, criar múltiplas oportunidades de interação dos estudantes com esses conteúdos, variando as formas de apresentá-los, utilizando meios discursivos, narrativas, imagens, meios elétricos e eletrônicos, textos; enfim, o professor pode recorrer a todos os meios para informar sobre conceitos e princípios que deseja ensinar, ciente de que é o aluno quem transforma tais informações em conhecimento por intermédio de interações sucessivas. Renoir – Meninas a ler, 1884 23 6 CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO EM ARTES VISUAIS Para proceder-se à avaliação de forma adequada é preciso seguir alguns critérios. Sendo assim, os PCNs de Arte oferecem os seguintes critérios: Criar formas artísticas por meio de poéticas pessoais. Com este critério pretende-se avaliar se o aluno produz com liberdade e marca individual em diversos espaços, utilizando-se de técnicas, procedimentos e de elementos da linguagem visual. Estabelecer relações com o trabalho de arte produzido por si, por seu grupo e por outros sem discriminação estética, artística, étnica e de gênero. Com este critério pretende-se avaliar se o aluno sabe identificar e argumentar criticamente sobre seu direito à criação, respeitando os direitos, valores e gostos de outras pessoas da própria cidade e de outras localidades, conhecendo-os e sabendo interpretá-los. Identificar os elementos da linguagem visual e suas relações em trabalhos artísticos e na natureza. Com este critério, pretende-se avaliar se o aluno conhece, analisa e argumenta de forma pessoal a respeito das relações que ocorrem a partir das combinações de alguns elementos do discurso dos próprios trabalhos, nos dos colegas e em objetos e imagens que podem ser naturais ou fabricados, produzidos em distintas culturas e diferentes épocas. Conhecer e apreciar vários trabalhos e objetos de arte por meio das próprias emoções, reflexões e conhecimentos e reconhecer a existência desse processo em jovens e adultos de distintas culturas. Com este critério pretende-se avaliar se o aluno conhece, sabe apreciar e argumentar sobre vários trabalhos, com senso crítico e fundamentos, observando 24 semelhanças e diferenças entre os modos de interagir e apreciar Arte em diferentes grupos culturais. Valorizar a pesquisa e a frequentação junto às fontes de documentação, preservação, acervo e veiculação da produção artística. Com este critério pretende-se avaliar se o aluno valoriza a pesquisa, conhece e observa a importância da documentação, preservação, acervo e veiculação da própria cultura e das demais em relação aos espaços culturais, ao planejamento urbano, à arquitetura, como bens artísticos e do patrimônio cultural. Enfim, para avaliar os trabalhos práticos, é preciso documentá-los, datá-los e retomá-los de tempos em tempos com os estudantes. Os critérios, nesse caso, podem ser orientados para a observação dos processos de criação e dos progressos de cada aluno. Renoir – A leitora, 1875 25 7 INSTRUMENTOS E METODOLOGIAS DE AVALIAÇÃO EM ARTES VISUAIS Os instrumentos de avaliação do ensino-aprendizagem são muitos e podem variar segundo a disciplina, as circunstâncias e os objetivos que se quer alcançar. No entanto, é preciso esclarecer aos professores que não se deve ficar presos a instrumentos tradicionais ou contemporâneos, superados ou atuais.Todos eles são válidos, desde que sejam aplicados de modo dinâmico, propiciando exercício de reflexão e espírito crítico do aluno. A avaliação não é livre da marca pessoal dos que dela participam: professores e alunos. É impossível chegar a critérios e formas de avaliação 100% objetivos. Entretanto, essa objetividade deve ser buscada pressupondo-se que a educação escolar em Arte precisa ter suas referências nas práticas sociais, nos trabalhos dos artistas e na produção reflexiva dos especialistas: críticos, historiadores, filósofos, arte-educadores e educadores. O trabalho em equipe é referência fundamental para a avaliação em Arte, sob a ótica de muitas disciplinas e projetos interdisciplinares. Refletir sobre o sentido que a avaliação da aprendizagem em Arte possui no âmbito dos modelos pedagógicos é uma das possibilidades, entre tantas que a prática pedagógica envolve. Sendo assim, seguem algumas sugestões de instrumentos para avaliar o fazer e ver Arte que só farão sentido se relacionados aos conteúdos que estão sendo ensinados ou trabalhados: 1. Ações para avaliar o “ver Arte” 2. Ações específicas para avaliar o “fazer Arte” 3. Autoavaliação 4. Avaliação autêntica 5. Avaliação de projetos 6. Avaliação e exposição de resultados plásticos 7. Cartas para artistas ou instituições culturais 8. Conselho de classe 9. Conversas dirigidas sobre obras 10. Debates 26 11. Diário de bordo 12. Discussão dos trabalhos em roda de leitura 13. Entrevistas 14. Escultura: critérios para discussão e avaliação 15. Estudo e registro de casos 16. Exercícios variados 17. Formas lúdicas de avaliar 18. Gravura e pintura: critérios para discussão e avaliação. 19. Novas mídias 20. Observação 21. Painéis 22. Portfólio 23. Processofólio 24. Projeto de fotografia e possibilidades de avaliação 25. Propostas de encaminhamento de trabalhos 26. Provas escritas 27. Provas orais 28. Psicodrama 29. Questionários 30. Registro descritivo e reflexivo 31. Relatório individual 32. Seleção de obras seguindo coordenadas do professor 33. Seminários 34. Testes 35. Textos individuais e coletivos escritos pelos alunos 36. Trabalhos em grupo 37. Trabalhos individuais, parciais e somativos. A lista de instrumentos avaliativos não se encerra aqui, mas começa a partir daqui. O sistema de notas continua, as realizações dos alunos continuam a ser registradas nos boletins tradicionais. Questiona-se: Por que devemos mudar algo que temos feito por mais de 50 anos? O sistema de notas era usado quando eu estava na escola. Se era bom naquela época, Mudanças...inovações...esse é o desafio. por que não é bom agora? 27 (Esses instrumentos são encontrados em: Arslan (2006), Barbosa (2005), Gardner (2010), Hernández ( 2000), Liblik (2005), Sant’Anna (2010), Pimentel et al.(2008), etc. Como se processa a avaliação em Artes Visuais no ensino Fundamental e Médio? Considera-se principalmente a prática, sua metodologia e os caminhos a percorrer. Para que a avaliação não seja encarada como um momento burocrático, o professor pode criar diversas dinâmicas. Muitas vezes, com uma estratégia criativa, pode avaliar como os alunos estão lidando com suas produções, como assimilaram certos conteúdos. Eis algumas sugestões de metodologias para se avaliar em Artes Visuais: Discussão de trabalhos em roda de leitura. Os alunos podem apresentar os trabalhos em roda. Nesse tipo de avaliação, o professor deve exigir atenção na observação do trabalho do colega. Após a exposição do primeiro aluno, pode-se continuar de acordo com algum critério de diferença ou de semelhança entre os trabalhos. Muitas vezes, por falta de tempo, nem todos os alunos podem falar em uma mesma roda, mas o professor pode convidar alguns alunos que espontaneamente nunca se manifestam. É importante incentivar os alunos a relatar seu processo de elaboração, perguntando como foi pintar o tema ou executar a proposta e pedir que outros alunos comentem também. Os alunos podem tentar adivinhar se a produção se parece mais com a dos artistas que foram vistos ou se incorporou características de um determinado estilo estudado. Podem analisar, por exemplo, se, pelo tratamento visual empregado, ficou clara a ideia que o aluno queria transmitir sobre o assunto que escolheu, observando as cores utilizadas, a composição, os materiais, o formato e a dimensão do papel. Nem sempre as interpretações coincidem com as intenções do autor, porque o leitor projeta na obra suas ideias e vivências. Em situações de roda de 28 leitura dos trabalhos, feito por alunos ou artistas, é importante que o professor discuta, além dos aspectos individuais e subjetivos de cada produtor, os elementos formais estudados em aula. Alguns itens podem ser discutidos segundo diferentes técnicas e linguagens visuais: escultura, pintura e desenho, histórias em quadrinho, imagens publicitárias, vídeo, fotografias e gravura. Quanto à escultura pode-se discutir: Como é a base da escultura? Combina com a escultura? Como fazer para que ela se mantenha na posição desejada? Ela possui espaços vazados, ou está blocada, sem respiro? Ela sugere peso ou leveza? Como são as perspectivas de visão (lados, costas, visão superior)? A escultura tem cor? Possui a cor do material? Como é a sua pintura? Tem forma simplificada ou é cheia de detalhes? Qual a dimensão desta escultura? Existe transparência? Como é o volume? Qual a relação entre largura e altura? Suas formas sugerem ordenação ou repetição? Como se comportam a luz e sombra na sua superfície? O tamanho (dimensão) parece adequado? Quanto à gravura pode se discutir: Como está a impressão? Como o material da matriz foi trabalhado? A imagem combina com a técnica utilizada? Houve preocupação com a inversão posterior da imagem (se existir)? Como foi feita a edição (se existir)? Existem repetições de uma mesma matriz em um único trabalho? (Aqui podem ser incluídos muitos itens do desenho e da pintura). Autoavaliação Fornecer ao aluno um roteiro de autoavaliação, definindo as áreas sobre as quais ele deve discorrer; listar habilidades e comportamentos e pedir para ele indicar aquelas que ele se considera apto e aquelas em que ele precisa de reforço. O aluno deve apresentar os seus trabalhos e colocar pública e oralmente suas conclusões, para assegurar que domina assumiu. as tarefas que 29 Avaliação autêntica Avaliação autêntica é uma avaliação alternativa com base no desempenho do aluno, de quem são requeridas soluções para problemas da vida real, envolvendo decisões similares às feitas por profissionais, como críticos de Arte, historiadores de Arte ou artistas. A avaliação autêntica pode acontecer com projetos das oficinas de Arte, com aprendizagem em áreas como crítica de Arte, história da Arte e estética por meio de recursos de áudio e vídeo relacionado às aulas, em debates sobre questões de Arte, de performance, em aulas de avaliação crítica, em relatórios escritos sobre pesquisas em biblioteca, em visitas a galerias, em aulas e diários de notas, em ensaios, testes, investigações e em exames escritos . Ao conduzir avaliações autênticas, é necessário que sejam desenvolvidos critérios que utilizem estratégias múltiplas. Uma variedade de tarefas devem ser empregadas de forma estratégica, propiciando, assim, uma visão abrangente do progresso alcançado pelo aluno. Eis os seguintes critérios de seleção para ajudar a validade e a confiabilidade da avaliação por desempenho, segundo Zimmerman (2004): (1) determinar os resultados das avaliações; (2) decidir se os itens dos testes usados são coerentes; (3) julgar se as habilidades de uma área podem ser transferidas para outra e que generalizações podem ser feitas dos resultados; (4) decidir se a avaliação tem problemas significativos a serem resolvidos pelos alunos; (5) considerar se a avaliação requer dos alunos a mais elevada ordem de habilidades de pensamento para analisar e resolver questões, em vez de fatos, com resolução de problemas estruturados e descontextualizados; (6) determinar se a avaliação cobre adequadamente os conteúdos e os assuntos propostos; (7) estimar se os dados coletados e os processos realizados são os mais eficientes possíveis. Algumas recomendações para avaliação autêntica são importantes para que sua perspectiva se concretize de forma significativa. Nesse sentido seguem- 30 se os seguintes questionamentos: Quais são os papéis dos estudantes e professores ao planejar a avaliação autêntica? É o professor quem controla as avaliações? O professor decide e o estudante concorda? A influência dos professores e alunos tem o mesmo peso na escolha de critérios e na atribuição de notas da avaliação? Os estudantes controlam suas próprias avaliações? As respostas a essas questões dependerão da filosofia educacional do professor, da instituição, dos requisitos municipais e estaduais para a avaliação dos progressos e das realizações em Arte feitos pelos estudantes. Em geral, porém, são professores, individualmente, que realizam a maioria das avaliações de Arte, por meio de verificação de trabalhos de outras formas que constroem ou escolhem para avaliar o progresso dos estudantes de Arte, e por atribuição de notas. É necessário que os professores de Arte aprendam a construir procedimentos e condutas sistemáticas de observação na avaliação para ter subsídios ao fornecer informações. É importante, então, que os pais sejam fontes de evidência de progressos e realizações dos estudantes. Os pais devem ser envolvidos nos processos de avaliação, afirma Zimmerman (2004), para que aprendam como e por que as avaliações são conduzidas e tornem-se colaboradores em suas escolas e comunidades. A avaliação autêntica engloba, no entanto, demanda de espaços e recursos para os professores e estudantes Para as avaliações autênticas serem bemsucedidas, professores precisam de tempo extra para planejar, aconselhar-se com outros, desenvolver materiais, estratégias e ter reuniões com os estudantes. Também necessitam de espaço extra para guardar os portfólios e equipamentos, como câmeras de vídeo, etc. Avaliação de projetos – Arts PROPEL O objetivo do projeto Arts PROPEL, segundo Gardner (2010) foi o de desenvolver uma série de instrumentos de avaliação que pudessem documentar a aprendizagem artística durante o período final do Ensino Fundamental e no Ensino Médio. 31 Dentro desse objetivo criou-se uma série de exercícios chamados “projetos de domínio” para cada forma de Arte, apresentando elementos perceptivos, produtivos e reflexivos. Embora os projetos de domínio se prestem a várias formas de avaliação, há também os processofólios que são operações mais desafiadoras e delicadas, e podem ser avaliados em várias dimensões. O projeto de domínio da “composição” funciona com um elemento tradicional das Artes Visuais – o arranjo da forma – e procura vincular esse elemento às experiências produtivas do aluno. O aluno tem a oportunidade de distanciarse e refletir sobre as forças e fraquezas de cada composição, e exatamente como esses efeitos são completamente atingidos. Este projeto acontece em três sessões (fazer artístico, discriminações perceptivas e reflexões) e visa ajudar os alunos a perceberem como os arranjos e interrelacionamentos das formas afetam a composição e o impacto dos trabalhos artísticos. Os alunos têm oportunidade de tomar decisões sobre as composições e refletir sobre os efeitos de tais decisões em seus trabalhos e nos trabalhos criados por mestres artísticos reconhecidos. No projeto de domínio, chamado “biografia de um trabalho”, os alunos refletem sobre as mudanças que fizeram, as razões que motivaram essas mudanças e a relação entre os esboços iniciais e finais. Os esboços e produto final do aluno, juntamente com suas reflexões, são avaliados em várias dimensões qualitativas, tais como comprometimento, habilidades técnicas, imaginação e habilidades avaliativas críticas. Esse trabalho acontece em três sessões, iniciando com explorações perceptivas de obrasprima. No processofólio, o aluno inclui não apenas os trabalhos concluídos, mas também os esboços originais, desenhos provisórios, críticas dele mesmo e dos outros, trabalhos artísticos de outros que ele admira, ou desgosta e que têm algo a ver com seu atual projeto. Os processofólios são avaliados de forma simples como a regularidade dos apontamentos, seu aperfeiçoamento, etc. ou de forma mais complexa e subjetiva, como a qualidade global dos produtos finais, de acordo com critérios técnicos e imaginativos. 32 As várias dimensões da avaliação ajudam a esclarecer o potencial único dos processofólios: a consciência de que o aluno tem de suas potencialidades; a capacidade de refletir corretamente; a capacidade de aproveitar a auto-crítica e de fazer uso da crítica dos outros; a sensibilidade em relação aos próprios marcos desenvolvimentais; a capacidade de utilizar produtivamente as lições dos projetos de domínio; a capacidade de descobrir e resolver novos problemas; a capacidade de relacionar projetos atuais com aqueles realizados em momentos anteriores e com aqueles que a pessoa espera realizar no futuro; a capacidade de passar facilmente de uma posição ou papel estético para outro, de forma adequada. O objetivo não é o de apenas avaliar em várias dimensões potencialmente independentes, mas também o de encorajar o aluno a desenvolver-se nestas dimensões. Este sistema de avaliação tem o potencial de alterar o que é discutido e valorizado na sala de aula. Portfólio A utilização do Portfólio é uma modalidade de avaliação retirada do campo da Arte. É considerado não apenas um procedimento de avaliação, mas o eixo organizador do trabalho pedagógico, em virtude da importância que passa a ter durante todo o processo. É uma técnica inovadora de avaliar o progresso das crianças através de um conjunto de procedimentos contínuos, é um instrumento de estimulação do pensamento reflexivo. Essa técnica, pode-se dizer que é uma avaliação contínua mais autêntica, objetiva e compreensiva, permitindo acompanhar todos os processos de aprendizagem. O portfólio tem formatações diversas podendo ser uma pasta, um CD-Rom, uma bolsa, um álbum, etc, em que o aluno guarda suas produções ao longo de um determinado período. Dentre essas produções podem estar os trabalhos teóricos, os trabalhos práticos e outros tipos de registros pessoais, como os relatórios individuais e as autoavaliações. 33 É preciso entender que esse é um instrumento que possibilita constante reflexão, sendo que o aluno e o professor poderão visualizar os produtos tendo em mente os objetivos e os critérios anteriormente acordados, dialogando com as soluções e os problemas que foram surgindo a partir das tarefas solicitadas. Tal diálogo proporcionará relembrar todo processo e programar e planejar as ações futuras. O portfólio deve conter evidências significativas do desempenho para ser considerado um procedimento válido. A avaliação por meio deste instrumento é um processo que requer tempo, determinação, planejamento e fundamentação teórica. Essas técnicas são flexíveis para adaptação das estratégias de avaliação de acordo com as necessidades de cada aluno e auxiliam o profissional da educação a entender o desenvolvimento do aluno e a planejar atividades educativas com mais eficiência. Pode-se iniciar o uso desse instrumento a qualquer momento e a ordem dos passos propostos pode ser alterada segundo a necessidade do professor. O processo de montagem de um portfólio em dez passos é projetado para permitir que professores e gestores escolares implementem o uso desse recurso gradualmente. Pode-se começar com um único e pequeno passo e complementar o processo dentro de dois ou três anos letivos. O portfólio permite que cada um prossiga em seu próprio ritmo; mostra como um professor pode se tornar mais bem capacitado e mais eficiente e concentrar-se em descobrir como as crianças são diferentes ao invés de provar que são iguais. Montagem do portfólio em dez passos: 1 - Estabelecer uma política para o portfólio; 2 - Coletar amostras de trabalhos; 3 - Tirar fotografias; 4 - Conduzir consultas nos diários de aprendizagem; 34 5 - Conduzir entrevistas; 6 - Realizar registros sistemáticos; 7 - Realizar registros de casos; 8 - Preparar relatórios narrativos; 9 - Conduzir reuniões de análise de portfólios em três vias; 10 - Usar portfólios em situações de transição. Há grandes possibilidades na utilização do portfólio como forma de avaliação desde que quatro pressupostos sejam pactuados e cumpridos pelos sujeitos envolvidos: autoavaliação, pré-definição de metas, engajamento do aluno e responsabilidade do avaliador/professor. O portfólio é um instrumento riquíssimo que garante a beleza da construção própria, individual, personalizada. É um momento de duplo prazer no processo educacional: como autor e produtor de sua vivência e ao mesmo tempo leitor de sua obra, de sua prática, de sua atuação pedagógica, o aluno é o autor e leitor de si mesmo. Renoir – Meninas a ler, 1884 35 8 CONCLUSÃO Esse guia de metodologias é o resultado de estudos desenvolvidos no mestrado profissional em GSEDL do Centro Universitário UNA, tendo como referência a pesquisa bibliográfica, documental e de campo. Vem trazer subsídios para os professores de Arte comprometidos com um ensino de qualidade. As contribuições teóricas recentes enfatizam o entendimento da avaliação no processo ensinoaprendizagem como atividade teórico-prática que possibilita a inserção do professor e o aluno nos conhecimentos necessários à ação transformadora da realidade existente. Assim sendo, as novas orientações consideram que os alunos não estudam simplesmente para serem aprovados em testes e exames. Os resultados das avaliações devem expressar suas conquistas e esforços, a persistência, a dedicação à aprendizagem e a postura criadora. A avaliação hoje, é uma maneira de informar os estudantes e professores sobre o desenvolvimento da aprendizagem para que possam ajustar seus processos. Assim, percebe-se que a avaliação não serve apenas para medir o que foi, mas para orientar o que será construído. Obra de Renoir 36 REFERÊNCIAS ARSLAN, L.M. Ensino de Arte. São Paulo: Thomson Learning, 2006. BARBOSA, A. M. (org.). Arte / Educação Contemporânea: consonâncias internacionais. São Paulo: Cortez, 2005. BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica / Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial da União, Brasília, 1996. BRASIL. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Arte.Brasília. MEC/SEF, 1998. GARDNER, H. Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre, Artmed, 2010. LIBLIK, A. M. P. Avaliação Educacional, Cinfop. Curitiba:UFPR, 2005. LUCKESI, C. C. Avaliação da Aprendizagem Escolar. 20ª edição. São Paulo: Cortez, 2009. PERRENOUD, P. Avaliação: Da excelência à regulação das aprendizagens – entre duas lógicas. Tradução de Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: Artmed, 1999. PIMENTEL, L.G. et al. Conteúdos Básicos Comuns. Belo Horizonte, SEE/MG, 2010. SANT’ANNA, I. M. Por que avaliar? : Como avaliar? : critérios e instrumentos. Petrópolis, Vozes, 2010. SAVIANI, D. A nova lei da educação LDB trajetória, limites e perspectivas. Campinas, SP: Autores Associados, 2006. SEE – Secretaria de Estado da Educação, MG. Resolução CNE / SEE nº 2.197 de 26 de outubro de 2012. SHORES, E.; GRACE, C. Manual de Portfólio: um guia passo a passo para o professor. Porto alegre: Artmed Editora, 2001. ZIMMERMAN, E. Avaliação autêntica de estudantes de Arte no contexto de sua comunidade. In: BARBOSA, A.M. (org.). Arte/educação contemporânea: Consonâncias Internacionais. São Paulo: Cortez, 2005. APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTAS CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE PESQUISA, EXTENSÃO E FORMAÇÃO CONTINUADA MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS Roteiro de entrevista semiestruturada para Diretores 1. Qual é o conceito de avaliação do processo ensino-aprendizagem para você? 2. Como é, na prática, o processo de avaliação nessa escola? 3. Quais dificuldades você percebe na avaliação do processo de ensinoaprendizagem por parte de alunos, professores e pais? 4. Como as aulas de Arte acontecem no cenário dessa escola? 5. Qual a importância que você vê na avaliação em Artes Visuais? 6. Como ocorre a avaliação especificamente em Artes Visuais? 7. Explicite o envolvimento dos alunos com a disciplina Arte. CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE PESQUISA, EXTENSÃO E FORMAÇÃO CONTINUADA MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL Roteiro de entrevista semiestruturada para Coordenadores e Supervisores 1. Qual seria o “locus” da avaliação nas ações pedagógicas no que se refere ao cotidiano escolar das aulas de Arte? 2. Como se procede as atividades de avaliação do educando em diferentes situações educativas no ensino da Arte, no âmbito do Ensino Fundamental e Médio? 3. Como você acha que deveria acontecer? 4. Qual relevância você dá para a avaliação em Artes Visuais? 5. Quais diretrizes você passa para os professores de Arte em relação à avaliação nesta disciplina? 6. Que sugestões você teria para o processo de avaliação em Arte? CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE PESQUISA, EXTENSÃO E FORMAÇÃO CONTINUADA MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL Roteiro de entrevista semiestruturada para Professores 1. Qual é o conceito de avaliação para você? 2. Qual tipo de avaliação é mais comum em sua prática? 3. Como você avalia nas aulas de Artes Visuais? 4. O quê avaliar nas atividades de Artes Visuais? 5. Quais são os instrumentos de avaliação que você utiliza no processo de ensino/aprendizagem nas atividades de Arte? 6. Como você sabe se os alunos aprenderam? 7. Como os alunos sabem se aprenderam? 8. Nas suas aulas, quais são os momentos que você acredita estar avaliando? 9. Quais dificuldades você encontra para avaliar seus alunos? 10. Você utiliza de alguma estratégia diferente da usual para avaliar? Qual ? . ANEXOS ANEXO A – Termo de consentimento livre e esclarecido para diretor, coordenador, supervisor e professor (TCLE) CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE PESQUISA, EXTENSÃO E FORMAÇÃO CONTINUADA MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Título da Pesquisa: O Processo de Avaliação em Artes Visuais: Perspectivas e Inovações direcionadas à formação docente Nome do Pesquisador Principal: Tânia Alves de Sousa Oliveira Nome do orientador: Professora Dra. Adilene Gonçalves Quaresma Esclarecimentos sobre a pesquisa: 1. Natureza da Pesquisa: o Sr.(a) ______________________________ está convidado (a) a participar desta pesquisa que tem como finalidade indicar possibilidades de entender quais são os saberes e práticas de professores de Arte com relação à avaliação, e como se dão os processos de Avaliação no ensino de Arte em escolas de Ensino Fundamental e Médio para a construção do processo formativo na perspectiva da gestão social e desenvolvimento local. 2. Participantes da Pesquisa: Três diretores, dois coordenadores, três supervisoras, cinco professores de Artes Visuais, perfazendo o total de treze sujeitos da pesquisa. 3. Envolvimento na pesquisa: ao participar deste estudo o Sr (a) permitirá que a pesquisadora colete dados que ofereçam subsídios para fundamentar a pesquisa. O Sr (a) tem liberdade de se recusar a participar e ainda se recusar a continuar participando em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo para o Sr (a). Sempre que quiser, pode pedir mais informações sobre a pesquisa através do telefone da pesquisadora do projeto e, se necessário, através do telefone do Comitê de Ética em Pesquisa. 4. Sobre as entrevistas: as entrevistas serão realizadas em dias e horários a combinar, atendendo os interesses do entrevistado, ou seja, sua disponibilidade e comodidade e acontecerão separadamente utilizando-se de uma metodologia interativa e qualitativa. 5. Riscos e desconfortos: a participação nesta pesquisa não traz complicações legais. Os procedimentos adotados nesta pesquisa obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa com Seres Humanos conforme Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Nenhum dos procedimentos usados oferece riscos à sua dignidade. Pode haver certo constrangimento/ desconforto diante de alguma pergunta. Nesse caso é de livre escolha do entrevistado responder ou não a pergunta podendo inclusive cancelar sua participação na pesquisa no decorrer da entrevista. 6. Confidencialidade: todas as informações coletadas neste estudo são estritamente confidenciais. Somente a pesquisadora e a orientadora terão conhecimento dos dados. 7. Benefícios: ao participar desta pesquisa o Sr (a) não terá nenhum benefício direto. Entretanto, esperamos que este estudo traga contribuições importantes para a construção de conhecimentos acadêmicos a respeito da temática em questão, quanto para subsidiar as práticas de avaliação de futuros professores de Artes das escolas de Ensino Fundamental e Médio na perspectiva da gestão social com vistas ao desenvolvimento local. O pesquisador se comprometerá a divulgar os dados obtidos. 8. Pagamento: o Sr (a) não terá nenhum tipo de despesa para participar desta pesquisa, bem como nada será pago por sua participação. Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para participar desta pesquisa. Portanto preencha, por favor, os itens que se seguem. Obs: Não assine esse termo se ainda tiver dúvida a respeito. CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Tendo em vista os itens acima apresentados, eu _________________________________________, de forma livre e esclarecida, manifesto meu consentimento em participar da pesquisa. Declaro que recebi cópia deste termo de consentimento, e autorizo a realização da pesquisa e a divulgação dos dados obtidos neste estudo. ___________________________________________ Participante da Pesquisa ___________________________________________ Pesquisador ____________________________________________ Orientador Pesquisador Principal: Tânia Alves de Sousa Oliveira – Tel.: (31) 9972-0637 e-mail: [email protected] Orientadora: Dra.Adilene Gonçalves Quaresma–Tel.:(31) 9653-7242 e-mail: [email protected] Comitê de Ética em Pesquisa: Rua Guajajaras, 175, 4ºandar – Belo Horizonte/MG – Tel.: (31) 3508- 9136 / 3508- 9108 Contato: [email protected] ANEXO B – Autorização para coleta de dados CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE PESQUISA, EXTENSÃO E FORMAÇÃO CONTINUADA MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL AUTORIZAÇÃO PARA COLETA DE DADOS Eu, ( nome do diretor), ocupante do cargo (função) da (nome da escola) autorizo a coleta de dados do projeto: O Processo de Avaliação em Artes Visuais: Perspectivas e Inovações direcionadas à formação docente, realizado pela pesquisadora Tânia Alves de Sousa Oliveira sob a orientação da Professora Dra. Adilene Gonçalves Quaresma para fins de pesquisa do mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, nas instalações físicas do ( nome da Instituição) após a aprovação do referido projeto pelo CEP do Centro Universitário UNA. BH, ___ de_________ de_____ ____________________________________________ Diretor Obs: Inserir nome completo e cargo do responsável da Instituição, inserir nome da Instituição e colocar o carimbo do responsável e da Instituição. ANEXO C – Termo de autorização de uso de imagem e depoimentos CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE PESQUISA, EXTENSÃO E FORMAÇÃO CONTINUADA MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM E DEPOIMENTOS Eu ____________________________, CPF ____________, RG_______________, depois de conhecer e entender os objetivos, procedimentos metodológicos, riscos e benefícios da pesquisa, bem como de estar ciente da necessidade do uso de minha imagem e/ou depoimento, especificados no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), AUTORIZO, através do presente termo, à pesquisadora Tânia Alves de Sousa Oliveira do projeto de pesquisa intitulado “O Processo de Avaliação em Artes Visuais: Perspectivas e Inovações direcionadas à formação docente” a realizar as fotos e/ou vídeos que se façam necessários e/ou a colher meu depoimento sem quaisquer ônus financeiros a nenhuma das partes. Ao mesmo tempo, libero a utilização destas fotos e/ou vídeos (seus respectivos negativos ou cópias) e/ou depoimentos para fins científicos e de estudos (livros, artigos, slides e transparências), em favor do pesquisador da pesquisa, acima especificado, obedecendo ao que está previsto nas Leis que resguardam os direitos das crianças e adolescentes (Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Lei N.º 8.069/ 1990), dos idosos (Estatuto do Idoso, Lei N.° 10.741/2003) e das pessoas com deficiência (Decreto Nº 3.298/1999, alterado pelo Decreto Nº 5.296/2004). Belo Horizonte, __ de ______ de ______. _______________________ Participante da pesquisa ______________________________ Pesquisador responsável pelo projeto ANEXO D - Termo de compromisso de cumprimento da Resolução 196/96 CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE PESQUISA, EXTENSÃO E FORMAÇÃO CONTINUADA MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL TERMO DE COMPROMISSO DE CUMPRIMENTO DA RESOLUÇÃO 196/96 Nós, Tânia Alves de Sousa Oliveira, pesquisadora, RG. MG-477.358, CPF 752.547.11653 e Dra.Adilene Gonçalves Quaresma, orientadora, RG. M-4.309.445, CPF 666.096.156-91 responsáveis pela pesquisa intitulada “O Processo de Avaliação em Artes Visuais: Perspectivas e Inovações direcionadas à formação docente” declaramos que: • Assumimos o compromisso de zelar pela privacidade e pelo sigilo das informações que serão obtidas e utilizadas para o desenvolvimento da pesquisa; • Os materiais e as informações obtidas no desenvolvimento deste trabalho serão utilizados para se atingir o(s) objetivo(s) previsto(s) na pesquisa; • O material e os dados obtidos ao final da pesquisa serão arquivados sob a nossa responsabilidade; • Os resultados da pesquisa serão tornados públicos em periódicos científicos e/ou em encontros, quer sejam favoráveis ou não, respeitando-se sempre a privacidade e os direitos individuais dos sujeitos da pesquisa, não havendo qualquer acordo restritivo à divulgação; • Assumimos o compromisso de suspender a pesquisa imediatamente ao perceber algum risco ou dano, consequente à mesma, a qualquer um dos sujeitos participantes, que não tenha sido previsto no termo de consentimento. • O CEP do Centro Universitário UNA será comunicado da suspensão ou do encerramento da pesquisa, por meio de relatório apresentado anualmente ou na ocasião da interrupção da pesquisa; • As normas da Resolução 196/96 serão obedecidas em todas as fases da pesquisa. Belo Horizonte, 15 de Julho de 2012 ____________________________________ Tânia Alves de Sousa Oliveira RG MG 477.358 e CPF 732.547.116-53 ___________________________________ Dra.Adilene Gonçalves Quaresma RG M 4.309.445 e CPF 666.096.156-91 ANEXO E - Parecer Consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa