antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
utopia do olhar
// R A U L C Ó R D U L A
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utopia do olhar
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antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
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utopia do olhar
utopia do olhar
// R A U L C Ó R D U L A
incentivo:
Dedico este livro a minha mulher, Amélia Couto, e aos amigos Antenor Vieira de Mello e Braz Marinho, em memória.
Agradeço primeiramente aos pioneiros, Adão Pinheiro, Anchises Azevedo e Montez Magno, sem os quais esta cidade não
teria se iluminado com a arte que vemos hoje;
Ao Doutor Eufrásio Barbosa, em memória, por ter, em 1965, disponibilizando o Mercado da Ribeira para os artistas plásticos ocuparem com seus ateliês e oficinas, gerando assim o histórico Movimento da Ribeira que repercute até hoje;
Agradeço a Mary Gondim, primeira diretora do Museu de Arte Contemporânea, pelo interesse que ela fez despertar na
cidade para a arte moderna, e também agradeço às gestões que lhe sucederam à frente deste importante museu de arte
brasileiro;
Através também aos impressores Alberto e Hélio Soares, e aos sócios artistas que fundaram e fizeram funcionar a Oficina
Guaianases de Gravura, que teve apoio da Fundação Centro de Preservação dos Sítios Históricos de Olinda na gestão
técnica do arquiteto Antenor Vieira de Mello;
A Márcia Souto e toda a equipe da Secretaria de Cultura do Município, a Tereza Costa Rêgo, Petrônio Cunha e Plínio Victor,
e a João Falcão, pela criação e produção das onze versões do festival Olinda Arte em Toda Parte;
A Aneide Santana e equipe que sob sua direção faz funcionar o Arquivo Histórico de Olinda;
À equipe da Jaraguá Produções, conduzida por Carol Ferreira e Luiz Barbosa, Agência Pavio, através da jornalista Geisa
Agrício, ao designer Thiago Liberdade e a Gráfica Flamar, pela produção deste livro;
Aos amigos artistas e técnicos que possibilitaram e edição deste livro concedendo-me entrevistas e trabalhando em
sua produção: Bete Gouveia, Daniela Nader, Guita Charifker, Leide Melo, Liliane Dardot, Lúcia Santos, Maria Carmem, Tânia
Carneiro Leão,
Antonio Mendes, Aderbal Brandão, Alexandre Alves Dias, Aslan Cabral, Breno Laprovitera, Eduardo Correia de Araújo, Eduardo Mello, Fernando Duarte, Gilvan Samico, Humberto Magno, José Barbosa, Marcelo Peregrino, Marcos Cordeiro, Plinio
Palhano, Roberto Ploeg, Paulo do Amparo, Ricardo Moura, Rodrigo Carneiro Leão, Tiago Amorim.
sumario
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O Prefeito Eufrásio Barbosa
e seu cunhado Odorico
Prefácio
por Renildo Calheiros
O olhar feminino
Guita Charifker e Maria Carmem
O Movimento da Ribeira
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Adão, Ypiranga, Zé Barbosa
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A CIDADE DOS ARTISTAS
Tânia Carneiro Leão
Os fechamentos de Olinda
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Bar Ecológico
ANTENOR VIEIRA DE MELLO,
A FCPSHO, A GUAIANASES,
E Aloisio Magalhães
39
39
Liliane Dardot,
Petrônio Cunha
e Luciano Pinheiro
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O olhar ideológico
Humberto Magno e Jairo Arcoverde
39
Território da singularidade
Janete Costa, Silvia Coimbra,
ARTE E CARNAVAL
Tereza Costa Rêgo, Baccaro e os naïfes
Cadeia produtiva
39
39
João Câmara e amigos
Olinda e a pintura
de paisagem
39
39
Samico, Marcelo,
O Sobrado
e a nova paisagem
39
Tiago Amorim
e o Alto da SÉ
Uma Democracia Naïfe
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39
O MAC
Olinda contemporânea
prefácio
pre
fa
cio
Renildo Calheiros
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ste livro é um belíssimo passeio sobre a vida de artistas e de uma cidade
conhecida pela sua capacidade de criar. Olinda inventa e reinventa. É um
verdadeiro vulcão cultural, que nunca adormece. Respira e transpira arte.
Para Charles Chaplin, “a arte é uma emoção adicional justaposta a uma técnica apurada”. É esta junção que este trabalho relata.
É um caminhar no tempo guiado pelo olhar aguçado, atento, criterioso e sincero de um
grande artista. Professor, crítico de arte, pintor, cenógrafo, artista gráfico, um verdadeiro
navegador dos sete mares. Considerado um ícone das artes plásticas. Como se não bastasse todo o seu talento, Raul ainda é capaz de fazer arte com as palavras e nos conduz
por uma narrativa suave que nos prende ao texto, ocupa nossas lembranças, mostra aspectos que os nossos olhos ainda não alcançaram e que nossa sensibilidade ainda não
permitiu que percebêssemos. Ele conta histórias, apresenta informações, e deixa claro sua
própria admiração por vários desses personagens.
Confesso que temos essa nova dívida com a Paraíba. Ela já nos emprestou André Vidal
de Negreiros, que escreveu ao lado de Henrique Dias e Felipe Camarão uma extraordinária
página da nossa história: A Restauração Pernambucana. Anos depois, nos cedeu o Reino
Encantado de Ariano Suassuna, e nos permitiu que adotássemos o olindense nascido por
lá, na valente Campina Grande, Raul Córdula.
Raul, com o seu encanto, conquistou uma joia chamada Amelinha, talentosa e guerreira.
Assim nos oferecem este presente. É uma espécie de trilha, um roteiro para estudos, uma
fonte de pesquisa. Um caminho para ser percorrido. Para ficar escrito, deixar um registro. Com relatos, opiniões, análises e depoimentos de quem viveu e protagonizou estes
acontecimentos. Se não fosse assim, quem sabe amanhã, nossos guias nativos chamados
frequentemente “meninos de Olinda” contariam à sua maneira, com muita criatividade, e
surgiriam tantas versões que ficaríamos muito distante do ocorrido.
Num desses dias, estava com um grupo de empresários mostrando a Sé para eles e testemunhei um desses “guias” que acompanhava uns turistas. Ele contava muitas coisas e fechava sempre com a expressão: isso foi quando Olinda era “plana”. Fiquei muito curioso e, na
primeira chance que tive, me aproximei dele e perguntei: “Que história é essa de Olinda plana?”
Ao que ele respondeu: “Prefeito, fique frio, deixe eu ganhar meu trocado”. Isso é Olinda.
Neste livro, Raul pega a “luneta do tempo” e olha de vários ângulos. Mostra Olinda de
fora para dentro, como os outros nos veem, como nos influenciaram e como se ligam ao
que aqui se fez e se faz. Ao mesmo tempo, Olinda se mostra com toda sua força cultural.
Revelando sua identidade, suas tendências e os seus traços. Raul fala de vários momentos.
Com destaque para o movimento da Ribeira e a oficina Guaianases. Aborda o surgimento
de monstros sagrados da nossa arte. Figuras como Adão Pinheiro, Montez Magno, Anchi-
e
utopia do olhar
prefácio
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ses Azevedo, Vicente do Rêgo Monteiro, Ypiranga, Guita Charifker, Maria Carmem, Petrônio
Cunha, José Tavares, Tânia Carneiro Leão, João Câmara, José Barbosa, Samico, Luciano Pinheiro, Tereza Costa Rêgo, Paulinho do Amparo, José Amorim, Aloísio Magalhães, Humberto
Magno, Liliane Dardot, Marisa Varela, Juliana Notar, Jairo Arcoverde, Juliana Calheiros, Tiago
Amorim, José Claudio, Baccaro, Roberto Amorim, Bajado, entre outros. Raul aborda o que
ele chama de Movimentos Artísticos Modernos, iniciados na década de 50. Picasso disse
que “não há arte do passado nem do futuro. A arte que não é do presente jamais será arte”.
Tem ele a sabedoria de não citar todos. Pois se assim procedesse correria o risco de
jamais concluir o trabalho, tão amplo é o leque de artistas em nossa cidade. Seria uma espécie de “Conto das Mil e Uma Noites” contemporâneo.
Esta leitura permite compreender melhor quem são alguns dos nossos principais artistas. Raul procura mostrar o pioneirismo, o esforço, a coragem, o talento e a contribuição
que eles deram. Este trabalho tem, dentre outros, o mérito de mostrar o quanto alguns artistas, de quem se fala pouco nos dias atuais, foram tão importantes para que nossa cultura se desenvolvesse e ficasse do “tamanho” dos nossos bonecos. Me parece ser oportuno
lembrar as palavras de Hipócrates: A arte é longa, a vida é breve. É uma forma de resgate,
uma homenagem, um reconhecimento.
Embora cite várias cidades e outros bairros, Raul refere-se principalmente ao Sítio Histórico. Este grande Ateliê. Mostra que alguns desses artistas nasceram em Olinda, e que
outros para cá vieram, atraídos talvez pelo charme da cidade, ou quem sabe, pelas companhias que Olinda proporciona, ou ainda pelo mistério das colinas, pelas surpresas de cada
esquina, pela proximidade e cumplicidade que os becos oferecem, pela beleza do casario,
pela paz dos mosteiros, pela energia das ladeiras, pelo colorido das casas, pelo encanto
dos que nos visitam ou que daqui olham.
Para Nietzsche: A arte deve antes de tudo e em primeiro lugar embelezar a vida. Além
de misteriosa, Olinda é uma cidade mágica. Olinda é um estado de espírito, uma maneira de
ser, de encarar o mundo com mais tolerância e mais liberdade. Um jeito de fazer e conviver
com a própria arte. Com maior ou menor compreensão dela, muitos se sentem um pouco
artista. Olinda é uma paixão que penetra o coração de quem por aqui passa. É um sentimento que invade nossa mente e domina nossa alma. Cada um tem sua própria explicação.
É como se um amante do futebol, conhecendo hoje a história de Pelé e Coutinho, tivesse
a oportunidade de conviver com eles, no início da carreira, participar do momento, e morar
em plena “Vila Belmiro”.
Olinda é uma forma de carinho. É um grande encontro. Uns com belas fantasias e visitantes das melhores academias, outros vestidos de maneira simples ou até sem camisa, juntos
ao som do mesmo frevo subindo e descendo a mesma ladeira, perdendo ou encontrando
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um amor, outro amor, ou reconquistando o mesmo amor. Fernando pessoa preferia dizer: “A ciência descreve as coisas
como são; a arte, como são sentidas, como se sente que
são”. Olinda é assim, ou pelo menos é assim que sentimos.
Depois de viajar pelas linhas escritas neste trabalho, admiro ainda mais alguns dos nossos artistas e me encanta a
simplicidade deles. Figuras de tanto talento levam vidas simples e alguns, de história tão rica. Raul revela estes segredos
para os mais jovens e relembra aos mais antigos. Reflete estas
imagens nas paredes do tempo, põe mais luz, abre as janelas,
e mostra ao mundo que Olinda é uma terra de “gigantes”.
Em Olinda o sol nasce mais cedo, refletindo um azul que
encantou Carlos Pena Filho. Na parte da tarde, seus raios já
incidindo em nossas colinas em posição diagonal, começam
a formar sombras precoces. As sombras tornam as noites
mais longas e elas despertam os poetas, animam os artistas
e estimulam os boêmios. Salve os amantes da arte!
salve olinda!
esfera armilar
desenho de manoel bandeira sobre a cantaria da
fachada da igreja de são sebastião no varadouro.
a cidade dos artistas
utopia do olhar
a cidade dos artistas
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uem conhece o Sítio Histórico de Olinda
sabe que este lugar é uma joia urbana,
arquitetônica, paisagística e comunitária. Um lugar onde todos e quase todos
que aqui moram, de alguma maneira, são
artistas de Olinda, como se proclamou Bajado um dia.
Lembro que o curador Marcos Lontra, que criou e dirigiu
o Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães, disse-me uma
vez, mesmo depois de ter dirigido museus da importância
do MAM do Rio de Janeiro, que, pelo interesse do público,
nunca tinha visto um povo gostar tanto de arte como o do
Recife. Recife e Olinda são como uma cidade dupla, e assim
eu gosto de chamá-las.
Olinda atraiu os artistas desde a década de 50, quando Montez Magno para cá se mudou, na década de 1950, e
convidou Adão Pinheiro e Anchises Azevedo para dividirem
com ele seu ateliê. Aí estão os primórdios da modernidade
artística de Olinda.
Montez é um artista que possui grande fortuna crítica,
além de também escrever sobre arte. Em 1961, ele publicou
mais de uma dezena de artigos no Diário da Noite, antigo
jornal recifense. Desde então, escreveu em diversos jornais como Jornal do Brasil, Revista Pasárgada, de Pernambuco e Jornal do Commercio, entre outros. Além de pintor,
escultor e desenhista ele lança mão das mídias contemporâneas, mas reside na poesia, com ênfase para a poesia
visual, um importante aspecto de sua obra tanto pelo sentimento de vanguarda das obras mais antigas, quanto pela
contemporaneidade.
Como exemplo, cito Floemas, de 1962, uma obra que se
colocava na mais pura vanguarda pois tratava-se de um “livro de artista”; Rumos, de 1992, um mergulho que percorre
desde a poesia moderna, passando pelo Poema Processo e
indo até a poesia visual dos dias de hoje; Câmara Escura e
Invenções de Cambroque, ambos de 2002, contendo poemas em versos, o último ilustrado por ele. Mas sua produção
19
q
montez magno - desenho, 1962
o autor ao lado do pintor ney quadro, 1960
montez magno - desenho, 1962
poética não se limita a estes. Cito ainda Narkosis, Dentro
da Caixa Cinza, Pequenos Sucessos, As Estações Visionárias, Divan de Casa Forte e Notassons. Notações Musicais
e Visuais Aleatórias. Certamente seu processo de criação
poética vai muito além.
Montez nasceu em Timbaúba em 1934, estudou desenho a partir de 1963 e fez sua primeira exposição individual
em 1957 no IAB. Sua história artística é longa e fértil, tendo
realizado várias exposições no Brasil e na Europa, por onde
viajou por Espanha, Portugal, França Itália, Iugoslávia e Grécia. Também esteve na Argentina, no Uruguai e na África. Foi
professor de escultura no Departamento Cultural da Universidade federal da Paraíba. Sua obra é motivo de um livro dos
curadores Paulo Herkenhoff e Clarissa Diniz, e seus escritos
também atingem a área crítica.
A exemplo de Montez, Adão e Anchises também acorreram a este chamado, cada um a seu tempo. Mais de uma
centena de artistas que traçaram esta pequena-grande história de arte, a maioria atuantes até hoje, outros já pouco
conhecidos como.
Roberto Amorim, Ney Quadros, Emanuel Bernardo, Paulo
Neves, Gim, Alves Dias, Lenine de Lima, por exemplo. Coinci-
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a cidade dos artistas
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humberto magno, adão pinheiro, josé tavares e ypiranga filho na oficina 154, 1964.
humberto magno, ypiranga filho, luiz pessoa, adão pinheiro, nazaré, rodolfo aureliano, josé barbosa, luci hladczuk, luciano pinheiro e wellington virgolino,
década de 1970
dem as facilidades para alugar ou comprar sobrados para ateliês e, em alguns casos, para
sair do Recife nos difíceis tempos da ditadura militar. Muitos constituíram famílias das
quais também nasceram filhos artistas, uma nova geração que hoje está adulta e inserida
com sucesso no meio artístico, como pintores, escultores, gravadores, designers, artesãos, fotógrafos, performáticos — aliás, uma tradição da cidade ­— e contemporâneos, no
sentido da atualidade da arte que não se limita mais a categorias artísticas.
Eis a Olinda de hoje, uma cidade de artistas plena de saberes, novos e antigos, com
suas faces morenas e caboclas, seu carnaval impregnado nas ladeiras, um lugar possuidor de uma arte que almeja as visões do paraíso. A pintura é a principal arte praticada aqui.
Desde os primeiros movimentos artísticos, dos anos sessenta até agora, os pintores dominam a cena. Mesmo aqui existindo excelências em todas as outras categorias da arte.
Mas, no campo das artes visuais, este domínio é apenas
quantitativo, pois os desenhistas, gravadores, fotógrafos,
escultores e artistas de várias linguagens modernas e contemporâneas, também exercem um papel qualitativo.
Há décadas se fala em “arte provincial” para definir a arte
das regiões que estão fora dos eixos de influência e prestígio. Nada mais correto se conhecemos a arte de Olinda e
seus artistas. Porém, neste caso, não se pode atribuir à “província” o sentido de “lugar atrasado”, mas sim o de privilégio
urbano, tesouro vivencial de cultura preservada, patrimônio
humano e material.
Escola de Belas Artes da UFPE, onde funcionava um Curso Livre, na Rua Benfica, em Recife. Eles tiveram formação
ou treinamento pelas mãos de artistas como Vicente do
Rêgo Monteiro, Lula Cardoso Ayres, Reynaldo Fonseca, para
citar somente estes três integrantes do notável naipe de
artistas-professores da época. Eles são, entre outros, João
Câmara, Jairo Arcoverde, José Tavares, Ypiranga Filho – que
se iniciou nos ateliês livres e depois se tornou professor do
curso regular da Escola.
Essa história continua até hoje: artistas chegando, ateliês se montando, movimentos acontecendo, museus e ou-
utopia do olhar
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os fundadores
e seus herdeiros
ela, e assim ninguém lhe dá valor, ainda que
Escrevi há dois anos o catálogo de Jairo Arco-
com os outros, ao ponto de continuar como os
ela seja, depois da alma humana, a coisa mais
verde, pintor visionário e selvagem e ao mesmo
pais, numa homenagem constante, cotidiana.
maravilhosa e mais preciosa da terra, e tenha o
tempo requintado e culto, no qual me detive na
Poucos lugares no mundo têm o privilégio
poder de fazer cair reis e príncipes. Mesmo as-
apreciação de sua casa, pois sempre percebi
O que está aqui reunido nas três salas de expo-
de ser uma cidade onde vivem famílias de
sim, ela é considerada a mais vil e desprezível
as famílias dos artistas como parte do imaginá-
sição é notável do ponto de vista da arte. Uma
artistas plásticos por mais de uma geração
das coisas terrestres.”
rio que vemos em suas obras. Cito como exem-
simples visita basta para constatar esta qualida-
plo da vida simples do artista o seguinte trecho:
de. Mas esta não é a única razão de reunir este
como é Olinda. Na verdade, Olinda é A CIDADE
antônio paes
jungle garden, desenho
As ciências antigas, que a modernidade não
ça enquanto medito sobre as províncias e as
aceita, ainda são, embora que simbolicamen-
“Eis a casa do artista onde todos vivem criando
dade de mostrar ao público esta realidade tão
metrópoles, percebendo que esta diferença
te, a melhor forma de se compreender o mundo
arte, atmosferas, paisagens íntimas; acompa-
evidente e, surpreendentemente, tão ocultada
também existe na expressão dos artistas as
dos artistas quando afirma que o que passa
nhadas pelos cachorros, gatos, passarinhos e
pela despretensão de cada um destes artistas
respectivas urbes.
despercebido pode ser “a coisa mais maravi-
plantas e flores do jardim. Tudo parece orde-
de comunicar suas identidades ocultas.
lhosa e mais preciosa da terra”. Aurélio Buarque
nado e arrumado. Mas, na verdade, o espaço
Esta exposição que marca a décima versão
de Holanda sugere em Visões do Paraíso que,
generoso é um labirinto de surpresas, com
do ARTE EM TODA PARTE assume este concei-
entre tantas coisas fantásticas, o espírito de
paredes cobertas de pinturas e cerâmicas:
to: A CIDADE DO ARTISTA. Ela conta com artis-
aventura dos pintores de Nassau — e por gravi-
pinturas de Jairo, objetos de Betty Gatis, sua
tas das duas gerações que aqui trabalharam
dade, de qualquer pintor no Brasil — pressiona
mulher, uma das principais ceramistas de Per-
neste meio século de arte moderna: a gera-
a ideia do olhar maravilhoso e, no nosso caso,
nambuco, pratos de argila pintados por ele e
ção dos pais, os pioneiros, os fundadores; e
o paraíso é aqui.
transformados em cerâmicas por ela e, como
contraponto, objetos de seus filhos Marisa,
a geração que herdou este saber e o utiliza
tras instituições culturais se instalando, galerias, oficinas
de gravura, litogravuras, xilogravuras, tipografias, coleções,
restaurações, curadorias, programas oficiais e associações
de artistas. A cidade do artista foi-se construindo assim.
Esta utopia do olhar assim se formou o tomou conta dos
sonhos dos que dela hoje participam.
A modernidade pernambucana apontava para a reinvenção das suas origens e das tradições num afã, ao mesmo
tempo, nacionalista e antropofágico. Ninguém melhor do
que Montez, Adão e Anchises para inventar aqui a arte que
se faz agora, que não é barroco-portuguesa, nem colonialista/holandesa, nem tampouco francesa/belasarteana, mas
moderna, mesmo que em parte naïfe, como é são povo e
a cultura que aqui se transformam democraticamente em
cidadania mestiça.
Em 2010, fiz a curadoria do Olinda Arte em Toda Parte, festival anual promovido pela Prefeitura que comentarei adiante. Chamei de A Cidade do Artista a curadoria que
constou de exposições dos artistas que chegaram aqui primeiro e os seus descendentes artistas – por esta razão, por
ter sido por duas vezes curador deste importante festival de
arte, abstenho-me de tecer comentários neste livro de suas
onze versões. Edito, porém, o texto curatorial da 10ª sua versão pois nele contém parte – são muitas as motivações – da
pulsão que me fez escrever este livro. Ei-lo:
conjunto, também existe o desejo e a oportuni-
DO ARTISTA e este conceito me vem à cabe-
Joana e Leonardo.”
aqui mesmo, onde vivem e trabalham como
Para saber disso, com certeza, basta conhecer
artistas, plasmando o mundo visto do lado
a obra de artistas como Samico, Tereza Costa
de cá desta cidade dupla de Recife/Olinda, do
Rêgo, Maria Carmem, Luciano Pinheiro, Marisa
A generosidade é uma das principais qualida-
ponto de vista da província que não quer dei-
Varella, Tiago Amorim, José Cláudio, Bajado, Zé
des dos artistas, pois suas obras são fruídas
xar de ser o paraíso na terra.
Som, Petrônio Cunha, Ivaldevan e Sônia Calhei-
pelos outros simplesmente como dádivas. As
ros, Roberto Peixe, Humberto Magno, Giuseppe
casas dos artistas são geralmente centros ra-
Então, continuando minhas elucubrações sobre
Baccaro, Jairo Arcoverde e Bethy Gatis, Ypiranga
diantes como foi aqui em Olinda e ainda é na
cidade e sobra artista, me vi diante da ideia da
Filho Roberto Lúcio, Liliane Dardot, fundadores
sua periferia a casa de Tiago Amorim, misto
Jerusalém Celeste: a cidade ideal que tanto ju-
desta realidade em que se transformou Olinda
de artista e monge. As organizações coletivas
deus, como cristãos e muçulmanos consideram,
desde os anos sessenta. E a obra de seus filhos
de artistas são comuns aqui. Ateliês coletivos,
numa visão mística e mágica, a cidade de Deus.
Manuel Cláudio (Mané Tatu), Marcelo Peregrino,
oficinas de gravura como a foi a Guaianases,
Laura Francisca, Leonardo Arcoverde, Marisa e
galerias dos próprios artistas são uma forma
A ideia de cidade de artista é sempre incom-
Joana Gatis, Thomas, Matheus e Antonio e Fran-
muito particular de se conviver nesta cidade
preendida por quem não cria; pelos pragmáti-
cisco Baccaro, Bhama, Maria e Marcos Pinhei-
abertas desde décadas, muito antes de se fa-
cos que acham que tempo é dinheiro, em vez
ro, Catarina Aragão, Marilá Dardot, as Julianas
lar em “co-letivos de artistas”.
de ser a dimensão do homem por excelência.
Notari e Calheiros, Marina Mendonça, Ypiranga
Esta miopia filosófica me lembra um texto al-
Neto, Dedé Bajado, Elúzia e Goretti Varella, An-
Este não é somente um panorama da arte que
químico de 1534 que diz:
tonio Paes, para citar apenas os artistas desta
se produz aqui, mas também da vida diária,
exposição que aqui apresentamos.
dos diálogos e conflitos, das lutas de gerações, das descobertas íntimas de cada pes-
“A pedra é familiares a todos os homens, jovens e velhos. Encontra-se no campo, na al-
Além destes que integram esta mostra é preci-
soa em relação ao seu ambiente, quando se vê
deia, na cidade, em todas as coisas criadas por
so citar, como grandes visionários, Zé Barbosa,
inexoravelmente ligada à sua marca, seu jeito
Deus e, contudo, é depreciada por todos. Ricos
João Câmara, Guita Charifker, Delano, José de
característico, seu talento, sua tendência, sua
e pobres tocam-na todos os dias, as criadas
Moura, José Carlos Viana, José de Barros, Vila
vocação. Um relato do prazer, do amor, da con-
lançam-na nas ruas, as crianças brincam com
Nova e José Tavares.
fiança e do respeito que estes artistas têm uns
Goretti Varella - gravura
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adão pinheiro,
vicente do rego monteiro
e ypiranga filho
no ateliê de adão.
utopia do olhar
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antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
o prefeito eufrasio barbosa
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utopia do olhar
o prefeito eufrásio barbosa e seu cunhado odorico tavares
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Geração 59, grupo de poetas de João Pessoa que eu frequentei, do qual fez parte o
poeta Jomar Souto, cultuava o poeta Carlos Pena Filho, que vivia em Olinda. Não o
conheci, mas me lembro de que estava
numa festa na casa de Baby e Geninha Rosa Borges, levado
por minha irmã Leda e seu marido, o ator Rubens Teixeira,
que integrava a equipe do Teatro Popular do Nordeste, quando alguém chegou com a triste notícia do trágico acidente
que levou o grande poeta Pena Filho, do qual eu sabia sonetos de cor. Muito tempo depois, tive o prazer de conhecer
Tânia Carneiro Leão, sua viúva, casada então com um elegante cavalheiro, o professor André Carneiro Leão, e seus
filhos Clarinha, filha de Carlos, e Rodrigo, de André.
Foram as narrativas de memória de Tânia que me levaram a pensar neste livro, pois a história de seu pai, Eufrásio
Barbosa, e sua família deram-me a perfeita impressão de
que germinou, em determinado momento de suas vidas,
movida por ações e desejos do clã, esta utopia olindense:
uma utopia do olhar que tem em Carlos Pena um dos seus
criadores e em Eufrásio Barbosa seu primeiro construtor –
um construtor de utopias.
É esta a utopia que venho aqui narrar, nascida do olhar
curioso de uma geração que se desgarrava da cultura aristocrática rural enraizada nesta terra e aderia definitivamente à
modernidade, mesmo que 30 anos depois da Semana de 22 e
do Manifesto Regionalista de autoria de Gilberto Freyre. É bom
lembrar que a Semana de Arte Moderna de 1922, acontecida
em São Paulo, teve a participação de Cícero Dias e de Vicente
do Rego Monteiro – personagem que veio a ser fundamental
para a Olinda daquele tempo de renovação. Muitos artistas se
mudaram para cá para desfrutar do prestígio que o Prefeito
emprestava aos artistas - como foi o caso da contratação de
Adão Pinheiro e, posteriormente, Vicente do Rego Monteiro,
como Secretários de Cultura e Turismo do Município, e ainda
a seção do Mercado da Ribeira aos artistas.
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O Prefeito Eufrásio Barbosa era um homem culto. Dona
Otília, sua mulher, também. Ela era irmã do jornalista Odorico
Tavares, superintendente dos Diários Associados na Bahia,
amigo de Assis Chateaubriand e, como ele, colecionador de
arte. Numa crônica escrita em 17 de junho de 1984, após a
morte de Eufrásio, Mauro Mota escreveu:
a
“Eufrásio Barbosa foi amigo de vários escritores brasileiros. Álvaro
Lins muito o apreciava. Odorico Tavares, dos nossos mais importantes poetas e cujo esquecimento em Pernambuco João Cabral outro
dia estranhava em conversa no Rio, nem se fala. Odorico era irmão
da admirável Otília Tavares, mulher de Eufrásio (a quem se antecipou
quatro meses na viagem definitiva) e a Liliane Daltavila nos versos
que escrevia em Timbaúba. De Jorge também nem se fala. Mantinham correspondência há muitos anos”.
o jornalista e empresário assis chateaubriand
com o prefeito eufrásio barbosa
o prefeito eufrásio barbosa com assis chateaubriand
Odorico Tavares, além de ser em seu tempo um dos melhores
colecionadores de arte brasileiros, foi responsável pelo surgimento de grandes artistas nacionais que ele conheceu ainda
jovens e neles investiu seu tempo, dinheiro e prestígio, tornando-se, assim, também um mecenas. Na sua coleção, constam
obras de alguns artistas considerados gênios da arte, como
Pablo Picasso, Georges Rouault, Joan Miró, Henry Matisse, o
inglês Alan Davie, os japoneses Kumi Sugai, Manabu Mabe e
Flávio Shiró, e do Brasil Cândido Portinari, Di Cavalcanti, José
Pancetti, Aldemir Martins, Milton Dacosta, Guignard, Carlos
Scliar, Antonio Bandeira Frans Krajcberg, Francisco Brennand
entre outros deste mesmo período de modernidade tardia. Dos
baianos a coleção comporta Emanoel Araújo – curador da coleção, Caribé, Genaro de Carvalho, Mário Cravo Filho e Mário Cravo Neto, Hansen Bahia, Floriano Teixeira, entre tantos outros.
Mas sua importância para a arte transcende o colecionista e atinge o território do prestígio quando algumas de
suas ações foram decisivas para a cultura nacional, como
o caso da Campanha Nacional de Museus Regionais coor-
utopia do olhar
o prefeito eufrásio barbosa e seu cunhado odorico tavares
30
denada pela senhora Yolanda Penteado. Esta campanha, fruto das ideias que trocava
com Chateaubriand, resultou na implantação de quatro museus: o Museu Regional de
Feira de Santana, o Museu de Arte Moderna de Pernambuco - MAC, em Olinda, e o Museu
Assis Chateaubriand de Campina Grande – MAC/CG.
A implantação do MAC de Olinda foi amplamente discutida com Eufrásio Barbosa. O edifício
do aljube, a cadeia diocesana, foi restaurado especialmente para abrigá-lo. No texto curatorial
do catálogo da exposição de sua coleção, de autoria de Emanoel Araújo, ele fala da cumplicidade que existia entre Odorico e Assis Chateaubriand em relação às artes plásticas:
Ele perdia todo tempo do mundo conversando sobre arte. Penso que esta era a grande cumplicidade entre
ele e o Dr. Assis – ambos tinham esse lado romântico e aventureiro dos artistas daquela época, porém
como não eram artistas, viviam com eles em grandes rodas e faziam com eles grandes viagens.
Odorico era mesmo um grande apaixonado pelo meio que transpirasse arte e poesia, num
tempo em que ali estavam nomes como Carlos Penna Filho, Manuel Bandeira, José Lins do Rego,
Carlos Drumand de Andrade,Augusto Frederico Shmidt, Pablo Neruda, Nicolás Guillén, Ascenso
Ferreira, Gilberto Freyre, Jorge Amado, João Condé, Carlos Lacerda, Antonio Balbino, Juracy Magalhães, Octávio mangabeira, Godofredo Filho, Carlos Eduardo da Rocha, Aníbal Machado – tornando
a Bahia sua segunda terra e fazendo dela um amoroso apaixonado em seu degredo voluntário”.
petrônio cunha - desenho
Não é de estranhar o empenho de Eufrásio Barbosa pelas artes em Olinda. Seu convívio intelectual em Pernambuco e sua aproximação com Odorico, que também o
aproximou de Salvador, certamente contribuiu para isso.
31
tania
carneiro leao
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
34
a convivência dos intelectuais amigos de seu pai, e com a proximidade
de Odorico, Tânia foi educada, convivendo naquele ambiente cercado por
escritores, poetas e artistas plásticos. Muito jovem se casou com Carlos
Pena Filho e, depois de sua viuvez, com o Professor André Carneiro Leão,
também ligado à cultura dos livros e da história.
Embora tenha, desde menina, curiosidade e habilidade para o desenho, ela somente
assumiu sua face artística nos anos 80, realizando sua primeira exposição no seu ateliê
em 1987. Sua pintura inicial, ligada à paisagem dos pintores holandeses de Nassau, desenvolveu-se com influências da pintura ingênua americana, de mapas antigos, de cartas
náuticas e brasões, de “bodegões” e naturezas mortas.
Por esta razão, o escritor André Carneiro Leão, seu marido, em artigo na revista Ventura,
a comparou com o “quinto pintor de Nassau”, aquele ao qual ninguém se refere nem se
sabe de sua obra, mas que o Conde teria feito referência. Eu achei interessante esta comparação feita por André, pois três outras artistas de sua geração são as mestras da pintura:
Guita Charifker, Maria Carmem e Tereza Costa Rêgo. Tânia começou a pintar nos anos 80,
duas décadas depois delas, portanto. Tânia nos concedeu uma entrevista em que ela toca
em vários temas que aqui abordo e, entre outros especialíssimos assuntos, nos falou de
sua iniciação na pintura:
35
n
tânia carneiro leão
parede. Peguei o segundo mapa e encostei lá. Duas madames pararam no antiquário onde os quadros estavam e uma disse para outra que aquele quadro era o que ela estava procurando, mas não
tinha dinheiro para comprá-lo porque deveria ser muito caro, pois se tratava de um quadro antigo. Foi
“Eu não tive nada a ver com a Ribeira, nada disso. Minha história começa no ano de 1983, muito mais
quando eu disse que tinha sido eu que tinha pintado e elas não acreditavam de jeito nenhum. E eu
tarde. Quando meu pai faleceu e eu não queria morar nesta casa. Meu filho foi montar um restaurante
não podia vender porque era para o restaurante do meu filho. E me animei e comecei a pintar floreiros,
chamado “Berro D’água”. Carlos Augusto Lira foi quem fez o interior do restaurante. Então, na sala da
paisagens e saí pintando os quadros daí.
frente, Carlos queria misturar uma coisa mais antiga com uma coisa mais moderna. Ele fez um bar
Quando eu terminei, eu mostrei para os meninos e disse: ‘olha os quadros antigos que eu arran-
lindíssimo. Para a sala da frente, ele queria comprar quadros antigos e grandes para colocar.
jei’. E eles disseram que não tinham dinheiro para comprar. Foi quando eu disse que era presente
Tudo faz sentido. Não existe nada de graça, como diz Carlos Pena: ‘O acaso é Deus’.
porque tinha sido eu que tinha pintado. Ninguém acreditava. Quando chegaram os quadros para
Nessa época, a gente era muito amiga de Lula Freyre, o dono da Ventura, revista de arte. Chega
Carlos pendurar, ele ficou encantado com os quadros. Essa sala ficou linda. Esses mapas, todo
o Livro de Olinda que ele tinha publicado e que eu acho que foi até Marcos Freire que financiou
mundo que entrava queria comprar. Um eu acabei vendendo. Um está com Isabela de Almeida. Daí
pela Caixa Econômica. E no livro tinha um mapa do século XVII. Esses mapas são desenhos muito
em diante, eu comecei a pintar”.
rudimentares, naïfes.
Aí, eu disse que achava que poderia pintar um mapa daquele, ficaria lindo um mapa bem grande que
comportasse as duas paredes. E chamei o rapaz da minha loja Antiquário, na frente da Prefeitura, e pedi
para ele comprar uma tela e para pintar em duratex e pincéis. Mandei o menino pintar as telas com base
acrilex. Prendi na parede e comecei a copiar o mapa todinho. Ficou uma coisa muito “cheguei”. Resolvi
envelhecer. Acabei envelhecendo demais e tendo que restaurar.
Mas foi exatamente isso que aconteceu: eu mandei colocar uma moldura antiga e coloquei na
Profissionalmente dedicada ao antiquariato, ela tornou-se uma especialista em artes tradicionais, das quais exerce a pintura. Mas sua convivência com a poesia lhe despertou para
o verso livre e para o hai kai, forma poética japonesa que encontra no Brasil vários adeptos,
entre eles o baiano Pedro Xisto, com sua obra seminal Caminhos, e o nosso pintor e escritor
Marcos Cordeiro com seu belo livro Hai Kais para Raffaela.
Tânia lançou então Poemas de Pé Quebrado (editora Carpe Diem), coleção de hai kais
utopia do olhar
tânia carneiro leão
36
embalados por experimentos gráficos digitais surpreendentes por seu conteúdo poético.
Tânia embarcou em determinado momento numa arte de grandes simbolismos colorísticos
e formais: uma arte intimista na qual evoca realidades mágicas, sonhos, transparências,
cores veladas e estruturas oníricas, mas tudo isto dentro de uma atmosfera paisagística.
37
que trabalhavam nas fábricas da França, e montar em Peixinhos uma
fábrica de perfumes. E as casas teriam um jardim com flores para
fornecer aromas para a fábrica.
Parece ser uma utopia, mas não é. Tem muita gente ficando rica
vendendo flor em pequeníssimos terrenos. Seria uma coisa absolutamente genial e viável – ia-se fazer quando meu pai foi cassado –
eufrasio barbosa
adao pinheiro e vicente do rego monteiro
porque seria uma cidade inteira fabricando. E perfume não se faz só
com flores; se faz com grãos, folhas, frutos, raízes. Vicente dizia que
meu pai era o novo Duarte Coelho, que estava reconstruindo Olinda e
Tânia não foi apenas testemunha, foi personagem daqueles tempos, amiga dos artistas e
mulher de Carlos Pena Filho, relação que ela comenta ao seguir:
ele tinha certa razão nisso”.
carlos pena filho
“Quando meu pai se elegeu prefeito, convidou Adão Pinheiro para ser o Secretário de Cultura. Adão era
muito amigo meu e eu disse ao meu pai que ele tinha ideias fantásticas e que seria um ótimo Secretário de Cultura. Quando houve alguns movimentos, perseguição política, já no início de 1964, Adão,
“Carlos morreu em, 1961, acidente de carro. Ele ia com Moura Caval-
achando que estava prejudicando as coisas, saiu da Prefeitura. Artista era visto como pária. Então
canti, que foi governador depois, para a Cobrama, na Rua Imperial,
Adão largou a Secretaria. Eu atendo o telefone e era Vicente do Rego Monteiro – Vicente trazia suas
uma grande firma daqui. E Carlos estava fazendo campanha para
obras para vender numa loja que eu tinha embaixo, no porão da casa (onde funcionou o bar Berro
Jânio Quadros com Moura. Quando o carro passou no Forte de Cinco
D’Água na década de 1980). E quando eu não conseguia vender tudo, eu pedia à Janete Costa para
Pontas, um ônibus bateu. E tem até depoimentos que todos corre-
vender, uma figura fantástica.
ram para saber o que era. Teve um senhor que disse que uma pessoa
Vicente me ligou querendo vir para a Secretaria de Cultura, porque Adão tinha saído. Meu pai disse
saltou do carro sem nenhuma aparência que estava machucado.
que Vicente poderia tomar posse quando quisesse. Meu pai tinha muitos rompantes. E dizia que era a
Moura aparentava estar bem mais machucado do que ele. Simples-
primeira vez que um Prefeito tinha um Secretário mais importante do que ele.
mente, ele saiu de blazer azul, depois eles viram que a pancada foi no
Ele só foi prefeito até 1964 porque o exército o ficou cascavilhando. Não era comunista, era um
pescoço e que o mesmo saiu do lugar, estava fraturado.
industrial. Uma vez meu pai, conversando com Arraes a respeito de sair da Prefeitura, Arraes o acon-
Carlos tinha 31 anos quando o acidente ocorreu. A gente se co-
selhou para não sair. Porém, queriam colocá-lo para fora de qualquer maneira. E a maneira que tinha
nheceu menino, ainda, e casamos. Tivemos Clara. Ele era muito bem
era reunir a Câmara de Vereadores. E votaram impeachement alegando nada. Em dois anos de man-
humorado, sempre tinha a última notícia que ele ironizava. Não tinha
dato, ele fez coisas fantásticas, ele fez o Mercado da Ribeira. Foi quando todos os artistas vieram para
festa em Recife se não tinha Carlos Pena. Eram muitos amigos e
Olinda, não por convite, mas o movimento chamava para cá. Ninguém veio a convite. Até Francisco
muitas festas e ficava cansativo às vezes. Ele era muito querido e
Brennand, que nunca saiu da Várzea, trouxe seus quadros para expor aqui na Ribeira. Foi na época de
era muito brigão também. Porque ele fazia “bulliyng” com Cid Sam-
1963/1964. Confesso que sou péssima para datas.
paio, com outros. Brigar com Carlos era a pior coisa que você podia
O Mercado da Ribeira era um mercado onde se vendia a pequena feira. Funcionava nas quartas-fei-
fazer, porque ele fazia logo um poema lhe anarquizando. Ele fazia
ras. Reuniam-se alguns feirantes e colocavam algumas coisas pra vender. Essa ideia de fazer o Mercado
bulliyng mesmo, com governador, com presidente.
da Ribeira, de trazer os artistas, tudo foi ideia de Adão Pinheiro. Vicente tinha uma ideia fantástica e não
foi feita porque meu pai foi cassado, mas ia ser feita: a ideia era importar perfumistas operários, pessoas
Toda semana nós tínhamos que ir jantar com o General Cordeiro
carlos pena filho na companhia de gilberto freyre
de Farias no Palácio. O General morria de rir das histórias. Era pa-
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
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drinho de nosso de casamento. Eu tenho cartas dele. O General era inteligentíssimo. Ele fez a Coluna
Prestes toda, deixou Dona Avanir no Rio Grande do Sul, noivo, e foi embora atrás de Carlos Prestes. Era
ele, o Brigadeiro Eduardo Gomes, Juarez Távora, aquele pessoal todo que fez a coluna Prestes todinha.
Era amicíssimo de Prestes, tinha um respeito enorme de Carlos Prestes, apesar de terem divergido.
O General dizia que Prestes não montava num cavalo, até que o último soldado não tivesse montado. Se tivesse alguém a pé, ele iria também. Era um negócio fantástico, espetacular.
Eu tenho um livro com a vida do General Cordeiro, que Inezinha, a única nora, fez uma dedicatória
enorme, contando a história da gente e tudo. E saíram daqui pobres, o General e Dona Avanir. Primeiro
ele foi chefe do Centro Cultural Brasil – Estados Unidos, e depois com a Revolução o General foi Ministro de Castello Branco. Mas antes, ele ficou uma temporada no Rio vivendo só de um salário de General, e não tinha roubo. Eles entravam e saiam com o mesmo dinheiro que tinham. Era muito diferente.
Hoje em dia as pessoas vão ser políticos para ficar rico. Antigamente não tinha isso, era fantástico”.
A poesia de Carlos Pena Filho faz diversas alusões à arte da pintura e à cor azul. Na dedicatória do Livro Geral, ele escreve: Tânia: “recebe este livro / agora mesmo composto / na face
azul do teu rosto / ilha de sal e de areias / azuis como as nossas veias”. Em outro poema
dedicado à Tânia, Soneto, do livro A Vertigem Lúcida, ele reafirma: “Por seres bela e azul é
que te oferto/a serena |lembrança desta tarde: (...) por seres bela e azul e improcedente / é
que saber que a flor, o céu e os dias / são estados de espírito somente”.
O poema Olinda – do alto do mosteiro, um frade vê é uma ode à paisagem, o principal
gênero de pintura daqui. Poema do Desmantelo Azul é uma performance pictórica com forma moderna e conteúdo contemporâneo: “Então pintei de azul os meus sapatos / por não
poder de azul pintar as ruas, / depois, vesti meus gestos insensatos / e colori as minhas
mãos e as tuas.”
Os poemas Retrato do Pintor Reynaldo Fonseca, Soneto raspado das telas de Aloisio
Magalhães e A solidão e sua porta, dedicado a Francisco Brennand, mostram seu apego
aos pintores. Para fazer um soneto é mais uma aula de pintura do que de poesia. E Soneto
à fotografia faz o elogio precoce da fotografia como arte visual, um dos principais meios de
expressão da contemporaneidade.
tânia carneiro leão - pintura
39
o movimento
da ribeira
adao
ypiranga
jose barbosa
utopia do olhar
o movimento da ribeira: adão, ypiranga e josé barbosa
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o cruzamento de variantes que se atraíram, surgiu o Movimento da Ribeira,
fruto da interação dos artistas com a Prefeitura. Por sua aproximação com
Adão e sua compreensão da arte como elemento socializante, Eufrásio Barbosa atendeu à necessidade que todo artista tem de espaço para trabalhar
e mostrar o fruto de seu trabalho.
Essa necessidade transformou-se em um projeto estratégico que logrou transformar social e urbanisticamente uma cidade decadente, dando a ela novo interesse. A ideia era dotar
Olinda de um espaço que abrigasse os artistas plásticos e artesãos, que chamasse para
cá o público do Recife através de exposições de arte e outras manifestações da cultura do
povo, como música e dança e teatro, e capacitar novos artistas por meio de cursos de desenho, pintura, escultura, etc. O que verdadeiramente aconteceu. A presença de Adão Pinheiro
foi fundamental para que as coisas acontecerem com tanta energia e acerto.
Adão é gaúcho, veio para o Recife acompanhando sua mãe. Tornou-se conhecido de Gilberto Freyre que o empregou no Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, a principal
instituição cultural do Estado na época. Transformada em Fundação Joaquim Nabuco de
Pesquisas Sociais – FUNDAJ (Gilberto Freyre dedicou a ela o resto de sua vida).
Na sequência dos acontecimentos, Adão foi convidado pelo Dr. Airton da Costa Carvalho
para trabalhar no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – ISPHAN que ele dirigia para todo o Nordeste. Dr. Airton foi uma das maiores figuras públicas do Recife dedicado
à causa da restauração e conservação do nosso patrimônio histórico, artístico e cultural de
“pedra e cal”. Dr. Airton admirava Adão como pessoa e como artista e via nele um “cavaleiro da causa preservacionista”. Adão atuou também, junto de Aloísio Magalhães, no Gráfico
Amador, ilustrando livros como os dos poetas Gesta e Jorge Wanderlei. Neste ponto da história, Adão já assumira sua residência olindense, montando o ateliê com o artista baiano
Anchises Azevedo e o pernambucano Montez Magno.
Então, num determinado momento, em consequência de seu trabalho, sua liderança e
sua simpatia, Adão foi nomeado Secretário de Cultura e Turismo da Prefeitura de Olinda a
convite de Eufrásio Barbosa. Mas não estava só. Com ele estavam Ypiranga Filho, outro baluarte desta história, e o pintor José Tavares, que em 1971 desapareceu no Rio de Janeiro.
Juntos dele estavam também Guita Charifker, José Barbosa. José Tavares, Roberto Amorim e
João Câmara. Posteriormente Tiago Amorim, João Sebastião, e outros.
A integração de Ypiranga no Movimento da Ribeira se deu quando conheceu José Tavares, seu colega do Curso Livre da Escola de Belas Artes. Através dele, chegou a Adão
Pinheiro, Secretario de Turismo da Prefeitura de Olinda. Tiveram, então, uma longa conversa
sobre o Mercado da Ribeira, e partiram para a ação em passo rápido, juntando artistas e
artesãos na recuperação do velho Mercado. O Mercado da Ribeira foi aberto ao público com
43
d
petrônio cunha - silhueta do mercado da ribeira
cara nova. Sua primeira exposição foi de imagens de santos da coleção de Abelardo Rodrigues, em 24 de novembro
de 1964. Segundo Ypiranga: “uma quase-multidão ocupa a
Galeria e o pátio da Ribeira de Olinda. Resistência, refúgio,
movimento estético”.
Marcelo Carvalho dos Santos, que na época era Padre (e
depois de tirar a batina foi Diretor Presidente da Fundarpe e
teve atuação definitiva na restauração do Alto da Sé ao lado
dos arquitetos restauradores José Luiz Mota Meneses, Fernan-
do Borba e Tinoco) apresentou assim o folheto da exposição:
“Toda exposição de arte é uma forma de comunicação do artista com o povo. Há sempre uma mensagem que o artista quer
transmitir com sua obra: a mensagem da beleza. Quando a exposição é de obras de arte que atestam a cultura de um povo
em épocas passadas, alia-se ao prazer estético uma lição de
cultura e história”.
utopia do olhar
44
o movimento da ribeira: adão, ypiranga e josé barbosa
exposição individual de adão pinheiro no mercado da ribeira
capa, contracapa e texto de autoria de vicente do rego monteiro
18 de setembro de 1965.
conjunto de folhetos das exposições
da galeria no período do movimento da ribeira:
— primeira exposição coletiva
— laerte baldini
— 6 artistas paraibanos
— francisco brennand – pinturas e cerâmicas
— cooperativa de artes e ofícios da ribeira (exposição individual)
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utopia do olhar
o movimento da ribeira: adão, ypiranga e josé barbosa
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Entre novembro de 1964 a setembro de 1965 a Galeria da
Ribeira realizou as seguintes exposições: Arte Sacra, apresentada por Marcelo Santos; Cooperativa de Artes e Ofícios
da Ribeira Limitada, sem texto de apresentação. Delas participaram Adão Pinheiro, Bajado, Baú, Carlos Bellandi, Ernani
Ricardo, Genésio reris, Guita Charifker, João Sebastião, José
Barbosa, José Tavares, Manuel da Silva, Neco, Roberto Amorim, Renato de Oliveira, Tiago Amorim e Ypiranga. Ainda: Bajado, Francisco Brennand – Pintura & Cerâmica.
No mesmo dia, no seu ateliê de joia, situado na Ribeira,
houve a exposição de Genésio Reis apresentada por José Tavares. Outras: Mulheres na Arte Pernambucana, que tem um
poema de Deborah Brennand à guisa de apresentação; Laerte Baldini - retrospectiva, com autoapresentação; 6 Artistas
da Paraíba, com apresentação de Adão Pinheiro; Adão Pinheiro, apresentado por Vicente do Rêgo Monteiro.
O Mercado da Ribeira ficou conhecido como o antigo Mercado de Escravos. Não era verdade, tratava-se do mercado
de frutas e produtos granjeiros da Cidade Alta, mas nesta
pequena mentira gravada na pedra, como diz Ypiranga, “...há
talvez mais símbolos do que se quer revelar, isto talvez seja
o ‘manifesto lacônico’ do Movimento da Ribeira”.
Adão Pinheiro escreveu:
É deste Mercado da Ribeira que sai ao sol olindense esta lição poderosa de pintores e gravadores, escultores e desenhistas, trabalhando com suas próprias mãos na restauração do Mercado, transformando-o num local onde as diversas manifestações artísticas se
estabelecerão e criarão raízes permanentes neste solo produtivo”.
O Movimento da Ribeira conquistou a importância que, a despeito de sua pequena existência, detém até hoje. Aloísio Magalhães, ao defender no Conselho Internacional de Monumentos
e Sítios da UNESCO o título de Patrimônio Cultural da Humanidade para Olinda, o que aconteceu em 1982, considerou este
pequeno período de ações culturais que modificaram profundamente nossa sociedade. Foi quando os artistas plásticos
passaram a ser vistos como cidadãos comuns; interagindo
com a população, donos de suas vidas como pessoas simples
e normais. Foi lá onde, no período da Oficina Guaianases de
Gravura, Aloísio Magalhães realizou as doze litogravuras que
plasmam a paisagem de Olinda. Imagens que ilustrou sua tese
de defesa do título de Olinda como Patrimônio Histórico e Artístico da Humanidade.
que provocou a saída de Adão da Secretaria de Turismo
e, posteriormente, a extinção do Movimento da Ribeira. A
imprensa da época não pode contar a verdade. Adão foi
tido como demissionário e o Prefeito Eufrásio não pôde
dizer exatamente o que aconteceu por causa das tais
“forças superiores”, a ditadura, que usou como motivo
a intolerância e o preconceito das pessoas aliadas da
situação política. Encontramos nos jornais de julho de
1965, várias notas em colunas com referência ao fato. No
Diario de Pernambuco saiu o seguinte:
acontecimentos
O Adido Cultural do Consulado Francês no Recife, M. Cherel,
apaixonado pela cidade e pela vista do Alto da Sé, inusitadamente pediu a Adão, de quem era muito amigo, para
viver nas dependências da Caixa D’Água, arranjando ali
um pequeno apartamento ou coisa parecida, o que Adão
acedeu providenciando as condições básicas para aquele
espaço pudesse abrigar uma pessoa. Assim M. Cherel mudou-se para lá. Não demorou muito para que algum “dedo
duro” o denunciasse como subversivo. Cherel foi preso
pela polícia da ditadura.
Dizia-se à boca pequena que o Deputado Estadual Nivaldo
Machado, Prefeito de Olinda, a quem Eufrásio Barbosa sucedeu, que era homem reconhecidamente de direita, denunciava
os esquerdistas à polícia. Desconfiava-se dele no caso Cherel.
Mais uma vez fez isto com Adão, que foi preso e solto ainda na
Delegacia pela interferência do Secretário de Cultura do Estado,
Walter Costa Porto. As prisões eram comuns. Uma vez, o cirandeiro Mestre Arraes foi preso no Pátio do Mercado da Ribeira
assim que a ciranda começou a cantar a música que abria sua
roda e falava no seu nome, Mestre Arraes.
O que Tiago Amorim chamou de DIVA (Departamento de Informação da Vida Alheia), e dizia ter existido naquela época,
era a expressão do preconceito cultural, social, religioso, racial
Renúncia de Adão não influiu
na suspensão temporária da Ribeira
“Apenas suas atividades foram suspensas temporariamente,
não em consequência da renúncia de Adão Pinheiro, mas, principalmente, porque a exposição dos artistas paraibanos que lá
se encontrava, desde muito tempo, retirou-se, terminada, por
assim dizer, a atração máxima que lá existi”. – ao ler esta nota
lembro que a exposição citada foi organizada por mim.
Ainda na mesma matéria:
Nivaldo diz coisas vagas
“Indagado sobre se iria responder às perguntas do Deputado Nivaldo Machado, formuladas em entrevista concedida
adão pinheiro, lincoln gordon e ypiranga filho na galeria da ribeira
ao JORNAL DO COMMERCIO, ontem, quando insistiu em saber o nome dos culpados que prejudicam a administração
municipal, o prefeito olindense declarou que “o deputado
Nivaldo Machado é useiro e vezeiro em afirmar coisas vagas
e indagações inconsequentes”. Exemplo eloquente disto
é dado com suas declarações de que nunca foi à Ribeira,
mas que soube, por intermédio não se sabe de quem, que
lá havia um clube erótico, de cuja existência só ele mesmo, o
deputado Nivaldo, tomou conhecimento”.
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utopia do olhar
o movimento da ribeira: adão, ypiranga e josé barbosa
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Sobre o “clube erótico”, conta Ypiranga: os artistas ligados
à Ribeira enviaram suas obras para a bienal de São Paulo e,
para fazer as embalagens com segurança, utilizaram colchões de palha comprados na Loja Azul. Alguém viu os colchões e espalhou na cidade que eles seriam para os leitos da
prática sexual que lá existia. O Prefeito Eufrásio nomeou então seu amigo Vicente do
Rego Monteiro para o lugar de Adão, e o Jornal do Commercio
publicou a seguinte nota:
49
Bar e Restaurante Senzala e os boxes dos Consulados da Argentina,
que comercializava discos, e do Consulado da França, que vendia
livros e contava com o entusiasmo dos Adidos M. Cherel e M. Tabet.
Para exemplificar o talento de Adão Pinheiro como animador
cultural e sua atuação aqui, fui em busca de um depoimento de alguém que conviveu com ele, mas que fosse fora do grupo que ele
liderava. Leide Melo foi esta pessoa. Leide Ramos Melo é uma artesã
e arte-educadora que reside em Olinda há cinco décadas, vinda de
Fernando de Noronha onde o seu pai servia como militar da Marinha.
Seu irmão foi o entalhador Ramos Melo, ou Raminho, saído
da Escola de Talha do Alto da Sé. Foi um dos mais conhecidos
artistas populares de Olinda, sendo também xilogravador, com
passagens por Salvador e pela França. Leide é hoje professora da
rede pública e faz da arte-educação seu sacerdócio. Foi uma das
discípulas de Adão Pinheiro.
As pequenas histórias que ela nos conta a seguir são fragmentos de sua vivência como uma moradora da cidade que sempre interagiu com a produção artística daqui.
Vicente Monteiro na Diretoria de Turismo da Prefeitura de Olinda –
Adão Pinheiro exonerado em consequência dos escândalos surgidos da Galeria da Ribeira. O nome do Sr. Vicente do Rego Monteiro
foi indicado por um grupo de intelectuais e deverá empossar-se na
próxima sexta-feira.
adao pinheiro
adão pinheiro - desenho
Costumamos achar, porém, que o Movimento da Ribeira se limitou ao período menos de um ano em que Adão Pinheiro esteve
à sua frente. Não, ela continuou mais um pouco na gestão de
Vicente do Rêgo Monteiro.
Para administrar oficialmente a Ribeira foi preciso criar uma
entidade jurídica e a melhor forma era a cooperativa. Criou-se a
Cooperativa de Artes e Ofícios da Ribeira, filiada ao Departamento
Estadual de Cooperativa. Ela ficou funcionando na Oficina 154, que
é o sobrado de esquina da Rua de São Bento com a Praça Dom
Fabrício. No primeiro andar, era o ateliê de Adão. José Tavares foi
o primeiro presidente da Cooperativa; Adão era o tesoureiro e a
ilustre artista modernista Mirella Andreotti, a secretária.
A Cooperativa teve a participação de Emmanuel Bernardo, Tiago
Amorim, Xristiano, Roberto Amorim e Guita Charifker entre outros. No
Mercado da Ribeira, ficava o Box da Cooperativa com produtos dos
artesãos ligados a ela, como o joalheiro Genésio Reis. Foi instalado o
memorias de leide melo
“Adão fez um palanque no Pátio da Ribeira e apresentou as pessoas uma mulher que fazia um pastoril, chamada Dona Neuza,
leide de melo - desenho
que morava na Sé. Na época, não tinha nada disso em Olinda
e, de repente, começou a surgir esses palanques, essas brincadeira. E veja que a Oficina 154 e o Movimento da Ribeira não
foram uma coisa pensada, uma coisa que ia ter tudo isso não.
Lembro quando um dia o pessoal foi abrir o Bar Senzala no
Mercado da Ribeira. A gente não podia ir lá, mas sabia como
funcionava. Um dia chegou um caminhão com roupas penduradas para as moças vestirem. As modelos começaram a
desfilar na casa de Adão e depois a gente viu na revista. Todo
olindense comprou essa revista. De repente, todas as pessoas
compraram essa revista.
utopia do olhar
o movimento da ribeira: adão, ypiranga e josé barbosa
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Adão, sem querer, fez tudo: mexeu com arte, comida, mexeu com tudo. Ele chamava o povo para
trabalhar. Fez a Escolinha de Arte da Sé, colocou algumas pessoas para dar aula, uma delas foi Raminho. Os rapazes começaram mesmo a entalhar, mas eles aprenderam o talho e não sabiam desenhar.
O que foi que houve? Entrou um rapaz que não foi do movimento, mas que sabia desenhar, Ricardo Andrade (irmão do designer Paulo Andrade que durante muito tempo também foi pintor naïfe).
Ele criou um desenho de um homem com um peixe nas costas e outro homem subindo no coqueiro. Foi uma febre. Ricardo foi uma pessoa que nunca foi lembrada. A importância da Oficina 154 foi muito
grande, pois ela fez despertar a arte em todo mundo.
A maioria dos entalhadores passou pela Escolinha do Alto da Sé, inclusive tem um na minha rua
que sustenta a família vendendo talha. As talhas, na maioria, eram compridas, na horizontal ou na
vertical. Não havia quadrada, pois eram feitas em tábuas, e as mesmas eram de 20, 25, 30 cm de
largura no máximo. A maioria delas de demolição. A Oficina 154 fez com que os Olindenses começassem a quebrar a casa deles em busca de pedaços de soalhos para fazer talha. Ela foi a primeira casa
a ser restaurada para fazer uma Galeria. Tudo isso por causa do Movimento da Ribeira.
E começaram a achar coisas nas casas. Teve uma casa onde encontraram um monte de ossos
na parede. Nas casas acharam até ouro. Acham muitas coisas de igreja. Naquela casa onde é o
Mourisco (Sobrado 7 da Praça de São Pedro), acharam um baú cheio de moedas de ouro, que era da
Santa Casa. Nesse tempo, o pessoal achava espada, ouro, e como não tinha essa coisa de patrimônio (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, que tem ingerência sobre os bens
culturais e históricos brasileiros) ficavam com os donos da casa mesmo. E a gente ia ver, mas era
tudo do dono da casa.
Dona Conceição, que estava morando na Sé com os meninos pequenos, colocava as tapiocas na
janela da sua casa para dar aos netos que chegavam da escola. Aí os turistas passaram, quiseram
ypiranga filho
a tapioca e deram dinheiro. Dona Conceição foi quem começou a vender tapioca na Sé. E o queijo
assado foi Seu Pedro e foi por acaso: a mesma brasa que assava a tapioca assou também um pedaço de queijo, ele vendeu e fez sucesso, então ele passou a fazer e vender o ‘queijo assado da Sé’.
ypiranga
Seu Pedro era lá do Preto Velho, que hoje é a Escola de Samba da Sé. Mas o Preto Velho não era
uma Escolha de Samba, era de Pai Edu (o Pai de Santo de Umbanda que se tornou proprietário do
Palácio de Yemanjá), que antigamente tinha uma casa de palha, com porta de palha, parecida com
as dos índios. Quem fez o Palácio foi o pessoal do Náutico no ano do Hexacampeonato. Foi quando
Pai Edu ganhou muito dinheiro, pois se acredita que o campeonato foi ganho por causa de um despacho feito por ele.
O Cantinho da Sé, em 1960, era uma casa de tábua, madeira mesmo, onde o Galego já morava quando era adolescente. Tornou-se o bar com a vista mais bonita de Olinda. O pessoal ia ao Cantinho para
beber, por exemplo, Fagner, Fausto Nilo, Alceu. Os músicos de 1970 visitavam Tiago Amorim e depois
iam para Cantinho da Sé”.
Cabe ainda falar deste mestre de gerações que é Ypiranga
(Lourenço Ypiranga de Sousa Dantas Filho). Ele nasceu no
Recife em 1936 na Rua da Imperatriz. Seu avô fazia experiências botânicas e esculpia o mármore. Viveu também
em Olinda, Salvador, Brasília, Berlim, Paris, e visitou outros lugares. Na nossa cidade dupla – Recife/Olinda – ele
deixou marcas que estão presentes na memória cultural
da modernidade, como suas atuações no Movimento de
Cultura Popular (MCP), no Gráfico Amador, no Movimento
da Ribeira, na Oficina 154.
Na Bahia, estudou algum tempo na Escola de Belas Artes da UFBA na mesma turma de Caetano Veloso, que se iniciou na arte como pintor. Lá também, ele fez xilogravura com
Hansen Bahia, visitou e frequentou o ateliê do escultor Mario
Cravo no Rio Vermelho e tornou-se amigo de Juarez Paraíso e
Sante Scaldaferri, dois dos “papas” da arte baiana.
No tempo do Movimento da Ribeira, ele chegou a trabalhar na Oficina Mecânica da Prefeitura que era dirigida por
Clideomar, irmão de Bajado.
Em 1910 tive o prazer de escrever sobre Ypiranga e sua arte:
52
utopia do olhar
traduzindo ypiranga
no sentido da maquinaria que contem peremp-
chão, numa alusão expressivamente forte da ri-
toriamente sua própria obsolescência: o que a
queza industrial a serviço da arte, mas também
Lourenço Ypiranga é um artista multimídia,
faz se transformar de geração em geração, de
numa crítica poética ao desperdício.
isto é, cria sua arte através de vários meios
versão em versão, até agora, quando o nosso
expressivos. O que não significa que ele seja
olhar se depara com o automatismo virtual e
Em Calder, vimos o desenho aéreo, tridimensio-
apenas escultor, pintor, desenhista ou hábil
cibernético que produz um resíduo diferente,
nal, uma escrita que ainda influencia a obra de
gravador em todas as técnicas, mas também
mais parecido com uma sonda espacial em di-
artistas novos como Waltercio Caldas, presente
utiliza os meios tecnológicos modernos, desde
reção de Marte do que com o lixo de 1984, a fa-
em uma de suas esculturas da década de 1960,
a fotografia, o cinema, o vídeo, a xerografia, o
mosa novela de George Orwell.
O Gavião, que se desenha no espaço como um
elegante risco de lápis. Outra referência interna-
livro de artista e a feitura de papel artesanal.
Ele também se alinha e interfere no universo
O pioneirismo de Ypiranga faz parelha com
cional é Henry Moore, de quem Ypiranga repete
cibernético de multiplicação e transformação
o escultor Sérvulo Esmeraldo, do Ceará, que
seu amor pela gravura, sua segunda arte. Cito
de imagens e em obras decorrentes da própria
também passando por intensa vivência euro-
ainda os franceses Tingueli e sua mulher Nikki
linguagem digital. peia abraçou o construtivismo e a arte cinética
Sait Falle autores da fonte ao lado do Beaubourg,
na mesma década que Ypiranga encaminhava
em Paris, que unem a sinergia à bricolagem – o
Do ponto de vista de nossa história, ele é tam-
sua escultura para um construtivismo mate-
movimento mecânico à junção de objetos. Bri-
bém um mestre da arte moderna no Recife,
rial, fruto do realismo urbano, no qual o ferro,
colagem, ou assemblagem, foi uma tendência
com vasto currículo e participação definitiva
mesmo como velha matéria tecnológica, con-
mundial nos artistas de sua juventude, veja-se
na história atual da arte nordestina. Isto é tan-
tinua sendo uma grande matéria expressiva.
Rauchenberg, um dos primeiros pop-artistas.
ga caminhada por entre movimentos e ações
Assim como também, pouco depois, fez o parai-
Mas é na estética arcaica brasileira que sua
coletivas como artista e como professor de
bano Jackson Ribeiro com os rejeitos das gran-
arte se consolidou: a estética do cangaço e
técnicas escultóricas - e o trato do metal,
des indústrias, o que despertou o interesse dos
a estética do candomblé. Diferentemente de
especialmente o ferro, seu material preferido.
críticos e teóricos de arte, como Mário Pedrosa
Rubem Valentim, formalista e geométrico,
Antes de tudo, ele é um artista pioneiro. Na dé-
e Pierre Restany, este um dos grandes persona-
Ypiranga compõe molhes de instrumentos de
cada de 50, já se alinhava com os modernos
gens da arte mundial na década de 1960.
metal e madeira que representam orixás, mas
to pela expressão de sua arte quanto pela lon-
do mundo, os de linguagem universal, que no
não o fazem como figuras e sim como objetos
Recife apenas encontravam ecos na obra de
Neste mister que envolve os resíduos indus-
informais, embora também signaléticos como
Anchises Azevedo e Montez Magno. O Recife
triais e o transformam em signos de inteligên-
os de Valetim. Do cangaço, ele representa a
de então se descobria neobarroco.
cia e expressões artísticas, é importante citar
memória, os vestígios que ficaram do gosto do
quem, como Ypiranga, em partes distantes do
mais visível deles, o Lampião, que representa
Inventivo, habilidoso, curioso, concentrado
mundo, sincronicamente seguiram caminho
aéreo e totêmico.
em seu aprimoramento e no desenvolvimento
semelhante. Inicio com o escultor marselhês
das suas ideias vanguardistas. Ao viajar para
César Baldacine, um dos expoentes da arte eu-
Europa, observou a obra de grandes esculto-
ropeia entre as décadas de 1950 e 1990, que
res, identificando-se com os que abraçavam
se apropriou da estética industrial, ou melhor,
na época a realidade mecânica das máquinas
dos resíduos desta estética, presente na cul-
e das fábricas. Assim, sua obra pendeu para
tura humana como objeto expressivo, a partir
a expressão emanante das formas e volumes
do século XIX.
contidos nas sobras da indústria e na manipulação de seus materiais.
Cesar utiliza de forma metafórica os restos dos
ricos nas séries “contrações” e “expansões”.
ypiranga filho - desenho
Na inexorável carreira para o futuro em que vi-
Na primeira, automóveis compactados pelos
vemos, usamos o passado quando falamos da
martelos hidráulicos das sucatas. Na segunda,
indústria. Não fazemos isto no sentido lato, mas
latões de poliuretano abertos e expandidos no
utopia do olhar
54
jose barbosa
Como eu disse antes, o Movimento da Ribeira não se limitou às ações de Adão Pinheiro. Para
se ter uma outra visão do que aconteceu, além de ouvir Ypiranga e Leide, ouvi José Barbosa,
um artista que já atuava antes como entalhador, no Mercado da Ribeira.
Conversando com Tereza Costa Rêgo sobre Olinda e seus artistas, ela me disse: “Para
mim, o artista que melhor traduz Olinda é José Barbosa”. Isto me tocou, me fez pensar no
“distanciamento crítico”, conceito muito usado na crítica de arte do século passado. Percebi,
como num filme que passasse em minha cabeça, a identidade – falo muito em identidade
nordestina – que une os artistas de Olinda. Pensei na própria pintura de Tereza, em Guita,
Maria Carmem, Tiago, e comecei a ligar esta identidade com a territorialidade que se revela
na arte daqui e, principalmente, na pequena/grande história da arte daqui.
Então a arte de José Barbosa, que conhecia e admirava desde os anos 60, se colocou em
outra posição na minha maneira de ver a arte.
Peter J. Rosenwald, que foi crítico de arte sênior do The Wall Street Journal e editor da
revista Horizon, no catálogo José Barbosa – Naturezas Vivas, dá a seguinte opinião, com a
qual eu concordo pois se alinha com o meu pensamento sobre a identidade em nossa arte:
josé barbosa
ateliê de Montez e Anchises.
Meu pai tinha um entalhador, Seu Miranda, que trabalhava pra ele todo sábado entalhando detalhes
“Seria simples demais rotular seu trabalho como “primitivo” ou “naïve”. É muito mais que isso. É um
nos móveis que ele fazia: conjuntos com cristaleira, aparador, mesa e seis cadeira. Seu Miranda vinha
trabalho que tem suas bases na identidade cultural de Olinda, onde, sessenta anos atrás, Barbosa
somente aos sábados. Durante a semana, trabalhava para os judeus que negociavam com móveis na Rua
nasceu e onde sempre morou. Não nos surpreende que as igrejas mais belas de Olinda apareçam em
da Glória, entre eles Seu Moisés.
muitas de suas obras e que todas as suas obras carreguem os dizeres ‘Viva Olinda’ logo abaixo de
Antes de ser na 13 de Maio, a oficina era no Bonsucesso, vizinha à casa do Homem da Meia Noite. Eu
sua assinatura. Seu trabalho se diferencia muito da pintura decorativa “para turista”, tão abundante
nasci lá. As principais influências que eu tenho na minha arte vêm daí, das alegorias do bloco do Homem
nas ruas de Olinda”.
da Meia Noite, que naquele tempo saia com carros alegóricos, além dos bonecos. As alegorias eram feitas
A história de José Barbosa, principalmente do início de sua vida – ele começou a entalhar
madeira com 11 anos – é comovente. Eis uma síntese:
no galpão de onde saía o Homem. Eram feitas com moldes de barro e papel colado com grude (cola feita
de farinha de trigo) e pintados com tinta feita de pó xadrez, misturada também com grude (como eram
feitos os cenários de teatro e os cartazes de rua que Bajado fazia). O problema era quando chovia e derretia tudo. Era um desastre.
Mas o que me impressionava eram as formas de dragões com corpos de mulheres saindo bela boca, pás-
“Meu pai era marceneiro e restaurador de móveis antigos. Adão Pinheiro trabalhava no ISPHAN e montou o
saros, onças, adornos, coisas que hoje se pode ver na minha arte, tanto na pintura quanto na talha.
Museu de Antropologia, hoje Museu do Homem do Nordeste. Era aficionada por móveis antigos e era um
Um dia, ainda na oficina do Bonsucesso, Seu Moisés, o moveleiro judeu da Rua Velha do Recife, levou um
cliente de meu pai. Procurava meu pai para restaurar os móveis, alguns comprados de Dona Filhinha da
caminhão um cheio dos móveis salvados do incêndio que destruiu sua loja. Levou tudo pra meu pai guardar na
Rua Prudente de Morais.
nossa casa, isso foi um transtorno pra minha família.
A oficina de meu pai era na Rua 13 de maio, em frente à casa da pintora naïfe Dona Dalva. Eu o ajudava
Voltando à oficina da 13 de maio: num sábado, Adão passou por lá e viu Seu Miranda entalhando. Na ou-
na marcenaria raspando cadeiras, coisa que eu detestava. Em cima da oficina, no ultimo andar, ficava o
tra semana, ele trouxe um livro Art populaire en Tchecoslovaquie, com figuras da arte popular Tcheca, e pediu
utopia do olhar
o movimento da ribeira: adão, ypiranga e josé barbosa
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radas em vários boxes, nas laterais algumas lojas em franca decadência.
josé barbosa
talha, detalhe da porta
de entrada da oficina 154, 1965
Mas tinha Seu Genésio (Genésio Reis), ourives e joalheiro que fez uma exposição lá quando aquilo foi transformado pelos artistas.
Meu pai ficou com um box do lado esquerdo e eu com um pequeno,
no salão grande que era todo dividido. Lá, se recebia muitos turistas e gente famosa. Recebia também os americanos da Aliança Para o Progresso. A
Aliança Para o Progresso distribuía leite todo sábado no bairro de São José.
Eu ia buscar o leite em duas latas, pegava o ônibus e ia. Com a umidade
daqui o leite ficava pedrado. E eles me davam aquelas pedras de leite. Mas
eles tinham que dar também umas pílulas de vitamina A para misturar no
leite, mas o padre em vez de dar, vendia. Por isso, com a falta da vitamina
A, várias irmãs minhas morreram. Lá em casa eram 16 filhos, da mesma
mãe, morreram oito, de falta de vitamina, entre outras doenças.
Recebemos também o General Lyra Tavares, um paraibano que era
o comandante do Quarto Exército. Ele gostou de tudo, mas não comprou
nada. Certa vez, eu fui expor na Gelerie Debret de Paris, que pertencia a
nossa Embaixada, e ele era o Embaixador. Eu levei meus amigos, exilados
do Brasil e da África. Ele me disse em surdina: ‘se jogasse uma bomba
pra Seu Miranda entalhar um baú com ornatos que estavam no livro. Era um desenho simples, geométrico,
aqui não tinha problema, a Galeria está no seguro...’ Outra vez, Adão levou
como era a arte da união Soviética. Seu Miranda fez igualzinho. Depois, ele trouxe um tronco de Jaqueira
um Embaixador Americano que décadas depois disse em entrevista que
pra seu Miranda entalhar uma escultura de uma Santa. Seu Miranda fez e Ariano Suassuna, quando viu,
era a pessoa que articulou o golpe de 64, o miserável não comprou nada
encomendou uma pra ele.
também. (Adão não era de direita não, chegou até a ser preso durante o
golpe, na entrevista com Ypiranga ele conta esta história com detalhes).
Seu Miranda era caro. Então, meu pai me forçou a aprender a entalhar com goivas em V e em U. Foi aí que eu
comecei a entalhar. Eu tinha 11 pra 12 anos. Minha relação com Adão é puro acaso. Ele gostava de talha – como
Outro famoso que veio aqui, trazido por Edgar Pessoa de Queiroz, foi
é chamado pelos artesãos o entalhe em madeira – e eu me tornei um entalhador. Depois, eu evoluí passando
Belini, o jogador que foi o Capitão da Seleção Brasileira em 1958, quando o
da talha artesanal para a talha como arte, passei a criar minhas talhas.
Brasil ganhou da Suécia. Foi também lá a Condessa Pereira Carneiro que
em vez de comprar uma talha minha comprou uma de João Mentirinha.
Montez e Anchises se mudaram do sobrado de papai e foram para onde hoje mora Ivaldevan Calheiros, na
Ribeira, e Adão montou seu ateliê com eles. Adão convivia com o pessoal do ISPHAN e os artífices de restaura-
Guita era casada com Júlio Charifker. Eu via sempre ela passar num
ção que como o entalhador João Mentirinha (João Sebastião), e isso parece ter acendido nele o interesse pela
Sinca com um pano verde na cabeça. Um dia, eu estava na Ribeira quando
talha. Quando ele já estava no ateliê com Anchises e Montez é que deixei de vê-lo como um cliente de meu pai
josé barbosa - talha, porta da fachada da oficina 154, 1965
ela chegou. Conversamos muito e daí saiu a ideia de começar um movi-
e passei a vê-lo como artista. Adão não entalhava. Ele tinha o desenho e eu entalhava para ele. Na casa de Tânia
mento artístico. Foi aí que realmente começou o Movimento da Ribeira.
Carneiro Leão tem um baú entalhado por mim com desenho de Adão.
Eufrásio acabava de ser eleito e Adão era amigo de Tânia e conhecia Eu-
Pressionado por Seu Murilo Galhardo, que tinha medo de incêndio (meu pai trabalhava com goma laca, que
frásio. A equipe toda foi falar com ele: Guita, Adão, Ypiranga, Tavares e eu.
era diluída com álcool e com a cola antiga de carpinteiro que era feita de cartilagem de boi e cavalo e precisava
Eufrásio comprou a ideia e tocou pra frente, mandou fazer uns reparos no
ser derretida com água no fogo), meu pai saiu da Rua 13 de Maio e foi para um box do Mercado da Ribeira.
prédio e cedeu pra gente por 15 anos. No dia 15 de Novembro de 1965, foi
Aquilo era um lugar decadente, parecia Calcutá. O salão principal era um açougue com as carnes pendu-
inaugurado o novo Mercado da Ribeira”.
os
fechamentos
de olinda
utopia do olhar
fenômeno social da intolerância é recorrente em toda sociedade. No Sítio
Histórico de Olinda, cidade considerada culta, a intolerância por duas vezes
mostrou as suas garras. A primeira, evidentemente, foi o fechamento da
Ribeira. A segunda foi o fechamento da cidade à entrada de veículos, sendo
permitido apenas circular os automóveis dos moradores. Esta foi uma ação
de por responsabilidade da Prefeitura, fruto de uma campanha equivocada que teve como
motivo a boa intenção de preservar a cidade de eventuais depredações que supostamente
estariam ocorrendo através da vibração no solo provocadas veículos que aqui circulavam.
A Sociedade dos Moradores do Sítio Histórico (SODECA) tomou a frente da campanha realizando “debates” e até um plebiscito. Tudo muito orquestrado de forma a fazer crer que a comunidade, os tradicionais moradores, algumas senhoras que se sentiam incomodadas com
a presença de pessoas barulhentas nos bares da cidade, coisas assim, desejavam isto.
Patrimônio cultural e propriedade privada são coisas conflitantes, mas ocorrem sempre
simultaneamente. Administrar este conflito é algo que necessita eficiência, prática, conhecimento e capacidade de dialogar com grupos sociais radicais que muitas vezes se consideram senhores de situações. Uma cidade cujo grande patrimônio é sua beleza artística e
natural, sua importância histórica e seu patrimônio cultural intangível, isto é, seu contingente de pessoas criativas, de artistas de várias categorias, não pode ser fechada ao público.
Ela deve isto sim, ter seu trânsito orientado, seu uso racionalizado, seu patrimônio material
exposto ao público de forma segura, e sua história contada de forma correta.
A ingenuidade dos que por isso lutaram não os deixou perceber a grande bobagem que
estavam fazendo. Da mesma forma como aqueles que fecharam a Ribeira em 1965 não perceberam o prejuízo que causaram a um grupo de artistas que somente engrandeceu Olinda.
Felizmente, o movimento artístico que ali nascera tornou-se perene.
O fechamento de 1987 durou mais ou menos dois anos. Com o fim do mandato do Prefeito
José Arnaldo, as pessoas deixaram de respeitar o ridículo das cancelas, da carteirinha de
morador, da falta de segurança que o fim da vida noturna, na época calma e agradável, provocou. Dois anos foi pouco tempo, mas os prejuízos foram muito grandes para muita gente
que vivia da arte e do turismo. Por exemplo: foram fechadas duas galerias de arte, a Fandango, que trabalhava com os artistas naïfes, exatamente os mais pobres, e a Lautreamont,
que vendia os artistas modernos. Houve uma verdadeira luta jurídica contra bares que eram
o reduto da intelectualidade, como o Bar Brasil, fechado depois de uma campanha covarde
e mentirosa que levou a falência seus jovens proprietários.
Outros bares fecharam e com eles profissionais da gastronomia e do turismo perderam
seus empregos, como cozinheiros, garçons, auxiliares, músicos da noite e uma extensa cadeia produtiva que subsidiava a boemia olindense que inclui as folclóricas tapioqueiras que
o
os fechamentos de olinda
60
61
desapareceram do Alto da Sé e do resto da cidade. Perdemos muito com o fechamento do
Berro D’Água, o restaurante de primeira linha de Rodrigo Carneiro hoje Leão, Cônsul Honorário
do Uruguai, cuja inauguração contou com a presença de Jorge Amado, e foi em seu pouco
tempo de existência o reduto da melhor gastronomia de então e o lugar preferido do meio
político e intelectual desta cidade dupla de Olinda/Recife. Rodrigo gentilmente me cedeu
este depoimento com o intuito de esclarecer parte deste caso:
“Tudo que se faz na vida tem que ter um propósito e este propósito tem que estar calcado no bom senso. Na tentativa de preservar o patrimônio histórico e cultural, e também artístico que Olinda sempre
representou, se toma uma medida contraditória, antidemocrática e retrógrada do ponto de vista do que
acontecia no mundo na época. O ruim disso tudo é que isto foi feito unicamente sob a ótica de algumas
poucas pessoas que aqui residem sem levar em conta a opinião do vizinho.
Aconteceu, porém, uma série de equívocos com medidas inoperantes e inconsequentes por não
terem consultado corretamente organismos técnicos nem a população – não venham me dizer que o
arremedo de plebiscito que foi feito teve legitimidade! O Prefeito José Arnaldo cedeu a uma certa pressão dita ‘popular’, mas, como se sabe. foi orquestrada por um seguimento apenas da comunidade.
Sabemos que o Sítio Histórico não gera renda, a única forma de se viver aqui com de forma sustentável, sem engrossar a pecha de ‘cidade dormitório’ que ultraja Olinda, é o turismo. Mas, no nosso caso, um
turismo de qualidade, que entenda a cidade, o valor de seus artistas, a beleza das Igrejas, a gastronomia
que tanto evoluiu depois da reabertura da cidade, e o seu produto artesanal. É preciso levar tudo isto em
conta e transmitir isto ao turista.
Olinda não é exatamente uma cidade para se andar a pé como Paris, Buenos Aires, Cusco. Olinda é uma
cidade enladeirada. Precisa-se de automóvel par se circular por aqui. Não é o caso do carnaval, obviamente.
Do que aconteceu existem versões e fatos. As versões que se conhecem são as oficiais. Mas os
fatos são diferentes: os profissionais de bares e gastronomia que existiam na época não eram bem
vistos por quem não queria a presença de ‘alienígenas’ na cidade ‘deles’. Curiosamente, alguns destes
‘alienígenas’ foram responsáveis pelo prestígio que Olinda adquiriu na década de 1960. Os donos dos
estabelecimentos voltados para a gastronomia e a boemia nem sequer foram ouvidos.
A SODECA, que foi criada com o propósito de defender o Sítio Histórico, foi quem fez este movimento. O
Prefeito cedeu a partir de um abaixo assinado que, dizem, tinha mais assinaturas do que devia. Eu nunca
me senti representado pela SODECA e, assim, conheço muita gente, mas ela funciona na cidade como
uma espécie de poder paralelo.
Diante do abaixo assinado, o Prefeito, não sei se por decreto ou outro meio legal, acorrentou as
entradas da cidade, só podiam entrar de carro os moradores – depois é que colocaram as cancelas. Na
verdade, o que estava cadastrado era a placa do carro, a pessoa que o possuía. Fechar a cidade para
utopia do olhar
os fechamentos de olinda
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carros é o mesmo que fechar o comércio.
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Ainda há pouco, na Inglaterra, estive em várias das velhas e boas tavernas inglesas, célebres por
Fomos à justiça e conseguimos de novo o direito de funcionar. O Superior Tribunal Federal, atra-
suas cervejas amargas e pelos seus drinks mais fortes. Ninguém pensa em fechá-las pelo puro fato
vés do Ministro Célio Borja, baixou uma liminar proibindo o fechamento com o prazo de 24 horas ao
de, uma vez por outra, um indivíduo ou um grupo se exceder, em qualquer delas, na cerveja ou no gin,
Prefeito providenciar a reabertura. A cidade foi aberta por pouco tempo. O ministério Público Federal
tronando-se – se o excesso é escandaloso – em caso de polícia. O raciocínio parece ser mais ou menos
entrou de novo e a cidade foi fechada, desta vez por dois anos. Neste ínterim, passou na Câmara de
este: que não só de leite suíço nutre-se a democracia. Aquelas democracias em que à ordem se juntam
Vereadores uma lei municipal, de autoria do Vereador Fernando Gondim, ratificando o fechamento. A
saudáveis liberdade de expressão tão necessárias á maior parte dos homens, principalmente aos ar-
cidade foi fechada com respaldo legal.
tistas, aos intelectuais ou aos simples afeiçoados às artes ou às letras, nutrem-se também de cerveja,
A cidade ficou esquecida e perigosa, sem vida noturna o crime se instalou, a droga invadiu. Quan-
de uísque, de vinho e até de vodka. Nutrem-se de boemia, de bizarrias, e até – para os burgueses mais
do isto passou, a cidade, com muita luta dos seus empreendedores da área turística, se recuperou.
corretamente burgueses – de extravagâncias que permitiram a um Francisco de Assis, a um Cervantes,
Uma medida como esta hoje seria uma verdadeira tragédia social e econômica.
a um Baudelaire e a um Lautrec, viver de modo tão incomum na Itália, na Espanha, em Londrrs e em Pa-
Mas o mandato de José Arnaldo terminou e entrou Luis Freyre, que relaxou esta coisa. José Arnaldo,
ris; através desses modos boêmios de vida, enriquecerem artes e letras e a própria religião cristã. (.......).
que foi Prefeito por seis anos, se candidatou a Vereador, e perdeu”.
Vinte e dois anos antes, na luta perdida dos artistas para manter o Mercado da Ribeira, Gilberto Freyre publicou uma crônica no Diario de Pernambuco que poderia ter sido escrita em
1987, intitulada O CASO DA RIBEIRA DE OLINDA, do qual seleciono estes trechos:
Pois, ao que parece, o digno Prefeito andou cogitando de fechar definitivamente o Senzala, que ali existe
ao lado de um centro de pintores (Movimento da Ribeira) e de umas lojitas onde se encontram à venda
uns tantos artigos de interesse turísticos.
Justiça nada de Salomão seria esta. Ou a solução seria fecharem as autoridades competentes, de
forma nitidamente legal, e definitivamente, os dois, o centro e o bar – o que seria a, meu ver, lamentável – ou, ao contrário, deixarem que continuem um e outro, de portas abertas, vivendo cada uma a
sua vida; e ambos – e mais as lojitas, às quais poderiam ser acrescentadas outras, para a venda de
rendas da terra, cerâmica, bonecas de pano, cachimbos rústicos, etc. – contribuindo para liberar Olinda
da ‘apagada tristeza’ em que vinha resvalando. O que não excluiria – é claro – às autoridades zelosas
galerias
Como vimos durante o fechamento a cidade perdeu suas duas galerias comerciais. Parece
óbvio ou fundamental a importância da existência das galerias de arte comerciais (refiro-me
às galerias que vendem arte, o que pressupõe qualidade e, no caso de Olinda, autenticidade),
das instituições públicas e privadas relacionadas com as artes visuais, e dos festivais como
o Olinda Arte em Toda Parte, são constituintes fundamentais para a vida artística aqui de qualquer cidade. Desde o Movimento da Ribeira que sua galeria, a Galeria da Ribeira, responsável
pela continuidade do Movimento, manteve-se viva, mesmo descontinuamente – no tempo do
Movimento ou da Oficina Guaianases ela promoveu avançados programas de exposições. Vale
a pena citar as principais galerias e espaços de exposição da cidade. Na lista que se encontra
a seguir, abstenho-me de citar as lojas de artesanato, mesmo que elas exponham obras de
arte eventualmente, limito-me às galerias de arte no seu puro formato, as públicas e as privadas, e também nos restaurantes que fazem exposições de pintura, como segue:
dos bons costumes do dever da vigilância e da obrigação de prevenirem ou conterem, dentro de suas
atribuições, excessos de boemia além de livre, licenciosa, que viesse a degradar o centro de pintores
Galerias Privadas:
e o bar, descaracterizando-os.
É o que se faz em toda parte onde existem, não isolados mas às dezenas, bares como o Senzala o e
centro de arte, como o da Ribeira: no Quartier Latin, em Paris; em Greewich Vilage, em Nova York; em Londres; em Roma. São esses bares e esses centros nos quais ao interesse pelas artes e pelas letras se juntam formas até bizarras de boemia características das cidades de culturas democráticas. Se não existem
atualmente em Moscou e não florescem em Pequim de hoje, tanto pior para Moscou e para Pequim, nem
por isso deixando a Moscou de nossos dias de ter seus muitos ébrios e seus numerosos transviados.
Oficina 154, Sobrado 7, Galeria Varanda, Galeria 3 Galeras, Galeria Fandango, Galeria Lautreamont, Amparo 60, ATENARTE (Laurindo Pontes), Sobrado, Galeria Frans Post, Olinda
Artes & Ofícios, Atelier Coletivo de Olinda e Barbearia de Seu Isnar, onde Maurício Silva
montou por vários anos sua instalação “Arte na Barbearia”, que tratava-se de uma exposição coletiva de tantos artistas quanto quisessem aderir, misturados com reproduções de
quadros dos clássicos: Picasso, Modigliani, Monet, Duchamp, etc.
utopia do olhar
os fechamentos de olinda
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É importante destacar que a galeria Amparo 60, que nasceu no térreo da residência dos
arquitetos Borsoi e Janete Costa de uma parceria com Lúcia Santos, filha de Janete, funciona
até hoje em na bairro de Boa Viagem com uma brilhante atuação, tornando-se uma das mais
prestigiadas galerias de arte da cidade. Enquanto esteve em Olinda foi um misto de loja de
objetos de arte e artesanato de alta qualidade, hoje é dedicada à arte contemporânea.
Merecem destaque as galerias de arte do Varadouro. A mais importante, por seu espaço
e sua condição profissional inteiramente voltada ao mercado da boa arte, é O Sobrado, na
Rua 15 de Novembro. Há também a Livraria e Bar Almanaque, na esquina do Mercado Eufrásio
Barbosa; e, ao lado do quiosque, especializada em arte naïfe, a galeria de Romero Coutelo;
dentro do Mercado Eufrásio Barbosa, a Galeria Olho d’Água e o Solar da Baronesa, também
no Largo.
Galerias públicas:
Galeria da Ribeira, Museu de Arte Contemporânea, Museu de Arte Sacra, Museu Regional de
Olinda, Museu do Mamolengo, Biblioteca Pública Municipal de Olinda, Salão Nobre da Prefeitura, Salão Térreo do ISPHAN, Caixa D’Água, Biblioteca Municipal.
Restaurantes Galerias:
Maison do Bonfim, Oficina do Sabor, Tratoria Don Francesco, a Tribuna entre outros restaurantes, lojas de artesanato e cafés que eventualmente mostram exposições de qualidade.
galeria sola da marquesa
sobrado
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olhar feminino
utopia do olhar
olhar feminino
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marisa lacerda
e marlene gabovitz
“Também onírica (eu falara antes da pintura de
Maria Carmem), mas de uma forma que retoma a angelitude reinante no especo barroco,
a pintura de Marisa Lacerda parece flutuar em
leves transparências.
esde o início dos fatos que estamos tratando as mulheres dividiram com os homens a construção deste utópico lugar
(tenho dúvidas, acho que elas ficaram
mesmo na vanguarda). Talvez pela flexibilidade que lhes é peculiar, pela facilidade com que
tratam assuntos de política e administração, pela tolerância e pela doçura, sem elas a arte de Olinda não seria
como é hoje.
Em maio de 1965, a Galeria da Ribeira apresentou a
exposição A Mulher na Arte Pernambucana com 24 participantes. Algumas dessas mulheres são artistas conhecidas hoje, outras não. Eram elas: Celina Cezário de
Melo, Dulce Araújo, Fédora Fernandes, Geny Phlillips, Guita Charifker, Ladjane Bandeira, Lúcia Carneiro, Luiza Maciel, Maria Carmem, Marisa Lacerda, Mary Gondim, Mary
Jane, Norma Dubeux, Ranúzia Fittipaldi, Solange Soares,
Silvia Pontual, Sylvia Barreto, Tereza Carmem, Tereza Costa Rêgo, Vânia Silva Reis, Virgínia Luna, Virgínia Rosa e
Zenaide Bonald.
O Folheto de introdução traz quatro xilogravuras de Adão
Pinheiro e um poema de Deborah Brennand. O interessante
é que este poema não é o texto de apresentação da exposição; é sua forma de participar da exposição, como poeta.
Isto é extraordinário porque é inovador em 1965. Da mesma
forma, as xilogravuras que ilustram este impresso não são
de autoria de nenhuma delas.
Aqui existem muitas pintoras mulheres que participam
dos movimentos artísticos desde o da Ribeira e de exposições coletivas e salões de arte, orientando jovens artistas e
interagindo com a Prefeitura em ações como, por exemplo,
o festival Olinda Arte em Toda Parte.
Percebe-se no imaginário da cidade, aspectos do trabalho de Guita Charifker, Maria Carmem, Marianne Peretti,
Marisa Lacerda, Silvia Pontual, Marisa Varela, Liliane Dardot,
Amélia Couto, Gleide Selma, Iza do Amparo. E as da mais
d
nova geração, como Catarina Aragão, Juliana Calheiros, Marina Mendonça, Juliana Notari, Elizângela das Palafitas. Há
mais, muitas outras mais.
Aqui reside, por exemplo, uma artista da importância
nacional de Marianne Peretti, a grande muralista da arquitetura de Oscar Niemeyer, autora dos vitrais da catedral de
Brasília e do memorial de Juscelino Kubitschek. Em Recife,
ela tem obras aplicadas em diversos edifícios, obras importantes não só do ponto de vista estético – eis uma artista
em plena maturidade – mas também de absoluta consciência da integração da arte na arquitetura.
Sua obra corresponde por sua práxis a de Petrônio
Cunha, e os dois se alinham, embora partindo de óticas diferenciadas, com os que tendem para ao muralismo, como
Brennand, Abelardo da Hora, João Câmara, Tereza Costa
Rêgo e Corbiniano Lins, por exemplo.
Em agosto de 1988, organizada por nosso escritor Paulo
Cavalcanti, pelo escritor português Celso Pontes e por Tereza Costa Rêgo, realizou-se no Convento do Carmo de Vila
do Conde, nossa “Cidade Irmã” portuguesa, a exposição 6
Pintoras de Olinda, que tive o prazer de apresentar com um
texto intitulado Olinda e o Olhar Feminino.
Eram seis: Liliane Dardot, Maria Carmem, Marlene Gabovitz, Mariza Lacerda, Tânia Carneiro Leão e Tereza Costa
Rêgo. Neste livro, dedicarei, por questões narrativas de nossa pequena-grande história, espaços maiores para Liliane
Dardot, Maria Carmem, Tânia carneiro Leão e Tereza Costa
Rêgo. Porém, reproduzo aqui ao lado trechos do texto relacionados a Marisa Lacerda e Marlene Gabovitz:
Guita Charifker, Maria Carmem e Tereza Costa Rêgo, então, por suas coincidentes histórias de vida e pela participação que tiveram na formação desta cidade em que Olinda
se transformou, e com o fato de terem se envolvido com a
cidade ao ponto de para aqui se mudarem, mesmo que para
tanto tivessem de desmanchar seus casamentos, por tudo
isto lhes dedico este capítulo.
A infância, o carnaval, as crianças e os anjos
são temas permanentes desta artista de intuição ingênua, mas possuidora de uma intensa
carga poética. Trabalhadora incessante, sua
pintura encarna a vida simples do povo daqui,
com seu apego às coisas dessa vila encantada.
Paisagista dos detalhes, observadora da arquitetura, tradutora de Olinda dos Portugueses, do
fora e do dentro das casas, da intimidade das
ruas, Marlene Gabovitz pinta a cidade sonhada,
humana e monumental. Sem se comprometer
marisa lacerda – litogravura
com os cânones do paisagismo. Sua pintura documenta mas não retrata. Reinterpreta
a cidade de pedra e cal; empresta sua visão
íntima, seu clima interior. Por suas pinturas,
passeiam as ruas: Amparo, Amaro Branco, São
Pedro, Carmo. Cidade clara, verde-azul, alvenaria brilhando ao sol”.
marianne peretti - desenho, retrato de baccaro
69
utopia do olhar
70
guita charifker
Guita me disse que faz arte desde os 16 anos. Casou-se e continuou fazendo arte mesmo contra a vontade de seu marido. Na década de 1960, já descasada, começou a frequentar Olinda, seus artistas e ateliês. Conheci-a na , num almoço cotidiano no meio da
tarde onde eu estava sentado ao lado de Adão e Tavares em torno de numa velha mesa
que tinha a marca das pessoas nos lugares onde se sentavam.
Admirado, eu conversava sobre com Adão sobre a persistência do gesto humano gravado na madeira da mesa quando ela chegou linda e solta, falando do filme Adeus às Ilusões,
onde Elizabeth Taylor representava uma pintora de pássaros e flores. Desde então a admiro.
Guita tem uma fortuna crítica invejável. Críticos de arte como Roberto Pontual, Casemiro
Xavier de Mendonça, Frederico Morais e Olívio Tavares de Araújo escreveram sobre sua obra.
Roberto Pontual a revelou ao Rio de Janeiro nos anos de 1970, quando ela viveu no bairro da
Urca, num edifício onde também morava a gravadora Marília Rodrigues (vizinho da mestra
da gravura brasileira Ana Letícia, diretora do ateliê de gravura do Museu do Ingá, em Niterói).
Este museu possui uma oficina de gravura em metal e foi lá onde Guita produziu belas vistas do Rio de Janeiro em águas-fortes e meios tons de águas-tinta. Seu desenho
era finíssimo, quase capilar, e com isto ela tinha uma grande semelhança com a obra de
Maria Carmem, que impressionou também a crítica de arte da época.
Ela conta que voltou para o Recife no início da década de 1970 e através de seu
amigo, o arquiteto Geraldo Gomes, comprou sua casa-ateliê onde mora até hoje, na Rua
Saldanha Marinho 206, restaurada e adaptada sob a orientação de Geraldo, com seu
belo jardim pintado muitas vezes em aquarelas. Sua paixão pela natureza é primordial,
faz parte de sua vida tanto quanto de sua arte. Gastão de Holanda escreveu sobre ela
no catálogo da exposição que fez em 1965 no Atelier de Arte Sacra. Ele, defensor de
uma arte que refletisse a região, mas não uma arte “regionalista”, traduziu com muita
propriedade a condição religiosa de Guita:
“Ela parece ter vertido o seu sangue judeu a serviço de uma estética nordestina. (...) A sua figura, antes
guita charifker
fotografia de aderbal brandão
do – ela confessa que sempre dançou muito; Gil Vicente, o fotógrafo; Aderbal Brandão;
Eduardo Araújo; Álvaro Caldas, Roberto Ploeg e José Barbosa, e vários quadros de José
Cláudio; Luciano Pinheiro; Ivan Marquetti, a grande gravadora Ana Letícia Quadros, sua
amiga carioca, a pintora naïfe Ninita Murtinho; um retrato de Aloísio Magalhães e vários
quadros de Maurício Arraes, entre pequenos objetos de arte, fotografias, sua prensa de
gravura em metal e livros.
A síntese de sua arte está no belo livro, projeto de Carla Valença, Viva a Vida – Guita
Charifker – Aquarelas, Desenhos e Pinturas, de 2001, com prefácio de Ronaldo Correia
de Brito e ensaio de Olívio Tavares de Araújo, que também contém textos de Roberto
Pontual, Edyla Mangabeira Unger, Hugo Auler, Joaquim Falcão, Frederico Morais, José
Cláudio, Giuseppe Baccaro e Cassimiro Xavier de Mendonça. Este time de críticos de arte
e escritores deixa transparecer um resumo crítico de uma época onde se pensava numa
arte com identidade, no caso, nordestina. Baccaro inicia seu texto assim:
estática e separada de um contexto tropical, foi aos poucos se cercando de uma decoração, viva como
a vegetação indisciplinada que vai ornamentando e enobrecendo o muro de pedra, a laje nua. (...) Ela é,
também, uma pintora das “civilizações florestais”.
“A pergunta: o que define uma arte brasileira de hoje? Não encontra resposta honesta. Fora poucos artistas que não se rendem, entre os quais se destaca Guita Charifker. O resto é comosto de brincalhões que só
Nas paredes de sua casa-ateliê estão pendurados retratos seus pintados por amigos
como o goiano Siron Franco; o saudoso amigo José de Barros que a pintou dançan-
criam títulos pomposos. Criar uma representação da vida, com suas belezas e misérias, sublimada pela
arte, é para poucos eleitos. Uma arte que entre a fundo na realidade dramática deste País, não interessa
utopia do olhar
olhar feminino
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73
ao sistema que criou, durante 500 anos, todas as suas misérias. Guita
grande gravadora espanhola. Foi no final dos anos 60 e início dos
Charifker é a antítese de tudo que não presta na arte de hoje. (....)”.
anos 70. Eu trabalhava como cenógrafo da TV TUPI e, como você,
vivia na Urca, onde ficavam os estúdios...Então você veio para
Fui com Amelinha a sua casa-ateliê, em busca de sua agradável companhia, para conversar sobre a vida e a arte que
nos cerca:
Olinda pintar. Sua obra já estava madura e você então começou
a fazer aquarela.
Guita Charifker
Raul Córdula
Eu desenhava e fui para aquarela. Hoje eu não faço mais nada, mas
Guita, você tem notícias de Krajcberg?
fiz muito a aquarela, porque era mais fácil carregar o papel, as tintas.
Fiz pouca pintura a óleo. A gente saia: Zé Cláudio, Samico, a gente
Guita Charifker
escolhia os lugares. Eu me dou muito bem com Baccaro. Quase toda
Eu não soube dele mais. Acho que morreu também. Teve um tempo
quinta-feira, ele vinha para fazer macarronada aqui em casa, que
em que a gente se aproximou muito. Ele me levou para uma casa
era uma maravilha. Agora ele sumiu, depois de casado... Ele é uma
que ele tinha no campo. Mas depois, todo mundo sumiu, nunca
pessoa muito legal.
mais eu os vi.
Raul Córdula
Raul Córdula
Você participou da Fundação Casa da Criança de Olinda, que
Eu soube que ele está bem, mas houve um roubo de umas peças
Baccaro fez?
dele recentemente.
Guita Charifker
Guita Charifker
Eu sei da Fundação, mas eu não participei. Eu não sou muito de
Ele tem bastante idade, está perto dos noventa ou mais. Ele é muito
participar das coias não, gosto de ficar quieta no meu lugar. Eu
amigo de Ana Letícia e vai muito ao Rio ficar na casa de Ana. Era uma
gosto das pessoas. Meu filho vem todo sábado me ver. Eu não te-
geração que tinha muitos artistas maravilhosos.
nho computador, não sei mexer. Quando eu preciso de alguma coisa são eles que fazem.
Raul Córdula
De primeira grandeza, como você, Krajcnberg, Zé Cláudio, Ana
Letícia... Você chegou a frequentar o ateliê de gravura do MAM
guita charifker
guita charifker - desenho
maria carmem
do Rio também?
Guita Charifker
Eu não me lembro.
Raul Córdula
Naquela época, estavam Assunção Souza, um pernambucano, o
Zé de Lima que era outro pernambucano, e a Edith Bering, uma
Maria Carmem é uma das primeiras artistas que conheci
no Recife em 1963. Naquele tempo, ela fez uma exposição
no MASP a convite de Pietro Maria Bardi, que a considerava
a melhor desenhista do Brasil. Roberto Pontual também a
considerava uma das grandes artistas brasileiras.
Ela integrou o grupo integrou o Grupo Austral do PHASES – Surrealismo e Contemporaneidade, reunião de artistas
utopia do olhar
74
maria carmem
e o olhar sutil
mas e trilhas em busca da formiga, da lema, da
fada da roseira é também sugerido nos poemas
de Manoel de Barros:
Para conhecer o universo pictórico de Maria
latino-americanos e europeus do qual fizeram parte, pelo
Brasil, Flávio Shiró Tanaka, Fernando Odriozola, Bin Kondo,
Sara Ávila Yo Yoshiton, Baj e Wesley Duke Lee. E os estrangeiros: Fahlstrom, Toyen, Alechisnski, Gironela Requichot
e Klapheck. O Grupo Phases é objeto de tese de mestrado
da curadora e professora de história da arte contemporânea
Professora Dayse Peccinini, do quadro docente da USP. Em
1995, apresentei uma exposição individual sua na Galeria Pallon, do Recife com o seguinte texto ao lado:
Tivemos com ela a conversa que segue, na companhia de
Amelinha, que gravou, fotografou e filmou, e do pintor Antonio
Mendes, que foi seu discípulo:
Carmen é preciso livrar o coração dos senti-
“...Outra de caracol: / é dentro de casa consu-
mentos supérfluos e das palavras vãs. Seu
mir livros cadernos e / ficar parado diante mora
mundo é original. Criado por ela mesma numa
Amélia Reis / o tempo é tão imoto e sem ara-
atmosfera própria eivada de personagens oní-
gem / que sobre o corpo dela as de uma coi-
ricos, pedaços quebrados da infância sepulta-
sa / até sê-la. / compreender o andar liso das
da, recantos de quintal, bodegões, pequenos
minhocas debaixo da terra / e escutar como
viventes e espíritos alados.
grilos / pelas pernas”.
Não conheço nenhum percurso artístico tão de-
Mas é o sentido trágico da vida interpretado pelo
licado e, ao mesmo tempo, tão emocionalmente
seu filtro poético que nos leva ao universo de ou-
traçado. Encontro abordagens semelhantes em
tro poderoso poeta que é o paraibano Luiz Corrêa:
poetas como Manoel de Barros, Luiz Corrêa e
Jorge de Lima, já que eles vivem nesse mundo
No lugar onde mora Amélia Reis / o tempo é
além da visão onde é preciso buscar, garimpar,
tão imoto e sem aragem / que sobre o corpo
penetrar em outros níveis da existência para
dela as unhas crescem / como crescem nas
compreendê-lo, embora ele esteja ao nosso
árvores as bagens.
lado olhando para nós que, na verdade, somos
propriedade dele.
Raul Córdula
De um lado, o tempo com seu motor eterno, a
vida se renovando no ritmo de uma arte que não
Antonio Mendes, essa questão da generosidade sempre me in-
Jorge de Lima revela, neste fragmento de so-
para de surgir diante de todos, se enraizando
teressou muito. Na nossa geração, dos anos de 1950, nós éra-
neto, sentimentos que encontramos na pintura
nos quintais de Olinda. Do outro lado, a chama
mos mais apegados uns aos outros do que os jovens artistas
atual de Maria Carmen:
das almas, as perdas essenciais, o dia-a-dia insolúvel recriado cotidianamente.
são hoje, apesar da instituição dos ‘coletivos de artistas’. Todos
tinham interesse no que todos faziam e, às vezes, incorporavam
“E a outras pobres coisas, pobres sons, / coitos
naturalmente sem que isto significasse uma cópia. Maria Car-
findos, engulhos, dramas tristes, / repetidos,
Eis uma artista dona do seu mundo e de outros,
mem lhe acolheu no ateliê, como mestra, por seu espírito mater-
monótonos, exaustos, / visitados tão só pelo
paralelos, companheira dos poemas e das sa-
no, coisa instintiva, mas que socialmente se manifesta através
abandono, / tão só pela fadiga em que essas di-
gradas ondas lunares.
da solidariedade. Não que os artistas de agora tenham perdido
tas / coisas goradas e órfãs se desgastam”.
esta qualidade, seria uma irresponsabilidade sugerir isso, mas a
solidariedade como conhecemos não faz parte do repertorio, do
Aí está um instantâneo do drama comum a to-
conjunto de ideias, de situações psicológicas, e especialmente
dos: instantâneo da solidão, solidão com consciência, solidão nobre de quem cria arte.
afetivas pertencentes aos critérios dos artistas contemporâneos,
principalmente os mais jovens.
maria carmem
Nas suas fases iniciais, a arte de Maria Carmen
Antonio Mendes
se fez através de um desenho finíssimo, segu-
Talvez até como reflexo de um caminho de nossa própria sociedade.
ro e renovador. Alguns dos teóricos de maior
O artista também está inserido e ele reflete um pouco sobre esse
prestígio da arte brasileira, como Walter Zanini,
movimento e isso me faz falta nesse aspecto. Eu acho que a troca
Pietro Maria Bardi e Gastão de Holanda; artistas
e a interação enriquecem. E como eu estava falando anteriormente
como Francisco Brennand, João Câmara e José
em relação à Maria Carmem, foi um ato de coragem ela acolher um
Cláudio, escreveram sobre a genialidade de sua
artista iniciante para orientar.
obra. Mas o traçado perfeito, bordado de tra-
utopia do olhar
olhar feminino
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Maria Carmem
Para mim foi um prazer. Mas olha: não é só questão do fazer especifico e do pintar. Quantas tardes a gente passou lá conversando não
é: eu ouvindo as suas histórias, as histórias dos artistas de sua geração, da interação e dos eventos que aconteceram. Foi muito bom,
faz falta a você. Mas fez muita falta a mim também.
Antonio Mendes
Acho que a totalidade de eu ter participado e de ter entrado naquele ateliê e de ter sido acolhido por Maria Carmem, e de poder passar meses
pintando direto, eu não sei, mas acho que palavras não abarcariam tudo.
Amélia Couto Você tinha mais ou menos quantos anos?
Antonio Mendes
Não mais do que 24 ou 25 anos por ai, foi há uns vinte anos.
Raul Córdula
Nós passamos, naquela época, por um período de grande dificulda-
maria carmem - desenho
de social que foi o regime militar. O Brasil era muito diferente de hoje.
Mas as forças que atuam hoje são muito diferentes também, pois a
Antonio Mendes
sociedade mudou muito.
Eu acho que talvez o que Sandro Maciel tenha vivido com Zé Cláudio seja paralelo ou próximo do que
Raul Córdula
eu vivi no seu ateliê, acho que isso me acrescentou muito como um admirador e também um artista.
Eu queria que você dissesse, Maria, se você viu se formar neste tem-
É impressionante porque ali você tem a noção e o conhecimento da história da arte do local e do que
você está produzindo. Isso não é apenas questão do respeito reverenciado por si próprio. É saber que
po todo em que você vive em Olinda, um tipo de democracia própria,
fruto dessa relação solidária entre os artistas?! E como a sociedade
daqui reagiu ou reage a isso?
antônio mendes
você vem de um tempo e que esse tempo teve uma história antes. No ateliê de Maria Carmem eu a
vi produzindo. Eu vi produções dela de vinte, trinta anos atrás. Eu ouvi histórias de como se pintava
aqui em Olinda. Essa que você relatou, um pouco dessa história, dessa troca, desse convívio entre os
Maria Carmem
artistas, dividir a produção, essa coisa se perdeu um pouco como você falou. Então, eu sou uma parte
É, eu fui dizer isso em uma reportagem e todo mundo me cortou.
de um movimento que vem se fazendo desde um bocado de tempo. Eu acho que, na maior parte desse
Foram todos contra os artistas naquela época. Eu me lembro muito
povo que trabalha agora em Olinda, falta uma densidade, e, de certa forma, qualidade.
bem do ateliê da gente, o Mais Dez, que o pessoal daqui que tinha
filhos comentava: ‘Quando passarem na frente do ateliê, atravessem
Raul Córdula
a rua e vão por outro lugar’. Era um preconceito muito grande.
Você está certo. A primeira geração de artistas que veio para cá era um grupo de pessoas simples e
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
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cultas que tiveram base de desenho, de pintura, de literatura sobre arte. Vieram na maioria dos Cursos
a segunda eu fiz bem simples e vendeu muito. Comecei a ver as pessoas vestidas das estampas lá em
Livres da Escola de Belas Artes. Eram pessoas como Maria Carmem, que já tinham uma vida ligada
São Paulo. O que eu achava pior, o mais comum, era o que vendia.
à arte. Mas essas pessoas que estão aqui agora não tiveram isso, talvez porque se extinguiram os
Cursos livres, que funcionavam na Rua Benfica, quando a Escola foi para o Campus Universitário. Hoje,
Raul Córdula
aqui em Olinda, faz muita falta uma área de formação, treinamento, aperfeiçoamento em coisas como
Você ainda tem algumas amostras com desses desenhos?
pintura, desenho, modelagem, escultura, gravura.
Maria Carmem
Raul Córdula
Não. Guardei dentro de uma mala. Mas minha filha Vera foi fazendo umas blusinhas, ela usou tudo. Eu
Você fez estamparia de tecido, não foi Maria?
não tinha ainda essa ideia de guardar. Eu tinha uma mala cheia, fiz umas coisas para os meus sócios
bem espalhafatosas. Aí, eles fizeram um contrato com o Pierre Cardin, que mandava fazer estamparias
Maria Carmem
sobre sinal de trânsito e várias outras bem audaciosas. Eu fazia e eles assinavam.
É engraçado porque isto juntou os negócios de indústria e de arte. A arte para estamparia industrial
tem que ser a mais simples possível, senão, não vende. Eu trabalhei em três fabricas de tecidos. Na
Raul Córdula
Capibaribe, passei cinco anos lá. Eu não sabia de nada da parte técnica e a máquina parecia um ralo.
Acho isso um ponto importante para a história do design em Pernambuco.
Aí, apareceu a estamparia que fazíamos na mão mesmo. Mas eu fiquei preocupada porque não sabia
estampar. Aí, apareceu uma pessoa para me ajudar dizendo que tinha uma butique e que as estam-
Maria Carmem
parias eram feitas assim na mão mesmo. Esse homem ligou para mim perguntando se eu queria um
Mas olha: por um tempo achei muita coragem e pedi um ordenado para o diretor financeiro. E ele disse:
emprego com ele para fazer estampas. Eu disse que ia, mas expliquei que eu tinha uma escola em
‘Esse é o meu ordenado, é o que eu ganho. Como é Maria Carmem?’. E eu o respondi: ‘Na escola, eu
casa, que eu ensinava história da arte, desenho, pintura – e Abelardo (da Hora) ensinava escultura. E
ganho isso, então eu só posso fazer pelo menos pelo valor que eu ganho para não ter preocupação
quando chegava no fim de semana eu e outros artistas íamos para lá e ficávamos na frente do Jardim
na minha casa’. Ai ele pagou, pagou bem mesmo. Ele pegou aquilo que a gente quis que entrasse no
sentados e tomando cerveja. Tinha uma britadeira numa sala ao lado, onde o pessoal ficava sentado.
comércio e foi fazer o que ele sabe fazer perfeitamente, eu não sei a opinião dele, mas a nossa, a expe-
Zé Claudio tocava Bombo, Montez tocava berimbau e Nei (Quadros) dançava. Minha empregada fazia
riência foi essa mesmo. Ele teve o ateliê na Rua das Creoulas com Abelardo.
uma macarronada ou uma caranguejada. Isso tudo foi nos anos 50 ainda. Você foi lá uma vez fazer
uma visita... Esse tempo durou um bocado. Eu fiz até uma exposição de Abelardo no jardim, muito
Antonio Mendes
bonita a exposição. Mas eu tive muita influência no meu trabalho, eu não sei se tive mesmo influência,
Hoje é o que lá você se lembra?
foi de Zé Cláudio.
Maria Carmem
Raul Córdula
Hoje é uma casa, tinha um quintal enorme atrás. Tinha uma garagem puxando a sala e um quadro
Vocês eram muito ligados não é?
verde que pegava toda a parede. Ali, Zé Claudio dava aula, eu dava aula. Eu reunia um bocado de
gente que sentava um longe do outro para ver o trabalho de um e do outro. Eu colocava qualquer
Maria Carmem
coisa que ficasse mexendo ou que desse a ideia que podia mexer. Cada um fazia o que podia. Isso
Hoje mais não. Mas ele foi a pessoa que meu deu coragem porque meu mundo era outro, completa-
eu aprendi com Abelardo, contava até 100 até eles acabarem.
mente diferente. A fábrica onde eu trabalhava era uma indústria. Era um negócio meio complicado, mas
tinha muito haver com as artes plásticas. Era mais um sistema de registro para a cor montar certinho
Raul Córdula
na outra cor, como na serigrafia de hoje. Eu me lembro de que a primeira que eu fiz, ligaram, de São
Uma vez eu assistir uma aula de Wilton de desenho com esse método.
Paulo, perguntando o que estava acontecendo com essa fábrica. ‘Essa estampa a gente não vende’. Aí,
utopia do olhar
80
Amélia Couto Como é esse método? Como é essa história de contar?
Maria Carmem
Você tem um tempo para desenhar o modelo, 30 segundos, 100 segundos, dependendo da complexidade
do modelo. Aí você fica contando. Sabe que só tem aquele tempo para fazer, aí fica apressando. Nessa
pressa, você conhece mais a pessoa do que se ela fizesse devagar.
Antonio Mendes
Eu passei por esse método. Fiz esse curso no MAC com Delano, João Câmara, Zé Carlos Viana, Reginaldo Esteves. Foi no final de 80, começo de 90. Zé de Moura também.
Maria Carmem
Zé de Moura, ele me convidou uma vez para dar uma aula. Mas eu achei péssima a aula dele, muita gente.
Antonio Mendes
Pois eu aprendi com esse método no MAC, foi muito bom.
Maria Carmem
A primeira pessoa que eu vi fazer isso foi Abelardo da Hora, ele ensinou a muita gente.
Raul Córdula
Abelardo é um grande professor. Por exemplo, Brennand foi seu aluno.
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
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o olhar ideologico
janete costa
silvia coimbra
tereza costa rego
giuseppe baccaro
e os naifes
utopia do olhar
o olhar ideológico
84
inha geração discutiu os caminhos da arte
moderna até os limites da contemporaneidade, onde este discurso mudou profundamente como mudou o planeta com
a vitória do capitalismo que tem como
principal arme a informação e os seus domínios através da
informática e do controle da informação através da imprensa. O debate político no território das artes visuais mudou
muito, transformou-se em discurso acadêmico isolado do
grande público, diferente de outros tempos quando a imprensa diária editava o texto crítico sobre arte e o marcado
de arte considerava a participação ideológica do artista. Mas
sabemos que não vivemos, em qualquer tempo, em qualquer momento histórico, no mesmo tempo. Este momento
que vivemos agora não é o mesmo que passam os artistas
contemporâneos de São Paulo, por exemplo, ou os artistas
naïfes do Haiti, ou ainda dos artistas alemães, isto é óbvio,
mas necessário para completar este raciocínio. Se em São
Paulo experiências como a de Imbu das Artes, inicialmente
voltada para a afirmação da arte ínsita, se transformou em
referência do marcado de objetos voltados ao turismo, não
significa que em outros territórios de criatividade – Olinda –
isto fatalmente se repita. Um certo “olhar ideológico” sempre
foi a base de sustentação de uma determinada identidade
cultural, isto em qualquer lugar e em qualquer tempo.
Refiro-me a seguir informações sobre pessoas dotadas
deste “olhar ideológico” e, para encerrar o capítulo, sobre
os artistas naïfes da cidade, exemplos vivos da dedicação
destas pessoas.
m
janete costa
Conheci Janete em 1963, na ESCALA, sua já famosa loja, escrito de arquitetura e fábrica de móveis instalada em Niterói, na
praia de Icaraí. Eu estagiava nos ateliês do Museu de Arte Mo-
janete costa e borsoi
derna do Rio através do Departamento Cultural da universidade Federal da Paraíba, de onde eu era o supervisor de artes
plásticas, a título de capacitação (além do MAM eu também
frequentava o curso intensivo de história da arte dado por
Carlos Cavalcanti, no Instituto de Belas Artes, que funcionava
na Urca, e tornou-se depois a escola do Parque Lage). Coloco
este dado para me situar no tempo e no espaço em relação à
Janete Costa, pois cheguei a sua loja levado pelos amigos, o
designer Márcio Mattar e o pintor uruguaio Arturo Washington
Silva Doce, e carregando uma pasta de desenhos que eu levara para as galerias.
Márcio e Arturo integravam a arte de vanguarda do Rio,
como Antonio Dias, Gerchmann e Vergara, frequentadores
do ateliê-oficina de Márcio no Rio Comprido. Aquela era uma
oportunidade de contatar uma jovem e prestigiada arquiteta
que também circulava, como fez até o fim, no meio artístico
nacional – o Rio era o centro da cultura brasileira. Na loja, estavam dois artistas seus amigos, o ceramista pernambucano
Carlos Wanderley, amigo de Janete e suas filhas até hoje, e sua
mulher, a ceramista argentina Maria Della, ambos desfrutando
do sucesso dos artistas promovidos por Janete. Ela comprou
alguns dos meus oitenta desenhos (outros foram comprados
por Matias Marcier, filho do grande pintor Emeric Marcier, arquiteto e integrante da equipe da galeria Relevo, e outros ainda
trocados por obras dos amigos artistas).
Mesmo que depois, quando Janete retornou ao Recife, eu
não continuasse ligado profissionalmente a ela, não posso
desvincular minha vida de artista a essa Senhora tão importante para a cultura nacional. Observa-se essa importância
no fato de recentemente, em15 de dezembro de 2012 o Prefeito de Niterói, Sr. Jorge Roberto Silveira, ter inaugurado na
cidade o Museu de Arte Popular Janete Costa.
Recorri a Lúcia Santos, sua filha, proprietária da Galeria
Amparo 60, para emendar as informações esgarçadas pelo
tempo que eu tinha de Janete. Primeiramente Lucinha me falou sobre a volta de Janete e seus filhos para o Recife depois
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da separação de seu marido, quando houve seu encontro
com Acácio Borsoi. Ela me disse que Olinda fora para os dois
uma história de amor. Ambos tinham projetos que se uniram
fortalecendo aquele grande relacionamento, Olinda era um
deles. Primeiro foi a casa da Rua do Amparo número 60, ao
lado do Beco das Cortesias, fazendo esquina no oitão com a
Ladeira da Misericórdia.
Esta casa, uma das primeiras restauradas dentro de
critérios arquitetônicos que levavam em conta cultura e a
história locais, foi um espaço criativo – o estúdio particular do casal – e também um espaço político, onde muitas
decisões foram tomadas em relação à administração da
cidade. Janete foi Secretária de Turismo da Prefeitura de
Germano Coelho, mas sua atuação não se limitou a este
período. Seu trabalho na Prefeitura foi semelhante aos que
tiveram Adão Pinheiro, Vicente do Rego Monteiro, e, posteriormente, Tereza Costa Rego: o trabalho de articulação entre a fonte criadora, a administração municipal e o público.
Tiago Amorim se referiu a ela em entrevista para este livro
neste parágrafo que vale repetir:
“Janete Costa, que já estava por aqui em 1963, vivia junto com Adão
buscando artesãos, criando uma relação de suas ambientações
com o objeto artesanal. Ela sempre esteve aqui, no meio dos artesãos, fazendo esta ponte. Ela fez um trabalho muito interessante,
comigo, com Adão e com José Barbosa numa obra que fez para o
governo de Aluísio Alves, no Rio Grande do Norte, por exemplo”.
Este perfil de promotora do artista nunca se dispersou dela,
conheço dezenas de artistas e artesãos de muitas cidades
do Nordeste como Campina Grande, João Pessoa, Teresina,
Natal, entre tantas, artistas além dos que citei no Rio de
Janeiro, e não foram os únicos, que têm a mesma opinião
sobre ela. Um fato extraordinário na vida de Janete foi sua
amizade com Roberto Burle Marx.
utopia do olhar
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Sua obra gráfica e pictórica tem grande importância no modernismo brasileiro, mas
como arquiteto paisagista e designer ele foi o mais importante do mundo. O Calçadão
de Copacabana de sua autoria, realizado em mosaico português, quando realizado, era
a maior obra de arte aplicada do planeta, e eu não sei se foi superada em dimensões,
mas em beleza certamente não. No início da década de 2000 eu integrei a comissão
de premiação da Bienal Internacional de Escultura em Resistência, cidade do Nordeste
da Argentina, capital da Província Del Chaco. Lá conheci o arquiteto-paisagista Pradial
Gutierrez, responsável na época pela colocação de mais de trezentas esculturas de
artistas de vários países no espaço urbano de Resistência, onde estava também projetando um Parque de esculturas que se construía nas cercanias da cidade. Quando lhe
fui apresentado ele me disse: “Meu sonho é ser o Burle Marx da Argentina, mesmo no
alto de meus 85 anos”.
A amizade entre Janete e Burle Marx transcendeu ao amor entre dois amigos e duas
cidades – ele era 50% pernambucano e mantinha seu horizonte focado em Recife e Olinda – a amizade dos dois foi profícua, repercutiu em outros artistas multiplicando-se em
formas, traços, projetos e arte.
Mas quem se deu a conhecer de perto e analisar, mesmo que superficialmente, sua
obra arquitetônica especializada em interiores (não me refiro a “decoração de interiores”, ofício não necessariamente arquitetônico no sentido estrito da palavra, mas a “arquitetura de interiores”, a criação do espaço de conforto também dentro da perspectiva
estética – e cultural – no caso de Janete) tomará conhecimento de uma obra vasta,
profunda e definitiva no sentido da permanência, do modelo, do exemplo. Ela tratouo a
cultura simbólica visual do nosso povo com um respeito ideológico, e com um cuidado
que foi além do simples tratamento museológico, um cuidado que atingiu diretamente o
homem que faz esta cultura: o artista do povo.
Este trato, portanto, transcendeu à simples aplicação de obras de arte nos seus
projetos, foi até a provocação do diálogo entre mundos diferentes como o da arte considerada erudita, como a dos artistas modernos e contemporâneos, e a arte considerada
injusta e erradamente de “inculta”, a arte do povo.
“Janete Costa, que já estava por aqui em 1963, vivia junto com Adão buscando artesãos, criando
uma relação de suas ambientações com o objeto artesanal. Ela sempre esteve aqui, no meio dos
artesãos, fazendo esta ponte. Ela fez um trabalho muito interessante, comigo, com Adão e com José
Barbosa numa obra que fez para o governo de Aluísio Alves, no Rio Grande do Norte, por exemplo”.
silvia coimbra
silvia coimbra
Vim morar em Olinda em 1976 quando organizei para a TV Globo Nordeste o Salão de Arte
Global de Pernambuco – O Artesanato e o Homem, cuja parte principal, uma exposição
de artesanato pernambucano, foi montada na Casa de Cultura inaugurada pela Fundarpe na recém-inaugurada Casa de Detenção.
A coleção dos objetos de “arte popular” que compôs a exposição, adquirida pelo
estado, foi um dos resultados das pesquisas de Silvia Coimbra, sua filha Flávia e a Pesquisadora Maria Letícia Duarte para o projeto do livro O Reinado da Lua – escultores
populares do Nordeste. A primeira edição data de 1980, estamos na sua terceira edição
financiada pelo banco do Nordeste e prefaciada por Paulo Sérgio Duarte, historiador da
arte brasileira e curador de âmbito internacional, também irmão de Letícia Duarte.
O Reinado da Lua é a Bíblia de quem se interessa por arte nordestina no seu mais
amplo aspecto. A coleção exposta no Salão de Arte global passou a integrar o acervo da
Galeria Nega Fulô, de propriedade de Silvia Coimbra e Tereza Dourado, que depois veio
a montar a Galeria Futuro 25. O Estado adquiriu este acervo, via Fundarpe, não apenas
para mostrá-lo durante o Salão, mas para que ele fosse montado no terceiro andar da
Casa da Cultura como principal referencial de nosso imaginário, direcionado ao mercado
turístico.
Isto chegou a acontecer, o acervo ficou exposto no terceiro andar da casa da Cul-
utopia do olhar
o olhar ideológico
88
tura enquanto eu estive como supervisor, na tentativa
de montar um núcleo de estudos que se chamava NAP
– Núcleo de Arte Popular e Artesanato. Depois que eu saí
da casa da Cultura, o acervo ganhou o nome de Museu
do Barro, e assim ficou por algum tempo, até que alguém
teve a feliz ideia de transferi-lo para Caruaru onde, onde
hoje constitui base do acervo do Museu Vitalino. Vale a
pena ser visto. O acervo, embora careça de museografia,
está conservado e protegido. Vê-se o olhar de Silvia Coimbra nesta coleção que transcende à tradição da estética
dominante, um olhar étnico, sociológico, histórico.
Em O Reinado da Lua, podem-se ver os artistas chamados de “populares” no entender da elite cultural, os
maravilhosos escultores de madeira, cerâmica e outras
matérias transformadas em arte. O livro mostra retratos e
obras de artistas de 21 cidades de todo o Nordeste através de comentários e fotografias de 8 autores. A lista, começar com Maria do Carmo Buarque de Holanda, autora
da maioria das imagens, Dalvino Trócoli, Cafi, Ana Maria B.
Reis, Daniel Campos, Márcia Holanda Cavalcanti, Totó, do
laboratório Foto Fofoca.
Mas é importante lembrar que os “artistas populares”
são artistas como quaisquer outros, com a graça de não
serem acadêmicos. O pensamento acadêmico é construído em nome da verdade científica. Se verdade científica
significar a senha para a aceitação de qualquer fenômeno pela sociedade, como parece ser quando os cientistas
sociais se referem à “arte popular” ou “folclore”, o que
será da arte?
Em 1978, mesma época da produção de O Reinado
da Lua, os jornalistas Ivan Maurício —
­ , organizador, Marcos Cirano e Ricardo de Almeida, editaram um precioso
livro sobre isto, Arte Popular e Dominação – o caso de
Pernambuco – 1961/77 (editora Alternativa). Neste livro,
que contou com a colaboração de um vasto composto pelos mais importantes jornalistas, pesquisadores e
pensadores políticos da época, como Alexandre Santos,
Ana Farache, Anna Santoro, Álvaro Pantoja, Antonio Magalhães, Beth Salgueiro, Daura Lúcia, Eduardo Homem,
Geraldo Sobreira, Humberto Avelar, João Bittar, José Arlindo Soares, Luzanira Rêgo Di Pietro, Nelson Torreão,
Paulo Cunha, Paulo Santos, Rebeca Scatrut, Virgínia Botelho e Xirumba. Esta citação é importante porque é uma
amostra das preocupações da época, sobre a questão
da “arte popular” tanto no âmbito de sua preservação e
conservação quanto do seu significado.
Vamos lá: num dos preâmbulos do livro, está uma frase do pintor baiano Renato Silveira transcrita do jornal
“Boca do Inferno”:
É preciso encarar também as artes criticamente, considerando que
elas, se por um lado são uma referência fundamental para nós, por
outro se formaram como ideologia dominada e muitas vezes estão
impregnadas de elementos conservadores”.
A entrevista publicada neste livro, do Padre holandês
Eduardo Hoornaert (professor de teologia, historiador e autor de vários livros sobre religiosidade popular no Nordeste,
onde foi vigário por mais de uma década) já é questionadora, seu título é “Folclore é invenção de policiais”. Eis aqui
alguns trechos da entrevista:
89
glês William John Tompson para classificar os objetos encontrados nas escavações que
não eram “objetos de arte”, no sentido acadêmico do termo, mas peças elaboradas em
vários materiais como cerâmica e madeira, que ele atribuía ao imaginário do povo. Este
nome espalhou-se por todo o domínio inglês, que era o império onde o Sol nunca se punha, e daí para o resto do mundo. Atribui-se uma data para a criação deste termo: precisamente em 22 de agosto de 1846. Por isso, a UNESCO decretou este dia com Dia “Mundial
do Folclore”. O Padre Hoornaert comenta:
Por exemplo, quando eu uso a terminologia “folclore”, o que é que eu estou fazendo? Eu estou fazendo uma verdadeira abstração da realidade, porque a cultura vivida pelo povo não é folclore,. (...)
O ponto de partida: não pensar que, por causa de uma boa vontade, a gente possa se identificar
ingenuamente com o povo”.
Nunca aceitei a ideia de “arte popular” e a “arte erudita” serem diferenciada pelo grau
de conhecimento dos artistas. Arte para mim é arte em qualquer circunstância, desde que seja arte (desculpem o trocadilho), e para ser arte é preciso apenas ser vista
como arte no seu espaço e no seu tempo. Quem diria em plena Semana de 22 que um
Parangolé de Hélio Oiticica seria arte? E hoje, quem não reconhece em Bispo do Rosário um grande artista?
Alinho-me o com Paulo Sérgio Duarte no prefácio do Reinado:
“A meu ver, três são os aspectos que preservam a integridade do Reinado expostos com muita
clareza pelas autoras na apresentação: primeiro a compreensão do processo histórico que transformou objetos antes “funcionais” em obras de arte e de sua inscrição em segmentos “cultos” da
sociedade em um mercado de arte específico. No caso do Brasil, isto se dá a partir do movimento
modernista e seu trabalho de construção de uma identidade mais complexa que aquela que pre-
Quando nós, nós que somos interessados em conhecer mais a
servava a categoria “arte” para designar somente as obras produzidas no interior de um saber que,
cultura popular, nós que não olhamos a cultura popular senão já
na falta de termo melhor, continuamos a chamar de erudito.
marcada pela própria repressão”.
Segundo, o interesse documental do livro, ao cobrir um universo de 119 artistas de diferentes
estados do Nordeste. Se não é uma mostra no sentido estatístico do termo, como nos advertem as
Sabemos que a palavra “folclore” é o aportuguesamento de
folk lore (conhecimento do povo) e sendo assim é por si só
um fruto da mesma colonização cultural a que ainda somos
submetidos. Esta palavra foi inventada pelo arqueólogo in-
próprias autoras, trata-se de um corpus bastante significativo.
O terceiro aspecto que deriva diretamente do segundo, mas o extrapola e dá um caráter pioneiro à obra: o lugar privilegiado da fala dos artistas no lugar do exercício interpretativo das autoras.
Com isto, o Reinado não os reduz a meros informantes de uma pesquisa de ciências sociais: apre-
utopia do olhar
90
o boi voador
senta-os como protagonistas da produção artística em posse,
não apenas de um “saber fazer”, mas também de um discurso
sobre sua vida e sua obras”.
Silvia Coimbra vive em Olinda há muito tempo, quando a
conheci ela morava na Rua do Amparo numa linda casa
com jardim no lugar do quintal onde recebia constantemente artistas do povo. Lá conheci J. Borges e Costa Leite
numa ceia cotidiana, assim como vi e conversei com diversos outros artistas. Devo a Silvia e à leitura de O Reinado
da Lua a ampliação dom interesse que tenho pela arte do
povo, começando pela arte de Olinda. tereza costa rego
A vida de Tereza Costa Rêgo é romance de aventuras, dificuldades e amor. Escrevi muito sobre ela. Tentei traduzi-la
de várias maneiras. Só consegui mesmo foi me intrigar mais
ainda com a existência desta admirável pessoa. De Primeira Dama do Brasil, aos olhos de Mao Tse Tung e Ho Shi Min,
por ser a mulher de Diógenes Arruda Câmara, o presidente do
Partido Comunista do Brasil – PC do B, até a pintora (que aos
81 anos pintou um quadro de 3 metros de altura por 11 metro
de largura), foi uma saga vencida com exemplar coragem. E
sem deixar aparecer nem uma ruga no rosto.
Olinda é seu lugar desde o início dos anos 80, desde a
anistia. Dirigiu o Museu do Estado, criou, ao lado de Fernando
Augusto Gonçalves, o Museu do Mamolengo. Ao lado de Petrônio Cunha e Plínio Victor, ela criou o festival Olinda Arte em
Toda Parte e foi a curadora da primeira edição.
Escrevi o texto do livro Tereza Costa Rêgo um grande
panorama de sua obra, editado pela Publikimagem. Pessoa
pública que é, sua história é conhecida. Escolhi então um
trecho de um dos textos que lhe escrevi para ilustrar minhas
visões de sua arte:
Em minha imaginação, construo uma
metáfora: imagino que o cerco de Troia
não foi uma guerra vencida pela tática,
embora esta fosse fundamental para a
vitória, mas uma abordagem sobre a paixão contida no ideal grego do saber e da
beleza. Quem fora Helena, senão corpo e
alma da beleza – desejo – que, para ser
conquistada, fez-se necessário a criação do estratagema – sabedoria.
fe, sobre a multidão, ele conquistou ainda
mais o território humano que ele já dominava. A carnavalização do Boi Voador eu
trato como rito, pois se repete em várias
culturas, e aqui permanece no Homem da
Meia Noite e nos mais de cem bonecos do
carnaval de Olinda como resquício dessas
lendas e ritos. Tereza já pintara os bonecos
no carnaval, na exposição de 1980.
Não é à toa que o cavalo é o símbolo da
Grécia antiga. Mesmo destruindo a cidade,
o ideal grego foi conquistado pela sabedoria. E subjaz a ideia de que, a partir da
derrota de Troia, as cidades-estados se
uniram sob a égide de Menelau, senhor
do talento – seus heróis – e da formosura – Helena – e a civilização ocidental foi
consolidada. O que significa dizer que a
existência de nosso mundo não dependeu
apenas dos poderes bélicos e políticos,
mas também dos poderes da arte.
Sempre que penso na campanha holandesa no Recife, o cerco de Troia me vem à
mente. Quando penso nas tropas holandesas que abordaram por trinta anos nossas
colinas, atocaiadas nos afundados, pelejando para que nossa cidade portuguesa
baixasse suas guardas, vejo Olinda como
uma das Troias do mundo. Aliás, Olinda é
portuguesa como Lisboa que, como diz
uma lenda, foi fundada por Ulisses, um dos
heróis da conquista de Troia, o grande estrategista da vitória.
O Boi Voador, uma das estratégias usadas pelo Conde Maurício de Nassau para
dominar o povo, parece remontar o rito do
Cavalo de Troia. Fazendo um boi-boneco
suspenso numa corda, voar sobre uma
rua do que na época era a cidade do Reci-
tereza costa rego
utopia do olhar
o olhar ideológico
92
giuseppe bacaro
giuseppe baccaro
A vinda de Giuseppe Baccaro para Olinda foi um acontecimento extraordinário. Como disse Carlos
Trevi, o curador do Instituto Cultural Santander, no catálogo da exposição de seu acervo que realizou em 2005, O colecionador Giuseppe Baccaro é personalidade ímpar das artes e da cultura.
Este grande colecionador e comerciante de arte que atuava no Rio de Janeiro e em São Paulo
e foi marchand de Portinari, entre outras coisas, cansado da contradição entre as obrigações
glamurosas da sua atividade e a visão da miséria brasileira, vendeu parte de sua coleção e mudou-se para Olinda. E aqui criou uma organização de apoio às crianças e adolescentes pobres.
Criou e fez funcionar por mais ou menos trinta anos a Fundação Casa das Crianças de Olinda, inquestionável organização
solidária que tirou da miséria um número incontável de meninos
e meninas pobres de Olinda usando para isto o dinheiro da venda de parte das obras de sua coleção com a realização de 12
leilões durante o tempo que a Casa da Criança existiu.
Repito: um incontável número de crianças pobres, porque
Baccaro nunca foi, nem pretendeu ser, um homem organizado ao ponto de contabilizar as pessoas a quem fez bem. Ele
é um humanitário antes de qualquer coisa. Não significa, porém, que ele não possa ser conhecidamente o competente
comerciante das obras artísticas que intermediou com seus
clientes, atuando no mercado nacional e internacional.
A Casa das Crianças, porém, não fez apenas alimentar
os famílias pobres (em determinado momento, ele passou
a distribuir uma centena de cestas-básicas para as famílias
pobres, cujas mães se aglomeravam em determinado dia da
semana diante de sua casa da Rua de São Bento), Baccaro
fez também muitas coisas extramuros. Internamente, a educação básica foi prioritário, como cursos profissionalizantes
de tipografia, cerâmica, xilogravura, e outros.
Extramuros, Baccaro apoiou os artistas da xilogravura, que
também fazem as capas dos Folhetos de Cordel, notadamente
J. Borges e José Costa Leite. Editou, na tipografia adquirida da
Fundação Castro Maia, do Rio de Janeiro, inúmeros Folhetos
ilustrados por eles. Da Fundação Castro Maia, ele adquiriu também uma prensa de gravura em metal e uma quantidade de
pedras litográficas que foram utilizadas na Oficina Guaianases
de Gravura, enquanto ela esteve funcionando em Olinda.
A paixão de Baccaro pelos repentistas, que ele se refere
como uma tradição medieval que somente subsiste no Nordeste brasileiro, e isto é verdade, o levou a viajar de ônibus
pelo Brasil, de Norte a Sul, levando um grupo dos mais notáveis cantadores de Nordeste, como Ivanildo Vila Nova, Mocinha de Passira, para se apresentarem em diversas cidades.
Antes disso, ele já tinha organizado em Olinda, com produção
93
da Casa da Criança, que também tinha um teatro de arena,
diversos Festivais de Cantadores, em praça pública.
A Fundação Casa das Crianças de Olinda durou apenas
30 anos: foi invadida por sem tetos e Baccaro nada pode fazer. Ou nada quis fazer, levado por seu sonho humanitário.
Sua verdadeira paixão sempre foi por aquele que tem menos
que ele, o que não teve as suas oportunidades nem conseguiu chegar onde ele está. Ele é um apóstolo da solidariedade
e diz, sempre, a todos os amigos, que a casa das crianças foi
a coisa mais importante e coerente de sua vida.
O Baccaro colecionador continua ativo. Em 2005, como
curadora da exposição do Instituto Cultural Bandepe, a curadora, Senhora Maria Lúcia Montes, descreve, como ninguém, logo
no primeiro parágrafo do seu texto, o Baccaro colecionador:
“Quem não conhece em Pernambuco, no Brasil e mesmo fora do país
essa coleção? Mas quem se arriscaria a enquadrá-la a coleção nos
limites das categorias que usualmente definem uma colação? Baccaro é um colecionador de arte? Sim, arte de todo o mundo e de todas
as suas linguagens: da escultura e pintura às artes gráficas, passando por partituras musicais e uma riquíssima coleção de desenhos de
mestres que transitam sem contradição entre o erudito e o popular.
Baccaro é um bibliófilo? Sim, com uma extraordinária coleção de
publicações em todos os domínios do saber e de todas as partes
do mundo, que vão de periódicos raros a primeiras edições de valor inestimável. Baccaro é um documentarista obsessivo? Sim, um
viajante do tempo a caça de mapas, leis, decretos, proclamações,
testamentos, correspondência e o que mais tenha chancela de autenticidade de primeira versão impressa, manuscrito ou autógrafo
dos que neste mundo conquistaram poder e glória”.
Baccaro trabalhou com arte de qualidade, como a arte religiosa hispano-americana, que vulgarmente se chamam de
“pintura cusquenha”. Não que a arte de Cuzco seja inferior:
é exatamente o contrário. A arte religiosa de Cuzco é um
utopia do olhar
o olhar ideológico
94
fenômeno universal pela qualidade, resultado das escolas de pintura lá implantadas durante a colonização espanhola, e por causa da quantidade da sua produção de pintura
de boa qualidade.
Mas ele mesmo adverte, no folheto da exposição do seu precioso acervo de arte religiosa que expôs no Museu de Arte Sacra de Pernambuco – MASP em 1977, que não existe
apenas arte “cusquenha”, neste contexto da arte colonial latino-americana. Embora a produção dos cusquenhos impressionem o mundo, a produção de outras províncias também
são notáveis, como Potosí na Bolívia; Vera Cruz no México; Missões do Brasil, Paraguai e
Argentina e em muitas outras províncias da América espanhola são maravilhas da sensibilidade religiosa ligada à arte colonial.
A arte religiosa é apenas um dos aspectos de sua coleção. Nela constam, ainda, arte de
todas as categorias, como gravuras de Rembradt, xilogravuras japonesas e chinesas do Século XIX; gravuras em águas-fortes italianas do Século XIX e francesas do Século XVI; ícones
russos e gregos do Século XVII. Ainda: uma litografia de Sisley de 1899 e uma água-forte de
Camile Corot do mesmo período; obras em papel de Andre Derain e Alphonse Mucha; mapas
do Japão do Século XVIII e de Paris de 1654; gravura da Caaba de Meca do XVIII; gravuras de
Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral e Anita Malfatti; guaches de Chico Silva, escultura de Bruno
Giorgi e uma curiosa estampa art deco com a seguinte frase:
95
os naifes
Nos anos 60, Bajado, artista naïfe – ou popular – por excelência, já estava aqui, assistiu a
chegada dos novos e se integrou a eles. Pintor por profissão, seu trabalho nunca foi somente pintar quadros. Ele pintava cartazes dos dois cinemas que existiam aqui, o Cine Olinda,
que fica na Praia do Carmo, para onde desenhou as letras que encimam o frontal, e o cine
Duarte Coelho, no Varadouro. Mas também pintou para os cinemas da Torre e Boa Vista.
Ele também pintava painéis em lojas. Foi muito conhecido um boi pintado por ele na
parede externa de um açougue na Rua do Sol. Ele fazia desenhos de humor ao lado do Gato
Felix e de Péricles, os três criaram o personagem O Amigo da Onça, publicado por décadas
na revista O Cruzeiro, assinado apenas por Péricles.
O Prefeito Germano Coelho adquiriu, da coleção de Baccaro, 40 obras de Bajado para
formar a Casa Bajado de Arte da Prefeitura de Olinda. Estes quadros estão bem conservados
nas paredes da antesala do Gabinete do Prefeito, mas não se pode deixar de perguntar:
onde se localiza a Casa Bajado de Arte?
Bajado nasceu nem Maraial, cidade do interior de Pernambuco, em 1912, tempo em Catende, e
no Recife. Em 1931 veio para Olinda, onde residiu até sua morte, em 1990. O advogado e cronista Arthur Carvalho é autor do texto do folheto emitido na ocasião da inauguração da Casa Bajado de Arte.
Entre outras coisas ele diz:
LA MODERNITÁ È LÁBITO MENTALE DELLA PERSONA INTELLIGENTE.
Não me referi a sua biblioteca, com a primeiras edições de Lettres de jeunesse – Voyage a Rio, 1848 – 1849, do pintor Edouard Manet, e Sermoens do Padre Antonio Vieira.
Duro é pensar que este tesouro que aqui esteve por quatro décadas será certamente
disperso, pois a segunda atividade de Baccaro é dedicada ao mercado de arte. A Prefeitura
de Olinda não possui ainda um museu próprio ou uma reserva técnica que possa abrigar sua
coleção, que se inicia com os 40 quadros de Bajado adquiridos pelo Município.
Baccaro nasceu em Nápoles, numa vila medieval de dois mil habitantes. Sua família vivia
da produção artesanal de vinho e queijo. Sua mãe fazia o pão da casa e todos preparavam
o mosto do vinho pisoteando as uvas. Eram pessoas da terra: pai, mãe, três irmãos e duas
irmãs. Em determinado momento, estava trabalhando na fábrica Nestlé, em Milão, e resolveu
vir para o Brasil. Viajou de repente para o Rio de Janeiro, onde comprou um apartamento na
Lagoa Rodrigo de Freitas.
Neste tempo, ele já era comerciante de arte e São Paulo o seduziu com o crescente mercado que lá se apresentava. O mercado de Arte de São Paulo efervescia nos anos 1960. O
jovem Baccaro soube enriquecer com a arte. O resto da história todos já sabem.
“Bajado deu a volta por cima quando de sua exposição na Trienal da Arte Naïfe de Bratislava, a
maior do mundo no gênero. Diante da cegueira dos críticos eruditos locais, dos encômios pirangueiros e tardios, explode esta luz que alerta a vista dos europeus cansados de maneirismos e
modismos. Surge a surpresa do crítico parisiense de Le Monde, para o qual um Francisco da Silva
antes do dilúvio, e um Euclides Francisco Amâncio, dito Bajado, são uma golfada de ar puríssimo
na galeria da Embaixada Brasileira em Paris, acostumada a quem sabe mais salamaleques”. Baccaro fala sobre ele:
“Entre os artistas que conheci, acho que Bajado foi o que mais entendeu e gostou do povo. E
que melhor o representa, sendo ele mesmo povo e gostando de ser. Ao contrário da maioria
dos artistas, Bajado não quis subir de status, preferindo ficar onde estava”.
Nosso artista Maurício Silva, que hoje vive em Paris, diz:
utopia do olhar
o olhar ideológico
96
folheto da coleção de pinturas de
bajado que forma a casa bajado
de arte, instalada no 1º andar do
palácio dos governadores onde
está a prefeitura de olinda.
97
“A pintura dele precisa ser descoberta, analisada, estudada com
muita profundidade, até para se ter uma fiel ideia formada sobre a
categoria na qual está inserida, que pode ser primitivista, ingênua,
lírica. Ninguém sabe ao certo. Só sei que é de uma grandeza imensa
e difícil de explicá-la”. Samico diz com muita propriedade:
Bajado foi um autêntico artista popular. Deixou um grande legado para
as artes, principalmente para o segmento que abraçou, se dedicou, no
caso, a pintura. Dentro do que fazia, tudo tinha uma grande importância,
porque era popular. As cores, as combinações os contrastes, os desenhos, tudo impressionava, ficava bonito e merecia os maiores elogios.
garatuja de bajado - autorretrato
É necessário distinguir no universo da arte dita “popular” várias categorias, vertentes, aspectos e tendências. Falar sobre
isso é mais complexo do que a maioria das pessoas pode
imaginar, pois o conceito vigente de “arte popular” é duvidoso
quando se nota que por popular se quer dizer pobre, pobre de
tudo, e recursos e de cultura, e por isso barato. Sendo assim
este conceito é preconceituoso. Não, arte é arte em qualquer
contexto. Lembro como exemplo, as definições do crítico Oscar D’Ambrósio, professor da USP, na apresentação do livro
da pintora naïfe paraibana Analice Uchoa, quando classifica
várias expressões da arte classificada como naïfe.
A arte naïfe é uma produção simbólica ingênua onde o
detalhe tem um papel preponderante. O crítico e teórico da
arte Georges Kasper, citado por Oscar, coloca a arte naïfe
como “arte primitiva moderna”. Falamos então de “arte primitiva”. Esta é a arte de povos que vivem defasados no tempo, povos tribais, comunidades rurais, oleiras, indígenas ou
semelhantes que se expressam artisticamente.
Podemos falar também em pintores folclóricos, aqueles que
plasmam em suas cores vivas as danças e os ritos populares,
utopia do olhar
o olhar ideológico
98
eles ocorrem em Olinda nos quadros que retratam os caboclos
de lança, maracatus, carnaval, cirandas, etc. Os maneiristas,
aqueles que elaboram cuidadosamente a superfície da tela em
busca de uma suposta perfeição técnica, também estão aqui.
Os pintores ínsitos, ou inatos, são universais, estão em
todas as sociedades sem necessitarem formação ou inclusão em movimentos artísticos eruditos. Estão aqui em
Olinda desde sempre. Por sua vez, estão também aqui os
instintivos, os pintores do coração, da religiosidade mágica e/ou negra como o Candomblé. Os que fazem arte bruta,
classificação vinda de Jean Dubufet, como os malucos, os
drogados e os alucinados.
Tudo isto ocorre na cultura do mundo, e Olinda está no mundo, vê o mundo, é o mundo, como simbolicamente se considera
qualquer cidade, portanto os pintores naïfes de Olinda exprimem nosso imaginário como os de qualquer lugar do mundo.
Tentando um esboço para uma classificação de nossos naïfes apresento a seguinte listagem, resultade, em parte, de minha
convivência e conhecimento de suas obras, e a restante conseguida a partir de pesquisa, onde o conjunto de catálogos do festival Arte em Toda Parte foram importante fonte de pesquisa:
Inicio pelos que pintam paisagens, sendo alguns paisagistas puros e outros os que a compões com figuras: Elizângela das Palafitas, Alberto Guimarães, Edna Correia, Dalva
Dias, Cipriano Sanches, Joaz Silva, Edson de Carvalho, Elias
Mil, Gilca Guimarães, Leonardo Arcoverde, Gilson de Góis, Inge
do Amparo, Emanuel Suplínio, Fernando José, Marcelo Lima,
Ivone Mendes, Roberto Correia, Rubem Trindade, R. Arlheiros,
Shirley Lins, o grande Calazans, Zé Som, especialmente na
sua fase “energética” e Mary Gondim, artista e animadora cultural enquanto esteve à frente do MAC.
Outra vertente é a dos se dedicam a representar aspectos do
folclore regional, muito especialmente que pintam o carnaval: Gina,
Deda, filha de Bajado, continuadora de sua arte, Aelcio Santos, Ana
Mergulhão, Cosmus, Deise, Henri Melo, Fernando Alves, Gilca Guimarães, Ricardo Coimbra, Uiara Lima, Luciana Mendes, Roberto Vieira.
calazans - pintura
99
Há os de inspiração religiosa, católica ou pagã, como: Maria do Monte, Alice Masieiro, Ana
Jesumary, Apolônio, Henry Melo, Irineu Gustavo Lopes, J. Rêgo, Margarida Ferreira, Paulo Francisco e Pedro Dias. A respeito destes dois últimos, e também de Cipriano Sanches, devo explicar que sigo um leque de classificações apoiado na ideia já exposta acima, de que “arte naïfe”
não é apenas arte ingênua, mas a arte espontânea que foge dos sistemas teóricos e críticos.
Se fôssemos inseri-los numa linha do tempo, em relação à história da arte, eles teriam as
seguintes características: Margarida Ferreira e Paulo Francisco têm influência da arte religiosa
latino-americana, onde se colocam os pintores de igrejas, inclusive os chamados “cusquenhos”;
Pedro Dias pinta como os maneiristas. Este assunto tem continuidade, porém em outra direção,
se considerarmos a obra dos irmãos Tiago e Marcos Amorim, artistas cultos cujas obras refletem
a pulsão de pintar como os seus pares. Esta atitude não significa simplesmente influência de
algo que lhes agrada, mas familiaridade ou consanguinidade de escolhas e motivos.
Esta vertente comporta muitos mais artistas, nomes de destaque na arte local que formam o
singular grupo do naïfes modernos como, além de Tiago e Marcos: Vilanova, Peter Bauer, Ivonaldo, Betho Balla, Marisa Reis, Sandro Félix, Fábio Luna, Nilo Baj e Lula Marcondes, Arlindo Soares,
Iza do Amparo, artista e ativista da ecologia, Fernando Augusto do Mamolengo Sorriso, Fernando
Azevedo, Pedro Índio, Paulinho D’Olinda, Silvio Botelho, Lula Marcondes, Carvalheira, Di farias.
Temos também pintores figurativos cuja forma de pintar, talvez por aproximação, se confunde com os naïfes e expressam um onirismo tendente ao surrealismo, como Marisa Lacerda,
Sílvia Pontual, Antonieta Cavalcanti, Eliana Leão e Flávia Salamandra, Dorys Monteiro, Lígia, Dete
Morais, Laura Francisca, Roberto Correia, Roselis Moura, Cássia Nunes, Marisa Varela, Silvana Carla, Fátima ferreira, Irineu.
Termino este rol citando os pintores de flores, pássaros e outros elementos da natureza
como: Roberto Correia, Roselis Moura, Lígia, Dete Morais, Anderson, Cecinha, Francisco Lapenda,
Lu Mendonça, Rodolfo Gouveia e Vera Méllo.
leonardo arcoverde - pintura
antenor vieira de mello
fcpsho
guaianases
aloisio magalhaes
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
102
onheci Antenor Vieira de Mello na Oficina
Guaianases de Gravura quando fui seu diretor artístico. Ficamos imediatamente amigos
e conservamos esta amizade até hoje. Ele é
arquiteto e professor de história da arquitetura da UFPE, mas acho que esta é sua mais simples atividade.
Antenor é, na verdade, um guerreiro das causas da cultura,
principalmente da preservação da cultura daqui de Olinda. Ele
é também um artista plástico e gráfico, um artista do papel,
principalmente.
Sua atividade como Diretor Presidente da Fundação Centro de Preservação dos Sítios Históricos de Olinda (onde pode
apoiar a criação e manutenção da Oficina Guaianases) e sua
aproximação de amizade e trabalho com Aloísio Magalhães,
que o convocou para auxiliá-lo na proposta para a UNESCO
de tornar Olinda Patrimônio da Humanidade, estão contadas
nesta conversa que publicarmos abaixo.
Raul Córdula
103
c
guilherme cunha lima - identidade visual da guaianases
estados, instituições focadas na questão da Defesa ‘Patrimonialista.
cartão convite da coletiva guaianases de gravura, 1984
Pernambuco foi um dos primeiros a respeitar essa decisão criando a FUNDARPE, fruto do Encontro
Querido amigo Antenor, eu gostaria de saber sobre a Fundação Cen-
dos Governadores. Três ou quatro anos depois, houve o que chamamos de Compromisso dos Prefeitos,
tro de Preservação dos Sítios Históricos de Olinda, sua relação com
no qual compareceram provocados e/ou solicitados pela SEPLAN PR. Não havia ainda Ministério do
a Oficina Guaianases de Gravura e outras realizações.
Planejamento. Era uma Secretaria de Planejamento da Presidência da República – SEPLAN PR, representada em Pernambuco pelo arquiteto Élvio Polito e funcionava no Forte das Cinco Pontas.
Antenor Vieira de Mello
Pensou-se em fazer um projeto nacional de recuperação do patrimônio histórico, principalmen-
Veja, naquela época, eu estava integrado na Prefeitura de Germano
te patrimônio histórico arquitetônico e urbanístico, não por causa do velho e sentimental gosto pelo
Coelho e criamos, a partir de Lei Municipal, o Sistema Municipal de
passado, mas fazer com que a restauração do patrimônio tivesse diretamente uma conexão com o
Preservação em Olinda. Nós tivemos muito cuidado com isso, leva-
desenvolvimento econômico, para geração de emprego e renda. Como fazer isso? A SEPLAN PR resol-
mos para a Câmara de Vereadores para ser discutido.
veu discutir de uma maneira mais ampla. E para essa discussão, convocaram os governadores. Só o
Naquela época, houve dois grandes encontros sobre Defesa do
Governo Federal tem poder para fazer isso. A ideia era restaurar os edifícios com recursos da SEPLAN e
patrimônio cultural nacional, de maneira bastante ampla. Um foi o
colocá-los a disposição da visitação turística. Não só restauração pura e simples, como se fazia antes,
Encontro de Governadores, alguns chamam Compromisso dos Go-
mas a restauração para uso. vernadores, e outro o Encontro dos Prefeitos. Se eu não me engano,
Então, você pega o Aljube de Olinda, a primeira cadeia eclesiástica do Brasil, e única, e transforma
o dos Governadores foi na Bahia, mas o Encontro dos Prefeitos foi
no Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco. Pega o Palácio Episcopal e transforma no Museu de
em Brasília. Na época, participaram todos os Governadores ou man-
Arte Sacra. Inclusive, tinha atrás dele um restaurante, O Relicário, que era uma maravilha. A Sé de Olinda
daram representantes e todos os Prefeitos do Brasil. A ideia era que
foi restaurada para visitação. Hoje está praticamente fechada, hoje não há um projeto de visitação.
se criasse o Compromisso dos Governadores e que se criassem, nos
Não se tinha nada e se fazia muito. Hoje, você precisa ter um ‘evento mania’ que eu chamo (MIMO,
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
104
105
FLIPORTO, Festival Internacional do Jazz). Olha o custo por trás dis-
conflito, evidente, entre o prefeito e o subprefeito, iria dar problemas sérios. Não tinha como evitar isso.
so? É algo fora do comum. O que eu acho sabe, Raul, é que eu tenho
Então, nós resolvemos criar um Conselho de Preservação. E o criamos com sete membros. Participava
afirmado: não sou saudosista, ao contrário, estou naquela concep-
ISPHAN, a FUNDARPE, o Instituto Histórico de Olinda, a Secretaria de Educação, um morador do Sitio
ção de Mario de Andrade ‘o passado é para reflexão não para imita-
Histórico, indicado pelo Prefeito como um representante da comunidade, e o Presidente da Câmara de
ção’. Eu não quero o passado para voltar para ele, pelo contrário, mas
Vereadores. Foram sete membros para gente não ouvir uma pessoa só. Isso eu achei extraordinário,
o que tenho sentido é a questão desse evento isolado.
esse ato de democracia de Germano Ele, como prefeito, não queria se impor como Prefeito do Sitio
Nessa época, que foi consubstanciado os encontros e os com-
Histórico, preferiu que um conselho ordenasse o que fazer.
promissos dos governadores, Pernambuco respondeu prontamente
Depois, nós criamos juntos, nesse sistema municipal de preservação, um tripé: a FCPSHO, que era o
e criou a FUNDARPE. E o primeiro município no Brasil a criar um siste-
braço executivo do Conselho, porque o Conselho não pode executar (ele cumpre um papel de aconselha-
ma municipal para preservação foi Olinda, pioneirismo extraordinário
mento, é um órgão de aconselhamento). O conselho precisa pensar e dizer: nós temos uma agenda de
do professor Germano Coelho.
intervenções, como fazer isto? Criando uma Fundação para executar essa agenda, que foi a FCPSHO, com
Ele foi para esse encontro, assinou o compromisso e disse: ‘es-
caráter fundacional. E o terceiro pé do tripé, era o Fundo de Preservação dos Sítios Históricos de Olinda.
tou comprometido mesmo, vamos criar aqui uma entidade de de-
Esse fundo, nós conseguimos aprovar em Lei Municipal que mandamos para a Câmara de Vereadores. A lei
fesa de preservação, restauração, de conservação do patrimônio’.
4119/79 28 de setembro de 1979. Foi aprovado nesse dia.
Convidou o arquiteto Jorge Eduardo Lucena Tinoco, meu amigo Tinoco, colega meu de turma, na universidade. Eu tava em 1979, com 4
Raul Córdula
anos de formatura. No encontro sobre a habitação, Tinoco me convidou
Este tripé ainda existe?
e disse: ‘tenho um trabalho para desenvolver em Olinda. O que tu acha?’.
Quando eu senti, me animei. Fazer preservação, patrimônio, pela minha
Antenor Vieira de Mello
vivência, pela minha cidade.. .tinha muita vontade de fazer tudo isso. Não. Existe só o Conselho. A Fundação foi desabilitada. Ela não foi extinta, porque ninguém pode ex-
Nos engajamos, eu e Tinoco, a pedido de Germano, e começamos
tinguir uma lei municipal, a não ser com outro projeto de lei extinguindo. A Fundação foi desabilitada
a trabalhar num projeto que ele mandou para Câmara dos Vereadores,
ainda no segundo governo de Germano. Ele criou o Sistema no primeiro e desabilitou no segundo por
criando um Sistema Municipal de Preservação. Na época, a ditadura
problemas administrativos.
militar, presente em tudo, tinha ameaçado transformar os sítios históri-
O Fundo continuou praticamente sem ser usado, agora foi habilitado. O Conselho foi reabilita-
cos tombados em âmbito nacional, em campos avançados do território
do também, mas, ao invés de sete membros, agora são quatorze. E no Fundo de Preservação não
nacional. Isto seria, digamos, uma intervenção: colocar um interventor
é mais permitido que se use recursos do Fundo de Participação dos Municípios – FPM. Antes se
e considerar os sítios históricos como Sítios Históricos Nacionais, patrimônios da união, digamos assim.
Com isso, se faria uma ingerência, uma intervenção, num muni-
usava 5% do FPM obrigatoriamente. O FPM é o dinheiro que o Governo Federal recolhe em imposantenor vieira de mello
tos e depois redistribui para os municípios. Praticamente, os municípios, 70% ou 80% do Brasil,
vivem desse FPM.
cípio fortíssimo como Olinda. E aí, nós discutimos muito isso. E tive-
E nós conseguimos que no Fundo de preservação fosse 5% do FPM. Isso foi uma grande jogada,
mos receio de que isso fosse efetivado. Até para se contrapor a essa
que deu à FCPSHO uma autonomia enorme, pois mesmo ela tendo pouco, o que ela tinha era sagrado.
ideia, nós quisemos criar, nesse projeto com Tinoco e Germano, algo
Todo mês, o FPM mensal da Prefeitura destinava 5% para o Fundo de Preservação. Com isso nós con-
diferente, ouvindo e discutindo com os profissionais, as pessoas da
seguimos fazer na época o maior programa de restauração integrada do Brasil aqui no Sitio Histórico,
localidade. Nós nos propomos a ouvir essas pessoas todas, patri-
mesmo com a Prefeitura praticamente falida. Isso foi extraordinário.
mônio vivo dessa cidade, e com isso nós achamos que Olinda, o
E na época, esse grupo começou a se encontrar na Rua Guaianases no ateliê de João Câmara – pri-
Sítio Histórico devia ter uma subprefeitura. Mas isso poderia criar um
meiro ateliê que ele teve em Pernambuco, quando trabalhava na série Cenas da vida Brasileira. Então,
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
106
para poder realizar cem litografias, ele adquiriu seu próprio equipamento. Ele conseguiu a mão de obra
de dois artesãos litográficos que ainda trabalhavam aqui, que eram Alberto e Hélio.
Hélio, praticamente, eu encontro todos os dias lá, no Laboratório Oficina Guaianases e Gravura
(LOGG), que hoje funciona no Centro de Artes da UFPE. Hélio parece ser o ultimo dos moicanos, dentre
os litógrafos. Todo o acervo da Guaianases – pedras, mesas, cavaletes, equipamentos vários e, principalmente, o acervo de litogravuras de mais de cem artistas que foram sócios-artistas – se encontra
hoje no Laboratório Oficina Guaianases e Gravura pertencente ao Departamento de Artes Plásticas da
Universidade Federal de Pernambuco lá no CAC, cedido em comodato. Agora a Guianases está registrada como um laboratório dentro da Universidade.
Raul Córdula
Esse comodato foi com João Câmara não é?
Antenor Vieira de Mello
Foi com Zé Carlos Viana, já no final, quando a Guaianases já não existia mais. Não se sabia o que fazer.
Zé Carlos foi Secretário, ele trabalhou nas prefeituras de Recife e de Olinda, e foi a pessoa que comigo
mediou estes assuntos. Como a Guaianases faliu coletivamente, o que fazer com esse acervo, este
material extraordinário?
Então, o grupo Guaianases fez uma proposta de vir para Olinda. Nós estávamos terminando a restauração do Mercado da Ribeira, pela FUNDARPE. O Mercado da Ribeira pertence ao município e estava
sendo restaurado. Os comerciantes foram colocados numa loja na frente, vizinha da Tasca de Azurara,
onde ficaram funcionando provisoriamente. Terminada a restauração, eles voltaram para os boxes, mas
o salão central e o porão não ficaram com nenhuma utilização.
Com a ligação pessoal que eu tenho com Zé Carlos Viana, ele foi um dos primeiros amigos que
eu tive aqui em Olinda, começamos a fazer desenho juntos, passamos noites em claro desenhando e tal. Eu tinha uma ligação muito forte com ele, e ele tinha com Delano, com o pessoal, Roberto
Lúcio, com essa turma toda.
E aí a Guaianases fez a proposta de ocupação. O salão principal e o porão do Mercado da
Ribeira, o lugar onde seriam feitas exposições permanentes da Guaianases e as exposições temporárias, temáticas, etc.
Raul Córdula
Como Diretor Artístico, convidado para isto por Liliane Dardot, a Presidente na época, e certamente
com a anuência da equipe gerencial da Guaianases, eu coordenei e escrevi textos para mais de dez
exposições. Tivemos perto de 100 sócios artistas, entre eles. Além de João Câmara e Liliane Dardot,eram sócios José Carlos Viana, Humberto Carneiro, Delano, José de Barros, José de Moura, José Patrício,
folheto da exposição olinda no nac,
sobre as ações desenvolvidas pela fundação
centro de preservação dos sítios históricos
de olinda no núcleo de arte contemporânea da
universidade federal da paraíba – nac/ufpb
composta pela coleção de quadros da
casa bajado de arte, por desenhos de
fachadas de casas da Rua do Amparo,
lançamento do livro “olinda carnaval
e povo” de autoria de josé athayde
107
utopia do olhar
cartaz da 1ª exposição
do grupo carasparanabuco
108
o litografo
Luciano Pinheiro, Samico, José Carlos Viana, Tereza Costa Rêgo, Mar-
Hélio Soares foi um dos poucos litógrafos
que restaram depois do advento do off
set e das técnicas atuais de impressão.
Hoje, ele assiste os artistas que cultivam
a litogravura como meio, expressão e linguagem no comodato estabelecido entre
a Oficina Guaianases de Gravura e o Departamento de Artes da UFPE.
cos Cordeiro, Tai Bunheirão, Guilherme Cunha Lima, Lilian Lima, Mário
Ricardo, Maria Tomaselli, Piedade Moura, Giuseppe Baccaro, Dulce
Lobo, Leonardo Filho, José Cláudio, e Amélia Couto.
Antenor Vieira de Mello
Eu consegui convencer o Prefeito Germano Coelho. A proposta dos artistas era de transferir a Guaianases de Campo Grande (da Rua Guaianases), para Olinda. O que foi feito no inicio de 1982, quando o prédio ficou
pronto. Aí, nós instalamos lá a Oficina Guaianases de Gravura, que deu
àquele trabalho extraordinário a reabilitação dessa visão coletiva. Com os
Décadas atrás, quando a Guaianases era
a rua do ateliê de João Câmara, no Campo
Grande, ele já revelava para os artistas os
mistérios estampados nas pedras através
do seu conhecimento de mestre. Evoluiu
ao lado da boa litogravura pernambucana
e continuou ao lado de João Câmara e seus
amigos, quando foi criada por eles a Oficina Guaianases de Gravura em Olinda.
artistas funcionado nos boxes, inclusive do próprio Mercado da Ribeira.
Fui o porta-voz e a figura que fez essa intermediação entre a Prefeitura e o grupo Guaianases. Pela ligação que eu tinha nos dois momentos: eu era Diretor do Centro de Preservação e era ligado ao grupo
Guaianases por relações de amizade. E foi assim que a gente conseguiu
trazer a Guaianases para Olinda. Até o momento em que não deu mais
ela voltou, e saiu e foi para UFPE.
Antes disso, a Guaianases passou um tempo no Sobrado 28 (da
Rua do Amparo), depois passou para a Ribeira. Foi de novo para o Sobrado 28 e depois foi para a Universidade Federal de Pernambuco, onde
Hoje, Hélio mostra os frutos de seu trabalho em dois sentidos. Primeiramente, em
gravuras criadas por ele em estampas carregadas de narrativa poética que transparecem nos casarões iluminados “por gotas
de silêncio”, como diria o poeta paraibano
Vanildo de Brito, que escorrem do céu, e
florestas brilham como que eivadas por
personagens elementais.
está até hoje num trabalho extraordinário, muito vivo. É um laboratório
onde todos os alunos de Artes Plásticas passam por lá, imprimem litografia com um o impressor Hélio Soares. Eu só temo porque está Hélio
sozinho. Hélio é um homem de idade. Alberto (seu companheiro no período da Guaianases) já faleceu e Hélio está com glaucoma.
Hélio Soares de tanto imprimir tornou-se artistas também,
fez uma exposição ao lado de sua discípula, Dra. Hilda Andrade, para uma exposição em João Pessoa. Tive o prazer
de apresentá-la:
carasparanabuco
A Guaianases foi pródiga em revelar artistas e em capacitar
Num outro sentido, vê-se que Hélio fez jus
à generosidade com que os artistas o aceitaram como um deles ao apresentar uma
aluna e compartilhar com ela esta mostra.
Trata-se da gravadora Hilda Andrade, dona
de uma pequena, mas importante, história
na arte regional. Hilda é paraibana integrada na vida artística da cidade de João Pessoa, geradora de tantos talentos. Já possui
um bom número de exposições locais, e
uma bela e poética maneira de estampar
imagens nas pedras litográficas.
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
110
na prática da litografia. Porém, sua importância não fica aí.
Lá se encontravam artistas de várias gerações e isto provocava o diálogo necessário para um grupo de artistas composto democraticamente. Mas outros diálogos aconteciam
entre artistas da mesma linguagem. E disso se formaram
alguns grupos associados aos mesmos fins. Um desses
grupos, talvez o mais atuante, foi o Carasparanabuco, uma
forma de reunir amigos em torno de ideias e manifestações,
e fazerem exposições juntos.
O Caraparanabuco nasceu mesmo da cabeça de Maurício
Silva, um atuante artista que hoje vive em Paris com sua mulher e filhos. Com ele estavam: Alexandre Nóbrega, Eduardo
Melo, Felix Farfan, José Patrício, João Chagas, Marcelo Silveira
e Rinaldo. Eduardo Melo fez-me a gentileza de acender minha
memória para esta narrativa compartilhada. Eduardo, além
de artista é animador cultural, criador e produtor da Festa da
Lavadeira na Ilha de Santo Aleixo. Ele frequentou a Guaianases quando bem jovem, como todo o grupo Carasparanabuco, e fez sua primeira exposição de obras pintadas com tinta
acrílica sobre papel em 1986 no MAC.
Fizeram três exposições, a primeira em 1987 no MAC de
Olinda. A segunda foi em 1988 na Galeria Brasileira de Arte
que o colecionador carioca Crisaldo Alves instalou no Recife naquela década, ele possuía importante acervo de arte
naïfe. A terceira foi na Galeria que Gislaine Andrade teve na
época no Poço da Panela.
Depois dessa exposição, o grupo não fez mais nada: se
desfez, mas deixou sua marca na memória dos interessados em arte que viveram aqueles tempos caracterizados
por grupos de artistas, ou como se diz hoje, por coletivos,
como os que se instalaram no Bairro do Recife, entre eles a
Quarta Zona de Arte e o Grupo Camelo.
Maurício Silva foi animador cultural em Olinda e também
no Recife. Uma das manifestações mais interessantes que
esta cidade viu foi criada por ele: o Arte na Barbearia, instalação que constava numa exposição organizada anual-
111
mente na barbearia de Seu Isnar, que ficava no fim da Rua
Bernardo Vieira de Mello, já chegando nos Quatro Cantos.
Ele convidava todo mundo e enchia as paredes da barbearia com quadros. Misturava as obras dos convidados
com reproduções de Picasso, Matisse, Pollock, e muitos outros nomes internacionais. Arte na Barbearia se comportava,
segundo ele me disse um dia, num exercício de democracia,
nivelando os artistas por suas obras, não por seu prestígio.
Instalação semelhante ele fez quando foi morar no Recife, o Arte na Galeria, que teve duas edições. Ele enchia a parede da antiga galeria onde funcionava o famoso Maltado,
tradicional e popular casa de lanches do Bairro do Recife. aloisio magalhaes
maurício silva - xilogravura, edição guaianases
aloisio magalhães
Minha admiração por Aloísio Magalhães vem de muito tempo,
desde a criação da Escola Superior de desenho Industrial –
ESDI, no Rio, na década de 60. Ele sempre foi herói: lutando
por coisas indispensáveis na época como O Gráfico Amador,
a ESDI e o Centro ional de Referência Cultural, que preparou
uma geração de profissionais, entre eles designers, arquitetos,
historiadores, advogados, engenheiros e artífices para apoiar o
órgão executivo da preservação de nosso patrimônio de pedra
e cal e também do nosso patrimônio imaterial. Acho que sua
memória merece um culto autenticamente olindense, o bem
que ele fez à cidade é impagável.
Não estive próximo dele. Por isso, pedi a Antenor o depoimento que se segue, a seu respeito, continuando nossa conversa:
Antenor Vieira de Mello
Um dos meus melhores vínculos com a Guaianases foi com Aloísio Magalhães, que resolveu fazer aquela série litográfica sobre a paisagem de
Olinda. Esse material fez parte do pedido de patrimônio natural da humanidade. Ele editou entre onze a doze litografias, uma capa abrindo o
portfólio, onde tem o símbolo de Jesus Salvador do Mundo, padroeiro da
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
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bajado na oficina guaianases desenhando uma pedra litográfica - foto do autor
humberto carneiro - litogravura, edição guaianases
cidade, que é a Esfera Armilar (o mundo com a faixa que determina o equador, encimado pela cruz). Ele abre
grafias. Como é que ele fazia? Ele pegava em cima da pedra, sentado lá no cavalete, colocava a foto presa
com isso dez as litografias das paisagens de Olinda. Inclusive, um tríptico extraordinário: três litos ligadas
com um pregador de roupa e ia desenhando em escala compatível, inclusive com a impressão inversa, que
umas a outras com o perfil completo do Sítio Histórico.
é o mais difícil da litografia. Para quando a impressão for feita, sair no positivo. Isso é uma loucura.
E eu participei diretamente dessa história porque Aloísio, quando chegava às sextas de Brasília, subia
Geralmente, ele passava em Olinda o sábado e o domingo, porque durante a semana ele estava em
com o carro do IPHAN e passava no Sobrado 28 da Rua do Amparo. Ele tinha uma forma muito carinhosa
Brasília. Aí, coitado, era sábado e domingo na litografia, não é? E o detalhe: ele tirou 100 cópias de 0 a
de me chamar: ‘meu arquiteto’. Aloísio era uma grande figura.
100. Dessas, 100 cópias, de cada um, que são 1100 peças, ele assinou prioritariamente os 21 conjuntos
E aí ele dizia: ‘meu arquiteto, vamos lá para casa, vamos conversar, tenho umas histórias’. Era a
para os membros da UNESCO. Juntou a isso o livro Olinda - Segundo Guia Sentimental de uma Cidade,
gente criando aquela história do título (Título de Olinda como Patrimônio Cultural da Humanidade), de
de Gilberto Freyre, e fez uma carta extraordinária. E contratou o fotógrafo Pedro Lobo para registrar a
como encaminhar a proposta.
arquitetura da cidade. O conjunto de fotografias de Pedro Lobo transformou-se no livro Linda Olinda,
Um dia, ele saiu com uma máquina fotográfica e escolheu dez pontos em Olinda para fotografar e
atráves do talento da designer Gisela Abad.
disse: ‘vou editar em forma litográfica, eu quero mandar para os conselheiros do ICOMS (Conselho In-
Durante a produção, o fotógrafo teve que captar a imagem do Largo e da Igreja do Amparo e o heli-
ternacional de Monumentos e Sítios da UNESCO, que possui 21 membros conselheiros, Aloisio, por sua
cóptero perdeu sustentação. Rapaz! Quando ia batendo no chão, há uns cindo metros, o cara deu uma
condição de Diretor do IPHAN, era um deles). Vou fazer um portfólio em litogravura e mandar para cada
acelerada e o helicóptero recuperou. Só que arrancou o telhado de sete casas dali e parte do Clube do
um dos conselheiros, com essa coleção de imagens que pretendo fazer’.
Vassourinhas. Quase era uma tragédia. Depois, pelo Centro de Preservação, eu consegui arrumar todos
E pegou uma das grandes pedras litográficas da Oficina e começou a desenhar com bastão as lito-
os telhados a pedido de Aloísio.
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
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Esse inventário fotográfico foi feito inclusive com helicóptero. Com isto, ele fez um inventário lito-
ceu o valor intrínseco do monumento, como valor local extraordinário
gráfico, com paisagens da Rua da Misericórdia, do Convento Franciscano e tal. Eu tenho em casa algu-
e financiou. Só que em pouco tempo ele estava ferrado, com pou-
ma delas assinadas, porque Hélio, o impressor na época, não recebia em dinheiro, recebia em obras.
quíssimos recursos. Eu disse: ‘mande sua placa e coloque aí, mas
Você fazia o P/A e dava um conjunto para o impressor. Uma ou duas provas Boas Para Tirar (BPT) ficava
eu não tenho nada, não estou querendo nada seu. Eu só quero que
para o acervo da Oficina Guaianases. Depois das BPT, o artista fazia as Provas do Artista (PA) – até 10
você me homenageie, reconhecendo as obras que nós vamos fazer’.
cópias numeradas e assinadas, e por fim fazia a impressão, este era a norma da oficina.
Quinze dias depois, estava a placa do Governo Federal. Foi a
Sinto muito que Olinda deixou passar recentemente, dia 13 de junho, trinta anos da morte de Aloisio,
contrapartida que eu dei para ele, por ter financiado a Igreja São
que coincide com os trinta anos do título de Patrimônio Cultural da Humanidade que Olinda recebeu
Sebastião do Varadouro, afinal de contas ela foi extraordinária.
por causa de seu trabalho apaixonado. Como é que essa cidade não tem memória suficiente para
Então, são esses pequenos acontecimento que vão se somando.
ressaltar esse trabalho que Aloísio fez, especialmente nesse ano de Patrimônio Cultural da Humani-
Eu não sou saudosista, isso é apenas um relato que a gente está
dade, esse é o meu grande protesto. Eu, no dia 13 de junho, acordei às 8:00 da manhã, me levantei
fazendo. Se a gente não fixar a nossa memória, nós corremos um
tranquilamente e fui para frente das duas casas dele na Misericórdia e conversei bastante com ele.
sério risco de passar por esse vexame de tantos que se aproxi-
Na felicidade, não fui para chorar, nem para ter tristeza, mas pela alegria de aquele amigo que a gente
mam das histórias, das histórias dos outros, para dizer que tinha
conviveu e fez tantas coisas, tantas coisas juntos.
sido dele. Então eu acho que esse trabalho que você está fazendo
é fantástico. É um depoimento ao vivo com essa visão localista do
Eu não esqueço nunca: uma vez estávamos juntos num sábado à tarde, na Praça Monsenhor Fabrí-
relato do cotidiano.
cio, olhando para o Palácio dos Governadores (o edifício da Prefeitura de Olinda), que nós começamos
a fazer obra de restauração praticamente sem ter dinheiro nenhum; e mesmo assim colocamos a placa
Foi isso que a UNESCO reconheceu em Olinda: o patrimônio vivo
a FCPSHO, que, aliás, era obrigada pelo CREA. Eu era o responsável técnico. A Prefeitura de Olinda estava
dessa cidade e patrimônio vegetal, não foi a arquitetura. Se você
abandonada há quase cinco anos, sem uso, o assoalho tinha praticamente desmoronado, estava todo
olhar Ouro Preto, Parati é muito mais uniforme, muito mais museo-
escorado, um problema sério.
lógico do que o Centro Histórico de Olinda. Mas o que a UNESCO re-
Na verdade, eu estava sentado sozinho num banco da Praça quando chegou uma caminhone-
conheceu como fantástico foi a história do patrimônio vivo. E sobre
te com Aloísio. Ele tinha um jeito engraçado de pendurar o paletó de lado, no ombro. Só que ele não
isso, eu estou extremamente assustado. Como é que a gente não
pegava com a mão esquerda, ele pegava com direita, e o braço atravessado aqui no corpo, ficava
tem a memória de Julião das Máscaras, como é que a gente não tem
muito bonito. E ele subiu e sentou-se do meu lado. Eu estava simplesmente apavorado: ‘Meu Deus
a memória de Lírio Macacão, como é que a gente não tem a memória
do Céu, como é que eu vou fazer para restaurar esse negócio?’. O IPHAN não tinha absolutamente
de Dona Maria do Monte? Como é que gente perde a memória de
nada; Aloísio estava ferrado, não tinha um centavo um caixa, e eu sentado naquele banquinho
Clídio Nigro, como é que a gente perde a memória de Bajado? Não é
de pedra na frente do Palácio junto da estátua do Monsenhor Fabrício, pedindo ajuda a ele para
possível que a gente não possa criar uns doze ou quinze volumezi-
restaurar esse negócio.
nhos com micro histórias dessas histórias todas?
Aloísio saindo do carro, me vê, manda parar o carro e vem com paletó de lado, o jeito elegante
dele, senta do meu lado e diz: ‘Arquiteto, eu estou muito triste com isso. Essa obra que você está
fazendo é uma das mais importantes do Sítio Histórico. Eu não tenho um centavo para lhe ajudar
nessa obra. Gostaria de ter a placa da Fundação Nacional Pró Memória (que era na época um órgão
do ISPHAN) aqui, afinal de contas, é uma obra extraordinária.
E ele tinha financiado a igreja de São Sebastião no Varadouro para gente. Foi a primeira vez que um
Município teve dinheiro direto do Governo Federal, um convênio do IPHAN com a Fundação Centro de Preservação dos Sítios Históricos de Olinda na Igreja São Sebastião do Varadouro. Quer dizer, ele reconhe-
maria tomaselli
litogravura, edição guaianases
r
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ut
d
o
r
p
utopia do olhar
arte e carnaval: cadeia produtiva
118
carnaval de Olinda é forma e cor por toda
parte. É uma autêntica expressão de “arte
em toda parte”: um delírio para os pintores
e fotógrafos que podem capturar suas imagens sob a luz do Sol tropical nessa cidade
que todo ano se apronta para sua chegada.
O carnaval sempre esteve relacionado às artes plásticas. É um
tema recorrente na obra de Bajado, nosso grande artista naïfe,
pintor do povo, documentarista da cultura viva que ele via passar na rua, diante de sua janela, e que a retratou nas cenas da
vida simples. Pintando o carnaval, ele expressou claramente a
alma do povo que produz esta cultura alegre e resistente.
O carnaval de Olinda é uma expressão coletiva e multifacetada, e, assim, ele é gráfico, plástico e simbólico. Gráfico quando se manifesta nos enfeites das ruas e das casas, onde os
ornatos, singelos como as fitas de plástico colorido, se compõem com os ornatos das fachadas de estilo “bolo de noiva”
do tempo da arquitetura eclética do início do século passado.
Modernamente gráfico como o que expressam os ornatos
e símbolos criados, por exemplo, por Petrônio Cunha para os
carnavais de 1985 – Olinda 450 Carnavais; como o símbolo e
as torres da decoração de Rua do “Carnaval do Cometa”, onde
também se homenageava o compositor Lídio Macacão; o símbolo e decoração do carnaval 1987 – Olinda de Olho na Constituinte, em 1988 com Olinda Terra do Povo e em 2002 com uma
série de elementos feitos com figuras adesivadas cortadas a
laser. Petrônio criou também símbolos e alegorias para os blocos Eu Acho É Pouco, A Turma da Gaia, e o tradicional bloco Flor
da Lira, entre 1987 e 1988. O carnaval é gráfico também pelas fantasias dos blocos
do “Eu Sozinho”, charges vivas, atrações à parte criadas por
foliões cheios do mais bom humor, no qual muitas vezes aparecem textos, palavras, riscos e desenhos. Mas ele também é
plástico por sua grandiosidade, seu misto de cores e texturas
onde a forma impera tridimensionalmente com ritmos e movimentos que produzem composições magníficas. Ninguém
o
petrônio cunha
esboços para a decoração do carnaval de olinda
119
interpreta melhor este universo caótico do que José Cláudio. Suas pinturas de carnaval são
generosas modulações de cor e tinta, objetos de culto ao olhar sensível, malhas gestuais que
retratam este povo em sua mais livre e pura manifestação.
Plástica também é a obra dos bonequeiros como Mestre Julião, já falecido, de Silvio Botelho e tantos outros que confeccionam objetos, adereços e instrumentos de percussão
nascidos do imaginário de um povo eivado de mitos oriundos da mestiçagem cultural. Para
o carnaval de 2003, porém, os adornos foram criados pelo Grande Mestre Fernando Augusto, do Molengo Só Riso, e confeccionados, sob seu comando, por artesãos da Fábrica do
Carnaval montada por ele.
É extraordinariamente plástico o trabalho das costureiras de fantasias e das maravilhosas
bordadeiras que confeccionam as indumentárias dos maracatus com lantejoulas e vidrilhos
sobre veludo. Como fez por toda sua vida, a notável artesão do bordado, Maria do Monte, e faz
ainda a equipe do Maracatu Piaba de Ouro, do saudoso Mestre Salú, conduzida hoje por Manuelzinho, seu filho primogênito. Manuelzinho e equipe fizeram o estandarte do I Encontro da
Diversidade Cultural, a pedido da Secretaria de Identidade e Diversidade Cultural do Ministério
da Cultura no Governo Lula, cujo diretor era Américo Córdula. O estandarte foi confeccionado
numa jornada de trabalho que teve a duração de 43 dias e noites nas quais foram utilizadas
de 500.000 lantejoulas. Trata-se do maior estandarte confeccionado no Brasil: mede 12 X 6.30
metros; não se conhece outro igual no mundo. Os desenhos, de autoria dele e da equipe, foram baseados em símbolos da diversidade cultural brasileira representados pela cultura material popular através de imagens indígenas, ciganas, negras, de deficientes físicos e idosos,
e também exemplos da cultura da infância, de artistas naïfes, de pessoas com transtornos
psíquicos e homossexuais, entre outros possíveis exemplos.
Simbólicos e universais são os Bonecos Gigantes que dominam a cidade no período do carnaval. Representam situações poéticas e inusitadas como os tradicionais e pioneiros O Homem
da Meia Noite, A Mulher do Dia, O Menino da Tarde. Ou são homenagens a personalidades da cidade, como A Prefeita Luciana, O Guarda Noturno, A Estudante, entre muitos outros temas.
As troças, clubes e maracatus também são adornados com objetos simbólicos. A
Pitombeira e o Elefante parecem ser os mais populares. Seus símbolos esbanjam plasticidade: a Pitombeira pelo elemento paisagista da árvore; o Elefante pela figura do animal
plástico e volumoso.
Em 1982, quando estive à frente do Núcleo de Arte Contemporânea da Universidade
Federal da Paraíba, juntamente com Antenor Vieira de Mello, programamos uma exposição intitulada Olinda em João Pessoa. Tratava-se de uma mostra do trabalho realizado na
FCPSHO apresentada por seu presidente Antenor, onde constava a mostra das 40 pinturas
de Bajado adquiridas pela Prefeitura de Olinda para formar a Casa Bajado de Arte, e ain-
utopia do olhar
arte e carnaval: cadeia produtiva
120
da uma mostragem dos desenhos das fachadas das casas
tombadas feitas pelos arquitetos e estagiários da Fundação,
e para terminar o livro de José Athayde Olinda Carnaval e
Povo, editado pela Fundação, com projeto gráfico do designer Guilherme da Cunha Lima, professor da UFPE e autor, entre outras coisas, das logomarcas da Fundação e da Oficina
Guaianases de Gravura.
Pude escrever três textos para o jornal A União comentando a exposição. No dia 24 de abril, foi publicado o texto Olinda
Carnaval e Povo sobre o livro de Athayde, que começo assim:
“Perfeitamente bem embalado pelo projeto gráfico de Guilherme
Cunha Lima, este livro de José Athayde, produzido pela Prefeitura
de Olinda através da sua Fundação de Preservação dos Sítios Históricos de Olinda, vem a ser o mais importante documento sobre a
história recente desta cidade que preserva, ao lado de sua arquitetura, a vida cultural do seu povo, seu maior patrimônio”.
No dia seguinte, no mesmo jornal, foi publicado Olinda Para
Todos, no qual digo, depois de citar o conhecido verso de Carlos Pena Filho, onde ele afirma que Olinda é só para os olhos:
“Eu, por mim, peço desculpas ao poeta e afirmo: Olinda é para todos
os sentidos! Quem duvidar que se dirija à Rodoviária de onde, de 15
em 15 minutos, e por 300 cruzeiros e duas horas de paciente viagem,
aportará no Varadouro das Naus, porta de Olinda, e conquistará mais
um dia na vida”.
amélia couto
fotografia do boneco de solon
O último dos três textos intitula-se Olinda Carnaval, título dos
dois LPs também lançados na exposição, produzidos pela fábrica de disco pernambucana Rozenblit em 1980 e 1982.
Vemos hoje a ideia de patrimônio intangível, ou imaterial, a
ideia do saber como patrimônio, e temos a sensação de que
existe algo por que lutar. Refiro-me à ideia de que nossa cul-
121
tura é tão singular como qualquer outra. Nosso saber coletivo
é tão importante como o de qualquer cidade semelhante, mas
talvez nós tivemos sorte de ter parte disso preservado e cultuado, embora para isto seja preciso muita luta, muito trabalho
e muitas derrotas também.
a cadeia produtiva
nas artes visuais em recife e
olinda
A cadeia produtiva das artes visuais em Recife-Olinda se
define muito bem: é uma fonte de recursos para os artífices,
especialmente os carpinteiros de telas e molduras que vivem e trabalham nestas cidades gêmeas onde vivem tantos
artistas com seus ateliês e oficinas criativas. Alguns destes
artistas atendem a duas direções, à criação artística e ao
ofício de carpinteiro, restaurador, acondicionador de obras
em papel, etc. para atender a demanda sempre crescente.
Exemplo eloquente é o de Marcelo Peregrino Samico, por
exemplo, além de pintor e xilogravador, é moldureiro e galerista, dirige a Galeria Sobrado que divide com Célida, sua mãe,
bailarina clássica, hoje professora de Yoga, e com sua irmã
Luciana, professora de dança moderna e terapeuta corporal.
Atualmente Marcelo está associado ao colecionador e também pintor Armando Garrido no Escritório de Arte Peregrino
Garrido, que funciona na Galeria Sobrado – Rua 15 de Novembro, Olinda. Com isto, os dois estendem a atividade artística
aos serviços auxiliares da arte que compreende complexa
cadeia produtiva, como veremos.
Quando precisei contratar alguém para limpar, encerar e
arrumar meu ateliê Marcelo me apresentou a Seu Paulo, que
trabalha para seu pai Gilvan Samico, para Guita Charifker e outros artistas da Cidade Alta. Especializou-se nisso. Sabe tudo
sobre tinta a óleo, solventes, pincéis e telas. Segura as obras
com delicada firmeza e as movimenta pra lá e pra cá com a
utopia do olhar
122
competência de um técnico de museu. O ateliê ficou um brinco (Não deixei, porém, que ele
removesse as manchas de tinta de eventuais pinceladas e escorrimentos que caíram das
telas: as manchas num ateliê de pintura ficam melhores do que um frio um impecável lustro).
Pouco se percebe mesmo os seus moradores, que em Olinda existe uma economia estruturada nestas atividades. Não me refiro à arte e ao artesanato, mas aos ofícios que os
tornam viáveis e facilitam a vida dos artistas. Falo de arquitetos como Abel Carnaúba, de
Olinda, que projetou o ateliê de José Cláudio dentro de padrões de iluminação que permite
a luz natural o dia inteiro, com aberturas na parede para passar telas de grandes formatos.
Abel também projeta e confecciona molduras para vários artistas, além de embalagens de
todo tipo. Ele pioneiro, muito anterior a Marcelo, está aqui há pelo menos quatro décadas. O
interessante é que Marcelo, muitíssimo bem equipado, não tomou sua freguesia, na cidade dupla de Recife-Olinda há mercado para todos, pois ainda existem muitos moldureiros,
como Etiene das Neves, Manoel Francisco da Silva e os irmãos “dos Santos”: Carlos Alberto,
também conhecido como Pezão, Marcos Antônio, Augustinho e Fernando Luís. E ainda temos “Sonrisal” e “Chapolim”, auxiliares de moldureiros, Seu Raul carpinteiro e o Super-Arruda,
o carpinteiro especializado em restauração responsável pela parte prática da montagem do
Altar da Igreja do Mosteiro de São Bento de Olinda no Museu Guggenheim, em Nova Iorque.
Lembro que os carpinteiros de arte são, além dos simples moldureiros, aqueles que confeccionam chassis de telas, cavaletes e embalagens. Geralmente também esticam tela, que
é uma especialidade, e auxiliam no transporte das obras. Neste setor existe outro segmento
profissional que da cadeia: os que além de embalar e deslocar as obras na cidade, também as
encaminha para seguro e despacho aéreo ou terrestre.
Estes artífices são os mais próximos do trabalho dos artistas, mas significam apenas
início da cadeira produtiva, pois a produção de uma exposição vai muito mais além, e emprega muito mais pessoas.
No Recife, onde existem galerias mais fortes do que em Olinda, a coisa funciona mais ou
menos assim: começa-se pela curadoria que geralmente emprega o curador e seus auxiliares como fotógrafos e pesquisadores. Depois entra o designer de exposições, o expografista,
especialista em dispor as obras no espaço da galeria, que para tanto utiliza o trabalho dos
montadores de exposições, que são os que penduram as obras bidimensionais na parede ou
dispõem as tridimensionais no espaço. Depois disso vem a colocação das fichas das obras
e dos textos curatoriais que eventualmente se colocam nas paredes. Esta fase emprega o
designer e empresas de impressões especiais, com signs, por exemplo. No fim da montagem
entra o iluminador.
Paralelo a isto acontece o trabalho de marketing que envolve a comunicação em vários
níveis: jornalismo, peças gráficas impressas e convite eletrônico que hoje também funciona
arte e carnaval: cadeia produtiva
123
no campo das redes sociais. Nessa fase é fundamental o trabalho do designer gráfico, responsável pela identidade visual dos impressos e pela imagem da exposição como um todo. O designer, por sua vez, vai utilizar o trabalho de um produtor gráfico que atuará dentro da gráfica
que vai imprimir. Uma vez pronto o catálogo, ou melhor, o conjunto de papelaria que inclui geralmente também convite e entra-se na etapa da distribuição, a relação profissional será com
os Correios. As galerias de arte mais bem equipadas possuem, como todo empreendimento
comercial, uma assessoria que controla o mailing list. Esta mídia não será aplicada apenas na
distribuição do material impresso, mas também no convite eletrônico – eis o momento do web
design. Mas o que coroa o sucesso de uma exposição é a imprensa, para tanto as galerias
utilizam uma assessoria hoje feita através de escritórios especializados.
Até agora não falamos do galerista, o empresário de todo este empreendimento, que não
trabalha sozinho, mas com a assessoria de secretários, recepcionistas e funcionários de
manutenção da galeria. Mas o principal trabalho deste grupo é o vernissage. Para tanto será
necessário a contratação de um bufê com uma equipe de garçons, equipe de segurança e
serviço de manobristas. Só então entra a ação de venda, propriamente dita, que geralmente
não é feita apenas pelo galerista, mas também através de arquitetos e outros intermediários
que muitas vezes entram na divisão do bolo.
Se tivéssemos um conjunto profissional como este para realizar apenas um evento, se
pensaria em desperdício. Mas não, a coisa não se limita a isto. Uma galeria como a Arte Plural, por exemplo, uma das cinco maiores do Recife, que é também especializada em exposições de fotografias, acrescentando ao fluxo de trabalho a impressão e edição fotográfica,
faz em média seis exposições por ano, oferecendo também ao público cursos técnicos de
fotografia, um Sarau Literário mensal e um birô de impressão fotográfica.
Até agora falamos da iniciativa privada, mas a atividade cultural pública, os espaços
culturais oficiais, como a Galeria Janete Costa do Parque Dona Lindu ou o Museu de Arte moderna Aloisio Magalhães, ambos da Prefeitura do Recife, ou mesmo os particulares, como os
institutos Santander, Itaú, Caixa Econômica ou Banco do Brasil, também utilizam a mesma
cadeia produtiva, porém com o acréscimo das ações educativas que tanto têm se desenvolvido em todo o Brasil.
Outra consequência da produção cultural de arte, talvez a mais almejada pelos artistas, é o
colecionismo. Na cidade dupla de Recife-Olinda existe uma estrutura profissional que permite i
bom desempenho deste segmento, como bons restauradores e técnicos da área que proporcionam o acondicionamento da obra, o manuseio, o transporte e o acompanhamento de obras
importantes, geralmente de museus, em viagens. Um caso notável foi o envio do altar da Igreja
do |mosteiro de São Bento para ser exposto no Museu Guggenheim, em Nova York. O altar, uma
obra rococó do século XVIII todo dourado, que pesa mais de uma tonelada, foi restaurado, des-
utopia do olhar
124
montado, transportado para Nova York, instalado devidamente no Museu, e teve todas estas
operações repetidas no seu retorno. Tudo isto feito por técnicos do Recife, da equipe da Fundação Joaquim Nabuco, tendo à frente a restauradora Pérside Omena. Foi nesta ocasião que o
carpinteiro Arruda foi homenageado pelo Curador Chefe do Guggenheim com uma camisa do
Super Homem, em alusão ao fato de que os técnicos do museu se temeram fazer a montagem
do altar, e Arruda tranquilamente, com um jogo de cunhas de madeira e outros assessórios,
resolveu o problema. Os amigos passaram a chama-lo de Super Arruda.
Não se fez ainda uma investigação sobre a extensão dos elos desta cadeia, mas sabe-se
que se pode colocar, lado a lado, restauradores de telas, papéis, madeiras, metais, ou qualquer
outro material artístico; designers gráficos; indústria gráfica, editores de videoarte, assessores
de imprensa, jornalistas culturais, advogados de direito autoral, agentes de seguro, bufês de coquetel, e os galeristas com suas equipes. E há também os faxineiros, como o citado Seu Paulo.
Vamos além, existe a produção escultórica onde se emprega profissionais como modeladores, fundidores de vários materiais como metais e cimento, e de várias técnicas, como
areia e cera perdida, e ainda ceramistas e/ou queimadores de cerâmica – Francisco Brennand, por exemplo, emprega um verdadeiro contingente de auxiliares. Na área da escultura
em metal, além dos fundidores temos os soldadores com toda sua gama de material e técnicas. Na arte contemporânea materiais plásticos como poliéster, poliuretano, isopor e outros,
estão presentes, e para cada técnica há um especialista.
Aliás, no território da arte contemporânea esta cadeia se estende muito. A começar pela
produção fotográfica e videográfica, que exige técnicos que não só saibam utilizar suas máquinas, mas que tenham a compreensão de que estão fazendo algo diferente de um simples
registro. Uma parte importante do que acontece com a arte de agora é o que chamamos de arte
pública e arte de rua. São duas coisas diferentes, arte pública tem um sentido de propriedade,
de um bem público tradicionalmente concebido como as esculturas, os bustos, a arte cemiterial ou a arte moderna e contemporânea implantada nas cidades. Arte de rua é outra coisa,
não visa a permanência, mas a intervenção. Trata-se do grafite, da pichação, da performance,
da intervenção urbana, por exemplo. Não é possível enumerar o número de profissionais que
atuam nestes campos, pois cada vez se inventam coisas ligadas às novidades tecnológicas e
às metáforas urbanas. Exemplo é a arte que circula nas redes sociais. Não há limite.
Vale lembrar a produção de livro de artista, em dois sentidos: o livro sobre artistas que
hoje forma um verdadeiro segmento de nossa produção cultural, e já é assim há muito tempo em vários países, que tem sua própria cadeia produtiva ligada ao mercado editorial. E o
“Livro de Artista” propriamente dito, a arte em forma de livro, categoria surgida na arte contemporânea paralelamente à “Vídeo Arte”, ao “Cinema de artista” (também chamado Quase
Cinema), à “Xerografia” e à “Arte Correio”. Obviamente estes segmentos comportam seus
arte e carnaval: cadeia produtiva
125
próprios artífices, que vão desde o encadernador, o tipógrafo, o cameraman, o locutor, o
impressor de xerox, o carteiro, etc.
Não quero terminar aqui minhas considerações. Se venho de Olinda devo citar também a cadeia produtiva do carnaval porque nela existe uma grande participação de artistas e artesãos. Antes é preciso dizer que o carnaval que o carnaval, como produtor de
renda, funciona o ano inteiro. Não falo apenas no setor de fantasias e alegorias, que em
Olinda é magistralmente tocado por costureiras, bordadeiras e escultores dos bonecos
feitos em papel machê ou de artesãos de máscaras e adereços. Neste complexo está o
trabalho de designers do Carnaval, os que projetam as alegorias das ruas, que por sua
vez empregam um batalhão de pessoas. Refiro-me aos arquitetos Carlos Augusto Lira,
do Recife, Petrônio Cunha, bonequeiro Fernando Augusto Gonçalves, criador do Mamolengo Só Riso, e o bonequeiro Silvio Botelho, todos de Olinda.
Falo também do setor musical, dos maestros, compositores, cantores, músicos de orquestras, fabricantes de instrumentos musicais, de dançarinos de frevo e maracatu. Falo
ainda dos trabalhadores do setor elétrico, da saúde, do setor jurídico e de toda a atividade
titânica que é a produção e a administração do carnaval.
A cadeia produtiva do carnaval também atinge a arte contemporânea. Dentro do intercâmbio cultural que mantivemos entre Recife e João Pessoa com Marselha, um dos artistas
franceses, Didier Teyssere, executou parte de um grande trabalho intitulado “Monumento
Nômade” em Olinda, utilizando a mão de obra dos bordadores de estandarte do famoso Maracatu Piaba de Ouro, na época conduzido pelo Mestre Salustiano. Para tanto foram utilizados dez mil lantejoulas, além de grande quantidade de vidrilhos e paetês. O trabalho consta
de uma manta de veludo negro que mede quatro metros de altura por seis de largura.
No final desta cadeia encontramos os modernos produtores culturais, os profissionais que
se prepararam para atender à crescente demanda dos projetos dirigidos aos programas governamentais de incentivo cultural, nos níveis municipal, estadual e federal. Os produtores culturais de agora constituem empresas especializadas em montagem de projetos para captação de recursos através de renúncia fiscal ou para aplicar em programas de mecenato. Nesta
cadeia encontramos administradores, planejadores e assistentes de produção, pelo menos.
Pra “acabar de completar”, como disse o poeta Otacílio Batista, é sabido que a indústria
cultural é absolutamente rentável, emprega mais do que a indústria metalúrgica e é mais
lucrativa do que ela – com exceção da fase de mineração. Ela ainda apoia o turismo e a educação e é, se bem utilizada, fator de combate à miséria e à violência.
liliane dardot
petronio cunha
e luciano pinheiro
utopia do olhar
liliane dardot, petrônio cunha e luciano pinheiro
128
iliane Dardot é uma artista de Belo Horizonte
que residiu em Olinda com seu marido Humberto Carneiro, arquiteto e artista plástico, e
seus filhos, Santana e Marilah, que reside em
São Paulo e é hoje uma das artistas contemporâneas de maior destaque no País.
Liliane foi diretora-presidente da Oficina Guaianases de Gravura,
onde se tornou uma mestra da litografia. Suas gravuras mostravam com clareza a habilidade que tinha na integração do desenho com a pintura, pois a técnica litográfica possibilita isso.
É um descanso para o pintor. Mas um descanso ativo, pois
os materiais e as técnicas do touche e dos bastões; os recortes com goma arábica; as aguadas nos levam à pintura, com
suas veladuras, marcas do pincel, efeitos vários. Liliane se encontrou na litogravura.
Em 1983, fui à casa-ateliê de Liliane Dardot ver suas pinturas
e escrever o texto de sua exposição na Galeria Sérgio Milliet, da
Funarte, que foi entregue ao público carioca em 5 de julho. Nesse tempo, eu já residia em Olinda e integrava a equipe que dirigia
a Oficina Guaianases de Gravura, presidida por Liliane.
Falei pela primeira vez sobre a pintura de paisagem. Algo
como ficar numa janela, observando o panorama se modificar
a cada instante em reflexos luminosos que modulam o quadro, nas manhãs brancas, nos dias azuis e nas tardes amarelas
iluminando a dança verde da vegetação tocada pelo vento de
agosto. É fácil entender porque tantos pintores de Olinda estão
descobrindo a pintura de paisagem. Impossível seria não fazê-lo.
Não me refiro à paisagem acadêmica, mas a moderna, a
que pinta aqui uma paisagem muitas vezes com o ponto da
janela, mas com as normas de liberdade que recendem deste
lugar de história e beleza. Jacob Bronowisky escreveu que ao
contrário dos impressionistas, os pintores modernos procuram a ordem que acreditam existir debaixo da superfície das
aparências – os ossos debaixo da pele.
Com este olhar que se forma a comunidade de artistas de
Olinda, que tomou as lições de cor dos impressionistas sem se
129
l
liliane dardot - litogravura, edição guaianases
liliane dardot
limitar às suas invenções de um século e meio atrás. Não pode ser apenas a necessidade de
registrar o mundo aparente o que move os pintores, até porque é difícil resistir aos instrumentos
tecnológicos colocados hoje à disposição de qualquer “documentador”. O que move exatamente
os pintores são os tais ossos debaixo da pele que Bronowisky se refere, debaixo da pele da pintura.
Apenas a necessidade de registrar o mundo não pode ser a força que move os pintores. Para tanto, contamos com um instrumental tecnológico inimaginável para qualquer
artista existente antes da fotografia. Instrumentos mais precisos do que o olho e a mão.
No entanto, ele mesmo diz que o cientista está para técnico assim como o artista está
para o artesão. E isto nos diz que, mesmo disposto a utilizar este instrumental, existe um
grau de artesanato, um fator técnico, que para os pintores será sempre a própria pintura.
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
130
As telas eram coqueiros pintados através da janela. Eram não paisagens não completas, seus detalhes. Percebi logo que se relacionavam com algo mais importante do
que o tema, o modelo, o motivo. Elas eram um testemunho da visualidade brasileira
mostrado de uma forma incomum para a época. O ponto de vista dos coqueiros, quase
todos, estava no nível da junção do tronco com as palmas, pois Liliane os via frontalmente, da janela do ateliê.
Mas o centro de vibração destes quadros é exercício pleno da pintura contido nos
seus estudos de verdes, marrons e amarelos. Desenhista hábil e atenta aos detalhes do
modelo, os movimentos das palmas eram muito bem retratados e aí estava o principal
ponto de interesse destas pinturas.
Os primeiros coqueiros pintados por ela não eram pinturas, eram litogravuras. Como eu
disse antes, a relação entre a pintura e litogravura é íntima, pois a imagem que é gravada
é pintada na pedra. Ao ver aquelas imagens, pensei logo no Poeta Carlos Penna Filho, personalidade recorrente deste livro: “Aí adote uma atitude avara / se você preferir a cor local
/ não use mais que o sol de sua cara / e um pedaço de fundo de quintal”.
Olinda é uma cidade de arquitetura portuguesa, onde as casas são viradas para dentro, os jardins são os quintais. Isto se pode ver nas casas dos artistas como Guita Charifker, Teresa Costa Rêgo ou Maria Carmem, onde os quintais são deliciosos jardins. O quintal
de Liliane e os de Petrônio Cunha e Luciano Pinheiro são assim também.
Os coqueiros tornaram-se temas dos neopaisagistas que aqui se firmaram, como José
Cláudio, Guita, Samico, Marcelo Peregrino, José de Barros, Gil Vicente e Eduardo Araújo,
grupo que pouco tempo depois da instalação da Guaianases criou o Atelier Coletivo de
Olinda, sob o comando de Giuseppe Baccaro. Liliane está na base desta tendência por seu
pioneirismo com José Cláudio e paisagistas.
Vendo a arte recente de Liliane, constato que seu amor pela paisagem permanece. Na exposição Deslocamentos, apresentada na Galeria de Arte da CEMIG, em Belo Horizonte, percebe-se
isto. Este trabalho é um diálogo entre fotografia e pintura no envolvimento que a paisagem incita.
Trata-se da pintura de paisagem, ou de detalhes da paisagem, inserida fotograficamente na paisagem. No catálogo, está uma entrevista dada a Patrícia França-Huchet, que
lhe a provoca com a afirmação: A pintura caminha de volta à paisagem. Liliane comenta:
Minhas pinturas não retratam um ponto de vista sobre a paisagem, elas são muito
mais uma construção a partir de referenciais internos que formei do lugar e que me conectaram a um ecossistema muito mais amplo. As fotografias estabelecem um confronto
entre a paisagem que está lá no momento da foto e a pintura que cria uma imagem para
uma paisagem interior derivada daquela que está desaparecendo.
A questão da pintura de paisagem é muito ampla...
131
petrônio cunha
petronio cunha
Petrônio Cunha é artista e arquiteto muito especial na sua práxis e no seu entendimento da
arte. Primeiro, ele é um artista do desenho, o desenho como expressão e o desenho como função, como agente da prática dos equipamentos urbanos expressos por ele como, por exemplo, a ornamentação da cidade. Não que ele não se dedique ao design do mobiliário urbano,
mas porque ele se dedica a este mobiliário numa possibilidade mais lúdica do que funcional.
Petrônio se coloca numa região da produção de arte na qual não valem muito as definições. Onde o conceito de beleza ainda impera, mas é fundamental que este conceito
se ajuste ao conceito de Inteligência. Ao pensar neste livro, há alguns anos, eu e Amelinha
fomos conversar na sua casa. Ele nos deu um jantar agradavelmente acompanhado de Plínio Victor, escultor e arqueólogo, e Marisa Varela, pintora e ceramista, onde tivemos longa
conversa gravada da qual transcrevo os seguintes trechos:
Modernismo para mim, minha referência, vem da arquitetura. Isso tudo começa no século XIX, não é?
Essa coisa que tem a ver com a arquitetura começa com o cubismo. Eu sempre fiz esse contraponto
entre as artes plásticas e arquitetura, até porque eu venho da arquitetura.
utopia do olhar
132
E é por isso que eu acho que é assim: a minha influencia maior, se eu pudesse dizer que tenho
uma influência assim, bem marcante, é Le Corbusier. Porque, veja, ele era um arquiteto e ele era um
artista. E ele era um artista cubista, como todos os outros da mesma época dele e ao mesmo tempo,
ele era um artista gráfico. Ele inovou o desenho gráfico de uma revista, de um livro, de um arquivo, tá
entendendo? Eu me influenciei por isso, na época de escola, pelas imagens que eu via. Porque eu não
tinha o conceito, só tinha a identificação emotiva.
Há poucos anos atrás, eu vi uma exposição, lá no Museu do Estado, dos trabalhos de Le Corbusier que
eu já tinha visto em Paris. Quando eu vi essas coisas de Le Corbusier (as serigrafias que ele produziu e a reprodução delas), eu vi que a matriz era uma colagem, rapaz! Era esse negócio de recortar um pedaço de papel e colar. Aí, ele vinha com uma linha de nanquim por cima e foi isso que me encantou, porque o desenho
do nanquim, a grafia, sobrepondo as cores, era uma coisa cubista. Aquilo pra mim era uma coisa fascinante!
E vi que os desenhos pareciam as plantas dos projetos de arquitetura dele. Isso efetivamente aconteceu.
Raul Córdula
Você fala em caligrafia. Caligrafia significa exatamente “bela escrita”. caligrafia é mais própria para desenho do que para a escritura, eu acho, porque, na verdade, desenho é o registro de seu gesto. A caligrafia,quero dizer, a palavra no papel escrito à mão, é exatamente isso, é onde você disciplina seu gesto.
Petrônio Cunha
Porque aí já é palavra. Eu fiz essa coisa de falar de caligrafia. Eu falei assim: desenho é caligrafia. Porque eu acho que o desenho é caligrafia mesmo! Eu não estou riscando palavras, eu estou riscando
uma mancha que vai dar numa luz. No fundo é isso!
Essa coisa do fascínio, de você alisar o papel, depende do papel. Tem papel que é poroso, tem papel que não é; tem papel que é isso, que é aquilo; que é mais branco, que é menos branco. Quer dizer,
todo esse fascínio do papel é próprio do desenhista – porque o lugar do desenho é o papel, não tem
outro lugar para o desenho. Então, é esse fascínio que eu tenho!
Voltando ao Corbusier, a essa coisa do traço, do desenho dele. Tinha um desenho – aí eu vou usar
de novo a palavra caligrafia – que pra mim, que estava estudando arquitetura, era um projeto de arquitetura, era como se fosse uma planta de um projeto. Eu passei anos procurando a minha tinta, porque
eu achava que eu ia pintar como ele, porque era o que eu queria. Eu o imitei, copiei. Tudo isso eu fiz! Mas
aí um dia, quando eu comecei a fazer esses recortes, eu estava imitando Corbusier. Eu vou negar? Não,
eu faço o contrário, eu vou afirmar. Aí, comecei a ler sobre Le Corbusier mais ainda.
Ler, pesquisar, buscar, buscar. Buscar mesmo como é que ele fez, até eu ver. Quando eu vi os originais... rapaz, foi uma decepção muito grande. Eu imaginava que aquilo era fruto de uma pintura e não de
uma colagem. Não era um papel pintado de cor de rosa sobreposto por um traço de nanquim. Quando
eu vi o original, disse: ‘não, eu preferia não ter visto’. Ter ficado com a memória de um sonho que eu tive!
petrônio cunha
mural de cacos de azulejos na
escadaria que liga a rua 13 de maio
ao largo da ribeira
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
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135
Bom, mas isso passou porque eu acho que é assim: quando a gente busca, encontra.
Só anos depois, quando eu comecei a estudar, é que eu soube que ele fez assim muito pensadamente. Na
época existia, não sei se era no mesmo período, mas existia uma referência a Bauhaus. Tudo era a Bauhaus que
ditava e ditava para o mundo todo. E a gente ó... Engoliu isso, engoliu e recebeu... Aí pronto, a gente começa a vomitar aquela coisa de Mario de Andrade, começa a fazer a antropofagia. Pow! Eu vou me livrar de um negócio desses!
Raul Córdula
Quando você começou a fazer arte?
Petrônio Cunha
Eu saí daqui quando acabei meu curso de arquitetura, no último ano, quando ganhei um prêmio, a marca
da DIPER. Eu tinha vontade de sair daqui. Aí fui pra Brasília onde morei sete meses a partir de 1969. Quando
eu cheguei lá, a universidade tinha acabado de ser fechada. Eu fui com carta de recomendação, porque
tinham professores que vieram de Brasília, tipo Glauco Campelo, Armando, Mônica, Geraldo Santana. Não
sei a idade de Geraldo na época em relação à idade da gente, mas ele conversava muito com a gente.
Hoje ele deve ter o que uns 70 anos! Então veja: Geraldo era uma pessoa com quem se dialogava muito.
luciano pinheiro
Raul Córdula
Entre seus murais de azulejos, tem um que eu gosto muito, mas assim, como uma poética muito mais
luciano pinheiro
ligada a uma prática possível das pessoas, algo diferente do bom acabamento dos outros. É o da escadaria em frente ao MAC. Não vejo nada mais inserido na “cultura popular” do que essa escadaria. Porque
é um joguinho lindo que qualquer pessoa pode fazer na sua casa. Portanto é algo acessível, como foi no
primeiro momento a “coluna de Brasília”, para muitos mestres de obras e como é o cobogó.
Petrônio Cunha
Olha, eu gosto desse trabalho aí pelo seguinte: foi interessante porque foi um negócio feito assim, nas coxas! Eu
Luciano Pinheiro pinta Olinda sem imagens, fora da referência da realidade visível que se costuma esperar de um pintor que se considera, entre outras faces de sua arte, um pintor de paisagens. Identifico-me com ele nisto, pois também dialogo com a paisagem sem ser um pintor
do “ar livre”, como acadêmicos e os impressionistas. Em 2004, Marcos Lontra, amigo e curador,
escreveu para uma exposição de meus quadros um texto que poderia ser, com pequenos ajustes, escrito para Luciano, especialmente no seguinte parágrafo:
cortei os azulejos, eu mesmo fiz aqui, botei no chão. Aí, chamei o arquiteto que era chefe num sei das quantas
e disse: ‘vamos fazer isso, porque tem sobras de azulejos lá onde estavam guardados’. Juntei algumas peças e
disse pode ser feito assim. E eles (os pedreiros) começaram a fazer. Eu disse: pode continuar... Invente o que der!
“Os quadros de Raul Córdula são paisagens do mundo, resultado de uma longa e elaborada técnica que
E todos os dias eu passava lá. Aí, um dia, quando eles chegaram mais ou menos no meio, o cara disse:
permite ao artista construir o seu universo poético. A partir das cores e das formas do mundo real ele cria
‘doutor venha cá! A gente não sabe mais o que fazer, o que inventar’. Isso porque eles é que fizeram, eu
novas analogias, novas linguagens, comprometido com o ideário modernista determinado pela clareza
não tinha feito desenho nenhum. Eu disse: ‘vocês olham lá pra cima e repetem, emendem com aquele lá...
conceitual e pela síntese dos elementos”.
e pronto’! Eles é que fizeram! Foi interessante porque aquilo chamou muita atenção.
Teve um amigo meu, e eu tenho uma referência muito boa dele, que disse assim: adorno não se faz assim. E
eu disse: aquilo só vai prestar quando envelhecer. Porque eu acho assim: quando as coisas envelhecem, e já
estão sacramentadas, você pode dizer se prestou ou se não prestou, porque ninguém tem segurança de nada.
Embora minha arte seja muito diferente da arte de Luciano, sua delicada gestualidade e sua informalidade é incompatível com minha geometria, mas estamos fazendo uma mesma coisa. Sou
da opinião que toda pintura é uma paisagem, até um retrato pode ser também uma paisagem.
utopia do olhar
liliane dardot, petrônio cunha e luciano pinheiro
136
luciano pinheiro
Alguns textos alquímicos dizem que a luz do
ouro é verde. O amarelo está mais próximo do
O prisma cromático de Luciano Pinheiro se
vermelho do que do azul; e o verde aproxima-
compõe basicamente de azul, amarelo ver-
se do azul. Vermelho (amarelo) é o extremo
melho e verde. Esta quaternalidade, de certa
circulante, expansivo, sanguíneo, animal; já
forma, confunde-se com os pontos cardeais
o azul (verde) é seu oposto frio, imóvel, con-
numa referência à tradição que diz ser o Nor-
centrado: seiva vegetal.
te amarelo; o Sul vermelho; o Leste azul e o
Oeste verde.
As pinturas de Luciano da década de 1970 são compostas
com uma simbologia onde se vê animais e sinais religiosos
que definitivamente são paisagens, mesmo porque em algumas delas os elementos simbólicos se encontram sobre um
fundo de paisagem. Lembro-me do conjunto de obras que lhe
deu o grande prêmio do Salão Nacional de Artes Plásticas, da
Funarte, que significava uma honra para qualquer artista brasileiro, em que todos os quadros pertenciam a esta fase.
Conheci Luciano quando vim morar aqui em 1976 e fiz amizades comuns por intermédio de Diana Carolina, com quem estava
casado. Vem daí minha amizade com ele e sua mulher, a arquiteta Vera Milet; com Nei Wanderley e sua mulher Marisa que, por
sua vez, é irmã do escultor Adolfo Sérgio; o fotógrafo Aderbal
Brandão, com quem pude trabalhar num projeto da TV Globo –
é curioso como existem arquitetos artistas plásticos, como é o
caso de Luciano, Aderbal, Petrônio Cunha e Humberto Magno.
Luciano é um cidadão resistente às políticas públicas e às atitudes privadas que atentam contra a integridade de Olinda. Ele e Vera
se movimentam, cobram, pesquisam, sugerem e agem nesse sentido. Vera é autora do livro A Teimosia das Pedras – Um Estudo Sobre a Preservação do Patrimônio Ambiental do Brasil, editado pela
Prefeitura de Olinda através da FCPSHO em 1988 e delicadamente
ilustrado por Luciano sobre projeto gráfico de Petrônio Cunha.
Na orelha do livro, UIysses Pernambucano de Melo Neto define
a intenção politicamente culta e democrática da autora em relação
à luta pela preservação do meio ambiente natural ou artificial – neste caso o que de bom foi feito urbanamente, como a velha Olinda:
telas de Luciano. Eventos que chamamos de
A quartenalidade complementa, paradoxalmen-
“figuras” – e não de figurações – que plasmam
te, o sentido de circularidade contido nesta
o mundo dito “objetivo” com o propósito de ligar
obra pictórica concebida sob um ponto de vista
a arte à verdade cartesiana – arte e realidade
onde o artista se coloca no eixo cósmico, ob-
se rejeitam. Figuras como são as figuras geo-
servando o universo como quem vê de cima
métricas, formas aparecidas no campo de cor,
para baixo (ou de baixo para cima) a copa de
organismos compostos no espaço, sinais arti-
uma árvore, pintando em volta da tela que pas-
culados uns com os outros, que não represen-
sa a ser o suporte plano para as “figuras” que
tam nada, somente existem por si a espera de
povoam os fragmentos do universo particular.
um hermeneuta que os traduzam.
O eixo cósmico que instrumentaliza a obra
de Luciano é o mesmo referido em diversas
culturas e tradições. É a fonte das aparições
do mundo, onde o xamã se localiza com seus
animais de poder. Um espaço fora do espaço
e subjetivamente real, contendo seu próprio
tempo, onde reside o coração do homem e de
onde surgem as “coisas” que nos cercam: o
céu e as estrelas.
O céu de Luciano tanto pode ser a superfície dura da madeira - sua obra gráfica inclui a
acurada e permanente prática da xilogravura como a superfície colorida da tela. Num outro
registro, este céu pode estar localizado acima
da terra, no universo dos astros, como na fase
em que pintava serpentes que, simbolicamen-
A teimosia das Pedras esconde atrás do título aparentemente tradicional
te, significavam o cosmos. Ou como na obra
– qual seja, a do bem cultural de pedra e cal – uma visão moderna do
atual, em todo nosso entorno, na magnífica pai-
tema da Preservação, evidenciada logo a seguir na escolha do subtítulo
sagem que envolve sua casa/ateliê no tufo de
abrangente: “um estudo sobre a preservação do Patrimônio Ambiental
floresta tropical onde reside e trabalha.
do Brasil”, pois esta é a expressão escolhida por quantos encaramos
Bens Patrimoniais em nossos dias, não só como produtos, mas como
O Oeste é verde, pois representa, na época
vetores de relações sociais significativa”.
que se formaram algumas tradições, a esperança de um mundo novo, a grande floresta.
Em 1997, escrevi sobre Luciano em meu livro Fragmentos:
Esse é o palco dos eventos que ocorrem nas
luciano pinheiro - pintura
137
plinio palhano
piedade moura
bete gouveia
roberto ploeg
marcos cordeiro
lenine de lima medeiros
territorio da singularidade
utopia do olhar
território da singularidade
140
141
plinio palhano
Esta exposição de nus e paisagens reflete um
pintor apaixonado pelo que faz. Plínio Palhano
não pinta por hábito, ele pinta por paixão. Aliás,
para mim arte não é profissão, embora o artista
deseje viver dela. Arte é paixão e devoção também. O artista é devoto do que faz. E o pintor,
principalmente, dentre os artistas, é o mais
ingularidade é coisa de artista. Não me refiro
ao hermetismo dos novos artistas, dos contemporâneos nos quais a máxima “arte é atitude” se molda ao novo e ao inteligente percurso da arte de hoje. Refiro-me, nesta análise,
aos de minha geração, aos introspectivos, aos isolados de
ponto de vista de das definições da crítica de arte, ou os
que estão longe de seus parceiros de linguagem, aqueles
cujas expressões estão distantes de qualquer acordo. A palavra acordo, por si só, pode não parecer adequada quando
se tem a sensibilidade como matéria prima. No entanto, é
disto que tratamos, nós artistas, o tempo todo em nossas
vidas, para existirmos normalmente. Não se trata de deficiência comportamental, não, mas de proficiência.
Pois bem, alguns dos nossos artistas mais atuantes são
ou foram assim, como Plínio Palhano, Plínio Santos, Roberto
Ploeg, os irmãos Frederico e Aprígio Fonseca, o pintor holandês Roberto Ploeg, Alves Dias, Humberto Magno, Izado Amparo, Jairo Arcoverde, Rodolfo Mesquita, Rodolfo Aureliano e
Ismael Caldas, por exemplo.
Há também os que já se foram, como José Tavares, Lenine Medeiros, Roberto Amorim, Gim e Piedade Moura.
É claro que os comentários que se seguem são toldados
pela indefinição do tema e pela abrangência. São comentários sobre alguns destes artistas sem a pretensão de citar
todos os que integram o universo que abordo que é a maioria dos artistas que aqui vivem e viveram.
ritualista dos devotos. O pintor estica sua tela
s
com o cuidado de um artesão, cobre-a de tinta
-base, com várias demãos – uns usam a base
artesanal, com cola de coelho e gesso crê, eu
mesmo já pintei assim nos meus primórdios.
Uma tela branca é um território de sonhos. Nele,
o artista planta suas imagens, quando ele é um
artista das imagens. E, para tanto, ele não apenas sonha, mas elabora estes sonhos garimpados de um tipo de memória misteriosa, que se
encontra além das lembranças, no âmago da
alma. Então ele começa a desenhar na tela já
representam apenas a marcação da figura que
será pintada, mas não, os esboços de um “artista” pintor são móveis e flexíveis.
As primeiras tintas preparadas na paleta seguem os traços fixados na tela, mas não totalmente, e vão formando o quadro carregado de
plínio palhano - autoretrato
pinceladas e texturas cruas, e depois, eivado
com transparências, veladuras e acordes cromáticos. De repente, o milagre: a obra fica pronta e nem o próprio artista sabia deste momento.
E eis aí estes nus impressionantes: fortes, eróticos, pintados com a sutileza das veladuras.
Olinda, pintadas com todas as tintas, com todas as amarras, como disse Vasco Moscoso de
Aragão, Capitão de Longo Curso. E, ainda, este
Plínio é um dos amigos mais chegados que admiro como artista e também por seu talento como escritor. Curioso é que
pintor escritor não é raro na cidade. João Câmara e José Cláudio escrevem com grande qualidade, sendo João, inclusive,
há muitos anos membro da Associação Brasileira de Críticos
piedade moura - desenho
pronta seus esboços. Para o leigo, os esboços
E estas paisagens de Fernando de Noronha e
plinio palhano
foto de piedade moura
pássaro marinho – Atobá? Tinhoso? – que olha
para trás como que para enxergar as marcas da
sua estrada no vento.
de Arte. Quanto a Zé Cláudio, seus livros Tratos da Arte em Pernambuco, Artistas de Pernambuco e Memória do Atelier Coletivo são importantes fontes de pesquisa. Mas ele também
escreveu crônicas como Os dias de Iudá, sobre uma viagem
a Benin, e Meu Pai Não Viu minha glória, resumo das crônicas
que escreveu por anos para o suplemento do Diário Oficial.
Vicente do Rego Monteiro foi um artista gráfico e poeta
de reconhecidamente de grande qualidade, inclusive editado em francês. As artes gráficas são primas da literatura.
Veja-se o livro Vicente do Rego Monteiro: Poeta Tipógrafo
Pintor organizado por Paulo Bruscky com a participação de
Edmond Dansot, Jobson Figueiredo e Sílvia Pontual (editado
pelo FUNCULTURA em 2004).
Este hábito é comum no Recife, onde Ladjane Bandeira, importante pintora, poeta e crítica de arte atuou
na imprensa recifense nas décadas de 1960 a 1980;
Francisco Brennand eventualmente publica no Diario de
Pernambuco, além de escrever memórias, diários e apresentações de exposições; Wilton de Souza é autor de
“Virgolino – o cangaceiro das flores, um comovente livro
sobre seu irmão, o pintor Wellington Virgolino, entre muitos outros como Marcos Cordeiro do qual falarei adiante.
utopia do olhar
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gestualidade
e a cor da pintura
de piedade moura
quando multiplica o registro das mãos do artista. A arte de Piedade é mais escrita (gestual)
que inscrita (plasmada, planejada, pintada). Ela
escreve com o corpo, com um ritmo sanguíneo.
A pintura de Piedade se coloca numa tendên-
A matriz da gravura pode conter esta relação de
cia desenvolvida em Pernambuco e que tem
ordem e caos numa maneira técnica material.
origens diversas dentro da contemporânea
Mas Plínio pratica a crônica de arte na imprensa local,
nos dois jornais mais importantes do Recife. Pintor de grandes recursos, nestas quatro décadas de dedicação à arte,
Plínio passou por diversos períodos marcados por temáticas e técnicas diferentes, embora sempre ligados à figura
humana e à paisagem.
Plínio é um pintor tradicional, um observador da realidade visível, um modernista, se vivesse nesse tempo.
Ele engrossa a corrente em que José Cláudio também impera: a pintura como ela sempre existiu, a imagem pintada de uma janela íntima. Para ele, escrevi alguns textos
de exposições, mas considero o texto a seguir, feito para
uma exposição de nus e paisagens de Olinda e Fernando de
Noronha, o que mais traduz segundo meu ponto de vista:
uma das principais artistas de sua terra.
Contam muitas histórias sobre Maria e sua generosidade, uma delas é de minha preferência: quando Maria
chegava, geralmente no verão, sua cachorra, numa explosão de alegria, corria por toda Olinda antiga, de rua em
rua, anunciando a boa nova. Todas as pessoas se encantavam com este mágico acontecimento.
Plínio e Maria muito ajudaram Piedade nas suas crises
de profunda depressão, que culminaram com o suicídio. A
pintura de Piedade nos seus últimos anos de vida, quando
frequentava a Oficina Guaianases, onde realizou uma exposição de pinturas matéricas de grande sentimento de
tragédia, revelava que ela estava à borda de uma profunda
depressão, alertavam para sua condição frágil e perigosa.
Palhano me falou de sua amiga com saudade e paixão:
O recente trabalho de Maria Tomaselli, seu
obra está próxima do nascedouro. Tendência
novo álbum de litogravuras intitulado Veredas,
à pintura pura, plena de liberdade. A pintura de
editado na Oficina Guaianases, revela a maes-
José Cláudio, certamente, é a vertente desta
tria de uma obra montada em extremos entre
tendência. Peço emprestado aos críticos a pa-
a ordem e o caos. Esta simbiose é alcançada,
lavra “gestual” para classificá-la; embora prefi-
primeiramente, a partir de uma ideia vivenciada
ra empregá-la no seu sentido poético, mesmo
de registros olindenses, uma história de perso-
acrescentando o seu significado técnico.
nagens comuns. Num outro momento, a síntese
se verifica numa técnica dominada nesta rela-
Quero explicar o que me sugere “uma arte ges-
ção de extremos.
tual” para dirimir algumas dúvidas: o desenho
para mim é o registro de um gesto. O contro-
Eis aí o terceiro ponto de apoio de Piedade,
le deste gesto é exatamente a parte pessoal,
base notável para uma obra que se envere-
a identidade de desenho. O controle é a “coisa
da por vertentes de significados múltiplos, na
mental”, a qual se referia Leonardo, que torna o
qual ela atua como intérprete e personagem da
gesto coisa espontânea, num objeto expressivo.
mesma comédia. Um drama de gente do povo,
acostumado à desigualdade colorida dos bair-
Esta gestualidade tem na obra de Piedade um
ros periféricos (mananciais para uma retina crí-
resultado essencialmente gráfico, no sentido
tica, campo aberto para um corpo sensível ao
“Conheci a pintora Piedade, na década de 1970, em uma vi-
do traço e não da mancha de cor. Eis que o tra-
gesto e a cor).
sita que me fez pelo fato de a artista ter lido uma entrevista
ço arquiteta as áreas coloridas, as manchas
minha. Desde então, consolidamos um laço que permanece
de cor de efeito pictórico. E há muita cor neste
vivo nas lembranças.
grafismo praieiro. Há modulações e transforma-
piedade moura
Piedade e Plínio Palhano viveram uma grande amizade.
Ela foi uma pessoa surpreendente e uma artista desconcertante para quem viveu aqui nos anos 70/80. Ela que
viveu em Rio Doce perto de Plínio, de quem foi modelo diversas vezes. Piedade também nutriu forte amizade com
a pintora gaúcha Maria Tomazelli (Cirne Lima) que manteve aqui um ateliê na Rua do Amparo nos anos 1980,
onde trabalhava incessantemente todo ano, quando vinha de Porto Alegre.
Maria é autora, dentre outras obras, do álbum de litogravuras editado na Oficina Guaianases A Mona Lisa de Olinda, sobre
a boneca de carnaval A Mulher do Dia. Acho importante lembrar
que, antes desta enorme população de bonecos, no carnaval
daqui só havia O Homem da Meia Noite, A Mulher do Dia e O
Menino da Tarde. Não conheço, no nível da realidade, nada tão
poético como isto, esta bizarra família que representa o tempo
diário, o passar das horas que nos lembra a finitude, e nos convoca para o carnaval antes que o tempo acabe. Maria se tornou
história da arte nordestina, mas que em sua
O seu sorriso vem logo à memória: largo, intenso, sonoro.
ções de planos, de paisagens e figuras.
Os olhos brilhantes e inteligentes de quem gostava de ler, de
falar intensamente, de viver, de acompanhar os melhores fil-
Num segundo momento, encontra-se um para-
mes, de ir às peças teatrais . E lá estava Piedade: às vezes nos
lelismo com a obra de Plínio Palhano: senhor de
bastidores, por ser amiga dos atores e por ter irmãos no ofício,
uma pincelada vigorosa e sensível, mestre de
como Nilson Moura, um dos criadores do Molengo Só-Riso, e
explosivas modulações, que Piedade admira e
Gilson Moura; uma família de artistas.
adota de forma disciplinar, criando a estranha
Piedade era, assim, intensa. Tudo o que fazia era como a
dialética de um estouro contido num plano re-
sua pintura: com fortes pastas de tinta, cores saídas do tubo
tangular. A chama presa, a chuva imóvel*, o
diretas e entregues ao suporte, com pequenas interferências
vendaval parado.
de brancos e negros, para criar as sombras ou clarões que vinham de sua mente, como os amarelos que apreciava eviden-
A gravura aconteceu naturalmente na arte de
ciar. Rasgava as composições com pinceladas como meteo-
Piedade, que sempre foi gráfica, mas num sen-
ros, numa interferência proposital. Tudo tinha o seu valor para
tido nervoso, temperamental, eletroencefalo-
o olhar da pintora. Ela enxergava as coisas com uma visão
gráfico, cardiográfico. A gravura é generosa
Oficina Guaianases, 1983
utopia do olhar
território da singularidade
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Tive o prazer de escrever sobre sua arte no Caderno C do Jornal do Commercio por ocasião da exposição que fez na Oficina Guaianases de Gravura:
marcos cordeiro
marcos cordeiro - litogravura
própria e deixava-se levar pela força da ação gestual.
Pintávamos juntos nessa energia vibrante. Paisagem, pessoas, temas variados. Era magnífico
como encarava as paisagens. Dava o tom que queria e como via, sem nenhuma preocupação
com a captação natural. Em sua cabeça, não havia nenhum mestre para se influenciar. A pintura
de Piedade poderia, hoje, por exemplo, estar presente no que conceituamos sobre a arte contemporânea, ou melhor, pintura contemporânea. Estaria caminhando estreitamente com pintores
desse veio atual. Nesse entrelaçamento de trabalho e amizade, convidei-a para que posasse para mim. Ela
concordou de imediato. Realizei uma série imensa com Piedade como modelo. Série que me
deixou tomado por cada quadro realizado. Eram soluções pictóricas que encontrava, ora penetrando numa sequência abstratizante, ora captando as formas um pouco realistas. Mas a
meta era dar o ponto exato da expressão.
No dia 21 de janeiro de 1984, acordei de madrugada e, naquele dia, o sol nasceu de cor dourada, com tons avermelhados, numa aparência de dor profunda. O meu sentimento é que havia
perdido alguém tão importante que não poderia acreditar naquela fatalidade. Era um dia após a
morte de Piedade Moura. Nunca mais pude ter a alegria do seu convívio”.
Coloco o compadre Marcos Cordeiro, pintor, litógrafo, desenhista e historiador espontâneo, como
o artista plástico que mais se completou ao abraçar a literatura, especialmente a poesia e o teatro. Não conheço toda sua obra poética, mas Hai Kais para Rafaela, Capibaribe do Sol e Naufrágio
Lúcido são escritos que me fascinam. Especialmente por ser ele de um homem que transita
entre sertão e litoral se expressando nas duas direções.
Conheci-o em 1975 quando compartilhamos prêmios no II Salão de Arte Global de Pernambuco, em 1975, cuja exposição das obras foi instalada na Casa da Cultura de Pernambuco como
seu evento de inauguração. Em 1982, ele me abrigou em sua casa-ateliê, na Praça de São Pedro,
onde me recuperei de grave doença. A casa de Marcos é um lugar muito significativo pra mim,
lá conheci Amelinha e recomeçamos nossas vidas. Poucos anos depois ele tornou-se padrinho
de Cláudio, nosso filho.
Marcos é eclético, nas suas criações visuais ele trabalha com pintura de figuras e paisagens em desenhos e litogravuras, mas traça caminhos diferentes para cada técnica que
experimenta. Gosto muito de suas litogravuras impressas na oficina Guaianases, especialmente a série que retrata as cabras do seu plantel de Sertânia. Outra singularidade dele é
abraçar causas justas ao investigar a história de Pernambuco, as lutas libertárias e as contendas que tivemos com a Bahia. Esta busca pela justiça histórica explica a dedicação que
ele tem pelo outro, sempre que preciso.
Sua produção literária abrange também a crítica de arte através de escritos para exposições e
curadorias. No catálogo da exposição Coleções do Brasil, produzida pelo Centro Cultural Banco do
Brasil em 2001, realizada em Brasília, onde foram reunidas seleções dos acervos dos três museus
de arte implantados por Assis Chateaubriand no Nordeste – O MAC de Olinda, o Museu Regional de
Feira de Santana e o MAC de Campina Grande, ele foi o curador adjunto de Marcos de Lontra Costa.
Ele faz parte dos artistas que vive a Olinda de dentro das casas, que visita os quintais,
que conhece as histórias dos vizinhos. É amigo de Marisa Lacerda e suas irmãs Marília e Maritza, que também fazem parte desta forma de viver. São todos integrados na comunidade
sem se importarem com suas condições, privilegiadas de artistas. Marcos, Marisa, Tereza
Costa Rêgo, Maria Carmem, entre outras pessoas, vivem a amizade como forma de arte, não
importa o estado de humor, não importa a euforia ou a depressão.
utopia do olhar
território da singularidade
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bete gouveia
vívio era quase diário. Passamos aproximadamente dois anos juntos.
Embora Bete Gouveia tenha morado em Olinda, na Rua de São
Francisco, onde também residiu Delano e Roberto Lúcio, e reside
João Câmara, trabalhou ao lado de amigos que fazem parte deste
grupo de artistas que residem fora do Sítio Histórico, como Plínio
Palhano, Frederico Fonseca e seu irmão Aprígio, e Piedade Moura.
Sua forma de expressão artística se alinha com o trabalho
de Frederico e Aprígio, Renato Valle, José Patrício e Renato Lins.
Ela fala do período em que vivia no sítio histórico:
circunstâncias nada agradáveis. Tive minha casa arrombada e me
Finalmente, por volta de 1994, me mudei da cidade alta, por
levaram muitos objetos, alguns de valor material, outros de valor afetivo. Foi assim que, infelizmente, meu período em Olinda finalizou.
Mas as boas lembranças suplantam esse lamentável fato. Continuo tendo um carinho muito especial por essa cidade”.
roberto ploeg
A pintura de retrato não é uma tradição da arte pernambucana,
a de figura sim. Em artigo para o livro, Relendo o Recife de Nassau, organizado por Gilda Verri e Jomard Muniz de Brito em 2003,
comento sobre a permanência dos pintores holandeses Frans
Post e Eckhout na arte dos pintores realistas de agora na nossa
cidade-dupla. Comento especialmente obras de Brennand, João
Câmara, Guita e Zé Cláudio, relacionadas à pintura de Eckhout,
Telles Júnior e Manoel Bandeira com Post. Há duas décadas, o
teólogo Roberto Ploeg chegou da Holanda para, por indicação
de Dom Helder Câmara, se aprofundar na teologia da América
Latina. Ele conta que:
“Morei em Olinda por quase 12 anos. Um período muito feliz da minha
vida. Ali nasceram os meus dois filhos e tive a oportunidade de fazer
grandes amigos e conhecer grandes artistas.
Logo ao chegar, em 1982, conheci o atelier onde trabalhavam
Aprígio, Frederico, Eudes, Plínio e Silvio Malincônico. Lá, numa casinha à beira-mar em Rio Doce, também participei de uma coletiva juntamente com Renato Valle, Piedade (já falecida), José Patrício e Luis
Carlos Guilherme (também já falecido). Essa foi uma das primeiras
exposições que participei e foi lá que vendi meu primeiro trabalho.
Por volta de 1986, fiz parte de uma cooperativa de artistas, que, infelizmente, não durou muito tempo. Essa cooperativa funcionou num
casarão na Praça de São Pedro, nº 190. Chegamos a inaugurá-la com
uma exposição do grupo que contou com a presença de Plínio, Eudes,
“Eu já tinha estudado espanhol, estudava com Gustavo Gutierrez,
Aprígio, Frederico, Fernando Guerra, Renato Valle e George Barbosa. Acho
um peruano de Lima, e Dom Helder disse que tinha um padre fla-
que o processo de construção da ideia da cooperativa foi mesmo mais
bete gouveia – intervenção gráfica de amélia couto
roberto ploeg – autorretrato
mengo chamado Eduardo Rosnart, que hoje em dia mora em Sal-
longo do que seu funcionamento. Mas essas discussões foram muito
vador no Alto do Pascoal. E que eu podia fazer a tese de mestrado
proveitosas, pois tivemos a chance de trocar muitas reflexões sobre a
com sua orientação. Aí eu vim pra cá, para o Brasil, por causa
arte e a vida, o que muito me acrescentou.
desse contato em 79 eu estou aqui até hoje”.
Em 1988, fiz parte de outro grupo juntamente com Eudes, Isa do
Amparo e Fernando Lins. Dividimos um atelier na Rua do Amparo. Em
termos de grupo, acho que essa foi a experiência mais aprofundada
que tive e, posso dizer, a mais importantes, pois éramos todos abstracionistas geométricos, um mais rigoroso, outro menos. Essa afinidade
contribuiu enormemente para o meu amadurecimento, pois nosso con-
A substituição de Dom Helder por Dom José Cardoso desmantelou em Pernambuco a teologia da libertação que aqui se praticava sob a ótica e o pensamento de Dom Helder. Mas Ploeg não
desistiu daqui, tornou-se um dos pintores que hoje têm maior
visibilidade. Ele já tinha alguma prática artística desde a Holan-
utopia do olhar
148
da, mas aqui ele pôde se aprofundar até o nível que desejava nos cursos ministrados no MAC nos
anos 80, vindo a se tornar o pintor profissional que é hoje, exímio pintor de retratos.
Não há como não relacionar sua pintura com Eckhout. Sua pintura reflete a arte flamenga da época deste artista tanto pela maneira técnica quanto pela ânsia de documentar a
realidade das pessoas da periferia do Recife. Mas é no retrato, como fez na exposição Capturados – Retratos de 25 Artistas Pernambucanos, que realizou na galeria Mariana Moura
em setembro de 2011, que ele revela sua mais interessante pintura. Ploeg pintou os artistas
em atitude de defesa, como se acuados por algum tipo de poder dominador, algo como o
assédio da polícia ou de bandidos. O resultado é notável.
Comentei com ele, minha impressão de sua semelhança com Eckhout. Ele concordou
e disse que eu não fui o primeiro a dizer isto, mas que é mera coincidência: ele pinta o
que quer e o que vê. Nesta reedição da pintura de retrato, ele não está sozinho. Marcelo
Peregrino também faz isto agora e alguns outros pintores que têm o mesmo interesse
pela realidade visual estão também nesta procura.
O jornalista Júlio Cavani, que apresentou o catálogo desta exposição, fala em fontes:
“Com influência visível e assumida de David Hockney, artista inglês que equipara a fotografia casual
à pintura em trabalhos como Polaroid Portraits, Roberto explica marcas fotográficas (luzes de flash
e sombras recortadas) em suas telas. Antes de pintar os artistas, eles os fotografou e usou as fotos
como referência direta para a confecção dos quadros. A Câmara, portanto, tem papel determinante
sobre o resultado final”.
O crítico ainda se refere às suas consanguinidades com outros artistas, Gil Vicente e Carlos
Mélo, por exemplo, e assim o coloca no circuito da arte contemporânea pernambucana.
delima
Lenine de Lima Medeiros viveu aqui nos seus últimos anos de vida, quando montou atelier
no Carmo, participando ativamente das atividades culturais de Olinda. Foi um artista pernambucano que viveu na Itália, envolvido em intensa vida artística, tendo participado da
XXXIII Bienal de Veneza.
Lenine, como era chamado antes da Europa, foi membro e secretário da Sociedade de
Arte Moderna e também participou do Atelier Coletivo de Artes e do Movimento de Cultura
Popular do Recife. Em 1960, ganhou o 1° e 2° prêmios do Salão do Estado de Pernambuco, o
que resultou numa bolsa para Europa, lá permanecendo até 1980. Em 1977, expôs no Museu
de Arte Moderna do Rio de Janeiro e também da VIII Bienal de São Paulo. Lenine era muito
amigo de Ivan Freitas, o pintor principal da Paraíba dos anos 50 que viveu no Rio. Ivan, que
trabalhou e vez exposições na Itália, onde o conheceu, me falava muito dele.
Nos seus últimos anos de vida Lenine montou um ateliê em Olinda, no Carmo, e pôde
participar ativamente das atividades culturais da cidade.
Lenine faz falta à cidade, assim como Piedade Moura; Roberto Amorim; José Tavares; o
pintor beneditino Emanuel Bernardo; Delano; Gim, o solitário desenhista; Bajado, Gina, Silvia
Pontual e o tapeceiro Michel.
o bar
ecologico
humberto magno iza do amparo e jairo arcoverde
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
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Bar Ecológico existiu na Praça da Preguiça
nos anos 70, quando ainda não havia a ligação com o Sítio de Seu Reis. Dia ou noite,
todos iam para lá beber cerveja com tiragostos, conversar e curtir o bucolismo do
lugar. Eu sempre fui lá com Diana, minha mulher na época,
encontrar Humberto Magno, acompanhado de sua família,
sua mulher, a pintora Iza do Amparo e seus filhos Paulinho,
que hoje é artista e assina sua obra como Paulinho do Amparo, e Catarina Aragão, que também é artista plástica, cantora
e DJ de sucesso.
Lá, sempre estavam Ney Wanderley e Marisa; Rodolfo Aureliano; o fotógrafo e arquiteto Aderbal Brandão; Jairo Arcoverde e sua mulher, a ceramista Betty Gatis; o físico Gilberto
Sá e Leda e muitas outras pessoas daquela época de fugas e
desencontros resultantes do regime político ao qual éramos
submetidos.
O Ecológico era como um refúgio. Um território neutro que
nos possibilitava a fantasia da liberdade. Lá, aconteciam muitas coisas, se criavam histórias, viviam-se sonhos.
Certa vez Humberto Magno assistiu ao seguinte diálogo
entre os dois Rodolfos, o Mesquita, que vinha do Recife, e o
Aureliano:
153
humberto magno
o
humberto magno
desenho
Rodolfo Mesquita para Rodolfo Aureliano:
— Rodolfo, o que é riponga?
humberto magno
E Rodolfo Aureliano, na bucha:
— É Punk, astrológico e macrobiótico!
De certa maneira o Ecológico era o Cantinho da Sé da Cidade
Baixa e a Bodega do Véio de agora. Rodolfo Mesquita
desenho
Tenho coincidências e parcerias importantes com Humberto
Magno. Por exemplo: fomos morar no Rio de Janeiro crianças
e voltamos adolescentes. Outra: não pintamos figuras humanas, somos “abstratos”, como o povo diz. E nós dois fizemos
exposições na mesma galeria nos anos 60, a Xico Arte Interior,
de Chico Careca, na época em que no Recife havia a Galeria de
Arte do Recife, que era da Prefeitura e ficava na beira do Capibaribe em frente aos Correios.
Humberto mostrou pela primeira vez sua arte quando
ainda morava no Rio e estudava com a gravurista Misabel
Pedrosa. Ela o indicou para participar do Salão de 1959,
da Associação dos Artistas Brasileiros, entidade que não
existe mais, realizado no Hotel Gloria. Ele estava muito bem
acompanhado ao lado de mais de 30 artistas, alguns deles já famosos na época, como a própria Misabel; os acadêmicos Oswaldo Teixeira e Dimitry Smailovitch; Maria de
Lourdes Firmeza e Raul Pedroza, entre outros. Humberto
não era mais do que um adolescente. Uma vez no Recife,
ele expôs em 1965 em dupla com Helena Farias na Galeria
Ponte D’Uchoa.
Sua primeira exposição individual, porém, foi no Clube
Náutico Capibaribe, com apresentação de Adão Pinheiro. Só
depois veio a exposição da Xico Arte Interior, com o folheto
apresentado por Tiago Amorim e por ele mesmo. Mas Humberto frequentou vários Salões de Arte, como o 25º. Salão
de Pintura de Pernambuco, em 1966, e o Salão do Estado de
1982, onde recebeu o Prêmio Telpe com uma obra composta
de canudinhos de refrigerantes. Neste mesmo salão, também foi premiada sua mulher Iza. Humberto naturalmente participou de muitas exposições
coletivas, uma delas merece menção: Coletiva 73, onde estavam também Iza, Montez, Rodolfo Mesquita e Ismael Caldas.
A mostra foi realizada em agosto de 1973 na casa de Olinda,
como era chamado o espaço expositivo de Baccaro, na Rua
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
154
155
iza do amparo
A obra recente de Maria Luiza Mendes Lins (Iza)
reflete esse comportamento racional de forma
alegre e forte, porque nela a razão domina uma
emoção exacerbada. Numa estrutura de malha
como, por exemplo, a montagem de azulejos,
as composições de Iza formam constelações
de símbolos visuais de sua própria invenção
de São Bento, antes de ser o Atelier Coletivo de Olinda.
Humberto é arquiteto formado na Bahia, onde deixou três obras públicas, murais com relevos de cimento, intitulada As Fases do Sol, com 3.70 X 37 m. O primeiro foi no Banco do Nordeste e foi destruído. O outro
está no Centro Administrativo de Salvador em péssimo
estado, pintado de cinza. O de Feira de Santana está
em melhores condições.
Ele veio morar aqui nos anos 60 com sua mulher
na época, a pintora artista, Iza do Amparo (Maria Luiza
Mendes Lins), e com ela formou mais uma família de
artistas olindenses.
Compraram e restauraram a casa da Rua do Amparo
que hoje abriga Iza, sua filha, a cantora e DJ e fotógrafa
Catarina Dee Jah e seu filho Paulo do Amparo, um artista ativista e performático fora dos sistemas oficiais.
Paulo cria objetos, utiliza os meios de impressão com
fim, faz vídeo arte e arte de rua, juntando materiais e
linguagens em obras de profunda ironia e crítica social
e política. Ainda comentarei sobre Paulo mais adiante.
Escrevi em 1983 a apresentação do catálogo de
Iza no catálogo para sua exposição individual na Galeria Macunaíma da Funarte, no Rio de Janeiro, espaço dedicado aos jovens artistas brasileiros. Eis um
trecho, ao lado:
Mesmo tendo saído de Olinda nos anos 80, suas ligações com a cidade vão além das relações familiares.
Humberto construiu uma parte desta utopia com suas
ideias e atitudes. A “atitude” já é aceita como um dos
componentes da arte. O artista não é mais visto como
um esquisito pela da sociedade: a atitude do artista integrou-se ao comum dos mortais.
Duchamp, na versão Rose Celavi, hoje é padrão social. O saiote de Flávio de Carvalho não incomoda mais
ninguém. Antonio Manuel descendo nu a escadaria do
MAM do Rio aqui, hoje, seria uma bobagem.
As atitudes dos artistas que, como ele, montaram seus
ateliês em Olinda foram, em alguns momentos, como no caso
da Ribeira, objeto de intolerância da parte de alguns moradores conservadores, como já vimos.
A arte de Humberto é essencialmente geométrica. Na
Bahia, ele, ainda, explorava formas orgânicas: memórias da
figura humana, em composições que ele pôde tornar tridimensionais, como foram os três murais que ele deixou lá.
Outro período de excelência foi a série de paisagens pintadas a guache. Paisagens reconhecíveis, embora geometrizadas. E a fase dos quadrados, ou melhor, dos mosaicos
compostos em malha quadrada, como a montagem de uma
parede de azulejos. Neste período, o estudo da cor se exacerba e se torna compulsivo. que desencadeiam uma marcha de ideias sempre em busca de atmosferas mais respiráveis
no conjunto de nossa expressão plástica.
Um mundo ótico, retínico, menos barroco do
que o normal na arte de Olinda, mais limpo de
ruídos que embotam a certeza da mensagem
ou a exatidão dos sentidos. Sua emoção é controlada e resulta nos efeitos caleidoscópicos.
Sensível, mais sujeito a rigores do número, da
proporção e da harmonia. Mas esta rigidez geométrica não é definitiva, ultrapassa seus próprios limites. Os interespaços dos quadros aparecem como formas expressivas, resultam no
outro lado da questão, no negativo. Os símbolos
jairo arcoverde - desenho
se encaixam como quebra-cabeças, há mesmo
uma indução à procura.
jairo arcoverde
jairo arcoverde - desenho
Jairo Arcoverde deu-me a honra de me pedir a curadoria da
magnífica exposição que realizou no Museu do Estado em
2010, uma exposição antológica. Jairo é um artista cuja obra
eu conheci muito antes de conhecer sua “singularíssima
pessoa” – peço emprestada a expressão ao poeta Augusto
dos Anjos: Num antigo banco do bairro do Varadouro, em João
Pessoa, havia um quadro seu, enorme, que cobria quase toda
a parede. Vez por outra, eu ia olhar para o quadro e ficava meio
pasmo diante daquele objeto inusitado num ambiente urbano
tão formal. Quando o conheci pessoalmente não estranhei.
Ele era como o quadro: inusitado. Que Deus o conserve assim.
É interessante o grande número de famílias de artistas
que existe aqui: casas onde a arte é ofício familiar há gerações. Com Jairo acontece isto. Na sua família de cinco filhos,
três se dedicam à arte: Maria Joana, estilista de moda que
criou o figurino do filme de Cláudio Assis Baixio da besta e
que hoje vive em São Paulo; Marisa, designer. Leonardo é pintor. Gil Vicente, o genro, casado com Marisa, é fotógrafo, editor
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
156
jairo arcoverde
Mas existe alguma coisa de especial, de mágico, quando se chega na sua casa na praia do
Janga, onde estão, talvez, centenas de pinturas. Um acervo de extrema pureza e enorme
importância para nossa cultura, nosso imaginário, nosso mundo intangível onde habitam os
signos – em forma de seres estranhos, figuras,
e produtor cultural, mas a arte é seu caminho na fotografia.
Jairo faz arte desde a adolescência quando ele já vendia paisagens urbanas com sobrados. Ele viveu muito cedo de vender
suas pinturas. Nos anos 60, em plena euforia do Mercado da Ribeira, ele teve ateliê com Ismael Caldas e seu irmão José Maria,
que hoje é professor da Escola de Belas Artes da UFMG.
Casou-se com Betty Gatis em 1972 e foram morar em Casa
Forte. Por influência do mestre artesão Jeter Peixoto, o casal
se iniciou na cerâmica, que Jairo praticava com obsessão. Ele
trabalhava em todos os serviços, desde a preparação do barro
até a queima. Em 1980, eles foram para Caruaru e Betty se
tornou uma ceramista de muito prestígio, como é até hoje. Sua
produção passou a ser vendida em grandes lojas e galerias.
Eles construíram uma casa com uma olaria no Alto do Moura, em Caruaru, onde passaram dezesseis anos. Lá nasceram
Leonardo, Paulo George e Maria Rosa, os filhos mais novos.
Em 1996, já com a família formada, voltou para Olinda onde
montou uma loja para vender a arte da família, na Rua do Amparo, que durou até 2006. Hoje ele vive com Betty numa bela
casa-ateliê na Praia do Janga, onde se declara uma pessoa
que atingiu paz de espírito e maturidade em relação às pessoas e a sua arte.
No seu catálogo escrevi sobre isso:
animais, paisagens vivas – formados em sua
cabeça medonhamente inquieta e plasmados
nas telas, através de uma pintura finíssima,
elaborada com requintes eruditos, mas carregadas de uma rebeldia tanta, tão própria, que
revela seu ser formado de liberdades.
Primeiramente, estamos num jardim de uma
casa burguesa, mas logo se nota que não é um
jardim qualquer. Ele está como que composto
nas cores que se vê depois nas telas. Numa
confortável varanda, começamos a ver pintura
e desviamos o olhar para a direita onde está o
ateliê e a oficina de cerâmica, conjugados para
servir à obra do casal. Na primeira sala, está a
fonte da música, com Mozart e Beethovem. E
os espaços internos da casa forrados de telas
pintadas. Além delas, uma cômoda antiga que
abriga rolos de telas, sem chassis, um verdadeiro tesouro.
humberto magno - mural em cimento moldado no centro administrativo da bahia
157
joao camara
e amigos
utopia do olhar
onheço de muito tempo a generosidade de
João Câmara. Muito antes da “dádiva” que fez
aos artistas colocando seu material litográfico
à disposição, com a criação da Oficina
Guaianases. Lembro que, muito antes, em
1961, organizamos uma exposição em João Pessoa, na Cultura
Francesa – era assim que se chamava a Aliança Francesa na
época – juntando jovens artistas do Recife e de João Pessoa.
João Câmara, José Tavares e Delano trouxeram as obras
de ônibus. João carregou a tela de Reynaldo Fonseca no colo
em respeito à delicadeza do quadro. Em João Pessoa, as obras
dos pernambucanos, que incluíam Roberto Amorim, se misturaram com as dos paraibanos Archidy Picado, Breno de Mattos,
o poeta e escultor Ademar de Barros e as minhas – em 1965
tentei retribuir a gentileza pernambucana organizando uma
exposição de paraibanos no Mercado da Ribeira.
Visitei-o algumas vezes no seu ateliê da Rua dos Coelhos
onde me lembro ouvir Ella Fitzgerald cantando Cry me on river, acompanhada por Oscar Peterson. Depois, aprender sobre
técnicas de pintura a óleo que ele, por sua vez, recentemente
aprendera com seus orientadores: João descende de artistas
que orientaram artistas no Curso Livre da Escola de Belas Artes
da UFPE, como Laerte Baldini, Fernando Barreto e Vicente do
Rego Monteiro – haviam outros.
No mesmo curso, estavam, também, José Tavares, Ypiranga, Jairo Arcoverde e outros do mesmo vigor criativo. Um dia
destes, ele me convidou para a casa de sua família, para ver
os estudos que fazia no Curso. E lá estava, no alto da parede,
uma pintura de José Tavares vestido de arlequim (pois lá se
aprendia a pintar modelo vivo, o que João já fazia com mestria e personalidade). Cito estes fatos, movido pelo livro que
mais uma vez folheio: da exposição Duas Cidades mostrada
na Pinacoteca do Estado de São Paulo e no Museu Nacional de
Belas Artes, no Rio de Janeiro.
Duas Cidades foi uma homenagem além da pintura: foi
um hino à convivência e à cortesia. Sempre me interessei
c
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
160
161
pelo tema e chamo de “cidade dupla” esta convivência de
gentes e interesses que já fiz alusões em um texto sobre
Tereza Costa Rêgo:
Ainda sobre a generosidade, o curador Jens Olesen, que levou
a obra de João para Berlin, Oslo e Helsinque, assim se refere
no citado livro:
“Contemplando a vista de Olinda da Ponte de Limoeiro, um dos lu-
“Nunca poderei agradecer o bastante a João pela pintura que fez de
gares onde ela é mais bem recortada, na paisagem urbana do pon-
minha filha rodeada por tulipas. Era precisamente o que ela precisava
to de vista do Recife, cruzando o Capibaribe em direção dos ”afun-
quando estava sofrendo de câncer na garganta. Este quadro especial
dados”. Nesta terra de ninguém, onde muitos soldados holandeses
teve sobre ela um efeito que não consigo descrever, mas que ajudou
restam sepultados, mortos por portugueses, negros e caboclos,
a curar suas feridas e sua doença”. nas tentativas de tomar a cidade quase inexpugnável, nos flagra-
Nada posso acrescentar do ponto de vista analítico na citação de um artista de vastíssima fortuna crítica como João
Câmara. Mas devo falar sobre como o vejo em relação às suas
influências e intervenções na cidade que muito lhe deve; fato
reconhecido por seus admiradores e pelos seus amigos artistas formadores de uma tendência da pintura figurativa que
vigorou como vanguarda nos anos de 1970. mos orgulhosos do passado, mestiços que somos.
Vê-se, então, que as cidades têm alma e a alma das cidades
é como o urdimento de um tapete, cujos fios são as histórias das
gentes nos diversos tempos e sob várias interpretações. Somente
o artista pode com isso. Somente ele pode ver através dessa teia, o
momento exato e o traço certo para mover as emoções do mundo”.
O ensaio poético de Emanoel Araujo, que abre o livro, coloca,
em síntese, uma cisma entre as duas cidades:
delano
Olinda olha indiferente o Recife que vê Olinda
Outra relação que faço entre Tereza e João está entre suas
pinturas do Graf Zeppelin e o boi Voador de Tereza. Ambos objetos voadores, ambos encantadores, ambos dominadores.
Num outro registro, cito Brennand escrevendo no catálogo de
José Barbosa Naturezas Vivas:
As telas de Barbosa têm uma luz sombria e difusa e intensamente
pessoal, ao ponto de, às vezes, causar um certo temor como se algo
catastrófico se prenunciasse. Isto foi observado num quadro onde um
Zeppelin, em forma de peixe, sobrevoa o Pão de Açúcar no Rio de Janeiro: uma cena de cartão postal transformada numa tragédia iminente”.
delano - desenho
Um dos seus grandes amigos, que se tornou seu vizinho do ateliê da Rua de São Francisco, foi o pintor Delano (Franklin Delano de
França e Silva), que nos deixou precocemente (1945 – 2010). Delano foi orientado artisticamente por Abelardo da Hora, Wellington
Virgolino e José Cláudio. Daí seu desenho seguro e sua maneira
humorística, às vezes sarcástica, de se expressar graficamente.
Sua aproximação com João Câmara reflete esta afinidade
com a ironia dos primeiros períodos de sua arte, e depois, da pintura intensa que Câmara desenvolveu influenciando um grupo de
artistas ainda novos. De fato, a arte de Câmara fascinou os jovens
artistas das décadas de 1960 a 1990 e ainda fascina seu público
por sua estratégia que alia rigor técnico e liberdade intelectual na
abordagem de temas ousados, de tabus sociais, de análise política a partir da perspectiva severa da crítica e da moral.
utopia do olhar
162
João foi o líder do Ateliê + 10 e Delano o acompanhou juntamente com Anchises Azevedo,
Montez Magno, Wellington Virgolino, Maria Carmem e Liedo Maranhão. Delano foi modelo para
o Tiradentes e também assistente da pintura do mural de João Câmara para o Memorial da Independência, obra arquitetônica de Oscar Niemeyer em Brasília. A afinidade existente entre os
dois se define neste trecho da apresentação que João escreveu para a exposição de Delano
realizada em 2006 no MAC – PE, sua última mostra:
“Agora, carregado em anos e pronto para receber o raro respeito da juventude emergente e a distribuir e
devolver, simetricamente, ranzinzices e reservas, seu Delano vai pintando quadros, coisa que começou a
fazer aí pelos anos 60, tempo em que este país entrou naquele solstício saturnino de chumbo e bosta, de
guerra e confusão mental, de grana para uns e de morte da bonomia econômica para quase todo mundo,
sem falar que havia ainda, por cima e por baixo, por todos os lados, vamos ser francos, a contracultura e
todos os seus estratos e extratos, fluidos e fumaças”.
Nesta exposição se viu a obra de um artista pleno, maduro e testemunho da passagem histórica que Câmara o coloca. A arte de Câmara foi comentada há quatro décadas quando a Crítica
de arte do eixo Rio-São Paulo o definia como o criador da Escola do Recife. Eles quiseram
nomear assim a figuração praticada aqui, onde João Câmara se sobressai como excelência.
Desde o modernismo nossa arte já se diferenciava da arte do Sudeste. Por isso, as polêmicas que Gilberto Freyre, muito mal compreendido, teve ao longo da vida ao defender algo
óbvio: não somos Rio nem São Paulo; muito menos Amazonas. Pior ainda: não somos Veneza
nem Amsterdã. Esta identidade reclamada como Escola do Recife é comum a quase todos: de
Samico a José Cláudio, de Delano a José Carlos Viana, de Tereza Costa Rêgo a Maurício Arraes.
Delano esbanjou arte de excelente qualidade por toda sua vida. O catálogo da referida
ex-posição mostra ao mesmo tempo e no mesmo espaço sua ferocidade e sua amenidade,
seu olhar generoso diante da vida.
roberto lucio
Roberto Lúcio também se acercou de Câmara nos seus primeiros momentos como pintor advindo da formação de desenho na Escola de Belas Artes. Por muito tempo, também residiu na Rua
de São Francisco, em frente ao ateliê de Câmara. A pintura inicial de Roberto refletia o mesmo
olhar implacável sobre a figura. Sua série de perfis de rostos humanos, muito conhecida, que
realizou em pintura e em estampas serigráficas, revela sua aproximação da figuração da época
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
163
conhecida como Escola do Recife. Mas isto durou pouco.
Roberto encontrou outro caminho a partir de suas experimentações estéticas e de seu contato direto com a indústria e com a gráfica. Na indústria, ele fez estamparias para tecidos nas
mesmas fábricas onde trabalhara Maria Carmem. Na arte gráfica, ele foi designer de sinais e
signos de identidade de empresas. O que vulgarmente chamamos de logotipo, no seu tempo –
nosso tempo, pois este foi também ofício para mim – se fazia sem as facilidades eletrônicas de
agora: nossos instrumentos eram o esquadro e o compasso.
Roberto se tornou um artista de carreira europeia, com exposições e colecionadores na Alemanha, principalmente, onde fez amizades com grandes artistas como o iraniano, residente em
Berlim, Ackbar Beckalan. Participei com ambos em um workshop realizado, em 1988, em São
Paulo, a convite do curador e pintor Dieter Ruckhaberle, que uniu 16 artistas brasileiros e alemães,
nas dependências do Pavilhão da Bienal de São Paulo.
A arte de Roberto está hoje muito longe da Escola do Recife. Mas não distante de sua cultura
e seu cotidiano. Roberto observa seu entorno e o transforma. Sua última exposição o mostra radicalmente gráfico, colando folhas de impressos de grandes proporções: folhas de outdoors, por
exemplo, em grandes composições que decodificam o ambiente urbano, o down-town.
Roberto Lúcio é pai de Marina Mendonça, artista contemporânea que se manifesta através
da cerâmica, mas que já experimentou materiais diversos. Ela reside na Rua do Amparo, típica
rua da cidade que é endereço de ateliês desde os anos 60. Sua casa-ateliê está no térreo do sobrado onde o ateliê do seu pai ocupa a parte superior. Nesta rua, também morou Maria Tomaselli
e Humberto e moram hoje Tereza Costa Rêgo e Vilanova.
jose carlos viana e jose de moura
Outro amigo de fé é o pintor José Carlos Viana, misto de artista e político, que também é médico, mas se dedica mesmo é à arte. Desenhista brilhante e também pintor, Zé Carlos Viana
esteve à frente de instituições fundamentais para a cultura de Olinda e Recife, como o Museu
de Arte Contemporânea e a Secretaria de Cultura do Estado.
Sua atuação como um dos dirigentes da Guaianases foi um dos responsáveis pelo convênio da UFPE, que garantiu a preservação ativa, isto é, com seus equipamentos em funcionamento, do acervo de pedras, máquinas e acervo artístico. O arquiteto Antenor Vieira de Mello,
em sua fala neste livro, se refere com mais detalhes a este fato.
Neste rol não posso me esquecer de José de Moura, pintor que conserva a técnica e maneira de pintar dos anos 70 e o imaginário de um artista que olha o passado de forma onírica e
poética. Ele foi um dos professores do MAC nos anos 80.
olinda e a pintura de
paisagem
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
166
specula-se que foi José Cláudio que, na década de 1970, reinventou a pintura de paisagem
na modernidade nordestina e isto foi feito aqui
em Olinda. A partir de sua pintura veloz e a inteligência de seu olhar voltado para nossa luz,
nossos panoramas, nossos quintais carregados de cores e
texturas e os objetos que compõem estes quintais: as árvores,
os frutos e mesmo os pássaros. Eu disse parece, mas acrescento que este pioneirismo é mais do ponto de vista do seu
estilo, que se tornou um modelo de pintura. Porque a prática
da pintura de paisagem em Olinda é difundida há muito tempo.
Suas paisagens revelam seus processos pictóricos em
quadros que não têm começo nem fim: são puros registros de
sua sensibilidade e gestualidade. Por isso se pode dizer que
ele criou uma maneira própria de traduzir a paisagem para o
olhar do homem contemporâneo.
Mas no livro de Gilberto Freyre Olinda – 2º Guia Prático, Histórico e Sentimental de Cidade Brasileira, publicado pela primeira vez em 1934, o professor Edson Nery da Fonseca, que
faz os comentários e atualizações na sua 6ª edição, de 2007,
se refere à paisagem de Franz Post com o perfil de Olinda vista
do mar - que fez para ilustrar o livro de Barleus como o primeiro
registro paisagístico da cidade - e no mesmo livro se refere
aos pintores anteriores ao Movimento da Ribeira, que também
pintavam Olinda:
e
“O Beberibe foi também pintado pelo grande paisagista pernambucano que é Teles Júnior em quadros que se vê no mesmo Museu do
Estado, no Recife, onde se encontram ainda uma pintura a óleo do
Carmo de Olinda e uma aquarela do antigo Convento. Há pinturas e
desenhos de Olinda por artistas modernos: Fédora do Rego Monteiro
Fernandes, Cícero Dias, Joaquim Cardoso, Mário Nunes, Luis Jardim,
Percy Lau, Augusto Rodrigues”.
Outro pintor de paisagem pré-Movimento da Ribeira foi Ru-
167
bens Sacramento. Tiago Amorim nos dá um depoimento onde
mostra seu a qualidade deste artista na área técnica da pintura:
Eu fui fazer então uma visita ao mestre Rubinho Sacramento, porque
o filho dele tinha tido um problema de saúde, e, de repente, descobri
que eles eram pessoas muito simples e muito corretas. Um grande
poeta e uma pessoa muito sensível que pintava a natureza e procurava a fazer as coisas ligadas à criatividade, à arte... E na sequência
(das visitas que Tiago fazia a ele), ele me passou toda a técnica de
óleo para tela, usando carbonato de cálcio e cola de carpinteiro como
base, a maneira mais correta de se preparar uma tela. Ele fazia isso
com o maior carinho”.
Voltando a José Cláudio: sua arte não se limita à paisagem, ele
pinta sobre tudo e seu desenho designa seu mundo observado em essência, onde os objetos estão completos sem necessidade de detalhes inúteis, como blocos de ideias transformados em signos. É um poderoso desenhista. Certa vez ouvi de
Gastão de Holanda, a respeito de um de seus desenhos: “embora feito apenas com um traço contínuo de nanquim, parecia
colorido como uma pintura”.
Nunca me esqueci disso. Aprendi com esta observação
como a arte pode ir além dos seus limites técnicos e alcançar
a dimensão de algo de novo sob o sol.
É emblemático o famoso episódio do índio flechando uma
arara, que ele pintou a pedido de um homem, numa aldeia na
beira de um rio amazônico, quando acompanhou Paulo Vanzollini numa excursão científica na década de 70. Ao receber
o quadro de presente, este homem se emocionou ao ponto de
lhe presentear com um revolver que ainda estava no estojo –
Zé Cláudio se negou a receber - que era certamente a coisa
mais preciosa que ele possuía. Este caso revelou para ele que
a pintura que fazia podia alegrar o homem comum: era como
uma epifania, uma revelação, um acontecimento sagrado.
O homem colocou a pintura na janela de sua casa. Zé apro-
marcelo peregrino - vista de olinda, pintura
veitou e pintou a casa dele com a pintura na janela. Esta tela,
com todas as outras pintadas nessa excursão, faz parte da
coleção adquirida pelo Estado de São Paulo e pode ser vista
numa parede do Palácio dos Bandeirantes, entre as dezenas
de quadros de sua autoria que compõem a coleção integrada
ao precioso Acervo dos Palácios do Estado de São Paulo.
Ele me disse certa vez que este fato mudou sua pintura,
pois ele passou a tomar como ponto de partida para sua obra
a satisfação do outro. Passou a pintar para o outro, buscando
o que ainda resta de beleza e alegria no gesto de pintar com
liberdade, sem rigores estéticos acadêmicos, a vida que nos
cerca.
José Cláudio também interagiu com o trabalho de vários,
artistas não só como mestre, mas como companheiro de jornada. Plínio Palhano foi um deles, pintou com ele em várias jornadas passando por várias fases de sua espetacular pintura.
As paisagens de Plínio têm hoje sua marca: Olinda e Fernan-
do de Noronha são seus lugares preferidos para pintar. Outro
amigo e discípulo é Fernando Areias, pintor vigoroso de textura
densa que também usa os mesmos motivos – pássaros, frutas, paisagens – mas em outra escala maior, onde a figura de
um passarinho toma toda uma tela, por exemplo, de 100 x 080
cm. Cito ainda Sandro Maciel que foi seu ajudante de ateliê e
hoje é um pintor que vive da venda de suas telas.
Neste time de pintores de paisagem está o paulista Francisco Rebolo, integrante do Grupo Santa Helena, que veio
pintar Olinda, subindo e descendo as ladeiras, acompanhado
por José Cláudio e ajudado por seu filho Cláudio Manuel, que
se tornou também um pintor de grande qualidade passando
a assinar seus quadros como Mané Tatu. Muito conhecida é
a vista do Recife pintada do alto da Ladeira da Misericórdia,
ângulo que lhe foi revelado por José Cláudio. Elezier Xavier, o
brilhante pintor da cidade de Triunfo, muitas vezes pintou os
casarios de Olinda. Esteve aqui também vindo da cidade his-
utopia do olhar
tórica maranhense de Alcântara para plasmar nossas belezas,
Ivan Marquetti, um competente pintor amigo de Guita Charifker.
Podemos falar ainda de muitos outros paisagistas de Olinda
como, por exemplo: Maria Tomaselli, artista gaúcha que adquiriu uma casa na Rua do Amparo e trabalhou em seu ateliê e na
Oficina Guaianases; e outros aficionados da paisagem como o
aquarelista Petrúcio Nazareno, que desenha com suavidade o
perfil da cidade; Tiago Amorim, que pintou o panorama do Recife visto da janela de seu antigo ateliê do Alto da Sé e o pintor
naïfe Zé Som, que entre as décadas de 70 e 90 pintou paisagens “energéticas”, pintadas do mesmo ângulo que Tiago.
Cito ainda Liliane Dardot, a quem dedico espaço especial
neste livro; Humberto Magno, artista pioneiro da modernidade aqui; Antenor Vieira de Mello, paisagista fora da pintura que
alia objetos achados com a possibilidade da paisagem e da
memória; Tânia Carneiro Leão e suas paisagens localizadas
em espaços fora do tempo; Tereza Costa Rêgo pintando Olinda
vista de sua própria janela como fez também Bajado; Maria
Carmem, nas séries oníricas de pintar; Leonardo Filho, exímio
documentador de nossos monumentos coloniais; Alberto Simões; pintor elegante essencialmente paisagista; Plínio Palhano e seu ecletismo pictórico onde a paisagem tem um lugar
especial, Maurício Arraes; artista único que pinta paisagens
habitadas por figuras em perfeita harmonia; Luciano Pinheiro o
grande artista, paisagista abstracionista. Entre muitos outros.
O ilustre pintor mineiro Alberto da Veiga Guignard pintou
Olinda sem vir aqui. No Guia Sentimental, de Gilberto Freyre, seu
comentarista Edson Nery da Fonseca acrescenta esta história:
“Um dos maiores pintores brasileiros foi o fluminense Alberto da Veiga
Guignard (1896 – 1962). Descendente de franceses e formado na Europa, Guignard foi professor e pintor no Rio de Janeiro e em Minas gerais.
Em 1943, num momento difícil de sua vida, tornou-se hóspede do político Antonio de Barros Carvalho, em sua bela mansão na Rua Rumânia,
entre os bairros cariocas de Laranjeiras e Cosme Velho.
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
168
É possível que, ao mandar fazer o teto da sala de refeições de sua
residência com nove quadriláteros formados pelas traves de madeira
que sustentam a laje, Barros carvalho tenha se inspirado nos tetos
das igrejas da Ordem Terceira de São Francisco, formados por caixotes
de madeira pintados com cenas da história sagrada. E conseguiu que
seu hóspede pintasse Olinda baseado apenas em mapa, fotografias e
informações. Guignard pintou Olinda usando óleo diretamente na laje
e enfeitando até as traves em flores, volutas, brasões e outros elementos. São nove painéis 580 x 410 c”.
Mas a pintura de paisagem não é privilégio dos pintores
acadêmicos ou modernos com suas criações intelectualizadas. Há os pintores naïfes que aqui formam um tesouro vivo
de nossa cultura popular. São paisagistas como, aliás, são os
naïfes de todo o planeta. Aqui em Olinda, temos Vila Nova, Calazans, Zé Som, e Rubens Trindade como os mais conhecidos.
Mas surgem atualmente Edson Carvalho, Marcelo Lima, Kátia
Ondina, Elizângela das Palafitas, Shirley Lins, Inge do Amparo
e Paulo Perdigão.
o atelier coletivo de olinda
cartaz de exposição coletiva de pintura de paisagem do grupo do atelier
coletivo de olinda na galeria cândido mendes, rio de janeiro
Nos anos 1950, foi criado no Recife o Atelier Coletivo (com grafia francesa) por um grupo de artistas composto por Abelardo
da Hora, Gilvan Samico, José Cláudio, Adão Pinheiro, Wellington
Virgolino, Ionaldo Cavalcanti, Clarisse Lins, Armando Lacerda,
Wilton de Souza, Marius Lauritzen Bern, Ivan Carneiro, Ladjane
Bandeira, Bernardo Dimenstein, Guita Charifker e Genilson
Soares, entre outras grandes personalidades da arte pernambucana. O Atelier Coletivo não se destacou pela pintura de
paisagem. Sua orientação era o desenho e a pintura da figura
numa perspectiva moderna, mas essencialmente figurativa.
Nos anos 80, outro grupo formou o Atelier Coletivo de Olinda, cujo nome homenageia o do Recife. O Atelier de Olinda foi
proposto por Baccaro como forma de reunir um grupo de ami-
169
gos para pintar fora, ao ar livre. Para as mostras das jornadas
de pintura, Baccaro dispôs seu espaço de exposições que ficava na Rua de São Bento, lugar onde se viu, durante décadas,
importantes exposições patrocinadas por ele ou pela Prefeitura, como foi no caso de algumas versões do festival Olinda Arte
em Toda Parte.
Ele mesmo é um paisagista muito original, tanto pelo cromatismo herdado de sua província italiana, onde os tons terrosos superam a luminosidade local, quanto pelo sentimento de
protesto que sobressalta de suas pinturas ao registrar paisagens ameaçadas pelo desenvolvimento urbano.
Além dele, integraram o Atelier de Olinda: José Cláudio,
Gilvan Samico e Guita Charifker, ex-integrantes do Atelier do
Recife, Luciano Pinheiro, Eduardo Araújo, José de Barros e Gil
Vicente. Todos pintaram Olinda, seus arredores e outras localidades para onde se deslocavam geralmente em grupo. Eduardo Araújo foi além. Este importante pintor, iniciado no métier da
paisagem por Guita Charifker, ultrapassou os limites nacionais
indo viver alguns anos no sul da Itália, em Ostuni, província de
Drindisi, pintando os olivais e gravando na madeira.
O exemplo do “Atelier” desenvolveu na geração seguinte,
seus filhos e agregados, o gosto pela pintura de paisagem.
Dele surgiram: Marcelo Peregrino, filho de Samico e seu mais
verdadeiro discípulo; Mané Tatu, filho de José Cláudio, pintor de
marinhas, manguezais e bichos do mar, poderoso paisagista;
Matheus Baccaro, filho de Giuseppe, exímio pintor realista que
se especializou em panoramas rurais como os “plantis” de
cana; e Sandro Maciel, cuja iniciação na arte foi resultado de
seu trabalho como ajudante do ateliê de José Cláudio. Eis então
a nova pintura de paisagem de Olinda.
samico, marcelo, O
sobrado e a nova
paisagem.
utopia do olhar
172
marcelo peregrino
Entre competentíssimos retratos da família
– de seu filho Daniel e de sua mulher Jozia-
No ateliê de Samico, as obras de Marcelo se
ne – está o de Samico, uma lição de ver e um
confundem com as paisagens que transpa-
exercício de saber. Marcelo tem se dedicado
recem pelas janelas do leste e oeste e se
a pintar retratos e o faz com a mesma com-
integram às paisagens pintadas por Samico.
petência das paisagens. Os nus, onde os tra-
Para mim, é indispensável falar da obra do pai
ços feitos a pincel começam a se deslocar da
quando estou comentando a pintura do filho.
matéria pictórica, são, por sua vez, exercícios
Não apenas por hierarquia, mas também para
de liberdade que nos leva aos conjuntos de
lembrar que aqui ainda se pintam paisagens,
figuras onde estes traços dançam sobre as
figuras, naturezas mortas e flores. E se faz
manchas de cor.
isto com uma propriedade rara e categórica,
como sempre fez Samico. Marcelo é um dos
Entre as obras desta mostra, está um curioso
melhores exemplos desta tradição. Comen-
díptico pintado a quatro mãos, uma vista do
tar a sua obra é comentar esta prática: esta
Matadouro de Peixinhos, construção abando-
maneira de ser de uma cidade, onde o artista
nada de arquitetura inglesa. A asa da esquer-
não tem nada de especial. É pessoa comum
da foi pintada por Marcelo, a da direita por
que transita como qualquer cidadão e com-
Samico. Além do gravador internacionalmen-
partilha seu saber com todos.
te conhecido, Samico é um pintor de grande
qualidade. Reinterpreta na pintura os temas
Samico me disse:
de suas xilogravuras e faz, paralelamente,
“tenho visto muita coisa... este quadro, por
paisagens pintadas ao ar livre. Neste díptico,
exemplo, me lembra Raoul Dufy, com suas
o lado Samico é sóbrio, esfumado; o de Mar-
manchas de cor e os traços do pincel por cima,
celo é vibrante, pincelado. Na parte superior,
definindo o tema”.
determinada pela perspectiva, onde coube
um céu manchado de branco, Samico dese-
gilvan samico
importante destacar a atuação de Gilvan Samico como pintor de
paisagens. Ele sempre foi pintor, mas sua pintura conhecida até então
está inserida no contexto do imaginário, relacionado com a tradição
ibérica poética e mítica de sua gravura.
Mas as paisagens de Samico são exercícios de pintura pura: dispersas
de estilo, liberta de normas e sentidos estéticos predeterminados pela sua própria obra.
Este grande mestre humildemente se presta a pintar o que vê e com isto encanta o mais
exigente dos olhares.
Marcelo Peregrino, apesar da ligação profunda com seu pai, atua ao lado de seus
amigos de geração, como Álvaro Caldas, Antonio Mendes, Sandro Maciel, André Valença,
Armando Garrido e Fernando Areias. Pintores espontâneos, hoje amadurecidos e donos
de suas próprias características e estilos, que têm no Espaço Sobrado, na Rua 15 de Novembro, o Escritório de Arte Peregrino- Garrido, em sociedade com o pintor e colecionador
Antonio Garrido.
Sobre a arte de Marcelo, escrevi para o catálogo exposição que realizou no Convento de São Francisco de João Pessoa:
e
Respondi-lhe:
nhou com o pincel um boi, como se fosse a
“pena que Dufy nunca tenha olhado através de
alma dos bois ali esquartejados.
uma janela de Olinda”.
Eis aí uma lição de coisas: de ver, de sentir, de
fazer. Uma ode à beleza onde se pode imagi-
A pintura de Marcelo Peregrino é cotidiana nos
nar como algo que nos passa despercebido
dois sentidos que podem definir o termo: diária,
pode entrar pelos olhos do artista, passar por
pois está presente no seu dia-a-dia, e temática,
sua alma e seu coração, e sair através de suas
porque ele pinta o cotidiano da cidade. Paisa-
mãos para fixar-se numa tela.
gens são vistas de qualquer ângulo desta cidade de colinas cercadas de mar com o Recife ao
fundo. A paisagem vista da Praia dos Milagres,
com as pedras do mole no primeiro plano e o
Porto do Recife ao fundo, é emblemática. Um
diálogo visual se estabelece nas estruturas
metálicas do porto contrapondo-se às manchas de nuvens e de mar. Ela foge à mesmice
dos cartões postais. É outro ponto de vista,
mais contundente, ao rés do chão.
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
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Comentar aqui a obra de Samico me parece inútil neste
momento próximo do livro que Weydson Barros Leal escreveu e publicou ano passado, 2011, abrangendo todos
os aspectos de sua obra grandiosa. O que não posso deixar de dizer, porém, deste artista e amigo é que ele a pessoa mais generosa que conheço.
Na sala de sua casa repleta de quadros e gravuras
dele, de Marcelo e alguns poucos artistas, acompanhados de Célida e Luciana, eu e Amelinha gravamos
esta conversa:
Amélia Couto
Samico, aqui está você, Célida, esses filhos maravilhosos que são
Luciana e Marcelo, e também os netos, que formam esta família
de artistas. Eu queria que você me falasse um pouco sobre esse
encontro, acho que cósmico, de vocês dois: a mestra e o monstro
sagrado.
Samico
objeto de alumínio e madeira com símbolo de autoria de samico – marcelo peregrino
Eu já disse qualquer coisa a respeito dessa minha ida a São Paulo
depois, a ida dela pra lá, o que é que você quer saber mais recôn-
neiro. Eu nunca pedi demissão daqui, eu estava em uma Prefeitura onde o “vento faz a curva”. Eu tinha
dito?
uma pessoa lá no IPSEP que conseguia qualquer coisa pra mim. Quando eu falei em conseguir uma
licença, ele disse que existia uma de três meses: licença remunerada para fins culturais. Bom, natu-
Amélia Couto
ralmente, ela foi se esgotando. Eu tive que ir para o Rio de Janeiro porque estavam prometendo me-
Se o Senhor me permitir... É que vocês são um casal muito lindo, não
lhores dias lá. Mas não aconteceu nada de muito diferente. Mandei dizer a Célida: ‘diga o dia que você
é? Quantos anos de casados?
vem que eu vou lhe esperar no aeroporto’. E aí foi no mesmo dia que a gente voltou pra São Paulo?
Célida
Célida
52 anos de casados.
Não, eu fiquei lá na casa de minha amiga.
Amélia Couto
Samico
52 anos, olha que lindo...
A Bienal em São Paulo, tinha muito tempo? Eu encurto tudo, porque a lembrança não dá para tudo.
Samico
Célida
Pois bem, estava em São Paulo quando de repente chega um anún-
Eu fiquei no Rio. Morava numa pensão, num quarto alugado, onde homem não entrava; só entrava
cio de que Célida de que ela está se transferindo para o Rio de Ja-
xilogravura de samico
mulher. Era uma senhora mineira. E todo dia ele chegava nessa pensão de noite e assobiava “papara
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
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177
papapa”, um trecho de “ Cherazard”.
A gente ficava no Flamengo, sentava nos bancos. Eu, morta de cansada, porque eu dava 6 horas de
aula de dança por dia. Ele querendo andar e eu querendo ficar sentada. A gente se acertava assim.
Depois eu tinha uma grande amiga que morava em Copacabana, casada com um grande amigo meu.
Moravam os dois em Copacabana, num apartamento. E ela era maravilhosa e meu dinheiro era todo
gasto com dança e para pagar as coisas de dança, com o apartamento.
Eu não tinha dinheiro pra almoçar. De verdade. Eu comia quibe com tomate, mas me alimentava. Não
podia porque eu fazia muita dança. Essa amiga e o marido dela foram transferidos para cá. Ela estava
com uma filhinha pequenininha e me pediu para ir dormir com ela lá, para ajudar um pouco com a
neném recém-nascida. Quando ela se arrumou para vir para cá, disse: – Célida, esse apartamento, a
gente pode conversar com o proprietário e passar para você, sabe?’ Dito e feito. Samico passou da
casa do primo dele para o apartamento, ainda passou um tempo junto e depois casou.
Samico
Casou com papel mesmo. E não foi papel higiênico não.
daniel samico - xilogravura
Célida
É porque eu era o oposto dele. Foi a atração dos opostos, sem dúvida. Até no horóscopo: ele é de gêmeos e eu de sagitário. É o sagitário em sagitário. Quando eu fui para o Rio de Janeiro, fui porque era
Célida
sagitariana entendeu? E ele não sabia se ficava em São Paulo, se ficava não sei onde. Ele sabia, mas
Hoje eu dou aula de dança criativa. Luciana é quem dá a parte do aquecimento, porque ela é muito
o geminiano nele impedia que ele dissesse, entendeu?
capaz. É engraçado que aqui é tudo bem divididinho sabe?
Samico
Samico
Quando eu a conheci, ela começou a fazer dança. Continuou lá o que tinha deixado aqui.
Luciana faz exatamente a carreira dela. Inclusive, se você pegar foto nas mesmas idades são bem
parecidas e também trás a questão da dança na veia mesmo.
Célida
Eu fazia balé, porque era o básico, e dança moderna.
Célida
E Luciana faz também desenhos tão bonitos. Ela já pintou. É que não tem tempo não é? Matheus
Samico
desenha muito. Lembro que ele trabalhava comigo e ficava desenhando compulsivamente. É o tempo
Então fez parte do grupo mesmo. Como solista.
inteiro. Agora ele está trabalhando num negócio de fazer capa de disco. Faz mestrado em História.
Célida
Dei aula no conservatório de Santa Tereza. Era em 1959/1960.
eduardo araujo – olinda e baia formosa
Amélia Couto
Eduardo Araújo, pintor de paisagens, nasceu no Recife em 1947. Passou a infância na Zona
da Mata de Pernambuco, onde construiu todo o repertório visual que utilizou mais tarde
É uma vida inteira dedicada à dança não é? Até hoje aqui em Olinda você ensina dança...
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
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179
120 cm. Será fundamental um ritmo intenso de pintura - uma oportunidade talvez sem igual!
Ano passado, eu pintei bastante, mas sem esse tempo “infinito” que vou ter aqui. Já estou lendo
o segundo livro: Juliano, de Gore Vidal, muito bom. Tenho evitado pensar muito. Basta viver intensa e
prazerosamente, com seriedade e humildade, esta pequena vida de pescadores.
O ateliê é espaçoso, confortável e bastante isolado. Não entrei, ainda, totalmente no ritmo, na atmosfera da vila, que pretendo conhecer mais de perto - para absorver essa bela energia dessa gente,
ainda cheia de magia e força. Nós, ditos civilizados, estamos mesmo esvaziados do belo.
Ontem e hoje foram os dias mais produtivos do trabalho. A perturbação começou com a lua nova
no sábado e chegou lentamente, mas pra valer. O saldo parece positivo, afora recompor uma boa
parte do telhado. Era praticamente três meses que não pintava e três anos neste ritmo.
A natureza de novo equilibrada depois do furor. Esse o principal mistério da vida: a renovação, o apaziguamento, a paz. Essa manhã provo a sensação de purificação. Gostaria de pintar com este sentimento
sereno. Estão esquecidas as batalhas, os grandes desejos – uma integração perfeita com a natureza
como se não existissem os seres humanos. Aquela suavidade no comportamento animal, não domesticado. Com grande alheamento de toda pirâmide da história. Ainda bem que mesmo conscientes, mesmo
paisagem – xilogravura de eduardo correia de araújo
civilizados, somos capazes de reviver essa experiência fantástica. Como a criança imediatamente antes
depois de despertar – o encantamento com tudo que vê, uma ausência de passado.
nas suas pinturas. Formou-se em engenharia de minas com estágio em Londres, começou
a pintar em 1975.
Frederico Morais diz sobre ele, no catálogo da exposição Fernando de Noronha – 3 Visões: Autodidata em arte, largou tudo para dedicar-se à pintura. Pintou o litoral, o sertão, os
animais e a vegetação, o casario e o equipamento rural.
Integrou o Atelier Coletivo de Olinda nos anos 80, com Baccaro, Zé Cláudio, Luciano Pinheiro, Samico, Gil Vicente, José de Barros e Guita, de quem recebeu orientação pictórica.
Realizou diversas exposições individuais e participou de importantes coletivas.
Ele passou um período, a partir de 1994, em Ostuni, na província de Drindisi, Sul da Itália,
pintando e gravando em madeira a paisagem local de oliveiras centenárias e praias rochosas, diferente da luxuriante flora daqui. Em 1997, alugou uma casa/ateliê em Baia Formosa,
Rio Grande do Norte, onde decidiu passar três meses convivendo com pescadores da vila,
entregue à reflexão e à pintura.
Ele se confessa, neste depoimento que chama Diário de um pintor de mares, uma verdadeira epifania dada a nós por uma alma sensível e perscrutadora. Uma joia:
É impressionante como sucedem os resultados quando temos todo o tempo para a pintura, quando pintamos todo dia. Aqui o ar é puro, próprio ao processo criativo. A energia que chega do mar é
profunda, simples e silenciosa. Com certeza benéfica a todos os que estão aqui e fonte de felicidade.
Mas agora, em curto prazo, o objetivo é pintar esses cinquenta quadros até o final de maio e continuar de maneira mais plena acreditando na arte e na natureza.
Não quero fazer nem poesia nem literatura – anotar apenas este cotidiano de beleza da luta que
é a pintura. Daquele retornar quase diário, do esforço quase animal de sobrevivência nesta sociedade
que aparentemente aceita mas que marginaliza por ausência total de cultura, de sensibilidade, de
espiritualidade. Uma ditadura econômica que castra todo tipo de criatividade tornando os ser humano estéril, sem vida interior, completamente perdido em meio a ruínas de qualquer tipo de princípios
éticos, de respeito humano. Tudo soa falso. Ninguém é poupado e o artista agoniza na sua lucidez.
A vida do pintor é sempre mais importante do que sua obra. Aparentemente é um paradoxo e
segundo Thomas Mann ‘a vida do artista é sempre ruim, precisa-se estar morto para ser um criador’.
Tudo verdade, mas devemos também considerar o ‘fantástico’ na vida do artista. Essa convivência
próxima com a fantasia. Essa lucidez, que o torna também profeta maldito, essa paz. Só os radicais provam essa paz, me arriscaria a dizer. Diferente das outras porque é povoada de alucinações
“Não deixa de ser uma grande prova, esse profundo recolhimento. Estou mais feliz do que sereno tendo
da própria realidade, que o artista está sempre contra. É sempre miserável, mais do puro, do belo
consciência da sua importância. O lugar é magnífico - e a imensidão do mar, às vezes, assustadora. Imen-
daquilo mais verdadeiro da raça humana. É também um Santo, desde que a santidade não esteja
so também tem sido o desafio da pintura: fiz dois tímidos estudos pequenos e iniciei um quadro de 80 X
associada com castidade”.
mac
utopia do olhar
criação do Museu de Arte Contemporânea
de Pernambuco – MAC/PE deve-se à
doação de seu acervo ao Estado de
Pernambuco pelo esforço do jornalista,
empresário, colecionador e mecenas
das artes plásticas Assis Chateaubriand Bandeira de Mello,
proprietário dos Diários Associados, em 1966.
O MAC/PE incrementou o meio artístico local, acentuando
a força criativa da cidade. Não apenas por seu acervo, mas
também por ser um espaço cultural que, nas décadas de
1960 e 1970, quando a pintora Mary Gondim o dirigiu, movimentou e divulgou as artes e mediou o seu precioso acervo
com o povo e os artistas de Olinda.
A implantação do MAC sucede ao governo municipal de
Eufrásio e seus dois famosos secretários de turismo Adão
Pinheiro e Vicente do Rêgo Monteiro. O MAC consolidou-se na
época não apenas como um centro de mostragem de arte,
mas também como centro de produção de arte. Mary Gondim,
sua segunda diretora, foi a protagonista daquele fértil estágio
cultural que a cidade viveu. Numa época em que o conceito
de museu não era muito mais do que o de um depósito de
coisas velhas, Mary Gondim fez do MAC um museu vivo.
O MAC/PE teve uma sucessão de diretores que mudavam,
como se faz infelizmente na política local, de acordo com as
mudanças do governo estadual. Foi fundado no governo de
Paulo Guerra, tendo a Senhora Helena Lundgren como Diretora Fundadora. Em seguida, entrou Mary Gondim. No governo
de Roberto Magalhães, o arquiteto Tomaz Lapa, recém-chegado da França, sucedeu Mary Gondim e, por sua vez, foi sucedido pelo arquiteto e professor Reginaldo Esteves. Depois,
tivemos o artista plástico José Carlos Viana, no retorno de
Miguel Arraes ao governo, sendo substituído pela pintora e
arquiteta Margot Monteiro que, por sua vez, foi substituída
pelo artista Alexandre Nóbrega. No governo de Jarbas Vasconcelos, foi a pintora Marisa Lacerda a diretora. Atualmente,
o MAC é dirigido pela Sra. Célia Labanca.
a
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
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Cada diretor deixou sua marca, realizou coisas boas. Margot Monteiro animou o Museu abrindo-o aos sábados e domingos dando vida ao seu belo jardim-quintal. Alexandre Nóbrega constituiu um conselho curador com o intuito de enfocar o Museu na arte contemporânea, não só para honrar seu
nome, mas também para inseri-lo no contexto da atualidade.
Célia Labanca, por sua vez, abriu o acervo para doações dos
artistas, sem seleção, o que desequilibrou a sua qualidade.
Por outro lado, porém, o MAC recebeu de Luciano Pinheiro a
importante coleção de gravuras de sua autoria.
É notável o período da administração do MAC nas gestões
de Reginaldo Esteves e José Carlos Viana, que implantaram
nas suas dependências uma oficina permanente com cursos
de desenho, pintura e outras técnicas. De lá, saíram artistas
como Roberto Ploeg e Antonio Mendes. Importante dizer que
oficinas de arte fazem grande falta em Olinda. O fechamento
das do MAC deixaram um grande vazio. Sobre este período o
pintor Antônio Mendes deu-me o seguinte depoimento:
“O curso no MAC foi composto em quatro módulos: Desenho I e II,
Pintura I e II. Eu vinha de uma experiência de desenho e pintura acadêmica, adquirida nas aulas particulares com o professor Amaro
Crisóstomo, quando fiquei sabendo que o MAC estava oferecendo
esses cursos. As aulas eram ministradas por duplas de professores
no formato de rodízio, ou seja, todos os alunos tinham aulas com
todos os mestres.
Nos módulos Desenho I e II, as aulas tinham como finalidade o
exercício da observação e a “soltura” da mão. Fazíamos desenhos
com modelo vivo e objetos. No começo, com tempo estendido. Aos
poucos, éramos estimulados a fazê-los cada vez mais sintetizados
e com tempo cada vez mais curto (10 m, 5m, 3 m, 1 m.).
As aulas eram intensas e muito práticas (tenho ainda hoje uma
boa quantidade de material produzido lá). Os mestres faziam observações de ordem geral e circulavam pela sala pontuando especificamente para cada aluno o que era pertinente. Tudo com material
183
bem simples: papel tamanho A4, uma prancheta para apoio, lápis de várias gramaturas, HB, 3B, 6B ”.
Hoje, o museu possui 16 coleções em um acervo de 4.000 obras. Entre elas, o seu núcleo
principal, que é coleção de original doada pela campanha de Chateaubriand – Núcleo Chateaubriand –, as obras e documentos em papel de Abelardo Rodrigues e a excelente coleção de gravuras de Luciano Pinheiro.
O Núcleo Chateaubriand, todos sabem, é precariamente guardado e conservado, mas
é um dos melhores acervos artísticos do Nordeste. Uma coleção onde constam obras de
artistas internacionais como Adolph Gotlib e David Hockney; e de nacionais como Cândido
Portinari, Vicente do Rego Monteiro, Teles Júnior, Francisco Brennand, João Câmara, José
Cláudio, Wellington Virgolino, Mirella Andreotti, Lula Cardoso Ayres, Antonio Bandeira, Aldo
Bonadei, Babinsky, Cícero Dias, Darel Valença, Antonio Gomide, Guignard, Maria Leontina, Arcâgelo Ianelli,Fernando Lopes, Manabu Mabe, Ismael Neri, Tomie Otake, Lasar Segall, Gilvan
Samico, Orlando Teruz, e Mário Zanine, para citar somente alguns.
Mary Gondim é, porém, o ícone do MAC/PE. Nos anos de 1960, ela assumiu a tarefa de
mostrar a arte de Olinda à própria cidade expondo seus jovens artistas, desde as criações
das fantasias e máscaras carnavalescas que o MAC apresentava até as expressões de
teatro experimental como o grupo Vivencial Diverciones. Era uma festa: pintura, desenho,
escultura fotografia, teatro, música, literatura, desfiles, cursos e concursos, tudo isto realizado pelos talentos da cidade.
Neste clima, o MAC tornou-se o palco dos novos acontecimentos artísticos desta cidade dupla de Recife/Olinda gerados pelos ateliês livres da Escola de Belas Artes, pela
Escolinha de Arte, pelo Teatro Popular do Nordeste e o Movimento de Cultura Popular – MCP,
interagindo com os ateliês dos artistas que aqui se instalaram. Foi a época dos ateliês
coletivos como o Ateliê Mais 10, a Oficina 154 e o Movimento da Ribeira, sementes de uma
nova cidadania baseada na sociabilidade.
Este pioneirismo institucional assumido pelo MAC produziu acontecimentos – happenings, como se dizia na época – tais como a performance Fiesta em Oh Linda, do fotógrafo
e artista multimídia Paulo Klein que hoje é atuante crítico de arte em São Paulo e curador
independente de repercussão nacional. Além de instalações como a Escultura de Gelo, de
Paulo Bruscky, e as incríveis performances – pioneiras, diga-se de passagem - de Antonio
Roberto de Lira Franca, cujo nome artístico era Pernalonga, falecido nos anos 80. Essas
ações justificavam na época, o nome Museu de Arte Contemporânea, e depois da administração de Mary, tornaram-se cada vez mais raras.
Paulo Klein, cuja amizade que temos é um culto recíproco, nos presenteou com este
depoimento sobre a performance Fiesta en Oh Linda:
cartaz da intervenção
de paulo klein
fiesta in oh! linda
criação do autor
fiesta em olinda
Preâmbulo para as artes libertárias
Pensar que Fiesta em Oh! Linda foi um evento multimídia, multimeios, multitudo, antes,
muito antes disso ser usual, nos leva a constatar como é fraca a memória nacional, que
reverencia ídolos com pés de barro e esquece contribuições culturais importantes.
Fugindo de pressões e discriminações,
clima tenso e perseguições em São Paulo,
fui parar em Recife, depois Olinda no ano
de 1973. Com intenções de atravessar o
Atlântico ‘no convés de um cargueiro/ lavando o porão’, acomodei-me na terra ensolarada... por onde haviam passado Eckout e Maurício de Nassau, seduzido por
anfitriões magnéticos como Lula Côrtes
e Kátia Mesel, depois Tiago Amorim, Raul
Córdula e tantos outros.
Saindo de São Paulo como fotógrafo de imprensa, especializado em fotografia de moda
e da indústria do disco (já havia feito fotos
para Nelson Gonçalves e Os Mutantes, entre
outros artistas), cheguei com uma mochila
básica e muitos rolos... de filmes. Na época
ainda se fazia fotografia analógica, com filmes caros e revelações complexas.
Numa década em que ainda não existia (ao
menos com este nome) a figura do curador de exposições, fomos levados a realizar uma série de ações como fotógrafo
de arte, entre elas um curso de Técnica e
Consciência, à convite da então diretora do
Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco, Sra. Mary Gondim. O curso voltado a
iniciados e avançados em termos de arte
fotográfica resultou numa produção bem
diversificada. Além dela, houve o Prêmio de
Fotografia Sobre a Zona Rural em Pernambuco, organizado pela Fundação Joaquim
Nabuco de Pesquisa Social. O primeiro prê-
mio, que incluía um valor significativo em
dinheiro, foi ganho pelo próprio Paulo Klein.
Foi com esta verba, os trabalhos dos inscritos no curso de Técnica e Consciência
Fotográfica mais a colaboração de amigos, que criamos e realizamos a Fiesta em
Oh! Linda. Entre os participantes estavam
o próprio Paulo KLEIN, Raul CÓRDULA, Jean
Claude VITART, Tiago AMORIM, Diva GLÓRIA, Fátima CHIANCA, Roberto LÚCIO, Paulo
BRUSCKY, Abelardo DA HORA, entre outros.
Além da obras em suportes convencionais,
haviam outras inusitadas, como uma escultura de gelo do artista Paulo BRUSCKY,
instalada em frente ao museu, um tapete de retalhos fotográficos aplicados na
grande escada do museu, um audiovisual
pilotado por Eduardo STUCKERT, com a presença e locução do cantor Zé RAMALHO,
além de uma performance de dança e movimento e outras ações. Ah! Sim... e uma
exposição de fotos de Paulo KLEIN.
O evento teve uma grande e apoteótica abertura, com toda uma população de cabeludos
e coloridos mesclando-se com a população
simples da cidade de Olinda e visitantes estupefatos com o que viam. Pensada hoje, a
manifestação precedeu uma série de manifestações posteriores, desenvolvidas em
vários momentos e espaços de excelência
do Brasil e do Exterior. Personalidades como
a arquiteta Janete (Borsoi) Costa e o artista
Montez MAGNO, que estiveram presente, comentaram na ocasião que em suas viagens
por grandes museus do mundo nunca haviam presenciado algo similar. E isto acontecia na colonial Olinda, Pernambuco, Brasil,
em plena ditadura militar.
Os precedentes desta manifestação que
podem ser rastreados são poucos, mas
representativos. Paulo KLEIN havia se ini-
ciado na Fotografia num centro de estudos
da área, sobre coordenação de Anusha e
Claude KUBRUSLY, em São Paulo. Lá teve
contato com alguns importantes profissionais da área, como Maureen BISILIAT,
Cristiano MASCARO e Claudia ANDUJAR. Ele
conta que, antes de sair de São Paulo, havia se impressionado com uma apresentação do fotógrafo George LOVE, onde um audiovisual que usava as paredes do próprio
MASP – Museu de Arte Contemporânea foi
considerado uma grande inovação.
Os equipamentos na ocasião eram limitados – projetores, gravadores, pick ups –
mas em Olinda, o encontro com Eduardo
STUCKERT e Zé RAMALHO facilitou o desenvolvimento de algo similar. Outras exposições e eventos aconteceram na época
e na cidade de Olinda, mas nenhum com
o impacto que a Fiesta en Oh! Linda teve
sobre artistas e público. Claro que outras
considerações podem e devem ser feitas
sobre o ocorrido, mas achamos ser esta
uma oportunidade importante de se expor
um pouco do que ocorreu naquele mês de
Outubro de 1973”.
Paulo Klein
utopia do olhar
186
Os anos 70 foram o período dos happenings, que correspondiam na época ao que chamamos hoje de performances. O principal artista performático da época era Roberto França, cujo
nome artístico era Pernalonga. Ele se apresentava nas salas do Museu com algo que ficava
entre a dança em seus movimentos e a arte visual contida no decor, do figurino e nas poses
escultóricas, onde ele permanecia imóvel por alguns instantes. Era tudo muito simples, muito
ingênuo, mas carregado de um significado profundo de dádiva, de amor pelo outro.
Pernalonga se ligou ao grupo teatral Vivencial Diversiones tornando-se uma de suas
estrelas, mas sua imagem sempre esteve ligada ao MAC e as suas performances. O Vivencial foi um coletivo de teatro que nasceu e viveu em Olinda, e aqui se tornou a vanguarda
cênica pernambucana entre os anos 1974 e 1982. O grupo foi criado pelo ator e diretor
Guilherme Coelho, e composto por atores como, além de Pernalonga, Alfredo Neto, Américo Barreto, Sandra Carrero, Auricéia Fraga, Fernando Santana, Gil Barreto, João Andrade, Walter Estevão, Madalena Alves, Marcos Valério, Tânia Barreto, Susana Costa, Maurício
Campos e tantos outros, inclusive o Antonio Cadengue que atuou como ator e diretor em
vários espetáculos.
Encenaram 31 espetáculos, a maioria dirigida por Guilherme Coelho e escritas especialmente para o grupo por autores como o próprio Guilherme, Jomard Muniz de Britto, que
escreveu para Pernalonga 7 Fôlegos e Perna Pra Que Te Quero. Encenaram também textos
de Fábio Costa, Américo Barreto e Beto Diniz, de Pernambuco, e também de Paulo Pontes,
Chico Buarque, Fausi Arap, Glauco Mattoso, Carlos Eduardo Novais, João Silvério Trevisan,
entre muitos outros autores. A Fundação de Cultura Cidade do Recife editou em 2011 o livro
Transgressão Em 3 Atos – Nos abismos do Vivencial, contendo três ensaios de autoria de
Alexandre Figueiroa, Cláudio Bezerra e Stella Maris Saldanha.
O MAC esteve sempre ligado ao teatro. Além das performances de Pernalonga, híbrido
de arte visual e dança, ele abrigou o Teatro Ambiente do Museu de Arte Contemporânea
com a peça de Ariano Suassuna O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna, encenada em
1976 com o apoio da Secretaria de Educação e Cultura do Estado e do Departamento de
Extensão Cultural da UFPE. No folheto da peça Ariano escreve:
“A encenação realizada pelo Teatro Ambiente do Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco, sob
inspirada direção de Nazareno Petrúcio, além de viva e dionisíaca, com grande garra brasileira, é muito fiel ao espírito da peça e corresponde ao que eu sonhava para ela quando escrevi. (...)
Assim agora só tenho a agradecer a ele (Nazareno Petrúcio), a Mary Gondim e ao Teatro Ambiente por levarem a peça a Campina Grande – terra tão próxima de Taperoá – a admirável
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
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montagem que fizeram e que honra tanto a peça quanto o autor”.
O teatro em Olinda merece uma história completa e seriamente pesquisada nos moldes de
Transgressão em 3 atos. A memória de Marcos Siqueira que manteve por conta própria um
teatro no Varadouro; o fantástico teatro do Mamolengo Só Riso; o teatro de Bonsucesso; o
edifício de Salgadinho onde se apresentava o Vivencial; a Arena existente dentro da Fundação Casa das crianças, que apresentou tantas jornadas de cantorias; o teatro Fernando
Santa Cruz, como outros espaços cênicos, formam considerável acervo da memória teatral pernambucana.
Sempre pensei na interdisciplinaridade que o conjunto de categorias de arte possibilita, especialmente quando se pensa nas interelações temporais entre movimentos artísticos. Considero que existem pontos de ligação entre o passado e o presente que são
tratados pela ciência através de pontos de vista que, de tão dogmáticos, não convencem
às mentes criativas. Um deles reside na abordagem dos territórios da linguagem, quando
não se considera o tempo cultural – vamos pensar num tempo em relação à cultura, e
relativo também ao espaço geográfico.
Tenho o vício da reativação, gosto de traçar relações entre coisas que aparentemente se parecem opostas. Por exemplo: o Movimento Armorial, brilhante conceituação
de Ariano Suassuna derivada da ideia de identidade de nossa cultura, é para mim algo
bem mais amplo do que a maioria dos artistas concebe ou concebeu na ocasião de seu
lançamento nos anos 60.
A relação da imagem do que seria a arte armorial do nordeste brasileiro com o conceito
de “Brasão de Armas”, ou melhor, da Heráldica, prática medieval que entre outras funções
estava a de distinguir grupos sociais através de formas e cores, embora possa parecer
arcaica, é absolutamente atual. “Se não credes, esperai um pouco...” como disse o, poeta
paraibano Vanildo Brito. O plano – duas dimensões –, a cor primária, a textura marcada
graficamente, o assunto narrado em primeiro plano, o tema básico enfocando a emoção
pura, a economia de formas, traços e cor, tudo isto existe na arte chamada rupestre assim
como nos signos de propriedade como os desenhos dos ferros de marcar o gado ou nos
sinais que chamamos hoje de “logotipos”.
Muitos artistas modernos e contemporâneos adotam estes sistemas de comunicação,
a arte geométrica do Século XX é contaminada por esta ideia de expressão mínima que se
vê na arte rupestre. Mas a arte rupestre, como disse antes, não se limita no tempo nem
no espaço, mas na precariedade de sua materialidade. Rupestre pode ser definida como
arte sobre pedra, e assim o rabisco do pedreiro na calçada recém-construída, a garatuja
sobre o muro, o nome gravado na parede podem ser sinais tão arcaicos como armoriais.
utopia do olhar
188
o salao dos novos
Além da animação cultural dos anos de 1960, uma das mais importantes ações desenvolvidas pelo MAC foi o Salão dos Novos. Este salão de Arte teve 14 edições, entre 1973 e 1986.
Entre outras coisas, o Salão dos Novos foi importante por ser um exemplo bem sucedido
de parceria entre o poder público e a iniciativa privada numa época que não existia a ideia
de patrocínio nem leis de incentivo cultural na área das artes plásticas. O que existia era a
ideia do mecenato cujo mais importante militante em São Paulo foi o paraibano Chateaubriand, e sua maior parceria no Nordeste foi a Campanha Nacional de Museus Regionais. O
Salão dos Novos teve, em dez de suas versões, o patrocínio da Sulamérica Companhia de
Seguros, e em outras quatro, da FIAT. Sabe-se que a Sulamérica mantinha um acervo de
arte e que os prêmios de aquisição do Salão dos Novos eram incorporados a ele. O crítico
de arte mineiro Frederico Morais, conhecedor da arte pernambucana, autor de textos de
apresentações de exposições de artistas como João Câmara, Roberto Lúcio e Guita Charifker, pelo menos, em alguma ocasião foi curador deste acervo.
O Salão dos Novos também foi importante no contexto geral da arte local por ocupar a
vaga, nos seus três primeiros anos, do Salão de Arte do Estado, que deixou de ser realizado
em 1969 retornando em 1976, renomeado de Salão Oficial de Arte e, entre 1980 e 1986, Salão
de Artes Plásticas de Pernambuco.
Mesmo com o retorno do Salão do Estado em 1976, o Salão dos Novos não perdeu sua
função, tornou-se a alternativa para os artistas mais jovens, afirmando Olinda como núcleo
autônomo de produção artística com a revelação de diversos artistas que hoje representam a excelente arte pernambucana como, por exemplo: Gil Vicente, Ana Vaz, Flávio Gadelha, Wandeckson Wanderley, os irmão Aprígio e Frederico Fonseca, Eudes Mota, Maria do
Carmo Buarque de Holanda (a cantora Miúcha), Alice Vinagre, José Patrício, Paulo Caldas,
Bete Gouveia, Rodolfo Aureliano, Antonio Montenegro, Ana Lisboa, Grupo Vivencial, Lígia Celeste, entre muitos outros. Participaram das comissões de seleção e premiação artistas
e intelectuais como a pintora e jornalista Ladjane Bandeira, os professores da Escola de
Belas Artes Laerte Baldini e Marcelo Santos, o poeta Jomard Muniz de Britto, Dom Gerardo
Martins, o jornalista, crítico de arte e de cinema Celso Marconi, os pintores Wellington Virgolino e Sylvia Pontual, entre outros.
Uma tentativa de remontagem do Salão dos Novos ocorreu em 1999 com o Prêmio Pernambuco de Artes Plásticas – NOVOS TALENTOS, do qual fui o curador de sua única versão.
O Prêmio foi instituído pelo Secretário de Cultura do Governo de Jarbas Vasconcelos, o
jornalista Carlos Garcia, e realizado pela Diretoria de Museus da FUNDARPE que tinha à sua
frente a museóloga Maria Regina Batista e Silva.
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
189
Nele, foram premiados os “jovens” artistas: Bruno Monteiro, Carlos Mélo, Renata Pinheiro, Rodrigo Braga e Kilian Glasner. Tiveram menções honrosas: André Aquino, Augusto Japiá,
Juliana Calheiros, Marcus Figueiroa e Inocêncio de Lima (Inó). Participaram também André
Nóbrega, Adriana Aranha, Beth da Matta, Edilene Valença (Ed Valença), Isabela Stampanoni,
Jane Pinheiro, Jefferson Peixoto, Jeims Duarte, Marcos Costa, Maria Inez Fonseca, Marina
Mendonça, Odete Caldeiron, Coletivo UTA (Ingá Maria, Juliana Lima, Lia Letícia e Lourival Batista Patriota - Cuquinha) e Walter Freitas.
A Comissão de Seleção e Premiação foi formada por Marisa Lacerda – diretora do museu – Marcos Lontra, Moacir dos Anjos, Lenine de Lima e por mim. A partir daí, formava-se a
linha de frente da arte contemporânea no Recife.
tiago amorim
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
192
193
onheci Tiago Amorim numa das idas festivas a Olinda. Na década de 60, ele
já se movimentava como o líder que sempre foi com sua vocação sacerdotal e sua obsessão pelo trabalho. Em ninguém cabe melhor o lema “Ora et
Labora”, da Ordem Beneditina que o teve em seu rebanho.
Em 1976, quando me mudei para Olinda a fim de coordenar o II Salão de Arte
Global – O Artesanato e o Homem (coordenação que hoje corresponderia a curadoria), contei
com seu apoio irrestrito. No seu ateliê, socializado como todas as suas coisas, transformado
na Galeria Três Galeras, encontrei mais do que um local de trabalho e reflexão. Vi sim a
movimentação do território do Alto da Sé liderada por ele, com a acolhida de vários artistas
e artesãos e também de músicos. Lá esteve hospedado Fagner; o visitavam sempre Geraldo
Azevedo, Alceu Valença e Zé Ramalho.
O Alto da Sé nos anos 70 era um centro cultural espontâneo e vibrante onde as pessoas
visitavam a exposição da Galeria 3 Galeras, montada no ateliê de Tiago, e continuavam no
Cantinho da Sé, onde geralmente encontravam alguns dos jovens músicos da época, como
os que frequentavam a casa de Tiago. Era uma festa...
c
tiago amorim
tiago amorim
Com Reynaldo Fonseca, eu tive o conselho de desenhar tudo,
se sugeriu criar um mercado de arte no lugar dito como mercado
a partir das formas geométricas e da Renascença italiana. Ele me
de escravos, o Mercado da Ribeira. Eufrásio Barbosa era o Prefeito,
“A verdade é que Olinda era tida e vista como uma “cidade dormitório”. Existia um DIVA – Departamento
estimulou a fazer essa pes-quisa, que vem da pré-renascença, da
acatou a ideia. Janete e Adão começaram a trabalhar com turismo e
de Divisão de Informações da Vida Alheia – e as pessoas viviam muito assustadas. Quem fazia arte era
pré-Idade Média, aliás, até os dias contemporâneos, dias atuais.
ecocultura. Não existia Secretaria de Cultura, como existem normalmente, havia uma Diretoria de Cultura.
apedrejado, como Rubinho (Rubens) Sacramento, Arlindo da Loja Azul e Bajado, entre os anos 1958/1960.
Adão era uma pessoa muito criativa, não é? Janete Costa, que já
Eu fui fazer, então, uma visita ao mestre Rubinho Sacramento, porque o filho dele tinha tido um
estava por aqui em 1963, vivia junto com Adão buscando artesãos,
José (Zé Tavares) foi trabalhando com o pessoal na formação da
problema de saúde. De repente, descobri que eles eram pessoas muito simples e muito corretas. Um
criando uma relação de suas ambientações com o objeto artesanal.
Ribeira. Dentro da Prefeitura, era Adão e Janete. A gente tinha rela-
grande poeta e uma pessoa muito sensível que pintava a natureza e procurava a fazer as coisas
Ela sempre esteve aqui, no meio dos artesãos, fazendo esta ponte.
ções com a Prefeitura. Janete era contratada, mas sempre foi tudo
ligadas à criatividade, à arte. Mas os interesses financeiros de Dona Francí falavam mais alto e aí ele
Ela fez um trabalho muito interessante, comigo, com Adão e com
muito à vontade. Era época do Governador Eraldo Gueiros e Guita,
pintava os quadros sempre sob encomenda. Ele costumava fazer cenas baianas, cenas pernambu-
José Barbosa numa obra que fez para o governo de Aluísio Alves, no
Adão e Tavares, com o apoio de Valter da Costa Porto, que dirigia a
canas, para compradores que curtiam aquele tipo de trabalho. E na sequência, ele me passou toda a
Rio Grande do Norte, por exemplo.
Central de Cooperativas do Estado, criaram a Cooperativa de Arte
técnica de óleo para tela, usando carbonato de cálcio e cola de carpinteiro como base, a maneira mais
Aqui se criava, naquela época, com ditadura e tudo, um cen-
de Ribeira Ltda., em 1965, com uma diretoria composta por Adão Pi-
tro de cultura. Assim, a gente fazia em determinadas galerias, na
nheiro, Ypiranga e Tavares. Eu fui o primeiro sócio inscrito. José (Zé)
Depois, eu entrei na Escola de Belas Artes do Recife (no Curso Livre), onde comecei a ter aulas com
Casa Holanda, que já se estava pintando como uma galeria de for-
Barbosa se inscreveu com 17 anos.
Mestre Severino e com Reynaldo Fonseca. Através da família Nigro, eu conheci Montez Magno, para quem
ma mais livre, de forma mais solta, já não era mais o acadêmico, o
Depois disso, por causa de alguns políticos da época, aconte-
eles alugaram uma casa. Quando conheci Montez, eu tive um choque muito grande porque ele fazia uma
chamado acadêmico de Rubens Sacramento. Já estava em outro
ceu a expulsão do grupo da Ribeira. Por escândalos que inventaram,
arte vanguardista e trabalhava com muita preocupação com op art e com arte cinética.
esquema com o pessoal que tinha chegado e transformado o mer-
eles expulsaram a gente e também fecharam o Bar Senzala, que
cado de verdura da Ribeira em um mercado de arte.
pertencia a Marcelo Peixoto, onde se reunia o poder intelectual de
correta de se preparar uma tela, ele fazia isso com o maior carinho.
Depois se juntou a ele Ney Quadros. Ney era um estudante de engenharia que tinha uma preocupação com toda a questão do avanço da cibernética e tal. Aí, ele começou a coisa de outra maneira.
Entraram, nessa época, Adão Pinheiros, José Tavares, Guita. E
Pernambuco. Então, quando a Ribeira foi extinta, nós compramos a
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
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traram Marisa Lacerda, Silvia Pontual, Emmanuel Bernardo, Norma
Santos. Depois, entrou Jean Vages que fazia gravura em metal, cintos e coisas de metal gravado e às vezes ele imprimia isso no couro.
Mas ele entrou já no final.
Já Olímpio (Bonald) fala de Jean Vages como sendo uma alavanca do processo. A mulher dele depois fez algumas atas com a
ele quebrava tudo em segundos, porque fazia muitos experimentos.
De um lado tinha um Adão, que brincava com a arte; e do outro tinha coisas que ele fazia com muita autoridade, com uma seriedade exagerada. Tinha até um extravagante respeito.
Na Bienal de São Paulo de 1965 se inscreveram treze artistas de Pernambuco. Era uma bienal que retomava
o pensamento nativista de 1922, que se preocupava com a pintura brasileira. À frente dela estavam Ciccillo
Matarazzo e Dona Yolanda Penteado. Foram aceitos apenas três dos treze: Maria Carmem, Anchises e eu.
gente, para formalizar melhor a documentação; que nunca andou,
Já tinham algum conhecimento do trabalho de Maria em São Paulo. Eu fiquei um tanto escandalizado porque
na verdade. Alguns documentos que tenho, eu encontrei quase no
os outros artistas foram recusados. Guita, Tavares, Adão foram recusados. Eu perguntei a Dona Yolanda porque
lixo da casa de Tavares, eu guardei.
tinha acontecido isso. Ela me disse que as pinturas tinham ranço da pintura europeia. E aquela Bienal primava pela
A Rua do Amparo era onde morava o pessoal mais preconcei-
pintura brasileira. Montez entrou também, mas não por Pernambuco. Isto abalou muito a estrutura dos artistas
tuoso. As bandeiras da Rua do Amparo têm uma meia lua tirada na
daqui. Tavares começou a criar histórias. Eu acho que a Bienal foi um dos fatores importantes para essa mudança.
bandeira da porta para o pessoal visualizar o que acontecia na rua.
Depois veio a época de mudança mesmo. Foi quando os ateliês começaram a se subdividir ainda mais.
E era muito famoso o DIVA (Departamento de Informações da Vida
O caso das oficinas de talha: criaram-se dois núcleos, o da Ribeira e o da Sé. O da Sé, com Elimar e Cris-
Alheia). A gente quebrou muito isso, porque Ney Quadros era mui-
tina Cavalheira, era uma escola que trabalhava observando as falhas da madeira. Enquanto que a escola da
to escandaloso. Ele tinha muita coragem. Combatia mesmo, ele era
Ribeira, trabalhava em cima das composições renascentistas, observando a vista das portas pela sintonia
soldado do exército. Um dia, quando a gente foi preso, Ney apareceu
dos dois lados. A gente ia como curiosos aprender, para conhecer as ferramentas. E depois essa escola foi
com a roupa do exército toda manchada. Ele era muito ligado à dou-
aviltada pela Sudene com a Artene, seu departamento de ajuda ao artesanato, comprando talhas a metro e
tora Anaíde Teodósio (mãe do político Mano Teodósio). Então, ele já
copiadas a partir de papel carbono.
tinha uma linha de pensamento esquerdista.
tiago amorim – foto do autor, 1976
195
Eu tenho um ateliê de cerâmica onde os meninos que hoje vêm aprender comigo e com o pessoal que lá traba-
Guita era muito ligada a gente e nos trazia muito da cultura ju-
lha, dentro de um clima socialista, sabem o que é cobalto, o que é manganês, o que é quartzo, e se tornam fortes
daica. Mas ela tinha muito respeito à cultura da Umbanda. Guita se
profissionais. A arte não tinha assinatura (na Idade Média). A arte é evolução, ação, expressão e sabedoria. Você
inseriu totalmente no espírito olindense, passou a brigar por Olinda
nunca vai deixar de ter ação, expressão e sabedoria. Agora, o que eu acho importante para a arte e o que prego em
fazendo as pessoas acordarem para nossa realidade. Era muito co-
meu pensamento é o seguinte: você tem que encontrar a sua identidade, isso é o bá-sico. Picasso é Picasso, Van
rajosa. Compara-se com muita justiça a Branca Dias (lendária heroí-
Gohg é Van Gogh. A identidade é o básico”.
na judia do século XVII).
parte de baixo do sobrado 154 da Rua de São Bento, a Oficina 154,
que era do escultor Corbiniano Lins. Em cima morava Adão.
Ela acreditava na natureza. Eu acho que a importância de Guita,
como uma pessoa muito ligada aos deuses, fazendo essa vida, foi
A Oficina foi paga com o dinheiro de Guita Charifker e meu, da ven-
muito forte. Adão, por exemplo, era uma pessoa que não respeitava
da de gravuras africanas. O pagamento foi feito com a venda desse
nada, simplesmente passava por cima e generalizava e ia passan-
material, que foi 1,5 milhão na época. E depois teve juros por causa do
do sem nenhum problema de saber o que alguém pensou. Então,
tesoureiro. A Oficina passou a ser nossa. Mas nunca foi nossa, não é?
para a gente foi muito interessante isso, porque a gente ficou com
A coisa funcionou em Olinda de um jeito muito interessante por-
menos medo das atitudes.
que foi algo bipartindo como um vírus, algo que foi se democratizan-
Adão foi o princípio de tudo. Eu acho uma pena que ele tenha entre-
do cada vez mais. Eu tenho o maior prazer de ver as casas de Olinda
gado o “ouro” com tanta facilidade, porque ele sabia do valor dele. Ele
com obras de arte, uma coisa que a gente não via nas paredes.
era um intelectual mesmo, de uma sabedoria rara. Adão tinha o senso do
Tivemos a necessidade de colocar mais sócios. Foi aí que en-
valor da Renascença. Baseava tudo no equilíbrio, na sintonia. E depois
Em 1977, quando vim instalar o III Salão de Arte Global – O Artesanato e o Homem, fui morar no Alto
da Sé, num espaço alugado a Mme. Vitart, mãe da pintora Maty Vitart que hoje reside em Cuiabá,
mas que na época estava em São Paulo casada com Paulo Klein. O ateliê de Tiago estava há vinte
passos e era meu ponto de parada para conversar com ele e os artistas e músicos que o cercavam,
e depois ir para as noitadas no Cantinho da Sé.
O ateliê de Tiago, ou melhor, todos os ateliês que Tiago possuiu, são pequenos centros culturais, pois ele pinta, entalha, faz olaria e cerâmica e ensina tudo que sabe para jovens, geralmente
carentes. Além do mais, o ateliê daquele tempo abrigava a galeria Três Galeras, onde por várias vezes pude expor meus quadros e onde assisti a exposições de grande qualidade, de artistas como
Montez Magno, Paulo Bruscky, Marcos Amorim, Roberto Lúcio, por exemplo.
Em 1977, para marcar minha aproximação com este sacerdote da arte, escrevi:
utopia do olhar
196
uma ideologia
do fazer
A versatilidade é o traço dominante do talento de Tiago Amorim. Sua obra se desenvolve
através das técnicas tradicionais como desenho, pintura, gravura, entalhe em madeira,
cerâmica, serigrafia, estamparia e qualquer
outro meio que provoque sua vontade de
criar ou desafie sua mente inquieta.
“Ideologia do fazer” define sua obra.
Consciente do verdadeiro papel do artesanato na fatura artística, ele se expressa
na linguagem própria de cada técnica que
utiliza, sem perder, no entanto, o fio da
meada que transmite sua inconfundível
maneira de ser.
Uma tendência à paisagem se instala
atualmente na produção artística de Olinda. Tiago já faz parte desta tendência há
anos, quando já se dedicava a sua cidade
e iniciou uma série de pinturas de paisagem. De sua vasta janela, que olha para o
Recife, ele pinta os vários ângulos da Olinda imersa em luz. A paisagem olindense
também pertence ao repertório de vários
outros artistas que fizeram e fazem a história da cidade que, além de suas glórias
libertárias, alcança a glória da arte.
tiago amorim – escultura em cerâmica
O espaço de Tiago e a atmosfera radiante que ele irradia nos fazem refletir
sobre nós mesmos, seres passageiros
nesta cidade encravada no tempo. Fernando Pessoa disse “o mito é o nada que
é tudo”. O mito está para Tiago como a
veste para o corpo. Uma profunda relação metafórica envolve sua arte repleta
de símbolos e mitos fantásticos. O mito
do corpo, o mito do êxtase, o mito da divindade. Três faces do meso mistério tratados de formas diversas.
A personalidade beneditina, a ideologia do
artesanato, a identidade com a terra constroem sua aura que carrega sempre limpa.
A metáfora consiste em produzir mitos –
nadas – para caucionar a importância de
sua obra. Neste caso, a linha reta não é o
caminho mais curto.
Um bestiário fantástico transborda de
seus entalhes: capricórnios, sereias, medusas, peixes delfins. Fragmentos do entalhe barroco que foi seu primeiro modelo.
Não seriam estes entalhes eivados de símbolos pagãos um antigo e esquecido sentido oculto, um sentido esotérico de raiz alquímica? Ou não passa, este bestiário, de
investidas no subconsciente, bricolagens
de nossas cavernas mentais?
Mas o paisagismo, o mitológico e o misticismo não exaurem o vasto território temático
de Tiago. Emergem em sua pintura, vez por
outra, retratos da realidade circundante. O
partido do povo chama o homem que pensa e sente e o induz a refletir seu momento. Como artesão, Tiago está sempre afeito
a uma atividade socializante e agregadora,
atividade que possui sua própria ideologia
baseada na paz e no convívio humano.
Atividade coletiva e construtiva, vertente
da nossa mais interessante vocação, uma
atividade de resistência. O artista quando
aceita conscientemente seu compromisso
com o artesanato como ideologia projeta
uma ponte entre sua obra e a realidade
social. Tiago é artista e artesão na mesma
relação de religioso e cidadão, de poeta e
operário. O que nos faz pensar no corpo e
na alma das sociedades.
utopia do olhar
198
o alto da se de agora
A segunda foi a instalação-performance do
desconhecido, mas muito importante, artista
Durante o esplendoroso recital de Philip Glass e
pernambucano Jonas Santos, que vivia na Fila-
Tim Fain na Sé de Olinda, produzido pelo MIMO,
délfia, EUA, onde mantinha a The Bird and the
minha memória viajou no tempo e me levou a
Trasch Foundation (Fundação o Pássaro e o
1977, quando a Sé estava sendo restaurada
Lixo) voltada para a arte de vanguarda. Os con-
pela Fundarpe da época.
ceitos de “instalação” e de “performance” como
categorias de arte somente foram conhecidos
A equipe de restauração era liderada por José
aqui décadas depois; embora Beuys fosse o
Luis Mota Menezes e Fernando Borba. Em pou-
maior acontecimento da arte na alemã e o ha-
co tempo, a Fundação já restaurara a Casa de
ppening, de certa forma, o que chamamos hoje
Detenção, transformando-a na Casa da Cultura;
de performance.
o Palácio dos Bispos, que se tornou o Museu
jonas santos
mercadoria um. instalação, 1976
de Arte Sacra e a Sé, este maravilhoso edifício
“Instalação” para os artistas da terra significava
colonial que ostentava antes uma verdadeira
apenas a colocação do equipamento necessá-
carapaça de gesso que formava como que o
rio para a montagem de qualquer exposição. E
“glacê” de um bolo de noiva.
“performance” era algo ligado ao mundo do teatro, da música e da dança. Mas lá estava Jonas,
Não tínhamos, o que hoje não falta, espaço para
diariamente, executando um ritual pagão sobre
as artes visuais. Então não foi estranho o nosso
um chão coberto de areia, folhas e troncos ju-
deslumbramento ao ver o Museu de Arte Sacra
diciosamente distribuídos no magnífico espaço
inaugurado com a colação do Tesouro da Cúria
da Sé que eventualmente era iluminado pela luz
Metropolitana, acompanhada de duas outras
dourada da tarde de Olinda. Vestido como um
mostras de arte religiosa de primeira linha (a mos-
xamã, acompanhado por “sacerdotes” que se
tra de arte popular religiosa, reunida por Borba e
movimentavam ao som de uma trilha de ruídos
Zé Luiz, e a coleção de arte religiosa de Candom-
montados por ele, Jonas era o artista performá-
blé, do Centro de Estudos Afro Orientais da Bahia).
tico que nos anunciou a arte de hoje.
Lembro que este ecumenismo todo aconteceu
em plena ditadura militar graças à abertura religiosa que foi marca do bispado de Olinda e Recife, nos saudosos tempos de Dom Hélder.
Antes mesmo do término dos trabalhos de restauração da Sé, a Fundarpe ocupou seu espaço com duas exposições das quais participei
como assistente e montador, pois era contratado da Fundação. A primeira foi a de Lasar Segall
intitulada A Esperança é Eterna, uma antologia
de obras do grande artista que contava a saga
de sua família judia e sua fixação no Brasil, isto
mostrado num templo religioso do maior país
capa do folheto de inauguração do museu de arte sacra de pernambuco
criação do autor
católico do mundo.
utopia do olhar
200
a caixa d agua
Contestando o pintor e viajante Cícero Dias, de onde se vê o mundo é da Caixa D’Água de
Olinda. Nosso pequeno-grande mundo, aquele que Duarte Coelho descortinou num dia, certamente feliz, dizendo provavelmente: “Oh! Linda situação para se fundar uma vila!”. E eis
aqui Olinda, sua Vila, aos pés deste mirante construído sobre a principal colina da cidade
projetado pelo arquiteto mineiro Luis Nunes e construído em 1935.
A Caixa D’Água plantada no Alto da Sé transformou-se em monumento da arquitetura
moderna nacional. Foi onde primeiro se implantou no Brasil o cobogó, elemento estrutural
batizado com o nome dos seus Três inventores: o comerciante de materiais de construção
Coimbra – CO –, o alemão, também comerciante, Boeckman – BO – e o engenheiro Antônio
Góes – GO.
A ideia era a implantação de uma grade feita de cimento, algo como uma malga quadrada medindo 50 X 50 cm de lado por 05 cm de espessura, que seria a estrutura da parede,
de forma que, depois de ser erguida com argamassa, seus vazados fossem preenchidos
com reboco, fazendo-se assim uma parede mais leve e econômica. Seus inventores propunham também que este elemento pudesse ser fabricado artesanalmente, em pequenas oficinas de quintal, contribuindo assim para a economia da periferia das cidades. Isto
aconteceu e acontece de fato.
Luis Nunes, porém, ao usar o cobogó da forma que fez na caixa D’Água, sem preenchimento dos vazados, criou outras funções para ele, a função decorativa, a possibilidade
de resolver problemas de ventilação, além de torná-lo ainda mais leve e barato. As duas
grandes paredes de cobogó da caixa lhes dão leveza e transparência, tornam aquele paralelepípedo em pé numa escultura construtivista. Com um toque criativo o medíocre se
transformou em arte.
Este é um dos mais belos mirantes brasileiros. Encontrava-se vedado ao olhar do público, que se surpreende ao ver daqui o Recife ainda mais belo do que ele é. Dele se vê nosso
mar com suas praias do sul e do norte; o horto dos Manguinhos logo abaixo; os altos de
Casa Amarela; as curvas do Capibaribe; o Campo Grande; a Casa Forte, a Boa Viagem.
Mas vemos, principalmente, e de um ponto de vista diferente, o traçado da cidade nas
perspectivas dos telhados que deixam transparecer, do alto, o mistério do traçado das
ruas, dos becos, dos quintais, das igrejas, dos sítios e do antigo casario.
O espaço interior da Caixa D’Água é pouco conhecido do público. Na ocasião de sua reinauguração, este espaço abrigou uma exposição de fotografias de Amélia Couto. Trata-se
de um conjunto de oito instantâneos do carnaval de 2011 focados em closes, numa visão
detalhada dos elementos decorativos e dos aspectos típicos da nossa grande festa.
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
201
A colocação deste conjunto de imagens neste espaço atendeu ao apelo estilístico do
ambiente visualmente limpo e funcionalmente inovador como espaço de uso público. Em
suas novas funções de mirante, seu espaço expositivo, além de ser o coração que bombeia
a água da cidade abrigou detalhes do que acontece fora, o carnaval, mostrado aqui em
closes, em detalhes quase construtivos, e nesta condição, integrado no magnífico espaço
que amplia a beleza quase barroca das grandes fotografias carregadas de poesia visual
silenciosa, contrapondo-se à geometria espacial que o edifício possui.
Como curador desta mostra eu pensei no fato de Olinda ser uma cidade pródiga de bons
fotógrafos. Contemporaneamente alguns fotógrafos fazem a arte da fotografia e outros
fotografia como arte. Esta diferença é fundamental para quem não viveu há vinte anos,
por exemplo, quando os fotógrafos, em geral, formavam como que uma corporação, e não
aceitavam interferência alguma em relação às questões técnicas consideradas exclusivas
da arte fotográfica. Isto foi assim por muito tempo, mesmo depois de Man Ray, ou dos brasileiros José Oiticica, pai de Hélio, e Geraldo de Barros, para citar os mais famosos, que interviram no significado e no conceito – arte como conceito, arte conceitual – da fotografia.
A adaptação da fotografia aos novos cânones não anula o importante papel da documentação e da “estética documental” que o fotógrafo acadêmico nos legou.
A fotografia que Amelinha colocou na Caixa D’Água existe no contexto da atualidade,
mas é preciso registrar aqui que, muito antes dela aqui se manifestar publicamente numa
exposição, Olinda possuía um time brilhante de fotógrafos registrando a cidade com sua
estética popular e/ou fotografando a cidade de vários outros pontos de vista além da perspectiva. Recorrendo à memória e pesquisa, mas também com a gentileza e memória de Antenor Vieira de Mello, consegui relacionar um bom número de fotógrafos, alguns de Olinda
e outros que focaram a cidade como tema. Desculpo-me de alguns que estão registrados
sem o sobrenome ou pelo apelido, são os antigos.
Começando pelos antigos: Roberto Rômulo, Toinho, Manoel Chaves, Cláudio Barrozo,
Roberto Arrais, Edinho, Gilson Batera, Passarinho, Pedro Bala, Manoel Paulo, Aderbal Brandão, Pii, Xirumba, Gleide Selma.
Os mais recentes: Alexei Joseph, Mateus Sá, Mateus Baccaro, Diego di Niglio, Laila Santana, Vlávia Lima, Lula Barreto, Guga Soares, Rafael Lage e Renato Titi.
Artistas plástico que usam a fotografia, além de Amélia Couto, temos Catarina Aragão,
Daniel Doval, Di Cássia, Karina Veloso, Katalina Leão, Otávio Guilherme, Costa Neto, Lourival
Batista Patriota - Cuquinha, Francisco Baccaro, Pedro Rampazzo.
Considero que os fotógrafos de Olinda, os autóctone e os alienígena, merecem um livro,
um registro amplo, pois se tratará de um panorama rico e necessário para a compreensão
da imagística local. Em relação a isto, e não sendo a fotografia meu foco neste livro, mas
utopia do olhar
202
pele sobre pele
No lato sentido da palavra, “pele” não é apenas o maior órgão do corpo humano é também
cobertura, proteção. Os objetos de adorno são
criados desde a pré-história com o ato de inserir no objeto utilitário comum o universo simbólico construído por imagens do inconsciente.
Pele e adorno: binômio arcaico e moderno, necessidade humana básica.
Assim a pele também se tornou um suporte
para o adorno, um terreno simbólico onde pode
ser colocada a expressão e a mensagem. E
temos então a pele e o adorno como binômio
arcaico e moderno, metáfora de uma necessidade humana básica (desde as pinturas corporais, sinais determinantes de grupos humanos
unidos em clãs, ou prática civilizada a serviço
da beleza e da sedução, como na maquilagem).
No amplo sentido da palavra, pele pode ser
também a cobertura, o vestido. Pode também
ser compreendido como o trabalho artístico
de Amélia Couto: o conjunto de cor, vestimenta e texturas. Utilizando fotografia e imagem
amélia couto - pele sobre pele, fotografia
digitada, Amélia produz suas “pinturas”, aliás,
autorretratos do corpo, sugerindo coberturas,
tanto na fase de preparação para a fotografia,
reconhecendo sua importância, anoto aqui estes comentários sobre a arte de Amélia Couto
que conheço intimamente, e espero que isto seja entendido por seus pares, seus companheiros de arte, como uma homenagem.
Sobre ela escrevi, a respeito do conjunto de fotografias que participou em Basel, na
Suíça, resultante da oficina com artistas suíços e brasileiros ministrada no Espaço Cultural
da Paraíba pela artista Fábia Lívia, residente na Suíça, o texto a seguir:
quando ela se veste com o tecido próprio para
seu objetivo, quanto na segunda fase, quando
ela transforma a matriz em imagem diversa à
fotografia, imagem colorida e plena de texturas
que nos leva à sensação de sensualidade e do
encantamento da retina.
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
203
olinda contemporanea
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
206
q
ando ainda não se falava em arte contemporânea no conceito que se tem
hoje, aqui já existia arte de vanguarda,
como a de Montez, Anchises, Humberto Magno e Ney Quadros, e na década
de 1970 a performance de Paulo Klein Fiesta Em Oh Linda
e a Escultura de Gelo de Paulo Bruscky, e nos anos 80 a
grafitagem de Alex Vaulari sobre os postes da cidade.
Paulo Aragão, cujo nome artístico é Paulo do Amparo,
sempre foi artista. Desde criança, quando o conheci na
casa de seus pais Humberto Magno e Maria Luiza Lins,
cujo nome artístico é Iza do Amparo, os seus “heróis reciclados”, versões que ele fazia dos bonecos de plástico,
brinquedos que com figuras de heróis de HQ, novidades na
época (refiro-me aos anos 70). Paulinho – como o chamam
os mais próximos – me confessa que fazia as versões
para poder quebrá-las depois, pelo instinto, naturalíssimo
quando se trata de crianças (penso eu, desculpem os psicólogos), de destruição, que posso compreender como a
curiosidade de construir algo semelhante, de desmontar
para aprender.
Ele recriava os bonecos para poder desconstruí-los,
e com isto não poupava os belos “He Mans”, “Falcons”
“Batmans” comprados pelos pais e recomendados para
que brincasse com cuidado para não quebrá-los. Só que
as versões de Paulinho é que eram os verdadeiros “brinquedos como arte”, a Toy Art da época, expressões do um
menino que já nasceu artista contemporâneo (ou de vanguarda, pela época, como queiram).
Sua irmã Catarina hoje faz carreira como cantora e DJ
de sucesso extrapolando as fronteiras brasileiras também
está ligada às artes visuais arte desde menina, através
da assistência que dá à mãe na criação dos objetos de
arte aplicada e, posteriormente, enveredando no território da “fotografia como arte”. Na sua inteligente retórica,
ela gosta de tratar a questão da identidade artística fami-
juliana notari – innerrensteren, caneta permanente sobre plástico
paulo do amparo - impressão
207
liar dizendo que assina Catarina Aragão quando pousa de
“Rainha do Lar”, Catarina do Amparo quando é fotógrafa, e
Catarina da Jah na sua face musical, como cantora, DJ e
performer.
Paulinho passou pelo o mesmo incentivo materno que
Catarina: “Devo à boa e velha cobrança de minha mãe, que
me fez estampar camisas com meus desenhos”. Ele me
falou sobre sua trajetória, quando resolveu aliviar a carga
financeira dos pais em relação ao custo do Colégio São
Bento, e fez, por conta própria, concurso para a escola Técnica Federal de Pernambuco, onde fez o curso de eletrônica. “Aí, eu já tinha a cabeça que tenho agora”, diz ele. “E foi
também aí que tive uma bifurcação na minha arte: passei a
fazer música também. No mesmo tempo Catarina já estava
“moendo pintura”.
Paulinho é um artista atuante na Olinda de hoje: “Sou
um artista fora de qualquer sistema”. Com isto ele se afina
não apenas com os artistas contemporâneos fora do eixo
Rio/São Paulo mas também, paradoxalmente, com os artistas tradicionais, como os pintores de paisagens e retratos,
por exemplo. Ele diz me disse se orgulha, ao lado de sua
irmã, de viver exclusivamente de arte. Ambos são artistas
“multimídiáticos”, pois empregam diversos suportes, físicos ou sonoros, nas suas criações.
Paulinho integra com Ernesto Teodósio, filho do importante teórico comunista Mano Teodósio, o grupo Rádio Frei
Damião – Ernesto também integra o coletivo Telefone Colorido ao lado do grafiteiro Grilo.
Outros artistas olindenses da geração de Paulo do Amparo são pesos pesados da arte contemporânea pernambucana, nascidos do pós-arte, como em algum momento
foi comum se dizer. As duas Julianas, como se diz carinhosamente no meio da arte, são Juliana Notari e Juliana
Calheiros, filhas de pessoas ligadas à arte desde a década de 70, e pertencem ao grupo de “famílias de Artistas”, como o designer Roberto Peixe, que além de Juliana
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
208
Notari tem também o filho Peixinho, um designer gráfico
de grande talento, e os arquitetos Sônia e Ivaldevan Calheiros. As Julianas mantêm suas sólidas carreiras no território da arte brasileira.
Uma importante exposição na década passada revelou
o caráter contestador e irônico dos artistas contemporâneos, muito jovens na época, Foi “Casa Coisa”, realizada na
oficina coletiva Submarino, liderada pelo pioneiro de nossa contemporaneidade Maurício Castro. Tratava-se de uma
paródia do evento anual dedicado à decoração de interiores Casa Cor, território da classe média alta consumidora
do supérfluo. A exposição foi composta de várias instalações referentes às áreas de uma casa fora do circuito
de prestígio, aqueles lugares que não podem ser vistos,
como o quarto de empregada, o quarto da filha adolescente com calcinhas penduradas na quina do computador, o
galinheiro, e outros ambientes indecoráveis (ou indecorosos). Podiam-se ver as primeiras versões dos objetos hisurtos, mesas e cadeiras forrados com cabelo humano, e
também bolas cabeludas de vários tamanhos. No seu recente livro “Dez Dedos”, um resumo de sua obra, pode-se
ver desdobramentos deste trabalho como detalhes do corpo humano cobertos de pelos e a performance “Janta”, um
banquete servido na mesa coberta de cabelo. A comida é
tema constante de sua obra, na série “Diário de Bandeja
tem quatro versões, e todas elas são retratos da vida no
lar, como: 1/4 – a instalação na parede de inúmeras bandejas pintadas e desenhadas e escritas; 2/4 – a sequência
fotográfica da alimentação diária da artista; ¾ - o jantar
com a família que acontece ao mesmo tempo em sua casa
e virtualmente na Galeria Amparo 60; e 4/4 – um quarto
de casal todo branco, com os objetos comuns destruídos,
rasgados, quebrados, fora de lugar, onde na cama está um
falo ereto, e na parede uma fenda vermelha desenhada
numa folha de papel.
Compõe ainda o time feminino contemporâneo a artis-
ta ítalo-olindense Isabella Stampanoni, que não é filha de
artista, mas casada Francisco Baccaro, portanto nora de
Lúcia Santos e Giuseppe Baccaro, por isso não se descarta
da idéia de famílias de artista. A trajetória artística de Isabella compreende longo estágio na Itália ao lado do marido
e, com seu retorno a Pernambuco, o aprimoramento de sua
produção criativa como se vê hoje.
É importante relembrar que os filhos dos artistas nascidos antes destes, não necessariamente contemporâneos, formam a primeira geração de artistas nascida aqui,
como Vera Bastos, filha de Maria Carmem, Marcelo Peregrino e Mané Tatu, por exemplo.
Verificamos, porém, que Olinda interessa aos artistas contemporâneos, malgrado sua condição histórica,
barroca, tradicional. O interesse de alguns deles mostra
que a ideia de repulsa à história que teriam os artistas de
agora não se sustenta. Alem dos já referidos, refiro-me a
Aslan Cabral, Lourival Patriota (Cuquinha), Fernando Perez e os grafiteiros.
Pode ser desconcertante falar em grafiteiros numa cidade com o status patrimonial de Olinda. Esta é uma questão a ser discutida levando em conta as relações entre o
público – patrimônio cultural, e o privado – propriedade.
Não é comum em Olinda a invasão do patrimônio público
por grafiteiros, se é que a grafitagem feita por artistas deve-se chamar de invasão, especialmente no que exprime
nossa cultura colonial, o patrimônio histórico e artístico
construído em pedra e cal.
O que se vê é a ocupação de muros pertencentes a propriedades privadas, algo que a qualquer momento pode ser
refeito, restaurado, repintado por seus proprietários. Isto é
lícito em qualquer lugar, tem a ver com acordos e compromissos entre artistas e proprietários. Em Olinda não é
diferente, artistas do grafite se manifestam aqui (além de
Paulo do Amparo) como, por exemplo: Glauber; Arbus; AEO
(que desenha em sua trajetória um triângulo, um quadrado
209
grafitagem - cumieira do antigo cine duarte coelho
e um círculo); Derlon, que hoje está na “mídia” nacional; o coletivo Acidum, de Fortaleza;
Caboco, do Mato Grosso, grupo que viaja pelo o Brasil grafitando e fotografando; Caju,
que pertence ao coletivo da ladeira da misericórdia composto por Caju, Galo, Bizunga e
AEO. Na intercessão da Rua Henrique Dias com a 13 de maio, existe a fachada do Ateliê
Coletivo Cabra Fulô, dirigido pelo artista português Ruy e a artista mineira Chia, criadores no campo do audiovisual comunitário.
Tenho um especial interesse sobre a arte que hoje chamam de “grafite”, deslocando
seu significado mineral para pintura em muro, arte urbana, arte de rua. Para mim existe
uma relação íntima entre o “grafite” como manifestação urbana e a arte rupestre. Já
escrevi sobre isto nos anos 80, num texto intitulado “Urbanorrupestre”, do qual extraio
o seguinte trecho:
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
210
211
grafite
O que isto tem de urbano? Do ponto de vista da
ciência do urbanismo, nada. Mas do ponto de
vista do homem urbano, gregário, que constrói
as cidades e se enterra nela, que ainda, como
os antepassados distantes, olha para o céu
na ânsia de entender, tem tudo a ver. Nossas
origens pulsam ainda, e para sempre pulsarão,
Continuando o enfoque da arte contemporânea em
Olinda, o artista performático Aslan Cabral fez-me gentilmente a seguinte narrativa:
quando nos religamos a terra e com isto preen-
Descobri Olinda em meados dos anos 90 quando eu tinha 15 anos.
Imaginando um salto no tempo desde as pintu-
A força renovadora da época era o movimento Mangue que Chico
ras da Serra da Capivara até agora, encontramos
Science nos trouxe à tona como futuro resignificante. Me consi-
mais ou menos os mesmos elementos impulsio-
dero olindense pela migração pendular que os artistas fizeram
nando a vida neste cenário contemporâneo. As
entre Recife e Olinda. Lembro que quando eu vinha a Olinda, tirava
emas e veados que nossos antepassados caça-
os sapatos para pisar com os pés nus por estas ruas carregadas
vam para comer estão hoje pelas ruas nos out
de história. Eu não me desvencilho das referências históricas. Não
doors dos supermercados como a carne do dia
estou simplesmente olhando pra frente esquecendo o passado.
a da, as cenas de sexo expressas no paredão de
chemos nossos horizontes resumidos a paredes, anteparos, limites territoriais que no fundo
da alma bramem sufocados.
Tive ateliê na Rua do Amparo, vizinho à casa de Iza e em frente
pedra ocupam em toda mídia contemporânea,
da casa de Bajado, e também fiz uma residência de dois anos,
as marcas que limitavam territórios de caça es-
pela FUNARTE, num albergue na Rua de São Bento, em frente à
tão hoje substituídas por marcas de propriedade
casa de Alceu Valença.
a serviço do dinheiro e do poder.
casa do cachorro preto
Tive muita ligação com Fernando Perez e Cuquinha. Fernando
teve “A Menor Casa de Olinda”, uma casa em frente à Bica de São
O que mudou? Provavelmente o conceito ou
Francisco, que tinha menos de um metro e meio de largura. Ele a
forma de poder. Se há dez mil anos o xamã de-
Outro trabalho de Cuquinha que se relaciona com Olinda é o Varal, um gigantesco varal de
transformou numa obra dinâmica e perene, quando mudava as
tinha o poder, hoje é o dono do capital quem o
roupas que ele estendeu no Arte em Toda Parte. Ele estendeu este Varal sobre o Capibaribe, no
cores da fachada constantemente preservando o título pintado:
detém. O xamã desapareceu? Certamente não,
Ibirapuera em São Paulo e em Weimar, na Alemanha.
“A Menor Casa d Olinda”. La ele fazia grandes festas.
ele está aqui como sempre esteve, traduzindo
Eu acho que Olinda continua interessando aos artistas, aos contemporâneos inclusive. Gosta-
Uma performance chocante de Fernando Perez foi feita no
em formas puras e verdadeiras as mentiras que
va muito de “As Barbies Boquetes Vocals” que atuavam no ano 2000, e do espaço Casa do Cachor-
MAC de Olinda também como obra do Salão: ele recolheu suas
a civilização traçou no seu “caminho inevitável
ro Preto, que fica na Rua 13 de Maio.
fotografias recentes e antigas e com elas fez uma fogueira, então
para a morte”, como disse Gilberto Gil em sua
ele começou a pular a fogueira. No primeiro pulo, a chama ainda
música “Cérebro eletrônico”. O xamã é o artista,
era pequena, mas ela foi crescendo e ele pulou a segunda vez.
todo artista, pois ele é quem nos liga a mun-
Na terceira, a chama já dava pra queimar, mas ele pulou de novo.
dos que ultrapassam o toma lá dá cá, e trans-
Pulou a fogueira com toda sua força e se queimou nas pernas.
formam este limite binário em visões plenas de
Queimou os pelos das pernas e braços e se chamuscou todo.
expressões e sentimentos.
Estive ao lado de Cuquinha quando ele produziu Mara do Ácaro,
fotografando sua namorada Daniela Brilhante, que também morava
lá, na Prudente de Morais. Ele fotografou todo o corpo dela em microfotos, reproduziu-as em tamanho maior e colocou-as boiando o
Capibaribe. Este trabalho foi do Salão do Estado de 2004.
A última performance de Aslan foi sua participação no Reality Show Big Brother Brasil, da
Rede Globo de Televisão, onde teve oportunidade de expor sua imagem e suas atitudes
diante do grande público brasileiro. É claro que interessou a ele disputar um prêmio em
dinheiro, mas encontro nesta disputa algo além, encontro no seu desejo de visibilildade
como performance de artista visual que se coloca de corpo inteiro – body art.
Certamente as manifestações da arte contemporânea não se limitam em Olinda às
poucas coisas que exponho acima, muito mais coisa acontece: muitas ideias, muitas
criações, muitas invenções se articulam e se desenvolvem. Mas também foram realizadas em solo olindense muitas coisas que hoje têm importantes repercussões em escala
nacional, como o coletivo Branco do Olho, por exemplo.
utopia do olhar
212
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
No semestre que o BO se localizou em Olinda, ele realizou um programa exemplar de manifestações de arte contemporânea iniciado com exposição “Fraenkelstein 2,” que saiu de Olinda numa
itinerância pelo Rio de Janeiro e São Paulo. Em seguida, o BO realizou a exposição “Fotografias no
Jardim” com participantes, além dos artistas do coletivo, de argentinos, portugueses e norte-americanos. O BO participou com todo o grupo do festival Olinda Arte em Toda Parte 2004.”
francisco baccaro - fotografia
Bruno Monteiro, com quem tenho o prazer de discutir, há décadas, questões da arte
nos contextos do aqui e do agora, me passou as informações que seguem sobre a origem do Coletivo Branco do Olho:
“Entre julho e dezembro de 2004, um grupo de jovens artistas alugou por seis meses a casa 155 da
Ladeira da Misericórdia, que hoje é o ateliê-galeria do artista naïfe J. Calazans, com o objetivo do encontro, da conversa e da tertúlia. Dois deles, Bruno Monteiro e Augusto Japiá, participaram do Prêmio
Pernambuco de Artes Plásticas 1999, os outros eram Bruno Vieira e Bruno Vilela. Aí nasceu o coletivo
Branco do Olho, cujo nome foi sugestão de Bruno Vilela.
O Branco do Olho, ou BO, como é simplificado, em seus nove anos de vida percorreu um rico caminho e formou um currículo que é referência na arte contemporânea daqui, tendo outras constituições ao longo deste caminho como, na fase pós-Olinda: Rodrigo Braga e Clarissa Diniz, Bárbara
Collier, João Manuel, Eduardo Romero, Luciana Padilha, Xanxa, Romo, Zel, Sérgio Vasconcelos, Roy
Rêgo, Séphora, Maurício Castro, todos artistas atualmente atuantes.
O BO se modifica na sua dinâmica, e hoje está constituído pelos artistas Bruno Monteiro, Daniel Santiago, Braz Marinho, Luciana Padilha, Eduardo Romero, Charles Martins, Rodrigo Cabral e
Marcela Camelo.
213
uma democracia naife
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
216
Eis aí minhas impressões sobre esta cidade onde se pratica uma cidadania espontânea
na sua práxis, barroca na atitude informal e exuberante, e naïfe na maneira pura de criar
que se vive aqui. Eu diria mesmo que vivemos numa democracia naïfe. Naïfe, mas não do
ponto de vista politico ou administrativamente. Isto é um território da mais alta racionalidade, mas sim do ponto de vista popular, como o carnaval, e accessível ao povo que demonstra sua cultura fora dos padrões marqueteiros da moda.
Quero citar um artigo da crítica de arte carioca Lígia Canongia, editado em O Globo de
6 de novembro de 1988, intitulado “A repetida figuração nordestina”, que comenta o Salão
der Arte contemporânea de Pernambuco na edição daquele ano, quando nossa democracia
engatinhava em relação aos dias de hoje. O texto parte do pensamento de que a arte segue uma linha evolutiva que tem como modelo os grandes centros de produção – leiam-se
“centros de comercialização”. Então o que era feito fora do “combinado” era recebido como
folclórico ou atrasado. Isto se alinha à ideia do progresso da arte, como se na arte coubesse o conceito de progresso. No artigo se lê:
“Porém, o que se pode observar é que a produção artística local tem se mantido sempre à margem das
conquistas efetivadas em outros Estados, sobretudo no Rio e em São Paulo, onde, invariavelmente, condensou-se o conjunto das vanguardas. E o salão de 88 vem, mais uma vez, mostrar que os padrões regionais são imperativos, ainda que aos artistas não falte chance de conhecer a arte que se faz no resto do
mundo, quer por viagem, quer através de livros. Ninguém aqui, como lá, é darwinista para acreditar numa
evolução irresistível e fatalista da arte do Nordeste, isto é, para crer que não possa existir uma inteligência
maior capaz de ultrapassar a simples manutenção da chamada “figuração nordestina”.
E assim continua Lígia Canongia neste artigo. Quero crer que hoje ela não pense assim, até
porque a título da “inteligência maior” que ela reclamou temos hoje uma “arte contemporânea” – as aspas são para chamar a atenção, de primeira linha em Pernambuco. Mas isto
não decreta o fim da “figuração pernambucana”, nem da arte naïfe, nem da pintura de paisagem, de retratos e até de naturezas mortas por uma única razão, os pintores que pintam
assim estão vivos e vivem de suas obras porque têm público.
Entre outras razões deste livro, tocar neste assunto sem o preconceito geral dos novos
donos da arte, é um deles. Este não é um livro de história, não tenho esta ciência, mas de
estórias, embora eu ache que em algum momento ele contribuirá para uma história da arte
no Nordeste. Não é um ensaio de crítica de arte, os textos de minha autoria escritos para
amigos estão mais no terreno da crônica do que da teoria.
Este livro é, na verdade, uma homenagem aos amigos e parceiros do mesmo saber,
217
da mesma mania, que me acolhem como um deles nesta cidade de Olinda. A estrutura de
pedra e cal de uma cidade é apenas matéria inerte: a cidade é muito mais do que isto, a
cidade é seu povo, seu habitante, e é no povo que se manifesta a utopia da solidariedade,
da cidadania e da democracia, mesmo que naïfe, mesmo que barroca. Aliás, estas duas
categorias só agregam qualidade à ideologia quando se trata de algo não cartorial, não
burocrático.
Os assuntos que deixei de tratar, os livros que deixei de referir, as pessoas que deixei
de citar, as imagens que deixei de editar, por deficiência de memória ou proficiência histórica, valem outros livros como este.
Do movimento da Ribeira aos grafites de agora; da fundação do MAC ao Arte em Toda
Parte; da Oficina 154 ao Ribeira Artes e Ofícios; da Amparo 60 à Galeria Sobrado, muitas
trajetórias foram percorridas. Falamos de tantos artistas cujas obras são importantes para
a cultura brasileira, como Samico, João Câmara, Delano, Roberto Lúcio, José Cláudio, entre
tantos, e verificamos a urgência de se preservar seus acervos, que afinal se constituiriam
em tesouros artísticos do povo brasileiro.
Ao escrever este livro eu também quis chamar a atenção para isto: nunca deixei de
acreditar no fato de a arte pode e deve ser uma dádiva do artista para seu o povo, (seu
público como queiram) por mais egocêntrico que ele eventualmente seja. Um dos exemplos que mostra esta generosidade é o festival Olinda Arte em Toda Parte, que foi criado
pelos artistas Tereza Costa Rêgo, Petrônio Cunha e Plínio Victor, que produziram também a
primeira e antológica versão no ano 2000. O OATP, a partir da segunda versão, passou a ser
produzido pelo empresário João Falcão, até o ano de 2010, sempre focado na participação
de todos. Fato que, embora provocasse um nivelamento nem sempre bem aceito, demonstrou uma preocupação democrática em relação ao artista.
E então não modo mais para encerrar este livro se não evocando Zé Barboza, um dos
mais autênticos artistas daqui:
Viva Olinda!
10 de Janeiro de 2013
utopia do olhar
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- Walmir Ayala – Prêmio Funarte de Monografia – Editora Record – 1979.
•
Vicente do Rego Monteiro poeta, tipógrafo pintor – Organização Paulo Bruscky, Edmond
Dansot, Jobson Figueiredo e Silvia Pontual
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Vicente do Rego Monteiro – Olhar sobre a década de 1960 – Jacob Klintowitz – Edição Galeria
Ranulpho – Recife 2012.
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
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utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
224
Prologue
UTOPIA version
1
Prologue – Renildo Calheiros
2 Olinda – The city of artists
3 Eufrásio Barbosa, the Mayor and his brother in law Odorico
5
Tânia Carneiro Leão
4
Ribeira’s Movement – Adão, Ypiranga, Zé Barbosa
6Events
7
Olinda’s Closings
8Galleries
9The female eye – Guita Charifker, Maria Carmem.
10
The ideological eye – Janete Costa, Silvia Coimbra, the
Naïfes and Tereza Costa Rêgo
11
Baccaro
12
Antenor Vieira de Mello, FCPSHO, Guaianases, Carnival and
Aloisio Magalhães
13
Carnival and art – productive chain
14
Liliane Dardot, Petrônio Cunha and Luciano Pinheiro
15Field of singularity
16Eco bar – Humberto Magno and Jairo Arcoverde
17João Câmara and friends
18
Olinda and the landscape painting
19
Samico, Marcelo, O Sobrado and the new landscape.
20
MAC
21
Tiago Amorim and the Alto da Sé
22
Contemporary Olinda
23
Naife’s socialism – Olinda’s art everywhere
This book is a beautiful walk through the life of artists from a city known for
its creative capacity. Olinda creates and recreates. It’s a cultural volcano that
never sleeps. It breathes and exudes art. To Charles Chaplin “art is an additional
emotion applied to a skillful technique”. This work talks about this addition.
It’s a walk through time guided by the trained, attentive, insightful and
sincere artist’s eye. Raul is a professor, art critic, painter, stage designer,
graphic artist; a real navigator of the seven seas. He is considered an icon of
visual arts. As if his talent as a visual artist wasn’t enough, Raul is capable
to do art with words and to guide us through a soft narrative that keeps us
reading, inhabit our memories, shows sides of it that our sensitiveness didn’t
allow us to perceive.( If being a visual artist wasn’t enough, Raul makes art
with words and guides us throught a smooth narrative that captures the
reader, occupies our memories, revealing aspects which our eyes had not
reached and our sensibility is yest to allow us to perceive.) He tells us stories,
presents information, and makes clear his own admiration for many of those
art characters.
I must confess that we have this new debt with Paraíba. Paraíba already
lent us André Vidal de Negreiros, who wrote along Henrique Dias and Felipe
Camarão one of the most extraordinary pages of our history: The Pernabuco’s
Insurrection. Years later Paraíba gave us Ariano Suassuna’s Enchanted
Kingdom; and allowed us to adopt as an Olinda’s native “olindense”
“olindense”1 Raul Córdula, who was actually born in Paraíba, at the rough
Campina Grande., called
Raul, charming as he is, has won a jewel called Amelinha; who’s talented
and a warrior. Together, they offer us this gift. It’s some kind of soundtrack
It works as a type of track/, study guide, and research source; a path to
follow. Words to be left in writing, a record. This book is filled with reports,
opinions, analysis, and testimonies from those who lived and played a part
on the events. Without these records , , in the future, our native tour guides
often called as “Olinda’s kids” would tell this story their own way: with lots of
creativity and, by doing it, so many different versions wouldpop up that we
would be left too far away from what really happened.
The other day I was with a group of entrepreneurs showing them the
Sé2 and I witnessed one of those “tour guides” walking along some tourists.
He was telling many things and always wrapped up his story using the
expression “this happened when Olinda was “flat”. I was really curious and, at
the first chance I got, I approached him and asked: “what’s this story about
Olinda being flat? And he answered: “Mayor, chill, let me make a few bucks.”
This is Olinda.
In this book, Raul takes the “time telescope” and looks though it at
multiple angles. He shows Olinda inside and out, as the others see us, how
did they influence us and how they connect to what was and is done here.
At the same time, Olinda shows itself with all of its cultural power; the city
reveals its identity, its tendencies, and its traces. Raul talks about many
moments, with emphasis on the Ribeira movement and the Guaianases
workshop. He approaches the appearance of the superstars of our arts.
Characters such as Adão Pinheiro, Montez Magno, Anchises Azevedo,
Vicente do Rêgo Monteiro, Ypiranga, Guita Charifker, Maria Carmem, Petrônio
Cunha, José Tavares, Tânia Carneiro Leão, João Câmara, José Barbosa,
Samico, Luciano Pinheiro, Tereza Costa Rêgo, Paulinho do Amparo, José
Amorim, Aloísio Magalhães, Humberto Magno, Liliane Dardot, Marisa Varela,
Juliana Notar, Jairo Arcoverde, Juliana Calheiros, Tiago Amorim, José Claudio,
Baccaro, Roberto Amorim, Bajado, among others. Raul approaches what he
calls Contemporary Artistic Movements, initiated during the 50s. Picasso
once said “there is no past or future in art. If a work of art does not live in the
1
Olindense – a person born in Olinda.
2
The top of a slope at Olinda, where you can find a church and a Square
with artisans selling crafts.
present, it must not be considered at all”.
Raul was wise enough not to talk about all of the artists. If he proceeded
as such he would be at risk of never finishing his job, so wide is the range
of artists in our city this endeavor would become a “One Thousand and One
Nights” of modern times.
Reading this book allows us to better understand who some of our best
artists are. Raul tries to show the pioneering, the effort, the courage, the
talent and the contribution that they gave us. This work has, among other
things, the credit to show how much some artists, of who little is said
nowadays, were important to the development of our culture. It seems
appropriate to me to remember Hippocrates quote: “Life is short, and the art
long.” It is some type of rescue, homage, recognition.
Although it quotes many other neighborhoods and cities, Raul talks
mainly about the ones at the Historic Site, this huge workshop. He shows that
some of those artists were born in Olinda, and others came here, attracted
by the city’s charms, or who knows, by the companions one will find in
Olinda gives, or even for the mystery of the hills, for the surprises around
each corner, for the proximity and complicity that the alleys can provide, for
the beauty of the architecture, for the abbeys’ peace, for the energy of the
slopes, for the colorful houses, for the enchantment of those who visit us or
who watch us from here.
For Nietzche: Art must, first and foremost, embellish life. Besides being
mysterious, Olinda is a magical city. Olinda is a state of mind, a way of being,
of facing the world with more tolerance and freedom. It’s a way of living
with its own art, with better or worse understanding of it, a lot of people
feel artistic. Olinda is a passion that grows in the heart of those who pass
by it. It’s a feeling that captures our minds and dominates our soul. Each
one has his own explanation. It’s like giving a soccer lover the opportunity to
learn about the history of Pelé and Coutinho, and cohabit with them at the
beginning of their careers, be part of that moment, and live at “Vila Belmiro”.
Olinda is a form of caress. It’s a big encounter. Some people with beautiful
costumes and visitors of the best art academies, others dressed simply,
maybe even shirtless. together, moving to the same “frevo song”, going up
and down the same slope, losing or finding love, another love, or winning over
the same love. Fernando Pessoa would rather say: “Science writes things as
they are; art, writes things as they are felt, as people feel they are.” Olinda is
like that, or at least this is how we feel it.
After traveling through the written lines of this work I admire even more
some of our artists and their simplicity blows me away. Characters with such
talent lead simple lives and some of them with such a rich story. Raul reveals
secrets to the youngest and reminds them about the oldest ones. He reflects
these images onto the walls of time, sheds more light on them, opens the
windows, and shows the world that Olinda is a land of “giants”.
At Olinda the sun rises earlier, reflecting a blue color that once enchanted
Carlos Pena Filho. IN the afternoon, with its rays already falling upon our
hills diagonally, premature shadows begin to pair. The shadows make the
nights longer and they awake the poets, cheer the artists and stimulate the
bohemian. Hail the art lovers! Hail Olinda!
Renildo Calheiros
P u r e B a r r o q u e !
Olinda – The City of Artists
Those who know the Historical Site of Olinda know this place is an
architectural, landscape and environmental urban jewel. A place where
everyone and almost all who live here, in one way or another, are artists of
Olinda, as once Bajado proclaimed him.
I remember whatthe curator Marcos Lontra, who created and directed
225
the Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães3 told me once, even after
being the head of many museums as important as the MAM in Rio de Janeiro,
based on public interest, he had never seen a population who liked art as
much as the population of Recife. Recife and Olinda work/live as a double
city, that’s how I like to call them.
Olinda has attracted artists since the 50s, when Montez Magno moved
over here during 1950s and invited Adão Pinheiro and Anchises Azevedo
to share his workshop with him. There lays the beginnings of the artistic
contemporaneity of Olinda.
Montez is an artist who has large critical resources, besides writing
about art. In 1961 he published over a dozen of articles in the “Diário da
Noite”, and old newspaper from Recife. Since then he has written in several
different newspapers such as Jornal do Brasil, Pasárgada Magazine, Diário
de Pernambuco and Jornal do Commercio, among others. Besides being a
painter, sculptor and draughtsman, he makes use of the contemporary
media, but resides in poetry, with emphasis to the visual poetry, an important
aspect of his work, as for its avant-garde feeling of the older works, as for
their contemporaneity. As an example I quote Floemas, from 1962, a work
that placed itself at the purest poetic avant-garde because it was a “artist’s
book”, RUMOS, from 1992, a dive that goes from contemporary poetry,
undergoing the Process Art and getting to the visual poetry from nowadays;
Câmara Escura and Invenções de Cambroque, both from 2002, containing
poems in verses, the last one illustrated by him. Bus his poetic production
isn’t bound to theses, I also quote Narkosis, Dentro da Caixa Cinza, Pequenos
Sucessos, As Estações Visionárias, Divan de Casa Forte and Notassons.
Notações Musicais e Visuais Aleatórias. Certainly his creative process in
poetry goes way beyond that.
Montez was born in Timbaúba in 1934, he began to study drawing in
1963 and had his first individual exposition in 1957 at the IAB. His artistic
history is long and fertile, realizing many individual expositions in Brazil and
Europe, where he has traveled to Spain, Portugal, France, Italy, Yugoslavia
and Greece. He has also been to Argentina, Uruguay and Africa. He was a
teacher of the sclpting in the Cultural Department at the Federal University
at Paraíba. His work is the subject of a book written by the curators Paulo
Herkenhoff and Clarissa Diniz, and his writings also achieve the critical area,
having recently published the book ____________, with his critical text about
_________.
Following Montez’ example, Adão and Anchises also attended this
calling, each at his own time, more than a hundred of artists that have traced
this little-big art history, most acting until today, others less reminded as,
for example:
Roberto Amorim, Ney Quadros, Emanuel Bernardo, Paulo Neves, Gim,
Alves Dias, Lenine de Lima. The convenience to rent or buy houses to work
as workshops overlap and, in some cases, to get out of Recife at the tough
times of military dictatorship. Many built families from which artist kids were
born, a new generation that today has grown into adults and is inserted
successfully at the artistic scene as painters, sculptors, designers, artisans,
photographers, performing artists – this one a tradition of the city – and
contemporary artists, in a modern definition of the art which doesn’t limit
itself to artistic categories anymore.
There you have the Olinda of today, a city of artists full of old and new
knowledge, with its morenas and caboclas4, it’s carnival impregnated at its
3
Aloísio Magalhães Contemporary Arts Museum
4
Morena and cabocla are two ways of calling mixed races in Brazil in a non
perjorative way.
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
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slopes, a place that has one kind of art that glimpses the sights of heaven.
Painting is the main art practiced here. Since the very first’s artistic
movements, from the 60s until now, the painters own the scene. Even
knowing that here all kinds of art exist with excellence. But, at the visual arts
field, this domain is only quantitative, because the draughtsman, engravers,
photographers, sculptors and artists of many different contemporary
categories also have a qualitative role.
From decades we heard about “provincial art” to define the art of the
regions that are out of the influence and prestige axes. There is nothing more
assertive if we know the art in Olinda and its artists. However in this case
we can’t attribute to “province” the meaning of “backwards place” but the
meaning of urban privilege, experience-based treasure of preserved culture,
human and material heritage.
The artists who came here back at the 60s were in its majority students
of the Escola de Belas Artes from UFPE, where there was a Free Class, at
Benfica St. in Recife. They had training or degree through artists such as
Vicente do Rêgo Monteiro, Lula Cardoso Ayres, Reynaldo Fonseca, just to
bring those three gentlemen to the same level of teacher-artists of the time.
They are, among others, João Câmara, Jairo Arcoverde, José Tavares, Ypiranga
Filho – who was initiated at free workshops and later became teacher of the
regular classes of the School.
The pioneers of modern times began to live here, built their families and
their aspiring artist children were trained by the persistent look at the works
of art placed at the workshop-houses where they lived, and by their own
parents, when their vocation for arts was perceived.
This story goes on until today: artists coming, workshops being set,
turnovers happening, museums and other cultural institutions settling in,
galleries, engravings, curatorship, official programs and artists associations.
The city of artists was getting built like this; this utopia of the sight has
emerged and taken over the dreams of the ones who take part in it.
The Pernambuco modernity pointed to the reinvention of its own origins
and traditions in a nationalist and anthropophagic anxiety at the same time.
Nobody better than Montez, Adão and Achises to reinvent here the art that is
made now, which is not baroque-Portuguese, neither is colonialist/Dutch, nor
even is French/fine artsy, but modern, even being part naïve, as is the people
and the culture that transform democratically here in a mixed citizenship.
In 2010 I have made the curatorship of the Olinda Art Everywhere, an
annual festival promoted by the City Hall which I’ll talk about later. I named
The City of the Artist the curatorship that held expositions of the artists that
got here first and their descendants – because of that, and because I was
curator of this art festival twice, I refrain myself to make any comments of
its eleven versions in this book. However I edit the curatorial text of its 10th
version because it contains part – many are the motives – of the drive that
made me write this book. Here it is:
THE FOUNDERS AND THEIR HEIR
Few places in the world have the privilege to be a
place where entire families of artists live for more than
one generation as it happens in Olinda. In truth Olinda
is the CITY OF THE ARTIST and this concept comes to
my mind while I think about provinces and metropolis,
realizing that this difference also exists at the artist’s
expressions to their respective urban areas.
This exposition which determines its tenth
version of the ART EVERYWHERE takes on this concept:
THE CITY OF THE ARTIST. It reckons on artists from two
generations that have worked here in this half of
century of modern art: the generation of the parents,
the pioneers, the founders; the generation who
inherited this knowledge and uses it here, where they
live and work as artists, amazing the world seen from
this side of this double city of Recife/Olinda, from the
point of view of the province that wants to keep being
heaven on Earth.
So, going on with my lucubration about the city
and the artist surplus, I’ve seen myself in front of the
idea of the Celestial Jerusalem: the ideal city where
Jews, Christians and Muslims consider, in a mystical
and magical vision, the city of God.
The idea of a city of artist is always misunderstood
by who doesn’t creates; by the pragmatics who think
that time is Money instead being the dimension of the
man by excellence. This philosophical myopia reminds
me of an alchemical text dated from 1534 that says:
“The stone is familiar to all men, young and
old. It’s found at the field, in the village, at the city, in
all things created by God and, however, is depreciated
by all. Rich and poor touch it every day, maids throw
it at the street, kids play with it, and even though
nobody gives it any value even knowing that it is, after
the human soul, the most precious and wonderful
thing on Earth, and that it has the power to bring down
kings and princes. Even though, it is considered the
most vile and despicable of the terrestrial things.”
Old sciences, the ones modern days don’t
accept, are still, even if symbolically, the best way
to understand the world of artists when saying that
what goes unnoticed can be “the most precious
and wonderful thing on Earth”. Aurélio Buarque de
Holanda suggests in Visões do Paraíso that, among
many incredible things, the adventurous spirit of the
Nassau’s painters – and by chance, from any painter in
Brazil – pushes the idea of the wonderful sight and, in
our case, Paradise is here.
To know it, for sure, you just have to know works
of art from artists as Samico, Tereza Costa Rêgo,
Maria Carmem, Luciano Pinheiro, Marisa Varella,
Tiago Amorim, José Cláudio, Bajado, Zé Som, Petrônio
Cunha, Ivaldevan and Sônia Calheiros, Roberto Peixe,
Humberto Magno, Giuseppe Baccaro, Jairo Arcoverde
and Bethy Gatis, Ypiranga Filho Roberto Lúcio,
Liliane Dardot, the founders of this reality that has
tronsformed Olinda since the 60s. And their children’s’
work Manuel Cláudio (Mané Tatu), Marcelo Peregrino,
Laura Francisca, Leonardo Arcoverde, Marisa and
Joana Gatis, Thomas, Matheus and Antonio and
Francisco Baccaro, Bhama, Maria and Marcos Pinheiro,
Catarina Aragão, Marilá Dardot, the Julianas Notari and
Calheiros, Marina Mendonça, Ypiranga Neto, Dedé
Bajado, Elúzia and Goretti Varella, Antonio Paes, only
to name the artists of the exposition we present here.
Besides those who took part on this exhibition is
needed to mention, as great visionaries, Zé Barbosa,
João Câmara, Guita Charifker, Delano, José de Moura,
José Carlos Viana, José de Barros, Vila Nova e José
Tavares.
Two years ago I wrote the Jairo Arcoverde
catalogue, a visionary and wild painter and at the
same time exquisite and erudite, whose house I
took some time to appreciate because I’ve Always
perceived the artists’ families as part of the imaginary
that we see in their work. I will give as an example of
the simple life of an artist the following excerpt:
“Here is the house of the artist where everybody
lives by creating art, atmosphere, and intimate
landscapes; joined by the dogs, cats, birds and plants
and flowers from the garden. Everything seems in
place and put together, but, in fact, the generous
space is a maze of surprises, with walls covered
with paintings and pottery: paintings by Jairo, object
by Betty Gatis, his wife, one of the main potters
from Pernambuco, clay dishes painted by him and
transformed in pottery by her and, as counterpoint,
objects by their kids Marisa, Joana and Leonardo.”
The generosity is one of the main artist’s assets
because their Works are usufruct by the others simply
as gifts. Artist’s houses are generally splendid centers
as it was here in Olinda and still is in its suburbs the
house of Tiago Amorim, a mix of artist and monk. The
artist’s collective organizations are very common in
here. Collective workshops, engraving workshops as
Guaianases was, the galleries owned by the artists
are a very particular way of living together in this city,
and they are opened for ages, many of them even
before someone mentioned “artist’s collectives” for
the first time.
This is not only a prospect of art that is produced
here, but also of the day by day life, the dialogues and
conflicts, of the generation struggles, of the intimate
discoveries of each person on their environment,
when he sees his name connected to his trademark,
his characteristics, his talent, his tendency, his
vocation. It’s a report of pleasure, love, confidence
and respect that this artists have with one another, to
the point of continuing as their parents, in a constant
and everyday homage.
The pieces gathered here in three exhibition
rooms is noticeable from the art point of view. A simple
visit is enough to see its quality. But this is not the
only reason to put the set together, there is also the
desire and opportunity to show the public this reality
that is so obvious and, surprisingly, so hidden by the
unpretentious ways of each one of these artists to
communicate their private/ particular identities.
The Mayor Eufrasio Barbosa and his brother-in-law Odorico
Generation 59, a group of poets from João Pessoa that I have attended
to and in which the poet Jomar Souto took part, worshiped Carlos Pena Filho,
who lived in Olinda. I didn’t meet him, but I remember being at a party at Baby
and Geninha Rosa Borges’s house, I was taken by my sister Leda and her
husband, the actor Rubens Teixeira, who was part of the Northeast Popular
Theater troupe, when someone arrived with the sad news about the terrible
227
accident that took the great poet Pena Filho’s life, I knew his poems by heart.
Later I had the pleasure to meet Tânia Carneiro Leão, his widow, at the time
married to a very sharp gentleman, Professor André Carneiro Leão, and their
kids Clarinha, Carlos’s daughter, Rodrigo and André.
The narratives of Tânia’s memories were the ones who got me thinking
about this book, because the history of her father, Eufrásio Barbosa, and
his family gave me the impression that sprouted, in a certain moment of
their lives and moved by the desires of the clan, this utopia from Olinda: and
utopia that has in Carlos Penna one of its creators and in Eufrásio Barbosa
his first developer – a developer of utopias.
This is the utopia that I come to tell here, born in the curious eye of a
generation that strayed from the rural aristocratic culture, entrenched in this
land and definitely adhered to modernity, even if 30 years after the Week of
22 and Gilberto Freyre’s Regionalist Manifesto. It’s good to remember that the
Week of Modern Art of 1922, held in São Paulo, had the participation of Cícero
Dias and Vicente do Rego Monteiro – a character that became fundamental
to Olinda on those renovation times. Many artists moved here to enjoy the
prestige that the Mayor lent to the artists – as it was in the hiring of Adão
Pinheiro and, later, of Vicente do Rego Monteiro, as Secretaries of Culture and
Tourism of the County, and yet the section of the Ribeira Market to the artists.
***
The mayor Eufrásio Barbosa was a very educated man. Also was Mrs. Otília,
his wife, she was the sister of the journalist Odorico Tavares, superintendent
of Diários Associados at Bahia, befriend of Assis Chatoubriand and, as him,
an art collector. At a chronicle written in July 17th, 1984, after Eufrasio’s death,
Mauro Mora wrote:
Eufrásio Barbosa was a friend of many Brazilian
writers. Álvaro Lins appreciated him greatly. Not to
speak, Odorico Tavares, one of our most important
poets whose oblivion in Pernambuco surprised João
Cabral during a conversation in Rio. Odorico was the
brother of the amazing Otília Tavares, Eufrasio’s wife
(who took the final trip four months before) and Liliane
Daltavila on the verses that he wrote in Timbaúba. Not
to also talk about Jorge. They exchanged letters for
many years.
Odorico Tavares, besides being at his times one of the best Brazilian
art collectors, was responsible by the appearance of great national artists
that he met while they were still young and whose art / whose work he
has invested his time, money and prestige, thus also becoming a patron of
arts. At his collection there are works of artists who are considered genius,
as Pablo Picasso, Georges Rouault, Joan Miró, Henry Matisse, the English
Alan Davie, the Japanese Kumi Sugai, Manabu Mabe and Flávio Shiró, and
from Brazil Cândido Portinari, Di Cavalcanti, José Pancetti, Aldemir Martins,
Milton da Costa, Guignard, Carlos Scliar, Antônio Bandeira Frans Krajcberg,
Francisco Brennand among others of the same late modern period. From the
artists of Bahia the collection has Emanoel Araújo – the collection’s curator,
Caribé, Genaro de Carvalho, Mário Cravo Filho and Mário Cravo Neto, Hansen
Bahia, Floriano Teixeira, among many others.
But his importance to the art world goes beyong the collector and
reaches the prestige territory when some of his actions were crucial
to national culture, as in the case of the National Campaign of Regional
Museums coordinated by Ms. Yolanda Penteado. This campaign, based on
the exchange of ideas he had with Chateaubriand, resulted on the rollout
of four museums: The Regional Museum of Feira de Santana, the Modern
Art Museum of Pernambuco – MAC, in Olinda, and the Assis Chateaubrian
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
228
Museum of Campina Grande – MAC/CG.
The rollout of MAC at Olinda was largely debated with Eufrásio Barbosa,
the den building, a dioceasan prison, was restaured specially to hold it. At
the curatorial text from the catalogue of his collection exposition, written
by Emanoel Araújo, he talks about the complicity related to arts that existed
between Odorico and Assis Chateaubriand:
He lost all the time in the world talking about art. I
think this was the greater complicity between him and
Dr. Assis – both had this romantic and adventurous
side that artists of that time had, but as they weren’t
artists, they lived among them in large groups and
made timeless trips with them.
Odorico was truly passionate by places that
transpired art and poetry, at a time where there were
names like Carlos Penna Filho, Manuel Bandeira, José
Lins do Rego, Carlos Drumand de Andrade,Augusto
Frederico Shmidt, Pablo Neruda, Nicolás Guillén,
Ascenso Ferreira, Gilberto Freyre, Jorge Amado,
João Condé, Carlos Lacerda, Antonio Balbino, Juracy
Magalhães, Octávio Mangabeira, Godofredo Filho,
Carlos Eduardo da Rocha, Aníbal Machado – making
Bahia his second home and turning it into his
passionate love in his voluntary exile
It’s not surprising Eufrasio Barbosa’s pledge to the arts generated
in Olinda. His intellectual conviviality in Pernambuco and his approach
towards Odorico, who also got him closer to Salvador arts, without a doubt
contributed to it. Tânia Carneiro Leão
Tânia was educated living among the intellectuals who befriended her
father, and the proximity to Odorico, living in that environment surrounded by
writers, poets, and artists. She married Carlos Pena Filho at a very young age
and, after her widowhood, she married Professor André Carneiro Leão who
was also connected to books and history.
Even knowing she had curiosity and ability for drawing since she was
a girl, she only took over her artistic persona during the 80s, doing her first
exposition at her workshop in 1987. Her first paintings, which were connected
to the landscapes of Nassau’s Dutch painters, developed with influences of
naïve American paintings, from old maps and nautical shields and charts, big
bodegas and still life.
For this reason, her husband and writer André Carneiro Leão, compared
her to the “fifth Nassau painter”, in an article at Ventura magazine, the one
to whom no one refers to nor acknowledge his work, but of whom the Count
would have referred to. I though this comparison really interesting, because
three other artists of his generation are the painter’s masters: Guita Charifker,
Maria Carmem and Tereza Costa Rêgo. Tânia began to paint during the 80s,
two decades after them. Tânia has given an interview where she talks about
many subjects that I approach here, and among other really important
subjects she told us about her initiation as a painter.
“I had nothing to do with Ribeira, none of that. My
story begins in 1983, really late. When my father died
and I didn’t want to live in this house. My son began
to build a restaurant named “Berro D’Água” after Jorge
Amado’s book. Carlos Augusto Lira was the one who
designed its interior. At the front room he wanted to
mix old objects with new ones. He built a beautiful bar.
For the front room, he wanted to buy big old paintings
to hang there.
Everything makes sense. Nothing comes for free,
as Carlos Pena says: “The chance belongs to God”.
At that time, we were good friends with Lula Freyre,
the owner of Ventura Magazine. He had published this
book, and, if I’m not wrong Marcos Freire financed
with Caixa Econômica. Andin the book there was a
17th century map. These maps are made with really
rudimentary drawings, called naïve.
Tânia wasn’t only an eye witness, she was also a character of those
times, a friend of the artists and Carlos Pena Filho’s wife, and she talks about
this relationship hereinafter:
When my father was elected as the Mayor he
invited Adão Pinheiro to be the Secretary of Culture.
Adão and I were close friends and Itold my father Adão
had great ideas and would make a great Secretary of
Culture. When some turnovers began to happen, as the
political persecution, at the beginning of 1964, Adão left
City Hall because he thought he was impairing things.
Artists were seen as pariahs, so he quit the Secretary.
Vicente used to say my dad was the new Duarte
Coelho; that he was rebuilding Olinda, and he was right
to say so.
Carlos Pena Filho
Carlos died in 1961;in a car
accident. He was going to Cobrama, at Rua
Imperial, with Moura Cavalcante, who would later
become the Governor of Pernambuco. Carlos and
Moura were campaigning for Jânio Quadros. After
driving by Cinco Pontas Fort a bus hit the car.
There are even testimonies that people ran to
know who was in the car. There was a gentleman
who said a person jumped out of the car and that
this person didn’t look hurt at all.
(On the phone) Vicente called me because he
was willing to go do the Secretary of Culture once
he knew Adão had left it. My father said that Vicente
could claim the seat whenever he wanted. My father
was very impetuous. He said that it would be the first
time a Mayor had a Secretary who as more important
than him.
But that was exactly what happened: I asked to
frame it with an antique frame and hung it on the wall.
Then I got the second map and leaned it over there.
Two ladies stopped at the antique shop right in front
of the painting and one said to the other that was the
painting she was looking for but hadn’t the means to
buy it because it should be really expensive once it
was an antique painting. At that moment I said that I
had painted it myself and they wouldn’t believe me. I
couldn’t sell them because they were made for my
son’s restaurant. I got excited and began to paint
flower beds, landscapes e so on.
Moura seemed to be a lot more
injured than him. He simply left the car wearing
his blue jacket and feeling well, only afterwards
someone saw that the hit he took was in his neck
and that it had popped it out of place, it was
broken.
Because the army kept rummaging, he was only
the Mayor until 1964. He wasn’t a communist, he was
an industrialist. One day my father, while talking to
Arraes about leaving City Hall, was advised not to do
so, however the army wanted to evict him anyway, and
the only way to do so was through the City Council.
They impeached him with no allegations at all. Within
his two years as a Mayor he did amazing things, he
built the Ribeira Market. From this point on all the artists
came to Olinda, they weren’t invited, but the movement
drove them here. Even Francisco Brennand, who has
never left Várzea5, brought his paintings to exhibit here
at Ribeira. That was around 1963/1964. I must confess
I’m not good with dates.
When I finished I showed the paintings to the
boys and said: ‘look at those antique paintings that
I came across’. And they said they hadn’t the money
to buy them. It was then that I said they were a gift
that I had painted myself. Nobody believed. When the
paintings arrived for Carlos to hang, he was amazed by
them. This room turned out really beautiful. Everybody
wanted to buy these maps. I ended up selling one. The
other one is with Isabela de Almeida. From that day on
I began to paint.”
Carlos was 31 when he had the
accident. We met when we were just kids, and got
married. Then Clara was born. He had a great sense
of humor, there was always some latest news that
he usually picked on. There hadn’t a party in Recife
if Carlos Pena wasn’t in it. There were many friends
and many parties and, sometimes, all of it got a
little tiring. He was really loved and was also a
bully. He bullied Cid Sampaio6 and others. Picking
a fight with Carlos was the worst thing a person
could do, because he immediately would make a
poem to demoralize the person. He really bullied
everybody, the Governor, the President.
The Ribeira Market was a place where things were
sold inside a small fair. It worked on Wednesdays.
Some fair-goers put some things to sell. The idea of
building the market and bringing the artists came
from Adão Pinheiro. Vicente had a fantastic idea that
didn’t come true because my father was annulled, but
it was about to become true: the idea was to import
working perfurmers, people who worked at factories in
France, and build a perfume factory at Peixinhos, the
houses would have a flower bed to give the aroma to
the factory.
Professionally dedicated to antiquary, she became an expert of
traditional arts who also paints. But her intimacy with poetry arouse her to
free verse and hai kai, a Japanese poetry form that has many adepts in Brazil,
among them is Pedro Xisto with his seminal work Caminhos, and our painter
and writer Marcos Cordeiro and his beautiful book Hai Kais para Rafaela.
Tânia then released Poemas de Pé Quebrado (Carpe Diem publishers), a
hai kai collection embedded with digital graphic experiments so surprising
by its poeic content. At some point Tânia embarked an art full of colored
and formal symbolism: an intimate art where she evokes magical realities,
dreams, transparencies, veiled colors and oneiric structures, but everything
within a landscape atmosphere.
Eufrásio Barbosa, Adão Pinheiro and Vicente do Rego Monteiro.
be made by the time my father was annulled – because
we would have an entire manufacturing city. Perfume
isn’t made only by flowers; it’s made by grains, leaves,
fruits and roots.
One day I pick up the phone and it was Vicente
do Rego Monteiro – Vicente was bringing his works to
sell at a store I owned at the basement of the house
(where, in 1980, Berro D’Água Bar functioned). When I
wasn’t able to sell all of them I usually asked Janete
Costa, an incredible person, to do it for me.
Then I said that I thought I could paint a map like
that, that it would look beautiful a map that was large
enough for two walls. I called the guy that worked at my
store called Antiquário, which was in front of City Hall
and asked him to buy a canvas to paint with duratex
and brushes. I asked the guy to paint all the canvas
with acrilex hung it on the wall and began to copy the
whole map. It turned out too “lively”. So I decided to age
it. I ended up aging it too much and having to restore it.
Every week we had to have
dinner with General Cordeiro de Farias7 at the
Palace. The General laughed to death with our
tales. He was our best man at our wedding. I still
have his letters. The General was a very bright
man. He put together all the Coluna Prestes, left
Mrs. Avanir at Rio Grande do Sul, while they were
engaged, and went after Carlos Prestes. It was
him, Sargent Major Eduardo Gomes, Juarez Távora,
those people made the Coluna Prestes. He was
a very close friend of Prestes, had an enormous
respect for him, even knowing that they had
parted ways.
It sounds like Utopia or it sounds utopic, but it isn’t.
There is a lot of people getting rich by selling flowers
raised in small fields. There would have been and
absolutely incredible and viable thing – it was going to
5
A neighborhood at Recife.
229
The
General
6
Governor of Pernambuco state from 1959 to 1963
7
Governor of Pernambuco from 1955 to 1958
said
Prestes
wouldn’t ride a horse until the last soldier didn’t
do so. If anyone was walking on foot, so was he. It
was amazing, spectacular.
I have a book about General
Cordeiro’s life. Inezinha, his only daughter-in-law,
wrote a huge dedication also telling our story. They
left from Recife very poor, the General and Mrs.
Avanir. At first he was the head of Centro Cultural
Brasil – Estados Unidos 8and after the Revolution
he became one of Castello Branco’s Ministers.
But before that he spent some time at Rio living
only on his General wage, and nothing more. They
arrived and left with the same amount of money. At
that time things were different. Nowadays people
get into politics to enrich. Back in the days that
wasn’t the case, it was fantastic.
................
Carlos Pena Filho’s poetry mentions many times painting and the blue
color. At General Book’s dedication, he writes: Tânia: “receive this book/ now
written/ at the blue side of your face/ island of sand and salt/ blue as our
veins”. At another poem dedicated to Tânia, Soneto, from the book A Vertigem
de Lucinda, he reassures “Because you’re beautiful and blue, I offer this to
you/ the serene/ memory of this afternoon (…) because you’re beautiful and
blue and unprecedented/ is to know the flower, the sky and the days/ are
only states of mind.
“I offer this to you because you are blue and beautiful/ serene/ memories
of this afternoon. (…) because you pretty and blue and unfounded/ you know
that the flower, the sky and the days/ are only a state of mind.”
The poem Olinda, - do alto do mosteiro um frade vê9 is an ode to
the landscape, the main painting genre that was found here. Poema
do Desmantelo10 Azul is a pictorial performance in modern form and
contemporary content: “So I’ve painted my shoes blue/ because the streets
I couldn’t do/ then, wore my foolish gestures/ and colored my hands and
yours too.”
The poems Retrato do Pintor Reynaldo Fonseca , Soneto raspado
das telas de Aloisio Magalhães12 and A Solidão e sua porta13, dedicated to
Francisco Brennad, carry within his intimacy with painters. Para fazer um
soneto14 is more of a class about painting painting than poetry itself. And
Soneto à fotografia15 gives premature compliment to the photography as
visual art, one of the main contemporary outlets.
11
Ribeira’s Movement – Adão, Ypiranga and José Barbosa.
From the crossing of variants that have attracted each other the Ribeira
231
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
230
utopia do olhar
Movement began, of the cuff of the interaction between artists and City
Hall. For being close to Adão and for his understanding and of art as a social
element, Eufrásio Barbosa answered every artist’s need to have a place to
work and showcase their pieces.
This need became a strategic plan that succeeded to convey socially
and urbanely a decaying city, granting some new interest to it. The idea was
to give to Olinda a place to hold artisans and artists, that would bring Recife’s
public through art exhibits and other popular cultural demonstrations,
such as music, dance and theatrical plays, and to enable new artists
through drawing, painting and sculpting classes. This actually happened...
The presence of Adão Pinheiro was fundamental for things to happen with
such energy and rightfulness. Adão is gaúcho16, he moved to Recife with his
mother. He became acquainted with Gilberto Freyre who gave him a job at
the Joaquim Nabuco Institute of Social Research, the main cultural institution
at that time, which later was named Joaquim Nabuco’s Foundation of Social
Research (Gilberto Freyre dedicated himself to it for the rest of his life).
Following the events, Adão was invited by Dr. Airton da Costa Carvalho
to work at the National Institute of Historic and Artistic Heritage; he was the
head of the Northeast branch. Dr. Airton was one of the biggest public figures
in Recife who was dedicated to the restoration and preservation of our “stone
and lime” artistic, historic and cultural heritage. Dr. Airton admired Adão for
his persona and as an artist and saw in him a “knight of the preservationist
cause”. Adão also acted along Aloísio Magalhães, at the Gráfico Amador17,
illustrating books such as the ones written by the poets Gesta and Jorge
Wanderlei. At this point in history Adão had already moved to Olinda, building
his workshop with Anchises Azevedo (from Bahia) and Montez Magno (from
Recife).
So, at a certain point in time, because of his work, leadership and
sympathy, Adão was appointed as Secretary of Culture and Turism of Olinda,
invited by Eufrásio Barbosa. But he wasn’t alone. Along him were Ypiranga
Filho, another bastion in this story, and the painter José Tavares, the later in
1971 went missing in Rio de Janeiro. Along him were also Guita Charifker, José
Barbosa, José Tavares, Roberto Amorim and João Câmara. Later they were
joined by Tiago Amorim, João Sebastião, and others.
The integration of Yipiranga at the Ribeira’s Movement happened when
he met José Tavares, his colleague at the Curso Livre da Escola de Belas Artes.
Through him came Adão Pinheiro, the Secretary of Turism of Olinda. At that
time they had a long talk about Ribeira’s Market, and went fast into action,
gathering artists and artisans to recover the old market. Ribeira’s Marked was
open to public after going through a face lift. Its first exhibit was a collection
of saint images pertaining to Abelardo Rodrigues, in November 24th, 1964.
Accordingly to Ypiranga: “nearly a crowd is in the Galery and at the patio of
the Ribeira’s Market at Olinda. Resistence; refuge, aesthetic movement.”
Marcelo Carvalho dos Santos, who was at that time a Priest, and who
later left the church and the frock and became Fundarpe’s president and was
an important part along the architects José Luiz Mota Meneses, Fernando
Borba and Tinoco of Alto da Sé’s restoration, he presented that exhibit at its
chart:
8
A private English course.
9
Olinda – for the monastery a friar sees.
10
Poem of the blue dismantle
11
Reynaldo Fonseca’s Portrait
12
Sonet scratched from Aloisio Magalhães canvas
13
Solitude and his door
16
14
To make a sonet
15
Sonet to photography
17
Gráfico Amador was a private publishing office founded by artists and
intellectuals. It was opened from 1954 until 1961.
“All art exhibit is a kind of communication from the artist to the
public. The artist is always trying to give a message through his work: a
message from the beauty. When the exhibit is made of works of art about
some people’s culture in ancient times, to the aesthetic pleasure is added a
cultural and historical lesson.”
From November, 1964 to September, 1965 Ribeira’s Galery held those
exhibits: Sacred Art, presented by Marcelo Santos; Ribeira’s Arts and Crafts
Cooperative LTDA, with no presentation text. Adão Pinheiro, Bajado, Baú,
Carlos Bellandi, Ernani Ricardo, Genésio Reris, Guita Charifker, João Sebastião,
José Barbosa, José Tavares, Manuel da Silva, Neco, Roberto Amorim, Renato
de Oliveira, Tiago Amorim and Yipiranga took part in it. Still: Bajado, Francisco
Brennand – Painting & Pottery. On the same day at his jewelry workshop at
Ribeira, there was a Genésio Reis exhibit presented by José Tavares. Other:
Women in Art from Pernambuco, contains a poem by Deborah Brennand;
Laerte Baldini – retrospective; 6 Artists from Paraíba, presented by Adão
Pinheiro; Adão Pinheiro, presented by Vicente do Rêgo Monteiro.
the ciranda19 began to sing a song with his name on it.
What Tiago Amorim called DIVA (Departamento de Informação da
Vida Alheia20), that he claimed existed at that time, was the expression of
cultural, social, religious, racial prejudice that ended up prompting Adão to
leave the Secretary of Turism and, later, ended up extinguishing the Ribeira’s
Movement. At that time the press couldn’t tell the truth. Adão was seen as
resigning and the Mayor Eufrásio couldn’t say exactly what had happened
afraid of the dictatorship “superior forces” which used as a drive the
intolerance and prejudice of people who were allies of the political situation.
We have found at newspapers dated from July, 1965 many notes in columns
that referred to the event. At Diário de Pernambuco it was published:
Adão’s
temporary suspention of Ribeira.
Ribeira’s Market became known as the old Slave Market. It wasn’t
true, it was a fruit and poultry’s market at Cidade Alta, but in this small lie
engraved in stone, as Yipiranga used to say, “…there are more symbolisms
than one must reveal, maybe this is the ‘laconic manifest’ from the Ribeira’s
Movement”.
Happenings
M. Cherel, Cultural Attaché at the French Consulate in Recife, keen by the
city and by Alto da Sé’s sightseeing, asked Adão outlandishly to live around
Caixa D’Água, fixing there a small apartment or something of the sort, Adão
acceded making arrangements to get basic conditions so that the small
space could become someone’s household. That being done M. Cherel
moved. It didn’t take long until a stoolie reported him as subversive. Cherel
was arrested by the dictatorship police.
There was small talk about the State representative Nivaldo Machado,
Olinda’s Mayor, later succeeded by Eufrásio Barbosa, who was admittedly
a right - winged man, reported the left-winged ones do the police. People
suspected he was the one who denounced Cherel. He denounced Adão more
than once; Adão was arrested and released while he was still at the police
station because the Secretary of Culture, Walter Costa Porto, intervened on
his behalf. Arrests were ordinary during that period of time. Once, the ciranda
song writer Master Arraes was arrested at Ribeira’s Market patio as soon as
didn’t
affect
Nivaldo says vague things
“Asked if he would answer Nivaldo Machado’s
questions, made during an interview held by JORNAL
DO COMMERCIO, yesterday, when he insisted to know
the name of the culprit who impairs the municipal
administration, the Mayor of Olinda declared that
Deputy Nivaldo Machado is used to give vague
statements and inconsequential inquiries”. An
eloquent example is his statement saying that he had
never been to Ribeira, but he knew, tipped by someone,
that there was an erotic club over there, which its very
existence only himself, the Deputy, knew about.”
About the “erotic club”, Yipiranga says: the artists who were connected
to the Ribeira sent their works to São Paulo’s biennial and, to pack them
safely, they’ve used straw mattresses bought at Loja Azul. Someone saw the
mattresses and spread the word that they were used for sexual practices
that were going on at the market.
The Mayor Eufrásio nominated, then, his friend Vicente do Rego Monteiro
replace Adão, and Jornal do Commercio published the following note:
Vicente Monteiro as head of the Secretary of
Turism of Olinda’s City Hall – Adão Pinheiro exonerated
as a result of the scandals that were brought up at
Ribeira’s Gallery. Mr. Vicente do Rego Monteiro’s name
was pointed out by a group of intellectuals and will
officially take office next Friday.
***
Adão Pinheiro
We usually think, however, that the Ribeira’s Movement was restricted
to the period where Adão Pinheiro was the head of it – less than a year.
A person born in Rio Grande do Sul.
18
Guaianases Illustration Workshop
the
“Its activities were only temporarily suspended, not
because Adão Pinheiro resigned, but mainly, because
the exhibit of artists from Paraíba that was being held
there, for a long time, was withdrawn, was so to speak
terminated, the top attraction that happened there”. –
When I was reading this note I remembered that the
exhibit quoted at the newspaper was organized by me.
Still at the same story:
Adão Pinheiro wrote:
It’s from this same Ribeira’s Market that is released
this powerful lesson from painters and engravers,
sculptors and designers, working with their own hands
at the market’s restoration, converting it in a place
where many artistic manifests will stablish and will
make permanent root in its productive soil.
The Ribeira’s Movement, despite its little existence, conquered an
importance that is sustained until this day. Aloísio Magalhães, when
defending Olinda’s World Heritage Site title at the UNESCO’s International
Council of Monuments and Sites, in 1982, considered this small timeframe
of cultural actions that deeply changed our society. It was then that artists
began to be seen as regular citizens; interacting with the public, captains
of their lives as simple and regular people. It was then, at the time of the
Oficina Guaianases de Gravura18, that Aloísio Magalhães created all twelve
lithographs which depict Olinda’s sights. Those images illustrated his
defense thesis of Olinda as a World Heritage Site.
resignation
19
Ciranda is a genre of music and dance typical from Pernambuco.
20
Information Department Concerning the Life of Others
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
232
Not at all, it kept going for a little more during Vicente do Rêgo Monteiro’s
management.
but they’ve learned to carve but didn’t know how to
draw.
To officially manage Ribeira it was needed to create a juridical entity and
the best way to do it was by creating a cooperative. So the Ribeira’s Arts
and Crafts Cooperative was created, affiliated to the State Department of
Cooperatives. It kept working at Oficina 154, which is the house at the corner
of São Bento Street and Dom Fabricio Square. Adão’s workshop was on its
first floor. José Tavares was the first chairman of the Cooperative; Adão was
the treasurer and the distinguished modern artist, Mirella Andreotti, its office
clerk.
What happened? A guy who wasn’t from the
movement, but knew how to draw, joined, his name
was Ricardo Andrade (brother of designer Paulo
Andrade who was also a naive painter). He came up
with a drawing of a man carrying a fish on his back
and of another man climbing a coconut tree. It was
like a fever. Ricardo was a person who was never
remembered. The importance of Oficina 154 was huge,
because it awoke art in everybody.
The cooperative had Emmanuel Bernardo, Tiago Amorim, Xristiano,
Roberto Amorim and Guita Charifker also working at it, among others. At the
Ribeira’s Market one would find the Cooperative’s Store, with products made
by the artisans connected to it, as the jeweler Genésio Reis. The Senzala
Restaurant and Bar was set up and also the stores of the Argentinian
Consulates, which sold records, and the French Consulate, which sold books
and relied on the enthusiasm of its attachés’, M. Cherel and M. Tabet.
To exemplify Adão Pinheiro’s talent as cultural entertainer and his acting
here, I searched for someone who had cohabited with him, but was not part
of the group he led. Leide Melo was that person. Leide Ramos Melo is an
artisan and art-educator who has lived in Olinda for five decades; she came
from Fernando de Noronha where her father was in service as a Mariner.
Her brother was the sculptor Ramos Melo, known as Taminho, who
studied at the Engraving School at Alto da Sé. He was one of the best known
popular artists from Olinda, also being a xylograph artist, who has been at
Salvador and France. Leide is a teatcher at a public school and makes her
teaching her own priesthood. She was one of Adão Pinheiro’s disciples.
The little tales that she tells us are fragments of her cohabitee as a city
resident who has always interacted with the artistic production done here.
BOX
Leide Melo Memoir.
“Adão did a stage at the Ribeira’s pátio and
presented to the public a woman, called Mrs. Neuza
who performed a pastoril and lived at Sé. At that time
there wasn’t anything like that in Olinda and, all of a
sudden, stages began to appear. Notice that Oficina
154 and the Ribeira Movement weren’t things that were
reflected, wasn’t supposed to be like that.
I remember once when they opened Senzala Bar at
the Ribeira Market. We couldn’t go there, but we knew
how it worked. One day a truck arrived full of clothes
for the girls to wear. The models began to parade at
Adão’s house and after that we saw it at the magazine.
Everyone born in Olinda bought that magazine; all of a
sudden everybody bought the magazine.
Unintentionally, Adão did it all: he worked with art,
food, everything. He called people to work. He did the
Art School of Sé, placed some people to give classes,
one of them was Raminho. The guys began to engrave,
The majority of the carvers went by the Alto da Sé
School; there is even a guy in my street that supports
his Family selling carvings. Most of the carvings were
horizontal or vertical and long. There wasn’t a square
carving because they were made out of planks, they
were 20, 25, 30 cm wide at most. Most of them were
made out of demolition planks. Oficina 154 has made
the people from Olinda begin to break their houses in
search of pieces of floor to do wood carving. It was the
first house to be restored to become a Gallery. All of
that began because of the Ribeira’s Movement.
And then things began to be found at the houses.
There was a house where bones were found in the wall.
They even found gold inside the houses. People found
many things church related. At the house where today
is Mourisco (Sobrado 7, São Pedro Square), they found
a trunk full of golden coins that belonged to the Santa
Casa. At that time people would find swords, gold, and
once there wasn’t the Heritage thing (IPHAN, which
has interference over Brazilian cultural and historical
goods) the owners of the house kept them. And
everybody would come and see, but it belonged to the
owners of the house.
Mrs. Conceição, who lived at Sé with her little
kids, placed the tapiocas at her window to give to her
grandchildren who were arriving from school. Then
some tourists passed by, saw the tapiocas, wanted
them, and gave money for them. Mrs. Conceição began
to sell tapiocas at Sé. Adding the grilled cheese was
Mr. Pedro and it began totally by chance: the same coal
that roasted the tapioca also grilled a piece of cheese,
he sold it and it was a success, then he began to cook
and sell the “grilled cheese of Sé”.
Mr. Pedro belonged to Preto Velho, which today is
the Samba School. At that time Preto Velho wasn’t a
Samba School, it belonged to Father Edu (the umbanda
Pai de Santo who later became the owner of Yemanjá
Palace), who, back in the days, had a house of straw,
with a straw door that looked like the native Brazilian
ones. It was people from Náutico who built the Yemanjá
Palace, by the time they won their sixth championship
(in the beginning of 1970). From then on Father Edu
earned a lot of money; people believed that Náutico
won the championship because Father Edu had done a
dispatch on their behalf.
In 1960, Cantinho da Sé was a wooden house,
real wood, where Galego lived since his teen years.
It became the bar with Olinda’s best view. Important
people went to Cantinho to drink, for example Fagner,
Fausto, Nilo, Alceu. Musitians visited Tiago Amorim in
1970 and then went to Cantinho da Sé to drink.”
Ypiranga
We still have to talk about this long-lasting master, Yipiranga (Lourenço
Yipiranga Sousa Dantas Filho). He was born in Recife in 1936 on Imperatriz
Street. His grandfather experimented with plants and sculpted marble. He
also lived in Olinda, Salvador, Brasília, Berlin, and Paris and visited other
places. At our double city – Recife/Olinda, - he left profound marks which
are present in the cultural memories of modernity such as his outwork at
the Popular Culture Movement (PCM), at Gráfico Amador, at the Ribeira’s
Movement, at Oficina 154.
In Bahia he studied at the Arts School for some time, in the same class
as Caetano Veloso, who began his career as a painter. It was also there that
he made xylographs with Hansen Bahia, where he visited and attended Mario
Cravo’s workshop at Rio Vermelho and where he became Juarez Paraíso and
Sante Scaldaferri’s friend, two “popes” of the art of Bahia.
At the time of Ribeira’s Movement, he even worked at City Hall’s Car
Repair Shop, ran by Clideomar, Bajado’s brother.
In 1910 I had the pleasure to write about Ypiranga and his art:
Translating Ypiranga
Lourenço Ypiranga is a multimedia artist, that is,
he creates his arts using many expressive means.
It doesn’t mean that he is only a sculptor, painter,
designer or skillful recorder in all the techniques,
but also uses the technological and modern means,
from photography, movies, video, the xerography,
the artist book and the making of handmade paper.
He also aligns and interferes with our cyber universe
of multiplication and transformation of images and
works derived from the digital language itself.
From our history point of view he is also a master
of the modern arts in Recife, with a long résumé and
the definite participation at the modern history of the
art from the Northeast. This is both by the expression
of his art as for the long walk through movements and
collective actions as an artist and as a professor of
sculptural techniques – and the dealing with metal,
specially iron, his favorite raw material. First of all, he
is a pioneer. During the 50s, he was already aligned
with the modern world, the universal language that,
in Recife were only echoes in the work of Anchises
Azevedo and Montez Magnum. Then Recife discovered
neo-baroque.
He is creative, skillful, curious, focused in his
own improvement and in the development of his
avant-garde ideas. When he traveled to Europe, he
observed the work of great sculptures, identifying
the ones who, at the time, embraced the mechanical
233
reality of machines and factories. This way, his work
turned over the expression seen in forms and volumes
one could find at the industry left-overs and on the
handling of its materials.
In relentless career for the future in which we live,
we use the past when we talk about the industry. Not
doing this in the broadest sense, but in the sense
of machinery that contains peremptorily its own
obsolescence: what makes it transform itself through
the generations, from version to version, until now,
when our eyes meet with the virtual and cybernetic
automatism which produces a different kind of
residue, which is more similar to a spatial probe going
to Mars than with the trash that is seen in 1984, the
famous novel of George Orwell.
Yipiranga’s pioneers equals to the sculptor Sérvulo
Esmeraldo, from Ceará, who having also gone through
the European lifestyle embraced constructivism and
the Kinect art at the same decade Yipiranga led his
sculpting to a material constructivism, a fruit of urban
reality, where the iron, even being an old technological
material, is still a huge expressive matter.
Jackson Ribeiro, from Paraíba, did the same later
by using the left-overs from large industries and that
arouse the interest of critics and theorists such as
Mário Pedrosa and Pierre Restany, the last one of the
most important characters of international art back
in the 60s.
At this mix that involves industrial left-overs and
transforms them into signs of intelligence and artistic
expressions, it’s important to quote who, as Yipiranga,
in distant parts of the world, in sync followed the
same path. I begin with César Baldacine, a sculptor
from Marseille, one of the exponents of European art
from 1950 until 1990, which tried to appropriate of the
industrial aesthetic, better saying, from the residues
of this aesthetic that was present at the human
culture as an expressive object, from the 19th Century
on.
Cesar uses the metaphorical form of what wealthy
people leave behind at the series “contractions” and
“expansions”. At the first, automobiles compacted by
hydraulic hammers taken from scrap metal shops.
At the second, polyurethane containers are opened
and expanded on the floor, a strong reference to the
industrial wealth supporting the art, but also as a
critical poetic to waste.
In Calder we’ve seen the aerial drawing,
tridimensional, thus aesthetic still influences new
artists, such as Walter Caldas, an is present in one of
his sculptures dated from the 60s called The Hawk,
which inserts itself in the space as a fancy pencil
line. Another international reference is Henry Moore,
from whom Yipiranga replays his love for engraving,
his second art. I also quote the French Tingueli and
his wife, Nikki Sait Falle, authors of the fountains
situated beside the Beaubourg, in Paris, which unites
the synergy to the DIY – the mechanical movement
of getting objects together. DIY or putting it together,
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
234
was a worldwide tendency from the artists of his
youth; see Rauchenberg, one of the first known popartists.
But it’s in the Brazilian archaic aesthetic that
his art was consolidated: the aesthetic from the
cangaço21 and from candomblé22. Unlike Rubem
Valentim, who was formalist and geometric, Yipiranga
composes jetties of metal and wooden instruments
that represent Orishas, not as figures but as informal
objects and also as signals as the Valentim’s ones.
From the cangaço, he represents the memory, the
vestiges that were left from the most popular of them,
Lampião, who represents aerial and totem like figures.
José Barbosa
As I said before, Ribeira’s Movement didn’t restrict itself to Adão Pinheiro’s
actions. To have a different image of what happened, besides listening to
Yipiranga and Leide, I’ve listened José Barbosa, an artist who was already
working as a carver at the Ribeira Market.
When I talked to Tereza Costa Rêgo about Olinda and its artists, she
told me: “To me, the artist who best translates Olinda is José Barbosa”. That
statement touched me and made me think about the “critical rift”, a concept
largely used at last Centuries critic. I realized, as if a movie played in my head,
the identity – I talk a lot about northeastern identity – that gathers together
the artists at Olinda. I thought about Tereza’s paintings, Guita, Maria Carmem,
Tiago, and began to link this identity with territoriality that reveals itself at
the art made here and, especially, at the small/big art history told here.
So, José Barbosa’s art, which I knew and admired since the 60s, changed
the way I saw art.
Peter J. Rosenwald, a senior art critic at The Wall Street Journal, who
was also the editor of Horizon magazine wrote the following opinion at the
catalogue José Barbosa – Live Nature, to which I agree because it fits with
the way I think about our art:
It would be too simple to label his work as
“primeval” or “naïve”. It’s a lot more than that. It’s a work
based on Olinda’s cultural identity where, sixty years
ago, Barbosa was born and where he has lived all of
his life. It doesn’t surprise us that the most beautiful
churches are depicted in many of his works and that
all of his works carry sayings as ‘Hail Olinda’ right under
his signature. His work differs from the ones made “for
tourists’, which are so usual to find at Olinda’s streets.
José Barbosa’s story, especially his early years – he began to carve at
age 11 – is touching. I’ll give you a synthesis:
My father was a joiner and restorer of antique
furniture. Adão Pinheiro worked at ISPHAN and
assembled the Anthropology Museum, called
nowadays Museum of the Northeast Man. She was
very fond of my father and was one of his clients. She
searched my father to restore furniture, some bought
21
Is the name given to a form of “social banditry” in the Northeast of Brazil
in late 19th and early 20th Centuries.
22
It is an African-originated or Afro-Brazilian religion, practiced mainly in
Brazil by the “povo do santo” (people of the saint).
from Miss Filhinha at Prudente de Moraes Street.
My father’s workshop was at 13 de Maio Street, in
front of Miss Dalva, the naïve painter. I helped him at his
workshop scratching chairs, which I hate doing. Above
the office, on the top floor, was Montez and Achises
workshop.
My father had a carver, Mr. Miranda, who worked
for him every Saturday, carving details at the pieces
of furniture my father made: sets containing china
closets, buffets, a table and six chairs. Mr. Miranda
came only on Saturdays. During the week he worked
for some Jews who sold furniture at Glória Street, one
of those being Mr. Moisés.
Before moving to 13 de Maio Street, the workshop
was at Bonsucesso, adjacent to The Midnight Man. I
was born there. The main influences I have in my art
came from there, the allegories of the carnival group
of The Midnight Man, which in that time paraded
over allegoric cars, besides the giant puppets. The
allegories were made at the shed from where the Man
left. They were made out of clay and paper glued with
a mix of flour and glue, and painted with paint made of
dye, also mixed with the flour and glue (theater sets
were made like that too, and also the posters that
Bajado did). The only problem was that when it rained
everything melted down. It was a disaster.
But what impressed me the most were the
dragons that had women bodies on their mouths,
birds, leopards, adornments, things that you can find
in my art nowadays, in the paintings as well as in the
carvings.
One day, still at the workshop located at
Bonsucesso, Mr. Moisés, the Jewish furniture dealer
from Velha Street in Recife, took a truck full of furniture
that had been taken out from a fire that destroyed his
store. He took everything in order for my father to keep
at our house. That was really troubling for my family.
Let’s go back to the workshop at 13 de maio: at a
Saturday, Adão passed by and saw Mr. Miranda carving.
On the other week he took the book Art Populaire en
Tchecoslovaquie with figures taken from the popular
Czech art, and asked Mr. Miranda to carve a trunk with
the figures taken from the book. It was a very simple
drawing, geometric, as it was the art in the Soviet
Union. Mr. Miranda did it perfectly. Then Adão brought
a Jackfruit trunk to Mr. Miranda to carve the sculpture
of a Saint. Mr. Miranda did it and when Ariano Suassuna
saw it, he ordered one for himself
Mr. Miranda was very expensive. So my dad forced
me to learn to carve with a V and a U shaped carpenter’s
gouge. That’s when I began to carve. I was between 11
and 12 years old. My relation to Adão happened totally
by chance. He liked to carve and I became a carver.
Then, I went from the artisan carve to carving as a form
of art, I began to create my own carvings
Montez and Anchises moved from my dad’s house
to where, today, Ivaldevan Calheiro lives, at Ribeira,
and Adão set his workshop with them. Adão lived with
the staff of IPHAN and the artisans of restoration as
the carver João Mentirinha (João Sebastião), and this
seems to have kindled in him the interest for the
engravings. Only when he was at the workshop with
Anchises and Montez I was able to look at him not as
my father’s client but as an artist. Adão didn’t carve.
He had a drawing and I did the carving for him. At Tania
Carneiro Leão’s house there is a trunk carved by me
picturing one of Adão’s drawings.
Pushed by Murilo Galhardo, who was afraid of fires
(my father worked with shellac, the shellac was diluted
in alcohol and with the old carpenter’s wood glue
which was made of ox steers and needed to be melted
along water at an oven), my father left 13 de Maio Street
and went to a box at Ribeira’s Market.
That place was decaying, it looked like Calcuta. The
main room was butchery with meat hung in many other
boxes, on its sides some stores were clearly decaying.
But Mr. Genésio was there (Genésio Reis) jeweler who
did an exhibition there when it was restored by the
artists.
My father took a box at the left side, and I took a small one, at the main
hall which was all divided. Lots of tourists visited there and also some
celebrities. Americans from Alliance for Progress also went there. Every
Saturday, the Alliance for Progress delivered milk at São José quarter. I was
the one who went to get the milk in two cans, by bus. The climate here is so
humid that the milk turned to stone. And they gave me those rocks of milk.
But they also had vitamin A pills to mix with the milk, but instead of giving
them, the Father sold them. Because of that, of lack of vitamin A, many of
my sisters died. There were 16 kids at our household, from the same mother,
eight died, of lack of vitamin, among other diseases.
Once General Lyra Tavares, from Paraiba and was
the commander in chief of the Fourth Army, went there.
He liked everything, but didn’t buy anything. Another
time I made an exhibition at Gallery Debret from Paris,
which pertained to our Embassy, and he was the
Ambassador. I took my friend, who was exiled from Brazil
and Africa. He told me between his teeth: ‘if someone
throws a bomb here that’s ok, the Gallery is insured…’
Another time, Adão took an American Ambassador who
decades later would say in an interview that he had
articulated the 64 coup d’état, the pathetic man didn’t
buy anything also. (Adão wasn’t right winged, he even
got arrested during the coup, and at the interview with
Yipiranga he tells this story in details.)
Another celebrity that showed up here, brought by
Edgar Pessoa de Queiroz, was Belini, the soccer player
who was captain of the Brazilian team during the 1958
World Cup, he went there right after the game where
Brazil won over Sweden, they also didn’t buy anything…
The Countess Pereira Carneiro also went there, instead
of buying from me, she bought from João Mentirinha.
235
Guita was married with Julio Charifker. I always
saw her passing by in a Sinca with a green tissue over
her head. On a certain day, I was at Ribeira when she
arrived. We talked a lot and from this conversation the
idea of beginning an artistic movement came out. From
that point the Ribeira’s Movement begins. Eufrásio had
just been elected and Adão was friends with Tânia and
knew Eufrásio. The whole team went to talk to him:
Guita, Adão, Ypiranga, Tavares and me. Eufrásio bought
the idea and went forward with it, he asked to fix up
the building and concede us the right to use it for 15
years. On November 15th, 1965 the new Ribeira’s Market
was opened.
Olinda’s Closings
The social phenomenon of intolerance is appellant in every society. At
Olinda’s Historic Site, a town considered cult, the intolerance showed its
claws twice. The first time, obviously, was Ribeira’s closing. The second was
the city’s closure to outside cars, only the cars of residents were allowed
in the city. This was an action that came from a mistaken campaign made
by the town’s City Hall, with the good intention of preserving the city from
eventual pillaging who were allegedly happening through the vibration of the
soil provoked by the cars that were driven around here.
The Historic Site Society of Residents (in Portuguese SODECA) went
ahead of the campaign carrying out “debates” and even a referendum.
Everything pretty much orchestrated in a way to make people believe that
the community, the old residents, some old ladies felt bothered by the
presence of noisy people at the bars around town, this sort of argument
made it sound like people living here really desired it to happen.
Cultural Heritage and private property are two conflicting things, but
always occur at the same time. To manage this conflict of this origin demands
efficiency, practice, knowledge and the capability to carry a dialogue with
radical social groups that many times consider themselves as masters of
the situation. A town in which heritage is its natural and artistic beauty, its
intangible historical importance, its quota of creative people, artists of many
different abilities, can’t be closed to public. It actually must have its traffic
properly oriented, its use rationalizes, its material heritage exposed to public
in a safe way, and its history told promptly and correctly.
The naivety of those who had fought for that resolution blinded them
for the huge mistake they were making, just like the ones who closed the
Ribeira didn’t realize how they were damaging a group of artists that only
aggrandized Olinda. Fortunatelly, the artistic movement that was born in the
market of the above mentioned mistake long lasted.
The closure of 1987 lasted a little more than 2 years. With the end of the
mandate of the Mayor José Arnaldo, people didn’t feel the need of respecting
the gates, the resident card, and the lack of security that the night life, at
the time calm and pleasant, brought. Two years wasn’t a long time, but for a
lot of people who lived from the tourism and art, the losses were huge. For
example: two art galleries were closed, the Fandango, where naïve artists
worked, just the least well-off, and the Lautreamont that sold contemporary
artists. There was a legal battle against bars that had intellectuals attending
it, at Bar Brazil, that was shut down after a coward and liar campaign which
ended up bankrupting its young owners.
Other bars closed and with their closure people who worked with
gastronomy and tourism, like cooks, waiters, assistants, musicians lost
their jobs and along them also went a long productive chain who fed the
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
236
bohemians such as the popular “tapioqueiras”23 who disappeared from Alto
da Sé and from the city. We lost a lot with the Berro D’Água’s closure, the
first class restaurant owned by Rodrigo Carneiro Leão, Uruguay’s honorary
consul, in which opening day had Jorge Amado as one of the visitors, and for
a short period was the place where the best gastronomy could be found. It
was also the favorite place for politicians and intellectuals of this double city
– Recife/Olinda. Rodrigo was kind enough to give me this testimony willing to
clarify part of this event:
Everything that you do in your life has to have a
purpose, and this purpose has to be based in common
sense. At the attempt of preserving the historic, cultural
and also artistic heritage (which Olinda has always
been a representative) a contradictory, undemocratic
and narrow minded (to the eyes of everything that was
going on at that time) measure was taken. The worst
part of it is that the measure was taken based on the
point of view of a few people who live here without
taking into consideration the opinion of their neighbors.
However, many mistakes were made based in
inoperative and inconsequential measurements
because some technical organisms within the
population weren’t consulted. – And don’t tell me that
rehearsal of referendum was legitimized! The Mayor
(José Arnaldo) gave in to a certain ‘popular’ pressure,
but, as everyone knows it was orchestrated only by
part of the community.
We know the Historical Site doesn’t generate
income, the only way to live here through a sustainable
way, without increasing the blemish of Olinda being
a ‘commuter town’ which is outrageous, is through
tourism. But, in our case, top notch tourism, a tourism
that understands the city, its artist’s value, the beauty
of the churches, the gastronomy that has evolved after
the city reopening, and its hand made products. All of
that must be taken into consideration and passed on
to the tourist.
Olinda isn’t exactly a city to visit on foot, as it
happens with Paris, Buenos Aires, Cusco. Olinda is a
city full of slopes. A car is needed to drive around here.
Obviously, that’s not the case during carnival.
There are versions and facts about what have
happened. The versions are official. But the facts
are totally different: owners of bars and restaurants
weren’t seen with good eyes by the ones who didn’t
want ‘aliens’ at ‘their’ town. Oddly enough, some of
these ‘aliens’ were the responsible for the prestige that
Olinda acquired during the 60s. The owners of places
that worked with gastronomy and bohemian lifestyle
weren’t listened at all.
SODECA, which was created to defend the
Historical Site, was the one who began this movement.
The mayor gave in based on a petition; some say
23
Women who sell “tapioca” – a typical food from the Northeast – at food
stands around Olinda.
off the records that it had more signatures than it
should.
stop, within their duties, bohemian excesses besides
free and licentious, that could degrade the painters
center and the bar, losing its distinctive features.
I never felt myself represented by SODECA and,
well, I know a lot of people, but SODECA works in this
city as some kind of parallel power.
This is what people do everywhere, they don’t
isolate from, but dozens of them, bars as Senzala and
the art center, as the one in Ribeira: at Quartier Latin,
in Paris; at the Greewich Vilage in New York; in London,
in Rome. Those are the bars and the centers to which
the interest in art and writing joins to bizarre bohemian
lifestyle characters that are characteristic of cities
with democratic culture. If they didn’t exist in Moscow
or don’t blossom in Beijing, too bad for Moscow and
Beijing, although Moscow is not free from its drunks
and its stray sheep.
Facing the petition, the Mayor, I don’t know if by
enactment or other legal means, chained the entrance
of the city, only the residents could get in by car – only
after they placed the gates. Actually the car plates were
registered; the person who owned the car. Closing the
city for cars is the same thing as closing the trade.
We went to Court and they granted us a new way
to function. The Federal Supreme Court, through the
minister Célio Borja, ordered a decree; an injunction
forbidding the closure and stating that within 24 hours
the Mayor had to reopen the city. The city reopened
for a short time. The Federal Public Ministry showed
up again and the city was closed once more, this time
for two years. Within this time, a Municipal Law went
through the Municipal Council, written by the councilor
Fernando Gondim, countersigning the closure. The city
was closed supported by law.
Not very long ago, in England, I was in several of
the good old English pubs, notorious by their bitter
beer and by their stronger spirits. Nobody thinks about
closing them solely because, once in a while, a person
or a group may outreach themselves with the beer or
the gin becoming – if the outreaching is too deep – a
police matter. This is more or less the way of thinking:
not only Swiss milk nourishes the democracy. These
democracies where to the order it’s joined the healthy
freedom of speech are very important to most part
of men, especially artists, intellectuals or people who
are simply attached to arts or writing, they are also
nourished by beer, whisky, wine and even vodka. They
are nourished by the good living, the bizarre things
and even – for the straighter of the bourgeois – the
extravaganza that allowed one Francisco de Assis, one
Cervantes, one Baudelaire and one Lautrec to live in a
way so uncommon in Italy, Spain, London and Paris;
through these bohemian lifestyles arts and writing and
even the Christian faith enriched themselves.
The city was forgotten and became dangerous,
with no night life crime settled in, the drugs encroached.
When all of this went through, the city, supported
by a huge struggle from the tourism entrepreneurs,
recovered. A measure like that nowadays would be a
real social and economic tragedy.
But José Arnaldo’s mandate ended and Luis Freyre
took on and he unwinds all of that. José Arnaldo, who
had been the Mayor for 6 years, applied for Council, and
lost.
Twenty two years before, when the artists lost their battle to keep the
Ribeira’s Market opened, Gilberto Freyre published a chronicle at the Diário
de Pernambuco that could be written in 1987, it was called “OLINDA’S RIBEIRA
CASE”, from which I selected these parts:
As it seems, the worthy Mayor has been thinking
about closing the Senzala for good, besides it there is
a painter’s center (Ribeira’s Movement) and some small
stores where a lot of articles that are made for tourists
are sold.
This wouldn’t be Solomon’s justice, this one. Or the
solution would be to close the competent authorities,
at a clear legal way, and definitely the other two, the
center and the bar – witch as I see would be regrettable
– or, the other way around, let them both be, with
opened doors, each one living its own life; and both –
plus the little stores, to which others could be added,
to sell handmade laces, pottery, ragdolls, rustic pipes,
etc. – contributing to free Olinda from the ‘faded blue’
in which it has been falling. This wouldn’t leave out – of
course – the careful authorities of good manners of their
surveillance duty and of their obligations to prevent or
Galleries
As we have seen during the closure, the city lost both of its commercial
galleries. It may sound obvious or fundamental that the importance of the
existence of commercial art galleries (I’m talking about galleries that sell
art, which implies in quality, and in Olinda’s case, uniqueness), of public
and private institutions related to visual arts, and festivals as Olinda’s Art
Everywhere, are fundamental to the artistic life here or in any other city. Since
the Ribeira’s Movement that Olinda’s Gallery, the Ribeira’s Gallery, that was
the responsible for the continuance of the Movement, kept it alive, even if
discontinuously – at the Movement’s time or at the Guaianases Workshop,
Ribeira’s Galery promoted advanced programs of exhibits. The main galleries
and areas of the city are worth of noting. On the list that you can find below,
I abstain to talk about the handicraft shops, even if they eventually expose
works of art, I limit myself to the art galleries in their pure form, public and
private, and also the restaurants that hold painting expositions, as follows:
Private Galleries:
Oficina 154, Sobrado 7, Galeria Varanda, Galeria 3 Galeras, Galeria
Fandango, Galeria Lautreamont, Amparo 60, ATENARTE (Laurindo Pontes),
Sobrado, Galeria Frans Post, Olinda Artes & Ofícios, Atelier Coletivo de Olinda
e Barbearia de Seu Isnar, where Maurício Silva assembled form many years
his installation “Arte na Barbearia”, which was a collective exposition for as
237
many artists wanted to apply, mixed with reproductions of classic paintings:
Picasso, Modigliani, Monet, Duchamp, etc.
It’s important to say that Amparo 60, which was born
at the first floor of the architect Borsoi and Janete Costa’s house and from a
partnership with Lúcia Santos, Janete’s daughter, is still brilliantly working in
Boa Viagem, becoming one of the most prestige art galleries in the city. While
it was in Olinda it held a mix of top notch art pieces and handcrafts and today
is dedicated to contemporary art.
The art gallery situated at Varadouro deserves
a highlight. The most important of them, because of its area and
professionalism totally oriented to the good art market, is O Sobrado, situated
at 15 de Novembro Street. There is also the Livraria e Bar Almanaque, at the
corner of Eufrásio Barbosa Market and beside the kiosk, which specialty is
naïve art, the gallery Romero Coutelo, inside Eufrásio Barbosa Market, the
Galeria Olho d’Água that belonged to the artist… Couceiro, and the Solar da
Baronesa, also at the Largo.
Public galleries:
Galeria da Ribeira, Contemporary Art Museum, Sacred
Art Museum, Olinda’s Regional Museum, Puppet Museum, Olinda’s Public
Municipal Library, City Hall’s Noble Hall, the ground floor of IPHAN, Caixa
D’Ãgua, and Municipal Library.
Restaurants
Maison do Bonfim, Oficina do Sabor, Tratoria Don Francesco, Tribuna
among other restaurants, handicraft shops and coffee houses that eventual
hold quality art expositions.
The Female Eye
Since the beginning of the facts that we are talking about, women have
shared with men this utopian place (I have doubts, I think they stayed at the
avant-garde). Maybe for their peculiar flexibility, for the easy going way they
deal with politics and management, for their tolerance, for their gentleness,
without them Olinda’s art wouldn’t be what it is today.
In May 1965, Ribeira’s Gallery held the exposition Women in Pernamuco’s
Art with 24 participants. Some of those artists are known today, others aren’t.
They were: Celina Cezário de Melo, Dulce Araújo, Fédora Fernandes, Geny
Phillips, Guita Charifker, Ladjane Bandeira, Lúcia Carneiro, Luiza Maciel, Maria
Carmem, Marisa Lacerda, Mary Gondim, Mary Jane, Norma Dubeaux, Ranúzia
Fittipaldi, Solange Soares, Silvia Pontual, Sylvia Barreto, Tereza Carmem,
Tereza Costa Rêgo, Vânia Silva Reis, Virgínia Luna, Virgínia Rosa and Zenaide
Bonald.
The introductory brochure has four xylographs made by Adão Pinheiro
and a poem written by Deborah Brennand. Oddly enough this poem isn’t the
exposition’s presentation; it’s her way of taking part in the exposition, as a
poet. This is amazing because, in 1965it was very innovative the same way
the xylographs that illustrate this brochure wasn’t done by any of them.
There are many female painters here that take part in artistic movements
since the Ribeira’s and in collective expositions and art rooms, leading young
artists and interacting with the City Hall in actions such as, for example, the
Olinda Art Everywhere festival.
At the imagery of the city one can notice aspects of the work of Guita
Charifker, Maria Carmem, Marianne Peretti, Marisa Lacerda, Silvia Pontual,
Marisa Varela, Liliane Dardot, Amélia Couto, Gleide Selma, Iza do Amparo. And
also from the young generation as Catarina Aragão, Juliana Calheiros, Marina
Mendonça, Juliana Notari, Elizângela das Palafitas. And there are many, many
more.
For example, here lives an artist with the national importance of
Marianne Peretti, great muralist of Oscar Niemeyer’s architecture, author of
the stainless windows of Brasilia’s cathedral and of Juscelino Kubitschek’s
memorial. Around Recife, she has works applied in many buildings, important
utopia do olhar
work not only for the aesthetic point of view – this is an artist in full form
and maturity – but also with full conscience of the integration of art in
architecture.
Her work matches by its praxis to the work of Petrônio Cunha. They line
– up, although from different points of view, with other artists who tend to
muralism, like Brennand, Abelardo da Hora, João Câmara, Tereza Costa Rêgo
and Corbiniano Lins.
The exposition 6 Pintoras de Olinda24 was organized by our writer Paulo
Cavalcante, by the Portuguese writer Celso Pontes and by Tereza Costa Rêgo.
It was held at Carmo de Vila do Conde Convent, our Portuguese “sister city”,
in August 1988. I had the pleasure to present it with a text called Olinda and
the Female Eye.
They were six: Liliane Dardot, Maria Carmem, Marlene Gabovitz, Mariza
Lacerda, Tânia Carneiro Leão and Tereza Costa Rêgo. In this book I will
dedicate, for a narrative matter of our short-long story, larger lines to Liliane
Dardot, Maria Carmem, Tânia Carneiro Leão and Tereza Costa Rêgo. I duplicate
here the lines related to Marisa Lacerda and Marlene Gabovitz:
Also dreamily (I was talking before about
Maria Carmen’s paintings) but in a way that takes
back the reigning angelical of the baroque, Marisa
Lacerda’s paintings seems to be floating among light
transparencies.
The childhood, carnival, children and angels are
permanent themes of this artist of pure intuition, but
owner of an intense poetic freight. Tireless worker, her
paintings embodies the simple living of our people,
with her attachment for the things in this enchanted
village.
Landscape designer of details, architecture’s
beholder, translator of Portuguese’s Olinda, from
inside out of the houses, the intimacy of the streets,
Marlene Gabovitz paints the dream city, human and
monumental. Without getting committed to the
landscape icons. Her paintings document without
portraying. She reinterprets the city of stone and
lime; she lends her intimate vision, her inside temper.
Through her paintings one can find the streets:
Amparo, Amaro Branco, São Pedro, Carmo. Clear city,
blue-green, masonry, shinning under the sun.”
Because of their similar life stories and for their role in molding the
city that Olinda has become. Because their involvement with this city was so
grand that they ended up moving here, even if it meant a divorce. Because of
all of that I dedicate this chapter to Guita Charifker, Maria Carmem and Tereza
Costa Rêgo.
Guita Charifker
Guita told me that she makes art since she was 16. She got married and
kept making art even against her husband’s will. During the 60s, already
divorced, she started going to Olinda, to visit its artists and studios. I met
her at a usual lunch in the middle of the afternoon at Oficina 154. I was sitting
beside Adão and Tavares, around an old table that had a faded color where
people used to sit.
I was talking to Adão about the persistence of the human gesture
engraved at the table’s wood when she arrived. Beautiful and loose she
arrived talking about the film The Sandpiper, where Elizabeth Taylor played an
24
6 Olinda Female Painters
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
238
artist who painted flowers and birds. At that moment I became her admirer.
Guita has an enviable critical wealth. Art critics as Roberto Pontual,
Casemiro Xavier de Mendonça, Frederico Morais e Olívio Tavares de Araújo
wrote about her work. In the 70s Roberto Pontual introduced her to Rio
de Janeiro, when she lived in Urca, where also lived the engraver Marília
Rodrigues (next door to the Brazilian engraver master Ana Letícia, director of
the engraving studio of Ingá’s Museum, in Niterói).
This museum holds a studio of metal engraving, and there Guita
produced beautiful sightings of Rio de Janeiro. She had a very fine line when
drawing, almost a strand of hair, and it had a similarity to Maria Carmem’s
work, whose work also impressed the critique of that time.
She says that she came back to Recife in the beginning of the 70s, and
brought her friend, the architect Geraldo Gomes. She bought her studiohome where she still lives, at Saldanha Marinho Street 206. The house was
restored and adapted with the guidance of Geraldo, with its beautiful garden
painted in water colors. Her passion for nature is primary; nature is part of her
life as much as her art. Gastão de Holanda wrote about her at the catalogue
of the exposition he held in 1965 at the Sacred Art Studio. As an advocate of
a style of art that depicted the region, but not a “regional” art, he translated
very precisely Guita’s religious life:
She seems to have poured her Jewish blood on
behalf of a northeastern aesthetic (…) Her figure, once
still and apart from a tropical context, began slowly to
be surrounded by decoration, alive as the stubborn
vegetation that ornate and ennobles a stone wall, a
nude flagstone (…) She is also a painter of the “forest
civilizations” herself.
Hanging at her studio-house walls are her portraits, painted by friends
as Siron Franco from Goiás; the late and missed José de Barros, who painted
her dancing – she confessed to have always danced a lot; the photographer
Gil Vicente; Aderbal Brandão; Eduardo Araújo; Álvaro Caldas; Roberto Ploeg
and José Barbosa, and many paintings by José Cláudio; Luciano Pinheiro; Ivan
Marquetti, Ana Letícia Quadros, the important engraver, her friend from Rio,
the naïve painter Ninita Murtinho; a portrait by Aloísio Magalhães and many
paintings by Maurício Arraes, among small art pieces, pictures, her metal
engraving press and books.
The synthesis of her art can be found in the beautiful book, written by
Carla Valença, called Viva a Vida – Guita Charifker – Aquarelas, Desenhos e
Pinturas, published in 2001. The book has a preface from Ronaldo Correia
de Brito and a rehearse from Olivio Tavares de Araújo, and has also texts
from Roberto Pontual, Edyla Mangabeira Unger, Hugo Auler, Joaquim Falcão,
Frederico Morais, José Cláudio, Giuseppe Baccaro and Cassimiro Xavier de
Mendonça. This group of art critics and writers let slip a critical summary of
a time where art was thought as identity, in this case, northeastern. Baccaro
begins writing as follows:
The question: what defines Brazilian art
nowadays? It can’t find an honest answer. Apart
from a few artists who don’t surrender, among whom
Guita Charifker stands out. The rest of them are made
of players who only create fancy titles. To create a
representation of life, with its beauties and miseries
sublimed by art, is only for a few. An art that gets deep
into the drama of this country, doesn’t matter what
system created it, for 500 years, all of its misery. Guita
Charifker is the antithesis of everything that is no good
at art nowadays (…)”.
I went along with Amelinha to her studio-home, searching for her
pleasant company, to talk about the art that surrounds us:
Raul Córdula: Guita, have you heard anything
about Krajcberg?
Guita Charifker: I haven’t heard of him. I thing he
also died. There was a time when we got really close.
He took me to a house he had in the country. But then,
everybody just vanished, I’ve never seen him after that.
RC I’ve heard that he is alright, but some of his
pieces were stolen from him recently.
GC He is really old, close to ninety. He is really
close to Ana Letícia and goes frequently to Rio to stay
over her house. That was a generation with many great
artists.
RC Top notch, as are you, Karjcnberg, Zé Cláudio,
Ana Letícia... Did you ever get to visit regularly the
engraving studio inside MAM in Rio?
GC I don’t remember.
RC At that time, there were Assunção Souza,
from Pernambuco, Zé de Lima, also from Pernambuco
and Edith Bring, a big Spanish engraver. It was in the
end of the 60s and beginning of the 70s. I worked as
a scenographist at TV TUPI and, as you did, I lived in
Urca where the studios were... Then you came to Olinda
to paint. Your work was already mature and then you
began to paint in water colors.
GC I drew and then began with water colors.
Today I don’t do anything anymore, but I did water
colors a lot because it was easier to carry the paper
and the paints. I did very little oil painting. We went out:
Zé Cláudio, Samico, and picked the places. A get along
well with Baccaro. Almost every Thursday he came over
to cook pasta here, which was great. Now he vanished,
after getting married… He is a very nice person.
RC Were you part of the Fundação Casa da
Criança de Olinda, built by Baccaro?
GC I know about the foundation, but I never
took part in it. I don’t like to take part in things, I like to
be quiet. I like people. My son comes to see me every
Saturday. I don’t have a computer; don’t know how to
use it. When I need something my son does it for me.
Maria Carmem
Maria Carmem is one of the first painters that I met in Recife, in 1963. At
that time she did an exposition at MASP invited by Pietro Maria Bardi, who
considered her the best drawer in Brazil. Roberto Pontual also considered her
one of the greatest Brazilian artists.
She was part of the Grupo Austral of PHASES – Surrealismo e
Contemporaneidade25, a meeting of European and latin-american artists
in which took part, in Brazil, Flávio Shiró Tanaka, Fernando Odriozola, Bin
Kondo, Sara Ávila Yo Yoshiton, Baj and Wesley Duke Lee. And the foreigners:
Fahlstrom, Toyen, Alechisnski, Gironela Requichot and Klaphech. Grupo
Phases is the object of a master’s degree thesis of the curator and history
professor of contemporary art Professor Dayse Peccinini, from USP university
staff. In 1995, I presented an individual exposition at its Galeria Pallon, in
Recife with the following text:
Maria Carmem and the subtle eye
To know Maria Carmen’s pictorial art free the heart
of redundant feelings and vain words is needed. Her
world is original. Created by her in its own atmosphere;
fraught by dreamily characters, broken pieces of
25
Austral Group of PHASES – Surrealism and Contemporaneity
239
buried childhood, nook of yards, small mortals and
winged spirits.
I don’t know any artistic path that is so delicate
and, at the same time, so emotionally traced. I find
similar approaches in poets like Manoel de Barros,
Luiz Corrêa and Jorge de Lima. Once they live in this
world beyond what eyes can see, where one needs
to search, prospect, invade other levels of existence
to understand it; even knowing that it is beside us,
looking at us and that, in fact, we are its property.
Jorge de Lima reveals, in this sonnet fragment,
feelings that we find at Maria Carmen’s current
painting:
“…and all the other poor things, poor sounds
/ finished coitus, urges, sad dramas / repeated,
monotones, exhausted, / visited only by abandon /
only by the fatigue that this sayings / frustrated and
orphan things wear off”.
There is a quick shot of the drama that everybody
goes through: a quick shot of solitude, an aware
solitude, a noble solitude in those who create art
At her beginning phases, Maria Carmen’s art was
made through a very fine drawing, confident and
reinvigorating renovator. Some of the most prestigious
theorists of Brazilian art, as Walter Zanini, Pietro Maria
Bardi and Gastão de Holanda; artists as Francisco
Brennand, João Câmara and José Cláudio, wrote
about her work’s geniality. But her perfect traces,
embroidered in weaves and trails on the search of an
ant, from the rosebud fairy is also suggested in the
poems of Manoel de Barros:
“...other from a snail: it’s inside de house to
consume books, notebooks and / stand still in front of
where Amélia Reis lives / the time is so still and with
no breeze / that over her body and or something / until
it is. / understand the flat walk of worms under the
earth / and listen as crickets / through the legs.”
But it is in the tragic sense of life interpreted by
its poetic filter that takes to the universe of another
poet, Luiz Corrêa, from Paraíba:
At the place where Amélia Reis lives / time is so
still and with no breeze / that over her body nails grow
/ as the pods grow in trees.
At one side, time with its eternal motor, and life
renewing itself in the rhythm of an art that never
stops to surge in front of everybody’s eyes, rooting
itself in Olinda’s yards. On the other hand, the flame of
souls, the essential stones, the day-by-day unsolved,
recreated daily.
Here is an artist who owns her and other people
worlds, parallel, companion of poems and of the
sacred lunar waves.
We had a conversation with her, as follows, along Amelinha, who taped
it, photographed it and filmed it, and with the painter Antonio Mendes, her
disciple:
Raul Córdula Antonio Mendes, I was Always really
interested in this generosity matter. Amongst our
generation, the 50s generation, we were more attached
to each other than the younger artists are today, in spite
the institution of the ‘artists collectives.’ Everybody
was interested in what everybody was doing and,
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
240
sometimes, naturally incorporated and it didn’t mean
to copy. Maria Camem hosted you at her studio, as a
master, for her motherly spirit, an instinctive thing, but
it socially manifests itself as solidarity. It doesn’t mean
that contemporary artists have lost this quality; it would
be irresponsible suggesting it, but solidarity as we
know is not part of the repertoire, of the set of ideas, of
psychological situations, and specially affective ones
that belong to contemporary artists criteria, especially
the youngest ones.
Antonio Mendes Maybe even as a reflex of our own
society. The artist is also inserted and he reflects a little
about this movement and I miss this aspect. I think that
exchange and interaction are enriching. And as I was
talking earlier about Maria Carmem, to host a beginner, to
guide was an act of courage.
Maria Carmem For me it was a pleasure. But you
see: it’s not only the matter of doing t specific things and
painting. How many afternoons we spent there talking,
did we not? I listened to your stories, the stories of
your generation of artists, the interactions and events
that happened. It was very good, you miss it. But I have
missed it too.
AM I think that the totality of me learning and having
entered that studio and being hosted by Maria Carmem,
and also to be able to spend straight months painting. I’m
not sure, but I think words wouldn’t be able to explain it
all.
Amélia Couto About how old were you?
AM Not more than 24 or 25, it was about 20
years ago
RC At that time we went through very tough times
socially, during the military regime. Brazil was really
different from today. But the strengths that act today are
also really different, because society has changed a lot.
RC I would like that you told, Maria, if you
have seen in all this time that you live in Olinda, a proper
democracy taking form, that came from this solidary
generation that existed among artists?! And how did
society here reacted or reacts to it?
MC Well, I tried telling this at an interview and
everybody cut me off. They were all against the artists
of those times. I remember our studio vividly, the Mais
Dez, people from here who had kids talked: ‘When you go
across the studio, cross the street and go elsewhere.”
They were really biased. AM I think, maybe, what Sandro Maciel went through
with Zé Cláudio is similar or close to what I went through
at your studio, I think that it has added a lot to me as
an admirer and also as an artist. It’s really impressive
because there you have a notion and knowledge of
local art history and of what you are producing. This is
not only a matter of respect honored by it. It’s to know
that you come from a period of time, and this period of
time had a history before you. At Maria Carmem’s studio I
could watch her producing. A saw her works from twenty,
thirty years ago. I heard tales of how people used to paint
here in Olinda. This one you talked about, a little bit of
that history, of this exchange, this conviviality among
artists, sharing this production, this kind of thing lost
itself a little as you said. So, I’m part of a movement that
is taking for from long ago. I think that within most part of
the people who work nowadays there’s a lack of density,
and somehow, quality.
RC You are right. The first generation of artists to
come here was a group of simple and erudite people
that had drawing, painting and art literature as their
foundation. Their majority came from the Free Courses at
the Arts and Crafts School. They were people like Maria
Carmem, that had art already connected to their lives. But
this people that are here on the present days didn’t have
it, maybe because the Free Courses from Rua Benfica
were extinguished when they moved to the University
campus. Today, here in Olinda, art misses study, training,
perfecting subjects like painting, drawing, modeling,
sculpting, engraving.
RC You took classes in fabric printing, didn’t you
Maria?
MC It’s funny because I joined the industry and art
business. The art used for industrial printing has to be
the simplest it can be, otherwise it won’t sell. I worked
at three fabric plants. I spent five years at Capibaribe. I
had no knowledge at the technicalities and the machine
looked like a grate. Then they began to use the prints we
did by hand. But I got concerned because I didn’t know
how to print. Then a person showed up to help me, he said
he worked at a store and that the prints were actually
done by hand. This man called me asking if I wanted a
job with him to create prints. I said that I would go, but
I explained to him that I had a school at home, that I
taught art history, drawing and painting – and Abelardo
(da Hora) taught sculpting. And then when the weekend
arrived, me and other artists went over there and sat by
the garden to drink beer. Zé Claudio played bass drum,
Montez played berimbau and Nei (Quadros) danced. My
maid made pasta or crabs. All of this happened during
the 50s. You went there once to visit… This period lasted
very long. I even held one of Abelardo’s expositions in the
garden, the exposition was very beautiful. But I had a lot
of influences at my work; what I don’t know is if I had
influence from Zé Claudio.
RC You were really close, weren’t you?
MC Not anymore. But he was the person who gave
me courage, because I come from a different world,
another one. The factory where I worked was an industry.
It was quite a complicated business, but had a lot to do
with arts. It was a register system to make one color go
right over the other, like today’s serigraphy. I remember
that the first time I did it, someone called me from São
Paulo asking what was happening with this factory. ‘This
print doesn’t sell.’ Then, on the second try, I did a very
simple one and it sold a lot. I began to see people wearing
the print around São Paulo. What I thought was the worst
print, the most unremarkable one, was the one that sold.
RC Do you still have samples with those
drawings?
MC No. I kept them in a suitcase. But Vera, my
daughter, began to sew some tops and she used them
all. I didn’t think about keeping them. I had a suitcase full,
and I’ve made some really flashy things for my partners.
Then they signed a contract with Pierre Cardin, who
asked for prints about traffic signs and other audacious
things. I made them and they signed it.
RC I think this is an important mark in the
history of design for Pernambuco.
MC But look: for some time I gathered a lot of
courage and asked the finance director for a salary. He
said: ‘This is my pay check, that’s the amount I earn. I
beg your pardon, Maria Carmem?’ And I answered: ‘At the
school that’s the amount I earn, so I can only do the work
here it for the same amount I earn, like that I don’t have
any concerns in my house’. Then he paid; actually he paid
really well. He took what we wanted to enter the retail
business and we went on to do what he perfectly knows
how to do, I don’t know his opinion, but in ours,, this was
the experience. He had a studio on Rua das Creolas with
Abelardo.
AM Nowadays, what works there, do you
remember?
MC
Today is a house. It had a huge backyard.
There was a garage joined to a room and a green board
that took the whole wall. Zé Cláudio and I taught there. I
gathered a lot of people who set far from each other to
be able to see the works of one another. I placed down
anything that moved or that gave an idea of movement.
Each one did what they could. I learned to do this with
Abelardo, I counted to 100 until they were done. RC Once I watched a drawing class with this
method ministered by Wilton.
AC How does this method work? Tell me about
this counting story.
MC
You have a limited time for drawing the
model, 30 seconds, 100 seconds, depending on the
complexity of the model. Then you begin to count. You
know that you only have that limited time to do it, so you
keep rushing. In this rush you know the person better
than if he did it slowly.
AM I’ve been through this method. I attended
this class at Mac with Delano, João Câmara, Zé Carlos
Viana, Reginaldo Esteves. It was at the end of the 80s,
beginning of the 90s. Zé Moura did too.
MC Once Zé Moura invited me to give a class.
But I detested his class, there were too many people.
AM Well, I’ve learned through this method at
MAC, it was very good.
MC The first person that I’ve seen doing it was
Abelardo da Hora, he taught it to a lot of people.
RC Abelardo is a great teacher. For example:
Brennand was his student.
The ideological eye – Janete Costa, Silvia Coimbra, Tereza Costa Rego,
Giuseppe Baccaro and the Naïves.
My generation debated the ways of modern art to the
border of contemporaneity, where then this debate deeply changed on the
same way that the planet changed with the victory of capitalism, which has
as its main gun the information and its domains through computer science
and the control of this information through the media. The political debate at
the visual arts field changed a lot, it turned into academic speech isolated
from the masses, unlike in other times when the daily press edited the critical
text about art and the art market considered the ideological participation of
the artist. But we know we don’t live in any time, in any historical moment,
at the same time. The moment we live right now is not the same as the
contemporary artists in São Paulo go through, or the naïve artists from Haiti,
or even the German artists. That is obvious, but it’s necessary to fulfill this
241
line of thinking. If in São Paulo experiences such as Imbu das Artes, that
was at first pointed towards the affirmation of the innate art and ended up
becoming reference at the noticeable pieces targeting tourism, it doesn’t
mean that other creative grounds – as Olinda – this situation would nfold
in the same way.. A certain “ideological eye” was always the sustaining
foundation of a certain cultural identity, it happens in any place at any given
time
I relate the following information about people who
have this “ideological eye” and, to end the chapter, about the naïve artists of
the city, living examples of dedication of these people.
Janete Costa
I met Janete in 1963, at her already famous store called ESCALA, which
was also an architecture office and furniture factory and was set up in
Niterói, at Icaraí beach. I was an intern at the studios of Modern Art Museum
in Rio through the Cultural Department of the Paraíba Federal University –
from where I was the arts supervisor, with a training title (besides MAM I also
attended art history intensive classes ministered by Carlos Cavalcanti at the
Arts and Crafts Institute that worked in Urca, and later became the school
of Parque Lage). I give this data to place me in time and space in relation to
Janete Costa, because I arrived at her store taken by friends, the designer
Márcio Mattar and the Uruguayan painter Washington Silva Doce, carrying
the drawing folder that I had taken to the galleries.
Márcio and Arturo were part of the avant-garde art in Rio, as were
Antonio Dias, Gerchmann and Vergara, habitués of Márcio’s studio-workshop
at Rio Comprido. That was an opportunity to meet a young and prestigious
architect who also was around the midst, as she did until the end, at the
National artistic - Rio was the center of Brazilian culture. There were two of
her friends at the store, potter Carlos Wanderley from Pernambuco, friends of
Janete and her daughters until the present days, and his wife, the Argentinian
potter Maria Della, both of them were basking in the success of artists
promoted by Janete. She bought some of my eighty drawings (others were
bought by Matias Marcier, son of the great painter Emeric Marcier, architect
and part of the team of Relevo gallery, and others were traded for works of
some fellow artists).
Even if later, when Janete returned to Recife, I didn’t keep connected
professionally to her, I can’t detach my life as an artist from this lady who
was really important to National culture. One can see this importance on
the fact that on December 15th, 2012 the Mayor of Niterói, Mr. Jorge Roberto
Silveira, inaugurated in the city the Museum of Popular Art Janete Costa.
I appealed to Lúcia Santos, her daughter, owner of Amparo 60 Galery, to
mend the information that I had about Janete and that had been shredded
by time. First of all, Lucinha told me about the time when Janete and her sons
returned to Recife after her divorce, when she encountered Acácio Borsoi.
She told me that Olinda was, for both of them, a love story. Both of them had
projects that where united strengthening that strong relationship, Olinda
was one of those projects. At first was the house at Amparo Street number
60, besides the Cortesias Alley, cornering the side wall of Misericórdia Steep.
This house, was one of the first to be restored within the architectural
criteria that took into consideration the local culture and history, it was a
creative space – the couple’s private studio – and also a political space,
where many decisions were taken relating to the town’s management.
Janete was the Secretary of Tourism of Germano Coelho’s City Hall. But her
acting wasn’t retrained to this period. Her work at City Hall was similar to the
ones that Adão Pinheiro, Vicente do Rego Monteiro and later Tereza Costa
Rego had: the articulation work linking the creative source, the management
and the public. Tiago Amorim talked about her during an interview he gave
to this book:
“Janete Costa, who was already here in 1963,
searched artisans along Adão, creating a relation
between her ambiances and the artistic object. She
was always here, amidst the artisans, making this
utopia do olhar
link. She did a very interesting job, with me, with Adão
and José Barbosa at a construction that he did during
Aluísio Alves governing period, at Rio Grande do Norte,
for example”;
This profile of promoter of the artists never left her, I know a dozen of
artists and artisans from many cities in the Northeast – such as Campina
Grande, João Pessoa, Teresina, Natal, among many others – artists besides
the ones I’ve mentioned in Rio de Janeiro, and they weren’t the only ones to
have the exact same opinion about her. A remarkable fact of her life was her
friendship with Roberto Burle Marx.
His graphic and pictorial work has huge importance in Brazilian
modernism, but as landscape architect and designer he was the world’s
greatest. The sidewalk of Copacabana has his signature, made in Portuguese
mosaic, when finished; it was the largest applied work of art on the planet.
And I have no idea if anyone overcame it in dimensions, but certainly didn’t
do it in beauty. In the beginning of the 2000s I was part of the awarding
commission at the El Chaco Biennial. There I met the landscape architect
Pradial Gutierrez, at that time he was responsible for the placement of over
300 sculptures of artists from various countries at the urban space of
Resistência, where he was also projecting a sculptures Park that was being
built at the city surroundings. When we were introduced he told me: “My
dream is to be the Argentinian Burle Marx, even though I’m 85.”
The friendship between Janete and Burle Marx went past the love among
two friends and two towns – he was 50% from Pernambuco and maintained
his horizon focused in Recife and Olinda – their friendship was fruitful, made
itself known in other artists multiplying in shapes, traces, projects and art.
But whoever met his architectonic work specialized in interior up close,
and analyzed it (I’m not referring to “interior design”, which is not based in
architecture per se, but the “interior architecture”, the creation of a cozy
space within the aesthetic perspective – and cultural – in Janete’s case) will
notice a broad, profound and definitive work, definitive meaning permanent,
as a model. She has dealt with the visual symbolic culture of our people
with an ideological respect, and with such care that went beyond the simple
museum like treatment, such care that reached directly the man who makes
this culture: the artist of the people.
Therefore, this treatment transcended the simple application of art
works in her projects; she went beyond, provoking dialogues between
different worlds as the one of the so called erudite art, the ones of modern
and contemporary artists, and the art considered unfair an mistakenly
primitive, the art of the people.
Silvia Coimbra
I moved to Olinda in 1976 when I organized the Pernambuco’s Global Art
Hall for the northeastern branch of Globo TV – Crafts and the Man, which its
main part was an exposition of handicraft from Pernambuco. It was exhibited
at the Casa da Cultura, unveiled by Fundarpe at the recently opened
Detention House.
The popular art pieces collection that formed the exhibition, acquired by
the State, was a result of Silvia Coimbra’s research along with her daughter
Flávia and the researcher Maria Letícia Duarte. This research was made for
the book O Reinado da Lua – escultores populares do Nordeste26. Its first
published edition dates back to 1980 and we are already at its third published
edition financed by the Northeastern Bank. Its preface was written by Paulo
Sérgio Duarte, Brazilian art historian and international curator, also Letícia
Duarte’s brother.
The Reinado da Lua ia a Bible to whomever is interested in northeastern
art at its broader aspect. The collection exposed at the Global Art Hall, after
it, integrated the collection of Nega Fulô Gallery, owned by Silvia Coimbra
26
The Moon’s Reign – popular northeastern sculptors.
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
242
and Tereza Dourado, that later became Futuro 25 Gallery. The State bought
this collection, through Fundarpe, not only to exhibit at the Hall, but also
to exhibit it at the Casa da Cultura third floor as the main reference of our
imagery, directed to the tourism market.
It actually happened, the collection was exposed at the third floor of
Casa da Cultura while I was there as a supervisor, in an attempt to assemble
a study core called NAP – Núcleo de Arte Popular e Artesanato27. After I left
Casa da Cultura, the collection was named Clay Museum, and stayed like that
for a while, until someone had the fortunate idea to transfer it do Caruaru
where, nowadays, it’s part of the Vitalino’s Museum. It’s worth to be seen.
The art work although in need of a museographer, is well preserved and
protected. You can see Silvia Coimbra’s eye at this collection that transcends
the dominant tradition aesthetic, is an ethnical, sociological and historical
eye.
In Reinado da Lua, one can see the so called “popular” artists through
the cultural elite’s, the incredible sculptors of wood, pottery and other media
presented as art. The book shows pictures of artists from 21 cities from all
over the Northeast through comments and pictures of 8 authors. The list,
beginning with Maria do Carmo Buarque de Holanda, author of most of
the images, Dalvino Trócolo, Cafi, Ana Maria B. Reis, Daniel Campos, Márcia
Holanda Cavalcanti, Totó, from the Foto Fofoca lab.
It’s important to remember that “popular artists” are just like any other
artist, with the charm of not being academics. The academic thinking is built
in the name of a scientific truth. If scientific truth means the password for
acceptance of any phenomena made by society, as it seems to be whenever
social scientists refer to “popular art” or “folklore”, what is art after all?
In 1978, at the same time O Reinado da Lua was produced, the
journalist Ivan Maurício – as an organizer, Marcos Cirano and Ricardo de
Almeida, edited a precious book about it. Arte Popular e Dominação – o
caso de Pernambuco – 1961/7728 (by Alternativa Publishers). In this book,
that counted on the collaboration of an extensive crew comprised by the
most important journalists, researchers and political thinkers of the time,
as Alexandre Santos, Ana Faravhe, Anna Santoro, Álvaro Pantoja, Antônio
Magalhães, Beth Salgueiro, Daura Lúcia, Eduardo Homem, Geraldo Sobreira,
Humberto Avelar,João Bittar, José Arlindo Soares, Luzanira Rêgo Di Pietro,
Nelson Torreão, Paulo Cunha, Paulo Santos, Rebeca Scatrut, Virgínia Botelho
e Xirumba. It’s important to quote this because it is a sample of the concerns
of that time, about the “popular art” matter; being it at the realm of its
preservation and conservation as well as of its meaning.
Let’s begin: at one of the book’s preamble there’s a sentence of Renato
Silveira, a painter from Bahia, transcript at the “Boca do Inferno” newspaper:
To face the art with criticism is also needed,
considering that if on one hand they are a fundamental
reference for us, on the other hand they became a
dominated ideology and many times are pervaded of
conservative elements.
The interview published at the Deutch Priest Eduardo Hoornaert’s
book (theology professor, historian and author of various books about the
northeastern popular religiosity, where he was a vicar for over a decade) is
already questioned, it title is “Folklore is a cops invention”. Here are some
pieces of the interview.
Once we, who are interested in knowing the popular
culture better, we who don’t look the popular culture
beside the one already labeled by the repression.
We know that the word “folklore” is the translation of
folk lore (people knowledge) and thus being is by itself fruit of the same
cultural colonization that we are still in. This world was made up by the
English archaeologist William John Tompson to classify pieces found at
27
Popular Arts and Crafts Center
28
Popular Art and Domination – Pernambuco’s Case – 1961/77
excavation sited that weren’t “pieces of art”, at the academic meaning of
the term, but pieces made with many materials as pottery and wood, that
he attributed to the people imagery. This name spread all over the English
domain, that was the empire where the sun never set, and from there to the
rest of the world. A date was attributed to its creation: precisely at August
22nd, 1986. That’s why UNESCO has made this day the “Folklore Day”. Priest
Hoornaert says:
For example, what am I doing when I use the
“foklore” terminology? I’m doing an abstraction of
reality, because the culture that is lived by the people
is not folklore, (…) the starting point: don’t you think
that, because of some good will, we can naively
identify ourselves with the people.
I’ve never accepted the idea of “popular art” and
“erudite art” being seen apart from the degree of knowledge of the artists.
For me, art is art in any circumstances, as long as it is art (no pun intended);
and to be art it only needs to be seen as art in its space and time. Who would
tell that during the Week of 22 a Parangolé (from Hélio Oiticica) would be art?
And who wouldn’t acknowledge, nowadays, Bispo do Rosário to be a great
artist?
I think alike Paulo Sérgio Duarte at Reinado’s preface:
“As I see, there are three aspects that preserve
Reinado’s integrity that are clearly exposed by its
authors at the presentation: first is the understanding
of the historical process that transformed pieces that
once were “functional” in work of arts and its inscription
in “erudite” segments of society in a specific art Market.
In Brazil this happens beginning at the modernist
movement and its work of building a more complex
identity than the one which preserved the “art” category
to designate only works produced within a knowledge
that, in the lack of a better term, we keep calling erudite.
Secondly, the documental interest of the book, while
going through the universe of 119 artists from various
states of the northeastern region of Brazil. If this isn’t
a statistic show of the term, as we are advised by the
authors themselves, it’s a very meaningful corpus.
The third aspect that comes directly from the
second, but goes over it and gives a pioneer aspect to
the work: the privileged spot of the artist’s speech in
the place of the interpretative exercise of the authors.
Whit it, Reinado doesn’t reduce them to mere informants
of a social science research: it presents them as key
players of the artistic production possessed, not only by
a “knowing how to do”, but also of a speech about their
lives and works”.
Silvia Coimbra has been living in Olinda for a long time, when I met her
she lived at a beautiful house with a garden instead of a yard where she
often gathered the artists of the people. The house was at Amparo Street.
Over there I met J. Borges and Costa Leite at an everyday dinner, as well as
seen and talked to many other artists. I owe to Silvia the reading of O Reinado
da Lua, and the broadening of the interest I have for the art of the people,
having its starting point at Olinda’s art.
Tereza Costa Rêgo
Tereza Costa Rêgo’s life is a novel of adventures, difficulties and love.
I’ve written a lot about her. I’ve tried to translate her in many ways. But the
only thing I did was to get more intrigued by the existence of this adorable
person. From Brazil’s First Lady, to the eyes of Mao Tse Tung and Ho Shi Min,
because she was married to Diógenes Arruda Câmara, the president of the
Communist Party from Brazil – (in Brazil known as PC do B), to the painter
243
(who at age 81 made a 3 meters by 11 meters painting), it was a saga to be
won with exemplary courage. And without leaving a drop of sweat drop on
her face.
Olinda is her place since the beginning of the 80s, since the amnesty.
She was the head of the State Museum; she created along Fernando
Augusto Gonçalves, the Puppet Museum. Besides Petrônio Cunha and Plínio
Victor, she created the festival Olinda Art Everywhere and was the curator of
its first edition.
I’ve written the text of the book named Tereza Costa Rêgo a broad view
of her work, published by Publikimagem. As the public person that she is,
her story is known. I chose then a piece of one of the texts I’ve written to
illustrate the way I envision her art:
The Flying Ox
I build a metaphor in my imagination: I imagine
that the Trojan War wasn’t won by tactics, although it
was essential for victory, but by an approach about a
kept passion within the Greek ideal of knowledge and
beauty. Who was this Helena if not beauty’s body and
soul – desire – that, to be conquered it was needed to
create a stratagem – knowledge.
It’s not an accident the horse being Ancient
Greece’s symbol. Even destroying the town, the Greek
ideal was conquered by wisdom. And in it lies the idea
that, from the Trojan defeat on, the city-states got
united by the aegis of Menelaus, the master of flair
– his heroes – and beauty – Helena – and the western
civilization was conquered. This means that the
existence of our world didn’t only rely on the warlike
and political powers, but also at the powers of art.
Every time I thing at the Dutch campaign in Recife,
the Trojan War comes to my mind. When I thing about
the Dutch troops that for 30 years approached our
hills, hiding at its sunken, fighting to our Portuguese
town lowered its guard, I see Olinda as one of the
Trojan of the world. By the way, Olinda is as Portuguese
as Lisbon which, as a legend states, was founded by
Ulysses, one of the Trojan conquer heroes, the bigger
victory strategist.
The Flying Ox, one of the strategies used by
Count Mauricio de Nassau to dominate the people,
seems to date back the Trojan horse rite. Making an
ox suspended by a rope to fly over a street full of
people at what at the time was the city of Recife, he
conquered even more human grounds that he already
had. I see as a rite the implementation of the Flying
ox in our carnival, because it repeats itself in many
cultures, and here remains at the Midnight Man and at
the over one hundred puppets from Olinda’s carnival,
as remains of these legends and rites. Tereza had
already painted the carnival puppets during carnival,
at 1980’s exposition.
Giuseppe Baccaro
The arrival of Giuseppe Baccaro in Olinda was an extraordinaire
happening. As Carlos Trevi, the curator of Santander Cultural Institute, said
at the catalogue of his acquits exposition in 2005, the collector Guiseppe
Baccaro is a one of a kind personality from arts and culture.
This huge art collector and tradesman acted at Rio de Janeiro and
São Paulo and was, among other things, Portinari’s trader. Tired of the
contradiction between the fancy obligations of being a dealer and the view
of Brazilian poverty, he sold his collection and moved to Olinda. And here he
opened an organization to support kids and poor teenagers.
utopia do olhar
He created and maintained active for more or less 30 years the Fundação
Casa das Crianças de Olinda29, an unquestionable organization that took a
countless number of boys and girls from Olinda streets out of poverty. To
do so it used the money of part of his art collection by holding 12 auctions
during the time the Children’s House existed.
I repeat: a countless number of poor kids. Baccaro never was, nor meant
to be, a man organized enough to keep records of the people he helped. He is
a humanitarian above everything else. However, it doesn’t mean that he can’t
be known as the competent trader of the works of art he has mediated for his
clients, working at the national and international market.
Nevertheless, Children’s House didn’t only feed the poor families (at
certain moment, he began to give away hundreds of basic food items to
poor families, of which mothers gathered in front of his house at São Bento
Street). Baccaro also did a lot of other things afar of his walls. Within his
walls basic education included classes of typography, pottery, xylographs
and others.
Outside his walls Baccaro supported xylographers, who also do the
cover of the cordel literature brochures. Most known of them are J. Borges
and José Costa Leite. He edited, at the typography acquired from Castro Maia
Foundation (from Rio de Janeiro), a lot of Brochures illustrated by them. From
the Castro Maia Foundation he also acquired a metal engraving press and
lithograph stones that were used at the Engraving Guaianases Workshop,
while it was open inOlinda.
Baccaro’s passion for the repentistas, an art form he refers to as a
medieval tradition that only survives in Brazilian northeastern region – and
this is true – led him to travel by bus around Brazil, from North to South,
bringing with him a group of noted singers from the northeast like Ivanildo
Vila Nova and Mocinha de Passira to perform in different cities. Before this
tour he had already organized in Olinda, produced by Casa da Criança (which
also contained an arena theather), many Repente Singers Festivals in public
squares.
Olinda’s Children House Foundation lasted only 30 years: it was invaded
by homeless people and there was nothing that Baccaro could do. Or he
didn’t want to do anything taken by his humanitarian dream. His true passion
was always for the less fortunate than, those who never had an opportunity
in life those who didn’t have a chance to be as successful as he was. He is
a solidarity apostle and always says to all of his friends that the children’s
house was the most important and coherent thing he did in his life.
Baccaro is still in activity as a collector. In 2005, as the curator of an
exposition of the Bandepe Cultural Institute, the curator Maria Lúcia Montes,
describes at the first paragraph of her text, as no one could, Baccaro as a
collector:
Who doesn’t know this collection, in Pernambuco,
in Brazil e even outside of the country? But who would
classify the collection within the limits of categories
that usually define a collection? Is Baccaro an art
collector? Yes, he is. He collects art from around the
world and with all the languages: from sculpture and
painting to the graphic arts, passing by music sheets
and a really rich collection of drawings from masters
who transit with no contradiction between the erudite
and popular.
Is Baccaro a bibliophile? Yes, he is. He has an
autstanding collection of publications belonging
to all knowledge domains and from all around the
world. They go from rare periodicals to priceless first
editions. Is Baccaro a documentary collector? Yes,
he is. A traveler in search of maps, laws, decreats,
29
Olinda’s Children’s House Foundation
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
244
proclamations, testaments, mailings and whatever has
the chancellery of authenticity of first pressed version,
manuscript or autograph from who have conquered
this world with power and glory.
Baccaro has worked with quality art, as the religious Spanish-American
art, vulgarly called “cusqueña painting”. It doesn’t mean that the art from
Cuzco is inferior: it’s just the opposite. The religious art from Cuzco is a
universal phenomenon for its quality, which is a result of painting schools
implemented there during the Spanish colonization, and for its amount of
good quality painting production.
But he advises at the brochure for the exposition of his precious religious
art collection at the Sacred Art Museum of Pernambuco – (in Portuguese
known as MASP) in 1977. He says there isn’t only cusqueña art, in this colonial
Latin-American art context. However the production of cusqueños impress
the world, the production from other provinces are also very noticeable,
as in Potosí in Bolívia; Vera Cruz in Mexico; Missões in Brazil, Paraguai and
Argentina and many other provinces in the Spanish America which are
wonders of religious sensitivity connected to the colonial art.
Religious art is only one of the aspects of his collection. At it there is art
from all kinds, as Rembrandt’s engravings, Japanese and Chinese xylographs
from the 19th Century; Italian etching engravings from the 19th Century and
French ones from the 16th Century; Russian and Greek icons from the 17th
Century. Plus: a Sisley’s lithograph from 1899 and a Camile Corot’s etching
from the same period; Andre Derain’s and Alphonse Mucha’s works on paper;
maps of Japan from the 18th Century and from Paris in 1654; engravings from
the Caaba and Mecca from the 18th Century; Di Cavalcanti’s engravings and
a curious art deco print with the following sentence: LA MODERNITÁ È LÁBITO
MENTALE DELLA PERSONA INTELLIGENTE.30
I didn’t refer to his library, with Lettres de jeunesse – Voyage aoRio, 1848
-1849, from the painter Edouard Manet, and Sermões from Padre Antonio
Vieira first editions.
It’s hard to think that this treasure was here for four decades and will
probably be cleared away because Baccaro’s second activity is dedicated to
the art market. Olinda’s City Hall doesn’t have its own museum yet, or even
a technical reservation where it can hold his collection, that begins by 40
paintings by Bajado acquired by the county.
Baccaro was born in Naples, in a two thousand inhabitant medieval
village. His family lived by producing handmade wine and cheese. His mother
made the home bread and everybody else prepared the wine stepping on
grapes. They were earthy people: father, mother, three brothers and two
sisters. At a certain point he was working at one of Nestlé factories, in Milan,
and decided to come to Brazil. He suddenly traveled to Rio de Janeiro, where
he bought an apartment at Rodrigo de Freitas Lake.
At that time he was already an art trader, and São Paulo seduced him
with its growing market. The art market in São Paulo was really effusive
during the 60s. The young Baccaro knew how to enrich it through art. The
rest of the story is common knowledge.
The Naïves
During the 60s, Bajado, a naïve artist – or popular – by excellence, was
already here. He watched the new artists coming in and mingled with them.
Painter by profession, his job was never to only paint frames. He painted
posters for both movie theater that existed in Recife, Cine Olinda, at the
Carmo Beach, where he drew the lettering that was above the header, and
cine Duarte Coelho, at Varadouro. He did work for Torre and Boa Vista movie
theaters as well.
He also painted store panels. He became widely known for an ox that he
painted at the outer wall at a butchery house at Sol Street. He did humorous
drawings along with Gato Feliz and Péricles, the three of them created the
30
Modernity is the mind práxis of the smart person.
character O Amigo da Onça, published for decades at O Cruzeiro magazine
and only signed by Péricles.
Mayor Germano Coelho bought, from Baccaro’s collection, 40 works by
Bajado to make the City Hall Bajado Art Home of Olinda. These paintings are
well preserved at the anteroom walls of the Mayor’s Office, but one must ask:
where is the Bajado Art Home?
Bajado was born in Maraial, a country town of Pernambuco, in 1912. He
spent some time at Catende, and in Recife. In 1931 he came to Olinda, where
he lived until his death in 1990. Arthur Carvalho, lawyer and chronicle writer
is the author of the text made at the brochure for the opening of Bajado Art
Home.
Among other things he says:
Bajado turned things around at the time of his
exposition at the Naïve Art Triennial of Bratislava, the
world largest of the genre. Ahead the blindness of the
local erudite critics, the praised and late scrapers,
explodes this light alerting the European sights who
were tired of posturing and fads. Arises the surprise
of the Parisian critic from the Le Monde, to whom a
certain Francisco da Silva before the deluge, and an
Euclides Francisco Amâncio, known as Bajado, are a
flurry of fresh air at the Brazilian Embassy gallery in
Paris, used to the ones who know more salaams.
Baccaro talks about him:
Among the artists I met, I think Bajado was the one
who best understood the people’s taste. And the one
who represents it best, being himself a people man
and liking to be that it. To the contrary of the majority of
artists, Bajado didn’t mean to climb the status ladder,
he preferred to be where he was.
Our artist Maurício da Silva, who nowadays lives in Paris, says:
His painting needs to be deeply discovered,
analyzed, studied, event to have a faithful idea about
the genre where it is inserted. It can be primitivist,
naïve, lyrical. Nobody knows for sure. As far as I’m
concerned it has a he majesty and its difficult to be
explained. Samico properly says:
Bajado was an authentic popular artist. He left a
large legacy for art in general, especially for the genre
he embraced and dedicated, in his case, the painting.
Within what he did everything had a major importance,
because it was popular. The colors, the contrast
combos, the drawings, everything impressed, looked
beautiful, and deserved all the praises.
It’s important to distinguish the various categories,
slope, aspects and tendencies of the universe of the so called “popular” art.
To talk about it is a bit more complex than people can imagine, because the
present concept of “popular art” is doubtful when you notice that popular
means poor, poor of everything, of resources and culture, and because of
that is cheap. Thereby this is a biased concept. No, art is art in any context.
245
To give an example I remember the definitions of the critic Oscar D’Ambrósio,
professor at USP, at the presentation of the naïve painter Analice Uchoa’s
book, when he classifies expressions from the art classified as naïve.
The naïve art is a naïve symbolic production where the
main role is the detail. The art critic and theorist, Georges Kasper, quoted
by Oscar, places naïve art as “modern primitive art”. We then talk about
“primitive art”. This is the art of nations that are always out of step in time,
tribal nations, rural communities, potters, Indians and alike that express
themselves artistically.
We can also talk about folkloric painter, those who
shape in its vivid colors popular dances and rites; they occur in Olinda at the
paintings that picture the caboclos de lança31, maracatus, carnival, sieves,
etc. Mannerists, those who carefully elaborate the surface of the canvas
searching a supposed technical perfection, are also here.
The innate painters are universal, they
figure in all societies without needing a formal graduation or inclusion in
erudite artistic movements. They have been in Olinda forever. In their turn,
the innate painters are also here, the painters by heart, from the magic reality
and / or black as the candomblé. The ones that make art brut, classification
given from Jean Dubufet, are also known as the crazy ones, the junky ones
and the hallucinating minds.
It all happens at the worldwide culture, and Olinda is
part of the world. It sees the world, it is the world, as every city considers
itself symbolically, and therefore Olinda’s naïve painters express our imagery
as the ones anywhere in the world.
Trying to do write a draft to make a classification of
our naïve I present the following list, in part it is a result of my conviviality
and knowledge of their works, and the other part was developed through
research, where the group of catalogues of the festival Art Everywhere were
an important research source:
I begin by the ones who paint landscapes, some being
pure landscapers and others composing it with figures: Elizângela das
Palafitas, Alberto Guimarães, Edna Correia, Dalva Dias, Cipriano Sanches,
Joaz Silva, Edson de Carvalho, Elias Mil, Gilca Guimarães, Leonardo Arcoverde,
Gilson de Góis, Inge do Amparo, Emanuel Suplínio, Fernando José, Marcelo
Lima, Ivone Mendes, Roberto Correia, Rubem Trindade, R. Arlheiros, Shirley
Lins, the big Calazans, Zé Som, especially at his “energetic” stage and Mary
Gondim, artist and cultural entertainer while she was the head ofMAC
Another school of naïve artists are the ones who dedicate themselves
to represent aspect of the local folklore, especially those who paint the
carnival: Gina, Deda, Bajado’s daughter who is continuing his work, Aelcio
Santos, Ana Mergulhão, Cosmus, Deise, Henri Melo, Fernando Alves, Gilca
Guimarães, Ricardo Coimbra, Uiara Lima, Luciana Mendes, Roberto Vieira.
There are the ones with religious inspiration, catholic or pagan, as: Maria
do Monte, Alice Masieiro, Ana Jesumary, Apolônio, Henry Melo, Irineu Gustavo
Lopes, J. Rêgo, Margarida Ferreira, Paulo Francisco and Pedro Dias. About the
last two of them, and also Cipriano Sanches, I must explain that I’m following
supported on the idea exposed above that naïve art is not only ingenuous
art, but spontaneous that escapes theoretical and critic systems.
If we were to insert at a time line, regarding art history, they would have
31
A folklorik figure from the rural maracatu.
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
246
the following characteristics: Margarida Ferreira and Paulo Francisco are
influenced by the Latin-American religious art, where church painters are
placed, including the cusqueños. Pedro Dias paints as the mannerists’. This
subject has continuance, therefore in another direction, if we consider the
work of the brothers Tiago and Marcos Amorim, erudite artists whose works
reflect the drive to paint with their pair. This act doesn’t mean only influence
of something that pleases them, but the familiarity or blood relation of
choices and motives.
This aspect allows many more artists, prominent names at local art
that make the unique modern naïve group, besides Tiago and Marcos we
also have: Vilanova, Peter Bauer, Ivonaldo, Betho, Balla, Marisa Reis, Sandro
Félix, Fábio Luna, Nilo Baj and Lula Marcondes, Arlindo Soares, Iza do Amparo,
artist and eco activist, Fernando Augusto do Mamolengo, Sorriso, Fernando
Azevedo, Pedro Índio, Paulinho D’Olinda, Silvio Botelho, Lula Marcondes,
Carvalheira, Di Farias.
We also have figurative painters whose way of painting, maybe by proxy,
confuses itself with naïve art and express a dreamlike fantasy tending to
surrealism, as
Marisa Lacerda, Silvia Pontual, Antonieta Cavalcanti, Eliana Leão and
Flávia Salamandra, Dorys Monteiro, Lígia, Dete Morais, Laura Francisca,
Roberto Correia, Roselis Moura, Cássia Nunes, Marisa Varela, Silvana Carla,
Fátima Ferreira, Irineu.
I end this list naming some of the artists who paint flowers, birds and
other nature elements as: Roberto Correia, Roselis Moura, Lígia, Dete Morais,
Anderson, Cecinha, Francisco Lapenda, Lu Mendonça, Rodolfo Gouveia, Vera
Méllo.
Antenor Vieira de Mello – FCPSHO, Guaianases, Aloisio Magalhães, art
and carnival
I met Antenor Vieira de Mello at the Guaianases Engraving Workshop
when I was its art director. We became friends immediately and maintain this
friendship until today. He is an architect, history and architecture professor
for UFPE, but I think that this is his most common activity: Antenor is, actually,
a warrior of culture causes, especially Olinda’s cultural preservation. He is
also a graphic and plastic artist, mainly a paper artist.
His activitie as CEO of the Center of Preservation of Olinda’s Historical
Sites (where he could support the creation and maintenance of Guaianases
Workshop) and his friendship and work with Aloísio Magalhães, who
summoned him to help him with UNESCO proposal of making Olinda a World
Heritage, are told in the conversation written bellow.
Raul Córdula My dear friend, I would like to
know about the Center of Preservation of Olinda’s
Historical Sites Foundation and its relation with
the Guaianases Engraving Workshop and other
executions.
Antenor Vieira de Mello Well, at that time I
was integrated at Germano Coelho’s City Hall and
we created it based at the Municipal Law, the
Municipal System Preservation in Olinda. We were
really careful with it, we took it to the City Council
to be discussed.
At that time there were two huge meetings
about the Defense of the national and cultural
heritage, in a broad array. One of them was
the Governors Meeting, some people called it
Governors Commitment, and the other one was
the Mayors Meeting. If I’m not mistaken, the
Governors one was at Bahia, but the Mayors
Meeting was in Brasília. At that time all the
Governors took part in it or sent representatives
and all the Mayors from Brazil. The idea was to
create the Governors Commitment and to create,
at the states, institutions focused at the Heritage
Defense matter.
Pernambuco was one of the first to respect
this decision creating FUNDARPE, fruit of the
Governors Meeting. About three or four years later
what we call the Mayors Commitment happened,
to which some provoked and/or summoned by
SEPLAN PR showed up. The Ministry of Planning
didn’t exist at that time. There was a Secretary
of Planning of the Presidency – SEPLAN PR,
represented in Pernambuco by the architect Élvio
Polito and it worked at Cinco Pontas Fort.
They thought about doing a national
project for the recovery of the historical heritage,
especially the architectonic historic and urban
heritage, not for the old sentimental taste for the
past, but to make the restoration of the heritage
linked directly to the economic growth, to generate
income and jobs. How to do it? SEPLAN PR decided
to discuss it in a broader way. For this discussion
they summoned the Governors. Only the Federal
Government has the power to do something like
that. The idea was to recover buildings using
SEPLAN’s resources and leave them backck
for tourist visitation. Not only pure and simple
restoration, as it was done before, but restoration
aiming its use.
So, you get Olinda’s Aljube, Brazil’s first
ecclesiastic prison, and unique, and transform it
into the Contemporary Art Museum of Pernambuco.
You get the Episcopal Palace and transform it into
the Sacred Art Museum. Inclusive, behind it had
a restaurant. The Relicário restaurant that was
marvelous. Olinda’s Sé was restored for visitation.
Nowadays is practically closed, today there isn’t a
visitation Project.
There wasn’t anything and a lot was done.
Today you have to have, as I usually say, an
‘event mania’ (MIMO, FLIPORTO, International Jazz
Festival). Can you see the costs behind it? its out
of this world. You know, Raul, what I think is what
I have always stated: I’m not nostalgic, to the
contrary, I’m into Mario de Andrade’s conception
‘the past is to reflect not to mimic’. I don’t want the
past to go back to it, on the contrary, but what I’ve
been feeling is the matter of the isolated event.
At this time, when the meetings and the
Governors commitments took part, Pernambuco
promptly responded and created FUNDARPE. And
the first county in Brazil to create a preservation
system was Olinda, an extraordinaire pioneering of
Professor Germano Coelho.
We went to the meeting, signed the
commitment and said: ‘I’m really commited, lets
create an entity to defend the preservation,
restoration and mainteinance of the heritage.
He invited the architect Jorge Eduardo
Lucena Tinoco, my friend Tinoco; we were class
buddies at the Univesrity. 1979 was 4 years after
my graduation. At the meeting about housing
Tinoco invited me and said: ‘I have a job to develop
in Olinda. What do you think about it?’ When I felt it
I got all excited. To preserve heritage, for my living,
my city… I really wanted to do all of that.
At the request of Germano we got engaged
with the project, Tinoco and me, and began to
work at a project that he sent to the City Council,
creating a Municipal Preservation System. At
that time the military dictatorship, that was
present everywhere, threatened to turn nationally
protected historical sites in advanced fields
belonging to the national territory. This would be,
let us put this way, an intervention: placing an
intervener and considering the historical sites as
National Historic Sites, union heritage.
With it, an encroachment would be done, an
intervention, in a county as strong as Olinda. Then
we discussed a lot about it. And we were afraid
that it would happen. Even to go against this idea
we wanted to create, at the project with Tinoco
and Germano, something different, listening and
debating with professionals, local people. We were
committed to listening to all those people, living
heritage of this city, and by listening to them we
thought that Olinda, the Historical Site, should
have a Sub-City Hall. But it logically could create a
conflict between the Mayor and the sub-Mayor; it
would end in serious problems. It was unavoidable.
So we decided to create a Preservation Council.
And we created it with seven members. ISPHAN,
FUNDARPE, the Historic Institute of Olinda, the
Secretary of Education, one resident from the
community, the Head of the City Council were part
of it. There were seven members so we didn’t have
to listen to just one. I thought it was extraordinaire,
this democratic act that came from Germano. He,
as the Mayor, didn’t want to impose himself as the
Mayor of the Historical Site, so he preferred that
the Council to say what to do.
After that we created together, within this
municipal system of preservation, a tripod: the
FCPSHO, which was the right hand of the Council,
because the Council can’t execute (it plays a role
of counseling, is a counseling agency). The Council
needed to think and say: we have an intervention
agenda, how to do it? Creating a Foundation to
execute this agenda, which was FCPSHO. And the
third leg of the tripod was the Fund of Preservation
of the Historical Sites of Olinda. This fund we could
approve by a Municipal Law that we sent to the
247
City Council. The law number 4119/79 28 from
September, 1979. It was approved at that day.
RC Does this tripod still exists?
AVM No, only the Council. The foundation was
disabled. It wasn’t extinguished because nobody
can extinguish a municipal law, unless you have
another law extinguishing it. The Foundation
was disabled at Germano’s second mandate. He
created the System during the first mandate and
disabled it during the second one for managing
issues..
The Fund continued practically without
being used; now it was abled. The council was
rehabilitated too, but instead of seven members
now there are fourteen. And at the Preservation
Fund it’s not allowed to use resources of the County
Participations Fund – FPM. Before 5% were used, it
was mandatory. The FPM is the money collected
by the Federal Government from taxes and then
redistributed among the counties. Practically 70 or
80% of the counties in Brazil live from this FPM.
And we got that at the Preservation Fund
5% from FPM were used. That was really well
played, and gave to FCPSHO a huge autonomy,
because even if it had just a little, what it had was
sacred. Every month the City Hall’s destined 5%
of its monthly FPM to the Preservation Fund. With
that we managed to do, at that time, the largest
integrated restoration program in Brazil here at
the Historic Site, even with the City Hall practically
broken. That was extraordinaire.
And, at that time, a group began do meet
at Guaianases Street at João Câmara studio –
the first studio he had in Pernambuco when he
worked for Cenas da Vida Brasileira. So, in order to
do the lithographs, he bought his own equipment.
He managed to hire two lithograph artisans who
worked here, Alberto and Hélio.
I meet Hélio almost everyday over there, at
the Engraving Guaianases Studio and Laboratory
(in Portuguese known as LOGG) that today is
working at the Arts Center at UFPE. Hélio seems to
be the last of the Mohicans among lithographers.
The whole collection from Guaianases – stones,
tables, easels, much equipment and, mainly, the
lithograph collections from over one hundred
artists that were artists and partners – nowadays
you can find at the Department of Arts and Crafts
of the Federal University of Pernambuco at the
CAC, granted in commodatum. Now Guaianases is
registered as a laboratory inside the University.
RC This commodatum was made with João
Câmara, wasn’t it?
AVM It was made with Zé Carlos Viana, already
at the end when Guaianases no longer existed.
Nobody knew what to do. Zé Carlos was Secretary;
he worked at Recife and Olinda City Halls, and
was the person who mediated those matters. As
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
248
Guaianases had broken down collectively, what to
do with its collection, this extraordinary material?
So, Guaianases group made a proposition to
come to Olinda. We were finishing the restoration
of Ribeira’s Market, through FUNDARPE. Ribeira’s
Market belongs to the county and was being
restored. The entire salesmen were placed at a
store in front of it, that was next door neighbor to
Tasca de Azurara, where they worked temporarily.
When the restorarion was done, they came back to
the stores, but the central hall and the basement
weren’t being used.
With the personal contact that I have with
Zé Carlos Viana, he was one of the first friends I
had here in Olinda, we began to draw something
together, and we’ve spent entire night’s drawing. I
had a very strong connection with him, and he had
the same strong connection with Denalo, with the
guys, Roberto Lúcio, the entire group.
Then Guaianases comes up with the
proposition to occupy it. The main hall and the
basement at Ribeira’s Market, the place that would
hold the permanent exposition of Guaianases and
also temporary and themeexhibitions could be
held there
RC As the Art Director invited by Liliane Dardot,
who was at the time the President, and certainly
with the agreement from Guaianases managing
team, I coordinated and wrote textfor over ten
expositions. We had close to 100 partner artists,
among them. Besides João Câmara and Liliane
Dardot, other partners were José Carlos Viana,
Humberto Carneiro, Delano, José de Barros, José
de Moura, José Patrício, Luciano Pinheiro, Samico,
José Carlos Viana, Tereza Costa Rêgo, Marcos
Cordeiro, Tai Bunheirão, Guilherme Cunha Lima,
Lilian Lima, Mário Ricardo, Maria Tomaselli, Piedade
Moura, Giuseppe Baccaro, Dulce Lobo, Leonardo
Filho, José Cláudio, and Amélia Couto.
AVM I was able to convince the Mayor
Germano Coelho. The proposition made by the
artists was to transfer Guaianases from Campo
Grande (at Guaianases Street) to Olinda. It was done
in the beginning of 1982, when the building was
ready. Then we set up the Guaianases Engraving
Studio there, which gave to that extraordinary
work the rehabilitation of this colletive view. With
artists working at the boxes, including Ribeira
Market itself.
I was the voice and figure who did this
intermediation between City Hall and Guaianases
group. By the connection I had in both movements:
I was the CEO of the Preservation Center and was
connected to the Guaianases group through
friendship bonds. And that was how we were able
to bring Guaianases to Olinda. Until the moment
it wasn’t possible to do it anymore, so it left and
approached UFPE.
Before it, Guaianases spent some time
at the Sobrado 28 (at Amparo St.), then went to
Ribeira. It moved again to Sobrado 28 and from
there to Federal University of Pernambuco, where
it maintains an extraordinary job until today, really
vivid. It’s a laboratory where all Arts and crafts
students go by, print lithographs along Hélio
Soares, the printer. I only fear the fact that Hélio
is there by himself. Hélio is already an aged man.
Alberto (his fellow during the Guaianases time)
has passed away and Hélio has glaucoma.
...................
From all the printing work Hélio ended up becoming
also an artist, he made an exposition besides his disciple, Dr. Hilda Andrade,
to João Pessoa. I had the pleasure to present it. The lithographer
Hélio Soares is one of the few lithographers that
remains after the advent of the offset and the modern
techniques of printing. Today, he gives assistance to
artists who cultivate lithograph as a mean, expression
and language at the commodatum established
between the Guaianases Engraving Workshop and the
Department of Arts from UFPE.
Decades ago, when Guaianases was at João
Câmara’s studio street, in Campo Grande, he already
unfolded to artists the mystery printed at the stones
through his mastership knowledge. He has grown
beside the good lithograph from Pernambuco and
remained besides João Câmara and his friends when
they created the Guaianases Engraving Workshop at
Olinda.
Today Hélio shows the fruits of his work in two
senses. First of all, in engravings created by him in
prints full of poetic narrative who show mansions
enlightened “by drops of silence”, as Vanildo de Brito
the poet from Paraíba would say, that run down from
the sky and shinning forest, as if they were flawed by
elemental characters.
In another sense, one can see that Hélio does
justice to the generosity that artists have accepted
him as one of them when presenting a student
and sharing his exhibition with her. That student
is the engraver Hilda Andrade, owner of a small, but
important, regional art history. Hilda is from Paraíba
and is is integrated to the artistic life of João Pessoa,
which conceives many talents. She has taken part in
a good amount of local exposition, and a beautiful
and poetic way of printing images at the lithograph
stones.
Carasparanabuco
Guaianases was successful in revealing artists and enabling the
lithography practice. However its importance doesn’t stop there. At that
place, artists from many generations met, and it provoked debates needed
by a group of artists democratically gathered. But other debates happened
among artists who used the same language. And from it some other groups
gatheredfor the same purpose. One of those groups, maybe the most active
one, was the Carasparanabuco, a way to gather friends around ideas and
manifests, and to organize expositions together.
Carasparanabuco was born from Maurício Silva’s mind, an active
artist who lives in Paris with his wife and kids nowadays. Along him were:
Historical Site.
I also had a primary role in this story because when
Aloísio arrived on Fridays from Brasília, he drove up to
IPHAN and visited Sobrado 28 at Amparo St. He had a
very tender way to call me: ‘my architect’. Aloísio was an
incredible character.
Then he would say: ‘my architect, let’s go over to my
house, let’s chat, I have some tales to tell.’ That was us,
then, coming up with this TITLE idea (the Title of Olinda as
Humanity’s Cultural Heritage), (discussing) how to direct
the proposal.
One day he went out with a camera on his hands and
chose some sights in Olinda to take pictures and said:
‘I’m going to edit them in lithograph form, I want to send
it to ICOMOS’s councils (UNESCOS’ International Council of
Monuments and Sites, with 21 council members, Aloísio
was one of them because he was IPHAN’s CEO). I’m going
to set up a portfolio in lithograph and send it to each
council with the image collection I’m intending to make.’
So he got a big lithograph stone at the Workshop and
began to draw with the lithograph stick. How did he do it?
He hold the stone from above, seated at the easel, placed
the picture with a clothes peg and began to draw at a
matching scale, inclusively with an inverse print, which
is the lithographs most difficult technique. Doing that,
when you print it comes out positive. It’s totally insane.
Usually he spent his Saturdays and Sundays in
Olinda, because during the week he was in Brasília. So,
poor thing, it was the lithography Saturday and Sunday,
wasn’t it? And there was a detail: he printed 100 copies
from 0 to 100. From those, 100 copies of each one, this
sums up to a set of 1100 pieces, first he signed 21 sets
to give to UNESCO members. Added the book Olinda –
Segundo Guia Sentimental de uma Cidade35, from Gilberto
Freyre, and wrote an extraordinaire letter. He hired the
same photographer that did the book Linda Olinda along
with Gisela Abad, so he could make a photography set
about the Historical Site, that are the ones who are within
Gisela’s book.
During its production the photographer had to
capture the image of the Amparo Square and also
Amparo’s Church and the chopper lost altitude. Man!
When it was about to hit the floor, at about 5 meters from
it, the pilot accelerated and the chopper flew up again.
But even by doing so it ripped the roof of seven houses
that were around and the roof of Vassourinhas Club. A
tragedy almost took place. After that I was able to fix
all the roofs, requested by Aloísio, with the help of the
Preservation Center.
This pictorial inventory was done, he even used a
chopper. With it he made a lithograph inventory, with
landscapes of Misericórdia St, the Franciscan Monastery,
etc… I have some of the signed ones at home because
Hélio, who was the printer at that time, didn’t have a
wage; his wage was paid with works of art. You made the
P/A and gave a set to the printer. One or two proofs Good
to Take (GTK) stayed for the collection of Guaianases
Workshop. Then, after the GTK, the artist did the artist’s
proof (AP) – up to 10 numbered and signed copies, and at
Alexandre Nóbrega, Eduardo Melo, Felix Farfan, José Patrício, João Chagas,
Marcelo Silveira and Rinaldo. Eduardo Melo was kind enough to help my
memories get to this shared narrative. Eduardo, besides being an artist, is
a cultural entertainer, creator and producer of Festa da Lavadeira at Santo
Aleixo Island. He attended Guaianases when he was really young, as did the
entire Carasparanabuco group, and made his first exposition of works in
acrylic paint over paper in 1986, at MAC.
They had three expositions. The first one was held in 1987 at Olinda’s
MAC. The second was in 1988 at the Brazilian Art Gallery – that was set up
by the carioca Crisaldo Alves in Recife on that decade; he had an important
collection of naïve art. The third one was at the Gallery owned at the time by
Gislaine Andrade, in Poço da Panela.
The group didn’t do anything else after that exposition: it was
disintegrated but left its mark on the memories of those who are interested
in art and that lived those times characterized by the groups of artists or,
what we call them currently, collectives, as the ones who were set up in
Bairro do Recife, amongst them Quarta Zona de Arte and Grupo Caramelo.
Maurício Silva was a cultural entertainer in Olinda and also at Recife.
One of the most interesting manifestations that this city has seen was his
creation: Arte na Barbearia32, an installation organized annually at Mr. Isnar
barbershop, located at the end of Bernardo Vieira de Melo Street, almost at
Quatro Cantos.
He invited everybody and filled the barbershop walls with canvas. He
mixed guests paintings with reproductions of Picasso, Matisse, Pollock and
many other international names. As he said to me Arte na Barbearia act as a
democratic practice, leveling artists by theirs works, not by prestige.
He did a similar installation when he moved to Recife. It was called Arte
na Galeria33. It had two editions. He filled the walls of an old gallery, where the
old Maltado used to operate. Maltado was a very popular snack bar located
at Bairro do Recife.
Aloísio Magalhães
My admiration by Aloísio Magalhães comes from
very far back in time, since the creation of the Escola
Superior de Desenho Industrial - ESDI34, in Rio during the
60s. He was always a hero: fighting for things that were
really important at the time, such as O Gráfico Amador,
ESDI and the National Center of Cultural Reference, where
generations of professionals were prepared. Among the
ones who graduated there are designers, architects,
historians, lawyers, engineers and craftsmen to support
the executive body of the preservation of our stone and
lime heritage and also our immaterial heritage. I think his
memory is worthy of a cult genuinely from Olinda, the
good he has made to the town is priceless.
I wasn’t close to him. That’s why I asked Antenor for
the testimony that follows, continuing our conversation:
AVM
One of my best ties with Guaianases was
with Aloísio Magalhães, who decided to make that
lithograph series about Olinda’s landscapes. That material
was part of the request of human natural heritage. He
edited eleven to twelve lithographs: a cover opening the
portfolio, where there is the symbol of Jesus the World’s
Savior; the city’s patron, which is the Armillary Sphere
(the world with a band that determines the Equator
topped by the cross). He opens it with ten lithographs
of Olinda’s sceneries. That includes an amazing triptych:
three connected lithographs with the entire profile of the
32
Art at the Barbershop
33
Art at the Gallery
34
Industrial Design Higher School
249
35
With no available translation to English
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
250
last you printed, this was the rule at the workshop.
My heart goes out in sorrow knowing that Olinda
recently missed, on June 13th, the anniversary of 30
years of Aloísio’s death; it coincides with the World
Heritage Cultural Site. Olinda only has this title because
of his passionate work. How is that this city does not
have enough memory to emphasize the work Aloísio did,
especially in this year of Cultural Heritage of Humanity,
this is my great protest. I, on the 13th of June, woke up
at 8:00 A.M. quietly and went to Misericórdia, stood in
front of both of his houses and talked a lot with him. In
happiness, I didn’t go there to weep, not to be sad, but
for the joy of that friend with whom I have coexisted and
done so many things, so many things together.
I will never forget: once we were togetheron a
Saturday afternoon, at Monsenhor Fabrício Square,
looking to the Olinda’s City Hall building, that we had
begun to do the restoration almost with no money; even
like that we placed a board with FCPSHO which, by the
way, was mandatory. I was the technician responsible.
Olinda’s City Hall was abandoned for almost five years,
wasn’t even being used, the floor was falling apart; the
building was underpinned, really serious.
Actually, I was sitting by myself at the Square bench,
when a truck arrived with Aloísio in it. He had a very funny
way to hang his jacked on his shoulders. But he never got
it with his left hand, he got it with his right hand, with
his arm crossing his body, it looked really beautiful. So
he came up the stairs and sat beside me. I was terrified:
“Oh my God, how will I be able to restore this thing?’
IPHAN had absolutely nothing: Aloísio was screwed, he
hadn’t a penny in a box, and I was there, sitting at that
stone bench in front of the Palace, close to Monsenhor
Fabrício’s statue, asking him to restore that thing.
As Aloisio was about to leave the car, he sees me,
asks (the driver) to stop the car and comes (towards me)
with his jacket hanging over one shoulfer, his elegant
way, sits by my side e says: ‘Arquitect, I’m very sad with
all of this. This renovation you are making is onde of the
most important ones for the Historicc Site. I don’t have a
peny to help you in this endeavor. I would like (however)
to place the sign of the National Foundation Pro Memory
(which was at that time an institution inside ISPHAN),
because to sum up the story, this is an extraordinary
work.
He had financed São Sebastião’s Church for us. It was
the first time that a County had money coming straight
from the Federal Government, an agreement between
IPHAN and the Center of Preservation of Historical Sites.
He recognized the intrinsic value of the monument as an
extraordinaire local value and financed it. But within little
time he was totally screwed, with very little resources.
I said: ‘send your plaque and place it there, but I have
nothing, I don’t want anything from you. I just want you
to honor me in recognition of the reconstructions we are
about to make.’
Fifteen days later the plaque of the Federal
Government was there. It was the counterpart that I
gave him, because he had financed the Church, because
it was amazing. I’m not nostalgic; we are only doing a
report. If we don’t focus our memory, we are taking a
serious risk to go through this humiliating experience
that so many have been through; when they get close
with the stories, other people’s stories, they talk about as
if it were their own. So I think that the work you’re doing is
amazing. It’s a record of living testmonies, this local view,
reports of day-to-day activities.
This is exactly what UNESCO recognizes in Olinda:
the living heritage of this city, and the vegetal heritage,
it wasn’t the architecture. If you take a close look at Ouro
Preto, Parati…they are a lot more constant, much more
museum like than the Historical Center of Olinda. But
what UNESCO recognized as fantastic was the living
heritage. And about that I’m really concerned. How don’t
we have the memory of Julião das Máscaras? How don’t
we have memories of Lírio Macacão? How can we not
have memories of Miss Maria Do Monte? How did we lose
the memory of Clídio Nigro, how can we lose Bajado’s
memory? Isn’t it possible for us to create about twelve to
fifteen small brochures with micro stories of all of those
stories?
Art, carnival and the productive chain
Carnival in Olinda is made by colors everywhere. It’s an authentic
expression of “art everywhere”: ecstasy for painters and photographers who
can capture their images under the tropical sunlight at this city that every
year gets ready for their arrival.
Carnival has always been related to arts and crafts. It’s a recurring theme
in Bajado’s work, our great naïve artist, painter of the people, documenting
the live culture he watched pass by his window and that he immortalized in
simple life scenes. Painting the carnival he clearly expressed the soul of the
people who produce this joyful and long lasting culture.
Carnival in Olinda is a collective and multifaceted expression, and by
being so it is graphic, plastic and symbolic. It is graphic by the street and
houses ornaments, where the ornaments, simple as the colored plastic
ribbons, compose with very tangled ornaments at the facades dating back
the eclectic architecture from the beginning of the 20th Century.
Contemporarily graphic as the ornate and symbols created express, for
example, by Petrônio Cunha for: 1985 carnival which the title was Olinda
450 Carnivals, as the symbol and the towers of decoration at the Street of
the “Comet’s Carnival”, where the composer Lidio Macacão was honored.
The symbol and decoration of 1987 carnival – Olinda with an Eye at the
Constitution, in 1988 with Olinda, People’s Land and in 2002 with a series of
elements cut by lazer and fized printed as wall stickers. Petrônio also created
symbols and allegories for the carnival groups Eu Acho É Pouco, A Turma da
Gaia and the traditional group Flor da Lira, between 1987 and 1988.
Carnival is also graphic because of the carnival costumes of the “I go
Alone” group, living cartoons, unique attractions created by foliões36 filled
with the best of humors. Many times their customs reveal texts, words,
traces and drawings. But it is also plastic by its grandiosity, its mix of colors
and textures where the shape reigns in a tridimensional way with rhythms
and moves that produce magnificent compositions. Nobody evaluates better
this chaotic universe than José Cláudio. His carnival paintings are generous
modulations of color and paint, objects of cult to the sensitive eye, tangled
gestures that portrait these people in their freer and more pure manifestation.
It’s also plastic through the puppeteers, like Mestre Julião – deceased
– Silvio Botelho and so many others who make pieces, ornaments and
36
the word refers to people who enjoy as street particiants of the street
party that is Olinda’s carnival.
percussion instruments that were born from the imaginary of a nation
granted by myths derived by the cultural mixing. To 2003, however, the
ornaments were created by the Grand Master Fernando Augusto, from
Molengo Só Riso, and manufactured under his command, by artisans at the
Carnival Factory assembled by him.
The work of the costume sewers and the marvelous embroiders who
make the maracatu costumes with sequins and beads sewn over velvet are
also extraordinarily plastic. As she has done for all of her life, the noticeable
embroider artisan, Maria do Monte, and still does the Maracatu Piaba de
Ouro staff, the longing Mestre Salú, conducted nowadays by Manuelzinho,
his first son. Manuelzinho and his team made the flag for the 1st Meeting
of Cultural Diversity, ordered by the Secretary of Cultural Diversity from the
Ministry of Culture in Lula’s mandate, whose director was Américo Córdula.
The flag took 43 days and nights to be made. 500.000 sequins were used.
It’s the biggest flag made in Brazil, it measures 12 x 6.30 meters, there is
nothing like that in the world. The drawings, signed by him and his team,
were based in symbols of the Brazilian cultural diversity represented by the
popular material culture through native Indians, gypsys, African Americans,
disabled and elders, and also by examples of the childhood culture, naïve
artists, people with psychological problems and homosexuals, among many
other possible examples.
The Giant Puppets are symbolic and universal. They own the city
during carnival. They either represent poetic and unused situations as the
traditional and pioneers. The Midnight Man, The Woman of the Day, The Boy
of the Afternoon. Or they are made in honor of some local characters as the
Mayor Luciana, The Night Guard, The Student, among many other themes.
The groups, clubs and maracatus are also adorned by symbolic pieces.
The Pitombeira and the Elefante seem to be the most popular ones. Their
symbols are full of plasticity: the Pitombeira by the landscaping element, the
tree; The Elefante by the figure of the animal, plastic and big.
In 1982, when I was ahead of the Nucleus of Fine Arts at the Federal
Universal of Paraíba, along with Antenor Vieira de Mello, we planned an
exposition entitled Olinda in João Pessoa. It was about a display of the work
done at FCPSHO presented by its president Antenor. It had 40 paintings by
Bajado that were bought by the City Hall of Olinda to make the Bajado Art
Home. There was also a display of the facades of protected houses drawings
made by the architects and interns of the Foundation, and to end the José de
Athayde’s book – Olinda Carnaval e Povo – edited by the Foundation, with its
graphic design made by Guilherme da Cunha Lima, a professor of or at UFPE
and also creator of the logos for the Foundation and Guaianases workshop,
among other things.
I was able to write three texts for the A União newspaper talking about
the exposition. On April 24th it was published the text Olinda Carnaval e Povo
about Athayde’s book, it startsn like this:
“Perfectly lwrapped by Guilherme Cunha Lima
graphic Project, this book, produced by Olinda’s
City Hall through its Foundation for Preservation of
Historical Sites is the most important document about
the recent culture of this city that preserves, besides
it architecture, the cultural life of its people, its biggest
heritage”.
On the next day, on the same newspaper, it was published Olinda For All,
where I write, after citing the well-known verse of Carlos Pena Filho, where
he says that Olinda is just for the eyes:
“I beg to differ from the poet and state this: Olinda
is for all senses! Anyone who doubts that, please go to
the bus station where every 15 minutes, and for 300
cruzeiros at the time and a patient two hour trip, you
will shore at the Varadouro das Naus, Olinda’s door, and
you will get one more year of this life.”
The last three texts are called Olinda Carnival, titles of two LPs also
released at the exposition, produced by the LP factory from Pernambuco
251
called Rozemblit in 1980 and 1982.
Today we see the idea of an intangible heritage, or immaterial, the idea
of knowledge as heritage, and we have the feeling that there is something
worth fighting for. I refer to the idea that our culture is as unique as any other.
Our collective knowledge is as important as any similar city, but maybe we
had the luck to have part of it preserved and worshiped. Even if the cost is a
lot of fighting, work and defeats.
The Productive Chain
Fine arts productive chain in Olinda is already well defined. One can
say that it’s already a source of resources for the craftsman, especially
of canvas and frames, in a city with so many artists, studios and creative
workshops. Marcelo Peregrino Samico, for example, besides being a painter
and xylographer, is a framer and galerist, he runs the Sobrado Gallery along
Célida, his mother, classic ballerina, nowadays Yoga teacher, and his sister
Luciana, contemporary dance teacher and corporal therapist.
Currently Marcelo is associated to the collector and painter Armando
Garrido at the Peregrino and Garrigo Art Office, which operates inside Sobrado.
With that both extend their artistic activities to art services, the productive
chain, which goes from the studio arrangements to the exposition planning
and execution.
Marcelo introduced me to Mr. Paulo when I needed someone to clean,
wax and arrange my studio the same way he does to Samico, Guita and
other artists. He specialized himself at that type of work. He knows everything
about oil paints, solvents, brushes and canvas. He handles the pieces with
a delicate firmness from one place to another with the competence of a
museum technician. The studio got sparkling clean. However I didn’t let him
remove the stains of paints and eventual brush strokes and flows that went
over the limits of the canvas: stains in a studio look better than a cold and
impeccable shine.
A little is known, but even living here there is already an economy
specialized in these activities. I’m not referring to art and crafts, but to
the craft that makes viable and eases the life of artists/ I’m talking about
architects like Abel Carnaúba, who projected José Claudio’s studio using a
lighting project that a incorporates a way to let natural light in, to let the day
get inside the close environment, and wide openings to pass large canvas
through them. Abel also projects and manufactures frames for many artists.
Among framers, besides Marcelo Peregrino, we have Etiene das Neves,
Manoel Francisco da Silva and the dos Santos brothers: Carlos Alberto, also
known as Pezão, Marcos Antônio, Augustinho and Fernando Luis. We also
have “Sonrisal” and “Chapolim”, framer assistants, Mr. Raul Carpenter and the
super Arruda, the Carpenter specialized in restoration and responsible for
the practical part of the arrangement of the São Bento Church Altar at the
Guggenheim Museum, in New York.
At the visual arts field, besides the framers, carpenters also manufacture
canvas chassis, easels and packages. Usually they also work as canvas
stretchers. There is the activity of those who carry works of art, there are
companies specialized on that, they even have dispatchers to send the
transportation and insurance for works of art.
There are also the exposition assemblers; cleaners; the restores
of canvas, papers, wood, metal or any other artistic materials; graphic
designers; graphic industry. There is also the video art editors, the press
officers, culture specialized journalists, copyright lawyers, insurance agents,
the caterers at the galleries. Most of these specialists work in groups.
If we imagine carnival’s productive chain, for example, we will learn
that carnival, as an income producer, exists throughout the whole year. I’m
not only talking about the costumes and allegories sector that, in Olinda,
is perfectly led by seamstresses, embroiderers, and the sculptors of the
papier-mâché puppets or artisans who make masks and ornaments.
I also talk about the musical field, from conductors, composers,
singers, orchestra musicians, musical instruments manufacturers, frevo
and maracatu dancers. I talk about the street decorators, securities; the
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
252
electrical field; health; the legal industry and all the titanic activity that is the
carnival management.
It’s common knowledge that the cultural industry is really profitable;
it gives more jobs than the metalworking industry and is more profitable
than it, with the exception of the mining industry. The cultural industry also
supports tourism and education and, if well employed, also fights misery
and violence.
Liliane Dardot and the landscape painting, Petrônio Cunha and Luciano
Pinheiro.
Liliane Dardot is an artist from Belo Horizonte who used to live in Olinda
with her husband Humberto Carneiro, architect and visal artist, and their
kids, Santana and Marilah who lives in São Paulo and in the present days is
one of the most known contemporary artists of this country.
Liliane was the CEO of Guaianases Engraving Workshop, where she
became a specialist in lithograph. Her engravings show crystal clear
the ability that she had to integrate drawing with painting, because the
lithograph technic enables one to do it.
It is a rest for the painter. But an active rest, because the material and
the techniques of the touché and the sticks; the cuttings with Arabic gum;
the watering takes us to the painting, with its velvet, brush marks, various
effects. Liliane found herself in the lithograph.
In 1983 I went to Liliane Dardot’s home-studio to see her paintings and
write the text of her exposition to be held at Sergio Milliet Gallery, at Funarte,
that was presented to the carioca public in July 5th. At that time I already
lived in Olinda and was part of the team who ran the Guaianases Engraving
Workshop, headed by Liliane.
For the first time I spoke about the landscaping painting. Something like
standing still at a window, observing the view change itself at every moment
with luminous effects that modulate the painting, on the white mornings,
into blue days and at the yellowish afternoons illuminating the green dance
of the vegetation touched by the winds of August. It’s easy to understand
why so many painters from Olinda are discovering the landscape painting. It
would be impossible not to.
I’m not referring to the academical idea of landscape, but the modern
one, the one that paints here the landscape many times showing the
window prospect, but with the freedom standards that emits from this
place of history and beauty. Jacob Bronowisky wrote that to the contrary of
impressionists, modern painters search for the order that they believe exists
under the surface of appearances – bones underneath the skin.
The artistic community of Olinda is forming under this look, having
color lessons from the impressionists without limiting themselves to the
inventions of one and a half Century ago. It can’t only be the need to register
the world you see that moves the painters, even because it’s hard to resist
technological instruments that are offered today to any artist with the desire
to docment wat he or she sees. What exactly moves the painters are the so
called bones under the skin that Bronowsky refers to, under the skin of the
painting.
The need to register the world around can’t be the only force that
moves painters. For this purpose, we rely on a technological instrument that
couldn’t have been imagined by any artist that lived before the invention of
photography. We have instruments that are more precise than the eye and
the hand. However, he says that the scientist is to the technician as the
artist is to the artisan. And this sentence he tells us that, even if you are
willing to make use of this instrumental, there is a degree of craft, a technical
factor, which for the painter will always be in the act of painting.
The canvases were coconut trees painted through the window. They
were not landscapes incomplete, but its details. Soon I realized that they
related to something bigger than the theme, the model, the motive. They
were a testimony of Brazilian changing scenery showed in an unusual way
for that period. The point of view of the coconut trees, almost all of them, was
at the level of where the palms meet the trunk, because Liliane was facing
them frontally, from the window of her studio.
But the vibrating center of these paintings is the full exercise of painting
embodied at her studies of greens, browns and yellows. A skilled draftsman
and very attentive to details in the model, the movement of the palms
were so well portrayed and in that was the main point of interest of those
paintings.
The first coconut trees painted by her weren’t paintings, were lithographs.
As I said before, the relation between the painting and the lithograph is
intimate, because the image that is engraved is painted at the stone. When
I saw those images, I immediately thought of the poet Carlos Penna Filho, a
recurring character in this book: “Then adopt a stingy attitude / if you prefer
the color of the place / don’t use the more than the sun of your face / and a
piece of backyard.”
Olinda is a city with Portuguese architecture, where the houses are built
facing the inner part, the gardens are the backyards. This can be seen at
the artist’s homes, artists like Guita Charifker, Teresa Costa Rêgo and Maria
Carmem, where the backyards are cozy gardens. Liliane’s backyard as well
as Petrônio Cunha’s and Luciano Pinheiro’s are also like that.
The coconut trees became the theme of neo-landscapers that rooted
down here, as José Cláudio, Guita, Samico, Marcelo Peregrino, José de Barros,
Gil Vicente and Eduardo Araújo, a group that shortly after the setting up of
Guaianases created the Colletive Studio of Olinda, under the command of
Giuseppe Baccaro. Liliane is at the foundation of this tendency for her pioneer
drive along with José Cláudio and landscape designers.
To see the later art of Liliane, I determine that her passion for the
landscape continues. At her exposition called Deslocamentos37, presented
at the Art Gallery of CEMIG, in Belo Horizonte, you can see that passion. This
work is a dialogue between photography and painting at the involvement the
landscape incites.
It is about the landscape painting, or the details of the landscape,
inserted, photographically at the landscape. At the catalogue there is
an interview given to Patrícia França-Huchet, who provokes her with the
statement: The painting walks on and returns to the landscape. Liliane
comments:
My paintings don’t portrait a point of view over the
landscape, they are more of a construction that has its
starting point an internal referential that I shaped from
the place and that connected me to an ecosystem
that is much wider. The photographs establish a
confrontation between the landscape that is there
at the moment of the picture and the painting that
creates an image to an interior landscape that diverts
from the one that is dwindling.
The landscape painting matter is much broader…
Petrônio Cunha
Petrônio Cunha is an artist and architect that is really special at his praxis
and understanding of art. For starters, he is a drafts artist, the drawing as an
expression and the drawing as a profession, as an agent at the practice of
37
Displacement
urban equipment expressed by him as, for example, the city ornamentation.
I’m not saying that he doesn’t devote himself to the urban furniture design,
because he devotes himself to the furbishing in a more playful possibility
than a functional one.
Petrônio places himself at a place of the art production in which
definitions don’t matter much. Where the concept of Beauty still reigns,
but is also fundamental that this concept be adjusted to the concept of
Intelligence. When thinking about this book, some years back, Amelinha and
I went to his home for a talk. He offered a delicious dinner in the company
of Plínio Victor – a sculptor and archeologist - and Marisa Varela, painter an
potter, where we had a long conversation that was taped and from which I
transcript exerts below:
Modernism for me, my reference, comes from
architecture. It all begins at the 19th Century, right?
This thing that has to do with architecture begins with
cubism. I always did this counterpoint between fine arts
and architecture, because I come from architecture.
And that’s why I think things are like this: my biggest
influence, if I could say I have such an influence that is
so remarkable, is Le Corbusier. Because, you see, he was
an architect and he was an artist. He was a cubist artist,
as everybody at his time was, and at the same time he
was a graphic artist. He innovated the graphic design of
a magazine, of a book, of an archive, do you understand?
I was influenced by it, back in the school days, by the
images I saw. Because I didn’t have the concept, I only
had the emotional identification.
A few years back I’ve seen an exposition, over at the
Estate Museum, of Le Courbusier’s works (serigraphy he
produced and the reproduction of them), I’ve realized
that the origin was a collage, man! It was that thing of
cutting a piece of paper and gluing it. Then he came with
a thread of nankeen over it and that was the thing that
blew me away, because the indigo batik dyeingdrawing,
the graphics of it, overlapping the colors was cubist.
That was totally fascinating to me! I’ve realized that the
drawings looked like the blueprints of his architecture
project. That really happened.
Raul Córdula
You talk about handwriting. Calligraphy means
“beautiful writing”; calligraphy is more proper for drawing
then it is for writing. Because actually; drawing is a
register of your gesture. The calligraphy, I mean, the
word at a handwriting paper, is just that, it’s where you
discipline the gesture.
Petrônio Cunha
Because from that moment on it’s a word. I talked
about calligraphy. I said: drawing is calligraphy. Because I
really think that a drawing is calligraphy! I’m not drawing
words; I’m drawing a stain that will end up into a light.
Deep down that’s exactly it!
That fascination thing of smoothing the paper, of
depending on the paper. There are porous papers, others
aren’t; there are papers like these, papers like that;
ones are whiter, others are less white. I mean, all this
fascination for paper is proper of the drawer – because
the place or the drawing is on the paper, there’s nowhere
253
else for the drawing to be. So, that’s my fascination!
Let’s go back to Corbusier, to the tracing of his
drawing. There was a drawing – and I’m going to use the
word calligraphy again – that for me, who was studying
architecture, was a blueprint, looked like the blueprint of
a project. I spent years searching for my ink, because I
thought I was going to paint like him, because that was
what I wanted. I mimic him, copied him. I did all of that!
But then one day, when I began doing these clippings, I
was mimicking Corbusier. I’m not going to deny it! No, I
do the contrary, I affirm it. Then, I began reading about
Corbusier even more.
Read, research, search, search. Really search how he
did things, until I see it. When I saw the originals…man,
it was a huge deception. I imagined that all of that was
fruit of a painting and not from a collage. It wasn’t a paper
painted in pink overlapping an nankeen trace. When I saw
the original, I said: ‘man, I’d rather hadn’t seen it”. To have
kept that memory of a dream I had! Well, but that went
by, because I think it works like that: when we search,
we find.
Only years later, when I began to study, only then I
learned that he did things like that in a much dissimulated
way. At that time there was, I’m not sure it was in the same
period, but there was a Bauhaus reference. Everything
was dictated by Bauhaus, and he dictated to the entire
world. And we…well we believed and received. Then that
was it, we begin to vomit that Mario de Andrade thing,
begin to do anthropophagy. Pow! I’m going to get rid of it!
RC When did you begin to do art?
PC
I left when I finished my architecture
course, on the last year, when I won a prize, the DIPER
logo. I wanted to leave. Then I went to Brasilia, where I
lived for seven months beginning in 1969. When I got
there, the University had just been shut down. I went with
a recommendation letter, because there were teachers
that had come from Brasília, like Glauco Campelo,
Armando, Mônica, and Geraldo Santana. I have no idea
what was the difference between Geraldo’s age and
ours, but I think it was about 70 years! So: Geraldo was a
person to whom people talked a lot.
RC Among his tiles murals there is one that I
really like, but with a poetic more connected to a possible
practice from people, something different from the
others finishing. Is the one at the stair case in front of
MAC. I don’t see anything more inserted into the “popular
culture” than that staircase. Because it’s a beautiful little
set that anyone can do at home. Therefore is something
accessible, as it was at first the “pillar at Brasília”, to
many masterbuilders and as it is the “cobogó brick”
PC
Look, I like that work because: it was
interesting because it was something slapped together!
I cut the tiles; I’ve done myself, placed on the floor. Then I
called the architect that was some kind of chief and said:
‘let’s do like that because there are left over of tiles where
they were kept.’ I gathered some pieces and said how it
could be made. And they (the bricklayers) began doing it.
I said: Go on….do whatever you want!
And every day I passed by it. Then, one day when
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
254
they were half way done, the guy said: ‘mister, come
here! We have no idea of what else to do, what to come
up with.’ And that’s because they did it, I hadn’t done any
drawing. I said: ‘you look up and repeat, mend with that
other part and…you’re done!’ They were the ones who did
it! It was interesting because that caught my attention.
One of my friends, I have a very good reference of
him, said to me: adornment is not done like that. And I
said: that will only look good when it ages. Because that’s
how I think: when things age, and are already sacred,
than one can say if it was good or not, because nobody
is certain of nothing.
traditional title – whichever it is, the one of the cultural stone
and lime good – a modern vision of the Preservation theme,
foregrounded right after it by its comprehensive subtitle: “a
study about the preservation of the Environmental Heritage
of Brazil”, because this is the expression chosen when we
face Heritage goods in our days, not only as products, but
as arrays of significant social relations.”
In 1997, I wrote about Luciano in my book Fragmentos39:
The chrome prism of Lucian Pinheiro is composed
basically by blue, yellow, red and green. This quaternality,
in a way, is confused with the cardinal point in a reference
to tradition that says that North is yellow; South is red;
East is blue and the West is green.
Luciano Pinheiro
Luciano Pinheiro paints Olinda with no images, out of the visible
reference of reality that people are used to expect from a painter that
considers himself, among other aspects of his arts, a landscape painter. I
can identify with him on this matter, because I also keep an artistic diologue
with the landscape without being an outdoor painter, as the magister sand
the impressionists. In 2004, Marcos Lontra, a friend and a curator, wrotefor
one of my expositions a text that could be, with proper corrections, written
to Luciano, specially the following paragraph:
Raul Córdula’s paintings are landscapes of the
world, result of a long and elaborated technique that
allows the artist to build his poetic universe. Based on
colors and shapes from the real world he creates new
analogies, new languages, committed to the modernist
ideal determined by the conceptual clarity and by the
synthesis of the elements.
This quaternality complements, in a paradox, the
sense of circularity contained in this pictorial work
conceived by a point of view where the artist places
himself at the cosmic axis, observing the universe as if
it was seen from upside down the top of a tree, painted
around the canvas, becomes a flat support to the “figures”
that populates the fragments of his private universe.
The cosmic axis that gives instruments to Luciano’s
work is the same that people refer to in many cultures and
traditions. It’s the source of world’s apparitions, where the
shaman locates himself with his power animals. A place
outside of space and subjectively real, having its own
time, where the heart of the men live and from where the
“things” that surround us appear: the sky and the stars.
Luciano’s sky can be the wood hard surface – his
graphic work includes the accurate and permanent
xylograph practice – as well as the colorful surface of the
canvas. In another register, this sky can be located above
the earth, in the stars universe, as it was in the period that
he painted serpents that symbolically meant the cosmos.
Or as in his current work, all around us, at the magnificent
landscape that surrounds his studio/home at the puff of
tropical forest where he lives and works.
Even though my art is really different from Luciano’s, his delicate gesture
and his informality are incompatible to my geometry, but we are doing the
same thing. I have the opinion that all painting is a landscape; even a portrait
can also be a landscape.
Luciano’ paintings from the 70s are composed by a symbolism where
you can see animals, religious signs they are definitely landscapes, even
because in some of them the symbols are found painted on a landscape
background. I remember the set of works that granted him the prize at
National Hall of Fine Arts, from Funarte, which meant an honor to any Brazilian
artist, in which all of his paintings belonged to that period.
I met Luciano when I moved here in 1976 and made some common
friends through Diana Carolina, to whom I was married. From there came my
friendship with him and his wife, the architect Vera Milet; with Nei Wanderley
and his wife Marisa who is the sister of Adolfo Sérgio; with the photographer
Aderbal Brandão, with whom I was able to work in a project for Globo
Television – it’s curious to notice how many artists are also architects, as is
in the case of Luciano, Petrônio Cunha and Humberto Magno.
Luciano is a citizen who resists to public politics and to private attitudes
that violates Olinda’s integrity. He and Vera inch, invoice, research, suggest
and act towards it. Vera is the author of the book A Teimosia das Pedras – Um
Estudo Sobre a Preservação do Patrimônio Ambiental do Brasil38, edited by
the City Hall of Olinda through the FCPSHO in 1988 and gently illustrated by
Luciano. The book is about Petrônio Cunha’s graphic project.
On the book flap, Ulysses Pernambucano de Melo Neto defines the
author’s intention politically erudite and democratic in relation to the struggle
for the preservation of the natural or artificial environment – in this case what
good was made urban wise, as the old part of Olinda:
A teimosia das Pedras hides behind an apparently
38
The Stubbornness of the Rocks – A Study about the Preservation of the
Environmental Heritage of Brazil
West is green because it represents, at the time where
some traditions were made, the hope of a new world, the
big forest. Some alchemical texts say that the light that
the gold emits is green. Yellow is closest to the red than
to blue; and the green is close to blue. Red (yellow) is the
outmost circulating, expansive, sanguine, and animal;
blue (green) is its cold opposite, still, concentrated,
vegetal sap.
This is the stage to the events that happen at Luciano’s
canvas. Events we call “figures” – and not figuration – that
shape the world said as an “objective” with the purpose to
link art to the Cartesian truth – art and reality repel each
other. Figures are like geometric figures, shapes that are
alike at the color field, organism composed in space, signs
articulated with each other, that don’t represent a thing,
only exist by themselves waiting for a hermeneutist to
translate them.
Singularity Grounds – Plínio Palhano, Piedade Moura, Bete Gouveia,
Roberto Ploeg, Marcos Cordeiro, Lenine DE LIMA Medeiros.
39
Fragments
Singularity is an artist thing. I don’t refer to the hermetic
of new artists, of the contemporary where the motto “art is attitude” molds
itself to the new and smart path of today’s art. I refer, in this analysis, to
the ones from my generation, the introspective, the isolated from points of
view and definitions of art critics, or the ones that are far from their language
partners, those whose expressions are distant of any agreement. By itself
the word agreement cannot seem adequate when you have the sensibility
as raw material. However, this is what we deal with, us artists, all the time
in our lives, so we can exist normally. It’s not a behavioral deficiency, but a
proficient deficiency.
Plínio is a traditional painter, an observer of the visible reality, a
modernist, if he had lived at that time. He swells the flow where José Claudio
also reigns: the painting as it has always existed, the painted image from an
intimate window. for him I wrote some exposition texts, but I consider the
following one, written for an exposition of nudes and landscapes from Olinda
and Fernando de Noronha, the one who better translates my point of view:
This exposition of nudes and landscapes reflects
a painter who is passionate for what he does. Plínio
Palhano doesn’t paint by habit, he paints by passion.
Actually to me art is not a profession; however the
artist longs to live from it. Art is passion and also
devotion. The artist is a devotee of what he does.
And the painter, especially, among the artists, is the
one with most rituals. The painter carefully stretches
the canvas as an artisan, covers it with a base paint,
applies many hands of it – some use a handmade
base, made of rabbit glue and gypsum chalk, I have
painted like that myself when I first began.
So, some of our most active artists are or were like
that, as Plínio Palhano, Plínio Santos, Roberto Ploeg, the brothers Frederico
and Aprígio Fonseca Aprígio, the Dutch painter Roberto Ploeg, Alves Dias,
Humberto Magno, Izado Amparo, Jairo Arcoverde, Rodolfo Mesquita, Rodolfo
Aureliano and Ismael Caldas.
There are also the ones that are already gone, as José
Tavares, Lenine Medeiros, Roberto Amorim, Gim and Piedade Moura.
A white canvas is a dream land. On it the artist
plants his images, when he is an image artist. And to
do so, he doesn’t only dream, but he elaborates these
dreams panning them from some type of mysterious
memory that is found beyond remembrances, in the
soul’s core. So he begins to draw the canvas, now
or at his point ready for his sketches. To the layman,
sketches only represent the outline of the figure that
is going to be painted, but it isn’t, an “artist” sketches
are mobile and flexible.
Of course, the comments that follow are molded by the
lack of definition on the theme or its array. They are comments about some
of those artists with no ambition to quote all the ones that are part of the
universe I approach, which are the majority of the artists that live and have
lived here.
Plínio Palhano
Plínio is one of my closest friends. I admire him as an artist and also
for his talent as a writer. The curious thing is that someone who is a painter
and writer is not something rare in the city. João Câmara and José Cláudio
write with great quality. João is, for many years, a member of the Brazilian
Association of Art Critics. As of Zé Cláudio his books Tratos da Arte em
Pernambuco40, Artistas de Pernambuco41 and Memórias do Atelier Coletivo42
are importante research sources. But he has also written chronicles as Os
dias de Iudá43, about a trip to Benin, and Meu Pai Não viu Minha Glória44, a
summary of chronicles he has written for yearsfor the special segment of
the Diário Oficial (newspaper).
Vicente do Rego Monteiro was a graphic artist and a poet accepted with
great quality, he was even published in French. Graphic arts and literature are
cousins. Read the book Vicente do Rego Monteiro: Poeta Tipógrafo Pintor45,
produced by Paulo Bruscky with the participation of Edmond Dansot, Jobson
Figueiredo and Silvia Pontual (published by FUNCULTURA in 2004).
This is common in Recife, where Ladjane Bandeira, an important painter,
poet and art critic acted in the press from 1960 to 1980; Francisco Brennand
eventually publishes at Diário de Pernambuco, besides writing memoirs,
diaries, and exposition presentations; Wilton de Souza is the author of
“Virgolino – o cangaceiro das flores”, a very touching book about his brother,
Wellington Virgolino, among many others as Marcos Cordeiro, who I will refer
to later.
But Plínio practices his art chronicles at the local press, in both major
newspapers of Recife. Very resourceful painter, in the last four decades of
dedication to art, Plínio has been through many periods flagged by different
themes and techniques, even knowing that he was always connected to the
human figure and landscape.
40
Treats of art in Pernambuco
41
Pernambuco Artists
42
Memories of the Collective Studio
43
Iudá days
44
My Father hasn’t seen my Victory
45
Vicente do Rêgo Monteiro: Poet Tipographer Painter
255
The first paints prepared at the pallet follow
the traces that are on the canvas, but not entirely,
and begin to make the painting syringed by brush
strokes and crude textures, later, it’s riddled with
transparencies, covered and chromatic accords. All of
a sudden, the miracle: the work of art is ready and not
even the artist knew of this moment. And there you
have those impressive nudes: strong, erotic, painted
with subtlety. And these landscapes of Fernando
de Noronha and Olinda, painted with all the paints,
with all the strings, as Vasco Moscoso de Aragão
said, captain of Longo Curso. And yet, this navy bird
– Sulidae? Itchy? – that looks back as if to see the
marks of his road at the wind.
Piedade Moura
Piedade and Plínio Palhando shared a huge friendship. She was a
surprising person and a baffling artist for whoever lived here during the
70s/80s. She lived in Rio Doce, close to Plínio, to whom she modeled many
times. Piedade also nurtured a strong friendship with the gaucha painter
Maria Tomazelli (Cirne Lima) who kept a studio on Amparo Street during the
80s, where she worked nonstop through the whole year, when she came
here from Porto Alegre.
Maria is the author, among other works, of the lithograph album Mona
Lisa de Olinda edited at Guaianases workshop, about the carnival puppet
The Woman of the Day. I think it is important to remember that, before this
huge puppet publication, at the carnival we only had The Midnight Man,
The Woman of the Day and The Afternoon Boy. I don’t know, on reality level,
nothing as poetic as that, this bizarre family that represent the daily time,
the passing of the hours that reminds us the finite and invites us to join
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
256
utopia do olhar
carnival festivities before the time ends. Maria became one of the main
artists at her grounds.
that fatality. It was a day after Piedade Moura’s death.
Never again would I have the joy of her presence
Many stories are told about Maria and her generosity, one I like most:
when Maria arrived, usually during summer, her dog, in an explosion of joy,
ran around all of old Olinda, from street to street announcing the good news.
Everybody was enchanted by the magical happening.
I had the pleasure to write about her art at the Caderno C at Jornal do
Commercio in occasion of the exposition that she did at the Guaianases
Engraving Workshop:
Plínio and Maria helped Piedade a lot during her crises of deep depression
that ended up in suicide. Piedade’s painting during her last days of life, when
she attended Guaianases Workshop, where she did an exposition of matric
painting filled with a sense of tragedy, what revealed that she was at the
edge of a deep depression. The paintings warned about her fragile and
dangerous condition.
Palhano talked to me about his friend with a lot of longing and passion:
“I met Piedade during the 70s, at a visit that she
made to me because she had read my interviews.
Since then we consolidate a bond that remains alive
in memories.
Her laughter comes to my memory: wide, intense,
soundly. Her sparkly and bright eyes, of who liked to
read, to intensely talk, to live, to follow the best movies,
to go to plays. And there was Piedade: sometimes at
the backstage, because she was a friend of the actors
and because she had brothers working at the theater,
as Nilson Moura, one of the creators of Molengo SóRiso, and Gilson Moura; a family of artists.
Piedade was like that, intense. Everything she
did was like her painting: with strong pastes of paint,
colors out of the tube and delivered straight to the
support, with small interferences of whites and blacks,
to create shadows or enlightenments that came to
her minds, as the yellows that she liked to highlight.
She ripped the compositions with brush strokes, as
meteors, in a purposeful interference. Everything had
its value in her eyes. She saw things with her own
vision and let be led by the strength of gesture.
The gesture and color of Piedade Moura’s painting
Piedade’s painting places itself at a tendency
developed in Pernambuco and that has various
origins within the history of the contemporary
northeastern art, but that in her work one can find
the cervix. A tendency that goes to the pure painting,
full of liberty. José Cláudio’s painting certainly is the
slope of this tendency. I borrow from critics the word
“gesture” to classify it; although I prefer to use it in its
poetic meaning, even adding its technical meaning.
I would like to explain what “a gesture art”
suggests to me in order to settle some doubts:
drawing to me is the register of a gesture. The control
of this gesture is just the personal part, the identity
of the drawing. The control is the “mental thing”, to
which Leonardo referred to, that makes the gesture
something spontaneous, an expressive object.
This gesture has, in Piedade’s work, a result that
is essentially graphic, on trace grounds, not the color
stain. Here the trace builds the colored areas, the
color stains of a pictorial effect. And there is a lot of
color at this beachy graphism. There are modulations,
plane transformations, of landscapes and figures.
On a second moment, there is a parallelism
with Plínio Palhano work: owner of a brush strike
that is vigorous and visible, master of the explosive
modulations that Piedade admires and adopts in
a disciplinary way, creating the weird dialectic of a
burst contained at a rectangular shape. The stuck
flame; the immobile rain; the still wind storm.
We used to paint together in this vibrant energy.
Landscape, people, various themes. It was amazing
the way she faced the landscapes. She gave the tone
she wanted and as she saw it, with no worries with
the natural capture. In her head, there weren’t any
masters to be influenced by. Piedade’s painting could,
for example, be present at what we conceptualize
contemporary art, or better, contemporary painting.
She would be walking up close with the painter that
follows this path.
Engraving happened naturallyin Piedade’s
art, which was always graphic, but in a nervous
sense, temperamental, electroencephalographic,
cardiographic. The engraving is generous when it
multiplies the register of the artist’s hands. Piedade’s
art is more written (gestural) than inscribed (shaped,
planned, painted). She writes with her body, as
the rhythm of blood flow. The engraving matrix can
contain this relation of order and chaos in a material
technical way.
In this interlacing of friendship and work, I invited
her to pose for me. She agreed immediately. I’ve done a
huge series with Piedade as a model. This series blew
me away at each painting that was finished. They were
pictorial solutions that met, at times penetrating in an
abstract sequence, at times capturing shapes a little
realistic. But the goal was to give the exact point of
expression.
Marisa Tomaselli recent work, her new lithograph
album entitled Veredas, edited at Guaianases
Workshop reveals the mastership of a work
assembled in extremes between order and chaos.
This symbiosis is reached, at first, from an idea to
register the exerience of Olinda, a history of common
characters. At another moment, the synthesis is
verified with a technique dominated in this relation
of extremes.
On January 21 , 1984 I woke up at dawn and that
day, the sun rose with a golden color, with reddish
tones, with a feel of profound pain. I had the feeling that
I had lost someone so important that I could believe in
st
And there lies the third support point of Piedade, a
noticeable foundation to a work that directs her steps
through paths of multiple meanings, where she acts
as interpreter and character of the same comedy. A
people’s drama, used to the colored inequality from
the suburb neighborhoods (sources to a critic eye,
open field to a body sensible to gesture and color)
Guaianases Workshop, 1983
Marcos Cordeiro
I place my buddy Marcos Cordeiro, painter, litographer, draftsman and
spontaneous historian, as the fine artist who got completed when embraced
literature, especially poetry and theater. I don’t know all of his poetic work,
but Hai Kais to Rafaela, Capibaribe from the Sun, and Lucyd Shipwreck are
some of his writings that fascinate me. Especially once he is a man who
transits between the arid contry and the shore; expressing himself in both
ways.
I met him in 1975, when we shared prizes at the 2nd Hall of Global Art from
Pernambuco, in 1975, when the exposition of the works was set up at the
Casa da Cultura of Pernambuco for its opening event. In 1982, he gave me
shelter at his home-studio, at São Pedro Square, where I recovered from a
serious illness. Marcos’s house is a very significant place for me, there I met
Amelinha and we began our lives all over again. A few year later he became
our son’s, Cláudio, godfather.
Marcos is eclectic, at his visual creations he works with figure and
landscape paintings done by drawing or lithographs, but he walks through
different paths in each new technique he experiments. I really like his
lithographs that were printed at the Guaianases workshop, especially one
that portraits goats at his rearing in Sertânia. Another singularity is that he
embraces righteous causes when investigates Pernambuco’s history, the
libertarian struggles and the strife we had against Bahia. This search for
justice explains the dedication he has for others, every time I need him.
His literary production also reaches the art critic realm; done through
writings made for expositions and curatorship. At the catalogue done to
the exposition Collections from Brazil, produced by Banco do Brasil Cultural
Center in 2001, held in Bahia, where pieces belonging to three art museums
deployed by Assis Chateaubriand in the Northearst – MAC in Olinda, The
Regional Museum of Feira de Santana and MAC in Campina Grande, he was
the adjoined curator of Marcos de Lontra Costa.
He joins the group of artists who live Olinda from inside their houses,
who visit backyards, who know their neighbors history. He is a friend of
Marisa Lacerda and her sisters, Marília and Maritza, who also enjoy the same
way of life. They are all integrated with the community without caring for their
privileged artists titles. Marcos, Marisa, Tereza Costa Rego, Maria Carmem,
among other people, see friendship as an art form, despite of mood swings,
they don’t care about euphoria and depression.
Bete Gouveia
Even knowing that Bete Gouveia lived in Olinda, on São Francisco St.,
where also lived Delano and Roberto Lúcio and where João Câmara still
lives, she worked along friends who are part of this group of artists who live
outside of the Historical Site, as Plínio Palhano, Frederico Fonseca and his
brother Aprígio, and Piedade Moura.
Her way to express artistically aligns to the work of Frederico and Aprígio,
Renato Valle, José Patrício and Renato Lins.
She talks about when she lived at the Historical Site:
I’ve lived in Olinda for almost 12 years. It was a very happy period in my
life. My kids were born there and I had the opportunity of making good friends
and meeting great artists.
When I arrived, in 1982, I met the studio where Aprígio, Frederico, Eudes,
Plínio and Silvio Malincônico worked. There, at a small house by the shore
257
located at Rio Doce, I also took part in a collective along Renato do Valle,
Piedade (already deceased), José Patrício and Luis Carlos Guilherme (also
deceased). That was one of the first expositions I took part in, and there I
sold my first piece.
Around 1986, I joined o cooperative of artists that, unfortunately,
didn’t last very long. This cooperative worked at a mansion located at São
Pedro Square, number 190. We even did an opening with an exposition of
the group’s work that had the presence of Plínio, Eudes, Aprígio, Fernando
Guerra, Renato Valle and George Barbosa. I think the whole process to
erect the cooperative’s idea was actually longer than its running. But those
debates helped a lot, because we had the chance to share many thoughts
about art and life and it helped in my growth.
In 1988, I joined another group, along Eudes, Isa do Amparo and Fernando
Lins. We shared a studio on Amparo St. When it comes to the group, I think
that was the deepest experience I had and, I dare saying, the most important
one. That was because all of us were geometric abstracts, one a little stricter
the other not so much. This affinity highly contributed to my growth, because
we were together almost daily. We spent almost two years together.
At last, around 1994, I moved from there, because of a very unpleasant
situation. Someone broke into my house and took a lot of pieces; some of
them had material value, others sentimental value. That’s how, unfortunately,
my time in Olinda ended.
But the good memories erase this pitiful incident. I still have special
tenderness for this city”.
Roberto Ploeg
Portrait painting is not a traditionin Pernambuco’s art, the figure painting
is. In an article for the book, Relendo o Recife de Nassau46, assembled by
Gilda Verri and Jomard Muniz de Brito in 2003, I point out the remaining of
the Dutch painters Frans Post and Eckhout in the current realist painters of
our double-town. I specially point out the works of Brennand, João Câmara,
Guita and Zé Cláudio, related to the painting of Eckhout, Telles Junior and
Manuel Bandeira to Post. Theologist Roberto Ploeg came from Holand two
decades ago to, indicated by Dom Helder Câmara, to dive into theology from
Latin America. He says:
“I had already studied Spanish; I used to study
with Gustavo Gutierres, a Peruvian from Lima. Dom
Helder told me that there was a Flemish priest called
Eduardo Rosnart, who nowadays lives in Salvador, in
Alto do Pascoal. And he said that I could take a master
degree with his orientation. Then I came here, to Brazil,
because of that contact in 79 and I remain here until
today.”
Dom Helder’s replacement by Dom José Cardoso
dismantled the libertarian theology in Pernambuco, it was practiced here
under the scope of Dom Helder. But Ploeg didn’t give up on this place; he
became one of the painters with highest visibility today. He already had
some practice in Holland, but here he was able to get better to the level he
envisioned through courses that he attended at MAC in the 80s. Than he
became the professional painter he is today, an eminent portrait painter.
There is no way to not relate his painting with Eckhout.
His paint reflects the Flemish art of that artist’s days, as by its technique as
by the willingness to document the reality of the suburbs in Recife. But it is
in portrait, as he did at the exposition Capturados – Retratos de 25 Artistas
Pernambucanos47, held at Mariana Moura’s gallery in September 2011, where
46
Reading Nassau’s Recife Again
47
Captured – Portrait of 25 Artists from Pernambuco
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
258
he reveals his most interesting paintings. Ploeg painted the artists in a
defensive attitude, as if they were cornered by some type of dominant power,
something like the police or bandit harassment. The result is remarkable.
I’ve talked to him, about how I saw resemblance
between him and Eckhout. He agreed and said that I wasn’t the first person
to point that out, but that it is only a coincidence: he paints what he wants
and what he sees. He is not alone at this rescue of portrait painting. Marcelo
Peregrino also does it and some other painters have the same interest by the
visual reality and are also in the same search for it.
Julio Cavani, a journalist who presented the catalogue of this exposition,
talks about sources:
“Visibly and openly influenced by David Hockney,
the English artist who matches casual photography
to painting in works as Polaroid Portraits, Roberto
explains the photographic impressions (flash lights
and cut shadows) present in his canvas. Before
painting the artists, he took shots of them and used
the shots as straight reference to the making of the
canvas. Therefore, the camera has a determinant role
over the final result.”
The critic also makes references to his (artistic) consanguinity with
other artists, for example: Gil Vicente and Carlos Mélo, and because of it,
places him at the contemporary art circle of Pernambuco.
DELIMA
Lenine de Lima Medeiros lived his last years, when he assembled his
workshop at Carmo, actively participating at the cultural activities of Olinda.
He was an artist from Pernambuco who lived in Italy. There he was involved
in an intense artistic life, taking part at the Venice Biennial.
Lenine, as he was called before going to Europe, was a member and
Secretary of the Modern Art Society and has also taken part at the Collective
Studio of Arts and at the Cultural Popular Movement of Recife. In 1960 he
won the 1st and 2nd prizes at the Pernambuco State Hall, what resulted in
a scholarship in Europe. He remained there until 1980. In 1977 he held an
exposition at the Modern Art Museum of Rio de Janeiro and also at the 8th
Biennial of São Paulo. Lenine was a close friend of Ivan Freitas, the main
painter of Paraíba during the 50s who had lived in Rio. Ivan, who worked and
held expositions in Italy, where he met Lenine, talked to me a lot about his
friend.
At his last years of life, Lenine assembled a studio in Olinda, at Carmo,
and could actively participate at the city’s cultural activities.
He is missed by the city, as well as Piedade Moura; Roberto Amorim;
José Tavares; the Benedictine painter Emanuel Bernardo; Delano; Gim, the
lone draftsman; Bajado, Gina, Silvia Pontual and the weaver Michel.
The Eco Bar – Humberto Magno, Iza do Amparo and Jairo Arcoverde
The Eco Bar once was in the Praça da Preguiça during the 70s, at that
time there wasn’t a connection with Sítio de Seu Reis. Day or night, everybody
went there do drink beer and eat snacks, talk and enjoy the place’s bucolic
aura. I always went there with Diana, my wife at that time, to meet Humberto
Magno, along with his family, his wife, the painter Iza do Amparo and their
sons: Paulinho, who is currently an artist and signs his pieces as Paulinho do
Amparo, and Catarina Aragão, who is also an artist, singer and successful DJ.
There, always present were; Ney Wandeley and Marisa, Rodolfo Aureliano,
the photographer and architect Aderbal Brandão, Jairo Arcoverde and his
wife, the ceramist Betty Gatis; the physicist Gilberto Sá and Leda and many
other people from that times of scapeing and mismatches that were the
result of the political regimen to which we were subjects.
The Eco was like a refuge, a neutral territory that enabled us to fantasize
liberty. Many things happened there, stories were created, dreams were
lived.
profound irony and social and political criticism. I will talk about Paulo later.
Humberto Magno once heard the following dialogue between two
Rodolfos, the Mesquita, who came from Recife, and Aureliano:
I wrote, in 1983, Iza’s catalogue’s presentation in the catalogue of her
individual exposition at Macunaíma Gallery at Funarte, in Rio de Janeiro, a
place dedicated to young Brazilian artists. Follows an excerpt:
Rodolfo Mesquita to Rodolfo Aurelian:
Maria Luiza Mendes Lins (Isa) current work
reflects this rational behavior in a joyful and
strong way, because in her reason overcomes an
exasperated emotion. In a structural mesh as, for
example, assembling tiles, Iza’s compositions make
constellations of visual symbols of her own creation
that unleash a march of ideas always in search
of more breathable atmospheres at the set of our
artistic expression.
A world that is optic and less baroque then we
usually see in the art of Olinda, cleaner of rustles
that dull the message certainty or the senses
accuracy. Her emotion is controlled and it results in
kaleidoscopic effects. It’s sensible, but subject to the
strictness of numbers, of proportion and harmony. But
this geometrical stiffness isn’t definitive; it surpasses
its own limitations. The interspaces of the canvas
appear as expressive shapes, they result on the other
side of the question, at the negative. The symbols fit
as puzzles; there really is an induction to the search;
Rodolfo, what is a hippie?
And Rodolfo Aureliano, shoots:
It’s Punk, astrological and macrobiotic!
In a certain way the Eco Bar was the Cantinho da Sé from the lower town
and today’s Bodega do Véio.
Humberto Magno
I share some coincidences and partnerships along Humberto Magno. For
example: we both lived in Rio as kids and came back as teenagers. Another
one: we don’t paint human figures; we are “abstract” as people usually say.
And us both held expositions at the same gallery during the 60s, the Xico
Arte Interior, owned by Chico Careca, at the time that, in Recife, there was the
Galeria de Arte do Recife, that belonged to City Hall and was located on the
shore of Capibaribe’s river, in front of the Post Office.
Humberto showed his art for the first time when he was living in Rio
and studied with the engraver Misabel Pedrosa. She suggested they should
take part at the 1959 Hall, from the Brazilian Artist Association, entity that no
longer exists, held at Gloria Hotel. He was very well amidst over 30 artists,
some of them who were already famous at the time, asthe example of
Misabel: the academics Oswaldo Teixeira and Dimitry Smailovitch; Maria de
Loudes Firmeza and Raul Pedroza, among others. Humberto was, at most,
a teenager. Once in Recife he exposed along Helena Farias at the Ponte
D’Uchoa Gallery, in 1965.
However, his first individual exposition was held at Náutico Capibaribe
Club, with Adão Pinheiro’s presentation. The exposition at Xico Arte Interior
only came after that, with its brochure presented by Tiago Amorim and
himself. But Humberto attended many Art Halls, as the 25th Painting Hall of
Pernambuco, in 1966, and the Estate Hall in 1982, where he got the Telpe
Prize with a piece made of soda straws. At this same Hall his wife Iza also
got a prize.
Naturally Humberto attended many collective expositions, one of them
is important to note: Coletiva 73. Atthere were also present: Iza, Montez,
Rodolfo Mesquita and Ismael Caldas. The exposition was held in August 1973
at house at Olinda, as it was called the exhibition space owned by Baccaro,
on São Bento St., before becoming Olinda’s Collective Studio.
Humberto is an architect, he graduated in Bahia, where he left three
public buildings, murals with cement embossing, entitles As Fases do Sol48,
having 3,70 x 37 m. The first one was at the Northeastern Bank, and it was
destroyed. The other one is at the Management Center of Salvador and is in
terrible preservation state, painted in gray. The one at Feira de Santana looks
better.
He came to live here in the 60s, along his wife, (who) at that time was
the artistic painter, Iza do Amparo (Maria Luiza Mendes Lins), with her he
started a family of artists.
They bought and restored the house on Amparo St. where still lives
Iza, her daughter, the singer, DJ and photographer Catarina de Jah and her
son Paulo do Amparo, an activist and performer artist doing work out of the
formal systems. Paulo creates objects; he makes use of printing methods,
makes video art and street art, gathering material and languages in works of
48
Solarphases
with art: Maria Joana, fashion designer who created the customs to Baixio da
Besta – a movie from Cláudio Assis – and who currently lives in São Paulo;
Marisa, designer; Leonardo is a painter. Gil Vicente, the son-in-law, married
to Marisa, is photographer, editor and music producer, but art is his path in
photography.
Jairo produces art since he was a teenager, at that time he already sold
urban landscapes with multi-story homes. He began living solely by his
paintings at a very young age. During the 60s, at the peak of Ribeira’s Market
euphoria, he owned a studio with Ismael Caldas and his brother José Maria,
who today is a professor at the Fine Arts School at UFMG.
He got married to Betty Gatis in 1972 and they lived in Casa Forte.
Influenced by the master artisan Jeter Peixoto, the couple began to work
with pottery that Jairo practiced obsessively. He worked in all the services,
since the clay preparation until its burn. In 1980 they went to Caruaru and
Betty became a very prestige potter, as she remains till the present days. Her
production began to be sold in major stores and galleries. They built a house
with a pottery factory at Alto do Moura in Caruru, where they spent 16 years.
Leonardo, Paulo George and Maria Rosa, their younger kids, were born there.
In 1996, already with the family started, they came back to Olinda, where
she assembled a store to sell her family’s art, on Amparo St. This store worked
until 2006. Nowadays he lives with Betty in a beautiful home-studio at Janga
Beach, where he declares himself a person who has reached peace of spirit
and a maturity related to people and his art.
In his catalogue I wrote about it:
Even knowing that he left Olinda during the 80s, his connections to the
city go beyond family relations. Humberto built part of this utopia with his
ideas and attitudes. The “attitudes” is already accepted as an art component.
The artist isn’t seen by society as a weirdo anymore: the artist way of being
has been integrated to those of the regular mortals: Duchamp, in Rose
Celavi version, is currently a social pattern. The petticoat of Flávio Carvalho
doesn’t bother anyone anymore. Antonio Manoel, nude, climbing down MAM’s
staircase in Rio, nowadays, would be nothing.
There is something special, something magic,
when you arrive at his house in Janga beach, where
there are, maybe, hundreds of pieces. A collection of
extreme purity and great importance to our culture,
our imagery, our intangible world where the signs
inhabit – shaped as weird beings, figures, animals,
living landscapes – made up in his incredibly
unsettling mind and shaped within the canvas, in a
fine painting, elaborated with erudite refinement, but
full of a revolt, so well owned, that reveals his being
made of liberty.
The attitude of artists that, as him, assembled their studios in Olinda
were, at times, as in Ribeira’s case, object of bigotry of some conservative
residents, as we have already seen.
At first we are at the garden of a bourgeois home,
but soon we notice that that is not any garden. It’s
composed in the colors that later you see on the
canvas. At the cozy porch, we begin to see painting
and we twist our look to the right were the studio
and the pottery factory rest, conjugated to serve the
couple’s work. in the first room, there is the music
source, with Mozart and Beethoven. And the inner
spaces of the house are covered with painted canvas.
Besides them there an old dresser that holds canvas
rolls, with no chassis, a real treasure.
Humberto’s art is essentially geometrical. In Bahia he was still exploring
the organic shapes: memories of the human figure, in compositions that he
could make tridimensional as the three murals he left there were. Another
Excellency period was the series of landscapes painted in gouache.
Recognizable landscapes, although geometric. It’s the squares period,
better, the mosaics composed of square mesh, as the one assembled at the
tile wall. During this period the study of color is exacerbated and becomes
compulsory.
Jairo Arcoverde
Jairo Arcoverde has given me the honor to ask me to do the curatorship
of the magnificent exposition he held at the State Museum in 2010, an
anthological exposition. Jairo is an artist whose work I met way before
meeting his “unique figure” – I borrow the expression from the poet Augusto
dos Anjos: At an old bench at Varadouro, in João Pessoa, there was one of
his paintings, a huge one, it covered almost the whole wall. From time to
time I went there to look at the painting and always got amazed facing that
unusual object in an urban environment so formal. When I met him in person
I didn’t find it odd. He was just like the painting: unusual. God keep him that
way.
It’s interesting to notice the large number of families of artists that are
around here: homes where art is the family business for generations. That
happens with Jairo. There are five brothers in his family; three of them work
259
João Câmara e amigos
I’ve known João Câmara’s generosity from a long time back. Way before
the “gift” that he gave to artists by making available his lithographic material
to everyone who wanted to use it, at Guaianases Workshop. I remember that,
way before, in 1961, we assembled an exposition in João Pessoa, at Cultura
Francesa49 - that was the name of Aliança Francesa at that time – gathering
young artists from Recife and João Pessoa.
49
A French course.
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
260
João Câmara, José Tavares and Delano brought the art pieces by bus.
João carried Reynaldo Fonseca’s canvas on his lap, respecting its delicacy. In
João Pessoa, the art pieces by the artists from Pernambuco, which included
Roberto Amorim, got mingled with the ones from Archidy Picado, Breno de
Mattos, the poet and sculptor Ademar de Barros and mine – in 1965 I tried
to retribute the pernambucan kindness assembling an exposition of artists
from João Pessoa at the Ribeira’s Market.
where a Zeppelin, shaped as a fish, flies over the Sugar
Loaf in Rio de Janeiro: a post card scene transformed
into an imminent tragedy.
Still on the generosity, the curator Jens Olesen, who took João’s work to
Berlin, Oslo and Helsinque, refers in the book as follows:
“I’m never going to be able to thank
João enough for the painting he did of my
daughter surrounded by tulips. It was just
what she needed when she was suffering
with a throat cancer. This special canvas
has such an effect over her that I can’t even
describe it, but that helped to heal her sores
and illness.”
I visited him some times at his studioon Coelhos St. where I remember
hearing Ella Fitzgerald singing Cry me a River, along Oscar Peterson. Later,
I came back to learn oil painting techniques that he, on the other hand,
had recently learned with his supervisors: João descends from artists that
supervised and oriented other artists at the Fine Arts Free Course School at
UFPE, as Laerte Baldini, Fernando Barreto and Vicente do Rego Monteiro –
there were others.
At the same classes were also José Tavares, Ypiranga, Jairo Arcoverde
and others who had the same creative vigor. On a given day he invited me to
his family home, to see the studies he did in his classes. And there was it, on
to top of a wall, a canvas by José Tavares dressed as a buffoon (because in
these classes people learned to paint using real models, what João did with
mastership and personality). I’m talking about these facts moved by the book
that I once more read: the one from the exposition Duas Cidades50 shown at
the Pinacotheca of the State of São Paulo and at the National Museum of
Fine Arts in Rio de Janeiro.
Besides being a painting Duas Cidades was a tribute: and anthem to
the conviviality and courtesy. I’ve always shown interest by the theme and I
usually use the expression “double city” to name this conviviality of people
and interests. I had already made some allusions about it at a text about
Tereza Costa Rêgo:
Contemplating the
view of Olinda from Limoeiro’s Bridge, at the spot
where is better seen, at the urban landscape of
Recife’s point of view, crossing the Capibaribe toward
the “drowned” ones. At this no-men-land, where many
Dutch soldiers lay buried, killed by Portuguese, black,
caboclos, in attempts to make the city something
almost unattainable, we catch ourselves proud of the
past, mixed races that we are.
Then one sees that cities have souls, and the soul
of the cities is as the weave of a tapestry, of which the
streams are the histories of the people at the various
times and under many interpretations. Only the artist
can deal with it. Onlyhe can see this web, the exact
moment and the right trace to move the emotions of
the world.
Emanoel Araújo’s poetic rehearsal, which opens the book, synthetizes a
split that exists between the two towns.
Olinda looks remotely to a Recife that sees Olinda.
Another relation that I make between Tereza and João is among the
pieces of Graf Zeppelin and Tereza’s Flying Ox. Both are flying objects, both
are enchanting, both dominant. At another register, I quote Brennand writing
in the catalogue of José Barbosa; Naturezas Vivas:
Barbosa’s canvases have a shadowy and diffuse
light that is intensely personal, to the point that,
sometimes, causing a certain fear; as if something
catastrophic was coming. It was observed at a painting
50
Two towns
I can’t add anything else on the analytical point of view at the quoting
of an artist of a broad critical fortune as is João Câmara. But I shall talk
about how I see him related to his influences and interventions at the city
that owes him so much; in fact acknowledged by his admirers and by his
fellow artist who are opinion leaders of a tendency of figurative painting that
prevailed as Avant-guard during the 70s.
Delano
One of his closest friends, that ended up becoming his studio neighbor
on São Francisco St. was the painter Delano (Franklin Delano de França e
Silva), who left us prematurely (1945 – 2010). Delano was artistically oriented
by Abelardo da Hora, Wellington Virgolino and José Cláudio. From there comes
his confident drawing and his humorous and sometimes sarcastic way to
represent himself graphically.
His closeness to João Camara reflects this affinity in the irony of his first
works, and later, in the intense painting Camara developed and (ended up)
influencing a group of artists at a young age. In fact, Camara’s art fascinated
the young artists from 1960’s to 1990’s and still fascinates his public due
to his strategy that allies technical rigor and intellectual freedom in the
approach of bold themes, social taboos, and political analysis from the
severe perspective point of criticism and morality.
João was the leader of Ateliê + 10 and Delano followed him, along
Anchises Azevedo, Montez Magno, Wellington Virgolino, Maria Carmem and
Liedo Maranhão. Delano was the model for the painting called Tiradentes
and also painting assistant at João Câmara’s muralfor the Independence
Memorial, one of Oscar Niemeyer’s works in Brasilia. The affinity that exists
between them is defined at this exert of the presentation that João wrote for
Delano’s exposition held in 2006 at MAC – PE, his last show:
“Now, filled by years and ready to receive the rare
respect from the emerging youth and to distribute
and give back, symmetrically, his grouchiness and
reservations, Mr. Delano keeps painting canvases, a
thing he began doing around the 60s. That was a time
where this country went into that Saturnius solstice of
lead and crap, of war and mental confusion, of money
to some and death to the good natured economy
to almost everyone, not to say that there still was,
above and below, all around, let’s be honest, the
counterculture and all its stratum and extracts, fluids
and smokes.”
At this exposition what was seen was the work of a full artist, mature,
who witnessed the historical passage that Camara talks about. Câmara’s
art was observed four decades ago when the art critics in Rio – São Paulo
defined him as the creator of the School of Recife. They wanted to nominate
like that the figurative that was practiced here, where João Câmara stands
out with distinction.
Since modernism our art already differed from the art found in the
Southeast. That’s why Gilberto Freyre’s controversy, very misunderstood, had
during his life when standing for something obvious: we are neither Rio nor
São Paulo; even less Amazonas. Even worse: we aren’t Venice or Amsterdan.
This identidy reclaimed as Recife’s School is something common to almost
everybody: from Samico to José Cláudio, from Delano to José Carlos Viana,
from Tereza Costa Rêgo and Maurício Arraes.
Delano misspent art of excellent features throughout all of his life. The
catalogue from the exposition shows at the same time and within the same
space his fierceness and amenity, his generous eye towards life.
Roberto Lúcio
Roberto Lúcio also approached Câmara at his early moments as a
painter. He came from the drafting graduation at Fine Arts School. For a long
time, he also lived on São Francisco St., in front of Câmara’s studio. His first
paintings reflected the same relentless look over the figure. His series of face
profiles, widely known, that he did in painting and serigraphy prints, shows
his proximity to the figurative of the time known as Recife’s School. But it
didn’t last long.
Roberto found another way from his aesthetic experiments and from his
personal contact to the industry and Printing Press arts. In the industry, he
made fabric prints at the same factory where Maria Carmem used to work.
At the graphic arts, he was designer of company’s identity signals and signs.
What we vulgarly called logo, at his time – our time, because I also did it –
was done without the electronic help there is now: our instruments were the
compass and the square.
Roberto became an artist with a European carreer, with expositions and
collectors mainly in Germany, where he made friends among great artists, as
the Iranian who lives in Berlin, Ackbar Beckalan. I attended a workshop with
both of them, in 1988, in São Paulo, invited by the curator and painter Dieter
Ruckhaberle that joined 16 Brazilian and German artists, at the annex of the
Pavillion of the Biennial of São Paulo.
Roberto’s art nowadays is very far from Recife’s School, but it is not far
from his culture and his everyday life. Roberto observes his surroundings
and changes it. His last exposition shows him extremely graphic, gluing
huge press sheets: billboard sheets, for example, in big compositions that
decode the urban environment, the downtown.
Roberto Lúcio is Marina Mendonça’s father, she is a contemporary artist
that manifests herself through pottery, but she has already experimented in
various materials. She lives on Amparo St., the typical city street that is the
address of studios since the 60s. Her studio-home is on the ground floor of
the house where her father’s studio occupies the second floor. At this same
street also lived Maria Tomaselli and Humberto, and where Tereza Costa Rêgo
and Vilanova still live.
José Carlos Viana, José de Moura, etc.
Another close friend is the painter José Carlos Viana, a mix of artist
and polititian, also a doctor, but actually really dedicated to art. A brilliant
draftsman and painter, Zé Carlos Viana was ahead the fundamental
institutions to the culture of Olinda and Recife, as the Contemporary Art
Museum and the Secretary of Culture of the State.
His acting as one of the heads of Guaianases was one of the responsible
people for the agreement made with UFPE, which guaranteed its active
261
preservation, that is, with its equipment and its running, its stone collection,
machinery and artistic collection. The architect Antenor Vieira de Mello, at his
speech in this book, refers to this fact with more details.
On this list I can’t forget about José de Moura, painter that maintains the
technique and way of painting usually used during the 70s, and the imagery
of an artist who looks to the past in a dreamlike and poetic way. He was one
of MAC’s professors during the 80s.
Olinda and the landscape painting
Its speculated that José Cláudio, in the 70s, reinvented the landscape
painting at the northeastern modernity and that this was made here, in
Olinda. Starting from his fast painting and the smartness of his eyes turned
towards our lights, panoramas, our backyards filled with colors and textures
and the objects that constitute thesebackyards: the trees, fruits and even
the birds. I said that that was the case, but I add that this pioneering comes
more from the point of view of his style, that became a painting model;
because the practice of landscape painting in Olinda been diffused for a long
time.
His landscapes reveal his pictorial processes in canvas that don’t have
beginning or end: they are the pure record of his sensibility and gesture. That
is the reason one can say that he has created his own way to translate the
landscape to the eye of the contemporary man.
But at Gilberto Freyre’s book Olinda – 2º Guia Prático, Histórico e
Sentimental da Cidade Brasileira, published for the first time in 1934, professor
Edson Nery da Fonseca, who gives his comments and actualizations for
the 6th edition, from 2007, refers to Franz Post landscape with Olinda’s
shore landscape – that he made to illustrate the Barleus’ book as the first
landscape record of the city – and in the same book he refers to painters
previous to Ribeira’s Movement, who also painted Olinda:
“Beberibe was also painted by José Teles, the great
landscaper from Pernambuco,in canvas that you can
still see at the State Museum, in Recife, where you can
also find one of Carmo de Olinda’s oil painting and a
water color from the old Monastery. There are paintings
and drawings of Olinda made by modern artists: Fédora
do Rego Monteiro Fernandes, Cícero Dias, Joaquim
Cardoso, Mário Nunes, Luis Jardim, Percy Lau, Augusto
Rodrigues.”
Another landscape painter prior to the Ribeira’s Movement was Rubens
Sacramento. Tiago Amorim gives us a testimony where he shows the quality
of this artist at the technical realm of painting:
So I went to visit Master Rubinho Sacramento,
because his son had a health problem and, all of a
sudden I learned that they were really humble and
true people. A big poet and a very sensitive person
who painted nature and tried to do things linked to
creativity, art…And after that (after the visits Tiago did
to him), he taught me all the technique of oil for canvas,
using calcium carbonate and carpenter glue as base,
the correct way to prepare a canvas. He did it with
such tenderness.”
Going back to José Cláudio: his art is not limited to landscape, he paints
about everything and his drawings appoint his world in essence observed,
where objects are complete with no need of useless details, as chunks of
ideas transformed into signs. He is a powerful draftsman. One time Gastão de
Holanda told me something about one of his drawings: “although it’s made
with only one continuous nankeen line, looked as colorful as a painting.”
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
262
I never forgot that. I learned by that observation how art could go beyond
its technical limitations and reach the dimension of something new under
the sun.
It’s emblematic the famous episode of the native indian wounding
a parrot with an arrow, which he painted for a man’s request, at a village
close to the Amazon river, when he escorted Paulo Vanzollini in a scientific
excursion in the 70s. When he received this canvas as a gift this man got so
overwhelmed that he offered a gun still inside its case as a gift – Zé Claudio
balked – that was certainly the most precious object he possessed. This
case revealed that for him the painting he did could make the regular man
happy: it was just like an epiphany, a revelation, a sacred happening.
colonial monuments; Alberto Simões, elegant painter who is essentially a
landscaper; Plínio Palhano and his pictorial eclecticism where the landscape
has a special place; Maurício Arraes, unique artist who paints landscapes
inhabited by figures in perfect harmony; Luciano Pinheiro the great artist,
and abstract landscaper; among many others.
The distinguished Alberto da Veiga Guignard, from Minas Gerais, painted
Olinda without coming here. At Guia Sentimental51, written by Gilberto Freyre,
his commentator Edson Nery da Fonseca adds this story:
“One of the greatest Brazilian painters was Alberto
da Veiga Guignard (1896- 1962), from Rio de Janeiro.
Descendent of French and graduated in Europe,
Guignard was a professor and painter in Rio de Janeiro
and Minas Gerais. In 1943, at a very difficult moment of
his life, he became a guest in of polititian Antônio de
Barros Carvalho, at his beautiful mansion on Rumânia
St., between the neighborhoods of Laranjeiras and
Cosme Velho.
The man placed the painting at the window of his house. Zé availed
himself from the moment and painted the man’s house with the painting at
the window. This canvas, along with all the other that were done during this
excursion, is part of the collection acquired by the State of São Paulo and
can be seen on a wall of the Bandeirantes Palace, among dozens of canvas
signed by him that make this collection integrated to the precious collection
of the Palaces of the State of São Paulo.
It’s possible that, when he asked his guest to
paint the ceiling of the dinner roomin his home - with
nine quadrilaterals made through wooden beams that
support the flagstone, Barros Carvalho may have been
inspired by the ceiling of the churches of the Third
Order of San Francisco, made of wooden crates painted
with scenes of the sacred story. And he managed
to do get his guest to paint Olinda only based on a
map, photographs, and information. Guignard painted
Olinda by using oil directly on the flagstone and even
adorning the beams with flowers, volutes, shields and
other elements. They are nine panels measuring 580
x 410 c’’.
He told me once that this fact changed his painting, because he began
to take as starting point for his work the satisfaction of the other. He began
painting for another person, searching what is left of pretty and joyful on
the gesture of painting freely, with no aesthetic strictness, the life that
surrounds us.
José Claudio also interacted with the work of various artists, not only
as a master, but also as journey companion. Plínio Palhano was one of
those artists; he painted with him in various journeys going through various
phases of his amazing painting. Plínio’s landscapes have his brand today:
Olinda and Fernando de Noronha are his favorite places to paint. Another
friend and disciple is Fernando Areias, a vigorous painter that has a dense
texture who also uses the same motives – birds, fruits, landscapes – but
in a larger scale, where the image of the bird takes the a whole canvas, for
example, measuring 100 x 080 cm. I also quote Sandro Macial who was his
helper at the studio and who today is a painter who lives off of the selling of
his canvas.
At this team of landscape painters is Francisco Rebolo, from São Paulo,
part of the Santa Helena Group, that came here to paint Olinda, going up and
down slopes, escorted by José Cláudio and helped by his son Cláudio Manuel,
who also became a very good painter and started to sign his canvas as Mané
Tatu. The sight of Recife seen from the Misericórdia slope is really well known,
this angle was revealed by José Cláudio. Eliezer Xavier, the brilliant painter
from Triunfo, painted many times the houses of Olinda. Ivan Marquetti also
came here from the historical town of Alcântara in Maranhão to shape our
beuty, he is a very competent painter and he is Guita Charifker’s friend.
We could also talk about many other landscapers from Olinda, as for
example: Maria Tomaselli, an artist from Rio Grande do Sul who bought a
houseon Amparo St. and worked at her studio and at Guaianases Workshop;
and other enthusiasts of landscapes as the water colorist Petrúcio
Nazareno, who softly draws the city profile; Thiago Amorim, who painted
Recife’s panorama seen from the window of his old studio at Alto da Sé and
the naïve painter Zé Som, who between the 70s and 90s painted “energetic”
landscapes fom the same angle as Tiago did.
I also summon Liliane Dardot, to whom I dedicate a vital piece of this
book; Humberto Mago, pioneer artist of modernity here; Antenor Vieira
de Mello, landscaper outside of painting who ally found objects with the
possibility of landscape and memory; Tânia Carneiro Leão and her landscapes
located in spaces outside of time; Tereza Costa Rêgo painting Olinda as she
sees it from her own window as well as Bajado did; Maria Carmem, at her
dreamly series; Leonardo Filho, distinguished documentation painter of our
But the landscape painting is not a privilege of the academicals or
modern painters with their intellectual creations. There are the naïve painters
that here make a living treasure of our popular culture. They are landscapers
as, by the way, are all the naives in the planet. Here in Olinda we have Vila
Nova, Calazans, Zé Som and Rubens Trindade as the most known ones.
But nowadays we also have Edson Carvalho, Marcelo Lima, Kátia Ondina,
Elizângela das Palafitas, Shirley Lins, Inge do Amparo and Paulo Perdigão.
Collective Atelier of Olinda
During the 50s it was created in Recife the Collective Atelier (in French
writing). It was created by a group of artists comprised by Abelardo da
Hora, Gilvan Samico, José Cláudio, Adão Pinheiro, Wellington Virgolino,
Ionaldo Cavalcanti, Clarisse Lins, Armando Lacerda, Wilton de Souza, Marius
Lauritzen Bern, Ivan Carneiro, Ladjane Bandeira, Bernardo Dimenstein, Guita
Charifker and Genilson Soares, among other celebrities of the art realm
in Pernambuco. The Collective Atelier didn’t stand out for the landscape
painting, its orientation was the drawing and the figure painting in a modern
perspective, but essentially figurative.
In the 80s, another group created the Colletive Atelier of Olinda, its name
paid homage to the one in Recife. The Atelier of Olinda was proposed by
Baccaro, as a way to unite a group of friends to paint outdoors. To exhibit the
painting journeys, Baccaro allowed that his exposition space was used, that
was located on São Bento St., a place where for decades was seen important
expositions sponsored by him or by City Hall, as it was in the case of some
versions of the festival Olinda Art Everywhere.
He really is a very original landscaper, being by the inherited chromatism
51
Sentimental Guide
from his Italian province, where the earthy tones overcome the place’s
luminosity, or by the protest feeling the pops out from his paintings when he
register landscapes that are threatened by urban development.
Besides him, is also part of Atelier of Olinda: José Cláudio, Gilvan Samico
and Guita Charifker, former components of Atelier of Recife, Luciano Pinheiro,
Eduardo Araújo, José de Barros and Gil Vicente. All of them have painted
Olinda, its surroundings and other places to where they went to, usually in
group. Eduardo Araújo went beyond. This important painter, initiated at the
landscaping métier by Guita Charifker, surpassed national limits and lived for
some yearsin the South of Italy, in Ostuni, a Drindisi province, painting olive
groves and engraving wood.
The “Atelier” example developed on the next generation, their kids and
aggregates, the taste for landscape painting. From them rose: Marcelo
Peregrino, Samico’s son and his most truthful disciple; Mané Tatu, José
Claudio’s son, marine, mangrove and sea animals painter, a powerful
landscaper; Matheus Baccaro, Giuseppe’s son, distinguished realistic painter
who specialized himself in rural panoramas as the sugar cane plantations
and Sandro Maciel, whose art initiation was a result of his work as José
Claudio’s helper at his studio. There you have the new landscape painting
of Olinda.
Gilvan Samico and Marcelo Peregrino
It’s important to highlight Gilvan Samico’s acting as a landscape painter.
He was always a painter, but until this point his painting was inserted in the
imaginative context, related to the poetic and mythic Liberec tradition of his
engraving.
But Samico’s landscapes are pure painting exercises: disperse of style,
free from norms and aesthetic senses predetermined by his own work. This
great master humbly paints what he sees and by that enchants the most
demanding eyes.
Marcelo Peregrino, despite of the deep connection with his father, acts
beside his friends of the same generation, as Álvaro Caldas, Antonio Mendes,
Sandro Maciel, André Valença, Armando Garrido and Fernando Areias. They
all are spontaneous painters, nowadays matured and owners of their own
characteristics and styles, that have at Espaço Sobrado, on 15 de novembro
St, the Peregrino – Garrido Art Office, with the partnership of the painter and
collector Antônio Garrido.
I wrote about Marcelo’s art in the catalogue for the exposition he held at
São Francisco Monastery in João Pessoa:
At Samico’s studio, Marcelo’s work mingles
with the landscapes that are seen through the East
and west windows and integrate to the landscapes
painted by Samico. For me, it’s impossible not to talk
about the father’s work when I’m talking about the
works of the son. Not only for the hierarchy, but also
to remember that here are landscapes, figures, still
natures and flowers still being painted. And it is done
with a rare and categorical propriety, as Samico has
always done. Marcelo is one of the best examples of
this tradition. To talk about his work is to talk about
this practice: this city’s way to be, where the artist
has nothing special. He’s like common people walking
around as any citizen and shares his knowledge with
all.
Samico told me: “I have seen a lot... this painting,
for example, reminds me of Raoul Dufy, with his
splatters of color and the brush strokes on top of it,
defining the theme.” I answered: “too bad that Dufy has
263
never looked through one of Olinda’s windows.”
Marcelo Peregrino’s painting is an everyday
painting in both ways that the term means: daily,
because it’s present in your day-by-day, and
thematic, because he paints the day-by-day of the
city. Landscapes are seen from any angle of this town
of slopes surrounded by the sea with Recife in the
background. The view of Milagres beach with the mole
stones in the foreground and Recife’s port in the back
is emblematic. A visual dialogue is established at the
metallic structures of the port opposing the stains of
clouds and sea. It escapes the same old picture found
in postcards. It’s another point of view, sharper, to the
base level of the ground.
Among really competent family pictures – of his
son Daniel and his wife Joziane – is Samico’s, a lesson
to see and an exercise of knowledge Marcelo has been
dedicating himself to painting portraits and does it
with the same competence as he paints landscapes.
The nudes, where traces made with brush begin to
dislocate the pictoric matter are exercises of freedom
that takes us to the group of figures where these
traces dance over the stains of color.
Among the works of this exhibit, there is a curious
diptych painted in four hands, a sight of Peixinhos
Butchers House, an abandoned construction of
English architecture. The left wing was painted by
Marcelo, the right one by Samico. Besides being the
engraver worldly known, Samico is a painter of high
quality. He reinterprets in the painting themes of his
xylographs and does, in parallel to that, landscapes
painted outdoors. At this diptych, Samico’s side is
sober, charcoal; Marcelo’s is vibrant, brushed. At the
top part, determined by perspective, where it fitted
a sky blemished in white, Samico drew an ox with
his brush, as if it was the soul of the oxen that were
butchered there.
There’s a lesson of some things: seeing, feeling
and doing. An ode to beauty where one can imagine
how something we usually don’t perceive can go
into an artist’s eye, go through his soul and his heart
and get out through his hands to get attached to the
canvas.
To talk here about Samico’s work seems useless to me at this moment
when we so close to the release of the book that Weydson Barros wrote and
published last year, 2011, comprise all aspects of his grand work. What I need
to get off my chest, however, about this artist and friend is that he is the
most generous person I know.
At his home’s room full of his paints and engravings, by Marcelo’s and a
few other artists, accompanied by Célida and Luciana, Amelinha and I taped
this conversation:
AMÉLIA COUTO – Samico, here you are, Célida, these wonderful sons
that Luciana and Marcelo are, and also the grandchildren, who make this
artists family. I would like you to talk a little bit about this encounter, I guess
cosmic, of you two: the master and the sacred monster.
SAMICO – I have already said something about this when I went to São
Paulo, her going there later, what do you want to now that is more secretive?
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
264
AC – If you allow me... You are a very beautiful couple, aren’t you? How
long have you been married?
CÉLIDA – 52 years.
AC – 52 years, that’s beautiful...
S – Well, there was I in São Paulo when, all of a sudden I hear an
announcement that Célida is being transferred to Rio de Janeiro. I never
resigned here; I was working at a City Hall in “no mans land”. I had a person at
IPSEP who could get anything for me. When I said I was thinking about taking
some days off, he said that it was a discharge of 3 months: payed discharge
for cultural ends. Well, naturally this discharge began to end, but nothing
really different happened. I said to Célida: ‘tell me the day you are coming and
I’ll wait for you at the airport’. And that was the very same day that we went
back to São Paulo.
at the same age, they really look alike and also raise the question of having
dance in the veins.
C – And Luciana also makes beautiful drawings. She has painted. The
problem is time, isn’t it? Matheus really can draw. I remember he worked with
me and kept drawing compulsively. All the time he did it. Now he is working at
a place where they do LP covers. He is taking his masters in History.
Eduardo Araújo – Olinda and Baia Formosa
Eduardo Araújo, landscape painter, was born in Recife in 1947. He
spent his childhood in the Zona da Mata of Pernambuco, where he built his
visual repertoire that later he used in his paintings. He graduated in mine
engineering and his internship was in London, he began painting in 1975.
S – Was it long after São Paulo’s Biennial? I shorten everything because
my memories don’t hold it all.
Frederico Morais says about him, in the catalogue of Fernando de
Noronha – 3 Visões: Autodidata em arte largou tudo para dedicar-se à
pintura. Pintou o litoral, o sertão, os animais e a vegetação, o casario e o
equipamento rural.52
C – I stayed in Rio. I lived at a boarding house, in a rented room, only
for girls, guys weren’t allowed even inside the house. The owner was a lady
from Minas Gerais. And every day that he arrived there at night he whistled,
“papara papapa”, a piece of “Cherazard”.
He took part in the Collective Atelier of Olinda during the 80s, with
Baccaro, Zé Cláudio, Luciano Pinheiro, Samico, Gil Vicente, José de Barros and
Guita, from whom he got some pictoric orientation. He held many individual
expositions and participated in important collectives.
We went to Flamengo, sat at the benches. I was tired to death because
I gave six hours of dance classes every day. He wanted to walk and I wanted
to sit still. That’s how we functioned. After that I had a friend in Copacabana,
she was married with a close friend of mine. Both lived in Copacabana, in an
apartment. She was wonderful, and all of my money went to the dance, to
buy my dancing gear and the apartment.
He spent some time, beginning in 1994, in Ostuni, in the province of
Drindisi, South of Italy, painting and engraving in wood the local landscape of
centennial olive trees and rocky beaches, totally different from the luxurious
flora from here. In 1997 he rented a home/studio in Baia Formosa, at Rio
Grande do Norte, where he decided to spend three months living along the
fisherman of the village, totally dedicated to painting.
I didn’t even have money for lunch. Really. I ate kibbeh with tomatoes, but
people fed me. I couldn’t because I danced a lot. This friend and her husband
were transferred over here. She was with a little daughter and asked me to
sleep with her over there, to help with her newborn baby. When she organized
herself to come over here she said: Célida, this apartment, we can talk to the
landlord and pass it over to you, you know?’ Said and done. Samico moved
from his cousin’s home to this apartment, we lived together for some time
and then we got married.
He confesses, in this testimony called Diário de um pintor de mares53,
and epiphany given to us by a sensible soul. A jewel:
C – No, there I stayed at my friend’s house.
S – We really got married on paper. And it wasn’t toilet paper.
C – That’s because I was his opposite. It was the attraction of opposites,
without a doubt. Even in our horoscope signs: he is a Gemini and I’m
Sagittarius. It’s the Sagittarius in Sagittarius. When I went to Rio, I went
because I was a Sagittarius, do you get it? He didn’t know if he stayed in São
Paulo, if stayed wherever. He knew, but the Gemini in him prevented him to
say it, do yo understand?
The studio is spacious, cozy and very isolated. I
haven’t gone inside, yet, totally into the rhythm, of the
village atmosphere, that I intend to know closely – to
absorb this people’s beautiful energy, still full of magic
and strength. We, the so called civilized, are really
emptied from that beauty.
C – I attended ballet classes, because it was the basics, and modern
dance.
S – Then she really joined a group. As a solo dancer.
C – I taught at the Santa Tereza conservatorium. It was 1959/1960.
Yesterday and today were the most productive
work days. The disruption began with the new moon
on Saturday and slowly settled in, but for good. The
AC – It’s a whole life dedicated to dance, isn’t it? Until today, here in
Olinda, you teach dance..
C – Nowadays I teach creative dance. Luciana is the one who teaches
part of the heating up because she really is capable. It’s funny because here
everything is really divided, you know?
S – Luciana follows her path. Actually, if you get pictures of them both
52
Fernando de Noronha – 3 visions: Self-taught in art, dropped everything
to dedicate himself to painting. Painted the shore, the outback, the animals and the
vegetation, houses and the rural equipment.
53
Diary of a sea painter
space that, during the 60s and 70s, when the painter Mary Gondim was
ahead of it, moved and opened the arts and mediated its precious collection
with the people and the artists of Olinda.
The nature, once more balance after the fury. The
main mystery of life: renovation, appeasement, peace.
This morning I try the purification feeling. I would like
to paint with this serene feeling. The struggles and
huge desires are forgotten – a perfect integration with
nature as if domesticated beings didn’t exist. That
smoothness on the animal behavior; not domesticated;
with big alienation of all historic pyramid. Thank God
that even conscious, even civilized, we are capable to
relive this fantastic experience. As a kid right before
waking up – the enchantment with everything he sees
an absence of the past.
MAC’s assembling came before the municipal government of Eufrásio
and his two main secretaries of tourism Adão Pinheiro and Vicente do Rêgo
Monteiro. It got consolidated at that time not only as a center to show art,
but also as a center to produce art. Mary Gondim, its second director, was
the main character of that fertile cultural period that the city lived. At a time
where the concept of museum wasn’t much than a deposit of old stuff, Mary
Gondim made MAC a living museum
But now, in short term, the objective is to paint fifty
canvases until the end of May and keep believing, in
the broadest way, in the art and nature.
I don’t want to make poetry nor literature – to note
only the day-by-day of the beauty of the struggle
that is to paint. From going back almost daily, from
the effort almost primitive to survive in this society
apparently accepted, but that also placed aside for
the total lack of culture, of sensibility and spirituality.
An economical dictatorship that castrates any kind of
creativity, sterilizing the human being, with no inner
life, totally lost amidst the ruins of any kind of ethical
principles, of human respect. Everything sounds fake.
Nobody is spared and the artist organizes his lucidity.
The life of a painter is always more important than
his work. Aparently, according to Thomas Man, that’s a
paradox: ‘the life of the artist always sucks; you need
to be dead to be a creator.’ All true, but we also have
to consider the ‘fantastic’ of the artists life. This close
conviviality with fantasy. This lucidity which makes him
also a cursed prophet; this peace. Only the radicals
prove this peace, I would dare saying. Unlike the other
lives because they are filled with hallucinations from
its own reality, a fact that the artist is always against.
It’s always miserable, but from the pure, from the
beauty of the truth in human race. He’s also a saint as
long as his santity isn’t associated with chastity.
Last year I painted a lot, but without this “infinite”
time that I will have here. I’m already reading my
second book: Juliano, by Gore Vidal, very good. I’ve been
avoiding thinking a lot. You just need to live intensely
and with pleasure, with gravity and humbleness, this
small fisherman life.
S – When I met her she began to study dance. She kept doing there what
she had left here.
balance seems to be positive, besides having to
build half of the roof. I didn’t paint for practically three
months and three years in this rhythm.
It’s really impressive how the results happen
when we have all the time in the world to paint, when
we paint every day. Here the air is pure, proper to the
creative process. The energy that comes from the sea
is profound, simple and silent. Certainly it is good to all
the ones that are here, it’s a happiness fountain.
“This profound reclusion doesn’t cease being
a great probation. I’m happier and more serene
having the coincidence of its importance. The place
is magnificent – and the sea enormity, sometimes,
frightening. Enormous is also the challenge of painting:
I’ve made two timid and small studies and began a
canvas with 80 x 120 cm. It will be fundamental an
intense painting rhythm – maybe a unique opportunity!
265
MAC – Museum of Contamporary Art of Pernambuco
The assembling of the Museum of Contemporary Art of Pernambuco –
MAC/PE only happened because its collection was donated to the State by
Assis Chateaubriand: journalist, entrepreneur, fine arts collector and patron,
and the owner of Diários Associados in 1966.
MAC/PE increased the local artistic field, emphasizing the creative
strength of the town. Not only its collection, but also because it is a cultural
MAC/PE had a succession of directors that changed from time to time,
as is done in politics, according to the government changes. It was opened
to the public at Paulo Guerra’s government, having as its Founder Director
lady Helena Lundgren. After that, Mary Godim got the chair. During Roberto
Magalhães government, the architect Tomaz Lapa, who had just arrived from
France, got Mary’s place and after him came professor Reginaldo Esteves.
Then we had the fine artist José Carlos Viana, when Miguel Arraes returned
to the government, being replaced by the painter and architect Margot
Monteiro which in turn was replaced by the artist Alexandre Nóbrega. During
the government of Jarbas Vasconcelos, the painter Marisa Lacerda was the
director. Currently MAC is directed by Mrs. Célia Labanca.
Each diretor left his mark and did good things. Margot Monteiro
cheered the Museum opening it on Saturdays and Sundays, giving life to its
beautiful garden-backyard. Alexandre Nóbrega constituted a curator council
envisioning focusing the Museum in contemporary art. Célia Labanca, opened
its collection for artist donations, without a selection, what unbalanced its
quality. However, on the other hand, MAC received from Luciano Pinheiro the
important collection of engravings signed by him.
The period of management of Reginaldo Esteves and José Carlos Viana,
was remarkable. They implanted within the Museum walls permanent
workshop with classes of drawing, painting and other techniques. From it
we had Roberto Ploeg and Antônio Mendes. It’s important to note that art
workshops are missing in Olinda. MAC’s closure left a huge hole. About this
period painter Antônio Mendes gave me the following testimony:
“MAC’s classes were composed of four modules:
Drawing I and II, and Painting I and II. I was coming from
an academical experience of drawing and painting
acquired from one on one classes with Professor
Amaro Crisóstomo, when I heard the MAC was offering
those classes. The classes were taught by two
teachers in rotation, which meant that all the students
had classes with all the masters.
At the modules Drawing I and II, the classes
offered an observation exercise and the “loss” of the
hand. We did drawings with living models and objects.
At the beginning with an extended time and little by
little we were encouraged to do them in a decreasing
time (10 m, 5 m, 3 m and 1 m)
The classes were really intense and very
practical (I still have a good amount of material that
was produced during those classes). The teachers
made general observations and walked around the
room pointing specifically to each student what they
thought was pertinent. They had a simple material: A4
paper, a clipboard as support, and various pencils (HB,
3B, 6B).”
utopia do olhar
Today the museum has 16 collections in an acquis of 4.000 pieces of
art. Among them, their main nucleus which is the original collection donated
by Chateaubriand’s campaign – Chateaubriand Nucleus – the works and
documents in paper by Aberlado Rodrigues and an excellent donation of
engravings by Luciano Pinheiro.
Chateaubrian Nucleus, everybody knows, is poorly kept and preserved,
but is one of the best artistic collections in the Northeast. A collections
where one can find works of international artists such as: Adolph Gotlib
and David Hockney; and national artists as Cândido Portinari, Vicente do
Rego Monteiro, Teles Júnior, Francisco Brennand, João Câmara, José Cláudio,
Wellington Virgolino, Mirella Andreotti, Lula Cardoso Ayres, Antonio Bandeira,
Aldo Bonadei, Babinsky, Cícero Dias, Darel Valença, Antonio Gomide, Guignard,
Maria Leontina, Arcâgelo Ianelli,Fernando Lopes, Manabu Mabe, Ismael Neri,
Tomie Otake, Lasar Segall, Gilvan Samico, Orlando Teruz, and Mário Zanine,
only to name a few.
Nevetherless, Mary Gondin is the icon of MAC/PE. In the 60s, she took
on the task of showing the art from Olinda to its own people, exposing its
young artists. Since the creation of carnival costume and masks that
MAC presented until the expressions of experimental theater, with groups
as Vivencial Diversiones. It was a blast: painting, drawing, sculpture,
photography, theater, music, literature, fashion shows, classes and contests,
all done by the city talents.
With this feeling MAC became stage for new artistic happening of the
double-city of Recife/Olinda generated by the free studios of the Fine Art
School, by Escolinha de Arte, by the Popular Theater and the Popular Culture
Movement – MCP, interacting with the studios from artists that installed
themselves here. That was the time of the collective studios, with Mais
10, Oficina 154 and the Ribeira’s Movement, seed of a new city base in
conviviality.
This entrepreneur pioneering assumed by MAC produced happenings,
such as the performance called Fiesta em Oh Linda, from the photographer
and multimedia artist Paulo Klein, who nowadays is an active art critic in
São Paulo and independent curator known nationally. All of that besides
installations as Escultura de Helo, from Paulo Bruscky, and the amazing
performances – pioneer, let me just say – of Antônio Roberto de Lira Franca,
whose artistic name was Pernalonga54, who died in the 80s. Those actions
did justice at the time, to the name Contemporary Art Museum, and after
Mary’s administration became rare.
Paulo Kein – our friendship is almost a reciprocal cult, gifted us with this
testimony about the performance at Fiesta em Oh Linda:
Fiesta em Oh Linda – PREAMBLE TO THE LIBERTARIAN
ARTS
Paulo Klein
To think that Fiesta em Oh Linda was a multimedia,
multimeans, and multieverythig event before, way
before, of all of that become usual, makes us determine
how weak the national memory is, that reveres idols
as the clay foot and forget the most important cultural
contributions.
Running away from pressures and distinctions,
heavy airs and prosecutions in São Paulo, I ended up
in Recife, and from there to Olinda in 1973. With the
intention of crossing the Atlantic ‘on the deck of a
freighter / washing the salon’, I held at the sunny land…
54
Bugs Bunny
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
266
from where Eckout and Maurício de Nassau have been,
seduced by magnetic hosts as Lula Côrtes de Kátia
Mesel, then Tiago Amorim, Raul Córdula and so many
others.
I left São Paulo as a press photographer, specialist
in fashion photography and at the music industry (I
had already taken pictures to Nelson Gonçalves and
Os Mutantes, among others), I arrived with a simple
backpack and rolls…of films. At that time photography
was still only analogic, with expensive films and
complex developing.
In a decade where there wasn’t (at least not by
that name) the exposition curator, we were drawn
to carry out a series of actions as art photographer,
among them classes of Technique and Awareness,
invited by the director at that time of the Contemporary
Art Museum of Pernambuco, Ms. Mary Gondim. These
classes made for initiates and advanced students in
photography resulted at a much diverged production.
Besides the production there was a Photography
Award about the Zona Rural of Pernambuco, organized
by Joaquim Nabuco’s Social Research Foundation. The
award granted to the first place, which included a large
sum of money, was won by Paulo Klein himself.
It was with this money, the projects enrolled in
the classes of Photography Technique and Awareness,
plus friends collaborations, that we created and held
the Fiesta in Oh! Linda. Among the participants were
Paulo KLEIN, Raul CÓRDULA, Jean Claude VITART, Tiago
AMORIM, Diva GLÓRIA, Fátima CHIANCA, Roberto LÚCIO,
Paulo BRUSCKY, Abelardo DA HORA, among others.
Beside the pieces held by conventional supports,
there were unusual ones, as an ice sculpture made by
artist Paulo BRUSCKY, installed in front of the museum,
a patchwork carpet made out of photography
applied to the tall stairs of the museum, a video by
Eduarto STUCKERT, with the presence and locution
of Zé RAMALHO, besides a performance of dance and
movement and other action. Oh! I almost forgot….and a
photography exposition by Paulo KLEIN.
The event had an apotheotic opening, with the
whole population of long haired and colorful people
mixing with the regular folks from the city of Olinda, and
visitors astonished by what they were seeing. It comes
to my mind that this manifestation preceded a series
of posterior ones, developed in various moments and
spaces of excellence in Brazil and out. Celebrities such
as the architect Janete (Borsoi) Costa and the artist
Montez MAGNO, who were present, commented then
that during their trips around large museum of the
world they had never seen anything like that. And that
was happening at the colonial Olinda, Pernambuco,
Brazil, amidst the military dictatorship.
The precedent of this manifestation that can be
traced are little, but representative. Paulo KLEIN had
been initiated in photography at a study center of the
field, under the coordination of Anusha and Claude
KUBRUSLY, in São Paulo. There he had contact with
some important professionals of tha area, as Maureen
BILILIAT, Cristiano MASCARO and Claudia ANDUJAR. He
tells us that, before leaving São Paulo, he had gotten
impressed with the exposition of the photographer
George LOVE, where an audio visual that made use of
the walls of MASP – Contemporary Art Museum was
considered very innovative.
We had limited gear at that time – projectors, tape recorders, pickups
– but in Olinda, the meeting with Eduardo STUCKERT and Zé RAMALHO
facilitated the development of something similar. Other expositions and
events happened at that time and in the city of Olinda, but none had the
same impact that Fiesta em Oh! Linda had over artists and public. Of course
that other considerations can and must be done about what happened, but
we think that this is an important opportunity to expose a little bit of what
happened in that month of October of 1973.”
The 70’s were the time of the “happenings”; they were what
we today call artistic performances. The main artistic performer back then
was Roberto França, whose artistically signature was “Pernalonga”. He
would perform in the Museum showing work that contained dancing in
his movements and the visual art surrounding him in the decoration, the
wardrobe and sculpture like poses – he would be still for a few moments. It
was very simple, very naive, but filled with a profound meaning of gift, of love
for the next person.
Pernalonga took part in the theatrical group Vivencial
Diversiones, becoming one of its stars, but his image has always been
connected to MAC and his performances. Vivencial was a theater collective
that began and happened in Olinda, and here it became the scenic Avantguard of Pernambuco between the1974 and 1982. The group was created by
the author and director Guilherme Coelho, and was composed by actors as,
besides Pernalonga: Alfredo Neto, Américo Barreto, Sandra Carrero, Auricéia
Fraga, Fernando Santana, Gil Barreto, João Andrade, Walter Estevão, Madalena
Alves, Marcos Valério, Tânia Barreto, Susana Costa, Maurício Campos and
so many others, including the actor Antônio Cadengue who acted and
directed many shows. The Foundation of Culture o Recife edited in 2011 the
book Transgressão em 3 Atos – Nos Abismos do Vivencial, containing three
rehearsals signed by Alexandre Figueiroa, Cláudio Bezerra and Stella Maris
Saldanha.
They reenacted 31 shows, most of them directed
by Guilherme Coelho and written specially for the group by authors such
as Guilherme, Jomard Muniz de Brito, who wrote for Pernalonga 7 Fôlegos e
Perna Pra Que te Quero. They have also played texts by Fábio Costa, Américo
Barreto and Beto Diniz, from Pernambuco, and also Paulo Pontes, Chico
Buarque, Fausi Arap, Glauco Mattoso, Carlos Eduardo Novais, João Silvério
Trevisan, among many other authors.
MAC has always been connected to the theater. Beyond
Pernalonga’s performances, a hybrid of visual arts and dance, he also
held the Ambiente Theater of the Contemporary Art Museum with Ariano
Suassuna’s play O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna, enacted in 1976
sponsored by the Secretary of Education and Culture of the State and the
Department of Cultural Extension of UFPW. In the brochure Ariano writes:
“The enacting made by the Ambiente Theater of
the Contemporary Art Museum of Pernambuco, under
the inspired direction of Nazareno Petrúcio, besides
being lively and Dionysius like, with a strong Brazilian
grip, is really faithful to the play and corresponds to
what I dreamt for it when I wrote it. (…)
That being said, now I only have to thank him
(Nazareno Petrúcio), Mary Gondim and the Ambiente
Theater for taking the play to Campina Grande – a place
really close to Taperoá – the admirable montage they
made and it honors the play as much as it honors its
267
author.”
Olinda’s theater deserves a full and seriously researched story,
with the same intention of Transgressão em 3 atos. Marcos Siqueira memory,
who maintained by himself a theater at Varadouro; the amazing theater
Mamolengo Só Riso; the theater of Bonsucesso; the building at Salgadinho
where the Vivencial used to perform, the Arena inside the Children’s Home
Foundation, who introduced so many singing journeys; the Santa Cruz
Theater, as well as many other scenic spaces, make quite a collection of the
theatrical memory of Pernambuco.
I always thought about the interdisciplinary that the group
of art categories allows, especially when one thinks about the temporal
interrelations among artistic movements. I consider that there are
connections between the past and the present that are seen by science
through points of view that are so dogmatic that don’t convince the creative
minds. One of them resides in the approach of the language territories when
the cultural time is not considered – let’s think about a time related to culture,
and also related to the geographic space.
I have the addiction of reactivation, I like tracing relations
between things that apparently seem to be opposites. For example: the
Armorial Movement, a brilliant concept created by Ariano Suassuna derived
of the idea of our culture’s identity, to me is something a lot broader than to
the most of the artists who have conceived at the occasion of its envisage
in the 60s.
The image relation of what would be the armorial art from
the northeast of Brazil with the concept of “Coat of Arms”, or even better,
of Heraldic, medieval practice that among other duties was the one of
distinguishing social groups through shapes and colors, although it may
look archaic, it’s completely current. “If they don’t believe, wait longer…” as
said the poet from Paraíba, Vanildo Brito. The plane – in two dimensions – the
primary color, the texture imprinted graphically, the subject narrated in first
plane, the basic theme highlighting pure emotion, the economy of shapes,
traces and color, all of that exist at the so called cave paintings as well as
the signs of property as the drawings on the iron used to mark cattle or at
the signs that we currently call “logotypes”.
Many modern and contemporary artists adopt these systems
of communication; the geometric art of 20th Century is contaminated by
this idea of minimal expression that you see in cave paintings. But cave
paintings, as I said before, is not limited within time and space, but at the
lack of its materiality. Cave painting is basically defined by art over stones,
and by that the sketch of the construction worker on the recently built side
walk, scribbles on the wall, the name engraved on the wall may be signs as
archaic as the armorial ones.
The New Ones Hall
Besides the cultural joy of the 60s, one of the most important
actions developed by MAC was the New Ones Hall. This hall of art had 14
editions between 1973 and 1986.
Among other things, the New Ones Hall was important because
it was a successful example of partnership between public authorities and
the private enterprise at a time when the idea of sponsorship and cultural
incentive laws for the fine arts field didn’t exist. What existed was the
idea of patronage which its most important enthusiast in São Paulo was
Chateaubriand, and his biggest partnership in the Northeast was the National
Campaign of Regional Museums. The New Ones Hall had, in its ten versions,
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
268
the sponsorship of Sulamérica Insurance Company, and in other four, from
FIAT. It’s known that Sulamérica kept an art collection and the acquisition
prizes of the New Ones Hall were incorporated to them. The art critic from
Minas Gerais, Federico Morais, a connoisseur of Pernambuco’s art, author of
expositions presentation texts of artists as João Câmara, Roberto Lúcio and
Guita Charifker, at least in one occasion was the curator of this collection.
The New Ones Hall was also important in general context of
local art for filling in the spot left, in its three first years, of the Art Hall of the
State, which stopped being done in 1960, coming back in 1976 by the name
of Official Art Hall and, between 1980 and 1986, Fine Arts Hall of Pernambuco.
Even with the return of the State Hall in 1976, the New Ones Hall
didn’t lose its role, it became the alternative for younger artists, reassuring
Olinda as the autonomous core of artistic production with the unveiling of
many artists who nowadays represent the excellent art from Pernambuco
as, for example: Gil Vicente, Ana Vaz, Flávio Gadelha, Wandeckson Wanderley,
the brothers Aprígio and Frederico Fonseca, Eudes Mota, Maria do Carmo
Buarque de Holanda (the singer Miúcha), Alice Vinagre, José Patrício, Paulo
Caldas, Bete Gouveia, Rodolfo Aureliano, Antônio Montenegro, Ana Lisboa,
Grupo Vivencial, Lígia Celeste, among many others. Artists and intellectuals
were part of the selection and awarding commission as the painter and
journalist Ladjane Bandeira, the teachers of the Laerte Baldini and Marcelo
Santos Fine Arts School, the poet Jomard Muniz de Britto, Dom Gerardo
Martins, the journalist, art and movie critics Celso Marconi, the painters
Wellington Virgolino and Sylvia Pontual, among others.
In an attempt to remake the New Ones Hall happened in 1999
with the Fine Arts Pernambuco Awards – NEW TALENTS, to which I was
the curator of its only version. The award was instituted by the Secretary
of Culture of Jarbas Vascocelos’ Government, journalist Carlos Garcia, and
carried by the Director Office of Museums of FUNDARPE headed by the
museum expert Maria Regina Batista e Silva.
In it, the “young” artists were awarded: Bruno Monteiro, Carlos
Mélo, Renata Pinheiro, Rodrigo Braga and Kilian Glasner. Received special
mentions: André Aquino, Augusto Japiá, Juliana Calheiros, Marcus Figueiroa
and Inocêncio de Lima (Inó). Also competed André Nóbrega, Adriana Aranha,
Beth da Matta, Edilene Valença (Ed Valença), Isabela Stampanoni, Jane
Pinheiro, Jefferson Peixoto, Jeims Duarte, Marcos Costa, Maria Inez Fonseca,
Marina Mendonça, Odete Caldeiron, Coletivo UTA (Ingá Maria, Juliana Lima, Lia
Letícia and Lourival Batista Patriota – Cuquinha) and Walter Freitas.
The Commission of Selection and Award was composed by
Marisa Lacerda – head of the museum – Marcos Lontra, Moacir dos Anjos,
Lenine de Lima and I. From then on the front line of contemporary art in Recife
was made.
Tiago Amorim and the Alto da Sé
I met Tiago Amorin at a festival in Olinda. In the 60s he was already acting
as the leader that he has always been with his priestly vocation and his work
obsession. Nobody fits better the Benedictine saying “Ora at Labora”, that
had him in his flock.
In 1976, when I moved to Olinda to coordinate the II Global Art Hall – Crafts
and Man (coordination that nowadays would correspond to a curatorship)
I could rely on his unrestricted support. At his studio, shared with all of
his things, transformed in the Três Galerias Gallery, I could find more than
a working and reflection place. What I saw was the drive of the Alto da
Sé territory lead by him, receiving many artists and craftsmen and also
musicians. Fagner was a guest there; Geraldo Azevedo, Alceu Valença and Zé
Ramalho visited him frequently.
Alto da Sé during the 70s was an spontaneous and vibrant cultural
center where people visited the exposition at 3 Galeras Gallery, assembled
at Tiago’s studio, and from there they remained at Cantinho da Sé where
usually they found some of the young musicians of that time, like the ones
who attended Tiago’s house. It was a blast…
Tiago Amorim
“In truth Olinda was understood and seen as a
“commuter’s city”. There was a DIVA – Department of
Information about the Life of Others – and people were
constantly scared. People threw rocks at the ones
who made art were, as Rubinho (Rubens) Sacramento,
Alindo da Loja Azul and Bajado, between 1958/1960.
I went to pay a visit to master Rubinho Sacramento,
because his son had some health issues. All of a
sudden I found out that they were very humble and
straight. A great poet and a very sensible person
who painted nature and tried to do things connected
to creativity, to art. But Mrs. Franci financial interests
were more important, so he always painted canvases
that were ordered. He used to paint scenes from Bahia
and Pernambuco for buyers that liked that kind of work.
After that he taught me all the technique to do oil on
canvas, using calcium carbonate, carpenter’s glue as a
base, the most correct way to prepare the canvas, he
did it with love and tender.
Then I enrolled at the School of Fine Arts of Recife
(at the Free Classes) where I began having classes
with Master Severino and Reynaldo Fonseca. Through
the Nigro family I met Montez Magno, to whom they
rented a house. When I met Montez, I had a big shock
because he did an Avant-guard art and worked with a
great deal of concern with pop art and kinetic art.
Then Ney quadros joined him. Ney was an
engineering student that was very concerned with the
cyber advance and things like that. Then he began his
thing in another way.
With Reynaldo Fonseca I had the advice to draw
everything, beginning from the geometrical frames
and the Italian Renaissance. He encouraged me to do
this research, which comes from the pre- renaissance,
pre- Middle Age, actually, until contemporary days.
Adão was very creative, wasn’t him? Janete Costa,
who was already here in 1963, was always along
Adão searching for artisans, doing a list with their
familiarization with the crafts object. She was always
here, amidst the artisans, doing this link. She did a very
interesting job with me, with Adão and José Barbosa, a
work she did to Aluísio Alves government, in Rio Grande
do Norte, for example.
Here was being created, at that time, even with
the dictatorship, a culture center. That how we did in
certain galleries, as Casa Holanda, which was already
being seen as a gallery as a freer place; a looser gallery,
it wasn’t academic anymore, the so called academic of
Rubens Sacramento. The gallery was already working
differently with the scheme of the artists that had
arrived and transformed the vegetable market at
Ribeira into an art market.
At that time, Adão Pinheiro, José Tavares and Guita
came into scene and it was suggested to create an
art market at the place where it was the slave market,
Ribeira’s Market. Eufrásio Barbosa was the Mayor and
bought the idea. Janete and Adão began working with
tourism and Eco culture. There wasn’t a Secretary of
Culture, as there is one today; there was a Directory
of Culture.
José (Zé Tavares) kept working with the guys at
the making of Ribeira. Inside the City Hall there were
Adão and Janete. We had connections with the City
Hall. Janete was an employee, but everything was
really loose. It was the mandate of Eraldo Gueiros and
Guita, Adão and Tavares, with the support of Valter da
Costa Porto, who ran the Cooperatives Central of the
State, created the Cooperative of Art of Ribeira Ltda.,
in 1965, with a directory board made by Adão Pinheiro,
Yipiranga and Tavares. I was the first associate to
register. José (Zé) Barbosa registered when he was 17.
After that, because of politics of those times, the
group was expelled from Ribeira. Because of some
scandals that they made up, they expelled us and also
closed Senzala Bar, owned by Marcelo Peixoto, where
all the intellectual power of Pernambuco gathered. So,
when Ribeira was extinguished, we bought the ground
floor of Sobrado 154 on São Bento St. the Oficina
154,wich belonged to the sculptor Corbiniano Lins. On
the second floor lived Adão.
The Oficina was payed for with Guita Charifker’s
and my money, from the selling of African engravings.
The payment was made with the selling of these
pieces, about 1,5 million at the time. Later there was
interest because of the treasurer. Oficina became ours.
But it never was ours, was it?
Things worked around Olinda in a very interesting
way; because it was something that split in two, like
a virus, something that became to be more and more
democratic. I have a huge pleasure to see Olinda’s
houses with works of art, something we didn’t see on
the walls.
We had the urge to have more members. That’s
when Marisa Lacerda, Silvia Pontual, Emmanuel
Bernardo, Norma Santos came in. Later Jean Vages
joined the group, he engraved in metal, belts and
engraved metal pieces and sometimes did it in leather.
But he just enrolled at the end.
Olímpio (Bonald) talks about Jean Vages as if he
was a lever in the process. Later his wife made some
records with us, to better formalize the documents;
that never went on. Some of the documents I have I
found in the trash can at Tavares’ home, and kept.
Amparo St. was the place where the most biased
people lived. The flags from Amparo St. have a halfmoon taken from the front door so they could see what
was going on in the street. It was the infamous DIVA.
We crashed it a lot, because Ney Quadros was very
269
outrageous. He had guts. We really went against it; he
was like an army soldier. Once, when we were arrested,
Ney showed up with stained army clothes. He was
really connected to Lady Anaíde Teodósio (the mother
of Mano Teodósio – a politician). She already had a left
– winged way of thinking.
Guita was really close to us and brought a lot from
the Jewish culture. But she respected the umbanda
culture a lot. Guita inserted herself totally at the spirit
of the town, and began to fight for Olinda making
people open their eyes to our reality. She was really
brave. She can be compared with justice to Branca
Dias (legendary heroic Jew from the 17th Century).
She believed in nature. I think that Guita’s
importance, as a person very close to gods, living like
that, was really strong. Adão, for example, was a person
who didn’t respect anything, simply walked over it and
generalized it, and kept on walking with no problem in
knowing what someone thought. So, for us, this was
very important, because we were less afraid of the
attitudes.
Adão was the beginning of everything. I think
it’s a pity that he gave in so easily, because he was
aware of his value. He really was an intellectual, from
a rare knowledge. Adão had the sense of value of the
Renaissance. He based everything on balance, on the
tuning. And then he broke everything within seconds,
because he experimented a lot.
On one side there was Adão, who played with
art; on the other there were things he did with much
authority, with an overstated seriousness. He even had
a fancy respect.
At the Biennial of São Paulo in 1965 thirteen artists
from Pernambuco enrolled. It was a biennial that took
back the nativist way of thinking from 1922, which was
concerned about the preservation of Brazilian painting.
At the head of it were Cicillo Matarazzo and Dona
Yolanda Penteado. Only three out of the thirteen were
accepted: Maria Carmem, Anchises and me.
In São Paulo they already had some knowledge
of Maria’s work. I got quite flabbergasted because the
other artists didn’t get in. Guita Tavares and Adão were
refused. I asked Mrs. Yolanda why that had happened.
She told me that their painting had traces of European
paintings, and that Biennial was interested in the
Brazilian one. Montez also was chosen, but not for
Pernambuco. This really shook artists here. Tavares
began to create tales. I think that the Biennial was an
important factor for this changing. After that, the period
of changes really came. It was when the studios began
to subdivide themselves even more.
The engraving studios case: Two nucleuses were
created, Ribeira and Sé. The one from Sé, with Elimar
and Cristina Cavalheira, was a school that worked
observing the wood flaws. While Ribeira’s school,
worked over compositions from the Renascence,
observing the view from the doors by the balance of
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
270
two sides. We went there to learn out of curiosity, to
know the tools. Later this school was tarnished by
Sudene with Artene, its department to help the crafts,
buying a lot of engravings and copies in carbon paper.
I have a pottery studio where the kids that
come here to learn with me and with the people that
work there, at a socialist atmosphere, know what
cobalt, manganese, quartz are, and become strong
professionals. Art didn’t have signature (in the Middle
Age). Art is evolution, action, expression and wisdom.
You will never cease to have action, expression and
wisdom. Now what I think it’s important for art and
what I preach in thinking is: you have to find your
identity, this is the basic. Picasso is Picasso, Van Gogh
is Van Gogh. Identity is the base.”
In 1977, when I came to deploy the 3rd Global Art Hall – Crafts and Man, I
moved to Alto da Sé, at a rented place to Madam Vitart, Maty Vitard mother,
who nowadays live in Cuiabá, but at the time was in São Paulo married to
Paulo Klein. Tiago’s studio was 20 steps far from my stopping point to talk to
him and the artists and musician who surrounded him, and from there to the
nightlife at Cantinho da Sé.
Thiago’s studio, better, all the studios he had, were small cultural
centers, because he paints, engraves, do pottery and ceramics and teaches
everything to youngsters, usually unprivileged kids. Besides, his studio at
that time held the gallery Três Galeras, where many times I exposed my
paintings and where I’ve watched expositions with great quality of artists
like Montez Magno, Paulo Bruscky, Marcos Amorim, Roberto Lúcio, just to give
an example.
In 1977, to determine my proximity with this art priest, I wrote:
An ideology of doing
Versatility is the dominant trace of Tiago Amorim’s
talent. His work is developing through traditional
techniques, such as drawing, painting, prints, wood
carving, ceramics, serigraphy, die and any other
mean that provokes his willingness to create or that
challenges his uneasy mind.
“The ideology of doing” defines his work. Aware
of the crafts real role at the artistic invoice, he
expresses through the proper language of each
technique he uses, without losing, however, the topic
that transmits his unmistakable way.
A propensity to the landscape is currently
installing itself at the artistic production of Olinda.
Tiago is already part of this propensity for years, when
he already dedicated himself to his city and began a
series of landscape paintings. From his vast window,
he looks to Recife, he paints various angles of Olinda
sunk in light. The landscape of Olinda also pertains
to the repertoire of many other artists who have
made and make the story of the city that, beyond its
libertarian glories, reaches the glory of art.
Thiago’s space and radiant atmosphere that he
spreads make us reflect about ourselves, temporary
beings at this town embedded in time. Fernando
Pessoa said: “myth it’s the nothing that is everything.”
Myth is for Tiago as the vest to the body. A deep
metaphorical relation involves his art full of symbols
and fantastic myths. The myth of the body; the myth
of the ecstasies; the myth of divinity. Three sides of
the same mystery dealt in various ways.
We didn’t have, what’s not lacking today, space
for visual arts. So, our astonishment when we saw the
Sacred Art Museum opening with the collection of the
Treasure of the Metropolitan Curia, accompanied by two
other shows of first class religious art – the show of
popular religious art, assembled by Borba and Zé Luiz,
and the collection of Candomblé’s religious art, from the
Eastern Afro Studies Center at Bahia) wasn’t at all odd.
The Benedictine personality, the ideology of
crafts, the identity with the earth builds his aura
that he carries always clean. The metaphor consists
in produce myths – nothings - to bail the importance
of his work. In this case, a straight line is not the
shortest path.
A fantastic bestiary overflows of his carvings:
Capricorns, mermaids, medusas, dolphin fishes.
Those are fragments of the baroque carving that
was his first model. Wouldn’t these carvings fraught
with pagan symbols at an old and forgotten occult
sense, an exoteric sense with alchemic roots? Or is
it nothing more, this bestiary, than onslaughts at the
subconscious, paint stripping’s of our mental caves?
I remember that all this ecumenism happened
during the military dictatorship thanks to the religious
opening that was branded by the diocese of Olinda and
Recife, on the old times of Dom Hélder.
But the landscape, the mythological and the
mysticism don’t exhaust Tiago’s vast thematic
territory. They emerge in his painting, once in a while,
portrait of the surrounding reality. The people’s party
calls the man who sits and feels and induces them
to reflect his moment. As a craftsman Tiago is always
inured to a socializing and aggregator activity, one
activity that has its own ideology grounded at peace
and human conviviality, a collective and constructive
activity, fruit of our most interesting vocation, one
activity of resistance. When an artist consciously
accepts his commitment with crafts as an ideology,
he projects a link between his work and the social
reality. Tiago is an artist and craftsman on the same
amount that he is a religious person and a citizen, the
poet and the workman. He is the one who makes us
thing about the body and soul of the societies.
The second one was the installation – performance
of the unknown, but really important, artist from
Pernambuco: Jonas Santos, who lived at Philadelphia,
USA, where he maintained The Bird and Trasch
Foundation geared toward the Avant-guard art. The
concepts of “installation” and “performance” as art
categories only were recognized here decades later;
although Beuys was the major happening at the German
art and the happening, in a certain way is what we call
nowadays of performance.
Even before the end of Sé’s restoration, Fundarpe
occupied its space with two expositions in which I
took part as an assistant and assembler, because I
was hired by the Foundation. The first one was by Lasar
Segall entitled Hope is Eternal, an anthology of works
of the great artist that narrated the saga of his Jewish
family and his fixation about Brazil, all of that shown at
a religious temple at the most catholic country of the
world.
“Installation” to artists here meant only the placing
of the needed gear to assemble any exposition. And
“performance” was something connected to the
theater, music and dance realms. But there was Jonas,
daily, executing a pagan ritual on a floor covered in
sand, leaves and trunks carefully distributed at Sé’s
magnificent space that eventually was illuminated by
the golden light of the afternoon. Dressed as a shaman,
accompanied by “priests” that moved along the sound
of a track of noises edited by him. Jonas was the
performer who announced the current art.
Alto da Sé Currently
At the 2011 MIMO, I wrote this article at Jornal do Commercio:
During the flamboyant recital of Philip Glass and Tim
Fain at the Sé of Olinda, produced by MIMO, my memory
traveled through time and took me to 1977, when Sé was
being restored by the time’s Fundarpe.
The restoration team was headed by José Luis
Mota Meneses and Fernando Borba. In little time, the
Foundation had already restored the Detention House,
transforming it in the Culture House; The Bishop’s
Palace, which became The Sacred Arts Museum and Sé,
this incredible colonial building that exhibited before
the restoration a real shell of plaster that looked like the
“icing” of a cake.
The Water Tank55
Contesting the painter and traveler Cícero Dias: from where you see
the world is from the Water Tank at Olinda. Our little-big world, the one that
Duarte Coelho unfolded at a certain day, certainly happy, probably saying:
“Oh! Linda56 situation to found a village!” And here it is Olinda, his Village, at
the foot of this gazebo built over the main hill of the city projected by the
architect Luis Nunes, from Minas Gerais, and built in 1935.
271
national modern architecture. It was where the cobogo brick was first used
in Brazil, and structural element named with the names of its three inventors:
the merchant of construction material, Coimbra – CO -, the German, also
merchant, Boeckman – BO – and the engineer Antônio Góes - GO.
The idea was the implementation of a grid made of cement, something
like a square mesh measuring 50 x 50 of side with 0,5 of thickness, that
would be the structure of the walls, in a way that, after being built with
mortar, its holes would be filled with plaster, building a much lighter and
economical wall. Its inventors also proposed that this element could be done
handmade, in small backyard shops, thus contributing to the economy at the
suburbs of the cities. This actually happened.
However, when Luis Nunes used the cobogo at the way he did at the
water tank, without filling the holes, he created other utilities for it, the
decorative function, the possibility to solve ventilation problems, beyond
making it even lighter and cheaper. The two big cobogo walls of the tank
grant it levity and transparency; he transformed that standing paving stone
into a constructivist sculpture. With a creative twist the mediocre became
art.
This is one of the prettiest Brazilian gazebos. It was closed to public
eyes, and is amazing to see from it Recife, even prettier than it really is. It sees
our sea with its beaches at the south and north; the garden of Manguinhos
right below; the slopes of Casa Amarela; Capibaribe’s bends; Campo Grande;
Casa Forte; Boa Viagem.
But we specially see, from a different point of view, the outline of the
city from roofs perspectives that let look through, from atop, the mystery of
the traces of the streets, alleys, backyards, churches, sites and old house.
The interior space of Water Tank is little known by the public. At the
occasion of its reopening, this space held the exposition of photography
by Amélia Couto. The exposition is a collection of eight snapshots from the
carnival of 2011 focused in closes, at a detailed vision of the decorative
elements and of typical aspects of our grand party.
The placement of this set of images at this space met the stylistic
appeal of the environment visually clean and functionally innovative as a
space of public use. In its new role as gazebo, its expositive space, besides
being the heart that pumps the water of the city, also hosted details of what
happens outside, the carnival, showed here in close ups, in details almost
constructive, and in this condition, integrated to the magnificent space that
expands the almost baroque beauty of the big snapshots full of a silent
visual poetry, opposing to the spatial geometry that the building has.
As the curator of this show I thought on the fact of Olinda being a
prodigal city of the good photographers. Nowadays some photographers
do the art of photography, and other do the photography with art. This
difference is fundamental to who didn’t live twenty years ago, for example,
when photographers, in general, gathered in some corporation like group,
and didn’t accept any interference related to the technical questions
considered sole from the art of photography. This happened for a long time,
even after the Man Ray, or Brazilians José Oiticica, Hélio’s father, and Geraldo
Barros, to name the most famous ones, who intervened on the meaning
of the concept – art as concept, conceptual art – of photography. The
adaptation of photography to the new canons doesn’t nullify the important
role of the documentation and the “documental aesthetic” that the Magister
photographer left us.
The Water Tank pitched at the Alto da Sé became a monument of the
55
It’s the name of one of Olinda’s neighborhoods.
56
Oh Beautiful!
The photography that Amelinha placed at the Water Tank exists in
the current context, but is needed to register here that, way before her
public manifestation here with an exposition, Olinda had a brilliant team of
photographers making register of the city with its popular aesthetic and/
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
272
or taking pictures of the city from various different points of view of the
perspective. Recurring to my memory and to research, but also with the
kind memory of Antenor Vieira de Mello, I was able to list a good number of
photographers, some of them from Olinda and others who took pictures with
the city as their theme. I apologize for the fact that some of them are here
listed only by the first name of by the nickname, are the older ones.
Beginning with the older ones: Roberto Rômulo, Toinho, Manoel Chaves,
Cláudio Barrozo, Roberto Arraes, Edinho, Gilson Batera, Passarinho, Pedro
Bala, Manoel Paulo, Aderbal Brandão, Pii, Xirumba, Gleide Selma.
The most recent ones: Alexei Joseph, Mateus Sá, Mateus Baccaro, Diego
di Niglio, Laila Santana, Vlávia Lima, Lula Barreto, Guga Soares, Rafael Lage
and Renato Titi.
Fine artists who also use photography: Besides Amélia Couto we have,
Catarina Aragão, Daniel Doval, Di Cássia, Karina Veloso, Katalina Leão, Otávio
Guilherme, Costa Neto, Lourival Batista Patriota – Cuquinha, Francisco
Baccaro, Pedro Rampazzo.
I consider that Olinda’s photographers, the native and the aliens,
deserve a book, a broad register, because it will talk about a rich and needed
panorama for the local imagery comprehension. About that, and not being
the photography my goal in this book, but recognizing its importance, I here
note this comments about Amélia Couto’s art, who I know very well, end hope
that it can be done by her pairs, art companions, as a homage.
About her I wrote about the set of photography that participated in
Basel, Switzerland, fruit from a workshop with Swiss and Brazilian artists at
the Cultural Space of Paraíba by artist Fábia Lívia, living in Switzerland, the
following text:
SKIN OVER SKIN
In a broad sense of the word, “skin” is not only the
larges organ of the human body; it also is covering,
protection. Adornments objects are created since
the pre-historic era by the act of inserting at the
usual utilitarian object the symbolic universe built by
images from the unconscious. Skin and adornment:
archaic and modern binomial, a human basic need.
This way the skin also became an adornment
holder, a symbolic terrain where the expression and
message can be placed. And by that we have the skin
and the adornment as archaic and modern binomials,
metaphor of a basic human need (since the body
paintings, determinant signs of human groups united
in clans, or civilized practices in service of beauty and
seduction, as in the make-up).
On the broad sense of the world, skin can also
be coverage, the dress. It can also be understood
as the artistic work of Amélia Couto: the set of color,
clothing and textures. Using photography and typed
image, Amélia produces her “paintings” by the way,
self-portraits of the body, suggesting coverage, at
the preparation to the photography phase, when she
dresses with her own tissue for her objective, as on
the second phase, when she transforms the matrix in
images diverse to photography, colored image, full of
texture that takes us to the feeling of sensuality and
enchantment of the retina.
Contemporary Olinda
When people still didn’t talk about contemporary art with the concept
we have nowadays, we already have avant-guard art here, as the ones
of Montez, Anchises, Humberto Magno and Ney Quadros, and in 1970 the
performance of Paulo Klein in Fiesta Em Oh Linda and the Ice Sculpture of
Paulo Bruscky, and in the 80’s with the graffiti of Alex Vaulari over the city’s
light poles.
Paulo Aragão, whose artistic name is Paulo do Amparo, has always
been an artist. Since he was a child, when I met him at his parents’ house,
Humberto Magno and Maria Luiza Lins, whose artistic name is Iza do Amparo,
his “recycled heroes”, versions he made from the plastic dolls, toys that with
the HQ hero figures, new at the time (I’m referring to the 70s). Paulinho – as
his friends call him – confesses to me that he made versions because like
that he was able to break them later, by instinct, really natural when we talk
about kids (so I think, excuse me the psychologists), of destruction, that I
can comprehend as the curiosity of building something similar, dismantle
to learn.
He recreated the dolls so he could deconstruct them, and by that he
didn’t spare the nice looking “He Mans”, “Falcons”, “Batmans” bought by his
parents who recommended to him to play with them carefully so he couldn’t
break it. However, Paulinho’s versions were the real “toys as art” the Toy Art
of the time, expressions of a boy who were already born as a contemporary
artist (or avant-guard, by the time, as you wish).
His sister, Catarina, today works as a successful singer and DJ going
beyond Brazilian frontiers is also linked to visual arts since she was a little
girl, through the assistance that she gives to her mother on the creation
of the applied art pieces and, after that, pursuing the “photography as art”
territory. In her rhetorical intelligence, she likes to deal the question of the
family artistic identity saying that she signs as Catarina Aragão when she
poses as “Home Queen”, Catarina do Amparo as a photographer and Catarina
de Jah on her musical profile, as singer, DJ and performer.
Paulinho went through the same encouragement from his mother that
Catarina did: “I owe to the good old dunning from my mom, who made me
print shirts with my drawings”. He told me about his trajectory, when he
decided to relieve the financial load from his parents related to the cost
of São Bento School and did, by himself, a contest to the Federal Technical
School of Pernambuco, where he studied electronics. “At that time I already
273
had the same ideas I have now”, he says. “And also was there that I had the
bifurcation of my art: I also began to make music. At the same time Catarina
was already eating the paint.”
discarded. Her artistic trajectory comprises the internship in Italy along her
husband and, with her return to Pernambuco, the refinement of her creative
production as it’s seen today.
Paulinho is an active artist at Olinda nowadays: “I’m an artist apart from
any system”. With this he tunes not only with contemporary artists out of
Rio/São Paulo axis, but also, in paradox, with traditional artists, beside of his
sister, and live exclusively from art. Both are “multimedia” artists, because
they use various supports, physical or sounding, at their creations.
It’s important to remember again that the sons of artists that were
born besides those aren’t necessarily contemporary, they make the first
generation of artists born here, as Vera Bastos, daughter of Maria Carmem,
Marcelo Peregrino and Mané Tatu.
Paulinho integrates with Ernesto Teodósio, the son of the important
communist theorist Mano Theodósio, the group Frei Damião Radio – Ernesto
is also part of the collective Telefone Colorido (Colored Telephone) along the
graffiti artist Grilo.
However, we verify that Olinda interests the contemporary artists,
despite its historical condition, baroque, traditional. The interests of some of
them show that the idea of repulsion to the history that other artist should
have doesn’t sustain current artists. Besides the ones already spoken of, I
refer to Aslan Cabral, Lourival Patriota (Cuquinha) Fernando Perez and the
graffiti artists.
Other artists from Olinda, of the same generation of Paulo do Amparo,
are heavy weights from the contemporary art from Pernambuco, born at
the post-art, as at a certain point was common to say. The two Julianas,
as its said fondly in the arts field, are Juliana Notari and Juliana Calheiros,
daughters of people connected to art since the 70s, and are part of the group
of “Artists families”, as is the designer Roberto Peixe, who besides Juliana
Notari, also has a kid, Peixinho, a graphic designer of great talent, and the
architects Sônia and Ialdevan Calheiros. The Julianas keep their solid careers
at the Brazilian art territory.
It can be unsettling to talk about graffiti artists at a city with a heritage
status as is Olinda. This is a question to be discussed considering the
relation among the public – cultural heritage and the private – property. It’s
not common in Olinda the invasion of graffiti artists at the public heritage,
if graffiti made by artists should be called of invasion, especially in what
expresses our colonial culture, the historic and artistic heritage built in stone
and lime.
An important exposition of the last decade revealed the contestant
and ironic character of the contemporary artists, really young at that time. It
was the “Cada Coisa” (Each Thing), held at the collective studio Submarino,
headed by the pioneer of our contemporaneity: Maurício Castro. It was
a parody of the annual interior decoration event Casa Cor, the field of the
middle class which are highly consumers of the superfluous. The exposition
was assembled with many installations referring to the areas of a house
outside of the prestige circuit, those places that can’t be seen, as the maid’s
room, the room of the teenager daughter, with panties hanging from the
computer, the henhouse, and other impossible to decorate (or indecorous).
People could see the first version of hirsute objects, tables and chairs
padded by human hair, and also hairy balls in various sizes. At his recent
book “Dez Dedos” (Ten Fingers), a summary of his work, it’s possible to see
the unfolding of this work with details of the human body covered in hair and
the performance “Janta” (Dinner), a banquet served at the table covered with
hair. Food is a constant theme at his work; in series “Diário de uma Bandeja
(Diary of a Tray) has four versions, and all of them are portraits of the home
life, as: ¼ - the installation at the wall of various trays painted, drawn and
written; 2/4 – a sequence of photography of the daily alimentation of the
artist; ¾ - dinner with the family that happens at the same time at his home
and virtually at Amparo 60 gallery; and 4/4 – a master bedroom all white, with
common objects destroyed, ripped, broken, out of place, where at the bet is
an erect phallus, and at the wall a red slit drawn at a sheet of paper.
Also part of the feminine contemporary team is the artist Italian –
Olindense Isabella Stampanoni, who is not from a family of artists, but
is married to Francisco Baccaro, so, he is the daughter – in – law of Lúcia
Santos and Giuseppe Baccaro, and that’s why the idea of artists’ family is not
What’s seen is the occupancy of walls belonging to private properties,
something that at any moment can be done again, restores, painted over
by its owners. This is legal in any place; it has to do with agreements and
compromises between artists and owners. In Olinda is no different, artist of
graffiti here manifest themselves (besides Paulo do Amparo) as, for example:
Glauber; Arbus; AEO (who draws in his trajectory a triangle, a square and a
circle); Derlon, who is now at the national “media”; the collective Acidum,
from Fortaleza; Caboco, from Mato Grosso, a group that travels around Brazil
doing graffiti and taking pictures; Caju, who belongs to the collective at the
Misericórdia Slope made by Caju, Galo, Bizunga and AEO. At the intersection
located at Henrique Dias St. with the 13 de maio, there is the façade of the
Collective Studio Cabra Fulô, directed by the Portuguese artist Ruy and Chia,
from Minas Gerais, creator at the audiovisual community field.
I have a special interest about the art that is called nowadays graffiti,
shifting its mineral meaning to painting in wall, urban art, and street
art. For me there is an intimate relation between the graffiti as an urban
manifestation and the cave painting. I have already written about it in the
80s, at a text entitled “Urbanorruperstre” (Urbanrupestre), from where I
extract the following piece:
What does it have that is urban? From the Science
of Urbanism point of view nothing. But from the point
of view of the urban man, gregarious, which builds
cities and gets buried in it, who yet, as his distant
ancestors, looks to the sky at eager to understand,
it makes total sense. Our origins still pulse, and will
always pulse, when we reconnect to the land and
by doing it fulfill our horizons summarized at walls,
utopia do olhar
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
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bulkheads, territorial limits that deep in the soul howl
suffocated.
Imagining a leap in time since the paintings
of Serra das Capivaras until now; we find more or
less the same elements encouraging the life in his
contemporary scenery. The rhea and deer that our
ancestors hunt to eat are nowadays at the streets in
billboards inside supermarkets as the meat of the day,
the sex scenes expressed at the stone walls occupy
all the contemporary media, the brands that limited
hunting territories are nowadays replaced by brands
of property in service of money and power.
What have changed? Probably the concept or form
of power. If at ten thousand years ago the shaman
had the power, today he is the owner of the funds that
detains him. Did the shaman disappear? Certainly
not, he is here as he has always been, translating in
pure and true forms the lies that the civilization has
traced at his “path, inevitable to death”, as Gilberto
Gil said at his song “Cérebro Eletrônico”. The shaman
is the artist, because he is the one who links us to
worlds that surpass the give and take, and transform
this binary limit in plain visions of expressions and
feelings.
Keeping the focus at contemporary art in Olinda, the performer artist
Aslan Cabral was kind enough to give the following lines:
I’ve discovered Olinda during the 90s, when I was
15. The reformist strength of the time was the Mangue
movement, which Chico Science brought up as a
significant future. I consider myself from Olinda, by the
commuting migration that the artists made between
Recife and Olinda. I remember that when I came to
Olinda, I used to take my shoes off to step at those
streets loaded with history. I don’t untie myself from
the historical references. I’m not simply looking ahead
and forgetting the past.
I had a studio at Amparo St, next door to Iza’s
house and in front of Bajado’s, I also lived for two years,
through FUNARTE at a hostel at São Bento St., in front
of Alceu Valença’s house.
I was very connected to Fernando Perez and
Cuquinha. Fernando had “The Smallest House at
Olinda”, a house in front of São Francisco Tap that had
less than a meter and a half of width. He transformed
it in a dynamic and eternal work, when he changed the
colors of the faced constantly preserving the painted
title: “The Smallest House of Olinda”. The he hosted
huge parties.
A shocking performance by Fernando Peres
was done at MAC of Olinda, also as a Hall’s work: he
collected his recent and old pictures and with them
he made a fire, then he began to jump over the fire. At
Olho, the name was Bruno Vilela’ suggestion.
The Branco do Olho, or BO, simplified, in its
nine years of life walked through a rich path and
has gathered a curriculum that is a reference in
contemporary art here, having other formations along
its path as, at the post Olinda phase: Rodrigo Braga and
Clarissa Finiz, Bárbara Collier, João Manuel, Eduardo
Romero, Luciana Padilha, Xanxa, Romo, Zel, Sérgio
Vasconcelos, Roy Rêgo, Séphora, Mauricio Costa, all of
them active artists.
BO modifies itself in its dynamic, nowadays it
made by the artists Bruno Monteiro, Daniel Santiago,
Braz Marinho, Luciana Padilha, Eduardo Romero,
Charles Martins, Rodrigo Cabral and Marcela Camelo.
At the semester that BO was located in Olinda,
it made an exemplary program of manifestations
of contemporary art, begun by the exposition
“Fraenkelstein 2” that left Olinda in a roaming through
Rio de Janeiro and São Paulo. After that BO did the
exposition Fotografias no Jardim (Photography in the
garden) with participants, besides the ones from the
collective artists, Argentinians, Portuguese, and North
Americans. BO enrolled with the whole group at the
festival Olinda Art Everywhere of 2004.”
the first jump, the flames were still low, but it began to
grow and he jumped the second time. At the third time,
the flames were already able to burn, but he jumped
again. He jumped it with all his strength and burned
his legs. He burned the hair of his arms and legs and
got all scorched.
I was beside Cuquinha when he produced Mara do
Ácaro, taking pictures of his girlfriend Daniela Brilhante,
who also lived over there, at Prudente de Morais. He
took pictures of her whole body in micro pictures,
reproduced them in a bigger size and placed them
floating at Capibaribe. This work was made at the State
Hall of 2004.
Another work of Cuquinha that relates to Olinda is
O Viral (The Clothes Line), a gigantic clothes line that he
assembled at the Art Everywhere. At stretched this live
over the Capibaribe, at the Ibirapuera in São Paulo and
in Weimar, in Germany.
I think that Olinda still interests artists, the
contemporary ones included. I liked a lot o “As Barbies
Boquetes Vocals” that acted during the year 2000, and
the space Casa do Cachorro Preto, located at 13 de
maio.
A naïve democracy
Aslan’s last performance was his participation at the reality show Big
Brother Brasil, aired by Globo Television, where he had the opportunity to
expose his image and attitudes in front of the Brazilian grand public. Of course
it was interesting to him to compete for a prize in money, but I find something
more in this competition, I find his desire of visibility as a performance of a
visual artist that puts himself with his whole body – body art.
Certainly the manifestations of contemporary art aren’t limited in Olinda,
the few things that I’ve exposed above, many more happen: many ideas,
many creations, may inventions are articulated and develop. But also were
made in Olinda’s grounds many things that have important repercussion
nowadays in a national scale, as the collective Branco do Olho.
Bruno Monteiro, with whom I have the pleasure to debate, for decades,
matters of art in the contexts of here and now, gave me the information that
follow about the origin of the Collective Branco do Olho:
“Between July and December of 2004, a group
of young artists rented for six months the house 155
at Misericórdia Slope, where nowadays is the studiogallery of the naïve artist J. Calazans, with the objective
of meeting, talking. Two of them, Bruno Monteiro and
Augusto Japiá participated at the Fine Arts Awards of
Pernambuco in 1999, the others Bruno Vieira and Bruno
Vilela. From there was born the Collective Branco do
So there you have it; my impressions about this city
where a spontaneous citizenship is practiced in its praxis, baroque in the
exuberant and informal attitude, and naive in the pure way those who live
here create. I would really say that we live in a naïve democracy. Naïve, but
not at the political or administrative point of view. This is a territory of the
highest rationality, but from the popular point of view, as in carnival, and
affordable to the people, who demonstrates its culture out of the trends of
marketing pattern.
I would like to quote and article from the art critic
carioca Lígia Canongia, published the O Globo in November 6th, 1988,
entitled “The repeated northeastern figuration”, that comments about
the contemporary Art Hall of Pernambuco at that year’s edition, when our
democracy was still crawling if compared to today. The text comes from the
thought that art follows an evolutionary path that has in its models the big
production centers – read “commercialization centers”. So, what was done
outside of the “agreed” was received as folkloric or late. This aligns to the
idea of art progress, as if in art a progress concept would fit. At the article
you can read:
“However, what can be observed is that the
local artistic production has been maintaining itself
always marginal from the conquests implemented in
other States, especially in Rio and São Paulo, where
invariably, the set of avant – guards concentrated.
275
And the hall of 88 comes, once more; to show that the
regional patterns are imperative, even if to the artists
doesn’t lack the chance to know the art done at the
rest of the world, by traveling or by books. Nobody
here, as there, is Darwinian to believe at an irresistible
and fatalist evolution of Northeastern art, that is, to
believe that a higher intelligence capable to surpass
the simple maintenance of the so called “northeastern
figure” can’t exist”
And so she continues in this article. I want to believe
that she doesn’t think like that nowadays, even because as “higher
intelligence” that she was complaining we have today a “contemporary art”
– the quote marks are to draw attention, top notch in Pernambuco. But this
doesn’t decrees the end of the “figuration of Pernambuco”, neither of the
naïve art, nor the landscaping paintings, portraits and even still natures for
only one reason, the painter who paint like that are alive and live from their
works because they have public.
Among other reasons of this book, to talk about this
subject without the general prejudice of the new owners of art is one of
them. This is not a history book; I don’t have this science, but is a story book,
although I think that at some moment he will contribute to an art History at
the Northeast. It’s not an art critic rehearsal, the texts signed by me written
to friends are more at chronicle grounds than at theory ones.
This book is, in truth, homage to friends and partners
of the same knowledge, the same mania, who receive me as one of them
in this city of Olinda. The stone and lime structure of a city that is only inert
matter: the city is much more than that, the city is its people, its inhabitant,
and it is in the people that the utopia of solidarity, of citizenship and
democracy, even if naïve, even if baroque. By the way, both categories only
aggregate quality to the ideology when it’s about something non office like,
non burocratic.
The subjects I didn’t talk about, the books I didn’t refer
to, the people I never quoted, the images I didn’t edit, for lack of memory of
historical proficiency, are worth other books like this one.
From the Ribeira’s Movement to the current graffiti;
from MAC to the Art Everywhere; from Oficina 154 to Ribeira Arts and Crafts;
from Amparo 60 to the Sobrado Gallery, many paths were walked. We have
talked of so many artists whose works are important to the Brazilian culture,
as Samico, João Câmara, Delano, Roberto Lúcio, José Cláudio, among so
many, and verified the urgency to preserve their collections, that at last
would be constituted in artistic treasures to the Brazilian People.
When writing this book I also wanted to draw attention
to this: I never let to believe in the fact that art can and must be a gift from the
artist to his people, (his public, if you wish) for more egocentric that he can
eventually be. One of the examples that show this generosity is the festival
Olinda Art Everywhere that was created by the artists Tereza Costa Rego,
Petrônio Cunha and Plínio Victor, who also produced the first anthological
version on the year 2000. The Art Everywhere, from the second version on,
began to be produced by the entrepreneur João Falcão, until the year 2010,
always focused at everyone’s participation. This fact, although it provoked a
utopia do olhar
276
leveling that wasn’t always accepted, demonstrated a democratic concern
in relation to the artist.
So there’s no other way to finish this book if not
evoking Zé Barbosa, one of the most authentic here:
Hail Olinda!
January 10th, 2013.
antenor viera de melo, fcpsho, guaianases e aloísio magalhães
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278
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