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DIVERSIDADE DE GÊNERO E A PERFORMANCE ECONÔMICA-FINANCEIRA:
PERSPECTIVA NO SETOR PÚBLICO BRASILEIRO
Paulo Sérgio Almeida-Santos
Universidade de Brasília.
José Matias-Pereira
Universidade de Brasília.
Ivana Aparecida Ferrer Silva
Universidade Federal de Mato Grosso.
Área Temática: F) Sector Público
Palavras-chave: Diversidade. Gênero. Performance econômico-financeira. Setor público.
Brasil.
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DIVERSIDADE DE GÊNERO E A PERFORMANCE ECONÔMICA-FINANCEIRA:
PERSPECTIVA NO SETOR PÚBLICO BRASILEIRO
Resumo
O artigo tem como objetivo verificar se a diversidade de gênero da gestão de topo medida
pelo (i) nível de homogeneidade; (ii) proporção de mulheres; e (iii) alto comando exercido
por uma mulher, favorecem ou diferenciam a performance econômico-financeira (PE-f) dos
Governos Estaduais Brasileiros. Os resultados mostram que de fato as mulheres fazem a
diferença em relação à PE-f auferidas por seus Entes, mais especificamente quanto à
solvência e ao tamanho da dívida. Embora, tal constatação não ocorra por meio de modelos
estatísticos tão robustos, e.g., de causa e efeito, os achados alinham-se parcialmente aos
resultados de pesquisas anteriores.
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1. Introdução
A diversidade é um tema bastante presente na mídia, por meio de: novelas, cinema,
publicidade, programas de auditório, revistas, entre outros (Dinis, 2008). Ademais, esta
temática, notadamente tem sido nos últimos anos, objeto de pesquisas em diversos países
(Marinova, Plantenga & Remery, 2010; Hanashiro et al. 2005). Em especial, no âmbito das
organizações empresariais, onde a discriminação de gênero (um tipo de diversidade),
continuadamente é um problema a ser combatido (Mass & Torres-González, 2011).
A principal discriminação, identificada na literatura, é a falta de oportunidade às
mulheres na gestão de topo dessas firmas, i.e., ocupações mais elevadas em seus board
(conselho de administração). Substancialmente, os board dessas companhias são
ocupados, em sua grande maioria, por executivos do gênero masculino, e essa prevalência,
tem-se mantido constante nos últimos anos (e.g. Kalleberg & Leicht, 1991; Erhardt, 2003;
Carter et al., 2003; Smith et al., 2006; Francouer et al., 2008; Campbell & Mínguez-Vera,
2008; Krishnan, 2009; Maza & Cristóbal, 2009; Marinova et al., 2010; Dobbin & Jung, 2011;
Fraga & Silva, 2012; Overveld, 2012; Dobbin & Jung, 2011; Darmadi, 2013). Tais pesquisas
discutem a inflência da diversidade de gênero sobre a performance financeira das
empresas1.
Embora, o efeito da diversidade de gênero sobre a performance econômicofinanceira não esteja muito bem esclarecida, grande parte dessas pesquisas defendem que
um número maior de mulheres no board das companhias favorece os rendimentos
(rentabilidade) destas (e.g., ROE, ROA, q de Tobin etc.) (ver: Marinova, Plantenga &
Remery, 2010; Dobbin e Jung, 2011). Uma das principais contribuições dessas
investigações é buscar evidências, na tentativa de estimular a participação, mais efetiva das
mulheres na gestão das empresas; construindo, pois, uma teoria de que – uma proporção
maior de mulheres no board dessas entidades – pode contribuir, i.e., favorecer suas
performances econômico-financeira, já que passaria a existir em tais board, um nível mais
acentuado de homogeneidade – uma diversidade de gênero semelhante – um equilíbrio
entre o número de homens e mulheres.
Considerando o contexto brevemente relatado, esta pesquisa busca atacar o
seguinte problema: no setor público a participação mais efetiva das mulheres na gestão de
topo (board) dos Governos Estaduais, também favorece ou diferencia a performance
econômico-financeira destes entes? Pesquisas locais têm relatado, o pouco interesse das
mulheres Brasileiras pela política, em que é visto, um efetivo muito pequeno de políticos do
gênero feminino participando tanto do Poder Executivo, quanto Legislativo, mais
acentuadamente no primeiro (e.g. Grossi & Miguel, 2001; Miguel & Queiroz, 2004; Bohn,
2008; Craveiro, 2011; Morais, 2012, Santos, 2012). Neste contexto, busca-se por meio de
um criterioso procedimento metodológico, verificar se a diversidade de gênero da gestão de
topo (board) medida pelo (i) nível de homogeneidade; (ii) proporção de mulheres; e (iii) alto
comando exercido por uma mulher, favorecem ou diferenciam a performance econômicofinanceira dos Governos Estaduais Brasileiros no médio prazo. Em que, esta é vista a partir
de indicadores de análise orçamentária e patrimonial.
Teoricamente, a pesquisa, além de agregar valor para as investigações sobre o
tema, outrora, realizadas, inova fazendo esta discussão no âmbito do setor público, em que
existe, assim como constatado no setor privado (composição do board), um percentual
mínimo de políticos do gênero feminino participando das decisões públicas no país. De
modo prático, espera-se comprovar que uma maior efetividade de mulheres participando no
board dos Estados Brasileiros pode favorecer a performance econômico-financeira destes
Entes, a fim de promover, mais oportunidades às mulheres nessas entidades. Socialmente,
busca-se fomentar, igualmente, a participação mais efetiva das mulheres na política
Brasileira, a fim de tornar mais igualitário, o exercício do Poder Público no Brasil,
principalmente, na Esfera Estadual.
2. Método
2.1. População e amostra
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A pesquisa quantitativa conduzida por meio dos procedimentos: descritivo e
documental; observa os dados das 27 Unidades Federativas (UF) do Brasil, em um período
de três anos (2011-2013). É investigada apenas a gestão de topo do Poder Executivo,
composição da Governadoria, Vice-governadoria, e das Secretarias de Estados.
2.3. Variáveis
2.3.1. Variável resposta
A variável dependente, performance econômico-financeira, é representada
inicialmente por 16 indicadores econômico-financeiros: oito orçamentários, e oito
patrimoniais; os quais são inicialmente submetidos ao teste de normalidade KolmogorovSmirnov, e em seguida selecionados por meio da análise das componentes principais
(ACP), em que se extrai, apenas aqueles com maior nível de correlação com as
componentes principais aferidas pela Análise das Componentes Principais (ACP). A partir
da estratégia descrita: as seguintes variáveis de performance econômico-financeira são
delineadas:
• Performance1(Y1) = Logaritmo natural da: liquidez imediata mais 1, do Estado
i no ano t (sendo t = 2011, 2012 e 2013).
• Performance2(Y2) = Logaritmo natural da: liquidez seca mais 1, do Estado i
no ano t (sendo t = 2011, 2012 e 2013).
• Performance3(Y3) = Logaritmo natural do: índice de solvência mais 1, do
Estado i no ano t (sendo t = 2011, 2012 e 2013).
• Performance4(Y4) = Logaritmo natural do: endividamento geral mais 1, do
Estado i no ano t (sendo t = 2011, 2012 e 2013).
2.3.2. Variável explicativa ou independente
A variável independente, diversidade de gênero, está representada pelos seguintes
parâmetros de:
• Nível de homogeneidade (X1): mensurada por meio do nível de heterogeneidade
definido por Gibbs e Martin (1962, p. 670), e reescrito por Blau, Blum e Schwartz
(1982, p. 50), adaptado conforme a Fórmula 1:
(1)
n
H i = 1 − ∑ Pi 2
i =1
Onde:
Hi = nível de homogeneidade de gênero da gestão de topo do Estado i (governadoria, vicegovernadoria e secretariado).
P = proporção de homens e mulheres na gestão de topo do Estado i (governadoria, vicegovernadoria e secretariado).
(ii) Proporção de mulheres na gestão de topo do Estado i (X2): encontrado conforme a
Fórmula 2:
(2)
n
Pi % =
∑m
i =1
n
∑j
i =1
Onde:
Pi% = proporção de mulheres presentes na gestão de topo do Estado i (governadoria, vicegovernadoria e secretariado).
m = quantidade de mulheres presentes na gestão de topo do Estado i (governadoria, vicegovernadoria e secretariado).
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j = quantidade de homens e mulheres presentes na gestão de topo do Estado i
(governadoria, vice-governadoria e secretariado).
(iii) Comando da gestão de topo exercido por uma mulher (X3) – variável qualitativa nominal
(dummy), a qual verifica se o Estado i é comandado/governado por uma mulher, isto é: a
chefia do Poder Executivo é exercida por uma mulher? Sim: ‘1’; Não: ‘0’.
2.3.3. Variáveis de controle
Sete variáveis de controle são levantadas, considerando também suas possíveis
influências sobre a performance econômico-financeira da população observada, a saber:
• Tamanho (Cont1): medido pelo número de habitantes de cada Estado em
observação (coletada do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas – IBGE);
• Receitas próprias per capita (Cont2): medida pelo total de receitas próprias do
ente, dividido pelo seu número de habitantes (coletado no Sistema de Coleta de
Dados Contábeis – SISTN);
• Dependência financeira per capita (Cont3): medida pela totalidade de recursos
recebidos de transferências do Governo Federal pelo ente, dividido pelo seu
número de habitantes (coletado no Sistema de Coleta de Dados Contábeis –
SISTN);
• Gastos com custeio per capita (Cont4): medida pelo total de gastos correntes do
ente, dividido pelo seu número de habitantes (coletado no Sistema de Coleta de
Dados Contábeis – SISTN);
• Gastos com investimentos per capita (Cont5): medida pelo total de gastos em
investimentos e inversões financeiras feitas pelo ente, dividido pelo seu número
de habitantes (coletado no Sistema de Coleta de Dados Contábeis – SISTN);
• Desenvolvimento econômico (Cont6): medido pelo PIB per capita do Estado de
acordo (coletado do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas – IBGE); e
• Desenvolvimento humano (Cont7): medido pelo Índice de Desenvolvimento
Humano do Estado (coletado do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas –
IBGE).
2.4. Seleção do método estatístico para atestar as hipóteses gerais da pesquisa
Considerando que todas as variáveis da pesquisa foram explanadas, os seguintes
modelos matemáticos de regressão linear com dados em painel são esboçados:
(3)
Ln (Y 1 + 1) i ,t = β 0 + β1 X 1i ,t + β 2 Ln ( X 2 ) i ,t + β 3 ( X 3 ) i ,t β 4 Ln ( Cont 1 + 1) i ,t + β 5 Cont 2 i ,t
+ β 6 Cont 4 i ,t + β 7 Ln ( Cont 5 ) i ,t + β 8 Ln ( Cont 6 ) i ,t + β 9 Cont 7 i ,t + ε i ,t
(4)
Ln (Y 2 + 1) i ,t = β 0 + β1 X 1i ,t + β 2 Ln ( X 2 ) i ,t + β 3 ( X 3 ) i ,t β 4 Ln ( Cont 1 + 1) i ,t + β 5 Cont 2 i ,t
+ β 6 Cont 4 i ,t + β 7 Ln ( Cont 5 ) i ,t + β 8 Ln ( Cont 6 ) i ,t + β 9 Cont 7 i , t + ε i ,t
(5)
Ln (Y 3 + 1) i ,t = β 0 + β1 X 1i ,t + β 2 Ln ( X 2 ) i ,t + β 3 ( X 3 ) i ,t β 4 Ln ( Cont 1 + 1) i ,t + β 5 Cont 2 i ,t
+ β 6 Cont 4 i ,t + β 7 Ln ( Cont 5 ) i ,t + β 8 Ln ( Cont 6 ) i ,t + β 9 Cont 7 i , t + ε i ,t
(6)
Ln (Y 4 + 1) i ,t = β 0 + β1 X 1i ,t + β 2 Ln ( X 2 ) i ,t + β 3 ( X 3 ) i ,t β 4 Ln ( Cont 1 + 1) i ,t + β 5 Cont 2 i ,t
+ β 6 Cont 4 i ,t + β 7 Ln ( Cont 5 ) i ,t + β 8 Ln ( Cont 6 ) i ,t + β 9 Cont 7 i , t + ε i ,t
Onde:
Y1 = Logaritmo natural da liquidez imediata mais 1 do Estado i no ano t (sendo t = 2011,
2012 e 2013).
5
Y2 = Logaritmo natural da liquidez seca mais 1 do Estado i no ano t (sendo t = 2011, 2012 e
2013).
Y3 = Logaritmo natural do índice de solvência mais 1 do Estado i no ano t (sendo t = 2011,
2012 e 2013).
Y4 = Logaritmo natural do endividamento geral mais 1 do Estado i no ano t (sendo t = 2011,
2012 e 2013).
X1 = Nível de homogeneidade de gênero da gestão de topo do Estado i.
X2 = Logaritmo natural da proporção de mulheres presentes na gestão de topo do Estado i.
X3 = Dummy, em que: comando da gestão de topo exercido por uma mulher? Sim = 1; Não
= 0.
Cont1 = Logaritmo natural do número de habitantes mais 1 do Estado i no ano t (sendo t =
2010, 2010 e 2010).
Cont2 = Receitas próprias per capita do Estado i no ano t (sendo t = 2011, 2012 e 2013).
Cont4 = Gastos com custeio per capita do Estado i no ano t (sendo t = 2011, 2012 e 2013).
Cont5 = Logaritmo natural dos gastos com investimentos per capita mais 1 do Estado i no
ano t (sendo t = 2010, 2011 e 2012).
Cont6 = Logaritmo natural do PIB per capita mais 1 do Estado i no ano t (sendo t = 2011,
2011 e 2011).
Cont7 = Índice de Desenvolvimento Humano do Estado i no ano t (sendo t = 2010, 2010 e
2010).
β0 = Intercepto do modelo.
β1... β 8 = Coeficientes angulares das variáveis explicativas e de controle.
ε i,t = Erro estatístico do modelo.
Não obstante, quando avaliados outros pressupostos além da normalidade, os
modelos de regressão em relevo não passaram pelos testes de homocedasticidade e
independência dos resíduos.
Doravante, o resultados, e consequentemente, a construção das hipóteses
norteadoras da pesquisa, dar-se-ão baseados nas saídas da estatística não-paramétrica,
neste caso será aplicado o Teste U de Mann-Whitney (1947), para duas amostras
independentes. Releva destacar que este teste também fora utilizado por Francouer et al.
(2008).
De modo perspectivo, se assumirá para as variáveis independentes: X1 e X2,
também a característica nominal (dummy), assim como já assumido por X3. Essa atribuição
é feita pela separação da população dos Estados, em duas amostras, em que: Estados que
apresentam tanto em X1 quanto em X2, valores acima da mediana (i.e. com base em seus
valores originais, ver seção 2.3.2), recebem a dummy ‘1’, e, consequentemente àqueles com
valores abaixo, recebem a dummy ‘0’. Assim, o Teste U de Mann-Whitney é aplicado
comparando-se os grupos m e n, especialmente quanto à performance econômicofinanceira, em que: m = amostra com o menor número de observações (Grupo1), e n =
amostra com o maior número de observações (Grupo2).
3. Perspectiva teórica
3.1. Diversidade de gênero
O vocábulo – diversidade – é muito amplo, e, por conseguinte, não há, pois,
peremptoriamente conceitos exclusivos para esta temática (ver Hanashiro et al. 2005).
De acordo com Silveira (2008) tomando-se por base as diferenças biológicas e
físicas, supostamente, a primeira diversidade notada entre os seres humanos tenha sido
àquela entre homens e mulheres. Logo, a melhor distinção das diferenças entre homens e
mulheres, bem como as relações de desigualdade social que comportam tais diferenças,
tanto na vida pública quanto privada, faz-se necessário distinguir conceitualmente os
termos: sexo e gênero (CRUZ, 2012).
Conforme Cruz (2012, p. 18) o termo sexo: faz alusão às “características biológicas
que nos fazem machos ou fêmeas, indivíduos diferenciados por nossos atributos sexuais”;
6
ao passo que o termo gênero, faz referência “à mudança, à construção psicológica, social e
cultural das características consideradas femininas ou masculinas, habitualmente adquiridas
por homens e mulheres, respectivamente.”
Adicionalmente, a diversidade também alude à heterogeneidade. Esta depende do
quantitativo de subgrupos em que uma população de certos elementos (e.g., pessoas, etnia,
sexo, idade etc.) está dividida, i.e., distribuída entre eles; quanto maior o número de grupos
nessa determinada população, maior dessemelhança existe nela (Blau, 1974).
Uma das primeiras pesquisas a medir a heterogeneidade de uma determinada
população foi a de Gibbs e Martin (1962), em que, outrora, mensuraram a diversidade de
trabalho, em diversos setores produtivos, de 45 países em âmbito mundial na década de 50.
Fazendo o uso da Fórmula 10, os autores não perceberam disparidades significativas do
número de trabalhadores dentre os setores investigados, i.e., tratavam-se, pois, de setores
homogêneos quanto à mão-de-obra empregada (mais detalhes: ver Gibbs & Martin, 1962, p.
670-672):
1−
[∑ X / (∑ X )]
2
(7)
2
Onde: X é o número de pessoas em cada setor produtivo observado.
Quando associado às organizações (entidades), o termo diversidade, enseja ideias
de diferenciação de pessoas quanto ao: gênero, idade, etnia, habilidades físicas, entre
outros (Silveira, 2006). A diversidade de gênero neste contexto concorre à categorização do
desiquilíbrio existente entre homens e mulheres na condução da gestão, em que existe uma
superioridade maior daqueles (Maza & Cristóbal, 2009). Assim, nos debates sobre gênero,
existe a “predominância do tema da dominação dos homens sobre as mulheres” (Dinis,
2008, p. 481).
Diversas pesquisas têm investigado a relação entre a diversidade de gênero e a
performance. Embora esta, assim quanto à primeira, também possa ser concebida em
outros contextos, os mais recorrentes na literatura são: (i) performance laboral (e.g., Hind &
Baruch, 1997; Talmud & Izraeli, 1999; Mass & Torres-Gonzalez, 2011; Duff, 2013; Festing;
Knappert & Kornau, 2015); e (ii) performance econômico-financeira, a qual é objeto desta
pesquisa.
Um dos primeiros trabalhos a verificar a relação entre a performance econômicofinanceira e a diversidade de gênero, fora o de Kalleberg e Leicht (1991). Os autores
constataram em uma amostra de sociedades empresariais da Índia, que não existiam
diferenças estatisticamente significativas entre: os lucros aferidos pelo grupo de empresas
dirigidas por homens, e o grupo de firmas gerenciadas por mulheres.
Erhardt, Werbel e Shrader (2003) analisaram a relação entre a diversidade do
conselho de administração e a performance econômico-financeira de companhias norteamericanas. Resultados alcançados, tanto por meio da matriz de correlação, quanto da
regressão linear múltipla, mostraram haver uma relação positiva entre a diversidade e a
performance das companhias observadas.
Carter, Simkins e Simpson (2003) também investigando a relação entre a diversidade
do conselho de administração e a performance econômico-financeira de companhias
listadas na Fortune 1000, constataram: que uma proporção maior de mulheres no topo da
gestão eleva o valor da companhia, bem como favorece o seu crescimento.
Smith, Smith e Verner (2006) buscaram evidenciais da relação entre a participação
da mulher na gestão de topo e a performance econômico-financeira das maiores
companhias dinamarquesas no período de 1993-2001. Os resultados achados por meio da
regressão linear múltipla com dados em painel apontaram para uma relação positiva das
variáveis; adicionalmente foi visto – quanto maior a qualificação da CEO mulher – melhor é
a performance da companhia.
Francoeur, Labelle e Sinclair-Desgagné (2008) verificaram se a participação de
mulheres no conselho de administração e na alta gestão (CEO) de empresas canadenses,
7
aumentava a performance financeira de empresas canadenses – no período de 1990 a
2004. Os autores constataram que um percentual maior de mulheres na gestão de topo,
pouco favorece a performance financeira das companhias amostradas no período
investigado.
Campbell e Mínguez-Vera (2008) investigaram a relação entre a performance
financeira e a diversidade de gênero de companhias abertas espanholas. Fora constatado
que um maior percentual de mulheres no conselho de administração influência
positivamente a performance financeira das companhias observadas, permitindo os autores
concluírem: que uma melhor diversidade de gênero pode gerar ganhos econômicos para as
companhias observadas.
Maza & Cristóbal (2009) analisaram se a diversidade de gênero da alta gestão tinha
impacto significativo sobre indicadores contábeis de rentabilidade de empresas da região de
Castilla y León (comunidade autônoma da Espanha). Os autores perceberam que na
amostra de empresas investigadas, a diversidade de gênero não tem influência sobre a suas
rentabilidades.
Krishnan (2009) investigou fatores relacionados ao tamanho dos negócios das
empresas listadas na Fortune 1000. Resultados obtidos, tanto por meio da matriz de
correlação, quanto pela regressão linear, não demonstra associação entre a diversidade de
gênero e a performance financeira das companhias observadas.
Marinova, Plantenga e Remery (2010) buscaram analisar o efeito da diversidade de
gênero sobre a performance econômico-financeira de 186 companhias holandesas e
dinamarquesas para o ano de 2007. Estatisticamente fora verificado que a diversidade de
gênero não tinha influência sobre a performance (por meio de Q de Tobin) das empresas
amostradas.
Dobbin e Jung (2011) buscaram evidências do efeito da diversidade de gênero sobre
a performance financeira das maiores norte-americanas. Os resultados alcançados pelos
autores mostram um efeito negativo daquela sobre esta; i.e., a participação mais acentuada
de mulheres no board das companhias observadas, não elevam as suas performances.
No Brasil, Fraga e Silva (2012) investigaram a relação entre a diversidade (gênero,
sexo, etária, educação e independência) e a performance (q de Tobin e ROA) de
companhias brasileiras listadas na BM&FBOVESPA. Em especial, os autores encontraram
um pequeno percentual de mulheres nos conselhos de administração das companhias
observadas, embora, nessas empresas, tal participação (i.e. com pelo menos um integrante
do sexo feminino) possibilitou auferir-se uma performance econômico-financeira superior ao
das demais companhias analisadas (i.e. companhias que não têm ao mínimo uma mulher
em seus board).
Overveld (2012) ao analisar companhias listadas na bolsa de valores de Amsterdã
(Eurinext) quanto à relação entre a diversidade de gênero e a performance econômicofinanceira, não encontrou evidencias de associação estatisticamente significativa entre
essas variáveis. Um dos motivos impulsionadores destes resultados fora visto em razão do
pequeno percentual de mulheres participando do conselho de administração das
companhias observadas.
Darmadi (2013) analisou a relação entre a diversidade de gênero do conselho de
administração e a performance econômico-financeira de companhias abertas indonésias.
Fora constatado que uma representação maior de mulheres no conselho de administração
não favorece a performance econômico-financeira (medido pelo ROA e q Tobin). O autor
também percebera que empresas do tipo familiar têm em seu conselho administrativo maior
percentual de executivos do sexo feminino; ao passo que em companhias de grande porte,
existe uma proporção diferente, em que é visto um percentual maior de homens na alta
gestão das empresas observadas.
No âmbito do setor público pesquisas sobre o tema ainda são escassas, embora,
algumas investigações tratem do tema indiretamente, na tentativa de fundamentar a
participação das mulheres no meio político local. Farah (2004), e.g., ao analisar a
incorporação da perspectiva de gênero por políticas públicas desenvolvidas no âmbito dos
Governos subnacionais (estaduais) no Brasil, percebeu que as principais políticas públicas
8
desenvolvidas em favor das mulheres dizem respeito ao próprio fruto de suas lutas por
igualdade social.
Este resultado admite que a luta das mulheres por espaço no meio público, bem
como por ações que exclusivamente atendem-nas, dependem basicamente de suas lutas
por tal; em que se pode destacar: que a heterogeneidade de gênero no âmbito da gestão
governamental, será minimizada com a provocação do Poder Público, i.e., no enfrentamento
do poderio masculino, que sempre prevaleceu domina o setor.
Destarte, quer-se com esta pesquisa verificar: se as mulheres fazem a diferença ou
não, na apresentação dos resultados contábeis dos Entes subnacionais, efeitos estes,
medido por indicadores de performance econômico-financeira.
3.2. Performance econômico-financeira no setor público
A avaliação da performance (e.g. performance econômico-financeiro,
laboral/humano, operacional, vendas, produtividade, qualidade do produto, atendimento ao
cliente, entre outros) é um tema corrente e contínuo nas organizações, sejam elas privadas
ou públicas (Biulchi & Pauli, 2012). Nesta acepção, igual ao setor privado, no âmbito público,
a temática: performance (desempenho) é muito ampla; em que: os seus resultados podem
ser observados sob a ótica de diversos instrumentos de mensuração. Trata-se, pois, de um
tema inobstante, o qual tem assegurado realizações, nas últimas décadas, de inúmeras
pesquisas sobre o assunto (Pacheco, 2009).
Notoriamente, o estudo da performance no setor público tem em vista, assegurar o
aperfeiçoamento da eficiência e o melhoramento da efetividade dos bens e serviços
públicos, buscando-se otimizar a aplicação de recursos necessários para consecução
daqueles, sem a perda de suas qualidades (ver Suzuki & Gabbi, 2012).
O maior percentual de pesquisas que avaliam a performance no setor público
brasileiro abarcam áreas tais como: saúde e educação (ver Almeida-Santos & Scarpin,
2014). Adicionalmente, parte dessas pesquisas avalia a eficiência alcançada na oferta de
ações nestes setores à população local; sendo que tais investigações recorrentemente têmse utilizado do método de mensuração de eficiência produtiva: Data Envelopment Analysis
(DEA) para prever essa performance (e.g., Varela, 2008; Ribeiro, 2008; Suzuki e Gabbi,
2009; Diniz, Macedo e Corrar, 2012; Almeida-Santos e Scarpin, 2014 etc.)
Em especial, no que concerne a análise da performance econômico-financeira por
meio de indicadores contábeis, é visto que o grande volume de pesquisas desenvolvidas,
tem testado, o impacto, sobretudo, da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), sobre as
finanças dos Entes locais (e.g., Mello, Slomski e Corrar (2005); Lima Júnior (2007); Costa
(2008); Mello e Slomski (2009); Macedo e Corbari (2009); Crozzatti et al. (2010); Gerigk e
Clemente (2011); Santos e Alves (2011); Scarpin, Silva e Vargas (2012); Söthe, Söthe e
Gubiane (2012); Simonassi et al. (2012); Linhares, Penna e Borge (2013); Brito et al. (2014).
Não obstante, outros fatores podem ser investigados além deste. Destarte, inova-se em
verificar a associação entre a performance e a diversidade de gênero. Logo, considerando a
perspectiva teórica que brevemente foi apresentada, e com base no método estatístico nãoparamétrico de duas amostras independentes, teste U, as seguintes hipóteses são
delineadas, e testadas em relação à – performance econômico-financeira – dos Estados
Brasileiro com dados relativos ao período de 2011 a 2013:
H-A0: Os Estados com maior nível de homogeneidade – não são diferentes – dos Estados
com menor nível de homogeneidade.
H-A1: Os Estados com maior nível de homogeneidade – são diferentes – dos Estados com
menor nível de homogeneidade.
H-B0: Os Estados com maior proporção de mulheres na gestão de topo – não são diferentes –
dos Estados com menor proporção de mulheres no topo da gestão.
H-B1: Os Estados com maior proporção de mulheres na gestão de topo – são diferentes – dos
Estados com menor proporção de mulheres no topo da gestão.
9
H-C0: Os Estados cujo comando da gestão de topo é exercido por uma mulher – não são
diferentes – dos Estados cujo comando não é exercido por uma mulher.
H-C1: Os Estados cujo comando da gestão de topo é exercido por uma mulher – são
diferentes – dos Estados cujo comando não é exercido por uma mulher.
4. Resultados e discussão
Na Tabela 1 são apresentadas as estatísticas descritivas do gênero da gestão de
topo dos Estados (board). Notadamente percebe-se a predominância dos homens, tanto na
Governadoria, quanto na Vice-governadoria dos Entes, em mais de 90% (≈). As Secretarias
de Estado, em sua maioria também são comandadas por homens, em mais de 80% (≈). O
maior percentual de mulheres em uma Secretaria de Estado é de 45% (≈); ao passo que o
menor é próximo a 5% (≈). Nesta perspectiva (em média), a proporção total de mulheres
que participam efetivamente da alta gestão dos Estados Brasileiros é de apenas 18% (≈),
contra 82% de homens (≈); logo, o nível de homogeneidade do board dos Estados, supera
pouco mais a metade do valor máximo de homogeneidade (i.e., 0.05) definido por Gibbs &
Martin (1962); neste caso dos Entes Estaduais Brasileiros, este número é igual a 0.29.
Os resultados descritos, não se distanciam daqueles já obtidos, em relação às
entidades do setor privado. Em que: no topo da gestão dessas companhias, tem-se uma
participação mínima de mulheres, e consequentemente, um nível máximo de
heterogeneidade, tanto constatado em empresas Brasileiras quanto internacionais. Neste
contexto, do mesmo modo que existe um esforço para estimular uma participação mais
efetiva das mulheres no board das empresas do setor privado; no âmbito do setor público, o
mesmo deve ser provocado, em especial no Brasil, onde existe um envolvimento pífio das
mulheres Brasileiras na política local (e.g.: Grossi & Miguel, 2001; Miguel & Queiroz, 2004;
Bohn, 2008; Craveiro, 2011; Morais, 2012, Santos, 2012 etc.).
Tabela 1
Estatísticas descritivas do gênero da gestão de topo dos estados (período: 2011 a 2013).
Governadoria
UF
G V-G
AC
H
H
AL
H
H
AP
H
H
AM
H
H
BA
H
H
CE
H
H
DF
H
H
ES
H
H
GO
H
H
MA
M
H
MT
H
H
MS
H
M
MG
H
H
PA
H
H
PB
H
H
PR
H
H
PE
H
H
∑
22
13
24
19
26
17
32
21
16
31
18
11
17
24
16
19
22
∑M
3
5
10
2
4
1
3
3
3
8
3
5
4
4
5
1
2
Secretárias
Fr.
∑H
13.64%
19
38.46%
8
41.67%
14
10.53%
17
15.38%
22
5.88%
16
9.38%
29
14.29%
18
18.75%
13
25.81%
23
16.67%
15
45.45%
6
23.53%
13
16.67%
20
31.25%
11
5.26%
18
9.09%
20
10
Fr.
86.36%
61.54%
58.33%
89.47%
84.62%
94.12%
90.63%
85.71%
81.25%
74.19%
83.33%
54.55%
76.47%
83.33%
68.75%
94.74%
90.91%
∑
24
15
26
21
28
19
34
23
18
33
20
13
19
26
18
21
24
∑M
3
5
10
2
4
1
3
3
3
9
3
6
4
4
5
1
2
Topo da Gestão
Fr.†
∑H
12.50%
21
33.33%
10
38.46%
16
9.52%
19
14.29%
24
5.26%
18
8.82%
31
13.04%
20
16.67%
15
27.27%
24
15.00%
17
46.15%
7
21.05%
15
15.38%
22
27.78%
13
4.76%
20
8.33%
22
Fr.
87.50%
66.67%
61.54%
90.48%
85.71%
94.74%
91.18%
86.96%
83.33%
72.73%
85.00%
53.85%
78.95%
84.62%
72.22%
95.24%
91.67%
NH††
0.24
0.47
0.49
0.19
0.26
0.11
0.17
0.24
0.30
0.38
0.28
0.50
0.36
0.28
0.43
0.10
0.17
PI
RJ
RN
RS
RO
RR
SC
SP
SE
H
H
M
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
H
M
H
H
H
∑Mulher (M)
∑Homem (H)
2
25
2
25
Total
27
27
20
25
19
19
12
15
24
26
18
24
6
3
5
3
1
3
3
3
5
2
30.00%
12.00%
26.32%
15.79%
8.33%
20.00%
12.50%
11.54%
27.78%
8.33%
14
22
14
16
11
12
21
23
13
22
70.00%
88.00%
73.68%
84.21%
91.67%
80.00%
87.50%
88.46%
72.22%
91.67%
22
27
21
21
14
17
26
28
20
26
6
3
6
3
1
4
3
3
5
2
27.27%
11.11%
28.57%
14.29%
7.14%
23.53%
11.54%
10.71%
25.00%
7.69%
16
24
15
18
13
13
23
25
15
24
72.73%
88.89%
71.43%
85.71%
92.86%
76.47%
88.46%
89.29%
75.00%
92.31%
0.42
0.21
0.39
0.27
0.15
0.32
0.22
0.20
0.40
0.15
Χ
20.37
3.70
19.05%
16.67
80.95%
22.37
3.85
17.94%
18.52
82.06%
0.29
Med.
Mín.
Máx.
5.14
19
11
32
2.00
3
1
10
10.79%
15.79%
5.26%
45.45%
5.12
16
6
29
10.79%
84.21%
54.55%
94.74%
5.14
21
13
34
2.14
3
1
10
10.48%
14.29%
4.76%
46.15%
5.22
18
7
31
10.48%
85.71%
53.85%
95.24%
0.12
0.27
0.10
0.50
σ
Legenda: G = Governadoria; V-G = Vice-governadoria; M = Mulher, H = Homem.
††
†
: Proporção de mulheres no topo da gestão dado pela Fórmula 4; : Nível de homogeneidade da gestão de
topo, dado pela Fórmula 3.
Os coeficientes dado pela matriz de correlação de Spearman das variáveis contínuas
são evidenciados na Tabela 2. Especificamente no tange à correlação entre as variáveis
representativas da diversidade de gênero: (X1 e X2), e as da performance econômicofinanceira: (Y1, Y2, Y3 e Y4), são constatados coeficientes de correlação fracos e negativos,
mas significativos: de X1 com Y1(r = –.248; p <0.05), e com Y2(r = –.289; p <0.01); e X2
com: Y1(r = –.249; p <0.01), e com Y2(r = –.278; p <0.01); adicionalmente, ambas as
variáveis de diversidade de gênero não possuem correlações significativas com as variáveis
de performance Y3 e Y4. Em relação àquelas correlações significativas, pode-se inferir que:
à medida que se aumenta (em média) o nível de homogeneidade e a proporção de mulheres
da gestão de topo dos Estados Brasileiros, menor (em média) é a performance dessas
entidades, medido pelo logaritmo natural dos indicadores de liquidez imediata e liquidez
seca mais 1. Este resultado, a priori, indica que as mulheres não favorecem a performance
econômico-financeira dos Estados Brasileiros. Inferências semelhantes por meio de
matrizes de correlação, também foram observadas em pesquisas que amostraram
companhias privadas (e.g., Smith et al., 2005; Krishnan, 2009; Overveld; 2012; Darmadi,
2013); e inversamente destaca-se: Erhardt et al. (2003), os quais observaram uma
correlação positiva entre a diversidade de gênero e a performance econômico-financeira das
maiores companhias de capital aberto listadas na Fortune, conquanto, o nível de
homogeneidade do board de tais empresas fora menor do que o visto aqui: 0.11 (Erhardt et
al., 2003, p.107).
Tabela 2
£
Estatísticas descritivas e matriz de correlação de Spearman das variáveis contínuas (n = 81) .
Χ
0.29
17.94
2.11
3.86
†
5.16
5
†
1.05
6
7
7.26
8
1.99
9
1.43
10 3.06
11 0.40
12 18.62
13 0.705
£
Teste de
Ln(Y+1).
1
2
†
3
†
4
σ
1
0.12
1
10.48
.998**
1.69
-.248*
7.30
-.289**
10.12
.060
1.30
.029
8.46
.255*
1.03
.177
1.42
-.224*
1.21
-.076
0.34
-.224*
11.20
.138
0.049
.053
significância com
2
3
4
5
6
1
-.249*
1
-.278**
.810**
1
.071
.222*
.210
1
.040
-.085 -.012 -.746**
.268* -.332** -.150
-.108
.171 -.327** -.100
.028
-.223*
.579** .437**
.288**
*
-.092
.074 .227
.079
-.227*
.341** .419**
.174
.131 -.318** -.110
.084
.039 -.348** -.175
.065
duas extremidades: **p-value <
7
8
9
10
11
12
13
1
.187
1
-.031
.276*
1
-.053 -.770** -.288**
1
**
-.082 -.304
.649**
.329**
1
**
**
-.107 -.371
.361
.493** .678**
1
-.095
.237*
.910** -.292** .647** .298**
1
-.106
.270*
.841** -.327** .592** .237* .931** 1
0,01; *p-value < 0,05. †Variáveis transformadas pela função:
11
Legenda: 1= (X1)Nível de homogeneidade; 2 = (X2)Proporção de mulheres presentes na gestão de topo; 3 =
(Y1)Performance1-Liquidez Imediata; 4 = (Y2)Performance2-Liquidez Seca; 5 = (Y3)Performance3-Índice de Solvência; 6 =
(Y4)Performance4-Endividamento Total; 7 = (Cont1)Tamanho “em milhões de pessoas”; 8 = (Cont2)Receitas próprias per
capita “em mil de R$”; 9 = (Cont3)Dependência financeira per capita “em mil de R$”; 10 = (Cont4)Gastos com custeio per capita
“em mil de R$”; 11 = (Cont5)Gastos com investimentos per capita “em mil de R$”; 12 = (Cont6)Desenvolvimento econômico
“em mil de R$”; 13 = (Cont7)Desenvolvimento humano “em uma escala de 0.00 a 1.00”.
Antes da demonstração dos resultados do Teste U de Mann-Whitney, que compara
os grupos: 1(m = menor quantidade de observações) e 2(n = maior quantidade
observações), em relação às variáveis contínuas, mais precisamente referente à
performance econômico-financeira apresentado na Tabela 3. É aplicado o teste de quiquadrado para verificar a associação entre as variáveis qualitativas. Os resultados do teste
q, assumindo um α = 0.05, mostram que as variáveis: X1, X2 e X3, respectivamente, são
dependentes, i.e., estão associadas entre si, em que: X1 com X2 (q = 69.305; p < 0.01); X1
com X3 (q = 9.425; p < 0.05); e X2 com X3 (q = 11.016; p < 0.05).
No tocante ao teste U, quanto à variável X1 – nível de homogeneidade – o grupo1
(menor amostra, n = 39) está representado pelos Estados que assumem valores abaixo da
mediana (0.27) (menor nível de homogeneidade); ao passo que o grupo2 (maior amostra, n
= 42) é dado pelos Entes com valores acima da mediana (0.27) (maior nível de
homogeneidade) (ver Painel A). Em relação à performance econômico-financeira, de acordo
com o valor da estatística Z do teste U, demonstra que os grupos 1 e 2, são inteiramente
diferentes, principalmente, concernente à liquidez imediata (Y1) e à liquidez seca (Y2); tanto
para Y1, quanto para Y2, os maiores valores são achados no grupo1; o mesmo também diz
respeito aos valores mínimos e máximos. Este resultado implica quanto à Y1: que a amostra
com maior nível de homogeneidade em seu board (grupo2), apresenta uma situação menos
confortável quanto as suas disponibilidades de recursos (e.g. caixa e equivalentes de caixa),
conseguindo, pois, quitar suas dívidas de curto prazo com mais dificuldades. Referente à
Y2: o grupo2, o mais homogêneo, também tem uma situação menos confortável, quando
despreza o uso de seus ativos não monetários (e.g., contas a receber, estoques, despesas
antecipadas etc.) para estar saldando suas dívidas, igualmente, de curto prazo.
Não obstante, destaca-se que: quanto à performance por meio dos indicadores de
solvência (Y3) e endividamento (Y4), os grupos 1 e 2, são estatisticamente semelhantes
(i.e., apresentam o mesmo valor estatístico (Z = –.681; α > 0.05). Em suma, considerando
um α = 0.05, a primeira hipótese da pesquisa, H-A0, deve ser rejeitada, em razão de existir
ao menos um indicador de performance econômico-financeira, que diferencia os grupos com
menor (grupo1), e maior (grupo2) nível de homogeneidade. Compreendendo-se, neste
contexto, que a performance econômico-financeira (por meio dos indicadores de liquidez e
seca) é mais favorável aos Estados, menos homogêneos ou com um nível maior de
heterogeneidade; contrariamente, a performance relativa à solvência e ao nível de
endividamento, não favorece ou diferencia nenhum dos grupos, a um nível de confiança de
95%.
Tabela 3
Resultados do teste U de Mann-Whitney entre os grupos 1 e 2 amostrados, em relação as variáveis
contínuas
Painel A: Nível de homogeneidade – X1 (N = 81)
Grupo1(X1nominal < Med. = Grupo2(X1nominal > Med. =
0,27): n=39
0,27): n=42
Variáveis Contínuas
Χ
†
Performance1(Liquidez Imediata)
Performance2(Liquidez Seca) †
Performance3(Índice de Solvência) †
Performance4(Endividamento Total) †
Tamanho (em milhões de pessoas)
Receitas próprias per capita (em mil de R$)
Dependência financeira per capita (em mil de R$)
Gastos com custeio per capita (em mil de R$)
Gastos com investimentos per capita (em mil de R$)
Desenvolvimento econômico (em mil de R$)
Desenvolvimento humano
S
Min .
2.76
2.05
0.73
4.78
6.97
1.02
4.10
8.15
0.17
1.27
1.53
0.02
5.27
5.03
0.46
1.90
1.07
0.65
2.04
1.91
0.38
3.46
1.42
1.56
0.54
0.42
0.12
19.44 14.48 7.84
0.708 0.052 0.646
12
Max.
Χ
S
12.12 1.50 1.00
42.97 3.00 7.66
47.11 6.15 11.79
5.74 0.85 1.05
16.37 8.82 10.50
4.73 2.05 1.00
10.12 0.95 0.34
6.41 2.74 0.86
2.23 0.28 0.15
63.02 17.55 6.90
0.824 0.701 0.046
Min .
Max.
z
0.24
0.45
0.20
0.02
1.58
0.58
0.31
0.84
0.09
7.85
0.631
6.13
50.98
54.07
4.90
43.66
4.25
1.64
4.38
0.75
32.45
0.783
–3.956**
–4.811**
–0.681
–0.681
–2.240*
–0.936
–2.864*
–1.928*
–3.308**
–0.932
–0.702
Painel B: Proporção de mulheres presentes na gestão de topo – X2 (N = 81)
Grupo1(X2 nominal < Med. =
Grupo2(X2 > Med. =
14.29%): n = 36
14.29%): n = 45
Variáveis Contínuas
Χ
†
Performance1(Liquidez Imediata)
Performance2(Liquidez Seca) †
Performance3(Índice de Solvência) †
Performance4(Endividamento Total) †
Tamanho (em milhões de pessoas)
Receitas próprias per capita (em mil de R$)
Dependência financeira per capita (em mil de R$)
Gastos com custeio per capita (em mil de R$)
Gastos com investimentos per capita (em mil de R$)
Desenvolvimento econômico (em mil de R$)
Desenvolvimento humano
S
Min .
2.82
2.12
0.73
4.93
7.24
1.02
4.42
8.41
0.19
4.55
4.52
0.46
1.94
1.11
0.65
2.14
1.95
0.38
3.58
1.41
1.56
0.57
0.43
0.12
20.11 14.88 7.84
4.55
4.52
0.46
0.712 0.052 0.646
Max.
Χ
S
12.12 1.53 0.98
42.97 3.00 7.40
47.11 5.76 11.48
16.37 9.16 10.22
4.73 2.00 0.98
10.12 0.94 0.33
6.41 2.69 0.86
2.23 0.27 0.14
63.02 17.14 6.84
16.37 9.16 10.22
0.824 0.699 0.046
Min .
Max.
z
0.24
0.45
0.17
1.58
0.58
0.31
0.84
0.09
7.85
1.58
0.631
6.13
50.98
54.07
43.66
4.25
1.64
4.38
0.75
32.45
43.66
0.783
–3.845**
–4.534**
–0.380
–0.380
–.3.108*
–0.589
–3.374**
–2.623*
–4.077**
–0.514
–1.070
Painel C: Comando da gestão de topo exercido por uma mulher – X3 (N = 81)
Grupo1(Sim): n = 6
Grupo2(Não): n = 75
Variáveis Contínuas
Χ
†
Performance1(Liquidez Imediata)
Performance2(Liquidez Seca) †
Performance3(Índice de Solvência) †
Performance4(Endividamento Total) †
Tamanho (em milhões de pessoas)
Receitas próprias per capita (em mil de R$)
Dependência financeira per capita (em mil de R$)
Gastos com custeio per capita (em mil de R$)
Gastos com investimentos per capita (em mil de R$)
Desenvolvimento econômico (em mil de R$)
Desenvolvimento humano
S
Min .
1.84
0.67
0.58
2.09
0.85
0.85
32.09 12.52 17.60
0.04
0.01
0.02
7.30
8.70
0.49
2.05
1.02
0.77
1.50
1.49
0.31
3.18
1.19
1.74
0.42
0.34
0.11
19.17 11.23 7.84
0.661 0.022 0.639
Max.
Χ
S
2.68 2.13 1.75
3.31 4.00 7.56
54.07 3.01 5.96
0.06 1.14 1.32
43.66 4.70 1.56
4.73 1.07 0.39
10.12 1.14 0.13
6.41 1.88 0.70
2.23 0.20 0.03
63.02 9.57 1.72
0.684 0.708 0.048
Min .
Max.
z
0.24
0.45
0.17
0.05
3.06
0.58
0.97
0.84
0.16
7.85
0.631
12.12
50.98
47.11
5.74
6.79
1.53
1.31
2.84
0.24
11.29
0.824
–0.144
–0.613
–3.949**
–3.949**
–0.126
–2.507*
–0.667
–2.669**
–2.020*
–3.248**
–2.274*
†
**p-value < 0.01; *p-value < 0.05; Variáveis transformadas pela função: Ln(y+1).
Nota: os valores das variáveis qualitativas, apesar de serem fixos no tempo, eles são relativos a três anos de
gestão, e.g., no período de 2011 a 2013, os Estados do Maranhão e Rio Grande do Norte foram governados por
uma mulher, respectivamente, isto que dizer, que a variável X3 é contada três vezes 2 (ano 2011) + 2 (ano 2012)
+ 2 (ano 2013); logo, esta contagem está dentro do Grupo1..
No que tange a variável X2 – proporção de mulheres presentes na gestão de topo (Painel B), ver-se que o grupo1 (m) é formado pelos Estados com menor proporção de
mulheres no board (n = 36); enquanto que o grupo2 (n) tem a amostra dos Entes com a
maior proporção de mulheres no topo da gestão (n = 45) (corte através da mediana =
14,29). Neste caso, considerando-se que basicamente as amostras dos grupos,
concorrerem ao mesmo tamanho das amostras dos grupos 1 e 2 vistos no tocante à X1;
analogamente, as inferências realizadas anteriormente a ela, podem ser assumidas aqui.
Pelos valores das estatísticas do teste U, é visto que os resultados são realmente
equivalentes: liquidez imediata (Z = –3.845; α < 0.01); liquidez seca (–4.534; p < 0.01);
índice de solvência (Z = –.380; p > 0.05); e endividamento (Z = –.380 p > 0.05). Neste caso,
se induz que a performance econômico-financeira de liquidez imediata e seca, é pior (em
média) naqueles Estados, onde a proporção de mulheres é mais acentuada. O mesmo não
pode-se afirmar em razão da solvência e endividamento, já que ambos os grupos são
semelhantes.
Logo, assumindo-se um α = 0.05, a segunda hipótese da pesquisa: H-B0, deve ser
rejeitada, i.e., já que existe ao menos um dos indicadores de performance significativos que
diferencia os grupos m(grupo1 = menor nível de proporção de mulheres no board ) e
n(grupo2 = maior nível de proporção de mulheres no board). Neste caso, com uma
confiança de 95%, existindo um ligeiro favorecimento da performance aos Estados, com
menor nível de proporção de mulheres em sua gestão de topo.
Ainda quanto à X1 e X2, pode-se adicionar: que os grupos 1 e 2 são estatisticamente
diferentes quanto: (a) tamanho em termos populacionais, em que o segundo é considerado
maior; (b) dependência financeira, em que o segundo é menos dependente de recursos
transferidos pelo Governo Federal; (c) gastos de custeio, em que o segundo os realizam de
modo mais moderado; e (d) gastos com investimentos, em que o primeiro apresenta um
maior volume de gastos com esta natureza de despesa (ver Painéis A e B).
13
Referente à variável X3 – comando da gestão de topo exercido por uma mulher (Painel C), o grupo1(m) é dado pelos Estados que têm apenas duas mulheres ocupando o
posto de Governador(a), n = 6; ao passo que o restante da amostra, i.e., aqueles Estados,
cujo comando é exclusivo de homens, compõem o grupo2, n = 75. Os resultados da
performance quanto à solvência/endividamento, em especial, relevando o comando do
board exercido por apenas uma mulher; diverge quando tem-se maior homogeneidade e
maior proporção de mulheres no topo da gestão. Esta percepção está clara por meio dos
valores produzidos por ambos os grupos quanto à solvência e ao endividamento. No
primeiro caso, o grupo1 de Estados, cujo board é comandado por uma mulher, apresenta
em média uma melhor solvência financeira, bem como são menos endividados (segundo
caso), quando comparado ao grupo2, i.e., a amostra de Estados, cuja gestão de topo é
comandada por homens. Nesta acepção, os grupos 1 e 2 não são estatisticamente
semelhantes: quanto à performance econômico-financeira de: solvência (Z = –3.949; p >
0.05) e endividamento (Z = –3.949; p > 0.05). Todavia, são semelhantes quanto: às
liquidezes imediata (Z = –0.144; p > 0.05) e seca (Z = –0.613; p > 0.05). Logo, em razão
destes resultados, a hipótese H-C0 é rejeitada, considerando um α = 0.05, i.e., inferir que a
confiança de uma mulher chefiar o Governo de um Estado, e este, ser mais solvente, e
menos endividado, é de ≈ 95%, em relação a este mesmo comando, ser exercido por um
homem. De modo material, este resultado é ratificado pelos últimos dados da STN, quanto à
análise do endividamento dos Estados Brasileiros. Neste caso, os dois únicos Estados que
tem em seu alto comando, uma mulher (e.g., Maranhão e Rio Grande do Norte), figuram
entre os Estados que apresentaram a melhor performance, no tocante à redução e o
equilíbrio de suas dívidas pública, sobretudo, o primeiro (ver Carazzai, 2014).
Adicionalmente, pesquisas anteriores mostraram que o tamanho da dívida pública sofreu a
partir do ano 2000, grande influência da LRF, sobretudo, na tentativa de reduzi-lo (e.g. Mello
et al. 2005; Costa, 2008; Macedo e Corbari, 2009; Crozzatti et al., 2010; Linhares et al.,
2013).
Todavia, este novo achado mostra que do mesmo modo que a LRF, a gestão de
topo, quando comandada por uma mulher, permite reduções significativas (em média) do
tamanho da dívida pública, especialmente, pelo alto nível de solvência que esses Estados
gerenciados por mulheres conseguiram demonstrar (em média) no período investigado.
Assim, pode-se conceber que as mulheres, neste caso, são tão rigorosas quanto à LRF,
quando se trata de controlar o nível de endividamento das entidades sob sua
responsabilidade, embora, essa equiparação, metaforicamente, seja substanciosa demais.
Acrescenta-se ainda que os grupos 1 e 2, ainda não se assemelham estatisticamente
quanto: (a) receitas próprias, em que o primeiro possui um poder maior de arrecadação; (b)
gastos de custeio, em que o primeiro realiza-os mais acentuadamente; (c) gastos de
investimentos, em que o segundo, os faz de modo mais moderado; (d) desenvolvimento
econômico, em que o primeiro é mais desenvolvido; e (e) desenvolvimento humano, em que
o segundo supera o primeiro (ver Painel C).
Adicionalmente, destaca-se que: embora, os resultados aqui apresentados, quanto à
associação entre a diversidade de gênero e a performance econômico-financeira, seja
alcançada por meio da estatística não-paramétrica. Estes seguem os mesmos padrões de
discussões feitas por: [1] (e.g. Erhardt, 2003; Carter et al., 2003; Smith et al., 2006;
Francouer et al., 2008; Campbell & Mínguez-Vera, 2008; Krishnan, 2009; Fraga & Silva,
2012); e, opostamente seguem [2] (e.g. Kalleberg & Leicht, 1991; Maza & Cristóbal, 2009;
Marinova et al., 2010; Overveld, 2012; Dobbin & Jung, 2011; Darmadi, 2013); ambas as
pesquisas realizadas com amostras de entidades do setor privado. As principais
constatações dessas investigações é que um: [1] quantitativo maior de mulheres favorece a
performance econômico-financeira, embora, essa conclusão, igualmente, possa ser
associada também a um pequeno número de mulheres participando do board dessas
companhias. No segundo caso, [2], apesar de suas perspectivas teóricas apontarem esse
norte, seus resultados foram opostos.
5. Conclusão
14
Um dos principais temas emergentes no âmbito das organizações nas últimas
décadas diz respeito à diversidade de gênero. Esta pesquisa tratou deste assunto no âmbito
do setor público, em que verificou: se a diversidade de gênero da gestão de topo (board)
medida pelo (i) nível de homogeneidade; (ii) proporção de mulheres; e (iii) alto comando
exercido por uma mulher – favorece ou diferencia a performance econômico-financeira –
dos Governos Estaduais Brasileiros no médio prazo.
Assim como fora constatado na literatura que a gestão de topo das companhias
privadas é carente de mulheres. No setor público, a realidade não é diferente. Sendo que,
de modo igual, existe a predominância dos homens; sendo mais marcante na Governadoria
e na Vice-governadoria, e menos acentuada, entre as Secretarias de Estado.
De modo geral: o nível de homogeneidade, e a proporção de mulheres do board dos
Estados Brasileiros estão dentro de um mesmo padrão das companhias privadas, outrora,
constatado em pesquisas anteriores. Isto possibilita inferir: que o setor privado e o setor
público local quanto à – diversidade de gênero da gestão de topo – estão no mesmo plano.
Por exemplo, constatações anteriores por meio de matrizes de correlação (Pearson e
Spearman) mostram haver correlações negativas entre a diversidade de gênero e a
performance econômico-financeira. Os coeficientes de correlação aqui encontrados, entre
essas mesmas variáveis, também despontaram nesta direção. Assim percebe-se que um
grupo mais homogêneo, e no qual exista um percentual mais acentuado de mulheres, sua
performance econômico-financeira decresce com a mesma variação, sobretudo, relativo aos
indicados de liquidez imediata e seca. Não obstante, não é chegado a uma conclusão
definitiva para o comportamento dessas correlações, conquanto, possa-se afirmar que os
Estados, cujo board sejam mais homogêneos e possuam maior proporção de mulheres,
concorrem para um uso mais constante de suas disponibilidades para estar quitando suas
dívidas de curto prazo, i.e., um board mais feminino, prefere liquidar ou priorizar suas
obrigações flutuantes a suas dívidas fundadas (i.e. exigíveis superiores a 12 meses). Ou
supostamente, tais correlações devam-se ao valor mínimo que se tem de mulheres, em que
quando comparado a um número mais elevado de homens, haja um tendência de
favorecimento a estes, em detrimento àquelas.
Por meio da estatística paramétrica (análise de regressão com dados em painel) a
ideia de relação entre a diversidade de gênero e performance econômico-financeira, não foi
suportada, especialmente, pela violação de alguns pressupostos para aplicação efetiva de
tal método. Neste sentido, tal constatação deu-se por meio de inferências da estatística nãoparamétrica, mais precisamente pelo teste U de Mann-Whitney. A partir deste método, três
hipóteses foram testadas: (i) nível de homogeneidade; (ii) proporção de mulheres no topo
da gestão; e (iii) comando da alta gestão exercido por uma mulher versus performance
econômico-financeira.
Referente ao – nível de homogeneidade – foi percebido que os Estados mais
homogêneos apresentam (em média) pior performance econômico-financeira, quando esta,
é medida pela liquidez seca, i.e., esses conseguem saldar com mais dificuldade suas curtas
obrigações, principalmente quando não utilizam, os seus ativos não-monetários (e.g., contas
a receber, estoques etc.).
Neste mesmo sentido, ocorrem em relação àqueles Estados com – maior proporção
de mulheres – presentes em sua gestão de topo. Estes, igualmente, quando não utilizam os
seus ativos não-monetários têm maior dificuldade para quitar suas obrigações no curto
prazo, em relação àqueles Estados menos homogêneos, e com menor proporção de
mulheres em seus board.
Outros resultados também verificados concorrem para a não semelhança dos
grupos. Tanto o grupo de Estados com maior nível de homogeneidade, quanto com maior
proporção de mulheres em seus board, em média, são maiores (parâmetro populacional);
possuem menor dependência financeira de recursos do Governo Federal; e seus gastos
com custeio e investimento são menores, em relação ao grupo de Estados com menor
homogeneidade e menor proporção de mulheres participando do board.
Atinente ao fato do – comando da alta gestão ser exercido exclusivamente por uma
mulher – é percebido que: embora, exista um número muito pequeno de mulheres em tal
15
cargo, os Estados comandados por elas, conseguem ser mais solventes e apresentar um
nível de endividamento menor, se comparado àquele grupo de Estados, os quais são
comandados por homens. Estes resultados podem ser explicados por meio de outros fatores
tais como: (a) as receitas próprias, em média, maiores desse grupo, em que seus Estados
conseguem arrecadar mais receitas, em relação ao segundo; (b) os gastos de custeio (em
média) são maiores, e os gastos com investimentos são menores, i.e., esses entes
(comandados por uma mulher) comprometem menos seus recursos no longo prazo, ou seja,
assume menos dívidas longas; além, disso este grupo (c) tem um poder econômico mais
forte, embora, apresente um índice de desenvolvimento humano menor, contudo, não pode
haver generalização frente a esse resultado, vez que os dados do IDH estão defasados em
relação à gestão atual desse grupo de mulheres. Metaforicamente, assume-se aqui: que
exclusivamente, essas mulheres no período de suas gestões, foram tão rigorosas quanto à
LRF, às quais conseguiram manter um bom equilíbrio de suas dívidas públicas.
Dessa forma, o problema formulado pela pesquisa: no setor público a participação
mais efetiva de mulheres na gestão de topo (board) dos governos estaduais também
favorece ou diferencia a performance econômico-financeira destes entes? Foi
categoricamente respondido. Primeiro é visto que no setor público local, assim como no
setor privado, tem-se um percentual ínfimo de mulheres participando efetivamente da gestão
de topo/board das entidades. Não obstante, Estados com maior nível de homogeneidade, e
maior proporção de mulheres em seu board, não conseguem auferir as melhores
performances através dos indicadores de liquidez imediata e seca. Trata-se, pois, de Entes
que conseguem apresentar uma situação de caixa, menos confortável, em relação àqueles,
os quais têm um board menos homogêneo, e um volume proporcionalmente menor, de
mulheres participando dele. Por fim, foi concebido que aquele grupo de Estados, cujo
governo é exercício por uma mulher, consegue ser mais solvente e manter seu
endividamento, mais equilibrado, em relação ao grupo de Estados, cujo Governo é exercido
exclusivamente por homens. Este achado em específico, não difere da literatura, em que se
observara que aquelas firmas, mesmo com um número muito baixo de mulheres
participando do alto comando da gestão, essa ínfimo número, faz a diferença no tocante às
performances financeiras auferidas por tais companhias.
Releva destacar que: embora, atualmente, a gestão mais alta do País, esteja sob o
comando de uma mulher, excita-se a participação mais efetiva das mulheres brasileiras no
meio político local, em especial, na gestão de topo. Os resultados aqui alcançados numa
análise de três anos, mostrou que as mulheres podem favorecer ou diferenciar
positivamente a performance econômico-financeira das entidades com as quais estão
evolvidas; mais marcadamente quanto aos indicadores de solvência e endividamento (entes
mais solventes, e menos endividados), conquanto, esses achados não sejam alcançados
numa perspectiva de causa e efeito, em que poderia se prever verdadeiramente qual a o
impacto da diversidade de gênero sobre a performance econômico-financeira das entidades
do setor público local.
Assim, teoricamente, é agregado valor para as investigações, outrora, realizadas
sobre o tema em relevo; agora, em especial, estendendo-o para o âmbito das entidades do
setor público. De modo prático, é mostrado que numa perspectiva da tendência central, em
especial, as mulheres podem favorecer a performance das entidades do setor público
referente ao nível de solvência (i.e., maior) e endividamento (i.e., menor); por fim, os
resultados aqui encontrados, contribuem para a continuidade de se compelir a participação
mais efetiva das mulheres no meio político local, a fim de tornar o poder público – mais
igualitário/mais homogêneo – entre mulheres e homens, tanto no Executivo, quanto no
Legislativo, sobretudo, no board do primeiro, em que a diversidade de gênero é mais
vultosa, não distanciando-se, neste caso, do assegurando pela literatura, que os homens,
predominam a gestão de topo das entidades, quer sejam elas privadas (achado anterior) ou
públicas (novo achado).
Doravante, é ressaltado, que estes resultados não devem ser generalizados em
relação a outras entidades públicas locais (e.g., municípios) ou de outros países. O mesmo
também é destacado a outro período, o qual não seja o que aqui fora investigado, vez que, a
16
estrutura dos Estados observados é discrepante dos entes municipais, e quiçá, das
entidades públicas de outros países; e ao período, o comportamento das variáveis está
sujeito ao aspecto dinâmico/evolutivo da gestão pública.
Notas:
1. Utiliza-se o termo performance ao invés de desempenho, por entender que aquele tem
uma relação maior com a mensuração de resultados econômico-financeiros por meio de
números contábeis.
2. As estimativas estatísticas: tanto paramétrica, quanto não-paramétrica foram realizadas
por meio do Software SPSS 20.
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DIVERSIDADE DE GÊNERO E A PERFORMANCE