41f DIVERSIDADE DE GÊNERO E A PERFORMANCE ECONÔMICA-FINANCEIRA: PERSPECTIVA NO SETOR PÚBLICO BRASILEIRO Paulo Sérgio Almeida-Santos Universidade de Brasília. José Matias-Pereira Universidade de Brasília. Ivana Aparecida Ferrer Silva Universidade Federal de Mato Grosso. Área Temática: F) Sector Público Palavras-chave: Diversidade. Gênero. Performance econômico-financeira. Setor público. Brasil. 1 DIVERSIDADE DE GÊNERO E A PERFORMANCE ECONÔMICA-FINANCEIRA: PERSPECTIVA NO SETOR PÚBLICO BRASILEIRO Resumo O artigo tem como objetivo verificar se a diversidade de gênero da gestão de topo medida pelo (i) nível de homogeneidade; (ii) proporção de mulheres; e (iii) alto comando exercido por uma mulher, favorecem ou diferenciam a performance econômico-financeira (PE-f) dos Governos Estaduais Brasileiros. Os resultados mostram que de fato as mulheres fazem a diferença em relação à PE-f auferidas por seus Entes, mais especificamente quanto à solvência e ao tamanho da dívida. Embora, tal constatação não ocorra por meio de modelos estatísticos tão robustos, e.g., de causa e efeito, os achados alinham-se parcialmente aos resultados de pesquisas anteriores. 2 1. Introdução A diversidade é um tema bastante presente na mídia, por meio de: novelas, cinema, publicidade, programas de auditório, revistas, entre outros (Dinis, 2008). Ademais, esta temática, notadamente tem sido nos últimos anos, objeto de pesquisas em diversos países (Marinova, Plantenga & Remery, 2010; Hanashiro et al. 2005). Em especial, no âmbito das organizações empresariais, onde a discriminação de gênero (um tipo de diversidade), continuadamente é um problema a ser combatido (Mass & Torres-González, 2011). A principal discriminação, identificada na literatura, é a falta de oportunidade às mulheres na gestão de topo dessas firmas, i.e., ocupações mais elevadas em seus board (conselho de administração). Substancialmente, os board dessas companhias são ocupados, em sua grande maioria, por executivos do gênero masculino, e essa prevalência, tem-se mantido constante nos últimos anos (e.g. Kalleberg & Leicht, 1991; Erhardt, 2003; Carter et al., 2003; Smith et al., 2006; Francouer et al., 2008; Campbell & Mínguez-Vera, 2008; Krishnan, 2009; Maza & Cristóbal, 2009; Marinova et al., 2010; Dobbin & Jung, 2011; Fraga & Silva, 2012; Overveld, 2012; Dobbin & Jung, 2011; Darmadi, 2013). Tais pesquisas discutem a inflência da diversidade de gênero sobre a performance financeira das empresas1. Embora, o efeito da diversidade de gênero sobre a performance econômicofinanceira não esteja muito bem esclarecida, grande parte dessas pesquisas defendem que um número maior de mulheres no board das companhias favorece os rendimentos (rentabilidade) destas (e.g., ROE, ROA, q de Tobin etc.) (ver: Marinova, Plantenga & Remery, 2010; Dobbin e Jung, 2011). Uma das principais contribuições dessas investigações é buscar evidências, na tentativa de estimular a participação, mais efetiva das mulheres na gestão das empresas; construindo, pois, uma teoria de que – uma proporção maior de mulheres no board dessas entidades – pode contribuir, i.e., favorecer suas performances econômico-financeira, já que passaria a existir em tais board, um nível mais acentuado de homogeneidade – uma diversidade de gênero semelhante – um equilíbrio entre o número de homens e mulheres. Considerando o contexto brevemente relatado, esta pesquisa busca atacar o seguinte problema: no setor público a participação mais efetiva das mulheres na gestão de topo (board) dos Governos Estaduais, também favorece ou diferencia a performance econômico-financeira destes entes? Pesquisas locais têm relatado, o pouco interesse das mulheres Brasileiras pela política, em que é visto, um efetivo muito pequeno de políticos do gênero feminino participando tanto do Poder Executivo, quanto Legislativo, mais acentuadamente no primeiro (e.g. Grossi & Miguel, 2001; Miguel & Queiroz, 2004; Bohn, 2008; Craveiro, 2011; Morais, 2012, Santos, 2012). Neste contexto, busca-se por meio de um criterioso procedimento metodológico, verificar se a diversidade de gênero da gestão de topo (board) medida pelo (i) nível de homogeneidade; (ii) proporção de mulheres; e (iii) alto comando exercido por uma mulher, favorecem ou diferenciam a performance econômicofinanceira dos Governos Estaduais Brasileiros no médio prazo. Em que, esta é vista a partir de indicadores de análise orçamentária e patrimonial. Teoricamente, a pesquisa, além de agregar valor para as investigações sobre o tema, outrora, realizadas, inova fazendo esta discussão no âmbito do setor público, em que existe, assim como constatado no setor privado (composição do board), um percentual mínimo de políticos do gênero feminino participando das decisões públicas no país. De modo prático, espera-se comprovar que uma maior efetividade de mulheres participando no board dos Estados Brasileiros pode favorecer a performance econômico-financeira destes Entes, a fim de promover, mais oportunidades às mulheres nessas entidades. Socialmente, busca-se fomentar, igualmente, a participação mais efetiva das mulheres na política Brasileira, a fim de tornar mais igualitário, o exercício do Poder Público no Brasil, principalmente, na Esfera Estadual. 2. Método 2.1. População e amostra 3 A pesquisa quantitativa conduzida por meio dos procedimentos: descritivo e documental; observa os dados das 27 Unidades Federativas (UF) do Brasil, em um período de três anos (2011-2013). É investigada apenas a gestão de topo do Poder Executivo, composição da Governadoria, Vice-governadoria, e das Secretarias de Estados. 2.3. Variáveis 2.3.1. Variável resposta A variável dependente, performance econômico-financeira, é representada inicialmente por 16 indicadores econômico-financeiros: oito orçamentários, e oito patrimoniais; os quais são inicialmente submetidos ao teste de normalidade KolmogorovSmirnov, e em seguida selecionados por meio da análise das componentes principais (ACP), em que se extrai, apenas aqueles com maior nível de correlação com as componentes principais aferidas pela Análise das Componentes Principais (ACP). A partir da estratégia descrita: as seguintes variáveis de performance econômico-financeira são delineadas: • Performance1(Y1) = Logaritmo natural da: liquidez imediata mais 1, do Estado i no ano t (sendo t = 2011, 2012 e 2013). • Performance2(Y2) = Logaritmo natural da: liquidez seca mais 1, do Estado i no ano t (sendo t = 2011, 2012 e 2013). • Performance3(Y3) = Logaritmo natural do: índice de solvência mais 1, do Estado i no ano t (sendo t = 2011, 2012 e 2013). • Performance4(Y4) = Logaritmo natural do: endividamento geral mais 1, do Estado i no ano t (sendo t = 2011, 2012 e 2013). 2.3.2. Variável explicativa ou independente A variável independente, diversidade de gênero, está representada pelos seguintes parâmetros de: • Nível de homogeneidade (X1): mensurada por meio do nível de heterogeneidade definido por Gibbs e Martin (1962, p. 670), e reescrito por Blau, Blum e Schwartz (1982, p. 50), adaptado conforme a Fórmula 1: (1) n H i = 1 − ∑ Pi 2 i =1 Onde: Hi = nível de homogeneidade de gênero da gestão de topo do Estado i (governadoria, vicegovernadoria e secretariado). P = proporção de homens e mulheres na gestão de topo do Estado i (governadoria, vicegovernadoria e secretariado). (ii) Proporção de mulheres na gestão de topo do Estado i (X2): encontrado conforme a Fórmula 2: (2) n Pi % = ∑m i =1 n ∑j i =1 Onde: Pi% = proporção de mulheres presentes na gestão de topo do Estado i (governadoria, vicegovernadoria e secretariado). m = quantidade de mulheres presentes na gestão de topo do Estado i (governadoria, vicegovernadoria e secretariado). 4 j = quantidade de homens e mulheres presentes na gestão de topo do Estado i (governadoria, vice-governadoria e secretariado). (iii) Comando da gestão de topo exercido por uma mulher (X3) – variável qualitativa nominal (dummy), a qual verifica se o Estado i é comandado/governado por uma mulher, isto é: a chefia do Poder Executivo é exercida por uma mulher? Sim: ‘1’; Não: ‘0’. 2.3.3. Variáveis de controle Sete variáveis de controle são levantadas, considerando também suas possíveis influências sobre a performance econômico-financeira da população observada, a saber: • Tamanho (Cont1): medido pelo número de habitantes de cada Estado em observação (coletada do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas – IBGE); • Receitas próprias per capita (Cont2): medida pelo total de receitas próprias do ente, dividido pelo seu número de habitantes (coletado no Sistema de Coleta de Dados Contábeis – SISTN); • Dependência financeira per capita (Cont3): medida pela totalidade de recursos recebidos de transferências do Governo Federal pelo ente, dividido pelo seu número de habitantes (coletado no Sistema de Coleta de Dados Contábeis – SISTN); • Gastos com custeio per capita (Cont4): medida pelo total de gastos correntes do ente, dividido pelo seu número de habitantes (coletado no Sistema de Coleta de Dados Contábeis – SISTN); • Gastos com investimentos per capita (Cont5): medida pelo total de gastos em investimentos e inversões financeiras feitas pelo ente, dividido pelo seu número de habitantes (coletado no Sistema de Coleta de Dados Contábeis – SISTN); • Desenvolvimento econômico (Cont6): medido pelo PIB per capita do Estado de acordo (coletado do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas – IBGE); e • Desenvolvimento humano (Cont7): medido pelo Índice de Desenvolvimento Humano do Estado (coletado do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas – IBGE). 2.4. Seleção do método estatístico para atestar as hipóteses gerais da pesquisa Considerando que todas as variáveis da pesquisa foram explanadas, os seguintes modelos matemáticos de regressão linear com dados em painel são esboçados: (3) Ln (Y 1 + 1) i ,t = β 0 + β1 X 1i ,t + β 2 Ln ( X 2 ) i ,t + β 3 ( X 3 ) i ,t β 4 Ln ( Cont 1 + 1) i ,t + β 5 Cont 2 i ,t + β 6 Cont 4 i ,t + β 7 Ln ( Cont 5 ) i ,t + β 8 Ln ( Cont 6 ) i ,t + β 9 Cont 7 i ,t + ε i ,t (4) Ln (Y 2 + 1) i ,t = β 0 + β1 X 1i ,t + β 2 Ln ( X 2 ) i ,t + β 3 ( X 3 ) i ,t β 4 Ln ( Cont 1 + 1) i ,t + β 5 Cont 2 i ,t + β 6 Cont 4 i ,t + β 7 Ln ( Cont 5 ) i ,t + β 8 Ln ( Cont 6 ) i ,t + β 9 Cont 7 i , t + ε i ,t (5) Ln (Y 3 + 1) i ,t = β 0 + β1 X 1i ,t + β 2 Ln ( X 2 ) i ,t + β 3 ( X 3 ) i ,t β 4 Ln ( Cont 1 + 1) i ,t + β 5 Cont 2 i ,t + β 6 Cont 4 i ,t + β 7 Ln ( Cont 5 ) i ,t + β 8 Ln ( Cont 6 ) i ,t + β 9 Cont 7 i , t + ε i ,t (6) Ln (Y 4 + 1) i ,t = β 0 + β1 X 1i ,t + β 2 Ln ( X 2 ) i ,t + β 3 ( X 3 ) i ,t β 4 Ln ( Cont 1 + 1) i ,t + β 5 Cont 2 i ,t + β 6 Cont 4 i ,t + β 7 Ln ( Cont 5 ) i ,t + β 8 Ln ( Cont 6 ) i ,t + β 9 Cont 7 i , t + ε i ,t Onde: Y1 = Logaritmo natural da liquidez imediata mais 1 do Estado i no ano t (sendo t = 2011, 2012 e 2013). 5 Y2 = Logaritmo natural da liquidez seca mais 1 do Estado i no ano t (sendo t = 2011, 2012 e 2013). Y3 = Logaritmo natural do índice de solvência mais 1 do Estado i no ano t (sendo t = 2011, 2012 e 2013). Y4 = Logaritmo natural do endividamento geral mais 1 do Estado i no ano t (sendo t = 2011, 2012 e 2013). X1 = Nível de homogeneidade de gênero da gestão de topo do Estado i. X2 = Logaritmo natural da proporção de mulheres presentes na gestão de topo do Estado i. X3 = Dummy, em que: comando da gestão de topo exercido por uma mulher? Sim = 1; Não = 0. Cont1 = Logaritmo natural do número de habitantes mais 1 do Estado i no ano t (sendo t = 2010, 2010 e 2010). Cont2 = Receitas próprias per capita do Estado i no ano t (sendo t = 2011, 2012 e 2013). Cont4 = Gastos com custeio per capita do Estado i no ano t (sendo t = 2011, 2012 e 2013). Cont5 = Logaritmo natural dos gastos com investimentos per capita mais 1 do Estado i no ano t (sendo t = 2010, 2011 e 2012). Cont6 = Logaritmo natural do PIB per capita mais 1 do Estado i no ano t (sendo t = 2011, 2011 e 2011). Cont7 = Índice de Desenvolvimento Humano do Estado i no ano t (sendo t = 2010, 2010 e 2010). β0 = Intercepto do modelo. β1... β 8 = Coeficientes angulares das variáveis explicativas e de controle. ε i,t = Erro estatístico do modelo. Não obstante, quando avaliados outros pressupostos além da normalidade, os modelos de regressão em relevo não passaram pelos testes de homocedasticidade e independência dos resíduos. Doravante, o resultados, e consequentemente, a construção das hipóteses norteadoras da pesquisa, dar-se-ão baseados nas saídas da estatística não-paramétrica, neste caso será aplicado o Teste U de Mann-Whitney (1947), para duas amostras independentes. Releva destacar que este teste também fora utilizado por Francouer et al. (2008). De modo perspectivo, se assumirá para as variáveis independentes: X1 e X2, também a característica nominal (dummy), assim como já assumido por X3. Essa atribuição é feita pela separação da população dos Estados, em duas amostras, em que: Estados que apresentam tanto em X1 quanto em X2, valores acima da mediana (i.e. com base em seus valores originais, ver seção 2.3.2), recebem a dummy ‘1’, e, consequentemente àqueles com valores abaixo, recebem a dummy ‘0’. Assim, o Teste U de Mann-Whitney é aplicado comparando-se os grupos m e n, especialmente quanto à performance econômicofinanceira, em que: m = amostra com o menor número de observações (Grupo1), e n = amostra com o maior número de observações (Grupo2). 3. Perspectiva teórica 3.1. Diversidade de gênero O vocábulo – diversidade – é muito amplo, e, por conseguinte, não há, pois, peremptoriamente conceitos exclusivos para esta temática (ver Hanashiro et al. 2005). De acordo com Silveira (2008) tomando-se por base as diferenças biológicas e físicas, supostamente, a primeira diversidade notada entre os seres humanos tenha sido àquela entre homens e mulheres. Logo, a melhor distinção das diferenças entre homens e mulheres, bem como as relações de desigualdade social que comportam tais diferenças, tanto na vida pública quanto privada, faz-se necessário distinguir conceitualmente os termos: sexo e gênero (CRUZ, 2012). Conforme Cruz (2012, p. 18) o termo sexo: faz alusão às “características biológicas que nos fazem machos ou fêmeas, indivíduos diferenciados por nossos atributos sexuais”; 6 ao passo que o termo gênero, faz referência “à mudança, à construção psicológica, social e cultural das características consideradas femininas ou masculinas, habitualmente adquiridas por homens e mulheres, respectivamente.” Adicionalmente, a diversidade também alude à heterogeneidade. Esta depende do quantitativo de subgrupos em que uma população de certos elementos (e.g., pessoas, etnia, sexo, idade etc.) está dividida, i.e., distribuída entre eles; quanto maior o número de grupos nessa determinada população, maior dessemelhança existe nela (Blau, 1974). Uma das primeiras pesquisas a medir a heterogeneidade de uma determinada população foi a de Gibbs e Martin (1962), em que, outrora, mensuraram a diversidade de trabalho, em diversos setores produtivos, de 45 países em âmbito mundial na década de 50. Fazendo o uso da Fórmula 10, os autores não perceberam disparidades significativas do número de trabalhadores dentre os setores investigados, i.e., tratavam-se, pois, de setores homogêneos quanto à mão-de-obra empregada (mais detalhes: ver Gibbs & Martin, 1962, p. 670-672): 1− [∑ X / (∑ X )] 2 (7) 2 Onde: X é o número de pessoas em cada setor produtivo observado. Quando associado às organizações (entidades), o termo diversidade, enseja ideias de diferenciação de pessoas quanto ao: gênero, idade, etnia, habilidades físicas, entre outros (Silveira, 2006). A diversidade de gênero neste contexto concorre à categorização do desiquilíbrio existente entre homens e mulheres na condução da gestão, em que existe uma superioridade maior daqueles (Maza & Cristóbal, 2009). Assim, nos debates sobre gênero, existe a “predominância do tema da dominação dos homens sobre as mulheres” (Dinis, 2008, p. 481). Diversas pesquisas têm investigado a relação entre a diversidade de gênero e a performance. Embora esta, assim quanto à primeira, também possa ser concebida em outros contextos, os mais recorrentes na literatura são: (i) performance laboral (e.g., Hind & Baruch, 1997; Talmud & Izraeli, 1999; Mass & Torres-Gonzalez, 2011; Duff, 2013; Festing; Knappert & Kornau, 2015); e (ii) performance econômico-financeira, a qual é objeto desta pesquisa. Um dos primeiros trabalhos a verificar a relação entre a performance econômicofinanceira e a diversidade de gênero, fora o de Kalleberg e Leicht (1991). Os autores constataram em uma amostra de sociedades empresariais da Índia, que não existiam diferenças estatisticamente significativas entre: os lucros aferidos pelo grupo de empresas dirigidas por homens, e o grupo de firmas gerenciadas por mulheres. Erhardt, Werbel e Shrader (2003) analisaram a relação entre a diversidade do conselho de administração e a performance econômico-financeira de companhias norteamericanas. Resultados alcançados, tanto por meio da matriz de correlação, quanto da regressão linear múltipla, mostraram haver uma relação positiva entre a diversidade e a performance das companhias observadas. Carter, Simkins e Simpson (2003) também investigando a relação entre a diversidade do conselho de administração e a performance econômico-financeira de companhias listadas na Fortune 1000, constataram: que uma proporção maior de mulheres no topo da gestão eleva o valor da companhia, bem como favorece o seu crescimento. Smith, Smith e Verner (2006) buscaram evidenciais da relação entre a participação da mulher na gestão de topo e a performance econômico-financeira das maiores companhias dinamarquesas no período de 1993-2001. Os resultados achados por meio da regressão linear múltipla com dados em painel apontaram para uma relação positiva das variáveis; adicionalmente foi visto – quanto maior a qualificação da CEO mulher – melhor é a performance da companhia. Francoeur, Labelle e Sinclair-Desgagné (2008) verificaram se a participação de mulheres no conselho de administração e na alta gestão (CEO) de empresas canadenses, 7 aumentava a performance financeira de empresas canadenses – no período de 1990 a 2004. Os autores constataram que um percentual maior de mulheres na gestão de topo, pouco favorece a performance financeira das companhias amostradas no período investigado. Campbell e Mínguez-Vera (2008) investigaram a relação entre a performance financeira e a diversidade de gênero de companhias abertas espanholas. Fora constatado que um maior percentual de mulheres no conselho de administração influência positivamente a performance financeira das companhias observadas, permitindo os autores concluírem: que uma melhor diversidade de gênero pode gerar ganhos econômicos para as companhias observadas. Maza & Cristóbal (2009) analisaram se a diversidade de gênero da alta gestão tinha impacto significativo sobre indicadores contábeis de rentabilidade de empresas da região de Castilla y León (comunidade autônoma da Espanha). Os autores perceberam que na amostra de empresas investigadas, a diversidade de gênero não tem influência sobre a suas rentabilidades. Krishnan (2009) investigou fatores relacionados ao tamanho dos negócios das empresas listadas na Fortune 1000. Resultados obtidos, tanto por meio da matriz de correlação, quanto pela regressão linear, não demonstra associação entre a diversidade de gênero e a performance financeira das companhias observadas. Marinova, Plantenga e Remery (2010) buscaram analisar o efeito da diversidade de gênero sobre a performance econômico-financeira de 186 companhias holandesas e dinamarquesas para o ano de 2007. Estatisticamente fora verificado que a diversidade de gênero não tinha influência sobre a performance (por meio de Q de Tobin) das empresas amostradas. Dobbin e Jung (2011) buscaram evidências do efeito da diversidade de gênero sobre a performance financeira das maiores norte-americanas. Os resultados alcançados pelos autores mostram um efeito negativo daquela sobre esta; i.e., a participação mais acentuada de mulheres no board das companhias observadas, não elevam as suas performances. No Brasil, Fraga e Silva (2012) investigaram a relação entre a diversidade (gênero, sexo, etária, educação e independência) e a performance (q de Tobin e ROA) de companhias brasileiras listadas na BM&FBOVESPA. Em especial, os autores encontraram um pequeno percentual de mulheres nos conselhos de administração das companhias observadas, embora, nessas empresas, tal participação (i.e. com pelo menos um integrante do sexo feminino) possibilitou auferir-se uma performance econômico-financeira superior ao das demais companhias analisadas (i.e. companhias que não têm ao mínimo uma mulher em seus board). Overveld (2012) ao analisar companhias listadas na bolsa de valores de Amsterdã (Eurinext) quanto à relação entre a diversidade de gênero e a performance econômicofinanceira, não encontrou evidencias de associação estatisticamente significativa entre essas variáveis. Um dos motivos impulsionadores destes resultados fora visto em razão do pequeno percentual de mulheres participando do conselho de administração das companhias observadas. Darmadi (2013) analisou a relação entre a diversidade de gênero do conselho de administração e a performance econômico-financeira de companhias abertas indonésias. Fora constatado que uma representação maior de mulheres no conselho de administração não favorece a performance econômico-financeira (medido pelo ROA e q Tobin). O autor também percebera que empresas do tipo familiar têm em seu conselho administrativo maior percentual de executivos do sexo feminino; ao passo que em companhias de grande porte, existe uma proporção diferente, em que é visto um percentual maior de homens na alta gestão das empresas observadas. No âmbito do setor público pesquisas sobre o tema ainda são escassas, embora, algumas investigações tratem do tema indiretamente, na tentativa de fundamentar a participação das mulheres no meio político local. Farah (2004), e.g., ao analisar a incorporação da perspectiva de gênero por políticas públicas desenvolvidas no âmbito dos Governos subnacionais (estaduais) no Brasil, percebeu que as principais políticas públicas 8 desenvolvidas em favor das mulheres dizem respeito ao próprio fruto de suas lutas por igualdade social. Este resultado admite que a luta das mulheres por espaço no meio público, bem como por ações que exclusivamente atendem-nas, dependem basicamente de suas lutas por tal; em que se pode destacar: que a heterogeneidade de gênero no âmbito da gestão governamental, será minimizada com a provocação do Poder Público, i.e., no enfrentamento do poderio masculino, que sempre prevaleceu domina o setor. Destarte, quer-se com esta pesquisa verificar: se as mulheres fazem a diferença ou não, na apresentação dos resultados contábeis dos Entes subnacionais, efeitos estes, medido por indicadores de performance econômico-financeira. 3.2. Performance econômico-financeira no setor público A avaliação da performance (e.g. performance econômico-financeiro, laboral/humano, operacional, vendas, produtividade, qualidade do produto, atendimento ao cliente, entre outros) é um tema corrente e contínuo nas organizações, sejam elas privadas ou públicas (Biulchi & Pauli, 2012). Nesta acepção, igual ao setor privado, no âmbito público, a temática: performance (desempenho) é muito ampla; em que: os seus resultados podem ser observados sob a ótica de diversos instrumentos de mensuração. Trata-se, pois, de um tema inobstante, o qual tem assegurado realizações, nas últimas décadas, de inúmeras pesquisas sobre o assunto (Pacheco, 2009). Notoriamente, o estudo da performance no setor público tem em vista, assegurar o aperfeiçoamento da eficiência e o melhoramento da efetividade dos bens e serviços públicos, buscando-se otimizar a aplicação de recursos necessários para consecução daqueles, sem a perda de suas qualidades (ver Suzuki & Gabbi, 2012). O maior percentual de pesquisas que avaliam a performance no setor público brasileiro abarcam áreas tais como: saúde e educação (ver Almeida-Santos & Scarpin, 2014). Adicionalmente, parte dessas pesquisas avalia a eficiência alcançada na oferta de ações nestes setores à população local; sendo que tais investigações recorrentemente têmse utilizado do método de mensuração de eficiência produtiva: Data Envelopment Analysis (DEA) para prever essa performance (e.g., Varela, 2008; Ribeiro, 2008; Suzuki e Gabbi, 2009; Diniz, Macedo e Corrar, 2012; Almeida-Santos e Scarpin, 2014 etc.) Em especial, no que concerne a análise da performance econômico-financeira por meio de indicadores contábeis, é visto que o grande volume de pesquisas desenvolvidas, tem testado, o impacto, sobretudo, da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), sobre as finanças dos Entes locais (e.g., Mello, Slomski e Corrar (2005); Lima Júnior (2007); Costa (2008); Mello e Slomski (2009); Macedo e Corbari (2009); Crozzatti et al. (2010); Gerigk e Clemente (2011); Santos e Alves (2011); Scarpin, Silva e Vargas (2012); Söthe, Söthe e Gubiane (2012); Simonassi et al. (2012); Linhares, Penna e Borge (2013); Brito et al. (2014). Não obstante, outros fatores podem ser investigados além deste. Destarte, inova-se em verificar a associação entre a performance e a diversidade de gênero. Logo, considerando a perspectiva teórica que brevemente foi apresentada, e com base no método estatístico nãoparamétrico de duas amostras independentes, teste U, as seguintes hipóteses são delineadas, e testadas em relação à – performance econômico-financeira – dos Estados Brasileiro com dados relativos ao período de 2011 a 2013: H-A0: Os Estados com maior nível de homogeneidade – não são diferentes – dos Estados com menor nível de homogeneidade. H-A1: Os Estados com maior nível de homogeneidade – são diferentes – dos Estados com menor nível de homogeneidade. H-B0: Os Estados com maior proporção de mulheres na gestão de topo – não são diferentes – dos Estados com menor proporção de mulheres no topo da gestão. H-B1: Os Estados com maior proporção de mulheres na gestão de topo – são diferentes – dos Estados com menor proporção de mulheres no topo da gestão. 9 H-C0: Os Estados cujo comando da gestão de topo é exercido por uma mulher – não são diferentes – dos Estados cujo comando não é exercido por uma mulher. H-C1: Os Estados cujo comando da gestão de topo é exercido por uma mulher – são diferentes – dos Estados cujo comando não é exercido por uma mulher. 4. Resultados e discussão Na Tabela 1 são apresentadas as estatísticas descritivas do gênero da gestão de topo dos Estados (board). Notadamente percebe-se a predominância dos homens, tanto na Governadoria, quanto na Vice-governadoria dos Entes, em mais de 90% (≈). As Secretarias de Estado, em sua maioria também são comandadas por homens, em mais de 80% (≈). O maior percentual de mulheres em uma Secretaria de Estado é de 45% (≈); ao passo que o menor é próximo a 5% (≈). Nesta perspectiva (em média), a proporção total de mulheres que participam efetivamente da alta gestão dos Estados Brasileiros é de apenas 18% (≈), contra 82% de homens (≈); logo, o nível de homogeneidade do board dos Estados, supera pouco mais a metade do valor máximo de homogeneidade (i.e., 0.05) definido por Gibbs & Martin (1962); neste caso dos Entes Estaduais Brasileiros, este número é igual a 0.29. Os resultados descritos, não se distanciam daqueles já obtidos, em relação às entidades do setor privado. Em que: no topo da gestão dessas companhias, tem-se uma participação mínima de mulheres, e consequentemente, um nível máximo de heterogeneidade, tanto constatado em empresas Brasileiras quanto internacionais. Neste contexto, do mesmo modo que existe um esforço para estimular uma participação mais efetiva das mulheres no board das empresas do setor privado; no âmbito do setor público, o mesmo deve ser provocado, em especial no Brasil, onde existe um envolvimento pífio das mulheres Brasileiras na política local (e.g.: Grossi & Miguel, 2001; Miguel & Queiroz, 2004; Bohn, 2008; Craveiro, 2011; Morais, 2012, Santos, 2012 etc.). Tabela 1 Estatísticas descritivas do gênero da gestão de topo dos estados (período: 2011 a 2013). Governadoria UF G V-G AC H H AL H H AP H H AM H H BA H H CE H H DF H H ES H H GO H H MA M H MT H H MS H M MG H H PA H H PB H H PR H H PE H H ∑ 22 13 24 19 26 17 32 21 16 31 18 11 17 24 16 19 22 ∑M 3 5 10 2 4 1 3 3 3 8 3 5 4 4 5 1 2 Secretárias Fr. ∑H 13.64% 19 38.46% 8 41.67% 14 10.53% 17 15.38% 22 5.88% 16 9.38% 29 14.29% 18 18.75% 13 25.81% 23 16.67% 15 45.45% 6 23.53% 13 16.67% 20 31.25% 11 5.26% 18 9.09% 20 10 Fr. 86.36% 61.54% 58.33% 89.47% 84.62% 94.12% 90.63% 85.71% 81.25% 74.19% 83.33% 54.55% 76.47% 83.33% 68.75% 94.74% 90.91% ∑ 24 15 26 21 28 19 34 23 18 33 20 13 19 26 18 21 24 ∑M 3 5 10 2 4 1 3 3 3 9 3 6 4 4 5 1 2 Topo da Gestão Fr.† ∑H 12.50% 21 33.33% 10 38.46% 16 9.52% 19 14.29% 24 5.26% 18 8.82% 31 13.04% 20 16.67% 15 27.27% 24 15.00% 17 46.15% 7 21.05% 15 15.38% 22 27.78% 13 4.76% 20 8.33% 22 Fr. 87.50% 66.67% 61.54% 90.48% 85.71% 94.74% 91.18% 86.96% 83.33% 72.73% 85.00% 53.85% 78.95% 84.62% 72.22% 95.24% 91.67% NH†† 0.24 0.47 0.49 0.19 0.26 0.11 0.17 0.24 0.30 0.38 0.28 0.50 0.36 0.28 0.43 0.10 0.17 PI RJ RN RS RO RR SC SP SE H H M H H H H H H H H H H H M H H H ∑Mulher (M) ∑Homem (H) 2 25 2 25 Total 27 27 20 25 19 19 12 15 24 26 18 24 6 3 5 3 1 3 3 3 5 2 30.00% 12.00% 26.32% 15.79% 8.33% 20.00% 12.50% 11.54% 27.78% 8.33% 14 22 14 16 11 12 21 23 13 22 70.00% 88.00% 73.68% 84.21% 91.67% 80.00% 87.50% 88.46% 72.22% 91.67% 22 27 21 21 14 17 26 28 20 26 6 3 6 3 1 4 3 3 5 2 27.27% 11.11% 28.57% 14.29% 7.14% 23.53% 11.54% 10.71% 25.00% 7.69% 16 24 15 18 13 13 23 25 15 24 72.73% 88.89% 71.43% 85.71% 92.86% 76.47% 88.46% 89.29% 75.00% 92.31% 0.42 0.21 0.39 0.27 0.15 0.32 0.22 0.20 0.40 0.15 Χ 20.37 3.70 19.05% 16.67 80.95% 22.37 3.85 17.94% 18.52 82.06% 0.29 Med. Mín. Máx. 5.14 19 11 32 2.00 3 1 10 10.79% 15.79% 5.26% 45.45% 5.12 16 6 29 10.79% 84.21% 54.55% 94.74% 5.14 21 13 34 2.14 3 1 10 10.48% 14.29% 4.76% 46.15% 5.22 18 7 31 10.48% 85.71% 53.85% 95.24% 0.12 0.27 0.10 0.50 σ Legenda: G = Governadoria; V-G = Vice-governadoria; M = Mulher, H = Homem. †† † : Proporção de mulheres no topo da gestão dado pela Fórmula 4; : Nível de homogeneidade da gestão de topo, dado pela Fórmula 3. Os coeficientes dado pela matriz de correlação de Spearman das variáveis contínuas são evidenciados na Tabela 2. Especificamente no tange à correlação entre as variáveis representativas da diversidade de gênero: (X1 e X2), e as da performance econômicofinanceira: (Y1, Y2, Y3 e Y4), são constatados coeficientes de correlação fracos e negativos, mas significativos: de X1 com Y1(r = –.248; p <0.05), e com Y2(r = –.289; p <0.01); e X2 com: Y1(r = –.249; p <0.01), e com Y2(r = –.278; p <0.01); adicionalmente, ambas as variáveis de diversidade de gênero não possuem correlações significativas com as variáveis de performance Y3 e Y4. Em relação àquelas correlações significativas, pode-se inferir que: à medida que se aumenta (em média) o nível de homogeneidade e a proporção de mulheres da gestão de topo dos Estados Brasileiros, menor (em média) é a performance dessas entidades, medido pelo logaritmo natural dos indicadores de liquidez imediata e liquidez seca mais 1. Este resultado, a priori, indica que as mulheres não favorecem a performance econômico-financeira dos Estados Brasileiros. Inferências semelhantes por meio de matrizes de correlação, também foram observadas em pesquisas que amostraram companhias privadas (e.g., Smith et al., 2005; Krishnan, 2009; Overveld; 2012; Darmadi, 2013); e inversamente destaca-se: Erhardt et al. (2003), os quais observaram uma correlação positiva entre a diversidade de gênero e a performance econômico-financeira das maiores companhias de capital aberto listadas na Fortune, conquanto, o nível de homogeneidade do board de tais empresas fora menor do que o visto aqui: 0.11 (Erhardt et al., 2003, p.107). Tabela 2 £ Estatísticas descritivas e matriz de correlação de Spearman das variáveis contínuas (n = 81) . Χ 0.29 17.94 2.11 3.86 † 5.16 5 † 1.05 6 7 7.26 8 1.99 9 1.43 10 3.06 11 0.40 12 18.62 13 0.705 £ Teste de Ln(Y+1). 1 2 † 3 † 4 σ 1 0.12 1 10.48 .998** 1.69 -.248* 7.30 -.289** 10.12 .060 1.30 .029 8.46 .255* 1.03 .177 1.42 -.224* 1.21 -.076 0.34 -.224* 11.20 .138 0.049 .053 significância com 2 3 4 5 6 1 -.249* 1 -.278** .810** 1 .071 .222* .210 1 .040 -.085 -.012 -.746** .268* -.332** -.150 -.108 .171 -.327** -.100 .028 -.223* .579** .437** .288** * -.092 .074 .227 .079 -.227* .341** .419** .174 .131 -.318** -.110 .084 .039 -.348** -.175 .065 duas extremidades: **p-value < 7 8 9 10 11 12 13 1 .187 1 -.031 .276* 1 -.053 -.770** -.288** 1 ** -.082 -.304 .649** .329** 1 ** ** -.107 -.371 .361 .493** .678** 1 -.095 .237* .910** -.292** .647** .298** 1 -.106 .270* .841** -.327** .592** .237* .931** 1 0,01; *p-value < 0,05. †Variáveis transformadas pela função: 11 Legenda: 1= (X1)Nível de homogeneidade; 2 = (X2)Proporção de mulheres presentes na gestão de topo; 3 = (Y1)Performance1-Liquidez Imediata; 4 = (Y2)Performance2-Liquidez Seca; 5 = (Y3)Performance3-Índice de Solvência; 6 = (Y4)Performance4-Endividamento Total; 7 = (Cont1)Tamanho “em milhões de pessoas”; 8 = (Cont2)Receitas próprias per capita “em mil de R$”; 9 = (Cont3)Dependência financeira per capita “em mil de R$”; 10 = (Cont4)Gastos com custeio per capita “em mil de R$”; 11 = (Cont5)Gastos com investimentos per capita “em mil de R$”; 12 = (Cont6)Desenvolvimento econômico “em mil de R$”; 13 = (Cont7)Desenvolvimento humano “em uma escala de 0.00 a 1.00”. Antes da demonstração dos resultados do Teste U de Mann-Whitney, que compara os grupos: 1(m = menor quantidade de observações) e 2(n = maior quantidade observações), em relação às variáveis contínuas, mais precisamente referente à performance econômico-financeira apresentado na Tabela 3. É aplicado o teste de quiquadrado para verificar a associação entre as variáveis qualitativas. Os resultados do teste q, assumindo um α = 0.05, mostram que as variáveis: X1, X2 e X3, respectivamente, são dependentes, i.e., estão associadas entre si, em que: X1 com X2 (q = 69.305; p < 0.01); X1 com X3 (q = 9.425; p < 0.05); e X2 com X3 (q = 11.016; p < 0.05). No tocante ao teste U, quanto à variável X1 – nível de homogeneidade – o grupo1 (menor amostra, n = 39) está representado pelos Estados que assumem valores abaixo da mediana (0.27) (menor nível de homogeneidade); ao passo que o grupo2 (maior amostra, n = 42) é dado pelos Entes com valores acima da mediana (0.27) (maior nível de homogeneidade) (ver Painel A). Em relação à performance econômico-financeira, de acordo com o valor da estatística Z do teste U, demonstra que os grupos 1 e 2, são inteiramente diferentes, principalmente, concernente à liquidez imediata (Y1) e à liquidez seca (Y2); tanto para Y1, quanto para Y2, os maiores valores são achados no grupo1; o mesmo também diz respeito aos valores mínimos e máximos. Este resultado implica quanto à Y1: que a amostra com maior nível de homogeneidade em seu board (grupo2), apresenta uma situação menos confortável quanto as suas disponibilidades de recursos (e.g. caixa e equivalentes de caixa), conseguindo, pois, quitar suas dívidas de curto prazo com mais dificuldades. Referente à Y2: o grupo2, o mais homogêneo, também tem uma situação menos confortável, quando despreza o uso de seus ativos não monetários (e.g., contas a receber, estoques, despesas antecipadas etc.) para estar saldando suas dívidas, igualmente, de curto prazo. Não obstante, destaca-se que: quanto à performance por meio dos indicadores de solvência (Y3) e endividamento (Y4), os grupos 1 e 2, são estatisticamente semelhantes (i.e., apresentam o mesmo valor estatístico (Z = –.681; α > 0.05). Em suma, considerando um α = 0.05, a primeira hipótese da pesquisa, H-A0, deve ser rejeitada, em razão de existir ao menos um indicador de performance econômico-financeira, que diferencia os grupos com menor (grupo1), e maior (grupo2) nível de homogeneidade. Compreendendo-se, neste contexto, que a performance econômico-financeira (por meio dos indicadores de liquidez e seca) é mais favorável aos Estados, menos homogêneos ou com um nível maior de heterogeneidade; contrariamente, a performance relativa à solvência e ao nível de endividamento, não favorece ou diferencia nenhum dos grupos, a um nível de confiança de 95%. Tabela 3 Resultados do teste U de Mann-Whitney entre os grupos 1 e 2 amostrados, em relação as variáveis contínuas Painel A: Nível de homogeneidade – X1 (N = 81) Grupo1(X1nominal < Med. = Grupo2(X1nominal > Med. = 0,27): n=39 0,27): n=42 Variáveis Contínuas Χ † Performance1(Liquidez Imediata) Performance2(Liquidez Seca) † Performance3(Índice de Solvência) † Performance4(Endividamento Total) † Tamanho (em milhões de pessoas) Receitas próprias per capita (em mil de R$) Dependência financeira per capita (em mil de R$) Gastos com custeio per capita (em mil de R$) Gastos com investimentos per capita (em mil de R$) Desenvolvimento econômico (em mil de R$) Desenvolvimento humano S Min . 2.76 2.05 0.73 4.78 6.97 1.02 4.10 8.15 0.17 1.27 1.53 0.02 5.27 5.03 0.46 1.90 1.07 0.65 2.04 1.91 0.38 3.46 1.42 1.56 0.54 0.42 0.12 19.44 14.48 7.84 0.708 0.052 0.646 12 Max. Χ S 12.12 1.50 1.00 42.97 3.00 7.66 47.11 6.15 11.79 5.74 0.85 1.05 16.37 8.82 10.50 4.73 2.05 1.00 10.12 0.95 0.34 6.41 2.74 0.86 2.23 0.28 0.15 63.02 17.55 6.90 0.824 0.701 0.046 Min . Max. z 0.24 0.45 0.20 0.02 1.58 0.58 0.31 0.84 0.09 7.85 0.631 6.13 50.98 54.07 4.90 43.66 4.25 1.64 4.38 0.75 32.45 0.783 –3.956** –4.811** –0.681 –0.681 –2.240* –0.936 –2.864* –1.928* –3.308** –0.932 –0.702 Painel B: Proporção de mulheres presentes na gestão de topo – X2 (N = 81) Grupo1(X2 nominal < Med. = Grupo2(X2 > Med. = 14.29%): n = 36 14.29%): n = 45 Variáveis Contínuas Χ † Performance1(Liquidez Imediata) Performance2(Liquidez Seca) † Performance3(Índice de Solvência) † Performance4(Endividamento Total) † Tamanho (em milhões de pessoas) Receitas próprias per capita (em mil de R$) Dependência financeira per capita (em mil de R$) Gastos com custeio per capita (em mil de R$) Gastos com investimentos per capita (em mil de R$) Desenvolvimento econômico (em mil de R$) Desenvolvimento humano S Min . 2.82 2.12 0.73 4.93 7.24 1.02 4.42 8.41 0.19 4.55 4.52 0.46 1.94 1.11 0.65 2.14 1.95 0.38 3.58 1.41 1.56 0.57 0.43 0.12 20.11 14.88 7.84 4.55 4.52 0.46 0.712 0.052 0.646 Max. Χ S 12.12 1.53 0.98 42.97 3.00 7.40 47.11 5.76 11.48 16.37 9.16 10.22 4.73 2.00 0.98 10.12 0.94 0.33 6.41 2.69 0.86 2.23 0.27 0.14 63.02 17.14 6.84 16.37 9.16 10.22 0.824 0.699 0.046 Min . Max. z 0.24 0.45 0.17 1.58 0.58 0.31 0.84 0.09 7.85 1.58 0.631 6.13 50.98 54.07 43.66 4.25 1.64 4.38 0.75 32.45 43.66 0.783 –3.845** –4.534** –0.380 –0.380 –.3.108* –0.589 –3.374** –2.623* –4.077** –0.514 –1.070 Painel C: Comando da gestão de topo exercido por uma mulher – X3 (N = 81) Grupo1(Sim): n = 6 Grupo2(Não): n = 75 Variáveis Contínuas Χ † Performance1(Liquidez Imediata) Performance2(Liquidez Seca) † Performance3(Índice de Solvência) † Performance4(Endividamento Total) † Tamanho (em milhões de pessoas) Receitas próprias per capita (em mil de R$) Dependência financeira per capita (em mil de R$) Gastos com custeio per capita (em mil de R$) Gastos com investimentos per capita (em mil de R$) Desenvolvimento econômico (em mil de R$) Desenvolvimento humano S Min . 1.84 0.67 0.58 2.09 0.85 0.85 32.09 12.52 17.60 0.04 0.01 0.02 7.30 8.70 0.49 2.05 1.02 0.77 1.50 1.49 0.31 3.18 1.19 1.74 0.42 0.34 0.11 19.17 11.23 7.84 0.661 0.022 0.639 Max. Χ S 2.68 2.13 1.75 3.31 4.00 7.56 54.07 3.01 5.96 0.06 1.14 1.32 43.66 4.70 1.56 4.73 1.07 0.39 10.12 1.14 0.13 6.41 1.88 0.70 2.23 0.20 0.03 63.02 9.57 1.72 0.684 0.708 0.048 Min . Max. z 0.24 0.45 0.17 0.05 3.06 0.58 0.97 0.84 0.16 7.85 0.631 12.12 50.98 47.11 5.74 6.79 1.53 1.31 2.84 0.24 11.29 0.824 –0.144 –0.613 –3.949** –3.949** –0.126 –2.507* –0.667 –2.669** –2.020* –3.248** –2.274* † **p-value < 0.01; *p-value < 0.05; Variáveis transformadas pela função: Ln(y+1). Nota: os valores das variáveis qualitativas, apesar de serem fixos no tempo, eles são relativos a três anos de gestão, e.g., no período de 2011 a 2013, os Estados do Maranhão e Rio Grande do Norte foram governados por uma mulher, respectivamente, isto que dizer, que a variável X3 é contada três vezes 2 (ano 2011) + 2 (ano 2012) + 2 (ano 2013); logo, esta contagem está dentro do Grupo1.. No que tange a variável X2 – proporção de mulheres presentes na gestão de topo (Painel B), ver-se que o grupo1 (m) é formado pelos Estados com menor proporção de mulheres no board (n = 36); enquanto que o grupo2 (n) tem a amostra dos Entes com a maior proporção de mulheres no topo da gestão (n = 45) (corte através da mediana = 14,29). Neste caso, considerando-se que basicamente as amostras dos grupos, concorrerem ao mesmo tamanho das amostras dos grupos 1 e 2 vistos no tocante à X1; analogamente, as inferências realizadas anteriormente a ela, podem ser assumidas aqui. Pelos valores das estatísticas do teste U, é visto que os resultados são realmente equivalentes: liquidez imediata (Z = –3.845; α < 0.01); liquidez seca (–4.534; p < 0.01); índice de solvência (Z = –.380; p > 0.05); e endividamento (Z = –.380 p > 0.05). Neste caso, se induz que a performance econômico-financeira de liquidez imediata e seca, é pior (em média) naqueles Estados, onde a proporção de mulheres é mais acentuada. O mesmo não pode-se afirmar em razão da solvência e endividamento, já que ambos os grupos são semelhantes. Logo, assumindo-se um α = 0.05, a segunda hipótese da pesquisa: H-B0, deve ser rejeitada, i.e., já que existe ao menos um dos indicadores de performance significativos que diferencia os grupos m(grupo1 = menor nível de proporção de mulheres no board ) e n(grupo2 = maior nível de proporção de mulheres no board). Neste caso, com uma confiança de 95%, existindo um ligeiro favorecimento da performance aos Estados, com menor nível de proporção de mulheres em sua gestão de topo. Ainda quanto à X1 e X2, pode-se adicionar: que os grupos 1 e 2 são estatisticamente diferentes quanto: (a) tamanho em termos populacionais, em que o segundo é considerado maior; (b) dependência financeira, em que o segundo é menos dependente de recursos transferidos pelo Governo Federal; (c) gastos de custeio, em que o segundo os realizam de modo mais moderado; e (d) gastos com investimentos, em que o primeiro apresenta um maior volume de gastos com esta natureza de despesa (ver Painéis A e B). 13 Referente à variável X3 – comando da gestão de topo exercido por uma mulher (Painel C), o grupo1(m) é dado pelos Estados que têm apenas duas mulheres ocupando o posto de Governador(a), n = 6; ao passo que o restante da amostra, i.e., aqueles Estados, cujo comando é exclusivo de homens, compõem o grupo2, n = 75. Os resultados da performance quanto à solvência/endividamento, em especial, relevando o comando do board exercido por apenas uma mulher; diverge quando tem-se maior homogeneidade e maior proporção de mulheres no topo da gestão. Esta percepção está clara por meio dos valores produzidos por ambos os grupos quanto à solvência e ao endividamento. No primeiro caso, o grupo1 de Estados, cujo board é comandado por uma mulher, apresenta em média uma melhor solvência financeira, bem como são menos endividados (segundo caso), quando comparado ao grupo2, i.e., a amostra de Estados, cuja gestão de topo é comandada por homens. Nesta acepção, os grupos 1 e 2 não são estatisticamente semelhantes: quanto à performance econômico-financeira de: solvência (Z = –3.949; p > 0.05) e endividamento (Z = –3.949; p > 0.05). Todavia, são semelhantes quanto: às liquidezes imediata (Z = –0.144; p > 0.05) e seca (Z = –0.613; p > 0.05). Logo, em razão destes resultados, a hipótese H-C0 é rejeitada, considerando um α = 0.05, i.e., inferir que a confiança de uma mulher chefiar o Governo de um Estado, e este, ser mais solvente, e menos endividado, é de ≈ 95%, em relação a este mesmo comando, ser exercido por um homem. De modo material, este resultado é ratificado pelos últimos dados da STN, quanto à análise do endividamento dos Estados Brasileiros. Neste caso, os dois únicos Estados que tem em seu alto comando, uma mulher (e.g., Maranhão e Rio Grande do Norte), figuram entre os Estados que apresentaram a melhor performance, no tocante à redução e o equilíbrio de suas dívidas pública, sobretudo, o primeiro (ver Carazzai, 2014). Adicionalmente, pesquisas anteriores mostraram que o tamanho da dívida pública sofreu a partir do ano 2000, grande influência da LRF, sobretudo, na tentativa de reduzi-lo (e.g. Mello et al. 2005; Costa, 2008; Macedo e Corbari, 2009; Crozzatti et al., 2010; Linhares et al., 2013). Todavia, este novo achado mostra que do mesmo modo que a LRF, a gestão de topo, quando comandada por uma mulher, permite reduções significativas (em média) do tamanho da dívida pública, especialmente, pelo alto nível de solvência que esses Estados gerenciados por mulheres conseguiram demonstrar (em média) no período investigado. Assim, pode-se conceber que as mulheres, neste caso, são tão rigorosas quanto à LRF, quando se trata de controlar o nível de endividamento das entidades sob sua responsabilidade, embora, essa equiparação, metaforicamente, seja substanciosa demais. Acrescenta-se ainda que os grupos 1 e 2, ainda não se assemelham estatisticamente quanto: (a) receitas próprias, em que o primeiro possui um poder maior de arrecadação; (b) gastos de custeio, em que o primeiro realiza-os mais acentuadamente; (c) gastos de investimentos, em que o segundo, os faz de modo mais moderado; (d) desenvolvimento econômico, em que o primeiro é mais desenvolvido; e (e) desenvolvimento humano, em que o segundo supera o primeiro (ver Painel C). Adicionalmente, destaca-se que: embora, os resultados aqui apresentados, quanto à associação entre a diversidade de gênero e a performance econômico-financeira, seja alcançada por meio da estatística não-paramétrica. Estes seguem os mesmos padrões de discussões feitas por: [1] (e.g. Erhardt, 2003; Carter et al., 2003; Smith et al., 2006; Francouer et al., 2008; Campbell & Mínguez-Vera, 2008; Krishnan, 2009; Fraga & Silva, 2012); e, opostamente seguem [2] (e.g. Kalleberg & Leicht, 1991; Maza & Cristóbal, 2009; Marinova et al., 2010; Overveld, 2012; Dobbin & Jung, 2011; Darmadi, 2013); ambas as pesquisas realizadas com amostras de entidades do setor privado. As principais constatações dessas investigações é que um: [1] quantitativo maior de mulheres favorece a performance econômico-financeira, embora, essa conclusão, igualmente, possa ser associada também a um pequeno número de mulheres participando do board dessas companhias. No segundo caso, [2], apesar de suas perspectivas teóricas apontarem esse norte, seus resultados foram opostos. 5. Conclusão 14 Um dos principais temas emergentes no âmbito das organizações nas últimas décadas diz respeito à diversidade de gênero. Esta pesquisa tratou deste assunto no âmbito do setor público, em que verificou: se a diversidade de gênero da gestão de topo (board) medida pelo (i) nível de homogeneidade; (ii) proporção de mulheres; e (iii) alto comando exercido por uma mulher – favorece ou diferencia a performance econômico-financeira – dos Governos Estaduais Brasileiros no médio prazo. Assim como fora constatado na literatura que a gestão de topo das companhias privadas é carente de mulheres. No setor público, a realidade não é diferente. Sendo que, de modo igual, existe a predominância dos homens; sendo mais marcante na Governadoria e na Vice-governadoria, e menos acentuada, entre as Secretarias de Estado. De modo geral: o nível de homogeneidade, e a proporção de mulheres do board dos Estados Brasileiros estão dentro de um mesmo padrão das companhias privadas, outrora, constatado em pesquisas anteriores. Isto possibilita inferir: que o setor privado e o setor público local quanto à – diversidade de gênero da gestão de topo – estão no mesmo plano. Por exemplo, constatações anteriores por meio de matrizes de correlação (Pearson e Spearman) mostram haver correlações negativas entre a diversidade de gênero e a performance econômico-financeira. Os coeficientes de correlação aqui encontrados, entre essas mesmas variáveis, também despontaram nesta direção. Assim percebe-se que um grupo mais homogêneo, e no qual exista um percentual mais acentuado de mulheres, sua performance econômico-financeira decresce com a mesma variação, sobretudo, relativo aos indicados de liquidez imediata e seca. Não obstante, não é chegado a uma conclusão definitiva para o comportamento dessas correlações, conquanto, possa-se afirmar que os Estados, cujo board sejam mais homogêneos e possuam maior proporção de mulheres, concorrem para um uso mais constante de suas disponibilidades para estar quitando suas dívidas de curto prazo, i.e., um board mais feminino, prefere liquidar ou priorizar suas obrigações flutuantes a suas dívidas fundadas (i.e. exigíveis superiores a 12 meses). Ou supostamente, tais correlações devam-se ao valor mínimo que se tem de mulheres, em que quando comparado a um número mais elevado de homens, haja um tendência de favorecimento a estes, em detrimento àquelas. Por meio da estatística paramétrica (análise de regressão com dados em painel) a ideia de relação entre a diversidade de gênero e performance econômico-financeira, não foi suportada, especialmente, pela violação de alguns pressupostos para aplicação efetiva de tal método. Neste sentido, tal constatação deu-se por meio de inferências da estatística nãoparamétrica, mais precisamente pelo teste U de Mann-Whitney. A partir deste método, três hipóteses foram testadas: (i) nível de homogeneidade; (ii) proporção de mulheres no topo da gestão; e (iii) comando da alta gestão exercido por uma mulher versus performance econômico-financeira. Referente ao – nível de homogeneidade – foi percebido que os Estados mais homogêneos apresentam (em média) pior performance econômico-financeira, quando esta, é medida pela liquidez seca, i.e., esses conseguem saldar com mais dificuldade suas curtas obrigações, principalmente quando não utilizam, os seus ativos não-monetários (e.g., contas a receber, estoques etc.). Neste mesmo sentido, ocorrem em relação àqueles Estados com – maior proporção de mulheres – presentes em sua gestão de topo. Estes, igualmente, quando não utilizam os seus ativos não-monetários têm maior dificuldade para quitar suas obrigações no curto prazo, em relação àqueles Estados menos homogêneos, e com menor proporção de mulheres em seus board. Outros resultados também verificados concorrem para a não semelhança dos grupos. Tanto o grupo de Estados com maior nível de homogeneidade, quanto com maior proporção de mulheres em seus board, em média, são maiores (parâmetro populacional); possuem menor dependência financeira de recursos do Governo Federal; e seus gastos com custeio e investimento são menores, em relação ao grupo de Estados com menor homogeneidade e menor proporção de mulheres participando do board. Atinente ao fato do – comando da alta gestão ser exercido exclusivamente por uma mulher – é percebido que: embora, exista um número muito pequeno de mulheres em tal 15 cargo, os Estados comandados por elas, conseguem ser mais solventes e apresentar um nível de endividamento menor, se comparado àquele grupo de Estados, os quais são comandados por homens. Estes resultados podem ser explicados por meio de outros fatores tais como: (a) as receitas próprias, em média, maiores desse grupo, em que seus Estados conseguem arrecadar mais receitas, em relação ao segundo; (b) os gastos de custeio (em média) são maiores, e os gastos com investimentos são menores, i.e., esses entes (comandados por uma mulher) comprometem menos seus recursos no longo prazo, ou seja, assume menos dívidas longas; além, disso este grupo (c) tem um poder econômico mais forte, embora, apresente um índice de desenvolvimento humano menor, contudo, não pode haver generalização frente a esse resultado, vez que os dados do IDH estão defasados em relação à gestão atual desse grupo de mulheres. Metaforicamente, assume-se aqui: que exclusivamente, essas mulheres no período de suas gestões, foram tão rigorosas quanto à LRF, às quais conseguiram manter um bom equilíbrio de suas dívidas públicas. Dessa forma, o problema formulado pela pesquisa: no setor público a participação mais efetiva de mulheres na gestão de topo (board) dos governos estaduais também favorece ou diferencia a performance econômico-financeira destes entes? Foi categoricamente respondido. Primeiro é visto que no setor público local, assim como no setor privado, tem-se um percentual ínfimo de mulheres participando efetivamente da gestão de topo/board das entidades. Não obstante, Estados com maior nível de homogeneidade, e maior proporção de mulheres em seu board, não conseguem auferir as melhores performances através dos indicadores de liquidez imediata e seca. Trata-se, pois, de Entes que conseguem apresentar uma situação de caixa, menos confortável, em relação àqueles, os quais têm um board menos homogêneo, e um volume proporcionalmente menor, de mulheres participando dele. Por fim, foi concebido que aquele grupo de Estados, cujo governo é exercício por uma mulher, consegue ser mais solvente e manter seu endividamento, mais equilibrado, em relação ao grupo de Estados, cujo Governo é exercido exclusivamente por homens. Este achado em específico, não difere da literatura, em que se observara que aquelas firmas, mesmo com um número muito baixo de mulheres participando do alto comando da gestão, essa ínfimo número, faz a diferença no tocante às performances financeiras auferidas por tais companhias. Releva destacar que: embora, atualmente, a gestão mais alta do País, esteja sob o comando de uma mulher, excita-se a participação mais efetiva das mulheres brasileiras no meio político local, em especial, na gestão de topo. Os resultados aqui alcançados numa análise de três anos, mostrou que as mulheres podem favorecer ou diferenciar positivamente a performance econômico-financeira das entidades com as quais estão evolvidas; mais marcadamente quanto aos indicadores de solvência e endividamento (entes mais solventes, e menos endividados), conquanto, esses achados não sejam alcançados numa perspectiva de causa e efeito, em que poderia se prever verdadeiramente qual a o impacto da diversidade de gênero sobre a performance econômico-financeira das entidades do setor público local. Assim, teoricamente, é agregado valor para as investigações, outrora, realizadas sobre o tema em relevo; agora, em especial, estendendo-o para o âmbito das entidades do setor público. De modo prático, é mostrado que numa perspectiva da tendência central, em especial, as mulheres podem favorecer a performance das entidades do setor público referente ao nível de solvência (i.e., maior) e endividamento (i.e., menor); por fim, os resultados aqui encontrados, contribuem para a continuidade de se compelir a participação mais efetiva das mulheres no meio político local, a fim de tornar o poder público – mais igualitário/mais homogêneo – entre mulheres e homens, tanto no Executivo, quanto no Legislativo, sobretudo, no board do primeiro, em que a diversidade de gênero é mais vultosa, não distanciando-se, neste caso, do assegurando pela literatura, que os homens, predominam a gestão de topo das entidades, quer sejam elas privadas (achado anterior) ou públicas (novo achado). Doravante, é ressaltado, que estes resultados não devem ser generalizados em relação a outras entidades públicas locais (e.g., municípios) ou de outros países. O mesmo também é destacado a outro período, o qual não seja o que aqui fora investigado, vez que, a 16 estrutura dos Estados observados é discrepante dos entes municipais, e quiçá, das entidades públicas de outros países; e ao período, o comportamento das variáveis está sujeito ao aspecto dinâmico/evolutivo da gestão pública. Notas: 1. Utiliza-se o termo performance ao invés de desempenho, por entender que aquele tem uma relação maior com a mensuração de resultados econômico-financeiros por meio de números contábeis. 2. As estimativas estatísticas: tanto paramétrica, quanto não-paramétrica foram realizadas por meio do Software SPSS 20. Referências Almeida-Santos, P. S. & Scarpin, J. E. (2014). Práticas de gestão de estoques e o desempenho nas áreas da educação e da saúde: o caso dos municípios brasileiros. Revista Iberoamericana de Contabilidad de Gestión, Vol. 12, nº. 23, pp. 1-20. Biulchi, A. F. & Pauli, J. (2012). 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