joão serrenho
protagonista
Presidente da Corporação Industrial do Norte
e representante máximo da Confederação Europeia
da Indústria de Tintas e Vernizes, João Serrenho é um
dos grandes rostos do empreendedorismo português.
Fez da CIN líder ibérica e transformou-a numa
das maiores multinacionais do país. Curioso,
inconformado e persistente, Serrenho revela-se
um apaixonado pela cidade do Porto.
Texto: Ana Tulha
Fotos: Virgínia Ferreira
“Quando acredito nalguma coisa, não desisto enquanto não atingir o objectivo, independentemente
do que me possam dizer.” O resultado está à vista.
Com 58 anos, João Serrenho é um dos mais bemsucedidos empresários nacionais. Número um da CIN
(Corporação Industrial do Norte), dirige aquela que é
hoje a maior empresa de tintas do mercado ibérico.
O segredo? Ambição e persistência. “Sempre fui
muito ambicioso. Embora em português o termo possa ter um sentido algo negativo, acredito que sem
ambição não se consegue fazer nada. Se não formos
ambiciosos, acomodamo-nos à situação em que estamos”, sustenta o empresário. No entanto, não descura
a prudência necessária na área dos negócios, frisando
que gosta de tomar decisões arriscadas, mas sempre
calculadas. “Às cegas não faço nada, de maneira nenhuma. As minhas decisões são normalmente ponderadas e muito discutidas. Só avanço quando tenho
elementos suficientes”, assegura.
Um curioso de sucesso
Licenciado em engenharia química, João Serrenho
diz-se dono de uma curiosidade inata. “Sou muito
curioso. Gosto de perceber bem as coisas e tenho
joão serrenho
Sempre em frente
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joão serrenho
protagonista
não é fácil. “Há alturas em que há muito trabalho,
ando sempre a correr, são muitas viagens e sobra
pouco tempo. Mas faço os possíveis e os impossíveis para conseguir”, assegura.
Os livros são uma das grandes paixões do empresário, mas admite que, de há uns tempos para cá, tem
sido difícil manter vivo o hábito da leitura de lazer.
“Como tenho sempre uma lista enorme de coisas
para fazer, quando tenho algum tempo livre, tento
recuperar as atrasadas. De maneira que agora ando
com o mesmo livro há mais de quatro anos!”, frisa.
A criação de uma multinacional
alguma capacidade de juntar uma série de aspectos
diversos e com eles fazer um todo coerente e contínuo”, assinala. Revela-se também um preguiçoso
“saudável”. “Sou preguiçoso, no sentido em que trabalho hoje para amanhã não ter que repetir. Gosto de
pensar bem nas coisas, executar, entregar e não tocar
mais naquilo. Quando as coisas são mal feitas e mal
pensadas, há a tendência de o resultado ser desagradável”, garante.
Apesar de ser um caso de sucesso incontornável,
não esconde que ainda hoje sente receio quando tem
que fazer uma operação mais arriscada. “Há factores
que não controlamos, factores externos e mesmo internos. A maior parte das vezes corre bem, mas há sempre
aspectos que não podemos prever. Por isso é que é
fundamental calcular o risco e equilibrar tudo”, refere.
Numa carreira recheada de êxitos, confessa que ser
eleito presidente da Confederação Europeia da Indústria de Tintas (CEP) teve um significado especial. “É
o orgulho de ser um português o presidente”, refere,
salientando que “é também o reconhecimento das
nossas capacidades enquanto portugueses e do percurso da empresa”.
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Criada em 1926 na versão actual (as raízes vêm
de 1917), a CIN destaca-se como líder do mercado
ibérico de tintas e é hoje uma verdadeira multinacional, marcando presença, para além de Portugal, em
Espanha, França, Alemanha, Holanda e ainda noutros continentes, com fábricas em Angola, Moçambique e na China. O empresário recorda, no entanto,
o papel fundamental do pai, António Serrenho, no
percurso de sucesso da empresa. “A marca do meu
pai é inconfundível. Foi o primeiro químico que pôs
os pés dentro desta casa e quando entrei para cá,
nos anos 70, a CIN já era reconhecida como líder
dos acabamentos industriais”, lembra, acrescentando que, até há bem pouco tempo, o pai manteve o
hábito de visitar a fábrica todos os dias.
João Serrenho aponta o fim dos anos setenta como
uma época de grande importância na história da empresa. “Com o fim do condicionamento industrial,
entrámos numa altura de grande crescimento, altura
em que propus que, em vez de se comprarem novas
máquinas, se fizesse uma linha completamente
nova”, assinala, referindo que, desde então, a empresa cresceu de uma maneira “perfeitamente diabólica”. Igualmente importante foi a aquisição da
Valentine, em Espanha (Barcelona), em 1995. “Deunos um grande alento para continuarmos a fazer aquisições”, assegura.
Tempo para ser pai
Internacionalização e inovação
Apesar de ter uma vida profissional extremamente
exigente, João Serrenho faz questão de reservar tempo
para os filhos, embora assuma que, por vezes, a tarefa
A internacionalização é justamente uma das grandes apostas da CIN, uma tendência que, diz João
Serrenho, acaba por ser natural. “Portugal é um mer9
joão serrenho
protagonista
Orgulho portuense
cado muito pequeno, muito estreito. Se nos dedicássemos só ao mercado nacional, isso limitaria as nossas
possibilidades de crescimento”, explica. O mercado
externo é, na óptica do empresário, fundamental para o
negócio. “Procuro sempre que os nossos quadros principais visitem muitas feiras, da Europa, à Ásia e aos
Estados Unidos, para poderem pegar naquilo que de
bom se faz nas várias partes do mundo e tentar juntar
aqui as melhores práticas que encontrarmos”.
A principal filosofia da CIN é “estar sempre na
vanguarda”. “Acreditamos que temos que inovar permanentemente. Inovar não é só inventar coisas fantásticas. É pegar naquilo que está feito e melhorar,
porque uma das coisas em que acredito é que é sempre possível «construir uma ratoeira melhor»”, salienta. Por isso, a empresa dedica uma parte importante
do capital aos centros de Investigação & Desenvolvimento. Ao todo, há 140 técnicos a trabalhar nos laboratórios da empresa, distribuídos pelo Porto, Barcelona, França e China.
João Serrenho não esconde que a actual conjuntura
económica tem dificultado o progresso da CIN, mas,
ainda assim, revela objectivos ambiciosos. “Daqui a
dez anos, vamos tentar apontar para uma facturação
de 700 milhões de euros“, explica, embora tenha consciência que não será tarefa fácil. “Tenho uma ideia de
como é que se poderá fazer isso, mas não depende só
de nós”, afirma.
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Filho de pais alentejanos mas nascido e criado no
Porto, João Serrenho confessa-se um admirador da
cidade e da gastronomia portuense. “Adoro o Porto, é
uma cidade fantástica, com uma história fascinante… e tenho um especial carinho pela gastronomia
portuense”, salienta. Apreciador, entre muitas outras
coisas, de tripas e francesinhas, elege a Foz e a Baixa
da cidade como locais favoritos e recorda, com saudade, os “bailaricos” de São João nas Fontainhas, os
banhos no mar e os tempos de estudante no Liceu D.
Manuel.
Considera o Porto uma cidade “tradicionalmente
empreendedora” e, embora admita que tem vindo a
perder algum protagonismo, acredita que é possível
inverter esta tendência. “O Porto às vezes preocupase de mais com a perda de protagonismo, quando
devia esforçar-se para protagonizar. O que é preciso é
fazer o que algumas empresas fizeram: crescerem,
continuarem aqui e serem importantes”, aponta.
Adepto do FC Porto, elogia a importância do clube
para a cidade e para o país, mas, questionado quanto
às cores que daria à Invicta, foge do “cliché” do azul
e branco. “Acho que as cores do Porto são as cores
clássicas que, hoje em dia, se vêem muito outra vez,
principalmente na zona da Ribeira. Falo daquelas cores tipicamente inglesas: os ocres, os rosas velhos,
os verdes secos…”, refere. Sempre fiel à cidade que
o viu nascer, diz-se, orgulhosamente, um verdadeiro
“homem do norte”. Q
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