Teresina-PI | Edição nº 36 | Ano X ISSN 1809-0915 Publicação Cientíica da FAPEPI Uespi projetos HomossexUalidade Programa estimula qualiicação docente Tecnologia Assistiva traz bons resultados para o Piauí Mulheres que amam mulheres ganham visibilidade em pesquisa FundAção dE AmPAro à PEsquIsA do EstAdo do PIAuí “A missão da FAPEPI é induzir e fomentar a pesquisa e a inovação cientíica e tecnológica para o desenvolvimento do estado do Piauí”. www.fapepi.pi.gov.br 2 sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI realizações FAPEPI FAPEPI NAS REUNIÕES CIENTÍFICAS Ao longo do ano de 2013, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi) auxiliou a organização de diversas reuniões cientíicas sediadas na capital e no interior do Estado. A Fundação também beneiciou vários pesquisadores que puderam participar de eventos realizados em outros estados brasileiros e no exterior. ÃO Ç A IP IC T R A P À IO AUXÍL OS IC ÍF T N IE C S O T N E EM EV 48 14 Professores contemplados eventos internacionais r$ 38.500,00 Investimentos AÇÃO IZ N A G R O A R A P SUBSÍDIO AS IC ÍF T N IE C S E IÕ N DE REU 24 Teresina, Parnaíba, Floriano e Bom Jesus r$ 100.000,00 Investimentos sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI 3 * Fonte: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí - FAPEPI eventos contemplados foto: Divulgação EXPEDIENTE Presidente do Conselho Nacional das FAPs fala sobre luta por mais recursos para pesquisa N° 36 Ano X ISSN - 1809-0915 PublIcAção SAPIêNcIA Publicação produzida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí Publicação Quadrimestral coNSelho edItorIAl: Ademir Sérgio Ferreira de Araújo Ana Regina Barros Rêgo Leal Antônia Jesuíta de Lima Bárbara Olímpia Ramos de Melo Carlos Augusto de França Rocha Júnior Diógenes Buenos Aires de Carvalho Francisco Chagas Oliveira Atanásio Francisco Soares Santos Filho Hermes Manoel Galvão Castelo Branco João Batista Lopes Maria José Lopes de Carvalho Raimundo Isídio de Sousa Ricardo de Andrade Lira Rabêlo Rivelilson Mendes de Freitas foto: Divulgação edItoreS, redAção e fotoS: Cássia Sousa Marco Aurélio do Amaral Vanessa Soromo eStAgIárIo: Allan Campelo revISão de teXtoS: Raimundo Isídio de Sousa ProJeto gráfIco e dIAgrAmAção: Genilson Santiago ImPreSSão e AcAbAmeNto: Graiset Gráica e Editora tIrAgem: 6 mil exemplares AO LEITOR Para críticas, sugestões e contato: [email protected] www.fapepi.pi.gov.br Av. Odilon Araújo, 372, Piçarra Teresina-PI • CEP 64017-280 Fone: (86) 3216-6090 Fax: (86) 3216-6092 4 sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI Pesquisador sugere novas abordagens em pesquisas sobre Esporte e Saúde foto: Marco Aurélio do Amaral 20 Programa de Bolsas tem recursos oriundos exclusivamente do Tesouro Estadual 25 Pesquisa sobre suicídio aponta contextos de risco 30 Sumário foto: Vanessa Soromo 15 dossiê destaca possibilidades de inanciamento para 2014 e mais... A visibilidade da mulher na pesquisa sobre homossexualidade artigos, teses e dicas de livros. sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI 5 C Editorial aminhando para maioridade, a Fapepi tem buscado cumprir sua missão como agência pública de fomento à pesquisa cientíica, tecnológica e de inovação no Piauí. Com a Sapiência, um dos seus legítimos canais de comunicação com a comunidade cientíica do Estado, a Fapepi incorpora o papel de divulgar atividades de pesquisadores radicados no Estado do Piauí, como mecanismo de educação cientíica e uma forma de estimular ideias e ações dos diferentes atores que fazem a busca pelo conhecimento nas instituições locais que atuam em ciência, tecnologia e inovação (CT&I). Nesta sua 36ª edição, a Sapiência elegeu o tema inanciamento da pesquisa como eixo para suas matérias e artigos. Em voga, porque atualmente, todo pesquisador que se preza não ica “com a boca aberta esperando a morte chegar”, como nas palavras do músico Raul Seixas, aguardando o inanciamento cair sobre sua bancada de pesquisa. É preciso, literalmente, correr atrás dos recursos. Duas grandes matérias trazem a temática de forma bem concisa. A competente equipe de jornalistas que trabalha na Sapiência pesquisou editais e tendências de inanciamento de agências nacionais e expôs as ações da própria Fapepi que, com o apoio do governo do Estado, trará nova linha inanciamento para os pesquisadores do Piauí, com o edital de inanciamento dos grupos emergentes. Na linha de divulgação de pesquisas, a Sapiência traz o inovador trabalho dos cientistas da área de computação do IFPI e da Uespi com jogos e equipamentos inclusivos – como a luva ultrassônica e a bengala eletrônica, que informam aos deicientes visuais a existência de barreiras, além de jogos eletrônicos que ensinam crianças autistas a ler e a escrever, mostrando o quanto é importante que existam investimentos nesta área, conhecida como tecnologia assistiva. Outra matéria traz informações sobre pesquisa versando sobre o fortalecimento emocional como meio de prevenção de suicídios entre jovens, considerado um problema de saúde pública em evidência. Na esteira das tendências, uma matéria com o Prof. Alex Soares sobre a aplicação da ciência no esporte nosso de cada dia, popularizando a aplicação do conhecimento cientíico não apenas para os esportes de alto rendimento, como a maioria das pessoas costuma imaginar. Outra reportagem aborda algumas pesquisas sobre homossexualidade feminina, que ainda são escassas no Piauí. A Sapiência aborda ainda a importância da parceria entre a Fapepi e a Universidade Estadual do Piauí (Uespi) no inanciamento de bolsas de estudo de Mestrado e Doutorado para professores da IES estadual. A formação de novos professores, mestres e doutores tem trazido resultados expressivos para Uespi não somente na melhoria da qualidade do ensino de graduação, mas também no incremento de atividades de pesquisa e extensão, antes com pequeno enlevo, na contribuição que a Uespi tem dado na formação do povo piauiense. Neste particular, é necessário enfatizar a prioridade do Governo do Piauí em articular bem seus órgãos, permitindo que esta parceria de sucesso, lastreada com recursos do Tesouro Estadual, corroborem o crescimento da Uespi, um dos maiores patrimônios do povo do Piauí. Assim, caro leitor, renovo votos de que esta leitura atenda aos seus anseios, com a promessa de que 2014 está só começando! francisco Soares Presidente da Fapepi 6 sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI Redes SOCIAIS Por Publicação Sapiência EntrEvIStA presidente do conselho nacional das Faps fala sobre luta por mais recursos para pesquisa Foto: Divulgação sergio Gargioni ressalta que a pesquisa cientíica tem icado em plano secundário, em decorrência de apertos orçamentários e pressões de demandas de curto prazo. m entrevista por e-mail a Sapiência, o professor Sergio Luiz Gargioni, descreve o papel do Conselho Nacional das Fundações de Amparo à Pesquisa (CONFAP), para o qual foi eleito à presidência em 2013. Além disso, destaca a importância das Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs) para o desenvolvimento do país e as estratégias de fomento e inanciamento à Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), entre outros assuntos. E Sergio Gargioni preside também a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Santa Catarina (Fapesc), é professor titular da cadeira de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), instituição onde se graduouem Engenharia Mecânica. Concluiu Mestrado na Universityof Illinois (EUA) na mesma área e MBA Executivo em Administração de Negócios pelo Instituto IMD Lausanne, na Suíça. sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI 7 Quais são os principais desaios para a ciência e tecnologia brasileira e qual o papel do coNfAP nesse cenário? e os principais avanços obtidos nos últimos anos? A agenda do CONFAP é a mesma agenda das entidades representativas de diferentes segmentos da sociedade de CTI do Brasil como ABC, SBPC, ANPEI, AMPROTEC, ANDIFES, ABIPTI, para citar algumas. Portanto, os desaios são difundir a importância estratégica da CTI no desenvolvimento do país, lutar para ampliar os orçamentos de todas as agências inanciadoras - públicas ou privadas, nacionais e internacionais-, induzir para que os recursos sejam destinados a programas e projetos relevantes no médio e longo prazos e, sobretudo, para que eles sejam utilizados com eicácia e mínimo de custo burocrático. Nos seus estados, as FAPs têm-se valido do CONFAP para fortalecer suas posições via parcerias. Podem ser citadas, por exemplo, as parcerias com CAPES, CNPq e FINEP na implementação de programas e projetos. Que papel têm as fAPs para a ciência e tecnologia no brasil? Hoje, não se pode imaginar o Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CTI) sem as FAPs e vale lembrar que somente o estado de Roraima não tem uma Fundação Estadual. Elas têm feito parcerias com todas as agências nacionais importantes e internacionais, ampliando o montante global aplicado. Ademais, as FAPs têm grande capilaridade, sendo capazes de melhor identiicar, formatar e executar projetos focados em problemas e oportunidades em suas comunidades. A FAPESP é a mais antiga, criada há 51 anos, e hoje recebe regularmente (em duodécimos) 1% da receita líquida do estado de São Paulo, o que soma um pouco mais de 1 bilhão de reais em 2014. Assim, FAPs como a FAPERJ, a FAPEMIG e algumas outras têm tido 8 sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI aportes regulares e expressivos de recursos de seus estados. No conjunto das 26 FAPs, o montante anual de investimentos ultrapassa 2,5 bilhões de reais, orçamento semelhante ao do CNPq. Que conquistas o senhor considera como relevantes nos últimos anos pelas fAPs em virtude da atuação do coNfAP? O CONFAP, como entidade organizada da forma que hoje conhecemos, tem somente 7 anos, sendo portanto muito jovem. Contabilizo como principais conquistas os espaços ocupados nos diferentes colegiados decisórios das diferentes agências nacionais, a elaboração da proposta do Código Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação que redundou na proposta da PEC 290/2013 e PL 2177/2011 e outros instrumentos jurídicos, a uniicação das FAPs existentes e o estímulo para a criação de novas e o fortalecimento delas em seus estados. Hoje, o CONFAP é conhecido, respeitado e valorizado no meio da CTI, tanto nacional quanto internacional. Qual a importância dos fóruns do coNfAP para a comunidade cientíica? O CONFAP organiza 4 ou 5 encontrosanuais entre seus 26 associados. Eles são chamados de Fóruns CONFAP. Na maioria das vezes, são realizados juntamente com o CONSECTI, que reúne os secretários titulares de pastas onde a Ciência, Tecnologia e Inovação estão inseridas. Durante dois dias, atualiza-se o conhecimento e discutem-se as parceiras com as agências nacionais e internacionais fomentadoras. Além disso, temas de interesses especíicos dos associados são pautados. A comunidade cientíica tem como dividendo o aperfeiçoamento do Sistema Nacional de CTI. Quais as perspectivas e planos do coNfAP para o futuro? há possibilidade, por exemplo, de editais de pesquisa lançados em conjunto pelas fAPs, via coNfAP, com abrangência regional? A ideia é crescer em importância, tanto para as demais agências nacionais que compõem o Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia, como para as FAPs em si. Hoje já há editais conjuntos entre as FAPs e entidades internacionais, como a Fundação Bill e Melinda Gates (EUA) e INRIA/CNRS (França). O formato do calendário e do processo de análise é único. Cada projeto aprovado é inanciado pela entidade internacional e pela FAP do estado onde o projeto será executado. Há projetos com participação de pesquisadores e instituições de mais um estado. No futuro, poderemos ter editais comuns consorciados entre duas ou mais FAPs. O CONFAP é o facilitador dessas cooperações. Nos últimos anos, houve um fortalecimento das fAPs por meio das articulações, via coNfAP, com o governo e agências federais. os objetivos da criação do coNfAP estão sendo alcançados? há perspectiva de um maior fortalecimento das fAPs, principalmnte daquelas com menor capacidade de investimento? O CONFAP tem assento nos principais colegiados de deliberação e assessoramento das agências federais e programas nacionais. Vale citar alguns, como CNPq, FINEP, MCTI e CGEE. Seus representantes têm a missão de defender e alinhar interesses das FAPs sem exceção, tanto as maiores quanto as menores. Há situações em que os programas, projetos e critérios precisam ser ajustados para as FAPs de menor capacidade de investimento e que ainda estão se estruturando nos seus estados. O CONFAP tem a função de incorporar e defender uma agenda que abrigue as peculiaridades de cada FAP sem, contudo, abrir mão da qualidade dos projetos da pesquisa. EntrEvIStA O conhecimento cientíico e sua transformação em inovação pode ter um papel relevante na direção dessas desigualdades, desde que seja gerenciado de forma eicaz e com a intensidade necessária o senhor acredita que há demanda qualiicada não atendida pelos programas de fomento? Como regra geral, a demanda qualiicada nunca é atendida na sua plenitude, seja pelas agências nacionais mais importantes e tradicionais, seja pelas FAPs em si. Infelizmente, os recursos providos pelo setor público brasileiro para Ciência, Tecnologia e Inovação são tímidos e inconstantes, assim como são reduzidos os recursos providos pelo setor privado. Isto em comparação com países de maior ou igual grau de desenvolvimento econômico. Arrisco dizer que o índice de atendimento ica em torno dos 20% no edital Pesquisa Universal; nos projetos de subvenção econômica para empresas, não ultrapassa a casa dos 50%. Que oportunidades o senhor identiica para diversiicação dos programas de fomento existentes? Não se pode negar o aumento da diversidade de editais lançados pelo Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia, aqui incluídas as agências federais e estaduais especíicas, ministérios e demais órgãos e empresas. Creio que, praticamente, todo bom projeto encontre abrigo em alguma chamada pública ou programa. Todavia, há sempre deiciência no volume de recursos e na continuidade dos programas, sem contar com a excessiva, cara e desmotivadora burocracia envolvida. há expectativa de crescimento do investimento do governo federal e dos governos estaduais em ciência e tecnologia? como o coNfAP vem-se articulando para lutar pela ampliação destes investimentos? Uma das principais bandeiras do CONFAP é lutar por mais recursos para a pesquisa e inovação, isso de qualquer fonte. Nos últimos dois anos e pelo que tudo indica neste de 2014 também, não tem havido crescimento no volume dos recursos. Apertos orçamentários e pressões de demandas de curto prazo têm colocado nossa área, mais uma vez, em plano secundário. Vale para os estados, também. Ressalta-se que, em alguns estados e em número crescente, a comunidade cientíica tem convencido seus dirigentes a aportar o percentual de 1% (alguns estados com percentual maior) da receita líquida nas suas FAPs, ano após ano, de forma regular, independentemente da saúde inanceira circunstancial. Quais as diiculdades para ampliar o acesso aos recursos federais para ciência e tecnologia? como superá-las? Não se trata, necessariamente, de diiculdade de acesso. Lógico que existe uma burocracia excessiva e crescente que aumenta os custos, retarda a execução e aumenta o risco do gestor. Esta é, exatamente, a luta que o CONFAP e outras entidades representativas da comunidade técnico-cientíica vêm travando no Congresso Nacional para aprovar um novo conjunto de regras que possam dar maior eiciência ao processo de captar recursos e executar a pesquisa. De qualquer maneira, mais fácil ou mais difícil, os recursos disponíveis são acessados na sua totalidade. Novamente, a mesma tecla: o problema está na sua escassez e descontinuidade. dadas as disparidades regionais em vários âmbitos como, por exemplo, econômico e de investimento na pesquisa cientíica, como o senhor percebe que entidades, como a coNfAP, podem contribuir para o desenvolvimento de regiões menos favorecidas? O Brasil tem assimetrias regionais acentuadas quando se fala em desenvolvimento econômico. O conhecimento cientíico e sua transformação em inovação pode ter um papel relevante na direção dessas desigualdades, desde que seja gerenciado de forma eicaz e com a intensidade necessária. Esse é o mantra de organizações como CONFAP, CONSECTI e assemelhadas: mais recursos, projetos adequados, relevantes e continuados e mínima burocracia. Pela sua importância estratégica com alcance no longo prazo, quase nunca entendido e desejado pelo poder político, o chamado Sistema de CTI Brasileiro continua tímido, infelizmente. Assim, as FAPs e sua representação via CONFAP têm grande responsabilidade e devem atuar de forma unida e forte para que o avanço pretendido aconteça. sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI 9 MATérIA Por Vanessa Soromo professor avalia tendências atuais de pesquisas em esporte e saúde Foto: Divulgação Professor Alex soares acredita que há uma gama de conhecimentos relacionados ao Esporte, um fenômeno social, que podem ser discutidos dentro de um tema atual – a Saúde. Q uando os assuntos são Ciência, Esporte e Saúde, facilmente os associamos às modalidades de alto rendimento e consequentemente aos atletas proissionais. Isso se deve muito à propagação dos temas na mídia. Estamos acostumados a assistir, a ouvir e a ler que pesquisas cientíicas e tecnológicas são utilizadas pela comunidade esportiva mundial como forma de ampliar os limites do corpo e assim obter melhores resultados nas competições e no processo de reabilitação de atletas lesionados. O cenário muda se a busca é pela relação entre Atividade Física e Saúde. 10 sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI Nesse caso, o foco das matérias são os benefícios que a população adquire com a prática de atividades, como: caminhada, hidroginástica, musculação e ginástica aeróbica. De acordo com estudos do professor Alex Soares Marreiros Ferraz, graduado em Educação Física pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) e doutor em Biotecnologia pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), essa tendência também ica evidente no universo da pesquisa cientíica. “Quando se trata de saúde, a maioria dos artigos relaciona com atividade física, e o foco das pesquisas no esporte é o desempenho, a performance, melhorar o resultado esportivo. Elas vinculam o tema saúde quase sempre à saúde do atleta. Esquecem que o esporte também é uma atividade física que tem uma série de benefícios que poderiam ser bem aproveitados para possibilitar a saúde da população em geral”, explica Alex Soares. O pesquisador acredita que, quando os estudos na área da Ciência, Esporte e Saúde se desviam dessas duas grandes tendências, a pesquisa cientíica e/ ou tecnológica contribui com novos conhecimentos. “A ideia original é a essência da contribuição do cientista. A originalidade do trabalho é repensar a tos, Ronaldo Fenômeno e Guga, esportistas brasileiros renomados que colecionaram lesões durante suas carreiras. “É quase impossível você encontrar um atleta que não tem uma lesão, que não tenha sofrido um acidente, que não tenha sequelas importantes em decorrência do esporte”, comenta. A palestra destacou também as perspectivas das pesquisas relacionadas à saúde dos atletas que se concentram o Parque Nova Potycabana reúne vários espaços que facilitam a prática de esporte Foto: Divulgação partir de variáveis diversas de forma diferente. Eu acho que esse é o grande desaio para a pesquisa no momento atual, independente da área, porque novas fronteiras no mundo de hoje são muitas raras”, declara. Para Alex Soares, é necessário que haja mais pesquisas que discutam o Esporte sob outras perspectivas, que não só a do esporte de desempenho. A partir do momento em que a atenção se volta para o Esporte de Recreação e o Esporte Pedagógico que favorecem mais a população, torna-se mais fácil o surgimento de novos talentos, como, por exemplo, a atleta piauiense Sarah Menezes, que conheceu o judô ainda criança, na escola. no proissional e que precisam estar saudáveis para realizar seu trabalho da maneira mais eicaz e proveitosa possível. Segundo Alex Soares, todas as pessoas deveriam tornar-se esportistas, sem a inalidade do alto desempenho, mas para a recreação e o divertimento, objetivando a melhoria da qualidade de vida. Para isso, será necessário que novos espaços sejam criados para facilitar a prática esportiva. “Quando Teresina reabre a Potycabana, um espaço que existia há muito tempo, subutilizado e que já poderia estar à disposição da população há mais tempo, você começa a ver as pessoas se mexendo, jogando, brincando nos mais diversos espaços. Podemos ter o esporte ligado à saúde da população mais ampla”, inaliza. MATérIA a originalidade do trabalho é repensar a partir de variáveis diversas de forma diferente. eu acho que esse é o grande desaio para a pesquisa no momento atual. Palco dos maiores eventos esportivos O Brasil sediará dois dos maiores eventos esportivos do planeta - a Copa do Mundo, em junho deste ano, e os Jogos Olímpicos em 2016. Em razão desse momento atípico do nosso país, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) promoveu em outubro do ano passado, a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), com o tema “Ciência, Saúde e Esporte”, com o objetivo de motivar a população, em especial das crianças e dos jovens, a conhecer os aspectos cientíicos, educacionais e de saúde envolvidos nas atividades esportivas. Durante a SNCT, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi) convidou o professor Alex Soares para participar do evento; na ocasião, ele foi ministrou a palestra “Esporte e Saúde: Pesquisas Atuais”. O doutor em Biotecnologia mostrou que o esporte de competição pode trazer inúmeros problemas de saúde para os atletas. Foi o que aconteceu com Daiane dos San- sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI 11 ArTIGO Guilherme Fernandez Gondolo1 • antonia leidna silva Brito2 • maria amélia G. do passo Gondolo3 1. Professor Adjunto DE, Laboratório de Ictiologia, Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas, Campus Heróis do Jenipapo – UESPI; Coordenador do Subprojeto PIBID-Biologia, Campo Maior; Biólogo, doutor em Biologia Animal • E-mail:[email protected] | 2. Graduanda do curso de Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas, Campus Heróis do Jenipapo - UESPI. Bolsista CAPES-PIBID, Subprojeto PIBID-Biologia, Campo Maior. | 3. Professora Assistente DE, Laboratório de Ictiologia, Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas, Campus Heróis do Jenipapo – UESPI; Coordenadora do Subprojeto PIBID-Biologia, Campo Maior. Bióloga, mestre em Biologia Animal. É possível medir o impacto do piBid? O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), gerenciado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), tem por inalidade fomentar a iniciação à docência, contribuindo para o aperfeiçoamento da formação de docentes em nível superior e para a melhoria de qualidade da educação básica pública brasileira. Entre os principais objetivos do PIBID, podemos citar: o incentivo à formação de docentes em nível superior para a educação básica; contribuir para a valorização do magistério; elevar a qualidade da formação inicial de professores nos cursos de licenciatura; inserir os licenciandos no cotidiano de escolas da rede pública de educação, proporcionando-lhes oportunidades de criação e participação em experiências metodológicas. Diante do cenário em que a educação pública se encontra, com diversos problemas, o PIBID surge então como uma relevante contribuição, tanto para os que estão em formação na carreira de licenciatura, como para as próprias escolas públicas. Podemos airmar que avaliar signiica imputar um valor mensurável (BRADFIELD & MOREDOCK, 1963), e esse valor inluencia a tomada de decisões e revela um diagnóstico (TURRA et al., 1988), principalmente quando adotamos uma intervenção diferenciada como a do PIBID. Dessa forma, o objetivo principal deste trabalho é de veriicar se, após a intervenção do PIBID-Biologia UESPI-Campo Maior, houve uma melhora signiicativa nas médias das disciplinas de ciências do ensino fundamental da Unidade Escolar Paulo Ferraz (UEPF). 12 sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI Desde agosto de 2012, recebe a ação direta dos bolsistas CAPES, PIBID-UESPI, tanto do curso de Biologia, como de História do Campus Heróis do Jenipapo – UESPI. A UEPF possui 21 professores, 245 alunos, distribuídos em 11 turmas, duas no período matutino, seis no vespertino e três no período noturno. Dessas turmas, 9 são do 6o ao 9o ano do Ensino Fundamental (EF), sendo uma destas na modalidade Ensino de Jovens e Adultos (EJA), e as outras duas turmas são do Ensino Médio (EM) na modalidade EJA. Em 2011, a escola alcançou apenas 3,8 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Desde agosto de 2012, recebe a ação direta dos bolsistas CAPES, PIBID-UESPI, tanto do curso de Biologia, como de História do Campus Heróis do Jenipapo – UESPI. O subprojeto CAPES, PIBID-UESPI de Biologia, realizou na UEPF diversas atividades, como aulas práticas, monitorias, aulas de reforço, além de desenvolver projetos relacionados a temas de ciências e biologia e temas transversais para essas disciplinas, nas classes do EF. Testes estatísticos (U de Mann-Whitney bicaudal e t de Student pa- reado, α =5%) foram empregados nas notas da disciplina de ciências do EF para testar tal hipótese. Na comparação temporal entre turmas dos anos de 2009, 2010 e 2011 sem o PIBID, e 2012 com o PIBID, foi possível observar um incremento signiicativo das notas do 6º, 7º e 8º anos do Ensino Fundamental (EF). O mesmo padrão foi observado nos mesmos alunos quando comparadas suas notas obtidas entre o 1º semestre, sem o PIBID, e 2º semestre de 2012 com o PIBID. O baixo número amostral dos alunos do 9º ano do EF pode ter inluenciado na falta de diferença signiicativa entre as notas antes e depois da ação do PIBID. Diante de tal resultado, podemos airmar que PIBID-Biologia de Campo Maior propiciou um melhor rendimento escolar. São muitos os questionamentos sobre o papel das notas quando se refere à veriicação ou à avaliação de aprendizagem de um indivíduo, mas este critério acaba por atuar como algo necessário. O rendimento tanto dos bolsistas do PIBID como dos alunos das escolas que possuem o programa é resultado do envolvimento de todos nas atividades, bem como da troca de experiências associado à diversidade de atividades que fogem da abordagem tradicional, transformando os alunos de expectadores passivos a seres ativos (FERNANDES et al, 2012). Segundo Lyra et al. (2012), o que pode melhorar o rendimento escolar é despertar no aluno a curiosidade, organizar atividades novas, aguçando assim o raciocínio do aluno e é, desta maneira, que os alunos do PIBID estão trabalhando, buscando novas estratégias, metodologias para ensinar e tornar os alunos motivados em aprender. israel lobato rocha1• maria ivanilda de aguiar2 ArTIGO 1. Graduando em Tecnologia em Gestão Ambiental no Instituto Federal do Piauí – Campus Corrente e bolsista do PIBIC/IFPI. Contato: [email protected] 2. Professora do Instituto Federal do Piauí – Campus Corrente e Doutora em Ecologia e Recursos Naturais – UFC. Contato: [email protected] Caracterização física dos resíduos sólidos urbanos gerados em corrente-pi A intensa concentração populacional em áreas urbanas favorece o aumento no consumo de bens e produtos e, consequentemente, a crescente geração de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU). A destinação inal dos RSU vem demandando cada vez mais o envolvimento de diferentes setores da sociedade para o estabelecimento de um adequado ciclo produção-disposição inal (DALMAS et al., 2011). Estudos do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA, 2011) mostram que a forma de disposição inal dos resíduos sólidos na maioria dos municípios brasileiros (50,5%) continua sendo os lixões a céu aberto. Nesses lixões, os resíduos são depositados diretamente no solo favorecendo a presença de animais no local, o mau cheiro e a contaminação dos lençóis freáticos com o chorume. Para minimizar os impactos negativos da disposição inadequada dos RSU, é de grande importância que a população reduza a quantidade dos resíduos gerados e procurem alternativas que visem à reciclagem desses materiais, a im de dar uma nova utilidade para aqueles produtos que outrora seriam descartados. Porém, para identiicar potencial de reciclagem e reaproveitamento de resíduos, é necessário conhecer a quantidade de resíduos sólidos produzidos, bem como os principais tipos de materiais descartados. Para obtenção da projeção sobre o potencial de reciclagem dos resíduos descartados pela população urbana de Corrente-PI, fez-se a caracterização física dos resíduos sólidos gerados por meio da amostragem aleatória dos resíduos depositados no lixão da cidade, utilizando o método de quarteamento dos montes de resíduos (IPT/CEMPRE, 2000), tendo como parâmetros: peso especíico, geração per capita e composição gravimétrica. Caracterizar os componentes dos resíduos sólidos subsidia a elaboração de planos de gestão que abrangem a expansão dos serviços de coleta regular, a viabilidade de implantação de coleta seletiva e compostagem, além da especiicação de equipamentos e a deinição de sistemas de eliminação (COMCAP, 2002). Estudos referentes à composição gravimétrica dos RSU em diferentes municípios brasileiros mostram que a matéria orgânica constitui 51,4% dos resíduos sólidos gerados no Brasil e 31,9% correspondem aos materiais aptos à reciclagem (MMA, 2011). Neste cenário, a maioria dos resíduos gerados no país poderia ser submetida ao processo de compostagem. Os resultados da caracterização física dos resíduos de Corrente mostram que o peso especíico aparente dos RSU é de 96 kg/m³; a geração per capita municipal é de 0,61 kg/habitante/dia. A composição gravimétrica, por sua vez, revela que a maior quantidade dos resíduos é constituída de matéria orgânica (48,6%), que tem grande potencial de reaproveitamento por meio da compostagem. Além disso, há uma importante fração de produtos (plástico, papel/papelão, vidro e metais) aptos à reciclagem (41,6%) que podem ser fonte de renda para a população local através da coleta seletiva (Figura 1). Porém, existem alguns entraves que impedem o reaproveitamento destes materiais, entre eles a falta de uma cooperativa de reciclagem. Dos componentes recicláveis, apenas os metais (alumínio) e garrafas de vidro (inteiras) são coletados e enviados para reciclagem em outras cidades, visto que, em Corrente, não existem cooperativas de materiais recicláveis que disponham de equipamentos apropriados para compactar resíduos, como: papel, papelão e plástico, tornando inviável o transporte e a comercialização desses produtos para municípios distantes. sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI 13 pedúnculo de caju na dieta de vacas D iante do contexto de desenvolvimento apresentado pela região sul do Piauí, a atividade pecuária apresenta-se como um dos fatores de destaque na contribuição para este fenômeno, de modo que a bovinocultura leiteira é uma atividade praticada na região, em sua grande maioria por produtores menos capacitados inanceiramente, que frequentemente encontram grande diiculdade em alimentar seus animais, já que a alimentação é um dos principais componentes do custo de produção. Pensando na melhoria da atividade, através da redução dos custos com a aquisição de alimentos, o criador sempre deve produzir, de forma econômica, a maior parte do volumoso e parte do concentrado utilizado, levando em conta as forragens nativas disponíveis na propriedade e os subprodutos da agricultura ou fruticultura disponíveis na região. A produção de frutos no Brasil cresce a cada ano e, entre os possíveis frutos a serem explorados, está o caju, com destaque na região Nordeste, principalmente no estado do Piauí, já que sua produção coincide com a estação seca do ano, no período de julho a janeiro, com algumas variações. Essa época coincide com a menor disponibilidade de forragem na região, tanto em quantidade como em qualidade, o que força o produtor a recorrer ao mercado de rações para manutenção do rebanho, onerando os custos e diicultando a permanência na atividade, levando os produtores, na maioria das vezes, a vender os animais a baixos preços e muitas vezes desistir da atividade. Nesse contexto, o grupo de pesquisa em produção de ruminantes do campus professora Cinobelina Elvas/UFPI avaliou a inluência de diferentes níveis de suplementação de pedúnculo de caju (1,0 kg; 1,5 kg e 2,0 kg) na alimentação 14 sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI Foto: Divulgação ArTIGO Leilson Rocha Bezerrat Professor Adjunto do Campus Profª Cinobelina Elvas (CPCE) da Universidade Federal do Piauí-UFPI, Bom Jesus-PI, Brasil. Contato: [email protected] de vacas mestiças Girolando sobre o seu desempenho produtivo. Os animais pastejavam durante o dia em pasto nativo, e a suplementação com o caju era fornecida uma vez ao dia, às 6h 30min da manhã, quando se realizavam diariamente a pesagem do leite, a medição do escore de condição corporal e o peso vivo dos animais. A suplementação até 1,5 kg elevou a produção de leite das vacas. Entretanto, ao se suplementar com 2,0 kg de pedúnculo de caju desidratado, observou-se uma redução signiicativa na produção de leite das vacas, apesar de a maior proporção de suplemento não ter restringido o consumo de matéria seca dos animais; isso provavelmente, pela maior quantidade de tanino presente na suplementação. O principal problema que o tanino causa, quando presente no alimento, é a complexação com proteínas, o que vai afetar a digestibilidade e modiicar a palatabilidade (sabor adstringente), como ocorre com o caju. Acredita-se que a associação do tanino com a proteína e a estabilidade desse complexo devem-se, sobretudo, à formação de pontes de hidrogênio e interações hidrofóbicas entre essas moléculas. As proteínas diferem enormemente quanto à sua ainidade pelos taninos. As principais características das proteínas que inluenciam positivamente nessa associação são: alto peso molecular, estrutura mais aberta e lexível, ponto isoelétrico e conteúdo de prolina (BUTLER, 1989). A consequência destes fatores no rúmen é a redução da produção de proteína microbiana, que é responsável por grande parte da proteína metabolizável do ruminante, visto que a presença de aminoácidos sulfurados é parte essencial na formação da proteína microbiana. Esta queda na produção de leite pode ter ocorrido devido à presença de compostos fenólicos no pedúnculo de caju, o que diiculta o aproveitamento da proteína pelo animal. Assim, recomenda-se como valor máximo a ser suplementado com este subproduto na dieta de vacas leiteiras: 1,5 kg por dia, como dieta única. Por Cássia Sousa DOSSIê agências de Fomento à pesquisa: possibilidades de inanciamento para 2014 Foto: Divulgação A sapiência fez um compêndio de alguns dos principais editais já lançados e quais as perspectivas para o restante do ano das principais inanciadoras de pesquisa brasileiras Professor rivelilson acompanhado da equipe brasileira. N as últimas décadas, o governo federal e as entidades estaduais de fomento à pesquisa têm investido bastante na pesquisa cientíica. Somente no ano passado, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientíico e Tecnológico (CNPq) investiu 2,1 bilhões de reais em Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), sendo que as grandes áreas que receberam maior volume de recursos foram, nesta ordem, Engenharias, Ciências Biológicas e Ciências Exatas e da Terra. E as áreas especíicas para as quais se destinou mais verba foram Áreas Tecnológicas de Química e Geociências, Áreas Tecnológicas de Física e Matemática e Agronomia. Neste ano, o CNPq já lançou pelo menos três editais. Um deles é a Chamada de Projetos MEC/MCTI/ CAPES/CNPq/FAPs, que tem como objetivo fomentar o intercâmbio e cooperação cientíica e tecnológica entre grupos de pesquisa nacionais e do exterior, por meio de pesquisadores estrangeiros que tenham destacada produção cientíica e tecnológica nas áreas contempladas do Programa Ciência sem Fronteiras. Estas áreas são: Engenharias e demais Áreas Tecnológicas, Ciências Exatas e da sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI 15 DOSSIê Terra, Biologia, Ciências Biomédicas e da Saúde, Computação e Tecnologias da Informação, Tecnologia Aeroespacial, Fármacos, Produção Agrícola Sustentável, Petróleo, Gás e Carvão Mineral, Energias Renováveis, Tecnologia Mineral, Biotecnologia, Nanotecnologia e Novos Materiais, Tecnologias de Prevenção e Mitigação de Desastres Naturais, Biodiversidade e Bioprospecção, Ciências do Mar, Indústria Criativa (voltada a produtos e processos para desenvolvimento tecnológico e inovação) e Novas Tecnologias de Engenharia Criativa. Este edital destinase a pesquisadores estrangeiros ou brasileiros que vivam no exterior. Já houve duas chamadas somente este ano e as inscrições irão até setembro deste ano. Embora o CNPq seja uma das mais importantes agências de inanciamento à pesquisa no país, ele não é a única ao qual o pesquisador pode recorrer. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), apesar de ser uma agência especializada em capacitação docente, também abre edital para inanciar pesquisas, como foi o caso do edital nº 37/2013, que se referia ao Programa de Cooperação Internacional entre a instituição e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação Produtiva da Argentina. O resultado da chamada foi divulgado em janeiro deste ano e dois pesquisadores piauienses tiveram suas propostas aprovadas, o Professor Doutor Rivelilson Mendes de Freitas e a Professora Doutora Maria Christina Sanches Muratori, ambos vinculados à Universidade Federal do Piauí (UFPI). Os dois pesquisadores piauienses tiveram suas propostas selecionadas na categoria Grupos de Pesquisa Conjuntos em que projetos de pesquisa são desenvolvidos por uma equipe brasileira e uma equipe argentina, ambas vinculadas a IES 16 sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI em seus países. Freitas e Muratori coordenam as equipes brasileiras de seus respectivos projetos. A pesquisa do Prof. Rivelilson intitula-se “Sínteses e Avaliação PréClínica de Substâncias Sintéticas Heterocíclicas: Inovação, Terapêutica em Psicopatologia, Estudos de PréFormulação e Delineamento Farmacêutico”. Situada na área de Farmácia, a pesquisa é importante pelo papel signiicativo desempenhado por antioxidantes na prevenção de considerável número de doenças relacionadas ao processo inlamatório. O edital em questão tinha como objetivo “estimular, por meio de projetos conjuntos de pesquisa, o intercâmbio de docentes e de pesquisadores brasileiros e argentinos, vinculados a Programas de Pós-Graduação de Instituições de Ensino Superior e promover a formação de recursos humanos de alto nível no Brasil e na Argentina, nas diversas áreas do conhecimento”. Porém, não é apenas isso, já que há a realização de uma pesquisa em que existe cooperação de equipes brasileira e argentina. Atualmente, a Capes conta com doze editais abertos. A maioria deles tem como objetivo a formação e capacitação de recursos humanos. Alguns são para áreas especíicas, como a chamada para pós-doutorado no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) que oferece bolsas mensais de R$ 4.100,00 e encerra-se em 18 de março deste ano. Outros são válidos para todas as áreas do conhecimento, como o Programa de Bolsas para Pesquisa Capes/Humboldt, que tem duas modalidades de bolsa: de pós-doutorado, para pesquisadores altamente qualiicados e em início de carreira acadêmica e que tenham completado o doutorado há menos de quatro anos. A outra é para pesquisador experiente, ou seja, professores universitários altamente quali- icados com peril de pesquisa bem delineado e que tenha concluído o doutorado há menos de doze anos. Só podem participar desta chamada professores que tenham vínculo, empregatício ou não, com Instituições de Ensino Superior ou de Pesquisa do Brasil. Para quem quer cursar doutorado pleno fora do país há o Programa Capes/Universidade de Nottingham/ Universidade de Birmingham. A seleção ocorrerá para todas as áreas existentes nas duas universidades do Reino Unido, mas abrange especialmente as áreas de ciências biomédicas e da saúde, computação e tecnologias da informação, tecnologia aeroespacial, fármacos, produção agrícola sustentável, petróleo, gás e carvão mineral, energias renováveis, biotecnologia, nanotecnologia e novos materiais, biodiversidade e bioprospecção. O período de inscrição irá até o dia 2 de abril na Capes e até 17 de março nas universidades. Outra opção é para quem já está cursando doutorado, por meio do Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE). Neste programa, alunos regulares de cursos de doutorado, recomendados e reconhecidos com nota igual ou superior a 3, realizam parte da pós-graduação em outro país, retornando depois para conclusão dos créditos e defesa da tese. Ainda dentro do PDSE, em parceria com a Comissão Fulbright, a Capes lança edital anual especíico para as áreas de Ciências Humanas, Ciências Sociais, Letras e Artes. Os candidatos devem apresentar projetos de pesquisa para serem desenvolvidos em uma instituição norte-americana. Entre outros requisitos, o candidato não pode ter nacionalidade estadunidense e nem ter recebido bolsa de doutorado anteriormente. Os contemplados contarão com bolsa mensal no valor de US$ 1.300,00 além de outros benefí- cios, como auxílio-instalação, auxílio para aquisição de livros, auxílio para participação de eventos acadêmicos, mensalidade complementar, auxílio deslocamento e seguro-saúde. Além do Doutorado Sanduíche, há também a bolsa Capes-Fulbright Master Fine of Arts, que é destinada àqueles que querem cursar mestrado nos Estados Unidos na área de cinema e audiovisual. São ofertadas até três bolsas, com duração de três de anos, para este programa. De acordo com Camila Olímpio, da Comissão Fulbright, estes dois programas são anuais, e a estimativa de investimento varia de acordo com a instituição e sua localidade. No Doutorado Sanduíche, são gastos US$ 37 mil com cada bolsista durante nove meses. A previsão de lançamento deste edital é para o início do segundo semestre deste ano. Já o Master Fine of Arts investe US$ 70 mil anuais com cada bolsista, e a previsão para lançamento da chamada deve ocorrer nos primeiros meses deste ano. Outro importante programa da Capes é Programa de Apoio a Eventos (PAEP), que tem como objetivo estimular a realização de eventos cientíicos no Brasil. Anteriormente voltado apenas para eventos de curta duração e relacionados exclusivamente à pós-graduação, a partir de 2010 passou a abarcar também eventos que prezam pela formação e melhoria do quadro docente da educação básica. No site da Capes, consta que, somente em 2011, o Programa concedeu auxílio a 1.319 eventos de diferentes áreas. Dentre as exigências para a solicitação, o proponente deve ser presidente da Comissão Organizadora do evento, ter título de doutor ou qualiicação equivalente, ter currículo cadastrado e atualizado na Plataforma Lattes ou Plataforma Freire e estar adimplente com a União. Quanto ao evento, se de pós-graduação, deve ter relevância para o Sistema Nacional de Pós-Graduação, para Área do Conhecimento ou formação de professores; ser de âmbito local, estadual, regional, nacional ou internacional e ser realizado no Brasil, e se for da educação básica, deve incentivar a participação de professores da educação básica e ter relevância para a formação destes, ser de âmbito local, municipal, estadual, regional, nacional ou internacional; ser realizado no Brasil e ofertar inscrição gratuita para professores da rede pública preferencialmente. Dentro do setor do agronegócio, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) lançaram, no dia 17 de fevereiro, certame de planos de negócios voltados à inovação tecnológica agrícola no setor sucroenergético – PAISS Agrícola. Serão R$ 1,48 bilhão liberados entre 2014 e 2018. Serão apoiados planos de negócio que se destinem a cadeias produtivas da cana-de-açúcar e de outras cul- DOSSIê embora o cnpq seja uma das mais importantes agências de inanciamento à pesquisa no país, ele não é a única ao qual o pesquisador pode recorrer. turas energéticas compatíveis, complementares ou consorciáveis com o sistema agroindustrial da canade-açúcar, contanto que estejam de acordo com as cinco linhas temáticas estabelecidas no edital. Poderão participar do processo seletivo empresas brasileiras interessadas em empreender atividades de inovação relacionadas à indústria sucroenergética e Instituições Cientíicas Tecnológicas (ICTs). Também serão admitidas as ICTs que tiverem interesse em formalizar parcerias com empresas que proponham planos de negócio. Na área de saúde, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) tem como metas para 2014 a formação de recursos humanos altamente qualiicados para o sistema de CT&I em saúdes no país e a formação de recursos humanos para Sistema Único de Saúde (SUS), que promovam maior integração academia-serviços de saúde. Em entrevista na página oicial da Fiocruz, a vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fundação, Nísia Lima, airmou que o prospecto para 2014 é “consolidar o Programa de Excelência no Ensino com iniciativas que favoreçam a produção cientíica, a cooperação internacional, as ações de solidariedade social e o compartilhamento das boas experiências”. Ela ainda ressaltou como desaio aproximar a pósgraduação de ações relacionadas à Cadeia de Inovação na Fiocruz, além de buscar um Sistema Integrado à Pós-Graduação da Fundação. sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI 17 Fapepi amplia linhas de inanciamento e fomento à pesquisa A execução do Programa de Apoio a núcleos Emergentes (Pronem) é inédita no Piauí. Foto: Vanessa Soromo DOSSIê Por Vanessa Soromo Professor francisco Soares Santos filho, presidente da fundação de Amparo à Pesquisa do estado do Piauí (fapepi) A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi) “Professor Afonso Sena Gonçalves” tem como missão primordial estimular o desenvolvimento cientíico e tecnológico do Estado, por meio do inanciamento e fomento às pesquisas na área da Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I). Para cumprir o seu papel de forma ascenden- 18 sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI te, a Fapepi tem contado com o apoio do Governo Estadual e importantes acordos irmados com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientíico e Tecnológico (CNPq), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), entre outras órgãos e instituições. Inédito no Piauí e fruto de uma parceria com o CNPq, o Programa de Apoio a Núcleos Emergentes (Pronem) é um dos destaques das ações da Fapepi para o exercício de 2014. O Programa visa a inanciar projetos de grupos emergentes e à consolidação de linhas de pesquisa prioritárias, incentivando a formação de novos núcleos de excelência. Para a execução do Pronem, estão previstos recursos no valor de R$ 1,6 milhão (um milhão e seiscentos mil reais), sendo R$ 1,2 milhão (um milhão e duzentos mil reais) aporte do Governo Federal e R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais) de contrapartida do Governo do Estado. Além do Pronem, o Plano de Atividade da Fapepi (2014) elenca uma série de programas que entram em consonância com a inalidade da Fundação e que revelam o compromisso da única agência de fomento à pesquisa do Piauí em buscar a ampliação das linhas de inanciamento e a manutenção de ações já consolidadas. FOMENTO À PESQUISA Nos últimos dez anos, a Fapepi tem avançado de forma signiicativa, lançando editais que têm credenciado a agência a pactuar novas parcerias. Em 2003, foi implantado na Fapepi, por meio de um convênio com o CNPq, o Programa de Infraestrutura para Jovens Pesquisadores/Programa Primeiros Projetos (PPP). Até 2013, foram inanciados 161 projetos de pesquisas cientíicas e tecnológicas, com a inalidade de apoiar a instalação ou recuperação da infraestrutura de Instituições de Ensino Superior (IES) públicas ou de pesquisa, oferecendo suporte à ixação de jovens doutores no Estado em quaisquer áreas do conhecimento. As instituições beneiciadas com o Programa foi a Universidade Federal do Piauí (UFPI), a Universidade Estadual do Piauí (Uespi), o Instituto Federal do Piauí (IFPI) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa – Meio Norte). De acordo com as ações de fomento da Fapepi para 2014, o programa PPP conta com o aporte inanceiro no valor de R$ 1,6 milhão (um milhão e seiscentos mil reais) para contratação de projetos de pes- quisas em edital público. Na mesma época, também foi implantado o Programa de Desenvolvimento Cientíico Regional (DCR), acordo de cooperação Fapepi/CNPq, que já concedeu 51 bolsas para doutores da UFPI, Uespi e Embrapa Meio-Norte, na cidade de Teresina e em municípios do interior do Estado. O programa tem com um dos seus objetivos diminuir as desigualdades entre as regiões, priorizando as IES sediadas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste (exceto Brasília). A meta para 2014 é implantar até 28 cotas de bolsas previstas no novo acordo. Na busca por novos inanciamentos para pesquisas desenvolvidas no Piauí, em 2011 a Fapepi em parceria com o CNPq implantou, no Estado, o Programa de Apoio a Núcleo de Excelência (Pronex), com recursos inanceiros no valor de R$ 800.000,00 (oitocentos mil reais), sendo R$ 600.000,00 (seiscentos mil reais) oriundos do CNPq e R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) do Tesouro Estadual, permitindo a contratação de 4 projetos de pesquisas de alto nível, todos em execução. “No início da implantação do edital, o CNPq exigia pesquisadores de nível 1. Entretanto, como os pesquisadores de nível 1 do Estado eram em número muito reduzido, foi ampliado para pesquisadores de nível 2. Mesmo assim, nós tivemos uma boa apresentação de projetos, comparando o número de pesquisadores até então existente no Estado. Então, nós tivemos uma média de 15 pesquisadores participando da chamada pública, dentre esses, quatro pesquisadores foram agraciados com o inanciamento”, explica Eliana Abreu, gerente técnico-cientíico. Para atender às demandas de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) do Piauí, a Fapepi tem atrelado as suas ações com as necessidades do Estado. Em 2004, foi implementado o Programa de Pesquisa para o Sistema Único de Saúde (SUS): gestão compartilhada em saúde (PPSUS), fruto da parceria irmada entre a Fapepi, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesapi), Ministério da Saúde (MS) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientíico e Tecnológico (CNPq). No ano de 2012, para o edital PPSUS foram disponibilizados mais de R$ 1 milhão (um milhão de reais), o que proporcionou a contratação de 26 projetos de pesquisas, todos em execução. A parceria entre o Governo do Estado e o Governo Federal tem possibilitado também a implantação e manutenção de bolsas cientíicas em diversas modalidades que vão deste a Iniciação Cientíica Júnior (Pibic Júnior) até concessão de bolsas de mestrado e doutorado, o que tem contribuído signiicativamente na capacitação de recursos humanos. TESOURO ESTADUAL A Fapepi conta também com programas inanciados exclusivamente pelo Governo Estadual, tais como: Programa de Auxílio à Participação em evento cientíico, Programa de auxílio para Organização de Reunião Cientíica e o Programa de Bolsas de Mestrado e Doutorado para Professores Efetivos da Universidade Estadual do Piauí (Uespi). “Foi uma importante iniciativa do governador Wilson Martins fortalecer a Uespi, por meio da Fapepi, no que se refere à qualiicação, lançando um edital especiico de bolsas de mestrado e doutorado para qualiicação de professores da Universidade Estadual com vistas ao seu crescimento”, inaliza professor Francisco Soares, presidente da Fapepi. sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI 19 DOSSIê Foi uma importante iniciativa do governador Wilson martins fortalecer a Uespi, por meio da Fapepi, no que se refere à qualiicação, pois foi lançado um edital especíico de bolsas de mestrado e doutorado para qualiicação de professores da Universidade Estadual Por Marco Aurélio do Amaral DOSSIê Programa de Bolsas Pós-Graduações auxilia docentes da Uespi a melhorar a qualidade da iniciação cientíica e das pós-graduações na Instituição Foto: Marco Aurélio do Amaral desde 2008, as bolsas vêm amparando inanceiramente professores que se afastam de sua IES para fazerem mestrados e doutorados. eliana Abreu, gerente técnico cientíico, pontua contribuições do programa para com professores e instituição como necessárias. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi) possui o Programa de Bolsas de PósGraduações exclusivo para docentes da Universidade Estadual do Piauí (Uespi). Foi implantado em 2008 e tem o aporte inanceiro do tesouro estadual. A proposta desse programa é aprimorar a formação de recursos humanos da universidade, focado no desenvolvimento cientíico e tecnológico do Piauí. De acordo com a gerente TécnicoCientíica da Fapepi, Eliana Abreu, a inalidade do programa é melhorar o nível de qualiicação desses professores. “Uma vez que a instituição, por ser mais nova que as instituições federais que existem no Estado, ela necessita melhorar o nível de qua- 20 sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI liicação de seus servidores, ou seja, contribuir para a formação desses professores e consequentemente melhorar o nível dos cursos da universidade estadual”, ressalta a gerente sobre a importância de aprimorar o quadro efetivo de docentes da universidade. A necessidade de instituir esse programa ocorreu em virtude de as bolsas serem em quantidade insuiciente para atender à demanda dos professores que hoje se estão qualiicando no Piauí. Os professores da Uespi que estão recebendo bolsa se encontram fora do Estado e essa bolsa seria uma complementação para as despesas tanto para a execução do projeto de pesquisa como também para o próprio pesquisador manter-se em outras atividades. Os editais do programa de incentivo a docentes da Uespi vêm contribuindo para que os pesquisadores, uma vez estando fora do estado, possam desenvolver seus projetos de pesquisa do mestrado ou doutorado com melhor qualidade,tendo em vista que elesirão contar com recursos para auxiliá-los na aquisição de literatura para subsidiar suas pesquisas e, consequentemente, poder participar de eventos cientíicos e publicar o produto de sua pesquisa nos meios de divulgações. Até algum tempo atrás, como a maioria dos professores da Uespi não fazia parte do quadro efetivo da instituição, não havia uma grande preocupação com o nível de qualiicação dos docentes efetivos da Uespi. Entretanto, à medida que o corpo docente efetivo da universidade foi crescendo, percebeu-se também que a Uespi passou a ter uma maior preocupação com a qualiicação dos seus educadores. Atualmente, a Universidade Estadual do Piauí conta com um quadro de professores efetivos maior que o de provisórios, sendo que grande parte dos professoresnomeados recentemente já possuem título de mestre ou doutor. Entretanto, a qualiicação dos professores que ainda não possuíam pós-graduação strictu sensu é uma necessidade urgente desta IES, uma vez que a qualiicação dos professores também é um requisito para o reconhecimento de cursos e a manutenção do credenciamento da instituição junto ao Sistema Estadual de Educação. Em função disso, a administração superior da universidade, junto com o governo estadual, tem-se empenhado para aprimorar o seu corpo docente. Uma das medidas adotadas para fomentar a qualiicação docente da Universidade foi implantar o Programa de Bolsas Pós-Graduação da Fapepi para professores da Uespi. As bolsas são de suma importância, pois, por meio delas, o docente se qualiica e possibilita o futuro surgimento de novos programas de pósgraduações, captação de maior volume de recursos junto à agência de fomento para o desenvolvimento de produtos inovadores que possam trazer dividendos para o Estado e para a própria Universidade. Para os docentes, o programa é importante e necessário, pois, além de incentivar sua qualiicação, permite ao professor dedicação total ao projeto de pesquisa. Através do programa, foram beneiciados 72 professores efetivos da Uespi, dos quais 52 em nível de doutorado e 20 em nível mestrado. Do total de beneiciados, mais de 40 professores já concluíram a pós-graduação. Em 2008, 12 bolsas de doutorado e 10 de mestrado; em 2009, 12 bolsas de doutorado e 7 de mestrado; em 2010, 4 bolsas de doutorado e 1 de mestrado; em 2011,13 bolsas de doutorado e 2 de mestrado; em 2012, 5 bolsas de doutorado e, em 2013, 6 bolsas de doutorado. De acordo com o Professor Hermes Galvão, Diretor Técnico-Cientíico da DOSSIê cebendo seus vencimentos, o pesquisador ainda tem muita diiculdade, pois, como seus centros de pesquisa cientíica são fora do território estadual, torna-se mais oneroso manter-se em outra cidade, principalmente porque há uma signiicativa parcela de professores que fazem mestrados ou doutorados em instituições privadas.Apesar disso, nos últimos seis anos, a Universidade Estadual do Piauí, qualiicou mais de sessenta professores em nível de doutorado e mais de trinta professores em nível de mestrado, muitas dessas qualiicações foram contempladas com bolsa da Fapepi. Para a contínua evolução de capacitação do quadro de docentes doutores, cabe à Fapepi a elaboração dos editais de seleção, estabelecendo quantidade de bolsas a serem disponibilizadas, considerando a demanda existente por parte da Uespi, bem como o volume de recursos que a Fundação tem disponível para investimento. Desse modo, preocupada em elevar a qualidade de pesquisa, a Fapepi atua como agente de fomento como Programa de Bolsas Pós-Graduações para docentes efetivos da Uespi. O aprimoramento do nível da pesquisa cientíica do Estado e, principalmente, da iniciação cientíica,impõe uma maior qualidade nas graduações e no desenvolvimento dos projetos de pesquisa nas pós-graduações que ganharão mais qualidade, além das outras pós que virão com o advento de mais doutores formados. Foto: Marco Aurélio do Amaral Foto: Marco Aurélio do Amaral o Professor geraldo eduardo elogia a política de incentivo à pós-graduação da uespi pois os docentes têm a chance de se ausentarem sem deixar de receber seus salários Fapepi, em 2014, um novo edital será lançado, contudo, ainda se estuda a quantidade de bolsas: “Estes dados sobre o número de bolsas ofertadas desde 2008 demonstram que o programa tem permitido ampliar o quadro de pessoal qualiicado, impactando diretamente na qualidade de ensino da graduação, na quantidade e na qualidade das pesquisas desenvolvidas na Uespi, além disto, a ampliação do quadro de doutores da instituição tem exercido um papel essencial no desenvolvimento de novos cursos de pós-graduação stricto sensu dessa IES estadual”, comenta o diretor. É de fundamental importância a política de incentivoàqualiicação docente no Estado. Para o Professor Geraldo Eduardo da Luz Júnior, o então Pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da Uespi,“a especialização do corpo docente da universidade sempre será primordial para o desenvolvimento não só cientíico tecnológico do Estado, mas também para com o desenvolvimento econômico social, principalmente quando é levada em consideração que a pesquisa cientíica tem o poder de transformar a economia e a sociedade de maneira geral de um estado.”, comentou o professor. Desde 2008, esse programa vem fornecendo um suporte maior aos bolsistas que já contavam com o apoio da política interna de qualiicação docente da Uespi, com a liberação integral do professor para fazer o seu mestrado ou doutorado. Porém, mesmo sendo liberado pela instituição e re- “cabe também à fAPePI acompanhar, por meio de análise de relatório técnico, o desenvolvimento dos projetos selecionados”, cita o diretor técnico cientíico, hermes galvão sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI 21 Por Vanessa Soromo MATérIA pesquisadores colhem resultados positivos com projetos em tecnologia assistiva A Luva ultrassônica, a Bengala Eletrônica e o Jogo G-tEA são alguns dos exemplos de pesquisas que proporcionam melhor qualidade de vida às pessoas com necessidades especiais. 22 sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI Foto: Marco Aurélio do Amaral P esquisadores do Instituto Federal do Piauí (IFPI) estão desenvolvendo projetos na área de Tecnologia Assistiva (TA). De acordo com o Comitê de Ajudas Técnicas (CAT), a sigla TA se refere a “uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e à participação de pessoas com deiciência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando a sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social”. No inal de 2011, alunos do curso de Desenvolvimento de Sotware e Eletrônica do campus Parnaíba, com idade média de 17 anos, começaram a desenvolver a Luva Ultrassônica, sob a coordenação do professor Francisco Marcelino Almeida Araújo. “Queria incentivar os meninos a se manterem nos cursos, pegando o que eles aprenderam na teoria e jogar na prática. Fizemos a Luva Ultrassônica. Quando apareceu a Mostra Nacional de Robótica (MNR), vimos a possibilidade de colocá-la. Ganhamos o prêmio em 2012 só com esse trabalho”, lembra Marcelino de Almeida. A Luva tem sensores ultrassônicos que identiicam um obstáculo em uma determinada distância. Os circuitos eletrônicos interpretam a informação e enviam vibrações ao usuário avisando-o Integrantes do Projeto luva ultrassônica com o professor marcelino de Almeida (à direita). do perigo. O servidor da Secretaria Estadual de Inclusão da Pessoa com Deiciência (Seid), Luís Sampaio, que é deiciente visual, testou a Luva em março de 2013 e colaborou de forma signiicativa para o aperfeiçoamento e o redirecionamento do objetivo do equipamento. “A primeira descoberta que nós izemos foi que a Luva não substitui a bengala. O que nós percebemos de positivo foi a questão de ela identiicar realmente os obstáculos”, airma Luís Sampaio. De acordo com Marcelino Almeida, os testes foram essenciais para perceber que a Luva não funcionava bem nas ruas por serem muito dinâmicas, mas excelentes para locais fechados, como casas e empresas. Quando foi transferido de Parnaíba para Teresina, o professor Marcelino Almeida continuou o trabalho de fomentar pesquisas na área de TA entre alunos do Instituto. No ano passado, ele conseguiu reunir alunos do Ensino Médio Integrado, dos cursos de Eletrônica, de Eletrotécnica e da Computação Alunos do curso do IfPI com a bengala eletrônica. para o desenvolvimento de três projetos, entre eles, o da Bengala Eletrônica, que foi criada com o objetivo de solucionar os problemas enfrentados por pessoas com deiciência visual quando necessitam trafegar por lugares abertos e dinâmicos, como as vias públicas. A Bengala Eletrônica “tem sensores que apontam na diagonal e que identiicam os obstáculos aéreos”, explica Francisco Marcelino. Na edição de 2013 da Mostra Nacional de Robótica, os alunos do IFPI foram campeões pela segunda vez consecutiva, com os projetos da Bengala Eletrônica e o Módulo de Transporte de Cargas. Os números e prêmios revelam que o trabalho de fomento à pesquisa cientíica e tecnológica dentro do Instituto vem dando resultados positivos. Na MNR de 2012, participaram apenas 5 alunos, enquanto na Mostra do ano passado foram 35 alunos. “Creio que o ponto principal que a própria sociedade acha bem bacana e se sente motivada com o que nós estamos fazendo é ver que pessoas do Ensino Médio estão desenvolvendo pesquisas que nós pensávamos que tinha que ser um engenheiro para realizar”, ressalta Marcelino Almeida. O núcleo do LABoratory of Intelligent Robotics, Automation and Syste- mas (Labiras), que funciona no prédio do campus IFPI Teresina Central, sob a coordenação do professor Marcelino, recebeu equipamentos e estrutura física de empresas locais, que somaram cerca de R$ 12.000, 00 (doze mil reais). Além disso, o próprio Instituto reservou uma de suas salas para que os trabalhos do Labiras pudessem ser desenvolvidos. “Empresas locais estão patrocinando de alguma maneira, mesmo que não seja em dinheiro, mas dando estrutura. Se estão doando é por que estão colocando fé na gente”, conclui o coordenador. Os trâmites para os pedidos de patentes dos dois projetos já começaram a ser realizados. A meta primordial dos pesquisadores é a produção local, barateando custos. Mas os planos futuros dos protótipos devem seguir rumos diferentes. No caso da Bengala, um tutorial deve ser criado para que as pessoas possam produzir o equipamento na sua própria casa, de forma fácil e barata. Já a Luva Ultrassônica, por possuir um processo de produção mais complexo, necessita de mais apoio. “Precisamos de parcerias de verdade, parcerias grandes com empresas e o Governo do Estado, porque tem que ter recursos para poder produzir a Luva em larga escala”, revela Marcelino de Almeida. “Essa experiência com a Luva foi o ponto chave, para que eu veriicasse que era realmente a área com que eu me identiicava, e também porque nos motivou a respeito do curso de desenvolvimento de Software”. Amanda da Silva Sousa, 20 anos, integrante do projeto da Luva ultrassônica. Atualmente Amanda é graduanda do curso Ciência da Computação da uespi - campus Parnaíba. “Foi bastante interessante e algo que agregou muito ao nosso currículo, a nossa experiência de vida, porque nós do curso de Eletrônica nunca tínhamos participado de uma experiência grandiosa como foi a Mostra Nacional de robótica 2013”. matheus Barros, 17 anos, aluno do curso de Eletrônica do IFPI – campus Teresina Central, e integrante do projeto da Bengala Eletrônica. sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI 23 MATérIA Foto: Marco Aurélio do Amaral Segundo Claude Girão, Coordenador de Acessibilidade da Seid, “existe um grande desejo da secretaria em estar participando e disponibilizando tudo quanto for de ferramentas possíveis dentro da nossa realidade em prol de que essa tecnologia chegue à ponte principal, que é a pessoa com deiciência”. Foto: Vanessa Soromo MATérIA Professores e estudantes responsáveis pelo g-teA no laboratório de objeto de Aprendizagem (loA). ir além... “Eu tive força de vontade de mãe, amor por ele, mas apostei na tecnologia, nesses programas de computadores que nem eram tão especíicos para os autistas”. O depoimento é da dona Helena Lima, mãe de Gabriel Lima, 18 anos, portador de autismo clássico. Helena é fundadora da Associação de Amigos do Autista do Piauí (AMA) e Gerente de Articulação da Seid, e alfabetizou o ilho com o auxílio de programas de computadores. Para ajudar pessoas, como a família Lima e proissionais que trabalham na alfabetização de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), os professores Otílio Paulo da Silva Neto e Fernando Castelo Branco Gonçalves Santana, juntamente com os alunos do curso superior em Análise e Desenvolvimento de Siste- 24 sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI mas do Instituto Federal do Piauí (IFPI), desenvolveram o jogo G-TEA. “Surgiu a ideia de trabalharmos não com um problema computacional, mas sim um problema social. Nós propomos para o workshop do Simpósio Brasileiro de Games e Entretenimento Digital (SBGames), um jogo para trabalhar com crianças autistas e ensiná-las as cores inicialmente”, explica Otílio Paulo da Silva Neto. Segundo os pesquisadores, os testes realizados com as crianças da AMA foram muitos satisfatórios. “Foi uma das partes do nosso trabalho que nos trouxe mais felicidade, porque eles jogavam, brincavam, faziam as atividades. Quando eles faziam convencionalmente, às vezes começavam, mas não terminavam”, lembra Otílio da Silva. O G-TEA pode ser utilizado por diversos proissionais, como psicólogos, psicopedagogos, pedagogos e fonoaudiólogos. Segundo o professor Otílio, o game “é uma ferramenta simples, onde o proissional interage diretamente com a criança. A ideia é auxiliar o proissional a trabalhar melhor com uma ferramenta mais atrativa para o autista”. O jogo está disponível no Google Play e pode ser baixado gratuitamente. “É muito bom trabalhar nesse tipo de projeto, por que ele tem um papel social”, exalta Breno Machado do Monte, 21 anos, aluno do curso de Analise e Desenvolvimento de Sistema. De acordo com a professora Claudete Silva, existem vários projetos na área de Tecnologia Assistiva em andamento, tanto no Laboratório de Inovação e Sistemas Multimídia (LIMS), quanto no Laboratório de Objeto de Aprendizagem (LOA) do IFPI. “Alguns deles são objetos onde ele é interativo, levando em consideração a questão da acessibilidade e usabilidade de pessoas com deiciência na área auditiva e visual”, inaliza. Por Cássia Sousa MATérIA suicídio: pesquisa aponta contextos sociais de risco A pesquisadora Vânia reis enfatiza a importância de oferecermos condições para o fortalecimento emocional dos jovens e, consequentemente, para a prevenção do suicídio. Foto: Cássia Sousa E m O Mito de Sísifo, Albert Camus diz que o suicídio é o mais sério de todos os problemas filosóficos. Nas últimas décadas, entidades governamentais e diversos outros setores da sociedade têm demonstrado crescente preocupação com o aumento das taxas de suicídio no mundo. Entretanto, o assunto ainda é espinhoso e pouco discutido na sociedade. Os motivos que levam a essa interdição do tema são de ordens diversas. Pode ser desde o preconceito sofrido tanto pela vítima como pelos familiares até o temor de se incorrer numa abordagem inadequada do tema e desencadear o que se chama “Efeito Werther”. No livro clássico de Goethe, Os Sofrimentos do Jovem Werther, o personagem central comete suicídio. Após a publicação da obra, foram observados relatos de jovens que cometeram suicídio da mesma forma que o personagem. No primeiro caso, é necessário desconstruir esse preconceito. “Quem pensa em suicídio na verdade não quer tirar a própria vida. Quer acabar com seu sofrimento”, afirma a Professora Doutora Vânia Reis. Vinculada ao Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Piauí (UFPI), a Profª Vânia realizou, em 2009, a pesquisa intitulada Suicídio Entre Jovens de Teresina: Contextos Sociais de Risco e de Apoio. Dentro do Programa Primeiros Projetos (PPP), é uma das poucas pesquisas que abordam o tema no contexto do estado piauiense. Segundo a pesquisadora, é necessário desconstruir preconceitos No segundo caso, espera-se que esta matéria contribua com a discussão sobre alguns aspectos pertinentes que sejam de interesse das autoridades governamentais e da comunidade científica. Por que estes dois setores? Porque políticas públicas são necessárias para resolver problemas sociais, mas, para que haja políticas públicas eficientes, são necessários dados precisos. E é aí que entram os pesquisadores do nosso estado. O trabalho da Profª Vânia procurou fornecer dados precisos na medida em que propôs buscar contextos que suscitam a ideação suicida e os que oferecem o suporte emocional para que não haja a ideação. “Muito mais do que buscar causas, fatores ou elementos soltos, tentei buscar os contextos que contribuem para a fragilização e os que contribuem para o fortalecimento emocional e moral dos jovens ante às pressões às quais sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI 25 MATérIA ele está submetido atualmente”, explica a pesquisadora. A pesquisa consistiu em entrevistas com familiares, amigos e pessoas próximas a jovens que cometeram suicídio ou tentaram. Embora houvesse uma equipe de estudantes, a pesquisadora conduziu todas as entrevistas. “A conversa foi muito fecunda. Não foram entrevistas formais até mesmo porque dada a natureza do assunto eram entrevistas muito difíceis de serem conduzidas”, esclarece a professora. De acordo com a pesquisadora, uma das dificuldades com as quais se deparou foi com a inconsistência dos dados. Ela explica que, pela própria natureza do suicídio, ele é subnotificado. “Em todo o mundo é assim porque é muito difícil atestar com convicção um caso. O que caracteriza o suicídio? A intenção. Se uma pessoa assume um gesto que, por consequência, a leva à morte, mas ela não tinha a intenção de morrer, aquilo não foi um suicídio”, afirma. Segundo Vânia Reis, nem todas as pessoas que cometem suicídio deixam cartas ou notas. E somente quando o meio utilizado evidencia o ato como tal, este caso é arrolado estatisticamente como sendo suicídio. Dentre os contextos de risco, a professora aponta a falta de confiança, de apoio e de solidariedade na relação entre os pares e familiares. E exemplifica como um desses contextos o bullying, ou seja, a intimidação que crianças e adolescentes sofrem dos colegas no ambiente escolar. Outro fator de risco é o uso das redes sociais como principal forma de comunicação com os amigos. Segundo a pesquisadora, elas levam ao isolamento e à depressão. “Todos precisamos de relacionamentos presenciais, especialmente os jovens, por estarem em processo de construção da identidade”, explica a Profª Vânia. Os contextos de competitividade (no trabalho, na escola, na universidade) também se configuram como elementos de risco por exacerbarem a competitividade em detrimento de outros elementos como “valores morais consistentes explicitamente assumidos como a solidariedade, a lealdade, a confiança, a amizade, o companheirismo e amor. É preciso dar aos jovens contextos nos quais eles se sintam ser esses valores centrais no viver”. Ter amigo ou familiar que cometeram suicídio, bem como a compreensão equivocada de que o suicídio é um ato de coragem são outros elementos apontados pela professora. “A tentativa de suicídio anterior também é um contexto de altíssimo risco, além de transtornos mentais e psicológicos e a falta de espiritualidade”, acrescenta. A espiritualidade à qual a pesquisadora se refere é a capacidade de transcendência das pessoas, ou seja, o sentimento de se sentir alguém cuja existência tem um sentido. Esta sen- sação é proporcionada, na maioria das vezes, pelas religiões. Entretanto, isso pode se dar pela via filosófica também. A psicóloga Layse Policarpo Silva Correia diz que, entre os transtornos mentais que podem levar a ideação suicida, estão a depressão, o transtorno bipolar e o transtorno boderline. A depressão caracteriza-se pelo estado de humor deprimido no qual o indivíduo se estabelece. Ele passa muito tempo nesse estado e não consegue ter picos de humor elevado, como acontece no transtorno bipolar. O isolamento, a falta de cuidados pessoais, bem como o desinteresse em fazer coisas que antes eram atividades prazerosas são indícios da depressão. Diferentemente da depressão, no transtorno bipolar, o indivíduo tem oscilação de humor. “Ele não tem um equilíbrio de humor: ou está muito bem, que é o que chamamos de euforia, ou está muito mal, que são os picos de depressão. Quando está muito bem, ele compra, sai, se diverte, é outra pessoa; quando está mal, se isola, não toma banho, não trabalha,”, explica a psicóloga. Já, no transtorno boderline, o indivíduo encontra-se no limite do humor. “É aquela pessoa que, muitas vezes, parece mal-humorada, que parece não ter muita paciência para algumas coisas, está sempre no limite. Então, ela ‘estoura’ com muitas coisas. Imagine um fator frustrante para a espiritualidade à qual a pesquisadora se refere é a capacidade de transcendência das pessoas, ou seja, o sentimento de se sentir alguém cuja existência tem um sentido. esta sensação é proporcionada, na maioria das vezes, pelas religiões. 26 sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI MATérIA segundo a pesquisadora Vânia reis, ilmes e livros ajudam indivíduos a sair de crises de depressão uma pessoa dessa forma? Muitas vezes pode desencadear um suicídio, sim”, avalia Layse Policarpo. Em todo caso, um aspecto para o qual tanto a psicóloga como a pesquisadora chamam a atenção é para o não julgamento das pessoas com ideação suicida. Vânia Reis explica que, em países cujo sistema de saúde é mais organizado, estudos mostram que até 45 dias antes de terem consumado o suicídio, a pessoa procurou ajuda médica. Não verbalizou sua intenção, mas, de alguma forma, houve a consciência de que algo não estava bem e, por isso, buscou ajuda. “Ela não está assumindo sua ideação suicida, talvez nem para ela. Talvez não tenha coragem de assumir para os outros e é aí que entra um fator importantíssimo: o preconceito. O preconceito contra os que tentam o suicídio e contra as famílias de quem cometeu suicídio. Esse preconceito está vinculado aos preconceitos que impregnam nossa sociedade há séculos em torno da questão da loucura”, enfatiza a pesquisadora. Todos estes contextos apontados podem levar a outro que é o consumo de bebidas alcoólicas e outras drogas ilícitas, que se configura como fator de risco também. Em todo caso, é importante esclarecer que esses contextos não são específicos da juventude, mas da sociedade em geral. O que ocorre é que eles se acentuam em relação aos jovens. Como a pesquisa da professora Reis visa a identificar os contextos de apoio, é possível visualizar cenários positivos. Estes contextos são a família harmonizada, que não é aquela isenta de desavenças, mas a que sabe lidar com as diferenças de seus membros e que respeita essas diferenças; ter relações de amizade presenciais próximas, cujos laços estabelecidos sejam de confiança, lealdade, companheirismo etc.; a religião, desde que seja uma doutrina que permita ao indivíduo dialogar sobre suas angústias e sobre os próprios preceitos religiosos; o diálogo, seja com familiares, com amigos ou com pessoas próximas; ter valores morais consistentes, claramente definidos, ainda que em constante construção. O hábito da leitura e ver filmes também são apontados pela pesquisadora como contexto de apoio, especialmente no caso de indivíduos depressivos. Outro contexto é a própria reflexão sobre as consequências do ato suicida. “Em que resulta o suicídio? Retornamos às religiões porque a ciência não explica isso”, afirma Reis. Layse Policarpo explica que a ideação suicida é difícil de identificar. Entretanto, é possível atentar para alguns comportamentos, embora isso não signifique necessariamente que alguém tenha ideação suicida. Deve- se ficar em alerta com a pessoa que esteja em um quadro de oscilação de humor, até mesmo o humor eufórico que não é o habitual dela. “Porque ela pode, nesse estado eufórico, às vezes até brincando, vem o pensamento e ela acaba realmente cometendo o suicídio. Se houver alterações bruscas de humor, seja euforia ou depressão, num período prolongado, é o caso de se observar também se essas pessoas estão deixando de fazer coisas habituais, como trabalhar, ir à escola, tomar banho, comer, dormir. É aí que devemos começar realmente a procurar ajudar, conversar, tentar se aproximar e nunca julgar porque às vezes achamos que a angústia dela é injustificada, mas para ela é importante. O significado que algo tem para aquela pessoa não é o que tem para uma outra”, explica a psicóloga. Também é possível procurar ajuda nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e nos Centros de Valorização da Vida (CVVs) em Teresina. O Caps é vinculado à Fundação Municipal de Saúde e, para ser atendido, a pessoa pode procurar diretamente o serviço ou ser encaminhada pelo Programa de Saúde da Família (PSF). Já o CVV é uma ONG que dispõe, por meio de voluntários, a oferecer conforto e apoio às pessoas. Atualmente, o serviço oferecido inclui chat, telefone, skype, e-mail e postos presenciais. sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI 27 tESES cornélia janayna pereira passarinho jardes Figuerêdo do rêgo Pesquisadora Pós-Doutorado/ CAPES/ UFPI defesa: Universidade Federal do Espírito Santo, 2012 [email protected] Pesquisador defesa: Instituto de Química/Universidade Estadual Paulista, 2013 [email protected] uma abordagem dinâmica para detecção e seguimento de face em vídeos coloridos em ambientes não controlados D etecção de face em imagens é uma linha de pesquisa que vem recebendo dedicação crescente em visão computacional, uma vez que pode ter diversas aplicações. Identiicação, autenticação e reconhecimento de indivíduos são algumas tarefas realizadas a partir do desenvolvimento de sistemas que se baseiam em tais técnicas. O trabalho desenvolvido nesta Tese de Doutorado apresenta uma abordagem para detectar e seguir face em vídeos coloridos e adquiridos em ambientes não controlados. O Seguidor Dinâmico com Vetores de Suporte (SDVS) aqui proposto combina detecção de face com seguimento de alvo, através da integração de compensação de iluminação, detecção de cor de pele, classiicador SVM (do inglês Support Vector Machines), usando características de Gabor e um iltro de Kalman discreto, compondo um sistema integrado. A arquitetura aqui proposta se distingue das demais encontradas na literatura, por ser capaz de detectar e seguir face em vídeos adquiridos em ambientes externos, com condições do mundo real, ou seja, não controladas, detectar e seguir face em pose arbitrária, em diferentes tons de pele e por apresentar robustez no que se refere à recuperação de falhas na detecção de face. Para validar a proposta do SDVS, foram realizados testes em vídeos das bases de dados de vídeos da Honda/UCSD e David Ross, como também vídeos capturados no Campus de Goiabeiras da Universidade Federal do Espírito Santo. Tais vídeos foram categorizados segundo o grau de diiculdade (desaio) a ser tratado, e os resultados da aplicação do SDVS foram comparados com uma técnica do estado da arte, para avaliar seu desempenho. Como resultado de tal comparação, pode-se concluir que a abordagem aqui proposta e o sistema SDVS implementado foram validados. 28 sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI Amostragem de sólidos em espectrometria de absorção atômica de fonte contínua com alta resolução: análise de plantas medicinais N a última década, houve um aumento signiicativo no uso de itoterápicos. Contudo, o estudo detalhado sobre a toxicologia das principais plantas empregadas como matéria prima não cresceu na mesma proporção. Em função disto, tornam-se relevantes estudos visando à caracterização química e toxicológica de plantas medicinais, principalmente aquelas que têm sido empregadas como matérias primas para produção de itoterápicos. Neste sentido, o presente trabalho teve como objetivo o desenvolvimento de métodos analíticos visando à determinação de As, Cd, Co, Pb, Se e Sn em plantas medicinais, empregando a espectrometria de absorção atômica de fonte contínua com alta resolução em forno de graite com amostragem direta de sólidos (SS HR-CS GFAAS). O procedimento de amostragem direta de sólidos envolve o mínimo preparo da amostra, o que reduz os riscos de contaminação e minimiza a geração de resíduos, e além disso, diminui substancialmente o tempo de análise e aumenta o poder de detectabilidade. O uso do conceito de espectrometria de absorção atômica de fonte contínua com alta resolução permitiu identiicar e corrigir as principais interferências espectrais. Na determinação de As, Co, Se e Sn, foram observadas interferências espectrais causadas por moléculas diatômicas de PO e SiO. Nestes casos, o emprego do algoritmo dos mínimos quadrados (LSBC) corrigiu o fundo; entretanto, para a determinação de As, observouse interferências espectrais provocadas por linhas atômicas de Al que somente foram corrigidas utilizando algoritmo de correção de fundo interativa (IBC). Os métodos desenvolvidos apresentaram limites detecção de 28,7 ng g-1 (As), 0,15 ng g-1 (Cd), 3,2 ng g-1 (Co), 7,3 ng g-1 (Pb), 40,1 ng g-1 (Se) e 24,5 ng g-1 (Sn). A exatidão dos métodos foi avaliada através da análise de materiais de referência certiicados de plantas, cujos valores foram concordantes com os certiicados ao nível de 95 % (test t). Visando determinar as menores quantidades de amostra que poderia ser analisadas, diferentes procedimentos de preparo de amostra foram avaliados. A partir dos resultados obtidos, observou-se melhor precisão e exatidão utilizando massas entre 0,2 - 1,0 mg de amostra, empregando moinho criogênico ou moinho de facas com peneira de 30 mesh. Por im, os métodos desenvolvidos foram aplicados na determinação dos analitos em dezoito amostras de plantas medicinais e as concentrações obtidas variaram de 3,2 a 287,2 ng g-1 (Cd); 14,7 a 1195,7 ng g-1 (Co); 124,2 a 1946,1 ng g-1 (Pb) e 142,8 a 342,6 ng g-1 (Sn). Os resultados foram concordantes ao nível de 95 % (test t) quando comparados com os obtidos por outras técnicas (ICP-MS e GFAAS). As concentrações de As e Se nas amostras foram menores que os limites de detecção. silvana pantoja Professora adjunta da UESPI – Campus Torquato Neto defesa: Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, em 2013 [email protected] Educação em direitos Humanos em uma instituição militar* O objetivo principal deste trabalho é veriicar a inluência de diferentes práticas interventivas sobre as representações sociais (RS) dos direitos humanos (DH) em alunos de um curso de formação de oiciais da polícia militar. Tendo em vista este objetivo, foram realizados dois estudos. No primeiro, buscou-se investigar as RS, o conhecimento e as concepções sobre os DH, bem como a sensibilidade empática dos participantes. Foram administrados escalas e questionários sobre os DH, além de uma escala de empatia voltada para questões sociais a 176 cadetes, de ambos os sexos, alunos do 1º e do 3º ano. Também foi utilizada a Técnica da Associação Livre de Palavras. Nos dois estudos, foram utilizadas estatísticas paramétricas e não paramétricas. Os resultados do primeiro estudo indicam: 1) a existência de um campo representacional dos DH e uma correspondência entre o conteúdo desse campo e a Declaração Universal dos Direitos Humanos; 2) a existência de RS negativas com relação à efetivação dos DH e 3) uma baixa sensibilidade empática com respeito a alguns grupos sociais. A partir desses resultados, foi selecionada a amostra do segundo estudo, que visou promover uma mudança nas RS dos participantes, conscientizando-os quanto ao papel do policial enquanto defensor e promotor dos DH. Participaram deste estudo 48 cadetes, que foram distribuídos, randomicamente, em três grupos: dois experimentais e um de controle, cada um dos grupos participou de um programa especíico de intervenção. Ao inal do programa, veriicam-se mudanças: 1) no conhecimento dos DH; 2) nas concepções de DH; 3) nas representações dos DH e 4) nas representações da polícia. Os resultados são discutidos à luz da TRS, da teoria psicossociológica de Doise e de estudos empíricos que investigam os DH na esfera das RS. *Pesquisa inanciada pela CAPES tESES Miriane da Silva Santos Barboza Professor / Pesquisador da Universidade Estadual do Piauí defesa: Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2013. [email protected] Literatura e memória entre os labirintos da cidade: representações na poética de Ferreira Gullar e H. dobal A pesquisa objetivou analisar em, Poema sujo (1976), de Ferreira Gullar, e em A cidade substituída (1978), de H. Dobal, a relação entre homem/cidade, considerando os procedimentos literários que particularizam cada uma das obras. A razão da escolha dessa temática decorreu, a priori, da percepção de que na modernidade o mundo fora distendido, derrocando uma caminhada marcada pela visão fragmentada e por formas diferentes de convivência: os ios da rede de relações ancorados no espírito coletivo se desprenderam gerando desenraizamento, perda de referências, individualização e esfacelamento da memória. Essa constatação gerou em nós o desejo de valorizar a relação entre memória e cidade, face à situação itinerante, mutante e efêmera constitutiva da vida moderna. Gullar e Dobal constroem suas urdiduras discursivas em torno da mesma temática: a memória da cidade de São Luís do Maranhão, embora sob perspectivas diferenciadas. O olhar de Gullar é de intimidade, envolto pela muralha de lembranças pessoais, cuja relação é de familiaridade e cumplicidade; o de Dobal é distanciado, como nômade que permeia os espaços e reconstrói memórias do outro. Ambos os poetas desencadeiam sentidos, cujas imagens reconstroem memórias a partir de suas interações com os espaços vividos/observados. Desse modo, podemos dizer que os escritores constroem seus acervos de memórias, menos pela relação que estabelecem com o mundo do que pela forma como são impactados pelas coisas que os circundam. Diante de um mundo de realidades contraditórias, de constantes deslocamentos dos sujeitos e dos espaços, o sujeito moderno reage de diferentes formas: como mecanismo de proteção, imerge dentro de si, cujo estado é gerado pela “deserção [...] de inalidades sociais”, explica Lipovetsky (2005, p. 34). O poeta do passado amparado na plenitude de seu mundo, tinha plena coniança na caminhada, ainda que repleta de obstáculos; o homem/poeta da modernidade, ao contrário, é movido pela incerteza da trajetória. Desse modo, a cidade retira de si o caráter eurocêntrico e se desdobra em pluralidades, levando também o poeta a novas formas de com ela interagir. O homem/poeta da modernidade diante da totalidade perdida, bem como da incessante movência do mundo, reage personalizandose. Ante à transformação da paisagem e da falta de solidez dos espaços, Gullar e Dobal dão uma guinada ainda maior, suas reações resultam na transformação da “imortalidade de uma idéia numa experiência [...]”, já que “é o modo como se vive o momento que faz desse momento uma experiência imortal”, diz Bauman (2008, p. 144). Os lugares sob o campo de visão sensível dos poetas em questão encravam-se no corpo poemático e se transformam em espaço de conservação da memória, sem que sejam considerados completamente perdidos. A dinamicidade dos espaços leva os sujeitos sociais a reconhecer a cidade sob novas práticas, geradoras de novos signiicados, cuja forma de compreender os repertórios do passado não renegam as novas experiências com/na cidade, por isso, a concepção de espaço na poética moderna exige um olhar que agregue axiologias distintas. sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI 29 a pesquisa sobre Homossexualidade Feminina no piauí Ainda são poucas as pesquisas que abordam a mulher lésbica. Grupos como o sexgen têm contribuído para dar visibilidade à diversidade sexual e de gênero. Foto: Cássia Sousa MATérIA Por Cássia Sousa Pâmela reis desenvolve pesquisa na área desde a graduação. E m 2012, a Sapiência lançou edição que abordava o tema “Questão de Gênero”. Uma das matérias se referia às pesquisas sobre homossexualidade no Piauí, conduzidas na época pelo pesquisador Fabiano Gontijo, doutor em Antropologia e então professor dos Programas de Pós-Graduação em Antropologia e Políticas Públicas. Hoje o professor Gontijo está no Pará, mas continua orientando pesquisas dessa mesma temática no Piauí. Ele foi um dos pioneiros nesse tipo de pesquisa no estado e, inicialmente, seus estudos foram amplos, buscando mostrar como se conigurava o cenário teresinense. De acordo com Pâmela Laurentina Sampaio Reis, mestranda do Programa de 30 sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e orientanda de Gontijo, existe uma lacuna teórica nos estudos sobre gênero e sexualidade no Piauí. “Os trabalhos que se têm ainda estão concentrados no Sudeste. A proposta era justamente a pesquisa no Norte e Nordeste no sentido de interiorizar os estudos”, explica. Segundo Reis, mesmo após os esforços de Gontijo, atualmente a produção acadêmica do estado ainda é embrionária. E isso se acentua em relação a estudos mais segmentados como, por exemplo, os que versam sobre a homossexualidade feminina. É nesse contexto que se situa a pesquisa. “O que me motivou foi poder contribuir com esse vazio teórico que existe sobre estudos de mulheres que amam mulheres. No início dos anos 90, os trabalhos acadêmicos começam a aparecer na academia. Nesse recorte temporal, tínhamos, nos movimentos sociais, estudos sobre gays. Tinha-se a ideia de que as mulheres estariam contempladas nesses estudos. Mas, não estavam”, enfatiza. A pesquisa dela intitula-se “Mulheres: Trajetórias, Sexualidade e Sociabilidade em Camadas Médias Urbanas em Teresina – Piauí”. A partir de entrevistas, o trabalho apresenta as histórias de vida dessas mulheres. De acordo com a pesquisadora, não há uma escolha deliberada das entrevistadas. Elas são indicadas umas pelas outras, pertencendo, assim, à mesma rede de sociabilidade. Embora não haja também uma escolha da faixa etária, número signiicativo das entrevistadas são mulheres que estão na faixa dos quarenta anos. “Elas têm uma representação social muito importante para a cidade porque são de uma geração do inal dos anos 90 que marcou as sociabilidades em Teresina. São mulheres que, apesar de serem discretas, são lésbicas conhecidas, são aquelas lésbicas nas quais as outras mais jovens se espelhavam. Até por terem determinadas características em seus peris como, por exemplo, o fato de muitas delas terem morado no exterior e depois voltado para Teresina”, comenta a pesquisadora. “Minha pesquisa conigura-se em compreender a representação desse grupo de mulheres. O que elas nos dizem sobre a sociedade piauiense, como essa sexualidade é vivida dentro desse processo de geração, o envelhecer. Porque o mundo gay é muito cheio de purpurina e glamour, mas esse cenário vem mudando”. De acor- Ana carolina fortes airma que a escola atua como airmadora de homogeneidades. e a Educação Não-Escolar: Experiências da Mulher Lésbica Afrodescendente”. Ana Carolina Fortes entrevistou três mulheres. “Inicialmente, eu iquei bastante receosa se conseguiria convidar essas pessoas para participar da pesquisa porque tratamos de questões ligadas mais à intimidade, histórias mais privadas da vida delas”, comenta a pesquisadora, referindo-se às diiculdades iniciais que teve. A primeira das entrevistadas é ligada aos movimentos sociais e, segundo Ana Carolina, das três é a que mais discute as categorias propostas na pesquisa. “Ela fala bastante sobre afrodescendência, estigma e lesbianidade”, esclarece Ana Carolina. As categorias investigadas pela pesquisadora foram Ser Mulher Afrodescendente, Ser Lésbica, A Escola Como Reprodutora de (Des)Igualdades e Lições Aprendidas Fora da Sala de Aula. Ela explica que inicialmente a pesquisa seria inteiramente realizada tomando como cenário o ambiente escolar. “Mas percebi que o conceito de educação que usamos perpassa toda a nossa vida. Então, passei a investigar experiências educacionais, não apenas as vividas na escola, mas as vividas na igreja, no esporte e nos movimentos sociais”, diz a pesquisadora. Ela explica que as pessoas que não se sentem contempladas dentro do modelo estabelecido nas escolas buscam outras formas de educação em outros ambientes com as quais possam fortalecer suas identidades. Em sua pesquisa, Ana Carolina procura compreender como essas identidades são fortalecidas, se elas são fortalecidas e que instâncias contribuíram para o fortalecimento delas. Um dos aspectos ressaltados na pesquisa foi o silenciamento em relação às opressões de ordem racial. “A segunda mulher afasta-se disso. Ela fala da mulher negra na terceira pessoa, não se vê como uma. Por mais que, em alguns momentos, ela diga que é, em sua fala, ela se coloca distante desse grupo”, revela. Ana Carolina ainda explica que a escola constitui-se como um local de airmação de homogeneidades, na qual existe um modelo de cidadão bem delineado: branco, pronto para o mercado de trabalho, heterossexual. “Ela quer produzir uma mulher que esteja pronta para conviver com esse homem. Então, questões como afrodescendência, homossexualidade e a própria sexualidade, de forma mais ampla, são pouco discutidas na escola”, inaliza. sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI 31 MATérIA Foto: Cássia Sousa do com Pâmela, garotas mais jovens, na faixa dos 20 anos, têm maior lexibilidade para expressar afetividades em público, diferentemente desta geração, na faixa dos 40 anos, que são produto de outro contexto social. Mas não apenas isso: “Atrela-se a isso, fatores econômicos e proissionais. Muitas, por ocuparem certos cargos, preferem não se expor”, explica. A pesquisadora entrevistou cerca de 60 mulheres ao longo dos últimos quatro anos, desde o período em que estava na graduação e desenvolvia pesquisa no programa de iniciação cientíica. O estudo ainda não foi concluído e, embora a pesquisa enfoque a homossexualidade feminina, a pesquisadora identiicou mulheres bissexuais, bem como os discursos circulantes entre mulheres lésbicas acerca da bissexualidade. Segundo Pâmela, a bissexualidade é vista como algo negativo em alguns grupos de mulheres homossexuais. Em relação aos bissexuais, ela airma que existe uma lacuna ainda maior nos estudos piauienses. “Estamos investindo nisso”, garante Daiany Caroline Santos Silva, mestre em Antropologia, referindo-se às pesquisas sobre gênero e homossexualidade. Tanto Silva quanto Reis são integrantes do Núcleo de Pesquisa sobre Sexualidade, Corpo e Gênero – Sexgen. “Estamos unindo nossas experiências para o debate sobre a invisibilidade de algumas categorias sociais. Depois pretendemos levar nossas discussões para a comunidade cientíica e não cientíica, além de implementar ações também. Mas um passo de cada vez”, explica Daiany. Outra integrante do Sexgen é a pesquisadora Ana Carolina Magalhães Fortes, mestre em Educação. Também é advogada do grupo Matizes e foi eleita madrinha da Parada da Diversidade de Teresina no ano passado. Ela realizou pesquisa pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPI, abordando afrodescendência e homossexualidade feminina. “Sou advogada militante, trabalho junto aos movimentos sociais, especialmente o movimento LGBT, então achei que dava para casar a minha atuação proissional com a academia”, explica Fortes. A pesquisa tem como título “A Escola DICAS DE LIvrOS identidades e diVersidade cUltUral: patrimônio arqUeolóGico e antropolóGico do piaUí-Brasil e do alto riBatejo-portUGal. Organizadores: Marleide Lins, Síria Borges e Luiz Oosterbeek (Instituto Terra e Memória Portugal) Número de páginas: 236 páginas (Dupla face: 135 pag. Piauí – Brasil e 101pag. - Alto Ribatejo–Portugal) Ano: 2013 • E-mail: [email protected] / [email protected] / [email protected] A obra versa sobre o patrimônio arqueológico e antropológico do Piauí-Brasil e do Alto Ribatejo-Portugal. Apresenta feição gráica de dupla face, dividindo e/ou unindo as duas regiões; contempla artigos cientíicos de renomados pesquisadores brasileiros e portugueses, além de ensaios fotográicos que ilustram a referida temática. No mundo contemporâneo, a investigação arqueológica é considerada um instrumento essencial para a airmação e reconhecimento da diversidade das identidades culturais dos grupos humanos. 32 sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI DICAS DE LIvrOS política, cUltUra e mercado - dUas Visões - Brasil e espanHa Autor: Ana Regina Rego Número de páginas: 813 Ano: 2013 [email protected] O livro é relexo dos cinco primeiros capítulos da tese de doutorado defendida pela autora em 2010 e que teve como título “Comunicação Corporativa, Marketing e Política Cultural”. Nele, Ana Regina Rêgo apresenta as políticas públicas de cultura dos dois países a partir de uma visão dos Ministérios de Cultura, tendo como foco central as leis que procuram, através da isenção iscal, incentivar as empresas, sejam elas privadas ou públicas, a investir no ambiente cultural. Por outro lado, o livro apresenta ainda um panorama do mercado cultural nos países mencionados. ÁFrica e Brasil, diÁloGos possíVeis: EstEtIzAção E mItIFICAção dE ÁFrICA nAs EstrAtéGIAs IdEntItÁrIAs E InsErção PoLítICA do moVImEnto nEGro Autor: Artemisa Odila Candé Monteiro Número de páginas: 258 Ano: 2012 [email protected] O objetivo deste livro é analisar a construção da identi¬dade negra teresinense e suas relações com o poder político local. A autora, também se interessa por entender o processo de representação da África em relação ao discurso da airmação identitária a partir da estética corporal. A pesquisa tentou compreender por que se torna necessária a estetização do corpo a partir de uma imagem positiva da África e por que o movimento negro em Teresina reivindica uma estética africana para a sua repre¬sentação política. o Bispo de todos os tempos Autor: Sônia Maria dos Santos Carvalho Número de páginas: 246 Ano: 2013 [email protected] Quem foi Dom Avelar Brandão Vilela para as pessoas que com ele conviveram, para a imprensa e para ele próprio? O livro trata desta questão e constitui texto completo da dissertação defendida pela autora no programa de mestrado em História do Brasil da Universidade Federal do Piauí (UFPI). A pesquisa aborda a vida pessoal, religiosa e política de um dos personagens mais importantes da história piauiense e brasileira, que chegou ao Piauí na década de 1950 e mudou a educação, a política, a comunicação, o catolicismo e a assistência social em nosso estado. sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI 33 Eventos apoiados pela Fapepi 11º SIMPÓSIO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO QUÍMICA I SIMPÓSIO REGIONAL DA DIVERSIDADE BIOLÓGICA IV ENCONTRO ACADÊMICO DE LETRAS - ENAL - 24 A 27 DE SETEMBRO DE 2013 I CONGRESSO REGIONAL DE ESTUDANTES DE QUÍMICA 34 sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI PARCEIROS: FUNDAÇÃO DE AMPARO A PESQUISA DO ESTADO DO PIAUÍ | FAPEPI Av. Odilon Araújo, 372, Piçarra • CEP: 64017-280 • Teresina-PI CNPJ: 00.422.744.0001-02 • Contato:(86) 3216-6090 / Fax: (86) 3216-6092 Horário das 7:30h às 13:30h, de segunda à sexta