Teresina-PI | Edição nº 36 | Ano X
ISSN 1809-0915
Publicação Cientíica da FAPEPI
Uespi
projetos
HomossexUalidade
Programa estimula
qualiicação docente
Tecnologia Assistiva traz bons
resultados para o Piauí
Mulheres que amam mulheres
ganham visibilidade em pesquisa
FundAção dE AmPAro à PEsquIsA
do EstAdo do PIAuí
“A missão da FAPEPI é induzir e fomentar a pesquisa
e a inovação cientíica e tecnológica para o
desenvolvimento do estado do Piauí”.
www.fapepi.pi.gov.br
2
sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI
realizações FAPEPI
FAPEPI NAS REUNIÕES CIENTÍFICAS
Ao longo do ano de 2013, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
do Piauí (Fapepi) auxiliou a organização de diversas reuniões cientíicas
sediadas na capital e no interior do Estado. A Fundação também beneiciou
vários pesquisadores que puderam participar de eventos realizados em outros
estados brasileiros e no exterior.
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Professores
contemplados
eventos
internacionais
r$ 38.500,00
Investimentos
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Teresina, Parnaíba,
Floriano e Bom Jesus
r$ 100.000,00
Investimentos
sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI
3
* Fonte: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí - FAPEPI
eventos
contemplados
foto: Divulgação
EXPEDIENTE
Presidente do Conselho Nacional
das FAPs fala sobre luta por mais
recursos para pesquisa
N° 36 Ano X
ISSN - 1809-0915
PublIcAção SAPIêNcIA
Publicação produzida pela Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí
Publicação Quadrimestral
coNSelho edItorIAl:
Ademir Sérgio Ferreira de Araújo
Ana Regina Barros Rêgo Leal
Antônia Jesuíta de Lima
Bárbara Olímpia Ramos de Melo
Carlos Augusto de França Rocha Júnior
Diógenes Buenos Aires de Carvalho
Francisco Chagas Oliveira Atanásio
Francisco Soares Santos Filho
Hermes Manoel Galvão Castelo Branco
João Batista Lopes
Maria José Lopes de Carvalho
Raimundo Isídio de Sousa
Ricardo de Andrade Lira Rabêlo
Rivelilson Mendes de Freitas
foto: Divulgação
edItoreS, redAção e fotoS:
Cássia Sousa
Marco Aurélio do Amaral
Vanessa Soromo
eStAgIárIo:
Allan Campelo
revISão de teXtoS:
Raimundo Isídio de Sousa
ProJeto gráfIco e dIAgrAmAção:
Genilson Santiago
ImPreSSão e AcAbAmeNto:
Graiset Gráica e Editora
tIrAgem:
6 mil exemplares
AO LEITOR
Para críticas, sugestões e contato:
[email protected]
www.fapepi.pi.gov.br
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Teresina-PI • CEP 64017-280
Fone: (86) 3216-6090
Fax: (86) 3216-6092
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sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI
Pesquisador sugere novas
abordagens em pesquisas
sobre Esporte e Saúde
foto: Marco Aurélio do Amaral
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Programa de Bolsas tem recursos
oriundos exclusivamente do
Tesouro Estadual
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Pesquisa sobre
suicídio aponta
contextos de risco
30
Sumário
foto: Vanessa Soromo
15
dossiê destaca possibilidades
de inanciamento para 2014
e mais...
A visibilidade da mulher
na pesquisa sobre
homossexualidade
artigos, teses e
dicas de livros.
sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI
5
C
Editorial
aminhando para maioridade, a Fapepi tem buscado cumprir
sua missão como agência pública de fomento à pesquisa cientíica, tecnológica e de inovação no Piauí. Com a Sapiência,
um dos seus legítimos canais de comunicação com a comunidade
cientíica do Estado, a Fapepi incorpora o papel de divulgar atividades de pesquisadores radicados no Estado do Piauí, como mecanismo de educação cientíica e uma forma de estimular ideias e ações
dos diferentes atores que fazem a busca pelo conhecimento nas instituições locais que atuam em ciência, tecnologia e inovação (CT&I).
Nesta sua 36ª edição, a Sapiência elegeu o tema inanciamento da pesquisa como eixo para suas matérias e artigos. Em voga,
porque atualmente, todo pesquisador que se preza não ica “com a
boca aberta esperando a morte chegar”, como nas palavras do músico Raul Seixas, aguardando o inanciamento cair sobre sua bancada de pesquisa. É preciso, literalmente, correr atrás dos recursos.
Duas grandes matérias trazem a temática de forma bem concisa. A
competente equipe de jornalistas que trabalha na Sapiência pesquisou editais e tendências de inanciamento de agências nacionais e
expôs as ações da própria Fapepi que, com o apoio do governo do
Estado, trará nova linha inanciamento para os pesquisadores do
Piauí, com o edital de inanciamento dos grupos emergentes.
Na linha de divulgação de pesquisas, a Sapiência traz o inovador
trabalho dos cientistas da área de computação do IFPI e da Uespi
com jogos e equipamentos inclusivos – como a luva ultrassônica e a
bengala eletrônica, que informam aos deicientes visuais a existência
de barreiras, além de jogos eletrônicos que ensinam crianças autistas
a ler e a escrever, mostrando o quanto é importante que existam investimentos nesta área, conhecida como tecnologia assistiva. Outra
matéria traz informações sobre pesquisa versando sobre o fortalecimento emocional como meio de prevenção de suicídios entre jovens,
considerado um problema de saúde pública em evidência.
Na esteira das tendências, uma matéria com o Prof. Alex Soares
sobre a aplicação da ciência no esporte nosso de cada dia, popularizando a aplicação do conhecimento cientíico não apenas para os
esportes de alto rendimento, como a maioria das pessoas costuma
imaginar. Outra reportagem aborda algumas pesquisas sobre homossexualidade feminina, que ainda são escassas no Piauí.
A Sapiência aborda ainda a importância da parceria entre a Fapepi e a Universidade Estadual do Piauí (Uespi) no inanciamento de
bolsas de estudo de Mestrado e Doutorado para professores da IES
estadual. A formação de novos professores, mestres e doutores tem
trazido resultados expressivos para Uespi não somente na melhoria
da qualidade do ensino de graduação, mas também no incremento
de atividades de pesquisa e extensão, antes com pequeno enlevo, na
contribuição que a Uespi tem dado na formação do povo piauiense.
Neste particular, é necessário enfatizar a prioridade do Governo do
Piauí em articular bem seus órgãos, permitindo que esta parceria de
sucesso, lastreada com recursos do Tesouro Estadual, corroborem
o crescimento da Uespi, um dos maiores patrimônios do povo do
Piauí.
Assim, caro leitor, renovo votos de que esta leitura atenda aos
seus anseios, com a promessa de que 2014 está só começando!
francisco Soares
Presidente da Fapepi
6
sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI
Redes
SOCIAIS
Por Publicação Sapiência
EntrEvIStA
presidente do conselho nacional
das Faps fala sobre luta por mais
recursos para pesquisa
Foto: Divulgação
sergio Gargioni ressalta que a pesquisa cientíica tem icado em plano
secundário, em decorrência de apertos orçamentários e
pressões de demandas de curto prazo.
m entrevista por e-mail a Sapiência, o professor
Sergio Luiz Gargioni, descreve o papel do Conselho Nacional das Fundações de Amparo à Pesquisa
(CONFAP), para o qual foi eleito à presidência em 2013.
Além disso, destaca a importância das Fundações de
Amparo à Pesquisa (FAPs) para o desenvolvimento do
país e as estratégias de fomento e inanciamento à Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), entre outros assuntos.
E
Sergio Gargioni preside também a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Santa Catarina (Fapesc),
é professor titular da cadeira de Engenharia Mecânica da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), instituição onde se graduouem Engenharia Mecânica. Concluiu Mestrado na Universityof Illinois (EUA) na mesma
área e MBA Executivo em Administração de Negócios
pelo Instituto IMD Lausanne, na Suíça.
sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI
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Quais são os principais desaios
para a ciência e tecnologia brasileira
e qual o papel do coNfAP nesse cenário? e os principais avanços obtidos
nos últimos anos?
A agenda do CONFAP é a mesma
agenda das entidades representativas
de diferentes segmentos da sociedade
de CTI do Brasil como ABC, SBPC,
ANPEI, AMPROTEC, ANDIFES,
ABIPTI, para citar algumas. Portanto,
os desaios são difundir a importância
estratégica da CTI no desenvolvimento
do país, lutar para ampliar os orçamentos de todas as agências inanciadoras
- públicas ou privadas, nacionais e internacionais-, induzir para que os recursos sejam destinados a programas
e projetos relevantes no médio e longo
prazos e, sobretudo, para que eles sejam utilizados com eicácia e mínimo
de custo burocrático. Nos seus estados,
as FAPs têm-se valido do CONFAP
para fortalecer suas posições via parcerias. Podem ser citadas, por exemplo, as parcerias com CAPES, CNPq e
FINEP na implementação de programas e projetos.
Que papel têm as fAPs para a ciência e tecnologia no brasil?
Hoje, não se pode imaginar o Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e
Inovação (CTI) sem as FAPs e vale lembrar que somente o estado de Roraima
não tem uma Fundação Estadual. Elas
têm feito parcerias com todas as agências nacionais importantes e internacionais, ampliando o montante global
aplicado. Ademais, as FAPs têm grande
capilaridade, sendo capazes de melhor
identiicar, formatar e executar projetos
focados em problemas e oportunidades
em suas comunidades.
A FAPESP é a mais antiga, criada
há 51 anos, e hoje recebe regularmente
(em duodécimos) 1% da receita líquida do estado de São Paulo, o que soma
um pouco mais de 1 bilhão de reais em
2014. Assim, FAPs como a FAPERJ, a
FAPEMIG e algumas outras têm tido
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sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI
aportes regulares e expressivos de recursos de seus estados. No conjunto
das 26 FAPs, o montante anual de investimentos ultrapassa 2,5 bilhões de
reais, orçamento semelhante ao do
CNPq.
Que conquistas o senhor considera como relevantes nos últimos anos
pelas fAPs em virtude da atuação do
coNfAP?
O CONFAP, como entidade organizada da forma que hoje conhecemos,
tem somente 7 anos, sendo portanto
muito jovem. Contabilizo como principais conquistas os espaços ocupados
nos diferentes colegiados decisórios
das diferentes agências nacionais, a
elaboração da proposta do Código Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação que redundou na proposta da PEC
290/2013 e PL 2177/2011 e outros instrumentos jurídicos, a uniicação das
FAPs existentes e o estímulo para a
criação de novas e o fortalecimento delas em seus estados. Hoje, o CONFAP é
conhecido, respeitado e valorizado no
meio da CTI, tanto nacional quanto internacional.
Qual a importância dos fóruns do
coNfAP para a comunidade cientíica?
O CONFAP organiza 4 ou 5 encontrosanuais entre seus 26 associados.
Eles são chamados de Fóruns CONFAP. Na maioria das vezes, são realizados juntamente com o CONSECTI, que
reúne os secretários titulares de pastas
onde a Ciência, Tecnologia e Inovação
estão inseridas. Durante dois dias, atualiza-se o conhecimento e discutem-se
as parceiras com as agências nacionais
e internacionais fomentadoras. Além
disso, temas de interesses especíicos
dos associados são pautados. A comunidade cientíica tem como dividendo
o aperfeiçoamento do Sistema Nacional de CTI.
Quais as perspectivas e planos do
coNfAP para o futuro? há possibilidade, por exemplo, de editais de
pesquisa lançados em conjunto pelas
fAPs, via coNfAP, com abrangência
regional?
A ideia é crescer em importância,
tanto para as demais agências nacionais
que compõem o Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia, como para as FAPs
em si. Hoje já há editais conjuntos entre as FAPs e entidades internacionais,
como a Fundação Bill e Melinda Gates
(EUA) e INRIA/CNRS (França). O formato do calendário e do processo de
análise é único. Cada projeto aprovado é
inanciado pela entidade internacional e
pela FAP do estado onde o projeto será
executado. Há projetos com participação
de pesquisadores e instituições de mais
um estado. No futuro, poderemos ter
editais comuns consorciados entre duas
ou mais FAPs. O CONFAP é o facilitador
dessas cooperações.
Nos últimos anos, houve um fortalecimento das fAPs por meio das
articulações, via coNfAP, com o governo e agências federais. os objetivos
da criação do coNfAP estão sendo
alcançados? há perspectiva de um
maior fortalecimento das fAPs, principalmnte daquelas com menor capacidade de investimento?
O CONFAP tem assento nos principais colegiados de deliberação e assessoramento das agências federais e
programas nacionais. Vale citar alguns,
como CNPq, FINEP, MCTI e CGEE.
Seus representantes têm a missão de
defender e alinhar interesses das FAPs
sem exceção, tanto as maiores quanto
as menores. Há situações em que os
programas, projetos e critérios precisam ser ajustados para as FAPs de menor capacidade de investimento e que
ainda estão se estruturando nos seus
estados. O CONFAP tem a função de
incorporar e defender uma agenda que
abrigue as peculiaridades de cada FAP
sem, contudo, abrir mão da qualidade
dos projetos da pesquisa.
EntrEvIStA
O conhecimento cientíico e sua transformação em
inovação pode ter um papel relevante na direção dessas
desigualdades, desde que seja gerenciado de forma eicaz
e com a intensidade necessária
o senhor acredita que há demanda
qualiicada não atendida pelos programas de fomento?
Como regra geral, a demanda qualiicada nunca é atendida na sua plenitude, seja pelas agências nacionais mais
importantes e tradicionais, seja pelas
FAPs em si. Infelizmente, os recursos
providos pelo setor público brasileiro
para Ciência, Tecnologia e Inovação
são tímidos e inconstantes, assim como
são reduzidos os recursos providos
pelo setor privado. Isto em comparação
com países de maior ou igual grau de
desenvolvimento econômico. Arrisco
dizer que o índice de atendimento ica
em torno dos 20% no edital Pesquisa
Universal; nos projetos de subvenção
econômica para empresas, não ultrapassa a casa dos 50%.
Que oportunidades o senhor identiica para diversiicação dos programas de fomento existentes?
Não se pode negar o aumento da
diversidade de editais lançados pelo
Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia, aqui incluídas as agências federais e
estaduais especíicas, ministérios e demais órgãos e empresas. Creio que, praticamente, todo bom projeto encontre
abrigo em alguma chamada pública ou
programa. Todavia, há sempre deiciência no volume de recursos e na continuidade dos programas, sem contar
com a excessiva, cara e desmotivadora
burocracia envolvida.
há expectativa de crescimento
do investimento do governo federal e
dos governos estaduais em ciência e
tecnologia? como o coNfAP vem-se
articulando para lutar pela ampliação
destes investimentos?
Uma das principais bandeiras do
CONFAP é lutar por mais recursos para a
pesquisa e inovação, isso de qualquer fonte. Nos últimos dois anos e pelo que tudo
indica neste de 2014 também, não tem
havido crescimento no volume dos recursos. Apertos orçamentários e pressões de
demandas de curto prazo têm colocado
nossa área, mais uma vez, em plano secundário. Vale para os estados, também.
Ressalta-se que, em alguns estados e em
número crescente, a comunidade cientíica tem convencido seus dirigentes a aportar o percentual de 1% (alguns estados
com percentual maior) da receita líquida
nas suas FAPs, ano após ano, de forma
regular, independentemente da saúde inanceira circunstancial.
Quais as diiculdades para ampliar o acesso aos recursos federais
para ciência e tecnologia? como superá-las?
Não se trata, necessariamente, de
diiculdade de acesso. Lógico que existe uma burocracia excessiva e crescente que aumenta os custos, retarda a
execução e aumenta o risco do gestor.
Esta é, exatamente, a luta que o CONFAP e outras entidades representativas
da comunidade técnico-cientíica vêm
travando no Congresso Nacional para
aprovar um novo conjunto de regras
que possam dar maior eiciência ao
processo de captar recursos e executar
a pesquisa. De qualquer maneira, mais
fácil ou mais difícil, os recursos disponíveis são acessados na sua totalidade.
Novamente, a mesma tecla: o problema
está na sua escassez e descontinuidade.
dadas as disparidades regionais
em vários âmbitos como, por exemplo, econômico e de investimento na
pesquisa cientíica, como o senhor percebe que entidades, como a coNfAP,
podem contribuir para o desenvolvimento de regiões menos favorecidas?
O Brasil tem assimetrias regionais
acentuadas quando se fala em desenvolvimento econômico. O conhecimento cientíico e sua transformação
em inovação pode ter um papel relevante na direção dessas desigualdades,
desde que seja gerenciado de forma
eicaz e com a intensidade necessária.
Esse é o mantra de organizações como
CONFAP, CONSECTI e assemelhadas:
mais recursos, projetos adequados, relevantes e continuados e mínima burocracia. Pela sua importância estratégica com alcance no longo prazo, quase
nunca entendido e desejado pelo poder
político, o chamado Sistema de CTI
Brasileiro continua tímido, infelizmente. Assim, as FAPs e sua representação
via CONFAP têm grande responsabilidade e devem atuar de forma unida
e forte para que o avanço pretendido
aconteça.
sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI
9
MATérIA
Por Vanessa Soromo
professor avalia tendências atuais
de pesquisas em esporte e saúde
Foto: Divulgação
Professor Alex soares acredita que há uma gama de conhecimentos
relacionados ao Esporte, um fenômeno social, que podem ser discutidos
dentro de um tema atual – a Saúde.
Q
uando os assuntos são Ciência,
Esporte e Saúde, facilmente os
associamos às modalidades de
alto rendimento e consequentemente
aos atletas proissionais. Isso se deve
muito à propagação dos temas na mídia. Estamos acostumados a assistir, a
ouvir e a ler que pesquisas cientíicas e
tecnológicas são utilizadas pela comunidade esportiva mundial como forma
de ampliar os limites do corpo e assim
obter melhores resultados nas competições e no processo de reabilitação de
atletas lesionados.
O cenário muda se a busca é pela
relação entre Atividade Física e Saúde.
10
sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI
Nesse caso, o foco das matérias são os
benefícios que a população adquire com
a prática de atividades, como: caminhada, hidroginástica, musculação e ginástica aeróbica. De acordo com estudos
do professor Alex Soares Marreiros Ferraz, graduado em Educação Física pela
Universidade Federal do Piauí (UFPI) e
doutor em Biotecnologia pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), essa
tendência também ica evidente no universo da pesquisa cientíica.
“Quando se trata de saúde, a maioria
dos artigos relaciona com atividade física, e o foco das pesquisas no esporte é o
desempenho, a performance, melhorar
o resultado esportivo. Elas vinculam o
tema saúde quase sempre à saúde do
atleta. Esquecem que o esporte também
é uma atividade física que tem uma série de benefícios que poderiam ser bem
aproveitados para possibilitar a saúde
da população em geral”, explica Alex
Soares.
O pesquisador acredita que, quando
os estudos na área da Ciência, Esporte
e Saúde se desviam dessas duas grandes tendências, a pesquisa cientíica e/
ou tecnológica contribui com novos
conhecimentos. “A ideia original é a essência da contribuição do cientista. A
originalidade do trabalho é repensar a
tos, Ronaldo Fenômeno e Guga, esportistas brasileiros renomados que colecionaram lesões durante suas carreiras.
“É quase impossível você encontrar um
atleta que não tem uma lesão, que não
tenha sofrido um acidente, que não tenha sequelas importantes em decorrência do esporte”, comenta.
A palestra destacou também as
perspectivas das pesquisas relacionadas
à saúde dos atletas que se concentram
o Parque Nova Potycabana reúne vários espaços que facilitam a prática de esporte
Foto: Divulgação
partir de variáveis diversas de forma diferente. Eu acho que esse é o grande desaio para a pesquisa no momento atual,
independente da área, porque novas
fronteiras no mundo de hoje são muitas
raras”, declara.
Para Alex Soares, é necessário que
haja mais pesquisas que discutam o Esporte sob outras perspectivas, que não
só a do esporte de desempenho. A partir
do momento em que a atenção se volta
para o Esporte de Recreação e o Esporte
Pedagógico que favorecem mais a população, torna-se mais fácil o surgimento
de novos talentos, como, por exemplo, a
atleta piauiense Sarah Menezes, que conheceu o judô ainda criança, na escola.
no proissional e que precisam estar
saudáveis para realizar seu trabalho da
maneira mais eicaz e proveitosa possível. Segundo Alex Soares, todas as
pessoas deveriam tornar-se esportistas,
sem a inalidade do alto desempenho,
mas para a recreação e o divertimento,
objetivando a melhoria da qualidade de
vida. Para isso, será necessário que novos espaços sejam criados para facilitar
a prática esportiva.
“Quando Teresina reabre a Potycabana, um espaço que existia há muito tempo, subutilizado e que já poderia estar à
disposição da população há mais tempo,
você começa a ver as pessoas se mexendo, jogando, brincando nos mais diversos
espaços. Podemos ter o esporte ligado à
saúde da população mais ampla”, inaliza.
MATérIA
a originalidade do trabalho é repensar a partir
de variáveis diversas de forma diferente. eu acho
que esse é o grande desaio para a pesquisa no
momento atual.
Palco dos maiores eventos esportivos
O Brasil sediará dois dos maiores
eventos esportivos do planeta - a Copa
do Mundo, em junho deste ano, e os
Jogos Olímpicos em 2016. Em razão
desse momento atípico do nosso país,
o Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovação (MCTI) promoveu em outubro do ano passado, a Semana Nacional
de Ciência e Tecnologia (SNCT), com
o tema “Ciência, Saúde e Esporte”, com
o objetivo de motivar a população, em
especial das crianças e dos jovens, a conhecer os aspectos cientíicos, educacionais e de saúde envolvidos nas atividades esportivas.
Durante a SNCT, a Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí
(Fapepi) convidou o professor Alex Soares para participar do evento; na ocasião, ele foi ministrou a palestra “Esporte e Saúde: Pesquisas Atuais”. O doutor
em Biotecnologia mostrou que o esporte de competição pode trazer inúmeros
problemas de saúde para os atletas. Foi
o que aconteceu com Daiane dos San-
sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI
11
ArTIGO
Guilherme Fernandez Gondolo1 • antonia leidna silva Brito2 • maria amélia G. do passo Gondolo3
1. Professor Adjunto DE, Laboratório de Ictiologia, Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas, Campus Heróis do Jenipapo – UESPI;
Coordenador do Subprojeto PIBID-Biologia, Campo Maior; Biólogo, doutor em Biologia Animal • E-mail:[email protected] | 2. Graduanda do curso
de Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas, Campus Heróis do Jenipapo - UESPI. Bolsista CAPES-PIBID, Subprojeto PIBID-Biologia,
Campo Maior. | 3. Professora Assistente DE, Laboratório de Ictiologia, Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas, Campus Heróis do Jenipapo – UESPI; Coordenadora do Subprojeto PIBID-Biologia, Campo Maior. Bióloga, mestre em Biologia Animal.
É possível medir o impacto do piBid?
O
Programa Institucional de
Bolsa de Iniciação à Docência
(PIBID), gerenciado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), tem
por inalidade fomentar a iniciação à
docência, contribuindo para o aperfeiçoamento da formação de docentes
em nível superior e para a melhoria de
qualidade da educação básica pública
brasileira.
Entre os principais objetivos do
PIBID, podemos citar: o incentivo à
formação de docentes em nível superior para a educação básica; contribuir
para a valorização do magistério; elevar a qualidade da formação inicial de
professores nos cursos de licenciatura;
inserir os licenciandos no cotidiano de
escolas da rede pública de educação,
proporcionando-lhes oportunidades
de criação e participação em experiências metodológicas.
Diante do cenário em que a educação pública se encontra, com diversos
problemas, o PIBID surge então como
uma relevante contribuição, tanto para
os que estão em formação na carreira
de licenciatura, como para as próprias
escolas públicas.
Podemos airmar que avaliar signiica imputar um valor mensurável (BRADFIELD & MOREDOCK,
1963), e esse valor inluencia a tomada
de decisões e revela um diagnóstico
(TURRA et al., 1988), principalmente quando adotamos uma intervenção
diferenciada como a do PIBID. Dessa
forma, o objetivo principal deste trabalho é de veriicar se, após a intervenção do PIBID-Biologia UESPI-Campo
Maior, houve uma melhora signiicativa nas médias das disciplinas de ciências do ensino fundamental da Unidade Escolar Paulo Ferraz (UEPF).
12
sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI
Desde agosto de
2012, recebe a ação
direta dos bolsistas
CAPES, PIBID-UESPI, tanto do curso de
Biologia, como de
História do Campus
Heróis do Jenipapo –
UESPI.
A UEPF possui 21 professores, 245
alunos, distribuídos em 11 turmas,
duas no período matutino, seis no
vespertino e três no período noturno.
Dessas turmas, 9 são do 6o ao 9o ano
do Ensino Fundamental (EF), sendo
uma destas na modalidade Ensino de
Jovens e Adultos (EJA), e as outras duas
turmas são do Ensino Médio (EM) na
modalidade EJA. Em 2011, a escola
alcançou apenas 3,8 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(Ideb). Desde agosto de 2012, recebe a
ação direta dos bolsistas CAPES, PIBID-UESPI, tanto do curso de Biologia,
como de História do Campus Heróis
do Jenipapo – UESPI. O subprojeto
CAPES, PIBID-UESPI de Biologia,
realizou na UEPF diversas atividades,
como aulas práticas, monitorias, aulas
de reforço, além de desenvolver projetos relacionados a temas de ciências e
biologia e temas transversais para essas
disciplinas, nas classes do EF.
Testes estatísticos (U de Mann-Whitney bicaudal e t de Student pa-
reado, α =5%) foram empregados nas
notas da disciplina de ciências do EF
para testar tal hipótese. Na comparação temporal entre turmas dos anos de
2009, 2010 e 2011 sem o PIBID, e 2012
com o PIBID, foi possível observar um
incremento signiicativo das notas do
6º, 7º e 8º anos do Ensino Fundamental
(EF). O mesmo padrão foi observado
nos mesmos alunos quando comparadas suas notas obtidas entre o 1º semestre, sem o PIBID, e 2º semestre de
2012 com o PIBID. O baixo número
amostral dos alunos do 9º ano do EF
pode ter inluenciado na falta de diferença signiicativa entre as notas antes
e depois da ação do PIBID. Diante de
tal resultado, podemos airmar que
PIBID-Biologia de Campo Maior propiciou um melhor rendimento escolar.
São muitos os questionamentos sobre o papel das notas quando se refere
à veriicação ou à avaliação de aprendizagem de um indivíduo, mas este
critério acaba por atuar como algo necessário.
O rendimento tanto dos bolsistas
do PIBID como dos alunos das escolas que possuem o programa é resultado do envolvimento de todos nas
atividades, bem como da troca de experiências associado à diversidade de
atividades que fogem da abordagem
tradicional, transformando os alunos
de expectadores passivos a seres ativos
(FERNANDES et al, 2012). Segundo
Lyra et al. (2012), o que pode melhorar
o rendimento escolar é despertar no
aluno a curiosidade, organizar atividades novas, aguçando assim o raciocínio do aluno e é, desta maneira, que
os alunos do PIBID estão trabalhando,
buscando novas estratégias, metodologias para ensinar e tornar os alunos
motivados em aprender.
israel lobato rocha1• maria ivanilda de aguiar2
ArTIGO
1. Graduando em Tecnologia em Gestão Ambiental no Instituto Federal do Piauí – Campus Corrente e bolsista do PIBIC/IFPI.
Contato: [email protected]
2. Professora do Instituto Federal do Piauí – Campus Corrente e Doutora em Ecologia e Recursos Naturais – UFC.
Contato: [email protected]
Caracterização física dos resíduos
sólidos urbanos gerados em corrente-pi
A
intensa concentração populacional em áreas urbanas favorece o aumento no consumo de
bens e produtos e, consequentemente, a
crescente geração de Resíduos Sólidos
Urbanos (RSU). A destinação inal dos
RSU vem demandando cada vez mais o
envolvimento de diferentes setores da
sociedade para o estabelecimento de
um adequado ciclo produção-disposição inal (DALMAS et al., 2011).
Estudos do Instituto de Pesquisas
Econômicas Aplicadas (IPEA, 2011)
mostram que a forma de disposição inal dos resíduos sólidos na maioria dos
municípios brasileiros (50,5%) continua sendo os lixões a céu aberto. Nesses lixões, os resíduos são depositados
diretamente no solo favorecendo a presença de animais no local, o mau cheiro
e a contaminação dos lençóis freáticos
com o chorume. Para minimizar os
impactos negativos da disposição inadequada dos RSU, é de grande importância que a população reduza a quantidade dos resíduos gerados e procurem
alternativas que visem à reciclagem
desses materiais, a im de dar uma nova
utilidade para aqueles produtos que outrora seriam descartados. Porém, para
identiicar potencial de reciclagem e reaproveitamento de resíduos, é necessário conhecer a quantidade de resíduos
sólidos produzidos, bem como os principais tipos de materiais descartados.
Para obtenção da projeção sobre o
potencial de reciclagem dos resíduos
descartados pela população urbana de
Corrente-PI, fez-se a caracterização física dos resíduos sólidos gerados por
meio da amostragem aleatória dos resíduos depositados no lixão da cidade,
utilizando o método de quarteamento
dos montes de resíduos (IPT/CEMPRE, 2000), tendo como parâmetros:
peso especíico, geração per capita e
composição gravimétrica. Caracterizar os componentes dos resíduos sólidos subsidia a elaboração de planos de
gestão que abrangem a expansão dos
serviços de coleta regular, a viabilidade de implantação de coleta seletiva e
compostagem, além da especiicação de
equipamentos e a deinição de sistemas
de eliminação (COMCAP, 2002).
Estudos referentes à composição
gravimétrica dos RSU em diferentes
municípios brasileiros mostram que a
matéria orgânica constitui 51,4% dos
resíduos sólidos gerados no Brasil e
31,9% correspondem aos materiais aptos à reciclagem (MMA, 2011). Neste
cenário, a maioria dos resíduos gerados
no país poderia ser submetida ao processo de compostagem. Os resultados
da caracterização física dos resíduos de
Corrente mostram que o peso especíico aparente dos RSU é de 96 kg/m³; a
geração per capita municipal é de 0,61
kg/habitante/dia. A composição gravimétrica, por sua vez, revela que a maior
quantidade dos resíduos é constituída
de matéria orgânica (48,6%), que tem
grande potencial de reaproveitamento
por meio da compostagem. Além disso, há uma importante fração de produtos (plástico, papel/papelão, vidro e
metais) aptos à reciclagem (41,6%) que
podem ser fonte de renda para a população local através da coleta seletiva (Figura 1). Porém, existem alguns entraves
que impedem o reaproveitamento destes materiais, entre eles a falta de uma
cooperativa de reciclagem.
Dos componentes recicláveis, apenas os metais (alumínio) e garrafas de
vidro (inteiras) são coletados e enviados para reciclagem em outras cidades,
visto que, em Corrente, não existem cooperativas de materiais recicláveis que
disponham de equipamentos apropriados para compactar resíduos, como:
papel, papelão e plástico, tornando
inviável o transporte e a comercialização desses produtos para municípios
distantes.
sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI
13
pedúnculo de caju na dieta de vacas
D
iante do contexto de desenvolvimento apresentado pela região
sul do Piauí, a atividade pecuária apresenta-se como um dos fatores
de destaque na contribuição para este
fenômeno, de modo que a bovinocultura leiteira é uma atividade praticada na
região, em sua grande maioria por produtores menos capacitados inanceiramente, que frequentemente encontram
grande diiculdade em alimentar seus
animais, já que a alimentação é um dos
principais componentes do custo de produção. Pensando na melhoria da atividade, através da redução dos custos com a
aquisição de alimentos, o criador sempre
deve produzir, de forma econômica, a
maior parte do volumoso e parte do concentrado utilizado, levando em conta as
forragens nativas disponíveis na propriedade e os subprodutos da agricultura ou
fruticultura disponíveis na região.
A produção de frutos no Brasil cresce a cada ano e, entre os possíveis frutos
a serem explorados, está o caju, com destaque na região Nordeste, principalmente no estado do Piauí, já que sua produção coincide com a estação seca do ano,
no período de julho a janeiro, com algumas variações. Essa época coincide com
a menor disponibilidade de forragem na
região, tanto em quantidade como em
qualidade, o que força o produtor a recorrer ao mercado de rações para manutenção do rebanho, onerando os custos e
diicultando a permanência na atividade,
levando os produtores, na maioria das
vezes, a vender os animais a baixos preços e muitas vezes desistir da atividade.
Nesse contexto, o grupo de pesquisa
em produção de ruminantes do campus
professora Cinobelina Elvas/UFPI avaliou a inluência de diferentes níveis de
suplementação de pedúnculo de caju
(1,0 kg; 1,5 kg e 2,0 kg) na alimentação
14
sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI
Foto: Divulgação
ArTIGO
Leilson Rocha Bezerrat
Professor Adjunto do Campus Profª Cinobelina Elvas (CPCE) da Universidade Federal do Piauí-UFPI, Bom Jesus-PI, Brasil.
Contato: [email protected]
de vacas mestiças Girolando sobre o seu
desempenho produtivo. Os animais pastejavam durante o dia em pasto nativo, e
a suplementação com o caju era fornecida uma vez ao dia, às 6h 30min da manhã, quando se realizavam diariamente
a pesagem do leite, a medição do escore
de condição corporal e o peso vivo dos
animais.
A suplementação até 1,5 kg elevou a
produção de leite das vacas. Entretanto,
ao se suplementar com 2,0 kg de pedúnculo de caju desidratado, observou-se
uma redução signiicativa na produção
de leite das vacas, apesar de a maior
proporção de suplemento não ter restringido o consumo de matéria seca dos
animais; isso provavelmente, pela maior
quantidade de tanino presente na suplementação.
O principal problema que o tanino
causa, quando presente no alimento, é
a complexação com proteínas, o que vai
afetar a digestibilidade e modiicar a palatabilidade (sabor adstringente), como
ocorre com o caju. Acredita-se que a
associação do tanino com a proteína e a
estabilidade desse complexo devem-se,
sobretudo, à formação de pontes de hidrogênio e interações hidrofóbicas entre
essas moléculas. As proteínas diferem
enormemente quanto à sua ainidade
pelos taninos. As principais características das proteínas que inluenciam positivamente nessa associação são: alto
peso molecular, estrutura mais aberta e
lexível, ponto isoelétrico e conteúdo de
prolina (BUTLER, 1989). A consequência destes fatores no rúmen é a redução
da produção de proteína microbiana,
que é responsável por grande parte da
proteína metabolizável do ruminante,
visto que a presença de aminoácidos sulfurados é parte essencial na formação da
proteína microbiana.
Esta queda na produção de leite
pode ter ocorrido devido à presença de
compostos fenólicos no pedúnculo de
caju, o que diiculta o aproveitamento da
proteína pelo animal. Assim, recomenda-se como valor máximo a ser suplementado com este subproduto na dieta
de vacas leiteiras: 1,5 kg por dia, como
dieta única.
Por Cássia Sousa
DOSSIê
agências de Fomento à pesquisa:
possibilidades de inanciamento
para 2014
Foto: Divulgação
A sapiência fez um compêndio de alguns dos principais editais
já lançados e quais as perspectivas para o restante do ano das
principais inanciadoras de pesquisa brasileiras
Professor rivelilson acompanhado da equipe brasileira.
N
as últimas décadas, o governo federal e as entidades estaduais de fomento à
pesquisa têm investido bastante na
pesquisa cientíica. Somente no ano
passado, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientíico e Tecnológico (CNPq) investiu 2,1 bilhões de
reais em Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), sendo que as grandes
áreas que receberam maior volume
de recursos foram, nesta ordem, Engenharias, Ciências Biológicas e Ciências Exatas e da Terra. E as áreas
especíicas para as quais se destinou
mais verba foram Áreas Tecnológicas de Química e Geociências, Áreas
Tecnológicas de Física e Matemática
e Agronomia.
Neste ano, o CNPq já lançou
pelo menos três editais. Um deles é
a Chamada de Projetos MEC/MCTI/
CAPES/CNPq/FAPs, que tem como
objetivo fomentar o intercâmbio e
cooperação cientíica e tecnológica
entre grupos de pesquisa nacionais e
do exterior, por meio de pesquisadores estrangeiros que tenham destacada produção cientíica e tecnológica
nas áreas contempladas do Programa
Ciência sem Fronteiras. Estas áreas são: Engenharias e demais Áreas
Tecnológicas, Ciências Exatas e da
sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI
15
DOSSIê
Terra, Biologia, Ciências Biomédicas e da Saúde, Computação e Tecnologias da Informação, Tecnologia
Aeroespacial, Fármacos, Produção
Agrícola Sustentável, Petróleo, Gás
e Carvão Mineral, Energias Renováveis, Tecnologia Mineral, Biotecnologia, Nanotecnologia e Novos
Materiais, Tecnologias de Prevenção
e Mitigação de Desastres Naturais,
Biodiversidade e Bioprospecção,
Ciências do Mar, Indústria Criativa
(voltada a produtos e processos para
desenvolvimento tecnológico e inovação) e Novas Tecnologias de Engenharia Criativa. Este edital destinase a pesquisadores estrangeiros ou
brasileiros que vivam no exterior. Já
houve duas chamadas somente este
ano e as inscrições irão até setembro
deste ano.
Embora o CNPq seja uma das
mais importantes agências de inanciamento à pesquisa no país, ele
não é a única ao qual o pesquisador
pode recorrer. A Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), apesar de ser
uma agência especializada em capacitação docente, também abre edital
para inanciar pesquisas, como foi
o caso do edital nº 37/2013, que se
referia ao Programa de Cooperação
Internacional entre a instituição e o
Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovação Produtiva da Argentina.
O resultado da chamada foi divulgado em janeiro deste ano e dois
pesquisadores piauienses tiveram
suas propostas aprovadas, o Professor Doutor Rivelilson Mendes de
Freitas e a Professora Doutora Maria
Christina Sanches Muratori, ambos
vinculados à Universidade Federal
do Piauí (UFPI). Os dois pesquisadores piauienses tiveram suas propostas
selecionadas na categoria Grupos de
Pesquisa Conjuntos em que projetos
de pesquisa são desenvolvidos por
uma equipe brasileira e uma equipe
argentina, ambas vinculadas a IES
16
sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI
em seus países. Freitas e Muratori
coordenam as equipes brasileiras de
seus respectivos projetos.
A pesquisa do Prof. Rivelilson
intitula-se “Sínteses e Avaliação PréClínica de Substâncias Sintéticas Heterocíclicas: Inovação, Terapêutica
em Psicopatologia, Estudos de PréFormulação e Delineamento Farmacêutico”. Situada na área de Farmácia, a pesquisa é importante pelo
papel signiicativo desempenhado
por antioxidantes na prevenção de
considerável número de doenças relacionadas ao processo inlamatório.
O edital em questão tinha como
objetivo “estimular, por meio de
projetos conjuntos de pesquisa, o
intercâmbio de docentes e de pesquisadores brasileiros e argentinos,
vinculados a Programas de Pós-Graduação de Instituições de Ensino
Superior e promover a formação de
recursos humanos de alto nível no
Brasil e na Argentina, nas diversas
áreas do conhecimento”. Porém, não
é apenas isso, já que há a realização
de uma pesquisa em que existe cooperação de equipes brasileira e argentina.
Atualmente, a Capes conta com
doze editais abertos. A maioria deles
tem como objetivo a formação e capacitação de recursos humanos. Alguns são para áreas especíicas, como
a chamada para pós-doutorado no
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) que oferece bolsas mensais
de R$ 4.100,00 e encerra-se em 18
de março deste ano. Outros são válidos para todas as áreas do conhecimento, como o Programa de Bolsas
para Pesquisa Capes/Humboldt, que
tem duas modalidades de bolsa: de
pós-doutorado, para pesquisadores
altamente qualiicados e em início
de carreira acadêmica e que tenham
completado o doutorado há menos
de quatro anos. A outra é para pesquisador experiente, ou seja, professores universitários altamente quali-
icados com peril de pesquisa bem
delineado e que tenha concluído o
doutorado há menos de doze anos.
Só podem participar desta chamada
professores que tenham vínculo, empregatício ou não, com Instituições
de Ensino Superior ou de Pesquisa
do Brasil.
Para quem quer cursar doutorado pleno fora do país há o Programa
Capes/Universidade de Nottingham/
Universidade de Birmingham. A seleção ocorrerá para todas as áreas
existentes nas duas universidades
do Reino Unido, mas abrange especialmente as áreas de ciências biomédicas e da saúde, computação e
tecnologias da informação, tecnologia aeroespacial, fármacos, produção
agrícola sustentável, petróleo, gás e
carvão mineral, energias renováveis,
biotecnologia, nanotecnologia e novos materiais, biodiversidade e bioprospecção. O período de inscrição
irá até o dia 2 de abril na Capes e até
17 de março nas universidades.
Outra opção é para quem já está
cursando doutorado, por meio do
Programa de Doutorado Sanduíche
no Exterior (PDSE). Neste programa,
alunos regulares de cursos de doutorado, recomendados e reconhecidos
com nota igual ou superior a 3, realizam parte da pós-graduação em outro país, retornando depois para conclusão dos créditos e defesa da tese.
Ainda dentro do PDSE, em parceria com a Comissão Fulbright, a
Capes lança edital anual especíico
para as áreas de Ciências Humanas, Ciências Sociais, Letras e Artes. Os candidatos devem apresentar projetos de pesquisa para serem
desenvolvidos em uma instituição
norte-americana. Entre outros requisitos, o candidato não pode ter
nacionalidade estadunidense e nem
ter recebido bolsa de doutorado anteriormente. Os contemplados contarão com bolsa mensal no valor de
US$ 1.300,00 além de outros benefí-
cios, como auxílio-instalação, auxílio
para aquisição de livros, auxílio para
participação de eventos acadêmicos,
mensalidade complementar, auxílio
deslocamento e seguro-saúde.
Além do Doutorado Sanduíche,
há também a bolsa Capes-Fulbright
Master Fine of Arts, que é destinada
àqueles que querem cursar mestrado
nos Estados Unidos na área de cinema e audiovisual. São ofertadas até
três bolsas, com duração de três de
anos, para este programa.
De acordo com Camila Olímpio,
da Comissão Fulbright, estes dois
programas são anuais, e a estimativa de investimento varia de acordo
com a instituição e sua localidade.
No Doutorado Sanduíche, são gastos US$ 37 mil com cada bolsista
durante nove meses. A previsão de
lançamento deste edital é para o início do segundo semestre deste ano.
Já o Master Fine of Arts investe US$
70 mil anuais com cada bolsista, e a
previsão para lançamento da chamada deve ocorrer nos primeiros meses
deste ano.
Outro importante programa da
Capes é Programa de Apoio a Eventos (PAEP), que tem como objetivo
estimular a realização de eventos
cientíicos no Brasil. Anteriormente voltado apenas para eventos de
curta duração e relacionados exclusivamente à pós-graduação, a partir
de 2010 passou a abarcar também
eventos que prezam pela formação
e melhoria do quadro docente da
educação básica. No site da Capes,
consta que, somente em 2011, o
Programa concedeu auxílio a 1.319
eventos de diferentes áreas. Dentre
as exigências para a solicitação, o
proponente deve ser presidente da
Comissão Organizadora do evento,
ter título de doutor ou qualiicação
equivalente, ter currículo cadastrado
e atualizado na Plataforma Lattes ou
Plataforma Freire e estar adimplente
com a União.
Quanto ao evento, se de pós-graduação, deve ter relevância para o
Sistema Nacional de Pós-Graduação,
para Área do Conhecimento ou formação de professores; ser de âmbito
local, estadual, regional, nacional ou
internacional e ser realizado no Brasil, e se for da educação básica, deve
incentivar a participação de professores da educação básica e ter relevância para a formação destes, ser de
âmbito local, municipal, estadual, regional, nacional ou internacional; ser
realizado no Brasil e ofertar inscrição
gratuita para professores da rede pública preferencialmente.
Dentro do setor do agronegócio,
o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
e a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) lançaram, no dia 17
de fevereiro, certame de planos de
negócios voltados à inovação tecnológica agrícola no setor sucroenergético – PAISS Agrícola. Serão R$ 1,48
bilhão liberados entre 2014 e 2018.
Serão apoiados planos de negócio
que se destinem a cadeias produtivas
da cana-de-açúcar e de outras cul-
DOSSIê
embora o cnpq seja uma das mais importantes agências
de inanciamento à pesquisa no país, ele não é a
única ao qual o pesquisador pode recorrer.
turas energéticas compatíveis, complementares ou consorciáveis com
o sistema agroindustrial da canade-açúcar, contanto que estejam de
acordo com as cinco linhas temáticas
estabelecidas no edital. Poderão participar do processo seletivo empresas
brasileiras interessadas em empreender atividades de inovação relacionadas à indústria sucroenergética e
Instituições Cientíicas Tecnológicas
(ICTs). Também serão admitidas as
ICTs que tiverem interesse em formalizar parcerias com empresas que
proponham planos de negócio.
Na área de saúde, a Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz) tem como
metas para 2014 a formação de recursos humanos altamente qualiicados para o sistema de CT&I em saúdes no país e a formação de recursos
humanos para Sistema Único de Saúde (SUS), que promovam maior integração academia-serviços de saúde.
Em entrevista na página oicial
da Fiocruz, a vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da
Fundação, Nísia Lima, airmou que
o prospecto para 2014 é “consolidar
o Programa de Excelência no Ensino com iniciativas que favoreçam a
produção cientíica, a cooperação internacional, as ações de solidariedade social e o compartilhamento das
boas experiências”. Ela ainda ressaltou como desaio aproximar a pósgraduação de ações relacionadas à
Cadeia de Inovação na Fiocruz, além
de buscar um Sistema Integrado à
Pós-Graduação da Fundação.
sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI
17
Fapepi amplia linhas de
inanciamento e fomento à pesquisa
A execução do Programa de Apoio a núcleos Emergentes
(Pronem) é inédita no Piauí.
Foto: Vanessa Soromo
DOSSIê
Por Vanessa Soromo
Professor francisco Soares Santos filho, presidente da fundação de Amparo à Pesquisa do estado do Piauí (fapepi)
A
Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado do Piauí (Fapepi) “Professor Afonso Sena Gonçalves”
tem como missão primordial estimular o
desenvolvimento cientíico e tecnológico
do Estado, por meio do inanciamento
e fomento às pesquisas na área da Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I). Para
cumprir o seu papel de forma ascenden-
18
sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI
te, a Fapepi tem contado com o apoio do
Governo Estadual e importantes acordos
irmados com o Conselho Nacional de
Desenvolvimento Cientíico e Tecnológico (CNPq), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(Capes) e a Financiadora de Estudos e
Projetos (FINEP), entre outras órgãos e
instituições.
Inédito no Piauí e fruto de uma parceria com o CNPq, o Programa de Apoio a
Núcleos Emergentes (Pronem) é um dos
destaques das ações da Fapepi para o exercício de 2014. O Programa visa a inanciar
projetos de grupos emergentes e à consolidação de linhas de pesquisa prioritárias,
incentivando a formação de novos núcleos
de excelência. Para a execução do Pronem,
estão previstos recursos no valor de R$ 1,6
milhão (um milhão e seiscentos mil reais),
sendo R$ 1,2 milhão (um milhão e duzentos mil reais) aporte do Governo Federal e
R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais) de
contrapartida do Governo do Estado.
Além do Pronem, o Plano de Atividade da Fapepi (2014) elenca uma série de
programas que entram em consonância
com a inalidade da Fundação e que revelam o compromisso da única agência de
fomento à pesquisa do Piauí em buscar a
ampliação das linhas de inanciamento e a
manutenção de ações já consolidadas.
FOMENTO À PESQUISA
Nos últimos dez anos, a Fapepi tem
avançado de forma signiicativa, lançando
editais que têm credenciado a agência a
pactuar novas parcerias.
Em 2003, foi implantado na Fapepi,
por meio de um convênio com o CNPq,
o Programa de Infraestrutura para Jovens
Pesquisadores/Programa Primeiros Projetos (PPP). Até 2013, foram inanciados
161 projetos de pesquisas cientíicas e
tecnológicas, com a inalidade de apoiar
a instalação ou recuperação da infraestrutura de Instituições de Ensino Superior
(IES) públicas ou de pesquisa, oferecendo
suporte à ixação de jovens doutores no
Estado em quaisquer áreas do conhecimento. As instituições beneiciadas com
o Programa foi a Universidade Federal do
Piauí (UFPI), a Universidade Estadual do
Piauí (Uespi), o Instituto Federal do Piauí
(IFPI) e a Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa – Meio Norte).
De acordo com as ações de fomento da Fapepi para 2014, o programa PPP
conta com o aporte inanceiro no valor de
R$ 1,6 milhão (um milhão e seiscentos mil
reais) para contratação de projetos de pes-
quisas em edital público.
Na mesma época, também foi implantado o Programa de Desenvolvimento
Cientíico Regional (DCR), acordo de cooperação Fapepi/CNPq, que já concedeu
51 bolsas para doutores da UFPI, Uespi e
Embrapa Meio-Norte, na cidade de Teresina e em municípios do interior do Estado. O programa tem com um dos seus
objetivos diminuir as desigualdades entre
as regiões, priorizando as IES sediadas nas
regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste
(exceto Brasília). A meta para 2014 é implantar até 28 cotas de bolsas previstas no
novo acordo.
Na busca por novos inanciamentos
para pesquisas desenvolvidas no Piauí, em
2011 a Fapepi em parceria com o CNPq
implantou, no Estado, o Programa de
Apoio a Núcleo de Excelência (Pronex),
com recursos inanceiros no valor de R$
800.000,00 (oitocentos mil reais), sendo
R$ 600.000,00 (seiscentos mil reais) oriundos do CNPq e R$ 200.000,00 (duzentos
mil reais) do Tesouro Estadual, permitindo a contratação de 4 projetos de pesquisas de alto nível, todos em execução.
“No início da implantação do edital, o
CNPq exigia pesquisadores de nível 1. Entretanto, como os pesquisadores de nível 1
do Estado eram em número muito reduzido, foi ampliado para pesquisadores de nível 2. Mesmo assim, nós tivemos uma boa
apresentação de projetos, comparando o
número de pesquisadores até então existente no Estado. Então, nós tivemos uma
média de 15 pesquisadores participando
da chamada pública, dentre esses, quatro
pesquisadores foram agraciados com o
inanciamento”, explica Eliana Abreu, gerente técnico-cientíico.
Para atender às demandas de Ciência,
Tecnologia e Inovação (CT&I) do Piauí,
a Fapepi tem atrelado as suas ações com
as necessidades do Estado. Em 2004, foi
implementado o Programa de Pesquisa
para o Sistema Único de Saúde (SUS):
gestão compartilhada em saúde (PPSUS),
fruto da parceria irmada entre a Fapepi,
a Secretaria de Estado da Saúde (Sesapi),
Ministério da Saúde (MS) e o Conselho
Nacional de Desenvolvimento Cientíico
e Tecnológico (CNPq). No ano de 2012,
para o edital PPSUS foram disponibilizados mais de R$ 1 milhão (um milhão de
reais), o que proporcionou a contratação
de 26 projetos de pesquisas, todos em execução.
A parceria entre o Governo do Estado e o Governo Federal tem possibilitado
também a implantação e manutenção de
bolsas cientíicas em diversas modalidades que vão deste a Iniciação Cientíica Júnior (Pibic Júnior) até concessão de bolsas
de mestrado e doutorado, o que tem contribuído signiicativamente na capacitação
de recursos humanos.
TESOURO ESTADUAL
A Fapepi conta também com programas inanciados exclusivamente pelo
Governo Estadual, tais como: Programa
de Auxílio à Participação em evento cientíico, Programa de auxílio para Organização de Reunião Cientíica e o Programa
de Bolsas de Mestrado e Doutorado para
Professores Efetivos da Universidade Estadual do Piauí (Uespi).
“Foi uma importante iniciativa do
governador Wilson Martins fortalecer a
Uespi, por meio da Fapepi, no que se refere à qualiicação, lançando um edital
especiico de bolsas de mestrado e doutorado para qualiicação de professores da
Universidade Estadual com vistas ao seu
crescimento”, inaliza professor Francisco
Soares, presidente da Fapepi.
sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI
19
DOSSIê
Foi uma importante iniciativa do governador Wilson martins fortalecer a
Uespi, por meio da Fapepi, no que se refere à qualiicação, pois foi
lançado um edital especíico de bolsas de mestrado e doutorado para
qualiicação de professores da Universidade Estadual
Por Marco Aurélio do Amaral
DOSSIê
Programa de Bolsas Pós-Graduações
auxilia docentes da Uespi a melhorar a
qualidade da iniciação cientíica e das
pós-graduações na Instituição
Foto: Marco Aurélio do Amaral
desde 2008, as bolsas vêm amparando inanceiramente professores que
se afastam de sua IES para fazerem mestrados e doutorados.
eliana Abreu, gerente técnico cientíico, pontua contribuições do programa para com
professores e instituição como necessárias.
A
Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado do Piauí (Fapepi) possui o Programa de Bolsas de PósGraduações exclusivo para docentes da
Universidade Estadual do Piauí (Uespi).
Foi implantado em 2008 e tem o aporte inanceiro do tesouro estadual. A proposta
desse programa é aprimorar a formação
de recursos humanos da universidade,
focado no desenvolvimento cientíico e
tecnológico do Piauí.
De acordo com a gerente TécnicoCientíica da Fapepi, Eliana Abreu, a inalidade do programa é melhorar o nível de
qualiicação desses professores. “Uma vez
que a instituição, por ser mais nova que as
instituições federais que existem no Estado, ela necessita melhorar o nível de qua-
20
sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI
liicação de seus servidores, ou seja, contribuir para a formação desses professores
e consequentemente melhorar o nível dos
cursos da universidade estadual”, ressalta a
gerente sobre a importância de aprimorar
o quadro efetivo de docentes da universidade.
A necessidade de instituir esse programa ocorreu em virtude de as bolsas serem
em quantidade insuiciente para atender à
demanda dos professores que hoje se estão
qualiicando no Piauí. Os professores da
Uespi que estão recebendo bolsa se encontram fora do Estado e essa bolsa seria uma
complementação para as despesas tanto
para a execução do projeto de pesquisa
como também para o próprio pesquisador
manter-se em outras atividades.
Os editais do programa de incentivo
a docentes da Uespi vêm contribuindo
para que os pesquisadores, uma vez estando fora do estado, possam desenvolver
seus projetos de pesquisa do mestrado ou
doutorado com melhor qualidade,tendo
em vista que elesirão contar com recursos
para auxiliá-los na aquisição de literatura
para subsidiar suas pesquisas e, consequentemente, poder participar de eventos
cientíicos e publicar o produto de sua
pesquisa nos meios de divulgações.
Até algum tempo atrás, como a maioria dos professores da Uespi não fazia parte do quadro efetivo da instituição, não havia uma grande preocupação com o nível
de qualiicação dos docentes efetivos da
Uespi. Entretanto, à medida que o corpo
docente efetivo da universidade foi crescendo, percebeu-se também que a Uespi
passou a ter uma maior preocupação com
a qualiicação dos seus educadores.
Atualmente, a Universidade Estadual
do Piauí conta com um quadro de professores efetivos maior que o de provisórios,
sendo que grande parte dos professoresnomeados recentemente já possuem título
de mestre ou doutor. Entretanto, a qualiicação dos professores que ainda não possuíam pós-graduação strictu sensu é uma
necessidade urgente desta IES, uma vez
que a qualiicação dos professores também é um requisito para o reconhecimento de cursos e a manutenção do credenciamento da instituição junto ao Sistema
Estadual de Educação. Em função disso,
a administração superior da universidade, junto com o governo estadual, tem-se
empenhado para aprimorar o seu corpo
docente.
Uma das medidas adotadas para fomentar a qualiicação docente da Universidade foi implantar o Programa de
Bolsas Pós-Graduação da Fapepi para
professores da Uespi. As bolsas são de
suma importância, pois, por meio delas, o
docente se qualiica e possibilita o futuro
surgimento de novos programas de pósgraduações, captação de maior volume de
recursos junto à agência de fomento para
o desenvolvimento de produtos inovadores que possam trazer dividendos para o
Estado e para a própria Universidade. Para
os docentes, o programa é importante e
necessário, pois, além de incentivar sua
qualiicação, permite ao professor dedicação total ao projeto de pesquisa.
Através do programa, foram beneiciados 72 professores efetivos da Uespi,
dos quais 52 em nível de doutorado e 20
em nível mestrado. Do total de beneiciados, mais de 40 professores já concluíram
a pós-graduação. Em 2008, 12 bolsas de
doutorado e 10 de mestrado; em 2009, 12
bolsas de doutorado e 7 de mestrado; em
2010, 4 bolsas de doutorado e 1 de mestrado; em 2011,13 bolsas de doutorado e 2 de
mestrado; em 2012, 5 bolsas de doutorado
e, em 2013, 6 bolsas de doutorado.
De acordo com o Professor Hermes
Galvão, Diretor Técnico-Cientíico da
DOSSIê
cebendo seus vencimentos, o pesquisador
ainda tem muita diiculdade, pois, como
seus centros de pesquisa cientíica são fora
do território estadual, torna-se mais oneroso manter-se em outra cidade, principalmente porque há uma signiicativa parcela
de professores que fazem mestrados ou
doutorados em instituições privadas.Apesar disso, nos últimos seis anos, a Universidade Estadual do Piauí, qualiicou mais
de sessenta professores em nível de doutorado e mais de trinta professores em nível
de mestrado, muitas dessas qualiicações
foram contempladas com bolsa da Fapepi.
Para a contínua evolução de capacitação do quadro de docentes doutores,
cabe à Fapepi a elaboração dos editais
de seleção, estabelecendo quantidade de
bolsas a serem disponibilizadas, considerando a demanda existente por parte da
Uespi, bem como o volume de recursos
que a Fundação tem disponível para investimento.
Desse modo, preocupada em elevar
a qualidade de pesquisa, a Fapepi atua
como agente de fomento como Programa de Bolsas Pós-Graduações para
docentes efetivos da Uespi. O aprimoramento do nível da pesquisa cientíica do
Estado e, principalmente, da iniciação
cientíica,impõe uma maior qualidade
nas graduações e no desenvolvimento
dos projetos de pesquisa nas pós-graduações que ganharão mais qualidade,
além das outras pós que virão com o advento de mais doutores formados.
Foto: Marco Aurélio do Amaral
Foto: Marco Aurélio do Amaral
o Professor geraldo eduardo elogia a política de
incentivo à pós-graduação da uespi pois os docentes
têm a chance de se ausentarem sem deixar de receber
seus salários
Fapepi, em 2014, um novo edital será
lançado, contudo, ainda se estuda a quantidade de bolsas: “Estes dados sobre o número de bolsas ofertadas desde 2008 demonstram que o programa tem permitido
ampliar o quadro de pessoal qualiicado,
impactando diretamente na qualidade de
ensino da graduação, na quantidade e na
qualidade das pesquisas desenvolvidas na
Uespi, além disto, a ampliação do quadro
de doutores da instituição tem exercido
um papel essencial no desenvolvimento de
novos cursos de pós-graduação stricto sensu dessa IES estadual”, comenta o diretor.
É de fundamental importância a política de incentivoàqualiicação docente no
Estado. Para o Professor Geraldo Eduardo da Luz Júnior, o então Pró-reitor de
Pesquisa e Pós-Graduação da Uespi,“a
especialização do corpo docente da universidade sempre será primordial para o
desenvolvimento não só cientíico tecnológico do Estado, mas também para com
o desenvolvimento econômico social,
principalmente quando é levada em consideração que a pesquisa cientíica tem o
poder de transformar a economia e a sociedade de maneira geral de um estado.”,
comentou o professor.
Desde 2008, esse programa vem fornecendo um suporte maior aos bolsistas que
já contavam com o apoio da política interna de qualiicação docente da Uespi, com a
liberação integral do professor para fazer o
seu mestrado ou doutorado. Porém, mesmo sendo liberado pela instituição e re-
“cabe também à fAPePI acompanhar, por meio de análise de relatório técnico, o desenvolvimento dos
projetos selecionados”, cita o diretor técnico cientíico, hermes galvão
sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI
21
Por Vanessa Soromo
MATérIA
pesquisadores colhem resultados
positivos com projetos em
tecnologia assistiva
A Luva ultrassônica, a Bengala Eletrônica e o Jogo G-tEA são alguns dos
exemplos de pesquisas que proporcionam melhor qualidade de vida às pessoas
com necessidades especiais.
22
sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI
Foto: Marco Aurélio do Amaral
P
esquisadores do Instituto Federal
do Piauí (IFPI) estão desenvolvendo projetos na área de Tecnologia Assistiva (TA). De acordo com
o Comitê de Ajudas Técnicas (CAT), a
sigla TA se refere a “uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas
e serviços que objetivam promover a
funcionalidade, relacionada à atividade
e à participação de pessoas com deiciência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando a sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão
social”.
No inal de 2011, alunos do curso de Desenvolvimento de Sotware e
Eletrônica do campus Parnaíba, com
idade média de 17 anos, começaram a
desenvolver a Luva Ultrassônica, sob
a coordenação do professor Francisco
Marcelino Almeida Araújo. “Queria incentivar os meninos a se manterem nos
cursos, pegando o que eles aprenderam
na teoria e jogar na prática. Fizemos a
Luva Ultrassônica. Quando apareceu a
Mostra Nacional de Robótica (MNR),
vimos a possibilidade de colocá-la. Ganhamos o prêmio em 2012 só com esse
trabalho”, lembra Marcelino de Almeida.
A Luva tem sensores ultrassônicos
que identiicam um obstáculo em uma
determinada distância. Os circuitos eletrônicos interpretam a informação e enviam vibrações ao usuário avisando-o
Integrantes do Projeto luva ultrassônica com o professor marcelino de Almeida (à direita).
do perigo. O servidor da Secretaria Estadual de Inclusão da Pessoa com Deiciência (Seid), Luís Sampaio, que é deiciente visual, testou a Luva em março de
2013 e colaborou de forma signiicativa
para o aperfeiçoamento e o redirecionamento do objetivo do equipamento.
“A primeira descoberta que nós izemos foi que a Luva não substitui a bengala. O que nós percebemos de positivo
foi a questão de ela identiicar realmente os obstáculos”, airma Luís Sampaio.
De acordo com Marcelino Almeida, os
testes foram essenciais para perceber
que a Luva não funcionava bem nas
ruas por serem muito dinâmicas, mas
excelentes para locais fechados, como
casas e empresas.
Quando foi transferido de Parnaíba
para Teresina, o professor Marcelino
Almeida continuou o trabalho de fomentar pesquisas na área de TA entre
alunos do Instituto. No ano passado,
ele conseguiu reunir alunos do Ensino
Médio Integrado, dos cursos de Eletrônica, de Eletrotécnica e da Computação
Alunos do curso do IfPI com a bengala eletrônica.
para o desenvolvimento de três projetos, entre eles, o da Bengala Eletrônica,
que foi criada com o objetivo de solucionar os problemas enfrentados por
pessoas com deiciência visual quando
necessitam trafegar por lugares abertos
e dinâmicos, como as vias públicas. A
Bengala Eletrônica “tem sensores que
apontam na diagonal e que identiicam
os obstáculos aéreos”, explica Francisco
Marcelino.
Na edição de 2013 da Mostra Nacional de Robótica, os alunos do IFPI
foram campeões pela segunda vez consecutiva, com os projetos da Bengala
Eletrônica e o Módulo de Transporte de
Cargas. Os números e prêmios revelam
que o trabalho de fomento à pesquisa
cientíica e tecnológica dentro do Instituto vem dando resultados positivos.
Na MNR de 2012, participaram apenas
5 alunos, enquanto na Mostra do ano
passado foram 35 alunos.
“Creio que o ponto principal que a
própria sociedade acha bem bacana e se
sente motivada com o que nós estamos
fazendo é ver que pessoas do Ensino
Médio estão desenvolvendo pesquisas
que nós pensávamos que tinha que ser
um engenheiro para realizar”, ressalta
Marcelino Almeida.
O núcleo do LABoratory of Intelligent Robotics, Automation and Syste-
mas (Labiras), que funciona no prédio
do campus IFPI Teresina Central, sob
a coordenação do professor Marcelino,
recebeu equipamentos e estrutura física
de empresas locais, que somaram cerca
de R$ 12.000, 00 (doze mil reais). Além
disso, o próprio Instituto reservou uma
de suas salas para que os trabalhos do
Labiras pudessem ser desenvolvidos.
“Empresas locais estão patrocinando de alguma maneira, mesmo que não
seja em dinheiro, mas dando estrutura.
Se estão doando é por que estão colocando fé na gente”, conclui o coordenador.
Os trâmites para os pedidos de patentes dos dois projetos já começaram a ser
realizados. A meta primordial dos pesquisadores é a produção local, barateando
custos. Mas os planos futuros dos protótipos devem seguir rumos diferentes.
No caso da Bengala, um tutorial deve ser
criado para que as pessoas possam produzir o equipamento na sua própria casa, de
forma fácil e barata. Já a Luva Ultrassônica, por possuir um processo de produção
mais complexo, necessita de mais apoio.
“Precisamos de parcerias de verdade, parcerias grandes com empresas e o
Governo do Estado, porque tem que ter
recursos para poder produzir a Luva em
larga escala”, revela Marcelino de Almeida.
“Essa experiência com
a Luva foi o ponto chave,
para que eu veriicasse
que era realmente a área
com que eu me identiicava, e também porque
nos motivou a respeito do
curso de desenvolvimento
de Software”. Amanda da
Silva Sousa, 20 anos, integrante do projeto da Luva
ultrassônica. Atualmente
Amanda é graduanda do
curso Ciência da Computação da uespi - campus
Parnaíba.
“Foi bastante interessante e algo que agregou
muito ao nosso currículo, a
nossa experiência de vida,
porque nós do curso de
Eletrônica nunca tínhamos
participado de uma experiência grandiosa como
foi a Mostra Nacional de
robótica 2013”. matheus
Barros, 17 anos, aluno do
curso de Eletrônica do IFPI
– campus Teresina Central,
e integrante do projeto da
Bengala Eletrônica.
sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI
23
MATérIA
Foto: Marco Aurélio do Amaral
Segundo Claude Girão, Coordenador de Acessibilidade da Seid, “existe um
grande desejo da secretaria em estar participando e disponibilizando tudo quanto
for de ferramentas possíveis dentro da
nossa realidade em prol de que essa tecnologia chegue à ponte principal, que é a
pessoa com deiciência”.
Foto: Vanessa Soromo
MATérIA
Professores e estudantes responsáveis pelo g-teA no laboratório de objeto de Aprendizagem (loA).
ir além...
“Eu tive força de vontade de mãe,
amor por ele, mas apostei na tecnologia,
nesses programas de computadores que
nem eram tão especíicos para os autistas”.
O depoimento é da dona Helena
Lima, mãe de Gabriel Lima, 18 anos,
portador de autismo clássico. Helena é
fundadora da Associação de Amigos do
Autista do Piauí (AMA) e Gerente de
Articulação da Seid, e alfabetizou o ilho
com o auxílio de programas de computadores.
Para ajudar pessoas, como a família
Lima e proissionais que trabalham na alfabetização de crianças com Transtorno
do Espectro Autista (TEA), os professores Otílio Paulo da Silva Neto e Fernando
Castelo Branco Gonçalves Santana, juntamente com os alunos do curso superior
em Análise e Desenvolvimento de Siste-
24
sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI
mas do Instituto Federal do Piauí (IFPI),
desenvolveram o jogo G-TEA.
“Surgiu a ideia de trabalharmos não
com um problema computacional, mas
sim um problema social. Nós propomos
para o workshop do Simpósio Brasileiro de Games e Entretenimento Digital
(SBGames), um jogo para trabalhar com
crianças autistas e ensiná-las as cores inicialmente”, explica Otílio Paulo da Silva
Neto.
Segundo os pesquisadores, os testes
realizados com as crianças da AMA foram muitos satisfatórios. “Foi uma das
partes do nosso trabalho que nos trouxe mais felicidade, porque eles jogavam,
brincavam, faziam as atividades. Quando
eles faziam convencionalmente, às vezes
começavam, mas não terminavam”, lembra Otílio da Silva.
O G-TEA pode ser utilizado por diversos proissionais, como psicólogos,
psicopedagogos, pedagogos e fonoaudiólogos. Segundo o professor Otílio, o
game “é uma ferramenta simples, onde
o proissional interage diretamente com
a criança. A ideia é auxiliar o proissional
a trabalhar melhor com uma ferramenta
mais atrativa para o autista”. O jogo está
disponível no Google Play e pode ser baixado gratuitamente.
“É muito bom trabalhar nesse tipo
de projeto, por que ele tem um papel social”, exalta Breno Machado do Monte, 21
anos, aluno do curso de Analise e Desenvolvimento de Sistema.
De acordo com a professora Claudete Silva, existem vários projetos na
área de Tecnologia Assistiva em andamento, tanto no Laboratório de Inovação e Sistemas Multimídia (LIMS),
quanto no Laboratório de Objeto de
Aprendizagem (LOA) do IFPI. “Alguns
deles são objetos onde ele é interativo,
levando em consideração a questão da
acessibilidade e usabilidade de pessoas
com deiciência na área auditiva e visual”, inaliza.
Por Cássia Sousa
MATérIA
suicídio: pesquisa aponta contextos
sociais de risco
A pesquisadora Vânia reis enfatiza a importância de oferecermos condições
para o fortalecimento emocional dos jovens e, consequentemente,
para a prevenção do suicídio.
Foto: Cássia Sousa
E
m O Mito de Sísifo, Albert
Camus diz que o suicídio é o
mais sério de todos os problemas filosóficos. Nas últimas décadas,
entidades governamentais e diversos
outros setores da sociedade têm demonstrado crescente preocupação
com o aumento das taxas de suicídio no mundo. Entretanto, o assunto
ainda é espinhoso e pouco discutido
na sociedade. Os motivos que levam
a essa interdição do tema são de ordens diversas. Pode ser desde o preconceito sofrido tanto pela vítima
como pelos familiares até o temor de
se incorrer numa abordagem inadequada do tema e desencadear o que
se chama “Efeito Werther”. No livro
clássico de Goethe, Os Sofrimentos do
Jovem Werther, o personagem central
comete suicídio. Após a publicação
da obra, foram observados relatos
de jovens que cometeram suicídio da
mesma forma que o personagem.
No primeiro caso, é necessário desconstruir esse preconceito.
“Quem pensa em suicídio na verdade
não quer tirar a própria vida. Quer
acabar com seu sofrimento”, afirma a
Professora Doutora Vânia Reis. Vinculada ao Departamento de Serviço
Social da Universidade Federal do
Piauí (UFPI), a Profª Vânia realizou,
em 2009, a pesquisa intitulada Suicídio Entre Jovens de Teresina: Contextos Sociais de Risco e de Apoio. Dentro do Programa Primeiros Projetos
(PPP), é uma das poucas pesquisas
que abordam o tema no contexto do
estado piauiense.
Segundo a pesquisadora, é necessário desconstruir preconceitos
No segundo caso, espera-se que
esta matéria contribua com a discussão sobre alguns aspectos pertinentes
que sejam de interesse das autoridades governamentais e da comunidade científica. Por que estes dois setores? Porque políticas públicas são
necessárias para resolver problemas
sociais, mas, para que haja políticas
públicas eficientes, são necessários
dados precisos. E é aí que entram os
pesquisadores do nosso estado.
O trabalho da Profª Vânia procurou fornecer dados precisos na medida em que propôs buscar contextos
que suscitam a ideação suicida e os
que oferecem o suporte emocional
para que não haja a ideação. “Muito
mais do que buscar causas, fatores
ou elementos soltos, tentei buscar os
contextos que contribuem para a fragilização e os que contribuem para
o fortalecimento emocional e moral
dos jovens ante às pressões às quais
sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI
25
MATérIA
ele está submetido atualmente”, explica a pesquisadora.
A pesquisa consistiu em entrevistas com familiares, amigos e pessoas próximas a jovens que cometeram suicídio ou tentaram. Embora
houvesse uma equipe de estudantes,
a pesquisadora conduziu todas as
entrevistas. “A conversa foi muito
fecunda. Não foram entrevistas formais até mesmo porque dada a natureza do assunto eram entrevistas
muito difíceis de serem conduzidas”,
esclarece a professora.
De acordo com a pesquisadora,
uma das dificuldades com as quais se
deparou foi com a inconsistência dos
dados. Ela explica que, pela própria
natureza do suicídio, ele é subnotificado. “Em todo o mundo é assim
porque é muito difícil atestar com
convicção um caso. O que caracteriza
o suicídio? A intenção. Se uma pessoa assume um gesto que, por consequência, a leva à morte, mas ela não
tinha a intenção de morrer, aquilo
não foi um suicídio”, afirma. Segundo Vânia Reis, nem todas as pessoas
que cometem suicídio deixam cartas
ou notas. E somente quando o meio
utilizado evidencia o ato como tal,
este caso é arrolado estatisticamente
como sendo suicídio.
Dentre os contextos de risco, a
professora aponta a falta de confiança, de apoio e de solidariedade na
relação entre os pares e familiares. E
exemplifica como um desses contextos o bullying, ou seja, a intimidação
que crianças e adolescentes sofrem
dos colegas no ambiente escolar. Outro fator de risco é o uso das redes
sociais como principal forma de comunicação com os amigos. Segundo
a pesquisadora, elas levam ao isolamento e à depressão. “Todos precisamos de relacionamentos presenciais,
especialmente os jovens, por estarem
em processo de construção da identidade”, explica a Profª Vânia.
Os contextos de competitividade
(no trabalho, na escola, na universidade) também se configuram como
elementos de risco por exacerbarem
a competitividade em detrimento
de outros elementos como “valores
morais consistentes explicitamente
assumidos como a solidariedade, a
lealdade, a confiança, a amizade, o
companheirismo e amor. É preciso
dar aos jovens contextos nos quais
eles se sintam ser esses valores centrais no viver”.
Ter amigo ou familiar que cometeram suicídio, bem como a compreensão equivocada de que o suicídio
é um ato de coragem são outros elementos apontados pela professora. “A tentativa de suicídio anterior
também é um contexto de altíssimo
risco, além de transtornos mentais e
psicológicos e a falta de espiritualidade”, acrescenta.
A espiritualidade à qual a pesquisadora se refere é a capacidade de
transcendência das pessoas, ou seja,
o sentimento de se sentir alguém cuja
existência tem um sentido. Esta sen-
sação é proporcionada, na maioria
das vezes, pelas religiões. Entretanto,
isso pode se dar pela via filosófica
também.
A psicóloga Layse Policarpo Silva
Correia diz que, entre os transtornos
mentais que podem levar a ideação
suicida, estão a depressão, o transtorno bipolar e o transtorno boderline. A depressão caracteriza-se pelo
estado de humor deprimido no qual
o indivíduo se estabelece. Ele passa
muito tempo nesse estado e não consegue ter picos de humor elevado,
como acontece no transtorno bipolar. O isolamento, a falta de cuidados
pessoais, bem como o desinteresse
em fazer coisas que antes eram atividades prazerosas são indícios da
depressão.
Diferentemente da depressão, no
transtorno bipolar, o indivíduo tem
oscilação de humor. “Ele não tem um
equilíbrio de humor: ou está muito
bem, que é o que chamamos de euforia, ou está muito mal, que são os picos de depressão. Quando está muito
bem, ele compra, sai, se diverte, é outra pessoa; quando está mal, se isola,
não toma banho, não trabalha,”, explica a psicóloga.
Já, no transtorno boderline, o
indivíduo encontra-se no limite do
humor. “É aquela pessoa que, muitas
vezes, parece mal-humorada, que parece não ter muita paciência para algumas coisas, está sempre no limite.
Então, ela ‘estoura’ com muitas coisas. Imagine um fator frustrante para
a espiritualidade à qual a pesquisadora se refere é a capacidade de transcendência das pessoas, ou seja, o sentimento
de se sentir alguém cuja existência tem um sentido. esta sensação é proporcionada, na maioria das vezes, pelas religiões.
26
sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI
MATérIA
segundo a pesquisadora Vânia reis,
ilmes e livros ajudam indivíduos a sair
de crises de depressão
uma pessoa dessa forma? Muitas vezes pode desencadear um suicídio,
sim”, avalia Layse Policarpo.
Em todo caso, um aspecto para o
qual tanto a psicóloga como a pesquisadora chamam a atenção é para
o não julgamento das pessoas com
ideação suicida. Vânia Reis explica
que, em países cujo sistema de saúde é mais organizado, estudos mostram que até 45 dias antes de terem
consumado o suicídio, a pessoa procurou ajuda médica. Não verbalizou
sua intenção, mas, de alguma forma,
houve a consciência de que algo não
estava bem e, por isso, buscou ajuda.
“Ela não está assumindo sua ideação
suicida, talvez nem para ela. Talvez
não tenha coragem de assumir para
os outros e é aí que entra um fator
importantíssimo: o preconceito. O
preconceito contra os que tentam o
suicídio e contra as famílias de quem
cometeu suicídio. Esse preconceito
está vinculado aos preconceitos que
impregnam nossa sociedade há séculos em torno da questão da loucura”,
enfatiza a pesquisadora.
Todos estes contextos apontados
podem levar a outro que é o consumo
de bebidas alcoólicas e outras drogas
ilícitas, que se configura como fator
de risco também. Em todo caso, é
importante esclarecer que esses contextos não são específicos da juventude, mas da sociedade em geral. O
que ocorre é que eles se acentuam em
relação aos jovens.
Como a pesquisa da professora
Reis visa a identificar os contextos de
apoio, é possível visualizar cenários
positivos. Estes contextos são a família harmonizada, que não é aquela
isenta de desavenças, mas a que sabe
lidar com as diferenças de seus membros e que respeita essas diferenças;
ter relações de amizade presenciais
próximas, cujos laços estabelecidos
sejam de confiança, lealdade, companheirismo etc.; a religião, desde que
seja uma doutrina que permita ao indivíduo dialogar sobre suas angústias
e sobre os próprios preceitos religiosos; o diálogo, seja com familiares,
com amigos ou com pessoas próximas; ter valores morais consistentes,
claramente definidos, ainda que em
constante construção.
O hábito da leitura e ver filmes
também são apontados pela pesquisadora como contexto de apoio, especialmente no caso de indivíduos depressivos. Outro contexto é a própria
reflexão sobre as consequências do
ato suicida. “Em que resulta o suicídio? Retornamos às religiões porque
a ciência não explica isso”, afirma
Reis.
Layse Policarpo explica que a ideação suicida é difícil de identificar.
Entretanto, é possível atentar para alguns comportamentos, embora isso
não signifique necessariamente que
alguém tenha ideação suicida. Deve-
se ficar em alerta com a pessoa que
esteja em um quadro de oscilação de
humor, até mesmo o humor eufórico
que não é o habitual dela. “Porque ela
pode, nesse estado eufórico, às vezes
até brincando, vem o pensamento e
ela acaba realmente cometendo o suicídio. Se houver alterações bruscas
de humor, seja euforia ou depressão,
num período prolongado, é o caso de
se observar também se essas pessoas
estão deixando de fazer coisas habituais, como trabalhar, ir à escola, tomar banho, comer, dormir. É aí que
devemos começar realmente a procurar ajudar, conversar, tentar se aproximar e nunca julgar porque às vezes
achamos que a angústia dela é injustificada, mas para ela é importante. O
significado que algo tem para aquela
pessoa não é o que tem para uma outra”, explica a psicóloga.
Também é possível procurar
ajuda nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e nos Centros de
Valorização da Vida (CVVs) em Teresina. O Caps é vinculado à Fundação Municipal de Saúde e, para ser
atendido, a pessoa pode procurar
diretamente o serviço ou ser encaminhada pelo Programa de Saúde da
Família (PSF). Já o CVV é uma ONG
que dispõe, por meio de voluntários,
a oferecer conforto e apoio às pessoas. Atualmente, o serviço oferecido
inclui chat, telefone, skype, e-mail e
postos presenciais.
sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI
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tESES
cornélia janayna pereira passarinho
jardes Figuerêdo do rêgo
Pesquisadora Pós-Doutorado/ CAPES/ UFPI
defesa: Universidade Federal do Espírito Santo, 2012
[email protected]
Pesquisador
defesa: Instituto de Química/Universidade Estadual
Paulista, 2013
[email protected]
uma abordagem dinâmica para
detecção e seguimento de face em
vídeos coloridos em ambientes não
controlados
D
etecção de face em imagens é uma linha de pesquisa que vem recebendo dedicação crescente
em visão computacional, uma vez que pode
ter diversas aplicações. Identiicação, autenticação e reconhecimento de indivíduos são algumas tarefas realizadas a partir do desenvolvimento de sistemas que se
baseiam em tais técnicas. O trabalho desenvolvido nesta Tese de Doutorado apresenta uma abordagem para
detectar e seguir face em vídeos coloridos e adquiridos
em ambientes não controlados. O Seguidor Dinâmico
com Vetores de Suporte (SDVS) aqui proposto combina detecção de face com seguimento de alvo, através da
integração de compensação de iluminação, detecção de
cor de pele, classiicador SVM (do inglês Support Vector
Machines), usando características de Gabor e um iltro
de Kalman discreto, compondo um sistema integrado.
A arquitetura aqui proposta se distingue das demais encontradas na literatura, por ser capaz de detectar e seguir face em vídeos adquiridos em ambientes externos,
com condições do mundo real, ou seja, não controladas,
detectar e seguir face em pose arbitrária, em diferentes
tons de pele e por apresentar robustez no que se refere à
recuperação de falhas na detecção de face. Para validar
a proposta do SDVS, foram realizados testes em vídeos
das bases de dados de vídeos da Honda/UCSD e David
Ross, como também vídeos capturados no Campus de
Goiabeiras da Universidade Federal do Espírito Santo.
Tais vídeos foram categorizados segundo o grau de diiculdade (desaio) a ser tratado, e os resultados da aplicação do SDVS foram comparados com uma técnica do
estado da arte, para avaliar seu desempenho. Como resultado de tal comparação, pode-se concluir que a abordagem aqui proposta e o sistema SDVS implementado
foram validados.
28
sapiência 36 Publicação Cientíica da FAPEPI
Amostragem de sólidos em
espectrometria de absorção atômica
de fonte contínua com alta resolução:
análise de plantas medicinais
N
a última década, houve um aumento signiicativo no uso
de itoterápicos. Contudo, o estudo detalhado sobre a
toxicologia das principais plantas empregadas como matéria prima não cresceu na mesma proporção. Em função disto,
tornam-se relevantes estudos visando à caracterização química e
toxicológica de plantas medicinais, principalmente aquelas que
têm sido empregadas como matérias primas para produção de itoterápicos. Neste sentido, o presente trabalho teve como objetivo
o desenvolvimento de métodos analíticos visando à determinação
de As, Cd, Co, Pb, Se e Sn em plantas medicinais, empregando a
espectrometria de absorção atômica de fonte contínua com alta
resolução em forno de graite com amostragem direta de sólidos
(SS HR-CS GFAAS). O procedimento de amostragem direta de
sólidos envolve o mínimo preparo da amostra, o que reduz os
riscos de contaminação e minimiza a geração de resíduos, e além
disso, diminui substancialmente o tempo de análise e aumenta o
poder de detectabilidade. O uso do conceito de espectrometria de
absorção atômica de fonte contínua com alta resolução permitiu
identiicar e corrigir as principais interferências espectrais. Na determinação de As, Co, Se e Sn, foram observadas interferências
espectrais causadas por moléculas diatômicas de PO e SiO. Nestes
casos, o emprego do algoritmo dos mínimos quadrados (LSBC)
corrigiu o fundo; entretanto, para a determinação de As, observouse interferências espectrais provocadas por linhas atômicas de Al
que somente foram corrigidas utilizando algoritmo de correção de
fundo interativa (IBC). Os métodos desenvolvidos apresentaram
limites detecção de 28,7 ng g-1 (As), 0,15 ng g-1 (Cd), 3,2 ng g-1
(Co), 7,3 ng g-1 (Pb), 40,1 ng g-1 (Se) e 24,5 ng g-1 (Sn). A exatidão
dos métodos foi avaliada através da análise de materiais de referência certiicados de plantas, cujos valores foram concordantes
com os certiicados ao nível de 95 % (test t). Visando determinar
as menores quantidades de amostra que poderia ser analisadas, diferentes procedimentos de preparo de amostra foram avaliados. A
partir dos resultados obtidos, observou-se melhor precisão e exatidão utilizando massas entre 0,2 - 1,0 mg de amostra, empregando
moinho criogênico ou moinho de facas com peneira de 30 mesh.
Por im, os métodos desenvolvidos foram aplicados na determinação dos analitos em dezoito amostras de plantas medicinais e as
concentrações obtidas variaram de 3,2 a 287,2 ng g-1 (Cd); 14,7 a
1195,7 ng g-1 (Co); 124,2 a 1946,1 ng g-1 (Pb) e 142,8 a 342,6 ng
g-1 (Sn). Os resultados foram concordantes ao nível de 95 % (test t)
quando comparados com os obtidos por outras técnicas (ICP-MS
e GFAAS). As concentrações de As e Se nas amostras foram menores que os limites de detecção.
silvana pantoja
Professora adjunta da UESPI – Campus Torquato Neto
defesa: Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, em 2013
[email protected]
Educação em direitos Humanos
em uma instituição militar*
O
objetivo principal deste trabalho é veriicar
a inluência de diferentes práticas interventivas sobre as representações sociais (RS)
dos direitos humanos (DH) em alunos de um curso de formação de oiciais da polícia militar. Tendo
em vista este objetivo, foram realizados dois estudos.
No primeiro, buscou-se investigar as RS, o conhecimento e as concepções sobre os DH, bem como
a sensibilidade empática dos participantes. Foram
administrados escalas e questionários sobre os DH,
além de uma escala de empatia voltada para questões
sociais a 176 cadetes, de ambos os sexos, alunos do
1º e do 3º ano. Também foi utilizada a Técnica da Associação Livre de Palavras. Nos dois estudos, foram
utilizadas estatísticas paramétricas e não paramétricas. Os resultados do primeiro estudo indicam: 1) a
existência de um campo representacional dos DH e
uma correspondência entre o conteúdo desse campo
e a Declaração Universal dos Direitos Humanos; 2)
a existência de RS negativas com relação à efetivação dos DH e 3) uma baixa sensibilidade empática
com respeito a alguns grupos sociais. A partir desses resultados, foi selecionada a amostra do segundo estudo, que visou promover uma mudança nas
RS dos participantes, conscientizando-os quanto ao
papel do policial enquanto defensor e promotor dos
DH. Participaram deste estudo 48 cadetes, que foram
distribuídos, randomicamente, em três grupos: dois
experimentais e um de controle, cada um dos grupos
participou de um programa especíico de intervenção. Ao inal do programa, veriicam-se mudanças: 1)
no conhecimento dos DH; 2) nas concepções de DH;
3) nas representações dos DH e 4) nas representações
da polícia. Os resultados são discutidos à luz da TRS,
da teoria psicossociológica de Doise e de estudos empíricos que investigam os DH na esfera das RS.
*Pesquisa inanciada pela CAPES
tESES
Miriane da Silva Santos Barboza
Professor / Pesquisador da Universidade Estadual do Piauí
defesa: Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2013.
[email protected]
Literatura e memória entre os labirintos
da cidade: representações na poética
de Ferreira Gullar e H. dobal
A
pesquisa objetivou analisar em, Poema sujo (1976), de Ferreira
Gullar, e em A cidade substituída (1978), de H. Dobal, a relação entre homem/cidade, considerando os procedimentos
literários que particularizam cada uma das obras. A razão da escolha
dessa temática decorreu, a priori, da percepção de que na modernidade o mundo fora distendido, derrocando uma caminhada marcada
pela visão fragmentada e por formas diferentes de convivência: os ios
da rede de relações ancorados no espírito coletivo se desprenderam
gerando desenraizamento, perda de referências, individualização e esfacelamento da memória. Essa constatação gerou em nós o desejo de
valorizar a relação entre memória e cidade, face à situação itinerante,
mutante e efêmera constitutiva da vida moderna. Gullar e Dobal constroem suas urdiduras discursivas em torno da mesma temática: a memória da cidade de São Luís do Maranhão, embora sob perspectivas
diferenciadas. O olhar de Gullar é de intimidade, envolto pela muralha
de lembranças pessoais, cuja relação é de familiaridade e cumplicidade; o de Dobal é distanciado, como nômade que permeia os espaços e
reconstrói memórias do outro. Ambos os poetas desencadeiam sentidos, cujas imagens reconstroem memórias a partir de suas interações
com os espaços vividos/observados. Desse modo, podemos dizer que
os escritores constroem seus acervos de memórias, menos pela relação
que estabelecem com o mundo do que pela forma como são impactados pelas coisas que os circundam. Diante de um mundo de realidades
contraditórias, de constantes deslocamentos dos sujeitos e dos espaços,
o sujeito moderno reage de diferentes formas: como mecanismo de
proteção, imerge dentro de si, cujo estado é gerado pela “deserção [...]
de inalidades sociais”, explica Lipovetsky (2005, p. 34). O poeta do passado amparado na plenitude de seu mundo, tinha plena coniança na
caminhada, ainda que repleta de obstáculos; o homem/poeta da modernidade, ao contrário, é movido pela incerteza da trajetória. Desse
modo, a cidade retira de si o caráter eurocêntrico e se desdobra em
pluralidades, levando também o poeta a novas formas de com ela interagir. O homem/poeta da modernidade diante da totalidade perdida,
bem como da incessante movência do mundo, reage personalizandose. Ante à transformação da paisagem e da falta de solidez dos espaços,
Gullar e Dobal dão uma guinada ainda maior, suas reações resultam na
transformação da “imortalidade de uma idéia numa experiência [...]”,
já que “é o modo como se vive o momento que faz desse momento
uma experiência imortal”, diz Bauman (2008, p. 144). Os lugares sob o
campo de visão sensível dos poetas em questão encravam-se no corpo
poemático e se transformam em espaço de conservação da memória,
sem que sejam considerados completamente perdidos. A dinamicidade dos espaços leva os sujeitos sociais a reconhecer a cidade sob novas
práticas, geradoras de novos signiicados, cuja forma de compreender
os repertórios do passado não renegam as novas experiências com/na
cidade, por isso, a concepção de espaço na poética moderna exige um
olhar que agregue axiologias distintas.
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a pesquisa sobre Homossexualidade
Feminina no piauí
Ainda são poucas as pesquisas que abordam a mulher lésbica. Grupos como o
sexgen têm contribuído para dar visibilidade à diversidade sexual e de gênero.
Foto: Cássia Sousa
MATérIA
Por Cássia Sousa
Pâmela reis desenvolve pesquisa na área desde a graduação.
E
m 2012, a Sapiência lançou edição
que abordava o tema “Questão
de Gênero”. Uma das matérias se
referia às pesquisas sobre homossexualidade no Piauí, conduzidas na época pelo
pesquisador Fabiano Gontijo, doutor em
Antropologia e então professor dos Programas de Pós-Graduação em Antropologia e Políticas Públicas. Hoje o professor
Gontijo está no Pará, mas continua orientando pesquisas dessa mesma temática no
Piauí. Ele foi um dos pioneiros nesse tipo
de pesquisa no estado e, inicialmente, seus
estudos foram amplos, buscando mostrar
como se conigurava o cenário teresinense.
De acordo com Pâmela Laurentina
Sampaio Reis, mestranda do Programa de
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Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e orientanda de Gontijo, existe uma lacuna teórica nos estudos sobre gênero e sexualidade
no Piauí. “Os trabalhos que se têm ainda
estão concentrados no Sudeste. A proposta era justamente a pesquisa no Norte
e Nordeste no sentido de interiorizar os
estudos”, explica. Segundo Reis, mesmo
após os esforços de Gontijo, atualmente
a produção acadêmica do estado ainda é
embrionária. E isso se acentua em relação
a estudos mais segmentados como, por
exemplo, os que versam sobre a homossexualidade feminina.
É nesse contexto que se situa a pesquisa. “O que me motivou foi poder contribuir com esse vazio teórico que existe
sobre estudos de mulheres que amam mulheres. No início dos anos 90, os trabalhos
acadêmicos começam a aparecer na academia. Nesse recorte temporal, tínhamos,
nos movimentos sociais, estudos sobre
gays. Tinha-se a ideia de que as mulheres
estariam contempladas nesses estudos.
Mas, não estavam”, enfatiza. A pesquisa
dela intitula-se “Mulheres: Trajetórias,
Sexualidade e Sociabilidade em Camadas
Médias Urbanas em Teresina – Piauí”. A
partir de entrevistas, o trabalho apresenta
as histórias de vida dessas mulheres. De
acordo com a pesquisadora, não há uma
escolha deliberada das entrevistadas. Elas
são indicadas umas pelas outras, pertencendo, assim, à mesma rede de sociabilidade. Embora não haja também uma escolha da faixa etária, número signiicativo
das entrevistadas são mulheres que estão
na faixa dos quarenta anos. “Elas têm uma
representação social muito importante
para a cidade porque são de uma geração
do inal dos anos 90 que marcou as sociabilidades em Teresina. São mulheres que,
apesar de serem discretas, são lésbicas conhecidas, são aquelas lésbicas nas quais as
outras mais jovens se espelhavam. Até por
terem determinadas características em
seus peris como, por exemplo, o fato de
muitas delas terem morado no exterior e
depois voltado para Teresina”, comenta a
pesquisadora.
“Minha pesquisa conigura-se em
compreender a representação desse grupo
de mulheres. O que elas nos dizem sobre
a sociedade piauiense, como essa sexualidade é vivida dentro desse processo de
geração, o envelhecer. Porque o mundo
gay é muito cheio de purpurina e glamour,
mas esse cenário vem mudando”. De acor-
Ana carolina fortes airma que a escola atua como airmadora de homogeneidades.
e a Educação Não-Escolar: Experiências
da Mulher Lésbica Afrodescendente”. Ana
Carolina Fortes entrevistou três mulheres.
“Inicialmente, eu iquei bastante receosa se conseguiria convidar essas pessoas
para participar da pesquisa porque tratamos de questões ligadas mais à intimidade, histórias mais privadas da vida delas”,
comenta a pesquisadora, referindo-se às
diiculdades iniciais que teve. A primeira
das entrevistadas é ligada aos movimentos
sociais e, segundo Ana Carolina, das três é
a que mais discute as categorias propostas
na pesquisa. “Ela fala bastante sobre afrodescendência, estigma e lesbianidade”, esclarece Ana Carolina.
As categorias investigadas pela pesquisadora foram Ser Mulher Afrodescendente, Ser Lésbica, A Escola Como
Reprodutora de (Des)Igualdades e Lições
Aprendidas Fora da Sala de Aula. Ela explica que inicialmente a pesquisa seria
inteiramente realizada tomando como
cenário o ambiente escolar. “Mas percebi
que o conceito de educação que usamos
perpassa toda a nossa vida. Então, passei a
investigar experiências educacionais, não
apenas as vividas na escola, mas as vividas
na igreja, no esporte e nos movimentos
sociais”, diz a pesquisadora.
Ela explica que as pessoas que não se
sentem contempladas dentro do modelo
estabelecido nas escolas buscam outras
formas de educação em outros ambientes
com as quais possam fortalecer suas identidades. Em sua pesquisa, Ana Carolina
procura compreender como essas identidades são fortalecidas, se elas são fortalecidas e que instâncias contribuíram para o
fortalecimento delas.
Um dos aspectos ressaltados na pesquisa foi o silenciamento em relação às
opressões de ordem racial. “A segunda
mulher afasta-se disso. Ela fala da mulher
negra na terceira pessoa, não se vê como
uma. Por mais que, em alguns momentos,
ela diga que é, em sua fala, ela se coloca
distante desse grupo”, revela.
Ana Carolina ainda explica que a escola constitui-se como um local de airmação de homogeneidades, na qual existe
um modelo de cidadão bem delineado:
branco, pronto para o mercado de trabalho, heterossexual. “Ela quer produzir
uma mulher que esteja pronta para conviver com esse homem. Então, questões
como afrodescendência, homossexualidade e a própria sexualidade, de forma mais
ampla, são pouco discutidas na escola”,
inaliza.
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Foto: Cássia Sousa
do com Pâmela, garotas mais jovens, na
faixa dos 20 anos, têm maior lexibilidade
para expressar afetividades em público,
diferentemente desta geração, na faixa dos
40 anos, que são produto de outro contexto social. Mas não apenas isso: “Atrela-se
a isso, fatores econômicos e proissionais.
Muitas, por ocuparem certos cargos, preferem não se expor”, explica.
A pesquisadora entrevistou cerca de
60 mulheres ao longo dos últimos quatro anos, desde o período em que estava
na graduação e desenvolvia pesquisa no
programa de iniciação cientíica. O estudo ainda não foi concluído e, embora
a pesquisa enfoque a homossexualidade
feminina, a pesquisadora identiicou mulheres bissexuais, bem como os discursos
circulantes entre mulheres lésbicas acerca
da bissexualidade. Segundo Pâmela, a bissexualidade é vista como algo negativo em
alguns grupos de mulheres homossexuais.
Em relação aos bissexuais, ela airma
que existe uma lacuna ainda maior nos
estudos piauienses. “Estamos investindo
nisso”, garante Daiany Caroline Santos
Silva, mestre em Antropologia, referindo-se às pesquisas sobre gênero e homossexualidade. Tanto Silva quanto Reis são
integrantes do Núcleo de Pesquisa sobre
Sexualidade, Corpo e Gênero – Sexgen.
“Estamos unindo nossas experiências para
o debate sobre a invisibilidade de algumas
categorias sociais. Depois pretendemos levar nossas discussões para a comunidade
cientíica e não cientíica, além de implementar ações também. Mas um passo de
cada vez”, explica Daiany.
Outra integrante do Sexgen é a pesquisadora Ana Carolina Magalhães Fortes,
mestre em Educação. Também é advogada do grupo Matizes e foi eleita madrinha
da Parada da Diversidade de Teresina no
ano passado. Ela realizou pesquisa pelo
Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPI, abordando afrodescendência e homossexualidade feminina. “Sou
advogada militante, trabalho junto aos
movimentos sociais, especialmente o movimento LGBT, então achei que dava para
casar a minha atuação proissional com a
academia”, explica Fortes.
A pesquisa tem como título “A Escola
DICAS DE LIvrOS
identidades e diVersidade cUltUral: patrimônio arqUeolóGico e
antropolóGico do piaUí-Brasil e do alto riBatejo-portUGal.
Organizadores: Marleide Lins, Síria Borges e Luiz Oosterbeek (Instituto Terra e Memória Portugal)
Número de páginas: 236 páginas (Dupla face: 135 pag. Piauí – Brasil e 101pag. - Alto Ribatejo–Portugal)
Ano: 2013 • E-mail: [email protected] / [email protected] / [email protected]
A obra versa sobre o patrimônio arqueológico e antropológico do Piauí-Brasil e do Alto Ribatejo-Portugal. Apresenta feição
gráica de dupla face, dividindo e/ou unindo as duas regiões; contempla artigos cientíicos de renomados pesquisadores brasileiros e portugueses, além de ensaios fotográicos que ilustram a referida temática. No mundo contemporâneo, a investigação
arqueológica é considerada um instrumento essencial para a airmação e reconhecimento da diversidade das identidades culturais dos grupos humanos.
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DICAS DE LIvrOS
política, cUltUra
e mercado - dUas
Visões - Brasil e
espanHa
Autor: Ana Regina Rego
Número de páginas: 813
Ano: 2013
[email protected]
O livro é relexo dos cinco primeiros capítulos da tese de doutorado defendida pela autora em
2010 e que teve como título “Comunicação Corporativa, Marketing e Política Cultural”. Nele, Ana
Regina Rêgo apresenta as políticas
públicas de cultura dos dois países
a partir de uma visão dos Ministérios de Cultura, tendo como foco
central as leis que procuram, através da isenção iscal, incentivar as
empresas, sejam elas privadas ou
públicas, a investir no ambiente
cultural. Por outro lado, o livro
apresenta ainda um panorama do
mercado cultural nos países mencionados.
ÁFrica e Brasil,
diÁloGos possíVeis:
EstEtIzAção E mItIFICAção
dE ÁFrICA nAs EstrAtéGIAs
IdEntItÁrIAs E InsErção
PoLítICA do moVImEnto
nEGro
Autor: Artemisa Odila Candé Monteiro
Número de páginas: 258
Ano: 2012
[email protected]
O objetivo deste livro é analisar
a construção da identi¬dade negra
teresinense e suas relações com
o poder político local. A autora,
também se interessa por entender
o processo de representação da
África em relação ao discurso da
airmação identitária a partir da
estética corporal. A pesquisa tentou compreender por que se torna
necessária a estetização do corpo
a partir de uma imagem positiva
da África e por que o movimento
negro em Teresina reivindica uma
estética africana para a sua repre¬sentação política.
o Bispo
de todos os
tempos
Autor: Sônia Maria dos Santos
Carvalho
Número de páginas: 246
Ano: 2013
[email protected]
Quem foi Dom Avelar Brandão Vilela para as pessoas que
com ele conviveram, para a imprensa e para ele próprio? O livro
trata desta questão e constitui texto completo da dissertação defendida pela autora no programa de
mestrado em História do Brasil
da Universidade Federal do Piauí
(UFPI). A pesquisa aborda a vida
pessoal, religiosa e política de um
dos personagens mais importantes da história piauiense e brasileira, que chegou ao Piauí na década
de 1950 e mudou a educação, a
política, a comunicação, o catolicismo e a assistência social em
nosso estado.
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Eventos apoiados pela Fapepi
11º SIMPÓSIO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO QUÍMICA
I SIMPÓSIO REGIONAL DA DIVERSIDADE BIOLÓGICA
IV ENCONTRO ACADÊMICO DE LETRAS - ENAL - 24 A 27 DE SETEMBRO DE 2013
I CONGRESSO REGIONAL DE ESTUDANTES DE QUÍMICA
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PARCEIROS:
FUNDAÇÃO DE AMPARO A PESQUISA DO ESTADO DO PIAUÍ | FAPEPI
Av. Odilon Araújo, 372, Piçarra • CEP: 64017-280 • Teresina-PI
CNPJ: 00.422.744.0001-02 • Contato:(86) 3216-6090 / Fax: (86) 3216-6092
Horário das 7:30h às 13:30h, de segunda à sexta
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