II Simpósio de Ciências Biológicas Universidade Católica de Pernambuco Recife - Pernambuco 23 a 27 de agosto de 2010 17 - SITUAÇÃO ATUAL DA ENDEMIA DA HANSENÍASE NO ESTADO DE SERGIPE Bruna Michelle Guimarães Silva1; Katia Oliveira Aquino 2; Isamar Dantas de Oliveira3 1Graduanda pela Universidade Tiradentes-SE [email protected], 3 da Universidade Tiradentes-SE, Professora Mestre da Universidade Tiradentes SE. Tiradentes-SE 2Graduanda RESUMO A Hanseníase é uma doença infecto-contagiosa, também conhecida como lepra, que traz um estigma de descriminação dos pacientes por séculos. Desde 1997 ela é tratada como uma das doenças de notificação compulsória pelo Ministério da Saúde, o qual mantém registro dos dados de todos os estados da federação. Este trabalho objetivou fazer um levantamento bibliográfico sobre a situação atual epidemiológica da Hanseníase no estado de Sergipe. A Hanseníase é na atualidade uma doença de alta prevalência, entretanto apresentou um significativo decréscimo nos índices médios da doença no país a partir do diagnóstico precoce e do tratamento adequado com poliquimioterapia, poliquimioterapia mas tal doença ainda é um grande problema de saúde pública em algumas regiões por motivos socioculturais, políticos, econômicos e ambientais. PALAVRAS-CHAVE: Hanseníase, endemia, Sergipe. 1 INTRODUÇÃO 1. A Hanseníase é uma doença causada pelo Mycobacterium leprae que foi descrito por Amauer Gerhard Henrik Hansen, em 1873, como a primeira bactéria patógena para o Homem (SAMPAIO, 2001). A doença era conhecida como Lepra e as pessoas infectadas eram discriminadas e obrigadas a viver fora da sociedade, além de sofrer as conseqüências da própria doença. Na época sem cura e sem tratamento, a Lepra causava deformidades (MARZLIAK et al, 2008). 168 III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas É uma doença milenar infecto-contagiosa, de evolução prolongada, com grande potencial incapacitante podendo ter períodos de agudização, incapacitante, agudização constituindo-se o que se chama reação Hansênica ou Estados Reacionais, que, se não tratada a tempo, pode levar a graves deformidades físicas, e ao estigma social. O Brasil é o segundo país com maior número de casos de Hanseníase do mundo, entre os 121 países endêmicos, perdendo apenas para a Índia (ARAÚJO, 2002; MARZLIAK et al, 2008). E Em S i Sergipe, segundo d Sinan Si (2010) a prevalência (2010), lê i média édi é de d 4, 4 4, 4 com grande d possibilidade de que este valor esteja subestimado, devido à sub-notificação que ocorre em alguns municípios, uma vez que os municípios que têm unidades de referência resolutivas apresentam prevalência mais elevada, como Aracaju que, segundo dados fornecidos pela Secretaria de Estado da Saúde, totalizados durante o ano de 2000, apresentou 6,4 casos para cada 10 000 habitantes, portanto uma prevalência alta. Assim, esse estudo teve como objetivo um levantamento retrospectivo histórico, conceitual, epidemiológico de representação social local da hanseníase, doença considerada endêmica em Sergipe. 2. REVISÃO DA LITERATURA A Hanseníase é uma enfermidade tão antiga quanto à humanidade, os primeiros indícios dessa doença datam de 1500 a.C. na Índia. Contudo, na China referências sobre essa doença são encontradas no tratado médico chinês mais antigo, o Nei Ching Su Wen, no qual há descrições de portadores da doença por volta de 2600 a.C. a C À disseminação da hanseníase pela Europa ocorreu depois da queda do Império Romano e início da Idade Média, atingindo seu máximo, naquele continente, entre os anos 1000 d.C. que coincide com o período das Cruzadas (GUIDELLA, 2000). O Mycobacterium leprae é o agente etiológico da hanseníase, doença infecto-contagiosa crônica ô i t transmitida itid principalmente i i l t de d pessoa para pessoa através t é do d convívio í i com doentes de formas contagiantes, conhecido como bacilo da Hansen, parasita intracelular 169 III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas obrigatório de macrófagos, “com alta infectividade e baixa patogenicidade” que ocasiona uma doença de evolução lenta e correlacionada ao sistema imunológico (MARTELLI, 2002;QUINTAS et al 2009 ). A enfermidade apresenta características clínicas polimórficas, em que muitas vezes manifesta a destruição de nervos periféricos possíveis de ocasionar incapacidades físicas irreversíveis que geram sofrimento relacionado à dor e aos impactos sociais e psicológicos (CHACHA et al, 2009). A principal fonte de infecção é o homem, através de formas multibacilares (formas Virchowiana – HV e dimorfa – HD), que são formas contagiosas da doença, uma vez que estas possuem considerável carga bacilar na derme e mucosas nasais. Existem outras fontes possíveis de disseminação dos bacilos, como o leite materno, a urina e fezes, observa-se observa se também que indivíduos iódicos, iódicos imunodepressores, imunodepressores corticóides em estado de tensão emocional são mais susceptíveis à infecção (ABREU et al, 2006). A principal via de eliminação dos bacilos pelo doente de hanseníase e a mais provável via de entrada desses no organismo sadio, são as vias aéreas superiores que compreendem o trato respiratório, mucosa nasal e orofaríngea (SARNO, 2003). De acordo com Ferreira, Al Alvarez (2005) a hanseníase (2005), h í pode d atingir ti i pessoas de d todas t d as idades, id d d ambos de b os sexos. No entanto, o acometimento de menores de 15 anos constitui um indicador de alta endemicidade da doença. Segundo o Gonçalves et al (2009), existem evidências de associações entre idade, sexo, forma clínica, número de nervos acometidos no início do tratamento, índice baciloscópico e tratamento instituído na determinação das chances de ocorrência de incapacidades. A Hanseníase é uma patologia muito prevalente em países tropicais constituindo um importante problema de saúde pública não só no Brasil, mas também em vários países do mundo. Novos casos de hanseníase no mundo foram notificados pela Secretária de Segurança e Saúde e constataram que existem 249.007, em 121 países, em 2008, dos quais 134.184 (54%) foram detectados na Índia, o país com o maior número de casos novos, seguido do Brasil, com 39.047 (15%), e da Indonésia, com 17.441 (7%). 170 III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas Apesar de todo empenho em sua eliminação, o Brasil continua sendo o segundo país em número de casos de hanseníase no mundo, apresentando aproximadamente 70 mil casos registrados e a cada ano detecta-se um número próximo a 40 mil novos doentes, com uma maior comutação de casos entre as populações menos favorecidas (PIMENTEL et al, 2004). Em números absolutos, o Brasil teve 51.900 casos novos da doença em 2003, 50.565 em 2004, 48.448 em 2005, 43.642 em 2006, 40.126 em 2007 e 39.047 em 2008. Dados preliminares mostram que já foram notificados 32.022 casos novos, de acordo com dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) (Ministério da Saúde, 2009). A doença atinge, preferencialmente, as populações sem infra – estrutura urbanística carente de alimentação e habitação adequada. Nos Países subdesenvolvidos essa doença é um sério problema devido à numerosa parcela da população em risco de contraí contraí-la la, além do número de pacientes infectados com possibilidades de apresentar deficiência física como conseqüência do diagnóstico tardio. Existem sugestões de que a urbanização e o crescimento acelerados repercutem na dinâmica dos problemas de saúde, e podem representar chaves explicativas da reprodução e distribuição da endemia hansênica (IMBIRIBA ett all ,2009; 2009 SANTOS, SANTOS 2002). 2002) Devido à grande prevalência da hanseníase no Brasil, o Ministério da Saúde possui um programa de controle de hanseníase, tendo como meta eliminar a doença como problema de saúde pública, ou seja, reduzir os coeficientes de prudência aos níveis inferiores de um paciente em cada 10.000 habitantes (OPROMOLLA et al, 2005). A carga da doença hansênica não se distribui de modo homogêneo entre as macrorregiões geopolíticas e unidades federativas; nelas, observam-se importantes variações na detecção: de 0,22/10 mil no Rio Grande do Sul a 12,02/10 mil no Mato Grosso. Nas regiões Norte e CentroOeste, a hanseníase apresenta características de hiperendemicidade, com taxas de detecção em torno de 10/10 mil habitantes (IMBIRIBA et al, 2009). 171 III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas O Mycobacterium leprae atinge em média 5 milhões de pessoas em todo o mundo, com maior frequência nos países em desenvolvimento da Ásia, Ásia África, África América Latina e Ilhas Pacíficas. Nos últimos 20 anos, muitas políticas públicas foram implementadas em todo o mundo na tentativa de conter a doença, no Brasil colocou-se em prática uma política de descentralização da atenção à saúde com o Programa de Saúde da Família e o Programa de Agentes Comunitários restaurando a assistência básica com maior qualidade (RAMOS JR ett al,l 2006). 2006) Em 2005, a taxa de detecção da hanseníase ficou em 2,09 casos para cada grupo de 10 mil habitantes. Em 2004 a taxa era de 2,76 por 10 mil, ou seja, 38,3 mil novas notificações contra 49,3 mil no ano anterior. Mostrando que o registro de novos casos de hanseníase sofreu queda de 24,27%. Com esses indicadores, é possível que a doença seja eliminada como problema de saúde pública até o final do ano de 2006, segundo avaliação da Organização Pan-Americana de Saúde (Brasil, 2006). Em Sergipe, segundo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), o número de casos notificados durante o ano de 2008 entre a faixa etária de 0-14 anos, foi de 54 casos no município de Aracaju, 44 casos em Nossa Senhora do Socorro e 22 casos em São Cristóvão, porém entre a faixa etária de 15 anos a mais, a hanseníase prevaleceu em Aracaju (615 casos), Itabaiana (295 casos) e Nossa Senhora do Socorro (122 casos) (Anexo B). Estes mesmos dados referentes ao ano de 2009, entre a faixa etária de 0-14 anos, destacou-se destacou se os municípios de Aracaju (44 casos), casos) Itabaiana (37 casos) e Campo do Brito (20 casos), nas demais idades as cidades com as mais altas taxas de pessoas acometidas pela doença foi em Aracaju (436 casos), Indiaroba (243 casos) e Lagarto (160 casos) (Anexo C). 172 III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas 4. CONCLUSÃO A importância do estudo desta evolução histórica, discorrida desde os primórdios da humanidade até os dias atuais, encontra-se no fato de possibilitar a divulgação de conhecimentos acerca da hanseníase e dos fatores contribuintes para o seu surgimento e controle, contribuindo, desta maneira, com a epidemiologia. A partir desta compreensão, é possível prestar tratamento integral ao hanseniano, tanto na esfera biológica, quanto na psicossocial. 5. REFERÊNCIAS ABREU, M.A.M.M. et al. A mucosa oral na hanseníase: Um estudo clinico e histopatológico. 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IMBIRIBA et al .Hanseníase Hanseníase em populações indígenas do Amazonas, Amazonas Brasil: um estudo epidemiológico nos municípios de Autazes, Eirunepé e São Gabriel da Cachoeira (2000 a 2005). Cadernos de Saúde Pública. vol.43,n. 4 São Paulo ago, 2009. MARTELLI, C. et al. Endemias e epidemias brasileiras, desafios e perspectivas de investigação científica: Hanseníase. Revista Brasileira de Epidemiologia. vol 5, n. 3, 2002. MARZILAK M.L.C. et al. Breve histórico sobre os rumos do controle da Hanseníase no Brasil e no Estado de São Paulo. Hansen Int. 33(2). Suppl. 1 p. 39-44, 2008. OPROMOLLA, P. A. et al. Análise Espacial da Hanseníase no Estado de São Paulo. Revista Brasileira de Epidemiologia, 8(4): 35-64, 2005. 173 III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas PIMENTEL et al,Neurite silenciosa na hanseníase multibacilar avaliada através da evolução das incapacidades antes, durante e após a poliquimioterapia. 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([email protected]). 2Docente Pesquisador do Departamento de Botânica, UFPE RESUMO A ecologia reprodutiva é importante na avaliação do potencial adaptativo de plantas que crescem em ambientes urbanos ou espécies p exóticas em p processo de naturalização. ç Nosso objetivo foi investigar a ecologia reprodutiva de O. basilicum em área urbana, testando as hipóteses; (i) as cargas polínicas nas anteras apresentam maior redução nos 174 III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas horários iniciais da antese e (ii) o número de grãos de pólen depositados nos estigmas aumenta ao longo da antese. As flores de O. basilicum tem atributos melitófilos, sendo que a dicogamia não ocorre na espécie. Os visitantes florais são A. mellifera, T. spinipes (Apidae), Augochlora sp., Augochlorella sp. e Augochloropsis sp. (Halictidae), e embora todas tenham sido consideradas polinizadoras, suas freqüências diferem entre si. Suas atividades de forrageamento fomentam a deposição de pólen nos estigmas logo nos primeiros horários. Consequentemente houve redução no número de grãos de pólen nos horários de maior freqüência de abelhas. A elevada razão óvulo-semente dos frutos produzidos naturalmente (0.875) corrobora o potencial adaptativo da espécie, ao menos em nível de polinização. Entretanto, estudos complementares de germinação e estabelecimento precisam ser efetuados para verificar se a germinabilidade da progênie formada naturalmente p pode g garantir a naturalização ç de O. basilicum em ambientes urbanos. Palavras-chave: melitofilia, naturalização, polinização. 1. INTRODUÇÃO A ecologia reprodutiva investiga às interações entre plantas e seus vetores de pólen atuando em diversas escalas, tanto em nível de população, quanto de comunidade, e na interação da flor ou apenas das partes reprodutivas com os agentes polinizadores (Faegri & Pijl, 1979; Endress, 1994; Proctor et al., 1996). Tais estudos são fundamentais no entendimento da história natural das plantas e polinizadores, subsidiando pesquisas sobre evolução, manejo e conservação de ecossistemas naturais (Faegri & Pijl, 1979; Prance, 1990) e artificiais, como os agriculturais e urbanos (Kerr et al., 2001; Stout, 2007; Figueiredo et al., 2008). A ecologia reprodutiva é particularmente importante na avaliação do potencial adaptativo das plantas que crescem em ambientes urbanos ou exóticas em processo de naturalização (Stout, 2007; Figueiredo et al., 2008). Lamiaceae é uma família cosmopolita com cerca de 300 gêneros e 7500 espécies, composta por plantas de interesse econômico, amplamente cultivadas (Albuquerque & 175 III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas Almeida, 2002). O gênero Ocimum possui cerca de 35 spp. (Albuquerque & Almeida, 2002), cujos atributos florais, como corola curto-tubulosa, emissão de odor adocicado, antese diurna e guias de néctar são considerados melitófilos (Faegri & Pijl, 1979; Endress, 1994; Mačukanović-Jocić et al., 2007). Em O. canum e O. selloi cultivados, ocorre visita freqüente da abelha eussocial amplamente polilética Apis mellifera (Darrah, 1974 apud Silva et al., 2008; Silva et al., 2008). Em plantas melitófilas, as visitas freqüentes de abelhas as suas flores aumentam a deposição de pólen nos estigmas, assim como diminuem a disponibilidade de pólen das anteras ao longo da antese (Goodell & Thomson, 2007; Ellis & Delaplane, 2009). Como conseqüência do fluxo polínico promovido por estes insetos, há um elevado sucesso reprodutivo nas plantas, traduzido pelo aumento no número de frutos produzidos, assim como das sementes p por fruto ((Roubik,, 2000;; Kerr et al.,, 2001). ) Ocimum basilicum é uma das espécies mais difundidas de Lamiaceae, fazendo parte da flora alóctone de várias partes do mundo (Elorza et al., 2009). Contudo, sua ecologia reprodutiva ainda não foi investigada em campo (Mačukanović-Jocić et al., 2007). Nosso objetivo foi investigar a biologia floral, a razão óvulo-semente, os visitantes florais, a disponibilidade polínica e a deposição de pólen no estigma ao longo da ântese de O. O basilicum em ecossistema urbano no Nordeste do Brasil. Além disso, foram testadas as hipóteses; (i) as cargas polínicas nas anteras apresentam maior redução nos horários iniciais da ântese e (ii) o número de grãos de pólen depositados nos estigmas aumenta ao longo da ântese. 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Área de estudo e descrição da espécie O estudo foi desenvolvido no jardim experimental do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) (08°03’22,57”S; 34°56’51,98”O). O clima regional é tropical costeiro, quente e úmido, com temperatura médias superiores a 23°C. O Manjericão, Ocimum basilicum, é um arbusto aromático com cerca de 1 m de altura que 176 III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas tem origem asiática, sendo exótico no Brasil. É amplamente cultivado para uso como condimento fino em culinária (Albuquerque & Almeida, 2002) e pasto apícola (Mačukanović-Jocić et al., 2007). 2.2 Coleta e análise dos dados Foram registradas informações sobre cor das flores, emissão ou não de odor e localização de osmóforos, horário de início e duração da antese, período de disponibilidade de pólen, a partir de 10 indivíduos de O. basilicum. A receptividade estigmática foi testada no campo com peróxido de hidrogênio (Galen & Plowright, 1987). O número de grãos de pólen por antera foi estimado utilizando-se microscópio óptico e câmara de Neubauer (Maêda, 1985). A verificação dos locais de emissão de odor foi feita com vermelho neutro ((Dafni et al.,, 2005). ) As observações foram feitas em plantas focais, sendo a unidade de observação assumida a inflorescência. Durante as sessões de observação, conduzidas entre 9:30h e 16:30h, foram registrados o tipo, o período e o comportamento dos visitantes florais, bem como suas interações. Os insetos foram capturados com auxílio de rede entomológica e montados à seco para identificação. identificação Para verificar a razão óvulo-semente (Dafni et al., 2005) foi feita contagem dos óvulos (N = 10 flores) e sementes (N = 10 frutos) com o auxílio de estereomicroscópio, papel milimetrado e contador manual. A carga e disponibilidade de pólen foi verificada a partir da coleta e análise de 10 flores (N = 10 indivíduos) por horário, após o início da antese. Posteriormente, os grãos de pólen foram estimados em câmara de Neubauer (Maêda, 1985) ou contados sob estereomicroscópio. Para a contagem dos grãos de pólen depositados no estigma, foram coletadas 10 flores por horário. Os estigmas foram coletados e levados ao laboratório, onde foram corados, montados em lâminas e, sob microscópio óptico, feita a contagem dos grãos de pólen depositados. Para testar as hipóteses (i) e (ii) foi utilizado o Teste de Kruskal-Wallis com Teste de Dunn a posteriori e as análises efetuadas com o auxílio do programa STATISTICA 7.0. (STATSOFT, 2001). 177 III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO As flores de O. basilicum apresentam simetria bilateral, corola branca com máculas rubras nas bordas, sendo que a pétala inferior apresenta maiores dimensões que as demais, sendo reflexa, formando uma plataforma de pouso para os insetos polinizadores. As flores emitem intenso odor semelhante ao do composto volátil linalool. Tais características florais de a enquadram na síndrome de melitofilia (sensu Faegri & Pijl, 1979). Estes atributos também são compartilhados por outras espécies do gênero como O. canum e O. selloi (Darrah, 1974 apud Silva et al., 2008; Silva et al. 2008) e por outras Lamiaceae como Plectranthus petiolaris, P. laxiflorus, P. calycinus, Pycnostachys urticifolia da África, todas polinizadas por abelhas (Potgieter et al., 2009). As flores tem antese diurna que se inicia por volta das 10:30h, indo até cerca de 16:30h, sendo a emissão de odor p perceptível p durante todo o p período. As áreas de concentração ç de osmóforos foram às extremidades e a porção mediana da corola e as anteras. As anteras começam a liberar pólen logo no início da ântese e o estigma já se encontra receptivo neste período, portanto não ocorre dicogamia na espécie. Ichimura & Noguchi (2004 apud Mačukanović-Jocić et al., 2008) comentam que O. basilicum é protândrica, muito embora tenhamos observado reação do estigma logo após o início da antese. antese Os visitantes florais mais freqüentes foram Apis mellifera, Trigona spinipes (Apidae), Augochlora sp., Augochlorella sp. e Augochloropsis sp. (Halictidae), sendo que Trigona spinipes foi considerada a mais freqüente. As freqüências de visitas entre as espécies apresentaram diferença entre si (H = 42,20; gl = 5; p < 0,001) com acentuada redução no final da tarde (16:30-1700). Todas as abelhas registradas foram consideradas polinizadoras, tendo sido percebida assídua deposição de pólen nos estigmas de O. basilicum, como conseqüência dos deslocamentos sobre as flores durante as atividades de forrageamento de pólen. Houve maior redução no número de grãos de pólen disponíveis nas anteras nos horários de maior freqüência de abelhas (H = 40,04; gl = 6; p < 0,001). De fato, a sincronia entre a disponibilidade de recursos e os horários de freqüência de polinizadores as flores tem função adaptativa para o aumento do sucesso reprodutivo de plantas (Faegri & Pij, 1979; Proctor et al., 1996). 178 III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas Os estigmas de O. basilicum já estavam sobrecarregados de pólen depositado pelas abelhas a partir dos primeiros horários de visitas, não tendo diferenças no número de grãos depositados entre os horários (H = 5,89; gl = 6; p = 0,4349). Contudo, isso pode ser explicado pelo fato dos estigmas possuírem um limite físico para comportar os grãos de pólen que já é preenchido a partir das primeiras visitas das abelhas. Robertson & Lloyd (1993) encontraram altas taxas de deposição de grãos nos estigmas das flores de Myosotis colensoi (Boraginaceae) nas primeiras horas de antese, assim como em O. basilicum. Muito embora, os mesmos autores tenham verificado elevadas taxas de remoção de pólen nos horários subseqüentes. A elevada razão óvulo-semente verificada nos frutos de O. basilicum produzidos naturalmente (0.875) corrobora seu potencial adaptativo aos polinizadores nativos. Darrah ((1980 apud p Almeida et al.,, 2004)) afirma q que a abelha exótica Apis p mellifera é o polinizador mais freqüente de Ocimum spp. cultivadas. No entanto, nossos resultados mostraram que a abelha nativa T. spinipes foi o polinizador mais freqüente seguido das Halictidae spp. na maioria dos horários. Para O. gratissimum, Gonçalves et al (2008) também encontrou T. spinipes como o polinizador mais freqüente, embora para O. canum, Silva et al. al (2008) constatou que A. A mellifera e Augochlora sp. sp foram os principais polinizadores. Estas informações sugerem que abelhas nativas podem efetivamente se tornar polinizadores de plantas exóticas cultivadas (Roubik, 2000), facilitando sua naturalização em áreas urbanas (Figueiredo et al., 2008). Figura 1. Número de grãos de pólen por flor e freqüência de visitantes florais em Ocimum basilicum ao longo da antese. 179 III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas Figura 2. Número de médio de grãos de pólen no estigma e freqüência q dos visitantes florais de Ocimum basilicum ao longo g da antese. 4. CONCLUSÃO A elevada razão óvulo-semente na formação natural de frutos, conseqüência da massiva quantidade de grãos de pólen depositado nos estigmas, principalmente nas primeiras horas da antese. antese Este fato provavelmente se deve a intensa atividade de forrageamento das abelhas nativas que promovem elevado sucesso reprodutivo de O. basilicum. As informações disponíveis evidenciam que ao menos em nível de polinização, O. basilicum parece estar em processo de naturalização, pois o estabelecimento de processos ecológicos-chave a partir da interação com polinizadores nativos ocorre. Entretanto, complementares sobre germinação e estabelecimento das plântulas são necessários para se verificar se a germinabilidade da progênie proveniente da formação natural pode garantir a naturalização das populações em ambientes urbanos. 5. REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, U.P.; ALMEIDA, C.F.C.B.R. Diversidade da família Labiatae em Pernambuco. In: TABARELLI, M.; SILVA, J.M.C. 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Biotemas, v.21, n.2, p.33-40, 2008. 182 19 - ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DO BIOSSURFACTANTE DE Candida sphaerica OBTIDO EM MEIO DE BAIXO CUSTO Sobrinho, H. B. S.1,3; Sarubbo, L.A.3 ; Porto, A. L.2 1Doutorando do CCB, Universidade Federal de Pernambuco, Recife-PE, Brasil. 2CCB, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE, Brasil – 3CCT, Universidade Católica de Pernambuco, Recife, PE, Brasil. RESUMO Os surfactantes são compostos anfipáticos com aplicação em diversos setores industriais em função de suas propriedades emulsificantes e tensoativas. A maioria dos surfactantes disponíveis é sintetizada a partir de derivados de petróleo; entretanto, as novas legislações de controle ambiental têm levado à procura por surfactantes de origem microbiológica produzidos por bactérias, fungos e leveduras. Os biossurfactantes apresentam muitas vantagens frente aos surfactantes sintéticos como biodegrabilidade, baixa toxicidade e podem ser produzidos a partir de fontes renováveis. renováveis Neste trabalho foi realizado o estudo da atividade antimicrobiana do biossurfactante isolado de Candida sphaerica cultivada em dois resíduos industriais, utilizando cepas das bactérias Staphylococus aureus, Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa, Enterococcus fecalis, Bacillus subtilis e Klebsiella pneumoniae e das leveduras C. sphaerica, C. lipolytica e C. glabrata. Os resultados lt d obtidos btid d demonstraram t que o biossurfactante bi f t t não ã inibiu i ibi o crescimento i t dos d microrganismos testados, confirmando seu potencial de aplicação como coadjuvante nos processos de biorremediação de águas e solos contaminados por petróleo e derivados. Palavras-chave: Biossurfactante; atividade antimicrobiana; resíduo industrial 183 III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas 1. INTRODUÇÃO Os surfactantes são compostos químicos constituídos por moléculas anfipáticas contendo porções hidrofílicas e hidrofóbicas que se particionam na interface entre fases fluidas que possuem diferentes graus de polaridade e pontes de hidrogênio, como interfaces óleo/água ou ar/água (BANAT, 1995). Estas características permitem aos surfactantes reduzir a tensão superficial e interfacial e formar microemulsões (RON, ROSENBERG, 2001). A grande d maioria i i dos d surfactantes f t t di disponíveis í i comercialmente i l t é sintetizada i t ti d a partir ti de d derivados de petróleo; entretanto, as novas legislações de controle ambiental têm levado à procura por surfactantes naturais em substituição aos produtos existentes, destacando-se os surfactantes de origem microbiológica produzidos por microrganismos: bactérias e leveduras (MAKKAR; CAMEOTRA, 2002). Os biossurfactantes exibem várias propriedades, destacando-se a capacidade emulsificante e solubilizante, que os tornam adequados a aplicações ambientais e químicas, especialmente nas indústrias petroquímica, alimentícia e de cosméticos. Alguns biossurfactantes apresentam produzidos espécies por de atividade Bacillus. antimicrobiana, A surfactina, como um os dos biossurfactantes mais conhecidos biossurfactantes e a lutrina, um lipopeptídeo produzido por B. subtilis são conhecidos por suas atividades antifúngicas (PASTORE ; NITSCHKE, 2002). Os biossurfactantes têm recebido crescente interesse nas últimas décadas pelas vantagens frente aos similares sintéticos como biodegrabilidade, baixa toxicidade, produção a partir de fontes renováveis e funcionalidade sob condições extremas de pH e temperatura (SING et al., 2007), embora ainda não sejam competitivos frente aos sintéticos em virtude dos altos custos de produção. Por outro lado, processo fermentativo possui a chave para reduzir esses custos, com a utilização de substratos alternativos que representam cerca de 30 % do custo total. O resíduos Os íd i d t i i surgem como substratos industriais b t t d baixo de b i custo t bastante b t t promissores i (MUKHERJEE et al., 2006). Em geral, substratos agroindustriais que contenham altos 184 III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas níveis de carboidratos ou de lipídeos suprem a necessidade de fonte de carbono para a produção de biossurfactantes (SARUBBO et al., 1999; 2001; 2006; 2007; MERCADE; MANRESA, 1994) Nesse contexto, o biossurfactante produzido por C. sphaerica a partir da utilização de dois resíduos industriais de baixo custo foi testado como agente antimicrobiano contra diferentes microrganismos. 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Microrganismo A levedura Candida sphaerica foi utilizada como produtora do biossurfactante. A cultura foi mantida a 5 °C em meio YMA (Yeast Mold Ágar). 2.2 Preparação do inoculo O inóculo foi padronizado transferindo-se a Candida sphaerica para um tubo contendo o meio YMA, a fim de se obter uma cultura jovem. Em seguida, a amostra foi transferida para frascos contendo 50mL do meio YMB (Yeast Mold Broth) e incubados sob agitação de 150 150rpm a 27°C durante d t 24 horas. h A ó este Após t período, í d foram f realizadas li d dil i õ até diluições té se obter a concentração final de células desejadas (104 células/mL). 2.3 Substratos Dois resíduos industriais foram utilizados como substratos de baixo custo para a produção do biossurfactante: o resíduo de refinaria de óleo de soja, gentilmente cedido pela ASA Ltda. (PE-Brasil) e a milhocina, resíduo da fabricação de produtos à base de milho, gentilmente cedido pela Corn Products S.A. (PE-Brasil). 3.4 Meio de produção O biossurfactante foi produzido em meio formulado com água destilada suplementada com 5 % do resíduo de refinaria de óleo vegetal de soja e 2,5 % de milhocina. Os componentes 185 III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas foram dissolvidos, o pH ajustado para 5,3 e o meio esterilizado em autoclave a 121°C por 20 minutos. 2.5 Isolamento do biossurfactante Após 144 horas de cultivo da C. sphaerica, o líquido metabólico foi centrifugado a 5000 rpm durante 20 minutos para retirada das células e submetido ao processo de extração. O pH foi ajustado para 2 com solução de HCl 6,0 M e precipitado com 2 volumes de metanol. Após repouso durante 24 horas a -15°C, as amostras foram centrifugadas a 5.000 rpm por 30 minutos, lavadas com metanol gelado por duas vezes e secas em estufa a 37 °C por 48 horas, até secagem, e mantidas em dessecador até peso constante, sendo o rendimento em produto isolado, calculado em g/L. 2. 6 Atividade antimicrobiana O estudo da atividade antimicrobiana foi realizado com amostras das bactérias Staphylococus aureus, Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa, Enterococcus fecalis, Bacillus subtilis e Klebsiella pneumoniae e das leveduras Candida sphaerica, C. glabrata e C lipolytica, C. li l ti pelo l método ét d da d difusão dif ã em Agar A em meio i de d cultura lt A Agar M ll Hi t Muller-Hinton (Oxoid) (BARRY, THORNSBERRY, 1991). A suspensão bacteriana foi obtida a partir de uma cultura em caldo (24 h/ 37 ºC), diluída em solução até turvação correspondente a escala 0,5 de Mac Farland e levada para leitura em espectrofotômetro para uma concentração final de bactérias de 108 UFC/ml. As suspensões padronizadas (2 mL) contendo o microrganismo foram então depositadas em placas de Petri (90 mm de diâmetro) contendo o meio Muller-Hinton. O "screening" preliminar para a verificação da susceptibilidade bacteriana aos extratos foi realizado utilizando-se discos impregnados com 20 mL do extrato do biossurfactante nas concentrações de 25%, 50% e 75% a partir da CMC (0,07%). Alíquotas de 20 mL do extrato do surfactante diluído foram aplicados em discos de papel de filtro (10 milímetros de diâmetro, Whatman Nº 3) e colocados na 186 III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas superfície do meio sólido. Cada disco foi, então, colocado nas placas de Petri e incubados a 37ºC por 24 h. No final do tempo de incubação, o diâmetro do crescimento microbiano foi medido em milímetros usando uma régua com uma pinça deslizante. As leituras dos halos de inibição foram realizadas por 48 h. Todas as análises foram feitas em triplicatas. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Alguns biossurfactantes apresentam atividade antimicrobiana, como os raminolipídeos produzidos por P. aeruginosa e os lipopeptídeos de B. subtilis (LANG and PHILIP, 1998; BANAT; MAKKAR; CAMEOTRA, 2000). O biossurfactante de C. sphaerica não demonstrou atividade antimicrobiana contra as três leveduras do gênero Candida testadas e contra as bactérias Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa, Enterococcus fecalis e Bacillus subtilis nas concentrações testadas nesse trabalho. Por outro lado, o biossurfactante apresentou atividade bacteriostática contra as bactérias Staphylococcus aureus e Klebsiella pneumoniae. A bactéria K. pneumoniae não apresentou halo de crescimento nas diluições a 50% e 75%, embora uma pequena atividade bacteriostática tenha sido observada na presença da solução a 25% do biossurfactante. Nos testes com o Staphylococcus aureus não foram observados halos de inibição no crescimento bacteriano, embora tenha ocorrido alguma atividade bacteriostática quando a bactéria foi submetida às soluções de 25%, 50% e 75% do biossurfactante. Alguns dos resultados obtidos nos testes de atividade antimicrobiana do biossurfactante são ilustrados nas Figuras 01 e 02. Figura 1. Atividade bacterostática do biossurfactante isolado de C. sphaerica UCP0995 contra as bactérias Klebsiella pneumoniae (C5) e Staphylococcus aureus (C6 ) em meio sólido Agar Muller Hinton. 187 III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas Resultados encontrados por BUENO (2008), para o biossurfactante de Bacillus sp. cultivado em sacarose como fonte de carbono demonstraram ausência de halos de inibição, indicando que não houve atividade antibacteriana e antifúngica sobre os organismos testados, mas sim atividade bacteriostática. Os resultados encontrados com o biossurfactante produzido pela C. sphaerica são importantes, uma vez que o biossurfactante também não apresentou atividade antifúngica e antibacteriana, podendo ser aplicado em processos de biorremediação em solos e águas contaminados, não afetando a biota do ambiente. Figura 2. Atividade antimicrobiana do biossurfactante isolado de C. sphaerica UCP0995 contra as leveduras C. lipolytica, C. sphaerica e C. glabrata em meio YMA 4. CONCLUSÃO O Biossurfactante produzido pela levedura Candida sphaerica em meio de baixo custo não apresentou efeito tóxico contra os microrganismos testados, demonstrando seu potencial biotecnológico para aplicação em processos de biorremediação em solos e águas contaminados. 188 III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas 5. REFERÊNCIAS BANNAT, I. M.; MAKKAR R. S.; CAMEOTRA, S. S. Potential Applications of Microbial surfactants. Applud Microbiology and Biotechnology. v. 53, p. 495 495-508, 508, 2000. BANAT, I. M. Characterization of biosurfactants and their use in pollution removal: state of the art (review). Acta Biotechnology. v. 15, n.3, p. 251-267,1995. BARRY, A.L.; THORNSBERRY, C. Susceptibility tests: diffusion test procedure. In: Manual of Clinical Microbiology. BALOWS, A. (ed.), American Society for Microbiology, Washington DC., p. 1117-1125, 1991. BUENO S. BUENO, S M. 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As lipases são enzimas pertencentes ao grupo das serinas hidrolases (EC 3.1.1.3), apresentam cerca d 300 resíduos de íd d aminoácidos, de i á id e catalisam t li a quebra b d ligações de li õ é t ésteres d acilil de gliceróis. Esta classe de enzimas não requer cofatores, são de baixo custo, atuam em regiões consideradas específicas e em uma larga faixa de pH. As proteases microbianas constituem um dos mais importantes grupos de enzimas industriais, possuindo sua aplicação predominante nas indústrias de alimentos, têxtil, farmacêutica e de detergentes. O objetivo do presente trabalho foi avaliar a capacidade de produção de lipase e protease em meio sólido, em bactérias mesofílicas isoladas de lodo de esgoto, em diferentes temperaturas (28°C e 37°C). Os resultados obtidos demonstram a produção de protease em todas as amostras testadas, tendo a melhor produção ocorrido a 37°C. Para a produção de lipase, apenas uma da amostras testadas não apresentou a formação do 191 III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas halo característico, sendo a temperatura de 28°C, a que possibilitou a melhor produção enzimática. i ái E Esses d d dados obtidos, b id revelam l a habilidade h bilid d de d bactérias b éi patogênicas ê i em produzirem enzimas microbianas. Palavras-chave: bactérias mesofílicas, lodo de esgoto e enzimas microbianas. 1. INTRODUÇÃO A descoberta das enzimas data do início do século XIX, sendo a partir desse período que vários pesquisadores elaboraram estudos sobre os mecanismos e as cinéticas das catálises enzimáticas, tendo sido essas investigações prolongadas até os dias atuais (CUNHA-SANTINO, SCIESSERE e JÚNIOR, 2008). A utilização de catalisadores enzimáticos nos mais diferentes ramos industriais tem crescido cada vez mais em todo o mundo, sendo o valor total do mercado estimado em 2,3 bilhões de dólares anuais. O mercado encontra-se dividido em três segmentos: o de enzimas técnicas (formado pelas indústrias de detergente, amido, têxtil, álcool combustível, polpa de papel e celulose e couro), alimentação e bebidas e alimentação animal (SILVA, 2008). Dessa forma, as enzimas podem ser aplicadas em áreas diversas, diversas tais como: na indústria oleoquímica em processos como hidrólise, glicerólise e alcoólise; na indústria têxtil, melhorando a qualidade e propriedade dos tecidos; na indústria de detergentes; na indústria de alimentos; entre outras. No entanto, sua utilização é reduzida devido aos altos custos de produção (MENONCIN et. al., 2009). P t Proteases são ã enzimas i que catalisam t li a quebra b das d ligações li õ peptídicas tídi d proteínas de t í e que apresentam grande importância do ponto de vista industrial, sendo utilizadas em diversas atividades, como: processamento de alimentos, bebidas, formulação de detergentes, processamento de couro e pele, amaciamento de carnes, formulação de medicamentos, indústria têxtil, entre outros. Podem ser extraídas de diversos organismos, incluindo bactérias, fungos, leveduras, tecidos de mamíferos e de plantas (LADEIRA et. al., 2010). 192 III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas Lipases são enzimas que catalisam a quebra de gorduras e óleos, liberando ácidos graxos, diacilgliceróis, monoacilgliceróis e glicerol. São originárias de um grane número de bactérias, fungos, plantas e animais, tendo suas propriedades variáveis de acordo com sua procedência. As lípases provenientes de microrganismos constituem um grupo de valiosas enzimas de aplicação biotecnológica, devido principalmente à versatilidade de suas propriedades, no que se refere à atuação enzimática, especificidade pelo substrato e facilidade de p produção ç em g grandes q quantidades ((MENONCIN et. al.,, 2009). ) Dentre os processos bioquímicos reportados na literatura, as lípases representam cerca de 35% dentre as enzimas empregadas. Depois das proteases e amilases, são consideradas o terceiro grande grupo em volume de vendas, movimentando bilhões de dólares. No entanto, devido aos elevados custos de produção, o uso dessas enzimas em escala industrial ainda é escasso, escasso apesar da grande variedade de lípases microbianas existente (FEITOSA et. al., 2010). O lodo de esgoto é um resíduo orgânico proveniente do processo de tratamento biológico de águas residuárias. Apesar de sua composição química variável, são ricos em matéria orgânica e nutrientes para as plantas e microrganismos. Podem conter quantidades elevadas de metais, assim como microrganismos patogênicos, dependendo da origem das águas residuárias (ALBUQUERQUE, 2009). As enzimas possuem a capacidade de mediar o catabolismo biológico dos componentes orgânico e mineral do solo. A atividade enzimática do solo pode ser utilizada como medida de atividade microbiana, produtividade e efeito de poluentes no solo. É através das enzimas que os microrganismos do solo degradam as moléculas orgânicas complexas em moléculas mais simples, que podem ser facilmente assimiladas (ALBUQUERQUE, 2009). 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Microrganismos Foram testadas 4 bactérias isoladas de lodo de esgoto em diferentes temperaturas : UCP 0140 (Escherichia coli) e UCP 0195 (Enterobacter sp) isoladas a 28 oC e UCP 0132 (Shiguella sp) e UCP 0178 (Escherichia coli) isoladas a 37 Oc. 193 III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas 2.2 Detecção enzimática em meio sólido Foi utilizada a metodologia descrita por Hankin & Anagnostakis, 1979. Para a detecção da produção de lipase, foi utilizado meio contendo: 10g de peptona, 5g de NaCl, 0,1 de CaCl2.2H2O, 15g de Agar, 1000mL de água destilada, pH 6 e 10mL de Tween-20. Para detecção de protease, o meio utilizado foi: 3g de extrato de carne, 5g de peptona, 20g de Ágar, 1000mL de Água destilada, acrescido de gelatina, pH 6,9. O meio de cultura foi distribuído em placas de Petri, e após a solidificação, foi feito um furo no centro das placas, com 0,8 cm de diâmetro. Em seguida, foram inoculados 50µL da suspensão bacteriana previamente preparada. As placas foram colocadas em estufa, nas temperaturas de 28°C e 37°C, durante 48h. Os ensaios foram realizados em triplicata. Após o período de crescimento microbiano, as placas foram reveladas com uma solução de iodo a 0,1N, 0 1N durante 5 minutos. minutos A formação de um halo claro e opaco em volta da colônia evidencia a presença de lípase, e a atividade proteolítica foi evidenciada pelo aparecimento de um halo claro, indicando a degradação da gelatina, através de zonas transparentes em torno das colônias. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3. Por estarem presentes em baixa concentração no solo, as enzimas são quantificadas de maneira indireta, através da medida da sua atividade e não pela sua quantidade (ALBUQUERQUE, 2009). Os resultados obtidos indicam a produção de enzimas pelas bactérias mesofílicas, nas duas temperaturas testadas (Tabela 1). Para a protease, observa-se que todas as bactérias possuem potencial de produção, sendo o melhor resultado observado a 37°C (UCP 0178). A detecção de produção de lípase foi observada em 3 das 4 espécies estudadas, sendo melhor produzida a 28°C (UCP 0140). 194 III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas A enzimas As i microbianas i bi extracelulares t l l podem d ser produzidas d id em meio i líquido lí id ou sólido. ólid Ao contrário do meio líquido, o uso de meio sólido permite a triagem de uma grande quantidade de microrganismos, além de possibilitar uma rápida detecção de enzimas específicas (OLIVEIRA et. a., 2006). A produção de protease microbiana em meio sólido, foi evidenciada em todas as amostras testadas, em diferentes temperaturas, sendo o melhor resultado obtido com a amostra UCP 0178 (37°C), que apresentou um halo de produção de 77 mm. Uma vez que a síntese de proteases está intimamente ligada ao processo de esporulação, condições de estresse, seja pela redução da concentração de nutrientes, tensão de oxigênio ou composição do meio, podem afetar a esporulação e ter um profundo efeito na produção destas enzimas (NASCIMENTO et. al., 2007, LADEIRA et al., 2010). Os microrganismos são preferidos frente a outras fontes de proteases devido ao seu rápido crescimento, ao pequeno espaço requerido para seu cultivo e à grande variedade de atividades catalíticas que dispõem. Além disso, as proteases microbianas são em geral mais estáveis que as homólogas de plantas e animais e o seu processo de produção é mais fácil e seguro. seguro Os microrganismos responsáveis pela produção de proteases são os fungos e as bactérias, devido à maior facilidade de cultivo e obtenção da enzima (THYS, 2004). A obtenção da atividade enzimática com características lipolíticas possivelmente está relacionada com a natureza oleaginosa da bactéria (FEITOSA, 2010). Vários métodos podem d ser usados d para seleção l ã de d microrganismos i i através t é da d determinação d t i ã da d presença de lípase extracelular. Dentre estas, inclui-se a utilização de meio sólido com presença de 195 III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas substratos indutores como óleos vegetais, triglicerídeos padrão, Tween 80 e corantes que possibilitam a visualização da reação de hidrólise. Diversos microrganismos são reportados como produtores de lípases, dentre eles estão: Candida rugosa, Pseudomonas alcaligenes, Burkholderia cepacia, Bacillus coagulans, entre outros (RIGO, 2009). 4. CONCLUSÃO Foi observada no lodo de esgoto a presença de bactérias mesofílicas patogênicas, principalmente de origem fecal, que mesmo após o tratamento com o solo em diferentes concentrações, permanecem nos solos tratados em diferentes doses e temperaturas. Apesar do algo nível de patogenidade de algumas espécies isoladas, as mesmas apresentam um elevado potencial biotecnológico para produção de enzimas de interesse industrial e ambiental, ambiental pois a avaliação de atividades enzimáticas do solo, solo pode ser útil para indicar o potencial de ciclagem de nutrientes, a nitrificação, a oxidação e outros processos vitais desempenhados pelo consórcio de microrganismos existente naquele ambiente. 5. REFERÊNCIAS Ê ALBUQUERQUE, Ubirajara Samuel. Detecção de enzimas hidrolíticas em bactérias mesofílicas isoladas do lodo de esgoto, Estação Mangueira, Recife, PE. 2009. 68f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento de Processos Ambientais). Universidade Católica de Pernambuco, Recife, 2009. 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