ENERGIA UNDIMOTRIZ DESCRIÇÃO BÁSICA O Que É A energia undimotriz é a energia das ondas marinhas. As ondas marinhas são fonte de energia inesgotável e limpa. Quer dizer, que elas representam uma excelente oportunidade para gerar energia elétrica em forma sustentável. Resenha Histórica Os primeiros vestígios do uso da energia das ondas encontram-se na China, onde no século XIII começaram a operar moinhos por ação do fluxo das ondas. No início deste século, o francês Bouchaux-Pacei fornece eletricidade para sua casa em Royan, através de um sistema pneumático similar às atuais colunas oscilantes. Nessa mesma época, testaram-se sistemas mecânicos na Califórnia e, em 1920, foi ensaiado um motor de pêndulo no Japão. A partir de 1921, o Instituto Oceanográfico de Mônaco, utiliza uma bomba acionada por ondas para elevar água a 60 m com uma potência de 400 W. Em 1958, projeta-se uma central de 20 MW na ilha Maurício, que não chegou a ser construída, e que consistia em uma rampa fixa sobre um recife através da qual subia a água para uma represa situada 3 m acima do nível do mar. Nos anos 40, os franceses construíram na Argélia duas estações-piloto padrão com canal convergente. Em 1975, foi construído um sistema similar em Puerto Rico, com o objetivo de alimentar com água um porto esportivo. Um dos pioneiros no campo do aproveitamento da energia das ondas foi o japonês Yoshio Masuda, quem começou suas pesquisas em 1945 e testou no mar, em 1947, o primeiro protótipo de um Raft. A partir de 1960, elaborou um sistema pneumático para carga de baterias em boias de navegação, com uma turbina de ar de 60 W, que vendeu mais de 1.200 unidades. Nos anos 1970, constrói-se no Japão uma plataforma flutuante de 80 m de comprimento e 12 m de largura, denominada Kaimei, que compreende 11 câmaras para ensaios de turbinas de ar. A pesquisa em grande escala sobre o aproveitamento da energia das ondas se inicia a partir de 1974 em vários centros do Reino Unido, com o estudo de sofisticados sistemas para grandes aproveitamentos, atividade que foi abandonada quase totalmente em 1982 por falta de recursos econômicos. Em meados dos anos oitenta, várias estações-piloto de diversos tipos começaram a operar na Europa e no Japão. Como Funciona As ondas marinhas se formam, principalmente, a partir da força de arrasto exercida pelos ventos nas camadas superficiais da água do mar. A geração de ondas está afetada, em menor grau, pelas forças gravitacionais e pelo efeito Coriolis e o movimento de placas tectônicas. Nota: As mudanças na pressão atmosférica geram os ventos e a rotação da terra o efeito Coriolis. Na figura 1, apresentam-se os diferentes tipos de onda, seu período e a força de geração em função da capacidade para armazenamento de energia. Figura 1 As ondas marinhas possuem a capacidade de armazenar sua energia e de se movimentar por grandes distâncias sem sequer perder sua potência. Assim, é possível o aparecimento de ondas em lugares onde não há vento. Esta é uma interessante diferença com a energia eólica, onde necessariamente precisamos da presença do vento e, conforme acima mencionado, as ondas podem aparecer mesmo sem a existência de vento. Predição do fenômeno Tanto os sistemas satelitais como os sensores marinhos oferecem uma importante quantidade de dados que possibilitam prever, com bastante precisão, a magnitude dos ventos e, em consequência, permitem conhecer com antecipação a altura, o período e a direção das ondas. Parâmetros analíticos que definem as ondas marinhas As ondas estão caraterizadas pelos parâmetros mencionados na figura 2. Figura 2 Análise de comportamento das partículas que compõem as ondas Na figura abaixo (figura 3), descreve-se o comportamento de uma partícula que faz parte de uma onda marinha, segundo a distância até o fundo, a altura e comprimento de onda dessa partícula pode apresentar diferentes tipos de trajetórias, que vão das circulares até as elípticas. Fig. 3 Formas de energia presentes em uma onda marinha A energia que possuem as ondas marinhas pode ser analisada em várias expressões: 1. A energia cinética que é função da velocidade da onda. 2. A energia potencial que é função da altura da onda. 3. A energia hidráulica que é função do empuxo da água. Conforme o tipo de energia a captar (figura 4) será projetado o dispositivo correspondente. Fig. 4 Formas de aproveitar essa energia Existem diversas formas de aproveitar essa energia. A maior parte dos equipamentos utiliza a energia potencial de elementos flutuantes para transformar sua energia mecânica em energia elétrica, mediante a compressão de fluídos hidráulicos enviados a uma turbina conectada a um gerador elétrico. Outros sistemas utilizam o ar de entrada ou saída de uma câmara, onde o volume de ar aumenta ou diminui segundo a entrada ou saída da onda. Este ar atravessa uma turbina que está conectada a um gerador elétrico. Também, é possível aproveitar a diferença de pressão existente entre a crista e o vale da onda, inserindo uma turbina de fluxo axial. Sistema Undimotriz Padrão As estações de transformação de energia undimotriz, também denominadas olamotriz, estão conformadas, geralmente, por certa quantidade de dispositivos tipo parque. Em sua maioria, os equipamentos modulares geram energia elétrica a alternada, no mesmo equipamento é transformado em corrente contínua, depois essa energia é coletada (figura 5) como corrente contínua de todos os equipamentos para ser enviada, mediante um único cabo submarinho, a uma estação transformadora de corrente contínua a alternada. Coleta de energia elétrica dos dispositivos. Figura 5 MERCADO Produção Os dados são variados segundo a fonte consultada, já que o Organismo Internacional da Energia estabeleceu, em 2009, que o recurso mundial era da ordem dos 200 MW e, em outubro de 2011, uma das empresas líder na construção de equipamentos para geração de energia hidráulica, que atualmente está se posicionando na fabricação de equipamentos para aproveitamento de energia undimotriz, refere-se a 18 TW como a potência presente na ordem mundial: Apesar dessas diferenças, evidencia-se que o recurso é enorme e ainda não é explorado. Custo de Produção A energia undimotriz está em uma fase de transição, onde só nesta década estão sendo instalandos equipamentos de fase comercial. Por esse motivo, os custos da energia são, em princípio, altos como em qualquer nova tecnologia. O equipamento Pelamis, o mais avançado comercialmente, tem um custo de 260 US$/MWh. Dos restantes equipamentos, ainda não foram divulgados seus custos de energia. Estima-se que os valores irão diminuindo conforme o avanço e o enraizamento da tecnologia. Com certeza, em uma etapa inicial, na Argentina será preciso realizar um investimento inicial para implementação dessa tecnologia em nosso país. Se analisarmos outra tecnologia, no GENREN (Geração Renovável) foram concedidos projetos de energia eólica na faixa entre 121 e 134 US$/MWh, biocombustíveis na ordem de 258 – 297 US$/MWh e centrais solares fotovoltaicas em 547 -598 US$/MWh. PROJETOS Estado Atual A maior parte dos projetos de aproveitamento da energia undimotriz está sendo realizada na Grã-Bretanha, Portugal e Espanha. A maioria se encontra em estado experimental e só alguns poucos em fase comercial. A Agência Internacional de Energia (IEA por sua sigla em inglês) publicou que, no decorrer de 2010, foram instalados equipamentos no âmbito marinho com potência total de 6 MW, diferenciados 4 MW de energia maremotriz e 2 MW de energia undimotriz. Existem diversos dispositivos em fase de experimentação. Em 2011 é possível mencionar dois acontecimentos muito importantes: a Suíça apresentou um equipamento de demonstração de 40 kW e, no território insular do Havaí, que pertence aos Estados Unidos, aconteceu a conexão com a rede elétrica de um equipamento de 40 kW que aproveita a energia undimotriz. Finalmente, Austrália continua trabalhando em um projeto de 5 MW em suas costas do oeste. Estações Comerciais “Pelamis”: O equipamento mais consolidado, do ponto de vista técnico e comercial, é o chamado ¨Pelamis¨, e conhecido por sua forma de serpente marinha (figura 6). Esse equipamento está instalado em Portugal, a uma distância média da costa. Seu comprimento é de 140 m e o diâmetro de 3,5 m e conta com um conjunto de cilindros que flutuam. Esses cilindros estão unidos através de articulações conformadas por pistões que comprimem o fluído hidráulico. A liberação controlada desse fluído coloca em funcionamento uma turbina conectada a um gerador de eletricidade. O fluído elétrico é enviado até a costa mediante um cabo submarinho. Em resumo, o equipamento copia o movimento ondular da superfície do mar e o transforma em energia elétrica. Este equipamento tem um potencial médio efetivo de trabalho de 750 kW. Nessas condições, o equipamento pode fornecer energia elétrica para 500 lares. Pelamis. Figura 6 “Mitruki”: Outro dos equipamentos inaugurados em 2011 tem como base o sistema de coluna de água oscilante, e está localizado na costa vasca da Espanha (figura 7). O equipamento está instalado em um quebra-mar e tem como base o movimento das ondas sobre o quebra-mar, que gera o deslocamento do ar contido em um duto. O movimento ascendente e descendente das ondas produz um deslocamento similar ao do ar contido que aciona uma turbina (figuras 7 e 8). Mitruki. Figura 7 Esta estação tem uma potência instalada de 300 kW e ocupa uns 100 metros lineares de quebra-mar. Sistema de coluna de água oscilante. Figura 8 Desenvolvimento de Novos Projetos Atualmente, são executados inúmeros projetos em diversos países. A Inglaterra tem projetos avançados com potência de 7,4 MW, visando contar no futuro com 23 MW instalados. Na América Latina, o país mais avançado é o Brasil porque já testou seu protótipo em um simulador de ondas no Rio de Janeiro e o está construindo nas costas do Estado de Ceará. Tanto o Chile quanto o Peru estão investigando, mas ainda não concretizaram, a instalação de qualquer equipamento. Projetos na Argentina Na Universidade Tecnológica Nacional – Faculdade Regional Buenos Aires (UTN – FRBA pelas siglas em espanhol) foi organizado um grupo de pesquisa que trabalha no desenvolvimento de equipamentos capazes de aproveitar a energia undimotriz. Este grupo depende do Departamento de Engenharia Mecânica, conformado por um grupo de profissionais docentes e pesquisadores acompanhados por bolsistas e alunos das diversas especialidades da entidade. O grupo de trabalho está dirigido e coordenado pelos engenheiros Mario Pelissero e Alejandro Haim, respectivamente. Esta tarefa é realizada conjuntamente com a Câmara Argentina de Energias Renováveis (CADER). Em 2010, foi criado o Comitê Hidráulico integrado por 3 subcomitês: maremotriz, undimotriz e minihidro, o comitê de energia undimotriz é dirigido pelo Eng. Alejandro Haim. Este grupo de pesquisa desenvolve um conjunto de projetos ideia: Boias Unidas a uma Coluna Um dos projetos é um dispositivo que conta com duas boias unidas a uma coluna, onde está situado um equipamento eletromecânico que transforma a energia das ondas em energia elétrica (figura 9). Figura 9 Imagem fictícia do equipamento instalado off shore da cidade de Mar del Plata. PBA. R. Argentina Boia de Movimento Vertical Ainda, trabalha-se em outro equipamento que conta com uma boia cujo movimento só é vertical e produz energia elétrica mediante um gerador linear. (Figura 10). Figura 10 Esses equipamentos estão sendo calculados e projetados para sua colocação em locais afastados da costa, onde as ondas não quebram ou descarregam. Assim, evita-se a deterioração dos equipamentos em função do embate das ondas, também diminui o impacto visual gerado pela presença desses equipamentos no mar. A distância dos equipamentos até a costa dependerá do local, mas estima-se que será entre 1 e 4 quilômetros. As conexões com a unidade de transformação elétrica na costa se realizarão mediante um cabo submarinho. Os equipamentos contarão com uma potência de 20 kW e ocuparão uma superfície de 225 m2 cada. Um parque de 100 equipamentos terá uma potência de 2MW e pode fornecer 5.000 lares (20.000 pessoas). Com esses equipamentos se evitará emitir 15.000 toneladas de CO2 anuais, que é o equivalente ao efeito depurativo de 2.000 hectares de bosque. Considerações A energia gerada desses dispositivos pode ser catalogada como “energia limpa”. Esta definição tem como base que, para sua geração, não precisa só do vento e não produz qualquer tipo de produto residual nem emite dióxido de carbono no ambiente: só acontece a conversão da energia undimotriz em fluído elétrico através de um dispositivo eletromecânico. Desde o início deste projeto, acordou-se entre seus integrantes que, para sua realização, seriam observadas as leis e regulamentações inerentes ao cuidado do meio ambiente. A instalação dos dispositivos se realizará em locais específicos de nosso mar, na forma de “parques modulares de energia undimotriz”. Conforme é possível apreciar na figura 8, sua presença desde a costa será mínima. Ainda, propôs-se que a localização das unidades de recepção do fluxo elétrico na costa seria em forma discreta; a fim de gerar a menor perturbação possível no ambiente costeiro. O impacto desta proposta resulta muito baixo se comparado com outros equipamentos, como os aerogeradores eólicos instalados off shore na Holanda e na Dinamarca (figura 11). Figura 11 Tanto os materiais de construção como as pinturas e produtos lubrificantes devem passar por controles de qualidade que certifiquem sua biodegradabilidade e baixo impacto no ambiente. Esses parques ocuparão um espaço reduzido na superfície marítima. Porém, estudos serão realizados em cada lugar para determinar seu efeito na atividade turística e, se existir, na pesca comercial. Serão considerados os aspectos vinculados com a possível alteração do regime de fluxo das correntes marinhas, para evitar mudanças na morfologia das costas ou gerar alterações significativas na flora e fauna marinha. Portanto, podemos dizer que as estações e os equipamentos undimotrizes são de baixíssimo impacto ambiental, ao obter energia elétrica sem emitir gases de efeito estufa durante seu funcionamento. Em um futuro próximo, as matrizes energéticas estarão conformadas por energias renováveis. Portanto, devemos estar prontos para isso. Nosso potencial em biomassa é enorme e resulta, sem dúvidas, uma chave para nossa economia (agricultura, pecuária e biocombustíveis). Os avanços em energia eólica e solar são indícios de que estamos entendendo o que acontece e estamos nos preparando. Agora só falta dar outro passo e sermos pioneiros na busca de outras alternativas derivadas de potenciais indiscutíveis, tal como as derivadas do mar. REFERÊNCIAS Autor Eng. Haim Pablo Alejandro: é Engenheiro Mecânico formado pela UTN-FRBA, cursou o Mestrado de Energias Renováveis na UTN, está realizando sua tese sobre energia solar térmica concentrada com a empresa Torresol Energy S.A. do Grupo SENER da Espanha. É coordenador do Grupo de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação de Energia Undimotriz da UTN-FRBA. Dissertou e apresentou posters em congressos nacionais e internacionais, ganhou com seu Grupo de Energia Undimotriz o concurso Inovar 2010 na categoria conceito inovador, e obtiveram o segundo lugar na feira de projetos da UTN-FRBA de 2010. Atualmente, é Presidente do Subcomitê de Energia Undimotriz da Câmara Argentina de Energias Renováveis. Também, Alejandro é Professor e Tutor do Departamento de Engenharia Mecânica. Departamento de Engenharia Mecânica. Faculdade Regional de Buenos Aires Universidade Tecnológica Nacional Integrantes do Grupo P+D+i Aproveitamento de Energia Undimotriz: Diretor: Eng. Mario Pelissero Coordenador: Eng. Pablo Alejandro Haim. Integrantes: Eng. Guillermo Oliveto; Lic. Francisco Galia; Eng. Leonardo Plaun; Eng. Ricardo Haim; Eng. Martín Haim; Eng. Federico Muiño; Eng. Diego Gagniere; Eng. María Paula Bouza; Eng. Patricio Ben, Eng. Germán Suppo; Eng. Rodolfo Alessio; Prof. Roberto Tula; Prof. Gustavo De Vita; Ezequiel Heinze; Juan Pablo Costa; Pablo Mondino.