A MISSÃO HOJE Muçulmanos entregam carta no Vaticano São pequeninos e prometem durar muitos anos os passos que se vão dando no diálogo entre católicos e muçulmanos. Assim o afirma Samir Khalil Samir, um padre jesuíta egípcio perito em assuntos do Islão texto Manuel Carreira foto Lusa F alando à agência no ticiosa Ásia News, Samir Khalil Samir comenta alguns por menores acerca da formação de uma nova comissão para o diálogo entre católicos e mu çulmanos. E a conclusão que tira é esta: “Temos pela frente um caminho que se afigura longo, que pode durar alguns “Temos pela frente um caminho longo e difícil a percorrer; levará anos, mas vale a pena porque nos conduzirá ao reconhecimento de que somos irmãos” decénios. Mas valerá a pena se conseguirmos – uns e outros – reconhecer-nos ver dadeiramente irmãos”. Uma palavra comum O padre Samir fez estas afir mações no final da visita ao Vaticano de uma delegação de líderes muçulmanos, sig natários de uma carta aberta enviada aos líderes cristãos e que se intitulava: “Uma palavra comum entre nós e vós”. O encontro teve lugar em Roma, a 4 e 5 de Março último. Como consequên cia deste primeiro encon tro, já foi agendado, para 6 a 8 de Novembro próximo, um fórum que “aprofun dará mais o diálogo entre católicos e muçulmanos”. O tema será “Amor de Deus, amor do próximo”. Falar-se-à também de “fundamentos teológicos e espirituais”, bem como de “dignidade humana e respeito mútuo”. Foi formada uma comissão definida como “permanente” e não apenas ocasional. Este é certamente um grande pas- Muçulmanos chiitas de Karachi, Paquistão, celebram a memória do imã Hussein, neto de Maomé, martirizado FÁTIMA MISSIONÁRIA 10 ANO LIV | Abril de 2008 AVENTURAS so em frente, pois é ali que os problemas serão acolhi dos, tratados, agendados para depois serem debatidos nos respectivos fóruns. É curiosa a insistência que se faz no aspecto da caridade. Mas é necessário haver quem dinamize. Há em todas estas decisões o perigo de perma necer tudo letra morta arqui vada em gavetas douradas e, na prática, tudo continuar como antes. No entanto, um grande passo está dado. O resto virá depois. Direitos humanos A parte católica, tendo em bora aceitado a proposta muçulmana, fez questão de acrescentar dois pontos: di reitos humanos e respeito mútuo. E isto porque a fé tem duas dimensões: uma teológica ou espiritual, e outra mais concreta que é a em Karbala, no Iraque dignidade do homem. Esta é fundamental, porque englo ba todos os direitos humanos e o respeito mútuo que deve estar na base de qualquer re lação entre religiões. Por isso é necessário man ter bem firmes estes pontos. Sem cair, claro, no aforismo: “Amigos sim, mas negócios à parte!”. Aqui é “diálogo sim, mesmo que haja pontos de vista diferentes”. Diálogo possível Os católicos apostam forte no respeito mútuo, talvez por que estão escarmentados por muitos atropelos que se têm verificado e se vão verificando ainda nos tempos actuais. E fa zem uma suposição que não é puramente académica. Por exemplo: Se um muçulmano disser e acreditar que Maomé é o mensageiro de Deus, está no seu pleno direito; mas não poderá exigir que um cristão diga o mesmo. Paralelamen te um cristão diz que Cristo é filho de Deus. Está no seu direito; mas não pode obrigar um muçulmano a afirmar o mesmo. Os direitos humanos tor nam-se, pois, a base sobre a qual se constrói todo o edifício do diálogo entre muçulmanos e cristãos e até mesmo a outros níveis. Tra ta-se da liberdade e esta é inerente à própria natureza humana. Qualquer diálogo, para ser autêntico tem de respeitar este pressuposto. Concluindo, o padre Samir afirmou: “Temos pela frente um caminho longo e difícil a percorrer; levará anos, mas vale a pena, porque nos con duzirá ao reconhecimento de que somos irmãos, apesar da diversidade religiosa, cultu ral e espiritual”. FÁTIMA MISSIONÁRIA Pipo vai ao shopping texto Júnior ilustração H. Mourato – Que chapéu tão esquisito, Pipo! Onde é que o compraste? – Foi no shopping. Chamam-lhe “casco”. Era usado pelos antigos emigrantes europeus quando iam para a África, para se livrarem do calor intenso que lá fazia. – Mas que tem isso a ver contigo? – Tem muito. Quando o padre Allamano para lá mandou os primeiros missionários e missionárias recomendou-lhes que nunca saíssem de casa sem porem este chapéu na cabeça. Que o sol forte de lá queimava até os miolos. Agora penso que já não há tanto perigo, mas, pelo sim e pelo não, quero estar prevenido para quando lá chegar não me acontecer tal coisa. Isto não era só fantasia. Pelo menos um caso houve. Os seminaristas portugueses que foram estudar para Turim conheceram lá um padre que andava sempre com um gorro na cabeça por causa do sol que tinha apanhado nas missões. O padre Allamano tinha razão. 11 ANO LIV | Abril de 2008