Arte
e
Cultura
Maestro leva o Mackenzie à obra
Carmina Burana
Parcival Módolo e o Coral Mackenzie se apresentam na cidade de Rio Claro
onvidado a estruturar o currículo para uma faculdade de
música no Mackenzie, o maestro Parcival Módolo, 44 anos — na instituição desde 1991 —, assumiu o cargo de gerente geral da divisão de Arte
e Cultura em 1998. O objetivo, a partir
da primeira etapa, era desenvolver
programa graduado de corais. Como já
existia o movimento incluindo o coro
infanto-juvenil que se apresentou, inclusive, fora do Brasil, Parcival ampliou o trabalho. Hoje, são 13
corais de diversas faixas
etárias e inclui, desde
os pequeninos da
pré-escola, até professores e funcionários. O trabalho
consolidado deu
impulso à musicalização de alunos com
diversos instrumentos
e deve caminhar para a
implantação da Orquestra Sinfônica Mac-
C
kenzie. Todo o trabalho desenvolvido
pelo maestro chamou a atenção de
outras instituições, levando o Mackenzie a participar da apresentação
do Carmina Burana, na cidade de
Rio Claro, em 18 e 19 de maio de 2002
— dois espetáculos grandiosos, que
reuniram 400 pessoas e 120 músicos
em cada um deles!
“No evento esteve o nosso ‘coral
top’”, conta o maestro.“Os outros também muito bons, mas são considerados
corais de treino”, explica. O
coral do Mackenzie é
composto de 40 a 45
pessoas — alunos,funcionários e convidados.“Muitos cantores
já são músicos e alguns regentes aproveitam para fazer reciclagem. Apesar disso, foi um grande desafio participar de evento
desse porte”, afirma Módolo. O convite veio em
2001, quando os produtores assistiram,
em Campinas, a um concerto, regido
por Parcival, no Centro de Convivência
Cultural.
No projeto, os organizadores tentavam implantar uma orquestra com
cerca de 100 membros. “Já tinham
convidado um dos corais da Unicamp,
um coro de crianças, a orquestra básica Unicamp e, entre outros, músicos
dos Estados Unidos e de São Paulo”,
conta Parcival. O sucesso da apresentação em Campinas chamou a atenção
dos produtores de Carmina Burana
que, em seguida, enviaram convite para que o Mackenzie participasse.“A direção aceitou investir no projeto e
começamos a trabalhar”, afirma.
Desde sua primeira apresentação
em 1940, Carmina Burana sempre
teve impacto junto ao público. “Ela
exerce grande fascínio porque há a estranheza da obra e do próprio texto,
Parcival Módolo, maestro do Mackenzie,
(à esquerda) fez sucesso em Rio Claro
regendo Carmina Burana (fotos acima
e na página ao lado). Ele adquiriu sua larga
experiência fazendo cursos e regendo
orquestras na Europa e América do Norte.
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Mackenzie
além do desafio na realização de
uma montagem de grandes dimensões. Ela toca fundo a expectativa do
público por sua ligação com a história e tem uma estrutura rítmica diferenciada. Acho que a batida que
vem por trás desperta emoções muito primitivas nos seres humanos, o
que explica seu fascínio”, declara. O
desafio também está na leitura do texto escrito em latim, alemão e francês
arcaicos. A dificuldade é aprender rapidamente tudo o que é cantado em
velocidade.Além disso, é uma obra de
grandes proporções.São 120 minutos
tocando, com 400 pessoas trabalhando juntas”, explica o maestro.
Os produtores, portanto, trabalharam desde o ano passado para
realizar a megamontagem e escolheram a cidade de Rio Claro para a
estréia por várias razões: “Eles queriam iniciar em algum lugar que
fizesse diferença”, esclarece Módolo. São Paulo foi descartada pela
enorme concorrência com o número de eventos na cidade. Rio Claro,
na opinião dos produtores, teria a
estrutura e a facilidade para angariar
parceiros na produção. “Existe um
movimento musical muito forte lá. Há
décadas eles têm uma escola de música que alimenta muitas orquestras do
Brasil”, conta. A importância da música na região, segundo ele, vem da
tradição européia — a cidade tem uma
grande e atuante colônia germânica —
e de investimentos contínuos na área.
Rio Claro tem uma orquestra sinfônica, mantida pelo município, e uma
filarmônica que vive de filantropia,
captando recursos de sócios assinantes e contribuições regulares de empresas. Com isso, podem brindar a
cidade com pelo menos um grande
concerto por mês. À procura de espaço, os produtores de Carmina Burana encontraram na cidade um clube
com salão de eventos que tem capacidade para 2.500 pessoas — “todo de
madeira, bem construído e com boa
“A importância
da música em
Rio Claro vem
da tradição
européia – a
cidade tem
grande e
atuante colônia
germânica.”
acústica ”, aprova o maestro.
Havia dois dias agendados para
o evento. A estréia, no sábado (dia
18) foi complicada porque era a
primeira vez que se realizava um
ensaio geral.“Cada grupo da montagem trabalhou de forma independente e só no dia da estréia conseguimos
nos reunir. O horário para a apresentação era 20h30 e os participantes foram convocados para as
14 horas. Apesar do risco, fomos
bem. A apresentação acabou sendo
muito melhor no domingo”, diz
Módolo.A satisfação de todos os envolvidos no projeto, no que diz respeito ao Mackenzie, foi visível.“Após
terminar a apresentação no domingo, às 23 horas, viajamos de volta, chegando a São Paulo à 1h30 da madrugada. Na segunda-feira, felizes da
vida pela realização do espetáculo,
estavam todos muito bem dispostos
na volta ao trabalho logo às oito da
manhã”, conta Parcival rindo.
Para participar do coral top do
Mackenzie não há restrição em
relação à faixa etária. Ele é constituído por adultos, com voz já formada. De acordo com o maestro,
deve-se ter experiência musical anterior ou ter passado pelos corais que o
antecedem. O coral vai-se completando de acordo com as necessidades
naturais, de equilíbrio entre as vozes.
“A maior dificuldade que encontramos é que à medida que o corista se
aperfeiçoa e melhora seu desempenho ele sai em busca de novos caminhos. É natural até, por se tratar de
uma escola. Mas é bom lembrar que a
formação de um bom corista exige de
três a cinco anos de trabalho. É nesse
tempo que ele começa a render e aí o
perdemos”, declara o maestro que,
para equacionar os horários de ensaio
dos alunos precisa estar sempre presente. “No caso do coral adulto, marcamos sempre às 18h15. Quem sai do
trabalho às 18, chega adiantado. Quem
sai às 18h30, entra atrasado. Para os
Mackenzie
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Cultura
estudantes é ainda
mais complicado.
Como as aulas à
noite começam às
18h30, eles precisam sair antes
de o ensaio acabar. É uma dificuldade”, lamenta.“O
que vale mesmo é
o perfeito engajamento de todos
nesse trabalho. Isso proporcionou
grande retorno e satisfação em fazê-lo.”
O projeto de graduação de corais
do Mackenzie é extracurricular, mas a
divisão oferece a possibilidade de treino coral e musical para todas as faixas
etárias, desde a pré-escola com o coralito, até a universidade. Os participantes aprendem a ler partitura e os
laboratórios dão noções de música,
leitura e técnica para o uso adequado
das cordas vocais, além de ajuda na
formação de repertório. “Há um pre-
Coral Mackenzie, 400 pessoas,
120 músicos se apresentaram
duas vezes, em Rio Claro, SP, para 2.500
espectadores em cada espetáculo.
parador vocal para cada grupo em
todas as etapas, ou seja, apesar de ser
um curso extra-curricular, quando
chega na fase adulta o participante já
é considerado um especialista”, conclui o maestro.
A divisão de Arte e Cultura, coman-
dada por Parcival
Módolo, também
está desenvolvendo teatro. O convidado para implantar o projeto é o
professor Zé Dú,
fundador da Escola
Macunaíma, referência no setor em
São Paulo.“Seu trabalho
interage
com os corais. O
resultado tem sido
ótimo”, revela o maestro. Segundo ele,
já estão sendo realizadas várias oficinas para a preparação de atores e a
formação de grupos. São quatro grupos do ensino básico até a universidade e o trabalho com os universitários começou no início do ano. A
partir de agora, novas montagens de
sucesso, do porte ou não de Carmina
Burana podem se tornar corriqueiras
em futuro próximo. Vamos apostar e
torcer.
Por que todo mundo pede bis
■ O maestro Parcival Módolo é
mestre em música dos séculos XVII
e XVIII e doutor em Música Barroca
Universal, além de fundador de
quase todos os festivais de música
erudita no Brasil, entre eles o
Festival de Campos de Jordão, o de
Curitiba e o de Brasília.
■ Nascido em Americana, SP
Módolo aponta a família como a
principal influência musical na sua
vida – tanto pela religião evangélica dos pais, muito receptiva à
música, quanto pelos tios (irmãos
da sua mãe) que, em sua maioria,
eram músicos profissionais. Com a
tia, conheceu o piano nas reuniões
familiares, em que todos se encontravam apenas para tocar e cantar.
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Mackenzie
■ Aos 13 anos regeu o coral da igreja e, apaixonado pela experiência,
veio para São Paulo participar de um
seminário de regência – uma semana
que se revelou decisiva para que ele
deixasse para trás o pensamento de
ser publicitário ou artista plástico.
■ Desde cedo, no entanto, soube que
deveria estudar, e muito. Sempre que
podia fazia mais e mais cursos.
■ Regente, aos 17 anos, da Orquestra de Guaratinguetá, no Vale do
Paraíba, SP, e estudante da Faculdade
de Artes do Planalto, hoje Unesp, foi
convidado a terminar o seu curso na
Europa.
■ Concluiu o bacharelado em Herford,
Alemanha, onde fez mestrado.
■ Na volta ao Brasil, dirigiu a
Orquestra Sinfônica de Americana,
SP, durante 14 anos, até aceitar o
convite para lecionar em San Diego, nos Estados Unidos – país onde ganhou bolsa de doutorado na
University of Southern Califórnia,
em Los Angeles.
■ A experiência internacional de
Módolo é respeitável. Na Alemanha, foi titular da Orquestra de
Sunden, Westfália e, atualmente,
é Gastdirektor da Orquestra do
Teatro da Ópera de Bielefeld, além
de maestro visitante das orquestras de San Diego, Chile, Argentina, Suíça e França.
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