UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA FACULDADE DE FISIOTERAPIA ALINE APARECIDA NOGUEIRA CÍNTIA MARIA DE SOUZA NASCIMENTO INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NA NEUROPATIA PERIFÉRICA CAUSADA POR SÍNDROME HIPEREOSINOFÍLICA IDIOPÁTICA: ESTUDO DE UM CASO JUIZ DE FORA 2012 ALINE APARECIDA NOGUEIRA CÍNTIA MARIA DE SOUZA NASCIMENTO INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA NA NEUROPATIA PERIFÉRICA CAUSADA POR SÍNDROME HIPEREOSINOFÍLICA IDIOPÁTICA: ESTUDO DE UM CASO Trabalho de conclusão de curso apresentado à Faculdade de Fisioterapia como requisito para obtenção de título de bacharel em Fisioterapia pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Orientadora: Profª. Dra. Cláudia Helena Cerqueira Mármora. Co-Orientadora: Fisioterapeuta Priscylla Lilliam Knopp JUIZ DE FORA 2012 Nogueira, Aline Aparecida. Intervenção fisioterapêutica na neuropatia periférica causada por síndrome hipereosinofílica idiopática : estudo de um caso / Aline Aparecida Nogueira e Cíntia Maria de Souza Nascimento. – 2012. 68 f. : il. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Fisioterapia)– Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2012. 1. Fisioterapia. 2. Doenças do sistema nervoso periférico. 3. Síndrome Hipereosinofílica. I. Nascimento, Cíntia Maria de Souza. II. Título. CDU 616-007.4 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus por guiar meus passos ao longo dessa longa caminhada e pela sabedoria que me foi concedida para a elaboração desse trabalho me ajudando a concretizar mais um sonho. Aos meus pais Maria Aparecida e Deusdet, por todo apoio e confiança que depositaram em mim ao longo desses anos. A minha irmã Raquel pela motivação e incentivo. A toda minha família pelo companheirismo, por me proporcionar momentos de descontração e por torcerem por mim. A minha grande amiga e companheira de TCC Cíntia pelos incansáveis momentos dedicados ao nosso trabalho e pelo apoio nos momentos difíceis. A nossa orientadora Cláudia e co-orientadora Priscylla pelo aprendizado e pela orientação concedida para a elaboração desse trabalho. Aos meus amigos pelo companheirismo, conhecimento compartilhado, apoio e incentivo. A nossa querida paciente por ter aceitado participar desse estudo, sem a sua presença a realização desse trabalho seria inviável, obrigada por sua confiança em nós e sua dedicação. A nossa banca examinadora Liliany e Natália pela disposição em avaliar nosso trabalho e por contribuir com suas sugestões. A todos aqueles que não foram mencionados, mas que de alguma forma contribuíram para a realização desse trabalho, meu muito obrigada! Aline Aparecida Nogueira AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, por ter me dado força, coragem e por estar sempre nos meus caminhos me guiando e me protegendo. Aos meus pais Odete e José, por terem me dado a oportunidade de ter conseguido realizar meu sonho, e pelo investimento feito, sem eles não teria conseguido. Agradeço também por terem me tornado um ser humano melhor e com atitudes, me ensinaram o maior valor da vida, o amor. Amo vocês. A meu filho, Vítor que mesmo sem saber, me deu força para que eu superasse todas as dificuldades. Ao Leonardo (in memorian), que fez parte do meu sonho e me da vida, dizendo que eu podia tudo, bastava acreditar. A minha família pela força, torcida e compreensão diante das ausências. A minha grande amiga e companheira Aline, pela paciência, dedicação, amizade, compreensão, sabedoria e pelo crescimento e aprendizado que tivemos juntas. A MF, que enfrentou chuva, sol, férias e todas as adversidades para fazer parte de nosso estudo e se mostrou com boa vontade, sem queixas e reclamações, sem ela nada teria sido possível. A nossa orientadora Cláudia, pelo carinho e atenção, sem a sua ajuda nosso trabalho não seria possível. A nossa co-orientadora Priscylla, por toda a dedicação, conselho, paciência e sabedoria, nosso anjo, que chegou na hora certa e no momento certo. A nossa banca Liliany e Natália que contribuíram, com sugestões. Aos amigos Gustavo, Lilian, Daniele, Amanda, Cláudia, Thalita e Camila, por me darem força, confiança, por me dizerem que sou capaz e não terem me deixado desistir. A todos que estiveram do meu lado e que fizeram do meu sonho uma realidade. Muito obrigada! Cíntia Maria de Souza Nascimento RESUMO O presente estudo tem como objetivo avaliar uma proposta de intervenção fisioterapêutica em um sujeito do sexo feminino, com 55 anos, portadora de mononeurite múltipla causada pela Síndrome Hipereosinofílica, uma doença rara que pode gerar déficits sensório-motores. Trata-se de um estudo de caso longitudinal sendo monofilamentos de utilizados para a Semmes-Weinstein coleta de dados (convencional), os objeto instrumentos: esterilizado pontiagudo, tubos de ensaio contendo água quente e fria, dinamômetro Jamar e o teste de força muscular. Foi realizada uma análise qualitativa das entrevistas através do método de Análise de Conteúdo proposto por Bardin e quantitativa, através da comparação dos resultados obtidos. Após a avaliação foi delineada a proposta de intervenção fisioterapêutica para este caso. Como resultados foram observados melhora na força de membros inferiores, força de flexores de dedos, na amplitude de movimento e sensibilidade tátil, bem como manutenção na sensibilidade dolorosa. A sensibilidade térmica apresentou sinais de piora. Todos esses fatores podem ter sido influenciados pelo estado emocional da paciente, visto que foram observadas oscilações no decorrer das sessões, representando importantes repercussões em sua qualidade de vida. Portanto, conclui-se que a intervenção fisioterapêutica apresenta melhora no quadro de neuropatia periférica causada por síndrome hipereosinofílica idiopática para o caso em questão. Palavras-chave: Fisioterapia. Neuropatia Periférica. Síndrome Hipereosinofílica Idiopática. Doenças Crônicas. ABSTRACT The present study aims to evaluate a proposal of physiotherapy intervention in a fellow female, aged 55, suffering from multiple mononeuritis caused by hypereosinophilic syndrome, a rare disease that can cause sensorimotor deficits. This is a longitudinal case study being used for data collection instruments: SemmesWeinstein (conventional) sterile blunt object, test tubes containing hot and cold water, and the Jamar dynamometer muscle strength testing. We performed a qualitative analysis through the method of content analysis proposed by Bardin and quantitatively, by comparing the results obtained. After evaluating the proposal was outlined in physiotherapy intervention in this case. As results were observed improvement in lower limb strength, strength of flexors of fingers, range of motion and tactile sensitivity, as well as maintaining the soreness. Thermal sensitivity showed signs of worsening. All these factors may have been influenced by the emotional state of the patient, since oscillations were observed during the sessions, representing major impact on their quality of life. Therefore, it is concluded that the physical therapy presents improvement in the peripheral neuropathy caused by idiopathic hypereosinophilic syndrome for this case. Key words: Physical Therapy. Peripheral neuropathy. Idiopathic hypereosinophilic syndrome. Chronic diseases. LISTA DE FIGURAS Figura 1- Kit estesiômetro ......................................................................................... 21 Figura 2- Dinamômetro Jamar .................................................................................. 22 LISTA DE TABELAS Tabela 1- Teste de Amplitude de Movimento Ativa e Passiva................................... 24 Tabela 2- Teste de Força Muscular........................................................................... 26 Tabela 3- Teste de Preensão Palmar ........................................................................ 26 Tabela 4- Teste de Sensibilidade Tátil ...................................................................... 27 Tabela 5- Teste de Sensibilidade Térmica ................................................................ 28 Tabela 6 -Relatos das entrevistas semi-estruturadas ............................................... 29 Tabela 7- Categorias das unidades de análise ......................................................... 30 LISTA DE SIGLAS MMII Membros Inferiores MMSS Membros Superiores MID Membro Inferior Direito MIE Membro Inferior Esquerdo MSD Membro Superior Direito MSE Membro Superior Esquerdo NP Neuropatia Periférica SHI Síndrome Hipereosinofílica Idiopática SNC Sistema Nervoso Central SNP Sistema Nervoso Periférico SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12 1.1 Neuropatia Periférica (NP) .................................................................................. 12 1.2 A Síndrome Hipereosinofílica Idiopática .............................................................. 13 1.3 Para além da neuropatia: o caso de MF.............................................................. 16 1.4 o sujeito acometido pela síndrome hipereosinofílica idiopática: considerações do objetivo ao subjetivo .................................................................................................. 17 2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 20 3 METODOLOGIA E ESTRATÉGIAS DE AÇÃO ..................................................... 21 4 RESULTADOS ....................................................................................................... 24 5 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 32 6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 39 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 40 APÊNDICES ............................................................................................................. 45 APÊNDICE 1- TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO .............. 45 APÊNDICE 2- ENTREVISTA INICIAL ...................................................................... 48 APÊNDICE 3- PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO ....................................................... 49 APÊNDICE 4- TESTE DE SENSIBILIDADE TÁTIL- ESTESIOMETRIA .................. 54 APÊNDICE 5- PROPOSTA DE INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA .................. 55 APÊNDICE 6- ENTREVISTA FINAL......................................................................... 56 APÊNDICE 7- ANAMNESE E EXAME FÍSICO ........................................................ 57 APÊNDICE 8- RESULTADOS ENCONTRADOS NA AVALIAÇÃO E REAVALIAÇÃO ........................................................................................................ 59 ANEXOS ................................................................................................................... 67 ANEXO 1- PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA ........................................................ 67 12 1 INTRODUÇÃO O Sistema Nervoso pode ser dividido em duas partes, Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema Nervoso Periférico (SNP), sendo este último composto por nervos cranianos e espinhais que se estendem a estruturas como pele, músculos, glândulas e musculatura cardíaca e lisa (HELITO; KAUFFMAN 2007; THIBODEUAU; PATTON, 2002). Alterações ou interrupções na condução de impulsos elétricos nas vias do SNC ou do SNP podem levar a disfunções cujos sintomas dependerão da região afetada, podendo manifestar-se por alterações motora, sensitiva, visual, auditiva, comportamental ou estarem relacionadas à memória, linguagem e equilíbrio. Frequentemente podem ser encontradas na literatura, e mesmo na prática clínica do fisioterapeuta, sintomatologias sensório-motoras denominadas de neuropatias periféricas (HELITO; KAUFFMAN, 2007). 1.1 Neuropatia Periférica Este termo refere-se à existência de lesão nos nervos periféricos, independente de sua origem craniana ou espinhal, cuja ocorrência é frequente e de etiologia variada, podendo se manifestar por sintomas/sinais sensitivos, motores ou autonômicos (GUIMARÃES, 2008). As fibras motoras lesionadas neste tipo de alteração são de grande diâmetro, mielinizadas e quando atingidas causam fraqueza muscular, hipotonia, arreflexia, algumas vezes, fasciculações, atrofia muscular, podendo a última estar presente distalmente ou atingir mais locais nos casos crônicos. Já as fibras sensitivas, são de grande e pequeno diâmetro, quando sujeitas a um processo lesional, podem causar perda sensitiva, ataxia, arreflexia, disestesias1 e dor. Quando há lesão das fibras autonômicas que são amielínicas de pequeno diâmetro observam-se quadros de 1 Disestesias: parestesia, sensação dolorosa provocada por estimulação tátil da pele, pertubação da sensibilidade, especialmente a sensibilidade tátil. 13 hipotensão postural, anidrose2, hiper-hidrose3 e disfunção esfincteriana (Guimarães, 2008; LUCCI et al., 2008). No que se refere à localização das lesões do nervo periférico, estas podem variar entre as lesões de axônio (axôniopatia), da bainha de mielina ou células de Schwann (mielinopatia), ou do corpo da célula nervosa (neuronopatia) (STOKES, 2000). Visando facilitar sua classificação as NP podem ser enquadradas em seis parâmetros principais, dentre eles: Velocidade de instalação- podendo esta ser aguda, quando ocorre em menos de uma semana; subaguda em menos de um mês ou crônica, mais de um mês; Tipo de fibra nervosa- envolvida podem ser classificadas em motora, sensitiva, autonômica ou mista; Tamanho de fibra nervosa -onde se apresentarão como grossa, fina ou mista; Distribuição- proximal, distal ou difusa; Padrão-mononeuropatia, mononeuropatia múltipla ou polineuropatia; Patologia- degeneração axonal, desmielinização segmentar e mista (FONTES; FUKUJIMA; CARDEAL, 2007). Weinert (2000) relata que a polineuropatia é representada pelo acometimento bilateral, simétrico e geralmente distal dos nervos periféricos e a polirradiculopatia quando há o acometimento da raiz nervosa. Ainda se encontram nesta classificação a mononeuropatia que ocorre como consequência de uma lesão localizada em um único nervo periférico e a mononeuropatia múltipla que ocorre quando há processo lesional em dois ou mais nervos em áreas separadas, sendo caracterizada pelo acometimento de diferentes nervos com evolução e graus variáveis podendo piorar progressivamente com o decorrer do tempo (CARNEIRO, 2001; SOUZA, L., 2008). 1.2 A Síndrome Hipereosinofílica Idiopática A Síndrome Hipereosinofílica Idiopática (SHI) é caracterizada por lesões em múltiplos órgãos por consequência da infiltração eosinofílica e por elevado número de eosinofilia4 no sangue periférico (JÚNIOR et al., 2010). 2 3 Anidrose: diminuição ou falta de sudação. Hiper-hidrose: sudação aumentada. 14 A SHI foi primeiramente descrita em 1968, quando Hardy e Andreson propuseram o termo ao descrever pacientes com eosinofilia prolongada de causa desconhecida (CHAUFFAILE, 2010; JÚNIOR et al., 2010). O eosinófilo é uma célula originada a partir de células precursoras hematopoéticas da medula óssea, tamanho de 8 a 15 µm de diâmetro, com núcleo bilobado, presença de grânulos dentro das células citoplasmáticas e possui alta afinidade por eosina5. Sua concentração varia entre 50 a 500/µl no sangue periférico e perfazem cerca de 3% das células da medula óssea de indivíduos normais sendo que, mesmo estando em baixa concentração no sangue periférico, o número de eosinófilos nos tecidos pode permanecer elevado (CHAUFFAILLE, 2010).. Segundo a literatura existe uma variação na contagem periférica de eosinófilos relacionada à diminuição do número de estrógenos no decorrer do dia, apresentando-se com valores mais baixos pela manhã e mais altos à tarde (bidem). Os eosinófilos são considerados células predominantemente teciduais cujos órgãos-alvo são estruturas localizadas no trato gastrintestinal, pulmões e pele, onde a partir do momento em que estão dentro destes tecidos não mais retornam à circulação. Estas células possuem uma meia vida de 18 horas na circulação, e este período pode ser aumentado em condições adversas, devido à ação de citocinas ativadoras de eosinófilos (Ibidem). A SHI é de difícil determinação quanto à sua incidência e características próprias, já que na área médica constitui um diagnóstico de exclusão raro, entretanto a literatura vem apontando que este distúrbio possui predileção por sexo, sendo a proporção masculina para feminina de 9:1 (ROUFFOSSE; GOLDEMAN; COOGAN, 2004; SANTOS, A.; LOUREIRO; CHIEIRA, 2008). Entretanto, o motivo desta predileção é ainda desconhecido (JÚNIOR et al., 2010). Apesar de não apresentar uma população definida, o maior estudo do qual se tem conhecimento sobre esta síndrome é o do National Institutes of Health, no qual a maioria dos pacientes acometidos (90%) eram do sexo masculino. Em crianças há poucos casos relatados assim como as possíveis associações da SHI com outras patologias, sendo que as doenças parasitárias e alérgicas parecem ter maior evidência de associação (Ibidem). 4 Eosinofilia: produção excessiva de eosinófilos. Eosina: corante ácido, avermelhado, derivado da fluoresceína, utilizado para corar tecidos e células para observação ao microscópio. 5 15 Em termos diagnósticos Chusid et al. (1975 apud Chauffaille, 2010;Júnior et al. 2010; Rouffosse; Goldeman; Cogan, 2004; Santos A., 2008) estabeleceram critérios empíricos para a SHI utilizados até hoje: 1) contagem de eosinófilos no sangue periférico superior a 1500/mm3 durante mais de seis meses; 2) lesão ou disfunção orgânica; 3) ausência de etiologia para a eosinofilia e de blastos eosinofílicos no sangue periférico. Convêm mencionar que antes do diagnóstico da SHI ser confirmado, é necessário avaliar o diagnóstico diferencial da mesma. Um mecanismo de causa ainda desconhecida e que caracteriza esta síndrome é a desregulação no processo de produção dos eosinófilos, a qual pode ser entendida como a base fisiopatológica da síndrome. Essa produção exagerada de eosinófilos pode lesar qualquer órgão, sendo os mais frequentemente atingidos: pulmões, pele, fígado, baço e o coração além do sistema nervoso. O envolvimento destes dois últimos é responsável pelas manifestações mais severas, sendo a lesão cardíaca a principal causa de morte. Os menos atingidos são os rins, trato gastrointestinal, linfonodos e músculos (JÚNIOR et al., 2010; RIEDER et al. ,1991; SANTOS, A., 2008 ). As formas SHI que envolvem acometimento do sistema nervoso acontece em até 65% dos casos e podem manifestar-se como encefalopatia, tromboembolismo e neuropatia periférica (NP). Esta última perfaz mais de 50% dos pacientes e constituise na manifestação neurológica mais frequente. Em relação ao padrão de acometimento observa-se que a polineuropatia é a forma mais frequente de NP observada nesta síndrome. Já o envolvimento dos nervos cranianos é um achado incomum, sendo raros os relatos na literatura (RIEDER et al.1991). Considerando a pouca existência de referencias na literatura sobre esta síndrome principalmente associada à declínio sensório-motor e sua interlocução com intervenções na área fisioterapêutica nos motivou a investigar este tipo de neuropatia despertando o interesse em realizar esta pesquisa foi conhecer o sujeito MF. 16 1.3 Para além da neuropatia: o caso de MF MF, sexo feminino, 55 anos, começou a apresentar um quadro inespecífico, porém importante, de emagrecimento acompanhado por depressão concomitante ao falecimento de seu filho mais novo em junho de 2008, cuja causa foi um atropelamento por um ônibus quando andava de skate. Na mesma época sua filha começa a perceber alterações significativas de marcha relatada por ela como exemplo - minha mãe “parecia jogar as pernas”. Questionando a causa de tal característica e ainda preocupada com os sintomas anteriormente citados ambas resolvem ir ao médico, neste caso um clínico geral que ao notar as especificidades do caso a encaminhou para um neurologista. Em novembro do mesmo ano, ou seja, no ínterim entre o início dos sintomas (junho de 2008) e a primeira consulta com o clínico geral, MF relata que torceu o tornozelo direito em casa sem nenhuma causa aparente sendo a entorse tratada como de origem traumática e foi encaminhada à fisioterapia. Ao iniciar o tratamento começa a notar parestesia em membro inferior direito (MID), fraqueza generalizada juntamente com o quadro de emagrecimento que se intensificava impossibilitando-a de deambular. Visto o aparecimento destes novos sintomas e o agravamento dos já existentes, MF realizou somente cinco sessões de todas as que haviam sido programadas. Em janeiro de 2009 iniciou episódios de diarréia e êmese6, ficando acamada a maior parte do tempo devido à fraqueza generalizada, inclusive impossibilitando-a de segurar objetos em suas mãos. Posteriormente o braço esquerdo começou a “formigar” evoluindo com perda de sensibilidade. Em maio de 2009 começou a apresentar cansaço e dispnéia. Na ocasião foi constatado através de exames um quadro de pneumonia e insuficiência cardíaca, sendo necessária a internação para tratamento em um hospital da cidade no período entre 15/05/09 a 27/06/09. MF volta a ser internada em junho do mesmo ano, desta vez no HU/CAS – Santa Catarina, com o objetivo de investigação diagnóstica e tratamento hospitalar, onde permaneceu até 13/08/09. Após exaustiva investigação clínica e laboratorial 6 Êmese: vomitar 17 obteve o diagnóstico de Síndrome Hipereosinofílica Idiopática, na qual se verificou eosinofilia>6000mm³ acompanhada de manifestações sistêmicas decorrentes da doença tais como emagrecimento importante (perdeu 46 Kg em dois anos). Além disso, também foi diagnosticada miocardiopatia dilatada de baixo débito e suspeita de miocardite, serosite (plerite) e pneumonite, mononeurite múltipla e colite (suspeita de Doença de Crohn). O tratamento instituído foi a corticoterapia e fisioterapia, sendo este fruto de solicitação médica mediante déficit motor associado ao quadro neuropático. Iniciou o tratamento fisioterapêutico no HU/CAS – Dom Bosco em 2010, quando se locomovia com a ajuda de terceiros, devido à fraqueza nos MMII. Deambulava arrastando os pés. 1.4. O sujeito acometido pela síndrome hipereosinofílica idiopática: considerações do objetivo ao subjetivo Compreendendo a complexidade do quadro da SHI observa-se de forma associada às alterações físico-funcionais algumas formas de transtorno mental (BRASIL,I.; PONDÉ, 2009). Dentre as questões subjetivas envolvidas encontram-se o sentimento de frustração na realização de desejos e necessidades, o agravamento de conflitos intrapsíquicos, a inadequação dos mecanismos de defesa, a perda do sentimento de autoestima, a alteração da imagem corporal e o isolamento social (Ibidem). A insônia, o uso de medicação e de procedimentos que afetam o SNC estão entre os fatores biológicos que potencializam o sofrimento da psique destes sujeitos. Em via dupla a depressão favorece o surgimento de sintomas como insônia, fadiga e perda da libido, que são gerados pelo sofrimento e a incapacidade funcional, podendo ser confundida muitas vezes com a doença orgânica de base. Dentre os sintomas mais comuns da depressão em pacientes com doenças físicas destacamse a perda do interesse nas pessoas, o pessimismo, a indecisão, a irritabilidade, a insônia, a baixa auto-estima e a falta de esperança (Ibidem). De acordo com Freitas e Mendes (2007) as doenças crônicas, como as NP, definidas como doenças onde o processo de cura é muito lento ou inexistente, 18 impõem mudanças importantes no estilo de vida do sujeito que passa a conviver diariamente com a nova situação, necessitando de um preparo mental para adaptarse a essas transformações. Na literatura especializada a presença de sintomas depressivos é associada de forma frequente à maioria das doenças crônicas, como a NP, implicando em piores evoluções, pobre adesão aos tratamentos propostos, redução da qualidade de vida e da saúde física, capacidade prejudicada de executar atividades de vida diária e funcionamento em vários domínios, incluindo o social, físico, auto-cuidado, trabalho e produtividade, além de maior morbimortalidade como um todo, podendo também desregular os sistemas humoral e imunológico. Pacientes com doenças crônicas que estão depressivos mostram maior incapacidade que aqueles não depressivos (FLEK et al., 2003; MARTINS; FRANÇA; KIMURA, 2006; SCHMITZ et al., 2007; TENG; HUMES; DEMETRIO, 2010). A condição crônica de adoecimento geralmente está atrelada a maiores níveis de estresse e isto afeta consequentemente todos os componentes de vida do indivíduo, que quando não se adapta à realidade que vivencia no sentido de um novo estilo de vida a ser adotado de aceitação da doença, observa uma limitação em sua qualidade de vida contribuindo para uma má evolução do caso (FREITAS; MENDES, 2007). Devido a essa problemática vivenciada por portadores de doenças crônicas, vários autores têm desenvolvido estudos com o objetivo de analisar o impacto desta condição na qualidade de vida dessas pessoas sob diferentes aspectos. Dentre eles pode-se destacar o estudo de Martins, França e Kimura (1996), que identificou o significado da qualidade de vida em portadores de tais condições verificando a interferência da doença sobre a mesma, tendo como resultado uma relação direta com bem-estar material, seguido pelo bem-estar físico e posteriormente o bem-estar emocional. Um aspecto não menos importante no que se refere à independência e autonomia dos sujeitos acometidos é o que se conhece como “medo de cair”, que pode ou não estar associado com um evento de quedas. Cabe lembrar que um sujeito que já tenha experimentado quedas tenha maiores possibilidades de manifestar tal sensação (LOPES et al, 2009). O medo de cair tem consequências negativas no bem-estar físico e funcional, no grau de perda de independência e na 19 capacidade de realizar normalmente as atividades de vida diária (ISHIZUKA, 2003; SIMPSON, 2000; STEPHANIE, 2002; WEBBER, 2004). Portanto, quando tratamos de portadores de NP devemos levar em consideração que essas pessoas passam a experimentar diferentes sensações, sentimentos e comportamentos decorrentes de alterações na capacidade física, na autoestima e na imagem corporal, nas relações com outras pessoas e na realização de uma série de atividades da vida diária, tornando o domínio da subjetividade de extrema importância na rotina de todos os profissionais de saúde que atuam com estes sujeitos, incluindo o fisioterapeuta (MARTINS; FRANÇA; KIMURA,1996). 20 2 OBJETIVOS Este estudo busca avaliar uma proposta de intervenção fisioterapêutica em uma paciente com mononeurite múltipla, causada pela Síndrome Hipereosinofílica. De forma específica visa avaliar a força muscular de MMSS e MMII; as sensibilidades térmica, dolorosa e tátil e a percepção da paciente sobre o impacto emocional e social causados pela doença em sua vida. 21 3 METODOLOGIA E ESTRATÉGIAS DE AÇÃO Trata-se de um estudo de caso longitudinal, quali-quantitativo, realizado nas dependências do Serviço de Fisioterapia do HU/CAS - Dom Bosco, tendo como sujeito avaliado uma paciente do sexo feminino, de 55 anos, diagnosticada com SHI e que apresenta mononeurite múltipla. Com a aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de Juiz de Fora, parecer CAAE: 0120.0..420.000-11 (Anexo 1) e a assinatura do termo de Consentimento Livre e Esclarecido pela paciente (Apêndice 1), realizou-se primeiramente uma entrevista semi estruturada com a paciente versando sobre sua patologia e suas Atividades de Vida Diária (AVD’S), buscando registrar o relato da própria paciente (Apêndice 2). Logo em seguida foi realizada a Avaliação fisioterapêutica (Apêndice 3). A partir dos dados obtidos nessa avaliação, foi elaborado um plano de tratamento adequado e individualizado, objetivando minimizar as dificuldades e aumentar sua funcionalidade( Apêndice 4). Para avaliar a sensibilidade tátil foi realizada a estesiometria (Apêndice 5), com os monofilamentos Semmes-Weinstein (convencional), que define o grau de sensibilidade cutânea7. Fig. 1 Kit estesiômetro Fonte: SORRI-BAURU 7 Este é composto de seis monofilamentos de nylon, de diâmetros variados, os quais produzem estímulos de diferentes intensidades (de 0,05 a 300 gramas), permitindo quantificar e monitorar a função neural (MOREIRA, D.; ALVAREZ, 1999). No membro superior, os filamentos por ordem de densidade serão testados em seis pontos na região palmar, sendo três correspondentes aos dermátomos dos nervos ulnar e três ao nervo mediano, e um ponto na região dorsal correspondente ao dermátomo do nervo radial. No membro inferior será testado em um ponto na região dorsal correspondente ao dermátomo do nervo fibular profundo e nove pontos na região plantar correspondente ao dermátomo do nervo tibial posterior (SOUZA, A. et al. 2005). 22 O teste foi realizado em um ambiente tranquilo. O examinador aplicou uma pressão de cada monofilamento sobre a pele por até três vezes seguindo o protocolo de aplicação, mantendo o estímulo por aproximadamente um segundo e meio evitando movimentos durante a realização do teste assim como a aplicação de estímulos em áreas que continham calos ou úlceras, pois poderiam alterar a percepção sensitiva. A paciente foi orientada a se manifestar verbalmente, dizendo o local da ocorrência todas as vezes que percebesse o toque de cada monofilamento em sua pele. A cada três estímulos táteis não identificados pela paciente, foi oferecida uma referência de sensação cutânea em uma área com sensibilidade normal (SOUZA A. et al., 2005). A sensibilidade térmica foi avaliada através de tubos de ensaio contendo água quente à morna (aproximadamente 45º) e fria. Estes tubos foram aplicados de forma alternada nos mesmos pontos de referência preconizados para a estesiometria (BRASIL, Ministério da Saúde, 2001). A sensibilidade dolorosa foi avaliada utilizando-se um objeto pontiagudo esterilizado. A avaliação de força de mãos foi realizada utilizando-se o dinamômetro Jamar8. Fig. 2 Dinamômetro Jamar FONTE: Sorisa S.A. Este instrumento foi escolhido pelo fato de ser recomendado pela Sociedade Americana de Terapeutas de Mão (SATM) e tem como objetivo mensurar a força de preensão em pacientes com diversas desordens que comprometem os membros superiores. 8 Este aparelho contém um sistema hidráulico fechado que mede a quantidade de força produzida por uma contração isométrica aplicada sobre as alças e a força de preensão da mão é registrada em quilogramas ou libras (Moreira, D. et al. 2011). 23 Seguimos a padronização recomendada pela SATM tanto da manopla do dinamômetro como da posição da paciente, que estava confortavelmente sentada, posicionada com o ombro aduzido, o cotovelo fletido a 90º, o antebraço em posição neutra e, por fim, a posição do punho em 30º de extensão (MOREIRA, D. et al., 2003, 2011). A paciente foi orientada a realizar a preensão palmar por três tentativas, após o comando do examinador, sendo que foi respeitado um intervalo de um minuto entre cada tentativa para prevenir fadiga muscular, sendo inicialmente testada a mão direita e logo em seguida a mão esquerda (MOREIRA, D. et al., 2003, 2011). A Amplitude de Movimento (ADM) foi aferida através do goniômetro manual, seguindo-se a referência do Manual de Goniometria (MARQUES, 1997). Para avaliação da força de MMII (músculos do pé, tornozelo e perna) foi realizada a prova de função muscular bilateralmente baseada em protocolos estabelecidos por Kendall, com resultados possuindo uma variação de 0 - sem evidência de contração até 5 - amplitude de movimento completa contra a gravidade com resistência máxima, sendo que o paciente se mantinha nas posições indicadas conforme a musculatura que estava sendo testada (KENDALL, F.P. et al.,1995). Ao final de seis meses foi realizada uma nova avaliação dos itens mensurados no primeiro e segundo dias. Ao final da pesquisa aplicamos outra entrevista visando identificar a relevância do tratamento fisioterapêutico para auto-percepção de saúde e de qualidade de vida (Apêndice 6). A intervenção fisioterapêutica foi realizada com frequência semanal de duas vezes, com duração de 60 minutos por sessão durante 26 semanas, totalizando 52 sessões. Em caso de não comparecimento ao atendimento, este foi reposto em outro dia da mesma semana ou na semana seguinte. A análise dos dados foi quali-quantitativa, sendo realizada análise de comparação dos dados e uma análise qualitativa das entrevistas semi estruturadas através do método de Análise de Conteúdo proposto por Bardin (1977). Os instrumentos foram aplicados de maneira padronizada para evitar possíveis erros de execução dos testes, tais como linguagem e tempo diferenciado que poderiam influenciar nos resultados. Além disso, as pesquisadoras Aline Aparecida Nogueira (Pesquisadora 1) e Cíntia Mª de S. Nascimento (Pesquisadora 2) foram submetidas a um treinamento prévio da avaliação e da intervenção através de um estudo piloto. 24 4 RESULTADOS A anamnese e o exame físico realizados no dia da avaliação encontram-se no Apêndice 7e os valores da avaliação e reavaliação encontram-se no Apêndice 8. A seguir serão apresentados a comparação entre os dados referentes à avaliação e reavaliação respectivamente. Quanto ao quesito movimentação voluntária, este não apresentou alteração em MMSS e nem em MMII. Os resultados dos reflexos permaneceram os mesmos do início da avaliação, tendo uma manutenção no resultado final. No geral houve uma melhora em ADM tanto ativa quanto passiva. Sendo que das 18 ADM ativas analisadas aproximadamente 67% tiveram melhora em dimídio direito. Em dimídio esquerdo 78% melhoraram. Já na ADM passiva de dimidio direito 39% e no esquerdo 44% melhoraram. Como apresentado na tabela 1 abaixo. Tabela 1- Teste de Amplitude de Movimento Ativa e Passiva Amplitude Resultados de movimento Principais ADM ativa ADM passiva movimentos Dimídio Direito Esquerdo Direito Esquerdo MMSS Ombro Flexão Aumentou 30º Aumentou 40º Aumentou 30º Aumentou 28º Aumentou 10º Aumentou 17º Aumentou 5º Aumentou 9º Aumentou 10º Aumentou 52º Manteve Aumentou 28º Aumentou 16º Aumentou 18º Aumentou 10º Aumentou 10º 0-180º Extensão 0-45º Abdução 0-180º Adução 0-40° 25 Cotovelo Flexão Aumentou 15º Aumentou 25º Manteve Manteve 0-145º Punho Flexão Aumentou 6º Aumentou 16º Aumentou 18º Aumentou 8º Aumentou 4º Aumentou 4º Manteve Manteve 0-90º Extensão 0-70º Metacarpofalângeanas Flexão Manteve Aumentou 26º Manteve Manteve Manteve Manteve Manteve Manteve Manteve Manteve Manteve Manteve 0-90º Extensão 0-30º Abdução 0-20º Metacarpofalângeana polegar Flexão Manteve Aumentou 7º Manteve Manteve Aumentou 18º Aumentou 20º Aumentou 30º Aumentou 34º 0-15° Extensão 0-70° MMII Quadril Flexão Aumentou 6º Aumentou 12º Manteve Manteve Manteve Manteve Manteve Manteve 0-125º Extensão 0-10º Joelho Flexão Aumentou 12º Aumentou 10º Manteve Manteve Manteve Manteve Manteve Manteve 0-140º Extensão 0º 26 Tornozelo *Flexão dorsal Aumentou 4º Aumentou 6º Aumentou 2º Aumentou 4º Aumentou 10º Aumentou 9º Aumentou 10º Aumentou 7º 0-20º Flexão plantar 0-45º *Medida feita partindo da plantiflexão Observou-se melhora no que se refere à força muscular de MMII, estes tiveram aumento em flexão de quadril, extensão e flexão de joelho, flexão plantar e flexão dorsal. Em extensão e abdução de quadril houve manutenção da força como pode ser evidenciado na Tabela 2 Tabela 2- Teste de Força Muscular Força Muscular Resultados Dimídio Músculos Direito Esquerdo Íliopsoas e reto femoral (Flexão de quadril) Aumentou Aumentou Glúteo máximo/ Semitendinoso/ Semimembranoso Manteve Manteve Glúteo médio Glúteo mínimo (Abdução de quadril) Manteve Manteve Quadríceps femoral (Extensão do joelho) Aumentou Aumentou Bíceps femoral (Flexão do joelho) Aumentou Aumentou Gastrocnêmio (flexão plantar do tornozelo) Aumentou Aumentou Tibial anterior (flexão dorsal do tornozelo) Aumentou Aumentou (Extensão de quadril) Em relação aos resultados da variável força de preensão, quando comparada às aferições realizadas por meio do dinamômetro Jamar antes e após as intervenções fisioterapêuticas, verificou-se melhora no que se refere à musculatura dos flexores de dedo. Porém em relação à musculatura intrínseca da mão, esta não demonstrou mudanças em sua variável permanecendo bem abaixo da média indicada, como mostra a Tabela 3. 27 Tabela 3- Teste de Preensão Palmar Teste com Jamar Resultados Mão direita Mão esquerda Músculos Intrínsecos Manteve Manteve Músculos Flexores dos Aumentou Aumentou dedos Em relação à sensibilidade tátil, dos 34 pontos avaliados aproximadamente 53% obtiveram melhora sendo que a maioria encontrava-se em MMI, 45% tiveram manutenção e 3% piora como pode ser observado na tabela 4. Tabela 4- Teste de Sensibilidade Tátil SENSIBILIDADE TÁTIL RESULTADOS (ESTESIOMETRIA) MMSS MSD MSE Piorou Manteve Falange distal do 5° dedo Manteve Melhorou Falange proximal 5° dedo Manteve Melhorou Manteve Manteve Melhorou Manteve Manteve Manteve Melhorou Manteve MID MIE Melhorou Manteve Falange distal do 1° dedo Melhorou Melhorou Falange distal do 3° dedo Manteve Melhorou Falange distal do 5° dedo Melhorou Manteve Manteve Melhorou Melhorou Melhorou Melhorou Manteve Nervo Radial 1° metacarpo Nervo Ulnar 5° metacarpo Nervo Mediano Falange distal do 2° dedo Falange proximal 2° dedo Falange distal do 1° dedo MMII Nervo Fibular Profundo 1º metatarso Nervo Tibial posterior 1° metatarso 3° metatarso 5° metatarso 28 cuneiforme medial Melhorou Melhorou cubóide Melhorou Melhorou Manteve Melhorou Calcâneo No que se refere à sensibilidade térmica, dos 34 pontos avaliados aproximadamente 29 % obtiveram melhora, 59% tiveram manutenção e 12 % piora como pode ser observado na tabela 5. Tabela 5- Teste de Sensibilidade Térmica SENSIBILIDADE TÉRMICA MMSS RESULTADOS MSD MSE Manteve Manteve Piorou Manteve Manteve Manteve Manteve Manteve Manteve Manteve Manteve Manteve Manteve Manteve MID MIE Manteve Manteve Falange distal do 1° dedo Melhorou Melhorou Falange distal do 3° dedo Melhorou Manteve Falange distal do 5° dedo Melhorou Melhorou 1° metatarso Piorou Melhorou 3° metatarso Manteve Manteve 5° metatarso Melhorou Melhorou Piorou Manteve Piorou Manteve Melhorou Melhorou Nervo Radial 1° metacarpo Nervo Ulnar Falange distal do 5° dedo Falange proximal 5° dedo 5° metacarpo Nervo Mediano Falange distal do 2° dedo Falange proximal 2° dedo Falange distal do 1° dedo MMII Nervo Fibular Profundo 1º metatarso Nervo Tibial posterior cuneiforme medial cubóide Calcâneo 29 No que se refere à sensibilidade dolorosa não houve alteração no resultado. Por fim, as entrevistas semi-estruturadas foram submetidas à análise de conteúdo. A tabela 6 a seguir mostra os termos utilizados por MF durante as entrevistas. Pode-se observar o quanto é forte a sensação de insegurança manifestada pelo medo de cair, profundas alterações no modo de vida, insatisfação pessoal pela perda da autonomia e afastamento do emprego. Observa-se, também, grande suporte social e problemas no relacionamento familiar, satisfação com o tratamento fisioterapêutico, alteração da imagem corporal e ansiedade. Tabela 6- Relatos das entrevistas semi-estruturadas “só sei que foi paralisando tudo” “Não poder andar direito, dificuldades em subir escadas por medo de cair e pelas cãimbras nas pernas e dificuldades ao subir e descer rampas, porque dá uma sensação de estar “escorregando” e tenho muito desequilíbrios. Não consigo fazer faxina, é horrível depender dos outros para fazer tudo. Quando vou estender roupa tenho que pegar uma peça por vez e mesmo assim só se for leve, porque senão cai da minha mão. Às vezes eu sinto cansaço nos braços quando vou dobrar um lençol e de vez em quando me queimo” “Mudou muita coisa, não consigo fazer os serviços diários (faxina em casa), ir ao banco sozinha, me afastou do trabalho que eu tanto gostava. ...Acho difícil fazer faxina, lavar um banheiro, subir numa escada para arrumar a parte de cima do armário. Não consigo cortar carne, frango e quando tento cortar batatas elas acabam caindo da minha mão” ...”Tenho dificuldades para lavar roupas, limpar azulejo, pois nessas atividades me sinto muito cansada, também tenho dificuldades para subir escadas, pois tenho medo de cair e para sair sozinha, tenho medo de alguém me dar um tranco e eu ir para o chão” “Só de voltar a andar sem dispositivos de auxílio já foi uma benção, pois quando saí do hospital estava na cadeira de rodas. Espero voltar a trabalhar na minha profissão, conseguir pegar uma criança no colo. ... Está ótimo, muito bom. Ajudou a melhorar o movimento dos pés e das mãos, já estou bordando ponto cruz e não sinto mais câimbras.” “Sou muito ansiosa. Estou muito cansada e desanimada”. ... Me sinto triste e isso interfere em mim, parece que tudo endurece, trava braço,trava mão e para não ficar assim saio, vou à rua, leio um livro, vê se me distraio, para ficar melhor”. “Melhorou meu apetite. Tenho vontade de comer coisas gostosas, tudo que vier eu traço, tô igual criança em festa, como o dia todo, sei que tem alguns tipos de alimentos que não posso abusar como, por exemplo, carne de porco, mas de vez em quando abuso e como” “Tomando o remédio, durmo muito bastante, mais ou menos 8 ou mais horas por noite e depois do almoço ainda dou um cochilinho” “De vez em quando vou a uma exposição e às vezes saio com a minha filha, mas é difícil sair porque tenho medo das pessoas me darem um tranco e eu cair. Não faço atividade física”. 30 “O convívio social é muito bom, tenho muitas amizades, quando vou à rua paro para conversar com todos os conhecidos, tenho bastante facilidade de fazer amizade. ... Convivo bem com as pessoas, tenho muitos amigos no Teixeiras, local onde morei por muito tempo. “Meus amigos, vizinhos e mães de meus alunos me davam almoço, me levavam para o Hospital se fosse preciso” “Horroroso, me olho no espelho e me acho muito feia, magra, seca, ossuda. Sinto isso desde que fiquei doente, teve um tempo que mesmo com a doença eu tinha dado uma melhoradinha, mas com o Hidrea, emagreci novamente” “Melhor, bem melhor, principalmente para quem não andava. Não fazia comida, arrumava casa, hoje consigo fazer isso tudo, mas é claro que bem devagar e com calma, faço uma coisa de cada vez. Queimava-me muito ao fazer comida, isso melhorou bastante, hoje não me queimo com tanta frequência”. “Faço tudo bem devagar e cada coisa de uma vez, não saio sozinha e quando preciso Marina minha filha, ou meu marido ajudam, peço a eles para fazerem” “Meu marido é indiferente, não comenta nada, para ele o importante é eu passar, lavar e cozinhar, me aborrece bastante, pois fuma dentro de casa e nem se incomoda comigo e se isto interfere na minha saúde, hoje, ele é como um irmão para mim, mas mesmo antes da doença já tínhamos separação de corpos. Quando fico internada ou preciso ir ao médico é minha filha que me ajuda e me dá todo o apoio, ela não me deixa desistir, me dá forças”. “Na minha fase de emagrecimento as pessoas perguntavam se eu estava com AIDS, mas isso nunca me preocupou fora isto não sofro nenhum tipo de preconceito, os motoristas me esperam subir e descer do ônibus e tem muita paciência”. “Se eu vou melhorar, ficar boa. Os movimentos dos meus pés e da mão esquerda, pois tudo que faço tenho que fazer somente com a mão direita. ... O tratamento tem sido muito bom, principalmente com a fisioterapia. ... Não sei, não tenho muito que esperar, não penso no futuro, a única coisa que espero é continuar melhor. Antes não conseguia assinar meu nome, hoje já consigo, penduro as roupas, que antes caíam de minha mão, ando sem catar cavaco na rua, como de costume, espero continuar assim” A escolha das categorias seguiu o critério da análise de conteúdo proposta por Bardin descrita em Oliveira (2003), Campos (2004), Rocha (2005) e Farago e Fofonca 2009 ou 2010, e que segundo estes autores, consiste em refletir sobre o objeto a ser utilizado. Neste estudo foram utilizadas duas entrevistas semiestruturadas, e após a análise das respostas as mesmas foram agrupadas por itens de sentido ou unidades de vocabulário e assim categorizadas. A tabela 7 a seguir mostra as categorias que foram elaboradas através da análise dos relatos do sujeito MF. 31 Tabela 7- Categorias ou unidades de análise CATEGORIAS Perda e dificuldade nos movimentos voluntários Perda da funcionalidade, perda do equilíbrio Mudança nas AVDs, perda da independência e da autonomia Expectativa de retomar os movimentos e a funcionalidade para retornar ao trabalho de recreadora Ansiedade, Depressão, Astenia Melhora e satisfação Uso de medicação Medo de cair Suporte emocional na comunidade em que vive Alteração da imagem corporal. Emagrecimento Melhora na marcha e na funcionalidade cotidiana Calma e necessidade de ajuda de outros Suporte familiar Preconceito e estigma Cura e melhora dos movimentos e da funcionalidade. 32 5 DISCUSSÃO A Fisioterapia atua na NP norteada pelas manifestações encontradas e com o objetivo de prevenir sequelas e/ou tratar déficits instalados. Neste sentido atua melhorando as funções motoras, sensitivas, neurológias, quadros dolorosos e parestesias que, em conjunto ou isoladamente, causam diminuição na capacidade funcional do indivíduo na realização de suas atividades de vida diária e consequentemente repercutem negativamente nas dimensões sociais e psicológicas de sua vida (CASTRO et al 2006, Rodrigues et al. 2008). Devido à escassez de fontes bibliográficas que abordem o tratamento fisioterapêutico na neuropatia periférica causada por SHI, alguns autores podem contribuir com experiências vivenciadas em outras patologias, nas quais o quadro clínico se assemelha ao quadro das neuropatias por SHI. O estudo de Sacco et al. (2007) demonstrou que neuropatas diabéticos apresentam diferenças significativas em relação às perdas sensitivas, de função muscular, amplitude de movimen to e funcionais quando comparados com indivíduos não diabéticos, sugerindo que essas diferenças podem ser atribuídas à neuropatia diabética. Esta proposta de Sacco et al (2007) é coerente com os dados deste trabalho pois, apesar da causa etiológica da neuropatia ser diferente, a paciente apresentou sintomas semelhantes. No que se refere à força muscular e a função motora, por exemplo, há um ganho relativo após a intervenção fisioterapêutica proposta. O mesmo resultado também foi encontrado no trabalho de Rodrigues et al. (2008), no qual relatou a atuação da fisioterapia em uma portadora de Porfiria Aguda Intermitente, cursando com polineuropatia, parestesia podal, dificuldade de deambulação com evolução para uma tetraparesia. A intervenção fisioterapêutica em casos de neuropatia periférica por Hanseníase também obteve resultados positivos no estudo de Silva e Aroca (2008) onde o paciente também apresentava hipoestesia, diminuição da força muscular e encurtamento muscular e com a intervenção fisioterapêutica obteve melhora na força muscular, ADM e deformidades, assim como encontrado no presente estudo. Foram encontrados resultados positivos da intervenção fisioterapêutica em casos de neuropatia periférica decorrente da Doença de Charcot-Marie-Tooth. Após 33 oito semanas de intervenção houve ganhos de força, resistência, flexibilidade muscular e equilíbrio em um paciente com marcha escarvante, atrofia, fraqueza e hipotonia muscular, hipoestesia e hiporreflexia, apresentando dificuldades para deambular, sentar-se em locais baixos, manter-se de pé por tempo prolongado, subir e descer escadas (Vieira et al. 2008). Após intervenção fisioterapêutica MF relata sua percepção quanto ao próprio estado de forma positiva o que aponta para a importância da melhora (subjetiva ou objetiva) dos fatores de força muscular e movimentação voluntária/ funcionalidade para a sua independência funcional, ampliação do convívio social e qualidade de vida. ...O tratamento tem sido muito bom, principalmente com a fisioterapia....Não sei, não tenho muito que esperar, não penso no futuro, a única coisa que espero é continuar melhor. Antes não conseguia assinar meu nome, hoje já consigo, penduro as roupas, que antes caíam de minha mão, ando sem catar cavaco na rua, como de costume, espero continuar assim....Está ótimo, muito bom. Ajudou a melhorar o movimento dos pés e das mãos, já estou bordando ponto de cruz e não sinto mais câimbras....Não fazia comida, arrumava casa, hoje consigo fazer isso tudo, mas é claro que bem devagar e com calma, faço uma coisa de cada vez (MF). Os relatos acima mencionados também evidenciam a melhora de MF em relação à força de musculatura intrínseca da mão quando se refere à motricidade fina (preensão para pegar objetos, bordado e a escrita). Neste sentido, a literatura relata melhora considerável dos quadros, assim como no estudo de Lima, Miranda e Ferreira (2009), não observada quantitativamente durante esta pesquisa, inclusive estando esta aquém das médias de força tidas como ideais. No que se refere à musculatura de flexores houve melhora considerável do quadro. Entretanto, não se encontram na literatura parâmetros que delineiem médias ideais para esta variável. Deve-se levar também em consideração o estado psicológico da paciente, que se encontrava esmorecida e magoada no dia da reavaliação do teste de força muscular, o que pode ter influenciado nos valores encontrados. Quanto à sensibilidade tátil parte das áreas avaliadas apresentou melhora e outras mantiveram os valores encontrados na avaliação, corroborando com o trabalho de Gomes et al. (2006) no que se refere a manutenção da sensibilidade tátil antes e após programa de intervenção. 34 No que se refere à sensibilidade térmica observou-se em alguns pontos piora da ao contrário da sensibilidade tátil contradizendo os estudos de Silva e Aroca, (2008) que obtiveram uma manutenção da sensibilidade e no estudo de Gomes et al. (2006) que obteve importante melhora da sensibilidade térmica em todas as regiões plantares, com exceção do médio-pé. Sugere-se que tal discordância com a literatura se deva ao fato de não conseguirmos seguir o protocolo proposto neste quesito devido à dificuldade de obter os materiais utilizados para a dessensibilização térmica proposta no nosso tratamento. Entretanto, MF refere melhora em seu relato quando diz “... queimavame muito ao fazer comida, isso melhorou bastante, hoje não me queimo com tanta freqüência”. A sensibilidade dolorosa manteve-se preservada de acordo com os resultados da reavaliação. Não foram encontradas referências na literatura que pudessem corroborar estes dados. No estudo de Brasil e Pondé (2008), há uma associação entre as alterações físico-funcionais impostas pela doença e transtornos mentais como depressão e ansiedade fato este presente neste estudo evidenciado pelos relatos de MF: “Sou muito ansiosa. Estou muito cansada e desanimada” (MF). Neste mesmo estudo há uma associação entre sintomas de depressão e insônia o que também foi relatado por MF. “Tomando o remédio, durmo muito bastante, mais ou menos oito ou mais horas por noite e depois do almoço ainda dou um cochilinho” demonstrando a necessidade de medicação para dormir. A falta de esperança quanto ao seu futuro também constitui um fator depressivo demonstrado em seus relatos quando ao ser questionada sobre o que espera dos tratamentos que realiza diz: “...Não sei, não tenho muito que esperar, não penso no futuro, a única coisa que espero é continuar melhor...” (MF). Muitas vezes os transtornos depressivos encontram-se associados a transtornos de ansiedade, levando-se em consideração que a doença impôs um novo estilo de vida a MF marcado por incapacidades funcionais, perda de autonomia e independência. (ZIMMERMAN; MCDERMUT; MATTIA, 2007). O enfrentamento dessa nova condição de vida acabou gerando medo de enfrentamento da doença, o que pode ter gerado transtornos de ansiedade no sujeito como demonstrados pela expressão: “...Sou muito ansiosa...” (MF). 35 Observa-se um aumento do apetite em MF, provavelmente como consequência do enfrentamento desses problemas. “Melhorou meu apetite. Tenho vontade de comer coisas gostosas, tudo que vier eu traço, tô igual criança em festa, como o dia todo...”. Nota-se a partir da entrevista feita que MF apresenta marcada sensação de insegurança ao deambular quando diz: Não poder andar direito, dificuldades em subir escadas por pelas câimbras nas pernas e dificuldades ao subir e descer dá uma sensação de estar escorregando e desequilíbrios.......também tenho dificuldades para sair medo de alguém me dar um tranco e eu ir para o chão (MF). medo de cair e rampas, porque tenho muito sozinha, tenho Conforme já citado por Santos et al. (2008), a perda da propriocepção e a diminuição da sensibilidade plantar em NP diabética podem levar a restrições do equilíbrio postural, podemos estender essa restrição também para a marcha conforme verificado pelos seus relatos citados acima. Tais fatores acabam gerando a sensação de cair e por consequência o medo de cair, trazendo repercussões negativas no seu bem-estar físico e funcional, na independência e na capacidade de realizar normalmente as atividades de vida diária (SIMPSON, 2000; STEPHANIE & LYNDA, 2002; WEBBER, 2004; ISHIZUKA, 2003). O tratamento fisioterapêutico proposto por Santos et al (2008) apresentou melhora na estabilidade postural dos sujeitos após incremento da propriocepção e melhora da sensibilidade plantar. Neste estudo pode-se observar o mesmo pelo seu relato “...ando sem catar cavaco na rua, como de costume, espero continuar assim. ...Ajudou a melhorar o movimento dos pés, ...Não sinto mais câimbras” (MF). Demonstrando que o tratamento proposto mostrou resultados positivos no que se refere a sua locomoção, o que de certa forma contribui no sentido de reduzir o medo de cair. Como já explicitado anteriormente por Freitas e Mendes (2007), as doenças crônicas impõem profundas transformações na vida do sujeito podendo comprometer sua vida em diversos aspectos, decorrentes das alterações na realização de atividades de vida diária, perda da independência e da autonomia como relata: 36 ... Mudou muita coisa, não consigo fazer os serviços diários (faxina em casa), ir ao banco sozinha, me afastou do trabalho que eu tanto gostava....Faço tudo bem devagar e cada coisa de uma vez, não saio sozinha e quando preciso Marina minha filha, ou meu marido ajudam, peço a eles para fazerem (MF). A imagem corporal refere-se à representação mental do próprio corpo, envolve aspectos relacionados à estrutura e à aparência, componentes psicológicos e físicos. Aspectos como prazer e desprazer também contribuem para a formação dessa imagem, manifestando-se como preocupações obsessivas por centímetros ou gramas de gordura e medo de ver refletida a própria imagem. Sofre influência de fatores relacionados ao meio e questões próprias do indivíduo (VASCONCELLOS et al., 2011). Através do relato de MF, podemos constatar o quanto a doença influenciou sua percepção de imagem corporal referida por ela como “Horroroso, me olho no espelho e me acho muito feia, magra, seca.... Ossuda”. Este aspecto também é explicado por um emagrecimento real observado no decorrer do tratamento proposto. Ela também associa esse emagrecimento ao uso de um medicamento “...Sinto isso desde que fiquei doente, teve um tempo que mesmo com a doença eu tinha dado uma melhoradinha, mas com o Hydrea, emagreci novamente” (MF). O estudo de Martins, França e Kimura (1996) propõem que a alteração na auto-estima, sendo referida pelos participantes como insatisfação com a autoimagem, está relacionado com a redução da qualidade de vida. Assim como os portadores de HIV passam por preconceitos decorrentes do estigma social imposto pela doença, percebemos que embora soronegativa MF sentiu de forma sutil o preconceito pela associação equivocada do seu emagrecimento com o fato de poder estar com HIV (ABDALLA; NICHIATA, 2008). MF relata: “Na minha fase de emagrecimento as pessoas perguntavam se eu estava com AIDS, mas isso nunca me preocupou...”. O agravamento de conflitos intrapsíquicos também repercute na evolução do seu quadro “...Me sinto triste e isso interfere em mim, parece que tudo endurece, trava braço, trava mão...” (MF), demonstrando que tanto aspectos psicológicos quanto somáticos se associam contribuindo para as oscilações observadas durante o seu tratamento e interferem na evolução de seu caso, conforme relatou FLEK et al., 2003; MARTINS; FRANÇA; KIMURA, 2006; HUMES; DEMETRIO, 2010 em seus estudos. SCHMITZ et al., 2007; TENG; 37 No que diz respeito às relações sociais, MF encontra grande suporte social, apesar do estudo de Martins, França e Kimura (1996) relatar que 32,4% dos pacientes entrevistados relataram alterações no relacionamento social devido a desentendimentos com amigos por alterações do humor, impaciência e desequilíbrio emocional. O convívio social é muito bom, tenho muitas amizades, quando vou à rua paro para conversar com todos os conhecidos, tenho bastante facilidade de fazer amizade....Não sofro nenhum tipo de preconceito, os motoristas me esperam subir e descer do ônibus e têm muita paciência....Convivo bem com as pessoas, tenho muitos amigos no Teixeiras, local onde morei por muito tempo. “Meus amigos, vizinhos e mães de meus alunos me davam almoço, me levavam para o Hospital se fosse preciso (MF). Quanto às relações familiares a literatura relata que portadores de condições crônicas, podem passar por alterações nas relações familiares. MF relata indiferença por parte do marido, recebendo apoio somente da filha. Meu marido é indiferente, não comenta nada, para ele o importante é eu passar, lavar e cozinhar, me aborrece bastante, pois fuma dentro de casa e nem se incomoda comigo e isto interfere na minha saúde, hoje, ele é como um irmão para mim, mas mesmo antes da doença já tínhamos separação de corpos. Quando fico internada ou preciso ir ao médico é minha filha que me ajuda e me dá todo o apoio, ela não me deixa desistir, me dá forças (MF). A falta de apoio familiar por parte do marido contribui para agravar os fatores psíquicos e a deixa mais depressiva, muitas vezes chegando ao atendimento fisioterapêutico queixando-se dele e aproveitando para desabafar. No estudo de Martins, França e Kimura (1996), a maioria das pessoas relataram que não houve interferência no relacionamento familiar, apesar do número bastante reduzido, houve indicações de que a doença crônica teve impacto positivo em suas vidas, pois relataram receber maior atenção por parte dos familiares, ao contrário do que foi visto neste caso, por parte de seu marido. Estes fatores em conjunto demonstram o grande impacto que a doença causou na vida de MF, reduzindo sua percepção subjetiva de qualidade de vida. É enfática a grande satisfação com o tratamento fisioterapêutico ao citar: O tratamento tem sido muito bom, principalmente com a fisioterapia. ...Antes não conseguia assinar meu nome. ...Melhor, bem melhor, principalmente para quem não andava. ...Não fazia comida, arrumava casa, hoje consigo fazer isso tudo, mas é claro que bem devagar e com calma, faço uma coisa de cada vez. ...Só de voltar a andar sem dispositivos de auxílio já foi uma benção, pois quando saí do hospital estava na cadeira de rodas (MF). 38 Quanto às expectativas em relação ao tratamento proposto no início da intervenção, demonstrava grande desejo em voltar a trabalhar como recreadora em uma creche ao dizer “Espero voltar a trabalhar na minha profissão, conseguir pegar uma criança no colo” (MF). Este certamente foi o verdadeiro e principal objetivo que se transformou em resultado, tido como um grande êxito conquistado no tratamento proposto, pois no decorrer do mesmo ela nos trouxe a notícia de que foi convidada a voltar a trabalhar na mesma escola onde trabalhava. De modo geral MF demonstrou satisfação em relação a todos os ganhos físico-funcionais obtidos. Portanto, como citado por Martins, França e Kimura (1996), torna-se importante levar em consideração o domínio da subjetividade na vida desses sujeitos. Devemos atuar como fisioterapeutas de forma a promover o melhor nível de capacidade funcional, e como decorrência melhora nos transtornos emocionais os quais estas pessoas estão expostas. 39 6 CONCLUSÃO Conclui-se que a intervenção fisioterapêutica é de fundamental importância na melhora de força muscular, ADM, sensibilidade tátil, força de flexores de dedos, melhora no movimento de pinça, manutenção de sensibilidade dolorosa, contribuindo assim para uma melhora na qualidade de vida de uma paciente com neuropatia periférica causada por Síndrome Hipereosinofílica Idiopática. Além disso, nota-se uma melhora na percepção do impacto emocional e social na vida do sujeito, que pode ser observado através das entrevistas. Entretanto, não podemos ampliar tais conclusões a todos os sujeitos portadores da mesma doença, uma vez que este trabalho aborda o estudo de um caso clínico único. Durante a realização da pesquisa algumas dificuldades foram enfrentadas, entendidas como limitações do estudo. As mais significativas e que merecem ser citadas foram a carência de referências na literatura pesquisada sobre estudos que abordem a NP causada pela SHI, além de estudos que avaliem a intervenção fisioterapêutica e as repercussões da doença quanto aos aspectos físico-funcionais, emocionais e sociais neste tipo de doença e a não aplicação de questionário para a avaliação psicológica. Diante disso, tivemos de nos reportar a estudos semelhantes que abordaram outros quadros de neuropatias. A falta de estudos, a repercussão positiva da fisioterapia e a notícia trazida por MF de que foi convidada novamente a retornar ao trabalho, nos remete à fundamental importância de que mais estudos sejam iniciados, a fim de produzir e divulgar resultados de relevância acadêmica e científica neste tema. 40 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABDALLA, F.T.M.; NICHIATA, L.Y.I; A Abertura da privacidade e o sigilo das informações sobre HIV/ Aids das mulheres atendidas pelo programa de saúde da família no município de São Paulo, Brasil. Saude soc.,v.17, n.2, abr./jun., 2008. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. BRASIL, I. S. P. S.; PONDÉ, M. P. Sintomas ansiosos e depressivos e sua correlação com intensidade da dor em pacientes com neuropatia periférica. Rev. Psiquiatr, RS, v.31, n.1, p. 24-31, 2009. BRASIL, Ministério da Saúde. Guia para o controle de Hanseníase. Secretaria de políticas de saúde, departamento de atenção básica. Brasília, DF, p. 19, 2002. CAMPOS, C. J. 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CEP: 36021-700 – JUIZ DE FORA – MG FONE: (32) 3235-6540 E-MAIL: [email protected] TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO A Senhora está sendo convidada como voluntária a participar da pesquisa “Eficácia da intervenção fisioterapêutica na neuropatia periférica causada por Síndrome Hipereosinofílica Idiopática Estudo de um caso”. Neste estudo pretendemos demonstrar a eficácia de um protocolo de intervenção fisioterapêutica na Síndrome Hipereosinofílica Idiopática através do estudo de seu caso. O motivo que nos leva a estudar refere-se ao fato de não haver nenhum relato na literatura que aborde a intervenção fisioterapêutica em pacientes acometidos por essa síndrome, e também por ser tão rara, principalmente em mulheres. Para este estudo adotaremos os seguintes procedimentos: Avaliação Fisioterapêutica;Teste de Sensibilidade com estesiômetro, tubos de ensaio e um objeto pontiagudo; Testes de força de preensão com Dinamômetro Jamar e teste de força de Kendall. Estes testes nos permitirão entender como está à sensibilidade, força e equilíbrio da senhora. Os mesmos apresentam riscos de execução mínimos, porém permitem a detecção precoce de alterações de sensibilidade, déficit de força e equilíbrio. A seguir a Sra. será submetida a um protocolo de intervenção fisioterapêutica que constará de estímulos sensoriais, técnicas de alongamento e fortalecimento, e treino de marcha. Qualquer prejuízo gerado pela execução destes procedimentos será ressarcido pelas responsáveis da pesquisa. Para participar deste estudo a Senhora não terá nenhum custo, nem receberá qualquer vantagem financeira. Além disso, será esclarecida sobre o estudo em 46 qualquer aspecto que desejar e estará livre para participar ou recusar-se a participar. Poderá retirar seu consentimento ou interromper a participação a qualquer momento. A sua participação é voluntária e a recusa em participar não acarretará qualquer penalidade ou modificação na forma em que é atendido pelas pesquisadoras. As pesquisadoras irão tratar a sua identidade com padrões profissionais de sigilo. Os resultados da pesquisa estarão à sua disposição quando finalizada. Seu nome ou o material que indique sua participação não será liberado sem a sua permissão. A Sra. não será identificado em nenhuma publicação que possa resultar deste estudo. Este termo de consentimento encontra-se impresso em duas vias, sendo que uma cópia será arquivada junto à cópia dos instrumentos utilizados para a coleta de dados pelo prazo de cinco anos, na Faculdade de Fisioterapia da Universidade Federal de Juiz de Fora sob responsabilidade das pesquisadoras responsáveis. A outra cópia do termo de consentimento será fornecida a você. Eu, ____________________________________________, portador do documento de Identidade ____________________ fui informada dos objetivos do estudo “Eficácia da intervenção fisioterapêutica na neuropatia periférica causada por Síndrome Hipereosinofílica Idiopática: Estudo de um caso”, de maneira clara e detalhada e esclareci minhas dúvidas. Sei que a qualquer momento poderei solicitar novas informações e modificar minha decisão de participar se assim o desejar. Declaro que concordo em participar desse estudo. Recebi uma cópia deste termo de consentimento livre e esclarecido e me foi dada à oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas. Juiz de Fora, _________ de __________________________ de 2011. Nome Assinatura participante Data Nome Assinatura pesquisador Data Nome Assinatura testemunha Data 47 Em caso de dúvida entre em contato com o pesquisador responsável, cujos contatos encontram-se no início deste termo. Em caso de dúvidas com respeito aos aspectos éticos deste estudo, você poderá consultar o CEP- COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA/UFJF CAMPUS UNIVERSITÁRIO DA UFJF PRÓ-REITORIA DE PESQUISA CEP 36036.900 FONE: 32 3220 3788 Tire suas dúvidas sobre riscos, acesse: [email protected] 48 APÊNDICE 2- ENTREVISTA INICIAL Dados pessoais: Nome: Idade: Endereço: Telefone: Sexo: Profissão: A doença atual: Síndrome hipereosinofílica idiopática O que você entende sobre sua doença? O que mais lhe incomoda em relação a ela? Qual (is) aspectos modificaram sua vida após a doença? Existe algo mais que você gostaria de saber a respeito de sua doença? O que você gostaria que melhorasse? Como tem sido o tratamento, desde que descobriu sua doença? A respeito da fisioterapia, que benefícios trouxe-lhe desde o início do tratamento e em que mais você espera que ela contribua em sua vida? Atividades de vida diária: Existe alguma tarefa de casa que você considera ser difícil de realizar ou mesmo não consegue realizar? Quantas horas você dorme por dia? Apresenta algum distúrbio emocional (estresse, ansiedade, depressão)? Você realiza algum tipo de atividade física? E quanto ao lazer? E quanto ao convívio social? 49 APÊNDICE 3- PROTOCOLO DE AVALIAÇÃO Data da avaliação: Pesquisadoras: Anamnese: Hipótese Diagnóstica clínica: Outras doenças associadas ao quadro atual: História da doença atual e pregressa: Exames complementares: Outros tratamentos realizados: Exame físico: Funções tróficas: - Inspeção: - Palpação: - Pressão arterial: - Peso: Movimento voluntário*: MEMBRO SUPERIOR FLEXÃO DE OMBRO FLEXÃO DE OMBRO E DE COTOVELO FLEXÃO DE OMBRO/EXTENSÃO DE COTOVELO EXTENSÃO DE PUNHO E DEDOS FLEXÃO DE PUNHO E DEDOS MEMBRO INFERIOR Contatos: MEMBRO SUPERIOR DIREITO (MSD) ( )realizou ( )não realizou ( )realizou ( )não realizou MEMBRO SUPERIOR ESQUERDO (MSE) ( )realizou ( )não realizou ( )realizou ( )não realizou ( )realizou ( )não realizou ( )realizou ( )não realizou ( )realizou ( )não realizou ( )realizou ( )não realizou ( )realizou ( )não realizou ( )realizou ( )não realizou MEMBRO INFERIOR DIREITO (MID) DE ( )realizou ( )não realizou FLEXÃO COXOFEMORAL DORSIFLEXÃO ( )realizou EXTENSÃO DE ( )realizou ( )não realizou ( )não realizou MEMBRO INFERIOR ESQUERDO (MIE) ( )realizou ( )não realizou ( )realizou ( )realizou ( )não realizou ( )não realizou * Teste realizado através da instrução verbal seguida da realização de todos os movimentos elencados acima feitos pelas pesquisadoras, sendo pedido à paciente que os realize. 50 Reflexos*: MEMBRO SUPERIOR BICCIPITA L MSD ( ) diminuído ( ) normal TRICIPTAL () diminuído ( ) normal MEMBRO INFERIOR MID AQUILEU () diminuído MSE ( ) aumentad o ( ) aumentad o ( ) diminuído ( ) normal ( ) aumentado ( ) diminuído ( ) normal ( ) aumentado () normal ( ) aumentado MIE () normal () aumentad o () diminuído *Teste realizado através da percussão do martelo de reflexos sobre os respectivos pontos de avaliação desses nervos. Amplitude de movimento (principais articulações)*: Principais movimento s Ativa Direito Passiva Esquerdo Direito MMSS Ombro Parâmetro Esquerdo Flexão 0-180º Extensão 0-45º Abdução 0-180º Adução 0-40º Cotovelo Flexão 0-145º Punho Flexão Extensão 0-90º 0-70º Metacarpofalangeana Flexão 0-90º Extensão 0-30º Abdução 0-20º Metacarpofalângeana do polegar Flexão 0-15º Extensão 0-70º 51 MMII Quadril Flexão 0-125º Extensão 0-10º Joelho Flexão 0-140º Extensão 0º Tornozelo Flexão dorsal 0-20º *Mensuração obtida através do goniômetro: instrumento amplamente usado na prática para avaliar o grau de mobilidade das articulações e assim verificar se há restrições da amplitude de movimento. Dinamometria: TESTE COM JAMAR MÚSCULOS INTRÍNSECOS MÚSCULOS FLEXORES DOS DEDOS Mão direita Mão esquerda * Teste realizado com Dinamômetro Jamar Teste de força muscular* Movimento/ Músculos Grau o Grau 1 Grau 2 Flexão do quadril Íliopsoas e reto femoral Extensão de quadril Glúteo máximo/ Semitendinoso/ Semimembranoso Abdução de quadril Glúteo médio Glúteo mínimo Extensão de joelho Quadríceps femoral Flexão do joelho Bíceps femoral Flexão plantar do tornozelo Grau 3 Grau 4 Grau 5 52 Gastrocnêmio Flexão dorsal do tornozelo Tibial anterior *Teste realizado de acordo com o protocolo de Kendall. Sensibilidade (superficial ou exteroceptiva) Sensibilidade Térmica MEMBROS SUPERIORES 1. Nervo radial cutâneo (dorso da mão) 2. Nervo ulnar (palma da mão) 3. Nervo mediano (palma da mão) Normal Com alteração Sem sensibilidade MEMBROS INFERIORES 1. Nervo fibular profundo 2. Nervo tibial posterior 53 Sensibilidade Dolorosa MEMBROS SUPERIORES MEMBROS INFERIORES 1. Nervo radial cutâneo (dorso da mão) 1. Nervo fibular profundo 2. Nervo ulnar (palma da mão) 2. Nervo tibial posterior 3. Nervo mediano (palma da mão) Normal Com alteração Sem sensibilidade 54 APÊNDICE 4- TESTE DE SENSIBILIDADE TÁTIL- ESTESIOMETRIA MEMBROS SUPERIORES MEMBROS INFERIORES 1. Nervo radial cutâneo (dorso da mão) 1. Nervo Fibular profundo 2. Nervo ulnar (palma da mão) 2. Nervo tibial posterior 3. Nervo mediano (palma da mão) Verde ( 0,05 g): sensibilidade “normal” para mãos e pés. Azul (0,2 g): sensibilidade diminuída na mão, com dificuldade quanto à discriminação fina, normal para o pé. Violeta (2g): sensibilidade protetora para a mão diminuída, permanecendo suficiente para prevenir lesão. Dificuldades com a discriminação de forma e temperatura. Vermelho escuro (4g): perda de sensação protetora para a mão, e ás vezes para o pé. Vulnerável a lesão. Perda da discriminação quente/frio. Laranja (10 g): perda da sensação protetora para o pé, ainda podendo sentir pressão profunda e dor. Vermelho majenta (300g): sensibilidade á pressão profunda, podendo ainda sentir dor. Preto: nenhuma resposta-perda da sensibilidade à pressão profunda, normalmente não podendo sentir dor. 55 APÊNDICE 5- PROPOSTA DE INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA 1° 2° 3° 4° 5° 6° 7° 8° 9° 10° 11° Aferição de Pressão Arterial. Alongamento passivo de membros superiores (peitoral, bíceps braquial, flexores de punho e de dedos, trapézio superior, esternocleidomastóideo) e membros inferiores (tríceps sural, ísquio-tibiais, quadríceps) mantidos por 30 segundos. Mobilizações articulares nas mãos e nos pés. Dessensibilização de membros superiores e membros inferiores com materiais de diferentes texturas: esponja, escova, sagu, algodão. Utilização de estímulos com água fria e quente nos membros superiores e membros inferiores. Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (Método Kabat) na diagonal secundária em membros superiores. Treino de marcha, com escadas, obstáculos e dissociação de cinturas Exercícios de fortalecimento de flexores dos dedos com digiflex, em três séries de dez repetições. Exercícios isotônicos de membros inferiores, estando a paciente sentada num banco com caneleira de 1 kg em cada perna realizará a extensão da perna tirando o pé do chão, por três séries de dez repetições, realizando com uma perna de cada vez. Exercícios isotônicos de membros inferiores, estando a paciente em posição ortostática, com caneleira de 1 Kg, realizando movimentos de flexão de joelho, por 3 séries de 10 repetições. Exercícios ativos resistidos com auxílio de faixa terapêutica de borracha (TheraBand amarela [40 cm], oferece resistência de 6,75 N) para fortalecimento de dorsiflexores, e plantiflexores do pé. 56 APÊNDICE 6- ENTREVISTA FINAL 1) Como você vê seu corpo? 2) Como você vê seu corpo agora que faz fisioterapia? 3) Como você avaliaria sua vida atualmente? 4) Como você avaliaria seu estado psicológico (ou suas emoções)? 5) Quais as dificuldades encontradas no seu dia-dia? 6)O que você faz para enfrentar suas dificuldades? 7)O que você espera dos tratamentos que faz? 8) Você tem apoio familiar? 9) Já passou por algum tipo de preconceito? 10) Como anda sua vontade de comer? 11) Como anda seu sono? 57 APÊNDICE 7 - ANAMNESE E EXAME FÍSICO Data da avaliação: 26/10/2011 Anamnese: Hipótese Diagnóstica clínica: Neuropatia periférica causada por Síndrome Hiperosinofílica Idiopática. Outras doenças associadas ao quadro atual: Bronquite Asmática, Insuficiência Cardíaca e Hipertensão Arterial, miocardiopatia dilatada Exames complementares: hemograma com 26300/mm3 leucócitos (VR: 3.600 a 11000 mm3), 6049mmc eosinófilos (VR: 80 a 500 mmc) e 629000/mm3 plaquetas (VR: 140000 a 400000/mm3); Vit B12: 728,0 PICOG/ML (VR: 116,0 a 517,0 PICOG/ML); Hormônios T4 Livre:1,44 nanog/dl (VR:0,54 a 1,24 nanog/dl) e TSH ultra sensível dentro do VR; Cálcio 11,9 mg/dl (VN: 8,8 a 11,0 mg/dl); Fosfatase alcalina: 209 U/L (VN: 27 a 100 mg/dl); Glicose e proteínas totais com valores normais e urina sem elementos anormais. Em relação à imunologia os exames HIV, FAN (Hep2) e neutófilosanti-anca deram negativos, a proteína C-Reativa e o fator reumatóide deram positivos. A radiografia de tórax mostrou opacidade interstício-alveolar nas bases pulmonares, seios costofrênicos velados e análise cardíaca prejudicada; o ecocardiograma foi compatível com miocardiopatia dilatada; a USG abdominal demonstrou fígado aumentado de tamanho, rim direito ectópico, localizado no mesogástrio, de tamanho normal e contendo imagens ecogênicas, sugestivas de cálculos e derrame pleural bilateral e a USG transvaginal não evidenciou alterações. A endoscopia digestiva mostrou hérnia hiatal por deslizamento, mucosa distal opalescente, gastrite atrófica moderada e pólipo gástrico e a colonoscopia sugeriu doença inflamatória intestinal (Doença de Crohn?). O exame citopatológico do colo do útero foi negativo para neoplasia e o laudo anatomo-patológico mostrou aspecto de medula óssea hiperplásica hipereosinofílica. Aproximadamente dois meses após a alta hospitalar a paciente apresentou hemograma dentro da faixa da normalidade e desde então vem apresentando variação entre valores de normalidade e anisocitose (variação no tamanho das hemáceas). Realizou ecocardiograma com Doppler compatível com hipertrofia concêntrica do VE de grau discreto, alteração segmentar da contratilidade do VE com comprometimento de grau discreto da função sistólica e diastólica, Insuficiência aórtica e mitral de grau discreto; teste ergométrico inconclusivo para isquemia do miocárdio por não atingir a FC submáxima e capacidade aeróbica fraca para a idade. No exame de eletromiografia de membros superiores e inferiores, realizada em 06/07/11 revelou sinais neurofisiológicos compatíveis com mononeurite múltipla, mais 58 intensa nas regiões distais de membros inferiores, assimétrica (maior comprometimento de membro inferior direito) de provável natureza axônico-mielínica. Tratamentos realizados: Tratamento fisioterapêutico desde abril de 2010 e tratamento médico com corticoterapia. Exame físico: Inspeção: Apresentou membros superiores e pés ressecados, com descamação e rachaduras no calcanhar. Havia minúsculos pontos de pigmentação avermelhada no terço distal dos membros inferiores e varizes em membros inferiores. Palpação: Observou-se flacidez periférica e hipotrofia em membros superiores, sendo mais acentuada no MSE, e nos MMII Pressão arterial média: 140/80 mmHg Massa corporal: 49,45 Kg 59 APÊNDICE 8 - RESULTADOS ENCONTRADOS NA AVALIAÇÃO E REAVALIAÇÃO AVALIAÇÃO REAVALIAÇÃO Movimentação voluntária MS MSD MSE MSD MSE Flexão de realizou realizou realizou realizou realizou realizou realizou realizou realizou realizou realizou realizou realizou realizou realizou realizou realizou realizou realizou realizou MI MID MIE MID MIE Flexão de realizou realizou realizou realizou Dorsiflexão realizou realizou realizou realizou Extensão de realizou realizou realizou realizou ombro Flexão de ombro e de cotovelo Flexão de ombro/ extensão de cotovelo Extensão de punho e dedos Flexão de punho e dedos coxofemoral coxofemoral MS MSD Reflexos MSE MSD MSE BICCIPITA normal normal normal normal TRICIPTAL normal normal normal normal MI MID MIE MID MIE AQUILEU diminuído diminuído diminuído diminuído PATELAR diminuído normal diminuído normal L 60 Amplitude de movimentos Principais ADM ativa ADM passiva ADM ativa movimentos ADM passiva *Dimídio D E D E D E D E Ombro Flexão 150° 140° 170° 152° 180° 180° 180° 180° 30° 28° 40° 36° 40° 45° 45° 45° 170° 128° 180° 152° 180° 180° 180° 180° 24° 22° 30° 30° 40° 40° 40° 40° 145° 145° 145º 145° 0-180º Extensão 0-45º Abdução 0-180º Adução 0-40° Cotovelo Flexão 130° 120° 145° 145° 0-145º Punho Flexão 68° 54° 72° 82° 74° 70° 90° 90° 52° 56° 70º 70° 56° 60° 70° 70° 0-90º Extensão 0-70º Metacarpofalângeanas Flexão 90° 64° 90º 90° 90° 90° 90° 90° 30° 20° 30° 30° 30º 20º 30º 30° 20° 12° 20° 20° 20° 12° 20° 20° 15° 15° 15° 60º 70º 70º 0-90º Extensão 0-30º Abdução 0-20º Flexão 0-15° 15° Extensão 0-70° 32° Metacarpofalângeana polegar 8° 15° 15º 15° 20° 40° 36° 70º 61 MMII Quadril Flexão 90° 90° 98º 120° 96° 102° 98° 120° 10° 10° 10° 10° 10° 10° 10° 10° 0-125º Extensão 0-10º Joelho Flexão 88° 120° 140° 140° 100° 130° 140° 140° 0° 0° 0° 0° 0° 0° 0° 0° 0-140º Extensão 0º Tornozelo Flexão -20º -18º -24° -26º -24° -24° -26° -30° 10° 36° 22° 38° 20° 45° 32° 45° dorsal 0-20º Flexão plantar 0-45º *D=Direito E= Esquerdo FORÇA MUSCULAR Dimídio Dimídio Músculos direito esquerdo direito esquerdo Íliopsoas e reto Grau 3 Grau 4 Grau 4 Grau 5 Grau 4 Grau 4 Grau 4 Grau 4 Grau 4 Grau 4 Grau 4 Grau 4 Grau 4 Grau 4 Grau 5 Grau 5 femoral (Flexão de quadril) Glúteo máximo/ Semitendinoso/ Semimembranoso (Extensão de quadril) Glúteo médio Glúteo mínimo (Abdução de quadril) Quadríceps femoral 62 (Extensão do quadril) Bíceps femoral (Flexão Grau 3 Grau 3 Grau 5 Grau 5 Grau 3 Grau 4 Grau 5 Grau 5 Grau 3 Grau 3 Grau 3 Grau 4 do joelho) Gastrocnêmio (flexão plantar do tornozelo) Tibial anterior (flexãodorsal do tornozelo) Teste com Mão direita Dinamometria Mão esquerda Mão direita 12 Kg/f 8 Kg/f 12 Kg/f 8 Kg/f 21 Kg/f 18 Kg/f 24 Kg/f 22 Kg/f Mão esquerda Jamar Músculos Intrínsecos Músculos Flexores dos dedos Sensibilidade Tátil (ESTESIOMETRIA) MSD Nervo Radial 1° metacarpo Nervo Ulnar Falange distal do 5° dedo Falange proximal 5° dedo 5° metacarpo Nervo Mediano Falange distal do 2° dedo Falange proximal 2° dedo Falange distal do 1° dedo MSE MSD MSE 63 Nervo Fibular Profundo 1º metatarso Nervo Tibial posterior Falange distal do 1° dedo Falange distal do 3° dedo Falange distal do 5° dedo 1° metatarso 3° metatarso 5° metatarso cuneiforme medial cubóide Calcâneo Legenda: Verde (0,05g): sensibilidade “normal” para mãos e pés. Azul (0,2 g): sensibilidade diminuída na mão, com dificuldade quanto à discriminação fina, normal para o pé. Violeta (2g): sensibilidade protetora para a mão diminuída, permanecendo suficiente para prevenir lesão. Dificuldades com a discriminação de forma e temperatura. Vermelho escuro (4g): perda de sensação protetora para a mão, e ás vezes para o pé. Vulnerável a lesão. Perda da discriminação quente/frio. Laranja (10 g): perda da sensação protetora para o pé, ainda podendo sentir pressão profunda e dor. Vermelho majenta (300g): sensibilidade á pressão profunda, podendo ainda sentir dor. Preto: nenhuma resposta-perda da sensibilidade à pressão profunda, normalmente não podendo sentir dor. SENSIBILIDADE TÉRMICA Nervo Radial 1° metacarpo Nervo Ulnar Falange distal do 5° dedo Falange proximal 5° MSD MSE MSD MSE 64 dedo 5° metacarpo Nervo Mediano Falange distal do 2° dedo Falange proximal 2° dedo Falange distal do 1° dedo MMII Nervo MID Fibular Profundo 1º metatarso Nervo Tibial posterior Falange distal do 1° dedo Falange distal do 3° dedo Falange distal do 5° dedo 1° metatarso 3° metatarso 5° metatarso cuneiforme medial cubóide Calcâneo Legenda: Normal Com alteração Sem sensibilidade MIE MID MIE 65 SENSIBILIDADE DOLOROSA Nervo Radial 1° metacarpo Nervo Ulnar Falange distal do 5° dedo Falange proximal 5° dedo 5° metacarpo Nervo Mediano Falange distal do 2° dedo Falange proximal 2° dedo Falange distal do 1° dedo MID MMII Nervo Fibular Profundo 1º metatarso Nervo Tibial posterior Falange distal do 1° dedo Falange distal do 3° dedo Falange distal do 5° dedo 1° metatarso 3° metatarso 5° metatarso cuneiforme medial cubóide Calcâneo MIE MSD MIE 66 Legenda: Normal Com alteração Sem sensibilidade 67 ANEXOS ANEXO 1- PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA 68