Fundação Oswaldo Cruz Escola Nacional de Saúde Pública Curso de Especialização em Gestão Hospitalar Autores: Alfredo Brasil Teixeira Paulo Cesar Fernandes O Planejamento Estratégico Situacional e a Gestão da Atenção de um Serviço Hospitalar: o caso da Unidade de Cardiologia Intensiva do Hospital Geral de Bonsucesso – Ministério da Saúde - RJ Rio de Janeiro 2003 i Autores: Alfredo Brasil Teixeira Paulo Cesar Fernandes O Planejamento Estratégico Situacional e a Gestão da Atenção de um Serviço Hospitalar: o caso da Unidade de Cardiologia Intensiva do Hospital Geral de Bonsucesso – Ministério da Saúde - RJ Monografia apresentada ao Curso de Pós Graduação lato sensu em Gestão Hospitalar como requisito parcial para a obtenção de grau de Especialista em Gestão Hospitalar Orientadora: Prof. Sheyla Lemos – ENSP/ FIOCRUZ Rio de Janeiro 2003 ii Agradecimento Agradecemos, indistintamente, a todos que estiveram conosco, acreditando, incentivando e orientando. iii Índice geral 1. APRESENTAÇÃO......................................................................... 1 2. INTRODUÇÃO............................................................................... 3 2.1 O HOSPITAL GERAL DE BONSUCESSO ..................................................................3 2.1.1 Histórico............................................................................................................3 2.1.2 Localização ......................................................................................................4 2.1.3 Estrutura física.................................................................................................4 2.1.3.1 Distribuição dos diversos Serviços................................................................ 5 2.1.4 Produção de serviços .....................................................................................6 2.1.5 Indicadores .......................................................................................................7 2.1.6 Distribuição dos leitos hospitalares ..............................................................7 2.1.7 Perfil...................................................................................................................9 2.1.8 Clientela............................................................................................................9 2.1.9 Recursos Humanos ......................................................................................11 2.1.10 Sistema de gestão ........................................................................................ 13 2.1.11 Gestão orçamentária e financeira ..............................................................13 2.1.12 Ensino............................................................................................................. 14 2.1.13 Projetos em andamento...............................................................................14 2.2 DEFINIÇÃO DO LOCAL DE TRABALHO.................................................................... 15 2.2.1 O Centro de Assistência Cardiovascular...................................................15 2.2.2 A Unidade de Cardiologia Intensiva...........................................................16 2.2.2.1 Características físicas..................................................................................16 2.2.2.2 Recursos humanos ......................................................................................16 2.2.2.3 Inter-relações da Unidade de Cardiologia Intensiva ...................................17 3. OBJETIVO.................................................................................... 20 4. METODOLOGIA .......................................................................... 21 4.1 BREVES CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS SOBRE O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO SITUACIONAL ........................................................................................................ 21 4.1.1 Momento explicativo ..................................................................................... 21 4.1.2 Momento normativo ......................................................................................22 iv 4.1.3 Momento estratégico .................................................................................... 22 4.1.4 Momento tático-operacional........................................................................ 22 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................. 23 5.1 CRIAÇÃO DO GRUPO DE TRABALHO..................................................................... 23 5.2 APLICAÇÃO DA METODOLOGIA NO TRABALHO DE CAMPO .................................... 23 5.2.1 Tempestade de idéias (Brainstorming) ......................................................23 5.2.2 Limpeza e agrupamento dos problemas ...................................................25 5.2.3 Seleção de problemas prioritários para ação ...........................................34 5.2.3.1 Técnica de Grupo Nominal (NGT)...............................................................34 5.2.3.2 Matriz de Seleção de Problemas................................................................. 35 5.2.4 Explicação ou análise dos problemas ........................................................ 37 5.2.4.1 Fluxograma situacional................................................................................ 37 5.2.4.2 Identificação de causas críticas...................................................................40 5.2.5 Detalhamento de ações para as causas críticas ..................................... 40 5.2.5.1 Matriz de programação de ações ................................................................ 40 5.2.5.2 Comentários sobre as ações programadas ................................................ 46 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................ 49 7. BIBLIOGRAFIA ........................................................................... 51 v Lista de Figuras Figura 1 - Vista aérea do Hospital Geral de Bonsucesso Fonte: Livro "Guia de Saúde da Cidade do Rio de Janeiro" da Secretaria Municipal de Saúde.....................................4 Figura 2 - Planta baixa do Hospital Geral de Bonsucesso ...................................................5 Figura 3 - Distribuição da clientela por Área Programática (AP)........................................ 10 Figura 4 - Distribuição de recursos humanos conforme vínculo empregatício.................. 11 Figura 5 - Diagrama de inter-relações entre os diversos setores do CACV e Emergência ..................................................................................................................................... 18 Figura 6 - Fluxograma de causas e conseqüências da restrição à alta da UCI para a Enfermaria de Cardiologia ...........................................................................................39 vi Lista de Tabelas Tabela 1 - Produção de Serviços no HGB durante o ano de 2002 ......................................7 Tabela 2 - Indicadores de desempenho do HGB em 2002 ..................................................7 Tabela 3 - Clínicas e número de leitos correspondentes, em atividade, do HGB ...............8 Tabela 4 - Clientela matriculada e população dos municípios que mais demandam os serviços do HGB (2002) ..............................................................................................10 Tabela 5 - Distribuição de RH, por categoria funcional, conforme vínculo empregatício.. 12 Tabela 6 - Execução orçamentária 1999 – 2002. Distribuição dos gastos por elementos de despesas (em R$1000.00) ..................................................................................... 13 Tabela 7 - Estatística anual de internações, cirurgias e intervenções coronarianas percutâneas realizadas no CACV ...............................................................................15 Tabela 8 - Características físicas da UCI............................................................................ 16 Tabela 9 - Relação do número de funcionários por leito da UCI .......................................17 Tabela 10 - Composição do Grupo de Trabalho inicial. ..................................................... 23 Tabela 11 - TO e TMP da UCI de janeiro a junho de 2003................................................ 27 Tabela 12 - Ranqueamento dos problemas........................................................................ 34 Tabela 13 - Resultados da matriz de seleção de problemas ............................................. 36 Tabela 14 - Composição final do Grupo de Trabalho......................................................... 37 Tabela 15 - Problema: Utilização inadequada dos instrumentos de gerenciamento......... 42 Tabela 16 - Problema: Inexistência de protocolo de abordagem de dor torácica. ............ 43 Tabela 17 - Problema: Inexistência de protocolo de controle e prevenção secundária de insuficiência cardíaca ..................................................................................................44 Tabela 18 - Problema: Funcionamento do HGB como unidade transfusional (fechamento da coleta) ..................................................................................................................... 45 vii 1. APRESENTAÇÃO Um dos desafios da gestão de serviços de saúde é o deslocamento do foco, dos seus dirigentes e equipes de saúde, dos problemas intermediários (manutenção, abastecimento etc.) para os problemas efetivamente relacionados com a missão dos serviços de saúde, ou seja, aqueles afetos ao campo da atenção prestada ao paciente. Tal deslocamento não se dá espontaneamente. A utilização de instrumentos gerenciais que enfatizem o foco no paciente, e que simultaneamente assegurem uma maior racionalização dos processos de trabalho, além de gerar mais participação e compromisso das equipes, deve ser estimulado no âmbito dos serviços de saúde. O planejamento estratégico situacional “simplificado“ é um instrumento com forte potencial para alcançar esses propósitos e, nesse sentido, deve ser mais explorado na gestão dos serviços de saúde. Toma-se como área de experimentação e comprovação da eficácia desse instrumento, a Unidade de Cardiologia Intensiva (UCI) do Hospital Geral de Bonsucesso (HGB), vinculado ao Ministério da Saúde, situado na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. A UCI faz parte do Centro de Assistência Cardiovascular (CACV) e relaciona-se intensamente com a Emergência e com os demais setores do CACV, particularmente a Hemodinâmica. Há, entretanto, uma clara dificuldade nos processos de internação e alta da Unidade. Como conseqüência, é freqüente, que muitos pacientes que demandam internação na UCI permaneçam na Emergência, à espera de uma vaga, muitas vezes até a alta hospitalar, sem acesso aos cuidados necessários nessa situação. Este é um problema recorrente nas emergências do sistema de saúde: superlotação e estrangulamento. De forma preliminar, é possível identificar algumas causas. A dificuldade de acesso e a baixa resolutividade da atenção ambulatorial sabidamente contribuem para a superlotação das Emergências, quando não se consegue reter os pacientes que efetivamente demandam apenas uma atenção ambulatorial. Outra razão parece residir numa inadequada gestão dos leitos de internação e dos leitos especiais, que não conseguem dar o devido suporte ao atendimento de emergência, quando demanda internação. O presente trabalho objetiva explorar as causas relacionadas com a inadequada gestão dos leitos de internação e dos leitos especiais. Nesse inadequado sentido, da UCI estudar no as causas atendimento às que resultam demandas da no desempenho Emergência e da Hemodinâmica poderá contribuir para a resolução das dificuldades apresentadas acima e resultar na melhora da qualidade do atendimento. Além disso, poderá ainda ser extensível a outros serviços de emergência., encontrando aplicabilidade na integração do hospital com a rede de saúde do SUS, dentro de um sistema de referência e contra-referência. Este trabalho foi desenvolvido ao longo do Curso de Gestão Hospitalar da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), da Fundação Oswaldo Cruz, que propõe intervenções na prática hospitalar ao longo do mesmo, permitindo, assim, a obtenção de resultados antes mesmo de sua conclusão. 2 2. INTRODUÇÃO 2.1 O H OSPITAL G ERAL DE BONSUCESSO 2.1.1 Histórico Inaugurado em janeiro de 1948, pelo Presidente da República General Eurico Gaspar Dutra, tendo como primeiro diretor o Dr. Oswaldo Araújo, o Hospital Geral de Bonsucesso (HGB), inicialmente denominado Hospital General Nascimento Vargas, era subordinado ao Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Empregados em Transportes e Cargas (IAPETEC). Na década de 60, com a fusão dos institutos de previdência, o HGB passou a fazer parte do então criado Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), responsável pela arrecadação, saúde e pagamento das aposentadorias. No fim dessa década foi inaugurado o ambulatório do hospital. Em 1975 foi inaugurado o Serviço de Emergência, inicialmente apenas para atendimento de casos clínicos. No ano seguinte, foi inaugurado o Serviço de Terapia Intensiva (CTI), que, na época, era uma unidade com 16 leitos. Do final da década de 70, até 1989, a instituição passou a ser gerida pelo Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), criado em substituição ao INPS. Em 1978, foi criado o Serviço de Cirurgia Cardíaca, que incluía, inicialmente, um laboratório de cirurgia experimental. Também nesse período, foram iniciados os programas de transplante renal e de córnea do hospital, hoje, referências da instituição. Na década de 90, o hospital passou a pertencer ao Sistema Único de Saúde (SUS). Nesse período, merecem ser destacados os seguintes avanços: criação da creche, informatização do hospital e a inauguração das atuais instalações dos ambulatórios. No ano de 2002, foi iniciado o programa de transplante hepático do HGB. 3 2.1.2 Localização O Hospital Geral de Bonsucesso fica situado no bairro de Bonsucesso, zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, na Área Programática 3.1 (AP 3.1) do Município do Rio de Janeiro. Está localizado na Av. Brasil, próximo à confluência desta com as Linhas Amarela e Vermelha, que são as principais vias da cidade. (Figura 1) Duas dessas vias (Av. Brasil e Linha Vermelha) comunicam a cidade diretamente com a Baixada Fluminense, fazendo com que o Hospital esteja próximo dessa região. Figura 1 - Vista aérea do Hospital Geral de Bonsucesso Fonte: Livro "Guia de Saúde da Cidade do Rio de Janeiro" da Secretaria Municipal de Saúde 2.1.3 Estrutura física O HGB é constituído, em sua área física, de 6 prédios distribuídos em um terreno de 25.625 m 2, com um total de área edificada de 42.242 m2 e com uma área livre (circulação e estacionamento) de 19.429 m2. Todos os prédios têm de 4 a 6 andares e apresentam, além do térreo, uma grande área de interligação no subsolo, com exceção do prédio 6 (Figura 2). 4 Figura 2 - Planta baixa do Hospital Geral de Bonsucesso 2.1.3.1 Distribuição dos diversos Serviços • No prédio 1 encontram-se os Serviços de Emergência, Centro de Imagens, Nefrologia, Unidade de Transplante Renal, Oftalmologia, Cirurgia Vascular, Ortopedia, CTI, Clínica Médica, Cardiologia, Unidade de Cardiologia Intensiva, Urologia, Neurocirurgia, Clínica Cirúrgica A, Clínica Cirúrgica B, Anestesiologia, Broncoesofagologia, Otorrinolaringologia, Centro Cirúrgico A e Centro Cirúrgico B. No subsolo estão os refeitórios e cozinha do hospital. 5 • No prédio 2 está a Unidade Materno-Infantil, com os Serviços de Pediatria, Obstetrícia, Neonatologia, Ginecologia, UTI Neonatal, UTI Pediátrica, Cirurgia Infantil e os Ambulatórios de Ginecologia e Obstetrícia. • O prédio 3 abriga o Serviço de Oncologia (CACON), no 3º andar. O prédio contém, também, a Zeladoria, Ouvidoria, Perícia Médica e o Serviço de Arquivo Médico e Documentação Científica. No seu sub-solo está localizado o almoxarifado. • O prédio 4 apresenta todas as estruturas relativas à área de administração do hospital, além de Serviço Social, Nutrição, Chefia de Enfermagem, Odontologia, Saúde Mental, Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), Gerência de Risco, Centro de Processamento de Dados e Engenharia Clínica. • No prédio 5 encontram-se todas as estruturas funcionais do Laboratório de Análises Clínicas e de Anatomia Patológica, no 1º, 2º e 3º andares. Os dormitórios dos médicos residentes ocupam o 4º andar e o Centro de Estudos tem todas as suas instalações no 5º andar. Recebe, também, o Serviço de Farmácia. O subsolo desse prédio abriga os setores de Manutenção e Refrigeração, estendendo-se até parte do prédio 4. • O prédio 6 abriga as áreas ambulatoriais das diversas Clínicas Médicas e Cirúrgicas do hospital, com exceção dos ambulatórios de Ginecologia e de Obstetrícia, na sua estrutura de 4 andares. O prédio contém, também, um Centro Cirúrgico com duas salas que são utilizadas para pequenas cirurgias pelos Serviços de Dermatologia, Cirurgia Plástica, Cirurgia Geral e Endocrinologia. • Existem ainda outras seis construções menores: creche, igreja, garagem, posto bancário, projeto acolhida e depósito. 2.1.4 Produção de serviços O HGB realiza diversas atividades de assistência à saúde. A Tabela 1 descreve a distribuição dos procedimentos que foram realizados durante o ano de 2002. 6 Tabela 1 - Produção de Serviços no HGB durante o ano de 2002 Procedimentos Totais Consultas ambulatoriais 175.013 Atendimentos na Emergência 95.160 Atendimentos na Maternidade 20.327 Internações 19.621 Serviços de Apoio Diagnóstico e Terapêutico 1.010.963 Transfusão de hemocomponentes 9553 Transplantes renais 84 Transplantes hepáticos 14 2.1.5 Indicadores Os indicadores gerais de desempenho utilizados no HGB e o seu comportamento durante o ano de 2002 são mostrados na tabela 2. Tabela 2 - Indicadores de desempenho do HGB em 2002 Indicador Taxa de ocupação Tempo médio de permanência Resultado 73.1 % 7.6 dias Taxa de mortalidade geral 4.9 % Taxa de mortalidade institucional 4.1% Intervalo de giro 2.6 dias 2.1.6 Distribuição dos leitos hospitalares O Hospital conta atualmente com 503 leitos em atividade, que estão localizados em enfermarias distribuídas pelos diversos Serviços Clínicos e Cirúrgicos que lidam com a internação de pacientes e espalham-se pelos prédios 1, 2 e 3 (Tabela 3). 7 Tabela 3 - Clínicas e número de leitos correspondentes, em atividade, do HGB Clínica Número de leitos Broncoesofagologia 12 Cardiologia 18 Cirurgia Pediátrica 6 Cirurgia Plástica 8 Cirurgia Vascular 10 Clínica Cirúrgica I 27 Clínica Cirúrgica II 29 Clínica Médica 49 CTI Adulto 10 CTI Neonatal 12 CTI Pediátrico 4 Emergência 7 Emergência – Repouso Feminino 8 Emergência – Repouso Masculino 15 Emergência – Repouso Pediátrico 9 Emergência – UPG 7 Ginecologia 23 Nefrologia 13 Neonatologia 38 Neurocirurgia 25 Obstetrícia 64 Oftalmologia 15 Otorrinolaringologia 12 Pediatria 19 Traumato-Ortopedia 25 Unidade de Cardiologia Intensiva 8 Unidade de Transplante Renal 7 Urologia 23 Total 503 8 2.1.7 Perfil O HGB é, já há alguns anos, o maior hospital da rede pública do Estado do Rio de Janeiro em volume geral de atendimentos. É um hospital de nível de complexidade terciária, metropolitano e integrado à rede do SUS, com serviços de referência para a região metropolitana do Rio de Janeiro e de todo o Estado, com emergência e maternidade de nível III e com modalidades de assistência extrahospitalar. O papel do HGB na rede SUS do Estado do Rio de Janeiro vem crescendo substancialmente nos últimos anos. Isto pode ser exemplificado com a consolidação e expansão de diversos serviços no hospital, destacando-se a implantação do primeiro Centro de Alta Complexidade em Oncologia (CACON-1) do Estado, com o apoio do Instituto Nacional do Câncer (INCA), a implementação do Programa de Transplante Hepático em adultos e crianças, a expansão do Programa de Transplantes Renais, a reativação do Programa de Transplante de Córnea e o aumento no número e na complexidade das cirurgias cardíacas. Além disso, é considerado centro de excelência para Oftalmologia, Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Atendimento à Gestante de Alto Risco, UTI Neonatal, UTI Pediátrica, Pediatria e em Nefrologia (principal Centro de Transplantes Renais do Estado do Rio de Janeiro). 2.1.8 Clientela A clientela do hospital origina-se de diferentes Áreas Programáticas (3.1; 3.3; 5.1; 5.2 e 5.3) do município do Rio de Janeiro (Figura 3) e de diversos municípios da Baixada Fluminense, notadamente Duque de Caxias, São João de Meriti, Belford Roxo e Nova Iguaçu. A AP 3.1, de onde se origina cerca de 40% da clientela, tem uma população de mais de 620.000 habitantes, sendo, ainda, a área do município do Rio de Janeiro com a maior concentração de favelas. A população dos municípios que mais demandam o HGB é estimada em mais de 8 milhões de habitantes. As pessoas de outros municípios procuram o HGB devido à carência de recursos na área da saúde em sua região e, também, em busca de serviços médicos especializados, encaminhados pela própria rede local de saúde. Na Tabela 4, referente ao ano de 2002, notamos que cerca de 29% das 9 matrículas de pacientes do HGB são de moradores oriundos de fora do município do Rio de Janeiro. Tabela 4 - Clientela matriculada e população dos municípi os que mais demandam os serviços do HGB (2002) Matrículas Municípios População Número Percentual Número Percentual Belford Roxo 3.088 3,33 441.546 3,14 Duque de Caxias 7.604 8,20 766.771 5,45 Nova Iguaçu 3.177 3,43 885.000 6,29 São João de Meriti 4.485 4,84 443.673 3,16 Rio de Janeiro 65.802 70,94 5.628.913 40,03 Subtotal 84.156 90,74 8.165.903 58,08 Outros Municípios 8.599 9,27 5.894.910 41,92 TOTAL 92.755 100,00 14.060.813 100,00 % Clientela Matriculada por AP 60,00 50,00 40,00 30,00 20,00 10,00 0,00 AP 1 AP 3.1 AP 3.3 AP 5.1 AP 5.2 Fonte: SIGH AP 5.3 Outras Aps Figura 3 - Distribuição da clientela por Área Programática (AP) 10 2.1.9 Recursos Humanos O quadro demonstrativo de funcionários atualizado para junho de 2003, apresenta um total de 2.632 pessoas trabalhando no Hospital Geral de Bonsucesso. Podemos dividir estes funcionários em 4 grupos, de acordo com seu vínculo empregatício: os estatutários do Ministério da Saúde (MS), que são 1.791 pessoas; os cedidos por outras instituições, a saber: INCA, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Estadual do rio de Janeiro (UERJ), Secretaria Municipal do RJ, Secretaria Municipal de São João do Meriti, Secretaria Estadual de Saúde, principalmente, através do Hospital Getulio Vargas, com um quantitativo de 110 pessoas; o Instituto Brasileiro de Difusão Universitária (IBDU), com 287 pessoas; e duas cooperativas que fornecem 464 funcionários. A Figura 4, apresenta a distribuição de recursos humanos (RH) do HGB por vínculo empregatício. 2.000 1.500 1.000 500 0 MS Cedidos IBDU COOP. Figura 4 - Distribuição de recursos humanos conforme vínculo empregatício. A Tabela 5 demonstra a distribuição de recursos humanos por cada categoria funcional e vínculo de trabalho. 11 Tabela 5 - Distribuição de RH, por categoria funcional, conforme vínculo empregatício. CATEGORIA Administrador Agente de Saúde Agente de Serviços Complementares Agente Administrativo Agente de Portaria Agente de Vigilância AOSD Arquivista Artífice Ascensorista Assistente Administrativo. Operacional Assistente Especializado Assistente Social Auxiliar de Almoxarifado Auxiliar Administrativo Auxiliar de Coleta Auxiliar de Creche Auxiliar de Radiologia Auxiliar de Enfermagem Auxiliar de Laboratório Auxiliar de Serviços Gerais Biólogo Contador Datilógrafo Desenhista Enfermeiro Farmacêutico Fisioterapeuta Físico Gesseiro Jardineiro Laboratorista Maqueiro Médico Motorista oficial Nutricionista Odontólogo Operador de ECG Pedagogo Psicólogo Recepcionista Recreador Sociólogo Técnico de Comunicação Social Técnico de Contabilidade Técnico de Laboratório Técnico de Nível Médio Técnico. De Nível Superior Técnico. de Enfermagem Técnico de Raios -X Telefonista Terapeuta Ocupacional TOTAL MS 2 1 3 140 39 10 148 CEDIDOS IBDU COOP. 1 4 5 36 6 1 4 556 40 145 15 25 12 4 11 4 5 9 3 21 13 3 2 2 58 1 157 7 1 13 63 41 75 34 2 1 1 7 2 6 462 43 4 13 29 36 4 4 1 5 1 49 4 1 1 1 30 4 2 42 6 3 1.791 3 7 18 112 7 110 305 426 SUBTOTAL 2 1 3 141 39 10 152 5 36 15 25 12 15 11 4 5 9 3 762 13 3 2 2 58 1 267 9 2 1 7 2 6 29 614 43 8 13 4 1 6 49 4 1 1 1 33 4 2 137 49 6 3 2.632 12 2.1.10 Sistema de gestão O HGB é uma Unidade do Ministério da Saúde, vinculada administrativamente ao Núcleo do Ministério no Rio de Janeiro (NERJ). É uma unidade orçamentária, com autonomia para executar apenas despesas correntes. O Hospital conta com um Conselho de Gestão integrado por representantes dos seguintes órgãos: Secretaria de Estado da Saúde; Secretarias Municipais do Rio de Janeiro e da Baixada Fluminense; Conselho Estadual de Secretários Municipais de Saúde/RJ; Conselhos Estadual, Municipal e Distrital (AP 3.1) de Saúde; Hospital da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Fundação Oswaldo Cruz. A fase atual da Unidade caracteriza-se pela profissionalização da gestão, pela revitalização de seu parque tecnológico e pela busca de uma definição para o papel do hospital dentro do Sistema Único de Saúde. Atualmente está sendo encaminhada a discussão do planejamento estratégico da Unidade. 2.1.11 Gestão orçamentária e financeira A tabela a seguir (Tabela 6) apresenta dados da execução orçamentária dos últimos quatro anos. Tabela 6 - Execução orçamentária 1999 – 2002. Distribuição dos gastos por elementos de despesas (em R$1000.00) Elementos de despesa Despesas correntes 1990 2000 2001 2002 89.452 100.321 104.210 120.804 51.399 60.430 63.420 73.417 Ativo 29.022 29.492 30.896 36.021 Inativo 19.907 22.812 23.747 25.544 Demais despesas de Pessoal 2.470 8.126 8.777 11.852 38.053 39.891 40.789 Pessoal Outras despesas correntes 47.387 Material de consumo 14.434 15.098 12.100 14.471 Serviços de terceiros 19.043 20.349 24.062 29.883 Demais despesas correntes 4.576 4.444 4.627 3.033 55 38 - - Despesas de capital Total das despesas 89.507 100.359 104.210 120.804 13 2.1.12 Ensino O Hospital Geral de Bonsucesso atua na área de ensino com programas de residência médica (R1, R2, R3, R4) em diversas especialidades, além de residência em enfermagem e farmácia. O HGB conta com programas de intercâmbio com seis Faculdades de Medicina para alunos do 6º ano (Internato), num total de 50 vagas. O hospital tem um convênio com a Faculdade de Medicina da Universidade Estácio de Sá que realiza programas de ensino, teórico e prático, para alunos de 5º ano. O HGB é o mais novo integrante da Associação Brasileira dos Hospitais Universitários e de Ensino (Abrahue). 2.1.13 Projetos em andamento Atualmente está em plena fase de discussão o processo de planejamento estratégico do HGB. Seus objetivos estratégicos para o futuro são: • Ser o principal centro de transplante de rins, fígado e córneas do Estado do Rio de Janeiro. • Implantar programas de transplante de coração. • Reestruturar o Serviço de Emergência para receber os pacientes referidos pela rede pública. • Reestruturar o Serviço de Apoio Diagnóstico e Terapêutico (SADT), Laboratórios de Anatomia Patológica, Patologia Clínica e Diagnósticos por Imagem. • Acreditar o Hospital segundo padrões de qualidade. • Transformar a Unidade Materno-Infantil em um centro de excelência na atenção integral à saúde da mulher, da criança e do adolescente. • Dispor de um corpo gerencial profissionalizado em todos os níveis de função do HGB. • Assegurar maior sustentabilidade financeira. • Implantar um programa de qualidade de vida do servidor. • Desenvolver o uso de tecnologia da informação como ferramenta básica do trabalho. 14 2.2 D EFINIÇÃO DO LOCAL DE TRABALHO 2.2.1 O Centro de Assistência Cardiovascular Em 1990, foi criado o Serviço do Coração, localizado no terceiro andar do prédio número 1. Além da redefinição de espaços para os diversos setores e da concentração da área de internação em uma mesma ala do hospital, o Serviço, a partir de então, sob uma única chefia, passou a englobar todos os procedimentos diagnósticos e terapêuticos em Cardiologia, assim como, as áreas de Ambulatório, Internação, Cirurgia Cardíaca, Cardiopediatria, incluindo, também, uma Unidade de Cardiologia Intensiva (UCI). Em agosto de 1999, o Serviço passou a integrar o Projeto de Cirurgias Cardíacas do Estado do Rio de Janeiro, em convênio com o Ministério da Saúde. Desde então, houve expressivo aumento do número de cirurgias e intervenções coronarianas percutâneas realizadas, com evidente melhora dos resultados (Tabela 7). Até então, o número de cirurgias cardíacas realizadas ficava em torno de 30 a 40 por ano. A partir do ano de 2002, o Serviço do Coração passou a ser designado Centro de Assistência Cardiovascular. Tabela 7 - Estatística anual de internações, cirurgias e intervenções coronarianas percutâneas realizadas no CACV Produção 1999 2000 2001 2002 Enfermaria de Cardiologia 443 399 336 570 Unidade de Cardiologia Intensiva 302 362 287 483 95 137 144 119 Procedimentos diagnósticos 268 478 637 573 Procedimentos terapêuticos (angioplastias) 59 104 76 90 Internações Cirurgia Cardíaca Cirurgias realizadas Hemodinâmica 15 2.2.2 A Unidade de Cardiologia Intensiva 2.2.2.1 Características físicas A UCI situa-se em posição intermediária entre as alas masculina e feminina de enfermarias de Cardiologia. É constituída de duas sub-unidades de internação: uma, com seis leitos, é o Pós-Operatório de Cirurgia Cardíaca; a outra, com oito leitos, a Unidade Coronariana. Ocupa uma área de 430 m 2, com um corredor central, acesso único ao interior da Unidade. Atualmente, somente os leitos da Unidade Coronariana estão ativados e prestam -se ao atendimento tanto de pacientes clínicos como cirúrgicos (Tabela 8). Tabela 8 - Características físicas da UCI 430m2 Área total Área destinada a internação Unidade Coronariana 128 m 2 Pós-operatório 110m2 Número de leitos Unidade Coronariana 8 Pós-operatório 6 Total 14 2.2.2.2 Recursos humanos A Tabela 9 mostra a relação do número total de funcionários por leito, com sua discriminação por categoria funcional. Os dados foram obtidos, levando-se em consideração apenas os leitos em atividade. 16 Tabela 9 - Relação do número de funcionários por leito da UCI Categoria Relação funcionário / leito Médicos 2.3 Enfermeiros 1.6 Técnicos de Enfermagem 4.1 Total 8.1 2.2.2.3 Inter-relações da Unidade de Cardiologia Intensiva A UCI inter-relaciona-se intensamente com os demais setores do CACV e com o Setor de Emergência. Para entendermos melhor esta inter-relação vamos, inicialmente, analisar o fluxo de entrada de pacientes na UCI. A Unidade recebe pacientes principalmente da Emergência. Porém, um grande número não consegue se beneficiar dos cuidados intensivos, mesmo com quadro coronariano agudo, ali permanecendo à espera de uma vaga. Também recebe pacientes da enfermaria de Cardiologia, de onde se origina apenas um pequeno número, que habitualmente não encontra dificuldade de acesso, uma vez que é comum a existência de pacientes na UCI em condição de transferência; assim, uma simples permuta facilita o acesso. A última fonte de pacientes para a UCI é a Hemodinâmica, de onde provêm pacientes submetidos a cateterismo cardíaco eletivo, que apresentam intercorrências durante o procedimento, além de pacientes oriundos da Emergência, submetidos a intervenções de urgência. Entretanto, uma vez mais, muitos desses pacientes, por falta de vaga na UCI, retornam à Emergência, onde permanecem, muitas vezes, até a alta hospitalar, gerando uma grave distorção no atendimento, já que também não recebem os cuidados requeridos nessa situação. Uma vez alcançando a UCI, os pacientes circulam facilmente entre os vários setores de apoio diagnóstico do CACV e, quando necessário, também têm facilidade de acesso à Cirurgia Cardíaca, que funciona como uma equipe, sem leitos próprios para internação, e recebe a maior parte de seus pacientes da enfermaria de Cardiologia. 17 Se, por um lado, existem várias fontes de entrada de pacientes na UCI, como demonstrado no diagrama abaixo (Figura 5), por outro, a única porta de saída é a enfermaria de Cardiologia. E mergê ncia Cardiologia Clínica H em odinâ m ica Unidade de Cardiologia Intensiva Eco- Cirurgia cardiografia Cardíaca CACV Figura 5 - Diagrama de inter-relações entre os diversos setores do CACV e Emergência 18 Compreende-se assim, facilmente, que dificuldades no fluxo de doentes para a UCI e da UCI, repercutem de forma imediata nos demais setores, já assoberbados pela demanda excessiva. Levando em consideração todas as implicações da complexidade de relações da UCI com os demais setores do CACV e com a Emergência, escolhemos a UCI como o local de realização do trabalho e elegemos o problema inicial a ser enfrentado: Desempenho inadequado da Unidade de Cardiologia Intensiva no atendimento às demandas da Emergência e da Hemodinâmica 19 3. OBJETIVO Analisar os processos de internação e alta da Unidade de Cardiologia Intensiva do Hospital Geral de Bonsucesso, de modo a implantar, através de práticas inovadoras, um novo modelo gerencial. 20 4. METODOLOGIA 4.1 BREVES CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS SOBRE O PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO SITUACIONAL Utilizamos uma simplificação metodológica do Planejamento Estratégico Situacional (PES), de Carlos Matus (Cecílio – 1997; Artmann – 2000). O PES é um método de planejamento por problemas, e trata, principalmente, dos problemas mal estruturados e complexos que, por definição, são aqueles para os quais não existe solução normativa. Os problemas são abordados em suas múltiplas dimensões – política, econômica, social, cultural etc., e as soluções dependem, muitas vezes de recursos em outras esferas e da interação dos diversos atores envolvidos. Definir e formular com clareza os problemas é um dos pontos decisivos para o sucesso do plano. Uma vez formulados os problemas e encontradas as causas críticas (também chamados nós críticos) fica mais fácil elaborar o plano de ações. O método PES prevê quatro momentos para o processamento técnicopolítico dos problemas: 4.1.1 Momento explicativo É o momento em que se realiza a seleção, a compreensão e a análise do problema, e inclui as seguintes fases: • Brainstorming (tempestade de idéias) • Limpeza e agrupamento dos problemas • Seleção de problemas prioritários para ação • - Técnica de Grupo Nominal (NGT) - Matriz de Seleção de Problemas Explicação ou análise dos problemas - Fluxograma Situacional 21 4.1.2 Momento normativo Partindo das causas críticas (nós críticos), desenha-se o plano de intervenção e são elaboradas propostas de ação, com a construção de planilhas de programação de ações. 4.1.3 Momento estratégico É a fase de construção da viabilidade do plano. Domina esta etapa a idéia central de que o ator que elabora o plano não controla todos os recursos para sua execução. O PES é, pois, um instrumento para ser utilizado em situações de baixa governabilidade. A dificuldade na construção da viabilidade do plano conduz à necessidade de criar estratégias para sustentá-la, tanto para operações que exigem cooperação como oposição e confronto. 4.1.4 Momento tático-operacional É a fase de gestão do plano. A gestão de um plano significa, essencialmente, a criação de um sistem a de alta responsabilidade, em que as pessoas assumem compromissos de executar tarefas específicas, em tempos bem definidos. De acordo com Cecílio (1997), o sucesso na execução do plano precisa de um sistema de direção altamente comunicativo, com clara definição de responsabilidades e dispositivos de prestação regular de contas. Enfatiza ainda a necessidade de alguns rearranjos institucionais, como gestão colegiado do plano, envolvimento de gerências formais com as operações, entre outros. Assim, espera-se que o plano contagie a vida da instituição, influenciando inclusive a sua eventual reestruturação. Na visão do PES, planejamento e gestão são inseparáveis, podendo se fundir no que poderia ser designado gestão estratégica. 22 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 C RIAÇÃO DO GRUPO DE TRABALHO Pensando em discutir os problemas envolvidos nos processos de internação e alta dos pacientes da UCI e nas inter-relações com os demais setores do CACV e Emergência, estudar as suas causas e propor soluções para enfrentá-los, foi constituído um grupo de trabalho conforme descrito na Tabela 10. Tabela 10 - Composição do Grupo de Trabalho inicial. Nome Função Victor Grabois Diretor do HGB Paulo Cezar Monteiro de Carvalho Chefe do CACV Ubiratan Souza Rios Chefe da UCI Clara Regina Pinto de Oliveira Chefe de Enfermagem do CACV Paulo Cesar Fernandes Gerente do Serviço de Pediatria Aluno do Curso de Gestão Alfredo Brasil Teixeira Médico diarista da UCI Aluno do Curso de Gestão 5.2 APLICAÇÃO DA METODOLOGIA NO TRABALHO DE CAMPO Uma vez constituído o grupo de trabalho, iniciamos o treinamento dos componentes na utilização da metodologia a ser aplicada. A partir do momento em que todos se sentiram aptos a participar da problematização, as seguintes etapas foram executadas. 5.2.1 Tempestade de idéias (Brainstorming) É uma técnica que estimula a participação e criatividade das pessoas envolvidas e que possibilita o aparecimento de um grande número de idéias, num 23 curto intervalo de tempo. Para isso, é fundamental a compreensão prévia do objetivo, pelos participantes, que deverão utilizar livremente a imaginação não apenas para criar, mas, também, para desenvolver as idéias dos outros participantes. Para garantir a igualdade dos participantes, estimular a participação e objetividade da técnica, nenhuma idéia deve ser discutida criticada ou rejeitada, mas simplesmente compreendida. O ambiente de trabalho deve ser simples, com mínima possibilidade de distração. Um dos participantes deve ser escolhido como facilitador, que conduzirá a técnica, explicando o seu objetivo, coordenando e motivando os participantes, e anotando as idéias, após um período de reflexão. Dessa forma, o grupo reuniu-se no auditório do CACV, dispondo de quadro branco, papel, canetas e recursos audiovisuais, iniciando a fase de problematização propriamente dita. Foi concedido um período de 5 minutos para que cada componente listasse em uma folha de papel o maior número possível de problemas que contribuíssem para o desempenho inadequado da UCI. Ao final do período, cada um leu os problemas identificados (um problema por vez, em sistema de rodízio), descartando-se automaticamente os problemas repetidos. Esta etapa foi concluída ao final de 25 minutos, gerando a seguinte lista de problemas que foi afixada no quadro, permitindo fácil visibilização por todos: 1. Desativação de leitos 2. Restrição à alta de pacientes da UCI por falta de vagas na enfermaria 3. Informação inadequada sobre o desempenho da UCI 4. Suprimento insuficiente de sangue 5. Suspensão de cirurgias 6. Demora na realização de exames (laboratório e imagem) 7. Inexistência de fisioterapeuta na UCI 8. Internação pré-operatória na UCI 9. Insuficiência de insumos para cateterismo cardíaco diagnóstico e terapêutico 10. Complicações pós-operatórias 11. Recursos humanos insuficientes 24 12. Aumento da incidência de infecção 13. Desmotivação de profissionais de enfermagem 14. Insatisfação de pacientes 15. Abastecimento inadequado de materiais e medicamentos 16. Refrigeração inadequada 17. Descumprimento de normas de profilaxia de infecção 18. Falta de bomba de contrapulsaç ão aórtica 19. Iluminação inadequada 20. Estímulo insuficiente ao desenvolvimento profissional 21. Inadequação na privacidade dos pacientes 22. Subdimensionamento da rede de gases medicinais 23. Distribuição inadequada da rede elétrica 24. Atraso na entrega de roupas 25. Quantidade de roupas insuficiente 26. Falta de respirador de transporte de pacientes 27. Limpeza inadequada 28. Indisponibilidade de exames laboratoriais específicos 29. Demora dos laudos de histopatologia 30. Insegurança dos funcionários 31. Controle inadequado do fluxo de pessoas 32. Desmotivação dos profissionais médicos 33. Qualificação inadequada de profissionais 5.2.2 Limpeza e agrupamento dos problemas Após a elaboração de uma lista de problemas, os mesmos devem passar por um processo de limpeza, para eliminar sobreposições ou coincidências de 25 problemas já formulados. Depois, a lista deve ser organizada em grandes grupos de problemas afins, de acordo com o desejo dos participantes. Cada agrupamento de problemas deve ganhar um título (problema-mãe) que possa sintetizar o grupo de problemas. Uma outra opção, que nós adotamos, é simplesmente realizar a limpeza ou síntese dos problemas, sem a preocupação em agrupá-los. Outro aspecto importante, nesta fase, é a definição do problema. É preciso estar atento à redação do problema, que deve conter informações precisas e confiáveis. Quanto melhor formulado o problema, melhor a será a sua solução. Assim, ao final desta etapa, que foi concluída em 30 minutos, o produto foi a seguinte lista de problemas, com comentários que julgamos pertinentes sobre cada um: 1. Desativação de leitos A UCI, conforme exposto anteriormente, é constituída de 14 leitos, distribuídos em duas subunidades: Pós- Operatório de Cirurgia Cardíaca, com 6 leitos, desativado desde março de 1996, e Unidade Coronariana, com 8 leitos, em pleno funcionamento, atendendo tanto a pacientes clínicos como cirúrgicos. A Enfermaria de Cardiologia, inicialmente projetada para 35 leitos, funciona com apenas 18 leitos, insuficientes para a demanda atual. 2. Restrição à alta de pacientes da UCI por falta de vagas na enfermaria de Cardiologia Como mostram os indicadores de desempenho da UCI, o tempo médio de permanência (TMP) tem sido elevado de forma consistente e a taxa de ocupação (TO) tem se mantido próxima de 100%. Nos últimos meses, esses indicadores tiveram o comportamento descrito na Tabela 11. 26 Tabela 11 - TO e TMP da UCI de janeiro a junho de 2003 Mês TO TMP Janeiro 98% 6,7 Fevereiro 100% 6.5 Março 99% 5,9 Abril 99% 6,4 Maio 98% 6.5 Junho 97% 6.4 99% ± 0.01 6.4± 0.67 Médias ± DP Isto permitiu observar que, para os pacientes clínicos (infarto do miocárdio, angina de peito etc.), o TMP é cerca de duas vezes o esperado, pois, pacientes com estas condições e com evolução favorável, habitualmente, não necessitam de cuidados intensivos a partir do terceiro dia. No caso dos pacientes cirúrgicos, a grande maioria encontra-se em condições de alta da UCI 48 horas após o ato cirúrgico. Assim, o TMP para estes pacientes é cerca de três vezes o esperado. Ficou evidente que havia uma dificuldade clara no processo de alta dos pacientes da UCI, culminando com um TMP bastante elevado. 3. Informação inadequada sobre o desempenho da UCI As primeiras informações acerca da utilização de indicadores de desempenho de serviços médicos obtidas no Curso de Gestão Hospitalar, foram levadas ao conhecimento da chefia da UCI. Isso despertou interesse pela procura desses dados no sistema de informação do HGB, onde observamos que os indicadores careciam de confiabilidade, por falhas no procedimento de coleta de dados. Assim, a partir de novembro de 2002, a própria UCI passou a construir seus indicadores, elegendo inicialmente apenas a taxa de ocupação e o tempo médio de permanência. 27 4. Suprimento insuficiente de sangue A inexistência de um Serviço de Hemoterapia, em funcionamento pleno, no hospital acarreta graves transtornos para a Unidade, com freqüentes suspensões de cirurgia. A coleta de sangue do HGB teve suas atividades interrompidas há 10 anos. Àquela época, graças a um programa de esclarecimento da população, o nível de doação garantia, de forma satisfatória, o abastecimento do hospital com hemocomponentes . A dependência de outras Unidades no suprimento de sangue deixa o hospital em posição vulnerável, agravada pelo aumento da incidência de trauma na Emergência do HGB, em tempos de tanta violência. Para os pacientes candidatos a cirurgia cardíaca, as conseqüências são desastrosas. Além do aumento desnecessário dos custos de uma internação prolongada e da natural insatisfação dos clientes, torna-se inevitável o comprometimento do estado emocional, não sendo incomuns observar hipertensão arterial, ansiedade e depressão, com repercussões no ambiente cirúrgico. 5. Suspensão de cirurgias A falta de insumos para circulação extracorpórea, a falha ocasional da refrigeração do centro cirúrgico, a indisponibilidade temporária de exames laboratoriais indispensáveis, entre outras, são causas de suspensão de cirurgias. Entretanto, durante o ano de 2002, 70% dos atos cirúrgicos suspensos o foram por causa de indisponibilidade de sangue para os pacientes. 6. Demora na realização dos exames Alguns exames laboratoriais, principalmente na área de imunologia, sofrem um retardo programado na sua realização, em virtude da curta estabilidade de alguns reagentes. Porém, é o abastecimento inadequado 28 de insumos para cateterismo diagnóstico e terapêutico a principal causa de atraso na realização de exames, o que resulta em internações prolongadas e insatisfação da clientela. 7. Inexistência de fisioterapeuta A evolução tecnológica fez incorporar à equipe multiprofissional, que deve prestar atendimento a pacientes críticos, a figura do fisioterapeuta. A falta desse profissional resulta em prejuízo à recuperação dos pacientes, particularmente cirúrgicos. 8. Internação pré-operatória na UCI O número reduzido de leitos nas enfermarias acaba provocando uma grave distorção no processo de internação. Não é incomum a utilização de leitos de terapia intensiva para a internação de pacientes que irão se submeter a procedimentos cirúrgicos ou intervenção coronariana percutânea. 9. Qualificação inadequada de profissionais O próprio processo de seleção, sem critérios específicos bem definidos, resultou em uma equipe profissional heterogênea, com formação mais generalista. 10. Aumento da incidência de infecção Em recente trabalho desenvolvido pela CCIH, a incidência de infecção na UCI estava dentro da faixa aceitável de referência mundial, com exceção de infecção de ferida operatória para a retirada de veia safena, em casos de revascularização miocárdica, que apresentava índices bem elevados. 29 Nos meses de dezembro de 2002, janeiro e fevereiro de 2003, observamos um aumento de casos de infecção pós-cirúrgica (esternorrafia e safenectomia) Isso resultou em uma intervenção da CCIH que, juntamente com as chefias médica e de enfermagem, conduziu uma investigação das possíveis causas envolvidas e conseguiu rapidamente controlar o surto infeccioso. 11. Desmotivação da equipe Na área de enfermagem, a principal causa é a diferença de remuneração para profissionais com a mesma função, pois, além dos funcionários concursados, existem vários contratados através de outras modalidades, com salários inferiores e inexistência de garantias trabalhistas. 12. Insatisfação de clientes Como demonstrado anteriormente, a permanência desnecessária de pacientes, tanto clínicos como cirúrgicos, no interior da UCI acaba gerando insatisfação dos mesmos e, por vezes, alterações de comportamento. 13. Abastecimento inadequado de materiais e medicamentos Com freqüência tem-se defrontado com a escassez ou inexistência de materiais e medicamentos, tanto de uso geral no hospital como de uso específico na UCI. 14. Inexistência de equipamentos essenciais Pacientes com grave disfunção ventricular e obstrução significativa do tronco da coronária esquerda são candidatos potenciais ao uso de 30 bomba de contrapulsação aórtica. A inexistência desse equipamento expõe os pacientes a riscos pós-operatórios ou pós-intervenção percutânea. Embora bem dotada de ventiladores mecânicos microprocessados, a UCI não dispõe de um ventilador específico para transporte de pacientes sob ventilação mecânica. O uso de ventilação manual é inadequado em várias situações. 15. Refrigeração inadequada Dois problemas básicos são observados: a inoperância do sistema durante o verão, por causa de falhas técnicas e, durante o inverno, o frio excessivo, devido à falta de dispositivo para controle da temperatura ambiente. 16. Descumprimento de normas de profilaxia de infecção A despeito do empenho da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar no esclarecimento e treinamento das equipes que atuam na UCI, ainda é comum o descumprimento das normas básicas de prevenção de infecção , como lavar as mãos. 17. Iluminação inadequada Embora com iluminação natural bastante satisfatória , através de janelas panorâmicas, e apesar da existência de iluminação indireta de repouso, a iluminação ambiente artificial foi projetada por setores, tornando a falta de iluminação individual por leito um problema de grande desconforto para os pacientes. 18. Estímulo insuficiente ao desenvolvimento profissional Embora em casos isolados tenha havido empenho no sentido do aprimoramento profissional, a maioria dos funcionários permanece à 31 margem dos processos de desenvolvimento profissional e de educação continuada. 19. Inadequação na privacidade dos pacientes A configuração da UCI, em boxes abertos, oferece uma certa individualização do atendimento, porém, não garante total privacidade, necessária para o tipo de pacientes ali internados. As conseqüências podem ser desastrosas para o estado emocional dos pacientes que, muitas vezes, presenciam cenas envolvendo uma evolução desfavorável de outros pacientes. 20. Subdimensionamento da rede de gases medicinais A distribuição dos pontos da rede de gases da UCI não atende às recomendações técnicas, tanto no que diz respeito à quantidade de pontos quanto à sua localização. 21. Distribuição inadequada da rede elétrica A incorporação tecnológica e o resultante aumento do número de equipamentos agregados aos leitos de terapia intensiva tornaram insuficiente o número de tomadas por leito, inicialmente estimado em oito. 22. Abastecimento insatisfatório de roupas O atraso na entrega de roupas provoca transtornos freqüentes nos cuidados diários dos pacientes e na paramentação da equipe de saúde. Além do atraso na entrega, a quantidade de roupas tem sido invariavelmente aquém das necessidades. 23. Limpeza inadequada Em relação à limpeza, existem falhas tanto na quantidade de funcionários (há apenas um funcionário por turno, quando a necessidade é de dois por período), como na qualificação. Além da inexistência de 32 programas de qualificação, treinamento e educação continuada, é freqüente o rodízio de funcionários. 24. Insegurança dos funcionários Invasão ou ameaça de invasão do hospital para resgate de pacientes e furtos freqüentes no interior da UCI, ajudam a criar um clima de insegurança em todos que trabalham no Serviço. 25. Controle inadequado do fluxo de pessoas Embora haja um satisfatório controle na entrada do hospital, é freqüente a circulação de pessoas pelos corredores, em busca de informações ou auxílio na solução de seus problemas. 26. Recursos humanos insuficientes O quantitativo atual de funcionários atende de forma satisfatória às necessidades da UCI, levando em consideração o número de leitos ativos. Considerando, entretanto, o número de leitos desativados, existe uma carência expressiva de profissionais de todas as áreas. 27. Indisponibilidade de exames laboratoriais específicos Dosagens de ácido láctico (de uso comum e necessário em terapia intensiva), proteína C reativa titulada (importante no acompanhamento de processos inflamatórios e infecciosos) e peptídeo natriurético cerebral (ferramenta de grande utilidade no diagnóstico precoce de insuficiência cardíaca) são alguns dos exames não realizados no hospital. Entretanto, é no diagnóstico de embolia pulmonar que se torna mais evidente a carência de exames diagnósticos. A dosagem de dímero-D, o duplex scan de membros inferiores e a cintilografia pulmonar, todos de relevância para o diagnóstico, não podem ser realizados no hospital. Isso torna-se mais significativo se levarmos em conta a elevada prevalência e morbi-mortalidade dessa condição clínica. 33 Também existem dificuldades na realização de exames de imagem, como tomografia computadorizada (TC) e ultra-sonografia (USG). 5.2.3 Seleção de problemas prioritários para ação 5.2.3.1 Técnica de Grupo Nominal (NGT) Na etapa seguinte à identificação dos problemas torna-se necessário selecionar e hierarquizar os problemas produzidos na tempestade de idéias. Isso pode ser realizado utilizando-se a Técnica Nominal de Grupo (NGT). Nessa técnica, cada participante relaciona cinco problemas, atribui uma nota, em votação secreta, com valor de 1 a 5, em escala ascendente de importância, de acordo com o seu julgamento, ou seja, o problema mais importante ganha nota 5. Após a votação de todos, obtém-se o somatório de todas as notas. O problema mais votado é o problema prioritário. Uma vez mais, foi concedido um tempo de 5 minutos para que cada um escolhesse livremente, da lista anterior, os 5 problemas considerados mais importantes. O resultado obtido está mostrado na Tabela 12. Tabela 12 - Ranqueamento dos problemas Problemas Número de pontos Desativação de leitos 18 Restrição à alta de pacientes da UCI por falta de vagas na enfermaria de Cardiologia 14 Demora na realização de exames (laboratório e imagem) 11 Suprimento insuficiente de sangue 8 Descumprimento de normas de profilaxia de infecção 7 Inexistência de fisioterapeuta na UCI 7 Recursos humanos insuficientes 5 Inadequação na privacidade dos pacientes 2 Internação pré-operatória na UCI 1 34 Como ocorreu um empate entre dois problemas, o grupo optou por indicar o descumprimento de normas de profilaxia de infecção, que obteve uma nota 5. Desta forma, foram selecionados os cinco primeiros problemas da tabela12. 5.2.3.2 Matriz de Seleção de Problemas Com os cinco problemas selecionados, optou-se pela construção de uma matriz de seleção de problemas, que possibilita escolha e priorização mais criteriosas dos m esmos, com base em algumas variáveis que devem ser avaliadas pelo grupo, que conferirá, de forma consensual, diferentes graus (alto, médio e baixo) para cada variável, de acordo com seu significado. São as seguintes as variáveis: • Impacto Registra-se em que grau a solução de um problema produz impacto sobre o problema inicial. • Governabilidade Deve-se anotar o grau de governabilidade do grupo na solução dos problemas selecionados. Geralmente a ação gerencial sobre esses problemas envolve poder político e outros recursos; por isso, habitualmente depende de quem planeja. • Factibilidade Diz respeito ao conhecimento e acesso às técnicas necessárias para enfrentar um problema. • Custo de postergação Significa o custo que pode advir do adiamento da solução dos problemas. Após a construção da planilha deverão ser selecionados, prioritariamente, os problemas que apresentem maior impacto, alta governabilidade, alta factibilidade e um elevado custo de postergação. Aplicando a matriz de seleção aos cinco problemas inicialmente selecionados, obtivemos os resultados mostrados na tabela 13: 35 Tabela 13 - Resultados da matriz de seleção de problemas IMPACTO GOVERNABILIDADE FACTIBILIDADE CUSTO DE POSTERGAÇÃO SELEÇÃO Desativação de leitos Alto Baixa Alta Alto 5º Restrição à alta de pacientes por falta de vagas na enfermaria Alto Média Alta Alto 1º Demora na realização de exames (laboratório e imagem) Alto Baixa Alta Alto 4º Suprimento insuficiente de sangue Alto Baixa Alta Alto 3º Médio Alta Alta Alto 2º PROBLEMAS Descumprim ento de normas de profilaxia de infecção A aplicação da matriz de seleção de problemas acabou modificando, de forma significativa, o resultado do NGT, de tal forma que o problema considerado prioritário, a princípio, em função da baixa governabilidade, foi deslocado para a última posição. Estava assim eleito o problema prioritário para ser explicado: Restrição à alta de pacientes da UCI por falta de vagas na Enfermaria de Cardiologia 36 5.2.4 Explicação ou análise dos problemas 5.2.4.1 Fluxograma situacional O problema selecionado (ou os problemas) deve ser explicado, destacando-se os seus indicadores, as suas causas e as suas conseqüências. Aqui, uma vez mais, recorre-se à técnica de tempestade de idéias, estimulando os participantes a encontrar o maior número possível de causas, de causa das causas, e assim por diante. O mesmo deve ser feito em relação às conseqüências. O conjunto de causas é apresentado sob a forma de um fluxograma situacional. Para dar seqüência ao nosso trabalho, tornou-se indispensável incorporar outros atores ao grupo, uma vez que, após a seleção e hierarquização dos problemas, outros setores do hospital foram envolvidos. Assim, na Tabela 14 está mostrada a composição final do grupo de trabalho. Tabela 14 - Composição final do Grupo de Trabalho Nome Função Victor Grabois Diretor do HGB Paulo Cezar Monteiro de Carvalho Chefe do CACV Ubiratan Souza Rios Médico responsável pela UCI Clara Regina Pinto de Oliveira Chefe de Enfermagem do CACV Gaetano Emilio P. Fonti Médico responsável pela Cardiologia Panayotis G. Agorianitis Médico responsável pela Cirurgia Cardíaca Mariza Zenaide Ribeiro Gomes Médica responsável pela CCIH Solange Simas Correia Enfermeira do Serviço de Hemoterapia Artur Eduardo C. Guimarães Médico da UCI Renato Machado Macaciel Médico da UCI Carleuza Maria França Mourão Diretora Adjunta do HGB Juliano Carvalho Lima Assessor de Planejamento Adélia Quadros Chefe da Unidade de Pacientes Externos Alfredo Brasil Teixeira Médico diarista da UCI - Aluno Paulo Cesar Fernandes Gerente do Serviço de Pediatria - Aluno 37 Reunido o grupo, iniciamos esta fase concedendo 10 minutos para que cada um anotasse, em folha própria, todas as possíveis causas e conseqüências da dificuldade de alta dos pacientes da UCI para a Enfermaria de Cardiologia. O resultado foi a construção de um fluxograma de causas e conseqüências. Submetemos seu formato final, que apresentamos na Figura 6, à apreciação do Diretor do Hospital e de alguns de seus assessores, que tiveram intensa e decisiva participação. 38 Figura 6 - Fluxograma de causas e conseqüências da restrição à alta da UCI para a Enfermaria de Cardiologia Causas Falta de recursos humanos Atenção inadequada às normas de profilaxia de infecção no Centro Cirúrgico e Hemodinâmica Desativação de leitos Problema Conseqüências Insuficiência de leitos vs. demanda Infecção pós -operatória Pacientes crônicos, comorbidades Internação de pacientes com patologias complexas Indefinição de critérios para internação e alta Utilização inadequada dos instrumentos de gerenciamento Internações para preparo pré-operatório e de angioplastias Internações desnecessárias Pouca utilização de protocolos clínicos Inexistência de protocolo de abordagem de dor torácica Inexistência de protocolo de controle e prevenção secundária de insuficiência cardíaca Inexistência de referência e contra -referência Baixa resolutividade na Emergência Abastecimento inadequado de insumos para a hemodinâmica Demanda excessiva Deficiência na provisão de hemocomponentes pelo HemoRio Funcionamento do HGB como unidade transfusional (fechamento da coleta) Suprimento inadequado de sangue TMP elevado (6.4 dias) Demora ou suspensão de CAT diagnóstico e angioplastias Demora na realização de exames de USG e TC Demora na realização de transfusões sanguíneas Suspensão de cirurgias (70%, por falta de sangue) Baixa rotatividade na enfermaria de Cardiologia (TMP = 18 dias) Restrição à alta de pacientes da UCI por falta de vagas na enfermaria de Cardiologia Aumento do risco de infecção Síndrome de confinamento Insatisfação de clientes Desmotivação profissional 39 5.2.4.2 Identificação de causas críticas Uma vez listadas as causas de todos os problemas, passa-se ao processo de seleção daquelas que, uma vez enfrentadas gerencialmente, devem levar à resolução do problema. Alguns critérios são fundamentais nesse processo. As causas devem produzir forte impacto sobre o problema, resolvendo-o ou minimizando-o. É necessário ainda ter governabilidade sobre as causas. Nesta fase, uma vez mais foi decisivo o envolvimento da Direção do Hospital, permitindo, assim, selecionar, para a formulação de ações, as seguintes causas: • inadequação dos instrumentos de gerenciamento • inexistência de protocolo de abordagem de dor torácica (DT) • inexistência de protocolo de controle e prevenção secundária de insuficiência cardíaca (IC) • fechamento da coleta de sangue do HGB Embora o objetivo do trabalho tenha sido direcionado para a Unidade de Cardiologia Intensiva, observamos que as causas (problemas) selecionadas para serem enfrentadas gerencialmente extrapolam o âmbito da Unidade. Se relembrarmos o diagrama de inter-relações da UCI com os demais setores do CACV e com a Emergência, podemos concluir que um novo modelo gerencial para a UCI implica, necessariamente, repensar o modelo de gestão para todo o Centro de Assistência Cardiovascular e mesmo ações de maior alcance. 5.2.5 Detalhamento de ações para as causas críticas 5.2.5.1 Matriz de programação de ações Nessa etapa deve ser construída uma matriz para cada causa selecionada, com uma ou várias ações gerenciais. Nesse processo, deve-se proceder com o detalhamento máximo das ações, estabelecendo metas e prazos bem definidos, indicadores, além de identificar o(s) responsável(veis) por cada ação. 40 A programação de ações apresentada a seguir é o resultado do esforço do grupo de trabalho e do envolvimento da Chefia do CACV e da Direção do Hospital, que, de forma pactuada, propuseram as ações apresentadas nas Tabelas 15 a 18. 41 Tabela 15 - Problema: Utilização inadequada dos instrumentos de gerenciamento Ações 1. Recursos Criar colegiado CACV do • • 2. Definir e indicadores desempenho adotar • de • • 3. Definir critérios internação e alta de • • • 4. 5. Criar ambulatório de • pré-operatório e • angioplastias • • • • Criar Tempo Médio • de Permanência de alerta (sentinela) • Produtos Reunião com todos os membros do Serviço Recursos audiovisuais • Referências bibliográficas Experiências de outros hospitais Banco de dados do Sistema de Informações Gerenciais do Hospital (SIGH) • Referências bibliográficas Experiências de outros hospitais Banco de dados do Sistema de Informações Gerenciais do Hospital Área física com 10m2 Mobiliário de consultório Aparelho de pressão Estetoscópio Balança antropométrica Recursos Humanos • médicos - 1 Reunião dos responsáveis indicados pelo colegiado do CACV Sistema de Informações gerenciais do Hospital Colegiado criado e funcionando Impacto • • Planilha de avaliação de desempenho do Serviço • • • • • Critérios de internação e alta definidos • • • • • Ambulatório em funcionamento • • • Todos os casos > 7 dias avaliados • Prazo Indicador Implementar modelo de gestão participativo, descentralizado Alcançar maior responsabilização do Colegiado por todas as ações gerenciais Definir e orientar ações gerenciais Estabelecer critérios de avaliação do Serviço Qualificar o trabalho da equipe multiprofissional Estimular atividades de ensino e pesquisa Estimular produção científica Reduzir o TMP em 33%- para 12 dias, ao final de seis meses Aumento do número de internações em cerca de 50% Utilização mais racional dos leitos da Enfermaria Aumento da rotatividade na UCI e Enfermaria de Cardiologia Diminuição do número de internações sem investigação pré-operatória completa 30/09/03 • Reduzir o TMP em 33%- para 12 dias 30/09/03 • • NO de reuniões realizadas NO de decisões implementadas / nº de decisões tomadas 30/11/03 Responsável • • Dr.Paulo César M Carvalho Dr.Victor Grabois • Colegiado do CACV - 30/11/03 • TMP de 12 dias • Colegiado do CACV 31/01/04 • Nº de pacientes com pré-operatório completo / nº total de pacientes internados para cirurgia e angioplastia • Dr. Victor Grabois Colegiado do CACV Nº de casos > 7 dias avaliados / nº total de casos > 7 dias • • • Colegiado do CACV Dr.Fernando Andrade 42 Tabela 16 - Problema: Inexistência de protocolo de abordagem de dor torácica. Ações 1. Elaborar e implantar protocolo de dor torácica 2. Treinar e capacitar os clínicos da Emergência Recursos • Reuniões com os profissionais envolvidos (UCI, Enfermaria e Emergência) • Recursos audiovisuais • Material instrucional impresso • Computador e impressora • Ficha de coleta de dados • Referências bibliográficas • Experiências de outros Hospitais • Recursos audiovisuais • Treinamento em eletrocardiografia aplicada à DT • Material impresso • Treinamento em suporte avançado de vida Produtos • Protocolo elaborado e implantado Impacto • Redução de 20 a 30% de internações de casos de DT • Segurança na liberação dos pacientes da Emergência • Qualificação profissional • Melhoria da qualidade do atendimento na Emergência Prazo 30/11/03 Indicador • Relação entre internações por DT indefinida /total de internações por DT • Relação N O de definições da causa da DT / N O total de atendidos na Emergência Responsável Dr. Renato Macaciel Dr. Artur Guimarães Dr. Alfredo Brasil • • 30/12/03 • Dr. Renato Macaciel Dr. Artur Guimarães Dr. Alfredo Brasil 100% dos profissionais capacitados • • Redução de 20 a 30% de internações de casos de DT Segurança na liberação dos pacientes da Emergência Qualificação profissional Melhoria na qualidade de atendimento na Emergência Nº de profissionais treinados que utilizam o protocolo / Nº total de profissionais treinados 43 Tabela 17 - Problema: Inexistência de protocolo de controle e prevenção secundária de insuficiência cardíaca Ações 1. Elaborar e implantar protocolo de insuficiência cardíaca (IC) Recursos • Reuniões com os profissionais envolvidos (UCI, Enfermaria e Emergência) • Recursos audiovisuais • Material instrucional impresso • Computador e impressora • Ficha de coleta de dados Produtos • Protocolo elaborado e implantado 2. Capacitar profissionais da Enfermaria de Cardiologia, UCI e Emergência • • Recursos audiovisuais Treinamento em eletrocardiografia aplicada à DT Material impresso Treinamento em suporte avançado de vida • Profissionais capacitados 3. Reativar leitos específicos para IC • • • Área para internação com 10 leitos Balança antropométrica Recursos humanos • médico - 3 • enfermeiro – 7 • fisioterapeuta - 1 • psicólogo – 1 • nutricionista – 1 • terapeuta ocupacional - 1 Área física com 10m 2 Mobiliário de consultório Aparelho de pressão Estetoscópio Balança antropométrica Recursos humanos (2 médicos) • 10 leitos em funcionamento 4. Criar ambulatório de insuficiência cardíaca • • • • • • • • • Ambulatório funcionando Impacto • Diminuir nº de re-internações por IC descompensada • Reduzir período de internação por IC • Melhorar a qualidade de vida • Qualificação profissional • Melhoria da qualidade de atendimento na Emergência • Diminuir nº de re-internações por IC descompensada • Reduzir período de internação por IC • Melhorar a qualidade de vida • Qualificação profissional • Melhoria da qualidade de atendimento na Emergência • Propiciar atendimento adequado de pacientes com IC • Diminuir o atendimento inadequado na Emergência Prazo Indicador 30/11/03 • Nº de re-internados por IC / Nº total de internados por IC • TMP de 7 dias Responsável Dr. Renato Macaciel Dr. Artur Guimarães Dr. Alfredo Brasil 30/12/03 • Nº de profissionais treinados que utilizam o protocolo / Nº total de profissionais treinados Dr. Renato Macaciel Dr. Artur Guimarães Dr. Alfredo Brasil 31/01/04 • • TO de 80 a 90% TMP de 7 dias • • 31/01/04 • Nº de pacientes que retornam / Nº de pacientes esperados (total) • • Reduzir o nº de reinternações por IC descompensada Reavaliação de todos os pacientes em 7 dias após a alta, mensal (nos primeiros 6 meses) e, posteriormente, bimensal • Nº de pacientes internados por IC / Nº de pacientes atendidos no ambulatório • • • Colegiado do CACV Dr. Victor Grabois Dr. Victor Grabois Colegiado do CACV Dra. Adélia Quadros 44 Tabela 18 - Problema: Funcionamento do HGB como unidade transfusional (fechamento da coleta) Ações • Recursos Reativação da • coleta e • fracionamento de • sangue • Financeiros Re-estruturação da área física Informatização Recursos humanos o Técnicos de laboratório - 11 o Enfermeiro – 1 o Assistente Social – 1 o Médico hemoterapeuta - 1 Produtos Impacto Prazo Indicador Responsável • • 31/01/04 • Dr. Victor Grabois l Dra.Sandra Azevedo Dra. Patrícia Freitas • Realizar 800 coletas mensais Bolsas de hemocomponentes – o concentrado de hemácias – 800 o plasma fresco – 800 o concentrado de plaquetas –150 o crioprecipitado – 40 • Reduzir o nº de suspensões de cirurgias por falta de sangue para 20% Redução do TMP na Enfermaria • Nº de cirurgias suspensas por falta de sangue / Nº total de cirurgias suspensas Nº de cirurgias suspensas por falta de sangue/Nº de cirurgias marcadas 45 5.2.5.2 Comentários sobre as ações programadas Cabe ainda analisar, com mais profundidade, o alcance das ações propostas para as quatro causas críticas selecionadas. 1. Utilização inadequada dos instrumentos de gerenciamento Embora o CACV tenha uma estrutura de atendimento que vai desde uma simples consulta até procedimentos de alta complexidade (cirurgia cardíaca e intervenções coronarianas percutâneas), são evidentes as dificuldades na articulação entre os diversos setores do próprio Serviço e, destes, com os demais Serviços do Hospital. O estabelecimento de um colegiado irá, sem dúvida, criar condições para implementar um gerenciamento descentralizado e baseado em indicadores, permitindo tanto a avaliação de desempenho como a orientação na formulação de novas ações. O resultado mais esperado, entretanto, é a elevação do nível de qualidade do atendimento, idéia que traz em si a certeza de que os profissionais são a chave para garantir esta qualidade. Esta mudança passa pela adoção de práticas humanizadas, onde o cliente seja o foco, na perspectiva da integralidade somatório do de cuidado, ações pensando específicas o de trabalho cada em equipe profissional como envolvido, resultando em uma atividade mais solidária e articulada. Assim, ao se criar um colegiado para a gestão, deve-se pensar em quem faz, colocando, também, o profissional em foco, criando oportunidades para sua capacitação permanente. É necessário, também, avaliar a inserção do CACV no SUS. O Sistema de Saúde do Rio de Janeiro apresenta diversas lógicas de funcionamento, onde existem múltiplos circuitos e fluxos de pacientes, não bem formalizados, nem sempre racionais. Assim, para que o CACV possa ter um funcionamento ideal, é fundamental que se conheça as portas de entrada e de saída do próprio hospital e da rede de saúde, de modo que se possa interferir positivamente na organização das mesmas. 2. Inexistência de protocolo de abordagem de dor torácica Dor torácica é uma queixa muito comum nos serviços de Emergência. As causas são variadas mas, as mais preocupantes são aquelas relacionadas ao aparelho cardiovascular, particularmente as síndromes isquêmicas coronarianas agudas que, se não reconhecidas podem ser fatais e, por outro lado, se reconhecidas precocemente, podem se beneficiar da utilização de modernas tecnologias. A sistematização no atendimento de casos de DT levou à disseminação do uso de protocolos que resultaram, de acordo com dados da literatura mundial, em grande redução do tempo entre o início dos sintomas e a tomada de decisão sobre a melhor estratégia terapêutica (Cannon – 2001). Isto produz um alto impacto na recuperação funcional e na qualidade de vida de muitos pacientes, além de implicações sócio-econômicas. Além disso, a identificação de pacientes de baixo risco permitiu a redução de 20 a 30 % do número de pacientes que necessitam de internação, garantindo, ainda, segurança ao médico no momento da liberação dos pacientes atendidos. 3. Inexistência de protocolo de insuficiência cardíaca A insuficiência cardíaca acomete cerca de 15 milhões de pessoas em todo o mundo e foi escolhida como uma das três prioridades da OMS, em Saúde Pública, para os próximos anos. É uma nova e crescente pandemia que necessita de atenção de todos os profissionais de saúde. Entretanto, os recursos destinados a pesquisas de novas terapias para IC não ultrapassam 25% das verbas aplicadas em pesquisa do câncer, embora se equipare a este em número de mortes. Segundo dados do SUS, em 2001, foram internados com IC cerca de 398 mil pessoas, das quais 26 mil morreram (Bocchi – 2002). Além dos altos custos hospitalares, a IC provoca uma sensível perda da qualidade de vida. Com o rápido envelhecimento populacional 47 do mundo, as projeções indicam que, em 2025, a IC poderá ser a principal causa de mortalidade no mundo. O maior desafio é prevenir a IC em pessoas com hipertensão arterial não tratada, elevação do colesterol e infarto do miocárdio. Prevenir e tratar a IC é um desafio que envolve um somatório de ações integradas e equipes multiprofissionais. As clínicas de IC são centros especializados onde, cardiologistas, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos e terapeutas ocupacionais acompanham e dão suporte aos portadores da doença e seus familiares, em cooperação com médicos generalistas. Elas se constituem no novo modelo no gerenciamento nas formas graves de insuficiência cardíaca. 4. Fechamento da coleta de sangue Até 1997, o HGB desenvolvia programa de coleta de sangue, com campanhas estimulando a doação. Isto garantiu, durante um longo período, suprimento da maioria das necessidades de hemocomponentes. Hoje, a realidade é bem diferente. Por um lado, os tempos difíceis que atravessamos provocaram um consumo muito elevado de sangue nas emergências causadas pelos mais diversos tipos de violência. Por outro lado, as constantes campanhas de estímulo à doação de sangue trouxeram uma maior conscientização da população. Isto pode ser constatado na prática hospitalar diária, onde as pessoas oferecem-se para efetuar doações no curso do tratamento de familiares. Com esse reforço na conscientização das pessoas, estima-se que o hospital, com a reativação do Setor de Coleta, possa alcançar até mesmo a auto-suficiência no abastecimento de hemocomponentes. 48 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS O desafio que embasa o objetivo deste trabalho - propor um novo modelo de gestão para a Unidade de Cardiologia Intensiva do HGB, permitiu-nos articular grande parte dos conhecimentos incorporados, ao longo do Curso de Gestão Hospitalar da ENSP, com a prática diária no ambiente hospitalar. Para isso, contribuiu, inegavelmente, a metodologia utilizada - Planejamento Estratégico Situacional. A utilização do PES simplificado trouxe estímulo à participação e criatividade das pessoas, num processo crescente ao longo da realização do trabalho, motivando-as e gerando compromissos. Produziu uma extensa lista de problemas, causas e conseqüências, e suas inter-relações. Outro aspecto que chamou a atenção, com a utilização da matriz de seleção de problemas, foi a modificação do resultado do NGT, que encontrou a desativação de leitos como problema prioritário. Além de ser de baixa governabilidade, a solução deste problema não necessariamente resultaria em melhora do desempenho da UCI, uma vez que existe uma grande dificuldade no processo de alta dos pacientes da Unidade, tendo como uma das causas a baixa rotatividade dos leitos da enfermaria, que certamente continuaria exercendo impacto negativo no desempenho da UCI, mesmo com um aumento do número de leitos. Reativar leitos sem reduzir o TMP na enfermaria poderia resultar apenas na amplificação do problema. O resultado foi a elaboração de planilhas de ações, direcionadas para os nós críticos encontrados. Confrontando o planejamento de ações com o objetivo do trabalho, observamos que as ações extrapolam o âmbito da UCI. Observando as inter-relações da UCI, uma vez mais, fica fácil compreender que seria impossível melhorar o seu desempenho apenas com ações locais. Somente ações que interfiram em causas remotas podem gerar soluções. As ações que envolvem a aplicação de protocolos na Emergência extrapolam até mesmo o âmbito do hospital, podendo representar elementos de integração com a rede de saúde, dentro de um sistema de referência e contra- 49 referência, que vem sendo discutido no processo de planejamento estratégico do HGB, no tópico que trata da sua inserção no SUS. Alguns avanços podem ser mencionados antes mesmo da implantação das ações programadas. O sistema de informações do HGB já monitora e informa ao CACV o TMP de alerta. A UCI está monitorando, desde janeiro de 2003, a taxa de ocupação e o tempo médio de permanência, que foi menor no último mês. O envolvimento de uma equipe motivada permitiu, com o apoio da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, o rápido controle de um surto de infecção pósoperatória, ocorrido há 6 meses. Por fim, é necessário realçar um marco diferencial deste Curso de Gestão, que propõe e estimula efetiva intervenção na realidade hospitalar ao longo do próprio curso, de tal modo que este trabalho tem o perfil de um relatório técnico e não, apenas, de um trabalho formal de conclusão de curso. 50 7. BIBLIOGRAFIA ARTMANN, Elizabeth Planejamento Estratégico Situacional no nível local: um instrumento a favor da visão multissetorial In ”Desenvolvimento Local” Cadernos da Oficina Social 3 p 98-119 - 2000. BOCCHI, Edimar Alcides et al. Avanços na Prática Clínica da Insuficiência Cardíaca Descompensada. São Paulo: Office, 2002. 166 p. CANNON, Christopher P.; BRAUNWALD, Eugene. Unstable Angina. In Braunwald, Eugene; Zipes, Douglas P.; Libby, Peter. (Ed.) Heart Disease. 6 ed. Philadelphia: W. B. Saunders Company, 2001. 2297 p., cap. 36, p.1238 –1239 CECÍLIO, Luiz Carlos O. Uma sistematização e discussão de tecnologia leve de planejamento estratégico aplicada ao setor governamental In “Agir em Saúde” Merhy, E.E. & Onocko, R. 2ª Ed– 1997 51