FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO Licenciatura em Engenharia Electrotécnica e de Computadores Ramo de Sistemas de Energia Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Relatório Final da Disciplina de Projecto, Seminário ou Trabalho de Fim de Curso Nuno Edgar de Oliveira Arieira Porto, 8 de Julho de 2005 Estágio curricular desenvolvido nas instalações da EFACEC DT – Transformadores de Distribuição de Energia, SA. FEUP: Aluno: Nuno Edgar de Oliveira Arieira (ee00180) Orientador Supervisor: Prof. Dr. Artur Costa Empresa: Orientador: Eng.º Pedro Moura A duração do estágio foi de 4 meses, 3 dos quais financiados pelo programa PRODEPIII. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 2 de 87 AGRADECIMENTOS O presente trabalho só foi possível graças à colaboração de várias pessoas. Em primeiro lugar, agradeço ao Eng. Pedro Moura pela proposta de estágio, apoio dado e conhecimentos transmitidos. Ao Departamento de Engenharia da EFACEC DT pela disponibilidade e paciência para comigo. Agradeço também ao Prof. Dr. Artur Costa pelo interesse e disponibilidade em aceder ao meu pedido para supervisionar o estágio. Ao PRODEP III pelo apoio financeiro. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 3 de 87 SUMÁRIO O presente relatório final da disciplina de Projecto, Seminário ou Trabalho de Fim de Curso, do 5º ano do Licenciatura em Engenharia Electrotécnica e de Computadores, Ramo de Sistemas de Energia pretende descrever o trabalho realizado no estágio curricular efectuado no departamento de R&D da EFACEC DT, Transformadores de Distribuição de Energia, S.A.. O estágio consistiu no projecto de um transformador de poste autoprotegido, entendendo-se como autoprotegido um transformador que integra, na própria máquina, protecções contra sobrecargas, curtocircuitos e defeitos à massa, dispensando desta forma as protecções na subestação a montante. Este documento está modelarmente dividido, apresentando-se inicialmente o Grupo EFACEC e as motivações para o desenvolvimento de um produto com as características apresentadas. Segue-se a apresentação dos conceitos fundamentais para o cálculo de um transformador de distribuição imerso em óleo, estudo relativo aos sistemas de protecção a incluir na máquina e justificação da solução adoptada. Por último será apresentada a forma de integração dos equipamentos de protecção no transformador e suas implicações no cálculo da máquina. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 4 de 87 ÍNDICE Agradecimentos ......................................................................................................................3 Sumário...................................................................................................................................4 Índice ......................................................................................................................................5 Índice Figuras .........................................................................................................................9 Índice Tabelas.......................................................................................................................11 1. Introdução.......................................................................................................................12 2. Grupo EFACEC..............................................................................................................15 2.1. Apresentação .........................................................................................................15 2.2. Organização do Grupo EFACEC ..........................................................................16 2.3. EFACEC DT, Transformadores de Distribuição de Energia S.A. ........................16 3. Cálculo de um Transformador de Distribuição Imerso em Óleo....................................18 3.1. Considerações Iniciais ...........................................................................................18 3.2. Dados para o Cálculo do Transformador...............................................................19 3.3. Cálculo de Tensões................................................................................................20 3.4. Cálculo de Correntes .............................................................................................21 3.5. Selecção do Tipo de Enrolamento .........................................................................21 3.6. Definição da Altura Axial do Enrolamento e Diâmetro do Círculo Circunscrito. ..........................................................................................................22 3.7. Distância Ferro – BT .............................................................................................23 3.8. Cálculo da Tensão por Espira................................................................................24 3.9. Cálculo da Indução Magnética da Culassa ............................................................24 3.10. Cálculo do Número de Espiras do Enrolamento BT e Correcção da Tensão por Espira .....................................................................................................................24 3.11. Cálculo do Número de Espiras do Enrolamento AT .............................................25 3.12. Cálculo do Enrolamento BT ..................................................................................25 3.12.1. Enrolamento BT em Camadas (Barra de Cobre)..........................................25 3.12.1.1. Selecção do Condutor..........................................................................25 3.12.1.2. Dimensões da Espira e Número de Camadas ......................................26 3.12.1.3. Densidade de Corrente.........................................................................26 3.12.1.4. Cálculo da Altura Axial do Enrolamento ............................................26 3.12.1.5. Isolamento entre Camadas...................................................................27 3.12.1.6. Altura Radial do Enrolamento.............................................................27 Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 5 de 87 3.12.2. Enrolamento BT em Banda de Cobre........................................................... 27 3.12.2.1. Selecção do Condutor..........................................................................27 3.12.2.2. Dimensões da Espira, Número de Camadas e Altura Axial ................28 3.12.2.3. Densidade de Corrente.........................................................................28 3.12.2.4. Isolamento entre Camadas...................................................................28 3.12.2.5. Altura Radial do Enrolamento.............................................................28 3.13. Cálculo do Enrolamento AT.................................................................................. 28 3.13.1. Enrolamento AT em Fio de Cobre ............................................................... 29 3.13.1.1. Altura Axial do Enrolamento ..............................................................29 3.13.1.2. Valor Pretendido para a Densidade Média de Corrente ......................29 3.13.1.3. Selecção do Condutor..........................................................................29 3.13.1.4. Dimensões da Espira ...........................................................................30 3.13.1.5. Densidade de Corrente.........................................................................30 3.13.1.6. Número de Espiras por Camada, Número de Camadas e Verificação da Altura Axial.................................................................30 3.13.1.7. Isolamento entre Camadas...................................................................31 3.13.1.8. Altura Radial do Enrolamento.............................................................31 3.14. Canais Internos dos Enrolamentos e do Espaço AT/BT........................................31 3.15. Calagens dos Enrolamentos AT e BT e Altura Geométrica dos Enrolamentos ....32 3.16. Distâncias de Extremidade Superior e Inferior......................................................33 3.17. Comprimento do Núcleo (Altura da Janela)..........................................................33 3.18. Altura Radial Total dos Enrolamentos ..................................................................33 3.19. Diâmetro e Comprimento das Espiras BT e AT....................................................34 3.20. Distância entre Colunas ou Fases ..........................................................................35 3.21. Dimensões Transversais do Circuito Magnético ...................................................35 3.22. Massas de Ferro .....................................................................................................36 3.23. Perdas no Ferro......................................................................................................36 3.24. Massas de Cobre nos Enrolamentos ......................................................................37 3.25. Perdas no Cobre.....................................................................................................38 3.25.1. Perdas Joule nos Enrolamentos ....................................................................38 3.25.2. Perdas Joule nas Ligações ............................................................................38 3.25.3. Perdas Suplementares nos Enrolamentos .....................................................39 3.25.4. Perdas no Cobre Totais.................................................................................39 Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 6 de 87 3.26. Gradientes de Temperatura nos Enrolamentos......................................................39 3.27. Tensão de Curto-Circuito ......................................................................................41 3.28. Escolha da Cuba Rectangular ................................................................................42 3.29. Cálculo da Evacuação da Cuba .............................................................................42 3.30. Cálculo da Sobrepressão........................................................................................43 3.31. Cálculo do Nível de Ruído ....................................................................................44 3.32. Cálculo das Massas do Transformador..................................................................45 3.33. Outros Cálculos .....................................................................................................45 3.34. Resumo do Processo de Cálculo............................................................................46 4. Protecção de um Transformador.....................................................................................48 4.1. Solicitações Eléctricas e Modos de Avaria .............................................................48 4.1.1. Ligação e Re-Ligação...................................................................................48 4.1.2. Sobretensões de Origem Externa..................................................................48 4.1.3. Sobrecargas...................................................................................................49 4.1.4. Curto-circuitos na Rede BT..........................................................................51 4.1.5. Defeitos Internos ..........................................................................................52 4.1.5.1.Defeitos entre Espiras.............................................................................52 4.1.5.2.Defeitos entre Enrolamentos .................................................................. 53 4.1.5.2.1. Enrolamentos de Média Tensão ................................................. 53 4.1.5.2.2. Enrolamentos de Baixa Tensão .................................................. 53 4.1.5.2.3. Enrolamentos de Média e Baixa Tensão .................................... 53 4.1.5.3.Defeitos à Massa..................................................................................... 54 4.1.5.4.Defeitos Relacionados com o Tipo de Transformador........................... 54 4.2. Sistemas de Protecção ............................................................................................. 55 4.2.1. Sobretensões ................................................................................................. 55 4.2.1.1.Hastes de Descarga................................................................................. 55 4.2.1.2.Descarregadores de Sobretensões........................................................... 55 4.2.2. Sobrecargas e Curto-Circuitos...................................................................... 56 4.3. Soluções Estudas para Proteger Transformadores de Distribuição de Poste Imersos .................................................................................................................... 57 4.3.1. Fusíveis SloFast............................................................................................ 57 4.3.2. Combinação de Fusíveis e Interruptor na Média Tensão ............................. 60 4.3.3. MagneX® Interrupter e Fusíveis ELSP......................................................... 62 Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 7 de 87 4.3.4. Comparação de Soluções.............................................................................. 64 5. Solução Seleccionada ..................................................................................................... 65 5.1. Verificação da Reacção Térmica do MagneX® ....................................................... 65 5.2. Coordenação de Protecções com o MagneX® ......................................................... 66 5.3. Selecção dos Elementos Sensores e dos Fusíveis ................................................... 69 5.4. Outras Particularidades do MagneX® ..................................................................... 69 5.5. Protecção Contra Sobretensões ............................................................................... 70 5.6. Inclusão dos Elementos da Protecção no Produto Final.......................................... 71 5.7. Implicações no Cálculo ........................................................................................... 74 5.8. Comparação de Custos ............................................................................................ 75 5.9. Ensaios..................................................................................................................... 76 5.9.1. Circuito de Ensaio ........................................................................................ 77 5.9.2. Preparação do Aparelho................................................................................ 77 5.9.3. Grandezas a Registar em todos os Ensaios................................................... 77 5.9.4. Duração dos Ensaios e Resultados ............................................................... 78 5.9.5. Ensaio da Protecção Integrada...................................................................... 78 5.9.5.1.Curto-Circuito entre Espiras BT............................................................. 78 5.9.5.2.Aparelho com Fuga de Óleo................................................................... 79 5.9.5.3.Sobrecarga Monofásica na BT ............................................................... 79 5.9.5.4.Curto-Circuito Trifásico na Entrada dos Enrolamentos MT .................. 80 6. Conclusões...................................................................................................................... 81 7. Referências Bibliográficas.............................................................................................. 83 Lista de Símbolos ................................................................................................................. 84 Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 8 de 87 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1 – Funcionamento de uma rede rural em caso de defeito num transformador sem protecção integrada............................................................................................................... 13 Figura 2 – Funcionamento de uma rede rural em caso de defeito num transformador com protecção integrada....................................................................................................... 14 Figura 3 – EFACEC no mundo ............................................................................................ 15 Figura 4 – Círculo circunscrito ao circuito magnético ......................................................... 22 Figura 5 – Vista de uma das fases do transformador............................................................ 35 Figura 6 – Dilatação de uma alheta provocada pela expansão térmica do óleo (flecha)...... 43 Figura 7 – Fluxograma de uma possível sequência de cálculo de um transformador imerso em óleo ..................................................................................................................... 47 Figura 8 – Capacidade de sobrecarga de um transformador de distribuição imerso em óleo ....................................................................................................................................... 51 Figura 9 – Funcionamento de um transformador com um curto-circuito entre espiras no primário ................................................................................................................................ 52 Figura 10 – Curva característica de um descarregador de sobretensões de óxido de zinco (ZnO) numa rede com tensão nominal de 20kV, quando submetido a um impulso de 125kV ................................................................................................................................... 56 Figura 11 – Solução de compromisso para protecção de um transformador com elementos fusíveis ................................................................................................................ 58 Figura 12 – Elementos constituintes de um fusível do tipo SloFast..................................... 59 Figura 13 – Protecção de um transformador com um fusível do tipo SloFast ..................... 59 Figura 14 – Modo de operação de um fusível limitador de corrente.................................... 61 Figura 15 – Curva de actuação de um fusível com percutor térmico ................................... 62 Figura 16 – MagneX® Interrupter Trifásico ......................................................................... 64 Figura 17 – Temperatura vs. Perfil de Carga........................................................................ 65 Figura 18 – Esquema eléctrico do transformador autoprotegido ......................................... 68 Figura 19 – Curvas de actuação do MagneX® e dos fusíveis de Back-up............................ 68 Figura 20 – MagneX® Interrupter equipado para sobrecargas de emergência ..................... 70 Figura 21 – MagneX® Interrupter equipado com flutuadores .............................................. 70 Figuras 22 e 23 – Descarregadores de sobretensões imersíveis em óleo e de montagem no exterior............................................................................................................................. 71 Figura 24 – Forma de fixação dos fusíveis de Back-up........................................................ 71 Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 9 de 87 Figura 25 – Interruptor para utilização em banho de óleo.................................................... 72 Figura 26 – Distâncias de isolamento do MagneX® Interrupter ........................................... 73 Figura 27 – Distâncias de isolamento do interruptor para utilização em banho de óleo...... 73 Figuras 28, 29 e 30 – Aspecto final do transformador autoprotegido .................................. 74 Figura 31 – Gráfico de comparação do custo de um transformador sem protecção com uma unidade autoprotegida................................................................................................... 75 Figura 32 – Sobrecusto de uma unidade autoprotegida relativamente a uma unidade sem protecção............................................................................................................................... 76 Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 10 de 87 ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1 – Organização do Grupo EFACEC........................................................................ 16 Tabela 2 – Tensões nas fases para as ligações triângulo e estrela........................................ 20 Tabela 3 – Correntes nas fases para as ligações triângulo e estrela ..................................... 21 Tabela 4 – Comparação entre os valores esperados e os obtidos em ensaio para as temperaturas e tempos de disparo do MagneX®................................................................... 66 Tabela 5 – Poder de corte do MagneX® Interrupter ............................................................. 67 Tabela 6 – Sensores do MagneX® e fusíveis de Back-up a instalar em cada unidade ......... 69 Tabela 7 – Características eléctricas do interruptor para utilização em banho de óleo........ 72 Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 11 de 87 1. INTRODUÇÃO A energia eléctrica produzida em centrais termoeléctricas, hídricas, ou eólicas é transportada através de condutores eléctricos até aos lugares mais adequados para o seu aproveitamento, iluminando cidades e alimentando máquinas e motores. Para o transporte da energia até aos pontos de utilização não bastam cabos, linhas e postes. Toda a rede de transporte e distribuição depende inteiramente de transformadores, que elevam e abaixam a tensão. Neste sobe e desce de tensões, eles resolvem não só um problema económico, reduzindo custos de transmissão, e melhoram a eficiência do processo, reduzindo quedas de tensão, mas podem também ser utilizados como transformadores de medida, isolamento ou do número de fases. Os geradores que produzem energia eléctrica alimentam as redes de transmissão e distribuição com um valor de tensão adequado, tendo em vista a maximização do seu rendimento, enquanto a tensão que alimenta os aparelhos consumidores, por razões de construção e sobretudo de segurança, têm um valor baixo, em geral 190/110 V ou 400/231 V. Isso significa que a corrente, e principalmente a tensão fornecida, variam de acordo com as exigências. Nas linhas de transmissão a perda de potência por libertação de calor é proporcional à resistência dos condutores e ao quadrado da intensidade de corrente que os percorre. Para diminuir a resistência seria necessário utilizar condutores com secção mais elevada, o que os tornaria mais pesados, sendo necessário apoios mais resistentes, logo custos incomportáveis. A solução é o uso de um transformador que eleve a tensão nas saídas das centrais produtoras, até atingir um valor suficientemente alto para que o valor da corrente desça a níveis razoáveis. Assim, a potência transportada não se altera e a perda de energia por aquecimento nos cabos de transmissão estará dentro dos limites aceitáveis. Quando a energia eléctrica chega aos locais de consumo, outros transformadores abaixam a tensão até aos limites requeridos pelos utilizadores, de acordo com as suas necessidades. Graças às técnicas de fabrico, os transformadores modernos apresentam grande eficiência, permitindo transferir para o secundário cerca de 98% da energia aplicada no primário. As perdas – transformação da energia em calor – são devidas à histerese magnética, correntes de Foucault e perdas no cobre. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 12 de 87 Numa rede rural para distribuição de energia as potências veiculadas são relativamente baixas e desenvolvem-se em extensões frequentemente consideráveis, sendo a estrutura da rede a mais simples possível, ou seja, uma estrutura radial pura ou, em muito poucas situações uma estrutura radial com possibilidade de passagem a anel. Além disto, sendo as redes subterrâneas excessivamente caras e não existindo grandes condicionamentos à implantação de postes, as redes rurais são exclusivamente constituídas por linhas aéreas, salvo casos muito particulares. Em relação ao fornecimento de energia é efectuado usualmente a tensões de 10, 15 ou 30 kV. Assim, redes rurais de distribuição de energia eléctrica têm origem em subestações AT/MT de que saem diversas linhas aéreas que vão alimentar os diversos postos de transformação alimentados em derivação e repartidos pela área a alimentar. A protecção da rede de média tensão é efectuada através da instalação de equipamento de protecção em cada uma das saídas da subestação alimentadora, podendo ser instalados, quando for economicamente viável, disjuntores de derivação, colocados directamente sobre postes. Os postos de transformação rurais são actualmente na sua maioria do tipo exterior aéreo, de concepção moderna, tratando-se de postos de transformação do tipo A ou AS, normalizados. Este posto de transformação é constituído por um transformador instalado num poste de betão armado, ligado directamente à linha de média tensão (tipo A), ou através de um seccionador (tipo AS), protegido contra sobrecargas por hastes de descarga, sem corta-circuitos fusíveis do lado MT e com protecção contra sobrecargas e curto-circuitos do lado BT por um disjuntor geral BT. O quadro BT é instalado a uma altura conveniente para ser manobrado a partir do solo. Com base na topologia apresentada um defeito numa unidade transformadora provocará a actuação das protecções instaladas na subestação alimentadora a montante. Figura 1 – Funcionamento de uma rede rural em caso de defeito num transformador sem protecção integrada. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 13 de 87 No caso atrás apresentado a avaria de um transformador provoca a interrupção da alimentação a todos os consumidores ligados à saída que alimenta a máquina com o defeito. Além do incómodo para os clientes a detecção da avaria é demorada, já que se trata de uma rede extensa. Sendo a qualidade de serviço uma exigência crescente, em resultado da concorrência, abertura do mercado e penalidades em caso de não cumprimento, a utilização de um unidade autoprotegida resultará no mesmo caso apenas na não alimentação dos utilizadores “pendurados” no ramo do transformador avariado. Figura 2 – Funcionamento de uma rede rural em caso de defeito num transformador com protecção integrada Este tipo de funcionamento da rede resultará na redução do número de clientes afectados, e na facilidade de detecção de avarias, pois sabe-se imediatamente qual a unidade defeituosa, reduzindo-se tempos de interrupção e melhorando a qualidade de serviço. O plano de trabalhos definido inicialmente prevê as seguintes etapas: 1. Estudo do processo de cálculo de transformadores de distribuição imersos, utilizando o know-how e software adequados; 2. Investigação das diferentes soluções relativas às protecções integradas e selecção da solução final; 3. Cálculo da solução final dos transformadores (potências de 50, 100, 160 e 250 kVA, nas tensões de 10, 15 e 30 kV), atendendo à inclusão dos equipamentos de protecção. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 14 de 87 2. GRUPO EFACEC 2.1. APRESENTAÇÃO Constituído em 1948, o Grupo EFACEC é o maior grupo nacional de capitais portugueses, nos domínios da electrónica e da electromecânica. É formado por várias sociedades cujas actividades abrangem a concepção e produção de equipamentos, o design de sistemas e a concepção das soluções nas áreas de Energia, Transportes, Telecomunicações, Logística, Ambiente, Indústria, Edifícios e Serviços. A actividade do Grupo estende-se por todos os continentes, fazendo-se representar por unidades fabris, filiais, joint-ventures com empresas locais e representantes comerciais. De entre os mais de 1800 colaboradores efectivos, dos quais 35% têm formação superior, a EFACEC conta com técnicos altamente qualificados que asseguram elevados padrões de qualidade e assistência aos seus clientes. [www.efacec.pt] Sede Unidades fabris Sucursais e escritórios Figura 3 – EFACEC no mundo Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 15 de 87 2.2. ORGANIZAÇÃO DO GRUPO EFACEC A organização do Grupo EFACEC é apresentada de seguida. Empresa Mãe Pólos Empresariais EFACEC Capital SGPS, S.A. Empresas Participadas Engenharia, Ambiente e Serviços Energia, Equipamento e Produção Telecomunicações, Logística e Electrónica EFACEC Engenharia, S.A. EFACEC Ambiente, S.A. EFACEC Serviços de Manutenção e Assistência, S.A. EFACEC Motores Eléctricos, S.A. EFACEC Energia, S.A. EFACEC DT Transformadores de Distribuição de Energia, S.A. EFACEC AMT Aparelhagem de Média Tensão, S.A. EFACEC Sistemas de Electrónica, S.A. ENT Empresa Nacional de Telecomunicações, S.A. Microprocessador, S.A. EFACEC Investimentos e Concessões SGPS, S.A. Presenças Internacionais Rep. Checa Macau China EUA Brasil Malásia Argentina Tunísia S. Salvador Moçambique Angola Zimbabwe Etiópia Singapore Vietnam Tabela 1 – Organização do Grupo EFACEC 2.3. EFACEC DT, TRANSFORMADORES DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA, S.A. Sendo dentro do Grupo EFACEC a responsável pela produção de transformadores e soluções para transformação de energia na área da Distribuição, a EFACEC DT utiliza as mais recentes tecnologias quer ao nível de equipamentos de produção, quer ao nível de gestão do processo produtivo. Esta actividade existe desde os primórdios da EFACEC, datando de 1949 o primeiro transformador fabricado, e representa cerca de 8% da actividade do grupo, quer em volume de facturação, quer em número de colaboradores. A partir de uma gama inicial que apenas incluía transformadores imersos em óleo mineral até 1000 kVA, foram surgindo novos produtos, que hoje incluem os transformadores imersos em óleo de silicone e os transformadores capsulados em Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 16 de 87 resina, para potências até 6300kVA. Uma nova expansão da gama, actualmente em desenvolvimento, permitirá apresentar novas soluções para transformadores até 25 MVA e 72,5 kV. A fábrica combina uma elevado nível de automatização, pensado especialmente para a fabricação de transformadores standard, com a flexibilidade necessária à execução de máquinas especiais, do tipo make to order. [www.efacec.pt] Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 17 de 87 3. CÁLCULO DE UM TRANSFORMADOR DE DISTRIBUIÇÃO IMERSO EM ÓLEO O princípio básico de funcionamento de um Transformador consiste no fenómeno de indução electromagnética: quando um circuito é submetido a um campo magnético variável no tempo, surge nesse circuito uma corrente eléctrica cuja intensidade é proporcional às variações do fluxo magnético. Na sua forma mais simples um transformador consiste em dois enrolamentos (primário e secundário) que envolvem o circuito magnético (núcleos). A circulação de uma corrente alternada no primário produz um campo magnético proporcional à intensidade dessa corrente e ao número de espiras do enrolamento. Existindo um fluxo comum aos dois enrolamentos ocorrerá o fenómeno de indução electromagnética: no secundário surge uma corrente eléctrica, que varia de acordo com a corrente do primário e com a razão entre os números de espiras dos dois enrolamentos. A parte activa da máquina (enrolamentos e núcleos de ferro são colocados no interior de uma cuba metálica com faces alhetadas e enchida integralmente com óleo mineral, silicone, ou outro óleo sintético. O óleo é utilizado simultaneamente como isolante eléctrico e líquido de arrefecimento. Em relação ao enchimento integral é o método que garante menor grau de degradação do óleo, ao garantir que nenhuma superfície fique em contacto com o ar. 3.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS As noções de cálculo a apresentar referem-se a transformadores de distribuição com as seguintes características: 1. Trifásicos; 2. Núcleo magnético de 3 colunas; 3. 2 enrolamentos (AT e BT) concêntricos; 4. Enrolamentos ligados em estrela ou em triângulo; 5. Imersos em dieléctrico líquido; 6. Arrefecimento natural (ONAN); Na descrição que se efectua de seguida são utilizadas as designações “enrolamento AT” e “enrolamento BT”, referente ao de mais alta e mais baixa tensão, respectivamente, isto é, primário e secundário do transformador. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 18 de 87 Em relação ao posicionamento dos enrolamentos considera-se apenas o caso mais comum, que é do enrolamento BT interior, adjacente ao ferro. O transformador calculado será dotado de tomadas de regulação no enrolamento AT, considerando-se apenas a hipótese de regulação fora de tensão e a utilização desse enrolamento com primário (Transformador abaixador), admitindo-se assim que não há variação da indução. É de referir que a apresentação do processo de cálculo será acompanhada da indicação das nomenclaturas adoptadas, no entanto para evitar a repetição da descrição dos símbolos utilizados em anexo pode ser consultada a lista com todas as variáveis utilizadas. 3.2. DADOS PARA O CÁLCULO DO TRANSFORMADOR O projecto de um transformador de distribuição pressupõe o conhecimento das seguintes grandezas a fornecer pelo cliente: 1. Potência aparente nominal do transformador; 2. Relação de transformação em vazio; 3. Grupo horário de ligação do transformador; 4. Frequência da rede; 5. Normas a aplicar; 6. Gama de regulações na AT; 7. Classe e níveis de isolamento dos enrolamentos (tensões de ensaio ao choque e ensaio à frequência industrial); 8. Tensão de curto-circuito; 9. Valor das perdas em vazio e em curto-circuito (perdas no ferro e no cobre); 10. Indicação dos aquecimentos máximos do cobre médio e óleo superior ou referência a condições ambientais que permitam calculá-los pelas normas aplicáveis; 11. Outras indicações, por exemplo regimes especiais de funcionamento e atravancamentos máximos. Na generalidade das situações os gabinetes de normalização das empresas compradoras de um transformador preparam documentos com as especificações atrás indicadas. Estes documentos têm em regra por base a norma IEC 60076. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 19 de 87 A máquina projectada deve respeitar as imposições da norma de referência ou do cliente, minimizando-se o custo final (custos de ferro, cobre, líquido dieléctrico e aço). Será apresentado de seguida o cálculo das características eléctricas e dimensionais de um transformador, indicando-se as decisões a tomar em caso de violação de tolerâncias nas características impostas. 3.3. CÁLCULO DE TENSÕES Conhecidas a tensão nominal do enrolamento AT e os intervalos para a tomada de regulação, a tensão composta da AT, para cada uma das posições é facilmente obtida através de: U AT ,i = U AT ,0 + i × R 100 (V ) Onde: UAT,i – tensão composta no enrolamento AT na posição de regulação i (V); UAT,0 – tensão nominal composta no enrolamento AT (V); i – posição de regulação (ex: um transformador com possibilidade de regulação de U0 ± 2 x 2,5%, para U0 + 2,5 %, i será igual a 1); R – escalão de regulação da tensão AT , em percentagem da tensão nominal. Relativamente às tensões na fase nos dois enrolamentos, dependendo da forma de ligação do transformador (triângulo ou estrela) são calculáveis através das relações que a seguir se apresentam. Ligação do enrolamento Estrela Triângulo Tensão na fase (V) Fase U AT ,i = U AT ,i / 3 Fase U BT = U BT / 3 Fase U AT ,i = U AT ,i Fase U BT = U BT Tabela 2 – Tensões nas fases para as ligações triângulo e estrela Sendo que: UFaseAT,i e UFaseBT – tensões nas fases na AT para a posição de regulação i (V) e na BT; Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 20 de 87 UAT,i e UBT – tensão composta no enrolamento AT na posição de regulação i (V) e no enrolamento BT; i – posição de regulação. 3.4. CÁLCULO DE CORRENTES O cálculo das correntes nas linhas para o lado da AT e da BT resulta da aplicação das seguintes expressões: linha I AT ,i = S × 10 3 3 × U AT ,i ( A) linha I BT = S × 10 3 3 × U BT ( A) , Onde S representa a potência aparente nominal do transformador em kVA; IlinhaAT,i IlinhaBT as corrente na linha na AT na posição de regulação i e na BT, respectivamente em Ampere (A). Com base nas ligações utilizadas segue-se o cálculo das correntes nas fases. Ligação do enrolamento Estrela Triângulo Corrente na fase (A) linha I AT ,i = I AT ,i linha I BT = I BT linha I AT ,i = I AT ,i / 3 linha I BT = I BT / 3 Tabela 3 – Correntes nas fases para as ligações triângulo e estrela Depois de calculadas as grandezas eléctricas apresentadas, passámos então ao projecto da máquina. 3.5. SELECÇÃO DO TIPO DE ENROLAMENTO O enrolamento BT de um transformador de distribuição pode ser executado em camadas de barra de cobre, banda de cobre ou em camada longa, barra de cobre e, em geral, esta escolha é efectuada com base nos valores de corrente e tensão na fase. No caso particular do projecto em questão, tratando-se de transformadores do tipo poste, isto é, unidades de potência não muito elevada, para os de 50 e 100kVA o enrolamento BT será executado em camada de barra, enquanto as unidades de 160 e 250kVA serão em banda de cobre. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 21 de 87 A selecção apresentada resulta do facto de para as unidades de menor potência termos correntes nas linhas baixas, a utilização de banda de cobre resultaria em condutores de secção elevada, e densidades de corrente reduzidas, elevando o custo da máquina, daqui a escolha de enrolamentos em barra de cobre. É ainda de referir que sendo o enrolamento BT adjacente ao ferro não existe um suporte para a respectiva bobinagem, assim o enrolamento BT terá de ser bobinado sobre um tubo, ou sobre um tubo com rede de réguas, caso exista um canal de ventilação entre o circuito magnético e o enrolamento BT, o que não acontece nas unidades a projectar. Relativamente ao enrolamento AT será em todas as unidades serão executadas em camada longa de fio de cobre. 3.6. DEFINIÇÃO DA ALTURA AXIAL DO ENROLAMENTO E DIÂMETRO DO CÍRCULO CIRCUNSCRITO O circuito magnético de um transformador de distribuição trifásico é executado através do empilhamento de chapas finas de ferro, com vista à redução das perdas no ferro em resultado das correntes de Foucault e do fenómeno de histerese magnética. Uma vez que a forma dos enrolamentos é circular os elementos do circuito magnético, núcleos e culassas; adoptarão também a forma circular. cc Figura 4 – Círculo circunscrito ao circuito magnético No cálculo manual a atribuição de um valor de partida para o diâmetro do círculo circunscrito ( cc) e altura axial do enrolamento BT (LaxBT) é efectuada com base no projecto anterior de uma máquina com indução e densidades médias de corrente Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 22 de 87 semelhantes e tensão de curto-circuito igual. Uma vez que o cálculo de um transformador é um processo iterativo na busca da melhor solução, estas grandezas poderão ser posteriormente ajustadas. Partindo então do transformador semelhante e aplicando a lei de semelhança para dimensões lineares são então obtidos os valores de partida. S 0 , 75 S base = Φ cc Φ cc (base ) = Lax BT Lax BT (base ) O cálculo do número de degraus (tecnologia actual implica a utilização de sete chapas por degrau) e largura das chapas a utilizar em cada degrau é efectuado recorrendo a software adequado que optimiza o preenchimento do círculo definido e calcula as secções eficazes do circuito magnético, núcleo e culassa (SN e SC, respectivamente). No caso de enrolamentos BT em banda de cobre pode ser necessário prever a retirada de 1 a 3 degraus de um dos lados do circuito magnético para que seja possível alojar a barra de ligação BT. No cálculo automático (software para cálculo de transformadores imersos em óleo) não é necessário utilizar a regra prática apresentada, uma vez que tratando-se de um processo iterativo definindo-se um intervalo para o diâmetro do circuito magnético, calculam-se todas as soluções e selecciona-se a que minimiza custos. 3.7. DISTÂNCIA FERRO - BT A distância Ferro – BT ( FE) é definida com base em critérios eléctricos e mecânico, função do tipo de enrolamento BT e respectivo nível de isolamento (tensões de ensaio à frequência industrial). Uma vez que o espaço Ferro – BT é constituído por um canal de óleo e um tubo em cartão onde é bobinado o enrolamento BT a distância será calculada limitando o gradiente médio de tensão no canal de óleo e no tubo de cartão. A análise a efectuar não é mais do que considerar um condensador plano (desprezando a curvatura dos enrolamentos) com dois tipos de dieléctricos em vários estratos e supondo campos eléctricos uniformes calcular as distâncias mínimas a adoptar. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 23 de 87 3.8. CÁLCULO DA TENSÃO POR ESPIRA Da teoria do transformador a relação que permite o cálculo da tensão por espira (VS) é a seguinte: VS = 2π 2 ⋅ B N ⋅ S N ⋅ f ⋅ 10 − 4 (V ) Onde: BN – indução nominal do núcleo (T); SN – secção do núcleo (mm2); f – frequência da rede (Hz). O valor a utilizar para a indução magnética nominal do núcleo deve ser tal que garanta o funcionamento do transformador fora da zona de saturação da curva histerética do material ferromagnético, para assim reduzir as perdas no ferro e garantir a forma sinusoidal das tensões e correntes. 3.9. CÁLCULO DA INDUÇÃO MAGNÉTICA DA CULASSA As culassas do circuito magnético geralmente têm secção igual aos núcleos, tendo assim igual indução magnética; no caso de apresentarem secções diferentes a indução magnética nominal das culassas calcular-se-á através de: BC = S N ⋅ BN SC (T ) A indução magnética da culassa será então proporcional à indução magnética dos núcleos. 3.10. CÁLCULO DO NÚMERO DE ESPIRAS DO ENROLAMENTO BT E CORRECÇÃO DA TENSÃO POR ESPIRA A partir do cálculo da tensão por espira segue-se a definição do número de espiras do enrolamento de baixa tensão (NBT), dependente da tensão na fase (UBTFase) e da tensão por espira (VS), obtido através de: N BT = Fase U BT VS No entanto o número de espiras deve ser um valor inteiro, assim arredonda-se o valor obtido ao número inteiro inferior, acertando-se o valor da tensão por espira utilizando-se a expressão anterior e a utilizada para o cálculo da tensão por espira. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 24 de 87 3.11. CÁLCULO DO NÚMERO DE ESPIRAS DO ENROLAMENTO AT O valor para a tensão por espira é igual nos dois enrolamentos, logo o cálculo do número de espiras no enrolamento AT na posição de regulação i (NAT,i), resultará de: N AT ,i = Fase U AT ,i VS O valor obtido deve naturalmente ser arredondado ao inteiro. Deste arredondamento, como não é possível efectuar nova correcção resultará um erro na relação de transformação, esse erro deve ser avaliado, comparado com o limite imposto pela norma aplicável e eventualmente corrigido através da alteração do número de espiras, logo do valor da indução magnética. 3.12. CÁLCULO DO ENROLAMENTO BT Os cálculos relativos ao enrolamento BT dependem do tipo de enrolamento adoptado, assim apresenta-se o processo de cálculo para o caso de enrolamentos em camada de barra e em banda de cobre, pois serão as soluções a adoptar para as máquinas a projectar. 3.12.1. ENROLAMENTO BT EM CAMADAS (BARRA DE COBRE) A selecção do condutor e a definição do número de camadas a utilizar é efectuada de forma a obter uma solução de compromisso que conduza a densidades de corrente e altura axial do enrolamento, respeitando os valores de partida, cuja regra foi já apresentada. Numa fase posterior o cálculo das perdas e tensão de curto – circuito poderá levar à alteração da estrutura do enrolamento. Apresenta-se em seguida o método a utilizar para o cálculo deste enrolamento. 3.12.1.1. SELECÇÃO DO CONDUTOR A selecção do condutor a utilizar é feita com base no valor desejado para a densidade de corrente no enrolamento, tal densidade de corrente é limitada pelo valor máximo de perdas no cobre a cumprir e também pela corrente máxima admissível nos condutores. Assim a definição do condutor é efectuada através de uma tabela com dimensões normalizadas, que apresenta também a secção do material. Pode eventualmente utilizar-se o paralelo de condutores. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 25 de 87 3.12.1.2. DIMENSÕES DA ESPIRA E NÚMERO DE CAMADAS Definido o condutor a utilizar e conhecidas a sua altura axial sem isolamento (aBT), a sua espessura também sem incluir o isolamento (bBT), a espessura do isolamento (iBT) e a disposição de condutores calcula-se a dimensão axial (EaxBT) e radial (ErBT) das espiras. Eax BT = (a BT + 2 ⋅ i BT ) ⋅ nax BT ErBT = (bBT + 2 ⋅ i BT ) ⋅ nrBT (mm) (mm) Sendo os factores naxBT e nrBT o número de condutores por espira no caso de disposição axial ou em paralelo. Relativamente ao número de camadas (ncBT) em enrolamentos deste tipo são limitadas entre 1 e 3. 3.12.1.3. DENSIDADE DE CORRENTE Escolhida a barra a utilizar e conhecida a respectiva secção ( corrente no enrolamento da baixa tensão ( δ BT = I BT σ BT BT) BT) a densidade de é calculada através de: ( A / mm 2 ) 3.12.1.4. CÁLCULO DA ALTURA AXIAL DO ENROLAMENTO Definido o número de camadas e a composição da espira verifica-se a altura axial (LaxBT) do enrolamento e conclui-se acerca da necessidade de efectuar enchimentos ( l) nas camadas, uma vez que a altura axial havia sido definida anteriormente, podendo eventualmente alterar-se o número de camadas para reduzir esses enchimentos. Lax BT = Eax BT ⋅ N BT + 1 ⋅ f emp + α l nc BT (mm) Ao cálculo deve ser aplicado um factor de empacotamento (femp), pois ainda que reduzidos é impossível eliminar os espaços entre espiras. É ainda de referir que a dimensão dos enchimentos não pode ultrapassar uma percentagem da altura do enrolamento e deve ser efectuado em todas as camadas. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 26 de 87 3.12.1.5. ISOLAMENTO ENTRE CAMADAS O isolamento entre camadas (ecBT) é executado em papel de diamante, atendendo o dimensionamento da espessura a utilizar a critérios de isolamento eléctrico e mecânico. Em relação às solicitações eléctricas o dimensionamento deve ser efectuado em função das tensões de isolamento exigidas pelo cliente (tensão de ensaio ao choque e à frequência industrial), limitando-se os gradientes de tensão a valores suportáveis pelo material. Quanto ao critério mecânico existem valores definidos em função do tipo de enrolamento utilizado. 3.12.1.6. ALTURA RADIAL DO ENROLAMENTO Após definir e calcular as grandezas atrás apresentadas, em particular o isolamento entre camadas (ecBT) e espessura das espiras (ErBT) e não considerando a dimensão a utilizar para os canais de ventilação a incluir no enrolamento calcula-se a sua altura radial (∆SBT) pelo seguinte: ∆S BT = (ec BT + ErBT ) ⋅ nc BT ⋅ f emp (mm) Utilizando-se o mesmo factor de empacotamento utilizado para o cálculo da altura axial do enrolamento, pelas razões aí indicadas. 3.12.2. ENROLAMENTO BT EM BANDA DE COBRE O cálculo de um enrolamento deste tipo implica menos graus de liberdade que a construção anterior, em relação ao número de camadas é fixado pelo número de espiras e a escolha de uma determinada banda fixa o valor da altura axial do enrolamento. É então necessário “jogar” com a escolha da composição da espira que conduza a valores próximos dos pretendidos para a altura axial e densidade de corrente. 3.12.2.1. SELECÇÃO DO CONDUTOR A selecção de condutor é neste caso idêntica ao apresentado para um enrolamento em camadas de barra de cobre; uma vez definidos os valores para as densidades de corrente e a altura axial a utilizar, já que fixamos a largura da banda de cobre a escolher para termos a densidade de corrente pretendida variámos a espessura do elemento condutor. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 27 de 87 3.12.2.2. DIMENSÕES DA ESPIRA, NÚMERO DE CAMADAS E ALTURA AXIAL A altura axial da espira (EaxBT) é imposta pela largura da banda (aBT) a utilizar, enquanto a altura (ErBT) será imposta pela espessura (bBT) e número de condutores a colocar em paralelo em cada espira (nrBT). Eax BT = a BT = Lax BT ErBT = bBT ⋅ nrBT Quanto ao número de camadas (ncBT) é igual ao número de espiras do enrolamento (NBT). 3.12.2.3. DENSIDADE DE CORRENTE Seleccionada a banda a utilizar e conhecida a respectiva secção ( densidade de corrente no enrolamento da baixa tensão ( δ BT = I BT σ BT BT) BT) a é calculada através de: ( A / mm 2 ) 3.12.2.4. ISOLAMENTO ENTRE CAMADAS O isolamento entre camadas neste tipo de enrolamento segue o princípio de cálculo apresentado para o enrolamento em camadas de barra de cobre. 3.12.2.5. ALTURA RADIAL DO ENROLAMENTO O cálculo da altura radial do enrolamento (∆SBT), excluindo a altura dos canais de ventilação é efectuada através de: ∆S BT = ( f emp ⋅ ec BT + ErBT ) ⋅ nc BT (mm) Aplicando novamente um factor de empacotamento. 3.13. CÁLCULO DO ENROLAMENTO AT Uma vez que os transformadores a projectar serão bobinados em fio de cobre é este o processo de cálculo apresentado, sendo que outra opção deve seguir a mesma metodologia. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 28 de 87 As dimensões do enrolamento AT estão condicionadas pelas definições adoptadas para o enrolamento BT, uma vez que a bobinagem AT será executada sobre a bobinagem BT. 3.13.1. ENROLAMENTO AT EM FIO DE COBRE 3.13.1.1. ALTURA AXIAL DO ENROLAMENTO O valor a calcular para altura axial do enrolamento AT (LaxAT) está condicionado pela altura axial do enrolamento BT (LaxBT) já definido. Preferencialmente a altura dos dois enrolamentos deve ser idêntica, no caso de tal não ser possível admite-se que no mínimo o enrolamento AT pode ter uma altura igual a 98% da altura do enrolamento AT e no máximo altura idêntica ao de BT. 3.13.1.2. VALOR PRETENDIDO PARA A DENSIDADE MÉDIA DE CORRENTE A densidade média de correntes dos enrolamentos ( M(i), para a posição de regulação de ordem i) é definida por: δ M (i ) = δ BT + δ AT (i ) 2 Assim para um determinado valor para a densidade média da corrente nos enrolamentos para a posição de regulação na AT nominal ( densidade de corrente na BT ( regulação nominal ( AT(0)), BT), M(0)), e uma vez fixada a então a densidade de corrente na AT na posição de deverá aproximar-se o mais possível de: δ M ( 0) × 2 − δ BT 3.13.1.3. SELECÇÃO DO CONDUTOR A selecção do condutor para a bobinagem AT deve ser feita de modo que a secção normalizada permita obter uma densidade de corrente próxima do valor definido no ponto anterior. Podendo-se em algumas situações utilizar-se condutores em paralelo para obter densidades de corrente mais próximas do definido ou por razões mecânicas, em condutores de menor secção. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 29 de 87 3.13.1.4. DIMENSÕES DA ESPIRA Tratando-se de enrolamento em fio de cobre com diâmetro dnAT e diAT, considerando ou não a espessura do isolamento, respectivamente, a altura axial (EaxAT) e altura radial (ErAT) com naxAT condutores em paralelo por espira são calculadas através de: Eax AT = nax AT ⋅ di AT ErAT = di AT (mm) (mm) 3.13.1.5. DENSIDADE DE CORRENTE Escolhida a barra a utilizar e conhecida a respectiva secção ( corrente no enrolamento da alta tensão ( δ AT = 3.13.1.6. NÚMERO DE AT) I AT AT) a densidade de é calculada através de: ( A / mm 2 ) σ AT ESPIRAS POR CAMADA, NÚMERO DE CAMADAS E VERIFICAÇÃO DA ALTURA AXIAL Fixada a altura axial do enrolamento AT igual à altura axial do enrolamento BT o número de espiras por camada (NsAT) é calculado através de: Ns AT = Lax AT Eax AT ⋅ f emp Também neste cálculo deve ser aplicado um factor para o empacotamento das espiras, arredondando-se o valor obtido ao inteiro inferior, para que a altura do enrolamento AT não ultrapasse a do enrolamento BT. A verificação da altura axial do enrolamento é efectuada através de: Lax AT = Eax AT ⋅ Ns AT ⋅ f emp No caso de a altura calculada não respeitar a imposição mínima para a altura do enrolamento AT (98% da altura do enrolamento BT) pode ser necessário seleccionar outra composição para a espira. Segue-se o cálculo do número de camadas do enrolamento (ncAT), obtido a partir do número de espiras na tomada de regulação com tensão mais elevada (NAT,i) e do número de espiras por camada (NsAT): nc AT = N AT ,i Ns AT Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 30 de 87 O número de camadas deve ser calculado para a posição de regulação com tensão mais elevada, pois é a que conduz ao maior número de espiras e todas as espiras devem ser consideradas para o cálculo das dimensões do enrolamento. 3.13.1.7. ISOLAMENTO ENTRE CAMADAS A definição do número de papéis a utilizar segue as indicações de cálculo apontadas para o enrolamento de baixa tensão, no entanto a espessura (ecAT) adoptada será naturalmente superior, uma vez que as tensões de ensaio ou choque e à ensaio à frequência industrial são mais elevadas para este enrolamento. Enquanto no enrolamento BT é o critério mecânico a ditar a espessura do isolamento entre camadas aqui o critério eléctrico é extremamente importante na definição deste parâmetro. 3.13.1.8. ALTURA RADIAL DO ENROLAMENTO A partir da altura da espira (ErAT), da espessura do isolamento entre camadas (ecAT) e do número de camadas (ncAT), considerando um factor para o empacotamento das camadas a altura radial ( SBT) do enrolamento sem consideração da espessura dos canais de circulação internos é: ∆S BT = (ec AT + ErAT ) ⋅ nc AT ⋅ f emp (mm) 3.14. CANAIS INTERNOS DOS ENROLAMENTOS E DO ESPAÇO AT/BT Na construção dos enrolamentos BT e AT está prevista a inclusão de canais de arrefecimento que facilitem a evacuação do calor resultante das perdas no cobre no interior de cada enrolamento, assim como no espaço entre os dois. Estes canais são realizados colocando redes de réguas de cartão bobinadas conjuntamente com o enrolamento. É possível executar dois tipos de canais, completos quando desenvolvidos em todo o perímetro do enrolamento, ou canais parciais (meias luas) que se estendem por dois sectores de 90º diametralmente opostos. Nas unidades projectadas os canais são do tipo completo. A localização dos canais internos (no enrolamento BT e AT) deve ser efectuada com o objectivo de uniformizar o mais possível os gradientes das várias partes do enrolamento, estas localizações encontram-se totalmente definidas e dependem do número de camadas do enrolamento e da bobinagem do enrolamento directamente sobre um tubo ou da previsão de um canal no início do enrolamento. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 31 de 87 Em relação ao espaço entre o enrolamento BT e o enrolamento AT ( AT/BT) é realizado com um ou dois canais de arrefecimento e um tubo, sendo este tubo em cartão e papel diamante. O estudo das dimensões a utilizar para estes canais de ventilação está definido e é como nos casos apresentados dependente do gradiente do campo eléctrico no óleo e no cartão e estes gradientes dependentes das tensões de isolamento impostas. É de referir que conforme as necessidades de arrefecimento e isolamento o canal do lado AT pode ou não existir, sendo que do estudo do gradiente do campo eléctrico é vantajoso que o canal do lado AT tenha espessura mínima e os ajustes sejam feitos do lado da BT, pois o gradiente decresce com o aumento desta distância, atingindo um mínimo para um determinado intervalo de variação. 3.15. CALAGENS DOS ENROLAMENTOS AT E BT E ALTURA GEOMÉTRICA DOS ENROLAMENTOS A extremidade superior e inferior dos enrolamentos no caso de enrolamentos BT em barra ou banda de cobre e AT em fio de cobre são realizadas em fitas de cartão de espessura próxima do condutor utilizado, para conferir rigidez mecânica ao enrolamento, evitando que as espiras próximas das extremidades percam a sua organização e também com função de isolamento eléctrico. O seu dimensionamento é como no caso da espessura de isolamento entre camadas, dos canais internos para ventilação e do canal entre o enrolamento BT e o enrolamento AT efectuado com base nas tensões de isolamento, atendendo a critérios de contornamento à massa (ensaio à frequência industrial) e de contornamento entre camadas (ensaio ao choque). São estudados os gradientes do campo eléctrico que resultariam de um contornamento AT/BT, AT/núcleo e BT/núcleo, nestes casos considerando a tensão de ensaio à frequência industrial. Em relação ao ensaio ao choque é efectuada a análise relativa ou contornamento entre camadas no enrolamento AT e no enrolamento BT. Limitando-se o gradiente do campo eléctrico a valores suportáveis pelo cartão da análise das situações apresentadas é seleccionado o pior caso, aquele que resultará em maiores dimensões para as distâncias de extremidade. Além das funções apresentadas, no caso de a altura axial dos enrolamentos BT e AT não ser a mesma as calagens do enrolamento têm como função o acerto da altura Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 32 de 87 geométrica dos enrolamentos, assim sendo dBT e dAT as dimensões para as calagens do enrolamento BT e AT, respectivamente temos o seguinte: Lg BT = Lax BT + 2 ⋅ d BT (mm) Lg AT = Lax AT + 2 ⋅ d AT ( mm) 3.16. DISTÂNCIAS DE EXTREMIDADE SUPERIOR E INFERIOR No espaço entre a parte superior e inferior dos enrolamentos e as culassas do circuito magnético são colocados cartões para protecção dos enrolamentos adoptados para as unidades projectadas. Em unidades com enrolamentos AT e BT em barra de cobre ambas as extremidades devem compreender uma calagem geral realizada com calços e um aro de cartão, para a extremidade superior é ainda necessário um prato de calagem em ferro ou madeira. Nas unidades a projectar a distância da extremidade inferior (gi) será igual à espessura do cartão de protecção, enquanto em relação à extremidade superior (gs) além da espessura do cartão, por segurança para o processo de fabrico é aplicada uma folga (Fl) dependente da altura axial do enrolamento. O cálculo da espessura mínima do cartão de protecção da culassa é efectuado com base no critério mecânico e no critério de isolamento à culassa, ou seja, contornamento da calagem de enrolamento e perfuração do cartão de protecção da culassa, no ensaio à frequência industrial aplicada à AT. Mais uma vez o cálculo é efectuado limitando o gradiente máximo suportável do material. 3.17. COMPRIMENTO DO NÚCLEO (ALTURA DA JANELA) Calculados os enrolamentos, respectivas calagens e distâncias de extremidade (gS e gi), fica automaticamente definido o comprimento do núcleo do circuito magnético (Ln): Ln = Lg BT + gs + gi = Lg AT + gs + gi 3.18. ALTURA RADIAL TOTAL DOS ENROLAMENTOS Conhecendo-se a altura dos enrolamentos sem inclusão da espessura dos canais de ventilação internos (CBT,j e CAT,j), sendo j a ordem do canal interno, o cálculo da altura radial total dos dois enrolamentos ( RAT e RBT) é efectuado através de: Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 33 de 87 ∆RBT = ∆S BT + ∆R AT = ∆S AT + n j =1 m j =1 C BT , j (mm) C AT , j (mm) Onde n e m representam o número de canais total no enrolamento BT e AT, respectivamente. No caso dos transformadores a projectar, por serem unidades de baixa potência, para os de 50 e 100 kVA não está prevista a colocação de qualquer canal nos dois enrolamentos (n=m=0), para o de 160 kVA é incluído um canal na BT (n=0, m=1), enquanto no de 250 kVA existirá em cada enrolamento um canal de ventilação (n=m=1). 3.19. DIÂMETRO E COMPRIMENTO DAS ESPIRAS BT E AT Com base no cálculo do diâmetro do círculo circunscrito e na distância Ferro BT a dimensão do diâmetro interno do enrolamento BT ( Φ i _ BT = Φ cc + 2 ⋅ ∆FE Relativamente ao diâmetro externo ( e_BT) i_BT) resultará de: (mm) do mesmo enrolamento resulta da adição do dobro da altura total do enrolamento ao valor obtido para o diâmetro interno do enrolamento: Φ e _ BT = Φ i _ BT + 2 ⋅ ∆RBT O diâmetro médio ( m_BT) (mm) resulta da média dos dois valores calculados atrás: Φ m _ BT = Φ i _ BT + Φ e _ BT (mm) 2 Sendo o enrolamento AT bobinado sob o enrolamento BT, prevendo-se a existência de um canal de ventilação entre os dois o seu diâmetro interno ( Φ i _ AT = Φ e _ BT + 2 ⋅ ∆ AT / BT Os diâmetros externo e médio ( e_AT e m_AT) i_AT) é: (mm) seguindo a lógica anterior serão: Φ e _ AT = Φ i _ AT + 2 ⋅ ∆R AT (mm) Conhecidos os diâmetros das espiras dos enrolamentos os seus comprimentos resultam do cálculo do perímetro de um círculo, pois tratam-se de enrolamentos concêntricos. Na figura seguinte é apresentada a organização de uma das fases do transformador. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 34 de 87 cc FE RBT AT/BT RAT i_AT e_BT e_AT i_BT Figura 5 – Vista de uma das fases do transformador 3.20. DISTÂNCIA ENTRE COLUNAS OU FASES A determinação da distância entre fases ( C) em termos de isolamento eléctrico consideram-se as situações de ensaio de choque e de ensaio por tensão induzida, escolhendo a mais desfavorável. A abordagem do problema é idêntica à adoptada para o espaço Ferro – BT e AT/BT, considerando-se a aproximação dos condensadores planos. 3.21. DIMENSÕES TRANSVERSAIS DO CIRCUITO MAGNÉTICO Uma vez calculados os enrolamentos AT e BT, afastamento entre eles e distância entre fases, ficam imediatamente definidas todas as dimensões do circuito magnético. A distância entre eixos de colunas (dee) do circuito magnético será duas vezes o raio externo do enrolamento AT (diâmetro externo) adicionado da distância entre fases: dee = Φ e _ AT + ∆C (mm) A largura da janela será obtida subtraindo à distância entre fases a largura da chapa mais larga do núcleo: l J = dee − L NUC (mm) Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 35 de 87 E o comprimento da culassa (LCUL) será duas vezes a distância entre fases (3 colunas) adicionado da largura da chapa mais larga do núcleo. LCUL = 2 × dee + L NUC ( mm) 3.22. MASSAS DE FERRO A massa de ferro do circuito magnético ( CM) resulta da adição das massas das 3 colunas ( N) e das 2 culassas ( C), conhecendo-se os seus comprimentos (Ln e LCUL, comprimentos do núcleo e culassa, respectivamente), secções (SN e SC) e a massa volúmica do ferro ( Fe) o cálculo faz-se com o seguinte: Massa dos núcleos: π N = 3 × µ Fe × Ln × S N Massa das culassas: π C = 2 × µ Fe × LCUL × S C ( kg ) Massa total do circuito magnético: π CM = π N + π C (kg ) (kg ) 3.23. PERDAS NO FERRO O valor das perdas no ferro é dependente dos valores da indução, massa total do circuito magnético, qualidade da chapa, influência das zonas em que há sobreposição de chapa e frequência da rede. Nas zonas em que há sobreposição de chapa (ligações entre núcleos e culassas) verifica-se a existência de descontinuidades do circuito magnético, que resultam na alteração da direcção geral do fluxo magnético, elevação local da indução e correspondente aumento das perdas no ferro. A consideração destes efeitos é efectuada imaginando o aumento da massa do circuito magnético e considerando um factor de ponderação dependente do tamanho relativo da culassa face ao núcleo. O cálculo das perdas no ferro pressupõe o conhecimento dos comprimentos, induções, secções e massas dos núcleos e culassas do circuito magnético. Começa-se por obter o comprimento perturbado das chapas do núcleo e culassa, LPN e LPC, respectivamente. Esta correcção é feita em função das chapas mais largas do núcleo e culassa, recorrendo a valores tabelados. A massa da chapa corrigida para núcleos ( culassas ( FC), FN) e será calculada através de: π FN = π N + µ Fe × LPN × S N × K CN (kg ) Massa fictícia das culassas: π FC = π C + µ Fe × LPC × S C × K CN (kg ) Massa fictícia dos núcleos: Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 36 de 87 Sendo KCN o factor dependente da relação entre núcleos e culassas definido para todas as situações. O cálculo das perdas no ferro (PO) depende da indução nos núcleos e culassas, BN e BC, e das massas dos dois elementos. O cálculo é efectuado a partir de medidas efectuadas em transformadores de fabricação corrente, existindo valores definidos para as perdas por quilograma em função da indução nominal. PO = π FN × WKGN + π FC × WKGC (W ) WKGN e WKGC representam as perdas específicas no núcleo e culassa, em caso de igualdade de secções WKGN = WKGC. A chapa a utilizar para a construção dos transformadores é não recozida, sendo necessário aplicar um factor correctivo dependente da largura da chapa magnética ao valor calculado. Esta correcção é efectuada apenas para os transformadores com dimensões mais reduzidas, pois a influência do não recozimento da chapa diminui aumentando a sua largura. O valor obtido para as perdas no ferro deve respeitar a solicitação do cliente ou a tolerância prevista na norma de construção, se tal não ocorrer será necessário alterar os valores da tensão por espira ou o diâmetro do círculo circunscrito, alterando os valores da indução magnética e como consequência das perdas no ferro. A redução do valor da indução resulta na redução de perdas no ferro. 3.24. MASSAS DE COBRE NOS ENROLAMENTOS O cálculo das massas de cobre dos enrolamentos é efectuado para uma temperatura de funcionamento de 75ºC conhecendo-se as secções dos condutores, o comprimento médio das espiras (Lm_AT e Lm_BT), número de espiras nos dois enrolamentos e da massa específica do cobre ( Cu). O cálculo para o enrolamento AT deve ser efectuado considerando a posição máxima de regulação. A massa das três fases do enrolamento BT ( BT) é obtida de: π BT = 3 × µ Cu × σ BT × Lm _ BT × N BT (kg ) Para o enrolamento AT, aplicando o mesmo temos: π AT , j = 3 × µ Cu × σ AT × Lm _ AT × N AT ,i A massa total dos enrolamentos ( enr) (kg ) resultará da adição das duas anteriores. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 37 de 87 3.25. PERDAS NO COBRE As perdas no cobre do transformador resultam de perdas Joule nos enrolamentos e nas ligações e de perdas suplementares. Apresenta-se de seguida o processo a seguir para o cálculo de cada uma. 3.25.1. PERDAS JOULE NOS ENROLAMENTOS As perdas Joule no cobre são calculadas através da multiplicação do quadrado da corrente veiculada pela resistência eléctrica do condutor. Utilizando as grandezas calculadas atrás (comprimento da espira média (Lm), secção ( ), número de espiras (N), densidade de corrente ( ) e massa de cobre ( )) e conhecida a resistividade eléctrica ( Cu) e massa específica ( Cu) do cobre o cálculo das perdas para os três enrolamentos pode ser efectuado através de: PJ = 3 × R × I 2 = 3 × ρ Cu × Lm σ × N × (δ × σ ) 2 (W ) Por simplificação desta expressão temos o seguinte: PJ = ρ Cu ×π ×δ 2 µ Cu (W ) Para cada um dos enrolamentos teremos: ρ Cu 2 × π BT × δ BT µ Cu Enrolamento BT: PJ _ BT = Enrolamento AT: PJ _ AT , j = (W ) ρ Cu 2 × π AT ,i × δ AT ,i µ Cu (W ) No caso do enrolamento de mais alta tensão a posição de regulação deve ser a nominal, logo a massa a utilizar será a das espiras utilizadas na tomada nominal. 3.25.2. PERDAS JOULE NAS LIGAÇÕES Para transformadores com potências baixas calculam-se as perdas Joule nas ligações no caso de enrolamentos BT em banda, enquanto nos restantes casos esta componente de perdas é desprezada. O cálculo é obtido pela aplicação da seguinte expressão: 2 Plig ≅ Plig _ BT = (3 × L N + 6 × LC ) × k × I BT × Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido ρ Cu µ Cu (W ) Página 38 de 87 Sendo 3 × L N + 6 × LC as dimensões das barras de ligação e k uma característica relacionada com as dimensões da barra. 3.25.3. PERDAS SUPLEMENTARES NOS ENROLAMENTOS O valor das perdas suplementares (PSUP) nos transformadores calculados é obtido com base numa curva de cálculo (em percentagem das perdas Joule totais dos enrolamentos e respectivas ligações) e em função do valor da intensidade de corrente na fase do enrolamento BT. A curva em questão resultou da análise estatística efectuada sobre resultados de ensaios de uma determinada população de transformadores de distribuição. 3.25.4. PERDAS NO COBRE TOTAIS As perdas totais no cobre resultam da adição de todas as perdas no cobre calculadas: Pcc = PJ _ BT + PJ _ AT ,i + Plig + PSUP (W ) Avaliado este valor, no caso de necessidade de alteração, em virtude do desrespeito da tolerância aplicável, tal pode ser conseguido alterando a composição da espira de um ou dos dois enrolamentos. Como em qualquer sistema eléctrico a redução das perdas Joule faz-se aumentando as secções dos condutores, ou seja, diminuindo a resistência. Efectuadas a alterações o processo de cálculo é retomado a partir desse ponto. 3.26. GRADIENTES DE TEMPERATURA NOS ENROLAMENTOS O cálculo da diferença de temperatura necessária para evacuar as perdas geradas nos enrolamentos pressupõe o conhecimento dessas perdas, das superfícies de cobre e da organização dos materiais isolantes. Para o cálculo são efectuadas as seguintes aproximações: a temperatura no cobre é considerada constante; as bobinas supõe-se com superfícies planas como limites tendo-se assim distribuições simétricas da temperatura em relação às superfícies médias e a transmissão de calor é conseguida através de processos de condução e convecção. O cálculo da transmissão de calor por convecção é obtido através de: ∆θ = W S ×α Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 39 de 87 Onde: W – perdas a evacuar (W); S – superfície de evacuação (cm2); – Coeficiente de transmissão de calor (W/ cm2/ºC). No processo de condução temos: ∆θ = W S ×k ×e Sendo: W – perdas a evacuar (W); S – superfície de evacuação (cm2); k – inverso do coeficiente de condutividade térmica (ºC.mm/W); e – espessura do papel de isolamento (mm). Ocorrendo os dois processos em conjunto, a sua agregação resultará no seguinte: ∆θ = V W S × αV será um coeficiente calculado com base na espessura do papel de isolamento, número de camadas, coeficiente de condutividade térmica do papel impregnado em óleo e coeficiente de transmissão de calor do óleo mineral e é resultado da agregação dos dois processos de transmissão de calor. O processo de cálculo é efectuado para cada um dos enrolamentos (AT e BT), sendo seguinte: Divisão do enrolamento com base no número de canais de ventilação internos, por exemplo com um canal terá duas secções; Calcular a área das superfícies de evacuação, com base nos diâmetros internos, externos e altura do enrolamento. Para a secção interna do enrolamento BT é considerada apenas a superfície externa, já que as unidades a calcular não têm evacuação para o interior. Cálculo das massas de cada secção do enrolamento; Com base nas perdas no cobre totais no enrolamento e na massa total, com uma relação de proporcionalidade determinar as perdas no cobre por secção; Cálculo do coeficiente V; Obter o gradiente para a secção s: GrS = WS S S × αV _ S (º C ) . O gradiente do enrolamento será o mais elevado das duas secções. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 40 de 87 Os gradientes devem ser limitados a temperaturas de 20ºC, para aumentar o tempo de vida dos materiais, se estes valores forem ultrapassados é necessário rever por exemplo a espessura e número dos canais de ventilação, ou diminuir as perdas no cobre, baixando as densidades de corrente. 3.27. TENSÃO DE CURTO-CIRCUITO O cálculo da tensão de curto circuito (Ucc) é efectuado para a posição nominal de regulação AT, implicando o cálculo das componentes reactiva (eX) e resistiva (eR). Da teoria do transformador é conhecida a expressão para o cálculo da reactância por fase entre os enrolamentos AT e BT, em valor percentual, sendo o enrolamento x (AT ou BT) de referência: eX ≅ 4× f × N X2 × I X2 × LM × 10 −5 50 × ∆ + K ex α F × VX (%) Onde f, NX, IX, VX e LM representam a frequência da rede, número de espiras, corrente, tensão por espira do enrolamento de referência e valor médio do comprimento das espiras AT e BT, respectivamente. Em relação a e F são factores dependentes da altura radial do enrolamento, da espessura do canal AT/BT, da espessura e número de canais internos e da altura axial do enrolamento utilizado como referência. Kex representa um factor correctivo de base experimental. Para o cálculo da componente resistiva da teoria do transformador, para a temperatura de referência (cálculo de Pcc) a expressão a utilizar é: eR = Pcc 10 × S (%) Dos valores anteriores obtém-se a tensão de curto-circuito (Ucc): U cc = e X2 + e R2 A tensão de curto-circuito é um dos parâmetros definidos pelo cliente, em caso de necessidade de ajuste, tratando-se de grandes correcções é realizado através da alteração da corrente nos enrolamentos ou do número de espiras. Para ajustes mais reduzidos é alterada a espessura do canal AT/BT, recalculando-se o transformador a partir desse ponto. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 41 de 87 3.28. ESCOLHA DA CUBA RECTANGULAR As cubas utilizadas nestes transformadores são rectangulares herméticas de enchimento integral, a cuba que encerra o líquido refrigerante, chamada cuba elástica, é constituída na sua totalidade por chapa de aço. As paredes laterais da cuba são formadas por alhetas em forma de acordeão que permitem dissipar adequadamente o calor produzido pelas perdas, devido ao bom factor de dissipação térmico obtido. A selecção da cuba é efectuada com base em valores mínimos para o comprimento, altura e largura dependentes do tamanho da parte activa do transformador e distâncias de isolamento. O valor mínimo para o comprimento determina-se através de dois critérios, um de isolamento eléctrico do enrolamento AT, o outro mecânico de afastamento entre o extremo da travessa superior do circuito magnético e o topo da cuba, estando por sua vez relacionado com o apoio do tirante de aperto em relação à bobinagem, determinado por imposições de isolamento eléctrico. Em relação à largura e altura mínima da cuba obedece ao mesmo critério eléctrico utilizado para dimensionamento do comprimento. Partindo destas dimensões mínimas, é seleccionada a cuba com base na existência de painéis normalizados com um número de alhetas também definido. A profundidade da alheta é realizada em função das necessidades de evacuação. 3.29. CÁLCULO DA EVACUAÇÃO DA CUBA O cálculo das perdas a evacuar (Pev) para esta gama de transformadores é efectuada para a tomada de regulação nominal e resulta da adição das perdas totais no cobre e no ferro. Pev , j = PO + PCC , j A potência que a cuba evacua (Pcuba) é determinada com base nas dimensões dos painéis, a sua forma e colocação face ao meio ambiente. Os cálculos são então efectuados avaliando as superfícies e adoptando coeficientes de evacuação. É no entanto necessário conhecer também os aquecimentos do cobre médio e do óleo superior e garantir que não ultrapassam os máximos admissíveis (65ºC para o aquecimento do cobre médio e 60ºC para o aquecimento do óleo superior). O cálculo do aquecimento do óleo superior ( h) Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido obtém-se a partir de: Página 42 de 87 0. 8 Pev ∆θ h = Pcuba hc × ∆θ hc não é mais que o aquecimento do óleo superior correspondente ao aquecimento do cobre médio máximo ( max ) c e é obtido em função do gradiente (Gr) através de: ∆θ hc = ∆θ cmax − Gr 0,85 O aquecimento do cobre médio ( c) (º C ) calcula-se do seguinte: ∆θ C = ∆θ hmax × 0,85 + Gr (º C ) No caso de não se obterem valores para os aquecimentos do cobre médio e do óleo superior inferiores aos máximos é necessário redefinir a profundidade das alhetas dos painéis de alhetas. 3.30. CÁLCULO DA SOBREPRESSÃO Com o transformador em funcionamento a temperatura do líquido isolante aumenta, e em consequência aumenta o seu volume, sendo precisamente as alhetas da cuba as que se deformam adoptando um volume igual ao produzido pela dilatação do óleo, sendo capaz de suportar os efeitos duma variação de temperatura sem que se produzam deformações permanentes na mesma. Igualmente, ao colocar o transformador fora de serviço ou ao diminuir a carga produz-se uma diminuição da temperatura e as alhetas recuperam um volume proporcional ao produzido anteriormente pela dilatação. O cálculo da sobrepressão é efectuado conhecendo-se o aumento de volume do óleo em resultado do aquecimento e a flecha provocada nas alhetas. f Figura 6 – Dilatação de uma alheta provocada pela expansão térmica do óleo (flecha) Os transformadores deste tipo são fechados e ajustados de modo a que a sobrepressão do líquido de arrefecimento em relação à pressão atmosférica seja nula à temperatura de 20 ºC. Sendo: V – volume do líquido a 20 ºC; Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 43 de 87 Ta – temperatura ambiente máxima (normalmente 40 ºC); T – aquecimento médio do líquido em regime nominal (85% do aquecimento nominal); – coeficiente de dilatação do líquido (L/ºC). A variação do volume do líquido ( V) é a seguinte: ∆V = β ⋅ V ⋅ (Ta + ∆T − 20) ( L) Tal variação é integralmente compensada pela dilatação das alhetas, calculandose a sobrepressão (p) a partir de: p= 260 ⋅ E ⋅ I ⋅ ∆V N ⋅ (i − j ) ⋅ j 5 (kg / cm 2 ) Sendo: E – módulo de elasticidade do aço da chapa (kg/mm2); I – momento de inércia por unidade de altura (mm3); N – número de alhetas da cuba; i – altura da alheta; j – profundidade da alheta. O cálculo da flecha é efectuado considerando cada face da alheta como uma viga encastrada, recorrendo à equação da deformação obtem-se o seguinte: f= 17 ⋅ p ⋅ j 4 4992 ⋅ E ⋅ I Os valores para a sobrepressão e flecha devem ser limitados para que não resultem deformações permanentes do material ou em casos extremos à sua fragilização, tal é conseguido modificando a profundidade das alhetas. 3.31. CÁLCULO DO NÍVEL DE RUÍDO O cálculo do nível médio de pressão acústica a 50 Hz e a uma distância de 0,3 m do transformador, para unidades com potência nominal inferior a 500 kVA é obtido, conforme indicação da CEI 551, através de: L pA = 38 × BC + 20 × log(dee) − 63 (dBA) Sendo Bc a indução na culassa e dee a distância entre eixos do transformador. A partir deste valor calcula-se o nível de potência acústica através de: LwA = L pA + 10 × log S SO Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido ( dBA) Página 44 de 87 Sendo: SO – área de referência (1m2) S – área da superfície de medida envolvente ao transformador. O valor de S obtém-se a partir de: S = 1,25 ⋅ h ⋅ l m Onde: h – altura do solo à tampa do transformador; Lm – perímetro do contorno envolvente (da CEI 551 é imposta uma distância de 0,3 m entre o contorno de medida e a superfície principal de radiação – transformador). Os valores calculados devem ser comparados com o limite imposto pela norma aplicável, ou com o valor exigido pelo cliente, se for necessária uma redução a solução estará em reduzir o valor da indução magnética da culassa e refazer todo o processo a partir desse ponto. 3.32. CÁLCULO DAS MASSAS DO TRANSFORMADOR O conhecimento da massa total do transformador projectado é de extrema importância, ainda mais em transformadores para postos de transformação aéreos. Além do cálculo das massas de ferro do circuito magnético e do cobre nos enrolamentos é necessário calcular a massa de cobre nas ligações, travessas do circuito magnético e cuba. Relativamente à massa de óleo implica o cálculo do volume da cuba, de todo o volume da parte activa e subtracção dos dois. Uma vez que não foi efectuado o cálculo manual de todas as massas e a sua descrição resultaria num longo processo não será aqui apresentado. 3.33. OUTROS CÁLCULOS Conhecidas as características dimensionais do transformador, composição dos enrolamentos perdas e massas podem ser calculadas a corrente de ligação, queda de tensão do transformador, rendimentos, resistência dos enrolamentos, impedância homopolar e esforços em curto-circuito, em casos especiais, ou quando solicitados pelo cliente e em que haja necessidade de comparação com os valores a medir nos ensaios próprios. No presente trabalho estas grandezas não foram objecto de estudo e como tal não serão aqui incluídas. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 45 de 87 3.34. RESUMO DO PROCESSO DE CÁLCULO No seguimento da exposição feita até aqui apresenta-se em seguida um fluxograma de uma possível sequência de cálculo para um transformador imerso em óleo. A legenda de caminhos a seguir (decisões de cálculo) é a seguinte: A – Variação do número de espiras AT para corrigir o erro da relação de transformação. B – Variação do número de espiras BT para corrigir o erro da relação de transformação, alterar tensão de curto-circuito, alterar tensão por espira para corrigir valores de ruído e perdas no ferro. C – Variação dos canais de arrefecimento internos da AT por exigência de gradiente de temperatura. D – Variação do espaço AT/BT para acertar as tensões de curto-circuito ou exigência de gradiente de temperatura no enrolamento AT. E – Variação dos canais de arrefecimento internos da BT por exigência de gradiente de temperatura. F – Variação da bobinagem AT (composição da espira ou n.º de camadas, não variando o n.º de espiras) para alteração das densidades de corrente para efeitos de perdas no cobre, alteração da altura radial ou da altura geométrica para ajustar a tensão de curto-circuito. G – Variação da bobinagem BT (composição da espira ou n.º de camadas, não variando o n.º de espiras) para alteração das densidades de corrente para efeitos de perdas no cobre, gradientes, alteração da altura radial ou da altura geométrica para ajustar a tensão de curto-circuito. H – Variação do diâmetro do circuito magnético para alteração do valor de indução para efeitos de ruído ou perdas no ferro, alterando-se também o valor da tensão por espira e o n.º de espiras BT. I – Alteração das características da cuba para reduzir o aquecimento ou a sobrepressão. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 46 de 87 INÍCIO Recolha de dados (consulta ou encomenda cliente) Altura radial AT incluindo canais de arrefecimento, diâmetro e comprimento das espiras AT Cálculo de tensões e correntes Definição do tipo de enrolamento Média das espiras médias, distância entre fases, dimensões transversais do circuito magnético Atribuição de valores iniciais Diâmetros e secções do circuito magnético, cálculo da distância Ferro/BT, tensão por espira, induções no núcleo e culassa e nº de espiras AT e BT Ruído, massas e perdas (ferro e cobre), gradientes, tensão curto-circuito Avaliação erro relação transformação Cuba, evacuação, sobrepressão A Correcções? S N Cálculo da bobinagem BT: composição da espira, secção do cobre e densidade de corrente, nº de camadas, altura axial, isolamento entre camadas e altura radial (sem canais) B I B, H G F E D C Cálculo da bobinagem AT: idêntico ao bloco anterior Cálculo da calagem dos enrolamentos e altura geométrica Correcções? S N Massas, corrente ligação, queda de tensão, resistência dos enrolamentos, rendimento, impedância homopolar; esforços em curto-circuito FIM Distâncias de extremidade, Altura da janela Altura radial BT incluindo canais de arrefecimento, diâmetro e comprimento das espiras BT Cálculo espaço AT/BT Figura 7 – Fluxograma de uma possível sequência de cálculo de um transformador imerso em óleo Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 47 de 87 4. PROTECÇÃO DE UM TRANSFORMADOR Os transformadores são máquinas eléctricas sujeitas a várias solicitações eléctricas tanto do lado da alta tensão como na baixa tensão. Uma falha poderá resultar eventualmente na perda da unidade transformadora, ou em interrupções do fornecimento do serviço demoradas. Assim, por um lado um transformador deve ser protegido contra defeitos externos, por exemplo sobrecargas, sobretensões, curtocircuitos na rede BT ou temperaturas elevadas, e isolado da rede no caso de um defeito interno, fuga de óleo, curto-circuito nos enrolamentos, sobrepressões internas acima do normal. As medidas adoptadas para proteger um transformador são função de critérios como a continuidade e qualidade de serviço, o custo do investimento e da operação, da segurança de equipamentos e pessoas e de um nível aceitável de risco. As várias escolhas são sempre resultado da atribuição de níveis de importância a considerações técnicas, económicas e políticas. Nos pontos seguintes apresentam-se as condições a que os transformadores são submetidos e os vários mecanismos de protecção. 4.1. SOLICITAÇÕES ELÉCTRICAS E MODOS DE AVARIA 4.1.1. LIGAÇÃO E RE-LIGAÇÃO Na distribuição pública as operações de ligação e re-ligação são excepcionais e não correspondem realmente ao uso operacional de um transformador. Não obstante, os transformadores utilizados em redes de distribuição do tipo aéreo são submetidos a estas operações em ciclos de ligação e re-ligação, na tentativa de eliminar defeitos do tipo transitório, por exemplo a queda do ramo de uma árvore que provoque um curto-circuito fugitivo sobre a rede MT. O fecho rápido de um disjuntor pode resultar em fluxos residuais elevados e correntes de grande magnitude, neste caso a protecção do transformador deve estar prevista para não actuar sempre que tal ocorra, a menos que a corrente represente perigo para a unidade. 4.1.2. SOBRETENSÕES DE ORIGEM EXTERNA Os transformadores de distribuição estão sujeitos a sobretensões transitórias resultantes das redes a que estão ligados. Estas sobretensões são o resultado de descargas atmosféricas directas sobre o transformador ou induzidas nas redes de média ou baixa tensão. Podem também ser resultado da abertura e fecho de disjuntores e Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 48 de 87 interruptores na rede a montante. As sobretensões daqui resultantes conduzem a um stress dieléctrico no transformador. Este stress causa o envelhecimento prematuro, ou mesmo uma falha de isolamento entre espiras ou à massa. As circunstâncias mais críticas são obtidas durante a desenergização do transformador sem carga, ou comutando os mecanismos de corte no vácuo. Os critérios que determinam a severidade da sobretensão para os transformadores são a tensão de crista, assim como os gradientes de crescimento e extinção, que conduzem à distribuição desigual das solicitações sobre espiras e a tensões entre espiras superiores aos limites admissíveis, mesmo que o valor de crista não exceda valores aceitáveis. Os riscos de exposição a sobretensões dependem do tipo de rede em que o transformador é instalado, no caso de uma rede do tipo aéreo a protecção adequada contra este tipo de defeitos é de extrema importância, fazendo-se através de hastes de descarga ou descarregadores de sobretensões. A selecção de equipamento deste tipo é efectuada com base no tipo de ligação entre a rede e o transformador, tipo de ligação à terra na subestação MT alimentadora a montante, da rede BT e o possível acoplamento entre os dois sistemas de terra. O cálculo do transformador é como vimos atrás efectuado com base em tensões de isolamento definidas em normas próprias, no caso de estas tensões de isolamento serem ultrapassadas as falhas no isolamento interno resultarão em: Curto-circuitos entre espiras do mesmo enrolamento (caso mais frequente); Curto-circuitos entre enrolamentos; Curto-circuito entre a espira de um enrolamento e uma peça vizinha, por exemplo as paredes da cuba ou o circuito magnético; Em relação a falhas externas (curto-circuito entre terminais) ocorrem com menos frequência e apenas em ambientes poluídos, onde a rigidez dieléctrica do ar é baixa. 4.1.3. SOBRECARGAS O valor da potência nominal permite a partir das tensões nominais determinar as correntes nominais, funcionando neste caso o transformador em carga nominal. Se o transformador funcionar permanentemente neste regime os seus aquecimentos não ultrapassarão os limites impostos pelas normas. Se a temperatura ambiente for “normal” (20ºC), o seu funcionamento e esperança de vida são considerados “normais”. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 49 de 87 Na realidade estas condições não se verificam, nem a carga se manterá constante durante o período de funcionamento, nem a temperatura ambiente terá variações que possam, do ponto de vista térmico, ser sempre equivalentes a um regime permanente a 20ºC. A aplicação duma carga superior à nominal e/ou funcionamento a temperaturas ambiente mais elevadas (regimes de sobrecarga) traduzir-se-ão num aumento da temperatura de funcionamento do transformador. As consequências das sobrecargas são diversas, uma vez que os seus efeitos estão associados aos aumentos de corrente e temperatura que originam, podem constituir riscos imediatos ou ter consequências a mais longo prazo. O risco imediato resulta da redução da rigidez dieléctrica devido à presença de bolhas gasosas nos isolantes, estas bolhas desenvolvem-se no papel isolante a temperaturas da ordem dos 140 ºC a 160 ºC para teores normais de humidade. A longo prazo o principal risco resulta da deterioração “térmica” das propriedades dos isolantes, juntas, etc., tratando-se de um processo cumulativo. O aumento da temperatura de funcionamento do transformador pode ainda ter como consequências a redução das propriedades mecânicas essenciais para a capacidade de resistir aos curto-circuitos, aumentos de volume e pressões. Este aumento de temperatura resultará então no acelerar do processo de envelhecimento. Uma sobrecarga durante o Inverno, com temperaturas baixas, não tem as mesmas consequências que uma sobrecarga com temperaturas ambiente elevadas. No entanto sob circunstâncias de operação anormais ou excepcionais é aceitável exceder as capacidades nominais do transformador, tal é preferível a uma interrupção em resultado de um pico de curta duração, pois tratam-se na maior parte dos casos de fenómenos transitórios. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 50 de 87 Figura 8 – Capacidade de sobrecarga de um transformador de distribuição imerso em óleo Na distribuição pública uma sobrecarga não deve na generalidade dos casos resultar na interrupção da alimentação, em prol da qualidade de serviço. Além disso os condutores da rede de baixa tensão são sobredimensionados e a sobrecarga de um transformador não corresponde à sobrecarga de um condutor. Assim em casos em que a sobrecarga não represente risco para a unidade transformadora a protecção não deverá actuar intempestivamente, desligando o transformador da rede. 4.1.4. CURTO-CIRCUITOS NA REDE BT Os únicos curto-circuitos sobre a rede de baixa tensão a provocar consequências nefastas sobre o transformador são aquelas situadas na sua proximidade. Estes defeitos são eliminados pela protecção instalada na rede de baixa tensão (fusíveis ou disjuntores), pela protecção da rede de média tensão a montante do transformador ou, no caso de um transformador autoprotegido, pela protecção MT do transformador. Um curto-circuito próximo dos terminais da baixa tensão num transformador, dependendo da intensidade de corrente e duração, resulta no aquecimento do líquido dieléctrico e dos enrolamentos, mas também em esforços electrodinâmicos sobre os enrolamentos. Os transformadores são projectados para suportar um curto-circuito nos seus terminais, geralmente uma situação mais severa do que as que se verificam em condições normais de funcionamento. No entanto as falhas repetidas podem ter um Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 51 de 87 efeito cumulativo, por exemplo deslocamento da bobina e contribuição para o envelhecimento prematuro do equipamento. Em todo o caso, a duração da falha deve ser limitada por um dispositivo de protecção, pois de outra maneira existe o risco de destruição por efeitos térmicos. 4.1.5. DEFEITOS INTERNOS 4.1.5.1. DEFEITOS ENTRE ESPIRAS Os curto-circuitos entre espiras do enrolamento de média tensão são o modo de avaria mais frequente e o mais difícil de detectar. Estes defeitos resultam da deterioração localizada da isolação do condutor em resultado do stress térmico e dieléctrico. O efeito inicial limita-se a um ligeiro aumento da corrente no primário, por um lado em resultado da modificação da razão de transformação e por outro da corrente de curto-circuito no enrolamento afectado. A espira defeituosa comporta-se como um enrolamento secundário e é percorrida por uma corrente limitada unicamente pela própria impedância e pela resistência de defeito. Figura 9 – Funcionamento de um transformador com um curto-circuito entre espiras no primário De acordo com a corrente de defeito a sua progressão será mais ou menos rápida. Tratando-se de uma corrente elevada a subida de temperatura provocará a deterioração do isolamento das espiras vizinhas e a propagação da falha será rápida. Se da falha resultar arco eléctrico teremos libertação de gases. Tal libertação pode conduzir a um aumento grande na pressão e em último caso à ruptura da estrutura do tanque. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 52 de 87 Se a falha causar uma corrente inicial baixa, os fenómenos podem ser lentos e difíceis de detectar apenas com a monitorização das correntes. A monitorização das emissões gasosas ou pressão podem ser usadas de forma complementar aos dispositivos baseados na medida de intensidade de corrente. No entanto tais medidas são apenas adoptadas em transformadores com potências mais elevadas e raramente numa unidade tipo poste. 4.1.5.2. DEFEITOS ENTRE ENROLAMENTOS 4.1.5.2.1. ENROLAMENTOS DE MÉDIA TENSÃO As falhas entre enrolamentos de média tensão são raras mas podem causar correntes de defeito elevadas, mesmo superiores à corrente provocada por um defeito nos terminais dos enrolamentos, com efeitos nefastos para a máquina. Curto-circuitos em determinadas posições, por exemplo em pontos de dois enrolamentos vizinhos do ponto neutro numa ligação em estrela, são semelhantes a curto-circuitos entre espiras do mesmo enrolamento, desde que não exista diferença de tensão elevada entre pontos de contacto. 4.1.5.2.2. ENROLAMENTOS DE BAIXA TENSÃO As falhas entre enrolamentos de baixa tensão são excepcionais desde que estes enrolamentos sejam colocados depois do núcleo magnético e envolvidos pelos enrolamentos de média tensão. No caso de enrolamentos múltiplos de baixa tensão na mesma coluna do núcleo magnético (por exemplo acoplamento em zig-zag), a possibilidade de uma falha existe. Em todo o caso, a corrente de defeito é menor do que aquela que resulta de um curto-circuito através dos terminais secundários, no entanto a progressão pode ser rápida, devido à presença de um arco eléctrico de intensidade significativa. 4.1.5.2.3. ENROLAMENTOS DE MÉDIA E BAIXA TENSÃO Um defeito entre enrolamentos de baixa e média tensão pode também resultar no contacto entre primário e secundário, resultando no aparecimento de potenciais perigosos na rede de baixa tensão; dependendo o risco, para pessoas e equipamento, do tipo de ligação dos neutros das duas redes. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 53 de 87 4.1.5.3. DEFEITOS À MASSA Defeitos entre o enrolamento de média tensão e a massa são frequentemente originados pela ruptura de isolamento em resultado de uma sobrecarga. No entanto podem resultar também de um defeito eléctrico (sobretensões). As características de um defeito à massa, assim como a forma de detecção dependem do tipo de ligação do neutro à terra e da localização do defeito no transformador. No caso de uma rede de distribuição com o neutro ligado à terra através de uma impedância limitadora, um defeito à massa provoca uma corrente variável com impedância de neutro e a localização do defeito. Se a corrente de defeito for muito baixa existe o risco de aumento da pressão semelhante ao que ocorre num defeito entre espiras. A monitorização fina da corrente de defeito à terra seria um meio eficaz de protecção, no entanto nem sempre é técnica e/ou economicamente viável. No caso de uma rede com o neutro ligado à terra através de uma bobina de Peterson um defeito no isolamento de um transformador imerso em óleo será autoextinguível. O valor reduzido da corrente de defeito permite a sua extinção espontânea no óleo e o reaparecimento progressivo do defeito, conduzindo a uma outra avaria milisegundos mais tarde. A frequência dos fenómenos aumentará se houver uma deterioração progressiva em resultado das avarias sucessivas, originando outro tipo de defeito, detectado pelo equipamento de protecção. 4.1.5.4. DEFEITOS RELACIONADOS COM O TIPO DE TRANSFORMADOR Os defeitos internos são geralmente consequência de acções externas (sobretensões e sobrecargas), no entanto esses defeitos podem ocorrer também dependendo do tipo de transformador. Num transformador imerso em óleo uma fuga de óleo causada pela corrosão ou por um impacto provocará a perda do isolamento da parte activa e consequente defeito. A degradação do dieléctrico, como resultado da presença de partículas do tanque, núcleo ou dos papéis de isolamento, ou pela penetração de água podem levar a uma situação de ruptura do isolamento. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 54 de 87 4.2. SISTEMAS DE PROTECÇÃO 4.2.1. SOBRETENSÕES Um transformador alimentado por um único condutor representa uma impedância muito elevada, quando comparada da linha, do cabo ou da fonte. Assim durante os fenómenos de propagação da onda o transformador representa um ponto de reflexão quase total estando sujeito a uma tensão aproximadamente igual duas vezes a tensão de incidência. É essencial colocar dispositivos limitadores na vizinhança imediata do transformador. São utilizados dois tipos de protecção: hastes de descarga, mais simples e com preços mais baixos, utilizadas exclusivamente em redes aéreas. E descarregadores de sobretensões com melhor performance, mas custos mais elevados. 4.2.1.1. HASTES DE DESCARGA As hastes de descarga são mecanismos simples que compreendem dois eléctrodos no ar. Uma sobretensão dependendo da intensidade e distância entre os eléctrodos resultará na formação de um arco eléctrico entre os dois eléctrodos. Este tipo de protecção implica algumas desvantagens: − Tensão a que se desencadeia o arco eléctrico dependente das condições ambientais (humidade, poluição, etc); − O nível de protecção depende do gradiente da sobretensão (velocidade de crescimento), pois uma sobretensão com grande gradiente não conduz a um arco eléctrico imediato, mas só num valor de pico demasiado elevado para o nível de protecção. − Corrente de defeito à terra depois da actuação da protecção, cuja intensidade depende do tipo de ligação do neutro, em geral não auto-extinguível e necessitando da actuação de uma protecção a montante e posterior re-ligação. 4.2.1.2. DESCARREGADORES DE SOBRETENSÕES Os descarregadores de sobretensões não são mais que resistências não lineares, cujo valor é extremamente reduzido acima de um determinado valor de tensão como é possível ver na figura seguinte: Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 55 de 87 Figura 10 – Curva característica de um descarregador de sobretensões de óxido de zinco (ZnO) numa rede com tensão nominal de 20kV, quando submetido a um impulso de 125kV Os modelos mais recentes deste tipo de equipamento têm não linearidades bastante acentuadas, apresentando correntes de fugas em operação normal inferiores a 10mA, assim é possível mantê-los sob tensão. A sua extrema não linearidade melhora ainda a eficiência de protecção na presença de correntes de intensidade elevadas. 4.2.2. SOBRECARGAS E CURTO-CIRCUITOS A protecção contra sobrecargas deve actuar para valores da corrente nominal entre 110 e 150% e deve preferencialmente reagir de forma dependente do tempo, podendo ser instalado do lado de média ou de baixa tensão. No caso da protecção do lado da baixa tensão, afim de proteger o transformador o calibre da protecção não é ajustado com base nos efeitos térmicos sobre os condutores BT, mas em função da corrente nominal do transformador, que é geralmente inferior à corrente máxima admissível dos condutores. Na rede de distribuição pública é prática comum a utilização de fusíveis na baixa tensão, quando a corrente de defeito é suficientemente elevada. Estes fusíveis são dimensionados somente para actuar em caso de curto-circuito e não devem actuar em caso de sobrecarga. No caso da rede de distribuição pública aérea a rede de baixa tensão é extensa, logo com impedância elevada, se a falha ocorrer longe do transformador as correntes de curto-circuito serão baixas, a persistência de um defeito deste tipo resulta Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 56 de 87 em riscos para o transformador, bem como para os utilizadores da rede. Tais falhas não são detectadas pelos dispositivos usuais de protecção contra curto-circuitos, os fusíveis, justificando a adopção de um disjuntor que responda nesta situação e a trate como uma sobrecarga. Estes disjuntores podem ter uma imagem térmica da corrente que tolere sobrecargas monofásicas, se as outras fases apresentarem carga abaixo da nominal e a temperatura do transformador se mantenha dentro de valores aceitáveis, esta modalidade é válida apenas para transformadores do tipo imerso, onde o dieléctrico líquido favorece a troca de calor entre os vários componentes. Esta solução é de particular interesse numa rede de distribuição pública onde a ligação das cargas ao transformador e previsão do seu crescimento são de difícil optimização. Num transformador do tipo imerso a imagem térmica da corrente pode ser conseguida através da instalação de um termóstato interno capaz de fornecer informação para a abertura de um contacto e consequente interrupção do serviço. 4.3. SOLUÇÕES ESTUDADAS PARA PROTEGER TRANSFORMADORES DE DISTRIBUIÇÃO DE POSTE IMERSOS Conhecidos os tipos de defeitos que podem colocar em risco um transformador e as formas de protecção desses defeitos nesta secção são apresentadas as soluções estudadas para implementar essa protecção, bem como as razões para a escolha de uma das soluções e o abandono das outras. As soluções apresentadas serão então as seguintes: − Fusíveis SloFast; − Combinação de fusíveis e interruptor na Média Tensão; − MagneX® Interrupter e fusíveis ELSP. 4.3.1. FUSÍVEIS SLOFAST Esta solução para a protecção do transformador é baseada na forma mais simples de protecção, utilizando elementos fusíveis. Como vimos atrás os problemas primários para protecção do transformador são de proteger a máquina garantindo que a sua capacidade de sobrecarga não é afectada. Sendo os fusíveis geralmente utilizados para a protecção contra curto-circuitos a utilização de um fusível com estas características resultaria na protecção eficiente do Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 57 de 87 transformador contra curto-circuitos não utilizando a sua capacidade de sobrecarga, ou utilizando esta capacidade não existiria uma protecção eficaz contra curto-circuitos. É no entanto de bom senso utilizar uma solução de compromisso que proteja o transformador de curto-circuitos, mas que permita utilizar parte da sua capacidade de sobrecarga. Esta situação é ilustrada na figura seguinte, a verde temos a curva de funcionamento seguro do transformador e a negro a curva de actuação do fusível. Do lado esquerdo da intersecção das duas curvas é permitida a utilização da capacidade de sobrecarga do transformador, enquanto do lado direito a ruptura do elemento fusível impede a utilização de uma capacidade considerável de sobrecarga. Figura 11 – Solução de compromisso para protecção de um transformador com elementos fusíveis Ainda que o custo de um funcionamento deste tipo por máquina pareça insignificante considerando um parque alargado de máquinas representará um custo elevado, é aqui que surgem os elementos fusíveis do tipo SloFast. Estes fusíveis são projectados especificamente para a protecção de transformadores, com um elemento duplo que utiliza uma junta soldada e um elemento de cobre ou uma liga metálica em série. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 58 de 87 Figura 12 – Elementos constituintes de um fusível do tipo SloFast. A junta soldada apresenta uma curva de actuação relativamente plana, enquanto o elemento fusível standard tem uma curva empinada e rápida, por esta razão este fusível é chamado de SloFast (lento – rápido) Na figura seguinte é comparada a curva de funcionamento seguro de um transformador com a curva de actuação de um fusível SloFast, vendo-se que a curva de actuação do fusível segue a curva do transformador em toda a sua extensão. Tal permite a máxima utilização da capacidade do transformador durante períodos curtos, por outro lado a curva inferior permite a saída de serviço imediata do transformador em caso de curto-circuito. Figura 13 – Protecção de um transformador com um fusível do tipo SloFast Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 59 de 87 A selecção de um fusível deste tipo é efectuada unicamente com base na corrente nominal do transformador, assim um fusível de 3,5 A será o utilizado tanto por um transformador de 25kVA e 7620V como por um de 50 kVA e 13200V. Apesar de aparentemente se tratar de uma protecção eficiente e com custo não muito elevado, em caso de um defeito fase – terra ou mesmo fase – fase que não resulte na fusão dos três fusíveis e isolamento do sistema não é tolerável, uma vez que o distribuidor público geralmente não aceita este tipo de funcionamento. A associação destes fusíveis a um interruptor também não é viável, pois não dispõem de um elemento mecânico que permita a interrupção das três fase. Também a utilização de um interruptor baseado no efeito térmico da corrente não é solução, uma vez que teríamos a duplicação da protecção contra sobrecargas. 4.3.2. COMBINAÇÃO DE FUSÍVEIS E INTERRUPTOR NA MÉDIA TENSÃO Nesta forma de protecção a interrupção monofásica é evitada, através da utilização de fusíveis equipados com um percutor. Em caso de fusão do elemento fusível a actuação do percutor activará o interruptor, provocando a abertura das três fases. Este é o princípio de funcionamento adoptado em muitas celas compactas para corte e seccionamento. A abertura automática é efectuada depois da actuação de algum sinal, como um percutor, bobine ou relé. Os fusíveis são caracterizados pela sua corrente nominal, valor mais elevado para a corrente veiculada em regime permanente, e pela característica de actuação tempo/corrente. A deterioração do fusível acontece a um valor superior ao da corrente nominal, normalmente igual a 3 a 5 vezes esta corrente, dependendo o início do ponto de fusão do crescimento da temperatura. Os fusíveis a utilizar para proteger o transformador seriam do tipo limitador de corrente, usando-se para este estudo os fusíveis Fusarc CF da Merlin Gerin, sendo o modo de operação ilustrado na figura seguinte: Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 60 de 87 Un – tensão composta mais elevada da rede onde o fusível é instalado. In – corrente nominal (corrente máxima veiculada pelo fusível em regime permanente) I3 – mínimo valor da corrente capaz de provocar a fusão e corte de alimentação (3 a 5 vezes a corrente nominal). Para valores inferiores a I3 o processo de fusão inicia-se sem no entanto interromper o circuito. I2 – corrente crítica (correntes de curto-circuito próximas da corrente máxima) I1 – poder de corte (máxima corrente de curto-circuito que o fusível interrompe) Figura 14 – Modo de operação de um fusível limitador de corrente Normalmente os fusíveis limitadores, funcionam em condições de serviço abaixo da corrente nominal, sem consequências anormais de aquecimento, contudo existem situações que originam aquecimentos provocados pelas características particulares da aplicação (longas e/ou frequentes sobrecargas), características do equipamento de corte, erros humanos ou a selecção errada ou pouco adequada dos calibres dos fusíveis. A forma para evitar estas situações perigosas seria usar a combinação de fusíveis com relés de protecção, ou incorporar um mecanismo térmico que actua a temperaturas inferiores às consideradas perigosas para o fusível. O percutor térmico é um elemento mecânico incorporado no fusível capaz de sinalizar e disparar em caso de curto-circuito (funcionamento habitual), mas também a sobre intensidades prolongadas que produzam incrementos de temperatura. O percutor é controlado através de um fio de alta resistência que após a fusão o liberte. É de extrema importância que o percutor não actue inadvertidamente e que não “atrapalhe” a interrupção do circuito. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 61 de 87 Figura 15 – Curva de actuação de um fusível com percutor térmico A implementação no transformador deste equipamento seria a efectuada com a colocação dos fusíveis no interior de tubos isolantes colocados no interior da cuba do transformador directamente ligados às travessias de média tensão. Seleccionados os elementos fusíveis a utilizar faltava um interruptor que proporcione o funcionamento idealizado. A procura de um interruptor no mercado revelou-se infrutífera, uma vez que se trata de equipamento utilizado em celas de corte e seccionamento em média tensão, logo de equipamentos desenvolvido por cada fabricante para uso exclusivo dos seus equipamentos, não se encontrando disponíveis no mercado. Assim também esta solução foi posta de lado. 4.3.3. MAGNEX® INTERRUPTER E FUSÍVEIS ELSP O MagneX® Interrupter é um interruptor construído pela Cooper Power Systems, instalado do lado da média tensão, no interior da cuba, para protecção do transformador. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 62 de 87 Este interruptor inclui um sensor, construído com um elemento do tipo ”curie” que transita de um estado ferro-magnético para um estado para-magnético com a elevação de temperatura. Assim a elevação de temperatura resultante de uma corrente superior a nominal combinada com a elevação da temperatura do dieléctrico resultará na perda das características magnéticas. Quando a força de atracção magnética for inferior à força exercida pelo mecanismo de abertura com molas devidamente calibradas dá-se a interrupção trifásica da alimentação do transformador. No caso de um curto-circuito, com grandes correntes de defeito, a elevação de temperatura é resultado da circulação de corrente (I2R), sendo o funcionamento do MagneX® Interrupter idêntico ao de um elemento fusível. O funcionamento em períodos longos/frequentes de sobrecarga a temperatura dos enrolamentos eleva-se, bem como a temperatura do líquido dieléctrico, dando-se a reacção do elemento sensor e a abertura do interruptor antes que sejam atingidas temperaturas que danifiquem o transformador. Este equipamento pode também ser utilizado como um interruptor, desligandose o transformador em carga, aquando da necessidade de operações de manutenção. A protecção com este elemento baseia-se, como nos fusíveis, na corrente que fluí através dele mas também na temperatura do óleo, dependendo esta das condições ambientais e das condições de carga, tornando a protecção do transformador mais eficaz e flexível. No entanto o poder de corte deste equipamento é limitado e no caso de correntes de curto-circuito mais severas, resultado de um defeito interno, ainda que se verifique a abertura do interruptor não existe capacidade de extinção do arco eléctrico, associandose ao interruptor fusíveis imersíveis (ELSP) em óleo que anulem essas correntes de curto-circuito, também fabricados pela Cooper Power Systems. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 63 de 87 Figura 16 – MagneX® Interrupter Trifásico 4.3.4. COMPARAÇÃO DE SOLUÇÕES Da exposição anterior, a solução a adoptar será a última apresentada (MagneX® Interrupter e fusíveis ELSP), pois é a única técnica e económicamente viável, uma vez que é aquela em que existem equipamentos no mercado que viabilizem a sua construção. Embora se trate de uma solução bastante flexível, é menos compacta que a segunda solução estudada, em que se combinava um interruptor com fusíveis com percutor. A adopção da segunda solução apresentada poderia passar pelo desenvolvimento de um interruptor capaz de desempenhar as funções pretendidas ou alteração de um equipamento existente, no entanto essa não é essa a linha de orientação deste projecto e não foi o caminho seguido. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 64 de 87 5. SOLUÇÃO SELECCIONADA Nos pontos seguintes é efectuada uma análise mais profunda da solução adoptada e a selecção dos calibres do equipamento para as unidades a projectar. Apresenta-se ainda a forma como os equipamentos serão incluídos no transformador, avaliação do impacto no seu cálculo e a comparação de custos entre uma unidade autoprotegida e um transformador sem protecções. Sendo os transformadores submetidos a ensaios eléctricos a inclusão de equipamento de protecção neste produto resultará na necessidade de alterar a forma de execução dos ensaios, bem como ensaiar a protecção. Assim inclui-se também um ponto relativo a estas questões. 5.1. VERIFICAÇÃO DA REACÇÃO TÉRMICA DO MAGNEX® Para comprovar as aptidões do MagneX® e a reacção a temperaturas elevadas é necessário realizar uma série de ensaios de sobrecarga. As simulações foram orientadas para comprovar a sensibilidade do MagneX® a incrementos da temperatura do óleo. Na figura 17 é apresentada a evolução da temperatura do óleo superior do transformador em condições de sobrecarga e registada a temperatura do transformador durante a carga. Figura 17 – Temperatura vs. Perfil de Carga Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 65 de 87 Na tabela seguinte são apresentados os resultados da comparação entre os valores esperados para actuação do MagneX® e um ensaio efectuado sobre um transformador. Tª ambiente Corrente Nominal Corrente em Sobrecarga Simulação 25 ºC 6,25 A 11,8 A Tª óleo aquando do disparo do MagneX® 115,1 ºC Ensaio 28 ºC 6,25 A 11,8 A 120,1 ºC 2,71 horas 4,16 % 10,7 % Desvio (%) Tempo de disparo do MagneX® 3,00 horas Tabela 4 – Comparação entre os valores esperados e os obtidos em ensaio para as temperaturas e tempos de disparo do MagneX® Como se pode observar na tabela anterior o sensor seleccionado para efectuar a protecção do transformador reage a uma sobrecarga contínua do transformador provocando a interrupção do serviço a uma temperatura aproximadamente igual a 120ºC. Este valor encontra-se ligeiramente abaixo da temperatura que pode afectar a sobrevivência do transformador. Assim a selecção adequada do sensor permite a máxima capacidade de sobrecarga, optimizando a vida do transformador. O MagneX® Interrupter a instalar tem as mesmas dimensões em todas as unidades, diferindo apenas na dimensão do sensor, que deve ser dimensionado com base na corrente do transformador, seguindo as recomendações do fabricante. Outra das vantagens de uma montagem com um interruptor MagneX® verificase em sobrecargas monofásicas, frequentes em redes eléctricas rurais, enquanto um elemento fusível tradicional actuaria em caso de sobrecarga, o equipamento seleccionado funcionando com base na temperatura do dieléctrico aceita este tipo de funcionamento não interrompendo o serviço. 5.2. COORDENAÇÃO DE PROTECÇÕES COM O MAGNEX® A gama de interruptores do tipo MagneX® produzidos pela Cooper Power Systems são capazes de abrir um circuito e extinguir o arco eléctrico para as intensidades de corrente apresentadas na tabela 5. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 66 de 87 Tensão Nominal da Rede (kV) 10 Intensidade Máxima de Corrente Simétrica (A) 2800 Intensidade Máxima de Corrente Assimétrica (A) 4200 15 1500 2250 500 750 30 ® Tabela 5 – Poder de corte do MagneX Interrupter Analisando a tabela anterior verifica-se que em caso de defeito interno as correntes de curto-circuito serão superiores aos máximo poder de corte do MagneX® Interrupter, havendo a necessidade de instalar fusíveis que protejam o transformador de defeitos mais violentos. Estes fusíveis serão do tipo imersível em óleo, instalados no interior da cuba do transformador e com poder de corte de 50kA. A coordenação conveniente do MagneX® Interrupter com os fusíveis ELSP assegura a protecção completa e eficaz do transformador. A imagem da corrente de curto-circuito do lado da média tensão de um defeito na rede de baixa tensão é limitada pela impedância dos enrolamentos do transformador. A selecção adequada dos fusíveis de média tensão, limitando-se a sua actuação a correntes de curto-circuito que resultem de defeitos internos na média tensão; operando o MagneX® Interrupter em caso de curto-circuitos na rede de baixa tensão e sobrecargas. Com esta forma de operação torna-se dispensável o disjuntor instalado na baixa tensão à saída do transformador. No caso de um curto-circuito interno na média tensão, provocando a ruptura do elemento fusível, a instalação dos dois sistemas em série (figura 18), leva a que o MagneX® “veja” a corrente de defeito, reagindo abrindo o circuito. Se o seu poder de corte não for suficiente a interrupção da alimentação é conseguida pelo elemento fusível. No entanto em qualquer situação consegue-se a interrupção trifásica do transformador sem a necessidade de utilização de fusíveis com percutor, sendo esta uma das grandes vantagens desta solução. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 67 de 87 1 – Fusíveis de Back-up 2 – MagneX® Interrupter 3 - Transformador 1 2 3 Figura 18 – Esquema eléctrico do transformador autoprotegido Em caso de sobrecarga, após o abaixamento da temperatura do transformador ou eliminação do defeito na rede de baixa tensão o transformador pode ser re-ligado através do rearme do MagneX® Interrupter, este dispõe de um punho de manobra colocado na parte exterior do transformador, manobrado com o auxílio de uma vara a partir do solo. Uma vez que os fusíveis são instalados no interior da cuba, imersos no óleo, a sua fusão resulta na necessidade de recolha do transformador e substituição do elemento danificado na fábrica. No entanto a actuação de um fusível significa a existência de um defeito interno, o que requer necessariamente a deslocação à fábrica para reparação e substituição por outra unidade. Um exemplo da conveniente selecção e coordenação das duas protecções é apresentado na figura 19, para um transformador com a potência de 250 kVA e tensão nominal igual a 15 kV. Figura 19 – Curvas de actuação do MagneX® e dos fusíveis de Back-up Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 68 de 87 5.3. SELECÇÃO DOS ELEMENTOS SENSORES E DOS FUSÍVEIS O tipo de ligação dos enrolamentos de um transformador de distribuição é em triângulo no primário e em estrela no secundário. Sendo o interruptor MagneX® instalado do lado da média tensão é suficiente a utilização de sensores magnetotérmicos em duas fases, pois com este tipo de ligação a corrente de defeito que flui numa fase, flui também na fase adjacente, reagindo o equipamento à corrente de defeito e provocando a desconexão trifásica. A selecção adequada dos fusíveis de Back-up e do MagneX® para cada uma das unidades (10, 15 e 30 kV, potências de 50, 100,160 e 250 kVA) foi efectuada com base nas recomendações do fabricante. A selecção do MagneX® Interrupter foi efectuada antes da escolha dos fusíveis ELSP. Pois enquanto a escolha do MagneX® não depende do fusível seleccionado, a selecção dos fusíveis é dependente do MagneX®. As configurações adoptadas em cada montagem são as apresentadas na tabela 6. S (kVA) U (kV) 10 15 30 MagneX Sensor: E03 MagneX Sensor: E03 MagneX Sensor: E01 50 ELSP: 3543030M61M ELSP: 3544030M61M ELSP: 3545030M61M (30A; 10kV) (30A; 15kV) (30A; 30kV) MagneX Sensor: E10 MagneX Sensor: E06 MagneX Sensor: E03 100 ELSP: 3543080M71M ELSP: 3544050M61M ELSP: 3545030M61M (80A; 10kV) (50A; 15kV) (30A; 30kV) MagneX Sensor: E12 MagneX Sensor: E10 MagneX Sensor: E06 160 ELSP: 3543080M71M ELSP: 3544065M61M ELSP: 3545050M61M (80A; 10kV) (65A; 15kV) (50A; 30kV) MagneX Sensor: E18 MagneX Sensor: E18 MagneX Sensor: E10 250 ELSP: 3543125M71M ELSP: 3544100M71M ELSP: 3545050M61M (125A; 10kV) (100A; 15kV) (50A; 30kV) ® Tabela 6 – Sensores do MagneX e fusíveis de Back-up a instalar em cada unidade. 5.4. OUTRAS PARTICULARIDADES DO MAGNEX® Além das potencialidades atrás apresentadas o interruptor MagneX® pode ser equipado com um sistema que permita não desligar o transformador no caso de uma sobrecarga de emergência. Este modo de funcionamento pode ser conseguido através da instalação de um elemento resistivo em paralelo com o elemento sensor, para que uma porção da corrente faça um bypass ao elemento sensor, impedindo a sua abertura. Este Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 69 de 87 modo de funcionamento pode ser seleccionado através da actuação de uma pequena alavanca situado no punho de manobra. Figura 20 – MagneX® Interrupter equipado para sobrecargas de emergência Outro dos acessórios disponíveis para este equipamento é a inclusão de flutuadores que impeçam o fecho do interruptor no caso de o nível de óleo estar abaixado do necessário para o correcto funcionamento do transformador e dos sistemas de protecção. Figura 21 – MagneX® Interrupter equipado com flutuadores 5.5. PROTECÇÃO CONTRA SOBRETENSÕES Relativamente à protecção contra sobretensões o equipamento a utilizar serão os clássicos descarregadores de sobretensões colocados sobre o tanque do transformador. A alternativa seria colocar os descarregadores no interior da cuba, utilizando descarregadores de sobretensões imersos. Tal montagem permitiria um arrefecimento mais eficaz em resultado da circulação de óleo, além de tempos de vida maiores, pois o equipamento não estaria sujeito à poluição ambiental, acções externas de animais ou Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 70 de 87 vandalismo. Contudo o tamanho da cuba aumentaria, elevando-se o volume de óleo necessário, optando-se pela montagem tradicional dos descarregadores no exterior. Figuras 22 e 23 – Descarregadores de sobretensões imersíveis em óleo e de montagem no exterior 5.6. INCLUSÃO DOS ELEMENTOS DA PROTECÇÃO NO PRODUTO FINAL Os equipamentos previstos a incluir no transformador serão imersíveis no óleo, ou seja, têm de ser instalados no interior da cuba do transformador. Além disso o processo de fabrico prevê a fixação da parte activa do transformador (circuito magnético e bobinas) por meio de tirantes à tampa da cuba, sendo o conjunto colocado no seu interior e realizado o enchimento integral com óleo mineral. Afim de manter o mesmo processo construtivo está prevista a construção de uma nova tampa, com a forma de um paralelepípedo onde será fixado o MagneX® Interrupter, em relação aos fusíveis serão instalados numa plataforma fixada à travessa superior do circuito magnético. Figura 24 – Forma de fixação dos fusíveis de Back-up Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 71 de 87 O MagneX® não cumpre as distâncias de isolamento / seccionamento exigidas pela norma. Assim, é necessário prever um interruptor, colocando-se-nos duas alternativas: 1 – Instalar um interruptor / seccionador externo equivalente ao PT AS. 2 – Instalar um interruptor / seccionador interno. Para a segunda solução o interruptor a instalar será da Cooper Power Systems, desenhado especialmente para funcionar em banho de óleo, incluindo um dispositivo de mola pré-carregada que torna a velocidade de abertura e fecho independentes da velocidade de operação. A operação faz-se com uma vara a partir do solo. A instalação deste equipamento será na tampa especial para este transformador ao lado do equipamento para protecção de sobrecargas (MagneX®). O fabricante do MagneX® Interrupter encontra-se actualmente a testar a resistência do equipamento para as condições exigidas, quando este estiver disponível elimina-se a necessidade de utilizar outro interruptor. Figura 25 – Interruptor para utilização em banho de óleo As características eléctricas deste equipamento são as apresentadas a seguir. Tensão nominal (kV) 15 30 Corrente em regime contínuo (A) 400 300 Poder de fecho (kA) 12 12 Tensão de ensaio de choque (kV) 200 200 Tensão à frequência industrial (kV) 70 70 Número de operações (mínimo) 2000 2000 Tabela 7 – Características eléctricas do interruptor para utilização em banho de óleo Da análise das recomendações do fabricante para as distâncias de isolamento do MagneX® Interrupter e do interruptor e a aproximação às dimensões normalizadas da Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 72 de 87 cuba, uma vez que agora as dimensões da cuba são impostas pela tampa, resultaram as dimensões internas mínimas para a tampa de 750 x 430 x 450 mm (comprimento x largura x altura). Figura 26 – Distâncias de isolamento do MagneX® Interrupter Figura 27 – Distâncias de isolamento do interruptor para utilização em banho de óleo Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 73 de 87 O aspecto final do transformador autoprotegido será o apresentado nas imagens seguintes. Figuras 28, 29 e 30 – Aspecto final do transformador autoprotegido 5.7. IMPLICAÇÕES NO CÁLCULO A única alteração ao cálculo está nas dimensões da cuba do transformador autoprotegido, que serão definidas pelas dimensões da tampa onde serão instalados os elementos do sistema de protecção. Sobretudo nas unidades de menor potência haverá um aumento das dimensões da cuba, bem como do volume de óleo utilizado. Em resultado desta construção a potência evacuável pela cuba será muito superior à necessária. O problema está na sobrepressão, pois com o aumento do volume do líquido dieléctrico, a elevação da temperatura do transformador em funcionamento, resultará numa variação de volume superior à de um transformador sem protecção. Este aumento de volume deve ser suportado pela deformação das alhetas, adoptando um volume igual ao produzido pela dilatação do óleo, sendo capaz de suportar os efeitos duma variação de temperatura sem que se produzam deformações permanentes na mesma. Com a diminuição de temperatura as alhetas devem recuperar o volume inicial. Uma vez que a altura da cuba não sofre alterações para conseguirmos manter a sobrepressão em valores inferiores aos máximos será necessário aumentar a profundidade das alhetas. Dos cálculos efectuados para as unidades projectadas Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 74 de 87 concluiu-se que seria possível a construção da cuba com três faces alhetadas, facilitando o processo de elevação e instalação num poste. Em relação à forma de suspensão nas unidades de menor potência poderá ser necessário abandonar a amarração do transformador ao poste através de um gancho. 5.8. COMPARAÇÃO DE CUSTOS O aumento do custo de produção do transformador autoprotegido resultará do custo fixo referente ao equipamento de protecção e de custos variáveis resultantes do crescimento da cuba, sendo necessário maior quantidade de aço e de óleo mineral. Nas unidades de baixa potência o incremento no custo em resultado do crescimento da cuba é bastante significativo, enquanto para as unidades de 160 e 250 kVA a subida de custo é resultado do equipamento de protecção e do aço e líquido dieléctrico necessário para a nova tampa, pois não se regista um crescimento significativo da cuba. Nos gráficos seguintes apresentada-se uma comparação relativa dos custos de um transformador de poste sem protecções com as unidades autoprotegidas. Transf. S/protec. vs TAP 3000,00 2500,00 2000,00 € 1500,00 1000,00 500,00 10 50 kV A 0k _ 10 k V 16 A _ V 0 k 10 V k 25 A _ V 0 k 10 VA k V _1 0k V 50 kV 10 A _ 0k 15 k V 16 A _ V 0 k 15 V k 25 A _ V 0 k 15 VA k V _1 5k V 50 kV 10 A _ 0k 30 V k 16 A _ V 0 k 30 k V 25 A _ V 0 k 30 VA k V _3 0k V 0,00 Transf. s/protec. TAP Figura 31 – Gráfico de comparação do custo de um transformador sem protecção com uma unidade autoprotegida Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 75 de 87 Sobrecusto do Transformador Autoprotegido 10 50 kV A_ 0kV 10k V 16 A_1 0k V A 0kV _1 25 0 0k V A kV _1 0k V 50 kV 10 A_1 5k 0kV V 16 A_1 0k 5 k V V 25 A_1 0kV 5k A_ V 15 kV 50 kV 10 A_3 0kV 0k V 16 A_3 0k 0kV V 25 A_3 0k 0 V A kV _3 0k V 140 130 120 110 100 90 80 (%) 70 60 50 40 30 20 10 0 Figura 32 – Sobrecusto de uma unidade autoprotegida relativamente a uma unidade sem protecção 5.9. ENSAIOS A fim de garantir que os transformadores tenham qualidade compatível com as condições de exploração a que irão ser submetidos, os mesmos devem ser sujeitos a ensaios. Os ensaios a efectuar recebem a seguinte classificação: Ensaios de tipo; Ensaios especiais; Ensaios de série. Entre os ensaios de tipo temos por exemplo ensaio de aquecimento e à onda de choque atmosférico. No que toca aos ensaios especiais temos a medida da resistência de curtocircuito, impedância homopolar, potência sonora e da tensão de curto-circuito, entre outros. No campo dos ensaios de série é efectuado por exemplo a medição da resistência dos enrolamentos, medição da impedância de curto-circuito e ensaios por tensão aplicada ou induzida. A inclusão de elementos que protejam o transformador resulta na necessidade de alteração da forma como são efectuados alguns ensaios e na definição de ensaios do equipamento de protecção. A EDF é a única a dispor de normalização na área dos Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 76 de 87 transformadores autoprotegidos (HN 52-S-24), como tal será esta a referência utilizada para definir tais ensaios. Em relação aos ensaios ao transformador no caso de um ensaio de comportamento ao curto-circuito não deve resultar na actuação da protecção, propondose a substituição dos fusíveis por falsos fusíveis com dimensão semelhante aos originais. No caso de ensaios de aquecimento em situação de sobrecarga ou de ligação e re-ligação a protecção não deve actuar, tal será conseguido através da correcta selecção dos calibres do equipamento de protecção. 5.9.1. CIRCUITO DE ENSAIO Segundo recomendações da norma o circuito de ensaio deve ter as seguintes características, com vista a criação das condições normais de funcionamento: Alimentação à tensão nominal ±7%; Potência CC vista dos terminais MT: 210 MVA ± 5%; Factor de potência da fonte (e da rede a montante): entre 0,07 e 0,15 em atraso; Ligação do neutro da rede MT à terra através de uma impedância limitadora da corrente de defeito homopolar a 1000A ± 5%. Quanto à regulação das protecções do circuito de ensaio deve ser idêntica à regulação das protecções da rede MT. 5.9.2. PREPARAÇÃO DO APARELHO O transformador a ensaiar deve estar nas seguintes condições: Regulador de tomadas na posição nominal. Neutro BT e terminal de ligação à terra ligados directamente à terra. Aparelho colocado sob uma superfície isolada, para que se possa medir a corrente cuba – terra. 5.9.3. GRANDEZAS A REGISTAR EM TODOS OS ENSAIOS As grandezas a registar em todos os ensaios são: 3 Correntes MT; 3 Tensões fase – terra MT; Corrente no neutro MT; Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 77 de 87 Corrente cuba – terra; Correntes BT; Tensões fase – neutro BT; Pressão interna (para os testes onde se prevê elevação da pressão). 5.9.4. DURAÇÃO DOS ENSAIOS E RESULTADOS A tensão deve ser aplicada enquanto circule corrente nas fases MT e pelo menos durante 15 minutos depois do corte das correntes nas fases MT. Relativamente aos resultados a obter devem ser os seguintes: 3 Correntes nas fases MT não devem exceder 4 kA (valor de crista) e devem ser interrompidas pelo dispositivo de protecção. Funcionamento da protecção não deve gerar sobretensões nas redes MT e BT que ultrapassem os valores máximos de isolamento. Durante a realização do ensaio (incluindo os 15 minutos seguintes à actuação da protecção e corte das correntes MT) não deve resultar incêndio, projecção de matéria, fuga de líquido dieléctrico ou gás, propagação de arco eléctrico do interior para o exterior da cuba. Verificar que o dispositivo de protecção reage correctamente segundo o princípio descrito no seu dossier de identificação. 5.9.5. ENSAIO DA PROTECÇÃO INTEGRADA Os ensaios da protecção integrada serão os seguintes: Curto-circuito entre espiras da baixa tensão; Aparelho com fuga de óleo; Sobrecarga monofásica na baixa tensão; Curto-circuito trifásico na entrada dos enrolamentos de média tensão. Apresentam-se nos próximos pontos o objectivo de cada um destes ensaios, bem como a forma de realização. 5.9.5.1. CURTO-CIRCUITO ENTRE ESPIRAS BT Objectivo: o objectivo do ensaio é de criar uma elevação de pressão rápida, com uma corrente MT inicial reduzida. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 78 de 87 Preparação: Um aparelho com 2 a 4 espiras curto circuitadas num dos enrolamentos. A secção para passagem da corrente de curto-circuito entre duas espiras consecutivas deve ser suficiente para evitar a sua fusão e isolamento do CC durante o ensaio. Prescrições particulares: Durante o ensaio o aparelho deve alimentar uma carga trifásica indutiva correspondente à sua potência nominal. 5.9.5.2. APARELHO COM FUGA DE ÓLEO Objectivo: verificar que em caso de fuga de óleo, alimentando o aparelho uma carga correspondente à potência nominal, não é provocado um defeito que resulte em explosão ou incêndio. Como não se prevê que seja incorporado no produto um detector de fugas de óleo a condução do ensaio é a seguinte. Preparação: Antes do ensaio retirar do aparelho óleo (bombagem) até descobrir 50% da altura dos enrolamentos. Fechar o orifício de enchimento. Prescrições particulares: Durante o ensaio o aparelho deve alimentar uma carga trifásica indutiva correspondente à sua potência nominal. 5.9.5.3. SOBRECARGA MONOFÁSICA NA BT Objectivo: criar uma elevação de temperatura que provoque o aquecimento dos enrolamentos, com as correntes iniciais insuficientes para fazer funcionar imediatamente o dispositivo de protecção. Prescrições particulares: Uma carga indutiva é ligada entre uma fase e neutro na baixa tensão. A corrente de circulação inicial na BT é igual a 3 vezes a corrente nominal BT do transformador. Durante o ensaio devem ser registadas as três tensões simples BT. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 79 de 87 5.9.5.4. CURTO-CIRCUITO TRIFÁSICO NA ENTRADA DOS ENROLAMENTOS MT Objectivo: Verificar o bom comportamento mecânico e térmico das ligações entre as travessias MT e o dispositivo de protecção. Verificar a capacidade de corte em caso de circulação de corrente de defeito máxima. Prescrições particulares: Este ensaio pode ser efectuado sobre uma maqueta, desde que seja a reprodução parcial do aparelho: travessias MT, entrada dos enrolamentos MT e massas vizinhas. O local do curto-circuito trifásico franco será entre o equipamento de protecção e a entrada dos enrolamentos MT. Se o equipamento não dispõe de detector de fuga de óleo o seu nível deve ser reduzido até à parte superior dos enrolamentos (operação realizada com bombagem através do orifício de enchimento) imediatamente antes do ensaio. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 80 de 87 6. CONCLUSÕES Nas redes de distribuição radiais, em particular nas redes rurais equipadas com postos de transformação aéreos (tipo PT AS e PT AI), a protecção dos transformadores é comum aos vários ramos e está localizada na subestação a montante do conjunto de PT’s, esta configuração da rede resulta numa reduzida qualidade de serviço: em situação de defeito num dos ramos, a protecção a montante dispara, desligando todos os ramos que estão pendurados na mesma protecção. Nesta situação, o procedimento passa por localizar o defeito (tarefa visual nem sempre fácil), seccionar e isolar o PT em causa, e repor o serviço (aos restantes consumidores) na subestação a montante. A alternativa está na implementação de transformadores autoprotegidos que se desliguem localmente da rede em situação de defeito, sem afectar a qualidade de serviço nos ramos vizinhos. Tal funcionamento resultará na redução de tempos de detecção de avaria, número de clientes afectados, bem como dos tempos de reposição de serviço, aumentando a qualidade de serviço. A principal dificuldade do projecto em questão residiu no pouco equipamento disponível para proteger um transformador do tipo poste, pois regra geral um fabricante desenvolve o seu próprio mecanismo de protecção, não disponibilizando os componentes utilizados. No entanto o equipamento a empregar cumpre a função de protecção, permitindo uma utilização da máquina até ao limite das suas capacidades. A protecção contra sobrecargas instalada funciona não só com base na corrente mas também na temperatura do líquido dieléctrico, permitindo maiores sobrecargas com temperatura ambiente mais baixa, situação em que o consumo aumenta, em resultado da utilização de sistemas de aquecimento. Certas sobrecargas monofásicas temporárias não resultam na interrupção do serviço, pois a elevação de temperatura não resulta da actuação imediata da protecção ao contrário de um elemento fusível, cujo funcionamento é baseado na intensidade de corrente. O MagneX® Interrupter tendo o seu funcionamento baseado num sensor magneto-térmico não necessita de ajustes após a instalação do equipamento, além de que sendo colocado no interior da cuba no banho de óleo não é afectado pela poluição ambiental. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 81 de 87 Em caso de interrupção de serviço a recuperação do mesmo é exequível através do seu rearme, sem necessidade de substituição de elementos fusíveis. A inclusão do equipamento de protecção em nada altera as características eléctricas da unidade transformadora, sendo a substituição de transformador sem protecção por um com protecção efectuada facilmente. Numa primeira fase será necessário utilizar um interruptor auxiliar em resultado das exigências das tensões de isolamento do distribuidor público, no entanto a breve prazo poderá ser retirado, em resultado dos testes a que o equipamento está a ser submetido pelo fabricante. Pese embora a necessidade de se compararem os custos globais de instalação (investimento inicial), a redução do custo global de exploração parece ser um dado adquirido. Esta configuração permite: eliminar o disjuntor BT (actualmente em desuso); eliminar fusíveis MT externos (quando existem localmente) e respectivas ligações; proteger o transformador contra sobrecargas e curto-circuitos na baixa tensão; programar a protecção de acordo com a sobrecarga admissível do transformador; proteger o transformador contra defeitos internos; reduzir o tempo de reposição de serviço em caso de actuação da protecção; reduzir custos com falha de serviço. Por tudo o que foi exposto neste relatório, conclui-se que os objectivos inicialmente propostos foram alcançados. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 82 de 87 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] – Manual de Cálculo de Transformadores de Distribuição Imersos em Óleo da EFACEC DT; [2] – Distribuição de Energia I / A. Almeida do Vale; António Machado e Moura / FEUP – DEEC 1986; [3] – Protection of MV/LV substation transformers / Didier Fulchiron / Cahier Technique Schneider 1998; [4] – Transformer & System Protection With Chance SloFast Fuse Links / Hubbell Power Systems, Inc.; [5] – Merlin Gerin Medium Voltage Fuses from 3,6 up to 36 kV / Schneider Electric; [6] – Three Phase MagneX®: An Alternative to Convencional Distribution Transformer Protection / Eugene Knabe; Antonio M. Vázquez Villot; Nick Vassiliou / CIRED – 17th Conference on Electricity Distribution – 2003; [7] – Basic MagneX® Interrupter Operation / Cooper Power Systems; [8] – Two and Three Phase MagneX® Interrupter / Cooper Power Systems; [9] – Two and Three Phase MagneX® Interrupter Installation Instructions / Cooper Power Systems; [10] – ELSP Current – Limiting Back-up Fuse / Cooper Power Systems; [11] – VariSTAR® Type AZU Heavy-duty Distribution Class Under-oil MOV Arrester / Cooper Power Systems; [12] – Two Position Sidewall (Horizontal) Mounted Loadbreak Switches / Cooper Power Systems. Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 83 de 87 LISTA DE SÍMBOLOS UAT,i – tensão composta no enrolamento AT na posição de regulação i (V) UAT,0 – tensão nominal composta no enrolamento AT (V) i – posição de regulação R – escalão de regulação da tensão AT , em percentagem da tensão nominal UFaseAT,i– tensão na fase na AT para a posição de regulação i (V) UFaseBT – tensão na fase para a BT (V) S – potência aparente nominal do transformador (kVA) IlinhaAT,i – corrente na linha na AT na posição de regulação i (A) IlinhaBT – corrente na linha na BT IAT,i – corrente nas fases AT na posição de regulação i (A) IBT,i – corrente nas fases BT (A) cc – diâmetro circulo circunscrito (mm) LaxBT – altura axial do enrolamento BT (mm) LaxAT – altura axial do enrolamento AT (mm) SN – secção do núcleo (mm2) SC – secção da culassa (mm2) FE – distância Ferro – BT (mm) VS – tensão por espira (mm) BN – indução nominal do núcleo (T) BC – indução nominal da culassa (T) NBT – número de espiras do enrolamento BT NAT – número de espiras do enrolamento AT aBT – altura axial do condutor do enrolamento BT sem isolamento (mm) bBT – espessura do condutor do enrolamento BT sem isolamento (mm) iBT – espessura do isolamento do condutor BT (mm) l – enchimentos a realizar em enrolamentos BT em barra de cobre (mm) ncBT – número de camadas no enrolamento BT ncAT – número de camadas no enrolamento AT NsBT – número de espiras por camada no enrolamento BT NsAT – número de espiras por camada no enrolamento AT EaxBT – altura axial da espira do enrolamento BT (mm) ErBT – altura radial da espira do enrolamento BT (mm) Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 84 de 87 EaxAT – altura axial da espira do enrolamento AT (mm) ErAT – altura radial da espira do enrolamento AT (mm) BT – secção do condutor do enrolamento BT (mm2) BT – secção do condutor do enrolamento AT (mm2) BT – densidade de corrente no enrolamento BT (A/mm2) AT – densidade de corrente no enrolamento AT (A/mm2) ecBT – isolamento entre camadas na BT (mm) M(i) – densidade média de correntes dos enrolamentos (A/mm2) dnAT – diâmetro da alma condutora do fio de cobre (mm) diAT – diâmetro da alma condutora mais isolamento do fio de cobre (mm) SBT – altura radial do enrolamento BT sem canais de ventilação (mm) SAT – altura radial do enrolamento AT sem canais de ventilação (mm) cBT,j – espessura do canal de ventilação de ordem j do enrolamento BT (mm) cAT,j – espessura do canal de ventilação de ordem j do enrolamento AT (mm) AT/BT – espaço entre o enrolamento AT e o enrolamento BT (mm) RBT – altura radial total do enrolamento BT (mm) RAT – altura radial total do enrolamento AT (mm) LgBT – altura geométrica do enrolamento BT (mm) LgAT – altura geométrica do enrolamento AT (mm) dBT – calagem do enrolamento BT (mm) dAT – calagem do enrolamento BT (mm) gi – distância de extremidade inferior (mm) gs – distância de extremidade superior (mm) Fl – folga (mm) Ln – comprimento do núcleo do circuito magnético (mm) i_BT – diâmetro interno do enrolamento BT (mm) e_BT – diâmetro externo do enrolamento BT (mm) m_BT – diâmetro médio do enrolamento BT (mm) i_BT – diâmetro interno do enrolamento AT (mm) e_BT – diâmetro externo do enrolamento AT (mm) m_BT – diâmetro médio do enrolamento AT (mm) Li_BT – comprimento da espira interna do enrolamento BT (mm) Le_BT – comprimento da espira externa do enrolamento BT (mm) Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 85 de 87 Lm_BT – comprimento da espira média do enrolamento BT (mm) Li_AT – comprimento da espira interna do enrolamento AT (mm) Le_AT – comprimento da espira externa do enrolamento AT (mm) Lm_AT – comprimento da espira média do enrolamento AT (mm) C – distância entre fases (mm) dee – distância entre eixos de colunas (mm) lJ – largura da janela (mm) LNUC – largura da chapa mais larga do núcleo (mm) LC – largura da chapa mais larga da culassa (mm) LCUL – comprimento da culassa (mm) N– massa de ferro dos núcleos (kg) C– massa de ferro das culassas (kg) CM – Fe massa de ferro do circuito magnético (kg) – massa volúmica do ferro (kg/mm3) LPN – comprimento perturbado do núcleo (mm) LPC – comprimento perturbado da culassa (mm) WKGN – perdas específicas no núcleo (W/kg) WKGC – perdas específicas na culassa (W/kg) BT – massa total de cobre no enrolamento BT (kg) AT – massa total de cobre no enrolamento AT (kg) enr – massa total de cobre nos enrolamentos (kg) Gr – gradiente de temperatura no enrolamento (ºC) PJ_BT – perdas Joule no enrolamento BT (W) PJ_AT,i – perdas Joule no enrolamento AT na tomada de ordem i (W) PLig – perdas Joule nas ligações (W) PSUP – perdas suplementares nos enrolamentos (W) Ucc – tensão de curto-circuito (%) eX – componente reactiva da tensão de curto-circuito (%) eR – componente resistiva da tensão de curto-circuito (%) Pev – perdas a evacuar pela cuba (W) Pcuba – potência evacuável pela cuba (W) h – aquecimento do óleo superior (ºC) c – aquecimento do cobre médio (ºC) Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 86 de 87 V – variação do volume do líquido (l) V – volume do líquido a 20 ºC (l) Ta – temperatura ambiente máxima (ºC) T – aquecimento médio do líquido em regime nominal (ºC) – coeficiente de dilatação do líquido (l/ºC) p – sobrepressão (kg/cm2) E – módulo de elasticidade do aço da chapa (kg/mm2) I – momento de inércia por unidade de altura (mm3) N – número de alhetas da cuba; i – altura da alheta (mm) j – profundidade da alheta (mm) LpA – nível médio de pressão acústica (dBA) LwA – nível médio de pressão acústica emitida pelo transformador (dBA) Projecto de um Transformador de Poste Autoprotegido Página 87 de 87