Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – FAMERP Departamento de Doenças Dermatológicas, Infecciosas e Parasitárias Disciplina de Doenças Infecciosas e Parasitárias 4ª série médica 2010 MBA, 16 anos, branco, masculino, natural e procedente de São José do Rio Preto. QD – Febre e cefaléia há 3 dias. HPMA – A mãe refere que o paciente sempre teve boa saúde, quando há 3 dias começou com febre, já desde o início alta (39º C), acompanhada de cefaléia holocraneana de forte intensidade, fotofobia, náuseas, vômitos e muita dor no corpo. Fez uso de antitérmicos comuns com melhora dos sintomas, porém, logo retornando com a mesma intensidade. Há 1 dia, o paciente permanece somente acamado, reclamando do intenso mal estar geral, da cefaléia e com vômitos importantes, principalmente ao ingerir qualquer tipo de alimento. A mãe refere também, aparecimento de pequenas “manchinhas” no corpo e membros inferiores, avermelhada, sem prurido. Com esse quadro procurou o HB. HSF - Reside zona urbana. Pais e dois irmãos menores com boa saúde. Refere que tem “mosquito da dengue” na sua casa e vizinhança. I.C. – Nega outros sintomas. HPP – Apendicectomizado há 2 anos Catapora há 6 anos. Dengue há 3 anos. (junto com toda a família) EF – REG, anictérico, taquipneico, corado, febril, desidratado ++/4+, consciente e orientado. PA: 90 x 60 P: 100 T: 38,7º C R: 20 Cabeça e Pescoço: hiperemia toda orofaringe. Presença de algumas lesões petequiais no palato. Pulmões: limpos Precordio: RDR, sem sopros, FC: 100 Abdome: sem visceromegalias Extremidades: sem edema. Sistema nervoso: Rigidez nuca (?) Kernig Brudzinski ausente. Pele: presença de lesões tipo purpúrico-petequial principalmente MsIs e algumas no abdome. Discussão HMG: 4.800.000 39 % 13,1 g 17.200 (11.68.1.0.15.5) 214.000 Lo: Aspecto: Turvo Células: 1.700 Leucocitos (92 % neutrófilos) Glicose: 2 mg Proteína: 116 mg Bacterioscopia: cocos G-, reniformes (≡ meningococo) Diagnóstico e tratamento da M.B.A. O mais rápido possível Tempo: porta → 1ª dose ATB: ≤ 3 horas Baseado: clínica e L.C.R. (Obs: Excluído meningite hospitalar, crônica e por T.B.) Fonte: Medline, Embase e Cochrane (inglês) M.B.A.: - Emergência neurológica - Emergência infecciosa - Emergência antibiótica - “Tempo é cérebro” Incidência: - 2 – 5 pessoas / 100.000 hab. / ano: mundo ocidental - 10 vezes mais alto: países em desenvolvimento M.B.A. → Entre 10 causas de morte / relacionadas com infecção 30 – 50% sobreviventes → sequela neurológica Agente etiológico: presumível - Idade do paciente - Fatores predisponentes - Doença de base - Competência imunológica A) Eventos precoces Fase 1 Fase 2 Fase 3 Liberação das citocinas pró-inflamatórias da invasão bacteriana e consequente inflamação do espaço sub-aracnoideo Encefalopatia subpiamater pelas citocinas e outros mediadores químicos Quebra barreira hematoencefálica, migração transendotelial dos leucócitos e desenvolvimento do edema Clínica: meningismo Clínica: febre e cefaléia estupor hipoglicorraquia Clínica: queda nível consciência , elevação pressão LCR, aumento proteína LCR, sintomas focais B) Eventos intermediários - Diminuição fluxo sanguíneo cerebral - Aumento pressão - Vasculite Clínica: Obnubilação Convulsões Sinais e sintomas neurológicos focais (Ex: paralisia nervos cranianos) C) Eventos tardios - Lesão neuronal Clínica: Paralisias Coma Possibilidade morte Suspeita clínica → depende reconhecimento precoce da síndrome meningitica Estudo clínico → sensibilidade tríade clássica (febre, rigidez nuca, alteração estado mental) Foi baixa Porém: maioria tinha, no mínimo, 2 dos sintomas: 1) Febre 2) Rigidez nuca 3) Cefaléia 4) Alteração estado mental * New England Journal 2004; 351:1849-1859 Alteração estado mental Variou: sonolência, confusão, estupor e coma. Crianças: Irritabilidade Recusa alimentar Vômitos e Convulsão Sintomas mais precoces * New England Journal 2004; 351:1849-1859 “Dengue” Outras meningites / meningo encefalites infecciosas (Viral, TB, Fúngica, Leptospira, Protozoários) Encefalite viral Abscesso cerebral Abscesso epidural na medula cervical Infecção parameníngea subdural) Meningite asséptica (LES, Behcet, Sarcoidose) Meningite química subaracnoidea) (Osteomielite (Terapia craniana, intratecal, Empiema Hemorragia L.C.R. por punção lombar Indispensável: Contraindicado somente por segurança clínica Maioria: Tratamento após L.C.R. Uso ATB antes L.C.R. - Suspeita clínica M.B.A. - Paciente necessita de transporte para unidade secundária Estudo: 119 pacientes com M.B.A. Tempo entre: clínica → 1ª dose ATB > 6 horas: risco morte foi 8,4 vezes maior Ausência tríade clássica M.B.A. e atraso entre diagnóstico – tratamento Fatores associados Aumento tempo: porta → ATB * QJM 2005;98:291-298 Apesar falta estudos controlados Tempo além 3 – 6 horas introdução ATB Aumento significativo mortalidade A) Absoluta - Sinais de ↑ pressão intracraniana (Papiledema, Postura de descerebração) - Infecção pele - Evidência hidrocefalia obstrutiva, edema cerebral, ou herniação (nos exames imagem: C.T. ou RNM) B) Relativa: (Terapia e / ou investigação dever ser realizada antes da punção lombar) - Sepse ou hipotensão (PS < 100 mmHg ou PD < 60 mmHg) - Distúrbio coagulação (CIVD, plaquetas < 50.000, terapia anticoagulante) - Presença déficit neurológico focal - Gasglow ≤ 8 - Convulsões 1) 2) 3) 4) C.T. Normal → não indica ausência de risco M.B.A. → Hemoculturas antes ATB Suspeita de pneumo ou hemófilo → Dexametasona antes da ATB Uso ATB empírico: avaliar - Idade do paciente - Sintomas sistêmicos - Padrão local de resistência ATB Linha do Tempo: MBA Minuto zero Caso suspeito MBA (febre, cefaléia, meningismo) Sim 30 minutos Tem acometimento de pele? “RASH” Suspeita: meningococcemia iniciar rapidamente ATB após colher hemoculturas Não Transferir para unidade de saúde secundária mais próxima 60 minutos Admissão hospitalar Avaliar: choque, Gasglow, sinais focais Imediatamente: acesso venoso, hemoculturas, etc 90 minutos Sim Punção lombar é clinicamente seguro? Não Sim Não Sim 120 minutos T.C. pode ser realizada rapidamente? Ver imagem e realizar punção? Não Não Não Sim 1. Iniciar ATB empírico 2. Dexa se déficit focal 3. Associar acyclovir se suspeita de encefalite H.S. Segurança punção confirmada por neurologista? Sim 1. Encaminhar LCR laboratório 2. Iniciar ATB empírico 3. Adicionar Dexa se déficit focal Estabilizar paciente Realizar imagem 3 – 12 horas 12 – 24 horas 24 – 48 horas Sim Continua tratamento Colher LCR se for seguro Rever resultados Confirmar escolha ATB corticoide? Resposta satisfatória à terapia? Não Reavaliar clínica Imagem e laboratório 1) ATB empírico: Peni ou Cefalo III (Ceftriaxona ou Cefotaxina) 2) Alergia β-lactâmicos: Vanco (pneumococo) Cloranfenicol (meningococo) 3) Suspeita Listeria: Velhos, imunossupremidos, sinais tromboencefalite Associar: Ampicilina + Ceftriaxona 4) Dexametasona: Terapia adjuvante 5) M.B.A. → emergência médica → UTI 6) 48 horas após ATB → LCR: estéril 7) Estudos prospectivos → eficácia semelhante Cefalo III ↔ meropenen 8) Duração terapia: - MBA inespecífica: 10 – 14 dias - Pneumocócica : 10 – 14 dias - Meningocócica : 7 dias - Hemófilo : 7 – 14 dias - Listeria : 21 dias - Gram-negativo : 21 – 28 dias Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – FAMERP Departamento de Doenças Dermatológicas, Infecciosas e Parasitárias Disciplina de Doenças Infecciosas e Parasitárias 4ª série médica 2010 ATM, 38 anos, branco, masculino, natural de Cedral e procedente de São José do Rio Preto. Q.D.: Cefaléia há 25 dias. HPMA: Paciente refere há ± 25 dias, cefaléia de média intensidade, holocraneana, acompanhada de fotofobia e sensação de tontura e náusea. Fez uso de analgésicos com melhora parcial do quadro. Há 10 dias, notou piora da cefaléia, pouco responsiva aos analgésicos. Procurou UBS, onde foi feito diagnóstico de sinusite e foi prescrito Amoxacilina associado com descongestionante e inalação, que após 7 dias, não apresentou nenhuma melhora Há 2 dias, a família notou períodos em que o paciente fica desorientado, falando frases sem nexo, e há 1 dia muito sonolento. Durante todo HPMA, refere febre esporádica, geralmente vespertina, nunca ultrapassando 38°C. HPP: Paciente diabético (desde 14 anos de idade), insulino dependente, já tendo apresentado várias pneumonias e há 1 ano osteomielite do halux D, tendo sido amputado. Em tratamento de “doença dos rins” com nefrologista (desconhece o nome dos remédios – há 2 meses sem usá-los). Casado, esposa e 2 filhos com boa saúde. É relojoeiro e nega viagens recentes. E.F.: REG, emagrecido, orientado, sonolento, pouco comunicativo, descorado +/4+. 110 x 70 92 37,4°C 20 Cabeça e pescoço sem alterações. Pulmões limpos. Precordio com RDR, sem sopros. Abdome sem visceromegalias. Extremidades: pulsos finos e presente. SN: rigidez nuca (?) Keinig e Brudzinski – ausentes Discussão LCR Aspecto: turvo Células: 96 (90 % linfomonocitarias) Glicose: 33 m (Glicemia: 218 mg) Proteína: 90 mg Tinta China: + presença 218 criptococos com 43 % gemulação Bacterioscopia: negativa