ECUMENISMO
E
DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO
CARLOS CUNHA
JULHO | 2014
PARTE I
ECUMENISMO
Perguntas fundamentais:
1. O que é ecumenismo? (essência)
2. Por que falar sobre ecumenismo? (causa)
3. Para que “serve” o ecumenismo? (finalidade)
Outras perguntas...
PARTE I
ECUMENISMO
conceitos e propostas
Etimologia:
οἰκουμένη – “oikoumene” – “todo o mundo habitado”
•
•
Do grego clássico
Relacionado à morada
A raiz original é “oikos” – casa, lugar habitável etc.
Relação com “oikodomeo” (v) – ação de construção da
“oikia” (espaço comunitário)
PARTE I
ECUMENISMO
conceitos e propostas
MUNDO GREGO
 Povo civilizado de cultura aberta
PARTE I
ECUMENISMO
conceitos e propostas
MUNDO ROMANO
 Conotação política, conquista.
PARTE I
ECUMENISMO
conceitos e propostas
MUNDO CRISTÃO
 Tarefa missionária, mundo habitado por Deus.
 Século XVIII
 William Carey propôs a cooperação entre os
cristãos para fazer frente à evangelização de
um mundo cada vez maior a ser cristianizado.
PARTE I
ECUMENISMO
conceitos e propostas
MUNDO CRISTÃO
 Contexto de intolerância e intransigência
entre os cristãos (escândalo).
 Século XVIII
 Joerg W. Leibniz - A forma cruel de
defender o Evangelho acabava por negá-lo.
 “Ecumênico” indica o caráter de
universalidade do cristianismo.
SIMBOLOGIA
PARTE I
ECUMENISMO
conceitos e propostas
Princípio ecumênico é maior do que o ecumenismo
Conceito RELACIONAL e DINÂMICO, que envolve uma
RESPONSABILIDADE COMUM, para além da comunhão entre os
cristãos, e que abraça TODA a comunidade humana.
Princípio bíblico-teológico da UNIDADE da criação de Deus (Gn 2,18)
que envolve ACEITAÇÃO, RESPEITO, DIÁLOGO,
RESPONSABILIDADE entre o humano e a criação (Dt 10,19).
Superação das divisões em nome da fidelidade à UNIDADE amorosa
entre o PAI, o FILHO e o ESPÍRITO SANTO (Jo 17,21).
PARTE I
ECUMENISMO
conceitos e propostas
A definição nunca é uma linguagem vazia ou conceito puro.
É uma construção interpretativa.
Quem define “ecumenismo”?
Por que define?
A partir de qual lugar socioepistêmico?
PARTE I
ECUMENISMO
conceitos e propostas
Ecumenismo envolve:
 Reconhecimento do “outro”
 Assumir uma postura dialógica
 Conhecer outras tradições, sem preconceito e sem
ingenuidade
 Engajar-se em prol do Reino de Deus
 Orar pela unidade
 Buscar a verdade, a justiça e a paz juntos
PARTE I
ECUMENISMO
conceitos e propostas
Ecumenismo não envolve:
 Criar uma só Igreja
 Perder a pertença religiosa para viver em paz com todos
 Pensar que todas as Igrejas são iguais
 Fazer prosélitos
 Relacionar-se sem senso crítico
PARTE I
ECUMENISMO
conceitos e propostas
“Ecumenismo é muito mais que unidade dos cristãos ou diálogo
com judeus e muçulmanos! O ecumenismo é a pergunta por um
outro mundo possível. O ecumenismo é atitude, postura política
diante do mundo todo habitado. Por isso, o ecumenismo é
rechaçado e indesejado nas igrejas cristãs que não aceitam abrir
mão de seu lugar de poder na formulação civilizatória
hegemônica”.
Nancy Cardoso Pereira
PARTE I
ECUMENISMO
vias de encontro
Ética e moral – seguimento de
Jesus
Oração – espiritualidade
Evangelização – missão
Teologia – Bíblia, tradição e
sistematização
PARTE I
ECUMENISMO
história do movimento ecumênico
 Ecumenismo
protestante.
está
ligado
historicamente
à
experiência
 Missionários (liberalismo teológico) experimentaram o
cotidiano de uma nova realidade sociopolítica, econômica e
cultural.
 Consciência diante do “escândalo da divisão dos cristãos”.
 Esforço por proclamar a necessidade da paz e unidade entre as
confissões cristãs.
PARTE I
ECUMENISMO
história do movimento ecumênico
Movimentos do século XIX
1. Surgimento das Sociedades Bíblicas (Londres) – ação
missionária e distribuição de Bíblias.
2. Criação da Aliança Evangélica Mundial na Europa –
cooperação missionária.
3. Articulações de juventude para ações comuns – Associação
Cristã de Moços etc.
4. Movimentos em prol da unidade em torno da educação cristã –
União das Escolas Dominicais etc.
PARTE I
ECUMENISMO
história do movimento ecumênico
Conferência Missionária Mundial de Edimburgo
(1910)
 Conferência paradigmática – marco da consolidação do movimento.
 Com 1400 delegados da Europa e América do Norte.
 Sem a presença da América Latina (cristianizado) – Congresso
Missionário do Panamá (1916).
 Temas: “Promoção da paz” e “Responsabilidade social”
 Estímulos: missão cristã, desafios contemporâneos e unidade visível
dos cristãos.
 Passo importante para o diálogo inter-religioso.
PARTE I
ECUMENISMO
história do movimento ecumênico
Evangelho Social




Surge nos EUA.
Resposta à crise urbana após a Guerra de Secessão.
Filho do liberalismo teológico.
Oposição ao modelo tradicional – separação entre igreja e mundo,
tendências dualistas, pregação “espiritualizada” e proselitismo.
 Despertar entre os cristãos uma releitura dos desafios dos
Evangelhos.
 Teólogo e pastor batista Walter Rauschenbusch – reflexão teológica
que respondesse à situação dos pobres e explorados no grandes
centros urbanos estadunidenses
PARTE I
ECUMENISMO
história do movimento ecumênico
Evangelho Social
Desafios:
1.
2.
3.
4.
A implantação do Reino de Deus na Terra
Sociedade redimida
Transformação da sociedade por meio da ação cristã
Releitura dos Evangelhos e do ministério de Jesus Cristo
PARTE I
ECUMENISMO
história do movimento ecumênico
CMI
CONSELHO MUNDIAL DE IGREJAS
 Início – comitê, em 1937 com 7 membros
 Fundação interrompida pela 2ª Guerra (1939-45)
 Fundação em 1948, em Amsterdã, com 351
representantes de 147 igrejas de 44 países
 É o maior e mais representativo órgão do
movimento ecumênico moderno
 Sede em Genebra – 345 igrejas, representam 560
milhões de fiéis de mais de 110 países
PARTE I
ECUMENISMO
história do movimento ecumênico
Identidade do CMI
“O conselho Mundial de Igrejas é uma comunidade de igrejas que
confessam a Jesus Cristo como Deus e Salvador, segundo o
testemunho das Escrituras, e procuram responder juntas à sua
vocação comum, para a glória do Deus único, Pai, Filho e
Espírito Santo”.
PARTE I
ECUMENISMO
história do movimento ecumênico
Objetivos do CMI
1.
2.
3.
4.
5.
Criar facilidades para a ação comum das Igrejas;
Promover o estudo comum;
Desenvolver a consciência ecumênica dos fiéis;
Estabelecer relações com movimentos ecumênicos;
Convocar, quando necessário, conferências mundiais para
expressar as suas próprias conclusões;
6. Sustentar as igrejas em seus esforços de evangelização.
PARTE I
ECUMENISMO
história do movimento ecumênico
ASSEMBLEIAS DO CMI
Ano
Local
Tema
Igrejas
1ª
1948
Holanda
A desordem do Homem e o desígnio de Deus
147
2ª
1954
EUA
Cristo, a esperança do mundo
161
3ª
1961
Índia
Jesus Cristo, a luz do mundo
197
4ª
1968
Suécia
Eis que faço novas todas as coisas
235
5ª
1975
Kenia
Jesus Cristo liberta e une
285
6ª
1983
Canadá
Jesus Cristo, a vida no mundo
301
7ª
1991
Austrália
Venha, Espírito Santo, renove toda a criação
317
8ª
1998
Zimbabue
Volte-se para Deus, alegrai-vos na esperança
339
9ª
2006
Brasil
Deus em sua graça, transforma o mundo
348
10ª
2013
Coreia do Sul
Deus da vida, guia-nos à justiça e à paz
349
PARTE I
ECUMENISMO
história do movimento ecumênico
E a Igreja Católica Romana?
 A Igreja Católica se manteve distante por anos.
 Código de Direito Canônico, de 1917, continha um cânon (n.
1325) que proibia
“os católicos de manter disputas ou encontros, especialmente
públicos, com não-católicos, a não ser com permissão da sé
apostólica ou, em casos urgentes, do ordinário do ‘lugar’”.
 A Encíclica Mortalium Animos (1927), do Papa Pio XI,
confirma a consistência teológica da lei canônica.
PARTE I
ECUMENISMO
história do movimento ecumênico
E a Igreja Católica Romana?
 Em 1948, o Vaticano proíbe a participação de católicos no CMI.
 Mesmo com a resistência, teólogos católicos foram ecumênicos
– p.ex. o dominicano francês Yves Congar.
 A situação muda a partir com o Concílio Vaticano II (1962-65).
 Secretariado para a Promoção da Unidade dos Cristãos (1960).
 Publicação do Decreto sobre Ecumenismo Unitatis Reintegratio
(1965).
 A ICAR não é membro do CMI, mas observadora.
PARTE I
ECUMENISMO
movimento ecumênico no Brasil
 Tensões provocadas
anticatolicismo.
pelo
divisionismo/denominacionalismo
e
 A teologia liberal foi obstruída no Brasil por grupos antiintelectualistas e contrários a qualquer leitura crítica da Bíblia.
 1950 a teologia liberal ganha espaço nos seminários teológicos –
Seminário Presbiteriano de Campinas.
 Movimento Igreja e Sociedade na América Latina (ISAL) – bases
bíblico-teológicas da responsabilidade sociopolítica dos cristãos.
PARTE I
ECUMENISMO
movimento ecumênico no Brasil
 A gênese da Teologia da Libertação.
 Teólogos de destaque: Richard Shaull, José Miguez Bonino, Julio de
Santa Ana, Emilio Castro, Rubem Alves, Frederico Pagura etc.
 Associação dos Seminários Teológicos Evangélicos (ASTE), fundada
em 1961, com o objetivo de estabelecer o diálogo, a parceria e a
cooperação entre as instituições protestantes de educação teológica.
PARTE I
ECUMENISMO
movimento ecumênico no Brasil
Fundada em 1982, Porto Alegre (RS)
Sede em Brasília
“Associação de igrejas cristãs reunidas em
busca do serviço a Deus, à confissão de fé
comum e ao compromisso missionário,
visando aumentar a comunhão cristã e o
testemunho do Evangelho no Brasil”.
PARTE I
ECUMENISMO
movimento ecumênico no Brasil
Objetivos do CONIC
 Trabalhar pelo ecumenismo
 Aprofundamento teológico para a construção da unidade e
missão da igreja
 Posicionar-se em relação à realidade brasileira
 Promover a dignidade e os direitos da pessoa humana
 Promover ação comum entre igrejas
 Fortalecer o relacionamento com outras entidades semelhantes
PARTE I
ECUMENISMO
movimento ecumênico no Brasil
Igrejas do CONIC





Igreja Católica Romana
Igreja Católica Ortodoxa Siriana
Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil
Igreja Presbiteriana Unida
Igreja Episcopal Anglicana
 (Igreja Metodista): retirou-se por pressão pentecostal
 (Igreja Cristã Reformada): saiu também
PARTE I
ECUMENISMO
movimento ecumênico no Brasil
Outros organismos ecumênicos:
•
•
•
•
•
•
•
•
Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI)
Associação Evangélica Brasileira (AEvB)
Visão Nacional de Evangelização (VINDE)
Aliança Bíblica Universitária (ABU)
Fraternidade Teológica Latino-Americana (FTL)
Comunidades Eclesiais de Base (CEBs)
Coordenadoria Ecumênica de Serviços (CESE)
Jornadas Ecumênicas: KOINONIA Presença Ecumênica e Serviço,
Rede Ecumênica da Juventude (REJU)
• E outros.
Qual é o grande
desafio para o
movimento
ecumênico?
FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO
• Antiecumenismo evangélico
• Exclusivismo católico
• Antipentecostalismo evangélico e católico
PARTE II
DIÁLOGO
INTER-RELIGIOSO
Perguntas fundamentais:
1. O que é diálogo inter-religioso? (essência)
2. Por que falar sobre diálogo inter-religioso? (causa)
3. Para que
(finalidade)
“serve”
o
diálogo
Outras perguntas...
inter-religioso?
PARTE II
DIÁLOGO
INTER-RELIGIOSO
Etimologia
Diálogo = “dia” + “logos”
 “dia” expressa uma dupla ideia – alude ao que separa e
divide, mas igualmente à ultrapassagem de um limite
 “logos” indica um dinamismo racional do ser humano, a
capacidade humana de pensamento e raciocínio
“O conceito do diálogo apresentou-se como apropriado para definir o encontro e a convivência de
diversas comunhões religiosas na sociedade moderna... Todo teólogo cristão formado deveria poder
dizer com que outra religião ele se ocupou de modo intensivo. No entanto, é preciso estar ciente de
que a ciência da religião não capacita para o diálogo, porque ela apresenta as religiões de maneira
cientificamente objetiva, ela própria não é religiosa e não levanta a pergunta por Deus, não
capacitando, portanto, para as controvérsias na disputa das religiões. Da capacidade para o diálogo faz
parte também a dignidade para o diálogo. Digno de participar do diálogo é somente quem conquistou
uma posição firme na sua própria religião e vai para o diálogo com a autoconsciência correspondente.
Somente a domiciliação na sua própria religião capacita para o encontro com uma outra. Quem cai no
relativismo da sociedade multicultural pode até estar capacitado para o diálogo, mas não possui a
dignidade para o diálogo. Os representantes das outras religiões não querem conversar com
modernos relativizadores da religião, mas com cristãos, judeus, islamitas etc. convictos. O
“pluralismo” como tal não é uma religião e nem se constitui numa teoria particularmente útil para o
diálogo inter-religioso. Quem parte dessa divisa logo nada mais terá a dizer e ademais ninguém mais
lhe dará ouvidos... O diálogo só se torna sério quando se torna necessário. Ele torna-se necessário
quando surge um conflito que ameaça a vida, e cuja solução pacífica deve ser buscada conjuntamente
mediante o diálogo... O diálogo deve girar em torno da pergunta pela verdade, mesmo que não seja
possível chegar a um consenso em relação a ela. Pois o consenso não é o objetivo do diálogo. Se um
dos parceiros for convencido pelo outro, acaba o diálogo. Quando dois dizem a mesma coisa, um
deles está sobrando... O objetivo do diálogo inter-religioso não é uma religião unitária nem a
metamorfose e o acolhimento das religiões na oferta pluralista de prestação de serviços de uma
sociedade de consumo religioso, mas a ‘diversidade reconciliada’, a diferença suportada e
produtivamente conformada”.
(MOLTMANN, Jürgen. Experiências de reflexão teológica: caminhos e formas da teologia cristã. São
Leopoldo: Unisinos, p.28-29).
PARTE II
DIÁLOGO
INTER-RELIGIOSO
Etimologia
“Inter – religioso”
 Exprime posição intermediária.
 Exprime relação recíproca (há um lugar comum).
 Diferenças entre o “pluri”, “inter” e “trans”.
PARTE II
DIÁLOGO
INTER-RELIGIOSO
Também conhecido como...
 “Ecumenismo planetário” (M-D. Chenu)
 “Macroecumenismo” (Pedro Casaldáliga)
 “Ecumenismo mais ecumênico” (R. Panikkar)
PARTE II
DIÁLOGO
INTER-RELIGIOSO
CONCEITO
“Conjunto das relações inter-religiosas, positivas e
construtivas, com pessoas e comunidades de outras
confissões religiosas, para um mútuo conhecimento e um
recíproco enriquecimento”
PARTE II
DIÁLOGO
INTER-RELIGIOSO
Envolve...
1. Não é estar de acordo com o que ou quem se
compreende;
2. Exercício de deixar valer o outro;
3. Intercâmbio de dons;
4. Prontidão em se deixar transformar pelo encontro.
PARTE II
DIÁLOGO
INTER-RELIGIOSO
OBJETIVOS
Primeiro
“Instaurar uma comunicação e um relacionamento entre
fiéis de tradições religiosas diferentes, envolvendo partilha
de vida, experiência e conhecimento”
PARTE II
DIÁLOGO
INTER-RELIGIOSO
OBJETIVOS
Segundo
“Propiciar um clima de abertura, empatia, simpatia e
acolhimento, removendo preconceitos e suscitando
compreensão, enriquecimento e comprometimento mútuos
e partilha da experiência religiosa”
PARTE II
DIÁLOGO
INTER-RELIGIOSO
Diálogo inter-religioso é um lugar de tensão
“O pluralismo religioso provoca dissonâncias cognitivas,
causa ‘problemas’ na medida em que desestabiliza ‘as
autoevidências das ordens de sentido e de valor que
orientam as ações e sustentam a identidade”
PARTE II
DIÁLOGO
INTER-RELIGIOSO
PONTOS DE ENCONTRO DO DIÁLOGO
1. Convicção da unidade, igualdade e da dignidade de todos e
todas;
2. Inviolabilidade do indivíduo e de sua consciência;
3. O amor, a compaixão, o desprendimento e a veracidade são
maiores e mais nobres do que o ódio, a inimizade, o rancor
e o interesse próprio;
4. Responsabilidade para com os pobres e oprimidos;
5. Esperança do vencimento do bem.
PARTE II
DIÁLOGO
INTER-RELIGIOSO
Vias do diálogo
PARTE II
DIÁLOGO
INTER-RELIGIOSO
HISTÓRIA
 Fenômeno relativamente novo;
 Não há sinais explícitos sobre a questão antes de 1925;
 Traços de uma sensibilidade ao pluralismo religioso desde
o 3º século d.C.
 Tema que faz repensar tratados teológicos (Barth, Tillich,
Moltmann, Rahner, Geffré, Küng etc.);
 Pauta de conferências.
PARTE II
DIÁLOGO
INTER-RELIGIOSO
HISTÓRIA
Marco
referencial:
PARLAMENTO
MUNDIAL
DAS
RELIGIÕES
 Chicago (EUA), 1893
 18 dias de reunião entre várias tradições para mútuo
conhecimento e sinalização do lugar da religião no
desenvolvimento humano
 Presença de mais de 4 mil pessoas
 CMI, 1979, “Diretrizes para o diálogo com outras religiões e
ideologias de nosso tempo”
 ICAR – declaração conciliar Nostra Aetate – divisor de águas
PARTE II
DIÁLOGO
INTER-RELIGIOSO
A questão do PARADIGMA
1. Exclusivista (eclesiocêntrico) – Jesus Cristo e a Igreja como
caminhos necessários para a salvação: “Fora da Igreja não
há salvação”.
2. Inclusivista (cristocêntrico) – Apesar de admitir o valor das
outras religiões, elas se mostram como mediações de
salvação para os seus membros (“cristãos anônimos”). Jesus
Cristo é o único caminho. Há uma superioridade includente.
PARTE II
DIÁLOGO
INTER-RELIGIOSO
A questão do PARADIGMA
3. Pluralista (teocêntrico) – As outras religiões são legítimas e
autônomas no processo de salvação. Jesus é o caminho para
os cristãos, enquanto para os outros o caminho é a sua
própria tradição – “Realidade Última”.
4. Pluralismo inclunsivo (cristocentrismo teocêntrico) –
Articula o pluralismo e o inclusivismo no “pluralismo de
princípio”, isto é, a diversidade de religiões é sinal da
automanifestação do divino.
PARTE II
DIÁLOGO
INTER-RELIGIOSO
A questão do PARADIGMA
Paul Knitter propõe outra classificação:
1. Substituição – “somente uma religião verdadeira”;
2. Complementação – “o Uno dá completude ao vário”;
3. Mutualidade – “várias religiões verdadeiras convocadas ao
diálogo”;
4. Aceitação – “várias religiões verdadeiras”.
PARTE II
DIÁLOGO
INTER-RELIGIOSO
A questão do PARADIGMA
A crítica de Aloysius Pieris
Qual é o lugar da construção do paradigma do diálogo interreligioso?
Nos espações do conceito (hegemonia acadêmica) ou nos
espaços da vida (transformação social)?
PARTE II
DIÁLOGO
INTER-RELIGIOSO
A questão do PARADIGMA
Quadro problematizado
1. Diante do “outro”, Cristo e o cristianismo permanecem na
encruzilhada;
2. Diante dos processos de secularização;
3. Diante da crise doutrinal e arrumação sistemática;
4. Diante da ausência das vivências cotidianas e populares nas
construções teológicas.
PARTE II
DIÁLOGO
INTER-RELIGIOSO
A questão do PARADIGMA
Há dois caminhos
1. Discurso acadêmico hegemônico sobre o diálogo interreligioso, ao ter como ponto de partida as questões
doutrinárias/conceituais;
2. Nas vivências cotidianas, nas religiosidades populares, do
dia a dia concreto das pessoas.
PARTE II
DIÁLOGO
INTER-RELIGIOSO
Teologia de fronteira
 Paul Tillich (1886-1965) – teólogo da fronteira;
 A fronteira é cheia de possibilidades;
 “A fronteira é o melhor lugar para a aquisição de
conhecimento” – On the Boundary, p.13;
 Método da correlação – “teologia-que-dá-respostas” –
answering theology.
PARTE II
DIÁLOGO
INTER-RELIGIOSO
FINALIDADE






O Diálogo Inter-Religioso pressupõe:
A consciência da humildade
Abertura ao valor da alteridade
Fidelidade à própria tradição
Busca comum da verdade
Ecumene da compaixão
PARTE II
DIÁLOGO
INTER-RELIGIOSO
Encontros
e
Desencontros
PARTE II
DIÁLOGO
INTER-RELIGIOSO
A QUESTÃO CRISTOLÓGICA
Pergunta fundamental:
“Podemos manter tudo o que confessa de Jesus Cristo a
fé cristã sem com isso incorrer numa atitude de
superioridade e impossibilitar o diálogo inter-religioso?”
 Numa sociedade pluralista nenhuma instituição
religiosa consegue ter o controle social de seus
símbolos – ex. pluralidade de leituras sobre Jesus
Cristo.
 Jesus Cristo como constitutivo e não normativo da
salvação.
 Como pode um evento particular, porque histórico,
ter uma pretensão universal, portanto trans-histórica?
 Jesus Cristo como a “autocomunicação de Deus”. Sua
pessoa faz surgir visivelmente no interior da história o
ser mesmo de Deus, que é amor – existência concreta.
 Separação da encarnação do mistério pascal - Jesus
sem Cristo é vazio e Cristo sem Jesus é mito.
 Jesus Cristo, embora seja Deus, não revela a totalidade
divina, exatamente devido à sua condição humana
limitada e contextualizada.
 Afirmar ser Jesus Cristo a verdade última de Deus não
significa que tenhamos já a compreensão e a
expressão definitiva dessa mesma verdade.
PARTE II
DIÁLOGO
INTER-RELIGIOSO
A QUESTÃO SOTERIOLÓGICA
Pergunta fundamental:
“Como relacionar a confissão cristã da salvação única e
universal de Jesus Cristo à pretensão salvífica das outras
tradições religiosas sem violentar os testemunhos
neotestamentários ou reduzir soteriologias milenares a
meras fantasias?”
 Deus mesmo constitui a salvação do ser humano.
 O Concílio Vaticano II reconhece a possibilidade de
salvação para aqueles que não são membros, seja da
Igreja, seja do cristianismo (LG 16).
 Qual é o papel das religiões no desígnio salvífico de
Deus?
 O desígnio salvífico de Deus é levado adiante pela ação
do mesmo Espírito Santo, universalmente ativo, que
oferece a todos poderem dele participar, embora de
um modo só conhecido por Deus (GS 22).
 A ação do mesmo Espírito, enquanto acolhida pelo ser
humano, é experimentada e expressa diversamente,
conforme o contexto cultural e religioso onde
acontece.
 Cada religião capta apenas uma “perspectiva” da
realidade, que a impede de captar outras perspectivas,
de tal modo que cada salvação é verdadeira dentro de
sua perspectiva sem que as outras a contradigam.
PARTE II
DIÁLOGO
INTER-RELIGIOSO
A QUESTÃO PNEUMATOLÓGICA
Pergunta fundamental:
“Se a atividade básica do Espírito consiste numa
mistagogia crística, como encontrá-la nas outras
tradições religiosas?”
 A universalidade do Espírito, como a do vento que
sopra onde quer (Jo 3,8), foi recebida e cada vez mais
valorizada na consciência de fé da Igreja.
 Podemos reconhecer que toda oração autêntica é
suscitada pelo Espírito Santo, o qual está
misteriosamente presente no coração de cada ser
humano.
 A importância de estar atentos aos “sinais dos
tempos” para poder ouvir o que nos diz o Espírito, daí
o imperativo para a Igreja de dialogar com a
sociedade.
 Não poderiam as experiências novas do Espírito
enriquecer ainda mais a percepção de sua atuação
salvífica e consequentemente a compreensão de sua
Pessoa?
 As religiões são grandezas porosas apontando na sua
múltipla diversidade para a fonte única de toda vida
que é o Espírito da Verdade.
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