RESFRIAMENTO GEOTÉRMICO EM RESIDÊNCIAS Tuane Emerick Wânio Bossle Júnior Willian Juvêncio INTRODUÇÃO • A climatização de residências é um aspecto muito importante para a garantia do conforto térmico dos moradores. Segundo a norma ASHRAE (2010), o conforto térmico é “um estado de espírito que reflete a satisfação com o ambiente térmico que envolve a pessoa”. • Os sistemas de climatização convencionais já vêm sendo utilizados há bastante tempo e proporcionam o conforto térmico em diversos ambientes. Porém, apresentam como desvantagem, o aumento significativo principalmente no custo de operação. É nesse sentido que sistemas alternativos vêm sendo avaliados e, dentre eles, o uso do solo como meio de resfriamento pode representar uma alternativa. Tuane Emerick – Wânio Bossle Júnior – Willian Juvêncio REFERENCIAL TEÓRICO • Segundo o PROCEL (2007), o Brasil consumiu um total 375.193 MWh de energia em 2006. Desse valor, 22,2% representa o consumo residencial, equivalente a cerca de 83 GWh de energia. No consumo residencial, o resfriamento/aquecimento de ambientes representa 20%, contabilizando então 4,44% do consumo total brasileiro (aproximadamente 17GWh). • O termo geotérmica está relacionado ao uso do solo como meio de aquecimento e produção de energia por meio da geração de vapor. E o uso da exploração do solo vem crescendo mundialmente, cerca de 30% ao ano nos últimos anos (Egg&Howard, 2011). Este tipo de aplicação exige que sejam realizados perfurações em altas profundidades (de 70 até acima de 100 m). Tuane Emerick – Wânio Bossle Júnior – Willian Juvêncio REFERENCIAL TEÓRICO • Porém, usualmente o solo em profundidades menores (3 a 5 m) apresenta perfis de temperatura ao longo do ano mais baixos (18°C a 21°C). Para estes níveis de temperatura, é possível utilizar o solo como meio de resfriamento para aplicação associadas ao conforto térmico em residências. • Este tipo de sistema é denominado sistema geotérmico de captações rasas (Egg&Howard, 2011) que se divide em sistemas abertos ou sistemas fechados. Os sistemas abertos captam o ar do ambiente em uma extremidade de uma tubulação enterrada, promovendo o resfriamento do ar diretamente. Este ar resfriado é insuflado no ambiente em que se deseja a melhora das condições de conforto térmico. Já os sistemas fechados utilizam fluido intermediário que percorre a tubulação enterrada no solo, resfriando-se e pode promover o resfriamento do ar que é insuflado no ambiente ou o resfriamento de fluido refrigerante no condensador de um sistema de climatização unitário Tuane Emerick – Wânio Bossle Júnior – Willian Juvêncio REFERENCIAL TEÓRICO Figura 1 - Aspecto geral da tubulação do sistema de geotermia utilizado por Silva e Neto Figura 2 - Perfil típico de consumo de energia de uma família brasileira Tuane Emerick – Wânio Bossle Júnior – Willian Juvêncio METODOLOGIA • Definiu-se uma taxa de renovação de ar do sistema de 6 ren/h, já que verificou-se que para taxas menores não se verificou melhorias significativas no conforto térmico dos ambientes. Com base no volume dos cômodos selecionados, calcula-se a vazão e o diâmetro da tubulação. Dessa forma, selecionaram-se tubos de polipropileno utilizado em aplicações de esgotos pressurizados (Tigre, 2012) com diâmetro interno de 200 mm. Com essas informações, é possível informar estas características para modelar o sistema no Energy Plus (2012). Além disso, com o diâmetro da tubulação e a vazão total, calculase a perda de carga imposta pelo sistema, possibilitando assim a seleção dos filtros e o ventilador a ser usado no sistema. Tuane Emerick – Wânio Bossle Júnior – Willian Juvêncio METODOLOGIA • Após trocar calor com o solo, a tubulação deverá entrar no forro da casa e a partir daí distribuir o ar resfriado pelos ambientes em que se deseja atingir condições de conforto. Para evitar que a tubulação se aqueça no caminho para o forro devido à exposição à radiação solar, esta será colocada externamente a casa com uma proteção de cimento e uma camada de isolante ao seu redor (manta de fibra térmica). A tubulação entrará no forro próximo à sala e a partir desse cômodo se dividirá em 3 ramos que insuflarão a vazão de ar adequada para os ambientes desejados. Para diminuir a radiação solar incidente na tubulação, optou-se por realizar a entrada da tubulação na face sul da residência. Tuane Emerick – Wânio Bossle Júnior – Willian Juvêncio RESULTADOS E DISCUSSÃO • Uma pesquisa realizada por Silva &Neto (2010) utilizou um sistema aberto de geotermia em uma residência em Curitiba. O sistema, ilustrado na Figura 1 foi posicionado a 1m de profundidade e propunha-se determinar o comprimento mínimo necessário para garantir uma temperatura de 20ºC no verão e 16ºC no inverno. Inicialmente, a modelagem utilizando uma tubulação de cobre chegou a comprimentos da ordem de 50 m e a partir disso, foram utilizados outros materiais para verificar a influência desse parâmetro no desempenho do sistema. Os resultados coletados mostraram-se muito semelhantes (variando em cerca de 5%), indicando que o material do tubo não tem grande influencia no desempenho deste sistema. Tuane Emerick – Wânio Bossle Júnior – Willian Juvêncio RESULTADOS E DISCUSSÃO • Os materiais de construção da residência foram definidos com base em materiais utilizados em residências populares: as paredes são compostas de três camadas (argamassa, tijolo e argamassa) e o teto e piso, compostos por uma camada de radier de concreto. • A família residente na casa foi considerada formada por 4 pessoas e pertencente a faixa 1 de consumo (0 a 200 kWh/mês). A ocupação dos moradores segue com maior permanência na casa no período da manhã e após as 18 horas. Este perfil foi extraído de relatório elaborado pelo PROCEL (2007) e é mostrado na Figura 3, onde se relaciona o consumo de vários equipamentos na residência e seu respectivo horário de utilização. Tuane Emerick – Wânio Bossle Júnior – Willian Juvêncio RESULTADOS E DISCUSSÃO Figura 3 - Localização da tubulação e da residência no terreno • As letras minúsculas indicam os trechos da tubulação, que foram dispostos cumprindo-se as exigências de projeto (como a distância entre tubos e a distância dos tubos até o limite do terreno) e totalizam 55 metros. • A tubulação percorre o terreno trocando calor com o solo a 3m de profundidade. Assim, garante-se que não haverá nenhum problema de intersecção dos tubos do sistema com as tubulações de água e esgoto, já que estas estão a uma profundidade de 1m no solo. Tuane Emerick – Wânio Bossle Júnior – Willian Juvêncio RESULTADOS E DISCUSSÃO • Avaliação de conforto térmico: Será utilizado o critério baseado no modelo de conforto térmico adaptativo da ASHRAE (2010). O modelo adaptativo é adequado para ambientes não climatizados, Figura 4 - Perfil de temperatura comparando a temperatura com e sem geotermia Tuane Emerick – Wânio Bossle Júnior – Willian Juvêncio RESULTADOS E DISCUSSÃO • Avaliação das condições da residência sem geotermia: Pinto (2013) apresenta a avaliação de conforto térmico da mesma tipologia de residência com ventilação natural e sem o uso de geotermia. Pinto (2013) verificou que, com base nos resultados das simulações realizadas onde a residência é posicionada em diferentes zonas climáticas, a porcentagem de horas ocupadas para a faixa de 80% de satisfeitos ficou entre 40% a 60% para as zonas climáticas de São Paulo, Brasília, Porto Alegre e Rio de Janeiro, onde também serão realizadas as simulações com o sistema de geotermia. Dessa forma, pode-se inferir que o projeto da residência aqui analisada carece de melhores condições de conforto térmico. • Avaliação das condições da residência com geotermia: Para o estudo aqui realizado, foram avaliadas sete configurações diferentes com base nos resultados das suas respectivas simulações, variando-se alguns parâmetros de projeto e observados os resultados em termos de conforto térmico, sendo que na Tabela 1 estão listadas as configurações utilizadas para análise. Tuane Emerick – Wânio Bossle Júnior – Willian Juvêncio RESULTADOS E DISCUSSÃO Verificou-se que a aplicação do uso de geotermia aumentou a porcentagem de horas ocupadas em conforto térmico de 40 a 60% (sem geotermia) para 70 a 95%. Porém este aumento se restringe aos meses típicos de verão (novembro a fevereiro) e com o efeito desprezível nos meses típicos de inverno (maio a julho). Comparando os resultados obtidos das diversas configurações analisadas e tomando-se como referência a configuração 1, verifica-se que para a residência analisada: - Comprimentos maiores que 40 m promoveram aumentos menores que 1% na porcentagem de horas ocupadas em conforto térmico; - Aumentos na vazão de ar não modificaram significativamente a porcentagem de horas ocupadas em conforto térmico (menor que 1%); - Maiores períodos de operação também não mudaram significativamente a porcentagem de horas ocupadas em conforto térmico (menor que 1%). Tuane Emerick – Wânio Bossle Júnior – Willian Juvêncio CONCLUSÃO • Com base nas análises realizadas, podemos inferir que a aplicação de sistemas de geotermia com captação rasa pode ser considerada uma solução alternativa viável do ponto técnico e econômico. Como estudos futuros, pode-se recomendar a análise de alternativas para a execução do sistema de geotermia visando a redução do custo inicial de instalação, tornando o sistema ainda mais viável para o uso em residências no Brasil. Tuane Emerick – Wânio Bossle Júnior – Willian Juvêncio REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS • AJMI, F. et al, 2006. The cooling potential of earth–air heat exchangers for domestic buildings in a desert climate. Building and Environment 2006. Vol. 41, p. 235 - 244. • ASHRAE 2010. ASHRAE Standard 55, American Society of Heating, Refrigerating and Air Conditioning Engineers Inc. Atlanta, 35 p. • BANSAL, V. et al, 2009. Performance analysis of earth–pipe air heat exchanger for winter heating. Energy and Buildings 2009. Vol. 41, p. 1151 - 1154. • BISONIYA, T. S. et al, 2012. Experimental and analytical studies of earth–air heat exchanger (EAHE) systems in India: A review. Department of Energy, Maulana Azad National Institute of Technology, India. 9 p. • CHINELLATO, F. P. 2013. Análise de conforto térmico em sistema de ventilação com geotermia. Trabalho de Conclusão de Curso. Engenharia Mecânica, Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, 61 p. Tuane Emerick – Wânio Bossle Júnior – Willian Juvêncio REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS • EGG, J.; HOWARD, B. C, 2011. Geothermal HVAC: Green Heating and Cooling. McGraw Hill Companies, Inc., 272 p. • ENERGY PLUS, 2012. Energy Plus Engineering Reference. United States, 1273 p. • PINTO, M. L. 2013. Conforto Térmico em Casas de Baixa Renda. Trabalho de Conclusão de Curso. Engenharia Mecânica, Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, 103 páginas. • PROCEL, 2007. Avaliação do mercado de eficiência energética no Brasil: Pesquisa de posse de equipamentos e hábitos de uso - ano base 2005, Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica. Rio de Janeiro, 187 p. • SEHLI, A. et al, 2012. The potential of earth–air heat exchangers for low energy cooling of buildings in South Algeria. Energy Procedia. Chapter 18, p. 496 - 506. Tuane Emerick – Wânio Bossle Júnior – Willian Juvêncio REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS • SILVA, D. R. B.; NETO, A. I. ENTAC 2010: Dimensionamento de sistema geotérmico para climatização de residências em Curitiba. Departamento de Construção Civil - Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Brasil, 11 p. • TIGRE, 2012. Infraestrutura de Esgoto - Catálogo Técnico. Disponível em http://www.tigre.com.br/pt/catalogos_tecnicos.php. Acessado em 14/11/2012. • WOODSON, T. et al, 2012. Earth - air heat exchangers for passive air conditioning: case study Burkina Faso. Journal of Construction in Developing Countries. Chapter 17, p. 21 33. Tuane Emerick – Wânio Bossle Júnior – Willian Juvêncio RESFRIAMENTO GEOTÉRMICO EM RESIDÊNCIAS OBRIGADO Tuane Emerick Wânio Bossle Júnior Willian Juvêncio