Max Weber (1864 – 1920) • Ensaios Reunidos de Sociologia da Religião • - Religiões Mundiais (Confucianismo, Hinduísmo, Budismo, Cristianismo e Islamismo). • Além disso, o Judaísmo devido à sua significação histórica para o cristianismo e islamismo. • Projeto incompleto das Religiões Mundiais. Escreveu apenas: • Ancient Judaism; • The Religion of India; • Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. • Questão central para Weber: • Impulsos práticos de ação que se encontram nos contextos psicológicos e pragmáticos das religiões. • Advertência: • 1- Nenhuma ética econômica foi jamais determinada exclusivamente pela religião. • 2 - -Ética religiosa não é uma função do interesse. • • As religião proporcionaram teodiceias tanto para a boa fortuna quanto ao sofrimento (314). • Pra estes últimos, surgem as religiões de “redenção” • “A anunciação e promessa da religião dirigiram-se naturalmente às massas dos que necessitavam de salvação (...) Mágicos e sacerdotes passaram a ter como atribuição a determinação dos fatores a serem responsabilizados pelo sofrimento, ou seja, a confissão dos pecados (...) desenvolviam a religião de um redentor. Essa religiosidade pressupunha o mito de um salvador, e daí de uma visão racional do mundo” (315). • • “Quase sempre alguma forma de teodiceia do sofrimento originou-se da esperança de salvação” (316). • Na grande maioria dos casos, uma religião de redenção, anunciada profeticamente, teve seu centro permanente entre as camadas sociais menos favorecidas (317). • A concepção racional do mundo está encerrada dentro do mito do redentor: tal visão racional do mundo deu com frequência ao sofrimento um valor positivo que lhe era antes totalmente estranho • “Pode-se explicar o sofrimento e injustiça em referência ao pecado individual, cometido numa vida anterior, ao pecado dos ancestrais que recai até sobre a terceira ou quarta geração, ou - o mais comum – pela maldade das criaturas per se. Como promessa de recompensa, temos as esperanças de uma vida melhor no futuro, neste mundo (transmigração das almas) ou as esperanças para os sucessores (reino messiânico), ou de uma vida melhor no outro mundo (paraíso)” (318). Duas teodicéias: carma e deus absconditus • As religiões indianas e asiáticas foram racionalizadas por intelectuais. Daí a contemplação ter se tornado o supremo e último valor religioso acessível ao homem. A contemplação lhes oferecia a entrada na profunda e abençoada tranquilidade e imobilidade do Uno. (325). • • Na Europa a teodiceia foi elaborada pela camada cívica: artesãos, comerciantes, empresários dedicados ao artesanato. A tendência para um racionalismo prático na conduta é comum a todas as camadas cívicas. É condicionada pela natureza de seu modo de vida • Aqui temos dois caminhos para a salvação: • 1) uma vida exemplar, contemplativa e apático-extática. Posse da divindade ou a entrega interior e contemplativa a Deus. • “Para o verdadeiro místico: a criatura deve estar calada, de modo que Deus possa falar.” (374). • “Sempre que os valores sagrados e os meios de redenção de uma religião virtuosa tiveram um caráter contemplativo ou extático-orgiástico, não houve relação entre a religião e os atos práticos do mundo cotidiano de trabalho. Nesses casos, a economia e todas as outras ações no mundo forma consideradas religiosamente inferiores, e não foi possível deduzir motivos psicológicos para ação mundana com base na atitude considerada como valor supremo... As experiências místicas, orgiásticas e extáticas são estados extraordinariamente psíquicos; afastam-se da vida cotidiana e de toda conduta prática” (332-3) • 2) A segunda dirige suas exigências ao mundo em nome de deus, são éticas e tem um caráter ascético. Ascetismo ativo, instrumento de Deus • • Aqui os virtuosos lutam para modelar o mundo, segundo a vontade de deus. O valor supremo e sagrado não deve ser de natureza contemplativa. Esta religião deve ter desistido do caráter puramente mágico ou sacramental dos meios da graça (334). • • “o caminho da salvação é desviado da fuga contemplativa do mundo, dirigindo-se ao invés disso para um trabalho neste mundo, ativo e ascético (Ex: protestantismo ocidental e ascético). (334) • “o ascetismo não fugiu do mundo, como ocorreu com a contemplação. Ao invés disso, ele desejou racionalizar o mundo eticamente de acordo com os mandamentos de Deus (...) Transformada racionalmente numa vocação, a conduta cotidiana torna-se central para a comprovação do estado de graça” (335). • Qual a relação entre estas religiões e as éticas econômicas? De que forma elas se relacionam com o racionalismo econômico? Hinduísmo • A religiosidade indiana é o berço das éticas religiosas que negam o mundo. • Por séculos o desenvolvimento urbano na índia foi paralelo ao desenvolvimento ocidental. • Houve também um sistema numérico racional, • técnicas de calculabilidade. • Invenção do zero. • Aritmética e Álgebra tiveram um desenvolvimento independente na India. • Desenvolvimento de escolas filosóficas e seitas religiosas. • Por um longo período, tolerância religiosa e filosófica foram absolutas • A autonomia dos mercadores era equivalente à liberdade dos mercadores medievais; • Artesão indianos eram altamente desenvolvidos juntamente com especializações ocupacionais. • “Yet modern capitalismo did not develop indigenously before or during English rule. (...) Here we shall inquire as to the manner in which Indian religion, as one fator among many, may have prevented capitalistic developement (in ocidental sense)” (4). • Uma pessoa pertencem a uma religião por nascimento (birth-religion), como o Hinduísmo, simplesmente por ser filho de pais Hindus. Entretanto, Hinduísmo é exclusivo no sentido de que não há um outro jeito de se tornar membro desta comunidade religiosa. Hinduísmo não pretende englobar a humanidade. (6). • • Esta generalização precisa de qualificação. Quanto mais hinduizada uma casta, mais exclusiva ela é. Entretanto, as castas menos hinduizadas poder flexibilizar e incorporar outcasts or guest workers (7) Difusão do Hinduísmo • No curso dos últimos 900 anos o sistema Hindu espalhou-se do norte da Índia e Paquistão para o subcontinente asiático. Esta expansão foi realizada em oposição à crença popular animística e em conflito com outras religiões de salvação. • “The ruling stratum of an animistic tribal territory begins to imitate specific Hindu customs in something like the following order: abstention from meat, the absolute refusal to butcher cows, total abstinence from intoxicating drinks...” (9) • . Additional Hindu customs: comensalismo, celibato da viúva, filhas entregues ao casamento antes da puberdade e sem ser perguntada, cremação dos mortos. • Contratação de Brahmans para realização de rituais e para testemunhar que os kshatryas possuíam sangue real. • Guest people, pariah - a mera presença deles pode infectar o ar e corromper a pureza do alimento... Por isso, nenhum templo Hindu é aberto a eles (13) • • “While impure guest worker have been excluded since ancient times from the village association. They are not thereby made outlaws. The village owes them a definite compensation for their services and reserves for them a monopoly in their respective vocation” (13). • Pariahs ou guest workers não representam tribos bárbaras, mas castas impuras na classificação Hindu. • Quais os motivos para que este grupo de castas impuras (pariah ou guest workers) queiram a assimilação? Quais os motivos para os nobres (kshatryas) aderirem ao Hinduismo? (16) • • “Legitimation by a recognized religion has Always been decisive for an aliance between politically and socially dominant classes and the priesthood” (16). • • Reis se serviram dos trabalhos burocráticos dos brâmanes (escrita e administração)... Uma espécie de legitimação. • Da mesma forma as castas impuras também preferiram a assimilação ao status de bárbaros/aliens. • O que nos interessa é o poder assimilacionista do hinduísmo e a legitimação da ordem social e sua relação com vantagens econômicas. Mata (dogma) e Dharma (ritual) • Liberdade de opinião possui um grau excepcional no Hinduísmo. O conceito de dogma é praticamente desconhecido. • Fins sagrados após a morte • renascimento para uma nova e temporária vida na terra em circunstâncias melhores do que a presente ou renascimento no paraíso. Todavia, o renascimento no paraíso é por um tempo limitado, seguido de um novo renascimento; • cessação da existência individual e uma fusão em uma só alma ou realização do nirvana (22) • Hinduísmo é uma religião fortemente ritualística. O Dharma difere de acordo com a posição social e está sujeito à evolução. O Dharma depende da casta em que o indíviduo nasceu. Promessas do sistema de castas • • • • • Varnas: Bramanes Kshatryas Vayshas Shudras • Todo Hindu aceita dois princípios básicos: a crença samsara de transmigração de almas e o Karman, a doutrina da compensação (118). • A samsara relaciona-se ao destino do espírito depois da morte. • • Acredita-se que cada ato tem consequências inevitáveis sobre o destino da pessoa e que isto se relaciona com a ideia de compensação/destino na organização social e, por isso, no posicionamento no sistema de casta. • Não há punição ou recompensa eterna para os indivíduos. Uma pessoa pode ficar no inferno ou no céu somente por um período finito (120). • • “The very caste situation of the individual is not acidental. In India the idea of the ‘accident of birth’ os critical of society is almost completely absent (...) The Indian views the individual as born into the caste merited by conduct in a prior life” • (121) • In this life there is no escape from the caste, at least, no way to move up in the caste order” • • “Karma doctrine transformed the world into a strictly rational, ethically-determined cosmos; it representes the most consistente theodicy enver produced by history” (121) • A hierarquia do sistema de castas é eterno da mesma forma que são eternas as estrelas e a diferença entre outras espécies animais e os seres humanos. • Ditado explicativo: Um home pode nascer como um verme no intestino de um cachorro, mas conforme sua conduta pode renascer dentro do ventre de uma rainha ou de uma mulher brâmane. • “So as long as the Karma doctrine was unshaken, revolutionary ideas or progressivism were inconceivable” (123). Ética Protestante • “no estudo de qualquer problema da história universal, um filho da moderna civilização européia sempre estará sujeito à indagação de qual a combinação de fatores a que se pode atribuir o fato de na Civilização Ocidental, e somente na Civilização Ocidental, haverem aparecido fenômenos culturais dotados de um desenvolvimento universal em seu valor e significado. • Ciência; História; Direito; Arte; Arquitetura; Imprensa; universalidade; estado moderno; capitalismo. • Capitalismo aventureiro X Espírito do Capitalismo Capitalismo aventureiro • Ânsia de lucro não tem nada a ver com o capitalismo. Esse impulso existiu em todas as espécies e condições de pessoas, em todas as épocas de todos os países da terra; • O Aventureiro capitalista existiu em todo o mundo. Suas atividades eram de caráter puramente irracional e especulativo Espírito do Capitalismo • Pode ser identificado como uma moderação racional desse impulso irracional. • Baseia-se na expectativa de lucro através da utilização das oportunidades de troca, isto é, possibilidades pacíficas de lucro; • Assenta-se no cálculo; no trabalho livre, na separação entre empresa e casa, depende da ciência moderna. • O racionalismo econômico, embora dependa parcialmente da técnica e do direito racional, é ao mesmo tempo determinado pela capacidade e disposição dos homens em adotar certos tipos de conduta racional. • Weber encontra este “espírito do capitalismo” isento de qualquer menção religiosa num texto de Benjamin Franklin: • Necessary hints to those that would be rich (1736); • Advice to a young tradesman (1748) • Lembra-te que tempo é dinheiro: aquele que com seu trabalho pode ganhar dez xelins ao dia e vagabundeia metade do dia, ou fica deitado em seu quarto, não deve, mesmo que gaste apenas seis pence para se divertir, contabilizar só essa despesa; na verdade gastou, ou melhor, jogou fora cinco xelins a mais • Lembra-te que o dinheiro é procriador por natureza e fértil. O dinheiro pode gera dinheiro e seus rebentos podem gerar ainda mais (…) Quem mata uma porca prenhe destrói sua prole até a milésima geração. Que estraga uma moeda de cinco xelins, assassina tudo que com ela poderia ser produzido: pilhas inteiras de libras estelinas. • Vês um homem exímio em sua profissão? Digno ele é de apresentar-se perante os reis. • Esta pregação de Franklin é de um fundo moral utilitário, que se opõe ao tradicionalismo. • Da onde surgiu esta capacidade e disposição? Dogma da Predestinação (Confissão de Westminster, 1647):Puritanismo ascético: • 1 – O homem, por sua queda no estado de pecado, perdeu por inteiro toda a capacidade de sua vontade para qualquer bem espiritual que o leve à salvação…. O homem não é capaz, por seu próprio esforço, de converterse ou de preparar-se para tanto; • 2 – Por decreto de Deus, para manifestação de Sua glória, alguns homens são predestinados à vida eterna e outros preordenados à morte eterna. • 2.1 – aqueles do gênero humano que estão predestinados à vida, Deus escolheu-os para sua eterna glória sem qualquer previsão de fé ou de boas obras • 2.2 – Aprouve a Deus deixar de lado o resto dos homens … e ordená-los à desonra e à ira por seus pecados. • 3 – Todos aqueles que Deus predestinou à vida [foram] predestinados para o que é bom; • 4 – Quanto aos homens maus e sem fé, Deus abandonou-os à própria devassidão, às tentações do mundo e ao poder de satã Consequêcias indejesadas • Solidão interior (95). Ninguém pode ajudar ninguém. “Somente o eleito é capaz de compreender em espírito a palavra de Deus”; • Repúdio às supertições e sacrilégio como meio mágico de busca da salvação; • Fim da confissão auricular.Desconfiança dos amigos, inclusive dos amigos mais próximos. O Homem confia somente em Deus • O trabalho do calvinista no mundo é exclusivamente para a glória de Deus. Daí por que o trabalho deva se dar numa profissão. • A utilidade social do trabalho promove a glória de Deus e por Deus é querido. • Serei eu um dos eleitos? • Torna-se pura e simplesmente um dever considerar-se eleito e repudiar toda e qualquer dúvida como tentação do Diabo. • O trabalho profissional sem descanso se torna o meio mais evidente para conseguir a autoconfiança de que se foi eleito…. Maneira de conduzir a vida que sirva para a gloria de Deus • A ascese lutou do lado da produção da riqueza privada contra a improbidade, da mesma forma que contra a avidez puramente impulsiva (…) mas aí a ascese era a força “que sempre quer o bem e sempre faz o mal”. • Acumulação de capital + coerção ascética à poupança = investimento produtivo • A ascese protestante beneficiou a tendência à conduta de vida burguesa ecomicamente racional. • A busca pelo reino de Deus começou pouco a pouco a se tornar em uma sóbria virtude profissional. • A raiz religiosa se definhou lenamente e deu origem a intramundanidade utilitária