Mídia e escândalos políticos: efeitos sobre
a percepção da corrupção
Equipe
Helcimara Telles (coordenadora)
Érica Anita Baptista Pedro Fraiha
André Abreu
Fábio Junio Mesquita
• A pesquisa “A representação da corrupção na mídia
e na internet” é desenvolvida por meio de um
convênio entre a Universidade Federal de Minas
Gerais, o Centro de Investigação Media e
Jornalismo (CIMJ) da Universidade Nova de Lisboa
e as universidades de São Tomé e Moçambique.
• Apresentamos, a seguir, alguns avanços da
pesquisa no que se refere à análise da mídia
impressa e da internet em 2012.
A representação da corrupção na mídia e na
internet
• A primeira e intricada dificuldade que se encontra para
estudar a corrupção é defini-la enquanto prática. A
dispersão conceitual e teórica sobre o tema deixa claro a
complexidade com que acadêmicos se deparam no
momento de tratar as nuances, efeitos e consequências do
fenômeno, relacionadas tanto ao sistema político como
econômico e social.
• Igualmente adversa é a tentativa de compreender a
variedade com que o fenômeno se apresenta em contextos
e épocas distintas, e como a opinião pública julga e se
posiciona diante das práticas corruptas.
• Sendo assim, não é possível mensurar diretamente o
fenômeno da corrupção.
• As medidas indiretas surgem, então, como uma forma de
aproximação da recorrência corrupção em determinado
contexto e uma delas é a percepção.
Percepção da corrupção
• Partimos do pressuposto de que a percepção,
mesmo a de especialistas, está ligada aspectos
externos e internos aos indivíduos. Isso nos dá
condições de especular sobre os possíveis
determinantes que influenciam na percepção da
corrupção, especialmente fatores ligados a
exposição dos indivíduos ao conteúdo midiático.
• Consideramos os relevantes índices de confiança
dos cidadãos nos meios de comunicação.
• Também consideramos que os casos de corrupção
são recorrentes na mídia, sobretudo, sob a ótica do
escândalo político. O que tenderia a aumentar a
percepção dos cidadãos.
Percepção da corrupção
• Alguns temas ganham relevo em momentos eleitorais e
a corrupção é um deles. Os cidadãos tendem a assumir
um perfil mais crítico nesse período. Porém, não
analisamos a influência do tema da corrupção na
decisao de voto.
• Casas e Rojas (2008) alertam para o fato de que
“corrupção” e “percepção da corrupção” são conceitos
distintos. A percepção da corrupção é primordial, uma
vez que explica a sensação que os cidadãos têm na
interpretação do seu entorno. Ainda que essa percepção
seja mediada por outros fatores, como a influência da
mídia.
Percepção da corrupção
Percepção da corrupção
Ibope, 2006.
• Partimos da hipótese de que a alta exposição à mídia e a confiança
que é depositada nos meios de comunicação podem interferir na
formação da percepção da corrupção, aumentando-a.
• Do mesmo modo, acredita-se que as chances de percepção
aumentem com maior grau de interesse por política dos
entrevistados.
• Acreditamos que a mídia (nesta oportunidade, analisamos as revistas
Revistas Carta Capital e Veja) priorizem a cobertura da corrupção
sob a ótica do escândalo.
• Também partimos da hipótese de que a mídia prioriza os atores
políticos envolvidos nos casos de corrupção em detrimento de
análises dos próprios casos, apontando causas e consequências.
• Acreditamos que o tema corrupção tenha repercutido nas redes
sociais em 2012, ocasião em que ocorreram eleições municipais no
Brasil (prefeitos e vereadores), mas abordando um cenário nacional:
mensalão.
Algumas hipóteses
• Pesquisa “Eleições Municipais 2012” realizada por uma parceria
entre o Grupo Opinião Pública (UFMG) e o IPESPE.
• Edições de agosto a outubro de 2010 da revistas Carta Capital e
Veja: análise de enquadramentos e elaboração de um codebook
de catgorias.
• Edições de agosto a outubro de 2012 da revistas Carta Capital e
Veja: análise de enquadramentos e elaboração de um codebook
de catgorias.
• Edições de agosto a outubro de 2014 da revistas Carta Capital e
Veja: análise de enquadramentos e elaboração de um codebook
de catgorias.
• Observatório das Eleições 2012: identificação das principais
hashtags que circularam entre julho e outubro de 2012.
• Observatório das Eleições 2014: identificação das principais
hashtags que circularam entre julho e outubro de 2012
Principais dados
Revista Carta Capital
A revista foi fundanda em
1994 pelos jornalistas Mino
Carta, que também
participou da criação da
revista Veja, e Bob
Fernandes. De acordo com
o IVC de 2012, a Carta
Capital é a quarta revista
semanal mais vendida no
país.
Revista Veja
A revista foi criada em
1968 pelos jornalistas
Roberto Civita e Mino
Carta. É a revista mais
comercializada no Brasil,
segundo o IVC de 2014
(dado informado pela
revista).
300
250
200
150
100
50
0
Carta Capital
Veja
Carta Capital e Veja: edições de agosto a outubro de 2012
• Carlinhos Cachoeira: Em 29 de fevereiro de 2012, Carlos Augusto
Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso em Goiânia (GO), em uma
operação da Polícia Federal (PF) batizada de Monte Carlo. Segundo
as investigações, que já duravam 15 meses, Cachoeira é o chefe de
uma quadrilha que explora máquinas caça-níqueis, envolendo figuras
políticas e com apoio de autoridades de todos os níveis.
• Mensalão: Caso de corrupção envolvendo a compra de votos de
parlamentares no Congresso Nacional. O caso foi denunciado na
revistaVeja, em 2005, pelo então deputado federal Roberto Jefferson
(PTB-RJ), também envolvido no esquema de corrupção. Joaquim
Barbosa, em 2012, era presidente do Superior Tribunal Federal
(STF) e foi o responsável pelo julgamento do mensalão.
• Mensalão tucano ou Mensalão mineiro: caso de desvio de dinheiro
público e lavagem de dinheiro que teriam ocorrido em 1998, na
campanha do então candidato ao governo do Estado de Minas
Gerais, Eduardo Azeredo (PSDB-MG).
Escândalos de corrupção
Carta Capital
Veja
Enquadramento corrida de
cavalos: o foco é mencionar a
disputa entre atores políticos,
sobretudo entre candidatos.
Enquadramento estratégico:
chama a atenção do público para o
cinismo e as manipulações dos
políticos, ativando a desconfiança do
público.
Enquadramento de
responsabilização: quando o foco é
a busca por culpados.
Enquadramento dramático: o foco
é descrever a situação pela qual
passam as pessoas, os partidos ou o
governo diante das denúncias de
corrupção. O enfoque é emocional.
Enquadramento moral: diz respeito
à critica moral.
Enquadramento oficialista: julga os
casos de corrupção e indica as
causas dos fatos com base nas
evidências; pode-se dizer que é a
mídia fazendo a denúncia e julgando.
Carta Capital e Veja: edições de agosto a outubro de 2012
Gráfico – Recorrência das tags relacionadas à corrupção que mais circularam
na internet entre julho e outubro de 2012
Observatório das Eleições 2012
Observatório das Eleições 2012
• O tema da corrupção foi amplamente repercutido na mídia
tradicional e na internet.
• As revistas analisadas se posicionaram enquanto atores
políticos e utilizaram suas estratégias (agendamento e
enquadramento) para aproximarem as notícias e direcionarem
a interpretação do leitor de modo a favorecer seu
posicionamento político.
• Carta Capital: priorizou os enquadramentos que associavam
a corrupção a um cenário de disputa política; a busca por
culpados, destacando os atores envolvidos em detrimento da
discussão dos casos; e o julgamento moral da corrupção.
• Veja: preferência por enquadramentos que “alertavam” o
público sobre as manipulações políticas; o enfoque emocional,
tratando de envolvidos diretos ou indoretos aos casos de
corrupção; foco na função de “cão de guarda” da mídia.
Algumas considerações
• Em 2012, sobretudo no período eleitoral, o caso de
corrupção que mais se destacou foi o Mensalão, em
função de seu julgamento que teve início em
agosto. E isso se refletiu nas tags analisadas, já
que
a
recorrência
predominante
foi
de
palavras/expressões que remetessem a esse
cenário. Não houve destaque a casos ou
especulações de corrupção locais, ainda que as
eleições do referido momento fossem municipais e
esperava-se, portanto, que as discussões fossem
mais centradas em questões regionais.
Algumas considerações
• Outra etapa da pesquisa consiste em elaborar um índice de
tolerância à corrupção.
Alguns achados:
• O interesse pela política reduz a tolerância à corrupção;
• Estar identificado com a esquerda reduz a tolerância à
corrupção.
• Quanto maior é a confiança na mídia, maior é a tolerância
à corrupção.
• Cidadãos com acesso a fontes mais variadas de informação
possuem menor dependência da TV = são mais intolerantes
• A tolerância a corrupção é maior entre os eleitores que
acompanham a eleição pela TV e se informam conversando
com amigos – fluxo de informação.
Algumas considerações
w w w. o p i n i a o p u b l i c a . u f m g . b r
Érica Anita Baptista
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Mídia e escândalos políticos: efeitos sobre a