Escola de Governo Professor Paulo Neves de Carvalho Mestrado em Administração Pública Filipe Recch Juliana Winther Disciplina: Economia Brasileira Prof. Afonso Henriques Borges Ferreira Fevereiro/2010 SCHOOLING, COGNITIVE SKILLS, AND THE LATIN AMERICAN GROWTH PUZZLE Eric A. Hanushek Ludger Woessmann NBER Working Paper n.15066 Cambridge, June 2009. Objetivo Entender a relação entre educação e crescimento econômico: Tem como referência o baixo crescimento econômico da América Latina a partir de 1960 em comparação aos demais países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. Teoria clássica: esperava-se maior crescimento da América Latina em relação a países da África e Ásia devo ao maior PIB per capita e maior taxa de frequência escolar apresentados em 1960. Contudo, não é o que ocorre no longo prazo – anos 2000. O papel da educação nas teorias de crescimento econômico Teoria Neoclássica Educação como um fator de produção que pode ser acumulado, aumentado o capital humano da força de trabalho e, assim, a produtividade do trabalho. Teoria de Crescimento Endógeno Enfatiza o papel da educação em aumentar a capacidade de inovação da economia. Teoria da Difusão Tecnológica: Educação como facilitadora da transmissão do conhecimento necessário para implementar novas tecnologias. **Ponto em comum: todas apontam efeitos positivos da educação no crescimento econômico Modelo de Crescimento g =γ H +β X +ε onde: g: taxa de crescimento do PIB per capita H: capital humano X: outros fatores que afetam o crescimento ε: erro g =γ H +β X +ε Proxy de H: anos de estudo Problemas com este pressuposto: Comparativamente, o mesmo grau de escolaridade pode produzir diferentes níveis de conhecimento e habilidades em realidades diversas. Escolarização é influenciada por outros fatores externos à escola. Fontes de acumulação de H H =δ1 (qS) +δ2 F +δ3 A+v onde: S: anos de estudo q: qualidade da educação escolar F: fatores familiares A: outros atributos, como saúde, habilidades individuais, experiência no mercado de trabalho etc. Hanushek e Woessmann (2009) focam nas habilidades cognitivas a partir de testes internacionais que medem o desempenho educacional. Assim: Resultado nos testes = proxy de H Justificativas: Os testes conseguem captar as variações de conhecimento e habilidade que as escolas produzem nos alunos, e seu impacto no crescimento econômico; Os testes conseguem captar habilidades dos alunos provindas de várias fontes: escola, família e habilidades inatas; Ao enfatizar que diferentes desempenhos escolares estão relacionados à qualidade da escola, esta abordagem reforça a importância de políticas destinadas a influenciar a qualidade da escola em vários aspectos. Apresentação dos dados 46 testes internacionais, dos quais participaram apenas 7 países da América Latina (países com mais de 1 milhão de habitantes). PISA – Programme for International Student Assessment, da OCDE: iniciou em 2000, é feito de 3 em 3 anos, com estudantes de 15 anos e testa os conhecimentos de matemática, ciências e leitura. Os países da AL ficaram nas últimas colocações no teste de 2000, 2003 e 2006. Contudo, os autores ressaltam que o problema está na magnitude da diferença das notas. Metodologia Padronização dos scores de 1964 a 2003, reescalonamento dos resultados de acordo com o PISA. Figura 2: Resultado agregado. Não estima o verdadeiro gap porque os testes para a América Latina não são compatíveis com os testes dos países desenvolvidos. E ainda o cálculo somente se dá entre os matriculados, ressaltando o problema da AL: Estudantes de 15 anos que se encontram abaixo do nível mínimo de alfabetização: Japão, Coreia, Taiwan, Finlândia e Holanda (5%); Brasil (66%); Peru (82%). Análise Como o baixo desempenho educacional pode representar o baixo desempenho econômico na América Latina? Modelo de Regressão: as variáveis (1) PIB, (2) Escolaridade, (3) Grau de abertura -- não foram significativas Tabela 2 Diferença de crescimento intrarregional – América Latina Testes elaborados pela própria AL - UNESCO (16 países): LLECE – Laboratorio Latinoamericano de Evaluación de la Calidad de la Educación – primer estudio, feito em 1997. SERCE – Segundo Estudio Regional Comparativo Explicativo, feito em 2006. Foi feito o reescalonamento para permitir a comparação. Limites da análise com LLECE e SERCE (1) Estes testes apenas se referem aos primeiros anos de escolaridade; (2) Os testes foram aplicados em anos recentes, muito próximos ao período em que o crescimento econômico é analisado; (3) Há limitação do número de países que participaram dos testes – há representatividade para toda a América Latina? Os resultados confirmam a tese que a capacidade cognitiva tem impacto mesmo na comparação entre países da América Latina. Testes regionais + internacionais Ao usar os testes regionais aumenta-se o número de países da AL e, assim, aumenta a representatividade da região. Ainda corroboram a hipótese da relação direta entre capacidade cognitiva e crescimento. Figura 5 – mostra a pequena variação no crescimento dos países da AL mesmo com a variação na nota. Motivos: Resultados dos testes regionais recentes Restrição para apenas os primeiros anos de escola Crescimento econômico e capacidade cognitiva não lineares Desempenho escolar brasileiro • Prof. Francisco Soares – GAME/UFMG • Com resultados cognitivos é possível conhecer e analisar os níveis da aprendizagem de grande número de alunos e a qualidade do serviço prestado pelas escolas de um sistema. • Para medir o resultado cognitivo de alunos do ensino básico, o Inep criou em 1995, o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, com avaliação de escalas de competências matemática e leitora. Desempenho escolar brasileiro • Percebe-se que a vasta maioria dos estudantes brasileiros não atingem os padrões desejados pelo Inep. • A literatura educacional mostra que em uma sociedade específica, os maiores determinantes do desempenho escolar estão fora do âmbito da escola. Efeitos extra-escolares • A presença de ambos os pais na casa está associada a um melhor desempenho, mesmo entre alunos com condição econômica semelhante. • Alunos com melhor atitude em relação à escola também têm melhor desempenho. • Os recursos econômicos da família não impactam diretamente de forma significativa o desempenho dos alunos. • O fator mais associado com o desempenho é o indicador da homogeneidade sociocultural dos alunos da escola. Este é o chamado "efeito dos pares", isto é, alunos com melhor perfil acadêmico potencializam mutuamente seus conhecimentos em benefício de todos. Influências no desempenho escolar Influências no desempenho escolar • Entre os fatores extra-escolares, tanto a organização da sociedade como a da família podem ser o ponto de partida de ações direcionadas à melhoria dos resultados educacionais. • O impacto da família e da comunidade se manifesta através de um grande número de canais, desde o padrão genético dos pais, passando pela sua educação e ocupação, até os efeitos do ambiente social freqüentado. Como melhorar a capacidade cognitiva Temos grandes dificuldades de cunho social que impedem o funcionamento eficaz das instituições escolares, principalmente aquelas situadas na periferia das grandes cidades. Uma forma potencialmente efetiva de impactar os resultados escolares de alunos é introduzir mudanças na legislação educacional. Como melhorar a capacidade cognitiva Aumento dos recursos destinados ao sistema educacional para a obtenção de melhores resultados. Segundo dados do projeto World Education Indicators, o Brasil está entre os 15 países com menor gasto percentual em educação no ranking de 44 países. Como melhorar a capacidade cognitiva • Apoio e avaliação, não são as funções que predominam nas secretarias municipais e estaduais de Educação, completamente devotadas a controles burocráticos das escolas. • Apoiar as escolas no desenvolvimento e implementação de seu projeto pedagógico e avaliar pelos resultados obtidos se os direitos dos alunos por uma educação de qualidade estão sendo respeitados nas opções autônomas tomadas pela escola. Sistemas Educacionais Comparados Campo emergente de investigação – séc.XXI Compreensões controversas sobre a possibilidade da implantação de modelos de sistemas educacionais de um país a outro. É clara a influência dos vários sistemas uns nos outros – processo de globalização, emergência de escolas internacionais, ampliação do campo de estudo etc. Hipótese de que o desenho do sistema educacional tem influência direta no retorno da educação em termos de crescimento econômico: Há modelos que preparam melhor os alunos tanto em termos de conteúdo (básico e/ou técnico) quanto em termos de habilidades cognitivas (metodologias que desenvolvam o potencial individual: raciocínio, intuição, autonomia, iniciativa) e a capacidade de cooperação e trabalho em equipe. A ideia é transpor modelos educacionais de sucesso (em termos de preparo dos alunos e o consequente crescimento econômico) a países com deficiências escolares e baixo crescimento, como é o caso da América Latina. Críticas Não basta analisar um sistema educacional e tentar transpor a sua estrutura e funcionamento ao Brasil para melhorar o nosso sistema. Esta seria uma alternativa ingênua e superficial. Os sistemas educacionais que se desenvolvem em diferentes países atendem aos interesses locais e regionais. A educação está intrinsecamente relacionada ao contexto histórico, político, econômico, social e cultural de cada povo. (ROSA, 2009) Cada sistema só poderá ser devidamente compreendido, quando referido a sociedade nacional a que sirva, em função de seus objetivos, tradições e características especiais. Sistemas e suas estruturas e não localidades isoladas estudando as constituições dos estados nacionais. (NEVES, 2005) Leite e Posthuma (1996) abordam a relação entre educação e trabalho, principalmente a relação entre desenvolvimento econômico e tecnológico e qualificação da mão de obra. O interesse específico recai sobre o conceito de qualificação, de cadeias produtivas e tendências de organização da produção ao sistema brasileiro de treinamento e formação profissional. Novo paradigma produtivo vem modificando profundamente a noção de qualificação, que progressivamente deixa de significar um estoque estático de conhecimentos, para designar um processo contínuo de agregação de informações e capacidades necessárias para a formação de trabalhadores multifuncionais, capazes de identificar e resolver problemas, antecipar circunstâncias, pensar e planejar estrategicamente, além de desempenhar um amplo conjunto de atividades. Qualificação: um conceito complexo e multifacetado Qualificação estaria relacionada aos requerimentos de conhecimento necessários ao desenvolvimento de um trabalho determinado – tempo de aprendizagem necessário ao desempenho do trabalho. (2) Qualificação como uma construção sociocultural – aquisição socialmente construída, que não se reduz à simples medição de escolaridade ou de tempo de treinamento – aspecto político da qualificação. (3) Qualificação comportamental: é a postura do trabalhador frente à empresa, como confiança, colaboração, responsabilidade...: valores e normas que vão além dos saberes tecnológicos especializados. (4) Qualificação e divisão do trabalho: qualificação socialmente construída só pode ser entendida como resultado de uma divisão do trabalho; qualificação depende de como a inteligência global aplicada à produção é dividida entre as pessoas. (1) Modelo brasileiro se assemelha aquele dos EUA, França, Inglaterra: formação profissional é oferecida através de instituições escolares externas à indústria. Alemanha, Suíça e Áustria: sistema dual de trabalho e estudo. Japão: formação profissional se dá apenas no âmbito da empresa. Segmentação da mão de obra – o core é recrutado entre os melhores estudantes das melhores escolas japonesas. O treinamento in house é mais prestigiado pelas empresas do que aquele proporcionado por instituições de educação. A qualificação específica à empresa e a tradição de aumentos salariais e promoções por senioridade, aliadas ao emprego vitalício exclusivo da elite masculina da força de trabalho, são fatores de desestímulo à transferência para outras companhias. ANOS 90 – Brasil: Maior preocupação das empresas com a questão do treinamento, mas o aumento dos investimentos não é significativo; e também o nível permanece baixo em relação aos padrões internacionais. Boa parte do esforço empresarial voltado para o treinamento destina-se a programas comportamentais ou motivacionais: preocupação em despertar nos trabalhadores uma postura cooperativa com relação às estratégias gerenciais e que não podem ser confundidos com treinamentos destinados a formar trabalhadores mais qualificados. caráter disciplinador de tais programas. “(...) apenas medidas de ordem quantitativa, como um investimento realmente racional na educação, reduzindo despesas, aumentando salários e permanência da criança na escola não bastam. E preciso confiar mais na escola, dotá-la de maior autonomia para estabelecer seus objetivos e os meios através dos quais possa atingi-los. Para tanto, é necessário que nosso modelo de gestão seja revisado a exemplo dos países estudados, na direção de um maior equilíbrio de direitos, deveres e responsabilidades” (FLEURY e MATTOS, 1991). Bibliografia ALVES, Maria Teresa Gonzaga; SOARES, José Francisco. O efeito das escolas no aprendizado dos alunos: um estudo com dados longitudinais no Ensino Fundamental. Educ. Pesqui., São Paulo, v. 34, n. 3, Dec. 2008. CARVALHO, Elma Júlia Gonçalves de. Estudos comparados: repensando sua relevância para a educação. 2009. FLEURY, Maria Tereza Leme e MATTOS, Maria Isabel Leme de. Sistemas educacionais comparados: Estados Unidos, França, Alemanha, Japão, Coréia e Cuba. Estudos avançados, 12 (5) 1991. HANUSHEK, Eric A. e WOESSMANN, Ludger . Schooling, Cognitive Skills, And The Latin American Growth Puzzle. NBER Working Paper n.15066, Cambridge, June 2009. LEITE, Márcia de Paula; POSTHUMA, Anne Caroline. Reestruturação Produtiva e Qualificação: reflexões sobre a experiência brasileira. In: São Paulo em Perspectiva, vol.10, n.1, Fundação SEADE, São Paulo, jan-mar/1996 – pp.63-76. Bibliografia NEVES, Dimas Santana Souza. História comparada da educação: um debate contemporâneo. 2005. ROSA, Simone da Conceição. Reflexões sobre legislações educacionais: paralelo Cuba x Brasil. 2009. SOARES, José Francisco; COLLARES, Ana Cristina Murta. Recursos familiares e o desempenho cognitivo dos alunos do ensino básico brasileiro. Dados, Rio de Janeiro, v. 49, n. 3, 2006. SOARES, José Francisco. Melhoria do desempenho cognitivo dos alunos do ensino fundamental. Cad. Pesqui., São Paulo, v. 37, n. 130, Apr. 2007.