O Cortiço, de Aluízio Azevedo
Aula III: personagens
1. O cortiço é um romance de muitas
personagens. A intenção é mostrar que
todos, com suas particularidades, fazem
parte de um grande painel humano
multiforme, mas unido pela condição de
existência.
2. Todas as personagens são colocadas
numa perspectiva de degradação de valores
humanos e morais.
3. Enfatizam-se em muitas os aspectos
sórdidos e deprimentes da conduta, as
manifestações instintivas e biofisiológicas.
4. O princípio naturalista do determinismo
mostra que as transformações são impostas
pelo meio e pela convivência.
5. Muitos concentram em si o propósito
crítico do autor em relação à conduta social.
6. Não raro o escritor apela para a
caricatura, física e moral.
João Romão
“E um desgosto negro e profundo assoberbou-lhe
o coração, um desejo forte de querer saltar e um
medo invencível de cair e quebrar as pernas.
Afinal,a dolorosa desconfiança de si mesmo e a
terrível convicção da sua impotência para pretender
outra coisa que não fosse ajuntar dinheiro, e mais
dinheiro, e mais ainda, sem saber para que e com
que fim, acabaram azedando-lhe de toda alma e
tingindo de fel a sua ambição e despolindo o seu
ouro.”
“E via-se já na brilhante posição que o
esperava: uma vez de dentro, associava-se
logo com o sogro e iria pouco a pouco,
como quem não quer a coisa, o empurrando
para o lado, até empolgar-lhe o lugar e fazer
de si um verdadeiro chefe da colônia
portuguesa no Brasil; depois, quando o
barco estivesse navegando ao largo a todo o
pano – tome lá alguns pares de contos de
réis e passe-me para cá o título de
visconde!”
Bertoleza
- Crioula trintona.
- Explorada por João Romão como caixeira,
criada e amante.
- Suicida-se.
- Tema da escravização, da dominação dos
fortes sobre os fracos.
Miranda
- Português negociante de fazenda por
atacado.
- Representa o pólo burguês do romance.
- Hipócrita apegado às convenções sociais.
Estela
- Esposa de Miranda.
- Infiel ao marido.
- Ares pretensiosos de aristocracia.
- Sexualidade bestial.
“ – Você quer saber? afirmava ela, eu bem percebo
quanto aquele traste do senhor meu marido me
detesta, mas isso tanto se dá como a primeira
camisa que vesti! Desgraçadamente para nós,
mulheres de sociedade, não podemos viver sem
esposo, quando somos casados; de forma que
tenho de aturar o que me caiu em sorte, quer goste
dele quer não goste! Juro-lhe, porém , que, se
consinto que o Miranda se chegue às vezes para
mim, é porque entendo que paga mais à pena ceder
do que puxar discussão com uma besta daquela
ordem!”
Zulmira
- Filha de Miranda.
- “Uma brasileirinha fina e aristocrática.
- Casa-se com João Romão.
“– É um bom partido, é Excelente menina... tem
um gênio de pomba... uma educação de princesa:
até o francês sabe! Toca piano como você tem
ouvido... canta o seu bocado... aprendeu
desenho... muito boa mão de agulha!...
Abaixou a voz e segredou grosso no ouvido de
interlocutor:
– Ali, tudo aquilo é sólido!...Prédios e ações
do banco!”
Pombinha
- Filha de um suicida falido.
- Modos de menina de boa família.
- Saúde frágil.
“(...) Prezavam-na com muito respeito e davam-lhe
presentes, o que lhe permitia certo luxo relativo.
Andava sempre de botinhas ou sapatinhos com
meias de cor, seu vestido de chita engomado; tinha
as suas joiazinhas para sair à rua, e, aos domingos,
quem a encontrasse à missa na igreja de São João
Batista, não seria capaz de desconfiar que ela
morava em cortiço.
(...) mas, de repente, zás!faltou-lhe o equilíbrio e a
mísera escorregou, caindo nos braços de um
boêmio de talento, libertino e poeta, jogador e
capoeira (...)”
Senhorinha
- Filha de Jerônimo e Piedade.
- Educação aprimorada.
- Torna-se amiga de Pombinha.
- Degrada-se também.
“Agora, as duas cocotes, amigas inseparáveis,
terríveis naquela inquebrantável solidariedade,
que fazia delas uma só cobra de duas cabeças,
dominavam o alto e o baixo Rio de Janeiro.
(...) Assim à refulgente luz dos trópicos amortece
a fresca e doce claridade dos céus da Europa,
como se o próprio sol americano, vermelho e
esbraseado, viesse, na sua luxúria de sultão,
beber a lágrima medrosa da decaída rainha dos
mares vermelhos.”
Rita Baiana
Rita Baiana é um dos personagens mais
notáveis da literatura brasileira. Filha do
realismo naturalista, é escrita com uma
riqueza de detalhes visuais e sensoriais
incríveis. Forte, apaixonada e politicamente
incorreta, sedutora e consciente de seus
encantos, é maliciosa e faminta de vida, um
diabo de saias.
“Naquela mulata estava o grande mistério, a
síntese das impressões que recebeu chegando
aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o
calor vermelho das sestas da fazenda; era o
aroma quente dos trevos e das baunilhas, que
atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira
virginal e esquiva que se não torce a nenhuma
outra planta; era o veneno e era o açúcar
gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e era a
castanha do caju, que abre feridas com seu azeite
de fogo(...)”
Leandra
- Leandra, a machona, portuguesa feroz,
berradora, que tinha pulsos cabeludos e
grossos e “anca de animal do campo”; vivia
com seus filhos, o garoto Agostinho, e
Nenen, a adolescente espigada e franzina
que escapava como “enguia por entre os
dedos dos rapazes que a queriam sem ser
para casar”. Morando em casa separada
vivia a filha , Das Dores, que, segundo
diziam, “largara o marido para meter-se com
um homem do comércio”;
Paula
- Paula, a cabocla velha, meio idiota, “feia,
grossa, triste, com olhos desvairados,
dentes cortados à navalha, formando ponta,
como dentes de cão, cabelos lisos,
escorridos e ainda retintos apesar da idade”
(p. 38), era conhecida como “ Bruxa”;
Marciana
- Marciana, mulata antiga, séria e asseada
em exagero, vivia com sua filha Florinda,
morena de “beiços sensuais, bonitos dentes,
olhos luxuriosos de macaca. Toda ela estava
a pedir homem, mas sustentava ainda a sua
virgindade...” (p. 38);
Leocádia
- Leocádia, mulher de Bruno, “ uma
portuguesa pequena e socada, de carnes
duras, com uma fama terrível de leviana
entre suas vizinhas” (p. 38);
D. Isabel
-D. Isabel, a mãe de Pombinha, possuía “cara
macilenta de velha portuguesa devota , que
já foi gorda, bochechas moles de pelancas
rechupadas, que lhe pendiam dos cantos da
boca como saquinhos vazios; fios negros no
queixo, olhos castanhos, sempre chorosos,
engolidos pelas pálpebras. Puxava em
bandos sobre as fontes o escasso cabelo
grisalho untado de óleo de amêndoas
doces” (p. 39).
Henrique
Henrique era bonitinho, cheio de
acanhamentos com uma delicadezas de
meninas . Parecia muito cuidadoso dos seus
estudos e tão pouco extravagante e
gastador, que não despendia um vintém fora
das necessidades de primeira urgência. De
resto, a não ser de manhã para as aulas, que
ia sempre com Miranda, não arredava pé de
casa senão em companhia da família deste.
[...] (p. 29)
Alexandre
- Alexandre, um soldado mulato,
“pernóstico”, de quarenta anos, marido de
Augusta Carne- Mole, absolutamente cioso
de seus deveres para com a comunidade; É
o pai de Juju.
Bruno
- Bruno, marido de Leocádia, o ferreiro traído
e irado que, após a expulsão da mulher,
sofre as dores da solidão e pede, humilhado,
a sua volta.
Albino
- Albino, “um sujeito afeminado, fraco, cor
de aspargo cozido e com um cabelinho
castanho, deslavado e pobre, que lhe caía,
numa só linha, até ao pescocinho mole e
fino. Era lavadeiro...
Firmo
- Firmo, carioca, o amante de Rita Baiana,
“era um mulato pachola, delgado de corpo e
ágil como um cabrito; capadócio de marca,
pernóstico, só de maçadas, e todo ele se
quebrando nos seus movimentos de
capoeira. Teria seus trinta e tantos anos,
mas não parecia ter mais de vinte e poucos.
Pernas e braços finos, pescoço estreito,
porém forte; não tinha músculos, tinha
nervos” (p. 62).
Jerônimo
- Jerônimo “era um português de seus trinta
e cinco a quarenta anos, alto, espadaúdo,
barbas ásperas, cabelos pretos e
maltratados caindo-lhe sobre a testa, por
debaixo de um chapéu de feltro ordinário:
pescoço de touro e cara de Hércules, na qual
os olhos todavia, humildes como os olhos
de um boi de canga, exprimiam tranqüila
bondade” (p. 44)
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