Mecânica – Aula 7 Maria Augusta Constante Puget (Magu) Energia (1) Um dos conceitos mais importantes desenvolvidos na física é o de energia. ◦ É preciso energia para executar qualquer movimento: arremessar uma bola, transportar um equipamento para o último andar de um edifício, atravessar o Oceano Atlântico de avião, etc. ◦ Gasta-se verdadeiras fortunas para se obter e utilizar energia. ◦ Guerras foram travadas por causa de fontes de energia. ◦ Guerras foram decididas pelo uso de armas que liberam grande quantidades de energia de forma explosiva. 2 Energia (2) A energia se manifesta na natureza sob duas formas básicas: 1. Energia cinética: Energia associada ao estado de movimento de um objeto. 2. Energia potencial: ◦ Quando um sistema de corpos está numa situação que lhe permite entrar em movimento a qualquer instante, dizemos que ele armazena energia potencial. ◦ A energia potencial pode se manifestar de várias formas: gravitacional, elétrica, elástica. 3 Conservação de Energia (1) Os vários tipos de energia podem se transformar uns nos outros. Estas transformações são muito importantes para o homem. Pode-se dizer que a própria vida se fundamenta numa cadeia de transformações de energia. Investigando uma grande variedade de fenômenos, os cientistas constataram que a energia nunca desaparece e nem é criada do nada. Isto levou à formulação do Princípio da Conservação de Energia: Em um sistema energeticamente isolado, a energia total permanece constante. 4 Trabalho (1) Significado cotidiano da palavra trabalho: Qualquer atividade que necessita de um esforço físico ou intelectual. Na física, este conceito possui uma definição mais precisa. Vamos considerar inicialmente a seguinte situação: ◦ Um corpo se desloca (por enquanto, vamos considerar que seja em um movimento retilíneo) por uma distância s. ◦ O corpo se move sob a ação de uma força de módulo constante F, que atua sobre ele na mesma direção e sentido de seu deslocamento. ◦ Nestas condições, o trabalho W realizado pela força constante F que atua sobre o corpo é definido como: W = Fs 5 Trabalho – Unidade (1) W = Fs O trabalho realizado é tanto maior quanto maior for a força F e/ou quanto maior for o deslocamento s. A unidade de trabalho é o Joule (J), em homenagem a James Prescott Joule (1818 – 1889), físico britânico que deu importantes contribuições ao estudo da natureza do calor e suas relações com o trabalho mecânico. 1J = 1N∙m 6 Trabalho – Exemplo (1) O carro de José morre no meio de um cruzamento. Enquanto sua companheira gira o volante, José empurra o carro 19 m para desimpedir o cruzamento. Sabendo que ele empurra o carro com uma força de 210 N na mesma direção e no mesmo sentido do deslocamento, qual é o trabalho realizado por esta força sobre o carro? W = Fs = (210 N)(19 m) = 4,0 X 103 J 7 Trabalho – Força e Deslocamento com Direções Diferentes (1) Se José empurrasse o carro mantendo um ângulo com a direção do deslocamento, apenas a componente da força na direção do movimento do carro seria a força efetiva para deslocar o carro. Assim, quando a força 𝐹 e o deslocamento 𝑠 possuem direções diferentes, tomamos o componente de 𝐹 na direção do deslocamento 𝑠 e definimos o trabalho como o produto deste componente pelo módulo do deslocamento: W = Fs cos 8 Trabalho – Força e Deslocamento com Direções Diferentes (2) W = Fs cos Esta equação possui a forma de um produto escalar entre dois vetores: 𝐴 ∙ 𝐵 = 𝐴𝐵 𝑐𝑜𝑠 Assim, podemos escrever a definição de trabalho de uma forma mais genérica: 𝑊 =𝐹∙𝑠 Deve-se observar que o resultado do produto escalar entre dois vetores é uma grandeza escalar. 9 Trabalho – Força e Deslocamento com Direções Diferentes (3) Para calcular o trabalho que uma força realiza sobre um objeto quando este sofre um deslocamento, usamos apenas a componente da força na direção do deslocamento do objeto. A componente da força perpendicular ao deslocamento não realiza trabalho. 10 Trabalho – Força e Deslocamento (1) O trabalho de uma força pode ser positivo, negativo ou nulo. Verificando a expressão: W = Fs cos temos as seguintes possibilidades: 1. Se a força possui uma componente na mesma direção e no mesmo sentido do deslocamento: ◦ O ângulo é agudo (00 900) e cos é positivo. ◦ O trabalho é positivo. Dizemos que o trabalho da força é motor. 𝐹 𝑠 11 Trabalho – Força e Deslocamento (2) 2. Se a força possui uma componente na mesma direção e no sentido oposto ao do deslocamento: ◦ O ângulo é obtuso (900 1800) e cos é negativo. ◦ O trabalho é negativo. Dizemos que o trabalho da força é resistente. 𝐹 𝑠 12 Trabalho – Força e Deslocamento (3) 3. Se a força deslocamento: é perpendicular ao ◦ = 900 e cos é nulo. ◦ O trabalho é nulo. 𝐹 . 𝑠 13 Trabalho e Energia Cinética (1) Consideremos uma partícula de massa m movendo-se ao longo do eixo Ox sob a ação de uma força resultante constante de módulo F, orientada no sentido positivo do eixo Ox, conforme figura abaixo: m 𝐹 A aceleração da partícula, neste caso, é constante e é dada pela segunda lei de Newton, F = ma. Suponha que a velocidade varie de v1 a v2 enquanto a partícula vai do ponto x1 a x2, realizando um deslocamento s = x2 – x1. 14 Trabalho e Energia Cinética (2) A partir da equação de Torricelli: v22 = v12 + 2∙a∙s conseguimos expressar a aceleração em termos das velocidades inicial e final e do deslocamento: v22−v12 𝑎= 2𝑠 Assim: v22−v12 𝐹 = 𝑚𝑎 = 𝑚 2𝑠 e o trabalho W é dado por: W = Fs = 𝑚 v22−v12 2 15 Trabalho e Energia Cinética (3) Assim: W 1 1 2 = 𝑚v2 - 𝑚v12 2 2 1 𝑚v2 2 A grandeza K = denomina-se energia cinética da partícula. A energia cinética é uma grandeza escalar que depende apenas da massa e do módulo da velocidade da partícula. A energia cinética nunca pode ser negativa, sendo igual a zero apenas quando a partícula está em repouso. 16 Trabalho e Energia Cinética (4) Na equação: W 1 1 2 = 𝑚v2 - 𝑚v12 2 2 O primeiro termo do membro direito é 1 K2= 𝑚v22 , a energia cinética final da partícula, 2 após o deslocamento. O segundo termo do membro direito é a energia 1 cinética inicial K1= 𝑚v12. 2 A diferença entre os dois termos é a variação da energia cinética. 17 Trabalho e Energia Cinética (5) Desta forma, a equação: W 1 1 2 = 𝑚v2 - 𝑚v12 2 2 mostra que: O trabalho realizado pela força resultante sobre a partícula fornece a variação da energia cinética da partícula. Este resultado é conhecido como Teorema do trabalho-energia: WTOT = K2 – K1 = K 18 Trabalho e Energia Cinética (6) 1. Quando WTOT > 0 : K2 > K1 , isto é, a energia cinética aumenta e a velocidade final da partícula é maior do que a sua velocidade inicial. 2. Quando WTOT < 0 : K2 < K1 , isto é, a energia cinética diminui e a velocidade final da partícula é menor do que a sua velocidade inicial. 3. Quando WTOT = 0 : K2 = K1 e a velocidade não se altera. 19 Trabalho e Energia Cinética (7) Unidades: Pela equação WTOT = K2 – K1 = K, vemos que trabalho e energia cinética têm as mesmas unidades. A unidade no SI, tanto para a energia cinética como para o trabalho é o Joule. 20 Trabalho Realizado pela Força Gravitacional (1) Consideremos uma bola de massa m sendo arremessada para cima com velocidade inicial v0, como mostra a figura ao lado. Sua energia cinética inicial será dada por Na subida a bola é desacelerada pela força gravitacional 𝐹 g. O trabalho realizado pela força gravitacional cujo módulo é dado por Fg = mg é dado por: Wg = mgd cos 𝑑 1 𝑚v02. 2 𝑣0 𝐹g Durante a subida, a força gravitacional tem sentido contrário ao do deslocamento: logo = 1800 e temos: Wg = -mgd O sinal negativo indica que, durante a subida, a força gravitacional remove uma energia mgd da energia cinética do objeto. Isto está de acordo com o fato de que o objeto perde velocidade na subida. 21 Trabalho Realizado pela Força Gravitacional (2) Depois que o objeto atinge a altura máxima e começa a descer, o ângulo entre a força 𝐹 g e o deslocamento 𝑑 é zero. Assim: Wg=mgd cos 00 Ou seja: Wg= +mgd 𝑑 𝐹g O sinal positivo indica que, na descida, a força gravitacional transfere uma energia mgd para a energia cinética do objeto. Isto está de acordo com o fato de que o objeto ganha velocidade na descida. 22 Trabalho Realizado para Levantar e Baixar um Objeto (1) Vamos supor que levantamos um objeto, aplicando sobre ele uma força vertical 𝐹. Esta força, sendo na mesma direção do deslocamento, realiza um trabalho positivo Wa sobre o objeto. Ao mesmo tempo, a força gravitacional, que atua no sentido contrário ao deslocamento realiza um trabalho negativo Wg sobre o objeto. A variação K na energia cinética do objeto, devido a estas duas transferências de energia (a força aplicada transfere energia para o objeto e a força gravitacional remove energia do objeto) é: K = Kf – Ki = Wa + Wg onde: Kf Energia cinética no fim do deslocamento. Ki Energia cinética no início do deslocamento. 𝐹 𝑑 𝐹g 23 Trabalho Realizado para Levantar e Baixar um Objeto (2) Note-se que a mesma equação: K = Kf – Ki = Wa + Wg também se aplica à descida do objeto, mas neste caso: A força gravitacional realiza um trabalho positivo, pois atua no mesmo sentido do deslocamento. A força aplicada realiza um trabalho negativo, pois atua no sentido contrário ao do deslocamento. 𝐹 𝑑 𝐹g Em muitos casos, o objeto está em repouso antes e depois do levantamento. Exemplo: Quando você levanta um livro do chão e o coloca sobre uma mesa. Neste caso, Kf e Ki são nulas e temos: Wa + Wg = 0 Wa = -Wg Wa = -mgd cos 24 Trabalho Realizado para Levantar e Baixar um Objeto (3) De: Wa = -mgd cos Se o deslocamento é verticalmente para cima: = 1800 e o trabalho realizado pela força aplicada é: Wa = mgd. Se o deslocamento é verticalmente para baixo: = 00 e o trabalho realizado pela força aplicada é: Wa = -mgd. Estas equações se aplicam a qualquer situação em que o objeto é levantado ou baixado, com o objeto em repouso antes e depois do deslocamento. Exemplo: Se você levanta um copo que estava no chão acima da sua cabeça, a força que você exerce sobre o copo varia consideravelmente durante o levantamento. Mesmo assim, como o copo está em repouso antes e depois do levantamento, o trabalho que a força aplicada por você ao copo realiza é dado por Wa = mgd. 25 Força Elástica (1) A figura ao lado mostra uma mola no seu estado relaxado, ou seja, nem comprimida nem alongada. Uma das extremidades está fixa e, na outra extremidade, tem-se um bloco preso a ela. Se alongarmos a mola, puxando o bloco para a direita, a mola puxa o bloco para a esquerda. Se comprimirmos a mola empurrando o bloco para a esquerda, a mola empurra o bloco para a direita. 26 Força Elástica (2) Como uma boa aproximação para muitas molas, a força 𝐹𝑒𝑙 de uma mola é proporcional ao deslocamento 𝑑 da extremidade livre a partir da posição que ocupa quando a mola está no estado relaxado. Assim, a força é dada por: 𝐹𝑒𝑙 = −𝑘𝑑 conhecida como Lei de Hooke, em homenagem a Robert Hooke, cientista inglês do final do século XVII. O sinal negativo indica que o sentido da força elástica é sempre oposto ao sentido do deslocamento da extremidade livre da mola. A constante k é chamada de constante elástica e é uma medida da rigidez da mola. Sua unidade no SI é o newton por metro. 27 Força Elástica (3) Adotando o eixo x como aquele ao longo do qual ocorre o deslocamento, podemos escrever: Fx = -kx Nesta equação: ◦ Se x é positivo (ou seja, a mola está alongada para a direita), Fx é negativa (é um puxão para a esquerda). ◦ Se x é negativo (ou seja, a mola está comprimida para a esquerda), Fx é positiva (é um empurrão para a direita). Deve-se notar que a força elástica é uma força variável, uma vez que depende de x, a posição da extremidade livre. 28 Trabalho Realizado por uma Força Elástica (1) Para determinar o trabalho realizado pela mola quando o bloco preso a ela se move, vamos fazer as seguintes hipóteses: 1. A mola não tem massa: sua massa é desprezível em relação à massa do bloco. 2. A mola é ideal, isto é, obedece exatamente à lei de Hooke. Também vamos supor que não exista atrito entre o bloco e o piso. 29 Trabalho Realizado por uma Força Elástica (2) Vamos agora dar ao bloco um impulso para a direita, apenas para colocá-lo em movimento. Quando o bloco se move para a direita a força elástica Fx realiza trabalho sobre ele, diminuindo a energia cinética e desacelerando o bloco. Entretanto, não podemos calcular o trabalho usando a expressão W = Fd cos porque essa equação supõe que a força F é constante. E sabemos que a força elástica é variável. Para efetuar este cálculo, precisamos do cálculo integral. 30 Trabalho Realizado por uma Força Elástica (3) Seja xi a posição inicial do bloco e xf a posição do bloco em um instante posterior. Obtemos o trabalho da força elástica calculando: 𝑥𝑓 𝑊𝑒𝑙 = 𝑥𝑓 𝑊𝑒𝑙 = − 𝑥𝑖 𝑊𝑒𝑙 = 𝐹𝑥 𝑑𝑥 𝑥𝑖 −𝑘𝑥 2 xf 𝑘𝑥 𝑑𝑥 = | 2 xi 1 𝑘𝑥𝑖 2 2 - 1 𝑘𝑥𝑓 2 2 31 Trabalho Realizado por uma Força Elástica (4) O trabalho realizado pela mola pode ser negativo ou positivo, dependendo do fato de a transferência total de energia ser do bloco para a mola ou da mola para o bloco quando este se move de xi para xf. Trabalho Realizado por uma Força Aplicada Vamos supor que deslocamos o bloco ao longo do eixo x, mantendo uma força 𝐹𝑎 aplicada ao bloco. Durante o deslocamento a força aplicada realiza sobre o bloco um trabalho Wa, enquanto a força elástica realiza um trabalho Wel. A variação K da energia cinética do bloco devido a estas duas transferências de energia é: K = Kf – Ki = Wa+Wel 32 Trabalho Realizado por uma Força Elástica (5) Avaliando esta expressão: K = Kf – Ki = Wa+Wel se o bloco está em repouso no início e no fim do deslocamento, Ki e Kf são iguais a zero e temos: Wa = - Wel Assim, se um bloco que está preso a uma mola se encontra em repouso antes e depois de um deslocamento, o trabalho realizado sobre o bloco pela força aplicada responsável pelo deslocamento é o negativo do trabalho realizado sobre o bloco pela força elástica. 33 Trabalho Realizado por uma Força Variável Genérica (1) Considerando uma força variável F(x) unidimensional qualquer, o trabalho realizado por esta força sobre uma partícula quando ela se desloca de uma posição inicial xi para uma posição final xf é dado por: 𝑥𝑓 𝑊= 𝐹(𝑥) 𝑑𝑥 𝑥𝑖 Geometricamente, o trabalho é igual à área entre a curva de F(x) e o eixo x, entre os limites xi e xf: 34 Trabalho Realizado por uma Força Variável Genérica (2) Se a força for tridimensional, podemos expressá-la como: 𝐹 = 𝐹𝑥𝒊 + 𝐹𝑦𝒋 + 𝐹𝑧𝒌 Supondo que incremental: a partícula sofra um deslocamento d𝑟 = 𝑑𝑥𝒊 + 𝑑𝑦𝒋 + 𝑑𝑧𝒌 e teremos que: dW = 𝐹 ∙ 𝑑𝑟 O trabalho realizado pela força 𝐹 enquanto a partícula se move de uma posição inicial ri = (xi, yi, zi) para uma posição final rf = (xf, yf, zf) é, portanto: 𝑟𝑓 𝑊= 𝑥𝑓 𝑑𝑊 = 𝑟𝑖 𝑦𝑓 𝐹𝑥 𝑑𝑥 + 𝑥𝑖 𝑧𝑓 𝐹𝑦 𝑑𝑥 + 𝑦𝑖 𝐹𝑧 𝑑𝑥 𝑧𝑖 35 Potência (1) A taxa de variação com o tempo do trabalho realizado por uma força recebe o nome de potência. Se uma força realiza um trabalho W em um intervalo de tempo t, a potência média desenvolvida durante esse intervalo de tempo é: 𝑊 𝑃𝑚𝑒𝑑 = ∆𝑡 A potência instantânea P é a taxa de variação instantânea com a qual o trabalho é realizado, podendo ser expressa como: 𝑑𝑊 𝑃= 𝑑𝑡 36 Potência (2) Também podemos expressar a taxa com a qual uma força realiza trabalho sobre uma partícula em termos da força e da velocidade da partícula. Para uma partícula que se move em linha reta (ao longo do eixo x, digamos) sob a ação de uma força que faz um ângulo com a direção do movimento da partícula, temos: 𝑑𝑊 𝐹 𝑐𝑜𝑠 𝑑𝑥 𝑑𝑥 𝑃= = = 𝐹 𝑐𝑜𝑠 𝑑𝑡 𝑑𝑡 𝑑𝑡 𝑃 = 𝐹 𝑣 𝑐𝑜𝑠 ou ainda: 𝑃 =𝐹∙𝑣 37 Potência – Unidade (1) No SI, a unidade de potência é o watt (W) que equivale ao voltampère: 1 V∙A = (1 J/C) ∙ (1 C/s) = (1 J/s) = 1 W James Watt (Greenock, Escócia, 19 de Janeiro de 1736 — Heathfield Hall, Inglaterra, 25 de Agosto de 1819) foi um matemático e engenheiro escocês. Construtor de instrumentos científicos, destacou-se pelos melhoramentos que introduziu no motor a vapor, que se constituíram num passo fundamental para a Revolução Industrial. 38