FOTOJORNALISMO FOTOJORNALISMO Fotojornalismo: “uma actividade singular que usa a fotografia como um veículo de observação, de informação, de análise e de opinião sobre a vida humana e as consequências que ela traz ao Planeta. A fotografia jornalística mostra, revela, expõe, denuncia e opina” (Jorge Pedro Sousa). “Sensibilidade, capacidade de avaliar as situações e de pensar na melhor forma de fotografar, instinto, rapidez de reflexos e curiosidade” – eis os traços pessoais que deve ostentar qualquer fotojornalista. FOTOJORNALISMO Três momentos na leitura de imagem ou três níveis (Jorge Pedro Sousa, Fotojornalismo Performativo) (1) Nível instintivo: onde existe uma aceitação ou uma rejeição da imagem, consoante alguns dos seus pormenores, como a cor, o contraste ou a forma… O apelo é dirigido à emoção, se houver mobilização de atenção e, por conseguinte, do canal perceptivo visão, o observador passa ao seguinte nível de leitura. (2) Nível descritivo-denotativo: o tempo de leitura é diferenciado. É menor quanto menor for a polissemia da imagem. Corresponde à leitura da imagem. Existe um apelo à percepção e a outros mecanismos internos consoante a correlação dinâmica estabelecida entre o objecto de conhecimento, a fotografia, e o sujeito. Esta é a parte mais “objectiva” da leitura. Na leitura da imagem, o observador deve enumerar e descrever cada um dos elementos componentes da imagem, tentando não impor valorações. (3) Nível simbólico-interpretativo-conotativo: marcadamente subjectivo, este nível de leitura é simbólico, pois não se expressa materialmente a não ser em função das coordenadas que possibilitam a integração da mensagem, é o mais dependente da experiência, das expectativas e do concreto envolvimento do sujeito no processo de comunicação através da fotografia. O observador vai analisar os elementos que foram lidos no anterior nível. A valoração da imagem relativamente ao significado acaba por formar uma segunda mensagem, que até poderá estar em contradição com aquilo que se observa. FOTOJORNALISMO É função do fotojornalista garantir que o observador leia completamente a sua imagem, assim como a sua mensagem. O fotojornalista deve valer-se dos recursos técnicos e dos conhecimentos teóricos que possui para que, através da mensagem fotográfica, cujo conteúdo deve ser de carácter informativo, o leitor consiga perceber o nível dos efeitos e entender o que os factos e os acontecimentos significam. Umberto Eco diz que representar iconicamente tem como significado transcrever, através de artifícios gráficos ou de outra natureza, as características culturais. Uma cultura, ao definir os seus objectos, utiliza códigos de reconhecimento que extraem expressões pertinentes e que caracterizam o conteúdo. FOTOJORNALISMO Os elementos formais da imagem, que constituem o seu alfabeto visual, podem ser agrupados em três conjuntos: 1- Elementos morfológicos: ponto, linha, plano, textura, cor e forma. São os elementos que possuem uma natureza espacial. 2- Elementos dinâmicos: movimento, que não é um elemento pertinente para as imagens fixas, uma vez que nelas não se pode dar uma representação “real” do mesmo, ainda que o conceito possa ser explorado de outras maneiras; tensão e ritmo; 3- Elementos escalares: dimensão, proporção, formato, escala. A significação plástica inerente a toda a imagem é o resultado da interrelação dos elementos icónicos que a compõem. Estes ordenam-se formando estruturas e, desta ordenação, surge a significação. A relação dos elementos morfológicos e dinâmicos necessita de um marco adequado que possibilite o surgimento dessa significação, ou seja, é necessária uma estrutura, a de relação, que harmonize o resultado visual da imagem, sendo que os elementos escalares – de natureza quantitativa – formam esta última estrutura icónica. FOTOJORNALISMO Segundo Roland Barthes, “a fotografia, embora possuindo um estatuto meramente denotante para o senso comum, tem também uma estrutura de conotação imanente”. O paradoxo fotográfico de Roland Barthes seria, então, o facto de existirem duas mensagens, uma sem código (o analógico fotográfico), e a outra possuindo código (a retórica significante da fotografia), sendo que esta última desenvolve-se a partir da primeira. “A conotação é a imposição de um segundo sentido à mensagem fotográfica”, e segundo Barthes, a fotografia pressupõe um código de conotação, que diz ser de natureza sócio-histórico-cultural. FOTOJORNALISMO Roland Barthes identifica seis processos de conotação (Jorge Pedro Sousa, Fotojornalismo, p. 98 e segs.): 1- Truncagem: Introdução, alteração ou supressão de elementos numa fotografia. 2- Pose: Os gestos significativos do sujeito humano. 3- Objectos: a presença das representações de certos objectos numa imagem fotográfica contribui para a construção de sentidos. 4- Fotogenia: Embelezamento da imagem. 5- Esteticismo: Quando a fotografia se faz pintura, como nas correntes picturalistas. 6- Sintaxe: Disposição de fotografias que induz um determinado significado. Duane Michals, Paraíso Recuperado, 1968 FOTOJORNALISMO Acerca da relação texto-imagem na fotografia, mais propriamente no fotojornalismo, Barthes refere que o texto pode ser mais um suporte de conotação da fotografia. Isto é, o texto atribuiria à imagem um ou vários significados. “É a palavra que estruturalmente é parasita da imagem”.