Determinação de Vazões Extremas 1 PROF. BENEDITO C. SILVA Conteúdo 2 Conceitos básicos Funções de probabilidade Função de distribuição empírica Distribuições teóricas de probabilidade Procedimento geral de ajuste Conceitos básicos 3 Probabilidade: A probabilidade é a chance de ocorrência de uma variável. Esta probabilidade pode ser individual ou cumulativa. Ex. No lançamento de um dado, a probabilidade de sair o número 3 é de 1/6 (individual); a chance de que ocorra um número maior que 3 é de 3/6 ou ½ (cumulativa) O objetivo da análise de frequência ou probabilidades é obter a relação entre a variável estudada e a probabilidade de ocorrerem valores maiores ou iguais, quando se examinam valores extremos superiores, e menores ou iguais em caso contrário. Ou seja, obter a Função de Probabilidade Conceitos básicos 4 A série de dados (amostra) utilizada na análise de probabilidade deve possuir as seguintes características: Série de valores independentes entre si A série deve ser estacionária, ou homogênea, no tempo A série deve ser uma amostra representativa Conceitos básicos • Valores independentes: Os eventos são considerados independentes quando não existe correlação entre os valores da série Ex.: Vazões máximas: i. Valores máximos diários de cada ano ii. Um valor para cada ano hidrológico iii. O ano hidrológico corresponde ao período de 12 meses, começando no início do período chuvoso e terminando ao final da estação seca. Para o Sudeste do Brasil inicia em outubro e termina em setembro do ano seguinte 5 Conceitos básicos Vazões diárias em Morpará (Rio São Francisco) 6000 5000 Máx. de 1996 Máx. de 1995/96 Máx. de 1995 3 Vazão (m /s) 4000 3000 2000 1000 Ano civil 0 31/12/94 31/12/95 6 Ano hidrológico 31/12/96 31/12/97 Conceitos básicos • Série estacionária: as estatísticas da série não podem se alterar ao longo do tempo 12000 Vazões do rio Paraná em Concórdia 10000 Vazão (m3/s) 8000 6000 4000 2000 0 1890 1900 1910 1920 1930 1940 7 1950 1960 1970 1980 1990 2000 Conceitos básicos • Séries não-estacionárias 2500 1500 Vazões do rio Paraguai 1000 6000 500 0 jul-69 jul-71 jul-73 jul-75 jul-77 jul-79 jul-81 Vazões do rio Taquari (MT) Vazão m édia m ens al (m 3/s ) Vazão (m3/s) 2000 5000 4000 3jul-83 000 2000 1000 0 8 D e z/6 2 D e z/6 4 D e z/6 6 D e z/6 8 D e z/7 0 D e z/7 2 D e z/7 4 D e z/7 6 D e z/7 8 D e z/8 0 D e z/8 2 Conceitos básicos Amostra representativa: as estatísticas da amostras devem ser representativas da população. O número de anos de uma amostra de valores é importante, mas não significa tudo 9 Funções de probabilidade Seja uma amostra com n valores da variável aleatória X, dividida em classes com largura igual a ∆x O número de observações no intervalo i é ni , cobrindo os valores [xi - ∆x, xi]. A função de freqüência relativa será: ni f x i n f(x) Graficamente: x Histograma 10 f xi xi xi x Amostra (a) Função de frequência relativa f (xi) f x dx População (d) Função densidade de probabilidade f (xi) 1 x 0 Fx i f x j x 0 xi x f x i j1 (b) Função de frequência acumulada (c) Função distribuição de probabilidade F(x i) F(xi) 1 F(x i) F(xi) F(xi-1) 0 x i-1 x i x F x 0 lim n , x 0 F11 s x dF(x) dx xi x dF x dx Funções de probabilidade Para uma variável aleatório contínua X, a função densidade de probabilidade é uma função tal que 1) f xi 0 2) f xdx 1 3) Pa X b f xdx área sob f(x) de a a b, para qualquer a e b b a f (x) 12 a b x Função distribuição de probabilidade acumulada Probabilidade de não-excedência F x P X x Probabilidade da variável X ser menor ou igual ao valor x Probabilidade de excedência P X x 1 F x Probabilidade da variável X ser maior ou igual ao valor x 13 Tempo de retorno • O tempo de retorno (TR) em hidrologia é utilizado para caracterizar a freqüência de repetição de um evento. É dado por: 1 TR P X x • Ex. Uma inundação que tem a chance de ser maior ou igual num ano qualquer de 0,05 ou 5%, tem um tempo de retorno de 1/0,05 = 20 anos. Significa que, em média, a inundação ocorrerá a cada 20 anos Não significa repetição cíclica. 14 Risco hidrológico O risco hidrológico (R) é a probabilidade de que um evento com determinada magnitude será igualado ou superado ao menos uma vez em um dado período de anos (N). É calculado por: R 1 1 P N Onde, P é a probabilidade anual de excedência. 15 Risco hidrológico Exemplo: O vertedor de uma barragem foi dimensionado para uma vazão com TR de 50 anos. Qual o risco de sua capacidade seja excedida nos próximos 20 anos? E nos próximos 50 anos? • Solução: 1 1 1 TR P 0.02 P TR 50 20anos R 1 1 P 1 1 0.02 0.332 N 20 50anos R 1 1 P 1 1 0.02 0.636 N 50 16 Função de distribuição empírica 17 • Ajuste gráfico dos pontos da amostra, utilizando equações de posição de locação ou plotagem para estimativa da probabilidade de excedência. Exemplo: m P (Q qm ) n 1 Onde m é ordem dos valores (decrescente) da amostra n é o tamanho da amostra. Exemplo de ajuste empírico 18 Ano 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 Vazão Máxima 145.5 183.8 289.5 131.3 227.3 167.3 104.3 263.3 157.5 240 170.3 210.8 184.5 Ordem 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Vazão Máxima 289.5 263.3 240.0 227.3 210.8 184.5 183.8 170.3 167.3 157.5 145.5 131.3 104.3 Probabilidade empírica 0.0714 0.1429 0.2143 0.2857 0.3571 0.4286 0.5000 0.5714 0.6429 0.7143 0.7857 0.8571 0.9286 Tempo Retorno 14.0 7.0 4.7 3.5 2.8 2.3 2.0 1.8 1.6 1.4 1.3 1.2 1.1 1 1 TR 7.0 Para o segundo valor: P(Q q) 0.1429 m 2 PQ q 0.1429 n 1 13 1 Exemplo de ajuste empírico 300.0 3 Vazão máxima (m /s) 250.0 200.0 150.0 100.0 50.0 0.0 0.00 0.20 0.40 0.60 19 Probabilidade acumulada 0.80 1.00 Exemplo de ajuste empírico 300.0 3 Vazão máxima (m /s) 250.0 200.0 150.0 100.0 50.0 0.0 0.0 2.0 4.0 6.0 8.0 10.0 Tempo de retorno, TR (ano) 20 12.0 14.0 Distribuições teóricas de probabilidade Distribuições usuais em hidrologia • Normal (simétrica e utilizada para vazões médias ou precipitações médias) • Log-Normal (vazões máximas) • Gumbel (extremo tipo I) (vazões máximas) • Extremo Tipo III ou Weibull (vazões mínimas) • Log Pearson Tipo III (vazões máximas) adotada em alguns países como padrão . Utiliza três parâmetros 21 Distribuições teóricas de probabilidade 22 Distribuições teóricas de probabilidade 23 Distribuição de Gumbel (Extremos I) 24 A função densidade de probabilidade acumulada é PQ q e e y Ou, passando para probabilidade de excedência PQ q 1 e Onde, y e y q 0,78s x 0,5772 s - desvio padrão da série x - média da série Distribuição de Gumbel (Extremos I) PQ q 1 e e y 1 e y 1 e TR 1 e y e 1 TR Passando o logaritmo 2 vezes 1 y ln ln1 TR q 1 qTR ln ln1 TR 25 1 ln ln1 TR Distribuição Log-Pearson Tipo III Função densidade de probabilidade: Fórmula alternativa: A vazão para um tempo de retorno TR é calculada por, logQTR logQ KSlogQ SlogQ = Desvio padrão dos logaritmos da vazões 26 Distribuição Log-Pearson Tipo III O parâmetro K é calculado por: 3 2 G G K k1 1 1 G 6 6 Com, 2,515517 0,802853t 0,010328t 2 k1 t 1 1,432788t 0,189269t 2 0,001308t 3 t 2 ln T G é o coeficiente de assimetria 27 Exemplo de ajuste de função teórica Distribuição Normal 28 Ano 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 Vazão Máxima 145.5 183.8 289.5 131.3 227.3 167.3 104.3 263.3 157.5 240 170.3 210.8 184.5 Média 190.4 m3/s Desvio padrão 53.5 m3/s Tempo de retorno 100 90 80 70 60 50 40 30 20 14 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1.01 Probabilidade 0.010 0.011 0.013 0.014 0.017 0.020 0.025 0.033 0.050 0.071 0.100 0.111 0.125 0.143 0.167 0.200 0.250 0.333 0.500 0.990 Vazão (m3/s) Distrib. Normal 314.9 312.8 310.4 307.6 304.3 300.3 295.3 288.6 278.5 268.8 259.0 255.7 252.0 247.5 242.2 235.4 226.5 213.4 190.4 65.6 Exemplo de ajuste de função teórica Distribuição Normal 350.0 250.0 3 Vazão máxima (m /s) 300.0 200.0 Empírica Normal 150.0 100.0 50.0 0.0 0.0 5.0 10.0 15.0 20.0 Tempo de retorno, TR (ano) 29 25.0 30.0 Exemplo de ajuste de função teórica Distribuição Gumbel Ano 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 Média Desvio padrão Vazão Máxima 145.5 183.8 289.5 131.3 227.3 167.3 104.3 263.3 157.5 240 170.3 210.8 184.5 Tempo de retorno 100 90 80 70 60 50 40 30 20 14 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1.01 Probabilidade 0.010 0.011 0.013 0.014 0.017 0.020 0.025 0.033 0.050 0.071 0.100 0.111 0.125 0.143 0.167 0.200 0.250 0.333 0.500 0.990 Vazão (m3/s) Distrib. Gumbel 358.39 353.97 349.02 343.41 336.92 329.23 319.81 307.62 290.32 274.95 q 260.26 255.61 250.36 244.37 237.36 228.92 218.31 203.98 181.59 102.41 190.4 m3/s 53.5 m3/s Alfa Mi 41.76223 30 166.2795 TR ln ln1 1 TR Exemplo de ajuste de função teórica Distribuição Gumbel 350.0 250.0 3 Vazão máxima (m /s) 300.0 200.0 Empírica Normal Gumbel 150.0 100.0 50.0 0.0 0.0 5.0 10.0 15.0 20.0 Tempo31 de retorno, TR (ano) 25.0 30.0 Procedimento geral para ajuste de distribuição teórica • Verificar se a série de dados atende às condições básicas de ajuste • Escolher as distribuições mais prováveis, em função do tipo de variável a ser ajustada • Ajustar a distribuição empírica • Determinar os valores dos parâmetros das distribuições teóricas • Verificar o ajuste por: Inspeção visual Teste de aderência 32 Cálculo de Vazões Mínimas (Q7/10) • Vazão Q7/10 significa a vazão mínima média de 7 dias com 10 anos de tempo de retorno • Calcula-se a média móvel de 7 dias das vazões diárias, para toda a série de dados • Escolhe-se o menor valor de cada ano. Para a região Sudeste deve-se usar o ano civil • Para o calculo das probabilidades acumuladas e tempos de retorno os dados devem ser organizados em ordem crescente • O valor da Q7/10 pode ser estimado com a distribuição empírica, por interpolação dos valores 33 Vazão máxima para locais sem dados observados: método racional Qp=0,278 C I A Qp: vazão máxima (m3/s) C: coeficiente de run-off I: intensidade em mm/h A: área em km2 Área < 2 km2 34 35 Sequência de cálculo 36 • Delimitar a bacia hidrográfica; • Divisão de áreas quanto a cobertura da bacia (C1, C2, C3, etc.); • Cálculo do C (média ponderada) • Determinação do comprimento do curso principal L e a sua declividade S (ou H, que é o desnível entre o ponto mais afastado da bacia e o exutório); Sequência de cálculo 37 Exemplo 38 39 40 Solução 41 Solução 42