Introdução a Bíblia Este curso visa dar uma visão geral da Bíblia para ajudar os agentes e catequistas, pessoas que trabalham nas pastorais, coordenadores no trabalho que desenvolvem com muito carinho e dedicação na paróquia. É uma oportunidade de estarmos refletindo em comunidade a Palavra de Deus e abrindo horizontes para um amadurecimento de nossa fé. Tendo uma pequena noção de Bíblia fica fácil trabalhar em nossa comunidade, fazendo o Reino de Deus crescer em nosso meio, pois: “Tua palavra é lâmpada para os meus pés , e luz para o meu caminho” Sl 119. O que é Bíblia. Como ela é dividida. O que levou o povo a escrevê-la. A História do povo de Israel. Visão geral do Antigo Testamento. Estudo do Pentateuco. A Bíblia é o principal livro do cristão. Ela é a fonte de nossa fé. A Bíblia nasceu da vontade do povo de ser fiel a Deus e a si mesmo, nasceu da preocupação de transmitir aos outros e a nós esta vontade de ser fiel. A palavra Bíblia chegou a nós através do latim Bíblia, palavra que vem da língua grega , plural de , diminutivo de s Quem a escreveu foram homens e mulheres como nós. Os livros que a compõe são diferentes exatamente porque procuravam responder a realidades diversas de cada momento histórico. Ela conta os acontecimentos que vão desde a experiência com Abraão até a perseguição dos primeiros cristãos. Mais de 2000 anos de experiência. A redação final da Bíblia realizou-se na época do exílio. O período histórico da formação da Bíblia situa-se entre 1100 a. C. ou 1200 a. C. a 100 d. C. Provavelmente, a mais antiga parte escrita da Bíblia é o Cântico de Débora, que se encontra no livro dos Juízes (Jz, 5). Por isso, se afirma que a parte mais antiga da Bíblia é o Cântico de Débora, no livro dos Juízes. A partir daí, fez-se um retrospecto didáticohistórico. Como dissemos, estas histórias iam sendo passadas oralmente de pai a filho, nos santuários. Acontece que nem todos iam para os mesmos santuários, o que motivou a existência de pequenas diferenças na catequese do norte e na do sul. A tradição do sul foi chamada de JAVISTA (J), pois Deus era tratado sempre por Javé; a do norte se chamou ELOISTA (E), porque Deus era tratado como Eloi. É o livro mais conhecido do mundo, já foi traduzido para mais de 1685 línguas. Mas sua língua oficial, ou melhor línguas, foram: hebraico, aramaico e grego. - Os livros da Bíblia são chamados “livros sagrados” porque foram escritos por inspiração divina. Também chamados de “livros canônicos” para indicar que constam da relação autêntica dos livros sagrados, que se denominam exatamente “cânone”. - A Bíblia se divide em Antigo e Novo Testamento. O termo testamento (latim testamentum) traduz o grego e o hebraico berît, “aliança”, significando o fato central da salvação, a antiga Aliança do Sinai e a nova Aliança de Jesus Cristo. - A Bíblia se compõe de 73 livros: 46 do AT e 27 do NT- A Bíblia começou a ser escrita por volta do ano 1250 a.c. e terminou em torno do ano 100 d.c.. - Ela foi escrita em três línguas: hebraico, aramaico e grego. O Antigo Testamento foi escrito, em sua maior parte, em hebraico. 2 Mc, Sb, Dn 13 e 14 foram escritos em grego; Jt, Br, Eclo e 1 Mc foram em hebraico mas estão conservados em grego (embora extensos fragmentos de Eclo em hebraico tenham sido descobertos desde 1896); os textos de Qumrã fazem pensar que Tb tenha sido escrito em aramaico; Jr 10,11; Esd 4, 8-6, 18; 7, 12-26; Dn 2, 4-7,28 foram escritos em aramaico. O Novo Testamento foi escrito em grego. - A Bíblia hebraica foi dividida em capítulos e seções para a leitura na sinagoga, antes da era cristã. A divisão moderna do Antigo Testamento em versículos foi realizada por Sante Pagnini em sua Bíblia latina de 1528; o redator parisiense Robert Etienne adotou a numeração de Pagnini e numerou os versículos do Novo Testamento em sua edição de 1555. Os livros da Bíblia estão divididos em capítulos e versículos para facilitar a procura e a citação de uma frase. A ordem dos elementos é: o nome do livro em abreviatura, o número do capítulo e o número do versículo. Assim, Mt 5,12 corresponde ao Evangelho segundo São Mateus, capítulo 5, versículo 12. Quando são citados vários versículos ou capítulos seguidos, estão unidos por um hífen: Mt 5,12-17 (Mateus, capítulo 5, versículos 12 a 17); Mt 5-6 (Mateus, capítulos 5 e 6); Mt 5,20-6,13 (Mateus do capítulo 5, versículo 20 ao capítulo 6, versículo 13, sem qualquer interrupção Se o livro só tiver um capítulo, aparece apenas o livro e o versículo. Assim, 2 Jo 12 para indicar 2.ª Carta de João, versículo 12. Quando são citados vários versículos do mesmo capítulo, mas não todos seguidos, ficam separados por um ponto: Mt 5,12.1417 (a citação para no v.12 e continua do v.14 ao 17 inclusive, não incluindo o versículo 13). Se forem citados diferentes capítulos do mesmo livro, tais capítulos vão separados por um ponto e vírgula mas não é repetido o nome do livro: Mt 5,12.21-23; 6,1-8 (Mateus, capítulo 5, versículo 12 e também do v. 21 a 23 inclusive; e ainda o capítulo 6, do versículo 1 a 8 inclusive). Como se pode ver, a vírgula vai sempre depois do capítulo, a separá-lo dos versículos. A Bíblia foi impressa pela primeira vez (em latim) por Gutemberg (Mogúncia, 1450); antes de 1500, já haviam sido publicadas mais de cem edições. Ela foi escrita em papiro ou pergaminho. O texto original era copiado muitas vezes. Conhecemos hoje muitas cópias desses antigos manuscritos. Eles transmitiram o texto hebraico do Antigo Testamento e suas traduções mais antigas, gregas e latinas. Só no século XV as Bíblias começaram a ser impressas e ai se introduziu a divisão em capítulos e versículos, que usamos hoje. - Não foi uma única pessoa que escreveu a Bíblia. Homens e mulheres, jovens e velhos, pais e mães de família, agricultores, pescadores e operários de várias profissões, gente que sabia ler e escrever e gente que só sabia contar histórias. - Na Bíblia encontram-se vários gêneros literários: leis, historias, crônicas, poesias, cânticos, provérbios, fábulas, novelas, etc O espírito da Bíblia é marcado justamente pela comunicação de Deus através do humano. É o chamado "espírito da encarnação". Ele escolhe pessoas concretas, de um tempo e lugar, com suas qualidades e defeitos, para comunicarem sua vontade. Deus usa nossa própria linguagem e se revela através dos fatos humanos da vida. A Bíblia registra a Palavra de Deus do jeito como ela foi percebida na experiência de fé por pessoas diferentes de épocas e lugares diferentes. Isto nunca pode ser esquecido. Nessas e em outras coisas, Deus não corrigiu as imperfeições da ciência da época para passar sua mensagem. Ele também permite que apareçam as atitudes do povo diante dos fatos. A Bíblia não é só um livro que nos diz quem é Deus; ela nos diz também quem somos nós, com nossas grandezas e fraquezas, acertos e limitações. O símbolo é a melhor maneira de falar de coisas que não cabem na nossa linguagem comum. Por isso se usa tanto símbolo para falar das coisas de Deus: para falar de coisas mais profundas. Pelo mesmo motivo se usam parábolas, isto é, linguagem figurada. Quem lê tudo ao pé da letra perde a riqueza da mensagem e pode chegar a conclusões bem absurdas. Uma das grandes "brigas" dos fundamentalistas é a interpretação dos primeiros capítulos da Bíblia, os que tratam da criação do homem e do mundo. Interpretando tudo ao pé da letra, querem impedir os cristãos de aceitar o que diz a ciência moderna. Em Gn 1 – 2, a Bíblia não pretende dar uma aula de Astronomia (estudo dos astros) ou de Antropologia... O que a Bíblia busca nestes textos é, através de uma linguagem bonita e profunda, responder a questões que desafiam a humanidade: Qual a origem da vida? Qual a origem do homem? Por que o mal existe? O povo de Deus usava uma linguagem bem concreta, personificando seu pensamento. Ex: "humanidade" = carne (Gn. 6, 12); Para dizer que a mulher tinha a mesma natureza humana do homem, Adão se expressou com esta linguagem: (Gn 2,23) "Eis agora aqui, o osso de meus ossos e a carne da minha carne". Quem não leva em conta essas coisas próprias da língua do povo que escreveu a Bíblia, não vai entender a Palavra de Deus. Os orientais gostavam muito de usar provérbios. Recorriam as hipérboles (expressões exageradas). Ex: "É mais fácil um camelo passar no fundo de uma agulha, do que um rico entrar no reino dos céus".(Mt. 19, 24). Outra coisa que precisamos entender são os "Hebraísmo", ou seja, certas expressões próprias da língua hebraica que não tem tradução em outras línguas. Ex: alguém ama uma pessoa mais que a outra - ama uma pessoa e odeia a outra (Lc. 14, 26). Precisamos notar também a palavra "IRMÃO". No hebraico não existem as palavras "primos, tio, tia, sobrinhos, etc." Qualquer parentesco usa-se a palavra Irmão. Ex: Mt. 13, 55-56; Mt. 12, 48; Gn. 11, 27-28; Gn. 13, 8 Para entendermos qualquer Livro da Bíblia, precisamos saber a que gênero literário pertence, ou seja, a forma de literatura usada para escrever. Forma literária é o conjunto de regras e expressões usadas para escrever tal tipo de Livro. Os gêneros literários que se encontram na Bíblia são os seguintes: Tratados Religiosos: Com aparência de narração histórica, apresentam verdades religiosas. Não podem ser entendidos como história propriamente dita. Ex. Gn. 1 a 11. Histórias Descritivas: Possui uma finalidade religiosa, mas os personagens e os fatos são todos verdadeiros, documentados pela história. Gênero Didático: São Livros que trazem instruções religiosas ou morais. Fazem recomendações e dão orientações de vida. Gênero Profético: Apresentam a Palavra de Deus através dos profetas, que advertem, repreendem e encorajam o Povo de Israel diante da realidade em que vive. Gênero Apocalíptico: São visões proféticas sobre a sorte do Povo de Deus. Gênero Poético: Apresenta a Palavra de Deus à maneira de poesia, usando, portanto, de maior liberdade e recurso literário. Gênero Jurídico: é a Palavra de Deus apresentada sob a forma de Lei. É um modo de escrever bem diferente daquele usado na poesia. Gênero Epistolar: "Epistola" é uma palavra latina que significa carta. O gênero epistolar traz a Palavra de Deus à maneira de Cartas dirigidas a certas comunidades ou pessoas. Quando Jesus nasceu, foi-lhe dado um nome. Antes disso, não se encontra na Bíblia nenhum lugar onde se dê um nome a Deus. Mesmo quando Moisés perguntou a Deus qual era o Seu Nome, Deus não lhe disse qual o Seu Nome. Mas usou de expressão em lugar do nome. Para o Povo de Deus o nome não era apenas uma palavra externa com a qual chamamos alguém. O nome possuía um conteúdo interior. Deveria significar aquilo mesmo que a pessoa era no íntimo de seu ser. Daí a dificuldade de se chamar Deus por um nome. Quem poderia penetrar o íntimo divino? Na Bíblia encontramos certas expressões que designavam a Pessoa Divina. Eis as mais conhecidas: Elôhim: é o plural de "El" ? O SENHOR. ADONAI: quer dizer MEU SENHOR ou MEU DEUS. ELYON: significa a parte mais alta de um lugar. É usada para dizer O DEUS ALTÍSSIMO. SADDAI: palavra que significa O TODO PODEROSO. JAVÉ: (Jaheweh) quer dizer: EU SOU AQUELE QUE SOU. Jeová: é uma tradução errada de "Yahweh". Os judeus tinham excesso de respeito com o nome de Deus. O segundo mandamento do Decálogo (10 mandamentos) não permitia que se pronunciasse o nome de Deus em vão. Então por medo de usar indevidamente um nome tão sagrado, os judeus passaram a escrever "Javé" somente com as quatro consoantes, sem as vogais. Então ficou YHWH. Mais tarde, colocaram as vogais da palavra Adonai e surgiu " Yehowah" ( Jeová ) em lugar de Yaheweh ( Javé ). Quer dizer DEUS. PENTATEUCO - É uma palavra grega que significa "cinco livros". O Pentateuco reúne os cinco primeiros livros da Bíblia. Torá significa orientação, exortação, mais tarde passou a significar Lei. Esses livros não são códigos legislativos, mas contém a maioria das leis bíblicas referentes a toda vida do povo. Se Moisés não pode ser considerado o autor do Pentateuco, a quem atribuí-lo ? Atualmente se admite que o Pentateuco é formado por quatro documentações ou tradições Javista, escrito no séc. IX aC no reino de Judá. Eloísta, datado no séc. VIII aC e composto no reino de Israel. Deuteronomista, também do reino de Israel, escrito pelo séc. VII aC Sacerdotal, composto durante o Exílio, no séc. VI aC. Gênesis: palavra grega que significa origem. Narra as origens do mundo e do homem e a formação do Povo de Deus e a história dos Patriarcas. . Seus escritos datam entre os séculos IX e VI aC, sua redação final aconteceu no séc. V aC. Êxodo: palavra grega, que significa saída. Trata da saída do Povo de Deus do Egito, a passagem pelo Mar Vermelho; fala dos Dez Mandamentos e a caminhada do Povo à Terra Prometida. E povo que estava preso 430 anos no Egito, experimenta a ação de Deus – a liberdade no contato com Ele. Levítico: Levi era um dos doze descendentes de Jacó. É um Livro que trata das leis sobre o culto divino. 1a – Parte cultual, com leis referentes ao culto (Lv 1-16). 2a – Parte legal, contendo leis que abrangem toda a vida do povo (Lv 17-26). Números: chama-se Números por causa dos recenseamentos e séries de números neles contidos. Narra a parte final da caminhada do Povo de Deus pelo deserto, do Sinai até a Terra de Canaã. Fala das lutas que os israelitas enfrentaram perante os povos que ocupavam as fronteiras da Palestina ou Terra Prometida. Deuteronômio: Deuteronômio quer dizer Segunda Lei. São Leis que deveriam ser obedecidas quando o Povo entrasse na Terra Prometida. A maior parte do livro é formada por leis que repetem muitas vezes as apresentadas em Ex e Lv. Não se trata de uma segunda Lei, mas de uma segunda cópia da Lei. Contam a história do Povo de Deus. Uma história feita de bênçãos e de castigos, mostrando sempre a fraqueza do homem e a misericórdia de Deus. Essa história tem como cenário a Palestina e os períodos de exílio nas terras pagãs Josué: Com a morte de Moisés, Josué conduz o Povo de Israel até Canaã. O Livro narra a conquista da Terra Prometida. Juízes: Depois da morte de Josué até a Constituição do Reino, as Tribos de Israel eram invadidas por povos inimigos. Então certos líderes defendiam o povo. Tais chefes eram chamados de Juízes. Não se sabe quem escreveu este Livro. Rute: Conta a história de Rute, que se casa com Booz. Rute é modelo de piedade e de fidelidade. Ela se torna bisavó do rei Davi. Rute era estrangeira – maobita – por isso é sinal de que a salvação de Deus se estende a todos os povos. I Samuel: Foi o último Juiz de Israel. Foi também um grande Profeta. Consagrado a Deus desde a infância, foi educado pelo sacerdote Eli. Pelo ano de 1200 a.C Samuel unifica as Tribos de Israel para poder enfrentar os filisteus. Como chefe político e religioso, unge Saul como Rei de Israel. II Samuel: O Livro de Samuel foi dividido em dois. Este segundo Livro narra o reinado de Davi. I Reis: Conta a história dos israelitas depois da morte do rei Davi (970 A.C) até a destruição de Jerusalém e a deportação do Povo de Israel por Nabucodonosor, no ano 587 a.C. II Reis: Este Livro narra a história dos reis de Israel e Judá, mostrando os desígnios de Deus. I Crônicas: Também chamado de “Paralipômenos”, formavam uma só obra com os Livros de Neemias e de Esdras. II Crônicas: Mostram o culto e a fidelidade do povo de Israel à Aliança. Esdras: É a continuação do Livro das Crônicas. Supõe-se que o autor seja o mesmo. Conta a restauração religiosa de Israel em 538 a.C, quando Ciro, rei da Pérsia, autorizou a volta dos judeus para Jerusalém. Neemias: Forma um só Livro com Esdras. Assim que os judeus regressaram a Jerusalém, começaram a reconstrução do Templo e do Muro de Jerusalém. Tobias: Tobias é exemplo de um israelita justo. É um Livro que mostra a fé e a piedade deste jovem. Judite: Mostra que a fé e a confiança em Deus são mais forte que um exército armado. Judite é a jovem israelita fiel a Lei. Ela defende seu povo, acreditando na bondade de Deus. Ester: Forma uma unidade com o Livro de Judite. Ambos tem a mesma finalidade. A rainha Ester era esposa de Assuero, rei da Pérsia. E ela intercede e salva seu povo, os judeus estabelecidos na Pérsia, onde eram duramente hostilizados. Falam da sabedoria dos homens e da experiência do amor de Deus na vida da comunidade. Estes Livros contêm orações, cânticos e poesias, escritos e vividos à luz da fé. Jó: Apresenta o problema do sofrimento num estilo poético. Esse Livro trata-se, provavelmente, de uma parábola. Salmos: Salmos quer dizer “Louvores”. São poesias para serem cantadas. Ao todo são 150 salmos. Boa parte foi composta pelo rei Davi. Todas as edições da Bíblia trazem os mesmos 150 salmos. Sua numeração, porém, varia: existe a do texto hebraico e a da versão dos setenta (e também da Vulgata). Aconteceu o seguinte: a versão dos setenta juntou em um só os salmos 9 e 10, bem como os salmos 114 e 115, mas dividiu em 2 os salmos 116 e 147 do texto hebraico. Então as diferenças ficam assim: Hebraico 1–8 9 10 11 – 113 114 115 116, 1 - 9 116, 10 ss 117 – 146 147, 1 – 11 147, 12 ss 148 – 150 Grego 1–8 9, 1 – 21 9, 22 ss 10 – 112 113, 1 - 8 113, 9 ss 114 115 116 – 145 146 147 148 – 150 Provérbios: Parte deste Livro foi escrita pelo rei Salomão – filho do rei Davi. O autor fala de um Deus criador e justo, misericordioso e inefável. Eclesiastes: Não se sabe ao certo quem o escreveu. Mostra a instabilidade e a insegurança da vida presente, mas também fala de muitas coisas boas que vem de Deus. Cântico dos Cânticos: Significa: “O canto por excelência” ou “O mais belo dos cânticos”. É um cântico de amor, bem no estilo oriental. Toma como exemplo o amor do esposo e da esposa, mas quer mostrar o amor de Deus para com seu Povo, com quem fez uma Aliança. Sabedoria: Foi escrito por um judeu que morava no Egito. O nome do autor não se sabe. Fala da imortalidade da alma e do destino eterno do homem. Eclesiástico: Conhecido também como “Sirac”. Foi escrito mais ou menos no ano 120 a.C. Mostra o valor estável da Lei de Deus. Profeta não é uma pessoa que prevê o futuro, mas uma pessoa que fala em nome de Deus. É digno de nota que o termo "maior" referese ao tamanho, não à importância. Os livros proféticos menos extensos são chamados Profetas Menores. Tambem pode-se denominar, como profetas "maior" não pela qualificação e sim pelo tempo que duraram profetizando . Os profetas maiores, na ordem em que estão listados na Bíblia são: Isaías Jeremias e Lamentações Ezequiel Daniel Isaías: É o maior profeta de Israel. Nasceu em Jerusalém por volta do ano 760 a.C. Com 20 anos começou a profetizar. Exerceu essa missão durante 50 anos. É o profeta da Justiça. Durante os reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, sendo contemporâneo à destruição de Samaria pela Assíria Pode-se afirmar que Isaías é o profeta quem mais fala sobre a vinda do Messias, descrevendo-o ao mesmo tempo como um "servo sofredor“ Por isso, um dos capítulos mais marcantes do livro seria o de número 53 que menciona o martírio que aguardava o Messias: O livro de Isaías tem três partes: Isaías I, Isaías II e Isaías III. O livro do Profeta Isaías tem 66 capítulos. Ele está dividido em 3 partes. A segunda parte foi escrita no tempo em que o povo foi preso e levado para a Babilônia. No cativeiro é necessário animar o povo e conservar-se fiel. Isaías transmite ao povo descrente, um novo conceito de Deus: Deus único, Deus vencedor Ele ama sua terra e seus irmãos, por isso ele encoraja o povo, dizendo que Deus não quer ver seu povo escravo de ninguém. Isaías assume a missão, mesmo com perseguição, calúnia, tentação, incompreensão e abandono dos amigos. Isaías também foi o profeta que anunciou a vinda de Jesus Cristo e a verdadeira libertação. Jeremias: Nasceu no ano 650 a.C. Profetizou durante quarenta anos. Foi o profeta das desgraças. Predisse a deportação dos judeus. Jeremias lutou pela reforma religiosa de Israel. Foi um profeta hebreu conhecido por sua integridade e discursos duros contra o pecado. Lamentações: Composto nos anos após a destruição de Jerusalém, em 586 a.C. Contém orações, lamentações e súplicas. Este Livro era lido anualmente pelos judeus, no aniversário da destruição do Templo. Baruc: O profeta exorta o povo a fazer penitência. Baruc quer dizer “abençoado”. Foi secretário de Jeremias. Ezequiel: Ezequiel quer dizer “aquele que Deus faz forte”. Exerceu sua função no meio dos judeus deportados para a Babilônia. Daniel: O autor do Livro é desconhecido. Daniel é o nome do personagem ideal que sofre no exílio. Tem fé viva e ardor patriótico. Foi escrito durante a perseguição de Antíoco, entre 167-163 a.C. O autor pretende consolar e animar os que são perseguidos pelo rei. Oséias: Exerceu seu ministério por volta do ano 750 a.C. Fala da infidelidade de Israel para com seu Deus, e compara a união de Deus com seu povo ao amor de um noivado. É o profeta da Ternura de Deus. É chamado de Profeta Menor. Joel: Profetizou no reino de Judá e Jerusalém, onde nasceu. Fala do culto divino e do amor Divino. É chamado de Profeta Menor. Amós: Era camponês, de alma simples e fervorosa. Pastor de ovelhas nas proximidades de Belém. Profetizou durante o reinado de Jeroboão II. Amós condenou as injustiças sociais que massacraram a Samaria. É chamado de Profeta Menor. Abdias: Profetizou pelos anos 550 a.C. Anunciou castigos contra Edom e o triunfo de Israel no dia de Javé. É chamado de Profeta Menor. Jonas: O Livro deve ser uma espécie de parábola. Mostra que Deus chama à conversão, não somente os judeus, mas também os pagãos. É chamado de Profeta Menor. Miquéias: Nasceu perto de Hebron. Anunciou a ruína da Sumária. Predisse que o Messias nasceria em Belém. É chamado de Profeta Menor. Naum: O profeta fala da grandeza de Deus e do poder com que o Criador governa o mundo. Alegra-se com a queda de Nínive, que se deu no ano 608 a.C. É chamado de Profeta Menor. Habacuc: Profetizou entre os anos 625 a 598 a.C. Predisse a invasão dos caldeus. Foi um profeta filósofo. Anunciou que Deus salvaria os justos e puniria os maus. É chamado de Profeta Menor. Sofonias: Profetizou no reinado de Josias pelo ano de 625 a.C. Predisse a justiça divina, anunciando o Dia de Deus, ocasião em que serão punidos todos os maus, pagãos ou judeus. Fala também da felicidade dos tempos messiânicos. É chamado de Profeta Menor. Ageu: Exerceu seu ministério em Jerusalém no ano de 520 a.C, quando era reconstruído o templo. Anima o povo com esperança dos tempos messiânicos. Ageu quer dizer “aquele que nasceu durante a festa” ou “peregrino”. É chamado de Profeta Menor. Zacarias: É contemporâneo de Ageu. Prega uma reforma moral e exorta o povo a reconstruir o templo. Fala da vinda do Messias e da conversão das nações. É chamado de Profeta Menor. Malaquias: Malaquias quer dizer “meu mensageiro” Fala do amor de Deus pelo seu povo. Denuncia as infidelidades do povo. É chamado de Profeta Menor. O Novo Testamento não nasceu pronto, nem sequer se formou no tempo de Jesus. Os apóstolos que conviveram com Jesus não possuíam livros. Eles liam o Antigo Testamento, mas do Novo Testamento nada estava escrito. Com o pentecostes, a vinda do Espírito Santo, aos poucos, os apóstolos começam a entender a pessoa de Jesus Cristo e a assumir seu papel de testemunhar Jesus. Sua vida, sua pregação e principalmente a sua ressurreição. Passam então a anunciar Jesus aos povos. Mas até então, a vida de Jesus não tinha sido escrita ainda. O Novo Testamento, antes de ser um livro, era a ação de Jesus Cristo com seu povo, depois transmitido e testemunhado como tradição oral durante décadas. Alguns anos depois da paixão, morte e ressurreição de Jesus aconteceu a conversão de um fervoroso fariseu: Saulo que depois passa a se chamar de Paulo. Este ardoroso apóstolo iniciou a pregação do evangelho fora de Israel. Paulo ia às cidades, anunciava o evangelho e formava comunidades e depois partia para outras cidades. Quando surgiam problemas Paulo lhes escrevia cartas (epístolas). Assim, por volta de 48 ele escreveu a Primeira Carta aos Tessalonicenses (1º documento escrito do Novo Testamento). Até aí pelo ano 63 ele escreveu todas as cartas paulinas. Foi então 70 que Marcos escreveu o primeiro evangelho para preservar o testemunho dos apóstolos. Em 80 Mateus e Lucas pegaram o evangelho de Marcos e o reescreveram, completando-o e melhorando algumas partes. Estes três evangelhos chamam-se de sinóticos, pois têm uma mesma perspectiva. Lucas também escreveu Atos dos Apóstolos. Neste período também se escreve algumas das outras cartas: Tiago, Judas, 1 e 2 Pedro, Hebreus. Por volta de 90 João escreve o 4º evangelho. Alguém de seu grupo escreve, logo após, as três cartas e o Apocalipse. Assim, ao terminar o primeiro século do cristianismo, o Novo Testamento, como livro, está pronto, mas ainda nem todos os livros são aceitos em todas as comunidades. Isto só acontece aí pelos anos 380. O Cristianismo torna-se religião do Estado do Império Romano. Até o Concílio de Niceia, ano 325 dC, a igreja era perseguida sob o imperador Diocleciano (245-316) Após longos debates, Constantino1º aceitou “Deus e Jesus constituiriam uma mesma entidade, teve fim a perseguição dos cristãos. O primeiro evangelho escrito foi Marcos, cuja redação deve ser dos anos 70. Ele é o primeiro que escreve um evangelho, portanto, inaugura este gênero literário. Marcos é o evangelista do Segredo Messiânico. Talvez o leitor já tenha percebido que em Marcos, quando Jesus faz algo interessante, ele proíbe de dizê-lo. Ora são os demônios que devem calar, ora são os agraciados que devem calar, ora são os discípulos que devem calar (Mc 1,25.34-44; 3,11; 5,43; 7,36; 8,26.30; 9,9, etc.). Ou seja, sempre que Jesus age e de sua ação se poderia concluir que ele de fato é o Cristo, deve-se só quando ele morre como um fracassado na cruz, então é que se pode dizer quem ele é: “de fato este homem era o Filho de Deus” (Mc 15,39). Quando Jesus pergunta aos discípulos quem ele seria e Pedro responde, dizendo: “tu és o Cristo” (Mc 8,27-30), também ele deve calar, pois Jesus irá até Jerusalém, lá será flagelado, crucificado, morto e ressuscitará (Mc 8,30ss; 9,30ss; 10,32ss). Por que Marcos insiste tanto no silêncio e no anúncio da cruz? Nos tempos da redação de Marcos, por volta do ano 70, havia uma Cristologia festiva. Muitos daqueles cristãos que não conheceram o Jesus histórico de Nazaré, mas apenas receberam o anúncio do ressurreição e dos milagres, olhavam para Jesus como uma espécie de super-herói. Facilmente esqueciam da cruz. Isto causava um transtorno na mentalidade dos seguidores. Desta forma Jesus, mais do que um modelo a seguir, tornava-se um suposto remédio para qualquer problema. Antes de levar os discípulos a tomar sua cruz e seguir Jesus e assim transformar a história, pretendia-se fazer dele um quebra-galho para qualquer problema. Não é difícil perceber que os discípulos se tornavam passivos, sem compromisso com a história. Diziam: “por que se preocupar, se Jesus pode resolver todos os nossos problemas?” Marcos quer evitar este tipo de mentalidade. Jesus não faz milagres por sensacionalismo. Só pode entender Jesus quem, com ele for até a cruz (Mc 15,39). Quem, como o centurião, não viu nada de extraordinário, a não ser o fracasso de um condenado, e mesmo assim acredita, este é apto a ser cristão. Quem, pelo contrário, espera milagres, nunca entenderá Jesus. O evangelho de Mateus é um livro escrito sobre o evangelho de Marcos, ou seja, Mateus usou o evangelho de Marcos, o reescreveu, o completou e aumentou Então, Mateus conhecia o evangelho de Marcos, mas também conhecia outra fonte onde se testemunhava o ensino de Jesus. Quem lê o evangelho de Marcos e depois lê o evangelho de Mateus há de perceber que a estrutura do evangelho é a mesma. Porém, Mateus tem material que não se encontra em Marcos. Assim poderíamos citar os evangelhos da infância (Mt 1-3), ou seja, Mateus fala da infância de Jesus, Marcos não o faz. Seu evangelho inicia com a vida pública de Jesus. Além dos capítulos que falam da infância de Jesus, Mateus também escreve sobre muitos discursos de Jesus. Marcos muitas vezes diz que Jesus ensinava, mas não diz o que ele ensinava aos seus discípulos. Mateus traz muitos discursos, dizeres, frases de Jesus que não se encontram em Marcos. Por exemplo: além dos já citados capítulos 1-3 que falam da infância, Mateus nos traz o belo Sermão da Montanha (Mt 5 e 6). Este mesmo sermão não está em Marcos. Temos outros discursos de Jesus, que não estão em Marcos. Mt 18,12-35; 20,1-16, etc. Mateus é judeu e escreve para cristãos de origem judaica. Logo, em seu livro ele usa muitas categorias judaicas. Já na genealogia (Mt 1,1-17) o evangelista interliga Jesus com a tradição judaica. Jesus é descendente de Abraão e entre seus antepassados estão figuras como Davi, Salomão, Josias, etc. todos da história de Israel. A infância é semelhante à origem de Israel. Moisés está no Egito (Ex 2), Jesus foge para o Egito (Mt 2,13ss). No Egito se mata os meninos (Ex 1), quando Jesus foge para o Egito, em Israel se mata os meninos (Mt 2, 16ss). O povo de Deus é tentado no deserto (Ex 16ss), Jesus também sofre a tentação no deserto (Mt 4,1ss Moisés recebe a lei sobre o Monte (Ex 19), Jesus sobe ao monte e dá a nova lei (Mt 5,1ss). Mateus, como os judeus fervorosos, evita pronunciar o nome de Deus. Enquanto os demais evangelhos falam no Reino de Deus, Mateus diz, Reino dos Céus, pois um judeu não pronunciava o nome de Deus. Assim se pode perceber outros paralelos entre a figura de Jesus e o Antigo Testamento. Outra idéia teológica que podemos perceber em Mateus é o nome de Emanuel, que significa Deus conosco (Mt 1,23). Depois de terminar sua narração da vida de Jesus, Mateus conclui que o ressuscitado que se despede, ficará sempre com sua Igreja: “eis que eu estarei convosco todos os dias, até a consumação dos séculos! (Mt 28,20). Mateus segue Marcos de perto, mas tem uma perspectiva própria, pois seus leitores são outros. Como foi dito, Mateus quer alimentar a fé, ou catequizar cristãos de origem judaica, por isto mesmo, ele usa um linguajar, imagens e conceitos próprios do mundo judaico. Cada evangelista apresenta Jesus Cristo aos seus leitores com uma fisionomia própria, ou seja, Jesus deve ser compreensível para seus leitores. Assim como Mateus, também Lucas se valeu do evangelho de Marcos para desenvolver o seu evangelho. Também ele seguiu a estrutura do evangelho de Marcos, mas a completou. Da mesma forma que Mateus, Lucas reescreveu o evangelho de Marcos valendo-se também de outra fonte para completar sua obra. Assim sendo, também o evangelho de Lucas segue a estrutura do evangelho de Marcos, mas seu evangelho é mais completo. Alguns ensinos de Jesus estão em Lucas e em Mateus, mas não estão em Marcos. Isto mostra que tanto Lucas como Mateus, além de terem acesso ao evangelho de Marcos, tiveram acesso a outra obra, de onde tiraram discursos, como as Bem-aventuranças, o Pai Nosso, etc. Lucas, assim como Mateus, tem o evangelho da infância de Jesus (Lc 1-3). Se o leitor comparar o evangelho da infância no evangelho Lucas (Lc 1-3) com o evangelho da infância de Mateus (Mt 1-3), vai perceber que há muitas diferenças. Daí podemos concluir que os evangelhos não devem ser lidos como se fossem atas ou relatos estritamente históricos. São, na realidade, mais teologia do que história. Contém história, mas não no sentido atual do termo. Lucas é o único autor não judeu de um livro bíblico. Ele é de cultura grega e escreve para gregos, ou seja, para cristãos vindos de fora do judaísmo. Por isto mesmo, a obra de Lucas, apesar de ter as mesmas fontes do evangelho de Mateus (Marcos e uma outra fonte), se diferencia de Mateus. Ou seja, Mateus apresenta Jesus para judeus. Por isto usa uma linguagem, ou uma roupagem judaica. Lucas apresenta o mesmo Jesus para gregos e por isto não usa a linguagem e roupagem judaica, pois assim não se faria entender. Lucas insiste muito na presença do Espírito Santo na obra de Jesus. Já na concepção de Jesus está a força do Espírito (Lc 1,26ss). O velho Simeão vai ao templo na hora da apresentação do menino, movido pelo Espírito Santo (Lc 2,27) e profetisa sobre o menino. O Espírito vem sobre Jesus no batismo (Lc 3,2122) e é este mesmo Espírito que conduz Jesus ao deserto e o mantém firme na tentação (Lc 4,1ss). Ainda é o mesmo Espírito que leva Jesus a Nazaré e o faz entrar na sinagoga para pregar (Lc 4,14-15). Lá o mesmo Espírito Santo é o animador do programa de Jesus, quando ele diz: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou pela unção para evangelizar os pobres...”(Lc 4,18ss). Neste texto onde se mostra a que Jesus veio, é o Espírito o animador. A missão de Jesus está embasada na ação do Espírito Santo. Assim sendo, toda missão de Jesus é animada pelo Espírito Santo. Esta mesma idéia teológica continua no livro dos Atos dos Apóstolos, que também foi escrito pelo mesmo Lucas. Lucas tem uma grande sensibilidade para com os pobres, fracos e pecadores. Maria, ao receber o anúncio da maternidade divina, canta: “Depôs os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Cumulou de bens os famintos e a ricos despediu de mãos vazias” (Lc 1,52-53). Em Lc 4,18ss ele diz que veio anunciar uma boa notícia aos pobres, libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor. Tudo isto eram favores aos pobres. Também nas Bem-aventuranças Lucas é mais incisivo do Mateus. Ele fala na forma pessoal: “Bem-aventurados vós, os pobres...” Diz ainda: “mas ai de vós ricos...” (Lc 6,20-26). Lucas mostra um Jesus muito sensível aos pobres, aos fracos e aos pecadores. Toda a sua obra é animada pelo Espírito Santo. Sua linguagem não é judaica para que pudesse ser entendido pelos gregos. Lucas apresenta Jesus da forma que seus leitores o pudessem entender. O evangelho de João é também chamado de quarto evangelho. Ele é posterior aos evangelhos sinóticos (Mc, Mt e Lc). Sua estrutura difere muito dos demais. É um evangelho bastante espiritual. João apresenta Jesus de forma preexistente (Jo 1,1-17). Ele diz: “No princípio era o Verbo, o Verbo estava em Deus e o Verbo era Deus” (Jo 1,1). Jesus, o Verbo, era Deus e estava desde o princípio. Estava como Verbo, mas ele resolveu se encarnar na história dos humanos. João apresenta seu evangelho se desenvolvendo em duas semanas. Logo no primeiro capítulo ele começa a contar dias, como no Gênesis 1. Ele descreve o início da ação de Jesus (Jo 1,19ss) e depois diz: “No dia seguinte” (Jo 1,29). O mesmo ele repete em Jo 1,35 e em Jo 1,43. Nas bodas de Cana ele diz: “ três dias depois”, ou “ no terceiro dia” (Jo 2,1ss). Está ali iniciando a primeira semana e nela Jesus age criando o homem novo. A primeira semana culmina com a ressurreição de Lázaro (Jo 11). Em Jo 12 ele inicia a segunda semana. “Seis dias antes da Páscoa, Jesus foi a Betânia” (Jo 12,1). Esta segunda semana culmina no sábado santo, quando Jesus está na sepultura (Jo 19,38ss). Agora acabou a velha realidade. Com a ressurreição de Jesus inicia a nova semana, ou seja, o domingo sem ocaso. “No primeiro dia da semana, Maria Madalena vai ao sepulcro (Jo 20,1). É no primeiro dia da semana que Maria Madalena encontra o ressuscitado e o testemunha aos apóstolos (Jo 20,18). Ainda é no primeiro dia da semana, à tarde que Jesus aparece aos discípulos; “À tarde deste mesmo dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas...! (Jo 20,19ss). Foi neste primeiro dia que Jesus assopra o Espírito Santo sobre os apóstolos e lhes dá a missão de continuar a sua obra pelo mundo. Tomé, o incrédulo, não participo do primeiro dia e por isto não chegou à fé no ressuscitado (Jo 20,24). Oito dias depois, portanto, novamente no primeiro dia da semana, a comunidade estava reunida e Tomé estava com a comunidade e o milagre acontece: no primeiro dia ele pode proclamar: “meu senhor e meu Deus” (Jo 20,28). Agora é o primeiro dia que não termina ou o domingo sem ocaso. Neste dia acontece a Igreja, isto é, a adesão a Jesus pela fé, mesmo sem ter visto. Jesus fez muito mais do que está escrito nos evangelhos (Jo 20,30 e Jo 21,25). João se valeu de uma parte e dispôs esta parte numa redação lógica para apresentar Jesus como aquele que veio para recriar o homem novo. A obra de Jesus se completa com a paixão, morte e ressurreição. Agora iniciou a nova realidade. O ressuscitado pede a adesão pela fé, pois assim a sua obra continua através da história. Muitas outras idéias poderiam ser destacadas no quarto evangelho, mas devido ao espaço ficamos por aqui. Noutras ocasiões estudaremos partes dos evangelhos, e provavelmente também do evangelho segundo S. João. O mesmo autor que escreveu o evangelho de Lucas, escreveu, também o livro dos Atos dos Apóstolos (comparar Lc 1,1-4 com At 1,1-5). Portanto, no evangelho de Lucas se conta a vida de Jesus, e nos Atos dos Apóstolos se conta a vida da igreja, logo depois da despedida física de Jesus, quando, enfim, os apóstolos começam a guiar e conduzir a igreja fundada por Jesus. Na realidade, o livro dos Atos dos Apóstolos não narra propriamente os atos dos apóstolos, mas antes, os atos de Paulo (At 13-28) e, até certo ponto, os atos de Pedro (At 1-5; 10; 15). Cita levemente Tiago e João e dos outros cita apenas os nomes. Mas o centro do livro é a missão de Paulo. Entre as muitas idéias podemos destacar: 1) Paulo foi o apóstolo que abriu a igreja para os gentios (não judeus). Por isto mesmo ele foi mal entendido e até odiado por algumas pessoas da comunidade Uns vinte anos depois de sua morte, Lucas quer defender Paulo. Lucas faz isto de diversas maneiras. Em primeiro lugar mostra que a abertura eclesial feita por Paulo também já foi ensaiada por Pedro (At 10). Mostra também que sempre que Paulo foi aos gentios para anunciar o evangelho, ele o fez motivado pelo Espírito Santo (At 13,1-5; !6,1ss, etc.). A abertura do evangelho aos povos, segundo Lucas, não foi obra humana, mas sim, do Espírito Santo. No livro de Atos dos Apóstolos, o grande missionário Paulo sempre se dirigia antes aos judeus (At 13ss), mas como estes não quiseram se converter, Paulo se dirigiu aos gentios. Logo, Paulo agiu pelo Espírito e fez o que Pedro também já fez. Ou seja, Paulo é legítimo sucessor de Pedro, assim com Pedro é legítimo sucessor de Jesus, enquanto Jesus segue o Antigo Testamento. Quem está na comunidade paulina, está em sintonia com Pedro, com Jesus e com o Antigo Testamento. 2) A igreja, depois da ascensão de Jesus é testemunhada pelos apóstolos, mas estes têm a proteção do Espírito Santo (At 1,6-8). Os apóstolos se tornam ativos com a vinda do Espírito Santo (At 2). Até então eles são medrosos, mas com a vinda do Espírito Santo eles se tornam anunciadores da Palavra. A igreja, segundo Lucas, caminha com duas pernas: o Espírito Santo e o testemunho (At 1,6-8). 3) O livro dos Atos dos Apóstolos destaca o primado de Pedro. Assim que Jesus se despede (At,1,6-11), é Pedro que toma as rédeas da comunidade na mão. É ele quem coordena a escolha do sucessor de Judas (At 1,15-26). Também é ele quem se pronuncia por primeiro depois da vinda do Espírito Santo (At 2,14ss). É ele quem dirige a palavra no templo (At 3,1126) e diante do sinédrio (At 4,8-12). Quando surge o primeiro problema pastoral na igreja (At 15,1-35) novamente é Pedro quem toma a dianteira para dirimir a questão. 4) A igreja deve congregar todos os povos. Quando vem o Espírito Santo (At 2,1-13), ele faz com que os apóstolos sejam entendidos por todos os povos que se congregam em Jerusalém: partos, medos, elamitas, da Panfília, da Frigia, judeus, árabes, etc. A igreja animada pelo Espírito Santo não exclui, mas faz com que todos os povos se entendam. Não é preciso ver milagres neste fato. Trata-se da união de todos os povos em Cristo, movidos pelo Espírito Santo. O livro dos Atos dos Apóstolos quer mostrar, mais teológica do que historicamente, os primeiros passos da jovem igreja depois da ausência física de Jesus. A igreja é para todos. Paulo abriu sua prática pastoral para todos os povos, pois assim o Espírito o determinou. Pedro também já o fizera. Paulo escreveu uma porção de cartas. Algumas levam seu nome, mas foram escritas, talvez depois de sua morte. Assim, as cartas de Paulo, que os biblistas supõem serem de Paulo, com toda certeza, são: 1 e 2 Ts; 1 e 2 Cor; Gl; Rm; Fl; Fm. As cartas que parecem ser de Paulo, mas sem total certeza: Cl e Ef. Cartas que não são de Paulo, mas levam seu nome: 1 e 2 Tm; Tt. Carta não é de Paulo, mas, às vezes foi atribuída a ele: Hb. As cartas aos Efésios e Colossenses se assemelham-se à maneira paulina de escrever, mas há algumas dúvidas. Poderiam ser de algum discípulo de Paulo. As cartas a Timóteo e Tito certamente não são de Paulo. Seu estilo e seu conteúdo são diferentes. Talvez, depois de sua morte, um discípulo tenha usado a doutrina de Paulo e escreveu estas cartas. Naquele tempo é comum se atribuir a autoria de um livro a uma pessoa importante. A carta aos Hebreus não é de Paulo, nem é carta, mas antes um tratado cristológico e também não é destinado aos hebreus. Esta definição vem dos primeiros séculos e por isto, hoje não se pretende mudar, mas sabe-se que não se está diante de uma carta paulina. Mas isto não muda em nada a doutrina genuína que estas cartas transmitem, pois mesmo não sendo de Paulo, são livros inspirados e como tal devem ser lidos em nossas Bíblias.